UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
A PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL
X
PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA
THAIS GONZAGA DOS SANTOS
Itajaí, maio de 2010.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL
X
PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA
THAIS GONZAGA DOS SANTOS
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientadora: MSc. Solange Lúcia Heck Kool
Itajaí, maio de 2010.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pois graças a Ele
podemos dispor da vida e de inúmeras vitórias.
À minha irmã Cris e meu cunhado Josué por
serem sempre ótimas companhias, principalmente
nas horas em que eu mais precisava.
À minha amiga Dayana por ter me apoiado
durante todo o caminho dessa graduação, e por
sua paciência e dedicação comigo em todos os
momentos, fossem eles relativos à faculdade ou
não.
À minha amiga Néguia por todos os conselhos e
sugestões sempre valiosos para meu crescimento
pessoal e científico.
À querida professora orientadora Solange Lúcia
Heck Kool em reconhecimento de sua larga
contribuição, além do incentivo e atenção
dispensados em toda essa trajetória.
DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa aos meus amados pais,
minha mãe Rosa, exemplo de dedicação e
perseverança, e meu pai José, exemplo de
generosidade e responsabilidade, pela força e
cumplicidade, e pelos momentos de ausência
física destinados à esta pesquisa.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, maio de 2010.
Thais Gonzaga dos Santos Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Thais Gonzaga dos Santos, sob o
título “A penhora on line na justiça laboral X princípios da execução trabalhista, foi
submetida em 10 de junho de 2010 à banca examinadora composta pelas
seguintes professoras: MSc. Solange Lúcia Heck Kool, (orientadora e presidente
da banca) e MSc. Mareli Calza-Hermann (coordenadora da monografia), e
aprovada com a nota [ ] ( ).
Itajaí, maio de 2010.
MSc. Solange Lúcia Heck Kool Orientadora e Presidente da Banca
MSc. Mareli Calza-Hermann Coordenação da Monografia
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................. VII
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1
CAPÍTULO 1.........................................................................................4
CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA, PRINCÍPIOS E PRESSUPOSTOS ................................................................................. 4
1.1 CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA .................................................. 4
1.2 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA ................................................ 8
1.2.1 PRINCÍPIO DA IGUALDADE DE TRATAMENTO DAS PARTES ........................................8
1.2.2 PRINCÍPIO DA NATUREZA REAL DA EXECUÇÃO ...........................................................9
1.2.3 PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO EXPROPRIATÓRIA .............................................................. 10
1.2.4 PRINCÍPIO DA NÃO-PREJUDICIALIDADE DO DEVEDOR .............................................. 11
1.2.5 PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE .................................................................................... 12
1.2.6 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PELAS DESPESAS PROCESSUAIS................... 12
1.2.7 PRINCÍPIO DO NÃO-AVILTAMENTO DO DEVEDOR ....................................................... 13
1.2.8 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL .................................................. 14
1.2.9 PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE .................................................................................. 14
1.2.10 PRINCÍPIO DO TÍTULO .................................................................................................. 15
1.2.11 PRINCÍPIO DA REDUÇÃO DO CONTRADITÓRIO ......................................................... 16
1.2.12 PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE ........................................................................................ 16
1.2.13 PRINCÍPIO DA AUSÊNCIA DE AUTONOMIA................................................................. 17
1.2.14 PRINCÍPIO DA CELERIDADE ........................................................................................ 18
1.2.15 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE ............................................................................... 18
1.3 PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA ..................................... 19
1.3.1 LEGITIMIDADE AD CAUSAM ........................................................................................... 19
1.3.2 VIABILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO .............................................................................. 19
1.3.3 INTERESSE PROCESSUAL DE AGIR .............................................................................. 20
1.3.4 A EXISTÊNCIA DE UM TÍTULO EXECUTIVO ................................................................... 21
1.3.5 O INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO PREVISTA NO TÍTULO PELO DEVEDOR ........... 24
CAPÍTULO 2 ........................................................................................ 28
PROCEDIMENTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA ....................... 28
2.1 TÍTULOS EXECUTIVOS - CARACTERÍSTICAS ........................................... 28
2.1.1 DA CERTEZA ................................................................................................... 29
2.1.2 DA LIQUIDEZ ................................................................................................... 29
2.1.3 DA EXIGIBILIDADE ........................................................................................... 31
2.2 COMPETÊNCIA E LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA .......... 32
2.2.1 COMPETÊNCIA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ...................................................... 33
2.2.2 LEGITIMIDADE ATIVA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ............................................. 34
2.2.3 LEGITIMIDADE PASSIVA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ......................................... 37
2.3 LIQUIDAÇÃO DO TÍTULO EXECUTIVO........................................................ 38
2.3.1 LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULO .............................................................................. 40
2.3.2 LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO ..................................................................... 42
2.3.3 LIQUIDAÇÃO POR ARTIGOS ............................................................................... 43
CAPÍTULO 3 ........................................................................................ 45
A PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL X PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA .............................................................. 45
3.1 CITAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL ................................. 45
3.2 ATUAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL................................ 47
3.2.1 PAGAMENTO ................................................................................................... 48
3.2.2 DEPÓSITO DA CONDENAÇÃO E NOMEAÇÃO DE BENS ........................................... 49
3.2.3 INÉRCIA DO DEVEDOR ...................................................................................... 52
3.3 A PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ............................. 53
3.4 ORDEM DE PREFERÊNCIA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA .................... 59
3.4.1 DINHEIRO, EM ESPÉCIE OU EM DEPÓSITO OU APLICAÇÃO EM INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA............................................................................................................. 60
3.4.2 BENS IMÓVEIS ................................................................................................. 61
3.4.3 NAVIOS E AERONAVES ..................................................................................... 62
3.4.4 PERCENTUAL DO FATURAMENTO EM EMPRESA DEVEDORA .................................. 63
3.4.5 PENHORA DE CRÉDITOS DO EXECUTADO ........................................................... 64
3.4.6 OUTROS DIREITOS ........................................................................................... 66
3.5 VALORES IMPENHORÁVEIS NA EXECUÇÃO TRABALHISTA .................. 67
3.5.1 BENS ABSOLUTAMENTE IMPENHORÁVEIS .......................................................... 69
3.5.2 BENS RELATIVAMENTE IMPENHORÁVEIS ............................................................ 72
3.6 EXCESSO DE PENHORA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ........................ 72
3.7 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA QUE A PENHORA ON LINE AFRONTA............................................................................................................. 73
3.7.1 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA ........................................................................... 74
3.7.2 PRINCÍPIO DO SIGILO BANCÁRIO ....................................................................... 74
3.7.3 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ......................................................................... 75
3.7.4 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ........................................................... 75
3.7.5 PRINCÍPIO DA ISONOMIA DAS PARTES ................................................................ 76
3.8 CONTROVÉRSIAS ACERCA DA PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA ..................................................................................................... 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 81
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ............................................ 85
RESUMO
A presente Monografia tem como objeto o estudo da
penhora on line na justiça laboral em relação aos princípios da execução
trabalhista. O seu objetivo geral é estudar de que maneira se processa a penhora
on line e, se é um procedimento constitucional ou, se, vai de encontro aos
ditames da lei maior; verificando se tal ato processual afronta algum princípio da
execução trabalhista, se trás mais prejuízos ou se é benéfica para alguma das
partes e para qual parte. Para tanto, aborda temas como o conceito de execução
trabalhista, princípios e pressupostos no primeiro capítulo; no segundo capítulo
estuda os procedimentos da execução trabalhista e, no terceiro e último capítulo
trata sobre a penhora on line na justiça laboral versus os princípios da execução
trabalhista. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de
Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de Dados o
Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente
estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.
2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma
percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.
3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE,
Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia terá como objeto o estudo da
penhora on line na justiça laboral em relação aos princípios da execução
trabalhista.
O seu objetivo geral será estudar de que maneira se
processa a penhora on line e verificar se tal ato processual afronta algum princípio
da execução trabalhista, e consequentemente, se é um procedimento
constitucional ou, se, vai de encontro aos ditames da lei maior, se trás mais
prejuízos ou se é benéfica para alguma das partes e para qual parte.
E ainda, como objetivo específico, produzir uma monografia
para a obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação será utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de
Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia será composto na base lógica Indutiva.
Para tanto, iniciar-se-á, no Capítulo 1, tratando-se do
conceito de execução geral e, especificamente, de execução trabalhista, também
tratar-se-á dos princípios da execução trabalhista, pois são a base de qualquer
processo e o juiz deve sempre analisá-los ao lado da lei devido a sua enorme
importância para o processo e, ainda, trata dos pressupostos da execução
trabalhista, pois sem o título executivo e sem a exigibilidade deste, não existe
processo de execução na justiça laboral.
Continuar-se-á no Capítulo 2, tratando dos procedimentos
da execução trabalhista, detalhando-se quais são os títulos executivos e suas
principais características, quer sejam eles judiciais ou extrajudiciais, devem ser
certos, líquidos e exigíveis para que se possa processar uma execução, abordar-
se-á também, de quem é a competência para processar tais demandas e, quem é
2
titular das legitimidades ativa e passiva na execução trabalhista e, por fim,
estudar-se-á a liquidação por cálculos, por artigos e por arbitramento, que são
formas de liquidação do título executivo.
No Capítulo 3, entrar-se-á com o objeto da pesquisa, para
tratar-se da penhora on line na justiça laboral versus os princípios da execução
trabalhista. Especificando-se as formas de citação do executado, de que maneiras
este pode agir quando se torna parte de um processo de execução trabalhista,
quando e como funciona o procedimento da penhora on line, a ordem de
preferência para a penhora e os valores impenhoráveis, em seguida, tratar-se-á
do excesso de penhora, até onde pode-se atuar e de que forma, os princípios que
a penhora on line afrontam e as controvérsias surgidas em virtude da aplicação
deste procedimento.
O presente Relatório de Pesquisa se encerrará com as
Considerações Finais, nas quais serão apresentados pontos conclusivos
destacados e, expor-se-á sobre a confirmação ou não da hipótese levantada,
seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a
penhora on line.
Para a presente monografia levantou-se a seguinte hipótese:
- A penhora on line é um procedimento compatível com o
processo do trabalho por estar de acordo com os princípios da execução
trabalhista.
Esta, após o desenvolvimento da pesquisa será confirmada
ou não nas Considerações Finais.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa
Bibliográfica7.
4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o
alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.
3
As categorias fundamentais para a presente monografia,
bem como os seus conceitos operacionais serão apresentados no decorrer do
estudo.
5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD,
Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.
6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita
para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.
7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD,
Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.
CAPÍTULO 1
CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA, PRINCÍPIOS E
PRESSUPOSTOS
1.1 CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA
De acordo com o Dicionário Aurélio básico da Língua
Portuguesa, executar é “1. Levar a efeito; efetuar, efetivar, realizar. 2. Tornar
efetivas as prescrições de; cumprir. 3. Fazer construir. 4. Tocar. 5. Cantar. 6.
Representar, interpretar, encenar.”8 Esses são os sentidos ordinários da palavra.
Já no sentido jurídico, como destaca José Augusto
Rodrigues Pinto:
[...] a palavra assume significado mais apurado, embora
guardando a idéia básica de que, uma vez nascida a obrigação,
por ajuste entre particulares ou por imposição sentencial do órgão
próprio do Estado, deve cumprir-se, atingindo-se no último caso,
concretamente, o comando da sentença que a reconheceu ou, no
primeiro caso, o fim para o qual se criou.9
Como bem lembra Sérgio Pinto Martins, “Até a antiguidade,
a execução era feita sobre o corpo do devedor. Era pessoal. O devedor poderia
ficar como escravo do credor. [...] A partir do ano 1000, a execução privada
acabou sendo desprezada. Atualmente, atinge a execução apenas os bens do
devedor. Passa a ser patrimonial.”10
8 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 283.
9 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. 8. ed.
São Paulo: LTr, 1998. p. 25.
10 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.
646.
5
Ficou para trás o nebuloso período da autotutela de direitos,
ou de supostos direitos, onde cada pessoa, de certa forma, era seu próprio árbitro
ou juiz, e decidia sobre os meios de fazer seu crédito se cumprir. Valia tudo,
cobrar a dívida sobre o patrimônio do devedor, ou mesmo sobre seu próprio
corpo.11
Depois, visto que cobrar a dívida sobre a pessoa do
devedor, não satisfazia o crédito efetivamente, começa a ser deixado de lado tal
método arcaico e de certa forma, desumano, para permitir-se apenas a execução
patrimonial dos bens do devedor. Atualmente, é necessário utilizar-se de árbitros
ou, seguir o procedimento previsto na Consolidação das Leis do Trabalho para
que se possa cobrar efetivamente o devedor pelo inadimplemento da obrigação.12
Inicia-se a prestação jurisdicional com o processo de
conhecimento, no qual, são trazidas todas as provas para que o juiz possa dizer o
direito das partes. Após o processo de conhecimento, o qual se finaliza com uma
sentença, que geralmente não é cumprida voluntariamente (se for cumprida
espontaneamente, encerra-se aí), segue-se com outra atividade jurisdicional,
destinada à satisfação da obrigação exposta em um título judicial, a sentença.13
Assevera José Augusto Rodrigues Pinto:
A sentença é fruto, essencialmente, da atividade jurisdicional de
Estado, e dentro dessa revela-se o trabalho de realização
concreta das normas abstratas preexistentes e, uma vez
completado, na atuação coercitiva para o cumprimento da norma
já concretamente realizada. Assim, execução de sentença é, pois,
a coerção do Estado sobre o indivíduo para cumprimento de uma
norma que já foi objeto de realização concreta pelo órgão de seu
Poder Judiciário.14
11
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 34
12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 647.
13 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 41. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2007. V 2. p. 121.
14 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 25/26.
6
Essa atividade estatal de satisfazer a obrigação consagrada
num título que tem força executiva, não adimplido voluntariamente pelo credor, se
denomina execução forçada, sendo que, alternativamente à inércia do credor ou
interessado, há uma faculdade atribuída por lei ao magistrado para, promovê-la
ex officio, por impulso oficial.15
Para Lopes da Costa, “a execução é o conjunto de atos
pelos quais a justiça, substituindo-se ao condenado, alcança, para o titular do
direito tanto quanto possível, o mesmo resultado que ele obteria com o voluntário
cumprimento da obrigação.”16
José Frederico Marques a tem como “o conjunto de atos
praticados pelos litigantes, o juiz e respectivos auxiliares, a fim de ser dado a
cada um o que é seu.”17
Por fim, Manoel Antônio Teixeira Filho formulou um conceito
específico de execução forçada, no âmbito do processo do trabalho:
É a atividade jurisdicional do Estado, de índole essencialmente
coercitiva, desenvolvida por órgão competente, de ofício ou
mediante iniciativa do interessado com o objetivo de compelir o
devedor ao cumprimento da obrigação contida em sentença
condenatória transitada em julgado ou em acordo judicial
inadimplido ou em título executivo extrajudicial, previsto em lei.18
A partir da Lei nº. 9.958/00 foram inseridas as possibilidades
de se executar títulos extrajudiciais no processo do trabalho, como os termos de
ajustamento de conduta e comissão de conciliação prévia.19
Conforme citações supra, nota-se que a execução é parte da
fase final do processo. Podendo-se concluir que é uma sequência de atos
15
PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 26.
16 COSTA, Lopes da. apud SALEM NETO, José. Execução trabalhista: teoria – jurisprudência –
prática. São Paulo: LED, 1999. p. 21.
17 MARQUES, José Frederico apud TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo
do trabalho. p. 33.
18 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 33/34.
19 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 35.
7
exercidos por meio da prestação jurisdicional do Estado, onde busca-se a
satisfação do direito do credor, demonstrado pelo título que ele possui,
compelindo o devedor a cumprir tal obrigação.
Com a edição da Lei nº. 11.232/05, modifica-se a execução civil –
que, aliás, fornece a estrutura orgânica básica da execução
trabalhista, consubstanciada (no caso de execução por quantia
certa, modalidade mais comum) nas fases de quantificação,
constrição e expropriação patrimonial – para torná-la, no que
tange a uma busca por maior efetividade, mais assemelhada à
execução trabalhista.20
Sobre o tema, Carlos Henrique Bezerra Leite:
Eis o chamado sincretismo processual, que consiste na
simultaneidade de atos cognitivos e executivos no mesmo
processo, e portanto, mais célere e eficaz. [...] Vale dizer, em se
tratando de título executivo extrajudicial há, realmente, um
processo (autônomo) de execução, instaurado por meio de uma
ação de execução. Todavia, cuidando-se de título executivo
judicial não há mais, em princípio, um “processo” autônomo de
execução e, consequentemente, uma “ação” de execução.21
Assim, o processo de execução de título judicial no processo
civil, a partir da edição da lei nº. 11.232/05, conforme citou Francisco Montenegro
Neto, corre nos mesmos autos da ação de conhecimento, como sempre ocorreu
no processo do trabalho.
Percebe-se ainda, que o cumprimento de sentença e a ação
de execução de título executivo extrajudicial, tanto no processo civil quanto no do
trabalho completam a prestação jurisdicional iniciada pelo credor e declara o
direito das partes.
20
MONTENEGRO NETO, Francisco. A nova execução e a influência do processo do trabalho no processo civil. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7835>. Acesso
em: 27 set. 2009.
21 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 805/806.
8
1.2 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA
Merece destaque a definição do jurista José Cretela Júnior
ao afirmar que “Os princípios de uma ciência são as proposições básicas,
fundamentais, típicas que condicionam as estruturações subsequentes.
Princípios, nesse sentido, são os alicerces da ciência.”22
Sendo que a solução de litígios é um processo que ainda
está em evolução, atualmente, o que o Código de Processo Civil tem passado por
reformas significativas, em busca de eliminar a burocracia na execução, visando a
prestação jurisdicional mediante a utilização do sistema de normas e princípios.
Princípios estes, que desde sempre, foram buscados no Processo do Trabalho.23
A execução trabalhista, inclusive a civil, é informada por um
conjunto de princípios, que serão abordados a seguir, e merecerão comentários
individualizados. Pode-se destacar os seguintes princípios da execução
trabalhista:
1.2.1 Princípio da igualdade de tratamento das partes
Esse princípio encontra fundamento no artigo 5º, caput, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 198824, que estabelece a
igualdade (formal) de todos perante a lei. É claro que no processo do trabalho o
juiz deve sempre levar em conta a desigualdade substancial que, existe entre os
sujeitos da lide, mesmo porque, via de regra, o credor é o trabalhador
economicamente fraco que necessita da satisfação de seus créditos, que
invariavelmente têm natureza alimentícia, enquanto o devedor é, em linhas gerais,
o economicamente forte. Trata-se pois, do princípio da igualdade substancial ou
real, que encontra residência no art. 3º, incisos II e III, da CRFB/88.25
22
CRETELA JÚNIOR, José apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. p. 63.
23 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 16.
24 A partir deste momento usar-se-á a sigla CRFB/88.
25 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.
9
1.2.2 Princípio da natureza real da execução
A partir do momento em que o Estado avoca para si o
monopólio da prestação jurisdicional, a execução encontra uma fase de
humanização, ou seja, ela passa a ter caráter real e não pessoal, na medida em
que é o patrimônio do devedor que passa a ficar sujeito à constrição e à
expropriação.26
O art. 591 do CPC prescreve que:
O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações,
com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições
estabelecidas em lei.27
Manoel Antônio Teixeira Filho esclarece que “para esses
efeitos, o conjunto de bens é entendido como sendo os bens corpóreos ou
incorpóreos, presentes ou futuros, de direitos e de obrigações economicamente
apreciáveis.”28
Esse princípio é reafirmado no art. 646 do CPC, segundo o
qual:
A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do
devedor, a fim de satisfazer o direito do credor.29
Como bem lembra Carlos Henrique Bezerra Leite:
A natureza real da execução encontra fundamento, ainda, no
princípio constitucional que proíbe a prisão por dívidas, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel (CRFB/88, art. 5º,
LXVII), sendo certo que a respeito deste último caso há tratados
internacionais que não permitem a prisão por dívida.30
26
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.
27 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
28 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 116.
29 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
30 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.
10
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ratificada
pelo Brasil por meio do Decreto nº. 678, de 6 de novembro de 1992 (DOU
9.11.1992), prescreve, em seu art. 7º, item 7, que:31
Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os
mandados de autoridade judiciária competente expedidos em
virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.32
Das citações acima, percebe-se que obrigatoriamente a
execução deve ser real, de modo que satisfaça o direito do credor, sem
comprometer a integridade física e liberdade do devedor.
1.2.3 Princípio da limitação expropriatória
Conforme art. 659 do CPC:
A penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o
pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários
advocatícios.33
E ainda, entende-se pelo art. 692, parágrafo único, do
mesmo diploma legal dispõe que a arrematação será suspensa assim que o
produto da alienação dos bens for suficiente para o pagamento do credor.34
Sendo que a base da execução é o título executivo e o
objetivo é fazer com que o devedor cumpra a obrigação contida no mesmo, é
elementar que os atos expropriatórios que venham a ser praticados, tenham como
limite o valor da dívida, com os acréscimos legais.35
Fica clara, pois, a existência de uma limitação expropriatória
que deriva da lei, com o fim de impedir que o devedor seja prejudicado, e que o
credor, enriqueça ilegalmente.
31
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 843.
32 BRASIL. Decreto nº. 678/92. Disponível em <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 abr 2010.
33 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
34 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
35 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 117.
11
1.2.4 Princípio da não-prejudicialidade do devedor
Vários atos são praticados durante o iter procedimental da
execução em evidente desconforto do devedor, como a formalização de penhora
em bens do seu patrimônio, a designação de dia e hora para a realização da
hasta pública, a arrematação do bem penhorado, o pagamento feito em favor do
credor em qualquer das suas modalidades, etc. Porém, somente quando a
execução puder ser realizada por mais de uma modalidade, com a mesma
efetividade para o credor, será possível se aplicar tal princípio em favor do
devedor.36
Nas palavras de Misael Montenegro Filho:
O dispositivo da lei analisado qualifica-se como favor debitoris,
garantindo que dentre várias formas possíveis de se operar o
(natural) sacrifício do devedor que se prossiga pelo caminho
menos tortuoso, que menos o traumatize. Se o devedor possui
dois bens, cada um de valor suficiente para o adimplemento da
obrigação, a lei lhe confere a prerrogativa de requerer a
substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente
que a substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será
menos onerosa para ele devedor. No mesmo sentido, na hipótese
de se constatar que a arrematação foi efetivada por preço vil,
aconselha-se o seu desfazimento, o que pode embasar a
oposição dos embargos à arrematação.37
Outra demonstração da aplicação do princípio em exame é
extraída da interpretação do art. 594 CPC, textualizando:
O credor, que estiver, por direito de retenção, na posse da coisa
pertencente ao devedor, não poderá promover a execução sobre
outros bens senão depois de excutida a coisa que se achar em
seu poder.38
36
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. São Paulo: Atlas, 2008. p. 234.
37 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie e processo de execução. p. 234.
38 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
12
Por este princípio, conclui-se que a execução deve ter o
máximo resultado com o menor dispêndio de atos processuais e prejuízos ao
devedor.
1.2.5 Princípio da especificidade
O princípio está contemplado nos arts. 627 e 633, do CPC,
que diz respeito à execução das obrigações para a entrega de coisa, de fazer ou
de não-fazer decorrentes de títulos extrajudiciais.39
Dispõe o art. 627 do CPC, que:
O credor tem direito a receber, além das perdas e danos, o valor
da coisa, quando esta não lhe for entregue, se deteriorou, não for
encontrada ou não for reclamada do poder do terceiro
adquirente.40
E, ainda, o art. 633, do CPC:
Se, no prazo fixado, o devedor não satisfazer a obrigação, é lícito
ao credor, nos próprios autos do processo, requerer que ela seja
executada à custa do devedor, ou haver perdas e danos; caso em
que ela se converte em indenização.41
Segundo o princípio em tela, quer se dar ao credor o que ele
perdeu em favor do devedor, e caso não seja possível, lhe indenizar por este
prejuízo.
1.2.6 Princípio da responsabilidade pelas despesas processuais
Por este princípio, verifica-se que incumbe ao devedor o
pagamento dos valores devidos ao credor, ou o cumprimento de outra qualquer
obrigação estampada no título executivo, mas também das custas, dos
39
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.
40 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
41 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
13
emolumentos, das despesas com a publicação de editais, dos honorários
periciais, etc.42
Manoel Antonio Teixeira Filho assevera que:
Essa responsabilidade subsiste no caso de remição (CPC, art.
651), a despeito de os honorários advocatícios já se encontrarem
incluídos na conta elaborada com vistas às disposições da
sentença exeqüenda. Os honorários periciais, contudo, podem ser
supervenientes a essa sentença; sendo assim, por eles
responderá, por princípio, o devedor.43
No processo do trabalho, o art. 789-A da CLT prescreve que
as custas, no processo (ou fase) de execução, sempre a cargo do executado, são
pagas ao final.44
Deste modo, sendo que a execução apenas foi processada
em virtude do não adimplemento do devedor, nada é mais juto do que este
responder pelas despesas processuais.
1.2.7 Princípio do não-aviltamento do devedor
Como já foi dito, é em favor do credor que a execução se
desenrola; porém, a mesma não deve afrontar a dignidade humana, princípio
constitucional fundamental consagrado no art. 1º, inc. III, da CRFB/88, retirando
do devedor bens indispensáveis à sua subsistência e a de seus familiares.45
Por este motivo, a lei tornou insuscetível de penhora alguns
bens, conforme art. 649 do CPC. Bens estes que atendem a necessidade vital do
devedor e também a circunstâncias de ordem sentimental, religiosa, profissional e
outras.46
42
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845.
43 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 119.
44 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do
processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30 nov. 2009.
45 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845.
46 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845.
14
1.2.8 Princípio da vedação do retrocesso social
Este princípio encontra-se implícito no nosso sistema
constitucional e, como leciona Ingo Wolfgang Sarlet:
[...] decorre de outros princípios e argumentos de matriz jurídico-
constitucional, como o princípio do Estado Democrático e Social
de Direito, que impõe um patamar mínimo de segurança jurídica; o
princípio da dignidade da pessoa humana; o princípio da máxima
efetividade dos direitos fundamentais.47
Carlos Henrique Bezerra Leite acrescenta, ainda, que
[...] o princípio da segurança é, ao mesmo tempo, um direito
humano de primeira dimensão (CRFB/88, art. 5º, caput) e um
direito humano de segunda dimensão (CRFB/88, art. 6º), valendo
lembrar o disposto no caput do art. 7º da CRFB/88, que aponta
sempre no sentido de melhoria (nunca de retrocesso) das
condições sociais dos trabalhadores.48
Percebe-se que a intenção é de buscar cada vez mais o
desenvolvimento do direito para que se possa aplicá-lo de maneira efetiva e
satisfatória aos jurisdicionados.
1.2.9 Princípio da disponibilidade
O ordenamento processual brasileiro dá ao credor a
faculdade de prosseguir ou não com a execução, ou algumas medidas
executivas, de acordo com o disposto no art. 569 do CPC, sem mesmo necessitar
da anuência do devedor. 49
Contudo, prevê o art. 158, § único, CPC:
47
SARLET, Ingo Wolfgang apud LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 845/846.
48 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 846
49 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 846
15
A desistência da ação só produzirá efeito depois de homologada
por sentença.50
Portanto, faz necessária a homologação judicial para que a
desistência da execução produza seus efeitos.
Sobre o tema, leciona Manoel Antônio Teixeira Filho:
Opostos os embargos, o credor somente poderá desistir da
execução, se nisso convier o devedor, porquanto este poderá ter
interesse em obter um pronunciamento jurisdicional acerca da
quitação, da prescrição extintiva e de outras matérias alegadas
[...].51
De outro lado, no Processo do Trabalho, considerando-se os
princípios da irrenunciabilidade de direitos trabalhistas e a hipossuficiência do
trabalhador, deve o Juiz do Trabalho ter cuidado redobrado ao homologar
eventual desistência da execução por parte do credor trabalhista, devendo ouvir o
reclamante, e se convencer de que a desistência do crédito é mesmo
espontânea.52
1.2.10 Princípio do título
Toda execução pressupõe um título, seja ele judicial ou
extrajudicial. A execução é nula sem título, (nulla executio sine titulo). Outrossim,
o título a embasar a execução deve ser líquido, certo e exigível.53
Os títulos trabalhistas que têm força executiva estão
previstos no artigo 876, da CLT, e serão comentados no próximo capítulo.
50
BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
51 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 122.
52 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 123.
53 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do
processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30 nov. 2009.
16
1.2.11 Princípio da redução do contraditório
O contraditório é limitado, mitigado, pois a obrigação já está
constituída no título e deve ser cumprida, ou de forma espontânea pelo devedor,
ou mediante a atuação coativa do Estado, que se materializa no processo.54
Cabe aqui trazer entendimento de Ernane Fidélis dos
Santos:
O contraditório só se revela pela comunicação idônea dos atos ao
executado, permitindo sua participação no processo, mas sem
oposição contestatória, porque visando a execução apenas
efetivar direito já reconhecido, seus objetivos se limitam a tal
realização prática, sem que haja nenhuma sentença, a não ser o
pronunciamento que julga extinta a execução.55
Para este autor o princípio do contraditório é um dos
princípios diretores do processo, e manifesta-se tanto no de conhecimento,
quanto no de execução, hoje apenas para títulos extrajudiciais.
1.2.12 Princípio da efetividade
A execução trabalhista se faz no interesse do credor e,
portanto, todos os atos executivos devem ser dirigidos para a sua efetiva
satisfação, pois é o maior interessado.56
Segundo Araken de Assis: “[...] é tão bem sucedida a
execução quando entrega rigorosamente ao exeqüente o bem perseguido, objeto
da prestação inadimplida, e seus consectários.”57
Misael Montenegro Filho conceitua no mesmo sentido,
dizendo que “É em atenção do credor, que o devedor é punido por sua conduta
54
SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30/11/2009.
55 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo
cautelar. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 2 V. p. 4.
56 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do
processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em 30/11/2009.
57 ASSIS, Araken. Manual do processo de execução. p. 108.
17
injustificável de não adimplir voluntariamente a obrigação contra si imposta,
gerando portanto, a solicitação do prejudicado para que o Estado atue de forma
substitutiva.”58
Lembrando sempre que, isso não significa que a execução
apenas pode ser desfechada em favor do credor, sabido que o devedor pode
trazer para a relação jurisdicional os atributos de certeza, de liquidez e de
exigibilidade do título que embasou a execução através do acolhimento da sua
defesa, materializada na oposição dos embargos à execução ou da impugnação,
sem afastar a possibilidade de apresentação da exceção de pré-executividade.59
1.2.13 Princípio da ausência de autonomia
No processo do trabalho, em se tratando de título executivo
judicial, a execução é fase do processo e não procedimento autônomo, pois o juiz
pode iniciá-la de ofício, baseando-se no art. 848, da CLT, sem necessidade do
credor entabular petição inicial.60
Como bem adverte Manoel Antonio Teixeira Filho:
Sem pretendermos ser heterodoxos neste tema, pensamos que a
execução trabalhista calcada em título judicial, longe de ser
autônoma, representa, em rigor, simples fase do processo de
conhecimento que deu origem à sentença condenatória
exeqüenda.61
Verifica-se, com as citações acima que não há que se falar
em ação de execução no caso de título executivo judicial, visto que a execução
trabalhista é uma continuação do processo, uma fase, e não uma ação autônoma.
58
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 233.
59 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie e processo de execução. p. 233.
60 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 46.
61 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 46.
18
1.2.14 Princípio da celeridade
Dada a simplicidade do processo de execução trabalhista, a
mesma deve ser rápida, pois o credor trabalhista não pode esperar, sendo que
este crédito tem natureza alimentar. Isso, não só no processo do trabalho, como
em outras esferas, o crédito trabalhista sempre tem preferência.62
1.2.15 Princípio da subsidiariedade
O art. 769 da CLT disciplina os requisitos para aplicação
subsidiária do direito processual comum ao processo do trabalho, com a seguinte
redação:
Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte
subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em
que for incompatível com as normas deste Título. 63
Conforme a redação do referido dispositivo legal, são
requisitos para a aplicação do Código de Processo Civil ao processo do trabalho:
a) omissão da CLT, ou seja, quando a CLT, ou a legislação processual
extravagante não disciplina a matéria; b) compatibilidade com os princípios que
regem o processo do trabalho. Vale dizer: a norma do CPC além de ser
compatível com as regras que regem o processo do trabalho, deve ser compatível
com os princípios que norteiam o direito processual do trabalho, máxime o acesso
do trabalhador à Justiça.64
Verifica-se que os princípios entram uns na esfera dos
outros, confundindo-se, pois são interligados. Não é necessário que o juiz
individualize-os, mas faz-se mister que ao julgar o processo esteja à luz de todos,
para julgar com equidade e assim poder fazer a devida justiça.
62
SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em: 30/11/2009.
63 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
64 SCHIAVI, Mauro. Os princípios da execução trabalhista à luz da moderna teoria geral do
processo. Disponível em: <http://www.lacier.com.br/artigos.htm>. Acesso em: 30/11/2009.
19
Jorge Luiz Souto Maior citando Pontes de Miranda, disse
que, “Na ação executiva quer-se mais: quer-se o ato do juiz, fazendo não o que
devia ser feito pelo juiz como juiz, mas sim o que a parte deveria ter feito.”65
Por fim, não é exagero advertir que os sacrifícios
processuais devem sempre respeitar e se curvar aos princípios constitucionais,
como normas jurídicas qualificadas, hierarquicamente situadas acima das
disposições da legislação infraconstitucional.66
1.3 PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA
“Tanto no processo civil quanto no do trabalho, a
possibilidade de promover-se qualquer execução se sujeita ao atendimento das
condições da ação comuns a todas as ações [...]”67, que são:
1.3.1 Legitimidade ad causam
“É a regularidade do poder do sujeito que integra o
processo, de determinada pessoa, de demandar sobre determinado objeto e, para
ser regular, deve verificar-se tanto no pólo ativo quanto no pólo passivo da
relação jurídica.”68
1.3.2 Viabilidade jurídica do pedido
“Consiste na formulação de pretensão que, em tese, exista
na ordem jurídica como possível de ser atendida, e que, pretensamente, esteja
amparada pelo direito material ou pelos princípios que orientam o Direito e a
Justiça.”69
65
MIRANDA, Pontes de apud MAIOR, Jorge Luiz Souto. Teoria geral da execução forçada: execução trabalhista: visão atual. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 37
66 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie e processo de execução. p. 236.
67 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 161.
68 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta – objetiva – atual. 3. ed.
Florianópolis: Momento Atual, 2007. V 2. p. 22.
69 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta – objetiva – atual. p. 25.
20
1.3.3 Interesse processual de agir
Segundo esclarecedor magistério de Arno Melo Schlichting:
“É uma relação de necessidade, pois decorre da necessidade de
se recorrer ao judiciário para a obtenção do resultado pretendido,
uma vez que é esse o único modo que resta ao agente pretensor
para obter o “direito” reclamado, [...]. É também uma relação de
adequação, uma vez que é inútil provocar a tutela jurisdicional se
ela não for apta a produzir a correção da lesão argüida na
inicial.”70
As condições da ação, como categorias intermediárias entre
os pressupostos processuais e o mérito da causa, apresentam-se como requisitos
que a lei impõe para que a parte possa, numa relação processual válida, chegar
até a solução final da lide.71
A execução forçada também está condicionada à
concorrência de requisitos fundamentais e específicos, que se revelam no título,
sem excluir a incidência dos gerais, a saber: a) a existência de título executivo,
também chamado por alguns doutrinadores de pressuposto formal, de onde se
extrai o atestado de certeza e liquidez da dívida; e b) o inadimplemento do
devedor, também chamado de pressuposto prático, que é a atitude ilícita do
devedor, que comprova a exigibilidade da dívida.72
Esses requisitos são indispensáveis à realização das
execuções em geral, tenham elas por objeto uma obrigação de dar (dinheiro ou
coisa), de fazer ou de não fazer. Sem a presença dos mesmos, impõe-se a
extinção da execução sem a resolução do mérito, por carência de ação, onerando
o credor com o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios
em favor do seu opositor. Deste modo, produz-se apenas coisa julgada formal, de
70
SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta – objetiva – atual. p. 23.
71 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154.
72 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154.
21
maneira que a ação pode ser reproposta em momento seguinte, desde que seja
possível eliminar o vício processual que impôs a extinção em análise.73
1.3.4 A existência de um título executivo
Não há possibilidade de instauração de processo executório,
sem o título executivo. Este se informa exclusivamente pela lei e tem validade
formal.74 Nesse sentido, ensina o doutrinador Ernane Fidélis dos Santos:
A ação de execução é baseada em título, e, no processo que se
instaura, não se discute sobre a justiça da pretensão, mas sim
sobre a validade formal do título executado, já que, se ele existe,
não há direito a ser questionado. Toda execução que não se
fundar em título executivo deve de plano ser indeferida, a qualquer
momento pode ser declarada sua nulidade (art. 618, I), ainda que
sem a incidência de embargos.75
Acerca do primeiro pressuposto da execução, não há
consenso doutrinário sobre o conceito e a natureza do título executivo.
Para Liebman, é ele um elemento constitutivo da ação de
execução forçada; para Zanzuchi é uma condição do exercício da
mesma ação; para Carnelutti, é a prova legal do crédito; para
Furno e Couture, é o pressuposto da execução forçada; para
Rocco é apenas o pressuposto de fato da mesma execução, etc.76
Também, ensina Lúcio Rodrigues de Almeida “Título
executivo é a base indispensável de qualquer execução judicial. Nele se
corporificam o direito do credor e a sanção a que se acha sujeito o devedor por
inadimplência da obrigação.”77
No entanto, em toda a doutrina e na maioria dos textos dos
Códigos modernos, está unanimemente expressa a regra fundamental, já
73
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 270.
74 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154
75 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. 2007. P. 8/9
76 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154
77 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução Trabalhista. Rio de Janeiro: AIDE, 1997. p. 54
22
comentada no item 1.2.11, princípio do título, da nulla executio sine titulo. Isto é,
nenhuma execução forçada é cabível sem o título executivo que lhe sirva de
base.78
Antes do ano 2000, não era possível que se executasse
títulos extrajudiciais na Justiça do Trabalho. Contudo, a Lei nº. 9.958/2000
modificou o texto do art. 876 da CLT para prever esta possibilidade.79
Atualmente, dispõe o art. 876 da CLT:
Art. 876. As decisões passadas em julgado ou das quais não
tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando
não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante
o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação
firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão
executados pela forma estabelecida neste Capítulo.80
Prevê este artigo, todos os títulos que podem ser
executados na Justiça do Trabalho. No entanto, tais títulos são divididos em
judiciais e extrajudiciais.81
O artigo se refere a “decisões passadas em julgado”,
portanto, as sentenças (decisões de primeiro grau) e os acórdãos (decisões dos
órgãos superiores da jurisdição) transitados em julgado ou contra os quais não
tenham sido interposto recurso com efeito suspensivo são títulos judiciais.82
Como destaca Sérgio Pinto Martins:
São executadas no processo do trabalho as decisões passadas
em julgado. Quer dizer, as sentenças das quais não caiba mais
qualquer recurso. Tanto são as decisões condenatórias de
obrigação de dar, de pagar, como as de obrigação de fazer ou não
fazer. Também se incluem as declaratórias, quanto a custas e
78
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 154
79 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 53.
80 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
81 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 924.
82 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 185
23
honorários de advogado, se for o caso. São ainda executadas as
sentenças que fixam honorários de advogado, honorários
periciais, multas e outras despesas judiciais.83
Já os acordos judicialmente homologados, os acordos
extrajudiciais homologados pela Delegacia Regional do Trabalho ou pelo
sindicato, os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do
Trabalho e os termos de conciliação firmados perante Comissão de Conciliação
Prévia são os títulos executivos extrajudiciais.84
O inciso II do art. 585 do CPC dispõe que o instrumento de
transação referendado pelo Ministério Público é considerado título executivo
extrajudicial, que é justamente o termo de ajuste de conduta firmado pelo
Ministério Público do Trabalho e a outra parte na ação civil pública.85
Reafirma o parágrafo único do art. 625-E da CLT que:
O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá
eficácia liberatória geral, [...].86
Portanto, também os termos de conciliação firmados perante
as Comissões de Conciliação Prévia poderão ser executados.
Ainda podem ser executados no processo do trabalho os
seguintes títulos que o CPC também coloca como títulos judiciais exeqüíveis: a
sentença arbitral e a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de
Justiça87, com base no art. 575, IV, do CPC.88
83
MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 924
84 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues. Execução trabalhista. p. 52.
85 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues. Execução trabalhista. p. 52/53.
86 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
87 A partir deste momento usar-se-á a sigla STJ.
88 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 64.
24
1.3.5 O inadimplemento da obrigação prevista no título pelo devedor
Quanto ao segundo pressuposto da execução, que é o
requisito que se denomina material, a situação de fato que dá lugar a execução
consiste sempre “Na falta de cumprimento de uma obrigação por parte do
obrigado.”89
Nas palavras de Lúcio Rodrigues de Almeida, “Devedor
inadimplente é o que espontaneamente não satisfaz o direito reconhecido na
decisão judicial, ou a obrigação assumida em documento a que a lei atribui
eficácia de título extrajudicial.”90
Embora o verbo inadimplir traduza na terminologia do processo, o
ato pelo qual o devedor deixa de cumprir uma obrigação, devemos
ponderar que o inadimplemento, em sua significação plena, só se
configura quando a obrigação deixa de ser: a) cumprida em sua
modalidade típica (dar, fazer, não fazer); b) no prazo legal; c) no
lugar estabelecido; d) de acordo com as demais condições
constantes do título executivo.91
O inadimplemento do devedor é requisito que revela o
interesse de agir do credor. Não se encontrando o devedor inadimplente com o
cumprimento da obrigação, não há conflito de interesses a ser solucionado
através da intervenção do representante do Poder Judiciário.92
O adimplemento da obrigação pelo devedor é fato que pode
ocorrer logo após a instauração da execução, independentemente
da citação ou da intimação operada na pessoa do executado,
impondo a extinção da execução pela satisfação da obrigação,
conforme artigo 581 do CPC, não se afastando a obrigação do
devedor de efetuar o pagamento das custas processuais e dos
89
LIEBMAN, Enrico Tullio apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159.
90 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues. Execução trabalhista. p. 54.
91 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 180.
92 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie e processo de execução. p. 270.
25
honorários advocatícios, por ter dado causa à postulação
(princípio da causalidade), no caso de ter sido citado.93
Relaciona-se a idéia de inadimplemento com a de
exigibilidade da prestação, de maneira que, enquanto não vencido o débito, não
se pode falar em descumprimento da obrigação do devedor. Ciente dessa
verdade, ensina Lopes da Costa que para a execução, torna-se necessário que:
a) exista o título executivo; e b) que a obrigação esteja vencida.94
Em outras palavras, a exigibilidade do título se dá quando o
devedor configura-se em mora, que pode ser qualificada como a inércia
injustificada do mesmo de cumprir a obrigação à qual se encontra atado, tendo
índole evidentemente culposa.95
O Código de Processo Civil concebe a execução ora fundada em
título judicial, ora fundada em título executivo extrajudicial. Título
exigível é aquele que não foi resgatado no prazo estipulado para o
pagamento, [...] não depende do implemento de termo ou
condição, nem está sujeito a outras limitações, assim, temos
presente o requisito da exigibilidade.96
Assim, torna-se evidente que sem o vencimento da dívida,
seja normal ou extraordinário, não ocorre a sua exigibilidade. E não sendo
exigível a obrigação, o credor carece da ação executiva, pois conforme o artigo
586 do CPC:
A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em
título de obrigação certa, líquida e exigível.97
93
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 271.
94 COSTA, Lopes da apud THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil.
p. 159
95 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie e processo de execução. p. 271.
96 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução trabalhista. p. 54
97 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
26
O inadimplemento pressupõe uma situação de inércia
culposa do devedor. Por isso mesmo, se ocorre o cumprimento voluntário da
obrigação pelo devedor, o credor não poderá iniciar a execução.98
Com base no artigo 794, I, CPC, mesmo que já tenha tido
início a execução forçada, caberá sempre ao devedor o direito de fazer cessar a
sujeição processual através do pagamento da dívida, que é, invariavelmente, fato
extintivo do processo executivo.99
Não há, todavia, necessidade de produzir-se prova do
inadimplemento junto com a inicial, o transcurso do prazo da
citação sem o cumprimento da obrigação, como forma de
interpelação judicial, é a mais enérgica e convincente
demonstração da mora do devedor. Além do mais, a simples
verificação, no título, de que já ocorreu o vencimento é a prova
suficiente para abertura da execução. Ao devedor é que incumbe
o ônus da prova em contrário, isto é, a demonstração de que
inocorreu o inadimplemento, o que deverá ser alegado e provado
em embargos à execução (arts. 741, inc. VI, e 745), ou em
impugnação ao cumprimento da sentença (art. 475-L, inc. VI).100
Da citação acima, percebe-se que, o ônus de demonstrar o
adimplemento da obrigação é do devedor, não se exigindo do credor que traga
aos autos documentação demonstrando não ter sido a obrigação cumprida pelo
devedor no prazo do seu vencimento, presumindo-se o inadimplemento através
da só declaração do credor e da fluência da data de vencimento prevista no
próprio título.
Salvo a excepcional possibilidade da execução provisória, em
matéria de sentença (título executivo judicial), só se pode falar em
inadimplemento após o trânsito em julgado e a liquidação da
condenação, se for o caso.101
98
ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução trabalhista. p. 54.
99 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159
100 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução trabalhista. p. 54.
101 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159.
27
Na hipótese de o cumprimento estar sujeito a termo ou a
condição, como se dá, por exemplo, com nota promissória ainda não vencida,
percebe-se que o título ainda não é exigível, e que a postura do credor de
ingressar com a ação judicial revela a impossibilidade de sujeição dos bens do
executado à penhora, que se mostraria como medida judicial descabida. Neste
caso que o recebimento da petição inicial da ação de execução deve passar pelo
apurado crivo do magistrado, observando o preenchimento (ou não) dos
requisitos gerais e específicos da postulação.102
Por fim, os requisitos analisados não são alternativos, mas
conjugados, de modo que a ação de execução ou o cumprimento de sentença
devem apresentar título extrajudicial ou judicial, respectivamente, a demonstração
do inadimplemento do devedor e consequentemente, a exigibilidade do título para
que assim o Estado possa tutelar os direitos dos sujeitos da relação
processual.103
102
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 258.
103 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie e processo de execução. p. 273.
CAPÍTULO 2
PROCEDIMENTOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA
2.1 TÍTULOS EXECUTIVOS – CARACTERÍSTICAS
Não é todo título que enseja a execução. Não basta a
regularidade da forma, para que o título tenha força executiva. Além dos
requisitos formais, que estão definidos em lei, como a assinatura de duas
testemunhas em documento particular etc., há também os substanciais, que lhe
dão força de executividade: a liquidez (o título deve estar calculado), a certeza
(que não haja dúvidas sobre a existência do título), e a exigibilidade (que do título
se possa verificar o inadimplemento do devedor).104
Como prevê o art. 586 do CPC:
A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em
título de obrigação certa, líquida e exigível.105
O título executivo com os requisitos legais consiste no
fundamento jurídico que permite o credor movimentar os instrumentos coativos de
que dispõe o Estado-juiz para obter a satisfação do seu direito, quando
manifestada resistência do devedor ao cumprimento da obrigação.106
104
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo cautelar. p. 8/9.
105 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
106 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 258.
29
2.1.1 Da certeza
Houve uma preocupação técnica do legislador em, primeiro,
referir-se à certeza e, depois, à liquidez e exigibilidade, já que, na verdade, a
indagação sobre a certeza da dívida deve antecipar a dos demais requisitos.107
A certeza do título ocorre quando não há controvérsia com
relação à sua existência, de maneira tal que não deixe dúvida, pelo menos
aparente, de obrigação que deva ser cumprida, pelo que se revela em sua
realidade formal.108
Conforme leciona Misael Montenegro Filho:
A incerteza de que se reveste o documento denota a necessidade
de melhor investigação do negócio jurídico que ensejou a sua
formação, reclamando instrução probatória, não merecendo o
trato privilegiado emprestado aos títulos acolhidos pela lei como
executivos judiciais ou extrajudiciais, sabido que a necessidade de
investigação dos contornos do negócio jurídico remete-nos ao
processo de cognição, para a plena análise de fatos, afastando-
nos da execução.109
Não está a certeza, portanto, no plano da vontade ulterior
das partes, mas na convicção que o órgão judicial tem de formar diante do
documento que lhe é exibido pelo credor.110
2.1.2 Da liquidez
Dá-se a liquidez, se o título determina a importância da
prestação. A liquidez existe quando o objeto do título está devidamente
determinado.111
107
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo cautelar. p. 10.
108 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 260.
109 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie e processo de execução. p. 283.
110 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 157.
30
Nas palavras de Ernane Fidélis dos Santos:
Se for, por exemplo, importância em dinheiro, deverá, no título,
estabelecer-se o quantum certo. Se, no documento público ou
particular assinado por duas testemunhas, consta dívida de R$
500.000,00, há liquidez. Se o documento, porém, estabelece valor
a ser apurado por arbitramento ou que, de uma forma ou de outra,
deva ser apurado, não há liquidez, devendo a parte socorrer-se do
processo de conhecimento. Ilíquido não é o título quando a
importância decorrer de simples dedução aritmética ou de
substituição de valores devidamente estabelecidos no sistema
econômico nacional ou daqueles que tenham cotação oficial. Não
é ilíquido o documento formalizado que estabelece, por exemplo,
o pagamento de x sacas de café, determinado de acordo com a
cotação da bolsa.112
Também há liquidez quando o quantum se apura por mera
dedução, ou, tratando-se de acessórios móveis, são apuráveis também no
momento do pagamento. É o que ocorre com os juros e a correção monetária.113
Nas obrigações de entrega de coisa e de prestação de fato,
o objeto também deve ser determinado. A coisa deve estar caracterizada em
todos os seus elementos, e o fato a ser prestado deve ser individuado: construir
um muro de tal extensão e altura etc. Na abstenção de fato, a liquidez se revela
pela determinação exata do que a pessoa não deva fazer: não funcionar
determinada máquina após determinada hora etc.114
Não se encontrando perfeitamente delimitado no título o objeto da
prestação de direito material a ser satisfeita pelo devedor,
necessário que se promova à liquidação da obrigação, situação
específica dos títulos judiciais, a fim de que seja proferida a
decisão que atribua ao título executivo o requisito faltante
(liquidez), qualificando-se como decisão complementar, atando-se
111
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 261.
112 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 11.
113 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 157.
114 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 11.
31
ao documento que já exprimia os atributos da certeza e da
exigibilidade.115
Das citações supra verifica-se que é um requisito do título a
sua liquidez, de maneira que se o mesmo não se apresentar líquido, deve-se
proceder a sua liquidação, caso contrário, não será documento hábil para exercer
o direito.
2.1.3 Da exigibilidade
A exigibilidade do título ocorre a partir do momento em que
encontra-se configurada a mora, qualificando-se como a inércia injustificada do
devedor de cumprir a obrigação a qual encontra-se atado, tendo índole
evidentemente culposa.116
De acordo com o art. 580, do CPC:
A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a
obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título
executivo.117
Então, no processo do trabalho, nos moldes do processo
civil o título executivo é a base da execução, o documento que dá direito à ela; o
limite da execução, pois a execução ocorre dentro dos limites deste título, ele
define a execução, é condição necessária e eficiente para que se possa promover
a execução.118
Entende-se do artigo 580, do CPC, acima citado, que se o
pagamento do título não depende do implemento de termo ou condição, nem está
sujeito a outras limitações, e o devedor, ainda assim, não cumpriu com sua
obrigação, tem-se presente o requisito da exigibilidade.
115
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 277.
116 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 159.
117 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
118 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 263.
32
De modo geral, a exigibilidade nasce com o vencimento da
dívida, e significa que o credor pode reclamar a correspondente contraprestação
do devedor. Registra-se ainda, que o não-preenchimento de qualquer dos
requisitos acima alinhados impõe a extinção da execução sem a resolução do
mérito, em face do reconhecimento da carência de ação, concluindo-se pela falta
de interesse do credor em vista: a) da ausência de conflito de interesses a ser
dirimido; ou b) da inadequação da via eleita.119
2.2 COMPETÊNCIA E LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA
Para iniciar o tema competência, faz-se mister verificar o
conceito de jurisdição, que, segundo a etimologia do vocábulo (iuris + dictio),
traduz o poder-dever que as leis outorgam aos magistrados para efeito de
solucionarem os conflitos de interesses submetidos ao seu conhecimento,
dizendo, por esta forma, com quem está o direito.120
Embora todos os juízes possuam, por princípio jurisdição, a
afirmativa perde a sua veracidade quando dirigida à competência.
Efetivamente, em certos casos, por força de critérios adotados
pelo legislador, o juiz, a despeito de possuir jurisdição, fica
desapercebido de competência, de tal sorte que se pode conceber
a regra segundo a qual em toda competência há jurisdição,
conquanto nem toda jurisdição implique competência.121
Já sobre legitimidade, de um modo bem simples pode-se
dizer que parte, na execução, é a pessoa que pode promover e contra a qual
pode ser promovida a execução. Como ocorre no processo de conhecimento, há
no processo de execução partes antagônicas, exequente e executado, vale dizer,
credor e devedor, sujeitos, portanto, tal como ocorre com o autor e o réu, aos
requisitos de legitimidade ad causam e ad processum.122
119
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. p. 281.
120 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 161
121 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 161.
122 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Processo de execução. Disponível em:
<http://www.fmd.pucminas.br/Virtuajus/ano2_2/execucao%20Trabalhista.pdf>. Acesso em: 11 jan
33
Adentrar-se-á agora aos temas especificamente.
2.2.1 Competência na execução trabalhista
Dispõe o art. 877 da CLT que:
É competente para a execução das decisões o juiz ou presidente
do Tribunal que tiver conciliado ou julgado originariamente o
dissídio.123
A primeira norma trata da competência para a hipótese da
execução que se escora em título executivo judicial, assim, é competente para
processar a execução o juiz da vara do trabalho que julgou originariamente a
ação no processo de conhecimento; ou o presidente do TRT ou do TST, para as
causas em que a competência originária para o processo de conhecimento for do
respectivo tribunal.124
E ainda, o art. 877-A, também da CLT, prevê que:
É competente para a execução de título executivo extrajudicial o
juiz que teria competência para o processo de conhecimento
relativo à matéria.125
Cabe aqui trazer o esclarecimento de Sérgio Pinto Martins a
respeito da expressão utilizada pelo legislador:
A expressão “o juiz” a que se refere o artigo é tanto referente ao
juiz presidente da Vara ou ao substituto, como o juiz de direito,
que naturalmente atua sozinho, monocraticamente. É o juiz de
primeira instância. A referência ao presidente do tribunal refere-se
aos processos de competência originária do tribunal, como de
dissídio coletivo, para pagamento de custas, de ação rescisória,
para o cumprimento do acórdão, etc. A execução dos processos
2010.
123 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
124 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. p. 139.
125 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
34
de competência originária do tribunal será feita perante o juiz
presidente do tribunal.126
É importante notar, outrossim, que a competência para a
execução e liquidação, nas ações coletivas, inclusive as ações civis públicas, para
tutela de interesses individuais homogêneos possui regramento próprio no Código
de Defesa do Consumidor127, sendo, pois, inaplicável, em tais casos, a
sistemática do CPC e da CLT.128
2.2.2 Legitimidade ativa na execução trabalhista
No que se relaciona com a regra geral de legitimação ativa,
o critério é o de atribuí-la sempre ao credor que configure como tal no título
executivo. Mas, subsidiariamente ao processo de conhecimento, são também
adotados os casos de legitimação anômala, ou substituição processual, quando a
lei o permitir.129
Dispõe o art. 878 da CLT:
A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex
officio pelo próprio juiz ou presidente ou Tribunal competente, [...].
Parágrafo único: Quando se tratar de decisão dos Tribunais
Regionais, a execução poderá ser promovida pela Procuradoria
da Justiça do Trabalho.130
Portanto, as opções para se iniciar uma execução são as
seguintes: de ofício pelo próprio juiz ou Tribunal competente, pela Procuradoria
Regional do Trabalho, quando a decisão é do TRT em processos de sua
competência originária, ou, qualquer interessado.
126
MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 926.
127 A partir deste momento usar-se-á a sigla CDC.
128 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 818.
129 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 63
130 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
35
O juiz deve promover, não apenas iniciar a execução,
principalmente, quando em decorrência do jus postulandi, o empregado estiver
desassistido de advogado, exceto se, em dado momento, a atuação da parte for
indispensável, cuidando sempre para se manter imparcial.131
No que tange à expressão “qualquer interessado”, prevista no art.
878 da CLT, aplica-se subsidiariamente o disposto no art. 567, I
do CPC, neste caso, o espólio, os herdeiros, e os sucessores. Os
incisos subseqüente, II e III (o cessionário e o sub-rogado) não
são utilizados no processo do trabalho em função da natureza
personalíssima, no tocante ao trabalhador, da relação de
emprego, sem falar no problema da competência da Justiça do
Trabalho em razão das pessoas, uma vez que ingressará na
relação jurídica processual alguém que não é sujeito da relação
jurídica material correspondente.132
O Ministério Público do trabalho também é legitimado para
promover a execução trabalhista, nas hipóteses em que atuou como parte no
processo, ou fase de conhecimento, seja na primeira instância, por exemplo, ação
civil pública, seja na segunda instância, por exemplo, ação rescisória. Nos casos
em que o promotor laboral atuou como órgão interveniente, custos legis, a sua
legitimação ficará condicionada à existência de interesse público que justifique a
sua iniciativa, como, por exemplo, na defesa dos interesses de incapazes ou de
indígenas etc. Tratando-se de execução do termo de compromisso de
ajustamento de conduta firmado perante o Ministério Público do Trabalho, este
detém a legitimação exclusiva para promover a execução dessa espécie de título
executivo extrajudicial.133
Dispõe o art. 12, V e § 1º do CPC:
Serão representados em juízo, ativa e passivamente: [...] V – o
espólio, pelo inventariante; [...]. § 1º. Quando o inventariante for
131
ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. p. 136.
132 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 848
133 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 848
36
dativo, todos os herdeiros e sucessores do falecido serão autores
ou réus nas ações em que o espólio for parte.134
O direito de exigir o cumprimento da obrigação não se
extingue, portanto, com a morte do seu titular; o requisito fundamental é o de que,
em virtude da morte do credor, seja transmitido ao espólio, aos herdeiros ou aos
sucessores o direito proveniente do título executivo.
O espólio não tem personalidade jurídica, mas tem
capacidade de ser parte, podendo demandar e ser demandado, até que se ultime
a partilha dos bens. Se a execução estiver em andamento, o espólio nela pode
prosseguir independentemente de habilitação, conforme disposto no art. 43 do
CPC.135
Segundo autorização do art. 567, I, CPC:
O espólio, os herdeiros ou sucessores do credor, sempre que, por
morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título
executivo.136
Não há problemas, no caso de que todos ingressem em
juízo, sejam eles legítimos ou testamentários, pois a co-titularidade de direitos
permite que qualquer herdeiro, individualmente, reclame a universalidade da
herança e, em conseqüência, a dívida toda, sem que o devedor possa opor-lhe,
em embargos, o caráter parcial de seu direito. No caso de o espólio promover a
execução, ou nela se habilitar, o herdeiro poderá ingressar no feito, como
assistente litisconsorcial. O viúvo-meeiro ou a viúva-meeira, em razão da co-
titularidade do direito, pode também promover a execução ou nela prosseguir.137
O advogado da entidade sindical que estiver ministrando
assistência, quando o autor recebe o benefício da assistência
judiciária gratuita, estará legitimado a promover, nos mesmos
134
BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
135 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 63
136 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
137 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. p. 63
37
autos, a execução dos honorários a cujo pagamento o devedor foi
condenado, desde que a eles faça referência o título executivo.138
Para encerrar este tópico, convém lembrar o disposto no art.
878-A da CLT:
Faculta-se ao devedor o pagamento imediato da parte que
entender devida à Previdência Social, sem prejuízo da cobrança
de eventuais diferenças encontradas na execução ex officio.139
Neste caso, o próprio devedor também tem a legitimidade
ativa, e poderá dar início à execução, posicionando-se como exeqüente.
2.2.3 Legitimidade passiva na execução trabalhista
Entende-se como devedor a pessoa legalmente legitimada a
responder à execução. Dessa forma, o problema relativo à legitimação passiva
contém implícita a necessidade de se definir contra quem a execução deve ser
realizada. A execução trabalhista dirige-se contra o réu ou réus condenados na
sentença e nela identificados, sejam principais, solidários ou subsidiários, ou,
contra aquele disposto no título extrajudicial.140
Quando há duas ou mais pessoas sobre cujo patrimônio
possa incidir a sentença, ou seja, a decisão possa ser executada, o exeqüente
pode promover a execução contra todas, simultaneamente, ou contra cada uma,
sucessivamente.141
O que não se pode é proceder à execução contra quem não
integrou a relação processual, na fase de conhecimento, conforme a orientação
do Enunciado nº. 205, do TST, que diz:
“O responsável solidário, integrante do grupo econômico, que não
participou da relação processual como reclamado e que, portanto,
138
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Execução no processo do trabalho. p. 143
139 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
140 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Execução no processo do trabalho. p. 143.
141 ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. 7. ed. São Paulo: RT, 2001, p. 117
38
não consta do título executivo judicial como devedor, não pode ser
sujeito passivo na execução”.142
Conquanto o empregador possa ser pessoa física, ele se
apresenta, comumente, sob a forma de pessoa jurídica, salvo exceções, é esse
mesmo empregador quem, tendo sido parte no processo de conhecimento, será
na fase de execução, [...].143
O que foi exposto relativamente ao espólio, aos herdeiros e
aos sucessores, quando da legitimação ativa, aplica-se da mesma forma à
passiva.144
2.3 LIQUIDAÇÃO DO TÍTULO EXECUTIVO
Há vários conceitos para o instituto da liquidação de
sentença, porém, na seara trabalhista, segundo Manoel Antônio Teixeira Filho, a
liquidação é:
A fase preparatória da execução, em que um ou mais atos são
praticados, por uma ou por ambas as partes, com a finalidade de
estabelecer o valor da condenação ou de individuar o objeto da
obrigação, mediante a utilização, quando necessário, dos diversos
modos de prova admitidos em lei.145
E esse juslaborista é seguido por José Augusto Rodrigues
Pinto, que advoga ser a liquidação de sentença “Um módulo preparatório da
contrição judicial, cuja realização só encontra razão de ser, precisamente, na
liquidez do título de certificação do direito”.146
142
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Enunciados do TST. Vade mecum. São Paulo: Revista dos tribunais, 2009.
143 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 143-144.
144 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 95
145 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 336
146 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 96
39
Assim sendo, nem todas as sentenças que reconhecem
obrigação de pagar encontram-se quantificadas a ponto de permitirem, desde
logo, à execução.147
Dispõe o art. 475-A, do CPC:
Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à
sua liquidação.148
Portanto, sendo ilíquida a condenação, a parte terá que
promover, antes de iniciar a execução, a sua liquidação.
A rigor, não é a sentença que é liquidada, e sim o comando
obrigacional contido no seu dispositivo. De outra maneira, as sentenças
condenatórias, via de regra, tornam certo apenas o débito, cabendo à liquidação a
fixação do quanto devido.149
O artigo 879 da CLT apresenta as formas possíveis de
liquidação de sentença, quais sejam, cálculo, arbitramento ou artigos. Sobre este
assunto, ensina Carlos Henrique Bezerra Leite que:
É permitida a cumulação de duas ou mais espécies de liquidação,
ou seja, é possível que a sentença condenatória contenha
diversas partes ilíquidas, caso em que é possível, por exemplo,
que uma parte seja liquidada por cálculo, outra por artigo etc.150
E, novamente, o art. 879 da CLT deixa claro que a
liquidação constitui simples procedimento prévio da execução, ao prescrever que:
Sendo ilíquida a sentença exeqüenda, ordenar-se-á, previamente,
a sua liquidação.151
147
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 783.
148 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
149 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 784
150 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 784
151 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
40
Por isso, não é a liquidação um processo autônomo, é
apenas uma fase. Prevê, ainda, o §1º do mesmo artigo, que:
Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença
liquidanda, nem discutir matéria pertinente à causa principal.152
Sendo assim, a liquidação de sentença tem natureza jurídica
declaratória, pois apenas irá quantificar o valor total devido; não irá modificar ou
extinguir relações, por isso não é constitutiva.153
Com base no art. 475 - I, § 2º, do CPC:
Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao
credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e,
em autos apartados, a liquidação desta.154
Deste modo, pode o exeqüente solicitar a extração da carta
de sentença, para promover, desde logo, a execução da parte líquida, enquanto
promove a liquidação da parte ilíquida.
Agora, as três espécies de liquidação do processo
trabalhista individual.
2.3.1 Liquidação por cálculo
A liquidação de sentença por cálculos é a forma mais
utilizada, se faz quando os elementos já estão nos autos, basta calcular.155
Conforme dispõe o art. 879, § 1º - B, da CLT:
As partes deverão ser previamente intimadas para a apresentação
do cálculo de liquidação, inclusive da contribuição previdenciária
incidente.156
152
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
153 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 785.
154 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
155 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 508.
41
Neste caso, o próprio credor solicita a liquidação por cálculo,
instruindo, desde logo, a petição com a memória discriminada e atualizada dos
valores que entender ser deles credor. Ou, se as partes não apresentarem, os
cálculos de liquidação, o juiz determinará que o auxiliar encarregado elabore os
cálculos, fulcro no § 3º do art. 879, que prevê a possibilidade de a conta ser
elaborada pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho.157
Com base na súmula 211 do TST, os juros de mora e a
correção monetária incluem-se na liquidação, ainda que omisso o pedido inicial ou
a condenação; a saber:
Os juros de mora e a correção monetária incluem-se na
liquidação, ainda que omisso o pedido inicial e a condenação.158
Nas palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite:
Além dos juros e da atualização monetária, também podem ser
objeto da liquidação de sentença por simples cálculo as verbas
trabalhistas específicas da condenação, cujo quantum não
necessita de um expert ou de provar fato novo, como, por
exemplo, as parcelas rescisórias, as férias e o décimo terceiro
salário proporcionais, as horas extras, o saldo de salários etc.159
Em se tratando de liquidação por cálculo, se a parte não
propuser o cálculo, bastará a determinação judicial para que se inicie o
procedimento de liquidação. Elaborada a conta pelo contador, o juiz poderá abrir
às partes o prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada,
sob pena de preclusão.160
De acordo com entendimento do art. 879, §3º, da CLT:
156
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
157 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 360/361.
158 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Súmulas do TST. Vade mecum. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009.
159 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 791
160 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 510.
42
Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça
do Trabalho, o juiz procederá à intimação da União para
manifestação, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de
preclusão.161
Assim, após o contador elaborar a conta de liquidação, o juiz
deverá intimar a União para manifestação, no prazo de dez dias, sob pena de
preclusão.
2.3.2 Liquidação por arbitramento
Tendo em vista a lacuna normativa da CLT, impõe-se a
aplicação do art. 475-C do CPC, segundo o qual a liquidação por arbitramento
pode ocorrer quando determinado pela sentença; convencionado pelas partes ou
o exigir a natureza do objeto da liquidação.162
Não há confundir arbitragem com perícia, pois, como bem
salienta Wagner D. Giglio:
Na liquidação por arbitramento, as partes não têm a faculdade de
nomear assistentes, tampouco de formular quesitos, por absoluta
falta de previsão legal. Já a perícia é meio de prova, e não forma
de liquidar a sentença.163
A liquidação por arbitramento admite o seu processamento
ex officio.164
O árbitro, portanto, é único, sendo livremente nomeado pelo
juiz, cabendo-lhe apenas estimar o valor, em dinheiro, dos direitos assegurados
pela sentença ao exeqüente, agindo, assim, como se fosse um avaliador.165
O artigo 475 – D, parágrafo único dispõe:
161
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
162 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 795.
163 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 511.
164 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 788.
165 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 797.
43
Apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes manifestar-
se no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá decisão ou designará,
se necessário, audiência.
Deste modo, percebe-se que apresentado o laudo, terão as
partes o prazo de 10 dias para manifestar-se. Em seguida o juiz poderá: proferir,
desde logo, a sentença; determinar a elaboração de novo laudo, nomeando o
mesmo ou outro árbitro ou designar audiência de instrução e julgamento, para
que nela o árbitro preste esclarecimentos.
No arbitramento os elementos necessários à liquidação não
estão nos autos, então é necessário um técnico para avaliá-los ou obtê-los. No
Processo do Trabalho é utilizado, via de regra, para se apurar salário utilidade ou
in natura.166
2.3.3 Liquidação por artigos
A liquidação por artigos utiliza-se quando há necessidade de
se provar fato novo, que não está nos autos, porém, não é qualquer fato, somente
aquele que influenciará na determinação do quantum da condenação.167
Nas palavras de José Augusto Rodrigues Pinto, fato novo é:
Na verdade, o conceito de fato novo é impróprio, pois todo fato
que se tente investigar na liquidação implicará alteração dos
limites da coisa julgada, expressamente proibida no § 1º do art.
879 da CLT. O que realmente ocorre é a presença de um fato cuja
existência já é reconhecida pela sentença (logo, não é novo), mas
incompletamente investigado, de modo a faltar algo, ainda, de sua
exata dimensão. A investigação que se faz é apenas
complementar da intensidade com que o fato contribui para a
quantificação do crédito a ser exigido.168
Nos artigos de liquidação, busca-se, portanto, a fixação do
valor da dívida, não a existência da dívida, porque isso, já ficou esclarecido no
166
GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 511
167 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 799.
168 PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. p. 120
44
processo de conhecimento; porém, constitui-se uma verdadeira reabertura do
processo de conhecimento na fase de execução.169
Determina o art. 475-F do CPC que:
Na liquidação por artigos, observar-se-á, no que couber, o
procedimento comum (art. 272).170
Assim, será regulado no livro I, que é destinado ao processo
de conhecimento.
A sua instauração depende de iniciativa do credor, mediante
petição escrita, ou verbal, reduzida a termo, facultando-se ao juiz, contudo,
determinar a sua intimação para que apresente os seus artigos de liquidação, ou
seja, os fatos a serem provados e os respectivos meios de prova.171
É importante assinalar que os fatos novos que serão objetos
da liquidação por artigos visam à fixação do quantum já decidido por sentença no
processo de cognição, uma vez que nesse incidente processual à execução é
vedado modificar ou inovar a sentença exeqüenda, nem discutir as matérias e
questões pertinentes à lide principal cobertas pela coisa julgada.172
169
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 375.
170 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
171 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 789
172 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 799
45
CAPÍTULO 3
A PENHORA ON LINE NA JUSTIÇA LABORAL X PRINCÍPIOS DA
EXECUÇÃO TRABALHISTA
3.1 CITAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL
Dispõe o art. 880, da CLT, que:
Art. 880. Requerida a execução, o juiz ou presidente do tribunal
mandará expedir mandado de citação do executado, a fim de que
cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as
cominações estabelecidas ou, quando se tratar de pagamento em
dinheiro, inclusive de contribuições sociais devidas à União, para
que o faça em 48 (quarenta e oito) horas ou garanta a execução,
sob pena de penhora.173
Percebe-se então que, fixado, na sentença de liquidação, o
quantum debeatur, o executado é citado pessoalmente, através de oficial de
justiça, para pagar, espontaneamente, em 48 horas o débito judicial trabalhista,
ou garantir a execução, caso pretenda opor embargos, sob pena de penhora.
Este mandado é chamado de mandado CPA, (citação,
penhora e avaliação), e conterá a transcrição da sentença exeqüenda ou do
acordo ou ajuste não cumprido, conforme art. 880, §1º da CLT.174
Porém, ensina Wagner D. Giglio que “Na prática, diante do
grande número de processos e da necessidade de ganhar tempo, costuma-se
sintetizar o mandado, transcrevendo-se nele apenas a parte dispositiva da
173
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
174 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 548
46
decisão. Esse comportamento tem sido aceito como válido, vez que não acarreta
prejuízo ao executado, e sem prejuízo não há nulidade.”175
Isto, porque um dos princípios informadores do processo de
execução é o da celeridade, tendo em vista a natureza alimentar das verbas
decorrentes do trabalho.
Sobre a citação supra, afirma Sergio Pinto Martins: “Não se
diz aqui que ela deve ser pessoal. O importante é a citação ser feita no endereço
do executado.”176
O mandado terá duas vias, uma via será assinada pelo
executado e entregue à secretaria do juízo, e a outra via ficará como cópia e será
entregue ao executado. Se a parte não quiser receber a citação, o oficial
certificará, e o ato processual será considerado válido.177
Na execução trabalhista não há execução por hora certa. Se
o devedor, procurado por duas vezes no espaço de 48 horas, não for encontrado,
deverá o oficial de justiça certificar cumpridas as diligências feitas com o objetivo
de localizá-lo e devolver, em seguida, o mandado à secretaria do juízo. Isto feito,
o devedor será citado por edital, publicado no jornal oficial ou, na falta deste,
afixado na sede do juízo, durante cinco dias conforme referência do art. 880, §3º,
da CLT.178
A execução contra a Fazenda Pública não é feita como em
relação a qualquer outro devedor. Deverá a fazenda ser citada não para pagar a
dívida ou oferecer bens a penhora, mas para embargar, se o desejar, pois seus
bens são impenhoráveis.179
175
GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 548
176 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 933
177 ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Processo de execução. Disponível em:
<http://www.fmd.pucminas.br/Virtuajus/ano2_2/execucao%20Trabalhista.pdf>. Acesso em: 11 jan 2010.
178 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 432
179 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 934
47
Com relação às últimas mudanças do processo civil que
repercutiram no processo trabalhista comenta Luciano Athayde Chaves:
O art. 880 da CLT ainda conserva a superada idéia da autonomia
do processo de execução, na medida em que alude à
necessidade de expedição de „mandado de citação ao executado,
a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo‟. [...] Não faz
sentido algum se manter o intérprete fiel ao disposto no art. 880
da CLT enquanto o processo comum dispõe, agora, de uma
estrutura que superou a exigência de nova citação para que se
faça cumprir decisões judiciais, expressando, assim, maior
sintonia com as idéias de celeridade, economia e efetividade
processuais. [...] Também temos que considerar a enorme
economia dos serviços judiciários, porquanto dispensada a
confecção de mandados citatórios e, mais do que isso, a diligência
pessoal do oficial de justiça para a citação do executado,
providência complexa que envolve grande desperdício de tempo,
sem falar nos inúmeros casos de ausência do executado para
receber a citação, desaguando o feito na morosa providência da
citação por edital.180
Assim, já é a situação mais corriqueira na atualidade o
cumprimento de sentença, promovido de ofício pelo juiz, ou a requerimento das
partes, sendo certo que em qualquer hipótese o devedor não será mais citado, e
sim intimado na pessoa de seu advogado. Apenas na hipótese de ius postulandi,
a sua intimação será feita pelo correio ou por mandado.181
3.2 ATUAÇÃO DO EXECUTADO NA JUSTIÇA LABORAL
Diante deste mandado o executado pode, alternativamente,
adotar uma das quatro posturas, com as correspondentes conseqüências
processuais, que veremos mais especificamente a seguir: a) pagar a dívida; b)
garantir o juízo depositando a importância da execução; c) garantir o juízo
nomeando bens à penhora; ou d) manter-se inerte.182
180
CHAVES, Luciano Athayde. A recente reforma no processo: reflexos no direito judiciário do trabalho. São Paulo: LTr, 2006. p. 55.
181 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 820
182 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549/550.
48
3.2.1 Pagamento
O pagamento deve seguir as orientações do art. 881 da
CLT, nos seguintes termos:
Art. 881 - No caso de pagamento da importância reclamada, será
este feito perante o escrivão ou secretário, lavrando-se termo de
quitação, em duas vias, assinadas pelo exeqüente, pelo
executado e pelo mesmo escrivão ou secretário, entregando-se a
segunda via ao executado e juntando-se a outra ao processo.183
Portanto, a secretaria lavra o termo de quitação, em duas
vias, sendo uma juntada ao processo e outra ficando com o executado, como
prova do pagamento.
De acordo com o parágrafo único do artigo 881, da CLT:
Não estando presente o exeqüente, será depositada a
importância, mediante guia, em estabelecimento oficial de crédito
ou, em falta deste, em estabelecimento bancário idôneo.184
Assim, quando o exeqüente não comparece à secretaria da
Vara do Trabalho para receber, o executado deve fazer o recolhimento da quantia
devida mediante depósito.
Por estabelecimento oficial de crédito quer a lei significar,
apesar de não ser clara nesse sentido, o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica
Federal; apenas se estes inexistirem poderá ser feito em qualquer outro banco.185
Normalmente, o procedimento descrito no parágrafo único
do art. 881 da CLT, é utilizado também em casos de acordo; não estando
183
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
184 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
185 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549.
49
presente o exeqüente, nos casos em que o juiz determinou dia e hora para o
pagamento, há o depósito da importância no banco.186
O depósito da importância poderá ter duas finalidades, a
primeira é para o pagamento efetivo e a segunda para garantir o juízo, conforme
analisaremos adiante.187
O pagamento em 48 horas deve abranger a dívida
trabalhista e as contribuições previdenciárias. 188
3.2.2 Depósito da condenação e nomeação de bens
Se o executado pretender discutir a execução, poderá opor
embargos, devendo para tanto, garantir o juízo efetuando o depósito da quantia
devida, acrescida de juros, correção monetária e outras despesas processuais,
com a ressalva que se trata de garantia do juízo para oposição de embargos à
execução, uma vez que a ausência de ressalva pode ensejar o entendimento de
que houve simples pagamento, nos termos do item anterior; ou, quando não tiver
condições financeiras de pagar imediatamente o débito judicial trabalhista,
oferecer bens à penhora, com a indicação de seus valores, sempre dentro do
mesmo prazo de 48 horas, de acordo com o art. 882 da CLT.189
Art. 882 - O executado que não pagar a importância reclamada
poderá garantir a execução mediante depósito da mesma,
atualizada e acrescida das despesas processuais, ou nomeando
bens à penhora, observada a ordem preferencial estabelecida no
art. 655 do Código Processual Civil.190
De acordo com os ensinamentos de Sérgio Pinto Martins
“Não é mais possível depositar o valor singelo da condenação, pois é preciso que
186
MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 935.
187 MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 935.
188 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 431.
189 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 842.
190 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
50
o pagamento da condenação seja atualizado, inclusive acrescido de juros e
despesas processuais.”191
Percebe-se então, que os bens penhoráveis não poderão
ser indicados pelo devedor apenas para garantir o valor principal, mas o principal,
a atualização monetária e os juros, além das despesas processuais, garantindo-
se, assim, toda a execução.
Salvo se houver anuência do exeqüente, a nomeação de
bens não será aceita se for desobedecida a ordem preferencial estabelecida pelo
art. 655 do Código de Processo Civil, como determina expressamente o art. 882
da CLT.192
A nomeação de bens pelo executado também poderá ser
recusada se não versar sobre bens designados em lei, contrato ou
ato judicial para o pagamento; se, havendo bens no foro da
execução, forem indicados outros, situados em foro diverso; se,
havendo bens livres e desembaraçados, forem nomeados bens
gravados; se os indicados forem insuficientes para garantir a
execução; e se o valor dos bens não for indicado, conforme art.
656, CPC.193
Ainda, no parágrafo único do artigo 656, do CPC:
Aceita a nomeação, cumpre ao devedor, dentro do prazo razoável
assinado pelo juiz, exibir a prova de propriedade dos bens e,
quando for o caso, a certidão negativa de ônus.
Eliminadas as dúvidas, a nomeação será reduzida a termo,
intimando-se o executado para vir assiná-lo como depositário, salvo se o
exequente não concordar em que os bens fiquem sob sua guarda. Nesse caso, os
bens deverão ser removidos e recolhidos ao depósito judicial. Não existindo
191
MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. p. 936.
192 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549.
193 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 549.
51
depósito judicial, o exeqüente deverá indicar depositário particular e providenciar
meios de transporte para a remoção.194
Como bem lembra o doutrinador Wagner D. Giglio “A lei nº.
6.830/80 criou duas novas formas de garantia da execução com os mesmos
efeitos da penhora, em seu art. 9º, §3º, II e IV: o oferecimento de fiança bancária
e a indicação de bens oferecidos por terceiros e aceitos pelo exeqüente.”195
O art. 882 da CLT limita a hipóteses de garantia da
execução, não havendo pagamento, à nomeação de bens à penhora e depósito
da condenação acrescida das custas. Nada obstante, a carta de fiança bancária
tem sido aceita, e a indicação de bens de terceiro se compreende no ato, não
especificado, de nomear bens à penhora. Assim, a nomeação pode ser de bens
próprios ou de terceiros, se estes os oferecerem e houver concordância do
exeqüente.196
Deve-se ressaltar que o depósito é feito em instituição
bancária mediante a respectiva guia, e deve ser realizado na totalidade da dívida,
o que inclui o principal, juros, correção, e despesas processuais.
Caso seja feita garantia do juízo por penhora, ela também
deve incluir as contribuições previdenciárias devidas.
Acrescenta ainda, Manoel Antônio Teixeira Filho que “e
qualquer modo, após o decurso das 48 horas, o devedor não mais poderá
oferecer bens à penhora, pois o decurso em branco desse prazo torna precluso o
seu direito de praticar o ato.”197
Tratando-se de penhora em bem indivisível, a meação do
cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.
194
ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Processo de execução. Disponível em: <http://www.fmd.pucminas.br/Virtuajus/ano2_2/execucao%20Trabalhista.pdf>. Acesso em: 11 jan 2010.
195 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550.
196 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550.
197 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 431.
52
3.2.3 Inércia do devedor
Se o devedor se mantiver inerte, ou seja, nem paga nem
nomeia espontaneamente bens à penhora, ou os indique sem observar a ordem
preferencial do art. 655 do CPC, ocorrerá a penhora forçada, determinada pelo
juiz ex officio. Todavia, não há óbice para que o próprio credor indique os bens à
penhora, afinal, a execução trabalhista pode ser promovida pela parte interessada
ou pelo juiz.198
No rigor do art. 883 da CLT:
Art. 883 - Não pagando o executado, nem garantindo a execução,
seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao
pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e
juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da
data em que for ajuizada a reclamação inicial.199
Os bens sujeitos à execução são tantos quantos bastem à
satisfação da condenação, portanto, atingido o valor devido, não se faz mais
penhora.200
Serão todos os bens do devedor, presentes e futuros, que
estão sujeitos à execução. Os bens particulares dos sócios, entretanto, não
respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei. Caso o
sócio seja demandado para pagamento da dívida, terá direito de exigir que sejam
executados em primeiro lugar os bens da sociedade.201
Os juros de mora incidem sobre a importância da
condenação já corrigida monetariamente à razão de 1% ao mês.202
Nas palavras de Manoel Antônio Teixeira Filho:
198
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 827.
199 BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do
trabalho. Lex: vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
200 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 474.
201 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550/551.
202 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 475.
53
Conciliando-se o art. 652 do CPC com o art. 880, §3º, da CLT,
temos que, não sendo encontrado o devedor, caberá ao oficial de
justiça: a) certificar a respeito das diligências empreendidas para
localizá-lo; b) arrestar-lhe bens em valor suficiente para solver a
obrigação; c) devolver o mandado à secretaria do juízo, para os
efeitos do art. 880, § 3º da CLT, dispensando-se as providências
de que trata o parágrafo único do art. 653 do CPC. Esgotado o
prazo do edital, o devedor terá 48 horas para cumprir a obrigação,
caso não o faça, o arresto se converterá em penhora (CPC, art.
654, parte final).203
Dessa forma, se o devedor não for encontrado nem se
manifestar a fim de cumprir sua obrigação, o oficial de justiça arrestará bens para
que se possa satisfazer o direito do credor.
3.3 A PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA
Nas palavras do doutrinador Ives Gandra da Silva Martins
Filho, a penhora é:
A manifestação mais expressiva do exercício da espada da
Justiça no âmbito civil (coerção do Direito). Através dela o Estado-
juiz investe contra os bens do executado apoderando-se de tantos
quantos sejam suficientes para pagar o exequente, podendo para
isso, utilizar-se da manu militari e chegar até o arrombamento de
imóvel do devedor, em busca dos bens passíveis de penhora.204
Segundo conceitua Wagner D. Giglio:
Penhora significa apreensão judicial de determinados bens do
executado, para que, transformados em dinheiro com a venda em
praça ou leilão (salvo o caso de recair sobre dinheiro, adjudicados
ao exeqüente ou a ele outorgados seus rendimentos) seja
satisfeita a condenação.205
203
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 433
204 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 295
205 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 550
54
Assim, caso o devedor não pague, nem indique os bens à
penhora, ou os indique sem observar a ordem preferencial do art. 655 do CPC,
deverá incidir a regra do art. 883 da CLT, segundo a qual a penhora, no processo
do trabalho, é determinada pelo juiz ex officio. Todavia, não há óbice para que o
próprio credor indique os bens à penhora. Afinal, a execução trabalhista pode ser
promovida pela parte interessada ou pelo juiz.206
Claro está, que este procedimento da penhora comum,
demanda tempo e despesa com oficiais de justiça e outros gastos, o que vai de
encontro com o processo do trabalho, que preza pela agilidade e economia
processual, visto que as verbas trabalhistas, que são basicamente o núcleo das
ações, têm natureza salarial, e assim, alimentar. Então, o processo do trabalho
vem admitindo que o credor possa requerer (e o juiz determinar, de ofício) a
penhora on line, também chamado de bloqueio on line, do dinheiro existente em
conta bancária do devedor.207
De início, não se pode realizar a penhora sem antes
conhecer o juízo a existência do numerário. Daí a necessidade de requisitar
informações à autoridade supervisora do sistema bancário sobre os ativos
existentes em nome do executado.208
Nas palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite:
Uma das soluções encontradas, aplaudida por alguns e
recriminada por outros, foi a celebração do Convênio BACEN JUD
entre o TST e o Banco Central. Este convênio de cooperação
técnico-institucional prevê a possibilidade de o TST, o STJ e os
demais Tribunais signatários, dentro de suas respectivas áreas de
competência, encaminhar às instituições financeiras e demais
instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN ofícios
eletrônicos contendo solicitações de informações sobre a
existência de contas correntes e aplicações financeiras,
determinações de bloqueios e desbloqueios de contas,
envolvendo pessoas físicas e jurídicas clientes do Sistema
206
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 827.
207 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 827.
208 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 326.
55
Financeiro Nacional, bem como outras solicitações que vierem a
ser delineadas pelas partes.209
Firmado em 5 de março de 2002, pelo TST com o Banco
Central um convênio de cooperação técnico-institucional que criou o sistema
Bacen-Jud de penhora on line, para legalizar a penhora em contas bancárias, que
dependiam de ordens judiciais remetida por ofício aos bancos, com o bloqueio de
valores superiores aos dos créditos trabalhistas (uma vez que bloqueados
simultaneamente em várias contas o mesmo montante global da condenação).210
Pelo novo sistema, os juízes da execução podem
encaminhar ao Bacen e às instituições financeiras ofícios eletrônicos solicitando
informações sobre a existência de contas correntes e aplicações financeiras dos
executados, bem como determinações de bloqueio e desbloqueio de contas do
devedor no valor da execução, em qualquer conta corrente ou de investimento do
executado, pessoa física ou jurídica, em qualquer estabelecimento de crédito do
Brasil.211
O art. 655-A do CPC regula esta modalidade de penhora
dispondo:
Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação
financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à
autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente
por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em
nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua
indisponibilidade, até o valor indicado na execução. Parágrafo 1o.
As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou
aplicação até o valor indicado na execução.212
Nessa modalidade de penhora, havendo crédito judicial a ser
executado contra determinado devedor, o juiz da execução cadastrado no sistema
209
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 865.
210 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 296
211 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558
212 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
56
pode ter acesso, pela internet, mas em caráter sigiloso (depende de senhas), às
contas do devedor, através dos dados fornecidos pelo Bacen e bancos,
solicitando o bloqueio exato do montante da execução.213
Esclarece o Min. Vantuil Abdala:
Os usuários do sistema (exclusivamente magistrados) poderão
expedir ordens de bloqueio de numerário existente nessas contas
diretamente às instituições financeiras, de modo a satisfazer os
créditos trabalhistas dos exeqüentes. Dessa forma, ainda que as
empresas executadas não possuam bens suficientes para a
quitação de seus débitos trabalhistas, as ordens de bloqueio de
numerário disponível nas contas correntes permitirão dar
efetividade às decisões judiciais.214
Então, o Banco Central ordena, também eletronicamente, o
bloqueio, e as agências cujas contas o sofrerem enviam ofício ao juízo da
execução. Este determina a transferência dos fundos suficientes para uma conta
a sua disposição e libera o bloqueio nos demais estabelecimentos bancários.
Estes são depositários por força de lei, e tecnicamente a penhora se aperfeiçoa
no momento em que a transferência do depósito para a conta indicada pelo juízo
se realiza.215
O Provimento nº. 3/2003, da Corregedoria-Geral da Justiça
do Trabalho216, permitia que empresas com contas em várias agências
indicassem uma, para que apenas nesta fosse feito o bloqueio, comprometendo-
se a nela manter os fundos suficientes, sob pena de invalidade da indicação.217
Recentemente, em virtude da implantação da nova versão do
convênio do TST com o Banco Central do Brasil, o Ministro
Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho editou o Provimento n.
213
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 297
214 Revista Jurídica Consulex, ano VI, n. 128, 15 maio 2002, p. 14 apud BARRETO, Marco
Aurélio Aguiar. Penhora ou bloqueio on line – questões de ordem prática – necessidade de aprimoramento, Revista LTr, 68-09/1.095.
215 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558.
216 A partir deste momento usar-se-á a sigla CGJT.
217 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 866
57
6/2005 (DJU 3.11.2005), que revogou expressamente o
Provimento CGJT n. 3/2003 e estabeleceu instruções para
operacionalização da nova versão do Sistema BACEN JUD 2.0.218
Pelo art. 1º do Provimento nº. 6/05 da CGJT, nas execuções
definitivas, se o executado não pagar nem garantir a dívida, pode o juiz, de ofício
ou a requerimento da parte, utilizar-se do sistema Bacen-Jud, que deve ser
preferido a qualquer outro meio de constrição judicial, isso pelo objetivo de se
proceder à execução mais rápida e eficaz em prol do hipossuficiente.219
Zelando pelo sigilo das informações, de acordo com o art. 2º
do Provimento n. 6/2005 verifica-se que o acesso dos magistrados ao Sistema
Bacen-Jud 2.0 é feito por meio de senhas pessoais e intransferíveis, após o
cadastramento efetuado pelos Masters do respectivo TRT.220
Nos termos do art. 5º do Provimento CGJT n. 6/2005:
Qualquer pessoa física ou jurídica poderá solicitar ao Tribunal
Superior do Trabalho o cadastramento de conta única apta a
acolher bloqueios on line, realizados por meio do Sistema Bacen
Jud. Parágrafo único. A solicitação a que se refere o caput deste
artigo deverá ser encaminhada por petição, dirigida ao
Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho e instruída com cópias
dos comprovantes do CNPJ ou CPF e da titularidade da conta
indicada (banco, agência, conta corrente, nome e CNPJ/CPF do
titular).221
A novidade é que, não só a empresa, mas também qualquer
pessoa física poderá solicitar ao TST o cadastramento de sua conta única com
saldo suficiente para ser bloqueado eletronicamente.
218
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 867
219 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho.
p. 297.
220 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:
<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.
221 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:
<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.
58
A pessoa física ou jurídica que optar pela indicação de conta
única apta a acolher este bloqueio eletrônico, obriga-se a mantê-la com recursos
suficientes, sob pena de o bloqueio recair em outras contas e de o cadastramento
ser cancelado pelo TST.222
Prevê os parágrafos 1º, 2º e 3º do art. 6º, do Provimento em
questão que, o executado que teve sua conta descadastrada poderá, após o
período de 6 (seis) meses, contados da publicação, no Diário da Justiça, da
decisão que a descadastrou, postular o recadastramento, indicando a mesma ou
outra conta, conforme sua conveniência. Mas a reincidência no não-atendimento
das exigências de manutenção de recursos suficientes ao acolhimento dos
bloqueios on line importará em novo descadastramento pelo prazo de 1 (um) ano,
podendo, após esse período, postular novamente seu recadastramento. Se o
executado insistir em não manter os recursos suficientes, o descadastramento
posterior terá caráter definitivo.223
Quanto ao procedimento do bloqueio on line, diz o art. 9º do
Provimento CGJT n. 6/2005 que o magistrado, de posse das
respostas das instituições financeiras, emitirá ordem judicial de
transferência do valor da condenação para conta judicial, em
estabelecimento oficial de crédito, conforme dispõem os arts. 666,
I, do CPC e 9º, inciso I, c/c com o art. 11, §2º, da Lei nº
6.830/80.224
Importante assinalar que, na mesma ordem de transferência,
o juiz deverá informar se mantém ou desbloqueia o saldo remanescente, se
houver; e ainda, que o prazo para oposição de embargos começará a contar da
data da notificação, pelo juízo, ao executado, do bloqueio efetuado em sua conta,
de conformidade com o art. 9º, §§ 1º e 2º.225
222
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 867.
223 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:
<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.
224 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 868
225 CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Provimento 06/2005. Disponível em:
<www.tst.jus.br>. Acesso em: 01/05/2010.
59
Alerta Manoel Antônio Teixeira Filho que para o bloqueio on
line é imprescindível o atendimento a alguns pressupostos:
[...] 1) pressupostos para a emissão da ordem judicial de bloqueio;
2) pressupostos para a concretização do bloqueio. No primeiro
caso, os pressupostos são: 1.1) tratar-se de execução definitiva;
1.2) deixar, o devedor, de indicar bens à penhora, ou fazê-lo em
desobediência à ordem preferencial estabelecida na art. 655, do
CPC; no segundo: 2.1) a proporcionalidade do bloqueio; 2.2) a
utilidade do bloqueio; 2.3) a convolação para penhora.226
Sobre o prazo para os embargos, comenta Carlos Henrique
Bezerra Leite:
Ora, se o prazo para embargos è execução é contado da data da
notificação do bloqueio, parece-nos inegável que o Provimento
não considera o bloqueio on line mero exercício do poder geral de
cautela do juiz, e sim autêntica penhora, pois, como é sabido, é da
intimação da penhora que se inicia o prazo para oferecimento dos
embargos à execução, como se infere do art. 884 da CLT. Logo, é
o próprio juiz que realiza a penhora on line, e não o oficial de
justiça [...].227
A Lei nº. 11.382/06, que alterou o CPC no que diz respeito
ao processo de execução, introduziu expressamente o sistema da penhora on line
no âmbito do processo civil (CPC, arts. 655-A e 659, § 6º), repercutindo
naturalmente no processo do trabalho.228
3.4 ORDEM DE PREFERÊNCIA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA
A penhora deve obedecer a uma ordem preferencial dos
bens a serem constrangidos. A ordem de preferência é a seguinte: dinheiro
(equivalendo a ele o depósito bancário e a aplicação financeira), veículos
terrestres, bens móveis, bens imóveis, navios e aeronaves, participações
226
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 510/511.
227 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 868.
228 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 297.
60
societárias, faturamento da empresa (percentual), pedras e materiais preciosos,
títulos da dívida pública, títulos e valores mobiliários e outros direitos. Se o
executado nomear bens à penhora em desacordo com essa ordem, poderá o
exeqüente aceitá-los, ou não.229
Consoante o caput do artigo 655 do CPC, a ordem legal só é
obrigatória para o devedor. A ela não estão adstritos o credor, o oficial de justiça
ou o juiz da execução.230
Seguindo a ordem de preferência, será comentado sobre os
mais peculiares.
3.4.1 Dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira
Embora o dinheiro esteja em primeiro lugar na escala de
preferência para a penhora, não se pode ignorar que o depósito bancário
normalmente recolhe o capital de giro, sem o qual não se viabiliza o exercício da
atividade empresarial do devedor.231
Sobre o tema, disserta Humberto Theodoro Júnior:
Assim, da mesma forma que a penhora do faturamento não pode
absorver o capital de giro, sob pena de levar a empresa à
insolvência e à inatividade econômica, também a constrição
indiscriminada do saldo bancário pode anular o exercício da
atividade empresarial do executado. Por isso, lícito lhe será
impedir ou limitar a penhora sobre e a conta bancária,
demonstrando que sua solvabilidade não pode prescindir dos
recursos líquidos sob custódia da instituição financeira.232
229
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 294.
230 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 294.
231 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 328.
232 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 328.
61
Essa objeção dependerá da demonstração da existência de
outros bens livres para suportar a penhora sem comprometer a eficiência da
execução.233
3.4.2 Bens imóveis
Com o advento da Lei nº. 11.382/2006, que deu nova
redação ao §4º do art. 659 do CPC:
A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo
de penhora, cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata
intimação do executado (art. 652, § 4o), providenciar, para
presunção absoluta de conhecimento por terceiros, a respectiva
averbação no ofício imobiliário, mediante a apresentação de
certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandado
judicial.234
Além disso, a Lei nº. 10.444/2002 incluiu no art. 659 do CPC
o §5º, cujo teor é o seguinte:
Nos casos do § 4o, quando apresentada certidão da respectiva
matrícula, a penhora de imóveis, independentemente de onde se
localizem, será realizada por termo nos autos, do qual será
intimado o executado, pessoalmente ou na pessoa de seu
advogado, e por este ato constituído depositário.235
Não obstante a louvável intenção do legislador, é
preocupável a aplicação dessas novas exigências no processo do trabalho, pois a
providência da averbação da penhora no registro imobiliário e certidão de inteiro
teor do ato de penhora do imóvel a cargo do exeqüente, geralmente
hipossuficiente econômico ou desempregado, acarretar-lhe-á, via de regra,
excessivo ônus financeiro que poderá implicar a ineficiência do ato de
constrição.236
233
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 328.
234 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
235 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
236 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 870.
62
Por tais razões, no processo do trabalho, salvo na hipótese
de ações oriundas de relação de trabalho distinta da relação de emprego, a
averbação no ofício imobiliário da penhora de imóvel deve realizar-se por meio de
mandado judicial, constituindo emolumento processual a ser pago, pelo
executado, ao final da fase de execução.237
3.4.3 Navios e aeronaves
Nos termos do art. 679 do CPC:
A penhora sobre navio ou aeronave não obsta a que continue
navegando ou operando até a alienação; mas o juiz, ao conceder
a autorização para navegar ou operar, não permitirá que saia do
porto ou aeroporto antes que o devedor faça seguro usual contra
riscos.238
Portanto, o devedor, quando a penhora atingir aeronave ou
navio, não ficará impedido de continuar utilizando tais veículos nos seus serviços
normais de navegação enquanto não finalizada a alienação judicial.
O depositário, na espécie, será de preferência um dos
diretores da empresa devedora. O juiz, porém, ao conceder a autorização para
navegar ou operar, condicionará a utilização da regalia à comprovação, pelo
devedor, da contratação dos seguros usuais, de modo que o navio ou o avião só
poderá sair do porto ou do aeroporto depois de atendida essa cautela.239
Recomenda-se que o juiz ouça o credor a respeito da
apólice apresentada pelo devedor, pois aquele poderá ter interesse em suscitar
alguma contrariedade segurando o bem por um valor inferior.240
237
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 870.
238 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
239 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 334.
240 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 485.
63
3.4.4 Percentual do faturamento de empresa devedora
A reforma do CPC realizada pela lei nº. 11.382/2006 criou o
art. 655-A, que normatiza essa modalidade de penhora em seu parágrafo 3º:
Na penhora de percentual de faturamento da empresa executada,
será nomeado depositário, com a atribuição de submeter à
aprovação judicial a forma de efetivação da constrição, bem como
de prestar contas mensalmente, entregando ao exeqüente as
quantias recebidas, a fim de serem imputadas no pagamento da
dívida.241
No mesmo sentido é a orientação jurisprudencial242 nº. 93 da
SBDI-2 do TST:
É admissível a penhora sobre a renda mensal ou faturamento da
empresa, limitada a determinado percentual, desde que não
comprometa o desenvolvimento regular de suas atividades.243
Ensina Humberto Theodoro Júnior que a penhora sobre
parte do faturamento da empresa devedora é permitida, desde que,
cumulativamente, se cumpram os seguintes requisitos: a) inexistência de outros
bens penhoráveis, ou, se existirem, sejam eles de difícil execução ou insuficientes
a saldar o crédito exeqüendo; b) nomeação de depositário administrador com
função de estabelecer um esquema de pagamento; c) o percentual fixado sobre o
faturamento não pode inviabilizar o exercício da atividade empresarial.244
A penhora de percentual do faturamento figura em sétimo
lugar na ordem preferencial do art. 655 do CPC, de sorte que, havendo bens
livres de menor gradação, não será o caso de recorrer à constrição da receita da
empresa, que, sem maiores cautelas, pode comprometer o seu capital de giro e
inviabilizar a continuidade de sua normal atividade econômica. É por isso que se
241
BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
242 A partir deste momento usar-se-á a sigla OJ.
243 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Orientação Jurisprudencial SBDI-II do TST. Vade
mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
244 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.
64
impõe a nomeação de um depositário administrador que haverá de elaborar o
plano de pagamento a ser submetido à apreciação e aprovação do juiz da
execução. Com isso evita-se o comprometimento da solvabilidade da empresa
executada.245
3.4.5 Penhora de crédito do executado
Além dos próprios bens do devedor, outros também podem
ser objeto de penhora, como os seus créditos pendentes de recebimento.246
Com efeito o art. 671 do CPC dispõe que:
Quando a penhora recair em crédito do devedor, o oficial de
justiça o penhorará. Enquanto não ocorrer a hipótese prevista no
artigo seguinte, considerar-se-á feita a penhora pela intimação: I -
ao terceiro devedor para que não pague ao seu credor; II - ao
credor do terceiro para que não pratique ato de disposição do
crédito.247
Portanto, enquanto não ocorrer a apreensão, a penhora será
considerada feita pela intimação.
A penhora de crédito, representada por letra de câmbio, nota
promissória, duplicata, cheque ou outros títulos, realiza-se pela apreensão efetiva
do documento, esteja ou não em poder do devedor. Não sendo encontrado o
título, mas o terceiro confessar a dívida, será havido como depositário da
importância. O terceiro só se exonerará da obrigação, depositando em juízo a
importância da dívida. Se ocorrer a hipótese de o terceiro negar o débito em
conluio com o devedor, a quitação, que este eventualmente Ihe der, considerar-
se-á em fraude de execução. A requerimento do credor, o juiz determinará o
comparecimento, em audiência especialmente designada, do devedor e do
245
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.
246 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 860.
247 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
65
terceiro, a fim de Ihes tomar os depoimentos a fim de esclarecer e definir a
situação.248
Sobre este tema, leciona Carlos Henrique Bezerra Leite:
No que respeita à penhora de crédito futuro da empresa
executada, parece-nos que não existe qualquer ilegalidade na
decisão que a determina, desde que isso não implique a
possibilidade de danos irreparáveis. Data vênia dos que
sustentam o contrário, pensamos que o direito não pode ignorar a
realidade, como, por exemplo a hipótese das empresas de cartão
de crédito que figuram como executadas. Ora, o patrimônio
dessas empresas é constituído do créditos de terceiros (clientes),
sendo, a nosso ver, perfeitamente factível a incidência da penhora
sobre tais créditos.249
Se a penhora recair sobre dívidas de dinheiro a juros, de
direito a rendas, ou de prestações periódicas, o exeqüente poderá levantar os
juros, os rendimentos ou as prestações à medida que forem sendo depositadas,
abatendo-se do crédito as importâncias recebidas, conforme as regras da
imputação ao pagamento.250
Nos termos do art. 676 do CPC:
Recaindo a penhora sobre direito, que tenha por objeto prestação
ou restituição de coisa determinada, o devedor será intimado para,
no vencimento, depositá-la, correndo sobre ela a execução.251
É interessante notar que os títulos de crédito representam
bens penhoráveis, mas nem sempre figuram na mesma posição dentro da
gradação legal de preferência: se são cotados em Bolsa de Valores, seu
248
GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 554.
249 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 861.
250 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 481.
251 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
66
posicionamento se dá no inciso X do art. 655 do CPC. Caso contrário, decaem
para a última posição na escala do referido artigo, sendo o inciso XI.252
3.4.6 Outros direitos
Como bem lembra Ives Gandra da Silva Martins Filho:
Podem, ainda, ser penhorados o bem hipotecado e o bem
hipotecado fiduciariamente. Ocorre, no entanto, que, em ambos os
casos, se o praceamento do bem sobre o qual grava o ônus real
não alcançar lance suficiente para o pagamento do exeqüente
trabalhista e do credor pignoratício ou da alienação fiduciária, o
bem adquirido pelo arrematante continuará gravado pelo
hipoteca.253
Na prática, utiliza-se também a penhora de empresa.
Embora usado este termo, sabe-se que, a rigor, a empresa é um ente incorpóreo,
uma ficção jurídica. A empresa é constituída de duas universalidades: a de bens e
a de pessoas. Tecnicamente, o que pode ser objeto de penhora não é a empresa,
e sim o estabelecimento da empresa ou, como também chamado, o fundo de
comércio.254
Tendo em vista a complexidade desta modalidade de penhora, o
juiz somente deve autorizá-la quando não forem encontrados bens
suficientes à satisfação do crédito. Aqui, sim, há de ser observado
o disposto no art. 620 do CPC, uma vez que é inegável a função
social da empresa, que, em linha de princípio, deve ter ampla
possibilidade de sobreviver num mundo de tanta concorrência,
devendo o juiz, sempre que possível, evitar as medidas que
possam agravar a situação econômico-financeira da empresa,
afinal, não se pode relegar o oblívio que na empresa há outros
trabalhadores, igualmente credores de prestações alimentícias.255
252
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 331.
253 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 294/295
254 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 555.
255 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 863.
67
Não se aplica ao Processo do Trabalho o § 2º do art. 659 do
CPC, que não permite a penhora se os bens encontrados só forem suficientes
para pagar as custas dos processos. Isto porque, sendo o crédito trabalhista
superprivilegiado, sobrepondo-se inclusive ao crédito fiscal, os poucos bens
encontrados devem ser utilizados para o pagamento do empregado-exequente,
deixando-se as custas para quando forem encontrados outros bens.256
Nos termos do art. 613 do CPC:
Recaindo mais de uma penhora sobre os mesmos bens, cada
credor conservará o seu título de preferência.257
Portanto, pode haver mais de uma penhora sobre o mesmo
bem, tendo preferência o credor mais antigo sobre o valor obtido pelo bem
praceado, ficando o saldo com os demais credores.
3.5 VALORES IMPENHORÁVEIS NA EXECUÇÃO TRABALHISTA
A regra básica é que a penhora deve atingir os bens
negociáveis, ou seja, os que se podem normalmente alienar e converter no
respectivo valor econômico.258
Por outro lado, o art. 648 do CPC, que é aplicável ao
processo do trabalho, prescreve que:
Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera
impenhoráveis ou inalienáveis.259
A razão mais comum para a impenhorabilidade de origem
não-econômica é a preocupação do código de preservar as receitas alimentares
do devedor e de sua família. Funda-se num princípio clássico da execução
256
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. p. 295
257 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
258 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 449
259 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
68
forçada moderna, que lembra que o executado não deve ser levado a uma
situação incompatível com a dignidade humana.260
Nesse sentido, existem bens absolutamente impenhoráveis
e bens relativamente impenhoráveis.
3.5.1 Bens absolutamente impenhoráveis
São absolutamente impenhoráveis, de acordo com o art. 649
do CPC, os seguintes bens:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não
sujeitos à execução; II - os móveis, pertences e utilidades
domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os
de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns
correspondentes a um médio padrão de vida; III - os vestuários,
bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de
elevado valor; IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários,
remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e
montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3o deste artigo; V - os livros, as
máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou
outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer
profissão; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários
para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII
- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por
instituições privadas para aplicação compulsória em educação,
saúde ou assistência social; X - até o limite de 40 (quarenta)
salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de
poupança; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos,
nos termos da lei, por partido político.261
Sobre a citação supra, Humberto Theodoro Júnior lembra
que “Os bens particulares podem se tornar inalienáveis ou apenas impenhoráveis,
260
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 331.
261 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
69
em atos de vontade unilaterais ou bilaterais, como nas doações, testamentos,
instituição do bem de família etc.”262
Na atual redação dos incisos II e III do art. 649 prevalece o
intuito de evitar penhora sobre bens que geralmente não encontram preços
significativos na expropriação judicial e cuja privação pode acarretar grandes
sacrifícios de ordem pessoal e familiar para o executado. A impenhorabilidade
legal, no entanto, sofre limitações instituídas para manter o privilégio dentro do
razoável; com exceção apenas dos bens de elevado valor, como obras de arte e
automóveis, que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um
médio padrão de vida, tais como 4 televisores, ou 3 geladeiras etc.263
Diante do artigo 649 do CPC, dissertam Nelson Nery Júnior
e Rosa Maria de Andrade Nery:
Ora, elevado valor e médio padrão de vida são, evidentemente,
conceitos legais indeterminados, cabendo ao juiz, no momento de
fazer a subsunção do fato à norma, preencher os claros e dizer se
a norma atua ou não no caso concreto. Preenchido o conceito
indeterminado [...], a solução já está estabelecida na própria
norma legal, competindo ao juiz apenas aplicar a norma, sem
exercer nenhuma função criadora.264
O disposto no inciso IV do art. 649 do CPC não se aplica,
nos termos do § 2º do mesmo artigo, no caso de penhora para pagamento de
prestação alimentícia.265
Assim, se o saldo bancário for alimentado por vencimentos,
salários, pensões, honorários e demais verbas alimentares arroladas no art. 649,
262
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 304.
263 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 305.
264 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil anotado e legislação
extravagante. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 141.
265 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 856.
70
IV, sua impenhorabilidade prevalecerá, não podendo o bloqueio subsistir para a
satisfação de crédito trabalhista, conforme ressalva o §2º do art. 655-A.266
Nestes termos é a OJ nº. 153 da SBDI-2/TST:
Ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio de
numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito
trabalhista, ainda que seja limitado a determinado percentual dos
valores recebidos ou a valor revertido para fundo de aplicação ou
poupança, visto que o art. 649, IV, do CPC contém norma
imperativa que não admite interpretação ampliativa, sendo a
exceção prevista no art. 649, § 2º, do CPC espécie e não gênero
de crédito de natureza alimentícia, não englobando o crédito
trabalhista.267
Caberá ao executado, para se beneficiar da
impenhorabilidade, o ônus da comprovação da origem alimentar do saldo. Na
maioria das vezes, isso será facilmente apurável por meio do extrato da conta. Se
os depósitos não estiverem claramente vinculados a fontes pagadoras, terá o
executado de usar outros meios de prova para identificar a origem alimentar do
saldo bancário.268
O art. 650 também introduziu importante inovação, na
medida em que declara penhoráveis, no caso de não existirem outros bens, os
frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de
prestação alimentícia.269
Embora não estejam previstos no elenco do art. 649 do
CPC, os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são também
absolutamente impenhoráveis.270
266
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.
267 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Orientação Jurisprudencial SBDI-2 do TST. Vade
mecum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
268 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 327.
269 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 857.
270 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. p. 296.
71
Cumpre lembrar, ainda, que a Lei nº. 8.009/90 tornou
impenhoráveis os bens de família, isto é, o imóvel residencial próprio do casal, ou
da entidade familiar, abrangendo o imóvel sobre o qual se assentam a
construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os
equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa,
desde que quitados.271
Se o imóvel utilizado como residência da família for apenas
alugado, a impenhorabilidade alcança os bens móveis quitados que guarneçam a
residência, desde que sejam de propriedade do executado.272
A saber, sobre os bens necessários ou úteis para o exercício
da profissão o STF relativizou o entendimento para abranger não só as pessoas
físicas, mas também, as pequenas empresas, nas quais os sócios pessoalmente
desempenham as atividades para que a sociedade se mantenha.273
A impenhorabilidade do seguro de vida decorre da sua
natureza alimentar, pois o mesmo é feito em favor de terceiro. Os materiais são,
por antecipação, parte integrante da obra e só poderão ser penhorados se o todo
for. A pequena propriedade rural sob exploração familiar também é absolutamente
impenhorável.274
Dispõe o art. 649, § 1º do CPC que:
A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito
concedido para a aquisição do próprio bem.
Nesse sentido, nos casos de bens impenhoráveis que
tenham sido adquiridos pelo devedor por meio de negócio oneroso, não deve
prevalecer o privilégio da impenhorabilidade se o crédito do executado provier
justamente do preço de aquisição do bem ou do respectivo financiamento.
271
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 857.
272 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 858.
273 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 306.
274 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 456/457.
72
3.5.2 Bens relativamente impenhoráveis
Consideram-se bens relativamente impenhoráveis aqueles
cuja penhora a lei só permite quando inexistirem outros bens no patrimônio do
devedor que possam garantir a execução.275
Excluem-se da regra da impenhorabilidade do bem de
família os veículos de transporte, as obras de arte e os adornos suntuosos.276
Os incisos I e II do art. 3º excepcionam a regra da
impenhorabilidade quando a execução for promovida: a) em razão dos créditos de
trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições
previdenciárias; ou b) pelo credor de pensão alimentícia.277
Os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis seguem, em
princípio, o destino destes, ou seja, são impenhoráveis. Os credores comuns do
titular do bem inalienável, por isso, não podem penhorar seus frutos e
rendimentos. A imunidade, contudo, não é total. Prevalece enquanto seja possível
o gravame executivo recair sobre outros bens livres do executado. Faltando os
bens livres, cessará a impenhorabilidade, e os frutos e rendimentos a que alude o
art. 650 terão de submeter-se à penhora.278
3.6 EXCESSO DE PENHORA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA
Segundo Pontes de Miranda, a limitação legal para que a
penhora não ultrapasse o valor da execução já era vista nas Ordenações
Afonsinas, podendo, atualmente, tal questão ser levantada pelo devedor em sede
de embargos.279
275
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 450.
276 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 858.
277 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 858.
278 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 311.
279 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao código de processo civil. Rio
de Janeiro: Forense, 2002. p.193.
73
A execução há de agredir o patrimônio do devedor até
apenas onde seja necessário para a satisfação do direito do credor; em outras
palavras, deve atingir apenas os bens que bastem para a satisfação do valor
atualizado monetariamente do crédito exeqüendo, com juros, custas e honorários
advocatícios.280
Na forma do art. 659 do CPC, a penhora deve recair sobre
quantos bens bastem a cobrir a execução, o que não quer dizer que, por vezes,
não recairá ela sobre bens cujo valor de avaliação seja superior ao da execução,
desde que assim se faça necessário, como é comum quando o devedor detém
apenas um bem penhorável.281
Cabe a ressalva, se a penhora superar em muito o valor da
execução, poderá o devedor sustentar o excesso de penhora incidentalmente na
execução. O momento para a alegação é após a avaliação, nos termos do art.
685 do CPC, ou seja, posteriormente ao processamento de eventual interposição
de embargos à execução. Todavia, não é muito incomum que a jurisprudência
permita inapropriadamente sua alegação em sede de embargos.282
Enfim, o magistrado deverá ter sensibilidade e descortino
suficientes para perceber quando o bloqueio será necessário e quando será
dispensável; para perceber que essa possibilidade de penhora não foi instituída a
fim de espezinhar a dignidade humana dos devedores, nem de tornar-lhes
impossível a continuidade das atividades empresariais.283
3.7 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA QUE A PENHORA “ON
LINE” AFRONTA
A reação de alguns juristas foi contrária à penhora on line,
ao considerar inconstitucionais as disposições do Bacen-Jud, porque violariam as
280
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 314.
281 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. p. 311.
282 OLIVEIRA, Guilherme Botelho de. Comentários aos arts. 659 a 670 do CPC: da penhora e do
depósito. Disponível em: <http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/00c0659a0670.php>. Acesso em: 11 maio 2010.
283 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 520.
74
garantias de ampla defesa, isonomia e do sigilo bancário, ofendendo ainda os
princípios do contraditório e do devido processo legal, além de apresentar outros
inconvenientes, como os de garantir os direitos de um trabalhador em detrimento
do de vários e de prejudicar injustificadamente a atividade econômica normal dos
empregadores.284
3.7.1 Princípio da ampla defesa
Manoel Antônio Teixeira Filho não é contrário ao bloqueio on
line, e sobre a garantia da ampla defesa o mesmo diz que:
O princípio em foco significa que os sistemas processuais devem
permitir às partes a utilização de todos os meios lícitos,
necessários para promover a defesa judicial dos seus direitos ou
interesses. [...] Em primeiro lugar, porque o bloqueio somente
deve ser realizado se o devedor deixar de indicar bens
penhoráveis, ou fizer essa indicação em desacordo com o art. 655
do CPC; em, segundo, porque, efetivado o bloqueio on line, e
convertido em penhora, o devedor terá, nos embargos que lhe são
próprios, a oportunidade para submeter à apreciação judicial todos
os argumentos e documentos que reputar essenciais à sua
defesa, ficando, deste modo, preservada a garantia constitucional
que estamos a examinar.285
Entende da citação supra que a oportunidade de defesa ao
devedor é reservada, porém, se o mesmo não utilizar-se dela, deve-se manter o
princípio da livre utilização dos meios de provas, sendo que, prima-se pela
economia processual e agilidade da satisfação do direito do credor trabalhista.
3.7.2 Princípio do sigilo bancário
A respeito da garantia do sigilo bancário, o bloqueio não
implica quebra de sigilo bancário das partes em litígio e de nenhum usuário do
284
GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558
285 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 515/516.
75
sistema financeiro. Aos magistrados é vedado requerer informações que não
atendam aos estritos interesses e objetivos da execução.286
O convênio cerca de cuidados a garantia do sigilo bancário,
mas seria absurdo pretender sobrepô-lo ao Poder Judiciário. A lei assegura aos
juízes o direito de obter as informações necessárias à instrução dos processos,
sejam elas detidas por pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas.287
3.7.3 Princípio do contraditório
O princípio do contraditório em sede processual, significa a
imposição legal de audiência bilateral. Sob este aspecto, o princípio do
contraditório se entrelaça com o da igualdade de tratamento, porquanto ao juiz
incumbe dar oportunidade para que cada parte se manifeste a respeito de ato
processual praticado ou a ser praticado pelo adversário ou por terceiro, ou
determinado pelo juiz. No caso do bloqueio on line não há transgressão à garantia
constitucional em foco, seja porque se concedeu ao devedor oportunidade para
nomear bens à penhora, seja porque o contraditório, em rigor, não se aplica
quando for o caso de ordem, de determinação judicial.288
3.7.4 Princípio do devido processo legal
A garantia do devido processo legal está inscrita no inciso
LIV, do art. 5º, da Constituição Federal. Na verdade esta garantia constitui um
superprincípio, do qual todos os outros derivam.
A penhora on line não viola o princípio do devido processo legal,
no que diz respeito aos demais princípios. Faz-se necessário frisar
que só se deve proceder ao bloqueio se o devedor deixar de
indicar bem passíveis de penhora ou indicá-los de maneira errada;
e se traduz como uma medida cautelar inominada.289
286
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 518.
287 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 559
288 ROSA, Antenor Batista. O sistema Bacen-Jud de penhora on line. Disponível em:
<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20081010103603337&mode=print>. Acesso em: 22 mar 2010.
289 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 517.
76
Sobre a citação acima, é exatamente por isso que o bloqueio
on line não se confunde com a penhora, nem a substitui; pois efetivado o
bloqueio, o passo seguinte, a ser dado pelo juiz, consistirá em converter esse
bloqueio em penhora, a fim de que se preserve a garantia constitucional do
devido processo legal.290
Portanto, o devido processo legal é respeitado, apenas será
utilizado este procedimento da penhora on line, se o executado não cumprir com
suas obrigações.
3.7.5 Princípio da isonomia das partes
Não tem fundamento o argumento de tratamento desigual
entre as partes, porque o juiz, de modo algum, estará ministrando ao devedor um
tratamento diferenciado no que diz respeito ao credor. Além disso, não pode-se
ignorar a regra do art. 612, do CPC, conforme a qual a execução se processa no
interesse do credor.291
Das exposições supra, percebe-se que não existem as
inconstitucionalidades apontadas, pois o devedor é executado apenas depois de
responder, ou, pelo menos, ter tido a oportunidade de fazê-lo, às fases cognitiva e
recursal de uma ação onde estavam garantidos o contraditório, a ampla defesa e
o devido processo legal; no início da execução, assegura-se ainda seu direito de,
não satisfazendo de pronto a condenação, depositá-la, ou garantir a execução
pela oferta de bens à penhora ou de fiança, para discutir eventuais
irregularidades. Se, entretanto, não aproveita essas oportunidades, deve se
submeter à constrição coercitiva de seus bens, como é próprio da fase de
execução.
290
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 866.
291 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 517.
77
3.8 CONTROVÉRSIAS ACERCA DA PENHORA ON LINE NA EXECUÇÃO
TRABALHISTA
Antes da instituição do Bacen-Jud, alguns juízes já estavam
expedindo ofícios para gerentes bancários. Essa praxe provocou intensa reação,
não só por parte dos devedores, mas, também, de determinados setores da
doutrina, cujas críticas se concentravam em duas conseqüências desse
procedimento adotado pelos juízes: a) a prática de atos processuais fora da
jurisdição; b) a superposição de bloqueios, pois de modo geral, os gerentes de
estabelecimentos bancários, que realizavam bloqueios por ordem judicial, não se
comunicavam entre si, nem havia um órgão central que controlasse a realização
desses diversos bloqueios.292
A primeira conseqüência foi solucionada em 2002, quando
surgiu o convênio conhecido como Bacen-Jud, formalizado entre o Banco Central
e o Tribunal Superior do Trabalho.293
Já sobre a segunda conseqüência, é inegável, que a
execução da penhora por ordem eletrônica acarreta alguns inconvenientes. O
bloqueio indiscriminado do montante do débito em todas as contas do executado
causa constrangimento excessivo, mas poderá ser atenuado, no futuro, por
medidas de agilização do processo de desbloqueio, atualmente ainda muito lento,
uma vez que o juízo deve aguardar um ofício da agência cuja conta sofreu
bloqueio, para após determinar a transferência dos fundos suficientes para uma
conta do juízo e liberar o bloqueio nos demais estabelecimentos bancários, o que
leva algum tempo.294
Acerca da segunda consequência, algo também já foi feito
para minimizar tais efeitos, conforme exposto no item 3.3 da penhora on line, o
art. 5º do provimento 06/2005, que permite pessoa física ou jurídica cadastrar
uma conta, para que apenas nela sejam feitos pretensos bloqueios, apenas
292
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no processo do trabalho. p. 507
293 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 558.
294 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 559.
78
ultrapassando essa disposição, ao caso a conta cadastrada não possuir fundos
suficientes. Dessa maneira, não se bloqueia de forma indiscriminada.
Uma posição contrária acerca do procedimento da penhora
on line, vem sobre o fato dos valores impenhoráveis não serem respeitados, pois
não se pode saber a origem do dinheiro constante da conta apenas com ofícios,
senhas e segredos do qual é feito este procedimento. E desta maneira,
penhoram-se salários, proventos de aposentadorias, pensões e outras verbas de
caráter alimentar que por definição legal são absolutamente impenhoráveis.295
Sobre este tema, a seguinte jurisprudência do TRT da 16ª
Região:
MANDADO DE SEGURANÇA -PENHORA ON LINE - CONTA
CORRENTE PARA RECEBIMENTO DE SALÁRIO -
ILEGALIDADE DA CONSTRIÇÃO. Ofende direito líquido e
certo, amparável pela via do mandado de segurança, o ato
judicial que determina a penhora on-line em conta do
executado, sócio da reclamada, utilizada para a percepção de
salário, por violação ao art. 649, inciso IV, do CPC. [...]. (TRT-16:
347200900016001 MA 00347-2009-000-16-00-1, rel. Juiz José
Evandro de Souza, Julgamento: 18/03/2010, Publicação:
13/04/2010). (Grifou-se).
Já quando o numerário não é proveniente de verbas
alimentares, dispõe as seguintes jurisprudências:
MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA ON LINE PELO
SISTEMA BACEN-JUD. ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. O
bloqueio de créditos disponíveis em contas bancárias tem
evidente amparo em normas legais vigentes, tanto que sempre
foi realizado, embora demandasse expedientes morosos,
consistentes na expedição de ofícios ao Bacen para identificação
da existência de contas bancárias dos devedores e de
disponibilidade de créditos, seguindo-se a diligência de constrição
através de Oficial de Justiça. O sistema Bacen-Jud veio apenas
agilizar o procedimento como mais uma medida de prover a
295
GOMÉS, Lineu Miguel. Penhora on line. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/DOUTRINA/texto.asp?id=4861>. Acesso em: 17 maio 2010.
79
celeridade processual. Não é ilegal ou abusiva a penhora on
line regularmente procedida. Mandado de segurança denegado.
(TRT-10 - MANDADO DE SEGURANCA: MS 196200900010004
00196-2009-000-10-00-4, rel. Juiz Grijalbo Fernandes Coutinho,
Julgamento: 09/09/2009, Publicação: 18/09/2009). (Grifou-se).
PENHORA “ON LINE”. EXECUÇÃO DEFINITIVA. Ausência de
ilegalidade na r. decisão judicial que determina a constrição sobre
numerário de conta corrente, pois encontra respaldo no artigo
655 do CPC, o qual fixa a ordem de nomeação de bens à
penhora pelo devedor, elencando primeiramente o dinheiro,
sobretudo diante da ausência de provas quanto à efetivação
dos depósitos bancários serem oriundos de proventos de
aposentadoria, afastando a aplicabilidade do inciso IV do artigo
649 do CPC, na espécie e impondo a incidência da Súmula 417,
item I,do C. TST. [...]. (TRT-2 - Mandado de Segurança: MS
13368200800002002 SP 13368-2008-000-02-00-2, rel. Juíza
Wilma Nogueira de Araújo Vaz da Silva, Julgamento: 23/02/2010,
Publicação: 11/03/2010). (Grifou-se).
Das jurisprudências supra percebe-se que, quando não é
possível saber que o saldo da conta tem natureza alimentar, não é ilegal o seu
bloqueio, e assim, se a penhora on line segue a legislação atual, não afronta em
nenhum sentido qualquer disposição constitucional ou legal.
O autor Carlos Henrique Bezerra Leite, defende a penhora
on line, porém acredita que podem haver controvérsias acerca da realização
deste procedimento, já que o prazo para oposição de embargos começará a
contar da data da notificação, pelo juízo, ao executado, do bloqueio efetuado em
sua conta, de conformidade com o art. 9º, § 2º, entende-se, ser o próprio juiz que
realiza a penhora on line, e não o oficial de justiça; e isso gerará controvérsias
acerca da constitucionalidade deste dispositivo, do Provimento 6/2005 da CGJT,
por violação ao devido processo legal e ao princípio da legalidade, na medida em
que o auto de penhora é realizado por oficial de justiça, e não pelo juiz.296
Do exposto acima, vale dizer que, não há nenhum tipo de
afronta à qualquer princípio da execução ou constitucional, pois o poder judiciário
296
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. p. 868
80
somente se envolve na omissão do devedor e, como não poderia ser diferente,
observa a ordem seqüencial dos bens penhoráveis.
De resto, o executado poderá, sempre, evitar os males da
penhora on line efetuando, nas quarenta e oito horas após receber a citação, o
depósito da condenação ou oferecendo bens à penhora.297
297
GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. p. 559
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa monográfica tratou da penhora on line
na justiça laboral em relação aos princípios da execução trabalhista.
O seu objetivo geral foi estudar de que maneira se processa
a penhora on line e, se é um procedimento constitucional ou, se, vai de encontro
aos ditames da lei maior, verificando-se se tal ato processual afronta algum
princípio da execução trabalhista, se trás mais prejuízos ou se é benéfica para
alguma das partes e para qual parte.
Para tanto, o presente trabalho foi dividido em três capítulos,
sendo que no Primeiro Capítulo tratou-se do conceito de execução trabalhista,
princípios e pressupostos de acordo com o ordenamento jurídico pátrio.
Verificou-se que a execução trabalhista prima pela
simplicidade, celeridade e efetividade, além do devido processo legal e de outros
princípios que, não menos importantes, fazem parte da execução trabalhista, e
como qualquer ramo do Direito, são a base para que se desencadeie a correta
aplicação da justiça.
No Segundo Capítulo estudou-se noções sobre os
procedimentos da execução trabalhista, detalhando-se quais são os títulos
executivos judiciais e extrajudiciais e suas principais características.
Analisou-se que estes devem ser certos, líquidos e exigíveis
para que se possa processar uma execução, ou seja, não deve haver
controvérsias sobre a existência do título; o mesmo deve estar vencido, ou não
conter nenhuma limitação, e deve declarar a quantia devida.
Verificou-se, que a execução trabalhista pode ser promovida
por qualquer interessado ou de ofício pelo próprio juiz ou presidente do tribunal
competente, e é dirigida contra o réu ou os réus condenados na sentença ou
82
identificados no título extrajudicial. E, ainda, estudou-se que as formas de
liquidação do título executivo são através de cálculos, artigos e arbitramento.
Por fim, no Terceiro Capítulo abordou-se as formas de
citação do executado, de que maneiras este pode agir quando se torna parte de
um processo de execução trabalhista, quando e como funciona o procedimento
da penhora on line, a ordem de preferência para a penhora e os valores
impenhoráveis, em seguida, tratou-se do excesso de penhora.
Destacou-se que, o executado não pagando nem garantindo
a execução, seguir-se-á a penhora dos bens, tantos quantos bastem ao
pagamento da importância da condenação, acrescida das custas, juros de mora,
etc. A penhora deve obedecer ao art. 655 do CPC, que prevê uma ordem
preferencial dos bens a serem constrangidos.
Verificou-se também, que a regra básica é que a penhora
deve atingir os bens negociáveis, ou seja, os que se podem normalmente alienar
e converter no respectivo valor econômico. Nesse mesmo sentido, foi imposta
uma segunda regra, a da impenhorabilidade, na qual, o legislador se preocupou
em preservar as receitas alimentares do devedor e de sua família, com
fundamento num princípio clássico da execução trabalhista, que lembra que o
executado não deve ser levado a uma situação incompatível com a dignidade
humana.
Discutiu-se por derradeiro os princípios que a penhora on
line afrontam e as controvérsias surgidas em virtude da aplicação deste
procedimento. A crítica trazida pela minoria, sob a alegação de ferir o preceito
constitucional do sigilo bancário e o princípio processual da menor onerosidade
para o devedor na execução, deve ser rechaçada pela doutrina moderna e
sobretudo, pelos Tribunais Superiores, pelo simples fato de que este sistema não
modificou em nada os procedimentos processuais vigentes atualmente,
destacando-se que a única mudança que de fato ocorreu, foi no modo de se
efetivar a penhora, que antes era cumprida por meio de oficial de justiça e agora é
por meio eletrônico.
83
O direito processual moderno visa obter resultados efetivos,
de forma rápida e eficiente. Uma das maneiras de alcançar esse objetivo é a
utilização dos meios de comunicação virtual, da eletrônica, via internet. A
constrição do numerário com a penhora on line elimina todo o dispêndio de tempo
e os gastos com o processo de venda dos bens arrecadados em hasta pública
para satisfação do crédito do exeqüente. A economia processual é enorme e
compensa largamente os pequenos inconvenientes que poderão ser facilmente
superados, no futuro, com o aprimoramento legislativo e a evolução tecnológica.
Neste sentido, a hipótese levantada na introdução se
confirma:
- A penhora on line é um procedimento compatível com o
processo do trabalho por estar de acordo com os princípios da execução
trabalhista.
A hipótese é confirmada pois a penhora on line é
perfeitamente compatível com Processo do Trabalho por não ferir nenhum
princípio que norteia a execução trabalhista. Sua primazia no processo trabalhista
se justifica pelo objetivo de se proceder à execução mais rápida e eficaz em prol
do hipossuficiente, desonerando a máquina judiciária e acelerando a resolução da
demanda.
Não se justificam as alegações de inconstitucionalidade
desse procedimento, muito embora acarrete, realmente, alguns inconvenientes,
da mesma forma que qualquer execução forçada acarreta, mas que ainda,
poderão ser minimizados, se não superados através de aprimoramento legislativo
e conquistas tecnológicas. Os benefícios em economia de tempo e de despesas,
porém, compensam largamente os pequenos inconvenientes causados.
Assim, termina-se a presente pesquisa monográfica
sabendo-se que não foi esgotado o estudo sobre o tema, pois há muito ainda a
ser investigado sobre o procedimento da penhora on line, mas acredita-se ter
contribuído para futuros trabalhos e atingido o objetivo institucional, o qual foi a
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sua produção para a obtenção do título de bacharel em Direito pela Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI.
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