Pele de asno

Leve o livro para a sala de aula e mos-tre as ilustrações aos alunos, referindo que lerão um conto de fadas. De que histórias de fadas eles lembram? Branca de Neve, Bela Adormecida, Cinderela, Rapunzel? E Pele de Asno, alguém já havia ouvido falar?

Convide-os a, pelo título, inferirem justi-ficativas para o título do conto. Por que a autora terá escolhido este título? O que é um asno? Esse esforço de compre-ensão pode qualifica a leitura e tornar o leitor mais sensível, mais atento aos elementos da história. Explore suas ex-pectativas de leitura dos contos de fada: quais serão seus personagens? Haverá príncipe e princesa? E bruxa? Leia en-tão a introdução do livro, na página 5 e convide-os a lerem o livro.

Preparação para a leitura

Autor: Rosana Rios

Ilustrações: Mateus Rios

Gênero: Conto de fadas

Temas transversais:Ética – respeito mútuo, convivência, soli-dariedade; Pluralidade Cultural – relações sociais; Sexualidade

Abordagem interdisciplinar:Língua Portuguesa e Literatura, História, Artes

Palavras-chave:princesa; violência; aventura

A história se passa em um reino muito rico e próspero, onde um rei e uma rainha são exemplos de beleza, harmonia e perfeição. A morte inesperada da jovem rainha desencadeou uma tragédia ainda maior, pois ela fez o rei prometer que só se casaria nova-mente se encontrasse uma moça mais bela e mais sábia que ela. Passado o tempo, o rei descobre que a única jovem capaz de superar a esposa era sua própria filha. Nesse livro, a autora dá voz a alguns personagens, revelando o que teriam pensado e sentido diante das situações em que se envolveram.

Roteiro de leitura | Pele de asno

© Edelbra Editora | www.edelbra.com.br

1) PersonAGens dos conTos de fA-dAs TrAdIcIonAIs

A narrativa de Rosana Rios é cheia de re-viravoltas e mostra uma princesa que, di-ferentemente de outras mais conhecidas, é ativa, ágil, desembaraçada e não fica esperando seu príncipe encantado, ou seja, Pele de Asno conquista sua própria felicidade. Proponha que a turma, sepa-rada em pequenos grupos, pesquise na biblioteca um conto de fadas tradicional de sua preferência (cada grupo escolherá um conto diferente). Os grupos deverão levantar (a) as características da perso-nagem feminina principal: idade apro-ximada (criança, adolescente, adulto), descrição física, comportamento (ouve conselhos, obedece a ordens, tem inicia-tiva, é inteligente), etc. e (b) descrever as personagens (príncipe, princesa e bru-xa/madrasta). Dê ênfase à tipologia e ca-racterísticas gerais dessas personagens: são tipos, marcados por um único traço, contornos bem definidos, lineares (não se modificam), inseridos em narrativas fechadas, representativas das relações de poder – dominantes e dominados, prota-gonistas, antagonistas e auxiliares.

Convide-os a apresentarem a sua con-figuração. Anote, no quadro, p conto

examinado e as características que fo-rem surgindo:

PrÍncIPe - gênero masculino; desem-penha papéis ativos, heroicos e trans-gressores; geralmente dotado de beleza, força e virilidade; é habilidoso com as armas e exímio cavaleiro; protagonista com características superiores às de seu grupo = herói;

PrIncesA - gênero feminino; caracteri-zada por atributos que marcam a passivi-dade e sua função social é ser objeto do prazer e da organização familiar. Jovens, belas, delicadas, fiéis, modelos de virtu-de. Desempenham o papel de vítima, na maioria das histórias, e são salvas pelo príncipe ou por um auxiliar mágico.

BrUXA/MAdrAsTA - gênero feminino; retrato da maldade, da inveja, do desejo de poder a qualquer custo. Normalmente tem um aspecto desagradável, gosta de ambientes escuros; desempenha o papel de vilã, de opressora. É a personagem que se opõe ao protagonista.

Contraponha as observações relativas às personagens dos contos de fadas em ge-ral e o que leram em Pele de Asno. Peça que fundamentem as inferências formu-ladas com referências a trechos do livro.

Estudo do textoLeitura e compreensão geral do texto

Este livro apresenta uma versão de Pele de Asno, um conto que não é tão po-pular no Brasil, mas tem uma narrativa envolvente e uma trama polêmica.

Em grande grupo, recorrendo a per-guntas, recupere a estrutura do conto, pedindo que localizem e leiam trechos que confirmem suas inferências:

situação inicial: é marcada pela felici-dade, logo abalada pela morte da rainha e por um juramento do rei. Que jura-mento foi esse?

conflito: o maior conflito da narrativa é quando o rei diz para a princesa, sua filha, que quer casar com ela. Ninguém no rei-no se opõe a isso, mas a princesa não de-seja casar com o pai. Auxiliada por uma boa velhinha, ela tenta, de todas as for-mas, não casar com o próprio pai. Quais são as formas encontradas pela princesa?

Motivação: quando todas as tentati-vas de se livrar do casamento falham, a princesa foge em busca de seu próprio destino. Como ela faz isso? Qual a ar-timanha utilizada pela protagonista? O que leva com ela?

clímax: o destino da princesa começa a mudar quando um príncipe a vê, sem o disfarce, e se apaixona por ela. Quando isso acontece? O que, exatamente, vê o príncipe? A partir desse momento, o que ocorre? É possível perceber qual será o desfecho da história? Por quê?

desfecho: o final feliz do conto possibi-lita que Pele de Asno retire seu disfarce e mostre para todos do reino a sua be-leza. Como termina a história? Como os demais contos de fadas? E o rei, pai da princesa, o que acontece com ele?

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Resposta ao texto

Peça que, individualmente, releiam o tex-to da p. 49, que diz: “Eis aqui uma histó-ria quase universal, que aparece em ver-sões diferentes (...)”. Convide-os, então, a criarem novas versões para as histórias tradicionais que leram durante o estudo de texto, de modo a valorizar o protago-nismo de personagens que geralmente aparecem em situação de passividade, à

maneira de Pele de Asno, transforman-do-as em novas heroínas (ou heróis). Acompanhe a produção, auxilie-os a uti-lizar a estrutura do conto de fadas e a inserir situações que possibilitem alterar a solução tradicional dessas narrativas e promova, depois, a socialização das no-vas histórias em uma roda de leitura.

2) A PrIncesA PeLe de Asno

Focalize então a princesa e problematize o texto Pele de Asno. Ela confirma o este-reótipo de donzela frágil à espera do prín-cipe encantado, que não tem voz e que não age? Que modificações a protago-nista do conto imprime ao papel normal-mente desempenhado pelas princesas nos contos de fadas tradicionais? Vê-se que, ainda que seja bela e virtuosa, a prin-cesa não foi passiva. Não mostra apenas a donzela frágil que necessita ser resgata-da por um salvador. Ela consegue, com a ajuda da velhinha, evitar a submissão ao desejo paterno. A partir deste ponto do livro, ela assume o lugar da heroína, pois muda suas atitudes e questiona o poder do rei. A primeira mudança tem a ver com o direito de escolha, uma conquis-ta importante para a mulher: decidir com quem, quando e se irá se casar. Para isso, foge, submete-se ao trabalho duro numa terra distante, abrindo mão do conforto que a sua condição de princesa lhe dava. A história não para por aí. Inteligente e criativa, é dela a ideia de esconder o anel dentro da sopa para que o príncipe o en-contrasse. O príncipe mostra-se mais fra-co que ela, adoece porque não consegue ter seu desejo de encontrar a bela moça atendido. Quem demonstra coragem e

magnanimidade é a princesa, inclusive perdoando o pai. Pele de Asno não pode ser vista de forma passiva. A personagem tem como marca principal a capacidade de fazer valer a sua vontade, que contra-ria a do rei, pela inteligência e perspicácia, rompendo com a relação de poder que opõe dominantes e dominados.

Pele-de-Asno representa um ideal femi-nino de beleza e virtude que não é usu-al nos contos de fadas tradicionais. Foi ela quem buscou ajuda para se furtar à união indesejada, preferiu o caminho da fuga, do anonimato, do trabalho e da humilhação a se submeter ao desejo pa-terno. Nesse sentido, mostra protagonis-mo e valor, escolhe caminhos tortuosos, mas necessários, o que revela coragem e decisão para enfrentar seu destino. Sua "desobediência" ao pai se justifica moral-mente na narrativa e é recompensada na cerimônia de seu casamento, com a pre-sença paterna e o perdão ao pai.

Por esse motivo, este conto pode servir para a representação verossímil de uma vivência. A princesa torna-se heroína por não se submeter aos desejos do pai nem sucumbir às humilhações dos patrões, rebelando-se contra regras e ordens e construindo o seu próprio destino.

Autoras do roteiroAna Mariza Filipouski e Diana Marchi

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