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1 MESTRADO PROFISSIONAL EM TERAPIA INTENSIVA INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA TATIANA DE LIMA BRAGA ASSISTÊNCIA AOS PACIENTES VÍTIMAS DE TCE EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NO HOSPITAL DE EMERGÊNCIAS DE MACAPÁ/AP

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MESTRADO PROFISSIONAL EM TERAPIA INTENSIVAINSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA

TATIANA DE LIMA BRAGA

ASSISTÊNCIA AOS PACIENTES VÍTIMAS DE TCE EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NO HOSPITAL DE EMERGÊNCIAS DE MACAPÁ/AP

BRASÍLIA- DF

2017

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TATIANA DE LIMA BRAGA

ASSISTÊNCIA AOS PACIENTES VÍTIMAS DE TCE EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NO HOSPITAL DE EMERGÊNCIAS DE MACAPÁ/AP

Dissertação de Mestrado, apresentada à Banca Examinadora do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva - IBRATI para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI, sob a orientação do Prof. Ms. Jose Israel Sánchez Robles.

BRASÍLIA- DF

2017

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TATIANA DE LIMA BRAGA

ASSISTÊNCIA AOS PACIENTES VÍTIMAS DE TCE EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NO HOSPITAL DE EMERGÊNCIAS DE MACAPÁ/AP

NO ANO DE 2017

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva.

Aprovada em: ___/___/_______

BANCA EXAMINADORA

Profª. _________________________________________________Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Profº. __________________________________________________ Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Examinador

Prof.º___________________________________________________Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI

Examinadora

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RESUMO

Objetivo: O objetivo primário da pesquisa foi analisar a assistência prestada aos pacientes acometidos por traumatismo crânio encefálico em uma Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Emergências em Macapá/AP comparando com o que a literatura trata sobre o assunto. O presente trabalho teve como questão central a intervenção do profissional no atendimento das pessoas com TCE. Método: A pesquisa foi de caráter epidemiológico, descritivo, retrospectivo-documental e quantitativo, tendo como fonte de dados os registros de atendimentos da Sala de Graves do Hospital Público de Emergências da cidade de Macapá no período de 6 meses (de Abril a Setembro de 2017). A coleta de dados foi realizada através de check-list, sobre as variáveis: idade, sexo, causas, assistência prestada e evolução Resultados: Constatou-se com a pesquisa que a assistência prestada ao paciente vítima de TCE no setor estudado, condiz com dados abordados pelos autores discutidos, apesar da dificuldade de infraestrutura, quanto ás variáveis analisadas. Conclui-se que este estudo consegue comparar a assistência realizada no traumatismo cranioencefálico relatado nas literaturas com a assistência prestada no setor analisado. Partindo disto a possibilidade de um quadro de melhorias para o serviço.

Descritores: Traumatismo Cranioencefálico, Terapia Intensiva, Assistência.

ABSTRACT

Objective: The primary objective of the study was to analyze the care provided to patients with traumatic brain injury at an Intensive Care Unit at the Hospital de Emergências in Macapá /AP, comparing it with the literature on the subject. The present work had as central question the intervention of the professional in the care of the people with TCE. Method: The research was epidemiological, descriptive, retrospective-documentary and quantitative, having as data source the records of attendances of the Graves Room of the Public Hospital of Emergencies of the city of Macapá in the period of 6 months (from April to September of 2017). Data collection was performed through check-list, on the variables: age, sex, causes, care provided and evolution Results: It was verified with the research that the assistance provided to the patient victims of TBI in the sector studied, matches with data by the authors discussed, despite the difficulty of infrastructure, regarding the variables analyzed. It is concluded that this study is able to compare the assistance performed in traumatic brain injury reported in the literature with the assistance provided in the sector analyzed. Starting from this the possibility of a framework of improvements for the service.

Key words: Traumatic Brain Injury, Intensive Care, Assistance.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 06

2. METODOLOGIA.................................................................................. 07

3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................ 08

3.1 Epidemiologia do Traumatismo Cranioencefálico........................... 08

3.2 Tipos de Traumatismos Crânio Encefálico...................................... 09

3.3 Fatores de Risco............................................................................... 11

3.3.1 Mecanismos da lesão e efeito .....................................................11

3.3.2 Fraturas de crânio ...................................................................... 12

3.3.3 Hematomas epidurais, subdural e intracerebral...........................12

3.4 Assistência a Vítima de Traumatismo Cranioencefálico .................. 13

3.4.1 Abordagem Neurológica ............................................................ 13

3.4.2 Abordagem Respiratória .............................................................15

3.4.3 Abordagem Hemodinâmica.........................................................16

3.4.4 Intervenções no TCE em Terapia Intensiva.............................. 17

3.4.4.1 Monitorização dos Sinais Vitais........................................... 17

3.4.4.2 Sedação ................................................................................ 17

3.4.4.4 Ventilação Mecânica............................................................. 17

3.4.4.3 Sondagem Orogástrica e

Nasogástrica ..................................18

3.4.4.5 Sondagem Vesical de Demora ............................................. 19

3.4.4.6 Exame de Imagem /Tomografia Comp. de Crânio .............. 19

3.4.4.7 Procedimento Neurocirúrgico/Tratamento Conservador ......

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4. RESULTADOS ............................................................................................

21

5. DISCUSSÃO ................................................................................................

32

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................

34

7.

REFERÊNCIAS ............................................................................................36

ANEXOS ......................................................................................................38

1. INTRODUÇÃO

Mundialmente o Traumatismo Cranioencefálico (TCE) é uma das causas mais

frequentes de morbidade e mortalidade, tendo impacto importante na qualidade de vida,

embora ocorra em questão de segundos, seus efeitos perduram por longos períodos

sobre a pessoa acometida, além de seus familiares e a sociedade. (BRASIL, 2013)

O Traumatismo Crânio Encefálico (TCE) é um grave problema de saúde pública

na atualidade. É importante causa de morte e de deficiência física e mental, ficando

atrás apenas do Acidente Vascular Cerebral, como doença com forte impacto na

qualidade de vida do homem (BRASIL, 2012).

O TCE define-se como lesões que envolvem o couro cabeludo, o crânio e o

encéfalo e é um processo que pode durar dias a semanas, mas começa no momento do

impacto, sendo uma combinação de dano neural, insuficiência vascular e efeitos

inflamatórios. Esse tipo de trauma ocorre após lesões fechadas ou penetrantes às

estruturas encefálicas e abrange fraturas cranianas e dano ao tecido encefálico. Os tipos

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de lesões cranioencefálicas incluem concussão, contusão, fraturas de crânio, hematoma

epidural ou subdural, hemorragia subaracnóide e herniação. (SANTOS, 2013)

Os momentos iniciais após o impacto, tanto no local do trauma quanto no

hospital representa uma fase crítica na fisiopatologia da lesão cerebral. Agir de maneira

apropriada em um tempo adequado pode melhorar o prognóstico neurológico

significantemente, portanto atraso ou falha na instituição dessas medidas pode levar

danos cerebrais secundários com graves consequências na recuperação tardia das

funções neurológicas (VALENTIM; SANTOS, 2009).

Nessa assistência direta, o profissional participa da previsão de necessidades da

vítima; definindo prioridades; iniciando intervenções necessárias, fazendo a

estabilização, reavaliando o estado geral e realizando o e realizando o transporte da

vítima para o tratamento definitivo.

O objetivo primário da pesquisa foi analisar a assistência prestada aos pacientes

acometidos por traumatismo cranioencefálico em uma Unidade de Terapia Intensiva do

Hospital de Emergências de Macapá/AP, comparando com o que a literatura trata sobre

o assunto. O presente trabalho teve como questão central a intervenção do profissional

no atendimento das pessoas com TCE.

Levando-se em consideração a complexidade do seu atendimento e a sua

relevância epidemiológica, é de fundamental importância que os profissionais

envolvidos no atendimento a pacientes vítimas de traumatismo cranioencefálico sejam

capacitados a prestarem essa assistência. Pretendeu-se com este estudo agrupar

conhecimentos atuais e relevantes relacionados ao tema, de forma a melhorar o

tratamento destes pacientes, fazendo um comparativo com os resultados analisados,

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minimizando sua mortalidade e possibilidade de sequelas, a partir de uma assistência de

qualidade, dessa feita, justifica-se a realização do mesmo.

2 METODOLOGIA

A pesquisa foi do tipo quali-quantitativo, de caráter epidemiológico,

descritivo,tendo como fonte de dados os registros de atendimentos da Sala de Graves do

Hospital Público de Emergência da cidade de Macapá no período de 6 meses (de Abril a

Setembro de 1017). A coleta de dados foi realizada através de check-list, com as

principais variáveis a serem estudadas: idade, sexo, causas, assistência prestada e

evolução.

O Hospital de Emergências Osvaldo Cruz (HEOC), situado na Rua Hamilton

Silva, 139, Bairro: Santa Rita, no município de Macapá/AP. É a principal referência

para o atendimento de alta complexidade em urgência e emergência da capital,

realizando atendimentos relacionados à traumas e clínica médica. A Sala de Graves que

é um setor deste hospital, possui quatro (4) leitos de internação com infraestrutura de

Unidade de Terapia Intensiva, apesar de não ser oficialmente considerado como tal.

A pesquisa analisou a assistência prestada aos pacientes vítimas de TCE no

Hospital de Emergências de Macapá/AP, em um período de 6 meses, desde sua

internação, cuidados prestados e evolução.

A coleta de dados foi realizada nos registros de atendimento de todos os

pacientes internados com diagnósticos de TCE no período supracitado, que foi um total

de 14 (quatorze) indivíduos. Com objetivo de traçar o perfil epidemiológico de TCE e

assistência prestada, comparando com o que a literatura trata sobre o assunto.

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Evidencia-se que este estudo e seu projeto foi submetido à Escola de Saúde

Pública (ESP)/Núcleo de Pesquisa em Saúde da Secretária de Estado da Saúde do

Amapá/SESA com anuência do Núcleo de Educação Permanente em Saúde/ Hospital de

Emergências Osvaldo Cruz – NEPS/HEOC, sendo aprovado a coleta de dados por este

Núcleo (ANEXO I e II).

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Epidemiologia do Traumatismo Crânio Encefálico

As lesões crânio encefálicas encontram-se entre os tipos de trauma mais

frequentemente vistos nos serviços de emergência. Muitos doentes com lesões cerebrais

graves morrem antes de chegar ao hospital e quase 90% das mortes pré-hospitalares

relacionadas ao trauma envolvem lesão cerebral. (STREET, 2012).

No atendimento à vítima de TCE, o profissional necessita de conhecimento

científico sempre atualizado, habilidade na realização dos procedimentos, experiência

profissional, capacidade física, de lidar com estresse, de tomada de decisões imediata,

de definições de prioridades e de trabalho em equipe.

Para Canova et al (2010), o TCE é resultante de um processo de agressão da

massa encefálica dentro da caixa craniana, causado por forças externas de baixa ou alta

intensidade, acarretando em comprometimento funcional e estrutural do crânio, couro

cabeludo, meninges, encéfalo e seus vaso.

Dependendo da intensidade que o crânio é atingido o indivíduo acometido de um

TCE poderá ter algum comprometimento não apenas na estrutura física, mas

principalmente neurológica que dependendo do grau dessa lesão pode acarretar na

morte do mesmo. Os fatores determinantes das lesões causadas no TCE são múltiplos e

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são determinados pela força biomecânica que ocorrem no momento do impacto, bem

como pelos fatores decorrentes das lesões sistêmicas, ocasionando um agravamento das

lesões neuronais.

De acordo com os dados estatísticos estima-se que de 40% das vítimas, 20%

chegam a óbito imediatamente ou nas primeiras 24 horas de internação e 80% na

primeira semana após o acidente, representando assim, o terceiro lugar entre as

principais causas de mortes, excedendo apenas para doenças cardiovasculares e câncer,

com maior proporção ao sexo masculino (FAUL et al., 2010 apud Cunha,2015).

São inúmeras as vítimas de TCE e elas precisam de um atendimento imediato,

pois podem complicar de uma hora para outra, cabendo ao profissional a utilização do

ABC do trauma. O A.B.C.D.E. do trauma significa (Airway, Breathing, Circulation,

Disability, Exposure), em Português: Vias Aéreas, Respiração, Circulação, Neurológico,

Exposição. (BRASIL,2013).

3.2 Tipos de Traumatismos Crânio Encefálico

Para Samogim, Souza e Mouco (2011) citado por Batista (2014) a classificação

do trauma cranioencefálico é de extrema importância para o seu entendimento, pois a

equipe multiprofissional envolvida em seu entendimento tem de ter ações coerentes e

dinâmicas para que o trauma evidenciado seja executado de forma rápida e satisfatória.

Já Marques (2013) afirma que o Traumatismo Cranioencefálico (TCE) pode

produzir um estado diminuído ou alterado de consciência, que resulta em

comprometimento das habilidades cognitivas ou do funcionamento físico. Pode também

resultar no distúrbio do funcionamento comportamental ou emocional. Este pode ser

temporário ou permanente e provocar comprometimento funcional parcial ou total.

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3.2.1 Classificação

Segundo Oliveira (2012) existem várias classificações dos TCE. Referindo

apenas uma classificação clínica (baseada no exame objetivo do doente) e outra

anatômica (baseada na localização e tipo de lesões):

Classificação clínica

A Escala de Coma de Glasgow (ECG) é uma escala de avaliação clínica

numérica que continua a ser a mais aplicada na categorização das alterações

neurológicas que ocorrem neste contexto. Esta escala avalia três parâmetros (abertura

dos olhos, resposta verbal e resposta motora) e calcula-se somando a melhor resposta do

doente em cada teste, variando o score entre 3 e 15.

Apesar de a sua importância ter sido mais relevante antes do advento da

Tomografia Computorizada (TC), esta classificação continua a ter um papel

fundamental na avaliação do grau de gravidade de um traumatismo, correlacionando-se

quer com a gravidade do TCE quer com o prognóstico do doente.

Do ponto de vista clínico, os TCE podem classificar-se em Ligeiros ou Leves

(ECG = 15-13), Moderados (ECG = 9-12) ou Graves (ECG ≤ 8).

Contudo, as medidas terapêuticas efetuadas quer a um nível pré-hospitalar, quer

nas unidades de cuidados intensivos, com um cariz cada vez mais invasivo, envolvendo

bloqueio neuromuscular e sedação profunda, têm limitado a utilidade da ECG.

3.3 Fatores de Risco

De acordo com Batista (2014), os principais fatores de risco do TCE são:

Mecanismo de lesão, fraturas de crânio e hematoma epidural, Subdural.

3.3.1 Mecanismos da lesão e efeito

Segundo Gentile et al (2011), os traumatismos penetrantes têm pior prognóstico

do que aqueles sem lesão penetrante. Pacientes com lesão penetrante são mais

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propensos a apresentar nível na escala de coma de Glasgow (ECG) mais baixo,

indicando pior prognóstico e morte precoce. Pedestres e ciclistas sofrem piores lesões

do que em acidentes por veículos a motor, e a ejeção do veículo causa maior risco de

lesão intracraniana. Outros dados são levados em conta quando há trauma craniano,

como a idade do paciente, influenciando no tipo de seu mecanismo e no prognóstico da

lesão sofrida, tanto primária quando secundária ao trauma.

Pode-se dizer que, o mecanismo da lesão está diretamente relacionado com

aumento ou diminuição da aceleração do cérebro (substância gelatinosa mole) dentro do

crânio (superfície externa dura com superfície intensa de bordas nítidas). Dessa forma,

pode ser causada por traumatismo fechado ou penetrante.

Com relação aos mecanismos de trauma craniano eles podem ser classificados

em fechados, geralmente associados à colisão de veículos, quedas e agressões e em

abertos quando causadas por armas de fogo e lesões penetrantes. Quanto à sua

morfologia são divididas quanto ao local acometido, podendo ser lesões por fratura de

crânio e lesões intracranianas como lesão cerebral difusa, hematomas peridurais,

Subdural e intracerebral, contusões e concussões. (GENTILE et al, 2011, p.74-75).

3.3.2 Fraturas de crânio

Outro fator de risco que se destaca são as fraturas ocasionadas por quedas e

agressões. A primeira por acidente e a outra pela violência urbana, contra

homossexuais, mulheres e crianças, que na maioria transformam-se em concussões.

Para Batista (2014), “A fratura óssea do crânio implica em grande força exercida pelo

mecanismo de trauma diretamente na cabeça. Elas podem ser observadas em torno da

calota óssea, base do crânio ou nos ossos da face. Podem ser classificadas como lineares

ou não lineares, bem como deprimidas ou não deprimidas”.

3.3.3 Hematomas epidurais, subdural e intracerebral.

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Segundo Gentile. et. al. (2011) são três os tipos de hematomas: epidural,

subdural e intracerebral.

Os hematomas epidurais são relativamente incomuns, presentes apenas em 1%

dos casos de TCE e apenas 10% apresentam rebaixamento do nível de consciência. São

localizados fora da dura-máter, mas dentro do crânio, são tipicamente em forma

biconvexos ou lenticulares. São mais frequentemente localizados na região temporal ou

temporo-parietal, onde frequentemente as fraturas cranianas causam laceração da artéria

meníngea média.

Os hematomas subdurais são mais comuns do que os peridurais, ocorrendo em

aproximadamente 30% dos casos de trauma craniano grave. Resultam principalmente da

ruptura de uma veia que faz a ligação entre o córtex cerebral e a drenagem venosa para

os seios. Em aproximadamente 80% dos casos de hematoma subdural, pode ser

considerada a base da lesão neurológica. Ocorre com frequência adjacente a contusões

do parênquima cerebral. Caso o hematoma seja grande, pode causar compressão das

estruturas com desvio da linha média.

O hematoma intracerebral ocorre comumente associado com traumas cranianos

de média ou grande intensidade, geralmente produzindo lesões de massa. A maioria das

lesões ocorre no lobo frontal e temporal. Muitos hematomas intracranianos demoram a

apresentar alterações nos exames de imagem como à tomografia computadorizada (TC)

sendo necessárias 24 horas ou mais para que se estabeleça uma lesão completa, que

possa ser diagnosticada como hematomas intracerebrais pela TC.

3.4 Assistência a Vítima de Traumatismo Cranioencefálico

O TCE pode causar várias complicações como hemorragias cerebrais, sequelas

neurológicas definitivas por hipóxia, assim como alterações físicas e psicológicas.

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Dessa forma, é fundamental e importante que esses pacientes recebam um atendimento

eficiente e qualificado, visando uma maior chance de sobrevida, e a diminuição no

índice de mortes e sequelas dos pacientes (BRASIL, 2012).

Os cuidados às vítimas de TCE baseiam-se na estabilização das condições vitais

do paciente. O atendimento se dá por meio de suporte à vida, permanecem validas todas

as recomendações da abordagem primária, em especial a proteção da coluna cervical,

pela possibilidade de lesão associada ao Trauma Raquimedular (TRM) e uma vigilância

sobre a respiração que pode se tornar irregular e deficitária devido à compressão de

centros vitais, se houver Parada Cardiorrespiratória, é necessário iniciar imediatamente

as manobras de ressuscitação cardiopulmonar (OLIVEIRA, 2012).

Uma abordagem sistêmica, deve ser realizada a este paciente vítima do TCE,

frente à gravidade do quadro. Dentre estas pode-se destacar:

3.4.1 Abordagem Neurológica

O traumatismo cranioencefálico (TCE) constitui uma urgência neurológica cada

vez mais frequente em nosso meio. Neste contexto, existe um largo espectro de

manifestações clínicas bem como diversas hipóteses fisiopatológicas, algumas destas

bem compreendidas, conforme abordado adiante. Os mecanismos fisiopatológicos são

particulares a cada tipo de trauma e dependem diretamente da sua etiologia. (Rodrigues

et al, 2008)

Segundo Shinotsuka et al (2013), a hipertensão intracraniana (HIC) é um grave

problema clínico que deve ser rapidamente identificado e controlado para evitar suas

consequências, tais como sequelas e morte. É uma via final comum de vários distúrbios

neurológicos e não neurológicos. Cerca de 50% dos pacientes com traumatismo

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cranioencefálico (TCE) apresentam HIC – entre os TCE’s graves, cerca de 35%

evoluem com óbito e 18% com grave incapacidade física. O conhecimento da dinâmica

e da fisiopatologia da HIC é essencial para o reconhecimento e o manejo dessa entidade

clínica, bem como para o efetivo uso da monitorização intracraniana.

Atualmente  existem  vários  métodos  invasivos  e  não   invasivos  para

monitorizar  a  PIC.  Estes  métodos  não  só  possibilitam  uma  melhor   monitorização

da  PIC  e  um  delineamento  das  condutas  a  serem  tomadas,  como,  os   métodos  de

monitorização  invasiva  com  colocação  do  cateter  em  posição   intraventricular

permitem  uma  redução  desta  pressão pela  retirada  do  líquido   cefaloraquidiano

(LCR).

A  monitorização  invasiva  continua  da  PIC  possibilita  detectar  

precocemente  um  aumento  desta  pressão  que  pode,  potencialmente,  levar  a  uma  

intervenção  em  tempo  adequado  capaz  de  controlar  os  níveis  pressóricos.  

De  acordo  com  a  American  Brain  Trauma  Foundation,  a  monitorização  da

PIC  é  indicada  em  todos  os  casos  de  TCE  com  escore  na  escala  de  coma  de

Glasgow   entre  3  e  8  e  tomografia  de  crânio  com  anormalidades. (BRASIL, 2014)

Segundo Shinotsuka et al (2013), outros procedimentos devem ser realizados

como a cabeceira do leito, que deve estar sempre elevada em 45° e a cabeça do paciente

deve ser mantida na posição central. Tais medidas são importantes para controle da HIC

e para a prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica e a sedação que deve

ser feita com agentes de meia-vida curta que permitam a suspensão intermitente para

avaliação neurológica. Destes agentes, o preferido, por causa de sua disponibilidade e

de seu preço, é o propofol, que pode ser utilizado conjuntamente ao remifentanil.

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3.4.2 Abordagem Respiratória

O rebaixamento do nível de consciência é o principal fator de risco para a

bronco aspiração e posterior admissão na unidade de tratamento intensivo (UTI), que

tem como objetivos detectar e tratar as complicações da lesão primária e fornecer uma

melhor condição para o retorno da função cerebral. Portanto, pacientes com problemas

relacionados ao Sistema Nervoso Central (SNC) muitas vezes necessitam de assistência

ventilatória por insuficiência respiratória aguda (IRpA), nem sempre pela condição

neurológica em si, como a diminuição do drive respiratório, mas por afecções

pulmonares. ( OLIVEIRA-ABREU & ALMEIDA, 2009)

Para Shinotsuka et al (2013), para assegurar uma ventilação satisfatória, todo

paciente com ECG < 8 ou com nível de consciência em deterioração rápida deve

ser entubado. A ventilação deve ter como objetivo os seguintes parâmetros: 1. pH

normal; PO2 > 100mm Hg; PCO2 entre 35 e 40mm Hg; SatO2 > 95%.

Embora a hiperventilação já tenha sido preconizada para o controle da HIC,

estudos posteriores mostraram que ela pode piorar a isquemia cerebral, além de

induzir ao “efeito rebote” quando descontinuada. Dessa forma, a hiperventilação

(PCO2 < 35mm Hg) não deve ser implementada de forma contínua, mas pode ser

utilizada em momentos pontuais de exacerbação da HIC, enquanto são providenciadas

outras medidas terapêuticas.

3.4.3 Abordagem Hemodinâmica

O tratamento do doente com traumatismo crânio-encefálico (TCE) grave obriga

necessariamente à admissão numa Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). É o local

indicado para a instituição de terapêutica de suporte e para a monitorização dos

parâmetros fisiológicos sistémicos e do sistema nervoso central (SNC) com o objectivo

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de impedir ou reverter o estabelecimento da lesão cerebral secundária. Para além dos

meios técnicos de monitorização, é fundamental a formação adequada dos enfermeiros e

médicos da UCI para interpretar os dados da monitorização e actuar de forma imediata e

correcta. Isto aplica-se igualmente às observações neurológicas regulares que são parte

integrante da monitorização clínica destes doentes. (RIOS, 2005)

Devem ser implementadas as estratégias para a manutenção da pressão arterial

sistêmica, baseado na forte associação entre hipotensão arterial sistêmica e prognóstico

ruim. As soluções salinas intravenosas precisam ser administradas, conforme a

necessidade. Recomenda-se o uso de solução NaCl 0,9% ou de Ringer lactato. Não

devem ser usadas soluções hipotônicas. As aminas vasoativas podem ser utilizadas no

choque associado. ( Lino et al, 2008)

Shinotsuka et al (2013), diz que do ponto de vista hemodinâmico, deve-se

almejar PAM > 90mm Hg, PPC entre 60 e 70mm Hg, boa perfusão sistêmica e

euvolemia com osmolaridade sérica normal-alta.

3.4.4 Intervenções no TCE em Terapia Intensiva

3.4.4.1 Monitorização dos Sinais Vitais

A monitorização dos sinais vitais é de extrema importância quando se trata de

uma vítima de TCE, mesmo que o maior indicativo de comprometimento seja as

alterações do nível de consciência medida a partir da Escala de Coma de Glasgow, seja

a indicação neurológica mais sensível do agravamento do paciente. Portanto, a

verificação da temperatura, frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial, devem

ser monitoradas em intervalos de 10 minutos, podendo-se a partir dos dados coletados

avaliar o estado intracraniano (SMELTZER et al., 2014).

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3.4.4.2 Sedação

Terapias como manitol e solução salina hipertônica são usadas frequentemente

para tratar a pressão intracraniana elevada por modularem a reologia e a osmolaridade

do volume sanguíneo cerebral. Outras medicações, tais como bloqueadores

neuromusculares, sedativos como propofol e barbitúricos como o tiopental são

utilizados para suprimir o metabolismo cerebral em um esforço a fim de abater o

“estresse energético” presente nas células lesadas. Novas terapias como bloqueadores de

canais de cálcio, inibidores da poli ADP-ribose polimerase e ciclosporina estão sendo

investigadas atualmente pelo seu potencial em modular os mecanismos de lesão

secundária.

3.4.4.3Ventilação Mecânica

A ventilação mecânica (VM) é um dos suportes à vida de grande importância em

UTI e constitui um dos recursos mais utilizados nessas unidades, consistindo no

emprego de uma máquina que substitui, total ou parcialmente, a atividade ventilatória

do paciente, com o objetivo de restabelecer o balanço entre a oferta e a demanda de

oxigênio e atenuar a carga de trabalho respiratório de pacientes com insuficiência

respiratória. (RODRIGUES et al, 2012)

O objetivo da manobra de hiperventilação (MHV) é reduzir o fluxo sanguíneo

cerebral e o volume sanguíneo cerebral, consequentemente controlando os valores de

PIC, através da adequação dos valores de CO2 no sangue arterial, na esperança de

poupar o encéfalo da falência de sua circulação e metabolismo. (BEZERRA, 2011)

3.4.4.4 Sondagem Orogástrica e Nasogástrica

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A realização das técnicas de alimentação por sonda é empregada em casos em

que os pacientes apresentam limitações funcionais para ingestão oral de alimentos, tais

como em alterações neurológicas ou após cirurgias extensas de cabeça e pescoço. A

introdução da sonda enteral e a verificação de sua posição é responsabilidade do

enfermeiro.4 Os procedimentos relacionados à administração de nutrientes por meio da

nutrição enteral, prestados no domicílio do paciente, com a finalidade de melhorar ou

manter o estado nutricional é definida como Terapia Nutricional Enteral Domiciliar

(TNED).(MOREIRA, 2010)

A via preferencial de oferta nutricional ao paciente neurológico agudo é a via

enteral. Há 6 meta-análises comparando as vias enteral e parenteral para suporte

nutricional em pacientes críticos gerais, que evidenciam redução significante da

morbidade infecciosa com o uso da via enteral. Porém, em pacientes vítimas de TCE,

isto ainda não foi comprovado. (SOUZA &MACHADO, 2012)

Ainda Souza & Machado (2012) citam que: também há dados experimentais

que sugerem que a nutrição por via parenteral possa agravar o inchaço cerebral, mas isto

parece não ser um problema clínico. Uma alternativa as sondas via nasal e oral, que já

vem sendo estudada desde a década de 90, é a realização precoce de gastrostomias ou

mesmo jejunostomias. O aprimoramento da técnica cirúrgica e os efeitos indesejáveis

das sondas nasoenterais e oroenterais contribuem para isso.

3.4.4.5 Sondagem Vesical de Demora

A cateterização urinária é um procedimento invasivo em que é inserido um

cateter uretral até a bexiga com a finalidade, dentre outras, de drenagem da urina em

pacientes com problema de eliminação urinária. A drenagem urinária pode ser realizada

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por meio de sistema aberto (intermitente ou alívio) ou fechado (demora) e por via

suprapúbica. (ERCOLE et al, 2013).

Segundo Pereira et al (2011), as infecções são manifestações suscetíveis em

Unidades de Terapia Intensiva (UTI) devido à gravidade do paciente, maior diversidade

microbiana e maior exposição a procedimentos invasivos, como o cateterismo vesical,

indicado na maioria das vezes para avaliação.

3.4.4.6 Exame de Imagem /Tomografia Computadorizada de Crânio

Os achados cruciais na TCC são os seguintes: hematoma intracraniano,

contusões e desvio da linha média (efeito de massa). Representam indicações frequentes

da necessidade de cirurgia para evacuar o coágulo ou a contusão a presença de desvio

de 5 mm ou mais da linha média.

Para auxiliar no diagnóstico e estabelecer um prognóstico, os pacientes com

lesão pós-TCE com frequência realizam numerosos testes especiais, além do exame

neurológico padrão. Entre eles estão a tomografia computadorizada (TC), a ressonância

magnética (RM), o eletroencefalograma e o mapeamento do fluxo sanguíneo cerebral.

A TC é o exame de imagem de escolha no manejo da vítima de TCE na sala de

emergência. Através desse exame, hematomas podem ser rapidamente diagnosticados,

favorecendo, quando indicado, tratamento cirúrgico precoce (Oliveira, 2008)

Segundo Lino et al (2008), o método mais eficaz para reduzir a PIC é a remoção

cirúrgica de lesões expansivas intracranianas. Uma nova lesão, como um hematoma ou

hidrocefalia, quando ocorre qualquer aumento súbito da PIC, é considerada suspeita, e,

por isso, é importante que, neste momento, se realize uma tomografia

computadorizada.4 Outras técnicas cirúrgicas podem ser úteis para reduzir a PIC, como

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a derivação ventricular externa, que consiste na instalação de um cateter no sistema

ventricular, permitindo a drenagem do líquor; ou, ainda, a craniectomia descompressiva,

em que parte da calota craniana é retirada e a dura mater é aberta para permitir a

expansão cerebral, além do conteúdo craniano.

3.4.4.7 Procedimento Neurocirúrgico/ Tratamento Conservador

Segundo Lino et al (2008), o método mais eficaz para reduzir a PIC é a remoção

cirúrgica de lesões expansivas intracranianas. Uma nova lesão, como um hematoma ou

hidrocefalia, quando ocorre qualquer aumento súbito da PIC, é considerada suspeita, e,

por isso, é importante que, neste momento, se realize uma tomografia

computadorizada.4 Outras técnicas cirúrgicas podem ser úteis para reduzir a PIC, como

a derivação ventricular externa, que consiste na instalação de um cateter no sistema

ventricular, permitindo a drenagem do líquor; ou, ainda, a craniectomia descompressiva,

em que parte da calota craniana é retirada e a dura máter é aberta para permitir a

expansão cerebral, além do conteúdo craniano.

Existem poucas dúvidas a respeito da indicação cirúrgica de lesões com efeito

expansivo em pacientes com piora neurológica, entretanto, os critérios de indicação para

pacientes assintomáticos ou oligossintomáticos com lesões pequenas, como é

frequentemente o caso nos pacientes com TCE leve, são controversos. (Andrade et al,

2001)

Apesar da controvérsia, é consenso de que os critérios de indicação cirúrgica

incluem localização da lesão, tamanho, aumento de volume, desvio das estruturas da

linha mediana, presença de lesões associadas e quadro neurológico. Pacientes não

suscetíveis a cirurgias imediata como idosos, portadores de graves doenças sistêmicas

ou lesões tardias deverão ser acompanhados rigorosamente.

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4. RESULTADOS

Os resultados deste estudo demonstraram que foram encontrados no período

estudado, o registro de 14 casos de pacientes internados na Sala de Graves do hospital

de Emergência no período, sendo esses 14 (100%) do sexo masculino, como pode-se

ver no gráfico 1. Gráfico 1 - Gênero

Masculino Feminino0%

20%40%60%80%

100%120%

Gênero

Gênero

Fonte: Pesquisa de Campo,2017

As lesões crânio encefálicas encontram-se entre os tipos de trauma mais

frequentemente vistos nos serviços de emergência. Muitos doentes com lesões cerebrais

graves morrem antes de chegar ao hospital, e quase 90% das mortes pré-hospitalares

relacionadas ao trauma envolvem lesão cerebral. (STREET, 2012).

No Brasil, a epidemiologia do trauma cranioencefálico é estimada em meio

milhão de hospitalizações anualmente. (MAIA et al, 2013).

Segundo Moura et al (2011), o TCE é considerado como causa comum de morte

e incapacidades, particularmente na primeira metade da vida, sendo mais frequentes

entre os dois e 42 anos de idade, predominando no sexo masculino. Sua ocorrência

torna-se ainda mais preocupante considerando que cerca dos 50% dos politraumatizados

agravam seu diagnóstico pela vulnerabilidade e capacidade de recuperação limitada do

Sistema Nervoso Central (SNC).

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Referente a faixa etária mais afetada, esta ocorreu entre indivíduos de 18 a 60

anos (56%) (Gráfico 2), enfatizando-se com esse resultado o que é afirmado por alguns

autores como vê-se a seguir:

Gráfico 2- Idade

< 18 anos 18-60 anos < 60 anos0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Idade

Fonte: Pesquisa de Campo,2017

Conforme Brasil (2015) durante o ano de 2014 no Brasil aproximadamente 106

mil pessoas foram internadas nos hospitais do Sistema Único de Saúde vítimas de TCE

e que a grande maioria destes casos se encontravam presentes em jovens sendo o gênero

masculino o de maior prevalência dentre os casos levantados.

O número de casos de TCE vem aumentando em duas importantes fases da vida

do ser humano, uma a mais jovem facilmente representada pela força e vigor da

juventude, onde há uma maior probabilidade de exposições e vulnerabilidades que

ocasionem risco para a vida. Em contrapartida a outra fase retrata a senilidade onde

também há uma maior predisposição a situações de risco, que posteriormente podem

levar ao adoecimento deste público (OLIVEIRA et al., 2012).

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A principal causa de morte, são as lesões traumáticas de pessoas entre 5 e 44

anos no mundo, e correspondem a 10% do total de mortes. Por causa da faixa etária

acometida, os danos socioeconômicos para a sociedade são enormes. Anualmente, nos

Estados Unidos estima-se que ocorra 1,7 milhão de casos de TCE, dos quais 52 mil

resultarão em mortes, 275 mil em hospitalizações e 1.365.000 receberão atendimento

hospitalar de urgência e emergência, com posterior liberação. Além de ser responsável

por 75% a 97% das mortes por trauma em crianças. Já no Brasil, os dados não são

diferentes e as ocorrências aumentam a cada ano, sendo responsável por altas taxas de

mortalidade, tendo uma maior prevalente em jovens do sexo masculino (BRASIL,

2013).

Quanto ao mecanismo do trauma, o Gráfico 3 mostra que a maioria das lesões

ocorreram Quanto às causa externas do TCE, têm-se entre os registros feitos, a maioria

com agressão Física ( FAB) – 31% e os acidentes motociclísticos ( 23%), seguidos pelas

quedas (13%) e Atropelamentos (13%).

Gráfico 3- Causas do TCE

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Atropelamento

Acidente Automobilís

tico

Acidente M

otociclís

tico

Queda de própria altu

ra

Queda de Altura

Ag. Físi

ca/F

AB

Ag. Físi

ca/F

AF0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Causas do TCE

Vendas

Fonte: Pesquisa de Campo,2017

O trauma é a principal causa de óbito nas primeiras quatro décadas de vida e

representa um enorme e crescente desafio ao País em termos sociais e econômicos. Os

acidentes e as violências no Brasil configuram um problema de saúde pública de grande

magnitude e transcendência, que tem provocado forte impacto na morbidade e na

mortalidade da população (GAUDÊNCIO; LEÃO, 2013).

As causas de TCE estão relacionadas dentro do grupo de patologias ocorridas

por causas externas, sendo as principais: 1. Acidentes automobilísticos (50%), neste

grupo, a principal faixa etária é de adolescentes e adultos jovens. Dos 15 aos 24 anos, os

acidentes de trânsito são responsáveis por mais mortes que todas as outras causas juntas;

2. Quedas (30%), neste grupo há um grande número de idosos. Entretanto, no Brasil são

muito frequentes as quedas de lajes, que são ignoradas pelas estatísticas internacionais.

3. Causas Violentas (20%), com ferimentos por projétil de arma de fogo e armas

brancas. (MASCARENHAS et al., 2010),

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Embora a causa principal de TCE varie entre diferentes localidades, os acidentes

automobilísticos, as agressões físicas e as quedas estão entre suas causas mais

frequentes. Segundo as estatísticas brasileiras, as causas externas estão entre os quatro

mais frequentes agentes de mortalidade no país e, se fossem excluídas as mortes por

causas mal definidas, passariam, então, a ocupar o segundo ou terceiro lugar. Conforme

dados do DATASUS, em 2010 no Brasil foram registrados 143.256 óbitos por causas

externas, do grupo CID10, abrangendo todas as faixas etárias. Entre estes, 43.908

(30,7%) foram decorrentes de acidentes de trânsito, ocupando a segunda posição entre

as causas de mortes. Na faixa etária entre cinco e 39 anos, os acidentes de trânsito

totalizaram 29.940 óbitos (68,2%), ampliando-se para 41.538 (94,6%) se considerada

até 59 anos. (Santos et al, 2013)

Ao admitir o paciente, vítima de TCE na unidade de emergência, o profissional

tem a função de obter sua história; abordar as vias aéreas com imobilização da coluna

cervical; realizar aspiração orotraqueal para manter boa oxigenação, caso haja lesões

faciais não aspirar narinas; proporcionar ao paciente uma ventilação adequada,

utilizando cânula de guedel se mordedura ou queda da base da língua retirando assim

que possível. Manter cabeça alinhada e decúbito elevado a 30°C. Observar a circulação

como: verificação de pulso, coloração, temperatura e umidade da pele. Manter acesso

venoso calibroso ou cateter venoso central para quantificação da volemia, realizando

balanço hídrico a cada hora. Realizar exame neurológico (Pereira et al, 2011).

De acordo com as literaturas estudadas, frente aos procedimentos realizados

durante a assistência esperadas aos pacientes com TCE, têm-se na amostra pesquisada

os resultados descritos na Tabela 1.

Tabela 1- Assistência a vítima de TCE/SG/HE/AP (Abril a Setembro de 2017)-n=14

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Tratamento e Procedimentos Realizados nº *f%p

Monitorização de SSVV 14 100%

Sedação ( Pós Trauma Imediato) 12 85%

Intubação Orotraqueal/ Ventilação Mecânica 13 93%

Sondagem Orogástica 9 65%

Sondagem Nasogástica 5 35%

Sondagem Vesical de Demora 13 93%

Exame de Imagem ( Tomografia) 14 100%

Avaliação Neurocirúrgica 14 100%

Procedimento Neurocirúrgico 3 22%

Tratamento Conservador 11 78%Monitorização da PIC ( Pressão Intracraniana) 0 0%

*f%p= frequência percentual Fonte: Dados primários (2017)

Os dados indicados na Tabela 1 sobre a assistência prestada no serviço analisado

demonstram que as intervenções realizadas estão em sua maioria condizentes com o que

que se encontra na literatura sobre o assunto. Observa-se primeiramente que em 100%

dos casos foi realizado a monitorização dos sinais vitais. O que se revela de maior

importância, pois como indica um dos autores pesquisados deve ocorrer monitorização

constante dos sinais vitais, avaliando assim, o estado intracraniano. Os sinais de PIC

envolvem bradicardia, pressão arterial sistólica crescente e alargamento da pressão de

pulso. Em caso de compressão cerebral, pode ocorrer hipotensão arterial, pulso lento e

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respirações rápidas. Já a taquicardia associada à hipotensão indica hemorragia interna.

(SMELTZER; BARE ,2014)

Quanto á sedação (pós-trauma imediato), os dados indicam que 85% do grupo

analisado sofreu esta intervenção, muito provavelmente pela evolução do quadro

clínico, que dependendo do tipo de TCE, pode evoluir para piora do prognóstico à partir

de 24h. Gentile et al, (2010) afirma que a sedação adequada diminui a dor, ansiedade e

agitação, reduzindo o metabolismo cerebral, diminuindo o consumo de oxigênio e

facilitando a ventilação mecânica. Isso pode ser conseguido por meio do uso de

fármacos sedativos e opióides.

Sobre a intubação orotraqueal em conjunto com a Ventilação Mecânica, 93%

dos pacientes internados sofreram essa intervenção, principalmente pela característica

da lesão, com grande probabilidade de serem pacientes num quadro de TCE grave,

apesar do estudo não ter dado ênfase a essa variável.

A importância desta intervenção é enfatizada por Rodrigues et al (2012) que

afirma que a ventilação mecânica constitui um dispositivo terapêutico imprescindível

em pacientes com TCE grave, uma vez que visa a proteção da via aérea, pela intubação

endotraqueal, e permite a sedação, inclusive curarização, evitando assim os danos

causados pela hipoxemia e hipercapnia.

Quanto à realização de sondagem orogástrica (65%) e sondagem nasogástrica

(35%) indicada no grupo estudado, deve-se referenciar a indicação para cada um dos

procedimentos frente ao quadro do paciente. Como pode ser visto em estudo de Viana

(2011) inferindo que a nutrição enteral deve ser iniciada após 48 horas de admissão na

UTI, deve-se estar atento à presença de ruído hidroaéreos (RHA) e distensão abdominal.

Nos pacientes que apresentarem fraturas de base de crânio, a sondagem nasogástrica ou

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enteral deve ser feita por via oral e não via nasal, pois podem provocar infecções do tipo

meningite e lesões secundárias, para as aspirações deve ser usado o mesmo critério, não

realizar aspirações nasal nestes pacientes.

A sondagem vesical, procedimento muito importante para aferição de perdas e

função renal dentro do balanço hídrico, foi observado em 93% dos casos. Ferreira

(2005) afirma que o papel principal do procedimento de sondagem vesical ao paciente

vítima de TCE é sobre o balanço hídrico rigoroso, principalmente nas primeiras 48h

após o trauma.

Outra intervenção importante na assistência e tratamento da vítima de TCE é os

exames de imagem (Tomografias) que auxiliam no diagnóstico dos tipos de lesão e sua

evolução, que foram realizadas em 100% dos casos e a avaliação médica neurocirúrgica

que igualmente foi realizada em 100% dos casos do grupo estudado. Todos os autores

pesquisados reforçam a importância deste procedimento, assim como pode ser

observado na afirmação a seguir.

Segundo Lino (2008) deve ser realizada a tomografia computadorizada de

crânio-encéfalo (TCC) de urgência, tão logo seja possível, após a normalização

hemodinâmica. Deve ser repetida sempre que houver mudança no estado clínico do

doente e rotineiramente 12 e 24 horas após o trauma, quando há contusão ou hematoma,

identificado a tomografia computadorizada inicial.

Ainda sobre os procedimentos realizados, dá-se destaque a intervenções

cirúrgicas, como a craniotomia, que ocorreram em 22% dos casos. As indicações de

tratamento cirúrgico relacionadas ao TCE são as fraturas cranianas com afundamentos e

hematomas extradural, subdural e intraparenquimatoso. Hematomas subdurais crônicos

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geralmente ocorrem em idosos e a maioria destes em uso de antiplaquetários. O

hematoma subdural crônico é de evolução lenta e o tratamento consiste na drenagem

através de trepanação. Atualmente, a maioria destes procedimentos é realizada com

anestesia local e sedação. (PEDROZA, 2008).

Já sobre o Tratamento conservador, foi observado no restante da população

estudada, com 78% dos casos. Este grupo não sofreu intervenção cirúrgica, deduzindo-

se pela falta de necessidade no quadro clínico, ou pela gravidade clínica com a evolução

do quadro para óbito em pouco tempo. Andrade et al (2001) referem que a conduta

conservadora em determinados pacientes depende da existência de infraestrutura que

permita observação constante, acesso rápido a TC, centro cirúrgico e equipe

neurocirúrgica. A piora neurológica de modo geral sugere que a lesão deva ser tratada

cirurgicamente.

A última intervenção analisada numericamente na Tabela 1, trata da falta da

realização (0%) da monitorização da Pressão Intracraniana (PIC) demonstrada pelo

déficit na infraestrutura do setor para tal. Apesar da primordial importância deste

procedimento para os pacientes vítimas de TCE.

O manejo dos pacientes com edema cerebral e elevação da Pressão Intracraniana

(PIC) após trauma ainda constitui um grande desafio para a neurocirurgia. A PIC

deve ser mantida abaixo   de 20 mmHg por meio  de  sedação, hiperventilação  leve  e

uso de  manitol.  Em pacientes refratários a estas medidas,pode  ser  tentada  a

craniotomia.É  demonstrado  que  a  craniotomia  descompressiva  pode  melhorar  a

he-modinâmica   cerebral  em  pacientes  com  aumento  da  PIC  associada  ao  edema

cerebral, sua eficácia  no  que  se  refere  ao  desfecho  clínico  do  paciente não  foi

bem  estabelecida.Além  disso,  indicações  claras  para  a  realização  deste

procedimento   não  estão  bem  determinadas.(BRASIL,2014).

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A última variável analisada tratou da evolução clínica da população estudada,

onde observou-se que da amostra em estudo 50% dos pacientes evoluíram para alta

hospitalar ou transferência para outros setores hospitalares para continuidade do

tratamento e os outros 50% evoluíram ao óbito, como observado no gráfico 4, abaixo.

Gráfico 4- Evolução Clínica

50%50%

Evolução Clínica

Altas/Transferências da SG Óbito

Fonte: Pesquisa de Campo,2017

Quanto aos dados encontrados, sobre esta variável Pedroza,2006 ressalta que a

idade é um fator forte que influencia a morbidade e a mortalidade. A despeito de

algumas contradições, a maioria das literaturas demonstra que crianças com TCE grave

evoluem melhor que adultos. A significante influência da idade no prognóstico não é

explicada pelo aumento de complicações sistêmicas ou hematomas cerebrais do idoso.

A idade crescente é um fator forte e independente no aumento do prognóstico ruim

acima de 60 anos.

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O pior prognóstico em vítimas de TCE está relacionado a indivíduos

pertencentes ao gênero masculino, pontuação ≤ 8 na ECG na admissão hospitalar, faixa

etária da vítima acima de 60 anos, achados tomográficos evidenciando lesão axonal

difusa ou edema cerebral, pupilas com reflexo fotomotor abolido, hipotensão verificada

na admissão hospitalar e febre (MELO et al., 2005).

5. DISCUSSÃO

O predomínio de homens entre as vítimas de traumatismo cranioencefálico, no

caso do estudo, observado em sua totalidade (100%), especialmente por lesões

decorrentes da violência e de acidentes de trânsito, ilustra muito bem o efeito dos

padrões socioculturais, cristalizados na noção de gênero sobre este perfil, pois, em

princípio, parece não haver fator biológico que explique a maior predisposição

masculina em morrer por esse tipo de lesão. Este achado é semelhante aos trabalhos

científicos estudados que apontam a predominância do sexo masculino

Este achado é semelhante aos trabalhos científicos estudados que apontam a

predominância do sexo masculino. Em relação a faixa etária afetada observou-se a

prevalência de pacientes adultos. Este dado é preocupante, pois se enquadra uma parcela

da população em plena atividade produtiva. Há grandes gastos hospitalares tanto na fase

aguda quanto na fase crônica. Ocorre ainda a perda de anos laborais que representa,

provavelmente, a maior repercussão socioeconômica deste trauma.

Os mecanismos de trauma que levam ao TCE estão muito relacionados à idade.

Como observado neste estudo, com predominância entre a faixa etária de 18-60 anos

(56%). Indicando sobre as influências socioeconômicas deste quadro, principalmente

por ocorrer na faixa da população economicamente ativa.

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O TCE desde o grau leve até o grave é uma das principais causas de procura por

atendimento médico de urgência não somente em serviços de pronto atendimento

hospitalares, mas também em postos de saúde, consultórios e clínicas particulares. O

esclarecimento dos dados epidemiológicos é um passo essencial para o planejamento de

ações preventivas e para a melhoria do atendimento.

Neste estudo, observou-se que a violência e agressões teve a predominância dos

casos (31%), onde são causas crescentes de trauma mecânico em grandes metrópoles,

apesar da cidade do estudo em questão não ser considerada uma grande metrópole, mas

acompanha os dados estatísticos do restante do país. Provavelmente as agressões

ocorrem devido ao processo de urbanização que acaba acentuando as desigualdades

econômicas e predispondo a violência.

Os acidentes com veículos automotores, incluindo motocicletas, automóveis e

atropelamentos também merecem destaque no estudo, por ocupar prevalência logo após

os casos relacionados á violência. Os acidentes de trânsito são a segunda causa externa

de mortalidade no país, estando entre os mais elevados no mundo, e a maioria que vão a

óbito são os pedestres, e estes respondem por cerca de 50% do total das hospitalizações

por lesões causadas por esses acidentes. O alto índice de motorização reflete-se no perfil

de morbimortalidade, pois, além de serem responsáveis por importante parcela de

mortes, os acidentes de trânsito são também os segundos maiores responsáveis pela

perda de anos potenciais de vida, sendo superados, atualmente, apenas pelos

homicídios. No caso do estudo, ocorrendo em 23% dos casos.

A assistência às pacientes vítimas TCE pela equipe multiprofissional demonstra

que esta desempenha papel fundamental na implementação de ações de suporte básico e

avançado de vida a estes pacientes. O planejamento das ações aos pacientes acometidos

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por TCE consiste na previsão das necessidades e complicações e início da reabilitação.

Os resultados esperados incluem que o paciente: mantenha a ventilação e oxigenação

cerebral, atingindo os valores gasométricos arteriais; alcance equilíbrio hidroeletrolítico

satisfatório; atinja estado nutricional normal; evite a lesão; demonstre integridade

cutânea intacta, não obtenha úlceras de decúbito; demonstre ausência de complicações,

exiba PIC, sinais vitais normais, orientação crescente no tempo.

Os resultados da pesquisa demonstraram que a maioria das intervenções

apontadas pela literatura ao paciente vítima de TCE em uma unidade de terapia

intensiva foram realizados no grupo estudado, com exceção da monitorização da PIC.

Algo que poderá a levar a uma possível implementação desta intervenção a partir deste

estudo, dada a importância desta intervenção.

Sendo assim, todos os profissionais que atuam no atendimento à vítima de TCE

devem ter treinamento específico e aperfeiçoamento técnico-científico na prática

aprimorando suas habilidades e se atualizando quanto a protocolos específicos da área.

Tanto no atendimento pré-hospitalar quanto no ambiente hospitalar, enfatizando aqui os

que prestam assistência em Unidade de Terapia Intensiva. O raciocínio clínico para a

tomada de decisão e habilidade para executar as intervenções prontamente, são

competências ímpares para o exercício da prática intensiva.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O TCE é uma situação comum no cotidiano médico, responsável por altas taxas

de mortalidade e morbidade em todo o mundo. Apresenta-se de formas variadas, que

devem ser reconhecidas precocemente ainda no atendimento primário com o exame

clínico e neurológico, assim como deve ser precoce o início dos procedimentos

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avançados de suporte a vida e condutas específicas que tem como objetivo diminuir a

incidência de lesões neuronais secundárias ao trauma. As condutas nos pacientes com

TCE, principalmente em casos graves, são complexas e exigem atenção da equipe

multiprofissional durante o tratamento do paciente. Apesar do objetivo central do

tratamento do TCE ser evitar lesões secundárias através do controle rigoroso da

hipotensão e da hipóxia cerebral com monitoramento da PIC e do fluxo sanguíneo

cerebral (FSC), devem ser considerar outras condutas, que apresentam altos índices de

recomendação por inúmeros estudos e protocolos para o paciente traumatizado, com a

finalidade de reduzir ao máximo as sequelas do trauma craniano, melhorando a

sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes. Evidencia-se a necessidade de realização

de novos estudos sobre o tema.

O levantamento das características clínicas e epidemiológicas da população

atingida por um determinado agravo, a caracterização do seu comportamento ao longo

do tempo e o conhecimento dos grupos mais expostos possibilitam a criação e

implantação de estratégias de prevenção que podem diminuir os riscos e suas

conseqüências. Acredita- se que este estudo conseguiu traçar o perfil das vítimas

estudadas, fornecendo informações importantes sobre os grupos de risco para

Traumatismo cranioencefálico, que podem oferecer subsídios para ações preventivas e

de controle, em relação tanto à morbidade quanto à mortalidade dessas vítimas.

Constatou-se com a pesquisa que a assistência prestada ao paciente vítima de TCE

no setor estudado, condiz com dados abordados pelos autores discutidos, apesar da

dificuldade de infraestrutura, quanto ás variáveis analisadas. Conclui-se que este estudo

consegue comparar a assistência realizada no traumatismo cranioencefálico relatado nas

literaturas com a assistência prestada no setor analisado. Partindo disto a possibilidade

de um quadro de melhorias para o serviço.

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ANEXO I – CARTA DE ANUÊNCIA- ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA/ NÚCLEO DE PESQUISA EM SAÚDE / SESA/AP

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ANEXO II – CARTA DE APRESENTAÇÃO PARA COLETA DE DADOS/ NEPS-HEOC/SESA/AP

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