dos crimes contra o patrimônio

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  Professor Saulo Fontana Direito Penal Teoria 1 É PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR  www.estudioaulas.com.br CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Professor: Saulo Fontana Todos os crimes contra o patrimônio em que não haja violência ou grave ameaça, se cometidos contra ascendentes, descendentes ou cônjuge, na constância do casamento, isentam o autor de pena. As imunidades aqui previstas são absolutas, que constituem causas que extinguem a punibilidade do agente, por razões de política criminal, sendo chamadas escusas absolutórias. Havendo dissolução da sociedade conjugal, não haverá a referida imunidade. Quanto aos ascendentes e descendentes, essa imunidade abrange qualquer que seja o grau de parentesco na linha reta, entretanto, não abrange o parentesco por afinidade (família do cônjuge). Frise-se que, com o advento da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), todo o crime contra o patrimônio cometido contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos será punido, não se aplicando à referida imunidade. Se a vítima é cônjuge separado judicialmente, aplica-se a imunidade relativa, que não se trata de causa extintiva da punibilidade, contudo, para a propositura da ação penal, exige-se que ela manifeste o desejo de representar criminalmente contra o agente, se o crime é de ação pública condicionada, ou queixa-crime, se o crime é de ação privada. Se os cônjuges são divorciados, já não se aplica a imunidade relativa, tendo em vista que a sociedade conjugal se extinguiu. A regra da imunidade penal relativa aplica-se também ao irmão e ao tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. Furto (art. 155) Subtração de coisa alheia móvel para si ou para outrem. Consuma-se com a posse ainda que momentânea da res furtiva (objeto do crime). Deve ser o bem corpóreo, passível de subtração e possuir valor econômico. As coisas incorpóreas, imateriais só poderão ser objeto de furto, se forem corporificadas em algum documento. Basta que o bem saia da esfera de disponibilidade da vítima e passe para a do agente para que o crime venha a se consumar. Coisa alheia se refere àquela que se encontra sob a posse, propriedade ou detenção de outrem. Bem móvel se refere àquele que pode ser transportado de um local para outro sem perda ou destruição de sua substância. Para a doutrina, se o bem é imóvel, mas puder ser transportado como, por exemplo, um navio, poderá ser objeto de furto. A coisa sem dono ( res nullius), coisa abandonada (res derelicta ) e a coisa perdida (res deperdita ) não podem ser objeto de furto, pois não está sob a posse, propriedade ou detenção de ninguém. Para a coisa perdida pode haver configurado outro delito contra o patrimônio como, por exemplo, a apropriação de coisa achada. O CP admite como furto a subtração de energia elétrica (ligação clandestina) ou qualquer outra que possua valor econômico (nuclear, mecânica, etc.). A doutrina admite o furto de sêmen (energia genética). O ser humano não pode ser objeto de furto, mas de crimes como sequestro, subtração de incapaz, etc. Pode haver furto de pernas mecânicas, peruca, dentadura, etc. Cadáver só pode ser objeto de furto se pertencer a alguém e possuir destinação específica (cadáver da faculdade de medicina). Do contrário, pode restar configurado o crime do art. 211 do CP (destruição, subtração ou ocultação de cadáver). A subtração de órgão de pessoa viva ou cadáver, para fim de transplante, insere-se no art. 14 da Lei 9.434/97. Não se fala de furto na conduta de se apropriar de coisa própria que se acha em poder de terceiros em razão de contrato ou determinação judicial, podendo haver, nesse caso, o delito capitulado no art. 346 do CP (subtração ou dano de coisa própria em poder de terceiros). A subtração da coisa alheia móvel poderá ser para o próprio agente ou para outrem (especial fim de agir). Para configurar o delito, a lei exige que o agente tenha o ânimo de se assenhorear definitivamente da coisa ( animus furandi  ou animus rem sibi habendi ). Como o elemento subjetivo do tipo é o dolo, não há se falar em furto culposo. Por se tratar de delito material, admite-se a tentativa, quando o agente não consegue subtrair o bem ou retirá-lo da esfera de vigilância da vítima, por circunstâncias alheias à sua vontade como, por exemplo, tentar subtrair um veículo com defeitos mecânicos, mas não logra no sentido de l evá-lo. Outro exemplo seria o do punguista que tenta subtrair carteira que se encontra em

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  • Professor Saulo Fontana Direito Penal

    Teoria

    1 PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR www.estudioaulas.com.br

    CRIMES CONTRA O PATRIMNIO

    Professor: Saulo Fontana

    Todos os crimes contra o patrimnio em que no haja violncia ou grave ameaa, se cometidos contra ascendentes,

    descendentes ou cnjuge, na constncia do casamento, isentam o autor de pena. As imunidades aqui previstas so

    absolutas, que constituem causas que extinguem a punibilidade do agente, por razes de poltica criminal, sendo

    chamadas escusas absolutrias. Havendo dissoluo da sociedade conjugal, no haver a referida imunidade. Quanto

    aos ascendentes e descendentes, essa imunidade abrange qualquer que seja o grau de parentesco na linha reta,

    entretanto, no abrange o parentesco por afinidade (famlia do cnjuge). Frise-se que, com o advento da Lei

    10.741/2003 (Estatuto do Idoso), todo o crime contra o patrimnio cometido contra pessoa com idade igual ou

    superior a 60 anos ser punido, no se aplicando referida imunidade. Se a vtima cnjuge separado judicialmente,

    aplica-se a imunidade relativa, que no se trata de causa extintiva da punibilidade, contudo, para a propositura da ao

    penal, exige-se que ela manifeste o desejo de representar criminalmente contra o agente, se o crime de ao pblica

    condicionada, ou queixa-crime, se o crime de ao privada. Se os cnjuges so divorciados, j no se aplica a

    imunidade relativa, tendo em vista que a sociedade conjugal se extinguiu. A regra da imunidade penal relativa aplica-se

    tambm ao irmo e ao tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

    Furto (art. 155)

    Subtrao de coisa alheia mvel para si ou para outrem. Consuma-se com a posse ainda que momentnea da res furtiva

    (objeto do crime). Deve ser o bem corpreo, passvel de subtrao e possuir valor econmico. As coisas incorpreas,

    imateriais s podero ser objeto de furto, se forem corporificadas em algum documento. Basta que o bem saia da

    esfera de disponibilidade da vtima e passe para a do agente para que o crime venha a se consumar. Coisa alheia se

    refere quela que se encontra sob a posse, propriedade ou deteno de outrem. Bem mvel se refere quele que pode

    ser transportado de um local para outro sem perda ou destruio de sua substncia. Para a doutrina, se o bem imvel,

    mas puder ser transportado como, por exemplo, um navio, poder ser objeto de furto. A coisa sem dono (res nullius),

    coisa abandonada (res derelicta) e a coisa perdida (res deperdita) no podem ser objeto de furto, pois no est sob a

    posse, propriedade ou deteno de ningum. Para a coisa perdida pode haver configurado outro delito contra o

    patrimnio como, por exemplo, a apropriao de coisa achada. O CP admite como furto a subtrao de energia eltrica

    (ligao clandestina) ou qualquer outra que possua valor econmico (nuclear, mecnica, etc.). A doutrina admite o furto

    de smen (energia gentica). O ser humano no pode ser objeto de furto, mas de crimes como sequestro, subtrao de

    incapaz, etc. Pode haver furto de pernas mecnicas, peruca, dentadura, etc. Cadver s pode ser objeto de furto se

    pertencer a algum e possuir destinao especfica (cadver da faculdade de medicina). Do contrrio, pode restar

    configurado o crime do art. 211 do CP (destruio, subtrao ou ocultao de cadver). A subtrao de rgo de pessoa

    viva ou cadver, para fim de transplante, insere-se no art. 14 da Lei 9.434/97. No se fala de furto na conduta de se

    apropriar de coisa prpria que se acha em poder de terceiros em razo de contrato ou determinao judicial, podendo

    haver, nesse caso, o delito capitulado no art. 346 do CP (subtrao ou dano de coisa prpria em poder de terceiros). A

    subtrao da coisa alheia mvel poder ser para o prprio agente ou para outrem (especial fim de agir). Para configurar

    o delito, a lei exige que o agente tenha o nimo de se assenhorear definitivamente da coisa (animus furandi ou animus

    rem sibi habendi). Como o elemento subjetivo do tipo o dolo, no h se falar em furto culposo. Por se tratar de delito

    material, admite-se a tentativa, quando o agente no consegue subtrair o bem ou retir-lo da esfera de vigilncia da

    vtima, por circunstncias alheias sua vontade como, por exemplo, tentar subtrair um veculo com defeitos mecnicos,

    mas no logra no sentido de lev-lo. Outro exemplo seria o do punguista que tenta subtrair carteira que se encontra em

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    um dos bolsos da vtima, mas enfia a mo em outro bolso no obtendo xito na subtrao da carteira. Caso a vtima

    tenha sado de casa, naquele dia, sem dinheiro, ser caso de crime impossvel.

    Qualificadores (furto qualificado)

    concurso de duas ou mais pessoas (ainda que algum dos envolvidos seja inimputvel ou no possa ser

    identificado, prevalecendo na doutrina o entendimento de que no necessrio que todos eles tenham

    praticado atos de execuo para que incida a qualificadora);

    havendo arrombamento (destruio ou rompimento de obstculo subtrao da coisa, no configurando a

    qualificadora o simples ato de desligar um alarme, tendo em vista no ter havido rompimento ou destruio

    de obstculo. Pelo fato de a infrao deixar vestgios, exige-se a realizao do exame de corpo de delito para

    configurar tal qualificadora), escalada (o agente se utiliza de uma via anormal para entrar em algum lugar,

    valendo-se de um esforo incomum. O que vai ser escalado precisa oferecer uma certa dificuldade ao

    escalante! Exige-se a realizao de percia para configurar a qualificadora), fraude (utilizar-se de ardil,

    artifcio, engodo para enganar a vtima, como se disfarar de aferidor de energia eltrica para entrar numa

    residncia e dela furtar algo, tendo em vista que a vtima, nessa situao, teve diminuda sua vigilncia sobre

    o bem) ou destreza (uso de habilidade fsica ou manual para se apoderar do bem sem que a vtima perceba.

    Se a vtima percebe que est sendo desposada de seus bens, no houve a qualificadora, mas tentativa de

    furto simples, j que no haveria destreza do agente na hiptese. No se fala em destreza se a vtima

    encontra-se dormindo. Se a vtima no percebe a retirada do bem, mas terceiros percebem, evitando a

    subtrao, haveria tentativa de furto qualificado);

    emprego de chave falsa (qualquer objeto capaz de abrir uma fechadura, ou seja, a gazua, como, por

    exemplo, a chave mixa. Tambm caracteriza aquela que imita a verdadeira. Se a chave utilizada for a

    verdadeira que o agente a furtou ou a obteve de maneira fraudulenta, no haver emprego de chave falsa,

    mas poder haver a qualificadora do meio fraudulento);

    havendo abuso de confiana ( o caso da empregada domstica, por exemplo, tendo em vista ter o agente

    se aproveitado da relao de confiana. A confiana a que se refere este item poder ser empregatcia, de

    amizade ou parentesco, etc.);

    subtrao de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Essa

    qualificadora no incide quando o agente transporta parte do veculo. Para que haja qualificadora,

    necessrio que exista a transposio de limites territoriais, pois, se o agente for surpreendido tentando

    transport-lo para outro Estado, haver furto simples e no qualificado. Se o agente consegue transpor a

    divisa de outro Estado, tendo sido perseguido e preso, dever responder por tentativa de furto qualificado.

    Furto noturno

    Embora haja aumento de pena, ser sempre simples. considerado furto agravado, mas no qualificado. H o aumento

    da pena porque a vtima tem mais dificuldade de defender o patrimnio nesse momento, em razo da menor vigilncia

    que exercida sobre os bens durante o repouso noturno. Pouco importa se a casa estava vazia ou habitada ou se o

    morador estava dormindo. Repouso noturno no se refere noite, j que esta o perodo que vai da aurora ao

    crepsculo, enquanto aquela o perodo em que as pessoas normalmente dormem. O aumento de pena aqui previsto

    (1/3) s se aplica ao furto simples, mas no se aplica ao qualificado.

    Furto de uso

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    No crime. O fato atpico, pois o agente no teve o especial fim de agir, mas subtraiu a coisa para uso momentneo

    e a devolveu nas mesmas condies. o caso do flanelinha que sai com o carro s para dar umas voltas, sem o intuito

    de subtrair o veculo.

    Furto de bagatela

    o que envolve coisa de valor nfimo, irrisrio. O privilgio aqui constante no se confunde com o princpio da

    insignificncia ou da bagatela. Este, admitido, refere-se falta de justa causa para a propositura da ao penal. J

    aquele, necessariamente, faz com que o agente incorra em delito. Se a coisa subtrada possuir valor afetivo, como, por

    exemplo, furto de uma fotografia da famlia, haver o crime de furto.

    Furto privilegiado

    Ocorre se o ru for primrio e a coisa furtada for de pequeno valor (aquela cujo valor no ultrapasse um salrio-mnimo

    quando do fato). O ru ser primrio se no for reincidente. Alm disso, cinco anos aps o cumprimento da pena ou

    logo depois de sua extino, o ru torna-se primrio novamente, se no vier, nesse perodo, a praticar novo ilcito. O

    juiz, neste caso, pode substituir a pena de recluso por deteno, diminu-la de um a dois teros ou aplicar somente a

    pena de multa.

    Furto de coisa comum (art. 156)

    Aplica-se a scio, condmino (coproprietrio) ou coerdeiro que subtraia para si ou para outrem a coisa comum, a quem

    legitimamente a detm. Se a posse ou deteno no legtima, o fato atpico. crime prprio. No punvel a

    subtrao de coisa fungvel (aquela que pode ser substituda por outra da mesma espcie, quantidade e qualidade),

    cujo valor no excede quota a quem tem direito o agente por se tratar de causa de excluso de ilicitude.

    Furto de animais no campo

    o chamado de abigeato, desde que tais animais possuam dono.

    Famulato

    o furto praticado por empregado a servio do patro.

    Famlico

    aquele para saciar a fome do agente ou de sua famlia, quando ele se encontrava em situao de extrema misria e

    pobreza (se o agente tem condio de exercer um trabalho honesto ou tenha subtrado bens suprfluos, dever

    responder pelo crime de furto). Neste caso a doutrina entende tratar-se de uma causa de excluso de ilicitude, o estado

    de necessidade. Na mesma excludente incorre o agente que se apodera de veculo para transportar pessoa gravemente

    ferida para o hospital.

    Roubo (art. 157)

    Subtrao de coisa alheia mvel com emprego de violncia ou grave ameaa a pessoa, ou depois de hav-la, por

    qualquer meio, reduzido a impossibilidade de resistncia da vtima. O objeto jurdico tutelado o patrimnio, posse,

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    propriedade, integridade fsica e liberdade individual, tratando-se, pois, de crime complexo. Por se tratar de crime

    comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o proprietrio ou possuidor do bem. J o sujeito passivo ser o

    proprietrio, possuidor, detentor da coisa ou qualquer outra pessoa que sofra a violncia ou a grave ameaa. A grave

    ameaa refere-se violncia psquica (vis compulsiva), que consiste em causar um mal iminente e grave como, por

    exemplo, a simulao de arma de fogo ou utilizao de arma de brinquedo. A violncia fsica (vis absoluta) a fora

    fsica que o agente exerce sobre a vtima com o fim de possibilitar subtrao do bem como, por exemplo, empurres

    violentos. O arrebatamento de objeto preso ao corpo da vtima, que a atinge somente por repercusso, no caracteriza

    roubo, mas furto. Reduzir a vtima impossibilidade de resistncia a chamada violncia imprpria como, por exemplo,

    obrigar a vtima a usar sonferos ou hipnotiz-la. O roubo prprio se consuma, segundo entendimento majoritrio, no

    momento em que o agente emprega violncia ou grave ameaa contra a pessoa, subtraindo o bem,

    independentemente de ele ter conseguido a posse mansa e pacfica do referido bem. J o roubo imprprio se consuma

    no momento em que o agente, aps retirar o bem da vtima, emprega violncia ou grave ameaa, pouco importando se

    ele conseguiu garantir a impunidade do crime ou a deteno da coisa. Para o roubo imprprio, entendimento

    majoritrio a inadmissibilidade da tentativa, tendo em vista que o agente, quando do emprego da violncia ou grave

    ameaa, j estaria consumando o delito.

    Agravantes (causas de aumento de pena)

    So chamadas erroneamente de qualificadoras do roubo, mas, na realidade, elas sero mesmo causas de aumento de

    pena. Ei-las:

    praticado por duas ou mais pessoas (concurso de agentes);

    havendo emprego de arma (instrumento utilizado para defesa ou ataque. Se a arma fabricada com a

    finalidade especfica de matar ou ferir como, por exemplo, o revlver, ela chamada de prpria; j, se um

    objeto produzido para outras finalidades, como a faca, ela ser imprpria. Justifica-se o aumento de pena

    pelo poder intimidatrio que o uso da arma causa sobre a vtima. A simulao de arma, como colocar a mo

    sob a blusa simulando estar armado, no faz incidir a majorante, embora constitua grave ameaa para o

    roubo). A arma de brinquedo (simulacro de arma), a desmuniciada e a quebrada no agravam o roubo, pois

    elas no constituem perigo efetivo vtima. No basta, para incidir a majorante, o mero porte ostensivo da

    arma, mas o seu efetivo uso pelo agente. Havendo concurso de agentes, se somente um deles estiver

    portando arma, o aumento de pena se aplicar a todos, j que, por se tratar de circunstncia objetiva, ela se

    comunica;

    praticado contra veculo de transporte de valores, desde que haja um conhecimento prvio da situao por

    parte de quem ir praticar o ato. No se aplica a majorante no caso de transporte particular de bens;

    se a subtrao for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o

    exterior;

    havendo restrio de liberdade da vtima, mantendo o agente a vtima em seu poder. Note que a privao

    da liberdade da vtima funciona como meio de execuo do roubo ou serve para permitir que o agente,

    aps a consumao do crime, se furte ao policial.

    Qualificao (roubo qualificado)

    resultando leso corporal de natureza grave. Essa forma qualificada aplica-se tanto ao roubo prprio

    quanto ao imprprio. A leso corporal aqui mencionada pode ocorrer a ttulo doloso ou culposo. Se a leso

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    dolosa, ser admissvel tentativa para o referido delito, contudo, essa qualificadora no constitui crime

    hediondo;

    resultando morte. Nesse caso, considera-se latrocnio. No latrocnio a morte no precisa, necessariamente,

    ser aps o roubo. Trata-se de crime complexo (roubo + homicdio). Embora haja um delito contra a vida,

    trata-se de um crime eminentemente contra o patrimnio, tendo em vista que o seu fim a subtrao

    patrimonial, razo pela qual no de competncia do Jri (smula 603 do STF). Este delito pode ocorrer

    mesmo que uma pessoa sofra a subtrao patrimonial e a outra, a violncia como, por exemplo, matar o

    guarda-costas e subtrair os bens do empresrio. O resultado morte pode ter sido causado a ttulo de dolo

    ou de culpa, mas somente na forma dolosa que se admitir a tentativa do referido delito. O crime de

    latrocnio consuma-se com a morte de algum em detrimento de um roubo independentemente se houve a

    efetiva subtrao da coisa. Pelo fato de a lei trazer a expresso se da violncia resultar, entende-se que

    no h latrocnio quando a morte decorre do emprego de grave ameaa pelo agente como, por exemplo, a

    vtima falecer em decorrncia de um ataque cardaco provocado pelo susto que sofreu em razo da grave

    ameaa. Neste caso o agente responder pelo crime de roubo em concurso formal com o homicdio.

    Havendo concurso de agentes e apenas um deles estiver armado e efetuar os disparos, o comparsa ir

    tambm responder pelo crime de latrocnio como coautor, desde que tenha conhecimento de que o

    companheiro trazia a arma. O latrocnio considerado crime hediondo mesmo na sua forma tentada. Por

    fim, segundo manifestou o STJ, o furto posterior morte da vtima constitui crime de latrocnio como, por

    exemplo, matar uma pessoa e, aproveitando-se de que ela j est morta, subtrair seus pertences.

    Roubo prprio X Roubo imprprio

    a) roubo prprio: primeiramente ocorre a violncia ou grave ameaa e s depois ocorre a subtrao (furto);

    b) roubo imprprio: primeiramente ocorre a subtrao (furto) e depois que acontece a violncia ou grave

    ameaa, a fim de que seja assegurada a impunidade do crime ou a deteno da coisa.

    No roubo no se aplica o Princpio da Insignificncia (bagatela), pois crime complexo, que protege outros bens alm

    do bem patrimonial (integridade fsica, por exemplo), contudo, a doutrina majoritria entende que o roubo de uso

    constitui crime.

    Extorso (art. 158)

    Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, a fazer, tolerar que se faa, ou deixar de fazer alguma coisa

    com o fim de obter vantagem econmica indevida. O objeto jurdico tutelado o patrimnio, a liberdade e a

    incolumidade pessoal. Por se tratar de crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive aquela que

    sofre constrangimento sem qualquer leso patrimonial. A violncia ou grave ameaa pode ser dirigida ao prprio titular

    do patrimnio ou a algum a ele ligado como, por exemplo, os filhos, os irmos. Como o delito tem o especial fim de

    agir, difere-se do crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP). A vantagem deve ser indevida, sob pena de restar

    configurado o crime de exerccio arbitrrio das prprias razes (art. 345 do CP). O referido crime no admite

    modalidade culposa. Por se tratar de crime formal, a consumao ocorre quando a vtima, devido ao emprego da

    violncia ou grave ameaa, faz, tolera que se faa ou deixa de fazer alguma coisa, no se exigindo a obteno de

    qualquer vantagem indevida por parte do agente, o que diz a Smula 96 do STJ que traz: o crime de extorso

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    consuma-se independentemente de obteno de vantagem indevida. O recebimento da vantagem econmica pelo

    agente ser mero exaurimento do crime. A vantagem deve ter cunho patrimonial, mas no necessrio que seja

    especificamente dinheiro. Este crime admite tentativa. O sequestro relmpago classificado como crime de extorso,

    tendo em vista que o comportamento da vtima imprescindvel para que o autor obtenha a indevida vantagem

    patrimonial almejada.

    Extorso mediante sequestro (art. 159)

    sequestrar pessoa com o fim de obter qualquer vantagem como condio ou preo do resgate;

    um crime complexo, porque alm do patrimnio outro bem violado: o direito de ir e vir;

    um crime permanente, pois sua ao se prolonga ao longo do tempo, e formal, pois, independe de o

    agente obter a vantagem;

    consumao: com o incio do cerceamento de ir e vir;

    cometido em concurso de pessoas, o concorrente que o denunciar autoridade, facilitando a libertao do

    sequestrado, ter sua pena reduzida de um a dois teros ( a chamada delao premiada). Observe que s

    haver a reduo da pena se a delao for eficaz, ou seja, de alguma forma, facilitar a liberao do

    sequestrado;

    apesar de o tipo penal fazer meno apenas ao sequestro, a doutrina entende essa expresso no sentido

    amplo, abrangendo tambm o crcere privado. Sequestro a privao de liberdade de locomoo de

    algum por tempo juridicamente relevante. Crcere privado a privao da liberdade em recinto fechado;

    crime hediondo em todas as suas modalidades;

    o crime ser qualificado: se o sequestro dura mais de 24 horas, se o sequestrado menor de 18 anos ou

    maior de 60 anos, se o crime cometido por quadrilha ou bando, ou, se do fato resultar leso corporal de

    natureza grave ou morte.

    Extorso indireta (art. 160)

    Exigir ou receber, como garantia de dvida, abusando da situao de algum, um documento passvel de gerar um

    procedimento criminal contra a vtima ou contra terceiro. Exemplo: um credor que recebe de seu devedor cheque sem

    suficiente proviso de fundos, com a inteno de, no futuro, apresentar o referido cheque e enquadrar o devedor na

    figura do estelionatrio.

    Diferena entre roubo e extorso

    No roubo, a coisa desejada est mo. Na extorso, a vantagem econmica depender de colaborao da vtima para

    ser alcanada.

    Apropriao indbita (art. 168)

    apropriar-se de coisa alheia mvel de que tem a posse ou a deteno. O agente recebe legitimamente a

    coisa alheia, mas passa a se comportar como se dono fosse (animus habendi), recusando-se a devolv-la. O

    proprietrio entrega a coisa, de forma livre e consciente;

    uma quebra de confiana;

    consumao: com a inverso do nimo, quando o agente passa da boa para a m f;

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    apropriao de coisa havida por erro, caso fortuito ou fora da natureza: a coisa veio ao poder do agente

    por erro (falsa percepo de uma realidade), caso fortuito (evento acidental que decorre de um

    comportamento humano) ou fora da natureza (evento acidental e imprevisvel provocado pela natureza).

    O agente recebe a coisa independentemente da sua vontade, contudo, livre e conscientemente, ele se

    apropria dela como se fosse seu legtimo dono;

    apropriao de tesouro: quem acha tesouro em prdio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota

    a que tem direito o proprietrio do prdio;

    apropriao de coisa achada: quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente,

    deixando de restitu-la ao dono ou legtimo possuidor ou de entreg-la autoridade competente. atpica a

    conduta do agente que acha coisa que foi abandonada ou coisa que nunca teve dono ou possuidor.

    Considera-se coisa perdida aquela que foi esquecida em local pblico ou de uso pblico. No entanto, aquele

    que se apodera de coisa que foi por outrem esquecida em local privado comete crime de furto. O agente

    tem o prazo de 15 dias para entreg-la autoridade competente, no caso de no t-la restitudo ao dono ou

    possuidor, caso contrrio, poder incorrer no delito em comento, comprovando-se a inteno do agente de

    se apropriar da coisa;

    o momento consumativo do crime se d quando o agente inverte o seu nimo sobre a coisa, passando-se a

    atuar como se dono fosse e recusando-se a devolv-la. crime material.

    Dano (art. 163)

    destruir, inutilizar ou deteriorar patrimnio alheio;

    destruir: deixar de existir (eliminar, extinguir);

    inutilizar: perder a utilidade (tornar imprestvel);

    deteriorar: destruir ou inutilizar parcialmente;

    o Cdigo Penal no admite o dano culposo como crime; j o Cdigo Penal Militar o admite;

    atualmente, pichar no crime de dano. O infrator responder por um crime especfico, de acordo com a

    lei 9.605/98 Crime Ambiental.

    soltar animal em local descampado fazendo-o desaparecer, no constitui crime, segundo a doutrina, tendo

    em vista que o tipo no se enquadra em nenhum dos ncleos previstos no artigo. Contudo, a conduta de

    introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que do

    fato resulte prejuzo, constitui crime;

    entendimento dominante que o preso que danifica as grades do presdio com o fim de empreender fuga

    no responde pelo crime de dano, uma vez que a conduta foi praticada visando fuga e no a causar

    prejuzo ao Estado.

    Qualificadores (dano qualificado)

    existncia de grave ameaa ou violncia pessoa. A violncia ou a grave ameaa deve ser empregada

    antes ou durante a execuo do crime para garantir a sua execuo;

    praticado contra o patrimnio pblico da Unio, Estado, Municpio e empresa concessionria de servios

    pblicos ou sociedade de economia mista (exemplos: danos a telefones pblicos, pardais, etc.). Abrange

    tambm o patrimnio das autarquias, empresas pblicas e fundaes pblicas. Os bens particulares

    alugados pela Administrao Pblica esto excludos desse rol;

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    emprego de substncia explosiva ou inflamvel, se o fato no constituir crime mais grave. Trata-se de

    infrao subsidiria que ficar absorvida quando o fato constituir crime mais grave. Ex.: homicdio

    qualificado pelo emprego de fogo ou explosivo (observe que neste caso o agente no responde pelo dano);

    por motivo egostico ou com prejuzo considervel para a vtima. Motivo egostico est ligado obteno

    de um futuro benefcio, de ordem moral ou econmica. Ex.: sabotar o carro do competidor adversrio para

    ganhar a corrida.

    *Obs.: subtrao de telefone pblico no constitui crime de dano, mas de furto.

    Receptao (art. 180)

    adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito prprio ou alheio, coisa que sabe ser

    produto de crime (receptao dolosa prpria). Nas modalidades ocultar, conduzir e ocultar, o crime

    alm de material, tambm permanente;

    se houver a influncia para que terceiro de boa f adquira, receba ou oculte tais produtos, o crime ser de

    receptao imprpria (interventor);

    crime de ao mltipla ou contedo variado, porque existem vrias condutas nas quais poder ser punido

    o infrator (receber, ocultar, transferir...);

    a receptao um delito acessrio, pois pressupe a existncia de um crime anterior (chamado de delito

    pressuposto). O delito anterior no precisa ser contra o patrimnio como, por exemplo, o peculato. Se o

    fato anterior for contraveno, no haver o crime de receptao, j que o tipo refere-se a crime (ou delito)

    e no contraveno.

    Receptao prpria

    o agente tem conhecimento da procedncia criminosa do produto e mesmo assim o adquire, recebe,

    transporta, conduz ou oculta, em proveito prprio ou alheio, tal coisa.

    Receptao imprpria

    o agente tem conhecimento da procedncia criminosa do produto e induz terceiro de boa f a adquiri-lo,

    receb-lo ou ocult-lo.

    Receptao qualificada

    de qualquer forma utilizar (no apenas vender!), no exerccio de atividade comercial ou industrial, ainda

    que no legalizada, coisa que deve saber ser produto de crime;

    Receptao culposa

    decorre de trs fatores:

    natureza do objeto (pode-se presumir ter sido a coisa obtida por meio criminoso. Ex.: adquirir

    veculo sem o devido documento de registro);

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    valor desproporcional ( a desproporo entre o valor pago e o seu preo real);

    condio do ofertante ( possvel presumir ser o autor dado prtica delituosa. Ex.: um agente que

    no tem condies econmicas de possuir um carro importado, e o tem);

    caber perdo judicial se o ru for primrio e o bem for de pequeno valor.

    *Obs.: a receptao prpria crime material e admite tentativa. J a imprpria crime formal e no admite tentativa.

    Estelionato (art. 171)

    obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio induzindo ou mantendo algum em erro,

    mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento;

    mantm-se algum em erro mediante artifcio (astcia, disfarce), ardil (cilada, conversa enganosa) ou outro

    meio fraudulento;

    a vtima colabora com o agente sem perceber que est sendo despojada de seus pertences. Exige-se, para

    que haja o delito, que a vtima seja determinada. Caso seja indeterminada, ser o caso de crime contra a

    economia popular (Lei 1.521/51). Ex.: adulterao de bomba de gasolina ou taxmetro. Neste delito

    (estelionato) no h o emprego de violncia ou grave ameaa. Para que haja o crime, necessrio que o

    meio fraudulento empregado pelo agente seja capaz de ludibriar a vtima. A vantagem visada pelo agente

    deve ter contedo econmico. Por se tratar de crime material, o crime somente se consuma no exato

    momento em que o agente obtenha a vantagem ilcita;

    mecanismos grosseiros de engano no configuram o crime, pois o meio deve ser apto a ludibriar algum;

    exemplos de estelionato: vender coisa alheia como prpria; fraude para recebimento de indenizao ou

    valor de seguro; emitir cheque sem suficiente proviso de fundos em poder do sacado (fraude no

    pagamento por meio de cheque. Segundo a Smula 554 do STF, o pagamento de cheque emitido sem

    previso de fundos, aps o recebimento da denncia, no obsta ao prosseguimento da ao penal. A fraude

    no pagamento por meio de cheque ocorre quando o agente emite cheque, sem suficiente proviso de

    fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento, desde que ele tenha agido com dolo de causar

    prejuzo alheio. Se o agente imaginar, ao emitir o cheque, que possui fundos suficientes, por no ter havido

    fraude, no se configura o delito (Smula 246 do STF). Sendo o cheque ordem de pagamento vista,

    qualquer atitude que lhe retire essa caracterstica desnatura essa modalidade de delito. Ex.: cheque pr-

    datado (s cheque vista perfaz o crime, nunca pr-datado, pois este apenas uma promessa de

    pagamento e o agente a aceitou de antemo). entendimento majoritrio que a emisso de cheques sem a

    devida proviso de fundos para pagamento de dvida preexistente no configura o delito em tela, j que,

    nesse caso, o prejuzo da vtima anterior emisso do cheque e no decorre dele. Este delito se consuma

    no momento em que o banco sacado recusa o pagamento do cheque, quando s ento haver o prejuzo.

    Alm disso, o crime em comento no admite a modalidade culposa, mas admite tentativa).

    Usurpao (art. 161)

    supresso ou alterao de marcas em animais: marca ou sinal indicativo de propriedade de animais

    semoventes (especialmente gado ou rebanho);

    alterao de limites: suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha

    divisria, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imvel alheia;

    usurpao de guas: desviar ou represar guas alheias;

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    esbulho possessrio: invadir propriedade (edifcio ou terreno) alheia com emprego de violncia ou grave

    ameaa a pessoa, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, para o fim de esbulho possessrio

    (desapropriar). S haver esse delito se a invaso for cometida mediante concurso de mais de duas pessoas

    ou com emprego de violncia ou grave ameaa. Embora para a maioria da doutrina este crime requer um

    nmero mnimo de trs agentes, no se exige que todos eles invadam efetivamente o imvel.

    Questes do Cespe referentes a crimes contra o patrimnio 1 Determinado agente subtraiu, sem violncia, a carteira de um pedestre. No entanto, logo depois da ao,empregou violncia contra a vtima a fim de assegurar a deteno definitiva da carteira. Nessa situao, o agente dever responder pelo delito de furto, pois a violncia s foi empregada em momento posterior subtrao. 2 Robson, motorista profissional, foi contratado por um grupo de pessoas para fazer o transporte em seu caminho, de mercadorias que foram objeto de roubo. No incio da viagem, o veculo foi interceptado e o motorista, preso pela polcia. Nessa situao, Robson praticou o crime de receptao, na modalidade de transportar coisa que sabe ser produto de crime. 3 Celso, com vinte anos de idade, capaz, residia, durante o perodo de estudos na faculdade, no imvel de seu tio Paulo, juntamente com este e com dois primos. Para pagar diversas dvidas contradas em jogos de azar, consumo de bebidas alcolicas e drogas, furtou ao tio um notebook avaliado em R$ 1.500,00. Ao ser descoberto e interpelado pelos primos, Celso, irritado com a situao, destruiu, de forma dolosa, um microscpio eletrnico de um dos primos, aparelho que, avaliado em R$ 900,00, foi lanado ao cho. Nessa situao, em relao ao prejuzo causado ao tio, o agente isento de pena, dada a relao de coabitao, e o ato praticado contra o primo de ao penal privada. 4 Na hiptese chamada de roubo frustrado em que o agente subtraia coisa da vtima, mas seja, logo aps,perseguido e preso em flagrante por terceira pessoa, com integral recuperao dares,ocorre crime na modalidade tentada. 5 Segundo o STJ, no incide a majorante do repouso noturno quando o furto praticado em estabelecimentos comerciais. 6 Segundo entendimento mais recente do STJ e do STF, para caracterizar a causa de aumento de pena prevista no CP no que concerne ao emprego de arma no crime de roubo, no h a necessidade de se apreender e realizar percia na arma para constatar sua potencialidade lesiva, podendo o seu emprego ser demonstrado pela prova testemunhal. 7 Conforme previso legal, somente se admitir a delao premiada no crime de extorso mediante sequestro se o crime for cometido em concurso e o delator facilitar a libertao do sequestrado. Nesse caso, o delator ter sua pena reduzida de um a dois teros. 8 Conforme jurisprudncia unnime do STF, para a caracterizao da majorante no delito de roubo exercido com o emprego de arma, exige-se a apreenso da arma para que seja periciada, a fim de se constatar a sua potencialidade lesiva. 9 No delito de furto, so incompatveis a qualificadora do concurso de pessoas e o privilgio relativo primariedade do agente e ao pequeno valor da coisa furtada.

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    11 PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR www.estudioaulas.com.br

    10 Jnior, advogado, teve o seu relgio furtado. Dias depois, ao visitar uma feira popular, percebeu que o referido bem estava venda por R$ 30,00. Como pagou R$ 2.000,00 pelo relgio e no queria se dar ao trabalho de acionar as autoridades policiais, Jnior desembolsou a quantia pedida pelo suposto comerciante e recuperou o objeto. Nessa situao hipottica, Jnior praticou o delito de receptao. 11 Ainda que o agente no realize a pretendida subtrao de bens da vtima, haver crime de latrocnio quando o homicdio se consumar. 12 Considere a seguinte situao hipottica. Ana subtraiu maliciosamente determinada pea de roupa de alto valor de uma amiga, com a inteno to s de utiliz-la em uma festa de casamento. Aps o evento, Ana, tendo atingido seu objetivo, devolveu a vestimenta. Nessa situao, Ana no responder pelo delito de furto, uma vez que o CP no tipifica a figura do furto de uso. 13 Rmulo sequestrou Lcio, exigindo de sua famlia o pagamento de R$ 100.000,00 como resgate. Nessa situao, o crime de extorso mediante sequestro praticado por Rmulo se consumou no momento da privao de liberdade da vtima. 14 A droga, ou conjunto de drogas, usada no golpe conhecido como boa-noite, Cinderela, se colocada embebidas e ingerida, pode deixar a pessoa semi ou completamente inconsciente, funcionando,normalmente, como um potente sonfero. Considerando, por hiptese, que Carlos tenha posto essa substncia entorpecente na bebida de Maria e esta tenha entrado em sono profundo. Nessa situao,Carlos praticar o crime de roubo prprio com violncia imprpria. 15 Considere a seguinte situao hipottica. Roberto tinha a inteno de praticar a subtrao patrimonial no-violenta do automvel de Geraldo. No entanto, durante a execuo do crime, estando Roberto j dentro do veculo, Geraldo apareceu e foi correndo em direo ao veculo. Roberto, para assegurar a deteno do automvel, ameaou Geraldo gravemente, conseguindo, assim, cessar a ao da vtima e se evadir do local. Nessa situao, Roberto responder pelos crimes de ameaa e furto, em concurso material. 16 Considere a seguinte situao hipottica. Fernando, pretendendo roubar, com emprego de arma de fogo municiada, R$ 20.000,00 que Alexandre acabara de sacar em banco, abordou-o no caminho para casa.Alexandre, no entanto, reagiu, e Fernando o matou mediante o disparo de seis tiros, empreendendo fuga em seguida, sem consumar a subtrao patrimonial. Nessa situao, Fernando responder por crime de latrocnio tentado. 17 Se cheques pr-datados emitidos como garantia de dvida forem devolvidos por falta de fundos ao serem apresentados antes da data combinada, o emitente responde por crime de estelionato, na modalidade prevista no CP como emisso de cheque sem suficiente proviso de fundos. 18 Em posicionamento recente, o Superior Tribunal de Justia decidiu que a presena de sistema eletrnico de vigilncia no estabelecimento comercial ou mesmo a vigilncia da sua conduta por preposto da empresa torna o agente capaz de tentar o furto, a ponto de no reconhecer configurado o crime impossvel, pela absoluta ineficcia dos meios empregados.