Durante muito tempo a doutrina e a jurisprudncia debateram acerca da possibilidade da realizao de penhora por meio eletrnico. Juzes mais conservadores insistiam na no utilizao da tecnologia a servio da celeridade processual.Argumentavam que a penhora online medida excepcional que s deveria ser concedida depois da comprovao de que o credor esgotou todos os meios para encontrar bens penhorveis do devedor, porquanto se deve observar o princpio da menor onerosidade da execuo. Como o dinheiro figura em primeiro lugar na ordem de preferncia para penhora e de um modo geral guardado em bancos, nunca se conseguia comprovar o esgotamento dos meios para localizar depsitos bancrios em nome do executado, at porque a utilizao do meio para localizao, eletrnico ou no, dependia de ordem judicial.Outros brandiam a garantia constitucional do sigilo bancrio do executado, como se ao credor no fosse assegurada uma tutela jurisdicional til e adequada e, caso de depsito bancrio, a penhora somente poderia efetiva-se se obtida judicialmente a informao adequada.Venceu a tese que, sem descurar do princpio da menor onerosidade e da garantia constitucional do sigilo de dados, no aniquila o direito do credor satisfao do crdito.No obstante seja o sigilo bancrio direito individual expressamente protegido pela Constituio Federal, admite-se que, em situaes excepcionais, o interesse pblico, social ou da Justia em obter determinadas informaes prevalea sobre o direito do particular de manter suas contas bancrias em sigilo. Nesse sentido, por todos, colhe-se o entendimento do STF:Constitucional sigilo bancrio: quebra administradora de cartes de crdito CF, art. 5, X.I . Se certo que o sigilo bancrio, que espcie de direito privacidade, que a Constituio protege no art. 5 , X, no um direito absoluto que deve ceder diante do interesse social e do interesse da Justia, certo , tambm, que ele h de ceder na forma e como observncia de procedimento estabelecido em lei e com respeito ao princpio da razoabilidade . No caso, a questo foi posta, pela recorrente, sob o ponto de vista puramente constitucional garantidora do direito, estando as excees na norma infraconstitucional.II. R.E. no conhecido ( STF, 2 Turma , RE 224775/ PE, rel. Min. Carlos Velloso, data do julgamento: 13/4/1999, DJ 10/9/1999).

Seguindo a mesma esteira, Andr Luizi Correia, no artigo em defesa da penhora on-line, sustentou que a penhora on-line em nada viola o princpio da menor onerosidade, no somente porque sua correta exegese no aquela que lhe atribuem os opositores ao sistema Bacen Jud, como tambm e principalmente porque o referido princpio perdeu muito espao aps as reformas processuais que, seguindo uma tendncia mundial, intensificaram o valor efetividade, que no mais pode ser dissociado do prprio conceito de acesso Justia.O douto Cndido Rangel Dinamarco, a propsito do tema, asseverou que atenta contra a jurisdio o devedor que, tendo dinheiro ou fundos depositados ou aplicados em bancos, no paga desde logo quando citado no processo executivo (CPC, art. 625).Diante desses entendimentos, venceu a tese mais comprometida com a efetividade do processo, no obstante a relutncia de alguns operadores do direito. A penhora por meio eletrnico agora lei. Conforme dispe o caput do art. 655- A, para possibilitar a penhora de dinheiro em depsito ou aplicao financeira, o juiz, a requerimento do exequente, requisitar autoridade supervisora do sistema bancrio, preferencialmente por meio eletrnico, informaes sobre a existncia de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, at o valor indicado na execuo.A rigor nem se trata de penhora, mas sim de informaes sobre a existncia de ativos em nome do executado, isto , depsito em conta corrente ou em caderneta de poupana e qualquer outra aplicao no mercado financeiro, como os CIDs e CBDs. A constrio propriamente dita, indispensvel seria o conhecimento do saldo em conta corrente ou em caderneta de poupana, ou o valor da aplicao financeira. Conhecido o saldo ou o montante da aplicao, a sim, poder-se-ia proceder penhora, at a quantia necessria satisfao do crdito, com a lavratura de auto, nomeao do depositrio e intimao do executado. Todavia, em razo do sigilo de dados (CR, art. 5, XII), as informaes limitar-se-o existncia ou no de depsito ou aplicao do valor, outra de obter informao da exata quantia depositada.Observe que, em se tratando de execuo contra partido poltico, as informaes devero versar to somente sobre ativos em nome do rgo partidrio que tenha contrado a dvida executada ou que tenha dado causa violao de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a responsabilidade pelos atos praticados (art. 655 A, 4, introduzido pela Lei n 11.694/2008). Objetiva-se, com o 4, salvaguardar as informaes e patrimnio dos diretrios nacional, estaduais e municipais dos atos e condutas imputados exclusivamente a um ou a outro rgo.A requisio de informaes possibilitada a partir de um convnio de cooperao tcnico institucional realizado entre o Banco Central, o Supremo Tribunal de Justia e o Conselho de Justia Federal, ao qual os tribunais estaduais de um modo geral aderiram.Na prtica, o juiz no requisita informaes, ele d ordem condicional, Por meio eletrnico, o juiz determina que se indisponibilize at o valor X (da execuo) porventura existente em contas de depsito ou aplicaes financeiras no sistema bancrio. A autoridade destinatria da ordem informa o valor e a instituio onde se encontra a quantia bloqueada ordem do juzo. O valor bloqueado pode ser inferior ao necessrio para pagar o credor. Por bvio, pode ocorrer de no haver quantias depositadas ou aplicadas em nome do devedor e ento a informao ser negativa. Feito o bloqueio, tudo se passa do modo mais simples e informal. A quantia permanece ordem do juzo at a ultimao dos atos da execuo. Como j salientado, no se trata de penhora, porquanto no h lavratura de auto ou termo, tampouco nomeao de depositrio. O termo que escrivo lanar de forma simplificada nos autos referir ao cumprimento ou no da ordem de bloqueio, em nada se assemelhando ao termo de penhora, que deve conter os requisitos do art. 665.A importncia fica sob a guarda dos dirigentes do banco depositrio, independentemente de lavratura de termo. Caso seja liberada sem ordem do juzo, responder como depositrio infiel (arts. 904 e 666, 3 ), pelo que fica obrigado a repor conta judicial a quantia liberada, sob pena de priso.Para resguardo de direitos do executado, h necessidade de intim-lo do bloqueio. Pode, por exemplo, arguir excesso de execuo, alegar impenhorabilidade da importncia bloqueada (art. 655 A, 2) ou mesmo pleitear a substituio da garantia (importncia bloqueada) por fiana bancria ou seguro garantia judicial (art. 656, 2)Exceto quando se tratar de penhora ou bloqueio para pagamento de prestao alimentcia (art. 649, 2), so impenhorveis os vencimentos, subsdios, soldos, salrios, remuneraes, proventos de aposentadoria, penses, peclios, e montepios, as quantias recebidas por liberdade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua famlia, os ganhos de trabalhador autnomo e os honorrios de profissional liberal (art. 649, IV).Toda importncia, pouco importa o valor, que tenha natureza das verbas arroladas no mencionado dispositivo reputa-se impenhorvel. A impenhorabilidade, no caso, decorre da natureza e da finalidade da verba, razo pela qual mantm essa condio mesmo que seja depositada em conta-corrente, caderneta de poupana ou aplicao em ativos financeiros.Entretanto, nos termos do 2 do art. 655- A, compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em conta-corrente so originrias das relaes mencionadas no inciso IV do art. 649 ou que esto revestidas de outra forma de impenhorabilidade, como, por exemplo, indenizao decorrente de seguro de vida recebida depois do ajuizamento da execuo (art. 649, VI).A arguio de impenhorabilidade feita por simples petio, por se tratar de matria de ordem pblica, que pode ser conhecida at de ofcio. Recebida a petio, o juiz d vista ao exequente, faculta produo de provas, se necessrias, e decide o incidente. Em se tratando de bloqueio efetuado em decorrncia de execuo de prestao alimentcia, infundada a alegao de impenhorabilidade (art. 649,2 ). A deciso agravvel. Em razo do perigo de dano irreparvel ou de difcil reparao presente em casos tais, admite-se a forma instrumental.Rompida a inrcia da jurisdio por meio da petio inicial, o processo se desenvolve por impulso oficial, independentemente de requerimento do autor. Os requerimentos, de regra, so feitos na inicial. Assim, pagando as custas e distribuda a ao de execuo, os atos executivos tero inicio, a menos, obviamente, que o processo no tenha viabilidade, em razo da falta de algum pressuposto processual ou condies da ao.Por outro lado, a parte no escolhe a forma de praticar os atos processuais. Se o devedor citado e no paga a dvida em trs dias, o oficial de justia vai proceder penhora de bens suficientes para garantir a execuo; o oficial de justia, no encontrado o devedor, arrestar-lhe- bens. Os atos so praticados sem qualquer interferncia do exequente, que somente ser intimado se houver necessidade de sua interveno, como, por exemplo, para indicar outro endereo do devedor, caso a citao tenha sido frustrada. As normas procedimentais so de ordem pblica, o que significa que usualmente no h espao para manifestao da vontade, no sentido de o processo desenvolver-se desta ou daquela forma. Os atos so praticados levando-se em conta as regras positivadas e, sobretudo, os princpios da economia e celeridade processual.A regra inserta no caput do art. 655 A, segundo a qual a requisio de informaes e a ordem de indisponibilidade da quantia suficiente para garantir a execuo sero feitas mediante requerimento do exequente, devem ser entendida com aquele requerimento de praxe, constante da inicial. O requerimento para citao, penhora, avaliao, expropriao e pagamento de credor j ter sido feito na inicial. Se o ato constritivo ser efetivado por ato do oficial de justia, termo, nos autos ou mesmo eletronicamente, tudo depender das circunstncias. Nesse caso o exequente dever requerer a expedio de ordem de bloqueio de eventual quantia depositada ou aplicada em nome do executado no sistema bancrio. No h, como sustentam alguns, necessidade de esgotar os demais meios constritivos. A penhora recair preferencialmente sobre dinheiro, assim, basta que a parte requeira, na inicial, seja expedida ordem para bloqueio de ativos depositados ou aplicados em nome do executado, isto , que se proceda penhora por meio eletrnico.Consoante disposto no art. 659, 6, compete aos tribunais a instituio, sob critrios uniformes, de normas de segurana, para viabilizar a penhora de numerrio e as averbaes de penhoras de bens imveis e mveis (art. 615-A) por meio eletrnico.O dispositivo redundante, porquanto o art. 154, 2, acrescentado pela Lei n 11.419/2006, estabelece que todos os atos e termos do processo podem ser produzidos, transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrnico. Cabe, pois, aos tribunais, conforme dispe o 1 do art. 154, disciplinar a prtica e a comunicao oficial dos atos processuais por meios eletrnicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurdica e interoperabilidade da Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira ICP- Brasil (sistemas de certificao digital baseado em chave pblica).Para finalizar este tpico, cabe salientar que o sucesso da penhora por meio eletrnico depende do momento em que realizada. O sistema executivo estruturado de forma lgica. Primeiro, cita-se o executado para efetuar o pagamento em trs dias e, somente se no houver pagamento, que se parte para a penhora. Em princpio, no h justificativa plausvel para efetuar o ato constritivo antes de facultar ao devedor oportunidade de pagar o dbito, sobretudo quando a penhora tiver que recair sobre bens diferentes de dinheiro.A primeira exceo ordem de tais atos figura no art. 653, que permite o arresto de bens do devedor quando esse no for encontrado para o ato citatrio. O arresto no mais do que uma medida constritiva de natureza cautelar, que, no caso mencionado no art. 653, tem por fim assegurar a efetivao de penhora, uma vez que aquela medida converter-se- em penhora aps as providncias do art. 654. Pouco importa a natureza dos bens a serem penhorados, pois, no encontrado o devedor, o oficial de justia, de ofcio, procede ao arresto.Ora, no caso de penhora por meio eletrnico, em razo de o dinheiro ser bem de alta circulao e, portanto, facilmente transferido a outrem ou mesmo ocultado, deve-se tomar providncias no sentido de garantir a efetividade da execuo.O fato de o devedor no pagar o dbito no vencimento e tampouco discutir o dbito em juzo, mediante consignao do valor respectivo, constitui forte indicio de que no est disposto a adimplir a obrigao em decorrncia do simples ato citatrio. O mais provvel que, uma vez citado, levante imediatamente a quantia depositada ou aplicada no sistema bancrio. Por essa razo, deve o juiz, mediante requerimento, feito na inicial ou posteriormente, tomar a medida de urgncia necessria ao acautelamento do direito do exequente.Trata-se, na verdade, de tutela antecipatria na execuo. O juiz, diante da prova da verossilhana da exigibilidade do crdito consubstanciado em ttulo executivo e da presuno de que o executado, uma vez citado, levantar a importncia depositada ou aplicada em seu nome, deferir a expedio de ordem de bloqueio, por meio eletrnico. Levada a efeito a penhora antecipada, o que se faz por meio de ordem de bloqueio, transmitida via eletrnica, deve-se num s ato, proceder citao do executado para efetuar o pagamento, bem como intim-lo da penhora realizada. No agir assim, quando requerido e presentes os requisitos legais, negar a adequada jurisdio ao exequente, o que afronta o princpio da inafastabilidade (CF, art. 5, XXXV).O novo e eficaz ato processual via meio eletrnico, a penhora online, medida de urea positiva, inovadora, esperando-se dos advogados, juzes e tribunais tolerncia e confiana na sua aplicao imediata aos trmites processuais de crditos insolventes, de modo a exorcizar do processo de execuo a sua histrica vocao para, mais do que a ineficcia, a absoluta impotncia em atuar conflitos de obrigaes insatisfeitas.