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Teresa Pizarro Beleza FDUNL 2006/2007 2º semestre DIREITO PENAL II TEORIA GERAL (DOGMÁTICA) DO CRIME PROGRAMA Ainda que o Direito Penal seja uma área do sistema jurídico sujeita a um estrito princípio de tipicidade, o seu estudo não deve limitar-se à análise do catálogo vigente num dado momento histórico. Por um lado, esse catálogo é instável, logo transitório e nunca fixo ou definitivo. Por outro, há uma série de problemas dogmáticos comuns a todos os tipos de crime - ou, pelo menos, a grandes grupos de crimes (dolosos, negligentes, omissivos) que ganham em clareza teórica se forem analisados em conjunto, fazendo sobressair o que lhes é comum e não o que os diferencia. Assim se desenvolvem noções técnicas rigorosas que permitem uma melhor aplicação do Direito pela magistratura - em última instância, o objectivo deste estudo. Trata-se, por isso mesmo, de um estudo dogmático, teórico-jurídico, não de natureza directamente política ou sociológica - esse tipo de análise é levado a cabo na cadeira de Criminologia, além de ser, em alguma medida, tido em consideração na parte introdutória do Direito Penal (referências à Constituição, às grandes questões actuais no campo do Direito Penal Internacional ou Comunitário, à Filosofia penal - os chamados fins das penas, etc). Do ponto de vista dogmático, o crime é uma acção típica, ilícita, culposa e punível. O que estudamos neste curso de Direito Penal II é, fundamentalmente, o sentido de cada uma 1

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Teresa Pizarro BelezaFDUNL2006/20072º semestre

DIREITO PENAL IITEORIA GERAL (DOGMÁTICA) DO CRIME

PROGRAMA

Ainda que o Direito Penal seja uma área do sistema jurídico sujeita a um estrito princípio de tipicidade, o seu estudo não deve limitar-se à análise do catálogo vigente num dado momento histórico. Por um lado, esse catálogo é instável, logo transitório e nunca fixo ou definitivo. Por outro, há uma série de problemas dogmáticos comuns a todos os tipos de crime - ou, pelo menos, a grandes grupos de crimes (dolosos, negligentes, omissivos) que ganham em clareza teórica se forem analisados em conjunto, fazendo sobressair o que lhes é comum e não o que os diferencia. Assim se desenvolvem noções técnicas rigorosas que permitem uma melhor aplicação do Direito pela magistratura - em última instância, o objectivo deste estudo. Trata-se, por isso mesmo, de um estudo dogmático, teórico-jurídico, não de natureza directamente política ou sociológica - esse tipo de análise é levado a cabo na cadeira de Criminologia, além de ser, em alguma medida, tido em consideração na parte introdutória do Direito Penal (referências à Constituição, às grandes questões actuais no campo do Direito Penal Internacional ou Comunitário, à Filosofia penal - os chamados fins das penas, etc).

Do ponto de vista dogmático, o crime é uma acção típica, ilícita, culposa e punível. O que estudamos neste curso de Direito Penal II é, fundamentalmente, o sentido de cada uma destas palavras, isto é, o que quer dizer “acção”, e o que significa ser “típica”, ilícita”, “culposa” e “punível”. Esse estudo parte essencialmente do texto da lei – o Código Penal – mas sempre fazendo apelo à doutrina e à jurisprudência sobre ele elaboradas. A própria feitura do Código Penal teve em linha de conta as inspirações doutrinária e jurisprudencial. Há preceitos que dificilmente são compreensíveis sem o conhecimento dessas fontes, que em alguma medida se podem encontrar referenciadas nos trabalhos preparatórios. Mas por vezes essa “presença” é implícita, sendo necessário conhecer a produção académica e judicial nacionais – e as fortes influências estrangeiras sobre elas, sobretudo, no caso do Direito Penal, a alemã, com alguma mistura da italiana e da espanhola – para se compreender a razão pela qual o legislador optou por uma formulação ou por um determinado regime.

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Quer isto também dizer que, se é verdade que a Doutrina não é formalmente fonte de Direito (no Direito Penal muito menos, dado que estamos em sede de legalidade estrita, segundo a Constituição: Não há crime sem lei!!!), no entanto não só os conceitos que a Lei usa são de alguma forma influenciados pelos desenvolvimentos da Dogmática, como a sua leitura, i e, a interpretação da Lei Penal, acaba por ser feita à luz de uma certa sedimentação de trabalho dogmático (doutrinário e jurisprudencial). Essa sedimentação tem um “evidente” efeito semântico, isto é, o uso doutrinário e jurisprudencial das palavras da lei molda-lhes (ajuda a moldar) um certo sentido “comum”. Um desvio significativo a esse sentido poderá servir de motivo a um recurso que impugne uma certa decisão judicial, ou que tenda à formação de jurisprudência “fixa” - nos termos do Código de Processo Penal – ou até a uma invocação de interpretação contrária à Constituição poque ferindo a igualdade, isto é, a expectativa de tratamento idêntico (Karl Larenz, Metodologia...).

Esta “teoria geral do crime” é aqui feita como sendo uma teoria geral do crime doloso (cometido) por acção. A lei desenha crimes de diferentes estruturas, podendo considerar-se que o “prototipo” é esse mesmo, sendo a responsabilidade por omissão ou por negligência excepcionais (artº 10º e artº 13º do Código Penal).

Por outro lado, o estudo é feito inicialmente partindo de uma situação de relativa simplicidade: um crime cometido por um autor, na forma consumada. As alternativas de complicação desta situação (vários autores e participantes, vários crimes, crime não consumado) correpondem a outros capítulos. É certo que algumas destas questões poderiam ser arrumadas de outra forma. Por exemplo, as normas sobre tentativa e sobre comparticipação são evidentemente relativas ao tipo (à tipicidade), que assim é alargado a partir da sua simplicidade na Parte Especial. Mas por razões pedagógicas continuo a pensar que esta sistematização do estudo é preferível.

Estudaremos, assim:

I - Questões gerais relativas à acção como comportamento voluntário na base da responsabilização criminal. Em especial, a chamada “acção livre na causa”. A possibilidade de considerar a omissão como um comportamento voluntário. Remissão para o estudo dos crimes omissivos.Crimes dolosos e negligentes.A divisão do estudo entre crimes por acção e crimes por omissão; e entre crimes dolosos e negligentes.

II - Os crimes por acção dolosos:Tipo: objectivo e subjectivo. Em especial, a questão da imputação do resultado nos crimes materiais e os problemas do erro.

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Ilicitude: as causas de justificação. Elementos objectivos e subjectivos.

Culpa: a capacidade de culpa (imputabilidade) e as causas de exclusão da culpa.

Punibilidade. Tentativa. Comparticipação (Autoria e Participação).

III - Os crimes por omissão dolosos:Questão fundamental: Todos os critérios e fundamentos que estudámos quanto aos crimes por acção se podem transpor para os crimes omissivos? Ou existem particularidades irredutíveis?

Tipo (em especial: a distinção entre as chamadas omissões puras e impuras). A questão da equiparação da omissão à acção (artº 10º CP).

Ilicitude. Culpa. Punibilidade. Tentativa. Comparticipação (Autoria e Participação).

IV - Os crimes negligentes:Tipo - em especial, a não distinção entre tipo objectivo e

subjectivo, ao contrário dos crimes dolosos. É claro que se pode falar em “tipo subjectivo” nos crimes negligentes, mas num sentido diferente da expressão: também nestes crimes existe um título subjectivo de responsabilidade, que consiste na negligência, na falta de cuidado. Mas é da sua essência, ao contrário dos crimes dolosos, uma incongruência entre a representação subjectiva da realidade e essa mesma realidade.

Ilicitude, culpa, punibilidade. Não há tentativa nem comparticipação nos crimes negligentes.

V - A medida da pena:Medida abstracta (ou legal) e medida concreta (ou judicial) da

pena. As circunstâncias, modificativas (modificam os limites abstractos da pena, daí o nome) agravantes (= qualificativas; ex. premeditação no homicídio, artº 132º); modificativas atenuantes (= privilegiadoras; ex. compaixão no homicídio, artº 133º); comuns agravantes e atenuantes (funcionam dentro dos limites abstractos da pena: todas as enunciadas no artº 71º).

As regras do Concurso (distinção entre os chamados concurso de normas e concurso de crimes; aquele enquadra-se na teoria da lei penal, este na teoria da infração). O chamado crime continuado. CP, artºs 30º, 77º, 78º e 79º.

TPB, Fev 2007

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