pedro sampaio vieira um sistema de modelagem 3d de coluna...

63
Pedro Sampaio Vieira Um sistema de modelagem 3D de coluna vertebral baseado em imagens de raios-x DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA Programa de Pós-Graduação em Informática Rio de Janeiro, agosto de 2009

Upload: ngohanh

Post on 08-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Pedro Sampaio Vieira

Um sistema de modelagem 3D de coluna vertebral baseado em imagens de raios-x

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA

Programa de Pós-Graduação em Informática

Rio de Janeiro, agosto de 2009

Pedro Sampaio Vieira

Um sistema de modelagem 3D de coluna vertebral

baseado em imagens de raios-x

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Informática da PUC-Rio.

Orientador: Prof. Marcelo Gattass

Rio de Janeiro, agosto de 2009

Pedro Sampaio Vieira

Um sistema de modelagem 3D de coluna vertebral

baseado em imagens de raios-x

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Informática da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Marcelo Gattass Orientador

Departamento de Informática – PUC-Rio

Prof. Waldemar Celes Filho Departamento de Informática – PUC-Rio

Prof. Ítalo de Oliveira Matias Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento – UCAM-Campos

Prof. Paulo Cezar Pinto Carvalho IMPA

Rio de Janeiro , 21 de agosto de 2009

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e do orientador.

Pedro Sampaio Vieira

Ficha Catalográfica

Incluí referências bibliográficas.

Agradecimentos

Resumo

VIEIRA, P. S.; GATTASS, M. Um sistema de modelagem 3D de coluna vertebral baseado em imagens de raios-x. Rio de Janeiro, 2009. Dissertação de Mestrado - Departamento de Informática, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Nos dias atuais, pesquisas envolvendo a computação gráfica e a área

médica, têm contribuído muito para a evolução tecnológica de exames e

diagnósticos. Uma vertente desses trabalhos está relacionada diretamente à

reconstrução 3D de estruturas anatômicas do corpo humano, em específico a

coluna vertebral. O sedentarismo e a alta dependência dos computadores vêm

aumentando e agravando os problemas posturais das pessoas. Por esse

motivo, novas técnicas de reconstrução 3D baseada em exames de tomografia

computadorizada (TC), ressonância magnética (RM) e raios-x são

desenvolvidas, tornando as avaliações clínicas cada vez mais precisas. Neste

trabalho é proposto um sistema de modelagem 3D baseado em radiografias

digitais com a finalidade de recriar a coluna vertebral em um ambiente virtual. A

recuperação das informações tridimensionais de cada vértebra ajuda a

melhorar a avaliação feita atualmente com base apenas em imagens 2D. A

técnica utilizada no desenvolvimento do método se baseia na

estereoradiografia. E a utilização de radiografias, em relação à TC e RM, reduz

consideravelmente o tempo de exposição do paciente à radiação, além de ser

mais acessível à população pelo seu menor custo. Os resultados obtidos

apresentaram uma boa precisão do sistema. Além do mais, o método proposto

atingiu resultados bem próximos aos de pesquisas baseadas em TC e RM,

onde os dados de entrada são bem mais “legíveis” do que as imagens de raios-

x.

Palavras-chave Radiografia digital; modelagem 3D; estereoradiografia; avaliação postural.

Abstract

VIEIRA, P. S.; GATTASS, M. A spine 3D modeling system based on x-ray images. Rio de Janeiro, 2009. MScThesis - Computer Science Department, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Research involving computer graphics and laboratory exams has

contributed much to the quality of the Medical diagnose. One aspect of these

researches is directly related to 3D reconstruction of anatomical structures of

the human body, especially the spine. The sedentary lifestyle and the high

dependence of computers have increased the postural problems of the

population. Therefore, new techniques for 3D reconstruction based on

Computed tomography (CT), magnetic resonance imaging (MRI) and x-ray

images are required, in order to make the clinical evaluation increasingly

accurate. This work proposes a 3D modeling system based on x-ray images

that yields a virtual spine model. The recovery of three-dimensional information

of each vertebra helps improve the assessment currently made using only 2D

images. The technique used here is based on stereo radiographic. The use of

x-ray images instead of CT or MRI, significantly reduces the exposure time of

the patient to radiation, and is more useful to the general population due to its

lower cost. The results presented here show good accuracy despite its lower

cost. The proposed method has achieved results very close to those based on

expensive CT or MRI, where the input image is better than x-ray images.

Palavras-chave Digital radiographs; 3D modeling; stereoradiographic; postural

assessement.

9

Sumário

1 Introdução 10�

2 Trabalhos Relacionados 13�

3 Sistema de Modelagem 17�

3.1. Aquisição das imagens de raios-x 19�

3.2. Recuperação dos pontos 3D 22�

3.2.1. Método 1 25�

3.2.2. Método 2 27�

3.3. Posicionamento do modelo 3D das vértebras 33�

4 Experimentos Computacionais 38�

4.1. Validação da técnica 39�

4.2. Recuperação do ponto 3D 41�

4.3. Avaliação clínica dos resultados 46�

5 Conclusão e Trabalhos Futuros 49�

REFERÊNCIAS 52�

Apêndice A - Pré-processamento das imagens de raios-x 56�

10

1 Introdução

Atualmente a Computação Gráfica (CG) é uma das áreas de pesquisa da

Ciência da Computação de maior expansão e importância, principalmente devido

ao alto número de projetos multidisciplinares em que ela está envolvida. E em

muitos momentos, esses tipos de projetos tomaram uma proporção muito grande

pelo fato de alguns deles serem reconhecidos como um marco de outras

disciplinas que, em sua essência, não estão ligadas diretamente à computação.

Tudo isso devido à contribuição da CG.

Um exemplo dessa realidade pode ser visto na evolução tecnológica da

medicina. Há vários exames que auxiliam os médicos a terem uma visão bem

detalhada de vários problemas específicos, o que conseqüentemente lhes

permitem fornecerem diagnósticos mais precisos aos pacientes. Como, por

exemplo: tomografia computadorizada, ressonância magnética, endoscopia,

ultra-sonografia, etc.

Figura 1.1: Sistema da Vinci Si utilizado como ferramenta de apoio a cirurgias.

Contundo muito desses benefícios vêm da evolução das técnicas de visão

computacional, empregadas na realização da maioria destes exames. Tem-se a

presença forte de tais técnicas tanto numa simples ressonância magnética

(deixando claro que o termo “simples” é por ser atualmente um exame mais

comum) quanto no exame que é a “sensação” do momento hoje, a ultra-

sonografia 4D. Nele se é possível observar, em tempo real num ambiente tri-

11

dimensional, toda a forma e a movimentação do feto dentro da barriga da mãe,

permitindo assim um estudo melhor da morfologia fetal e ajudando na detecção

de anomalias e síndromes.

Inclusive, em uma pesquisa recente, foi desenvolvido um sistema capaz de

reconstruir tridimensionalmente o feto ainda na barriga da mãe. E além da

reconstrução, o sistema permite que o modelo 3D seja impresso numa

impressora específica, gerando um modelo real da criança (figura 1.2).

Figura 1.2: Modelo real do feto ainda na barriga da mãe.

Na mesma corrente, a área biomédica também tem sido muito explorada

pelas pesquisas aplicadas envolvendo a Computação Gráfica. Novas linhas de

pesquisa vêm sendo criadas e técnicas já conhecidas vêm ganhando melhorias

significativas. Um exemplo muito interessante são pesquisas relacionadas à

reconstrução tridimensional da coluna vertebral do paciente, permitindo uma

avaliação lateral mais precisa da curvatura da coluna.

Esse campo de pesquisa é muito interessante para se trabalhar, porque

trata de problemas de postura que vem sendo muito comum na vida das

pessoas, já que o estilo de vida hoje em dia se caracteriza pelo sedentarismo e,

principalmente, por uma alta dependência que as pessoas têm do computador.

O tempo sentado em frente do computador, somado a falta de preocupação

quanto a postura, faz com que esses problemas sejam acentuados.

Outro ponto importante é que apesar de existir alguns trabalhos

relacionados à esse problema, ainda têm muitos caminhos a serem explorados

para que se possa obter diagnósticos mais precisos em relação ao que se é feito

nos dias atuais sem o auxilio da computação. Além de proporcionar uma

12

melhora também na definição e no monitoramento do tratamento necessário

para recuperação do paciente.

Desta forma, este trabalho propõe o desenvolvimento de um sistema de

modelagem tridimensional de coluna vertebral baseado em radiografias digitais.

Esse mesmo tipo de reconstrução 3D também pode ser feito, de uma forma bem

precisa, com base em dados coletados através tanto de um exame de

tomografia computadorizada (TC) quanto de ressonância magnética (RM).

Porém, a opção da utilização de radiografias é devido a 3 fatores importantes,

como: o alto custo financeiro de um exame de TC e RM; à dificuldade

(psicológica ou técnica) que algumas pessoas têm para conseguirem realizar tais

exames; e à alta dose de radiação [1,6] que o paciente é exposto em uma TC e

RM.

É importante destacar que o conhecimento de biomecânica, que serve de

suporte para o desenvolvimento desta pesquisa, foi obtido através da

participação de profissionais da área biomédica no projeto. Ambos são

fisioterapeutas, professores e pesquisadores do Instituto Superior de Ensino do

CENSA, instituição localizada na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil.

Portanto, no próximo capítulo serão mostradas algumas pesquisas

relacionadas ao tema em questão. Em seguida, serão explicadas mais

detalhadamente as técnicas que foram usadas para atingir o objetivo da

pesquisa, bem como o conteúdo teórico que dá sustentação para todas as

etapas do processo. Logo após, serão apresentados os resultados dos

experimentos computacionais. E ao final, algumas considerações são feitas

juntamente com a conclusão da pesquisa.

13

2 Trabalhos Relacionados

Existem diversas pesquisas no campo da computação gráfica voltada a

área médica. Muito se tem estudado sobre a representação virtual, em

ambientes tridimensionais, de várias partes do corpo humano. Todas com o

intuito tanto de simular o ambiente real em treinamentos, quanto de detectar

patologias [20, 21].

Pesquisas destinadas a esse campo de atuação são mais freqüentes

quando o método de coleta de informações clínicas do paciente é feito baseado

em exames de Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética

(RM). Isso ocorre devido à vasta e qualificada quantidade de informações

extraídas a partir dos exames gerados por tais dispositivos. O que permite que

se tenha um elevado nível de precisão na concepção do ambiente virtual. Em

[18, 22] vemos alguns trabalhos nessa linha.

Entretanto, pesquisas baseadas em exames de raios-x, não são tão

freqüentes assim. Tal fato deve-se principalmente à dificuldade de se processar

imagens desta natureza. Isso pela razão de ainda apresentarem muito ruído

provenientes de outras partes do corpo humano, que não são o foco da

aplicação. Apesar disso, devido ao seu custo, o volume de trabalhos nesta linha

dos exames de raios-x tende a crescer no decorrer dos próximos anos.

Geralmente, o procedimento de modelagem tridimensional da coluna

vertebral é dividido em duas etapas: pré-processamento das radiografias e

recuperação do ambiente 3D. Isso porque, para efetuar a reconstrução da

coluna vertebral do paciente é necessário inicialmente extrair das imagens de

raios-x pontos chaves de cada uma dessas vértebras.

Esta etapa é extremamente importante para que se tenha um resultado

preciso ao final do processo. Encontrar tais pontos automaticamente é

considerado um dos principais desafios em pesquisas deste tipo. Principalmente

por causa do ruído, ainda não há um método que faça esse processo de

14

segmentação e extração de pontos chave de forma automática [1]. O que força

que os pontos sejam marcados manualmente por profissionais especializados da

área médica, aumentando consideravelmente o tempo em que todo o

procedimento de modelagem seja concluído. O que do ponto de vista da

agilidade exigida no fluxo de trabalho diário necessário para realizar um exame,

talvez possa ser uma questão importante a ser levada em consideração.

Contudo, alguns trabalhos propõem aproximações para que tanto a etapa

seja feita com mais agilidade, quanto para fornecer mais recursos ao profissional

que definirá as marcações. Em [6] é proposto um método semi-automático para

buscar características nas imagens de raios-x que identifica a deformidade que o

paciente possui na parte lombar da coluna. Mesmo utilizando técnicas de

aprendizagem computacional para classificar as deformidades possíveis, ainda é

necessário que o radiologista faça marcações iniciais na radiografia para criar os

classificadores. Porém no momento de avaliar um novo caso, os autores

propõem uma segmentação da imagem a fim de encontrar tais pontos. A técnica

utilizada por eles foi Active Appearance Modeling [7,17].

Tal técnica aproxima a marcação dos pontos de referência para facilitar o

trabalho do usuário. Desta forma, o usuário precisaria apenas corrigir algum

ponto quando houver necessidade. Os autores ressaltam que o fato do

framework proposto ser genérico, outras técnicas podem também serem

aplicadas. São elas: Active Contour Segmentation [8], Active Shape Modeling [9]

e Shape Particle Filtering [10].

Já em [11], também almejando uma reconstrução 3D, é usada uma técnica

de detecção de arestas para o processo de segmentação. O método proposto

pelos autores é uma modificação do clássico algoritmo de extração de arestas

Canny-Deriche [12,13]. Em sua versão original, o algoritmo possui uma etapa

inicial onde se realiza uma suavização gaussiana na imagem antes de partir

diretamente para a detecção das arestas. No Local Canny-Deriche, como foi

chamado pelos autores, tal processamento inicial foi substituído por um filtro

anisotrópico, a fim de preservar a estrutura das arestas e reduzir o ruído da

radiografia. O algoritmo é aplicado localmente na região de interesse, um

bounding box englobando apenas a estrutura da coluna vertebral.

15

Em contrapartida a essa linha de raciocínio, em [4], além das marcações

serem feitas manualmente, informações de vértebras reais coletadas pelos

autores durante anos ajudam ao processo. A partir de medidas realizadas nas

peças reais, o banco de dados é formado contendo uma série de modelos de

vértebras. Cada uma delas contém até 214 coordenadas 3D (no espaço do

objeto) referentes a específicos pontos anatômicos.

O artigo propõe um método original baseado em 2 radiografias (ântero-

posterior e perfil). Através de manipulações geométricas, das informações do

banco de dados e de modelos estatísticos, os autores conseguiram recuperar o

posicionamento das vértebras no espaço. A partir daí, esse resultado parcial é

projetado nas radiografias originais para que o usuário faça um ajuste fino e

corrija qualquer imperfeição que possa ter ocorrido na geometria de cada

vértebra. Desse jeito, segundo os autores, o método é capaz de apresentar uma

boa precisão, além de mostrar um resultado gráfico mais fiel à estrutura da

coluna vertebral.

Com características semelhantes a esse artigo, em [1] a proposta é utilizar

apenas uma única imagem de raios-x combinada com o mesmo banco de dados

citado anteriormente. A identificação dos pontos de referência é feita

manualmente e o processo de calibração é o mesmo do que já é aplicado em

câmeras normais. A diferença principal entre eles está na adição de um

tratamento para correção radial do posicionamento das vértebras no espaço.

Segundo os autores, o processo de mapeamento da vértebra no espaço

pode ocasionar erros grandes. Isso ocorre devido ao pequeno campo de visão

da projeção perspectiva. Sendo assim, o algoritmo de alinhamento proposto foi

desenvolvido para buscar um conjunto de translações das vértebras, na direção

radial, que minimiza o erro de alinhamento presente na junção de duas

vértebras.

Em [14] é abordado o problema da calibração das radiografias. Apesar de

o artigo possuir uma finalidade diferente do que essa dissertação propõe, ele

apresenta características muito semelhantes em relação ao ambiente montado

para captura das imagens de raios-x. A estrutura escolhida, que foi montada

para a aquisição das imagens de raios-X, possui o mesmo princípio da que foi

construída neste trabalho.

16

A metodologia de calibração proposta pelos autores é baseada no método

de minimização não-linear de Rougée [15]. No entanto, apenas os parâmetros

extrínsecos são estimados por meio deste método, a fim de atingir a alta

precisão requerida pelo problema. Pelo mesmo motivo, e por causa da

velocidade computacional, foi aplicado o método de Wang e Tsai [16], levemente

modificado, para produzir uma boa estimativa inicial desses parâmetros,

necessários para o processo de minimização. Dessa forma eles obtiveram alta

precisão e velocidade de processamento, satisfazendo a produtividade requerida

pelo projeto.

Atualmente, se é muito utilizado um software de avaliação postural

desenvolvido no Projeto SAPO [33]. O objetivo desse projeto foi desenvolver

uma ferramenta gratuita com fundamentação científica, banco de dados e

acesso a pela internet. O software consiste de fotos tiradas do paciente, onde

através desse material se é possível mensurar posição, comprimento, ângulo e

alinhamento dos segmentos corporais de um indivíduo. Todas as medidas são

baseadas numa escala pixel/cm inserida pelo usuário nas fotos, o que faz toda a

análise ser somente baseada em informações 2D.

Neste trabalho optamos por utilizar um método de calibração similar ao

que foi utilizado em [4]. Já para o cálculo das rotações das vértebras, propomos

uma manipulação geométrica baseada nos pontos marcados estrategicamente

nas radiografias. Além disso, para atingir o objetivo final de modelagem da

coluna vertebral, o sistema necessitou apenas de 5 pontos chaves identificados

em cada vértebra, sem o auxilio de qualquer banco de informações coletadas

previamente.

17

3 Sistema de Modelagem

A maioria das pesquisas sobre reconstrução 3D de coluna vertebral

baseado em radiografias possui três etapas: captura das imagens de raios-x;

pré-processamento e marcação dos pontos chave; e recuperação das

informações 3D das vértebras.

Este trabalho não chega a propor uma reconstrução total da coluna

vertebral, ou seja, recriar em 3D exatamente a coluna do paciente incluindo o

tamanho real, e atual, de cada vértebra. O nosso objetivo é modelar a coluna

vertebral, recuperando a posição e rotação de cada vértebra no espaço 3D. Pois

assim teremos a forma da coluna vertebral e a linha que a define recriada no

ambiente virtual.

Entretanto, neste capítulo são apresentadas apenas as etapas de

aquisição das radiografias e recuperação das informações 3D de cada vértebra.

Isso porque é definido de que a etapa de marcação dos pontos chave é feita

manualmente pelos médicos. Essa decisão foi tomada, já que todos os métodos

tentados não apresentaram melhoria significativa para que fosse decidido

realizar tal procedimento de outra forma. Porém, no apêndice A demonstramos

as técnicas empregadas nessas tentativas, bem como os resultados obtidos por

elas.

Voltando ao sistema de modelagem, a técnica utilizada é baseada em [4],

e a proposta é realizar tal procedimento com base em duas imagens de raios-x,

perfil e ântero-posterior (AP), podendo, posteriormente, ser introduzida no

processo uma terceira imagem na posição oblíqua para aumentar a precisão.

Tais imagens foram capturadas com a tecnologia da radiologia digital, e a sua

escolha deve-se ao fato da mesma possuir uma resolução bem superior do que

uma imagem de raio-x convencional, além de ser um equipamento de custo bem

inferior comparado aos tomógrafos por exemplo. Esse segundo ponto permite

que esta técnica possa ser aplicada a um maior número de pacientes, uma vez

que equipamentos deste tipo estão contemplados na infra-estrutura de muitas

18

unidades públicas de saúde, tornando esse tipo de análise mais acessível a

maioria da população.

A reconstrução 3D da coluna vertebral foi feita com base nos pontos

chave, de cada vértebra, previamente marcados pelos médicos. Tais pontos

ajudam a encontrarmos a posição e inclinação de cada vértebra no ambiente

virtual. Por conseqüência desse procedimento, podemos encontrar a linha

imaginária, que representa a coluna vertebral do paciente, nos permitindo extrair

informações para a avaliação do mesmo, como, por exemplo, o ângulo de Cobb.

O ângulo de Cobb é o método quantitativo mais usado na avaliação clínica

de radiografias de coluna vertebral. Ele é medido ao traçarem-se duas linhas

paralelas às placas terminais dos corpos vertebrais no início e fim da curva da

coluna [26]. Em seguida, traçam-se mais duas linhas perpendiculares a estas, e

o ângulo formado pelo cruzamento destas duas linhas é conhecido como ângulo

de Cobb (figura 3.1).

Figura 3.1: Cálculo do ângulo de Cobb.

Em outras palavras, o ângulo de Cobb quantifica o grau de escoliose do

paciente, uma medida correspondente ao ângulo que define a curvatura da

coluna vertebral. Tal dado é muito importante nas avaliações, porque em cima

delas que são decididos o tipo de tratamento a ser seguindo pelo paciente. Por

exemplo, ângulos superiores a 50° indicam tratamento cirúrgico; já ângulos entre

30° à 50° indicam tratamento ortopédico (colete); e ângulos abaixo de 30°

indicam tratamento cinesioterápico mediante ginástica corretiva (reeducação

postural) [32].

19

Porém, esse método de avaliação possui significativas limitações pelo fato

dele ser medido apenas baseado em imagens de raios-x, representadas em

duas dimensões. Logo, a grande limitação é a perda de informação quanto à

rotação das vértebras, o que torna a avaliação um tanto quanto imprecisa.

Sendo assim, a partir das próximas seções, as técnicas responsáveis pela

criação de todo o sistema serão apresentadas para que possamos detalhar

melhor cada etapa do processo.

3.1. Aquisição das imagens de raios-x

Como a base do sistema de modelagem proposto são as imagens de

raios-X, uma estrutura teve de ser montada, cuidadosamente, para que as

radiografias fossem capturadas de forma que não prejudique nenhuma etapa

posterior do sistema. O objetivo principal nesta etapa é diminuir o erro no final do

processo de modelagem.

Utilizando as instalações de uma clínica especializada em exames

radiológicos, foi possível gerar todas as radiografias necessárias para o projeto.

Porém, antes disso, foi necessário fazer um reconhecimento do local para

estudar como a estrutura deveria ser montada. A figura 3.2 mostra os

equipamentos e a configuração do local onde são realizados os exames

diariamente.

(a) (b) (c)

Figura 3.2: (a) Suporte onde é armazenada a chapa. (b) Dispositivo de raios-x. (c)

Radiografia digital.

20

A figura 3.2a mostra o suporte que armazena a chapa (“filme” onde a

imagem é projetada), que capturam os raios emitidos pelo dispositivo de raios-x

(figura 3.2b). As chapas são armazenadas em um suporte e a quantidade delas

utilizadas em cada radiografia varia com a altura do paciente. É importante

destacar que esse suporte é fixado na parede. Após a exposição à radiação, as

chapas são levadas a uma máquina que trabalha como um scanner conectado

diretamente ao computador, que recebe e junta todas as imagens geradas para

se ter a radiografia completa do paciente (figura 3.2c).

Geralmente, para se obter uma radiografia perfil e ântero-posterior (AP),

o paciente precisa se mover para mudar a sua posição, já que o suporte está

fixado na parede. O fato do paciente se movimentar de qualquer maneira pode

criar um erro grande quando estivermos na etapa de reconstrução 3D. Isso

porque, quando ele sai da posição inicial e se locomove de qualquer maneira

para uma outra posição, ele altera o seu eixo central imaginário em relação a

sua posição anterior.

Sendo assim, para tentar diminuir esse problema, a idéia foi construir uma

base giratória, resistente, onde o paciente ficará em pé sobre. Essa base ajuda

que o paciente seja rotacionado sem que seu eixo central imaginário seja

alterado, minimizando o erro causado por esse deslocamento.

Conseqüentemente, desta forma temos um controle melhor nesse movimento.

Figura 3.3: Base giratória.

Saber como é feito o exame e analisar as condições do local, nos permitiu

a montagem da estrutura e a criação da base giratória para a aquisição das

radiografias (figura 3.3). Então, temos a imagem AP e perfil correspondendo,

21

respectivamente, ao paciente de frente ao emissor de raios-x e ao paciente

rotacionado 90°, em seu próprio eixo, ficando de lado para o emissor.

Uma peça adicional foi estudada para acrescentar na base, com o objetivo

de manter uma estabilidade maior do paciente no momento em que o mesmo for

rotacionado, diminuindo a chance dele se mexer muito. Então, foram projetadas

duas hastes para servir de apoio para o paciente.

Algumas informações importantes da cena real, que envolvem toda a

configuração do ambiente montado para a aquisição das imagens, também

precisam ser mencionadas. São medidas como: distância entre a base e o

emissor, entre base e chapa, entre o piso e emissor, etc. Tais dados são

importantes para posicionarmos cada elemento da cena virtual em seu local

correto, considerando a origem no centro da base. Por questões de

padronização, definimos que neste trabalho todas as medidas da cena real serão

representadas em centímetros.

Outro ponto importante é uma marcação feita no suporte onde as imagens

são projetadas na chapa. Fixando marcadores, a idéia foi formar um retângulo

marcando o enquadramento da coluna vertebral na radiografia. Com essa

marcação sendo a mesma tanto em AP quanto em perfil, temos uma referência

que une as duas radiografias num mesmo ponto no espaço de cena.

Um fator que deve ser observado na montagem da cena é se o centro da

base está posicionado no centro do enquadramento da imagem em relação ao

eixo x. Pois, mais na frente, será percebido que ter esse alinhamento feito de

forma correta será fundamental quando os métodos de reconstrução forem

demonstrados.

Utilizando mais um marcador, de largura e altura conhecidas, nos permitiu

calcular a relação de escala pixel/cm, na horizontal e na vertical, necessária para

encontrar a posição no espaço dos pontos marcados na radiografia. Tal

marcador pode ser, por exemplo, uma pequena placa de metal retangular.

Diante destas considerações apontadas, se tornou necessário a criação de

um protocolo para a aquisição das radiografias. O protocolo consiste dos

seguintes passos:

22

• Alinhar pelo centro, no eixo x, o emissor, suporte e centro da base.

• Fixar no suporte os marcadores que definem o enquadramento da

coluna vertebral do paciente, levando em consideração que o

centro desse enquadramento tenha que estar alinhado, em x, com

o ponto central do suporte. Uma estratégia que facilita esta

marcação é posicionar primeiramente o paciente em cima da base

e marcar o limite superior e inferior do enquadramento em y. Após

fazer isso, com o paciente fora da base, ajustar a largura

centralizando-a, em x, em relação ao ponto central do suporte.

• Fixar no suporte o marcador referente à escala pixel/cm.

• Com as marcações prontas, posicionar o paciente em cima da base

e retirar a primeira radiografia em AP. Depois, rotacionar a base em

90º no sentido horário e retira a segunda radiografia em perfil.

• Por fim, medir: a altura do emissor ao piso; a largura e altura do

enquadramento; a altura do limite inferior do enquadramento com o

piso; a distância entre emissor e centro da base; e a distância entre

centro da base e suporte.

3.2. Recuperação dos pontos 3D

Este trabalho desenvolveu dois métodos para recuperar informações da

coluna vertebral em 3D através das imagens de raios-x (AP e perfil). O primeiro

método é mais simples e intuitivo de se pensar, já que temos a disposição

imagens em dois pontos de vista diferentes. Já o segundo, possui um tratamento

mais refinado, justamente para melhorar a precisão do primeiro. Ambos os

métodos utilizam exatamente os mesmos dados de entrada, os quais são: as

radiografias, com seus respectivos pontos chaves marcados de cada uma das

vértebras nas imagens; e as medidas dos objetos na cena real.

Os pontos chaves são passados para o sistema como coordenadas 2D

(u,v), tomando como referência a origem (0,0) no canto inferior esquerdo da

23

imagem. Como todo o processo baseado em estereoscopia, é essencial que o

ponto marcado em AP seja o mesmo ponto marcado em perfil, para que todo o

procedimento tenha uma boa precisão na recuperação de sua coordenada 3D.

Em outras palavras, é importante conseguir identificar o mesmo ponto em ambos

os pontos de vista.

(a) (b)

Figura 3.4: Placa de metal utilizado como marcador de escala. (a) Medida real da placa

(em cm). (b) Medida da placa na radiografia (em pixel).

Também precisamos conhecer a escala pixel/cm para que possamos

saber medidas da cena real apenas olhando paras os pixels na imagem. Neste

momento, é que entram em foco aquelas medidas feitas da placa de metal,

mencionadas na seção anterior. O cálculo é feito através da relação entre a

largura e altura real da placa (wmundo, hmundo) com suas respectivas medidas em

pixels na imagem (wimagem, himagem), ver figura 3.4.

Entretanto, devido à resolução da imagem, geralmente, não ser quadrada,

o pixel também não é quadrado. Então, não podemos usar a mesma relação na

horizontal e na vertical. Sendo assim, calculamos o fator de escala, tanto na

direção horizontal (�hori) quanto na direção na vertical (�vert), através da equação

3.1.

24

imagem

mundovert

imagem

mundohori

hh

ww

=

=

κ

κ

(3.1)

Um fator que é importante ser mencionado, para melhor entendimento dos

métodos, é a forma em que decidimos fixar nosso sistema de coordenada do

mundo e como os objetos estão posicionados em cena (figura 3.5). O que deve

estar bem compreendido é que normalmente se tem mais de uma câmera (no

nosso caso, emissor de raios-x) para retirar fotos do objeto simultaneamente em

pontos de vista diferentes. No caso deste trabalho, esse procedimento ocorre de

modo inverso. Na realidade, quem é rotacionando é a base e não a posição do

emissor. Para nossos cálculos, a idéia é imaginar que há um emissor para

capturar a imagem em AP e outro emissor posicionado para fazer a imagem, do

mesmo objeto, em perfil. Como se as duas radiografias fossem capturadas

simultaneamente nos dois pontos de vistas diferentes.

Figura 3.5: Montagem dos objetos em cena e sistema de coordenadas.

Sendo assim, agora temos que capturar as coordenadas dos pontos

marcados na imagem e recuperar suas posições no sistema de coordenadas do

mundo. A seguir, serão mostradas duas alternativas desenvolvidas nesse

trabalho para solucionar esse problema.

25

3.2.1. Método 1

Esse primeiro método é mais intuitivo e simples de ser implementado. Ele

consiste em visualizar a imagem AP fornecendo a posição do ponto em relação

a dois dos três eixos que compõem o sistema tridimensional. E partir desse

princípio, recuperamos a terceira coordenada (profundidade) através da imagem

em perfil.

Porém, para isso é preciso se ter uma referência, algum ponto em comum

que unem as duas radiografias num mesmo sistema de coordenadas. Esse é o

motivo de que no momento em que as radiografias foram capturadas, ouve-se a

preocupação de alinhar o centro da base com o centro da imagem pelo eixo x.

Porque assim, como a nossa origem está posicionada no centro da base e a

rotação do paciente é realizada em relação ao eixo central da base, garantimos

que ambas as imagens possam ser visualizadas no mesmo sistema.

Figura 3.6: Esquema representando a idéia do método 1.

Portanto, seguindo o esquema mostrado na figura 3.6, temos: H sendo a

altura do limite inferior da imagem referente ao chão (exatamente a distância do

marcador, que delimita canto inferior esquerdo na chapa que será projetada a

imagem, ao piso); (Xap,Yap,Zap) e (Xperfil,Yperfil,Zperfil) são as coordenadas dos pontos

na cena real (coordenadas no mundo); e (uap,vap) e (uperfil,vperfil) são as

coordenadas dos pontos na imagem.

26

Desta forma, logo podemos descartar as variáveis Zap e Xperfil pela razão de

já termos mencionado que o cálculo do ponto final (P) ser uma composição dos

pontos Pap e Pperfil. Com isso, temos:

Px = X ap

Py = Yap = Yperfil

Pz = Z perfil

(3.2)

Px = κhori uap −wap

2

� �

� �

Py = κvert vap( )+ H

Pz = −κhori uperfil −wperfil

2

� �

� �

(3.3)

Então, com todas as informações necessárias em mãos, para calcular Px e

Pz basta acharmos a distância, em pixel, do ponto marcado ao centro da imagem

e aplicar a conversão para o sistema métrico do mundo (cm, no caso deste

trabalho) como está mostrado nas equações 3.1 e 3.3. Note que apesar de

possuir o mesmo princípio, há uma pequena diferença no cálculo de Px e Pz. A

troca de sinal feita no cálculo de Pz se faz necessário devido ao simples fato de

que na divisão pela metade da imagem AP o lado direito representa valores

positivos no eixo x, e já na imagem perfil o lado direito representa valores

negativos no eixo z.

Por fim, calculamos Py, primeiramente, aplicando o valor correspondente à

distância (em pixel) do ponto ao limite inferior da imagem (sua própria

coordenada v) à mesma fórmula de conversão citada para x e z. A esse

resultado, soma-se a altura H.

Com esse procedimento, aplicamos em cada um dos pontos chaves

marcados nas imagens e recuperamos suas coordenadas no espaço 3D.

27

3.2.2. Método 2

A fim de melhorarmos a precisão atingida pelo método 1, buscamos uma

estratégia alternativa para atacar o problema. Esse novo método consiste em

tentar buscar a interseção das projeções dos pontos nas duas radiografias.

Simplificando, é como se nós imaginássemos uma reta, para cada imagem de

raios-x, saindo do emissor e indo até o ponto projetado na chapa. O ponto de

interseção dessas duas retas, no espaço do mundo, será o ponto final que indica

a coordenada 3D do ponto chave da vértebra. A figura 3.7 mostra essa idéia.

Algo similar a essa estratégia foi proposto em [4].

Figura 3.7: Esquema representando a idéia do método 2.

Obviamente, por questões de estarmos trabalhando com duas retas no

espaço tridimensional, é muito improvável que as mesmas estejam se

interceptando. O mais provável é que uma esteja passando muito próxima da

outra, não sendo suficiente para se cruzarem exatamente num ponto em comum.

Esse fato é um complicador para os cálculos, já que no teste computacional, em

que esse fato ocorre, o resultado da interseção indicará que não há interseção.

Diante disto, propomos ao invés de utilizar cálculos entre retas, usar

cálculos entre retas e planos. A idéia é formar um plano de corte perpendicular

ao piso (paralelo ao eixo y) baseado em umas das retas. Desta forma, utilizamos

a outra reta para calcular o ponto de interseção entre ela e o plano. Repetimos o

28

mesmo procedimento invertendo os pares, e temos então dois pontos parciais

obtidos no espaço do mundo (figura 3.8).

Note que o fato de ambos os planos formados serem paralelos ao eixo y

nos permite garantir que teremos uma reta, também paralela a y, que passa

pelos dois pontos parciais calculados na interseção. Diante dessa informação,

concluí-se que ambos os pontos possuem o mesmo x e z, portanto, já temos

duas das três coordenadas do ponto final. Por fim, chegamos ao valor final de y

calculando o ponto médio entre os dois valores de y restantes.

Figura 3.8: Esquema das interseções entre retas e planos.

Com a essência da idéia por trás do método já explicada, vamos entender

melhor como foi implementada tal solução do ponto de vista computacional.

Simplificando, o que temos na verdade é um problema relacionado às

interseções entre componentes lineares e planares num sistema tridimensional

[19].

Componentes lineares podem ser linhas, segmentos de reta, raios, etc.

Existe uma variedade de formas de se definir cada uma dessas entidades

geométricas. No caso nosso caso, utilizaremos a definição de que uma

componente linear � está relacionado a um ponto de origem P e uma direção d→

da seguinte forma:

29

� t( )= P + t d→

(3.4)

Geralmente, um raio � é definido usando um vetor normalizado, enquanto

uma linha � pode ou não ser definida desta forma. Sendo assim, temos:

� t( )= P + t d∧

, 0 � t � � (3.5)

� t( )= P + t d→

, -� � t � +� (3.6)

Considerando um segmento de reta �, representado pelos pontos P1 e P2,

podemos aplicar a mesma técnica de interseção raio/plano convertendo � na

forma de raio.

� t( )= P1 + t P2 − P1( ) (3.7)

Vale a pena notar que o vetor de direção d→

é definido pela diferença entre

os dois pontos que definem o segmento �. Além disso, nota-se também que em

geral || d→

|| � 1. No entanto, não é necessário que o vetor de direção esteja

normalizado. Tendo P2 = P1 + d→

, se nós computarmos a interseção entre esse

“raio” e um plano, então o ponto de interseção se encontra no seguimento de

reta S, se e somente se, 0 � t � 1.

Passando agora para a componente planar, definimos um plano � como:

ax + by + cz + d = 0,

(3.8)

onde a2 + b2 + c2 = 1. Expressando como um vetor, n∧

= a,b,c[ ] representa a

normal do plano, enquanto |d| indica a distância mínima em que o plano está da

origem [0,0,0].

30

Figura 3.9: Interseção da linha � com o plano �.

Sendo assim, conforme mostrado na figura 3.9, o ponto de interseção Q

entre a linha � com o plano � é definido por:

Q= P + t d→

, (3.9)

desde que o ponto Q pertença ao plano �, ele deve satisfazer a equação

3.4. Logo, podemos substituir a equação 3.4 na equação 3.8, resultando em:

a Px + dxt( )+ b Py + dyt( )+ c Pz + dzt( )+ d = 0 (3.10)

Colocando a equação 3.10 em função de t, temos:

t =− aPx + bPy + cPz + d( )

adx + bdy + cdz

(3.11)

Transformando a equação 3.11 em operações de vetores, temos:

t =

− n∧⋅ P + d

� � �

� � �

n∧⋅ d

→ (3.12)

31

Note que o denominador é o produto escalar da normal do plano com a

direção do raio. Se este valor for 0, significa que o vetor de direção faz um

angulo de 90° com a normal e, portanto, o raio e o plano são paralelos.

Conseqüentemente, neste caso há então duas possibilidades: ou o raio está no

plano, tendo infinitos pontos de interseção entre eles; ou o raio está fora do

plano, não apresentando qualquer ponto de interseção.

Por razões computacionais, principalmente em relação à aproximação de

casas decimais, pode acontecer que o raio não seja exatamente paralelo ao

plano. Para solucionar este problema, pode-se utilizar um threshold no teste do

denominador, a fim de descartar diretamente os casos indesejados. O valor

desse limite de corte varia quanto à precisão dos dados utilizados no cálculo.

Por fim, calculamos t e substituímos na equação 3.9, obtendo o ponto de

interseção Q.

Desta forma, voltando a se basear nas varáveis do problema

demonstrados no início dessa seção, dividimos a solução em duas vertentes e

ao final compomos a solução final ( Qfinal ). Sendo assim, primeiramente

calculamos o ponto de interseção Qp1 entre a LinhaAP e o Planoperfil, e

posteriormente calculamos o ponto de interseção entre a LinhaPerfil e o PlanoAP.

Respectivamente, as LinhaAP e LinhaPerfil consistem nos raios que saem do

emissor e vão até a um ponto projetado na imagem de raio-x em AP e perfil.

Para encontrarmos a equação que define o plano, precisamos conhecer

primeiro o seu vetor normal. Para isto, basta calcularmos o produto vetorial de

dois vetores que estão no plano em questão. Assim, para o Planoperfil, temos:

Vet1 = Pperfil − E perfil

Vet2 = PperfilΠ − E perfil

n∧

perfil = Vet1×Vet2

Vet1 e Vet2 são dois vetores que pertencem ao plano e serão tratados como

variáveis auxiliares para a demonstração dos cálculos. Então, fazendo o mesmo

procedimento para o PlanoAP, temos:

32

Vet1 = PAP − EAP

Vet2 = PAPΠ − EAP

n∧

ap = Vet1 ×Vet2

Aplicando as normais calculadas à equação 3.8, calculamos o coeficiente d

de ambos os planos por:

dperfil = −a Pxperfil( )− b Py

perfil( )− c Pzperfil( )

dAP = −a PxAP( )− b Py

AP( )− c PzAP( )

Por fim, com base nas equações 3.9 e 3.12, calculamos o ponto de

interseção Qp1 da seguinte forma:

d→

= PAP − EAP

t =− n

∧perfil ⋅ EAP + dperfil

� � �

� � �

n∧

perfil ⋅ d→

Qp1 = EAP − t d→

Da mesma forma, calculamos o ponto Qp2 por:

d→

= Pperfil − E perfil

t =− n

∧ap⋅ E perfil + dAP

� � �

� � �

n∧

ap⋅ d→

Qp 2 = E perfil − t d→

Agora, com ambos os pontos de interseção calculados, compomos o ponto

final Qfinal da seguinte forma:

33

Qxfinal = Qx

p1 = Qxp 2

Qyfinal =

Qyp1 + Qy

p 2

2Qz

final = Qzp1 = Qz

p 2

Logo, aplicando esses cálculos para cada o ponto marcado nas duas

radiografias, nos permite reconstruir a cena real em um ambiente virtual

tridimensional.

3.3. Posicionamento do modelo 3D das vértebras

Agora, com os pontos marcados e registrados no ambiente tridimensional,

o próximo passo é posicionar os modelos 3D de cada vértebra em seu devido

lugar, para então criar o modelo completo da coluna vertebral. Para simplificar a

explicação, tomaremos como base um bloco definido por 8 pontos frutos de uma

marcação inicial feita numa imagem (figura 3.10).

Figura 3.10: Bloco posicionado no ambiente 3D. Em vermelho estão destacadas as

arestas que serão usadas com referência nos cálculos.

Tais pontos, mais especificamente uma aresta formada por um par de

pontos, servem de referência para a recuperação da rotação do bloco nos três

eixos (x, y e z). Através desses dados que saberemos quanto cada bloco está

rotacionado do eixo principal. A idéia é pensar como se o bloco estivesse em sua

posição inicial, ou seja, como se ele estivesse alinhado em relação aos três

eixos. Logo, para recuperar as rotações, basta calcularmos o ângulo que uma de

34

suas arestas faz com uma outra aresta, não pertencente ao bloco, que esteja

paralela ao eixo em questão.

Desta forma, tratamos esse problema como sendo uma tarefa de calcular

ângulos entre dois vetores que estejam num mesmo plano paralelo a dois dos

três eixos. Em outras palavras, para achar a rotação em relação ao eixo x os

vetores estarão num plano que é paralelo a yz. Seguindo essa relação, rotação

em y, plano paralelo a xz; e rotação em z, plano paralelo a xy.

O ponto importante dessa idéia é compreender que através de uma aresta

conseguimos encontrar os dois vetores que nos fornecerão essa rotação em

torno do eixo. Portanto, o começaremos pela rotação em relação ao eixo x. Na

figura 3.11 temos a demonstração gráfica da posição dos vetores auxiliares (V1 e

V2) definida através dos pontos que formam a aresta P2 P3.

Figura 3.11: Demonstração gráfica para a rotação em relação ao eixo x.

Porém o ângulo calculado entre os vetores V1 e V2 não traz informação

sobre para que lado o bloco rotacionou. Sendo assim, utilizamos, neste caso,

como referência a coordenada y para identificar para qual lado houve a rotação.

Os cálculos para se chegar ao ângulo � foram:

35

Com o mesmo princípio, definimos os vetores para a rotação em relação à

y como mostrado na figura 3.12. Desta vez a referência foi a aresta formada

pelos pontos P1 e P2.

Figura 3.12: Demonstração gráfica para a rotação em relação ao eixo y.

Os cálculos para o cálculo do ângulo � foram:

36

Da mesma forma, para a rotação em torno do eixo z temos a figura 3.13.

Figura 3.13: Demonstração gráfica para a rotação em relação ao eixo z.

E os cálculos do ângulo � foram:

37

Por fim, utilizamos operações com quaternions, a partir dos 3 ângulos

(�,�,�) calculados, para orientação do modelo 3D no ambiente virtual.

A partir de toda essa explicação, bastou utilizar o mesmo princípio para as

marcações feitas nas vértebras (figura 3.14). Assim como utilizamos o centro do

bloco para posicionar o modelo 3D no espaço tridimensional, para as vértebras a

referência é o ponto 4, mostrado na figura 3.14.

Figura 3.14: Pontos chaves de cada vértebra, marcados na radiografia.

Já para encontrar a rotação de cada vértebra, os pontos escolhidos foram:

rotação em torno do eixo x, pontos 4 e 5; rotação em torno do eixo y, pontos 3 e

4; e rotação em torno do eixo z, pontos 1 e 2.

38

4 Experimentos Computacionais

O programa desenvolvido neste trabalho foi todo implementado na

linguagem de programação C/C++. Dentre as bibliotecas utilizadas, destacamos:

o OpenCV [23], para processamento e armazenamento de dados de imagem; o

GTK [24], para interface gráfica; e o Ogre3D [25], para a representação do

ambiente virtual.

A realização dos experimentos computacionais, que serão demonstrados a

seguir, contou também com a colaboração da clínica de radiologia, RAD-MED,

situada na cidade de Campos dos Goytacazes - RJ. A clínica nos forneceu o

espaço para que se fosse montada a estrutura física (mencionada nas seções

anteriores) e o acesso ao equipamento de raios-x digital. Lá foram feitas todas

as radiografias utilizadas nos experimentos a seguir.

Porém, algumas informações relevantes devem ser enfatizadas em relação

a aquisição das radiografias. Além de todas as medidas que precisam ser feitas

para a calibração do sistema (mostradas no capítulo 3), existem dois pontos

técnicos na máquina de raios-x que devem ser considerados. Estamos falando

da kilovoltagem (kVp) e da corrente do tubo (mA), ajustes que definem o grau de

penetração da radiação, influenciando diretamente na nitidez da radiografia.

A combinação kVp / mA controla o contraste radiográfico através da

densidade radiográfica, fornecendo qualidade (penetração) ao feixe de radiação

emitido pela máquina. Quanto menor o kVp (baixa penetração), maior o

contraste; e, conseqüentemente, quanto maior o kVp (alta penetração), menor o

contraste.

O valor de mA está relacionado com a seleção do tamanho do ponto focal.

No entanto, o mA não pode ser ajustado independentemente, deve ser ajustado

em conjunto com o tempo de exposição e o kVp.

39

Quando o objetivo for observar detalhes na imagem, é conveniente optar

por um valor de mA baixo de forma a permitir o uso de um ponto focal pequeno.

Por outro lado, se o desejo for reduzir o kVp para aumentar o contraste, deve

optar por um valor de mA mais elevado. Segundo [5], o contraste e a visibilidade

de pequenos objetos são efetivamente reduzidos pelo aumento da penetração e

pela perda de definição.

Obviamente, esses detalhes são mais para se ter em mente e saber da

sua existência, já que tais ajustes já fazem parte do protocolo de cada clínica

para este tipo de exame. Conhecer esse fator pode ser importante caso haja

necessidade de se alterar a característica da radiografia por algum motivo

específico. Neste trabalho, optamos por utilizar o padrão já usado no dia-a-dia da

clínica. O que nós buscamos fazer foi diminuir o ponto focal, utilizando o menor

FOV (Field of View) possível, enquadrando apenas a coluna vertebral.

Diante disto, para melhor entendimento, separamos esse capítulo em 3

partes: validação da técnica aplicada, recuperação do ponto 3D e avaliação

clínica dos resultados obtidos. Como já mencionado anteriormente, no apêndice

A são mostrados os experimentos relacionados ao pré-processamento das

imagens de raios-x.

4.1. Validação da técnica

Nesta seção explicamos como vamos testar a precisão das técnicas

propostas nesta pesquisa.

Para o experimento inicial, foi construída uma estrutura simulando uma

coluna real. A estrutura consiste de uma haste roscada de aço galvanizado,

flexível, onde foram fixados 4 blocos de madeira de 6x6x3,5 cm, com

aproximadamente 10 cm de distância entre eles. Nos vértices de cada bloco

foram colocadas esferas de metal de 5 mm de diâmetro para facilitar na

identificação de cada bloco na radiografia. A escolha do tipo de material usado

deve-se a forma em que a madeira e o metal se comportam diante à exposição

da radiação emitida pelo aparelho de raios-x. A idéia principal é que as esferas,

por serem de metal, estejam destacadas dos blocos sendo facilmente

identificadas nas imagens (figura 4.1).

40

Figura 4.1: Estrutura dos blocos.

O objetivo desse experimento é trabalhar com uma estrutura conhecida,

o que nos permite ter um controle maior sobre o processo. Tal controle se refere

ao fato de podermos “modelar” a estrutura simulando uma coluna real. A partir

daí, podemos realizar medidas na estrutura do tipo: tamanho do bloco, distância

entre esferas do mesmo bloco e distância entre esferas de blocos diferentes.

Isso nos permite comparar tais medidas com o modelo 3D reconstruído e, então,

medir a precisão dos métodos propostos.

Sendo assim, a avaliação e validação das técnicas aplicadas durante a

etapa de reconstrução, torna-se bem mais simples de ser realizada. A figura 4.2

mostra um exemplo das radiografias do modelo construído.

Figura 4.2: Radiografia da estrutura dos blocos.

41

Cada bloco corresponde a uma vértebra e a haste representa a “linha

imaginária” que desenha a forma da coluna vertebral. Com a forma geométrica

conhecida de cada bloco, bem como as medidas de toda a configuração

montada no momento da aquisição das radiografias, a relação de pixel / cm, e as

marcações dos pixels feitas nas imagens, temos dados suficientes para avaliar o

sistema.

4.2. Recuperação do ponto 3D

A dificuldade de conseguirmos uma quantidade maior de material para

este tipo de teste, tanto pelo motivo de não termos encontrado algum banco de

dados de radiografias com tais informações, quanto por não ser possível estar

freqüentemente interrompendo o fluxo de trabalho da clínica, impediu que mais

situações fossem testadas neste trabalho. O que também não significa dizer que

teríamos uma conclusão muito diferente ao final do testes, já que as

características principais do procedimento não sofrem modificações significativas

de um exemplo para outro.

Devido a esse fato, iremos demonstrar os resultados obtidos de um exame

de raios-x dos blocos (avaliação quantitativa e qualitativa), e um exame normal

de um paciente (avaliação qualitativa). Todos os exames usados neste

experimento foram feitos na clínica especificamente para esta pesquisa.

42

Figura 4.3: Configuração do ambiente para o experimento dos blocos de madeira.

Para o experimento dos blocos de madeira, utilizamos a configuração do

ambiente montado para a realização do exame de raios-x como mostrado na

figura 4.3. Definimos a precisão como sendo a média da diferença entre

distâncias medidas no objeto real e nos pontos 3D fornecidos pelos métodos.

Figura 4.4: Radiografias AP e perfil dos blocos de madeira.

Nos testes realizados com as radiografias dos blocos de madeira (figura

4.4), os resultados obtidos quanto a precisão final dos métodos 1 e 2 foram,

respectivamente, 2,023 cm e 0,512 cm (tabela 4.1). Final, porque neste mesmo

exemplo medimos também a precisão em relação somente às distâncias

relacionadas ao tamanho das arestas de cada bloco, e a precisão referente às

distâncias das esferas entre os blocos. Os resultados para o método 1 foram,

respectivamente, 1,131 cm e 5,082 cm. Já para o método 2 os resultados foram,

0,251 cm e 1,405 cm. A figura 4.5 mostra o resultado visual do experimento.

� ������ ������� ��� ��� �������� �������������������

� �� ���� ������ ������ ������

� �� ���� ������ ������ �����

Tabela 4.1: Precisão dos métodos propostos.

43

Figura 4.4: Resultado visual do método 1 (esquerda) e método 2 (direita).

A fim de verificar a estratégia proposta para o posicionamento do modelo

3D na cena, aplicamos para estrutura dos blocos. Obviamente, apenas trocando

os pontos de referência, se baseando nas arestas que formam a base de cada

bloco. O resultado é mostrado na figura 4.5.

Figura 4.5: Resultado do posicionamento do modelo 3D em relação aos pontos dos

blocos.

Com esses experimentos iniciais, passamos agora para a radiografia do

paciente “real”. O princípio de captura da imagem foi o mesmo do que foi

explicado para os blocos de madeira. Portanto, a configuração do ambiente é a

que está sendo exibida pela figura 4.6.

44

Figura 4.6: Configuração do ambiente para o experimento do paciente.

Com as radiografias prontas, o próximo passo foi realizar as marcações

nas imagens referentes aos pontos chave de cada vértebra, seguindo o padrão

que foi definido no capítulo 3. Sendo assim, as figuras 4.7 e 4.8 mostram,

respectivamente em AP e perfil, as imagens de raios-x bem como seus

respectivos conjuntos de pontos marcados.

Figura 4.7: Pontos marcados em AP.

45

Porém, devido a dificuldade de identificar visualmente, nessas radiografias,

as vértebras torácicas, não foi possível marcar todos os pontos de todas as

vértebras. A região mais crítica foi a torácica, devido ao ruído ocasionado pela

sobreposição de outras partes do corpo humano. Esse fator impossibilitou de se

enxergar todos os pontos chave das vértebras presentes nessa parte da coluna

vertebral.

Uma forma de enxergar com mais definição essa região, é aumentar um

parâmetro referente ao nível de penetração da radiação, configurada

manualmente no aparelho de raios-x. Entretanto, com esse ajuste, as vértebras

torácicas poderiam ficar visíveis, mas, em contrapartida, as vértebras cervicais

poderiam desaparecer da imagem. Uma solução para este problema, seria

retirar as radiografias com 2 níveis de intensidade diferente e depois uni-las em

uma única imagem, preservando os detalhes das partes em questão.

Figura 4.8: Pontos marcados em perfil.

Diante disso, para estas radiografias, focamos apenas nas vértebras da

parte cervical e lombar. Utilizando as marcações, novamente recuperamos os

pontos 3D da mesma forma que foi feito para os blocos de madeira. Com tais

pontos calculados, posicionamos os modelos 3D na cena (figura 4.9).

46

Figura 4.9: Resultado do posicionamento das vértebras lombares.

Por fim, comparamos o resultado, sobrepondo o modelo 3D da coluna

vertebral do paciente nas imagens de raios-x (figura 4.10).

Figura 4.10: Comparação da coluna vertebral 3D com as radiografias.

4.3. Avaliação clínica dos resultados

Diante dos resultados apresentados na seção anterior, faremos agora uma

breve análise clínica. Essa análise será responsável tanto para o desenho do

quadro clínico do paciente, quanto para a definição do tratamento a ser seguido.

Todos os dados descritos nesta seção foram baseados na avaliação feita pelos

47

especialistas da área médica que acompanharam todo o desenvolvimento deste

trabalho.

Como uma primeira fase de qualquer exame médico, inicialmente,

realizou-se uma pré-análise do paciente. Ou seja, perguntas foram destinadas

ao paciente a fim de se obter informações iniciais de seu quadro clínico.

Segundo o paciente, ele costuma a sentir dores de cabeça, nos olhos e às vezes

na lombar.

Sendo assim, olhando a coluna gerada virtualmente (sempre do ponto de

vista do profissional que está analisando), pode ser visto com mais detalhes e

clareza o fator causador de tais dores. Em relação à lombar, é visto uma

compressão do lado esquerdo e uma tração do lado direito (figura 4.9). Isso faz

com que o paciente sinta uma dor em pontada do lado da compressão, e uma

queimação do lado da tração. A grande vantagem da modelagem 3D nesse

ponto é poder identificar exatamente o local onde está ocorrendo essa

compressão, o que facilita o diagnóstico e a atuação no tratamento.

Já em relação às outras dores acusadas pelo paciente, a resposta está na

análise da cervical. Vê-se na figura 4.11a que a cervical deste paciente é

retificada, ou seja, como se fosse uma linha reta. O normal é que se tenha nessa

região uma curvatura natural seguindo a forma anatômica da coluna vertebral e

do corpo humano. A falta dessa curvatura faz que o paciente corrija esse erro de

forma automática, forçando a cabeça para trás.

(a) (b)

Figura 4.11: Análise da cervical. (a) Cervical retificada. (b) Movimento da cabeça que

gera a compressão do nervo.

48

Esse fator gera uma compressão numa determinada área do pescoço

(figura 4.11b). A conseqüência dessa compressão são: cansaço no pescoço,

cefaléia (dores de cabeça), dores na base do crânio e no fundo do olho. O último

sintoma deve-se ao fato de que na área comprimida, passa-se um nervo que

possui uma ligação direta com os olhos.

Figura 4.12: Ângulo de Cobb medido na região torácica da coluna vertebral.

Diante dessas informações, adicionando o cálculo (2D) do ângulo de 42°

referente à curvatura (Cobb) da coluna na região torácica (figura 4.12), o

tratamento mais indicado para esse paciente é um trabalho de reeducação

postural direcionado às determinadas regiões críticas identificadas na avaliação.

O uso de colete no início do tratamento também é indicado.

49

5 Conclusão e Trabalhos Futuros

Os resultados obtidos mostraram uma diferença bastante grande de

precisão entre os dois métodos propostos. O método 2 se mostrou bem melhor,

apresentando uma boa precisão quando comparado às distâncias entre os

vértices dentro de um mesmo bloco. Já quando comparado às medidas entre

vértices de blocos diferentes essa valor tendeu a cair um pouco em relação à

primeira comparação. Porém, na média geral, a precisão do método 2 mostrou

ser satisfatória, apesar de ainda não estar na faixa aproximada de 1 mm à 2 mm,

obtida pelo métodos que utilizam dados de TC [4, 22].

Uma comparação direta com o sistema proposto em [4] talvez não seja

muito adequada, tanto pelo fato do desenvolvimento não possuir as mesmas

características, em relação aos dados de entrada, quanto pela diferença de

casos testados. Porém, focando apenas no que cada trabalho se propõe a fazer,

o sistema proposto fica bem próximo. Enquanto em [4] a precisão atingida está

numa faixa aproximada de 3 mm à 4 mm, neste trabalho atingimos uma faixa

aproximada de 4 mm (valor referente a distância da precisão obtida com raios-x

da TC, acompanhando a forma em que o artigo esboça seus resultados).

A vantagem de se ter um sistema de visualização 3D para exames de

coluna vertebral, é a identificação mais clara dos pontos de compressão e tração

das vértebras. Além disso, o acompanhamento dos segmentos vertebrais em 3D

torna o processo mais preciso, porque o movimento humano é sempre em 3D.

Essa identificação da artrocinemática, que é a trajetória articular de pequenos

movimentos, não é fornecida pelas imagens de raios-x.

A partir daí, consegue-se identificar pontos de maior compressão e tensão

dos discos intervertebrais, possibilitando realizar intervenções preventivas. O

que infere sobre o grau de tensão dos ligamentos e músculos intervertebrais

(profundos), que não se é capaz de identificar através da palpação no exame

físico do local afetado.

50

No tratamento a vantagem está no seu monitoramento devido à

possibilidade de realizar comparações entre as fases em que o paciente é

submetido. A comparação do antes e depois, para avaliar o ganho do

tratamento, permite analisar correções referentes à rotação que não é possível

ver na radiografia. E na maioria das vezes o ganho maior se tem nesse ponto.

Contudo, algumas melhorias futuras são necessárias para aumentar cada

vez mais a precisão do método de recuperação dos pontos 3D. A principal delas

é investigar o motivo para a perda de precisão quando distâncias maiores são

medidas e comparadas, como no caso da comparação de vértices entre os

blocos. Talvez, algum método de minimização possa ser aplicado a fim de

minimizar esse erro.

Um fator que certamente melhoraria os resultados obtidos seria um exame

de raios-x que realmente utilizasse dois dispositivos que capturariam as imagens

do pacientes simultaneamente. Entretanto, essa característica é muito mais

incomum de se ter nas clínicas, principalmente pela questão financeira.

Provavelmente, apenas uma minoria composta pelas grandes clínicas

especializadas neste tipo de pesquisa deve possuir tal estrutura.

Já em relação à qualidade visual dos exames de raios-x, o ideal é que

sejam utilizados equipamentos que forneçam realmente imagens digitais, onde a

radiação é captada por sensores, que ligados diretamente ao computador,

gerem a radiografia digitalmente. Isso porque, tais radiografias oferecem uma

definição muito melhor dos seguimentos vertebrais, sendo possível marcar os

pontos em todas as vértebras da coluna.

A maioria dos equipamentos que existem nas clínicas especializadas

nesse tipo de exame, possuem um equipamento “semi-digital”. Esse

equipamento utiliza um filme composto por uma composição de fósforo que

possui uma reação à radiação diferente dos raios-x tradicionais. O filme então é

digitalizado num scanner especial e a imagem gerada é processada por um

programa de computador, que realiza ajustes no contraste da imagem. O raio-x

computadorizado, como e chamado esse exame, apesar de apresentar uma

definição bastante superior em relação ao exame tradicional, ainda é inferior

comparado ao equipamento digital.

51

Seria interessante também uma tentativa de tirar mais informações das

imagens de raios-x, a fim de recuperar a forma geométrica de cada vértebra.

Uma idéia inicial seria iniciar o processo com um modelo 3D genérico, e a partir

dele realizar deformações com base nas informações extraídas das radiografias.

Uma interface no final deste processo poderia ser disponível para que o usuário

do sistema possa fazer um ajuste fino, caso haja necessidade.

Um ponto importante a ser destacado, é que a característica do sistema

projetado neste trabalho permite que o método seja facilmente adaptado para

atender à pesquisas envolvendo outras partes do corpo humano. O fato das

técnicas não dependerem do objeto em estudo, ajudam nesse processo de

adaptação.

Diante disto uma idéia que vêm logo à cabeça, obviamente indo bem mais

além no caminho dos trabalhos futuros, seria estudar uma forma de tentar

integrar a esse processo de modelagem, um processo de captura de movimento

para simular internamente o funcionamento de uma estrutura óssea em questão.

A idéia seria criar uma animação, por exemplo, para o modelo 3D da coluna

vertebral, seguindo um modelo que definisse o comportamento padrão das

vértebras diante de um movimento feito pela pessoa.

Concluindo, os resultados obtidos mostram que sistemas de reconstrução

3D baseadas em imagens de raios-x podem ser uma boa alternativa para uma

avaliação postural mais precisa e efetiva. Mesmo que ainda exista um longo

caminho de melhorias a seguir, as ferramentas propostas e desenvolvidas neste

trabalho permitem que o profissional da área médica tenha um suporte maior

para tomar certas decisões clínicas.

52

REFERÊNCIAS

[1] NOVOSAD J., CHERIET F., PETIT Y., LABELLE H. Three-Dimensional (3D) Reconstruction of the Spine From a Single X-Ray Image and Prior Vertebra Models. IEEE Transactions on Biomedical Engineering, 51(9):1628-1639, Setembro 2004.

[2] JAREMKO J. L., PONCET P., RONSKY J., HARDER J., DANSEREAU J., LABELLE H., ZERNICKE R. F. Indices of torso asymmetry related to spinal deformity in scoliosis. Clinical Biomechanics, 17(8):559–568, Outubro 2002.

[3] PONCET P., DELORME S., RONSKY J. L., DANSEREAU J. Reconstruction of laser-scanned 3D torso topography and sterioradiographical spine and rib-cage geometry in scoliosis. Computer Methods in Biomechanics and Biomedical Engineering, 4(1):59–75, 2000.

[4] POMERO V., MITTON D., LAPORTE S., GUISE J. A., SKALLI W. Fast accurate stereoradiographic 3d-reconstruction of the spine using acombined geometric and statistic model. Clinical Biomechanics, 19(3):240–247, Março 2004.

[5] PRORAD. Gerador de raios-x. Disponível em http://www.clicpoa.com.br/curso_de_especializacao.html.

[6] KOOMPAIROJN S., HUA K. A., BHADRAKOM C. Automatic Classification System for Lumbar Spine X-ray Images. Proceedings of the 19th IEEE Symposium on Computer-Based Medical Systems. 2006.

[7] STEGMANN M. B. Active appearance Model, theory extensions and cases. Master Thesis. Technical University of Denmark, 2000.

[8] TAGARE H. Deformable 2-D template matching using orthogonal curves. IEEE Transaction Medical Imaging, 16(1), pp 108-117, Fevereiro 1997.

[9] COOTES T. F., EDWARDS G. J., TAYLOR C. J. Active appearance model. In Proc. 5th European Conference on Computer Vision. Freiburg, Germany, 1998.

53

[10] BRUIJNE M., NIELSEN M. Image segmentation by shape particle filtering. In Proceedings of the 17th International on Pattern Recognition, (3):722–725, Agosto 2004.

[11] MEZGHANI N., DESCHÊNES S., GODBOUT B., BRANCHAUD D., GUISE J. A. Spinal vertebrae edge detection by anisotropic filtering and a local Canny-Deriche edge detector. IEEE International symposium on Image/video communications, ISIVC 2006.

[12] DERICHE R. Using Canny’s criteria to derive a recursively implemented optimal edge detector. International Journal of Computer Vision, 2(1):167–187, 1987.

[13] CANNY J. F. Finding edges and lines in images. Master thesis. Massachusetts Institute of Technology. Cambridge, 1983.

[14] KYRIAKOPOULOS K. J., YIANNAKOS P., KALLIPOLITES V., DOMALES K. A Geometric Calibration Methodology for Single-Head Cone-Beam X-ray Systems. Journal of Intelligent and Robotic Systems, 24(2):151-174, Fevereiro 1999.

[15] ROUGÉE A., PICARD C., PONCHUT C., TROUSSET Y. Geometrical calibration of X-ray imaging chains for three dimensional reconstruction, Computerized medical imaging and graphics: the official journal of the Computerized Medical Imaging Society, 17(4-5):295-300, 1993.

[16] WANG L. L., TSAI W.-H. Camera calibration by vanishing lines for 3-D computer vision. IEEE Transactions on Pattern Analysis and Machine Intelligence. 13(4):370–376, Abril 1991.

[17] ZHAN S., CHANG H., JIANG J.-Q., LI H. Spinal Images Segmentation Based on Improved Active Appearance Models. In: The 2nd International Conference on Bioinformatics and Biomedical Engineering. Maio 2008.

[18] NYUL L. G., KANYO J., MATE E., MAKAY G., BALOGH E., FIDRICH M., KUBA A. Method for Automatically Segmenting the Spinal Cord and Canal from 3D CT Images. Computer Analysis of Images and Patterns, 3691: 456-463, Setembro 2005.

[19] SCHNEIDER P. J., EBERLY D. H. Geometric tools for computer graphics. San Francisco: Elsevier Science. 2003.

[20] KLEIN J., BARTZ D., FRIMAN O., HADWIGER M., PREIM B., RITTER F., VILANOVA A., ZACHMANN G. Advanced Algorithms in Medical Computer

54

Graphics. Annex to the Conference Proceedings of EUROGRAPHICS, 25-44, 2008.

[21] NEDEL L. P. Realidade Virtual & Medicina. SBC 4th Symposium on Virtual Reality. Outubro 2001.

[22] BICHLMEIER C., NAVAB N. Virtual Window for Improved Depth Perception in Medical AR. International Workshop on Augmented Reality environments for Medical Imaging and Computer-aided Surgery (AMI-ARCS), 2006.

[23] INTEL. Open Computer Vision Library (OpenCV). 2000. Disponível em http://sourceforge.net/projects/opencvlibrary.

[24] GTK+. The GTK+ Project. Disponível em http://www.gtk.org.

[25] OGRE. Object-Oriented Graphics Rendering Engine. 2001. Disponível em http://www.ogre3d.org.

[26] SHEA K. G., STEVENS P. M., Nelson M., Smith J. T., Masters K. S., Yandow S. A. A comparison of manual versus computer-assisted radiographic measurement: Intraobserver measurement variability for Cobb angles. Spine, 23(5):551-5, 1998.

[27] KASS M., WITKIN A., TERZOPOULOS D. Snakes: Active Contour Models. International Journal of Computer Vision. 1(4):321-331, Janeiro 1988.

[28] DERICHE R. Using Canny’s criteria to derive a recursively implemented optimal edge detector. International Journal of Computer Vision. 1(2):167-187, Junho 1987.

[29] CANNY J. F. Finding edges and lines in images. MSc. Thesis, Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, MA, 1983.

[30] GEUSEBROEK J. M., SMEULDERS A. W. M., WEIJER J. V. Fast anisotropic gauss filtering. IEEE Transactions on Image Processing. 12(8):983-943, Agosto 2003.

[31] NATIONAL CENTER FOR HEALTH STATISTICS. Second National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES II) Public-Use Data Files. Disponível em www.cdc.gov/nchs/products/elec_prods/subject/nhanesii.htm

55

[32] TRIBASTONE F. Tratado de Exercícios Corretivos Aplicados à Reeducação Motora Postural. Trad. Daniela Heffer da Costa de Luna Alencar Moreira. Barueri, SP: Manole, 2001.

[33] FAPESP. Software para Avaliação Postural – SAPO. 2003. Disponível em http://sapo.incubadora.fapesp.br/portal.

56

Apêndice A Pré-processamento das imagens de raios-x

Como foi mencionado no capítulo 3, o pré-processamento das imagens de

raios-x faz parte de uma das etapas do sistema de modelagem da coluna

vertebral. Nesta fase do trabalho, serão demonstradas alternativas pesquisadas

para aproximar, de forma semi-automática, as marcações de pontos chaves de

cada vértebra.

Porém, identificar automaticamente a coluna vertebral, e ainda mais as

vértebras, numa radiografia é uma tarefa bastante complexa. Fato explicado

principalmente pelo ruído causado pela sobreposição de outras estruturas

anatômicas do corpo humano.

Portanto, no intuito de auxiliar o profissional da área médica nas

marcações dos pontos chaves das vértebras, ou até mesmo proporcionar que

um técnico possa manusear o sistema de modelagem, buscamos melhorar a

qualidade das informações extraídas das imagens de raios-x através de um pré-

processamento. Neste processo a idéia é tentar aproximar os pontos pela

localização das vértebras na radiografia. Para isso, duas técnicas de

segmentação foram investigadas: Local Canny-Deriche Edge Detector [8] e

Active Contour Models (Snake) [27]. Uma pequena variação do Snake também

foi experimentada.

Local Canny-Deriche Edge Detector

O método de detecção de arestas Canny-Deriche inicialmente proposto em

[28, 29]. Sendo I(x,y) a imagem a ser filtrada no ponto (x,y), o algoritmo consiste

dos seguintes passos:

1. Suavizar a imagem através de um filtro Gaussiano:

S x, y[ ]= G x, y,σ[ ]∗ I x, y[ ],

57

onde G[x,y,�] representa o filtro e � é a abertura da gaussiana.

2. Computar a magnitude do gradiente através de diferenças

finitas pelas derivadas parciais.

∇S = ∂ S∂ x� � �

� � �

2

+ ∂ S∂ y

� �

� �

2�

� � �

12

3. Aplicar o método de supressão de pontos não-máximos (non-

maximum suppression) à magnitude do gradiente;

4. Aplicar o algoritmo double thresholding para detectar as

arestas.

Porém, a fim de melhorar a qualidade das radiografias, removendo os

ruídos e preservando as estruturas das arestas nas imagens, aplicamos uma

modificação na primeira etapa do algoritmo mostrado no parágrafo anterior.

Substituímos o filtro Gaussiano por um filtro Anisotrópico.

Tal filtro, introduzido no processo, foi proposto em [30]. Segundo os

autores, a dificuldade de detectar linhas e arestas é aumentada quando as

imagens ou apresentam arestas muito próximas uma da oura, ou quando há um

cruzamento entre elas. Isso geralmente costuma ocorrer em cenários complexos

como imagens de raios-x, por exemplo, onde há diversas sobreposições entre

partes do corpo humano.

E neste caso, é dito por eles, que estratégias de filtragem isotrópica (como

o filtro Gaussiano) não produzem bons resultados. Isso porque além de remover

ruídos, ele acaba removendo detalhes da imagem. Nas arestas próximas e

paralelas, por exemplo, esse tipo de filtragem tende a aplicar um blur na área em

questão, transformando duas arestas em uma. Já em relação ao cruzamento

entre arestas, a detecção não é feita de forma eficiente devido a seletividade

orientada pela forma da distribuição Gaussiana.

58

Portanto, nesses casos é conveniente ter um método de detecção que

ignore a distorção dos dados referentes à vizinhança das arestas, enquanto

acumula evidências das próprias arestas ao longo de sua orientação.

Aproveitando, assim, a vantagem da natureza anisotrópica característica de

linhas e arestas. O que justifica a opção pela filtragem anisotrópica.

Por fim, definimos o método Local Canny-Deriche como sendo a aplicação

do algoritmo Canny-Deriche modificado apenas na região que envolve a coluna

vertebral do paciente.

Active Contour Model

Uma snake é definida em [27] como sendo uma energy-minimizing spline

guiada por uma força constante externa e influenciada por uma imagem. Forças

essas, que “empurram” ela na direção de linhas e arestas. Uma snake (ou

contorno ativo) tende a se modelar minimizando sua função de energia, relativa

às forças atuantes no contorno ativo. Esta função possui uma componente

interna e uma externa. A energia interna depende de propriedades intrínsecas,

tais como sua elasticidade e curvatura. A parte externa da energia depende da

estrutura da imagem à qual se aplica a snake, sendo normalmente usado o

gradiente da imagem.

Simplificando, é como se tivéssemos uma estrutura geométrica primitiva

que englobasse uma região de busca na imagem (figura 1a). A partir daí, o

método tenta deformar essa estrutura, para que ao final do processo tenhamos o

contorno do objeto a ser identificado na imagem (figura 1b). No nosso caso, o

objeto a ser identificado é a coluna vertebral, mais precisamente a estrutura de

cada uma de suas vértebras nas radiografias.

59

(a) (b)

Figura 1: Princípio do método: (a) marcação inicial, (b) resultado final.

Desta forma, a primeira proposta foi marcar nas imagens de raios-x um

retângulo que envolvesse inteiramente a coluna vertebral do paciente. E logo

após, aplicar o snake nessa região (figura 2a).

(a) (b)

Figura 2: Snake aplicado na imagem de raios-x: (a) Snake, (b) Snake local.

Porém, essa estratégia pode não ser muito eficiente devido a forma da

coluna vertebral, que torna muito complicado o processo de identificação de

60

cada vértebra. Isso porque a tendência é que o snake acabe “vendo” a coluna

vertebral como um único contorno ativo, perdendo certos pontos das vértebras.

Logo, a idéia foi realizar demarcações envolvendo cada umas das

vértebras, e assim aplicar o snake localmente em cada área marcada (figura 2b).

A vantagem desses processos é que traçar essas marcações é de certo

ponto vista uma tarefa simples, já que visualmente não é difícil identificar onde

tanto a coluna vertebral quanto cada vértebra se encontra na radiografia.

Experimentos Computacionais

As imagens de raios-x utilizadas nos experimentos a seguir foram

adquiridas através do banco de dados público de imagens radiológicas NHANES

II [31]. Como tal banco só fornece radiografias da cervical e lombar, só foi

possível realizar testes para estas partes da coluna vertebral.

Os algoritmos foram implementados na linguagem de programação C/C++.

Dentre as bibliotecas utilizadas, destacamos: o OpenCV [23], para

processamento e armazenamento de dados de imagem; e o GTK [24], para

interface gráfica.

(a) (b)

Figura 3: (a) Radiografia original. (b) Resultado da equalização do histograma e ajuste no

contraste.

61

Na tentativa de melhorar a qualidade da imagem de raios-x, para o

processo de segmentação, aplicamos, primeiramente, um procedimento para

equalizar o histograma junto com um pequeno ajuste no contraste. O resultado é

mostrado na figura 3b.

Figura 4: Resultado do Local Canny-Deriche.

Apos isso, a fim de aproximar as marcações que são feitas pelos médicos,

aplicamos 2 formas de segmentação na radiografia. As técnicas, já mencionadas

anteriormente, foram baseadas no Canny-direche e Active Contour Models.

Sendo assim, o resultado visual do Local Canny-Deriche é mostrado na figura 4.

Já na figura 5 temos os resultados do Snake (5a) e Snake local (5b). A função do

snake utilizada nos testes foi a mesma fornecida pelo OpenCV (cvSnakeImage).

A fim de medir o desempenho de cada uma dessas técnicas e efetuarmos

uma comparação entre elas, utilizamos como parâmetro de referência as

mesmas informações adquiridas através do NHANES II. Cada imagem deste

banco de dados já possui um arquivo correspondente, indicando, em

coordenada pixels, features (pontos estratégicos) de cada vértebra.

62

(a) (b)

Figura 5: (a) Resultado da aplicação do Snake. (b) Resultado do Snake aplicado

localmente.

Desta forma, a idéia foi capturar o resultado obtido pela segmentação e

verificar a quantidade de pontos encontrados, que são idênticos aos fornecidos

pelo NHANES II. Contabilizamos também a quantidade de pontos que estão

próximos, numa vizinhança de 10x10 pixels. A tabela 1 mostra os resultados

para a radiografia mostrada na figura 3a.

� �� ����� �� ��� ��� �� �� � � ��� ����� ��

� ���� �� ��� ��� � �� ��� ��� � �� ��� ��� �

�� � ��� ��� � �!� �� ��� ��� ��

Tabela 1: Quantidade de pontos identificados pelos métodos: Snake (S), Snake Local

(SL) e Local Canny-Deriche (LCD).

Por fim, a tabela 2 apresenta a porcentagem de acerto obtido pelos 3

métodos, num experimento envolvendo uma amostra de 10 radiografias.

�� ����� �� ��� ��� �� �� � � ��� ����� ��

�� ��� ��� � �� ��� ��� � �� ��� ��� �

����" � �����" � �����" � �#�" � ����" � �����" � !����" � �!���" � �����" �

Tabela 2: Porcentagem de acerto pelos 3 métodos.

63

Os resultados obtidos mostraram que dos 3 métodos experimentados o

que apresentou melhor resultado foi Local Canny-Deriche. Já em relação ao

Snake Local e o Snake o primeiro foi melhor, confirmando a suspeita levantada

anteriormente sobre como o método iria se comportar quanto a forma em que a

coluna vertebral é representada na radiografia.

Entretanto, visualmente os resultados não justificaram a substituição das

imagens de raios-x originais pelas pré-processadas, pois não houve uma

melhoria significativa que auxiliasse o profissional da área medica na marcação

dos pontos chaves das vértebras. Talvez fosse interessante uma investigação

mais detalhada nessa linha de pesquisa para encontrar alguma forma de

relacionar os mesmos pontos tanto em AP quanto em Perfil, já que a maioria dos

pontos foi identificada. Nesse caminho, a técnica template matching [8] poderia

ser experimentada.