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 PENAL  PARTE ESPECIAL CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 

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Penal Parte Especial Crimes Contra o Patrimônio

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PENAL –  PARTE ESPECIAL 

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 

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PENAL – PARTE ESPECIAL

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Prezados, nossa missão aqui é estudar os pontos com maior incidência noconcurso de Delegado de Polícia e de forma estratégica. Para tanto,selecionamos os crimes que realmente caem e trazemos os pontos ediscussões principais, sempre balizados no índice de incidência em nossoscertames policiais.

ART. 155 – FURTOO dolo é de subtrair coisa alheia móvel  (animus furandi). Somente os bens

móveis e corpóreos podem ser objeto de furto, não se admitindo furto debens imóveis ou direitos. O objeto, em regra, deve possuir valor econômico.Segundo doutrina majoritária, os bens suscetíveis de valor sentimental,afetivo, também podem ser objeto de furto. Em sentido contrário, Nucciafirma que bens de valor sentimental não possuem tutela penal,caracterizando-se como ilícito civil.

O que destaca o crime de furto dos demais é o verbo núcleo do tipoSUBTRAIR. É um crime que precisa de uma ação do agente à revelia davítima (posse vigiada).

OBS: não se caracteriza o crime de furto em relação às coisas de uso comum(pertencentes a todos), tais como o ar e a água dos rios e oceanos. Caracteriza-seo delito, contudo, quando tais coisas foram destacadas do local de origem e sejamexploradas por alguém (exemplos: água engarrafada e gás liquefeito).

ATENÇÃO: Coisa móvel para o Direito Penal é diferente de coisa para o Direito Civil.Para o Direito Penal, móvel é a coisa que pode ser transportada sem perder a

identidade. Não se aplica ao Direito Penal a teoria da ficção jurídica prevista peloDireito Civil para classificar como imóveis alguns bens essencialmente móveis, taiscomo os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele sereempregarem (Código Civil, art. 81, inc. II), assim como os navios e aeronaves,sujeitos à hipoteca (Código Civil, art. 1.473, incisos VI e VII).

ELEMENTO SUBJETIVO: Somente é admitido o crime de furto na modalidadedolosa. Ademais, não basta subtrair, deve haver o animus do agente em setornar dono do bem, dolo específico.

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SUBTRAÇÃO:  o apossamento pode ser: 1º) direto; e 2º) indireto. Há oapossamento direto quando o sujeito pessoalmente subtrai o objeto material.Há a forma indireta quando se vale, por exemplo, de animais adestrados oude outras pessoas para a realização da subtração.

SUJEITO PASSIVO: Há divergência:1ª CORRENTE: Defende que apenas o proprietário e o possuidor legítimos dacoisa móvel podem ser vítimas do furto. O detentor não pode figurar comosujeito passivo do furto, uma vez que o crime não lhe prejudica, conformeNucci, Capez e Masson. 2ª CORRENTE: Rogério Sanches, Damásio, Victor Rios Gonçalves e Bitencourtadmitem também a detentor como sujeito dos crimes patrimoniais.(Prevelace)3ª CORRENTE: Hungria admite somente o proprietário como sujeito do crime

de furto.

- FURTO DE TALÃO DE CHEQUE: Para a doutrina, o talão de cheques etambém a folha avulsa de cheque podem ser objetos materiais de furto,porque têm valor econômico (Nucci e Masson). Se a folha de cheque forutilizada para estelionato, existem duas posições sobre o assunto:

(A)  o estelionato absorve o furto, que funciona como etapapreparatória daquele delito; e

(B)  há concurso material entre os crimes de furto e estelionato.

A jurisprudência, contudo, se posiciona no sentido de que a subtração defolhas de cheques em branco não caracteriza crime de furto, diante dainsignificância do valor econômico (Posição do STJ e STF).

- FURTO DE CARTÃO BANCÁRIO:  Quanto ao cartão bancário ou de crédito,não há crime de furto, em decorrência do princípio da insignificância(Masson, Nucci e Jurisprudência). Basta a comunicação do fato à instituiçãofinanceira e a reposição do cartão é efetuada. Eventual utilização do cartão

para saques em dinheiro ou compras em geral caracteriza estelionato (CP,art. 171, caput)

O cadáver pode ser objeto de furto?  A princípio, não. Pode somente serobjeto do crime de furto se ele fizer parte do patrimônio de uma instituiçãode pesquisa científica.

- Condômino que furta coisa comum do condomínio:  Por exemplo, omorador que subtrai a televisão da área comum do prédio em que reside. O

crime é o de furto de coisa comum, do art. 156 do CP. Importante: é crimede menor potencial ofensivo. Logo, compete aos Juizados. Ademais, aação penal é condicionada à representação. Mas, cuidado, pois não é

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punível a subtração de coisa comum FUNGÍVEL, cujo VALOR NÃO EXCEDE AQUOTA A QUE TEM DIREITO O AGENTE  –  art. 146, §2º do CP.

ATENÇÃO: A res nulios (de ninguém) e a res derelicta (abandonada) não sãopassíveis de crime de furto. Quando diante de coisa perdida, pode vir a

configurar o crime de apropriação (crime de conduta mista). Diante de coisaesquecida, afigura-se o crime de furto, segundo a doutrina. 

A CONSUMAÇÃO DO CRIME DE FURTO E ROUBO (4 TEORIAS):

Teoria da Contrectatio: Defende que basta que o agente toque no bem com o fimde subtraí-lo para que ocorra a consumação do delito.

Teoria da Amotio: Tese albergada pelos STJ e STF, em que basta a retirada do bemda esfera de poder da vítima, não se exigindo a posse mansa e pacífica do bempara fins de consumação do delito. Segundo esta tese, a consumação se dá no

exato momento da inversão da posse do bem, ainda que breve. O famoso pegaladrão não afasta a consumação do crime, já estando consumado o delito.Segundo Damásio, basta o deslocamento do bem.

Teoria da Ablatio  –  Esta teoria exige a apreensão e a posse mansa e pacífica dobem para caracterizar a consumação do delito. Tese albergada pela maioria dadoutrina, porém afastada pela jurisprudência. Nesse caso, a consumação exige aapreensão e descolamento do bem.

Teoria da Ilatio:  Defende que a consumação do delito depende não só que oagente consiga a posse mansa e pacífica do bem, retirando-o da esfera de poderda vítima, como também consiga conduzir o objeto da subtração ao lugardestinado pelo agente.

IMPORTANTE: Sempre que houver perda total ou parcial  da coisa com afinalidade de subtração do bem, o crime estará consumado. Assim, se umapessoa tenta furtar uma vaca, a mata e é surpreendido pelo dono dafazenda e foge sem levar a vaca, estaremos diante de furto consumado,

mesmo que os meliantes não tenham subtraído a vaca. Nesse caso, a  ratio da decisão é que houve a perda total do bem de modo a impedir suarestituição e, como tal, deve ser punido o agente pelo crime de furto.

Furto e conflito aparente de normas penais:  O agente furta um bem e depoisefetua sua venda a um terceiro de boa-fé  –  existem duas posições sobre oassunto: 1ª) O crime de disposição de coisa alheia como própria (CP, art.171, § 2º, I) resta absorvido, pois se constitui em fato posterior impunível(princípio da consunção). Aquele que subtrai um bem, ao vendê-lo, nada

mais faz do que agir como se fosse seu legítimo proprietário. 2ª) Há doiscrimes, em concurso material: furto e disposição de coisa alheia comoprópria. A circunstância de serem os crimes cometidos contra vítimas

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diferentes, uma da subtração e outra da fraude, impede a incidência doprincípio da consunção - MASSON.

FURTO DE USO: O furto de uso, desde que caracterizado, excluirá atipicidade. Nucci e Masson defendem que, a partir do momento em que a

vítima der falta do bem, estará afastado o furto de uso. Trata-se de institutocriado pela doutrina e aceito pela jurisprudência aplicável quando o agentenão tem o animus de ter a coisa para si.

- Para que o furto de uso possa se consumar, precisamos de três requisitos:

1.  o bem precisa ser infungível; 2.  uso momentâneo, de curta duração; 

3. restituição integral da coisa.

OBS.1: A jurisprudência afasta a possibilidade do reconhecimento do furto de usoquando a intenção do agente é utilizar o bem alheio momentaneamente, porém,para fim criminoso, pois, caso contrário, poderia haver estímulo a esse tipo deconduta. Assim, comete furto em concurso material com o outro crime quem subtraimomentaneamente um carro para usá-lo em um sequestro.

OBS.2: Com relação ao veículo, há doutrina que afirma não ser possível o furto deuso se o agente não restituir a gasolina consumida. Porém é minoritário.

PARÁGRAFO 1º - CAUSA DE AUMENTO AO FURTO PRATICADO DURANTEREPOUSO NOTURNO:A majorante do repouso noturno, segundo entendimento atualíssimo do STJ,incide tanto no furto simples quanto no qualificado - HC 306.450-SP. Esserepouso noturno varia conforme os costumes da localidade. O repousonoturno de uma pacata cidade do interior não é o mesmo período derepouso noturno de uma capital. O parágrafo primeiro trabalha com ocostume interpretativo, aclarando o significado de uma expressão.

DIVERGÊNCIA:  A  jurisprudência majoritária  defende que a causa deaumento de pena pelo furto durante repouso noturno é aplicável tantodiante da residência habitada quanto na desabitada, aplicando-se tambémem estabelecimentos comerciais, justificando-se pela maior vulnerabilidadecausada pela ausência de luz e menor vigilância do bem nesses horários. Aorevés, corrente minoritária admite tão somente a incidência da qualificadorado repouso noturno quando diante de residência habitada, pois na

desabitada não há repouso que justifique o liame entre a circunstânciaprevista na causa de aumento e a conduta criminosa.

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FURTO PRIVILEGIADO  –   Trata-se do furto quando o agente é primário  e acoisa furtada é de pequeno valor. Segundo a doutrina majoritária, pequenovalor intitula-se coisas de até um salário mínimo. Nesse caso, o juiz podesubstituir a pena de reclusão pela detenção, diminui-la de 1 a 2/3, ou podeaplicar somente multa.

É possível furto privilegiado cometido durante o repouso noturno? SIM!  Épossível a ocorrência de crime de furto simultaneamente privilegiado epraticado durante o repouso noturno. No concurso de causas de aumentoou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um sóaumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que maisaumente ou diminua.

É possível furto qualificado privilegiado –  FURTO HÍBRIDO? O STJ já tranquilizou

a jurisprudência de que é possível a combinação de furto qualificado eprivilegiado, desde que não haja incompatibilidade, fundamentando-se emquestões de política criminal, impedindo, no entanto, a substituição da penado furto qualificado por multa. Todavia, há corrente que nega a figura dofurto hibrido, pautando-se na posição topográfica da privilegiadora emrelação à qualificadora e, principalmente, na incompatibilidade dagravidade abstrata das figuras qualificadas com o privilegio previsto aocrime de furto. 

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA versus FURTO DE PEQUENO VALORPrima facie, deve ser analisada a possibilidade de aplicação do princípio dainsignificância. Somente utiliza-se o furto privilegiado, de pequeno valor,quando não é possível afastar a tipicidade material da conduta. A doutrinavem entendendo que até 1 salário mínimo é possível aplicar o furto depequeno valor; enquanto para fins de insignificância tem-se o limite jurisprudencial de 10% a 20% do salário mínimo.

FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA:

O §3º do art. 155 do CP, afirma que é considerado objeto material do crimede furto tudo o que faça funcionar outro aparelho ou que tenha finalidadealém da sua existência, que possua valor econômico. Diante disso, incluemseaqui a energia elétrica, a energia atômica, o gás e água encanada.

- Tem-se duas situações diversas:

(1) Furto de energia elétrica em que se equipara à coisa móvel a energiaelétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico (Ex. águaencanada). Esta conduta se apresenta sob o tão famoso “gato”,

situação em que se liga um fio da via pública ao agente delituoso ,caracterizando furto mediante fraude.

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(2) Quando a pessoa altera o relógio para pagar valor menor estamosdiante de crime de ESTELIONATO e não de furto qualificado pelafraude. (Posição do STJ - Majoritária). Nelson Hungria, caracteriza estecrime como furto mediante fraude (Minoritária). 

MUITO IMPORTANTE: Furto de energia elétrica  –   pagamento do valor devido  –  extinção da punibilidade: “Furto de energia elétrica (art. 155, § 3º, do Código

Penal). Acordo celebrado com a concessionária. Parcelamento do valor

correspondente à energia subtraída. Adimplemento. Possibilidade de aplicação

analógica das Leis 9.249/1995 e 10.684/2003. Extinção da punibilidade. (…) Se o

pagamento do tributo antes do oferecimento da denúncia enseja a extinção da

punibilidade nos crimes contra a ordem tributária, o mesmo entendimento deve seradotado quando há o pagamento do preço público referente à energia elétrica ou

a água subtraídas, sob pena de violação ao princípio da isonomia” (STJ: HC

252.802/SE, em 17/10/2013)

FURTO DE ENERGIA GENÉTICA: questão de prova do MP narrava um caso em que

um indivíduo, possuidor de uma cadela, desejava cruzá-la com o cachorro de seuvizinho, ainda que sem o seu consentimento. Nessa situação, ele, durante a noite,

lança a cadela no quintal alheio a fim de realizar a sua empreitada. A prova

perguntava qual crime foi praticado. A resposta é exatamente o furto de energia,

no caso, energia genética, como é o exemplo do sêmen de boi, que possui valor

econômico.

SUBTRAÇÃO DE SINAL DE TV: A subtração de imagens e sons, de sinal de TV àcabo, segundo doutrina majoritária é considerada furto de energia elétrica.No entanto, o STF e, atualmente, até mesmo o STJ, defendem que não háamparo em nosso ordenamento jurídico para tal tipificação visto que o sinalde TV não se trata de energia e o seu enquadramento como talcaracterizaria analogia in malan partem, pois a energia se consome, seesgota, diminui, ao passo que o sinal de TV a Cabo não se gasta. Afirmam,contudo, que a conduta se amolda ao tipo previsto no art. 35, da Lei n.8.977/95. Porém, importante ressaltar que este dispositivo traz apena o

preceito primário, não sendo admitida a punição do delito por ausência deprevisão do preceito secundário. (STJ.AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº1.185.601/RS e REsp 1189391/RJ) 

A partir de agora, passaremos a analisar as qualificadoras do crime de furto:

I  –   destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa   –   Oentendimento majoritário do STJ segue o raciocínio de Nelson Hungria,afirmando que quebrar o vidro para furtar a bolsa qualifica o furto e se

quebrar o vidro para furtar o carro não qualifica, pois o vidro é parteintegrante do carro. Outrossim, NUCCI entende que o quebrar do vidropara subtração do veículo afigura-se como furto qualificado, afirmando

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que o obstáculo pode ser parte integrante do bem ou não. Importanteassinalar que há forte divergência jurisprudencial e doutrinária sobre essetema, hipótese em que os Tribunais Superiores já se posicionaram emambos os sentidos.

Por seu turno, vale destacar que mais recentemente o STJ afirmou que édesproporcional aplicar a qualificadora quando se quebra o vidro parafurtar acessórios dentro do veículo e não aplicá-la quando se subtrai opróprio automóvel, entendendo pela aplicação do furto simples a ambos oscasos - HC 152.833/SP, rel. Min. Nilson Naves, 6.ª Turma, j. 05.04.2010.

CASO CONRETO:  o indivíduo, sabendo que o seu amigo guarda joias em um

cofre fácil de ser carregado, pede para ele um copo d’água e, aproveitandose

do momento em que o seu colega sai, de imediato coloca o cofre em uma

bolsa. Ao chegar à sua casa, decide arrombá-lo para subtrair as joias. Aqualificadora em análise somente pode ser aplicada quando a destruição ourompimento do obstáculo ocorrer antes ou durante a consumação do furto  –  sedepois de consumado o furto o sujeito desnecessariamente destruir ou romperum obstáculo, responderá por furto simples e dano consumado - MASSON. ***

Em relação ao cão de guarda, há duas posições: (a) pode ser definido comoobstáculo, razão pela qual sua morte enseja a qualificadora, pois atua comoentrave à prática da conduta criminosa –  Flavio A. Monteiro Barros; e (b) não sepode considerá-lo obstáculo, no sentido técnico da palavra, e sua mortepoderá caracterizar crime de dano, mas não a qualificadora em estudo  –  VictorRios Gonçalves. ***

Obs.1: Se determinado veículo não pode ser retirado do local em decorrência dedispositivos antifurto ou problemas mecânicos, configura tentativa de furto.   Se opunguista enfia a mão no bolso errado do cidadão trata-se de circunstanciaacidental, respondendo então, por tentativa de furto. CONTUDO, se a vítima nãotrazia consigo nenhum objeto configurará crime impossível, no caso de furto.

Obs.2: Cuidado! Se o agente desativa ou remove o obstáculo sem destruí-lo, nãoincide a qualificadora. Se a pessoa desativou o alarme do carro, removeu tapumes,sem destruí-los, não há qualificadora. É necessário destruir ou romper o obstáculo. 

II  –  abuso de confiança, mediante fraude, escalada e destreza

a)  Abuso de confiança –  quem confia acaba por não vigiar o bem.b)  Mediante fraude  – burla da vigilância da vítima sobre o bem como

forma de possibilitar a subtração.c)  Escalada – ter acesso ao local da subtração por via anormal e difícil.

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d)  Destreza –  habilidade manual extraordinária utilizada como arma paradissimular a subtração do bem, fazendo com que a vítima não aperceba.

A destreza é meio de peculiar habilidade física ou manual. Esta qualificadora

é cabível unicamente quando a vítima traz seus pertences juntos ao corpo .Se a vítima percebe: é porque, teoricamente, não houve destreza, então ocrime se enquadra em tentativa de furto simples. Se um terceiro percebe, odelito será de tentativa de furto qualificado pela destreza.

FAMULATO:  Trata-se do furto qualificado praticado pelo empregado, sendoimprescindível que haja a violação da confiança e que esta tenha facilitadoa subtração. Segundo Cleber Masson "a mera relação empregatícia, por sisó, não é assaz para caracterizar o abuso de confiança.

CUIDADO:  Subir em poste para roubar fios não qualifica o furto pelaescalada, pois esta qualificadora pressupõe via anormal para que alcance ofim almejado pelo agente, qual seja, a subtração da coisa. No caso, a únicavia para o furto dos fios é a escalada. (Magistratura/SP). O caso do Bancocentral de Fortaleza foi praticado mediante escalada. Escalada não precisaser necessariamente subindo, cavar um túnel pode ser escalada. (STJ RESP759039).

STJ, 5ª Turma, REsp 1239797 (16/10/2012):  Em razão do significativo grau dereprovabilidade do modus operandi do agente, não é possível a aplicaçãodo princípio da insignificância ao furto praticado mediante escalada (art.155, § 4º, II, do CP).

Diferença entre furto mediante fraude e estelionato: O furto mediante fraudenão se confunde com o estelionato. No estelionato a fraude é utilizada paraque a vítima, em erro, se desaposse, isto é, entregue a coisa, situação emque a transferência da posse é bilateral. No furto, entretanto, a fraude é

utilizada para diminuir a vigilância e possibilitar a retirada arbitrária da coisada esfera do dono, situação em que a transferência da posse se dá deforma unilateral. 

Casos específicos:1.  O crime envolvendo o teste drive de veículos automotores caracterizaestelionato, segundo MASSON, mas a jurisprudência (STJ) consolidou oentendimento de que se trata de furto qualificado pela fraude,fundamentando-se na precariedade da posse e, principalmente, em

motivos de política criminal. Com efeito, busca-se a proteção da vítima

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relativamente à reparação do dano, uma vez que os contratos de segurosão obrigados ao ressarcimento de crimes de furto, mas estão isentos nahipótese de estelionato.2.  Se uma pessoa finge estar locando um veículo, fica com o bem para sie desaparece estarmos diante de estelionato, segundo a melhor doutrina.

3. 

No caso de pessoa que se finge de manobrista para subtrair o bem,teremos hipótese de furto qualificado pela fraude.3.  A adulteração do relógio medidor caracteriza estelionato (BANCA); Noentanto, segundo Profs. Álvaro Mayrink e Nelson Hungria há furto mediantefraude (Minoritaríssima).4.  O “gato”, envolvendo energia elétrica ou água é considerado furtomediante fraude.5.  Se houver desconto cheque no caixa, mediante adulteração dodocumento, o crime será de estelionato, situação em que o crime de falso

restará absorvido.6.  O uso de cartão clonado em estabelecimentos comerciaiscaracteriza-se como estelionato.7.  Caso o agente, após subtrair a coisa, danifica partes que guarneciama coisa (dolo de danificar), responderá por furto em concurso material como crime de dano.8.  Um indivíduo cego resolve pagar seu almoço com uma nota de R$20,00, devendo receber de troco R$ 10,00, mas a funcionária doestabelecimento, aproveitando-se da situação, entrega-lhe uma nota de R$

5,00. O crime é de furto mediante fraude, pois houve a retirada arbitrária dovalor da esfera patrimonial da vítima.9.  Uma pessoa vai em uma loja e pretende praticar uma subtração. Elacoloca numa caixa um produto diverso de maior valor. Fecha a caixa querepresenta um produto de menor valor e, no momento de pagar o produto,ele paga pelo produto descrito na caixa (de menor valor). Esse caso desubstituição de embalagem do produto é furto mediante fraude ouestelionato? Ex. Furto mediante fraude. A substituição da embalagem foiuma fraude para a vítima perder a vigilância sobre a coisa subtraída.

Cuidado!! Substituição de embalagem é furto mediante fraude. Mas,substituição de preço é estelionato.10.  Uma mulher foi numa loja, experimentou roupas no provador ecolocou o casaco dela por cima das roupas que ela vestiu e foi embora.Qual o crime? R: Furto mediante fraude.

III  –  com emprego de chave falsa.Admite-se a qualificadora até mesmo quando diante da cópia da chaveverdadeira. Somente é verdadeira aquela que é sua, que você e sua família

utilizam para abrir seu domicílio. Nesse sentido, a jurisprudência do STJ afirmaque o emprego de gazuas, mixas, arames ou qualquer outro instrumento,

ainda que sem a forma de chave, mas apto a abrir fechadura ou imprimir

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funcionamento em aparelhos e máquinas, a exemplo, automóveis,caracteriza a qualificadora do art. 155, § 4º, inciso III, do Código Penal. (HC119.524/MG)

CUIDADO: No caso de chave verdadeira furtada, para Hungria e Masson, o

que se tem é furto mediante fraude. Esse é o entendimento majoritário. 

CHAVE FALSA NA IGNIÇÃO DE VEÍCULO: É prevalente o entendimento de quenão incide a qualificadora do uso de chave falsa quando esta é utilizada naignição do veículo.  A qualificadora só se verifica quando a chave falsa éutilizada externamente a "res furtiva", vencendo o agente o obstáculopropositadamente colocado para protegê-la. (Masson e STJ; REsp 43047/SP)

IV  –   mediante concurso de 2 ou mais pessoas. Deve haver liame subjetivo

entre os autores e partícipes do delito, ou seja, não se admite autoriacolateral. A doutrina e jurisprudência majoritárias exigem que amboscooperem na subtração da coisa, não sendo necessária a presença físicados agentes. Atenção: A absolvição de coautor desqualifica o furto para

simples, salvo demonstrada a existência de um outro coautor ou partícipe. 

IMPORTANTE: Com exceção da qualificadora do abuso de confiança, quepossui índole subjetiva, todas as demais são de natureza objetiva e, como tal,comunicam-se aos respectivos coautores e partícipes que dela tomaram

conhecimento (art. 30 do CP), conforme Masson.

PARÁGRAFO 5º -  Furto de automotor que é retirado do estado de origem eenviado para outro estado ou país. Essa qualificadora somente se perfaz se oautomóvel foi efetivamente levado para outro estado ou país. Não importa seele foi furtado com esse objetivo, pois para se consumar o furto nestaqualificadora deve haver a entrada do veículo em outro estado ou país.OBS.1: O objeto material deve ser veículo automotor (conceito do CTB).Então, não abrange embarcações ou aeronaves. OBS.2: Apesar de o §5º

falar em “Estado”, prevalece abranger também o Distrito Federal. IMPORTANTE: Segundo boa parte da doutrina, não se admite a modalidadedo crime tentado nesta hipótese, em razão da adoção da teoria da amotio. 

Ademais, no concurso entre a qualificadora do parágrafo 5º e as do 4º doart. 155, aplica-se a qualificadora de maior gravidade, qual seja, a doparágrafo 5º, sendo incabível a condenação simultânea com base nas duasqualificadores. (Pág. 448, R. Greco)

Roubo de Uso:  A doutrina entende ser possível o roubo de uso, desde quecumpridos os requisitos: o bem precisa ser infungível; uso de curta duração;

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restituição integral da coisa. A figura não é atípica diante do roubo de uso,devendo ser aplicado o crime de CONSTRANGIMENTO ILEGAL, art. 146 (R.Greco). Contudo, Masson aduz que não se admite a figura do roubo de uso,pois a integridade física ou psicológica maculada não é passível derestituição integral, devendo ser imputado ao agente o crime de roubo,

mesmo que haja a devolução integral e utilização momentânea do bem  –  entendimento também dos Tribunais Superiores.

SUBTRAÇÃO POR TROMBADA: O “encontrão” ou “trombada” parasubtração desperta divergência. Uma primeira corrente entende configurarviolência caracterizando roubo. Uma segunda corrente ensina que faz parteda destreza, configurando furto qualificado pela destreza. Tem que analisaro caso concreto, para saber as consequências físicas que isso deixou navítima. 

Não é possível a coexistência entre crime de roubo e o princípio dainsignificância em virtude da violência ou grave ameaça incutida à vítima.

Não é cabível adoção do princípio da insignificância quando o furto écometido por policial militar, pois há alto grau de reprovação na conduta dopaciente, visto que o policial militar, aos olhos da sociedade, representaconfiança e segurança, exigindo-se dele um comportamento adequado -STJ: HC 160.435/RJ.

ART. 157 –  ROUBOTrata-se de crime pluriofensivo, pois ofende tanto o patrimônio quanto aintegridade física da vítima. Estamos diante de um crime complexo,

resultando da fusão de duas figuras típicas: furto e constrangimento ilegal. 

O tipo penal se subscreve dessa forma: “Subtrair coisa alheia móvel para si

ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depoisde havê-la, por qualquer meio, reduzido a possibilidade de resistência”. Paracaracterizar a grave ameaça, ela deve ser crível, capaz de constranger avítima. A grave ameaça pode até mesmo ser implícita, devendo apenas seridônea a causar temor na vítima. A execução  do delito inicia-se com oemprego da violência ou grave ameaça.

ELEMENTO SUBJETIVO:  Tanto o furto quanto o roubo precisam de elementosubjetivo específico, qual seja, assenhorar-se da coisa móvel definitivamente

(animus rem sibi habendi). Não se faz necessário o animus lucrandi, sendoirrelevante, também, para ambos, o motivo do crime.

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SUJEITO PASSIVO: O proprietário, possuidor ou detentor da coisa móvel, bemcomo qualquer outra pessoa que seja atingida pela violência ou graveameaça. Como se vê, é possível a existência de duas ou mais vítimas de umúnico crime de roubo, pelo fato de se tratar de crime complexo.

Pessoa jurídica pode ser vítima de roubo? Cuidado, pois estamos diante deum crime pluriofensivo. Em seu aspecto patrimonial ela pode ser vítima.Agora, em seu aspecto integridade física, não.

CONSUMAÇÃO:  Adota-se a teoria da amotio, com as mesmas divergências

apresentadas ao crime de furto.

TIPOS DE VIOLÊNCIAViolência própria:  Consiste no emprego de violência ou grave ameaça.

Violência imprópria:  Utilização de meio que reduza a possibilidade deresistência da vítima. Ex. dar drogas à vítima, embriagá-la, soníferos ou

hipnose para posterior subtração do bem.

- É possível falar em grave ameaça por emprego de magia negra ou outrosmeios sobrenaturais?A grave ameaça consiste na coação psicológica. De acordo com a doutrinamoderna, deve ser considerada a condição pessoal da vítima, não se aplicando oparâmetro do homem médio. Assim, a depender da crença da vítima, é possível

falar na utilização desses meios para efetuar a subtração. Qualquercomportamento que tenha o condão de ameaçar a pessoa é capaz de gerar aelementar.

ROUBO PRIVILEGIADO:  Não existe a figura do roubo privilegiado, sendoinadmissível a extensão do privilégio do furto (art. 155, § 2º, do CP) ao crimede roubo. Somente há a figura privilegiada nos crimes patrimoniais em que aviolência não faz parte do elemento típico. 

ROUBO PRÓPRIO: O caput do art. 157 traz o roubo próprio, onde a violênciaou grave ameaça ocorrem antes ou durante a subtração. O momentoconsumativo, de acordo com os tribunais superiores, se dá com a merasubtração do bem (T. da Amotio). O roubo próprio admite violência própria eimprópria, mas, como veremos, o roubo impróprio não admite violênciaimprópria.

ROUBO IMPRÓPRIO OU POR APROXIMAÇÃO:  O Art. 157, 1º traz a figura doroubo impróprio, situação em que a violência ou grave ameaça ocorre após

a subtração do bem (apoderamento) a fim de assegurar a impunidade docrime ou detenção da coisa para si ou para terceiro. A conduta começa

como se um furto fosse, mas por motivo das circunstâncias faz-se

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necessário a imposição de violência ou grave ameaça para ver consumadoo delito –  dolo cumulativo. O crime de roubo impróprio não admite tentativa e se consuma no momento em que há o emprego da violência ou graveameaça para assegurar a impunidade do crime, CRIME FORMAL, deconsumação antecipada.  Contudo, se houver lesão corporal ou morte,

estaremos diante de roubo qualificado pela lesão grave ou latrocínio.

 ATENÇÃO: o roubo impróprio NÃO admite violência imprópria.

Vamos treinar? O sujeito está realizando um furto e, ao perceber a presença dovigilante, aplica um sonífero para fugir. R: furto simples, pois o roubo impróprio nãoadmite violência imprópria.

Pergunta de Concurso (DIFÍCIL):  Quando Fulano ia se apoderar da televisão deBeltrano, o proprietário aparece, surpreendendo Fulano na sua casa. Fulanoemprega a violência contra Beltrano e foge sem levar o objeto desejado. Qualcrime praticou Fulano?  R: Fulano praticou furto tentado em concurso com lesõescorporais. Não houve prévio apoderamento, e por isso não há roubo impróprio. Nãohouve violência anterior para a subtração, então, não pode haver roubo próprio,tampouco. Logo, é furto tentado seguido de lesão corporal. Se Beltrano morresse, oFulano responderia por tentativa de furto em concurso com homicídio, pois olatrocínio é qualificadora do roubo. Se não houve roubo, não pode haver latrocínio.

ROUBO DE COISA ILÍCITA: A coisa ilícita pode ser objeto material do crimepatrimonial, desde que tenha valor econômico. O STJ, inclusive, admite oroubo de máquina caça níquel.

JURISPRUDÊNCIA: No que tange ao crime de roubo, é irrelevante que oofendido não portasse bens a serem subtraídos, afastando a tese de crimeimpossível e caracterizando, ao menos, o crime na modalidade tentada emvirtude do emprego de violência ou grave ameaça. Não se fala eminsignificância no roubo, pois ela pressupõe a mínima afetação do bem jurídico, pois, ainda que haja mínima afetação ao patrimônio, há afetação àintegridade física/liberdade individual.  Cleber Masson, contudo, defende aaplicação do crime impossível nesta hipótese. Outrossim, no crime de furto,

se a vítima não trouxer nenhum bem a ser furtado, configura crimeimpossível.

CUIDADO: Aquele que subtrai os bens de pessoa completamenteembriagada  responde por furto simples e não por roubo, pois, paracaracterizar o crime de roubo com violência imprópria, o agente deve atuarde modo colocar a vítima em situação de impossibilidade de resistência,como ocorre no caso do “Boa Noite Cinderela”.

- DISTINÇÃO ENTRE ROUBO E EXTORSÃO:ROUBO EXTORSÃO

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1.  No roubo o mal é iminente e a 1. No crime de extorsão o mal é

vantagem contemporânea. prometido e a vantagem a que se visa

2.  Prescindibilidade do são futuros.

comportamento da vítima para 2. Há a imprescindibilidade do obtenção davantagem. comportamento da vítima para obtenção da vantagemindevida.

CUIDADO: Se o agente, mediante grave ameaça, subtrai os bens da vítima eem ato contínuo subtrai o cartão de crédito da vítima, exigindo a senha,estaremos diante de roubo e extorsão em concurso material de crimes.Lembrar que a diferença principal reside na prescindibilidade da vítima.

ROUBO CIRCUNSTÂNCIADO (Também conhecido como “roubo agravado” ou

“roubo majorado”) que importa as seguintes causas de aumento de pena: 

I –  Emprego de armaFrise-se que arma de brinquedo não pode ser utilizada para majorar aconduta, mesmo que a vítima acredite que a arma seja de verdade. Emprincípio, a utilização de arma de brinquedo não caracteriza a causa deaumento de pena prevista no art. 157, § 2º, I, do CP. Mas, como a apreensãoda arma não é obrigatória para a aplicação da majorante, é possível adeclaração em juízo, pela vítima, no sentido de ter sido o roubo praticadocom emprego de arma. E, se a arma não foi apreendida, muito menospericiada, presumir-se-á que se cuidava de arma verdadeira, e não de merobrinquedo. Em que pese tratar-se de presunção relativa, será muito difícil oréu comprovar ter utilizado na execução do delito uma arma “finta”. Emsuma, inverte-se o ônus da prova, e dele será complicado o acusadodesvencilhar-se com êxito.

ATENÇÃO: simular estar armado não incide o aumento de pena. Será roubosimples, caracterizando apenas a ameaça ! 

A arma pode ser própria (objeto criado com destinação ofensiva) ouimprópria (objeto criado com destinação que não para ferir, para ofender  –  faca, casco de vidro, foice)  –   Aplica-se a interpretação extensiva. Tanto asarmas próprias quanto impróprias caracterizam o roubo circunstanciado. 

Necessidade ou desnecessidade de apreensão e perícia da arma: Oentendimento atual do Plenário do Supremo Tribunal Federal é no sentido deserem desnecessárias, para fins de aplicação da causa de aumento depena prevista, a apreensão da arma e sua respectiva perícia, desde que seu

emprego e potencial lesivo sejam provados por outros meios.

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- Roubo com emprego de arma e crime de porte –  Concurso de crimes?Segundo STF, o crime de roubo absorve o crime de porte de arma, se dentrode um mesmo contexto fático. No entanto, se o agente costuma andararmado e em determinada data resolve pela prática do crime de roubo,teremos crime de roubo em concurso material com o crime de porte,

relacionado à utilização desta dias antes e pelo crime posterior de roubo.Lembrar que o constrangimento ilegal não absorve o crime de posse ouporte de arma.

- Roubo com emprego de arma e crime de porte –  Concurso de crimes?Segundo STF, o crime de roubo absorve o crime de porte de arma, se dentrode um mesmo contexto fático. No entanto, se o agente costuma andararmado e em determinada data resolve pela prática do crime de roubo,teremos crime de roubo em concurso material com o crime de porte,

relacionado à utilização desta dias antes e pelo crime posterior de roubo.Lembrar que o constrangimento ilegal não absorve o crime de posse ouporte de arma.

JURISPRUDÊNCIA:  Em se tratando de roubo praticado com arma de fogo,todos os que contribuíram para execução do tipo respondem pelamajorante e pelo latrocínio, mesmo não agindo diretamente na execuçãodeste, pois assumiram o risco pelo evento mais grave, sob a égide da Teoriado Domínio do Fato - STF. (desde que tenham o conhecimento da existência

da arma).

II  –  se há concurso de duas ou mais pessoas.Frise-se que não é necessário que existam as duas pessoas no momento daconsumação, pode haver um mentor ou mesmo partícipe. Há correnteminoritária exigindo que haja duas pessoas, no mínimo, praticando atosexecutórios. Essa causa de aumento deve ser aplicada ainda que um doscoautores seja inimputável, desde que haja discernimento para a prática doato.

III –  se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhecetal circunstância.  Cumpre destacar que deve integrar a atividadeprofissional da vítima e ser realizado para terceiros (doutrina). A hipótese do§2º, III, ocorre quando a vítima está em serviço de transporte de valores. Essacausa de aumento alcança todos aqueles que se encontrem na prestaçãode serviço de transporte de valores, seja um carro forte ou um office boy. Essesvalores podem ser representados, além do dinheiro, por pedras preciosas e ostítulos ao portador, porém não se confundem com mercadorias.  Ademais,  o

sujeito passivo desta causa de aumento de pena não pode ser oproprietário dos valores transportados. Todavia, se o agente desconhece

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essa circunstância, não se agrava a pena, senão haverá responsabilidadepenal objetiva. 

IV-  se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportadopara outro Estado ou para o exterior. Aplica-se o mesmo raciocínio da

qualificadora do furto, porém vale lembrar que aqui estamos diante de umamajorante, que possui idêntico valor das demais.

V  –  Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.Trata-se de qualificadora que incide quando o agente delituoso restringe aliberdade da vítima com intuito simplório em garantir a subtração do bem. Otexto legal se reporta à restrição da liberdade, e não à sua privação.Havendo privação de liberdade, pode restar caracterizado o concurso decrimes entre roubo e seqüestro. Segundo STF, a restrição de liberdade, para

fins de incidência desta causa de aumento, deve ser aquela necessária paragarantir o crime de roubo que está sendo praticado. Assim, se há a privaçãode liberdade por tempo superior à garantia do delito patrimonial, existeplena possibilidade do sujeito responder pelo crime de roubo em concursocom o crime de sequestro.

PARÁGRAFO 3º - ROUBO QUALIFICADO

a) pela lesão grave (ou gravíssima)  - aplica-se ocorrendo qualquer dashipóteses do art. 129, § 1º e 2º do CP. O resultado secundário pode

advir a titulo doloso ou preterdoloso (dolo na subtração e culpa nalesão grave). Note que a lesão grave pode recair em terceira pessoaque não o detentor da coisa. Consuma-se no momento da lesão.Logo, admite-se tentativa na parte dolosa do delito. Cuidado! A

 primeira parte do § 3º não constitui latrocínio e, sendo assim, não se

afigura como crime hediondo, mas admite prisão temporária.

b) pela morte (latrocínio) -  Latrocínio é matar para roubar! Trata-se decrime hediondo, com pena de 20 a 30 anos, sem prejuízo da multa.

Note que o resultado agravador pode ser atribuído ao agente tantode forma dolosa quanto culposa. 

CUIDADO: No latrocínio, a morte da vítima somente qualifica o delito quandodecorre da violência dolosa empregada. Se a morte advém da graveameaça, a hipótese será apenas de roubo simples em concurso comhomicídio culposo. Ex. Mévio subtrai bem de Tício mediante grave ameaça

que, em virtude desta, infarta e vem a falecer no momento da ação. 

ATENÇÃO:  Nos dizeres de Rogério Greco, Masson e Rogério Sanches, emrazão da interpretação sistemática (topografia dos dispositivos) do CP, não

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é possível aplicar ao roubo qualificado pela lesão corporal grave ou morteas causas de aumento de pena previstas no parágrafo anterior . Por exemplo,não é possível latrocínio com causa de aumento pelo emprego da arma defogo. Porém, as circunstâncias majorantes do parágrafo segundo poderãoser consideradas pelo juiz, na fixação da pena-base (art. 59, do CP).

ELEMENTO SUBJETIVO DO CRIME:  Trata-se, em regra, de um crimepreterdoloso, no entanto, a doutrina e jurisprudência admitem o latrocíniocom dolo na conduta principal e dolo no resultado morte. Nesse caso,quando há dolo também no resultado morte, admite-se o latrocínio tentado.

MULTIPLICIDADE DE LATROCÍNIOS:  Segundo a jurisprudência hodierna, aexistência de um ou mais latrocínios deve estar relacionada à quantidadede patrimônios, individualmente, afrontados pelo agente delituoso. Se para

roubar um banco eu mato dois guardas, teremos apenas um crime delatrocínio, devendo ser levada em consideração as duas mortes para fixar apena base. Contudo, se surpreendo duas pessoas na rua para subtrair seusbens, há dois patrimônios afrontados e, havendo morte de ambos, respondopor dois latrocínios em concurso formal.

CUIDADO:  Se o furto foi feito para forjar um latrocínio e tirar as suspeitas doverdadeiro assassino, na verdade, o agente praticou um homicídio. Mas, se amorte foi um meio, há latrocínio.

A MORTE DE UM DOS COMPARSAS CARACTERIZA LATROCÍNIO?  Depende.Caso um dos agentes delituosos venha a morrer por um disparo do própriocomparsa  contra uma das vítimas (aberratio ictus) há imputação dolatrocínio, respondendo como se tivesse atingido a pessoa que queriaofender. Contudo, se o disparo for realizado por policias ou pela própriavítima em legítima defesa  face ao criminoso, ocasionando a morte deste,não haverá latrocínio. Ademais, a morte da vítima utilizada como escudotambém transforma a conduta em latrocínio, mesmo que os disparos não

tenham sido efetuados pelos agentes delituosos.

COMPETÊNCIA: Segundo súmula 603 do STF, é da Justiça Comum diante delatrocínio.

CONSUMAÇÃO: Na hipótese de morte consumada e subtração tentada, hátrês posições:1ª corrente: Para Mirabete e Nucci, o que se tem é um latrocínio consumado,pois basta a violência do roubo e o resultado morte. (Majoritária - Súmula 610

do STF). 2ª corrente: para Hungria, há homicídio consumado em concurso com roubo

tentado.

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3ª corrente: Para Frederico Marques e Rogério Greco, o que se tem é umatentativa de latrocínio, pois estamos diante de um crime complexo e severifica a realização incompleta de um dos delitos que estão fundidos notipo penal.

ATENÇÃO 1:  A jurisprudência do STF é firme no sentido de configurarconcurso formal a ação única que tenha como resultado a lesão aopatrimônio de vítimas diversas, e não crime único. Assim, o STF afasta a tesede concurso material ou crime continuado daquele que anuncia o roubo adiversas vítima dentro do coletivo. (HC 91615/RS) Contudo, há crimecontinuado no caso do agente que assalta diversas unidades de umcondomínio. 

ATENÇÃO 2:  se o agente emprega grave ameaça ou violência (própria ou

imprópria) contra uma só pessoa, subtraindo bens de titularidades diversasque estavam em seu poder, deve ele responder por vários crimes de roubo,em concurso formal impróprio ou imperfeito, dependendo do número depatrimônios lesados. Esta regra será aplicada somente quando o ladrãosouber que atinge patrimônios diversos, sob pena de caracterização daresponsabilidade penal objetiva.

EXTORSÃO – 158

Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça com intuito deobter para si ou para outrem vantagem indevida.

Se a vantagem é devida (legítima), verdadeira ou suposta, o crime será o deexercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). Não basta serindevida a vantagem  –   é necessário que seja ainda econômica. Não setratando de vantagem econômica, afasta-se o crime de extorsão. Emverdade, a expressão “indevida vantagem econômica” possibilita um maiorraio de incidência, atingindo inclusive os bens imóveis. Em suma, um bem

imóvel não pode ser roubado ou furtado, mas certamente é possível que elefigure como a vantagem econômica da extorsão. *** 

ELEMENTO SUBJETIVO  - É o dolo. Exige-se também um especial fim de agir,representado pela expressão “com o intuito de obter para si ou para outremindevida vantagem econômica”. É esta finalidade específica que diferenciaa extorsão de outros crimes, tais como o constrangimento ilegal e o estupro,pois nestas infrações penais o núcleo do tipo também é “constranger”.

Na extorsão, o agente atua objetivando que a vítima realize uma condutasem a qual ele não conseguiria obter a vantagem, ou seja, há a

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imprescindibilidade da vítima para que haja o exaurimento do delito, que,na realidade, é o objetivo do criminoso (delito de intenção de resultadocortado). A grave ameaça deve ser crível, não precisando ser verdadeira.Ratificando, a conduta da vítima deve ser imprescindível para que o agentealcance os fins pretendidos por sua ação.

OBJETO JURÍDICO:  A extorsão é crime pluriofensivo. A lei penal tutela opatrimônio, principalmente, mas protege também a integridade física e aliberdade individual da vítima.

O QUE PODE SER OBJETO DA EXTORSÃO? O STJ decidiu que a extorsão podeser feita mediante ameaça de prejuízo econômico. Assim, não se exige quea ameaça se dirija apenas contra a integridade física ou moral da vítima.

CONSUMAÇÃO: –  Extorsão é um crime formal, ou seja, o agente não precisaobter a vantagem, bastando o constrangimento  para fins de consumaçãodo delito. S. 96 DO STJ

 

Parágrafo 1º   Aplica-se majorante de pena quando a vítima está sendoconstrangida por duas ou mais pessoas  ou quando diante de emprego dearma de fogo.

Parágrafo 2º  Extorsão com resultado lesão corporal ou morte, aplicandose

as mesmas penas do roubo qualificado pelo resultado. ATENÇÃO: Somenteincide essa qualificadora quando o resultado morte ou lesão corporal grave

recai sobre a vítima da extorsão e advém da violência, nunca daameaça. (STJ HC 113978/SP) Ademais, o resultado lesão corporal grave oumorte pode advir de dolo ou culpa, segundo a doutrina MAJORITÁRIA.

CUIDADO:  a extorsão qualificada pela morte é crime hediondo; Mas, aextorsão simples ou a qualificada pela lesão grave não é crime hediondo,assim como não o é o seqüestro-relâmpago.

SEQUESTRO-RELÂMPAGO   É modalidade qualificada do crime de extorsãoque consiste em restrição da liberdade da vítima como condição necessáriapara obtenção de vantagem econômica. Se resulta lesão corporal ou morteaplicam-se as penas previstas no art. 159, 2º e 3º. No tocante ao resultadomorte, é indiferente tenha sido ele provocado a título de dolo ou de culpa  –  em qualquer hipótese a qualificadora será aplicável. O resultado agravadordeve recair sobre a pessoa sequestrada. Se a lesão corporal grave ou mortefor suportada por outra pessoa que não a vítima da extorsão medianterestrição da liberdade, haverá concurso material entre o crime definido pelo

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art. 158, § 3º, do CP e homicídio (doloso ou culposo) ou lesão corporal grave.

Importante: O seqüestro relâmpago, art. 158, 3º, mesmo que resulte lesãocorporal ou morte, NÃO SE CARACTERIZA COMO CRIME HEDIONDO E NÃOADMITE PRISÃO TEMPORÁRIA.

DIFERENÇA: O sequestro-relâmpago não pode ser equiparado à extorsãomediante sequestro (CP, art. 159), uma vez que não há privação, masrestrição da liberdade com o desejo de obter, em face do constrangimento,e não da privação da liberdade, uma indevida vantagem econômica. Ademais, no sequestro relâmpago, o constrangimento mediante restrição daliberdade é feito à própria vítima, já na extorsão mediante sequestro oconstrangimento é direcionado a terceira pessoa, com intuito de exigênciade resgate. Neste, a vítima é utilizada como moeda de troca. 

FALSO SEQUESTRO: Nesse caso, a grave ameaça deve ser dada sob oenfoque da vítima do simulacro, pois, para ela, estamos diante de uma

grave ameaça e, portanto, diante de crime de extorsão. Frise-se que apresença de grave ameaça afasta a possibilidade de haver estelionato e oseqüestro é mero simulacro, não devendo ser considerado para fins detipificação, destarte, o que afasta também a possibilidade de imputação daextorsão mediante sequestro.

ART. 159 – EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO Seqüestrar pessoa com o fim de obter para si ou para outrem qualquervantagem, como condição ou preço do resgate.

Nesse caso, a pessoa é o meio para a obtenção de uma vantagem, atravésdo pedido de resgate. Trata-se de crime permanente. O crime de extorsãomediante seqüestro é crime hediondo em quaisquer de suas formas (art. 159,caput e §§ 1º a 3º), diferentemente do roubo e da extorsão, que sãohediondos apenas se qualificados pela morte. 

OBSERVAÇÃO: O tipo penal reporta-se a “qualquer vantagem”, não fazendo menção a ser econômica. Contudo, a esmagadora maioria dos penalistassustenta a necessidade de tratar-se de vantagem econômica e indevida.

CONSUMAÇÃO: O crime de extorsão mediante seqüestro é formal, ou seja, seconsuma no momento em que a vítima é seqüestrada, ainda que osseqüestradores não consigam obter a vantagem pretendida. Haverátentativa se os sequestradores não conseguirem arrebatar a vítima.

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SUJEITO PASSSIVO: Será vítima tanto o indivíduo privado da sua liberdade delocomoção quanto aquele que sofre o ataque no seu patrimônio. Então, avítima não é apenas a pessoa sequestrada, mas também aquela que teveque suportar o resgate.  A vítima precisa ser uma pessoa. Ex.: privar a liberdadede um animal de estimação ou dados de computadores (extorsão criptoviral),mesmo com a finalidade de resgate, caracteriza-se tão somente a extorsãosimples, pois o sequestro é mero simulacro.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA:  Quando o seqüestro dura mais do que 24h(Trata-se, nessa hipótese, de crime a prazo, uma vez que sua existência se

condiciona ao transcurso de determinado prazo legalmente previsto) e se oseqüestrado é menor de 18 anos ou maior de 60 anos, ou se é cometido porbando ou quadrilha teremos pena majorada.

Parágrafo 2º - A extorsão mediante seqüestro, quando do fato resulta lesãograve, é punida com pena de 16 a 24 anos. (Admite-se o resultado a título

de dolo ou culpa)

Parágrafo 3º - A extorsão mediante seqüestro, quando do fato resulta morte,é punida com pena de 24 a 30 anos. (Admite-se o resultado a título de dolo

ou culpa) 

OBS.:  No roubo e na extorsão só incide a qualificadora quando a lesão

corporal ou morte resultam da violência, ao passo que na extorsão mediantesequestro, a qualificadora restará configurada quando o resultado emanardo FATO, e não necessariamente da violência. Assim, se a vítima vier afalecer em virtude das ameaças, aplica-se a qualificadora da extorsãomediante sequestro.

ATENÇÃO:  Somente incide essa qualificadora quando o resultado morte ou

lesão corporal grave recai sobre o sequestrado. (STJ HC 113978/SP)  Énecessário que o resultado agravador atinja a pessoa sequestrada.  Se a

lesão corporal de natureza grave ou a morte for suportada por outra pessoa,esta circunstância implica o surgimento do concurso de crimes entreextorsão mediante sequestro e homicídio (doloso ou culposo) ou lesão corporalgrave ou gravíssima (ou culposa).

Parágrafo 4º - Trata-se de uma delação premiada e, para tal, deve ser umainformação eficaz de modo a facilitar a libertação do seqüestrado. Nessecaso, tem-se redução da pena em 1 a 2/3. Não há previsão legal dedelação premiada diante dos demais crimes patrimoniais, somente na

extorsão mediante sequestro. Contudo, há previsão legal na L. 8072/90 dedelação premiada para todos os crimes hediondos cometidos emconcurso de pessoas, quadrilha ou bando. Essa redução é proporcional à

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presteza na libertação do sequestrado. Quanto mais rápido se liberta osequestrado, maior a redução.

Art. 163 – CRIME DE DANO:

Conceito: Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.

O crime de dano exige o elemento subjetivo DOLO (animus nocendi), não seadmitindo o crime de dano na modalidade culposa. Trata-se de crime deação penal privada, material e que deixa vestígios. O sujeito ativo pode serqualquer pessoa, menos o próprio proprietário do bem, pois o verbetenormativo exige que o bem seja alheio.

Não há crime quando o dano recai sobre  res nullius  (coisa de ninguém) ou

 res derelicta (coisa abandonada), pois em tais hipóteses inexiste bem jurídicoa ser tutelado. Caracteriza-se o crime de dano, contudo, quando se tratarde  res desperdicta  (coisa perdida), uma vez que ingressa no conceito decoisa alheia.

A problemática da pichação:  Caracteriza crime ambiental quando recaisobre edificação ou monumentos urbanos. Já quando recai sobreedificações ou monumentos públicos rurais, a conduta se amolda ao crimede dano previsto no Código Penal, na modalidade deteriorar, visto que a

referida lei somente prevê o fato em objetos urbanos.

DANO QUALIFICADO:I –  com violência à pessoa ou grave ameaça; A grave ameaça ou violência

deve ser empregada anterior ou concomitantemente ao dano, visto que tais

condutas funcionam como meios de execução do crime utilizadas para

assegurar a danificação. (STJ Apn 290/PR)

O crime de ameaça é absorvido pelo crime de dano qualificado. Contudo,

se houver violência contra a pessoa, afigurar-se-á concurso material decrimes obrigatório. Cuidado, pois a violência contra a coisa não enseja aqualificadora do dano, somente contra a pessoa. Por fim, anote-se que odano com violência ou grave ameaça contra a pessoa ou coisa é de AçãoPenal Pública Incondicionada.

II   –  Com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato nãoconstitui crime mais grave; O crime de dano qualificado previsto neste inciso

 somente é aplicado se o meio empregado não resulta em crimes de perigo

comum, pois, se assim o for, o crime de dano restará absorvido por aquele.Ex. Mévio explode o navio de Arnaldo que estava em alto mar. Neste

exemplo, como a explosão fora em alto mar, sem implicar em perigo

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comum, aplica-se somente o crime de dano com causa de aumento depena. Contudo, segundo doutrina majoritaríssima, se a explosão causarperigo comum, o crime de dano restará absorvido pelo crime de explosão,tipificado no art. 251. Por fim, anote-se que diante desta qualificadora a açãoserá Penal Pública Incondicionada.

III   –   Contra patrimônio da União, Estado, Município, empresaconcessionária de serviço público ou sociedade de economia mista; O

dispositivo não faz menção às autarquias, empresas públicas, fundações

 públicas e permissionárias , o que nos permite concluir que se restar

caracterizado dano face a estas pessoas jurídicas, estaremos diante de

crime de dano simples. Por fim, anote-se que diante desta qualificadora aação será Penal Pública Incondicionada.

Em entendimento recente, o STJ afirma que, como o inciso III não fala no“Distrito Federal”, a conduta de destruir, inutilizar ou deteriorar o patrimôniodo DF não configura, por si só, o crime de dano qualificado, subsumindo-se,em tese, à modalidade simples do delito. É inadmissível a realização deanalogia in malam partem a fim de ampliar o rol contido no art. 163, III, doCP, incluindo o Distrito Federal. (HC 154.051-DF, julgado em 4/12/2012)

Problemática da danificação da cela para fuga:1ª CORRENTE: Há crime de dano qualificado, fulcro no art. 163, III do CP, pois

basta a destruição ou deterioração de coisa alheia, prescindindo do fim deprejudicar o patrimônio alheio. (STF; HC 73189/MS)

2ª CORRENTE: Não há crime de dano, pois o agente não quer danificar opatrimônio público, faltando-lhe o animus nocendi, visto que sua finalidadelimita-se a busca da liberdade. (STJ 85271/MS)

IV  –   Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima; O

motivo egoístico é facilmente identificado diante do caso concreto. O

 prejuízo considerável deve ser analisado levando-se em conta o valor do

bem danificado e a situação econômico-financeira da vítima. Por fim, anote-se que diante desta qualificadora afigura-se Ação Penal Privada.

ATENÇÃO¹: Documento  –   a) Insubstituível: supressão de documento; b)Substituível: crime de dano.ATENÇÃO²: A introdução de animais em propriedade alheia, sem oconsentimento de quem de direito, caracteriza o delito de dano, caso o fatoresulte em prejuízo.

Art. 168 – APROPRIAÇÃO INDÉBITA

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Na apropriação indébita o agente ativo já tem a posse ou detenção licita dobem, no entanto, surge no agente o animus de se apropriar do bem, emdissonância ao que era inicialmente pretendido pelas partes. Nelson Hungriamenciona que em outros ordenamentos jurídicos essa modalidade delituosaé denominada Abuso de Confiança.

Cumpre destacar que, se o agente já tinha o animus de se apropriar do bem,ou seja, se havia dolo precedente, estaremos diante de estelionato e nãoapropriação indébita. Ex. Peço emprestado o livro a uma pessoa já com a

idéia pré-formulada em não devolvê-lo. Já na apropriação indébita, a posseinicial é feita sem qualquer reserva mental de se apropriar do bem, noentanto, esta se dá no curso do exercício da posse ou detenção do bem. Ex.

Peço um livro emprestado para estudar para a prova e percebo que ele é

um livro excelente, mas não tenho dinheiro para comprá-lo e, diante disso,

decido ficar com o livro para mim. Ex.2: Tenho um motorista que dirige meuveiculo e este, após 2 anos de trabalho, some juntamente com meu veículo.

Na apropriação indébita temos uma detenção desvigiada em virtude daconfiança. Se estivermos diante de situação vigiada, estaríamos diante deFURTO e não de apropriação indébita. Exemplo. O agente aluga filmes nalocadora ou livros na biblioteca e, vencido o prazo, recusa-se a devolvê-los. 

Para caracterizarmos o tipo penal da apropriação indébita, via de regra,

devemos estar diante de bem móvel infungível. A  ratio legis  estáintimamente relacionada a não possibilitar a criminalização quando diantede empréstimo de dinheiro. Se assim o fosse, aqueles que pegam dinheiroemprestado e se tornam inadimplentes, seriam condenados por crime deapropriação indébita.

Ademais, importante salientar que somente é aplicado esse tipo penalquando diante de dolo específico, ou seja, animus em se tornar proprietáriodo bem (animus rem sibi habendi). O momento consumativo do crime de

apropriação é interno, ou seja, caracteriza-se quando ocorre a inversãomental do agente em se tornar proprietário do bem. Doutrina majoritáriaentende ser possível a fragmentariedade do delito e, como tal, viável atentativa. Ao revés, doutrina minotirária aduz não ser factível a tentativa,uma vez que a consumação do delito é interna e psíquica. 

Causas de aumento de pena, quando o agente recebeu a coisa:

1.  em depósito necessário  –   Trata-se do depósito miserável, ou seja,

aquele que ocorre em virtude de tragédias; 2.

 

na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,

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testamenteiro ou depositário judicial  –   Não se aplica a descendentes ou

ascendentes, apenas aos que exercem múnus público.

3.  em razão de ofício, emprego ou profissão;

Art. 169 –  Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força maior.

Nesse caso, o agente ativo não pode ter contribuído em nada para aocorrência do erro, pois, se assim o fizer, estaremos diante de estelionato. Ex.

Porteiro confunde o número do apartamento, me liga e avisa que tem uma

encomenda de jóias em meu nome. Eu finjo que realmente tinha feito a

encomenda e mando subir. Nesse caso, eu mantive a pessoa em erro a fimde me beneficiar deste, configurando ESTELIONATO.

ART. 169, II –  APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA:Quem acha coisa alheia perdida deve devolvê-la ao dono ou entregá-la a

autoridade policial em 15 dias, sob pena de consumação do crime emquestão. A consumação ocorre no momento em que se esgota o prazo paradevolução do bem, ou seja, no 16º dia  –   crime de conduta mista. Se apessoa pega o bem que fora ESQUECIDO por uma outra pessoa, o crime seráde furto. (CUIDADO)

ART. 171 – ESTELIONATO

Obter,  para si ou para outrem,

vantagem ilícita, em prejuízo alheio,induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou

qualquer outro meio fraudulento. Tem sua origem no termo estelio  que serefere à figura do camaleão, animal que muda de cor a fim de enganar avítima.

CONSUMAÇÃO: O estelionato é um crime de duplo resultado, exigindo-se aobtenção da vantagem indevida e o prejuízo alheio. (STJ HC 36760/RJ)

QUANDO DIANTE DO CONCURSO ENTRE FALSO E ESTELIONATO HÁ 4CORRENTES:

(1) Aplica-se a súmula 17 do STJ, situação em que o falso é absorvido peloestelionato quando nele se exaure, sem mais potencial lesivo;

(2) Segundo STF, estamos diante de bens jurídicos distintos e, como tal,devem ser imputados ao agente os dois crimes em concurso formal,mesmo quando o falso se exaure no estelionato. (RHC 83.990 –  MG)

(3) Hungria defende que o falso deve absorver o estelionato, pois aqueleé mais grave do que este.

(4) 

Rogério Greco defende a adoção do Princípio da Consunção, mesmoquando o falso não se exaure no estelionato, visto que estamos diantede um crime meio que objetiva um crime fim.

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SUJEITO PASSIVO:  tanto a pessoa enganada, como a pessoa que sofreu oprejuízo (STF HC 21051/SP). As vítimas, portanto, podem ser pessoas distintas(ex. funcionária e empregador). A vítima deve ser pessoa certa edeterminada. As condutas voltadas a pessoas incertas e indeterminadas,

ainda que sirvam de fraude para obter vantagem ilícita em prejuízo alheio,configuram crime contra a economia popular (art. 2º, XI, da Lei 1.521/1951).Se alguém vier a ser efetivamente lesado, haverá concurso formal entre ocrime contra a economia popular (contra as vítimas incertas eindeterminadas) e o estelionato (contra a vítima certa e determinada)

Ex.1: O taxista adulterou o taxímetro, trabalhando com o taxímetro adulterado. Quando elealtera o taxímetro, qualquer passageiro será vítima dessa fraude. Então, há um crime contra aeconomia popular.Ex.2: Adulteração da bomba de gasolina, de modo que o mostrador do preço a pagar gira

mais rápido do que a quantidade de gasolina que está sendo colocada no tanque do cliente.Há um crime contra a economia popular, pois essa adulteração visa a vítimas incertas eindeterminadas. Cuidado! Adulteração de bomba de gasolina configura crime contra aeconomia popular. Já a adulteração do combustível caracteriza crime previsto na Lei8.176/91.

QUANDO A VÍTIMA DA FRAUDE É INCAPAZ: Para ser vítima de estelionato éfundamental que esta tenha capacidade para discernir. Quando a pessoanão tem discernimento nenhum, estaríamos diante de FURTO MEDIANTE

FRAUDE. Se existe parcial discernimento, estaremos diante do crime de ABUSO

DE INCAPAZ, previsto no art. 173. 

Diante do crime de estelionato não podemos analisar a manutenção dealguém em erro sob a perspectiva do homem médio, visto estarmos diantede vítima individual. Assim, a questão do crime impossível sofre certamitigação de parâmetro diante do crime em comento. Vide súmula abaixo:Súmula nº 73  -Papel Moeda - A utilização de papel moeda grosseiramentefalsificado pode configurar, em tese, o crime de estelionato, dacompetência da Justiça Estadual.

FRAUDE CIVIL vs. FRAUDE PENAL. Nelson Hungria menciona que a fraudepenal ocorre quando o agente faz parecer que o risco não existe. Ademais,o direito penal é subsidiário, somente chamado a atuar quando os demaisramos do direito não são efetivos. Assim, somente se aplica o crime deestelionato às fraudes civis extremas, que extrapolem as barreiras do direitocivil. Ex. Crime de condicionamento de garantia diante de atendimentoemergencial –  art. 135-A do CP.

Torperza Bilateral: Os Tribunais Superiores e a doutrina majoritária refutam atese da torpeza bilateral, afirmando que a  má-fé da vítima não exclui o

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crime por ela sofrido. RESP 1055960 STJ. No entanto, boa parte da doutrinaafirma que o direito penal não protege aquele que atua ilicitamente. (NelsonHungria, Masson e Rogério Greco) Ex. 1. pessoa que compra bilhete deloteria falso por valor irrisório; 2. pessoa que compra uma máquina destinadaà falsificação de dinheiro.

ESTELIONATO PRIVILEGIADO: Ocorre quando o agente é primário  e o

prejuízo é de pequeno valor. Art. 171, 1º. Mas, atenção: no furto privilegiado

e na apropriação indébita privilegiada tem ser pequeno o valor da coisa eprimário o réu; no estelionato privilegiado tem de ser pequeno o valor doprejuízo e primário o réu.

O PARÁGRAFO 2º TRAZ HIPÓTESES OUTRAS FRAUDES (NÃO SÃO ESTELIONATO): I- Disposição de coisa alheia como própria: Ocorre quando o agente vende,

permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheiacomo própria;

APROPRIAÇÃO INDÉBITA OU FURTO E ALIENAÇÃO CONSEQUENTE DO BEM:(DIVERGÊNCIA) 

(1) Segundo Rogério Greco, quando o agente comete crimeantecedente de apropriação indébita e o vende a fim de transformaro bem em dinheiro, o estelionato é considerado pós-fato impunível, demodo que o a gente deverá responder apenas pelo crime de

apropriação.(2) Ao revés, corrente diversa entende que se trata de ofensa a dois

institutos diferentes e, como tal, reside a prática tanto do crime deapropriação indébita quanto do estelionato, visto que ele estávendendo coisa alheia como se própria fosse (art. 171, 2º, I), Hungria.

II  - Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria: Ocorre quandoo agente vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própriainalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender aterceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquerdessas circunstâncias; 

III  - Defraudação de penhor  -  Ocorre quando o agente defrauda,mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, agarantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; 

IV - Fraude na entrega de coisa - Ex. o reparador do produto de consumo durável

(automóvel, videocassete etc.) substitui peça nova, sem dano, por outra usada. A coisaimóvel também pode ser defraudada. Se a defraudação envolversubstância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-a

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nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo, estará configurado o crimeprevisto no art. 272 do CP. Se a defraudação relacionar-se a produtodestinado a fins terapêuticos ou medicinais, será imputado ao agente ocrime previsto no art. 273 do CP, de natureza hedionda (art. 1º, VII-B, da Lei8.072/1990). A entrega de coisa defraudada a título gratuito não configura o

crime em tela, por ausência de dano patrimonial àquele que a recebe.

V  - Fraude para recebimento de indenização do valor de seguro - Ocorrequando o agente destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, oulesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão oudoença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro; Nesse caso,se o agente ainda comunica fato que não ocorrera para recebimento deseguro, poderá responder por essa modalidade especial de estelionato emconcurso com o delito de falsa comunicação de crime.

VI  - Fraude no pagamento por meio de cheque  -  Ocorre quando oagente emite cheque, sem suficiente provisão de fundos ou lhe frustra opagamento.  A frustração do pagamento ocorre quando, a principio, ocheque tem fundos, no entanto o indivíduo pratica atos a obstar o seupagamento, como: sustar, revogar o cheque e assinar de forma diversa dopadrão objetivando o não pagamento do título.

SÚMULAS SOBRE O ESTELIONATO MEDIANTE CHEQUE:STF 246 –  Não há crime de estelionato na modalidade de cheque sem fundosse não houver dolo em fraudar ou obstruir o pagamento.STF 521 e 244 STJ  –  O momento consumativo do crime de cheque sem fundo se caracteriza no momento da recusa do banco sacado, devolução docheque por insuficiência de fundos.STJ 48 Compete ao juizo do local da obtenção  da vantagem ilícitaprocessar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de

cheque. (Não confundir com cheque sem fundo!) STF 554  –   O pagamento do cheque após o recebimento da denuncia nãoobsta o prosseguimento da ação penal. Assim, se o cheque for pago até orecebimento da denúncia demonstra com o seu atuar que não tinha oobjetivo de fraudar e será considerado um fato não punível criminalmente.

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- Pergunta de Concurso: O endossante pode figurar como sujeito ativo? R: São duascorrentes:1ª Corrente) Não abrange o endossante, pois o endossante não “emite” o título decrédito (Nucci). O endossante pode responder como partícipe ou como coautor doestelionato, mas jamais como autor.2ª Corrente) Entende que a expressão “emitir” deve ser tomada em seu sentidoamplo, abrangendo o endosso. Essa corrente é minoritária.

- Pergunta de Concurso: Emissão de cheque pós-datado sem fundos configuracrime?R: Deve-se analisar se houve ou não má-fé. Pós-datar cheque é prática costumeiraque desnatura o título, deixando de ser ordem de pagamento a vista, revestindo-sede mera garantia de crédito. Não há crime, salvo quando evidente a má-fé doagente, que se vale de cártulas pós-datadas para obter vantagem. STJ: RHC 733 / BA 

Cheque para pagamento de prostituta e dívidas de jogo: O entendimentoprevalente é de que não se caracteriza o delito, porque inexiste patrimônio a ser

 juridicamente tutelado.Cheque dado em garantia de dívida: não há estelionatopara pagamento à vista. Se utilizado como promessa dedescaracterizado o título de cré caso, que tenha ocorrido

o cheque é titulo de

se considerando, no

ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO: Aplica-se o aumento de pena de 1/3 quandoo estelionato é cometido em detrimento de entidade de direito público oude instituto de economia popular, assistência social ou beneficiência. Nessecaso teremos um crime permanente ou instantâneo de efeitos permanentes,a depender de quem seja o agente ativo. O STF entende que, no que tangeao beneficiário, se trata de crime permanente, ou seja, o prazo prescricionalcomeça a correr a partir do momento da última percepção do benefício -HC 102049. Importante mencionar que o falsário que viabiliza o benefícioindevido a terceiro, segundo STF, comete crime instantâneo de efeitopermanente  e, como tal, a prescrição começa a correr no momento dapercepção do primeiro benefício auferido por terceiro. Isto posto, é possívelverificar que existe duas figuras distintas abarcadas no caso e duasconseqüências distintas para cada uma.(REsp 1.282.118-RS - 2013)  Se a pessoa, após a morte do beneficiário, passa a

receber mensalmente o benefício em seu lugar, mediante a utilização do cartão

magnético do falecido, pratica o crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º,

do CP) em continuidade delitiva.

  Segundo entendimento do STF, não é possível aplicação do princípio dainsignificância diante de estelionato previdenciário, em virtude do alto grau

de reprovabilidade da conduta e expressividade de dano ao bem jurídicotutelado pela norma: HC N. 110.124-SP .

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CURANDEIRISMO E ESTELIONATO:  Existe figura própria para o crime decurandeirismo (art. 284, CP). No entanto, imperioso distinguir quando aplicaro referido artigo e quando aplicar o estelionato. Aplica-se o crime decurandeirismo quando o curandeiro acredita ser capaz de resolver osproblemas da vítima, ainda que cobre pelos serviços prestados. Em razão

disso, o curandeirismo consta entre os crimes contra a saúde pública. Aorevés, o estelionatário sabe ser fraudulento o meio utilizado, sabe ser inidôneoa resolver as necessidades da vítima, aproveitando-se de sua vulnerabilidadepara obter vantagem ilícita, em prejuízo alheio.

ADVOGADO QUE COBRA HONORÁRIOS AO CLIENTE QUE POSSUI GRATUIDADEDE JUSTIÇA. ESTELIONATO? Advogado pode cobrar honorários contratuais deseu cliente no caso de êxito da ação, ainda que este seja beneficiário da justiça gratuita. Não há qualquer ilegalidade ou crime nessa conduta. (HC

95058/ES) 

ART. 180 – RECEPTAÇÃOClássico exemplo de crime parasitário, ou seja, depende de crimepréexistente. É caracterizado pelo ato de adquirir, receber, transportar,conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe serproduto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, recebaou oculte. A palavra “crime” deve ser interpretada restritivamente. Logo, se a

coisa é produto de contravenção penal, não se caracteriza o crimetipificado pelo art. 180 do Código Penal.

SUJEITO ATIVO:  O sujeito ativo não pode ter colaborado em nada para ocrime antecedente, pois se assim o fizer, será considerado coautor ou atémesmo partícipe do crime antecedente. Quem participa do crimeantecedente não responde por receptação, sendo esta conduta meroexaurimento do crime anterior, pós-fato impunível.

SUJEITO PASSIVO: A receptação tem como sujeito passivo a mesma vítima docrime antecedente, que é mais uma vez prejudicada em seu patrimônio.Note-se, portanto, que não surge um novo ofendido em razão da prática docrime tipificado pelo art. 180 do Código Penal.

Perceba que o legislador, ao contrário do que fez no art. 155, caput, doCódigo Penal, não utilizou outras duas palavras “alheia” e “móvel”. Surgementão duas dúvidas: (1) É possível a receptação de coisa própria?  e (2) Épossível a receptação de coisa imóvel? Vejamos.

1.  No tocante à palavra “alheia”, nada obstante não indicadaexpressamente pelo tipo penal, é claro que tal condição funciona como

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elementar implícita do crime de receptação. Trata-se de crime contra opatrimônio, e não há como imaginar uma pessoa que seja simultaneamentesujeito ativo e passivo de um delito contra o seu próprio patrimônio.Exemplificativamente, se, porventura, o proprietário adquirir do ladrão acoisa que lhe fora furtada, não cometerá delito algum, pois ele é o próprio

titular do bem jurídico ofendido. Porém, há que defenda que o proprietáriopoderá responder pelo crime de receptação, pois o tipo não exige que obem seja alheio.

Ex.1: Fulano percebe que seu relógio subtraído há meses está sendo vendido numa feira.Fulano adquire novamente o relógio. Ele praticou receptação? Não. Não há receptação,pelos fundamentos acima.

Ex.2: Fulano percebe que seu relógio empenhado para garantir uma dívida estava sendovendido por terceiro. Fulano adquire o relógio que empenhou. Aqui, houve a prática dereceptação (o agente sabe que o bem estava na legítima posse de terceiro, obviamente

foi objeto de furto, e a pessoa mesmo assim o adquiriu). 

2.  Quanto à possibilidade do bem imóvel ser objeto do crime dereceptação, Fragoso entende que tanto a coisa móvel, como a imóvelpodem ser objeto de receptação. Contudo, Hungria, Noronha e o STF (RT546/413) entendem que só pode haver receptação de coisa móvel.

PRODUDO DE CRIME: O fato de o produto do crime anterior ter sido alteradoem sua individualidade (exemplo: o anel roubado é transformado em um par

de brincos) ou então substituído por coisa de natureza diversa (dinheiro, porexemplo), não afasta a receptação, pois o tipo penal fala indistintamenteem “produto de crime”. Porém, não ingressam no conceito de produto docrime o “preço do crime” (exemplo: o valor cobrado pelo matador dealuguel para assassinar alguém) nem o instrumento do crime (exemplo: aarma de fogo utilizada na execução de um roubo), motivo pelo qual nãopodem ser considerados objetos materiais da receptação. Nessa hipótese, ocrime configurado será o de favorecimento pessoal (CP, art. 348) A figura dareceptação se aproxima bastante do crime de favorecimento real (art. 349)

e do crime de lavagem de dinheiro(Art. 1, L.9613). A receptação exige umafinalidade específica (elemento subjetivo do tipo) que está na expressão“em proveito próprio ou alheio”. Isso significa que o agente deve cometer ocrime com a finalidade de obter vantagem patrimonial para ele ou paraterceira pessoa. No favorecimento real o agente intenciona apenas o auxilio,sem tirar proveito econômico. Já no crime de lavagem de dinheiro, existeclara intenção de dar ao bem caráter lícito através de dissimulações.

A figura da receptação se aproxima bastante do crime de favorecimentoreal (art. 349) e do crime de lavagem de dinheiro(Art. 1, L.9613). A

receptação exige uma finalidade específica (elemento subjetivo do tipo)

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que está na expressão “em proveito próprio ou alheio”. Isso significa que oagente deve cometer o crime com a finalidade de obter vantagempatrimonial para ele ou para terceira pessoa. No favorecimento real oagente intenciona apenas o auxilio, sem tirar proveito econômico. Já nocrime de lavagem de dinheiro, existe clara intenção de dar ao bem caráter

lícito através de dissimulações.

RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA:  Influir para que terceiro, de boa-fé, adquira,receba ou oculte. Percebe-se, logo de início, a atipicidade da conduta deinfluir um terceiro, de boa-fé, a transportar ou conduzir coisa produto decrime. É fundamental que o terceiro, pessoa que adquire, recebe ou ocultaa coisa, esteja de boa-fé, pois esta situação desponta como elementar dotipo penal. Se ele agir de má-fé, responde também como receptador, naforma do art. 180, caput, 1.ª parte, do Código Penal (receptação própria), e

quem o influenciou será partícipe deste delito. Trata-se de verbo núcleo dotipo do crime de receptação, crime formal, crime unissubsistente, nãocomportando a figura da tentativa.

RECEPTAÇÃO QUALIFICADA: É a modalidade de receptação no exercício deatividade comercial ou industrial, quando diante de coisa que deve saberser produto de crime. Equipara-se a atividade comercial a irregular,clandestina ou mesmo em âmbito residencial. Nesse caso, visa o legisladorimpedir o fomento da pratica delituosa. Mas, atenção! Não basta que a

pessoa seja comerciante para que incida a qualificadora. É imprescindível onexo entre a atividade do agente e a aquisição da coisa.

Ex. O agente é revendedor de automóveis e adquire um relógio produto de crime. Nesse

caso, não há a qualificadora. Mas, se o agente, revendedor de automóveis,

adquire um carro, por exemplo, incide a qualificadora. Segundoentendimento do STF, NÃO se aplica à receptação qualificada o princípio dainsignificância e nem mesmo a suspensão condicional do processo. STF HC105963/PE.

RECEPTAÇÃO PRÓPRIA E DOLO SUBSEQUENTE: A ampla maioria da doutrinanão admite a caracterização da receptação com dolo subsequente,exigindo-se o dolo antecedente (anterior à realização da conduta) ouconcomitante (simultâneo à realização da conduta).Por exemplo, se oagente obtém a coisa de boa-fé e só depois toma conhecimento de suaorigem criminosa, não a restituindo ao seu proprietário ou legítimo possuidor,somente responderá pelo delito de receptação, na forma dolosa, casopratique uma nova conduta típica, tal como quando procede à suaocultação.

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(RECEPTAÇÃO CULPOSA) –  Aplicável àquele que adquire ou recebe produtoque, por sua natureza ou pela desproporção entre valor e preço  ou pelacondição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.Nesse caso, admite-se a culpa como elemento caracterizador do crime dereceptação. Trata-se de um exemplo de crime culposo de tipo penal

fechado.

DESPENCA EM CONCURSO: A receptação é punível ainda que desconhecidoou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.

É possível a receptação de receptação?  A resposta é positiva. Para acaracterização do delito tipificado pelo art. 180 do Código Penal, exige-seseja a coisa “produto de crime”, qualquer que seja ele, inclusive a própriareceptação. Exemplo: “A” adquire de um desconhecido uma bicicleta,

sabendo que se tratava de produto de crime. Depois de utilizar o bem poralguns dias, ele efetua sua venda a “B”, advertindo-o da origem espúria dacoisa.

Parágrafo 5º - RECEPTAÇÃO PRIVILEGIADA: (1)  Receptação Culposa   Exige-se apenas a primariedade do agente,PODENDO o juiz deixar de aplicar a pena. (2)  Receptação Dolosa   Exige-se que o criminoso seja primário  e obem de baixo valor. O juiz PODE optar por substituir a pena de reclusão por

detenção, diminuir a pena ou aplicar somente pena de multa, se nãoentender cabível a isenção. * Prevalece o entendimento de que, embora a lei se utilize do verbo PODE,

trata-se de direito subjetivo do réu, devendo ser observado pelo juiz.RECEPTAÇÃO DE BENS PÚBLICOS:  Pune-se em dobro o crime  a receptaçãoquando diante de bens e instalações públicas de propriedade da adm.pública direta, concessionárias de serviços públicos, sociedades deeconomia mista.

DISPOSITIVOS COMUNS AOS CRIMES PATRIMONIAIS:

ART.181 –  É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos nestetítulo, em prejuízo:

1.  do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; Aplicável mesmoao separado de fato! 

2.  de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ouilegítimo, seja civil ou natural.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E PENAL. APLICABILIDADE DEESCUSA ABSOLUTÓRIA NA HIPÓTESE DE ATO INFRACIONAL. Nos casos de ato

infracional equiparado a crime contra o patrimônio, é possível que o

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adolescente seja beneficiado pela escusa absolutória prevista no art. 181, II,do CP. STJ: HC 251.681-PR.

DIFERENÇA ENTRE IMUNIDADE PENAL ABSOLUTA E PERDÃO JUDICIAL:Em ambos os casos o fato é típico, ilícito e culpável. Mas, as imunidades

penais absolutas impedem a instauração da persecução penal, sequerexistindo inquérito, pois elas são justificadas por questões objetivas, provadasde imediato. Por outro lado, o perdão judicial somente pode ser concedidona sentença ou no acordão, depois de cumprido o devido processo legal.Depende, portanto, do regular tramite processual, restando provado osrequisitos legais para sua concessão.

ERRO QUANTO À TITULARIDADE DO OBJETO MATERIAL:O art. 181 revela que somente se opera a imunidade absoluta (escusa

absolutória) quando a conduta criminosa recair objetivamente nopatrimônio das pessoas ali elencadas. Então, se a pessoa em erro acreditaestar subtraindo a carteira de seu pai, mas o bem é de um primo, não seaplicará a isenção prevista no artigo em comento. Mutatis mutantis, quandoo filho acredita estar subtraindo o bem de outrem, mas acaba subtraindo obem de seu pai, haverá incidência da imunidade absoluta. Em resumo, oerro é irrelevante, devendo o resultado ser analisado objetivamente.

Art. 182 –  Nestes casos a ação penal será condicionada à representação

(Imunidades Relativas):1.  do cônjuge desquitado ou judicialmente separado (não cabe ao

divorciado, somente ao separado, legalmente);

 2.  irmão;3.  do tio ou sobrinho, quando houver coabitação.

As imunidades relativas ou processuais têm o papel de transformar crimescontra o patrimônio de ação penal publica incondicionada em delitos deação pública condicionada à representação. Por corolário, as imunidades

relativas não se aplicam aos crimes patrimoniais originariamente de açãopenal pública condicionada e nem mesmo aos crimes de ação penalprivada.

Art. 183 –  Não se aplicam os institutos previstos nos dois artigos anteriores:

1.  Se o crime patrimonial envolve violência à pessoa ou graveameaça;

2.  Não se aplicam as imunidades se o crime é praticado contrapessoa de idade igual ou superior a 60 anos.

3. 

Não se comunicam as imunidades aos terceiros que participem dodelito;

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7/17/2019 Penal Parte Especial Crimes Contra o Patrimônio

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