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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL X PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA THAIS GONZAGA DOS SANTOS Itajaí, maio de 2010.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL

X

PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

THAIS GONZAGA DOS SANTOS

Itajaí, maio de 2010.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL

X

PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

THAIS GONZAGA DOS SANTOS

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: MSc. Solange Lúcia Heck Kool

Itajaí, maio de 2010.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pois graças a Ele

podemos dispor da vida e de inúmeras vitórias.

À minha irmã Cris e meu cunhado Josué por

serem sempre ótimas companhias, principalmente

nas horas em que eu mais precisava.

À minha amiga Dayana por ter me apoiado

durante todo o caminho dessa graduação, e por

sua paciência e dedicação comigo em todos os

momentos, fossem eles relativos à faculdade ou

não.

À minha amiga Néguia por todos os conselhos e

sugestões sempre valiosos para meu crescimento

pessoal e científico.

À querida professora orientadora Solange Lúcia

Heck Kool em reconhecimento de sua larga

contribuição, além do incentivo e atenção

dispensados em toda essa trajetória.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa aos meus amados pais,

minha mãe Rosa, exemplo de dedicação e

perseverança, e meu pai José, exemplo de

generosidade e responsabilidade, pela força e

cumplicidade, e pelos momentos de ausência

física destinados à esta pesquisa.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, maio de 2010.

Thais Gonzaga dos Santos Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Thais Gonzaga dos Santos, sob o

título “A penhora on line na justiça laboral X princípios da execução trabalhista, foi

submetida em 10 de junho de 2010 à banca examinadora composta pelas

seguintes professoras: MSc. Solange Lúcia Heck Kool, (orientadora e presidente

da banca) e MSc. Mareli Calza-Hermann (coordenadora da monografia), e

aprovada com a nota [ ] ( ).

Itajaí, maio de 2010.

MSc. Solange Lúcia Heck Kool Orientadora e Presidente da Banca

MSc. Mareli Calza-Hermann Coordenação da Monografia

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................. VII

INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1

CAPÍTULO 1.........................................................................................4

CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA, PRINCÍPIOS E PRESSUPOSTOS ................................................................................. 4

1.1 CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA .................................................. 4

1.2 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA ................................................ 8

1.2.1 PRINCÍPIO DA IGUALDADE DE TRATAMENTO DAS PARTES ........................................8

1.2.2 PRINCÍPIO DA NATUREZA REAL DA EXECUÇÃO ...........................................................9

1.2.3 PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO EXPROPRIATÓRIA .............................................................. 10

1.2.4 PRINCÍPIO DA NÃO-PREJUDICIALIDADE DO DEVEDOR .............................................. 11

1.2.5 PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE .................................................................................... 12

1.2.6 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PELAS DESPESAS PROCESSUAIS................... 12

1.2.7 PRINCÍPIO DO NÃO-AVILTAMENTO DO DEVEDOR ....................................................... 13

1.2.8 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL .................................................. 14

1.2.9 PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE .................................................................................. 14

1.2.10 PRINCÍPIO DO TÍTULO .................................................................................................. 15

1.2.11 PRINCÍPIO DA REDUÇÃO DO CONTRADITÓRIO ......................................................... 16

1.2.12 PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE ........................................................................................ 16

1.2.13 PRINCÍPIO DA AUSÊNCIA DE AUTONOMIA................................................................. 17

1.2.14 PRINCÍPIO DA CELERIDADE ........................................................................................ 18

1.2.15 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE ............................................................................... 18

1.3 PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA ..................................... 19

1.3.1 LEGITIMIDADE AD CAUSAM ........................................................................................... 19

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1.3.2 VIABILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO .............................................................................. 19

1.3.3 INTERESSE PROCESSUAL DE AGIR .............................................................................. 20

1.3.4 A EXISTÊNCIA DE UM TÍTULO EXECUTIVO ................................................................... 21

1.3.5 O INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO PREVISTA NO TÍTULO PELO DEVEDOR ........... 24

CAPÍTULO 2 ........................................................................................ 28

PROCEDIMENTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA ....................... 28

2.1 TÍTULOS EXECUTIVOS - CARACTERÍSTICAS ........................................... 28

2.1.1 DA CERTEZA ................................................................................................... 29

2.1.2 DA LIQUIDEZ ................................................................................................... 29

2.1.3 DA EXIGIBILIDADE ........................................................................................... 31

2.2 COMPETÊNCIA E LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA .......... 32

2.2.1 COMPETÊNCIA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ...................................................... 33

2.2.2 LEGITIMIDADE ATIVA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ............................................. 34

2.2.3 LEGITIMIDADE PASSIVA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ......................................... 37

2.3 LIQUIDAÇÃO DO TÍTULO EXECUTIVO........................................................ 38

2.3.1 LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULO .............................................................................. 40

2.3.2 LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO ..................................................................... 42

2.3.3 LIQUIDAÇÃO POR ARTIGOS ............................................................................... 43

CAPÍTULO 3 ........................................................................................ 45

A PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL X PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA .............................................................. 45

3.1 CITAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL ................................. 45

3.2 ATUAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL................................ 47

3.2.1 PAGAMENTO ................................................................................................... 48

3.2.2 DEPÓSITO DA CONDENAÇÃO E NOMEAÇÃO DE BENS ........................................... 49

3.2.3 INÉRCIA DO DEVEDOR ...................................................................................... 52

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3.3 A PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ............................. 53

3.4 ORDEM DE PREFERÊNCIA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA .................... 59

3.4.1 DINHEIRO, EM ESPÉCIE OU EM DEPÓSITO OU APLICAÇÃO EM INSTITUIÇÃO

FINANCEIRA............................................................................................................. 60

3.4.2 BENS IMÓVEIS ................................................................................................. 61

3.4.3 NAVIOS E AERONAVES ..................................................................................... 62

3.4.4 PERCENTUAL DO FATURAMENTO EM EMPRESA DEVEDORA .................................. 63

3.4.5 PENHORA DE CRÉDITOS DO EXECUTADO ........................................................... 64

3.4.6 OUTROS DIREITOS ........................................................................................... 66

3.5 VALORES IMPENHORÁVEIS NA EXECUÇÃO TRABALHISTA .................. 67

3.5.1 BENS ABSOLUTAMENTE IMPENHORÁVEIS .......................................................... 69

3.5.2 BENS RELATIVAMENTE IMPENHORÁVEIS ............................................................ 72

3.6 EXCESSO DE PENHORA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ........................ 72

3.7 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA QUE A PENHORA ON LINE AFRONTA............................................................................................................. 73

3.7.1 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA ........................................................................... 74

3.7.2 PRINCÍPIO DO SIGILO BANCÁRIO ....................................................................... 74

3.7.3 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ......................................................................... 75

3.7.4 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ........................................................... 75

3.7.5 PRINCÍPIO DA ISONOMIA DAS PARTES ................................................................ 76

3.8 CONTROVÉRSIAS ACERCA DA PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ..................................................................................................... 77

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 81

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ............................................ 85

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RESUMO

A presente Monografia tem como objeto o estudo da

penhora on line na justiça laboral em relação aos princípios da execução

trabalhista. O seu objetivo geral é estudar de que maneira se processa a penhora

on line e, se é um procedimento constitucional ou, se, vai de encontro aos

ditames da lei maior; verificando se tal ato processual afronta algum princípio da

execução trabalhista, se trás mais prejuízos ou se é benéfica para alguma das

partes e para qual parte. Para tanto, aborda temas como o conceito de execução

trabalhista, princípios e pressupostos no primeiro capítulo; no segundo capítulo

estuda os procedimentos da execução trabalhista e, no terceiro e último capítulo

trata sobre a penhora on line na justiça laboral versus os princípios da execução

trabalhista. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma

percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE,

Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia terá como objeto o estudo da

penhora on line na justiça laboral em relação aos princípios da execução

trabalhista.

O seu objetivo geral será estudar de que maneira se

processa a penhora on line e verificar se tal ato processual afronta algum princípio

da execução trabalhista, e consequentemente, se é um procedimento

constitucional ou, se, vai de encontro aos ditames da lei maior, se trás mais

prejuízos ou se é benéfica para alguma das partes e para qual parte.

E ainda, como objetivo específico, produzir uma monografia

para a obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação será utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de

Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia será composto na base lógica Indutiva.

Para tanto, iniciar-se-á, no Capítulo 1, tratando-se do

conceito de execução geral e, especificamente, de execução trabalhista, também

tratar-se-á dos princípios da execução trabalhista, pois são a base de qualquer

processo e o juiz deve sempre analisá-los ao lado da lei devido a sua enorme

importância para o processo e, ainda, trata dos pressupostos da execução

trabalhista, pois sem o título executivo e sem a exigibilidade deste, não existe

processo de execução na justiça laboral.

Continuar-se-á no Capítulo 2, tratando dos procedimentos

da execução trabalhista, detalhando-se quais são os títulos executivos e suas

principais características, quer sejam eles judiciais ou extrajudiciais, devem ser

certos, líquidos e exigíveis para que se possa processar uma execução, abordar-

se-á também, de quem é a competência para processar tais demandas e, quem é

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titular das legitimidades ativa e passiva na execução trabalhista e, por fim,

estudar-se-á a liquidação por cálculos, por artigos e por arbitramento, que são

formas de liquidação do título executivo.

No Capítulo 3, entrar-se-á com o objeto da pesquisa, para

tratar-se da penhora on line na justiça laboral versus os princípios da execução

trabalhista. Especificando-se as formas de citação do executado, de que maneiras

este pode agir quando se torna parte de um processo de execução trabalhista,

quando e como funciona o procedimento da penhora on line, a ordem de

preferência para a penhora e os valores impenhoráveis, em seguida, tratar-se-á

do excesso de penhora, até onde pode-se atuar e de que forma, os princípios que

a penhora on line afrontam e as controvérsias surgidas em virtude da aplicação

deste procedimento.

O presente Relatório de Pesquisa se encerrará com as

Considerações Finais, nas quais serão apresentados pontos conclusivos

destacados e, expor-se-á sobre a confirmação ou não da hipótese levantada,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a

penhora on line.

Para a presente monografia levantou-se a seguinte hipótese:

- A penhora on line é um procedimento compatível com o

processo do trabalho por estar de acordo com os princípios da execução

trabalhista.

Esta, após o desenvolvimento da pesquisa será confirmada

ou não nas Considerações Finais.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa

Bibliográfica7.

4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

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3

As categorias fundamentais para a presente monografia,

bem como os seus conceitos operacionais serão apresentados no decorrer do

estudo.

5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD,

Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita

para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD,

Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.

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CAPÍTULO 1

CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA, PRINCÍPIOS E

PRESSUPOSTOS

1.1 CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA

De acordo com o Dicionário Aurélio básico da Língua

Portuguesa, executar é “1. Levar a efeito; efetuar, efetivar, realizar. 2. Tornar

efetivas as prescrições de; cumprir. 3. Fazer construir. 4. Tocar. 5. Cantar. 6.

Representar, interpretar, encenar.”8 Esses são os sentidos ordinários da palavra.

Já no sentido jurídico, como destaca José Augusto

Rodrigues Pinto:

[...] a palavra assume significado mais apurado, embora

guardando a idéia básica de que, uma vez nascida a obrigação,

por ajuste entre particulares ou por imposição sentencial do órgão

próprio do Estado, deve cumprir-se, atingindo-se no último caso,

concretamente, o comando da sentença que a reconheceu ou, no

primeiro caso, o fim para o qual se criou.9

Como bem lembra Sérgio Pinto Martins, “Até a antiguidade,

a execução era feita sobre o corpo do devedor. Era pessoal. O devedor poderia

ficar como escravo do credor. [...] A partir do ano 1000, a execução privada

acabou sendo desprezada. Atualmente, atinge a execução apenas os bens do

devedor. Passa a ser patrimonial.”10

8 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da Língua Portuguesa.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 283.

9 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. 8. ed.

São Paulo: LTr, 1998. p. 25.

10 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.

646.

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5

Ficou para trás o nebuloso período da autotutela de direitos,

ou de supostos direitos, onde cada pessoa, de certa forma, era seu próprio árbitro

ou juiz, e decidia sobre os meios de fazer seu crédito se cumprir. Valia tudo,

cobrar a dívida sobre o patrimônio do devedor, ou mesmo sobre seu próprio

corpo.11

Depois, visto que cobrar a dívida sobre a pessoa do

devedor, não satisfazia o crédito efetivamente, começa a ser deixado de lado tal

método arcaico e de certa forma, desumano, para permitir-se apenas a execução

patrimonial dos bens do devedor. Atualmente, é necessário utilizar-se de árbitros

ou, seguir o procedimento previsto na Consolidação das Leis do Trabalho para

que se possa cobrar efetivamente o devedor pelo inadimplemento da obrigação.12

Inicia-se a prestação jurisdicional com o processo de

conhecimento, no qual, são trazidas todas as provas para que o juiz possa dizer o

direito das partes. Após o processo de conhecimento, o qual se finaliza com uma

sentença, que geralmente não é cumprida voluntariamente (se for cumprida

espontaneamente, encerra-se aí), segue-se com outra atividade jurisdicional,

destinada à satisfação da obrigação exposta em um título judicial, a sentença.13

Assevera José Augusto Rodrigues Pinto:

A sentença é fruto, essencialmente, da atividade jurisdicional de

Estado, e dentro dessa revela-se o trabalho de realização

concreta das normas abstratas preexistentes e, uma vez

completado, na atuação coercitiva para o cumprimento da norma

já concretamente realizada. Assim, execução de sentença é, pois,

a coerção do Estado sobre o indivíduo para cumprimento de uma

norma que já foi objeto de realização concreta pelo órgão de seu

Poder Judiciário.14

11

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 34

12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 647.

13 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 41. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2007. V 2. p. 121.

14 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 25/26.

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6

Essa atividade estatal de satisfazer a obrigação consagrada

num título que tem força executiva, não adimplido voluntariamente pelo credor, se

denomina execução forçada, sendo que, alternativamente à inércia do credor ou

interessado, há uma faculdade atribuída por lei ao magistrado para, promovê-la

ex officio, por impulso oficial.15

Para Lopes da Costa, “a execução é o conjunto de atos

pelos quais a justiça, substituindo-se ao condenado, alcança, para o titular do

direito tanto quanto possível, o mesmo resultado que ele obteria com o voluntário

cumprimento da obrigação.”16

José Frederico Marques a tem como “o conjunto de atos

praticados pelos litigantes, o juiz e respectivos auxiliares, a fim de ser dado a

cada um o que é seu.”17

Por fim, Manoel Antônio Teixeira Filho formulou um conceito

específico de execução forçada, no âmbito do processo do trabalho:

É a atividade jurisdicional do Estado, de índole essencialmente

coercitiva, desenvolvida por órgão competente, de ofício ou

mediante iniciativa do interessado com o objetivo de compelir o

devedor ao cumprimento da obrigação contida em sentença

condenatória transitada em julgado ou em acordo judicial

inadimplido ou em título executivo extrajudicial, previsto em lei.18

A partir da Lei nº. 9.958/00 foram inseridas as possibilidades

de se executar títulos extrajudiciais no processo do trabalho, como os termos de

ajustamento de conduta e comissão de conciliação prévia.19

Conforme citações supra, nota-se que a execução é parte da

fase final do processo. Podendo-se concluir que é uma sequência de atos

15

PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 26.

16 COSTA, Lopes da. apud SALEM NETO, José. Execução trabalhista: teoria – jurisprudência –

prática. São Paulo: LED, 1999. p. 21.

17 MARQUES, José Frederico apud TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo

do trabalho. p. 33.

18 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 33/34.

19 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 35.

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exercidos por meio da prestação jurisdicional do Estado, onde busca-se a

satisfação do direito do credor, demonstrado pelo título que ele possui,

compelindo o devedor a cumprir tal obrigação.

Com a edição da Lei nº. 11.232/05, modifica-se a execução civil –

que, aliás, fornece a estrutura orgânica básica da execução

trabalhista, consubstanciada (no caso de execução por quantia

certa, modalidade mais comum) nas fases de quantificação,

constrição e expropriação patrimonial – para torná-la, no que

tange a uma busca por maior efetividade, mais assemelhada à

execução trabalhista.20

Sobre o tema, Carlos Henrique Bezerra Leite:

Eis o chamado sincretismo processual, que consiste na

simultaneidade de atos cognitivos e executivos no mesmo

processo, e portanto, mais célere e eficaz. [...] Vale dizer, em se

tratando de título executivo extrajudicial há, realmente, um

processo (autônomo) de execução, instaurado por meio de uma

ação de execução. Todavia, cuidando-se de título executivo

judicial não há mais, em princípio, um “processo” autônomo de

execução e, consequentemente, uma “ação” de execução.21

Assim, o processo de execução de título judicial no processo

civil, a partir da edição da lei nº. 11.232/05, conforme citou Francisco Montenegro

Neto, corre nos mesmos autos da ação de conhecimento, como sempre ocorreu

no processo do trabalho.

Percebe-se ainda, que o cumprimento de sentença e a ação

de execução de título executivo extrajudicial, tanto no processo civil quanto no do

trabalho completam a prestação jurisdicional iniciada pelo credor e declara o

direito das partes.

20

MONTENEGRO NETO, Francisco. A nova execução e a influência do processo do trabalho no processo civil. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7835>. Acesso

em: 27 set. 2009.

21 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 805/806.

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8

1.2 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

Merece destaque a definição do jurista José Cretela Júnior

ao afirmar que “Os princípios de uma ciência são as proposições básicas,

fundamentais, típicas que condicionam as estruturações subsequentes.

Princípios, nesse sentido, são os alicerces da ciência.”22

Sendo que a solução de litígios é um processo que ainda

está em evolução, atualmente, o que o Código de Processo Civil tem passado por

reformas significativas, em busca de eliminar a burocracia na execução, visando a

prestação jurisdicional mediante a utilização do sistema de normas e princípios.

Princípios estes, que desde sempre, foram buscados no Processo do Trabalho.23

A execução trabalhista, inclusive a civil, é informada por um

conjunto de princípios, que serão abordados a seguir, e merecerão comentários

individualizados. Pode-se destacar os seguintes princípios da execução

trabalhista:

1.2.1 Princípio da igualdade de tratamento das partes

Esse princípio encontra fundamento no artigo 5º, caput, da

Constituição da República Federativa do Brasil de 198824, que estabelece a

igualdade (formal) de todos perante a lei. É claro que no processo do trabalho o

juiz deve sempre levar em conta a desigualdade substancial que, existe entre os

sujeitos da lide, mesmo porque, via de regra, o credor é o trabalhador

economicamente fraco que necessita da satisfação de seus créditos, que

invariavelmente têm natureza alimentícia, enquanto o devedor é, em linhas gerais,

o economicamente forte. Trata-se pois, do princípio da igualdade substancial ou

real, que encontra residência no art. 3º, incisos II e III, da CRFB/88.25

22

CRETELA JÚNIOR, José apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 63.

23 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 16.

24 A partir deste momento usar-se-á a sigla CRFB/88.

25 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.

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9

1.2.2 Princípio da natureza real da execução

A partir do momento em que o Estado avoca para si o

monopólio da prestação jurisdicional, a execução encontra uma fase de

humanização, ou seja, ela passa a ter caráter real e não pessoal, na medida em

que é o patrimônio do devedor que passa a ficar sujeito à constrição e à

expropriação.26

O art. 591 do CPC prescreve que:

O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,

com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições

estabelecidas em lei.27

Manoel Antônio Teixeira Filho esclarece que “para esses

efeitos, o conjunto de bens é entendido como sendo os bens corpóreos ou

incorpóreos, presentes ou futuros, de direitos e de obrigações economicamente

apreciáveis.”28

Esse princípio é reafirmado no art. 646 do CPC, segundo o

qual:

A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do

devedor, a fim de satisfazer o direito do credor.29

Como bem lembra Carlos Henrique Bezerra Leite:

A natureza real da execução encontra fundamento, ainda, no

princípio constitucional que proíbe a prisão por dívidas, salvo a do

responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de

obrigação alimentícia e a do depositário infiel (CRFB/88, art. 5º,

LXVII), sendo certo que a respeito deste último caso há tratados

internacionais que não permitem a prisão por dívida.30

26

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.

27 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

28 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 116.

29 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

30 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.

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A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ratificada

pelo Brasil por meio do Decreto nº. 678, de 6 de novembro de 1992 (DOU

9.11.1992), prescreve, em seu art. 7º, item 7, que:31

Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os

mandados de autoridade judiciária competente expedidos em

virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.32

Das citações acima, percebe-se que obrigatoriamente a

execução deve ser real, de modo que satisfaça o direito do credor, sem

comprometer a integridade física e liberdade do devedor.

1.2.3 Princípio da limitação expropriatória

Conforme art. 659 do CPC:

A penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o

pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários

advocatícios.33

E ainda, entende-se pelo art. 692, parágrafo único, do

mesmo diploma legal dispõe que a arrematação será suspensa assim que o

produto da alienação dos bens for suficiente para o pagamento do credor.34

Sendo que a base da execução é o título executivo e o

objetivo é fazer com que o devedor cumpra a obrigação contida no mesmo, é

elementar que os atos expropriatórios que venham a ser praticados, tenham como

limite o valor da dívida, com os acréscimos legais.35

Fica clara, pois, a existência de uma limitação expropriatória

que deriva da lei, com o fim de impedir que o devedor seja prejudicado, e que o

credor, enriqueça ilegalmente.

31

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 843.

32 BRASIL. Decreto nº. 678/92. Disponível em <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 abr 2010.

33 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

34 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

35 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 117.

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11

1.2.4 Princípio da não-prejudicialidade do devedor

Vários atos são praticados durante o iter procedimental da

execução em evidente desconforto do devedor, como a formalização de penhora

em bens do seu patrimônio, a designação de dia e hora para a realização da

hasta pública, a arrematação do bem penhorado, o pagamento feito em favor do

credor em qualquer das suas modalidades, etc. Porém, somente quando a

execução puder ser realizada por mais de uma modalidade, com a mesma

efetividade para o credor, será possível se aplicar tal princípio em favor do

devedor.36

Nas palavras de Misael Montenegro Filho:

O dispositivo da lei analisado qualifica-se como favor debitoris,

garantindo que dentre várias formas possíveis de se operar o

(natural) sacrifício do devedor que se prossiga pelo caminho

menos tortuoso, que menos o traumatize. Se o devedor possui

dois bens, cada um de valor suficiente para o adimplemento da

obrigação, a lei lhe confere a prerrogativa de requerer a

substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente

que a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será

menos onerosa para ele devedor. No mesmo sentido, na hipótese

de se constatar que a arrematação foi efetivada por preço vil,

aconselha-se o seu desfazimento, o que pode embasar a

oposição dos embargos à arrematação.37

Outra demonstração da aplicação do princípio em exame é

extraída da interpretação do art. 594 CPC, textualizando:

O credor, que estiver, por direito de retenção, na posse da coisa

pertencente ao devedor, não poderá promover a execução sobre

outros bens senão depois de excutida a coisa que se achar em

seu poder.38

36

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. São Paulo: Atlas, 2008. p. 234.

37 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,

recursos em espécie e processo de execução. p. 234.

38 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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Por este princípio, conclui-se que a execução deve ter o

máximo resultado com o menor dispêndio de atos processuais e prejuízos ao

devedor.

1.2.5 Princípio da especificidade

O princípio está contemplado nos arts. 627 e 633, do CPC,

que diz respeito à execução das obrigações para a entrega de coisa, de fazer ou

de não-fazer decorrentes de títulos extrajudiciais.39

Dispõe o art. 627 do CPC, que:

O credor tem direito a receber, além das perdas e danos, o valor

da coisa, quando esta não lhe for entregue, se deteriorou, não for

encontrada ou não for reclamada do poder do terceiro

adquirente.40

E, ainda, o art. 633, do CPC:

Se, no prazo fixado, o devedor não satisfazer a obrigação, é lícito

ao credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja

executada à custa do devedor, ou haver perdas e danos; caso em

que ela se converte em indenização.41

Segundo o princípio em tela, quer se dar ao credor o que ele

perdeu em favor do devedor, e caso não seja possível, lhe indenizar por este

prejuízo.

1.2.6 Princípio da responsabilidade pelas despesas processuais

Por este princípio, verifica-se que incumbe ao devedor o

pagamento dos valores devidos ao credor, ou o cumprimento de outra qualquer

obrigação estampada no título executivo, mas também das custas, dos

39

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.

40 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

41 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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emolumentos, das despesas com a publicação de editais, dos honorários

periciais, etc.42

Manoel Antonio Teixeira Filho assevera que:

Essa responsabilidade subsiste no caso de remição (CPC, art.

651), a despeito de os honorários advocatícios já se encontrarem

incluídos na conta elaborada com vistas às disposições da

sentença exeqüenda. Os honorários periciais, contudo, podem ser

supervenientes a essa sentença; sendo assim, por eles

responderá, por princípio, o devedor.43

No processo do trabalho, o art. 789-A da CLT prescreve que

as custas, no processo (ou fase) de execução, sempre a cargo do executado, são

pagas ao final.44

Deste modo, sendo que a execução apenas foi processada

em virtude do não adimplemento do devedor, nada é mais juto do que este

responder pelas despesas processuais.

1.2.7 Princípio do não-aviltamento do devedor

Como já foi dito, é em favor do credor que a execução se

desenrola; porém, a mesma não deve afrontar a dignidade humana, princípio

constitucional fundamental consagrado no art. 1º, inc. III, da CRFB/88, retirando

do devedor bens indispensáveis à sua subsistência e a de seus familiares.45

Por este motivo, a lei tornou insuscetível de penhora alguns

bens, conforme art. 649 do CPC. Bens estes que atendem a necessidade vital do

devedor e também a circunstâncias de ordem sentimental, religiosa, profissional e

outras.46

42

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845.

43 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 119.

44 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do

processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30 nov. 2009.

45 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845.

46 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845.

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1.2.8 Princípio da vedação do retrocesso social

Este princípio encontra-se implícito no nosso sistema

constitucional e, como leciona Ingo Wolfgang Sarlet:

[...] decorre de outros princípios e argumentos de matriz jurídico-

constitucional, como o princípio do Estado Democrático e Social

de Direito, que impõe um patamar mínimo de segurança jurídica; o

princípio da dignidade da pessoa humana; o princípio da máxima

efetividade dos direitos fundamentais.47

Carlos Henrique Bezerra Leite acrescenta, ainda, que

[...] o princípio da segurança é, ao mesmo tempo, um direito

humano de primeira dimensão (CRFB/88, art. 5º, caput) e um

direito humano de segunda dimensão (CRFB/88, art. 6º), valendo

lembrar o disposto no caput do art. 7º da CRFB/88, que aponta

sempre no sentido de melhoria (nunca de retrocesso) das

condições sociais dos trabalhadores.48

Percebe-se que a intenção é de buscar cada vez mais o

desenvolvimento do direito para que se possa aplicá-lo de maneira efetiva e

satisfatória aos jurisdicionados.

1.2.9 Princípio da disponibilidade

O ordenamento processual brasileiro dá ao credor a

faculdade de prosseguir ou não com a execução, ou algumas medidas

executivas, de acordo com o disposto no art. 569 do CPC, sem mesmo necessitar

da anuência do devedor. 49

Contudo, prevê o art. 158, § único, CPC:

47

SARLET, Ingo Wolfgang apud LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845/846.

48 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 846

49 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 846

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A desistência da ação só produzirá efeito depois de homologada

por sentença.50

Portanto, faz necessária a homologação judicial para que a

desistência da execução produza seus efeitos.

Sobre o tema, leciona Manoel Antônio Teixeira Filho:

Opostos os embargos, o credor somente poderá desistir da

execução, se nisso convier o devedor, porquanto este poderá ter

interesse em obter um pronunciamento jurisdicional acerca da

quitação, da prescrição extintiva e de outras matérias alegadas

[...].51

De outro lado, no Processo do Trabalho, considerando-se os

princípios da irrenunciabilidade de direitos trabalhistas e a hipossuficiência do

trabalhador, deve o Juiz do Trabalho ter cuidado redobrado ao homologar

eventual desistência da execução por parte do credor trabalhista, devendo ouvir o

reclamante, e se convencer de que a desistência do crédito é mesmo

espontânea.52

1.2.10 Princípio do título

Toda execução pressupõe um título, seja ele judicial ou

extrajudicial. A execução é nula sem título, (nulla executio sine titulo). Outrossim,

o título a embasar a execução deve ser líquido, certo e exigível.53

Os títulos trabalhistas que têm força executiva estão

previstos no artigo 876, da CLT, e serão comentados no próximo capítulo.

50

BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

51 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 122.

52 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 123.

53 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do

processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30 nov. 2009.

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1.2.11 Princípio da redução do contraditório

O contraditório é limitado, mitigado, pois a obrigação já está

constituída no título e deve ser cumprida, ou de forma espontânea pelo devedor,

ou mediante a atuação coativa do Estado, que se materializa no processo.54

Cabe aqui trazer entendimento de Ernane Fidélis dos

Santos:

O contraditório só se revela pela comunicação idônea dos atos ao

executado, permitindo sua participação no processo, mas sem

oposição contestatória, porque visando a execução apenas

efetivar direito já reconhecido, seus objetivos se limitam a tal

realização prática, sem que haja nenhuma sentença, a não ser o

pronunciamento que julga extinta a execução.55

Para este autor o princípio do contraditório é um dos

princípios diretores do processo, e manifesta-se tanto no de conhecimento,

quanto no de execução, hoje apenas para títulos extrajudiciais.

1.2.12 Princípio da efetividade

A execução trabalhista se faz no interesse do credor e,

portanto, todos os atos executivos devem ser dirigidos para a sua efetiva

satisfação, pois é o maior interessado.56

Segundo Araken de Assis: “[...] é tão bem sucedida a

execução quando entrega rigorosamente ao exeqüente o bem perseguido, objeto

da prestação inadimplida, e seus consectários.”57

Misael Montenegro Filho conceitua no mesmo sentido,

dizendo que “É em atenção do credor, que o devedor é punido por sua conduta

54

SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30/11/2009.

55 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo

cautelar. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 2 V. p. 4.

56 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do

processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30/11/2009.

57 ASSIS, Araken. Manual do processo de execução. p. 108.

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injustificável de não adimplir voluntariamente a obrigação contra si imposta,

gerando portanto, a solicitação do prejudicado para que o Estado atue de forma

substitutiva.”58

Lembrando sempre que, isso não significa que a execução

apenas pode ser desfechada em favor do credor, sabido que o devedor pode

trazer para a relação jurisdicional os atributos de certeza, de liquidez e de

exigibilidade do título que embasou a execução através do acolhimento da sua

defesa, materializada na oposição dos embargos à execução ou da impugnação,

sem afastar a possibilidade de apresentação da exceção de pré-executividade.59

1.2.13 Princípio da ausência de autonomia

No processo do trabalho, em se tratando de título executivo

judicial, a execução é fase do processo e não procedimento autônomo, pois o juiz

pode iniciá-la de ofício, baseando-se no art. 848, da CLT, sem necessidade do

credor entabular petição inicial.60

Como bem adverte Manoel Antonio Teixeira Filho:

Sem pretendermos ser heterodoxos neste tema, pensamos que a

execução trabalhista calcada em título judicial, longe de ser

autônoma, representa, em rigor, simples fase do processo de

conhecimento que deu origem à sentença condenatória

exeqüenda.61

Verifica-se, com as citações acima que não há que se falar

em ação de execução no caso de título executivo judicial, visto que a execução

trabalhista é uma continuação do processo, uma fase, e não uma ação autônoma.

58

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 233.

59 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,

recursos em espécie e processo de execução. p. 233.

60 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 46.

61 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 46.

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1.2.14 Princípio da celeridade

Dada a simplicidade do processo de execução trabalhista, a

mesma deve ser rápida, pois o credor trabalhista não pode esperar, sendo que

este crédito tem natureza alimentar. Isso, não só no processo do trabalho, como

em outras esferas, o crédito trabalhista sempre tem preferência.62

1.2.15 Princípio da subsidiariedade

O art. 769 da CLT disciplina os requisitos para aplicação

subsidiária do direito processual comum ao processo do trabalho, com a seguinte

redação:

Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte

subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em

que for incompatível com as normas deste Título. 63

Conforme a redação do referido dispositivo legal, são

requisitos para a aplicação do Código de Processo Civil ao processo do trabalho:

a) omissão da CLT, ou seja, quando a CLT, ou a legislação processual

extravagante não disciplina a matéria; b) compatibilidade com os princípios que

regem o processo do trabalho. Vale dizer: a norma do CPC além de ser

compatível com as regras que regem o processo do trabalho, deve ser compatível

com os princípios que norteiam o direito processual do trabalho, máxime o acesso

do trabalhador à Justiça.64

Verifica-se que os princípios entram uns na esfera dos

outros, confundindo-se, pois são interligados. Não é necessário que o juiz

individualize-os, mas faz-se mister que ao julgar o processo esteja à luz de todos,

para julgar com equidade e assim poder fazer a devida justiça.

62

SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em: 30/11/2009.

63 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

64 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do

processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em: 30/11/2009.

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19

Jorge Luiz Souto Maior citando Pontes de Miranda, disse

que, “Na ação executiva quer-se mais: quer-se o ato do juiz, fazendo não o que

devia ser feito pelo juiz como juiz, mas sim o que a parte deveria ter feito.”65

Por fim, não é exagero advertir que os sacrifícios

processuais devem sempre respeitar e se curvar aos princípios constitucionais,

como normas jurídicas qualificadas, hierarquicamente situadas acima das

disposições da legislação infraconstitucional.66

1.3 PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

“Tanto no processo civil quanto no do trabalho, a

possibilidade de promover-se qualquer execução se sujeita ao atendimento das

condições da ação comuns a todas as ações [...]”67, que são:

1.3.1 Legitimidade ad causam

“É a regularidade do poder do sujeito que integra o

processo, de determinada pessoa, de demandar sobre determinado objeto e, para

ser regular, deve verificar-se tanto no pólo ativo quanto no pólo passivo da

relação jurídica.”68

1.3.2 Viabilidade jurídica do pedido

“Consiste na formulação de pretensão que, em tese, exista

na ordem jurídica como possível de ser atendida, e que, pretensamente, esteja

amparada pelo direito material ou pelos princípios que orientam o Direito e a

Justiça.”69

65

MIRANDA, Pontes de apud MAIOR, Jorge Luiz Souto. Teoria geral da execução forçada: execução trabalhista: visão atual. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 37

66 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,

recursos em espécie e processo de execução. p. 236.

67 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 161.

68 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta – objetiva – atual. 3. ed.

Florianópolis: Momento Atual, 2007. V 2. p. 22.

69 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta – objetiva – atual. p. 25.

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20

1.3.3 Interesse processual de agir

Segundo esclarecedor magistério de Arno Melo Schlichting:

“É uma relação de necessidade, pois decorre da necessidade de

se recorrer ao judiciário para a obtenção do resultado pretendido,

uma vez que é esse o único modo que resta ao agente pretensor

para obter o “direito” reclamado, [...]. É também uma relação de

adequação, uma vez que é inútil provocar a tutela jurisdicional se

ela não for apta a produzir a correção da lesão argüida na

inicial.”70

As condições da ação, como categorias intermediárias entre

os pressupostos processuais e o mérito da causa, apresentam-se como requisitos

que a lei impõe para que a parte possa, numa relação processual válida, chegar

até a solução final da lide.71

A execução forçada também está condicionada à

concorrência de requisitos fundamentais e específicos, que se revelam no título,

sem excluir a incidência dos gerais, a saber: a) a existência de título executivo,

também chamado por alguns doutrinadores de pressuposto formal, de onde se

extrai o atestado de certeza e liquidez da dívida; e b) o inadimplemento do

devedor, também chamado de pressuposto prático, que é a atitude ilícita do

devedor, que comprova a exigibilidade da dívida.72

Esses requisitos são indispensáveis à realização das

execuções em geral, tenham elas por objeto uma obrigação de dar (dinheiro ou

coisa), de fazer ou de não fazer. Sem a presença dos mesmos, impõe-se a

extinção da execução sem a resolução do mérito, por carência de ação, onerando

o credor com o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios

em favor do seu opositor. Deste modo, produz-se apenas coisa julgada formal, de

70

SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta – objetiva – atual. p. 23.

71 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154.

72 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154.

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maneira que a ação pode ser reproposta em momento seguinte, desde que seja

possível eliminar o vício processual que impôs a extinção em análise.73

1.3.4 A existência de um título executivo

Não há possibilidade de instauração de processo executório,

sem o título executivo. Este se informa exclusivamente pela lei e tem validade

formal.74 Nesse sentido, ensina o doutrinador Ernane Fidélis dos Santos:

A ação de execução é baseada em título, e, no processo que se

instaura, não se discute sobre a justiça da pretensão, mas sim

sobre a validade formal do título executado, já que, se ele existe,

não há direito a ser questionado. Toda execução que não se

fundar em título executivo deve de plano ser indeferida, a qualquer

momento pode ser declarada sua nulidade (art. 618, I), ainda que

sem a incidência de embargos.75

Acerca do primeiro pressuposto da execução, não há

consenso doutrinário sobre o conceito e a natureza do título executivo.

Para Liebman, é ele um elemento constitutivo da ação de

execução forçada; para Zanzuchi é uma condição do exercício da

mesma ação; para Carnelutti, é a prova legal do crédito; para

Furno e Couture, é o pressuposto da execução forçada; para

Rocco é apenas o pressuposto de fato da mesma execução, etc.76

Também, ensina Lúcio Rodrigues de Almeida “Título

executivo é a base indispensável de qualquer execução judicial. Nele se

corporificam o direito do credor e a sanção a que se acha sujeito o devedor por

inadimplência da obrigação.”77

No entanto, em toda a doutrina e na maioria dos textos dos

Códigos modernos, está unanimemente expressa a regra fundamental, já

73

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 270.

74 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154

75 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. 2007. P. 8/9

76 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154

77 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução Trabalhista. Rio de Janeiro: AIDE, 1997. p. 54

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comentada no item 1.2.11, princípio do título, da nulla executio sine titulo. Isto é,

nenhuma execução forçada é cabível sem o título executivo que lhe sirva de

base.78

Antes do ano 2000, não era possível que se executasse

títulos extrajudiciais na Justiça do Trabalho. Contudo, a Lei nº. 9.958/2000

modificou o texto do art. 876 da CLT para prever esta possibilidade.79

Atualmente, dispõe o art. 876 da CLT:

Art. 876. As decisões passadas em julgado ou das quais não

tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando

não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante

o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação

firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão

executados pela forma estabelecida neste Capítulo.80

Prevê este artigo, todos os títulos que podem ser

executados na Justiça do Trabalho. No entanto, tais títulos são divididos em

judiciais e extrajudiciais.81

O artigo se refere a “decisões passadas em julgado”,

portanto, as sentenças (decisões de primeiro grau) e os acórdãos (decisões dos

órgãos superiores da jurisdição) transitados em julgado ou contra os quais não

tenham sido interposto recurso com efeito suspensivo são títulos judiciais.82

Como destaca Sérgio Pinto Martins:

São executadas no processo do trabalho as decisões passadas

em julgado. Quer dizer, as sentenças das quais não caiba mais

qualquer recurso. Tanto são as decisões condenatórias de

obrigação de dar, de pagar, como as de obrigação de fazer ou não

fazer. Também se incluem as declaratórias, quanto a custas e

78

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154

79 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 53.

80 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

81 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 924.

82 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 185

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honorários de advogado, se for o caso. São ainda executadas as

sentenças que fixam honorários de advogado, honorários

periciais, multas e outras despesas judiciais.83

Já os acordos judicialmente homologados, os acordos

extrajudiciais homologados pela Delegacia Regional do Trabalho ou pelo

sindicato, os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do

Trabalho e os termos de conciliação firmados perante Comissão de Conciliação

Prévia são os títulos executivos extrajudiciais.84

O inciso II do art. 585 do CPC dispõe que o instrumento de

transação referendado pelo Ministério Público é considerado título executivo

extrajudicial, que é justamente o termo de ajuste de conduta firmado pelo

Ministério Público do Trabalho e a outra parte na ação civil pública.85

Reafirma o parágrafo único do art. 625-E da CLT que:

O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá

eficácia liberatória geral, [...].86

Portanto, também os termos de conciliação firmados perante

as Comissões de Conciliação Prévia poderão ser executados.

Ainda podem ser executados no processo do trabalho os

seguintes títulos que o CPC também coloca como títulos judiciais exeqüíveis: a

sentença arbitral e a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de

Justiça87, com base no art. 575, IV, do CPC.88

83

MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 924

84 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues. Execução trabalhista. p. 52.

85 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues. Execução trabalhista. p. 52/53.

86 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

87 A partir deste momento usar-se-á a sigla STJ.

88 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 64.

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1.3.5 O inadimplemento da obrigação prevista no título pelo devedor

Quanto ao segundo pressuposto da execução, que é o

requisito que se denomina material, a situação de fato que dá lugar a execução

consiste sempre “Na falta de cumprimento de uma obrigação por parte do

obrigado.”89

Nas palavras de Lúcio Rodrigues de Almeida, “Devedor

inadimplente é o que espontaneamente não satisfaz o direito reconhecido na

decisão judicial, ou a obrigação assumida em documento a que a lei atribui

eficácia de título extrajudicial.”90

Embora o verbo inadimplir traduza na terminologia do processo, o

ato pelo qual o devedor deixa de cumprir uma obrigação, devemos

ponderar que o inadimplemento, em sua significação plena, só se

configura quando a obrigação deixa de ser: a) cumprida em sua

modalidade típica (dar, fazer, não fazer); b) no prazo legal; c) no

lugar estabelecido; d) de acordo com as demais condições

constantes do título executivo.91

O inadimplemento do devedor é requisito que revela o

interesse de agir do credor. Não se encontrando o devedor inadimplente com o

cumprimento da obrigação, não há conflito de interesses a ser solucionado

através da intervenção do representante do Poder Judiciário.92

O adimplemento da obrigação pelo devedor é fato que pode

ocorrer logo após a instauração da execução, independentemente

da citação ou da intimação operada na pessoa do executado,

impondo a extinção da execução pela satisfação da obrigação,

conforme artigo 581 do CPC, não se afastando a obrigação do

devedor de efetuar o pagamento das custas processuais e dos

89

LIEBMAN, Enrico Tullio apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159.

90 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues. Execução trabalhista. p. 54.

91 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 180.

92 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,

recursos em espécie e processo de execução. p. 270.

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honorários advocatícios, por ter dado causa à postulação

(princípio da causalidade), no caso de ter sido citado.93

Relaciona-se a idéia de inadimplemento com a de

exigibilidade da prestação, de maneira que, enquanto não vencido o débito, não

se pode falar em descumprimento da obrigação do devedor. Ciente dessa

verdade, ensina Lopes da Costa que para a execução, torna-se necessário que:

a) exista o título executivo; e b) que a obrigação esteja vencida.94

Em outras palavras, a exigibilidade do título se dá quando o

devedor configura-se em mora, que pode ser qualificada como a inércia

injustificada do mesmo de cumprir a obrigação à qual se encontra atado, tendo

índole evidentemente culposa.95

O Código de Processo Civil concebe a execução ora fundada em

título judicial, ora fundada em título executivo extrajudicial. Título

exigível é aquele que não foi resgatado no prazo estipulado para o

pagamento, [...] não depende do implemento de termo ou

condição, nem está sujeito a outras limitações, assim, temos

presente o requisito da exigibilidade.96

Assim, torna-se evidente que sem o vencimento da dívida,

seja normal ou extraordinário, não ocorre a sua exigibilidade. E não sendo

exigível a obrigação, o credor carece da ação executiva, pois conforme o artigo

586 do CPC:

A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em

título de obrigação certa, líquida e exigível.97

93

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 271.

94 COSTA, Lopes da apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil.

p. 159

95 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,

recursos em espécie e processo de execução. p. 271.

96 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução trabalhista. p. 54

97 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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O inadimplemento pressupõe uma situação de inércia

culposa do devedor. Por isso mesmo, se ocorre o cumprimento voluntário da

obrigação pelo devedor, o credor não poderá iniciar a execução.98

Com base no artigo 794, I, CPC, mesmo que já tenha tido

início a execução forçada, caberá sempre ao devedor o direito de fazer cessar a

sujeição processual através do pagamento da dívida, que é, invariavelmente, fato

extintivo do processo executivo.99

Não há, todavia, necessidade de produzir-se prova do

inadimplemento junto com a inicial, o transcurso do prazo da

citação sem o cumprimento da obrigação, como forma de

interpelação judicial, é a mais enérgica e convincente

demonstração da mora do devedor. Além do mais, a simples

verificação, no título, de que já ocorreu o vencimento é a prova

suficiente para abertura da execução. Ao devedor é que incumbe

o ônus da prova em contrário, isto é, a demonstração de que

inocorreu o inadimplemento, o que deverá ser alegado e provado

em embargos à execução (arts. 741, inc. VI, e 745), ou em

impugnação ao cumprimento da sentença (art. 475-L, inc. VI).100

Da citação acima, percebe-se que, o ônus de demonstrar o

adimplemento da obrigação é do devedor, não se exigindo do credor que traga

aos autos documentação demonstrando não ter sido a obrigação cumprida pelo

devedor no prazo do seu vencimento, presumindo-se o inadimplemento através

da só declaração do credor e da fluência da data de vencimento prevista no

próprio título.

Salvo a excepcional possibilidade da execução provisória, em

matéria de sentença (título executivo judicial), só se pode falar em

inadimplemento após o trânsito em julgado e a liquidação da

condenação, se for o caso.101

98

ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução trabalhista. p. 54.

99 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159

100 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução trabalhista. p. 54.

101 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159.

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Na hipótese de o cumprimento estar sujeito a termo ou a

condição, como se dá, por exemplo, com nota promissória ainda não vencida,

percebe-se que o título ainda não é exigível, e que a postura do credor de

ingressar com a ação judicial revela a impossibilidade de sujeição dos bens do

executado à penhora, que se mostraria como medida judicial descabida. Neste

caso que o recebimento da petição inicial da ação de execução deve passar pelo

apurado crivo do magistrado, observando o preenchimento (ou não) dos

requisitos gerais e específicos da postulação.102

Por fim, os requisitos analisados não são alternativos, mas

conjugados, de modo que a ação de execução ou o cumprimento de sentença

devem apresentar título extrajudicial ou judicial, respectivamente, a demonstração

do inadimplemento do devedor e consequentemente, a exigibilidade do título para

que assim o Estado possa tutelar os direitos dos sujeitos da relação

processual.103

102

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 258.

103 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,

recursos em espécie e processo de execução. p. 273.

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CAPÍTULO 2

PROCEDIMENTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

2.1 TÍTULOS EXECUTIVOS – CARACTERÍSTICAS

Não é todo título que enseja a execução. Não basta a

regularidade da forma, para que o título tenha força executiva. Além dos

requisitos formais, que estão definidos em lei, como a assinatura de duas

testemunhas em documento particular etc., há também os substanciais, que lhe

dão força de executividade: a liquidez (o título deve estar calculado), a certeza

(que não haja dúvidas sobre a existência do título), e a exigibilidade (que do título

se possa verificar o inadimplemento do devedor).104

Como prevê o art. 586 do CPC:

A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em

título de obrigação certa, líquida e exigível.105

O título executivo com os requisitos legais consiste no

fundamento jurídico que permite o credor movimentar os instrumentos coativos de

que dispõe o Estado-juiz para obter a satisfação do seu direito, quando

manifestada resistência do devedor ao cumprimento da obrigação.106

104

SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo cautelar. p. 8/9.

105 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

106 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 258.

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2.1.1 Da certeza

Houve uma preocupação técnica do legislador em, primeiro,

referir-se à certeza e, depois, à liquidez e exigibilidade, já que, na verdade, a

indagação sobre a certeza da dívida deve antecipar a dos demais requisitos.107

A certeza do título ocorre quando não há controvérsia com

relação à sua existência, de maneira tal que não deixe dúvida, pelo menos

aparente, de obrigação que deva ser cumprida, pelo que se revela em sua

realidade formal.108

Conforme leciona Misael Montenegro Filho:

A incerteza de que se reveste o documento denota a necessidade

de melhor investigação do negócio jurídico que ensejou a sua

formação, reclamando instrução probatória, não merecendo o

trato privilegiado emprestado aos títulos acolhidos pela lei como

executivos judiciais ou extrajudiciais, sabido que a necessidade de

investigação dos contornos do negócio jurídico remete-nos ao

processo de cognição, para a plena análise de fatos, afastando-

nos da execução.109

Não está a certeza, portanto, no plano da vontade ulterior

das partes, mas na convicção que o órgão judicial tem de formar diante do

documento que lhe é exibido pelo credor.110

2.1.2 Da liquidez

Dá-se a liquidez, se o título determina a importância da

prestação. A liquidez existe quando o objeto do título está devidamente

determinado.111

107

SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo cautelar. p. 10.

108 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 260.

109 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,

recursos em espécie e processo de execução. p. 283.

110 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 157.

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Nas palavras de Ernane Fidélis dos Santos:

Se for, por exemplo, importância em dinheiro, deverá, no título,

estabelecer-se o quantum certo. Se, no documento público ou

particular assinado por duas testemunhas, consta dívida de R$

500.000,00, há liquidez. Se o documento, porém, estabelece valor

a ser apurado por arbitramento ou que, de uma forma ou de outra,

deva ser apurado, não há liquidez, devendo a parte socorrer-se do

processo de conhecimento. Ilíquido não é o título quando a

importância decorrer de simples dedução aritmética ou de

substituição de valores devidamente estabelecidos no sistema

econômico nacional ou daqueles que tenham cotação oficial. Não

é ilíquido o documento formalizado que estabelece, por exemplo,

o pagamento de x sacas de café, determinado de acordo com a

cotação da bolsa.112

Também há liquidez quando o quantum se apura por mera

dedução, ou, tratando-se de acessórios móveis, são apuráveis também no

momento do pagamento. É o que ocorre com os juros e a correção monetária.113

Nas obrigações de entrega de coisa e de prestação de fato,

o objeto também deve ser determinado. A coisa deve estar caracterizada em

todos os seus elementos, e o fato a ser prestado deve ser individuado: construir

um muro de tal extensão e altura etc. Na abstenção de fato, a liquidez se revela

pela determinação exata do que a pessoa não deva fazer: não funcionar

determinada máquina após determinada hora etc.114

Não se encontrando perfeitamente delimitado no título o objeto da

prestação de direito material a ser satisfeita pelo devedor,

necessário que se promova à liquidação da obrigação, situação

específica dos títulos judiciais, a fim de que seja proferida a

decisão que atribua ao título executivo o requisito faltante

(liquidez), qualificando-se como decisão complementar, atando-se

111

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 261.

112 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 11.

113 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 157.

114 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 11.

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ao documento que já exprimia os atributos da certeza e da

exigibilidade.115

Das citações supra verifica-se que é um requisito do título a

sua liquidez, de maneira que se o mesmo não se apresentar líquido, deve-se

proceder a sua liquidação, caso contrário, não será documento hábil para exercer

o direito.

2.1.3 Da exigibilidade

A exigibilidade do título ocorre a partir do momento em que

encontra-se configurada a mora, qualificando-se como a inércia injustificada do

devedor de cumprir a obrigação a qual encontra-se atado, tendo índole

evidentemente culposa.116

De acordo com o art. 580, do CPC:

A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a

obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título

executivo.117

Então, no processo do trabalho, nos moldes do processo

civil o título executivo é a base da execução, o documento que dá direito à ela; o

limite da execução, pois a execução ocorre dentro dos limites deste título, ele

define a execução, é condição necessária e eficiente para que se possa promover

a execução.118

Entende-se do artigo 580, do CPC, acima citado, que se o

pagamento do título não depende do implemento de termo ou condição, nem está

sujeito a outras limitações, e o devedor, ainda assim, não cumpriu com sua

obrigação, tem-se presente o requisito da exigibilidade.

115

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 277.

116 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159.

117 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

118 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 263.

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De modo geral, a exigibilidade nasce com o vencimento da

dívida, e significa que o credor pode reclamar a correspondente contraprestação

do devedor. Registra-se ainda, que o não-preenchimento de qualquer dos

requisitos acima alinhados impõe a extinção da execução sem a resolução do

mérito, em face do reconhecimento da carência de ação, concluindo-se pela falta

de interesse do credor em vista: a) da ausência de conflito de interesses a ser

dirimido; ou b) da inadequação da via eleita.119

2.2 COMPETÊNCIA E LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA

Para iniciar o tema competência, faz-se mister verificar o

conceito de jurisdição, que, segundo a etimologia do vocábulo (iuris + dictio),

traduz o poder-dever que as leis outorgam aos magistrados para efeito de

solucionarem os conflitos de interesses submetidos ao seu conhecimento,

dizendo, por esta forma, com quem está o direito.120

Embora todos os juízes possuam, por princípio jurisdição, a

afirmativa perde a sua veracidade quando dirigida à competência.

Efetivamente, em certos casos, por força de critérios adotados

pelo legislador, o juiz, a despeito de possuir jurisdição, fica

desapercebido de competência, de tal sorte que se pode conceber

a regra segundo a qual em toda competência há jurisdição,

conquanto nem toda jurisdição implique competência.121

Já sobre legitimidade, de um modo bem simples pode-se

dizer que parte, na execução, é a pessoa que pode promover e contra a qual

pode ser promovida a execução. Como ocorre no processo de conhecimento, há

no processo de execução partes antagônicas, exequente e executado, vale dizer,

credor e devedor, sujeitos, portanto, tal como ocorre com o autor e o réu, aos

requisitos de legitimidade ad causam e ad processum.122

119

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 281.

120 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 161

121 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 161.

122 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Processo de execução. Disponível em:

<http://www.fmd.pucminas.br/Virtuajus/ano2_2/execucao%20Trabalhista.pdf>. Acesso em: 11 jan

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Adentrar-se-á agora aos temas especificamente.

2.2.1 Competência na execução trabalhista

Dispõe o art. 877 da CLT que:

É competente para a execução das decisões o juiz ou presidente

do Tribunal que tiver conciliado ou julgado originariamente o

dissídio.123

A primeira norma trata da competência para a hipótese da

execução que se escora em título executivo judicial, assim, é competente para

processar a execução o juiz da vara do trabalho que julgou originariamente a

ação no processo de conhecimento; ou o presidente do TRT ou do TST, para as

causas em que a competência originária para o processo de conhecimento for do

respectivo tribunal.124

E ainda, o art. 877-A, também da CLT, prevê que:

É competente para a execução de título executivo extrajudicial o

juiz que teria competência para o processo de conhecimento

relativo à matéria.125

Cabe aqui trazer o esclarecimento de Sérgio Pinto Martins a

respeito da expressão utilizada pelo legislador:

A expressão “o juiz” a que se refere o artigo é tanto referente ao

juiz presidente da Vara ou ao substituto, como o juiz de direito,

que naturalmente atua sozinho, monocraticamente. É o juiz de

primeira instância. A referência ao presidente do tribunal refere-se

aos processos de competência originária do tribunal, como de

dissídio coletivo, para pagamento de custas, de ação rescisória,

para o cumprimento do acórdão, etc. A execução dos processos

2010.

123 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

124 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 139.

125 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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34

de competência originária do tribunal será feita perante o juiz

presidente do tribunal.126

É importante notar, outrossim, que a competência para a

execução e liquidação, nas ações coletivas, inclusive as ações civis públicas, para

tutela de interesses individuais homogêneos possui regramento próprio no Código

de Defesa do Consumidor127, sendo, pois, inaplicável, em tais casos, a

sistemática do CPC e da CLT.128

2.2.2 Legitimidade ativa na execução trabalhista

No que se relaciona com a regra geral de legitimação ativa,

o critério é o de atribuí-la sempre ao credor que configure como tal no título

executivo. Mas, subsidiariamente ao processo de conhecimento, são também

adotados os casos de legitimação anômala, ou substituição processual, quando a

lei o permitir.129

Dispõe o art. 878 da CLT:

A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex

officio pelo próprio juiz ou presidente ou Tribunal competente, [...].

Parágrafo único: Quando se tratar de decisão dos Tribunais

Regionais, a execução poderá ser promovida pela Procuradoria

da Justiça do Trabalho.130

Portanto, as opções para se iniciar uma execução são as

seguintes: de ofício pelo próprio juiz ou Tribunal competente, pela Procuradoria

Regional do Trabalho, quando a decisão é do TRT em processos de sua

competência originária, ou, qualquer interessado.

126

MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 926.

127 A partir deste momento usar-se-á a sigla CDC.

128 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 818.

129 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo

cautelar. p. 63

130 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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35

O juiz deve promover, não apenas iniciar a execução,

principalmente, quando em decorrência do jus postulandi, o empregado estiver

desassistido de advogado, exceto se, em dado momento, a atuação da parte for

indispensável, cuidando sempre para se manter imparcial.131

No que tange à expressão “qualquer interessado”, prevista no art.

878 da CLT, aplica-se subsidiariamente o disposto no art. 567, I

do CPC, neste caso, o espólio, os herdeiros, e os sucessores. Os

incisos subseqüente, II e III (o cessionário e o sub-rogado) não

são utilizados no processo do trabalho em função da natureza

personalíssima, no tocante ao trabalhador, da relação de

emprego, sem falar no problema da competência da Justiça do

Trabalho em razão das pessoas, uma vez que ingressará na

relação jurídica processual alguém que não é sujeito da relação

jurídica material correspondente.132

O Ministério Público do trabalho também é legitimado para

promover a execução trabalhista, nas hipóteses em que atuou como parte no

processo, ou fase de conhecimento, seja na primeira instância, por exemplo, ação

civil pública, seja na segunda instância, por exemplo, ação rescisória. Nos casos

em que o promotor laboral atuou como órgão interveniente, custos legis, a sua

legitimação ficará condicionada à existência de interesse público que justifique a

sua iniciativa, como, por exemplo, na defesa dos interesses de incapazes ou de

indígenas etc. Tratando-se de execução do termo de compromisso de

ajustamento de conduta firmado perante o Ministério Público do Trabalho, este

detém a legitimação exclusiva para promover a execução dessa espécie de título

executivo extrajudicial.133

Dispõe o art. 12, V e § 1º do CPC:

Serão representados em juízo, ativa e passivamente: [...] V – o

espólio, pelo inventariante; [...]. § 1º. Quando o inventariante for

131

ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. p. 136.

132 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 848

133 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 848

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dativo, todos os herdeiros e sucessores do falecido serão autores

ou réus nas ações em que o espólio for parte.134

O direito de exigir o cumprimento da obrigação não se

extingue, portanto, com a morte do seu titular; o requisito fundamental é o de que,

em virtude da morte do credor, seja transmitido ao espólio, aos herdeiros ou aos

sucessores o direito proveniente do título executivo.

O espólio não tem personalidade jurídica, mas tem

capacidade de ser parte, podendo demandar e ser demandado, até que se ultime

a partilha dos bens. Se a execução estiver em andamento, o espólio nela pode

prosseguir independentemente de habilitação, conforme disposto no art. 43 do

CPC.135

Segundo autorização do art. 567, I, CPC:

O espólio, os herdeiros ou sucessores do credor, sempre que, por

morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título

executivo.136

Não há problemas, no caso de que todos ingressem em

juízo, sejam eles legítimos ou testamentários, pois a co-titularidade de direitos

permite que qualquer herdeiro, individualmente, reclame a universalidade da

herança e, em conseqüência, a dívida toda, sem que o devedor possa opor-lhe,

em embargos, o caráter parcial de seu direito. No caso de o espólio promover a

execução, ou nela se habilitar, o herdeiro poderá ingressar no feito, como

assistente litisconsorcial. O viúvo-meeiro ou a viúva-meeira, em razão da co-

titularidade do direito, pode também promover a execução ou nela prosseguir.137

O advogado da entidade sindical que estiver ministrando

assistência, quando o autor recebe o benefício da assistência

judiciária gratuita, estará legitimado a promover, nos mesmos

134

BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

135 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 63

136 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

137 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 63

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autos, a execução dos honorários a cujo pagamento o devedor foi

condenado, desde que a eles faça referência o título executivo.138

Para encerrar este tópico, convém lembrar o disposto no art.

878-A da CLT:

Faculta-se ao devedor o pagamento imediato da parte que

entender devida à Previdência Social, sem prejuízo da cobrança

de eventuais diferenças encontradas na execução ex officio.139

Neste caso, o próprio devedor também tem a legitimidade

ativa, e poderá dar início à execução, posicionando-se como exeqüente.

2.2.3 Legitimidade passiva na execução trabalhista

Entende-se como devedor a pessoa legalmente legitimada a

responder à execução. Dessa forma, o problema relativo à legitimação passiva

contém implícita a necessidade de se definir contra quem a execução deve ser

realizada. A execução trabalhista dirige-se contra o réu ou réus condenados na

sentença e nela identificados, sejam principais, solidários ou subsidiários, ou,

contra aquele disposto no título extrajudicial.140

Quando há duas ou mais pessoas sobre cujo patrimônio

possa incidir a sentença, ou seja, a decisão possa ser executada, o exeqüente

pode promover a execução contra todas, simultaneamente, ou contra cada uma,

sucessivamente.141

O que não se pode é proceder à execução contra quem não

integrou a relação processual, na fase de conhecimento, conforme a orientação

do Enunciado nº. 205, do TST, que diz:

“O responsável solidário, integrante do grupo econômico, que não

participou da relação processual como reclamado e que, portanto,

138

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Execução no processo do trabalho. p. 143

139 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

140 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Execução no processo do trabalho. p. 143.

141 ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. 7. ed. São Paulo: RT, 2001, p. 117

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não consta do título executivo judicial como devedor, não pode ser

sujeito passivo na execução”.142

Conquanto o empregador possa ser pessoa física, ele se

apresenta, comumente, sob a forma de pessoa jurídica, salvo exceções, é esse

mesmo empregador quem, tendo sido parte no processo de conhecimento, será

na fase de execução, [...].143

O que foi exposto relativamente ao espólio, aos herdeiros e

aos sucessores, quando da legitimação ativa, aplica-se da mesma forma à

passiva.144

2.3 LIQUIDAÇÃO DO TÍTULO EXECUTIVO

Há vários conceitos para o instituto da liquidação de

sentença, porém, na seara trabalhista, segundo Manoel Antônio Teixeira Filho, a

liquidação é:

A fase preparatória da execução, em que um ou mais atos são

praticados, por uma ou por ambas as partes, com a finalidade de

estabelecer o valor da condenação ou de individuar o objeto da

obrigação, mediante a utilização, quando necessário, dos diversos

modos de prova admitidos em lei.145

E esse juslaborista é seguido por José Augusto Rodrigues

Pinto, que advoga ser a liquidação de sentença “Um módulo preparatório da

contrição judicial, cuja realização só encontra razão de ser, precisamente, na

liquidez do título de certificação do direito”.146

142

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Enunciados do TST. Vade mecum. São Paulo: Revista dos tribunais, 2009.

143 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 143-144.

144 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 95

145 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 336

146 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 96

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Assim sendo, nem todas as sentenças que reconhecem

obrigação de pagar encontram-se quantificadas a ponto de permitirem, desde

logo, à execução.147

Dispõe o art. 475-A, do CPC:

Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à

sua liquidação.148

Portanto, sendo ilíquida a condenação, a parte terá que

promover, antes de iniciar a execução, a sua liquidação.

A rigor, não é a sentença que é liquidada, e sim o comando

obrigacional contido no seu dispositivo. De outra maneira, as sentenças

condenatórias, via de regra, tornam certo apenas o débito, cabendo à liquidação a

fixação do quanto devido.149

O artigo 879 da CLT apresenta as formas possíveis de

liquidação de sentença, quais sejam, cálculo, arbitramento ou artigos. Sobre este

assunto, ensina Carlos Henrique Bezerra Leite que:

É permitida a cumulação de duas ou mais espécies de liquidação,

ou seja, é possível que a sentença condenatória contenha

diversas partes ilíquidas, caso em que é possível, por exemplo,

que uma parte seja liquidada por cálculo, outra por artigo etc.150

E, novamente, o art. 879 da CLT deixa claro que a

liquidação constitui simples procedimento prévio da execução, ao prescrever que:

Sendo ilíquida a sentença exeqüenda, ordenar-se-á, previamente,

a sua liquidação.151

147

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 783.

148 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

149 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 784

150 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 784

151 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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Por isso, não é a liquidação um processo autônomo, é

apenas uma fase. Prevê, ainda, o §1º do mesmo artigo, que:

Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença

liquidanda, nem discutir matéria pertinente à causa principal.152

Sendo assim, a liquidação de sentença tem natureza jurídica

declaratória, pois apenas irá quantificar o valor total devido; não irá modificar ou

extinguir relações, por isso não é constitutiva.153

Com base no art. 475 - I, § 2º, do CPC:

Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao

credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e,

em autos apartados, a liquidação desta.154

Deste modo, pode o exeqüente solicitar a extração da carta

de sentença, para promover, desde logo, a execução da parte líquida, enquanto

promove a liquidação da parte ilíquida.

Agora, as três espécies de liquidação do processo

trabalhista individual.

2.3.1 Liquidação por cálculo

A liquidação de sentença por cálculos é a forma mais

utilizada, se faz quando os elementos já estão nos autos, basta calcular.155

Conforme dispõe o art. 879, § 1º - B, da CLT:

As partes deverão ser previamente intimadas para a apresentação

do cálculo de liquidação, inclusive da contribuição previdenciária

incidente.156

152

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

153 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 785.

154 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

155 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 508.

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41

Neste caso, o próprio credor solicita a liquidação por cálculo,

instruindo, desde logo, a petição com a memória discriminada e atualizada dos

valores que entender ser deles credor. Ou, se as partes não apresentarem, os

cálculos de liquidação, o juiz determinará que o auxiliar encarregado elabore os

cálculos, fulcro no § 3º do art. 879, que prevê a possibilidade de a conta ser

elaborada pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho.157

Com base na súmula 211 do TST, os juros de mora e a

correção monetária incluem-se na liquidação, ainda que omisso o pedido inicial ou

a condenação; a saber:

Os juros de mora e a correção monetária incluem-se na

liquidação, ainda que omisso o pedido inicial e a condenação.158

Nas palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite:

Além dos juros e da atualização monetária, também podem ser

objeto da liquidação de sentença por simples cálculo as verbas

trabalhistas específicas da condenação, cujo quantum não

necessita de um expert ou de provar fato novo, como, por

exemplo, as parcelas rescisórias, as férias e o décimo terceiro

salário proporcionais, as horas extras, o saldo de salários etc.159

Em se tratando de liquidação por cálculo, se a parte não

propuser o cálculo, bastará a determinação judicial para que se inicie o

procedimento de liquidação. Elaborada a conta pelo contador, o juiz poderá abrir

às partes o prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada,

sob pena de preclusão.160

De acordo com entendimento do art. 879, §3º, da CLT:

156

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

157 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 360/361.

158 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Súmulas do TST. Vade mecum. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2009.

159 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 791

160 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 510.

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Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça

do Trabalho, o juiz procederá à intimação da União para

manifestação, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de

preclusão.161

Assim, após o contador elaborar a conta de liquidação, o juiz

deverá intimar a União para manifestação, no prazo de dez dias, sob pena de

preclusão.

2.3.2 Liquidação por arbitramento

Tendo em vista a lacuna normativa da CLT, impõe-se a

aplicação do art. 475-C do CPC, segundo o qual a liquidação por arbitramento

pode ocorrer quando determinado pela sentença; convencionado pelas partes ou

o exigir a natureza do objeto da liquidação.162

Não há confundir arbitragem com perícia, pois, como bem

salienta Wagner D. Giglio:

Na liquidação por arbitramento, as partes não têm a faculdade de

nomear assistentes, tampouco de formular quesitos, por absoluta

falta de previsão legal. Já a perícia é meio de prova, e não forma

de liquidar a sentença.163

A liquidação por arbitramento admite o seu processamento

ex officio.164

O árbitro, portanto, é único, sendo livremente nomeado pelo

juiz, cabendo-lhe apenas estimar o valor, em dinheiro, dos direitos assegurados

pela sentença ao exeqüente, agindo, assim, como se fosse um avaliador.165

O artigo 475 – D, parágrafo único dispõe:

161

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

162 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 795.

163 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 511.

164 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 788.

165 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 797.

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Apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes manifestar-

se no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá decisão ou designará,

se necessário, audiência.

Deste modo, percebe-se que apresentado o laudo, terão as

partes o prazo de 10 dias para manifestar-se. Em seguida o juiz poderá: proferir,

desde logo, a sentença; determinar a elaboração de novo laudo, nomeando o

mesmo ou outro árbitro ou designar audiência de instrução e julgamento, para

que nela o árbitro preste esclarecimentos.

No arbitramento os elementos necessários à liquidação não

estão nos autos, então é necessário um técnico para avaliá-los ou obtê-los. No

Processo do Trabalho é utilizado, via de regra, para se apurar salário utilidade ou

in natura.166

2.3.3 Liquidação por artigos

A liquidação por artigos utiliza-se quando há necessidade de

se provar fato novo, que não está nos autos, porém, não é qualquer fato, somente

aquele que influenciará na determinação do quantum da condenação.167

Nas palavras de José Augusto Rodrigues Pinto, fato novo é:

Na verdade, o conceito de fato novo é impróprio, pois todo fato

que se tente investigar na liquidação implicará alteração dos

limites da coisa julgada, expressamente proibida no § 1º do art.

879 da CLT. O que realmente ocorre é a presença de um fato cuja

existência já é reconhecida pela sentença (logo, não é novo), mas

incompletamente investigado, de modo a faltar algo, ainda, de sua

exata dimensão. A investigação que se faz é apenas

complementar da intensidade com que o fato contribui para a

quantificação do crédito a ser exigido.168

Nos artigos de liquidação, busca-se, portanto, a fixação do

valor da dívida, não a existência da dívida, porque isso, já ficou esclarecido no

166

GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 511

167 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 799.

168 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 120

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processo de conhecimento; porém, constitui-se uma verdadeira reabertura do

processo de conhecimento na fase de execução.169

Determina o art. 475-F do CPC que:

Na liquidação por artigos, observar-se-á, no que couber, o

procedimento comum (art. 272).170

Assim, será regulado no livro I, que é destinado ao processo

de conhecimento.

A sua instauração depende de iniciativa do credor, mediante

petição escrita, ou verbal, reduzida a termo, facultando-se ao juiz, contudo,

determinar a sua intimação para que apresente os seus artigos de liquidação, ou

seja, os fatos a serem provados e os respectivos meios de prova.171

É importante assinalar que os fatos novos que serão objetos

da liquidação por artigos visam à fixação do quantum já decidido por sentença no

processo de cognição, uma vez que nesse incidente processual à execução é

vedado modificar ou inovar a sentença exeqüenda, nem discutir as matérias e

questões pertinentes à lide principal cobertas pela coisa julgada.172

169

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 375.

170 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

171 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 789

172 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 799

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CAPÍTULO 3

A PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL X PRINCÍPIOS DA

EXECUÇÃO TRABALHISTA

3.1 CITAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL

Dispõe o art. 880, da CLT, que:

Art. 880. Requerida a execução, o juiz ou presidente do tribunal

mandará expedir mandado de citação do executado, a fim de que

cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as

cominações estabelecidas ou, quando se tratar de pagamento em

dinheiro, inclusive de contribuições sociais devidas à União, para

que o faça em 48 (quarenta e oito) horas ou garanta a execução,

sob pena de penhora.173

Percebe-se então que, fixado, na sentença de liquidação, o

quantum debeatur, o executado é citado pessoalmente, através de oficial de

justiça, para pagar, espontaneamente, em 48 horas o débito judicial trabalhista,

ou garantir a execução, caso pretenda opor embargos, sob pena de penhora.

Este mandado é chamado de mandado CPA, (citação,

penhora e avaliação), e conterá a transcrição da sentença exeqüenda ou do

acordo ou ajuste não cumprido, conforme art. 880, §1º da CLT.174

Porém, ensina Wagner D. Giglio que “Na prática, diante do

grande número de processos e da necessidade de ganhar tempo, costuma-se

sintetizar o mandado, transcrevendo-se nele apenas a parte dispositiva da

173

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

174 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 548

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decisão. Esse comportamento tem sido aceito como válido, vez que não acarreta

prejuízo ao executado, e sem prejuízo não há nulidade.”175

Isto, porque um dos princípios informadores do processo de

execução é o da celeridade, tendo em vista a natureza alimentar das verbas

decorrentes do trabalho.

Sobre a citação supra, afirma Sergio Pinto Martins: “Não se

diz aqui que ela deve ser pessoal. O importante é a citação ser feita no endereço

do executado.”176

O mandado terá duas vias, uma via será assinada pelo

executado e entregue à secretaria do juízo, e a outra via ficará como cópia e será

entregue ao executado. Se a parte não quiser receber a citação, o oficial

certificará, e o ato processual será considerado válido.177

Na execução trabalhista não há execução por hora certa. Se

o devedor, procurado por duas vezes no espaço de 48 horas, não for encontrado,

deverá o oficial de justiça certificar cumpridas as diligências feitas com o objetivo

de localizá-lo e devolver, em seguida, o mandado à secretaria do juízo. Isto feito,

o devedor será citado por edital, publicado no jornal oficial ou, na falta deste,

afixado na sede do juízo, durante cinco dias conforme referência do art. 880, §3º,

da CLT.178

A execução contra a Fazenda Pública não é feita como em

relação a qualquer outro devedor. Deverá a fazenda ser citada não para pagar a

dívida ou oferecer bens a penhora, mas para embargar, se o desejar, pois seus

bens são impenhoráveis.179

175

GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 548

176 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 933

177 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Processo de execução. Disponível em:

<http://www.fmd.pucminas.br/Virtuajus/ano2_2/execucao%20Trabalhista.pdf>. Acesso em: 11 jan 2010.

178 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 432

179 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 934

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Com relação às últimas mudanças do processo civil que

repercutiram no processo trabalhista comenta Luciano Athayde Chaves:

O art. 880 da CLT ainda conserva a superada idéia da autonomia

do processo de execução, na medida em que alude à

necessidade de expedição de „mandado de citação ao executado,

a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo‟. [...] Não faz

sentido algum se manter o intérprete fiel ao disposto no art. 880

da CLT enquanto o processo comum dispõe, agora, de uma

estrutura que superou a exigência de nova citação para que se

faça cumprir decisões judiciais, expressando, assim, maior

sintonia com as idéias de celeridade, economia e efetividade

processuais. [...] Também temos que considerar a enorme

economia dos serviços judiciários, porquanto dispensada a

confecção de mandados citatórios e, mais do que isso, a diligência

pessoal do oficial de justiça para a citação do executado,

providência complexa que envolve grande desperdício de tempo,

sem falar nos inúmeros casos de ausência do executado para

receber a citação, desaguando o feito na morosa providência da

citação por edital.180

Assim, já é a situação mais corriqueira na atualidade o

cumprimento de sentença, promovido de ofício pelo juiz, ou a requerimento das

partes, sendo certo que em qualquer hipótese o devedor não será mais citado, e

sim intimado na pessoa de seu advogado. Apenas na hipótese de ius postulandi,

a sua intimação será feita pelo correio ou por mandado.181

3.2 ATUAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL

Diante deste mandado o executado pode, alternativamente,

adotar uma das quatro posturas, com as correspondentes conseqüências

processuais, que veremos mais especificamente a seguir: a) pagar a dívida; b)

garantir o juízo depositando a importância da execução; c) garantir o juízo

nomeando bens à penhora; ou d) manter-se inerte.182

180

CHAVES, Luciano Athayde. A recente reforma no processo: reflexos no direito judiciário do trabalho. São Paulo: LTr, 2006. p. 55.

181 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 820

182 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549/550.

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48

3.2.1 Pagamento

O pagamento deve seguir as orientações do art. 881 da

CLT, nos seguintes termos:

Art. 881 - No caso de pagamento da importância reclamada, será

este feito perante o escrivão ou secretário, lavrando-se termo de

quitação, em duas vias, assinadas pelo exeqüente, pelo

executado e pelo mesmo escrivão ou secretário, entregando-se a

segunda via ao executado e juntando-se a outra ao processo.183

Portanto, a secretaria lavra o termo de quitação, em duas

vias, sendo uma juntada ao processo e outra ficando com o executado, como

prova do pagamento.

De acordo com o parágrafo único do artigo 881, da CLT:

Não estando presente o exeqüente, será depositada a

importância, mediante guia, em estabelecimento oficial de crédito

ou, em falta deste, em estabelecimento bancário idôneo.184

Assim, quando o exeqüente não comparece à secretaria da

Vara do Trabalho para receber, o executado deve fazer o recolhimento da quantia

devida mediante depósito.

Por estabelecimento oficial de crédito quer a lei significar,

apesar de não ser clara nesse sentido, o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica

Federal; apenas se estes inexistirem poderá ser feito em qualquer outro banco.185

Normalmente, o procedimento descrito no parágrafo único

do art. 881 da CLT, é utilizado também em casos de acordo; não estando

183

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

184 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

185 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549.

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49

presente o exeqüente, nos casos em que o juiz determinou dia e hora para o

pagamento, há o depósito da importância no banco.186

O depósito da importância poderá ter duas finalidades, a

primeira é para o pagamento efetivo e a segunda para garantir o juízo, conforme

analisaremos adiante.187

O pagamento em 48 horas deve abranger a dívida

trabalhista e as contribuições previdenciárias. 188

3.2.2 Depósito da condenação e nomeação de bens

Se o executado pretender discutir a execução, poderá opor

embargos, devendo para tanto, garantir o juízo efetuando o depósito da quantia

devida, acrescida de juros, correção monetária e outras despesas processuais,

com a ressalva que se trata de garantia do juízo para oposição de embargos à

execução, uma vez que a ausência de ressalva pode ensejar o entendimento de

que houve simples pagamento, nos termos do item anterior; ou, quando não tiver

condições financeiras de pagar imediatamente o débito judicial trabalhista,

oferecer bens à penhora, com a indicação de seus valores, sempre dentro do

mesmo prazo de 48 horas, de acordo com o art. 882 da CLT.189

Art. 882 - O executado que não pagar a importância reclamada

poderá garantir a execução mediante depósito da mesma,

atualizada e acrescida das despesas processuais, ou nomeando

bens à penhora, observada a ordem preferencial estabelecida no

art. 655 do Código Processual Civil.190

De acordo com os ensinamentos de Sérgio Pinto Martins

“Não é mais possível depositar o valor singelo da condenação, pois é preciso que

186

MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 935.

187 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 935.

188 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 431.

189 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.

190 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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o pagamento da condenação seja atualizado, inclusive acrescido de juros e

despesas processuais.”191

Percebe-se então, que os bens penhoráveis não poderão

ser indicados pelo devedor apenas para garantir o valor principal, mas o principal,

a atualização monetária e os juros, além das despesas processuais, garantindo-

se, assim, toda a execução.

Salvo se houver anuência do exeqüente, a nomeação de

bens não será aceita se for desobedecida a ordem preferencial estabelecida pelo

art. 655 do Código de Processo Civil, como determina expressamente o art. 882

da CLT.192

A nomeação de bens pelo executado também poderá ser

recusada se não versar sobre bens designados em lei, contrato ou

ato judicial para o pagamento; se, havendo bens no foro da

execução, forem indicados outros, situados em foro diverso; se,

havendo bens livres e desembaraçados, forem nomeados bens

gravados; se os indicados forem insuficientes para garantir a

execução; e se o valor dos bens não for indicado, conforme art.

656, CPC.193

Ainda, no parágrafo único do artigo 656, do CPC:

Aceita a nomeação, cumpre ao devedor, dentro do prazo razoável

assinado pelo juiz, exibir a prova de propriedade dos bens e,

quando for o caso, a certidão negativa de ônus.

Eliminadas as dúvidas, a nomeação será reduzida a termo,

intimando-se o executado para vir assiná-lo como depositário, salvo se o

exequente não concordar em que os bens fiquem sob sua guarda. Nesse caso, os

bens deverão ser removidos e recolhidos ao depósito judicial. Não existindo

191

MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 936.

192 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549.

193 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549.

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depósito judicial, o exeqüente deverá indicar depositário particular e providenciar

meios de transporte para a remoção.194

Como bem lembra o doutrinador Wagner D. Giglio “A lei nº.

6.830/80 criou duas novas formas de garantia da execução com os mesmos

efeitos da penhora, em seu art. 9º, §3º, II e IV: o oferecimento de fiança bancária

e a indicação de bens oferecidos por terceiros e aceitos pelo exeqüente.”195

O art. 882 da CLT limita a hipóteses de garantia da

execução, não havendo pagamento, à nomeação de bens à penhora e depósito

da condenação acrescida das custas. Nada obstante, a carta de fiança bancária

tem sido aceita, e a indicação de bens de terceiro se compreende no ato, não

especificado, de nomear bens à penhora. Assim, a nomeação pode ser de bens

próprios ou de terceiros, se estes os oferecerem e houver concordância do

exeqüente.196

Deve-se ressaltar que o depósito é feito em instituição

bancária mediante a respectiva guia, e deve ser realizado na totalidade da dívida,

o que inclui o principal, juros, correção, e despesas processuais.

Caso seja feita garantia do juízo por penhora, ela também

deve incluir as contribuições previdenciárias devidas.

Acrescenta ainda, Manoel Antônio Teixeira Filho que “e

qualquer modo, após o decurso das 48 horas, o devedor não mais poderá

oferecer bens à penhora, pois o decurso em branco desse prazo torna precluso o

seu direito de praticar o ato.”197

Tratando-se de penhora em bem indivisível, a meação do

cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.

194

ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Processo de execução. Disponível em: <http://www.fmd.pucminas.br/Virtuajus/ano2_2/execucao%20Trabalhista.pdf>. Acesso em: 11 jan 2010.

195 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550.

196 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550.

197 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 431.

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52

3.2.3 Inércia do devedor

Se o devedor se mantiver inerte, ou seja, nem paga nem

nomeia espontaneamente bens à penhora, ou os indique sem observar a ordem

preferencial do art. 655 do CPC, ocorrerá a penhora forçada, determinada pelo

juiz ex officio. Todavia, não há óbice para que o próprio credor indique os bens à

penhora, afinal, a execução trabalhista pode ser promovida pela parte interessada

ou pelo juiz.198

No rigor do art. 883 da CLT:

Art. 883 - Não pagando o executado, nem garantindo a execução,

seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao

pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e

juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da

data em que for ajuizada a reclamação inicial.199

Os bens sujeitos à execução são tantos quantos bastem à

satisfação da condenação, portanto, atingido o valor devido, não se faz mais

penhora.200

Serão todos os bens do devedor, presentes e futuros, que

estão sujeitos à execução. Os bens particulares dos sócios, entretanto, não

respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei. Caso o

sócio seja demandado para pagamento da dívida, terá direito de exigir que sejam

executados em primeiro lugar os bens da sociedade.201

Os juros de mora incidem sobre a importância da

condenação já corrigida monetariamente à razão de 1% ao mês.202

Nas palavras de Manoel Antônio Teixeira Filho:

198

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 827.

199 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

200 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 474.

201 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550/551.

202 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 475.

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53

Conciliando-se o art. 652 do CPC com o art. 880, §3º, da CLT,

temos que, não sendo encontrado o devedor, caberá ao oficial de

justiça: a) certificar a respeito das diligências empreendidas para

localizá-lo; b) arrestar-lhe bens em valor suficiente para solver a

obrigação; c) devolver o mandado à secretaria do juízo, para os

efeitos do art. 880, § 3º da CLT, dispensando-se as providências

de que trata o parágrafo único do art. 653 do CPC. Esgotado o

prazo do edital, o devedor terá 48 horas para cumprir a obrigação,

caso não o faça, o arresto se converterá em penhora (CPC, art.

654, parte final).203

Dessa forma, se o devedor não for encontrado nem se

manifestar a fim de cumprir sua obrigação, o oficial de justiça arrestará bens para

que se possa satisfazer o direito do credor.

3.3 A PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA

Nas palavras do doutrinador Ives Gandra da Silva Martins

Filho, a penhora é:

A manifestação mais expressiva do exercício da espada da

Justiça no âmbito civil (coerção do Direito). Através dela o Estado-

juiz investe contra os bens do executado apoderando-se de tantos

quantos sejam suficientes para pagar o exequente, podendo para

isso, utilizar-se da manu militari e chegar até o arrombamento de

imóvel do devedor, em busca dos bens passíveis de penhora.204

Segundo conceitua Wagner D. Giglio:

Penhora significa apreensão judicial de determinados bens do

executado, para que, transformados em dinheiro com a venda em

praça ou leilão (salvo o caso de recair sobre dinheiro, adjudicados

ao exeqüente ou a ele outorgados seus rendimentos) seja

satisfeita a condenação.205

203

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 433

204 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 295

205 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550

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Assim, caso o devedor não pague, nem indique os bens à

penhora, ou os indique sem observar a ordem preferencial do art. 655 do CPC,

deverá incidir a regra do art. 883 da CLT, segundo a qual a penhora, no processo

do trabalho, é determinada pelo juiz ex officio. Todavia, não há óbice para que o

próprio credor indique os bens à penhora. Afinal, a execução trabalhista pode ser

promovida pela parte interessada ou pelo juiz.206

Claro está, que este procedimento da penhora comum,

demanda tempo e despesa com oficiais de justiça e outros gastos, o que vai de

encontro com o processo do trabalho, que preza pela agilidade e economia

processual, visto que as verbas trabalhistas, que são basicamente o núcleo das

ações, têm natureza salarial, e assim, alimentar. Então, o processo do trabalho

vem admitindo que o credor possa requerer (e o juiz determinar, de ofício) a

penhora on line, também chamado de bloqueio on line, do dinheiro existente em

conta bancária do devedor.207

De início, não se pode realizar a penhora sem antes

conhecer o juízo a existência do numerário. Daí a necessidade de requisitar

informações à autoridade supervisora do sistema bancário sobre os ativos

existentes em nome do executado.208

Nas palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite:

Uma das soluções encontradas, aplaudida por alguns e

recriminada por outros, foi a celebração do Convênio BACEN JUD

entre o TST e o Banco Central. Este convênio de cooperação

técnico-institucional prevê a possibilidade de o TST, o STJ e os

demais Tribunais signatários, dentro de suas respectivas áreas de

competência, encaminhar às instituições financeiras e demais

instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN ofícios

eletrônicos contendo solicitações de informações sobre a

existência de contas correntes e aplicações financeiras,

determinações de bloqueios e desbloqueios de contas,

envolvendo pessoas físicas e jurídicas clientes do Sistema

206

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 827.

207 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 827.

208 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 326.

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55

Financeiro Nacional, bem como outras solicitações que vierem a

ser delineadas pelas partes.209

Firmado em 5 de março de 2002, pelo TST com o Banco

Central um convênio de cooperação técnico-institucional que criou o sistema

Bacen-Jud de penhora on line, para legalizar a penhora em contas bancárias, que

dependiam de ordens judiciais remetida por ofício aos bancos, com o bloqueio de

valores superiores aos dos créditos trabalhistas (uma vez que bloqueados

simultaneamente em várias contas o mesmo montante global da condenação).210

Pelo novo sistema, os juízes da execução podem

encaminhar ao Bacen e às instituições financeiras ofícios eletrônicos solicitando

informações sobre a existência de contas correntes e aplicações financeiras dos

executados, bem como determinações de bloqueio e desbloqueio de contas do

devedor no valor da execução, em qualquer conta corrente ou de investimento do

executado, pessoa física ou jurídica, em qualquer estabelecimento de crédito do

Brasil.211

O art. 655-A do CPC regula esta modalidade de penhora

dispondo:

Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação

financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à

autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente

por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em

nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua

indisponibilidade, até o valor indicado na execução. Parágrafo 1o.

As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou

aplicação até o valor indicado na execução.212

Nessa modalidade de penhora, havendo crédito judicial a ser

executado contra determinado devedor, o juiz da execução cadastrado no sistema

209

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 865.

210 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 296

211 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558

212 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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56

pode ter acesso, pela internet, mas em caráter sigiloso (depende de senhas), às

contas do devedor, através dos dados fornecidos pelo Bacen e bancos,

solicitando o bloqueio exato do montante da execução.213

Esclarece o Min. Vantuil Abdala:

Os usuários do sistema (exclusivamente magistrados) poderão

expedir ordens de bloqueio de numerário existente nessas contas

diretamente às instituições financeiras, de modo a satisfazer os

créditos trabalhistas dos exeqüentes. Dessa forma, ainda que as

empresas executadas não possuam bens suficientes para a

quitação de seus débitos trabalhistas, as ordens de bloqueio de

numerário disponível nas contas correntes permitirão dar

efetividade às decisões judiciais.214

Então, o Banco Central ordena, também eletronicamente, o

bloqueio, e as agências cujas contas o sofrerem enviam ofício ao juízo da

execução. Este determina a transferência dos fundos suficientes para uma conta

a sua disposição e libera o bloqueio nos demais estabelecimentos bancários.

Estes são depositários por força de lei, e tecnicamente a penhora se aperfeiçoa

no momento em que a transferência do depósito para a conta indicada pelo juízo

se realiza.215

O Provimento nº. 3/2003, da Corregedoria-Geral da Justiça

do Trabalho216, permitia que empresas com contas em várias agências

indicassem uma, para que apenas nesta fosse feito o bloqueio, comprometendo-

se a nela manter os fundos suficientes, sob pena de invalidade da indicação.217

Recentemente, em virtude da implantação da nova versão do

convênio do TST com o Banco Central do Brasil, o Ministro

Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho editou o Provimento n.

213

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 297

214 Revista Jurídica Consulex, ano VI, n. 128, 15 maio 2002, p. 14 apud BARRETO, Marco

Aurélio Aguiar. Penhora ou bloqueio on line – questões de ordem prática – necessidade de aprimoramento, Revista LTr, 68-09/1.095.

215 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558.

216 A partir deste momento usar-se-á a sigla CGJT.

217 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 866

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6/2005 (DJU 3.11.2005), que revogou expressamente o

Provimento CGJT n. 3/2003 e estabeleceu instruções para

operacionalização da nova versão do Sistema BACEN JUD 2.0.218

Pelo art. 1º do Provimento nº. 6/05 da CGJT, nas execuções

definitivas, se o executado não pagar nem garantir a dívida, pode o juiz, de ofício

ou a requerimento da parte, utilizar-se do sistema Bacen-Jud, que deve ser

preferido a qualquer outro meio de constrição judicial, isso pelo objetivo de se

proceder à execução mais rápida e eficaz em prol do hipossuficiente.219

Zelando pelo sigilo das informações, de acordo com o art. 2º

do Provimento n. 6/2005 verifica-se que o acesso dos magistrados ao Sistema

Bacen-Jud 2.0 é feito por meio de senhas pessoais e intransferíveis, após o

cadastramento efetuado pelos Masters do respectivo TRT.220

Nos termos do art. 5º do Provimento CGJT n. 6/2005:

Qualquer pessoa física ou jurídica poderá solicitar ao Tribunal

Superior do Trabalho o cadastramento de conta única apta a

acolher bloqueios on line, realizados por meio do Sistema Bacen

Jud. Parágrafo único. A solicitação a que se refere o caput deste

artigo deverá ser encaminhada por petição, dirigida ao

Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho e instruída com cópias

dos comprovantes do CNPJ ou CPF e da titularidade da conta

indicada (banco, agência, conta corrente, nome e CNPJ/CPF do

titular).221

A novidade é que, não só a empresa, mas também qualquer

pessoa física poderá solicitar ao TST o cadastramento de sua conta única com

saldo suficiente para ser bloqueado eletronicamente.

218

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 867

219 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho.

p. 297.

220 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:

<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.

221 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:

<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.

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A pessoa física ou jurídica que optar pela indicação de conta

única apta a acolher este bloqueio eletrônico, obriga-se a mantê-la com recursos

suficientes, sob pena de o bloqueio recair em outras contas e de o cadastramento

ser cancelado pelo TST.222

Prevê os parágrafos 1º, 2º e 3º do art. 6º, do Provimento em

questão que, o executado que teve sua conta descadastrada poderá, após o

período de 6 (seis) meses, contados da publicação, no Diário da Justiça, da

decisão que a descadastrou, postular o recadastramento, indicando a mesma ou

outra conta, conforme sua conveniência. Mas a reincidência no não-atendimento

das exigências de manutenção de recursos suficientes ao acolhimento dos

bloqueios on line importará em novo descadastramento pelo prazo de 1 (um) ano,

podendo, após esse período, postular novamente seu recadastramento. Se o

executado insistir em não manter os recursos suficientes, o descadastramento

posterior terá caráter definitivo.223

Quanto ao procedimento do bloqueio on line, diz o art. 9º do

Provimento CGJT n. 6/2005 que o magistrado, de posse das

respostas das instituições financeiras, emitirá ordem judicial de

transferência do valor da condenação para conta judicial, em

estabelecimento oficial de crédito, conforme dispõem os arts. 666,

I, do CPC e 9º, inciso I, c/c com o art. 11, §2º, da Lei nº

6.830/80.224

Importante assinalar que, na mesma ordem de transferência,

o juiz deverá informar se mantém ou desbloqueia o saldo remanescente, se

houver; e ainda, que o prazo para oposição de embargos começará a contar da

data da notificação, pelo juízo, ao executado, do bloqueio efetuado em sua conta,

de conformidade com o art. 9º, §§ 1º e 2º.225

222

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 867.

223 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:

<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.

224 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 868

225 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:

<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.

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59

Alerta Manoel Antônio Teixeira Filho que para o bloqueio on

line é imprescindível o atendimento a alguns pressupostos:

[...] 1) pressupostos para a emissão da ordem judicial de bloqueio;

2) pressupostos para a concretização do bloqueio. No primeiro

caso, os pressupostos são: 1.1) tratar-se de execução definitiva;

1.2) deixar, o devedor, de indicar bens à penhora, ou fazê-lo em

desobediência à ordem preferencial estabelecida na art. 655, do

CPC; no segundo: 2.1) a proporcionalidade do bloqueio; 2.2) a

utilidade do bloqueio; 2.3) a convolação para penhora.226

Sobre o prazo para os embargos, comenta Carlos Henrique

Bezerra Leite:

Ora, se o prazo para embargos è execução é contado da data da

notificação do bloqueio, parece-nos inegável que o Provimento

não considera o bloqueio on line mero exercício do poder geral de

cautela do juiz, e sim autêntica penhora, pois, como é sabido, é da

intimação da penhora que se inicia o prazo para oferecimento dos

embargos à execução, como se infere do art. 884 da CLT. Logo, é

o próprio juiz que realiza a penhora on line, e não o oficial de

justiça [...].227

A Lei nº. 11.382/06, que alterou o CPC no que diz respeito

ao processo de execução, introduziu expressamente o sistema da penhora on line

no âmbito do processo civil (CPC, arts. 655-A e 659, § 6º), repercutindo

naturalmente no processo do trabalho.228

3.4 ORDEM DE PREFERÊNCIA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA

A penhora deve obedecer a uma ordem preferencial dos

bens a serem constrangidos. A ordem de preferência é a seguinte: dinheiro

(equivalendo a ele o depósito bancário e a aplicação financeira), veículos

terrestres, bens móveis, bens imóveis, navios e aeronaves, participações

226

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 510/511.

227 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 868.

228 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 297.

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60

societárias, faturamento da empresa (percentual), pedras e materiais preciosos,

títulos da dívida pública, títulos e valores mobiliários e outros direitos. Se o

executado nomear bens à penhora em desacordo com essa ordem, poderá o

exeqüente aceitá-los, ou não.229

Consoante o caput do artigo 655 do CPC, a ordem legal só é

obrigatória para o devedor. A ela não estão adstritos o credor, o oficial de justiça

ou o juiz da execução.230

Seguindo a ordem de preferência, será comentado sobre os

mais peculiares.

3.4.1 Dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição

financeira

Embora o dinheiro esteja em primeiro lugar na escala de

preferência para a penhora, não se pode ignorar que o depósito bancário

normalmente recolhe o capital de giro, sem o qual não se viabiliza o exercício da

atividade empresarial do devedor.231

Sobre o tema, disserta Humberto Theodoro Júnior:

Assim, da mesma forma que a penhora do faturamento não pode

absorver o capital de giro, sob pena de levar a empresa à

insolvência e à inatividade econômica, também a constrição

indiscriminada do saldo bancário pode anular o exercício da

atividade empresarial do executado. Por isso, lícito lhe será

impedir ou limitar a penhora sobre e a conta bancária,

demonstrando que sua solvabilidade não pode prescindir dos

recursos líquidos sob custódia da instituição financeira.232

229

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 294.

230 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 294.

231 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 328.

232 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 328.

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61

Essa objeção dependerá da demonstração da existência de

outros bens livres para suportar a penhora sem comprometer a eficiência da

execução.233

3.4.2 Bens imóveis

Com o advento da Lei nº. 11.382/2006, que deu nova

redação ao §4º do art. 659 do CPC:

A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo

de penhora, cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata

intimação do executado (art. 652, § 4o), providenciar, para

presunção absoluta de conhecimento por terceiros, a respectiva

averbação no ofício imobiliário, mediante a apresentação de

certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandado

judicial.234

Além disso, a Lei nº. 10.444/2002 incluiu no art. 659 do CPC

o §5º, cujo teor é o seguinte:

Nos casos do § 4o, quando apresentada certidão da respectiva

matrícula, a penhora de imóveis, independentemente de onde se

localizem, será realizada por termo nos autos, do qual será

intimado o executado, pessoalmente ou na pessoa de seu

advogado, e por este ato constituído depositário.235

Não obstante a louvável intenção do legislador, é

preocupável a aplicação dessas novas exigências no processo do trabalho, pois a

providência da averbação da penhora no registro imobiliário e certidão de inteiro

teor do ato de penhora do imóvel a cargo do exeqüente, geralmente

hipossuficiente econômico ou desempregado, acarretar-lhe-á, via de regra,

excessivo ônus financeiro que poderá implicar a ineficiência do ato de

constrição.236

233

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 328.

234 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

235 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

236 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 870.

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62

Por tais razões, no processo do trabalho, salvo na hipótese

de ações oriundas de relação de trabalho distinta da relação de emprego, a

averbação no ofício imobiliário da penhora de imóvel deve realizar-se por meio de

mandado judicial, constituindo emolumento processual a ser pago, pelo

executado, ao final da fase de execução.237

3.4.3 Navios e aeronaves

Nos termos do art. 679 do CPC:

A penhora sobre navio ou aeronave não obsta a que continue

navegando ou operando até a alienação; mas o juiz, ao conceder

a autorização para navegar ou operar, não permitirá que saia do

porto ou aeroporto antes que o devedor faça seguro usual contra

riscos.238

Portanto, o devedor, quando a penhora atingir aeronave ou

navio, não ficará impedido de continuar utilizando tais veículos nos seus serviços

normais de navegação enquanto não finalizada a alienação judicial.

O depositário, na espécie, será de preferência um dos

diretores da empresa devedora. O juiz, porém, ao conceder a autorização para

navegar ou operar, condicionará a utilização da regalia à comprovação, pelo

devedor, da contratação dos seguros usuais, de modo que o navio ou o avião só

poderá sair do porto ou do aeroporto depois de atendida essa cautela.239

Recomenda-se que o juiz ouça o credor a respeito da

apólice apresentada pelo devedor, pois aquele poderá ter interesse em suscitar

alguma contrariedade segurando o bem por um valor inferior.240

237

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 870.

238 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

239 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 334.

240 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 485.

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63

3.4.4 Percentual do faturamento de empresa devedora

A reforma do CPC realizada pela lei nº. 11.382/2006 criou o

art. 655-A, que normatiza essa modalidade de penhora em seu parágrafo 3º:

Na penhora de percentual de faturamento da empresa executada,

será nomeado depositário, com a atribuição de submeter à

aprovação judicial a forma de efetivação da constrição, bem como

de prestar contas mensalmente, entregando ao exeqüente as

quantias recebidas, a fim de serem imputadas no pagamento da

dívida.241

No mesmo sentido é a orientação jurisprudencial242 nº. 93 da

SBDI-2 do TST:

É admissível a penhora sobre a renda mensal ou faturamento da

empresa, limitada a determinado percentual, desde que não

comprometa o desenvolvimento regular de suas atividades.243

Ensina Humberto Theodoro Júnior que a penhora sobre

parte do faturamento da empresa devedora é permitida, desde que,

cumulativamente, se cumpram os seguintes requisitos: a) inexistência de outros

bens penhoráveis, ou, se existirem, sejam eles de difícil execução ou insuficientes

a saldar o crédito exeqüendo; b) nomeação de depositário administrador com

função de estabelecer um esquema de pagamento; c) o percentual fixado sobre o

faturamento não pode inviabilizar o exercício da atividade empresarial.244

A penhora de percentual do faturamento figura em sétimo

lugar na ordem preferencial do art. 655 do CPC, de sorte que, havendo bens

livres de menor gradação, não será o caso de recorrer à constrição da receita da

empresa, que, sem maiores cautelas, pode comprometer o seu capital de giro e

inviabilizar a continuidade de sua normal atividade econômica. É por isso que se

241

BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

242 A partir deste momento usar-se-á a sigla OJ.

243 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Orientação Jurisprudencial SBDI-II do TST. Vade

mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

244 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.

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impõe a nomeação de um depositário administrador que haverá de elaborar o

plano de pagamento a ser submetido à apreciação e aprovação do juiz da

execução. Com isso evita-se o comprometimento da solvabilidade da empresa

executada.245

3.4.5 Penhora de crédito do executado

Além dos próprios bens do devedor, outros também podem

ser objeto de penhora, como os seus créditos pendentes de recebimento.246

Com efeito o art. 671 do CPC dispõe que:

Quando a penhora recair em crédito do devedor, o oficial de

justiça o penhorará. Enquanto não ocorrer a hipótese prevista no

artigo seguinte, considerar-se-á feita a penhora pela intimação: I -

ao terceiro devedor para que não pague ao seu credor; II - ao

credor do terceiro para que não pratique ato de disposição do

crédito.247

Portanto, enquanto não ocorrer a apreensão, a penhora será

considerada feita pela intimação.

A penhora de crédito, representada por letra de câmbio, nota

promissória, duplicata, cheque ou outros títulos, realiza-se pela apreensão efetiva

do documento, esteja ou não em poder do devedor. Não sendo encontrado o

título, mas o terceiro confessar a dívida, será havido como depositário da

importância. O terceiro só se exonerará da obrigação, depositando em juízo a

importância da dívida. Se ocorrer a hipótese de o terceiro negar o débito em

conluio com o devedor, a quitação, que este eventualmente Ihe der, considerar-

se-á em fraude de execução. A requerimento do credor, o juiz determinará o

comparecimento, em audiência especialmente designada, do devedor e do

245

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.

246 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 860.

247 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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65

terceiro, a fim de Ihes tomar os depoimentos a fim de esclarecer e definir a

situação.248

Sobre este tema, leciona Carlos Henrique Bezerra Leite:

No que respeita à penhora de crédito futuro da empresa

executada, parece-nos que não existe qualquer ilegalidade na

decisão que a determina, desde que isso não implique a

possibilidade de danos irreparáveis. Data vênia dos que

sustentam o contrário, pensamos que o direito não pode ignorar a

realidade, como, por exemplo a hipótese das empresas de cartão

de crédito que figuram como executadas. Ora, o patrimônio

dessas empresas é constituído do créditos de terceiros (clientes),

sendo, a nosso ver, perfeitamente factível a incidência da penhora

sobre tais créditos.249

Se a penhora recair sobre dívidas de dinheiro a juros, de

direito a rendas, ou de prestações periódicas, o exeqüente poderá levantar os

juros, os rendimentos ou as prestações à medida que forem sendo depositadas,

abatendo-se do crédito as importâncias recebidas, conforme as regras da

imputação ao pagamento.250

Nos termos do art. 676 do CPC:

Recaindo a penhora sobre direito, que tenha por objeto prestação

ou restituição de coisa determinada, o devedor será intimado para,

no vencimento, depositá-la, correndo sobre ela a execução.251

É interessante notar que os títulos de crédito representam

bens penhoráveis, mas nem sempre figuram na mesma posição dentro da

gradação legal de preferência: se são cotados em Bolsa de Valores, seu

248

GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 554.

249 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 861.

250 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 481.

251 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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66

posicionamento se dá no inciso X do art. 655 do CPC. Caso contrário, decaem

para a última posição na escala do referido artigo, sendo o inciso XI.252

3.4.6 Outros direitos

Como bem lembra Ives Gandra da Silva Martins Filho:

Podem, ainda, ser penhorados o bem hipotecado e o bem

hipotecado fiduciariamente. Ocorre, no entanto, que, em ambos os

casos, se o praceamento do bem sobre o qual grava o ônus real

não alcançar lance suficiente para o pagamento do exeqüente

trabalhista e do credor pignoratício ou da alienação fiduciária, o

bem adquirido pelo arrematante continuará gravado pelo

hipoteca.253

Na prática, utiliza-se também a penhora de empresa.

Embora usado este termo, sabe-se que, a rigor, a empresa é um ente incorpóreo,

uma ficção jurídica. A empresa é constituída de duas universalidades: a de bens e

a de pessoas. Tecnicamente, o que pode ser objeto de penhora não é a empresa,

e sim o estabelecimento da empresa ou, como também chamado, o fundo de

comércio.254

Tendo em vista a complexidade desta modalidade de penhora, o

juiz somente deve autorizá-la quando não forem encontrados bens

suficientes à satisfação do crédito. Aqui, sim, há de ser observado

o disposto no art. 620 do CPC, uma vez que é inegável a função

social da empresa, que, em linha de princípio, deve ter ampla

possibilidade de sobreviver num mundo de tanta concorrência,

devendo o juiz, sempre que possível, evitar as medidas que

possam agravar a situação econômico-financeira da empresa,

afinal, não se pode relegar o oblívio que na empresa há outros

trabalhadores, igualmente credores de prestações alimentícias.255

252

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 331.

253 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 294/295

254 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 555.

255 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 863.

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67

Não se aplica ao Processo do Trabalho o § 2º do art. 659 do

CPC, que não permite a penhora se os bens encontrados só forem suficientes

para pagar as custas dos processos. Isto porque, sendo o crédito trabalhista

superprivilegiado, sobrepondo-se inclusive ao crédito fiscal, os poucos bens

encontrados devem ser utilizados para o pagamento do empregado-exequente,

deixando-se as custas para quando forem encontrados outros bens.256

Nos termos do art. 613 do CPC:

Recaindo mais de uma penhora sobre os mesmos bens, cada

credor conservará o seu título de preferência.257

Portanto, pode haver mais de uma penhora sobre o mesmo

bem, tendo preferência o credor mais antigo sobre o valor obtido pelo bem

praceado, ficando o saldo com os demais credores.

3.5 VALORES IMPENHORÁVEIS NA EXECUÇÃO TRABALHISTA

A regra básica é que a penhora deve atingir os bens

negociáveis, ou seja, os que se podem normalmente alienar e converter no

respectivo valor econômico.258

Por outro lado, o art. 648 do CPC, que é aplicável ao

processo do trabalho, prescreve que:

Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera

impenhoráveis ou inalienáveis.259

A razão mais comum para a impenhorabilidade de origem

não-econômica é a preocupação do código de preservar as receitas alimentares

do devedor e de sua família. Funda-se num princípio clássico da execução

256

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 295

257 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

258 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 449

259 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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forçada moderna, que lembra que o executado não deve ser levado a uma

situação incompatível com a dignidade humana.260

Nesse sentido, existem bens absolutamente impenhoráveis

e bens relativamente impenhoráveis.

3.5.1 Bens absolutamente impenhoráveis

São absolutamente impenhoráveis, de acordo com o art. 649

do CPC, os seguintes bens:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não

sujeitos à execução; II - os móveis, pertences e utilidades

domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os

de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns

correspondentes a um médio padrão de vida; III - os vestuários,

bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de

elevado valor; IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários,

remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e

montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e

destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de

trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,

observado o disposto no § 3o deste artigo; V - os livros, as

máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou

outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer

profissão; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários

para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII

- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que

trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por

instituições privadas para aplicação compulsória em educação,

saúde ou assistência social; X - até o limite de 40 (quarenta)

salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de

poupança; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos,

nos termos da lei, por partido político.261

Sobre a citação supra, Humberto Theodoro Júnior lembra

que “Os bens particulares podem se tornar inalienáveis ou apenas impenhoráveis,

260

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 331.

261 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

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69

em atos de vontade unilaterais ou bilaterais, como nas doações, testamentos,

instituição do bem de família etc.”262

Na atual redação dos incisos II e III do art. 649 prevalece o

intuito de evitar penhora sobre bens que geralmente não encontram preços

significativos na expropriação judicial e cuja privação pode acarretar grandes

sacrifícios de ordem pessoal e familiar para o executado. A impenhorabilidade

legal, no entanto, sofre limitações instituídas para manter o privilégio dentro do

razoável; com exceção apenas dos bens de elevado valor, como obras de arte e

automóveis, que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um

médio padrão de vida, tais como 4 televisores, ou 3 geladeiras etc.263

Diante do artigo 649 do CPC, dissertam Nelson Nery Júnior

e Rosa Maria de Andrade Nery:

Ora, elevado valor e médio padrão de vida são, evidentemente,

conceitos legais indeterminados, cabendo ao juiz, no momento de

fazer a subsunção do fato à norma, preencher os claros e dizer se

a norma atua ou não no caso concreto. Preenchido o conceito

indeterminado [...], a solução já está estabelecida na própria

norma legal, competindo ao juiz apenas aplicar a norma, sem

exercer nenhuma função criadora.264

O disposto no inciso IV do art. 649 do CPC não se aplica,

nos termos do § 2º do mesmo artigo, no caso de penhora para pagamento de

prestação alimentícia.265

Assim, se o saldo bancário for alimentado por vencimentos,

salários, pensões, honorários e demais verbas alimentares arroladas no art. 649,

262

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 304.

263 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 305.

264 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil anotado e legislação

extravagante. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 141.

265 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 856.

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70

IV, sua impenhorabilidade prevalecerá, não podendo o bloqueio subsistir para a

satisfação de crédito trabalhista, conforme ressalva o §2º do art. 655-A.266

Nestes termos é a OJ nº. 153 da SBDI-2/TST:

Ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio de

numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito

trabalhista, ainda que seja limitado a determinado percentual dos

valores recebidos ou a valor revertido para fundo de aplicação ou

poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC contém norma

imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a

exceção prevista no art. 649, § 2º, do CPC espécie e não gênero

de crédito de natureza alimentícia, não englobando o crédito

trabalhista.267

Caberá ao executado, para se beneficiar da

impenhorabilidade, o ônus da comprovação da origem alimentar do saldo. Na

maioria das vezes, isso será facilmente apurável por meio do extrato da conta. Se

os depósitos não estiverem claramente vinculados a fontes pagadoras, terá o

executado de usar outros meios de prova para identificar a origem alimentar do

saldo bancário.268

O art. 650 também introduziu importante inovação, na

medida em que declara penhoráveis, no caso de não existirem outros bens, os

frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de

prestação alimentícia.269

Embora não estejam previstos no elenco do art. 649 do

CPC, os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são também

absolutamente impenhoráveis.270

266

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.

267 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Orientação Jurisprudencial SBDI-2 do TST. Vade

mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

268 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.

269 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 857.

270 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do

trabalho. p. 296.

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71

Cumpre lembrar, ainda, que a Lei nº. 8.009/90 tornou

impenhoráveis os bens de família, isto é, o imóvel residencial próprio do casal, ou

da entidade familiar, abrangendo o imóvel sobre o qual se assentam a

construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os

equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa,

desde que quitados.271

Se o imóvel utilizado como residência da família for apenas

alugado, a impenhorabilidade alcança os bens móveis quitados que guarneçam a

residência, desde que sejam de propriedade do executado.272

A saber, sobre os bens necessários ou úteis para o exercício

da profissão o STF relativizou o entendimento para abranger não só as pessoas

físicas, mas também, as pequenas empresas, nas quais os sócios pessoalmente

desempenham as atividades para que a sociedade se mantenha.273

A impenhorabilidade do seguro de vida decorre da sua

natureza alimentar, pois o mesmo é feito em favor de terceiro. Os materiais são,

por antecipação, parte integrante da obra e só poderão ser penhorados se o todo

for. A pequena propriedade rural sob exploração familiar também é absolutamente

impenhorável.274

Dispõe o art. 649, § 1º do CPC que:

A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito

concedido para a aquisição do próprio bem.

Nesse sentido, nos casos de bens impenhoráveis que

tenham sido adquiridos pelo devedor por meio de negócio oneroso, não deve

prevalecer o privilégio da impenhorabilidade se o crédito do executado provier

justamente do preço de aquisição do bem ou do respectivo financiamento.

271

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 857.

272 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 858.

273 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 306.

274 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 456/457.

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72

3.5.2 Bens relativamente impenhoráveis

Consideram-se bens relativamente impenhoráveis aqueles

cuja penhora a lei só permite quando inexistirem outros bens no patrimônio do

devedor que possam garantir a execução.275

Excluem-se da regra da impenhorabilidade do bem de

família os veículos de transporte, as obras de arte e os adornos suntuosos.276

Os incisos I e II do art. 3º excepcionam a regra da

impenhorabilidade quando a execução for promovida: a) em razão dos créditos de

trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições

previdenciárias; ou b) pelo credor de pensão alimentícia.277

Os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis seguem, em

princípio, o destino destes, ou seja, são impenhoráveis. Os credores comuns do

titular do bem inalienável, por isso, não podem penhorar seus frutos e

rendimentos. A imunidade, contudo, não é total. Prevalece enquanto seja possível

o gravame executivo recair sobre outros bens livres do executado. Faltando os

bens livres, cessará a impenhorabilidade, e os frutos e rendimentos a que alude o

art. 650 terão de submeter-se à penhora.278

3.6 EXCESSO DE PENHORA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA

Segundo Pontes de Miranda, a limitação legal para que a

penhora não ultrapasse o valor da execução já era vista nas Ordenações

Afonsinas, podendo, atualmente, tal questão ser levantada pelo devedor em sede

de embargos.279

275

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 450.

276 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 858.

277 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 858.

278 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 311.

279 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao código de processo civil. Rio

de Janeiro: Forense, 2002. p.193.

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A execução há de agredir o patrimônio do devedor até

apenas onde seja necessário para a satisfação do direito do credor; em outras

palavras, deve atingir apenas os bens que bastem para a satisfação do valor

atualizado monetariamente do crédito exeqüendo, com juros, custas e honorários

advocatícios.280

Na forma do art. 659 do CPC, a penhora deve recair sobre

quantos bens bastem a cobrir a execução, o que não quer dizer que, por vezes,

não recairá ela sobre bens cujo valor de avaliação seja superior ao da execução,

desde que assim se faça necessário, como é comum quando o devedor detém

apenas um bem penhorável.281

Cabe a ressalva, se a penhora superar em muito o valor da

execução, poderá o devedor sustentar o excesso de penhora incidentalmente na

execução. O momento para a alegação é após a avaliação, nos termos do art.

685 do CPC, ou seja, posteriormente ao processamento de eventual interposição

de embargos à execução. Todavia, não é muito incomum que a jurisprudência

permita inapropriadamente sua alegação em sede de embargos.282

Enfim, o magistrado deverá ter sensibilidade e descortino

suficientes para perceber quando o bloqueio será necessário e quando será

dispensável; para perceber que essa possibilidade de penhora não foi instituída a

fim de espezinhar a dignidade humana dos devedores, nem de tornar-lhes

impossível a continuidade das atividades empresariais.283

3.7 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA QUE A PENHORA “ON

LINE” AFRONTA

A reação de alguns juristas foi contrária à penhora on line,

ao considerar inconstitucionais as disposições do Bacen-Jud, porque violariam as

280

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 314.

281 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 311.

282 OLIVEIRA, Guilherme Botelho de. Comentários aos arts. 659 a 670 do CPC: da penhora e do

depósito. Disponível em: <http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/00c0659a0670.php>. Acesso em: 11 maio 2010.

283 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 520.

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garantias de ampla defesa, isonomia e do sigilo bancário, ofendendo ainda os

princípios do contraditório e do devido processo legal, além de apresentar outros

inconvenientes, como os de garantir os direitos de um trabalhador em detrimento

do de vários e de prejudicar injustificadamente a atividade econômica normal dos

empregadores.284

3.7.1 Princípio da ampla defesa

Manoel Antônio Teixeira Filho não é contrário ao bloqueio on

line, e sobre a garantia da ampla defesa o mesmo diz que:

O princípio em foco significa que os sistemas processuais devem

permitir às partes a utilização de todos os meios lícitos,

necessários para promover a defesa judicial dos seus direitos ou

interesses. [...] Em primeiro lugar, porque o bloqueio somente

deve ser realizado se o devedor deixar de indicar bens

penhoráveis, ou fizer essa indicação em desacordo com o art. 655

do CPC; em, segundo, porque, efetivado o bloqueio on line, e

convertido em penhora, o devedor terá, nos embargos que lhe são

próprios, a oportunidade para submeter à apreciação judicial todos

os argumentos e documentos que reputar essenciais à sua

defesa, ficando, deste modo, preservada a garantia constitucional

que estamos a examinar.285

Entende da citação supra que a oportunidade de defesa ao

devedor é reservada, porém, se o mesmo não utilizar-se dela, deve-se manter o

princípio da livre utilização dos meios de provas, sendo que, prima-se pela

economia processual e agilidade da satisfação do direito do credor trabalhista.

3.7.2 Princípio do sigilo bancário

A respeito da garantia do sigilo bancário, o bloqueio não

implica quebra de sigilo bancário das partes em litígio e de nenhum usuário do

284

GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558

285 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 515/516.

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75

sistema financeiro. Aos magistrados é vedado requerer informações que não

atendam aos estritos interesses e objetivos da execução.286

O convênio cerca de cuidados a garantia do sigilo bancário,

mas seria absurdo pretender sobrepô-lo ao Poder Judiciário. A lei assegura aos

juízes o direito de obter as informações necessárias à instrução dos processos,

sejam elas detidas por pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas.287

3.7.3 Princípio do contraditório

O princípio do contraditório em sede processual, significa a

imposição legal de audiência bilateral. Sob este aspecto, o princípio do

contraditório se entrelaça com o da igualdade de tratamento, porquanto ao juiz

incumbe dar oportunidade para que cada parte se manifeste a respeito de ato

processual praticado ou a ser praticado pelo adversário ou por terceiro, ou

determinado pelo juiz. No caso do bloqueio on line não há transgressão à garantia

constitucional em foco, seja porque se concedeu ao devedor oportunidade para

nomear bens à penhora, seja porque o contraditório, em rigor, não se aplica

quando for o caso de ordem, de determinação judicial.288

3.7.4 Princípio do devido processo legal

A garantia do devido processo legal está inscrita no inciso

LIV, do art. 5º, da Constituição Federal. Na verdade esta garantia constitui um

superprincípio, do qual todos os outros derivam.

A penhora on line não viola o princípio do devido processo legal,

no que diz respeito aos demais princípios. Faz-se necessário frisar

que só se deve proceder ao bloqueio se o devedor deixar de

indicar bem passíveis de penhora ou indicá-los de maneira errada;

e se traduz como uma medida cautelar inominada.289

286

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 518.

287 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 559

288 ROSA, Antenor Batista. O sistema Bacen-Jud de penhora on line. Disponível em:

<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20081010103603337&mode=print>. Acesso em: 22 mar 2010.

289 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 517.

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Sobre a citação acima, é exatamente por isso que o bloqueio

on line não se confunde com a penhora, nem a substitui; pois efetivado o

bloqueio, o passo seguinte, a ser dado pelo juiz, consistirá em converter esse

bloqueio em penhora, a fim de que se preserve a garantia constitucional do

devido processo legal.290

Portanto, o devido processo legal é respeitado, apenas será

utilizado este procedimento da penhora on line, se o executado não cumprir com

suas obrigações.

3.7.5 Princípio da isonomia das partes

Não tem fundamento o argumento de tratamento desigual

entre as partes, porque o juiz, de modo algum, estará ministrando ao devedor um

tratamento diferenciado no que diz respeito ao credor. Além disso, não pode-se

ignorar a regra do art. 612, do CPC, conforme a qual a execução se processa no

interesse do credor.291

Das exposições supra, percebe-se que não existem as

inconstitucionalidades apontadas, pois o devedor é executado apenas depois de

responder, ou, pelo menos, ter tido a oportunidade de fazê-lo, às fases cognitiva e

recursal de uma ação onde estavam garantidos o contraditório, a ampla defesa e

o devido processo legal; no início da execução, assegura-se ainda seu direito de,

não satisfazendo de pronto a condenação, depositá-la, ou garantir a execução

pela oferta de bens à penhora ou de fiança, para discutir eventuais

irregularidades. Se, entretanto, não aproveita essas oportunidades, deve se

submeter à constrição coercitiva de seus bens, como é próprio da fase de

execução.

290

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 866.

291 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 517.

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77

3.8 CONTROVÉRSIAS ACERCA DA PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO

TRABALHISTA

Antes da instituição do Bacen-Jud, alguns juízes já estavam

expedindo ofícios para gerentes bancários. Essa praxe provocou intensa reação,

não só por parte dos devedores, mas, também, de determinados setores da

doutrina, cujas críticas se concentravam em duas conseqüências desse

procedimento adotado pelos juízes: a) a prática de atos processuais fora da

jurisdição; b) a superposição de bloqueios, pois de modo geral, os gerentes de

estabelecimentos bancários, que realizavam bloqueios por ordem judicial, não se

comunicavam entre si, nem havia um órgão central que controlasse a realização

desses diversos bloqueios.292

A primeira conseqüência foi solucionada em 2002, quando

surgiu o convênio conhecido como Bacen-Jud, formalizado entre o Banco Central

e o Tribunal Superior do Trabalho.293

Já sobre a segunda conseqüência, é inegável, que a

execução da penhora por ordem eletrônica acarreta alguns inconvenientes. O

bloqueio indiscriminado do montante do débito em todas as contas do executado

causa constrangimento excessivo, mas poderá ser atenuado, no futuro, por

medidas de agilização do processo de desbloqueio, atualmente ainda muito lento,

uma vez que o juízo deve aguardar um ofício da agência cuja conta sofreu

bloqueio, para após determinar a transferência dos fundos suficientes para uma

conta do juízo e liberar o bloqueio nos demais estabelecimentos bancários, o que

leva algum tempo.294

Acerca da segunda consequência, algo também já foi feito

para minimizar tais efeitos, conforme exposto no item 3.3 da penhora on line, o

art. 5º do provimento 06/2005, que permite pessoa física ou jurídica cadastrar

uma conta, para que apenas nela sejam feitos pretensos bloqueios, apenas

292

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 507

293 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558.

294 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 559.

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ultrapassando essa disposição, ao caso a conta cadastrada não possuir fundos

suficientes. Dessa maneira, não se bloqueia de forma indiscriminada.

Uma posição contrária acerca do procedimento da penhora

on line, vem sobre o fato dos valores impenhoráveis não serem respeitados, pois

não se pode saber a origem do dinheiro constante da conta apenas com ofícios,

senhas e segredos do qual é feito este procedimento. E desta maneira,

penhoram-se salários, proventos de aposentadorias, pensões e outras verbas de

caráter alimentar que por definição legal são absolutamente impenhoráveis.295

Sobre este tema, a seguinte jurisprudência do TRT da 16ª

Região:

MANDADO DE SEGURANÇA -PENHORA ON LINE - CONTA

CORRENTE PARA RECEBIMENTO DE SALÁRIO -

ILEGALIDADE DA CONSTRIÇÃO. Ofende direito líquido e

certo, amparável pela via do mandado de segurança, o ato

judicial que determina a penhora on-line em conta do

executado, sócio da reclamada, utilizada para a percepção de

salário, por violação ao art. 649, inciso IV, do CPC. [...]. (TRT-16:

347200900016001 MA 00347-2009-000-16-00-1, rel. Juiz José

Evandro de Souza, Julgamento: 18/03/2010, Publicação:

13/04/2010). (Grifou-se).

Já quando o numerário não é proveniente de verbas

alimentares, dispõe as seguintes jurisprudências:

MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA ON LINE PELO

SISTEMA BACEN-JUD. ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. O

bloqueio de créditos disponíveis em contas bancárias tem

evidente amparo em normas legais vigentes, tanto que sempre

foi realizado, embora demandasse expedientes morosos,

consistentes na expedição de ofícios ao Bacen para identificação

da existência de contas bancárias dos devedores e de

disponibilidade de créditos, seguindo-se a diligência de constrição

através de Oficial de Justiça. O sistema Bacen-Jud veio apenas

agilizar o procedimento como mais uma medida de prover a

295

GOMÉS, Lineu Miguel. Penhora on line. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/DOUTRINA/texto.asp?id=4861>. Acesso em: 17 maio 2010.

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celeridade processual. Não é ilegal ou abusiva a penhora on

line regularmente procedida. Mandado de segurança denegado.

(TRT-10 - MANDADO DE SEGURANCA: MS 196200900010004

00196-2009-000-10-00-4, rel. Juiz Grijalbo Fernandes Coutinho,

Julgamento: 09/09/2009, Publicação: 18/09/2009). (Grifou-se).

PENHORA “ON LINE”. EXECUÇÃO DEFINITIVA. Ausência de

ilegalidade na r. decisão judicial que determina a constrição sobre

numerário de conta corrente, pois encontra respaldo no artigo

655 do CPC, o qual fixa a ordem de nomeação de bens à

penhora pelo devedor, elencando primeiramente o dinheiro,

sobretudo diante da ausência de provas quanto à efetivação

dos depósitos bancários serem oriundos de proventos de

aposentadoria, afastando a aplicabilidade do inciso IV do artigo

649 do CPC, na espécie e impondo a incidência da Súmula 417,

item I,do C. TST. [...]. (TRT-2 - Mandado de Segurança: MS

13368200800002002 SP 13368-2008-000-02-00-2, rel. Juíza

Wilma Nogueira de Araújo Vaz da Silva, Julgamento: 23/02/2010,

Publicação: 11/03/2010). (Grifou-se).

Das jurisprudências supra percebe-se que, quando não é

possível saber que o saldo da conta tem natureza alimentar, não é ilegal o seu

bloqueio, e assim, se a penhora on line segue a legislação atual, não afronta em

nenhum sentido qualquer disposição constitucional ou legal.

O autor Carlos Henrique Bezerra Leite, defende a penhora

on line, porém acredita que podem haver controvérsias acerca da realização

deste procedimento, já que o prazo para oposição de embargos começará a

contar da data da notificação, pelo juízo, ao executado, do bloqueio efetuado em

sua conta, de conformidade com o art. 9º, § 2º, entende-se, ser o próprio juiz que

realiza a penhora on line, e não o oficial de justiça; e isso gerará controvérsias

acerca da constitucionalidade deste dispositivo, do Provimento 6/2005 da CGJT,

por violação ao devido processo legal e ao princípio da legalidade, na medida em

que o auto de penhora é realizado por oficial de justiça, e não pelo juiz.296

Do exposto acima, vale dizer que, não há nenhum tipo de

afronta à qualquer princípio da execução ou constitucional, pois o poder judiciário

296

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 868

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80

somente se envolve na omissão do devedor e, como não poderia ser diferente,

observa a ordem seqüencial dos bens penhoráveis.

De resto, o executado poderá, sempre, evitar os males da

penhora on line efetuando, nas quarenta e oito horas após receber a citação, o

depósito da condenação ou oferecendo bens à penhora.297

297

GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 559

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa monográfica tratou da penhora on line

na justiça laboral em relação aos princípios da execução trabalhista.

O seu objetivo geral foi estudar de que maneira se processa

a penhora on line e, se é um procedimento constitucional ou, se, vai de encontro

aos ditames da lei maior, verificando-se se tal ato processual afronta algum

princípio da execução trabalhista, se trás mais prejuízos ou se é benéfica para

alguma das partes e para qual parte.

Para tanto, o presente trabalho foi dividido em três capítulos,

sendo que no Primeiro Capítulo tratou-se do conceito de execução trabalhista,

princípios e pressupostos de acordo com o ordenamento jurídico pátrio.

Verificou-se que a execução trabalhista prima pela

simplicidade, celeridade e efetividade, além do devido processo legal e de outros

princípios que, não menos importantes, fazem parte da execução trabalhista, e

como qualquer ramo do Direito, são a base para que se desencadeie a correta

aplicação da justiça.

No Segundo Capítulo estudou-se noções sobre os

procedimentos da execução trabalhista, detalhando-se quais são os títulos

executivos judiciais e extrajudiciais e suas principais características.

Analisou-se que estes devem ser certos, líquidos e exigíveis

para que se possa processar uma execução, ou seja, não deve haver

controvérsias sobre a existência do título; o mesmo deve estar vencido, ou não

conter nenhuma limitação, e deve declarar a quantia devida.

Verificou-se, que a execução trabalhista pode ser promovida

por qualquer interessado ou de ofício pelo próprio juiz ou presidente do tribunal

competente, e é dirigida contra o réu ou os réus condenados na sentença ou

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identificados no título extrajudicial. E, ainda, estudou-se que as formas de

liquidação do título executivo são através de cálculos, artigos e arbitramento.

Por fim, no Terceiro Capítulo abordou-se as formas de

citação do executado, de que maneiras este pode agir quando se torna parte de

um processo de execução trabalhista, quando e como funciona o procedimento

da penhora on line, a ordem de preferência para a penhora e os valores

impenhoráveis, em seguida, tratou-se do excesso de penhora.

Destacou-se que, o executado não pagando nem garantindo

a execução, seguir-se-á a penhora dos bens, tantos quantos bastem ao

pagamento da importância da condenação, acrescida das custas, juros de mora,

etc. A penhora deve obedecer ao art. 655 do CPC, que prevê uma ordem

preferencial dos bens a serem constrangidos.

Verificou-se também, que a regra básica é que a penhora

deve atingir os bens negociáveis, ou seja, os que se podem normalmente alienar

e converter no respectivo valor econômico. Nesse mesmo sentido, foi imposta

uma segunda regra, a da impenhorabilidade, na qual, o legislador se preocupou

em preservar as receitas alimentares do devedor e de sua família, com

fundamento num princípio clássico da execução trabalhista, que lembra que o

executado não deve ser levado a uma situação incompatível com a dignidade

humana.

Discutiu-se por derradeiro os princípios que a penhora on

line afrontam e as controvérsias surgidas em virtude da aplicação deste

procedimento. A crítica trazida pela minoria, sob a alegação de ferir o preceito

constitucional do sigilo bancário e o princípio processual da menor onerosidade

para o devedor na execução, deve ser rechaçada pela doutrina moderna e

sobretudo, pelos Tribunais Superiores, pelo simples fato de que este sistema não

modificou em nada os procedimentos processuais vigentes atualmente,

destacando-se que a única mudança que de fato ocorreu, foi no modo de se

efetivar a penhora, que antes era cumprida por meio de oficial de justiça e agora é

por meio eletrônico.

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83

O direito processual moderno visa obter resultados efetivos,

de forma rápida e eficiente. Uma das maneiras de alcançar esse objetivo é a

utilização dos meios de comunicação virtual, da eletrônica, via internet. A

constrição do numerário com a penhora on line elimina todo o dispêndio de tempo

e os gastos com o processo de venda dos bens arrecadados em hasta pública

para satisfação do crédito do exeqüente. A economia processual é enorme e

compensa largamente os pequenos inconvenientes que poderão ser facilmente

superados, no futuro, com o aprimoramento legislativo e a evolução tecnológica.

Neste sentido, a hipótese levantada na introdução se

confirma:

- A penhora on line é um procedimento compatível com o

processo do trabalho por estar de acordo com os princípios da execução

trabalhista.

A hipótese é confirmada pois a penhora on line é

perfeitamente compatível com Processo do Trabalho por não ferir nenhum

princípio que norteia a execução trabalhista. Sua primazia no processo trabalhista

se justifica pelo objetivo de se proceder à execução mais rápida e eficaz em prol

do hipossuficiente, desonerando a máquina judiciária e acelerando a resolução da

demanda.

Não se justificam as alegações de inconstitucionalidade

desse procedimento, muito embora acarrete, realmente, alguns inconvenientes,

da mesma forma que qualquer execução forçada acarreta, mas que ainda,

poderão ser minimizados, se não superados através de aprimoramento legislativo

e conquistas tecnológicas. Os benefícios em economia de tempo e de despesas,

porém, compensam largamente os pequenos inconvenientes causados.

Assim, termina-se a presente pesquisa monográfica

sabendo-se que não foi esgotado o estudo sobre o tema, pois há muito ainda a

ser investigado sobre o procedimento da penhora on line, mas acredita-se ter

contribuído para futuros trabalhos e atingido o objetivo institucional, o qual foi a

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84

sua produção para a obtenção do título de bacharel em Direito pela Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI.

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