peças que se movem, narrativas que se...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DANIEL GRECCO PACHECO
Peças que se movem, narrativas que se criam. A história da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá, México.
Campinas
2017
DANIEL GRECCO PACHECO
Peças que se movem, narrativas que se criam. A história da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá, México.
Dissertação apresentada ao Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Campinas
como parte dos requisitos exigidos para a
obtenção do título de Mestre em História,
na área História da Arte.
Supervisor/Orientador: Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL
DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO
DANIEL GRECCO PACHECO E ORIENTADA PELO
PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI.
Campinas
2017
A comissão julgadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação de Mestrado, composta pelos
Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 23 de março de 2017,
considerou o candidato Daniel Grecco Pacheco aprovado.
Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari
Prof. Dr. Alexandre Guida Navarro
Prof. Dr. Fernando Torres Londoño
A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de
vida acadêmica do aluno.
Dedico esse trabalho aos meus pais, Marcia e
Antonio Carlos, à minha família e à minha
querida Isa.
Agradecimentos
Durante essa minha trajetória do mestrado contei com a presença e ajuda de muitas
pessoas que possibilitaram que o sonho de uma pesquisa sobre os povos indígenas
mesoamericanos se tornasse possível. Como parte fundamental deste processo começo
destacando o papel que o professor e amigo Fernando Torres Londoño teve durante a minha
formação de historiador. Foi a partir de suas apaixonadas aulas sobre América Pré-Colombiana
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP que me despertou o interesse em
estudar as antigas culturas do continente americano. Isso também possibilitou a sequência de
minha carreira acadêmica na graduação com a elaboração de um projeto de Iniciação Científica
que seria agraciado com um prêmio de melhor trabalho na área. Essa conquista me abriu outras
portas como o primeiro contato com o professor Alexandre Guida Navarro, que teve um papel
fundamental para o meu ingresso neste programa de pós-graduação. Serei sempre grato por sua
generosidade e enorme ajuda. Na sequência tive o privilégio de ter como orientador o professor
Pedro Paulo Funari, que além de ser uma referência na área dos estudos de cultura material,
também se tornou um precioso amigo. Obrigado pelas inúmeras oportunidades, ajudas e
ensinamentos que tive durante esses anos de orientação. Agradeço também a Raquel Funari por
todo o carinho e amizade. Além deles, não poderia deixar de citar o papel fundamental na
construção desse projeto que teve o professor Adam Sellen que me ajudou a construir o meu
objeto de pesquisa e me acolheu gentilmente em meu estágio no México.
Diversos professores fizeram parte de minha trajetória, mas destaco o papel importante
que teve Claudia Valladão de Mattos Avolese, principalmente por seus incontáveis esforços
para o estabelecimento da área de pesquisa de Questões de Arte Não Europeia no programa de
pós-graduação da Unicamp. Além dela, gostaria de agradecer muito a ajuda e o carinho recebido
pelos professores Eduardo Natalino dos Santos, Leila Maria França e Amy Buono, além de uma
especial lembrança ao professor Edgar De Decca, do qual tive a honra de ser aluno em 2014 e
que nos fará sempre muita falta. Agradeço também aos diversos locais que me abrigaram e
ajudaram em minha trajetória no exterior, em especial à generosidade da amiga Ana
Hamerschlak, meus amigos Gui Bodi e Mayra, e todos os profissionais com quem eu tive
contato na Biblioteca Yucatanense, Museu Palácio Cantón, sítio de Chichén Itzá, Museu
Americano de História Natural, Museu Peabody, American Antiquarian Society, Getty
Institute, Universidad Nacional Autónoma de México, Universidad Autónoma de Yucatán e
um especial agradecimento ao Instituto Nacional de Antropología e Historia do México.
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ
pela bolsa de estudos concedida e ao Getty Institute pelo apoio incondicional que foram parte
fundamental dessa pesquisa. Destaco ainda um agradecimento especial aos meus amigos do
Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte da Unicamp - LAP/Unicamp, que me
acompanharam e brindaram três anos de bonitas amizades, Jefferson, Juliana, Cida, Filipe,
Tobias, Tami, Thiago, Natalia, Luciane, Guilherme e Patrícia. Meus amigos do Centro de
Estudos Mesoamericanos e Andinos da Universidade de São Paulo - CEMA/USP, Eduardo
Gorobets, Maria Luiza, Ana Cristina, Charles, Pedro e Marques. E minhas amigas e colegas da
linha de pesquisa, Sandra, Virgínia, Sabrina e Juliana.
Por fim, e seguramente os meus agradecimentos mais efusivos vão para os meus pais,
que sempre estiveram presentes com um apoio, carinho e um amor incondicional. Minha irmã
querida, Gi, que mesmo distante sempre está presente, e meus importantes e queridos amigos
que participaram dessa trajetória, em especial ao Fred Castelo Branco Teixeira. O meu
companheiro de longa data e irmão Fernando Pesce (Chino), que me acompanha desde a
PUC/SP e meus amigos mexicanos, Choca Weber, Roberto Velasco, amigo de diversas
“pláticas”, Alfredo e France que me acolheram de uma maneira muito carinhosa e afetuosa e
fizeram com que eu ganhasse uma nova família mexicana. Além do meu amigo Carlos Lazcano,
uma pessoa muito especial com a qual tive o prazer de fazer um estágio de campo e que se
tornou um amigo para toda a vida. Por fim, essa pesquisa de mestrado me deu talvez o maior
presente que uma pessoa pode receber dessa vida; um grande amor. Agradeço a minha querida
Isa por me acalmar, me incentivar e me oferecer todo o apoio, paciência, carinho e amor que
foram fundamentais durante esse tortuoso, mas inesquecível trajeto. Um agradecimento
especial também para toda a minha família e em particular a Antonio, Carol, João e Bela que
me receberam lindamente nos Estados Unidos durante a minha pesquisa de campo. Além da
minha querida tia Teresa que sempre me acompanhou durante o meu trajeto.
Para terminar dedico esse trabalho a todos os povos indígenas do continente americano
do passado e do presente. Em especial aos maias iucatecos que lutaram na Guerra de Castas,
aos maias chiapanecos por sua incansável luta contra o capitalismo selvagem do mundo
contemporâneo, e a todos os povos maias que seguem suas lutas cotidianas por vidas mais
dignas.
Kili’ich Ixi’im - Sagrado Maíz
Eres masa en las manos de Dios.
En tu corazón cobró vida su aliento.
Por eso te invocamos.
Eres madre porque nos diste a luz.
Eres padre porque nos formaste.
Somos tus hijos porque glorificamos tu nombre.
Eres la carne de nuestro cuerpo.
Eres el alma de nuestro corazón.
Eres el aliento de nuestro pensamiento.
Nuestro ropaje es rojo porque naces al sol.
Nuestro ropaje es negro porque naces la noche.
Nuestro ropaje es blanco porque eres viento del norte.
Nuestro ropaje es amarillo porque eres viento del sur.
Los pájaros son tus guardianes por darles vida.
Los animales te celebran por darles alimento.
Los hombres te adoran por darles entendimiento.
Te vistes de tierra para nacer de nuevo.
Te vistes de viento cuando espigas.
Te vistes de nuestra carne cuando eres pozole.
Haces de nuestros hijos el futuro.
Haces de campesino un hombre.
Haces de tu mazorca una mujer.
En ti está nuestra esperanza.
En ti será vencida el hambre.
En ti morirá la langosta y el gusano artificial de Monsanto.
Renueva nuestro corazón y nuestra carne será nueva.
Renueva nuestro pensamiento y nuestro espíritu será nuevo.
Renueva nuestra tierra y serás nuevo.
Pedro Uc Be
RESUMO
Esta pesquisa se propõe investigar as trajetórias e os sentidos da oferenda encontrada pelo
explorador Augustus Le Plongeon e sua esposa Alice Dixon Le Plongeon na Plataforma das
Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá, México, no final do século XIX. Ao realizar um
histórico das peças, procuramos relacionar os objetos com os manuscritos, fotos, e informações
recolhidas e produzidas por este casal de estudiosos numa abordagem que combine fontes de
arquivo e coleções arqueológicas, para recuperar o contexto arqueológico de tal descoberta e
assim propor uma interpretação da função e simbologia do conjunto de objetos que compunham
a oferenda.
Para isso, foram utilizados conceitos relacionados à prática ritual, ao ato de ofertar objetos a
entes não humanos, bem como a própria ritualidade dos artefatos, e os itinerários percorridos
por essas peças até a atualidade. O material foi trabalhado a partir da produção de um catálogo
com fichas individuais das peças para uma organização e classificação.
A partir desse trabalho com uma epistemologia construída pelo casal de exploradores no século
XIX foi possível recuperar histórias, usos e reusos das peças em seus itinerários, e por fim
propor uma análise dos sentidos antigos desse conjunto de objetos, ao perceber questões sociais
e da cosmovisão da sociedade de Chichén Itzá materializados nesses artefatos.
Palavras chave: Le Plongeon; Chichén Itzá; Plataforma das Águias e Jaguares; México; Maias
ABSTRACT
This research proposes to investigate the trajectories and meanings of the offering found by the
explorer Augustus Le Plongeon and his wife Alice Dixon Le Plongeon in the Platform of the
Eagles and Jaguars in the site of Chichén Itzá, Mexico, at the end of the 19th century. In
proposing a history of the pieces, we try to relate the objects with the manuscripts, photos, and
information gathered and produced by these scholars in an approach that combines archival
sources and archaeological collections, to recover the archaeological context of such discovery
and thus make an interpretation of the function and symbology of the set of objects that made
up the offering.
We used concepts related to ritual practice, the act of offering objects to supernatural beings,
as well as the rituals of the artifacts themselves, and the itineraries covered by these pieces up
to the present time. The material was worked from the production of a catalog with individual
for an organization and classification of the objects.
From this work with an epistemology constructed by the couple of explorers in the
nineteenth century it was possible to recover stories, uses and reuses of the objects in their
itineraries, and finally propose an analysis of the ancient meanings of this set of objects, when
perceiving social issues and the worldview of Chichén Itzá society that materialized in these
artifacts.
Keywords: Le Plongeon; Chichén Itzá; Platform of Eagles and Jaguars; Mexico; Mayas
RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo investigar los itinerarios y trayectos de los objetos de la ofrenda
descubierta por el explorador Augustus Le Plongeon y su esposa Alice Dixon Le Plongeon en
la Plataforma de las Águilas y Jaguares en el sitio de Chichén Itzá, México, a finales del siglo
XIX. Al proponer una historia de los objetos, tratamos de relacionar los artefactos con
manuscritos, fotos, e informaciones recolectadas y producidas por esta pareja de estudiosos
utilizando un enfoque que combine fuentes de archivo y colecciones arqueológicas para
recuperar el contexto arqueológico de este descubrimiento y así hacer una interpretación de la
función y el simbolismo del conjunto de objetos.
Para ello, se utilizaron los conceptos relacionados con la práctica ritual, el acto de ofrendar
objetos para los seres sobrenaturales, la propia ritualidad de los artefactos, además de las
trayectorias de los objetos desde su descubrimiento hasta la actualidad. El material fue trabajado
con la producción de un catálogo de registros individuales de piezas para una mejor
organización y clasificación.
A partir de este trabajo con una epistemología construida por la pareja de exploradores en el
siglo XIX se ha recuperado historias, usos y reutilizaciones de los artefactos en sus itinerarios,
para finalmente proponer una interpretación del uso antiguo de este conjunto de objetos,
dándose cuenta de las cuestiones sociales y cosmovisión de la sociedad de Chichén Itzá que se
han materializado en estos artefactos.
Palabras clave: Le Plongeon; Chichén Itzá; Plataforma de las Águilas y Jaguares; Mexico;
Mayas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Divisão dos períodos mesoamericanos ........................................................ 22
Tabela 2 – Os diversos nomes dados por estudiosos à Plataforma das Águias e Jaguares de
Chichén Itzá .................................................................................................................... 74
SUMÁRIO
Introdução ..................................................................................................................... 16
Palavras Iniciais .............................................................................................................. 17
A área Maia .................................................................................................................... 18
A área mesoamericana .................................................................................................... 19
Cronologia ...................................................................................................................... 20
Augustus e Alice Le Plongeon entram em cena ............................................................. 22
Capítulo 1: Discussões teóricas e metodológicas ........................................................ 24
1.1.O comportamento ritual ............................................................................................ 25
1.2. A oferenda ............................................................................................................... 29
1.3. As oferendas na Mesoamérica ................................................................................. 32
1.4. O espaço ritual e o espaço arquitetônico ................................................................. 33
1.5.O Contexto arqueológico .......................................................................................... 35
1.6. Os Tipos de depósitos .............................................................................................. 37
1.7.Os rituais de dedicação e terminação ....................................................................... 37
1.8. Por um itinerário dos objetos ................................................................................... 39
1.9. O desenvolvimento metodológico ........................................................................... 42
1.10. Por uma História das Coleções .............................................................................. 43
1.11. Os documentos do casal Le Plongeon ................................................................... 44
1.12. A fotografia como fonte histórica .......................................................................... 46
1.13. O estudo dos documentos ...................................................................................... 48
1.14. As peças da oferenda ............................................................................................. 48
1.15. O desenvolvimento da pesquisa ............................................................................ 49
Capítulo 2: O casal Le Plongeon e Chichén Itzá ....................................................... 50
2.1. Uma viagem pelo mundo acadêmico ...................................................................... 50
2.2. Vida e obra do casal Le Plongeon ........................................................................... 53
2.3. A cidade dos Itzás .................................................................................................... 58
2.4. A geografia do sítio ................................................................................................. 60
2.5. O assentamento ........................................................................................................ 60
2.6. Patrimônio mundial da UNESCO e Maravilha do Mundo Moderno ...................... 62
2.7. Uma história de muitos viajantes e estudos ............................................................. 63
2.8. A história de uma plataforma .................................................................................. 65
2.9. Dados e estudos sobre a Plataforma das Águias e Jaguares .................................... 65
2.10. A plataforma no tempo .......................................................................................... 66
2.11. Intervenções arqueológicas.................................................................................... 69
2.12. As plataformas no mundo mesoamericano ............................................................ 70
2.13. Uma plataforma, diversos nomes .......................................................................... 73
Capítulo 3: As trajetórias das peças da oferenda. Usos e reusos ............................. 75
3.1. A oferenda volta à luz .............................................................................................. 76
3.2. Um jaguar esquecido ............................................................................................... 79
3.3. O histórico dos itinerários do jaguar reclinado ........................................................ 81
3.4. Um jaguar ressignificado – a história da esfinge mexicana .................................... 83
3.5. Águias e Jaguares em painéis .................................................................................. 88
3.6. As peças ................................................................................................................... 89
3.7. Os painéis viajam pelas fontes................................................................................. 90
3.8. Os painéis em movimento – usos e ressignificações ............................................... 94
3.9. O Rei Tigre – a glória do casal Le Plongeon ........................................................... 98
3.10. Uma peça e muitas interpretações ......................................................................... 98
3.11. Os itinerários e disputas do Rei Tigre de Le Plongeon ........................................ 101
3.12. A glória do Rei Tigre ............................................................................................ 104
3.13. A vitória do centralismo ....................................................................................... 108
3.14. As peças dispersas da oferenda ............................................................................ 109
3.15. Um histórico das peças ......................................................................................... 110
3.16. Breves notícias sobre os itinerários das peças dispersas ...................................... 112
3.17. Os artefatos móveis – líticos, contas de pedras e conchas .................................... 114
3.18. Considerações iniciais sobre as peças móveis ...................................................... 115
3.19. Os Itinerários das peças móveis – usos e reusos .................................................. 118
3.20. Palavras finais sobre o capítulo ............................................................................ 121
Capítulo 4: O recuperar das vozes esquecidas nas peças ........................................ 122
4.1. A construção de uma interpretação ........................................................................ 122
4.2. A Plataforma das Águias e Jaguares e seus objetos associados ............................. 123
4.3. A plataforma como uma expressão social .............................................................. 124
4.4. As decorações das fachadas – os guerreiros reclinados e a presença de Kukulcan 125
4.5. As Águias e Jaguares devoradores de corações...................................................... 127
4.6. A plataforma e sua espacialidade ........................................................................... 131
4.7. Esculturas como peças vivas .................................................................................. 135
4.8. O guerreiro reclinado .............................................................................................. 136
4.9. O nobre jaguar reclinado ........................................................................................ 137
4.10. Os líticos no mundo mesoamericano .................................................................... 138
4.11. Os líticos em ação – guerra e sacrifício no pensamento maia .............................. 139
4.12. Uma oferenda reunida .......................................................................................... 142
4.13. Vida e morte de um edifício ................................................................................. 142
4.14. Palavras finais sobre o capítulo ............................................................................ 147
Conclusão: Muitos finais e novos recomeços ............................................................ 148
Bibliografia ................................................................................................................... 150
O catálogo ..................................................................................................................... 171
Observações prévias ...................................................................................................... 171
Fichas ............................................................................................................................. 173
Anexos ........................................................................................................................... 255
1. Mapa da área maia ..................................................................................................... 255
2. Mapa da Mesoamérica ............................................................................................... 255
3. A descoberta da estátua do chacmool ........................................................................ 256
4. O transporte da estátua do chacmool em Chichén Itzá .............................................. 256
5. Desenho do corte estratigráfico realizado na Plataforma de Vênus .......................... 257
6. Mapa do sítio de Chichén Itzá ................................................................................... 257
7. Mapa da Grande Nivelação de Chichén Itzá ............................................................. 258
8. A Plataforma das Águias e Jaguares, Chichén Itzá ................................................... 258
9. Mapa da Plataforma das Águias e Jaguares feito pelo programa AutoCad ............... 259
10. Planta da Plataforma das Águias e Jaguares feita por Jorge Acosta ....................... 259
11. Trabalhos de restauro na Plataforma das Águias e Jaguares, década de 1930 ........ 260
12. Conteúdo da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares .................................. 260
13. Foto da escultura do jaguar reclinado ...................................................................... 261
14. Foto da retirada do chacmool .................................................................................. 261
15. Gravura feita por Augustus Le Plongeon com a reconstrução da plataforma ......... 262
16. Desenho comparação esfinge egípcia e a escultura do jaguar reclinado ................. 262
17. Foto de um dos painéis de baixo-relevo com figura de águia ................................. 263
18. Foto de um dos painéis de baixo-relevo com figura de jaguar ................................ 263
19. Foto de um dos painéis de baixo-relevo com figura de guerreiros reclinados ........ 264
20. Foto de Alfred P. Maudslay de painéis de baixo-relevo e do jaguar reclinado ....... 264
21. Peças líticas encontradas na oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares .......... 265
22. Alice Dixon Le Plongeon e trabalhadores indígenas na Plataforma das Águias e Jaguares
antes de sua escavação ................................................................................................... 265
23. Foto da águia da espécie Harpia harpyja ................................................................ 266
24. Detalhes de extração de coração em cena do mural da sala 3 de Bonampak .......... 266
25. Desenho de disco com cena de extração de coração, Chichén Itzá ......................... 267
26. Frisos que adornam o Templo dos Guerreros, Chichén Itzá ................................... 267
27. Foto de atlante e personagem reclinado com a cabeça móvel, Chichén Itzá ........... 268
28. Documento da entrada do chacmool no Museo Nacional da Cidade do México .... 268
29. Documento do traslado do chacmool de Mérida para a Cidade do México ............ 269
30. Primeiras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal Le Plongeon ao
Museu Americano de História Natural de Nova York, 1910 ........................................ 269
31. Outras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal Le Plongeon ao
Museu Americano de História Natural de Nova York, 1911 ........................................ 270
32. Peça de jadeíta tubular usada por Alice Dixon Le Plongeon como broche ............. 270
33. Detalhe do dorso da escultura do jaguar reclinado .................................................. 277
34. Adornos de olhos feitos de ouro decorados com serpentes emplumadas ................ 271
35. Reconstituição com a provável localização das peças da oferenda no momento de sua
descoberta ...................................................................................................................... 272
16
Introdução
Essa pesquisa de mestrado tem como principal objetivo estudar o contexto e os objetos
da oferenda encontrada pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares em
Chichén Itzá, México no século XIX, a partir do uso de diversas fontes como: documentos de
arquivo, periódicos, fotos, anotações, procuramos recuperar a trajetória dos objetos após a
escavação, bem como recuperar o contexto em que se deu esse trabalho. Mostraremos como
podemos ter acesso a informações antigas a partir de uma análise de um estudo realizado no
século XIX, e discutir os usos e ressignificações que os objetos sofreram após o seu
desterramento, e a partir dos itinerários percorridos. Ao longo dessa dissertação procuramos
mostrar como é possível trabalhar com a cultura material tendo como ponto de partida
elementos presentes numa epistemologia antiga. Ao fazer uso de anotações e estudos
desenvolvidos por um casal de arqueólogos do século XIX estudamos os objetos e seus diversos
itinerários, com a construção de uma rede, em que mapeamos os movimentos e usos das peças
no tempo e espaço. Por fim, apresentaremos também uma interpretação própria desse conjunto
de objetos e do local onde eles foram recuperados.
Essa investigação concentrou-se apenas nos objetos desenterrados pelo casal na
Plataforma das Águias e Jaguares. Durante os trabalhos desses exploradores em Chichén Itzá
outros locais foram estudados e objetos recuperados, como por exemplo a escavação feita na
Plataforma de Vênus em 1881. Com um contexto semelhante ao da outra plataforma, esse
conjunto de peças também foi disperso ao longo dos anos. Neste primeiro momento em nosso
trabalho de mestrado optamos por estudar apenas a Plataforma das Águias e Jaguares.
Pretendemos num estudo posterior nos debruçar sobre os trabalhos do casal Le Plongeon feitos
também na Plataforma de Vênus, já que acreditamos na possibilidade da existência de relações
entre as duas construções e objetos.
Ao longo dessa pesquisa contamos com bolsa CNPQ processo número: 134389/2014-
0, e realizamos três períodos de pesquisa no exterior. A primeira estada foi no final de 2015
durante a participação de um estágio no México com o arqueólogo, doutor e professor da
Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM, Jesús Carlos Lazcano Arce, como parte
do projeto El Hombre y sus recursos en el Valle Puebla-Tlaxcala, conduzido pelo Instituto de
Investigaciones Antropológicas da UNAM. Além disso, ficamos uma semana sob supervisão
do doutor e professor também da UNAM, unidade de Mérida, Centro Peninsular en
Humanidades y Ciencias Sociales – CEPHCIS, Adam Temple Sellen realizando pesquisa de
arquivo e reuniões de orientação. No ano de 2016 com o auxílio de um incentivo oferecido pelo
17
Getty Institute dos Estados Unidos em conjunto com o programa de pós-graduação em História
da Arte da Unicamp, pela linha de pesquisa em Questões de Arte Não-Europeia, fizemos um
estágio para pesquisa de dois meses no México e Estados Unidos. Estivemos hospedados um
mês e meio na cidade de Mérida sob supervisão do Dr. Sellen onde realizamos trabalho de
arquivo, fotos de artefatos e da estrutura estudada em Chichén Itzá. Nos Estados Unidos
realizamos pesquisa e estudo dos artefatos e documentos da oferenda que estão no Museu
Americano de História Natural em Nova York, Museu Peabody da Universidade de Harvard
em Boston, e na biblioteca da American Antiquarian Society em Worcester. Já no mês de agosto
do mesmo ano obtivemos um financiamento junto ao Getty Institute para ficar um período de
vinte dias desenvolvendo pesquisas com documentos referentes a esse trabalho na cidade de
Los Angeles, Estados Unidos.
Essa dissertação de mestrado foi estruturada em duas partes. O primeiro, do qual faz
parte esse texto introdutório, conta ainda com um capítulo com os referenciais teóricos que
foram utilizados no objeto dessa pesquisa, um capítulo contextual que irá apresentar o sítio de
Chichén Itzá, uma breve história do casal Le Plongeon e informações sobre a Plataforma das
Águias e Jaguares. Além de um capítulo sobre os itinerários e trajetórias que as peças realizaram
após a descoberta do casal no século XIX, bem como seus usos e ressignificações. E por fim,
um capítulo que traz uma breve interpretação do conjunto das peças que formavam a oferenda
com a apresentação de uma ideia do seu possível significado dentro da sociedade antiga de
Chichén Itzá. Já a parte final irá apresentar um catálogo construído para organizar os objetos da
oferenda com questões técnicas sobre esse material, além de um anexo composto pelas imagens
que foram usadas para ilustrar ideias presentes no texto. Ao longo dessa dissertação optamos
por manter e utilizar a nomenclatura das construções do sítio de Chichén Itzá em língua
espanhola, exceto os artigos que antecedem os nomes. Ainda nessa introdução trataremos de
questões sobre o contexto dessa dissertação com uma breve apresentação sobre a área maia, a
área chamada de Mesoamérica, e a cronologia criada por estudiosos para estudá-la.
Palavras iniciais
Este projeto insere-se numa linha de pesquisa até então inédita no Brasil, recém-criada
pela Universidade Estadual de Campinas sob a direção da professora Claudia Valladão de
Mattos Avolese a partir do projeto Expanding Art History: teaching non-European art at
Unicamp, financiado pela Fundação Getty de Los Angeles, Estados Unidos, em parceria com a
Unicamp, como parte do programa Connecting Art Histories que aborda questões referentes a
uma História da Arte Não-Europeia. Um incentivo a novas pesquisas nesta área se insere na
18
importância e necessidade da elaboração de uma História da Arte com uma nova abordagem
teórica e metodológica própria para o estudo de manifestações artísticas que pertençam a outras
culturas além da civilização europeia (GETTY, 2013, p.2; MATTOS, 2014, p.260). Uma nova
abordagem que questione as estruturas da disciplina calcada nas raízes clássicas ocidentais e
desenvolvida numa linearidade histórica e com conceitos estéticos evolucionistas
(PAZSTORY, 2005, p.9, p.192). O objetivo é construir uma contraposição de uma História da
Arte com seus diversos pontos conectados de maneira heterogênea e não linear, que leve em
conta as complexidades sociais locais de cada estrutura de elementos artísticos, com
ramificações em todos os seus sentidos com conexões e rupturas.
O questionamento da condução do campo desta disciplina e a divisão entre centro e
periferia fizeram-se presente nas últimas décadas com uma grande problematização de noções
da arte europeia. Um movimento desta natureza ocorre atualmente no Brasil e em países latino-
americanos onde se propõe um desenvolvimento de modelos próprios em contextos locais em
contrapartida às noções europeias, numa constante busca por um discurso mais plural
(MATTOS, 2014, p.259).
A área Maia
A região maia ocupa grande parte do oeste da área conhecida como Mesoamérica, é
composta pela existência de 29 línguas de etnias diferentes, grande parte ainda hoje falada no
território mexicano e guatemalteco. É um território que se estende por cerca de 342.000 km², e
abarca a Península de Iucatã no México, com os atuais estados de Campeche, Chiapas, Tabasco,
Quintana Roo e Iucatã, além da Guatemala, Belize, o oeste de El Salvador, e Honduras. Ainda
que seja uma cultura que apresente muitas características comuns, percebe-se uma grande
variação cultural, a começar pela própria divisão em três grandes zonas geográficas que se
caracterizam por formas especificas e trajetórias históricas singulares. A área maia é
tradicionalmente dividida em 1) Litoral do Pacífico, Terras altas da Guatemala e El Salvador;
2) terras baixas centrais e meridionais; 3) terras baixas do Norte (BAUDEZ, 2004, p.20) (ver
anexo 1).
Essas divisões também possuem diferentes características geográficas e climáticas,
sendo as terras baixas do Sul, caracterizadas quase que exclusivamente por uma floresta densa
e um clima tropical úmido, com importantes fluxos de rios. As terras baixas do norte de Iucatã
são caracterizadas por uma floresta mais baixa, clima seco, com uma grande formação de
calcário e praticamente desprovida de rios. Nessa área é comum a existência de fluxos de água
subterrâneos, com a formação de grandes olhos de água, subterrâneos ou não, provenientes de
19
uma formação geológica cárstica. Já as terras altas da Guatemala e El Salvador são regiões de
grandes altitudes com clima frio. A parte do Litoral do Pacífico guatemalteco é caracterizado
por ser circundado por altas cadeias de montanhas vulcânicas com a ocorrência de alguns rios
e um clima quente e úmido.
A área mesoamericana
O conceito de Mesoamérica é algo que permeia toda essa pesquisa e, portanto, merece
uma atenção especial sobre a sua construção e utilização. Essa denominação foi criada e
utilizada pela primeira vez pelo antropólogo Paul Kirchhoff em 1943 para determinar uma
extensa área cultural que inclui a metade meridional do México toda a Guatemala, Belize, El
Salvador, parte ocidental de Honduras, costa pacífica da Nicarágua e noroeste da Costa Rica.
Uma região de grande extensão geográfica, com aproximadamente 906.000 Km, com uma larga
diversidade ecológica e geográfica (ver anexo 2). Essa área é assim chamada por apresentar
características culturais em comum, como elementos religiosos, constituição étnica, linguística,
o cultivo do milho e do cacau, além de elementos artísticos, arquitetônicos, ideias de concepção
de mundo, contagem do tempo, e calendário (KIRCHHOFF, 1960, pp.8-9; SANTOS, 2002,
p.40). Acredita-se que as populações desta área iniciaram um processo de sedentarização a
partir do ano 2000 a.C., até a aparição de complexas sociedades, séculos mais tarde.
Quanto aos aspectos religiosos, esta região também possui elementos em comum como
as cerimônias, o culto, a prática da adivinhação, uma grande dependência e importância nos
ciclos calendáricos, que combinam um ciclo solar de 365 dias e um ciclo cerimonial de 260
dias, os lugares de ritos, a pratica do sacrifício humano e do autossacrifício, as oferendas de
incenso, a prática do jogo de bola, a ideia da existência de diversas eras, ou idades anteriores, a
divisão espacial cosmológica em quatro direções e um centro, e em treze céus e nove
inframundos (BAUDEZ, 2004, p.17; SANTOS, 2002, p.41).
Outras ideias importantes presentes nas visões de mundo das diversas civilizações que
englobam a Mesoamérica é a noção de que o cosmos e o mundo foram formados a partir de
duas forças vitais em ação contínua, a existência de dualidades fundamentais, e a noção de que
o homem deve contribuir com o seu sangue para manter o funcionamento do universo
(SANTOS, 2002, p.41).
Ainda que este conceito de Mesoamérica seja amplamente utilizado pelos especialistas
e acadêmicos que estudam esta região, há que se notar que ele foi fruto de uma construção
histórica e é uma ferramenta analítica criada para estudos. Tal formulação não se esgota em sua
significação, sendo ainda alvo de intensos debates e críticas (MATOS MOCTEZUMA, 2000,
20
p.95). É importante notar que tal percepção sobre a possível existência de uma área cultural
única presente nesta área tem raízes já durante o período colonial, quando o missionário
espanhol Frei Bartolomé de Las Casas, chamou a atenção para a semelhança entre povos da
Guatemala e de outras partes dessa região da América Central e México, que segundo ele,
seriam integrados por elementos culturais comuns (LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001a,
p.58).
Nas últimas décadas, entretanto, nota-se o surgimento de discussões acerca desse
conceito. A arqueóloga Lourdes Domínguez, por exemplo, chama a atenção para as frágeis
fronteiras delimitadas entre a Mesoamérica e o Caribe (DOMÍNGUEZ, comunicação pessoal,
2015), já que este último, assim como qualquer espaço humano, também seria um local
histórico e não meramente geográfico (DOMÍNGUEZ; FUNARI, 2012, p.13). O Caribe desde
tempos antigos foi um importante espaço de contato e comunicação entre os diversos povos da
região, e sua relação com a Mesoamérica seria algo impossível de mensurar a partir de uma
definição do estabelecimento de duas áreas culturais distintas.
Investigadores mexicanos como Eduardo Matos Moctezuma e Enrique Nalda
questionam, por exemplo, o procedimento de classificação a partir de traços culturais como
algo que desnaturaliza a cultura, pois acaba por desmembrar seus elementos como que se
estivessem vinculados entre si dentro de sistemas sociais. Além disso, segundo esses estudiosos,
os traços culturais que serviram de base para Kirchhoff seriam próprios apenas de determinadas
áreas, e que isso seria o reflexo de um momento especifico nas vésperas da Conquista e não
características de uma área cultural dinâmica como é a Mesoamérica (LÓPEZ AUSTIN;
LÓPEZ LUJÁN, 2001a, p.62). Mesmo levando em conta algumas dessas críticas e ressalvas
apresentadas anteriormente, a presente pesquisa fará uso do conceito de Mesoamérica tal como
proposto por Kirchhoff por acreditar que ainda é o termo analítico mais indicado para tratar as
civilizações antigas localizadas entre o México e parte da América Central.
Cronologia
Sob o ponto de vista cronológico, a história maia, bem como a história mesoamericana
foi dividida em três grandes períodos utilizados como ferramenta analítica para os estudos das
civilizações que fazem parte dessa área. Tal percepção sobre a necessidade da criação de uma
divisão temporal do passado indígena mexicano e centro-americano foi iniciada em princípios
do século XX no México quando os estudiosos passaram a se debruçar na construção de uma
cronologia sobre este passado. Ao colocar objetos e ruínas dentro de uma sequência genuína, e
a partir do uso de novas técnicas de escavação, foi possível dividir o longo passado indígena
21
em estágios (BERNAL, 1980, p.162). Entretanto, é interessante ressaltarmos o que afirma
Alfredo López Austin e Leonardo López Luján (2001a) que uma divisão em períodos é sempre
resultado de uma construção histórica:
Toda periodización es un modelo de transformación histórica, fundado en un criterio
de clasificación de las sociedades que obedece a una forma dada de concebir la historia
(LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001a, p.68).
A utilização de tal cronologia construída para tratar a história mesoamericana acaba por
seguir critérios baseados em um desenvolvimento cultural evolutivo, mas também com um
caráter histórico global e étnico nacionalista. A mescla de ambas correntes é frequente nos
estudos mesoamericanos, ainda que muitos autores se preocupem por não atribuir a ela um
sentido evolutivo unilinear, mas sim levando em conta as variações dos limites cronológicos,
subdivisões e nomenclaturas de cada região (LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001a, p.69).
Durante a segunda metade do século XX diversos estudiosos da Mesoamérica
estabeleceram outras divisões temporais utilizando com base estudos cerâmicos, artísticos,
estratigráficos, datações de Carbono 14 e o deciframento de datas em inscrições antigas
(MATOS MOCTEZUMA, 2000, p.102). Ainda que haja uma extensa problematização do uso
atual da nomenclatura tradicional, Pré-Clássico, Clássico e Pós-Clássico nos estudos
mesoamericanos é convenção entre os especialistas usá-la para situar os eventos dentro da
trajetória histórica da região.
Com isso, a cronologia que decidimos adotar nesta dissertação segue a proposta
construída por alguns autores da área maia como Sabloff (1994), mas com algumas alterações
recentes propostas por Inomata, a partir de novos estudos sobre a antiguidade das primeiras
cidades maias na atual Guatemala (INOMATA; MACLELLAN, TRIADAN; MUNSON;
BURHAM; AOYAMA; NASU; PINZÓN; YONENOBU, 2015). Sendo assim, os períodos são
divididos em:
22
Tabela 1 - Divisão dos períodos mesoamericanos (Fonte: SABLOFF, 1994; INOMATA; MACLELLAN,
TRIADAN; MUNSON; BURHAM; AOYAMA; NASU; PINZÓN; YONENOBU, 2015
No que se refere a questões cronológicas específicas do sítio de Chichén Itzá, decidimos
adotar nessa dissertação a interpretação que considera o auge desta cidade como pertencendo
ao período Clássico Terminal, tal qual como utilizada por alguns autores que têm se dedicado
a pesquisas nesse sítio, e que consideram a constituição de Chichén Itzá como sendo
essencialmente maia, a partir de dinâmicas locais (RINGLE, 1998; COBOS, 2001;
NAVARRO, 2007).
Augustus e Alice Le Plongeon entram em cena
Além da importância da inserção de tal pesquisa nas questões discutidas anteriormente,
este trabalho se justifica dentro do próprio campo dos estudos mesoamericanos, ao resgatar o
material produzido das pesquisas empreendidas por dois dos pioneiros nos estudos de Chichén
Itzá, os ingleses Augustus Le Plongeon e Alice Dixon Le Plongeon. Essa questão vai ao
encontro do que acreditamos ser o próprio papel do historiador, de revirar o passado em busca
de memórias e eventos esquecidos ou deixados de lado de maneira proposital numa constante
tentativa de dar voz ao que foi calado e silenciado.
Durante muito tempo o casal Le Plongeon foi colocado à margem no campo dos
primeiros estudos sobre a cultura maia. Ao se privilegiar outros precursores dessa área como
John Lloyd Stephens, Jean Frederick Waldeck, Alfred Maudslay, Edward Thompson, entre
outros, a literatura arqueológica maia e mesoamericana relegou Le Plongeon a uma posição
afastada. Tido como excêntrico e exótico por diferentes estudiosos, a importância dos estudos
e do legado de Le Plongeon nunca foi explorada de forma aprofundada. Ao considerar os
escritos e teorias desse explorador como testemunhos de seu tempo, esta pesquisa procurou dar
voz e fazer uso deste legado com a utilização e a análise dos escritos de campo, fotografias e
cartas produzidas pelo casal Le Plongeon durante as suas pesquisas em Chichén Itzá na década
Período Pré-Clássico
Inicia-se por volta de
2000 a.C. e termina em
225 d.C..
É subdividido em Inicial
(2000-1000 a.C.), Médio
(1000-350 a.C.), e Tardio
(350 a.C. a 225 d.C.)
Período Clássico
Abarca de 225 d.C. a 1050
d.C..
Também é subdividido em
Clássico Inicial (225-600
d.C.), Clássico Tardio
(600-800 d.C.), Clássico
Terminal (800-1050 d.C.).
Período Pós-Clássico
Começa em 1050 d.C. e
termina em 1525 d.C. com a
invasão e conquista espanhola.
Este período é subdividido em
Pós-Clássico Inicial (1050-
1200 d.C.), e Pós-Clássico
Tardio (1200-1525 d.C.)
23
de 1870 para construir a trajetória dos objetos escavados, bem como propor uma interpretação
desse conjunto de artefatos descobertos na Plataforma das Águias e Jaguares.
Assim, a presente pesquisa também busca contribuir de alguma maneira para novas
abordagens sobre a História da Arte dos povos originários do nosso continente americano, e
fortalecer os estudos mesoamericanos dentro e fora do Brasil. Um campo muito fértil e que tem
se fortalecido nas últimas décadas.
24
El Uno Chuen sacó de sí mismo su divinidad e hizo el
cielo y la tierra.
El Dos Eb hizo la primera escalera y bajó su divinidad
en medio del cielo, en medio del agua, donde no había
tierra, ni piedra, ni árbol.
El Tres Ben hizo todas las cosas, la muchedumbre de
las cosas, las cosas de los cielos, del mar y de la tierra.
El Cuatro Ix sucedió que se encontraron, inclinándose,
el cielo y la tierra.
El Cinco Men sucedió que se hizo la primera luz, donde
no había sol ni luna.
El Siete Caban nació por primera vez la tierra donde no
había nada para nosotros antiguamente.
[…] En el Trece Ak’bal sucedió que tomó agua,
humedeció la tierra y modeló el cuerpo del hombre.
Libros de Chilam Balam
Capítulo 1: Discussões teóricas e metodológicas
A base teórica desta pesquisa foi elaborada e apresentada em duas partes. A primeira
trata especificamente do conceito de oferenda que foi pensado para ser usado durante o estudo
das peças e a segunda parte, aborda o outro referencial adotado para entender as dinâmicas e
questões que envolvem a circulação dos objetos da oferenda. Pensamos que tal estrutura seja
de grande valia para alcançar os dois objetivos principais dessa investigação de mestrado. O
primeiro que é estudar as trajetórias e a história da circulação das peças da oferenda, buscando
recuperar seus contextos, elementos materializados, e relações que existiram durante esses
itinerários. E o segundo objetivo que é a tentativa de apontar uma interpretação desse conjunto
de objetos, com a construção de uma narrativa que os coloque de uma forma reunida uma vez
mais em sua história.
Na parte metodológica foi necessário pensar uma abordagem que lograsse abarcar as
naturezas diversas dos objetos que são o foco desta análise. Procuramos fazer uso de uma
metodologia que se utilizasse de documentos produzidos por Augustus Le Plongeon e Alice
Dixon Le Plongeon durante sua temporada de trabalho de campo em Chichén Itzá entre os anos
de 1875 e 1876, constituídos por fotografias, desenhos, notícias de jornais, documentos de
museus, um diário de campo, e cartas entre Le Plongeon e personagens que entraram em contato
com o casal nesse período de tempo. Tal método possibilitou levantar o maior número de
informações e dados sobre as peças da oferenda e suas trajetórias ao longo dos anos. Além
disso, para um estudo mais detalhado e a fim de organizar todo esse material foi elaborado um
catálogo com fichas individuais de cada objeto, que está disponível na parte final dessa
dissertação.
25
1.1 O comportamento ritual
A noção de ritual foi primeiramente utilizada como um termo formal de análises durante
o século XIX para tentar identificar o que se acreditava ser uma categoria universal da
experiência humana (BELL, 2009, p.14). Mais tarde, antropólogos funcionalistas como
Bronislaw Malinowski, buscaram explorar ações rituais para analisar a sociedade e a natureza
do fenômeno social. Depois, com a corrente simbólica na Antropologia procurou-se analisar de
que maneira o estudo da conduta e o simbolismo ritual poderiam ser utilizados como
ferramentas para compreender a estrutura e os processos sociais (TURNER, 1988). A partir de
então diversas definições e elementos do que seria um ritual passaram a ser desenvolvidos e
definidos pelos especialistas da área da Antropologia e Ciências Sociais.
Segundo Jean Cazeneuve, um ritual pode ser assim definido como um conjunto de
práticas e ações codificadas, individuais ou coletivas, que podem ser cerimônias vinculadas a
crenças sobrenaturais, ou simples hábitos sociais, usos e costumes, e que ocorrem de maneira
repetida e marcada (CAZENEUVE, 1971, pp.16-19). Ou ainda, seria o momento de ação em
que se dá essa troca com as divindades, ou entidades não humanas, realizado num ato específico
e planejado que ocorre em determinados locais e em certas datas especiais (POLITIS;
MESSINEO; KAUFMANN; BARROS; ÁLVAREZ; DI PRADO; SCALISE, 2005, p.80).
Henry Hubert e Marcel Mauss, em artigo publicado em 1899, demonstraram como
atividades rituais sacralizam objetos, pessoas e eventos, ao mapeá-los como fenômenos
religiosos e ideias que derivam de atividades sociais (MAUSS; HUBERT, 2013). Essa inter-
relação entre sociedade e um ritual mostra-se presente durante a transmissão de conhecimento
e valores normativos necessários para a reprodução e sobrevivência de uma cultura, ocorrida
durante a performance social de uma atividade ritual. Ela combina ao mesmo tempo crenças
cosmológicas e padrões da ordem social, numa constante transmissão de ideias repetitivas e de
domínio público (LÓPEZ LUJÁN, 2005, p.33).
No campo da cultura material, estudiosos como o arqueólogo Collin Renfrew (1985) se
dedicaram a estudar questões relacionadas a práticas religiosas e de culto nas sociedades
antigas. Em alguns de seus trabalhos sobre este tema, Renfrew procurou estabelecer questões
que permeariam as manifestações dessas práticas na cultura material. Foi proposto uma
possibilidade de identificar padrões religiosos utilizados por determinada sociedade, onde
certas variáveis dos dados arqueológicos podem influir sobre a identificação de um culto e o
local de sua realização (RENFREW, 1985, p.12). Segundo Renfrew, um ritual envolveria a
produção de ações performáticas situadas num tempo específico, praticadas de maneira repetida
pelos atores envolvidos (RENFREW, 2010, p.9).
26
Ao longo do tempo, teóricos da religião classificaram um rito em diferentes formas.
Jean Cazeneuve (1971, p.30) dividiu-os em ritos pragmáticos ou de controle (designados a
influenciar os fenômenos naturais), ritos comemorativos (representações míticas) e ritos de luto
(transformação dos mortos em deuses). Já Mauss e Hubert (2013) dividem os ritos sacrificiais
de acordo com o tempo de ocorrência, cerimônias que marcam determinadas mudanças na
trajetória de vida de um indivíduo, como nascimento, ritos de passagem, matrimônio, ou ritos
realizados de acordo com datas especificas no calendário e em diferentes épocas de períodos
temporais.
A atividade ritual na Mesoamérica, seguindo o conceito de tradição religiosa
desenvolvido pelo historiador Alfredo López Austin, (1996) pode ser considerada como um
todo organizado, já que são percebidos alguns elementos rituais comuns aos diversos povos da
região em diferentes temporalidades. E apesar desta área cultural ter sofrido intensas
transformações ao longo dos séculos, principalmente durante o processo da conquista
espanhola, haveria princípios básicos da estrutura religiosa, narrativas de criação de mundo e
formas de pensamentos integrados em uma mesma corrente histórica e que se caracterizam por
sua notável persistência através dos séculos (LÓPEZ AUSTIN, 2013, p. 192). Outros autores
como Alfred Tozzer (1957), Karl Taube (1993), Linda Schele e Mary Miller (1986) também
apontam para elementos compartilhados entre culturas com temporalidades diferentes dentro
da Mesoamérica. Ainda que tenha se mantido uma unidade essencial derivada de suas origens
comuns e da interação intensa entre os povos de toda a área, os habitantes da antiga
Mesoamérica reconheciam a diversidade de cultos particulares de cada região e inclusive de
cada cidade, povo e grupo social, mas as entendiam como peculiaridades dentro da mesma
ordem cósmica comum a todos eles (CHINCHILLA MAZARIEGOS, 2011, p.18).
Embora se reconheçam alguns elementos religiosos comuns a determinados povos da
região, recentemente alguns autores têm problematizado e questionado essa ideia de um núcleo
central e estático de uma religião mesoamericana. Pesquisadores como Ana Díaz (2015),
Federico Navarrete Linares (2015), Johannes Neurath (2015) têm levantado hipóteses de que
determinadas concepções cosmológicas mesoamericanas teriam sido mais fluídas e com
alterações contextuais nas diferentes temporalidades e espacialidades da região. A própria
divisão dicotômica entre humanos e não humanos adotada comumente para tratar questões
ligadas a atividades rituais na Mesomaérica, também tem sido problematizada, com a
apresentação de ideias de que essas relações seriam mais complexas, com conexões entre
pessoas e elementos de tempos e espaços diferentes.
27
O arqueólogo Leonardo López Luján (2005) assim como outros autores, acreditam que
a religião mesoamericana atingia praticamente todos os aspectos da vida social dos povos que
viviam nesta área. Ela regularia os elementos do cotidiano, desde os atos mais insignificantes
do dia-a-dia, até as relações existentes dentro de diferentes entidades políticas (THOMPSON,
1970, p.161; DE LA GARZA, 2002, p.10). Teria sido uma religião que se desenvolveu, se
tornou forte e foi dogmatizada em proporção direta ao crescimento da complexidade social e
organização governamental.
Um dos elementos que serviam como base para essa estrutura religiosa era a crença num
constante e direto relacionamento entre humanos e não humanos (LÓPEZ LUJÁN, 2005, p.31).
De acordo com conceitos da religião mesoamericana, os seres divinos seriam onipresentes no
cosmos e se manifestavam em todos os processos da natureza como sendo forças heterogêneas
em conflito. Essas forças eram tidas como energias sagradas capazes de manifestar-se em seres
e fenômenos naturais (DE LA GARZA, 2002, p.9). Elas foram pensadas como sendo capazes
de se dividir e se fundir entre si. Uma das mais importantes formas de ação desses seres eram
suas aparições no mundo como forças do tempo (LÓPEZ AUSTIN, 2013, p.190).
Acredita-se que a concepção de tempo era cíclica e havia uma visão de universo segundo
a qual este estava dividido em três níveis verticais e horizontalmente em quatro pontos cardeais,
com o centro compondo a quinta direção. Entre os maias, acreditava-se que cada um desses
pontos era associado a uma cor, vermelho-leste, branco-norte, preto-oeste, amarelo-sul, uma
árvore, ceiba, em cada ponto e uma no eixo do mundo que marcava o centro. Além disso, seres
sobrenaturais eram relacionados aos pontos cardeais, como os bacabes, carregadores e
ordenadores do mundo nos diversos ciclos cosmogônicos de criação e destruição, e os chaacs,
deuses da chuva, associados a cada uma dessas direções (BAUDEZ, 2004, p.382; LÓPEZ
AUSTIN, 2001, p.250; DE LA GARZA, 2002, p.69). Segundo a religião mesoamericana, para
garantir o funcionamento adequado do universo era necessário a prática de ritos em escala
microcósmica que teriam repercussões sobre o macrocosmo. Isso se dava em espaços criados
na arquitetura das cidades, ou locais da natureza como paisagens rituais. Os esquemas espaciais
das cidades e dos conjuntos arquitetônicos, sua planificação nos mostra a construção de cenários
que representavam o macrocosmo para a prática de rituais (BAUDEZ, 2004, p.196). A função
fundamental dos ritos mesoamericanos era a de assegurar o funcionamento adequado do
universo, regulando simultaneamente o tempo e o espaço (BAUDEZ, 2004, p.197; LÓPEZ
AUSTIN, 2001, p.237). Dentre as práticas religiosas mais comuns no mundo mesoamericano,
estavam os ritos de passagem, autossacrifícios, sacrifícios humanos, e as oferendas às
divindades.
28
Outras duas características apontadas por estudiosos sobre a religião maia são de grande
importância para o prosseguimento deste trabalho. A primeira diz respeito à presença constante
que elementos religiosos tiveram dentro da arte. As manifestações artísticas eram um local
propício para a exibição de conceitos sobre os cosmos, figuras divinas, ritos e personagens
religiosos. Uma de suas principais características era o emprego de temas que envolviam a ação
humana e não humana, como poder, legitimidade e cosmovisão através de símbolos largamente
compartilhados com formas que alternavam modos de representação realísticos e conceituais
(STONE; ZENDER, 2011; PASZTORY, 2001). Ou como nos diz Beatriz de La Fuente:
Así, por médio de las expresiones plásticas enfrentamos variadas cuestiones en íntima
relación con los conceptos acerca del cosmos: las maneras y formas en que se percibía
al universo, cómo estaba ordenado y dividido, quiénes ocupaban los sectores, cómo
se vinculaban las partes y el todo (DE LA FUENTE, 2002, p. 139).
Além disso, era uma arte com um caráter público, monumental e propagandístico que
cumpria essa função ritual. Muitas de suas obras tinham uma especificidade relacionada com o
sitio onde se encontravam tanto por terem sido pensadas para um espaço arquitetônico
particular, como por terem sido elaboradas dentro de uma escola artística regional específica
(SCHELE; MILLER, 1986, p.33). Dessa forma, com base nos estudos sobre a arte maia é
possível ter contato com as crenças, elementos e concepções religiosas presentes na
cosmovisão. Esses registros abrangem desde artes plásticas, arquitetura, esculturas, até pintura
mural e objetos portáteis.
Uma outra questão a ser ressaltada é a relação entre a religião e o poder dentro da
sociedade maia antiga. Partindo da ideia de que a religião atingia a todos os aspectos da vida
social, nota-se um grande e extenso uso de elementos religiosos por parte dos governantes e da
elite. Segundo Ciudad Ruiz, esse aspecto foi largamente explorado pelos dirigentes das cidades
maias:
[...] la manipulación del subconsciente colectivo por parte de los dirigentes sirvió para
que éstos sancionaran la jerarquización social y el acceso desigual a la riqueza
mediante la reinterpretación a su favor de los principales conceptos cosmológicos e
ideológicos que compartía toda la sociedad (CIUDAD RUIZ, 2002, p.195).
Essa conexão entre religião e poder teria estabelecido suas raízes durante o Período Pré-
Clássico e se aprofundado de maneira mais explícita durante o Período Clássico, quando se nota
presente em grande parte das manifestações culturais associadas à elite dirigente das cidades.
Essas manifestações do religioso eram percebidas de maneira evidente nos centros das grandes
cidades, decoração e dedicação de monumentos, além de tumbas e oferendas. As relações entre
os governantes e os deuses era algo muito estreito, com uma constante associação e construção
idearia dos dirigentes que buscavam associar-se a divindades presentes na cosmovisão maia,
29
com práticas de incorporação e personificação dessas entidades nos próprios governantes
(CIUDAD RUIZ, 2002, p.208; MILBRATH, 1999, p.11). Para isso era comum a realização de
complexas cerimônias com reatualizações de antigas narrativas de criação humana e não
humana, além de uma tentativa constante de contatos com os diferentes seres que compunham
o mundo mesoamericano. Um desses contatos era feito através da colocação de oferendas e
depósitos em locais públicos e privados.
1.2. A oferenda
Seguindo uma bibliografia que se preocupa em estudar as dimensões sociológicas e
históricas das religiões temos diversos autores que trabalharam com o conceito de oferenda a
partir da ideia de que este ato permitiria um dos maiores desejos dos seres-humanos: entrar em
contato com os seres divinos (CAZENUEVE, 1971; MAUSS, 2003; LEACH, 1978; LÓPEZ
LUJÁN, 2005; BAAL, 1976; NAGAO, 1985). Segundo o verbete escrito pelo arqueólogo
Leonardo López Luján na The Oxford Encyclopedia of Mesoamerican Cultures. The
civilizations of Mexico and Central America. Vol.2. (CARRASCO, 2001, pp.403-404) as
oferendas seriam “o resultado tangível de atos individuais ou coletivos de um caráter simbólico
que são repetidas de acordo com regras invariáveis e que alcançam efeitos que são pelo menos
em parte, de uma natureza extra empírica” (LÓPEZ LUJÁN, 2001, p.403).
Em termos específicos, esses conjuntos rituais eram doações feitas com o propósito de
estabelecer uma comunicação e troca com o sobrenatural. Desta forma, uma oferenda seria a
“doação ou destruição de uma posse preciosa que serve para propiciar ou render homenagem
ao sobrenatural, sendo que ele mesmo se torna sagrado no ato da dedicação” (NAGAO, 1985,
p.1). Só que esse ato de doação não é algo livre ou involuntário. Para Marcel Mauss (2003), o
ato de ofertar envolveria três obrigações subsequentes; dar, aceitar e retribuir com a existência
de um conteúdo contratual de uma oferenda. Com sacrifícios e oferendas as pessoas pagam às
divindades seus pedidos para as suas necessidades mais elementares e variadas. O sacrifício
seria um dever e o sacrificante se privaria de algum elemento importante, às vezes da própria
vida, para receber algo sagrado em troca num ato de entrega que deveria ser correspondido.
Segundo Mauss, essa troca seria constituída sempre por uma relação desigual tendo em vista a
diferença de dimensões entre os seres humanos e os deuses. Estes dariam algo grande em troca
de pequenas doações dos humanos (MAUSS, 2003, p.14).
30
López Austin (2013) investiga a aplicação dessas leis na religião mesoamericana usando
também o próprio léxico dos antigos nahuas1, ao mostrar que alguns ritos sacrificiais tinham
como propósito imolar as vítimas em troca de chuvas, colheitas, saúde e vitorias. Os homens
sacrificados nestas cerimônias recebiam o nome de nextlahualtin, na língua nahuatl. Palavra
esta que teria como significado a ideia de “os pagamentos”. Neste tipo de ocasião os seres
humanos entregavam seu bem mais precioso, a própria vida, e com o ato ritual pretendiam
estabelecer um vínculo que obrigava os deuses a retribuir o bem recebido (LÓPEZ AUSTIN,
2013, p.190). As oferendas representariam assim a necessidade que tinham essas divindades de
uma colaboração efetiva por parte dos homens e a possibilidade de alcançar o outro mundo
através delas, como uma espécie de ponte entre os mundos, terrestre e divino. Desta forma,
segundo López Austin, (2013, p.190) o estudo das oferendas seria uma forma para encontrar as
características que os homens atribuíam aos distintos deuses como uma via para a compreensão
das mensagens que lhes dirigiam. Mensagens estas que passariam por uma intervenção dos
participantes para alterá-las e moldá-las para que ficassem inteligíveis aos deuses a partir do
estabelecimento de um sistema de comunicação entre as duas partes. Uma ideia também
presente no pensamento do antropólogo Edmund Leach, que interpreta uma oferenda a partir
de uma abordagem semiótica.
Para Leach, uma oferenda possuiria uma estrutura análoga à linguagem verbal, com
discursos endereçados ao sobrenatural, divididos em elementos similares a parágrafos, frases,
palavras e silabas. Esses elementos atuariam como metáforas ou metonímias baseadas em
códigos específicos (linguístico, coreográfico, gesticular, musical, etc.) como partes integrantes
de um discurso. (LEACH, 1978, p.49). Neste sentido, López Luján em seu importante estudo
sobre as oferendas mexicas encontradas durante as escavações do Projeto do Templo Mayor do
sitio de Tenochtitlan (2005), utiliza muitos dos conceitos apresentados por Leach (1978) para
fazer uma interpretação semiótica desses conjuntos de objetos. Para ele, os elementos das
oferendas em conjunto fornecem informações de como a imagem deve ser lida e de seus
sentidos de leitura (LÓPEZ LUJÁN, 2005).
Segundo López Luján, a cerimônia ritual também deveria ser comparada com outras
variações do mesmo complexo significante produzido pela mesma visão de mundo e uma
tradição compartilhada. Elementos como materiais pictográficos, esculturais e materiais
1 Povos originários do norte do México que migraram para o sul e se estabeleceram principalmente na região do
Centro do México, por volta do século X d.C.. Era um grupo que se caracterizava pelo uso comum da língua
nahuatl, além de preceitos religiosos e cosmovisão. Dentre eles estavam os toltecas, que foram os primeiros nahuas
a adentrar a região, e posteriormente os astecas ou mexicas que viriam a se estabelecer no Vale do México no
século XIII (TAGGART, 2001, p.359; SANTOS, 2002, p.76).
31
narrativos, seriam parte de um complexo de significação relativamente unificado, no qual
possíveis correlações entre eles poderiam nos proporcionar um entendimento aumentado para
decodificar a linguagem das oferendas. Essa ideia desenvolvida por López Luján de analisar as
oferendas de acordo com um conceito de longa duração da tradição ritual, crenças religiosas e
cosmovisão, vai de encontro com o proposto por López Austin (1996) da existência de uma
tradição religiosa mesoamericana.
Ainda que proponha uma interpretação baseada na semiótica ao procurar em toda
oferenda o seu sistema de comunicação, López Luján também destaca a importância do
contexto histórico e arqueológico para uma interpretação deste conjunto ritual e que um estudo
de uma oferenda deve ir além de uma simples análise de seus conteúdos (LÓPEZ LUJÁN,
2005, p.113). Segundo ele, alguns objetos possuem múltiplos valores semânticos, cada um
expresso de maneira diferente e dependente do contexto o qual ele foi encontrado. Desta forma,
podemos perceber que cada oferenda deve ser analisada como sendo parte de um complexo de
relações sociais regulamentados e expressados num ato ritual dentro de um quadro de uma
religião especifica e de um contexto específico.
Ao trabalhar com a oferenda encontrada na Plataforma das Águias e Jaguares,
pretendemos levar em conta uma análise simbólica dos objetos e os tipos de mensagem que
poderiam existir a partir da união e da colocação de tais objetos juntos num conjunto
organizado. Entretanto, propomos algo que vai além da questão simbólica dos próprios objetos.
Ressaltamos a importância de levar em conta o contexto específico destes objetos procurando
também estabelecer uma história deposicional, tal como foi proposta por William H. Walker
(2000, p.143), como algo primordial para se entender as atividades rituais de antigas sociedades.
Ao verificar se os edifícios onde foram encontrados tais objetos passaram por diferentes
episódios de reconstrução, remodelação ou abandono, levantando uma perspectiva de traçar
uma história de vida do próprio edifício (WALKER, 2000, p.136) pretende-se dar uma ênfase
na relação entre o objeto e o edifício, numa análise detalhada do contexto arqueológico de tais
peças.
A Arqueologia simbólica e estrutural que teve como característica uma virada para o
texto nos anos de 1980, tratou a interpretação de depósitos rituais como sendo afirmações
materiais e ou códigos através dos quais estruturas simbólicas poderiam ser lidas (POLLARD,
2008, p.45). Segundo alguns autores, o simbólico seria uma dimensão essencial para a prática
social, nos quais as ações seriam constituídas por formas e categorias com significados e
sentidos próprios, fundamentais para a constituição social (SHANKS; TILLEY, 1987, p.74). A
deposição foi vista como um processo pelo qual o significado e o sentido situavam-se e
32
comunicavam-se, em que objetos pertencentes a depósitos atuavam como significantes de
conceitos complexos, como a relação entre os domínios humanos e não humanos. Entretanto,
segundo Joshua Pollard, esta forma de compreender o mundo dos objetos em termos apenas
simbólicos poderia ser vista como algo limitado, já que não daria conta de explicar a totalidade
do seu formato e contexto. Sendo assim, entendimentos mais diversificados da materialidade
foram sendo desenvolvidos nos quais a constituição física das coisas, sua biografia, ontologia,
e característica performática tomaram o centro da discussão (POLLARD, 2008, p.46).
Uma abordagem essencialmente semiótica do estudo de uma oferenda também se
mostra problemática em casos de objetos que se encontram fora de seus contextos originais.
Como é o caso da oferenda a ser analisada nesta pesquisa. Os objetos encontrados pelo casal
Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares estão dispersos e mesmo com os registros
recuperados do momento da escavação, não há informação suficiente para fazer uma
interpretação semiótica das peças em seu local de origem deposicional. Neste caso, procuramos
reconstruir o contexto fazendo uso das informações disponíveis, como os registros de campo, e
fotos, estudo do histórico da própria plataforma, informações sobre a disposição e estratigrafia
dos objetos a partir dos relatos feitos por Le Plongeon, e os comportamentos rituais dos maias
do período Clássico Terminal para tentar construir uma interpretação da função e sentido
daquele conjunto de objetos.
1.3. As oferendas na Mesoamérica
Durante toda a história das civilizações mesoamericanas foi possível identificar uma
grande riqueza de variedade de oferendas encontradas. As mais antigas datam do período Pré-
Clássico Inicial (2000-1000 a.C.) e geralmente são constituídas por estatuetas antropomórficas,
vasos cerâmicos depositados em preenchimentos de construções. No período Pré-Clássico
Médio (1000-350 a.C.) uma mudança radical ocorreu com o progressivo aumento da
complexidade social e consequentemente com a construção dos primeiros centros-cívicos-
cerimoniais. Neste momento nota-se um aumento acentuado na quantidade e qualidade das
oferendas oferecidas aos seres não humanos. Ainda que possuam certas diferenças ao longo do
tempo e espaço existem alguns padrões comuns de oferendas compartilhadas por diversas
sociedades mesoamericanas. Semelhanças quanto aos locais de depósitos, com características
físicas comuns, posição dos objetos em relação à arquitetura, e também quanto à natureza da
característica desses elementos. Artefatos que evocam simbolismos poderosos, como minerais,
(pedras de cristais, quartzo, pedras verdes, estalactites), plantas (flores, sementes, espinhos),
animais, e seres humanos. Eles também continham objetos semipreciosos, cerâmica, metal,
33
concha, osso, tecido, madeira, e outros materiais. Ornamentos, vasos, imagens divinas, e
instrumentos de sacrifício e autossacrifício eram muito comuns também (BAUDEZ, 2004,
p.214; LÓPEZ LUJÁN, 2001, p.403). Todos esses elementos que eram depositados em
oferendas, além de sua função, e de seu possível valor estético, tinham um grande valor
simbólico e desempenhavam um papel fundamental dentro da estrutura do rito (BAUDEZ,
2004, p.215).
As oferendas mesoamericanas costumavam ser enterradas em locais considerados
sagrados para o propósito de comemorações ou consagrações de monumentos, construções,
além de eventos calendáricos para homenagear divindades, abandono sistemático, ou
reconstruções de templos e monumentos. Os locais de depósitos também obedeciam a alguns
padrões e eram considerados áreas de fronteira com o mundo sobrenatural. Esses locais
incluíam características geográficas variadas como, topos de montanhas, cavernas, cenotes,
outros diferentes corpos de água, além de locais pertencentes ao espaço urbano das cidades
como praças, avenidas, aquedutos, edifícios religiosos, templos, campos de jogo de bola,
esculturas monumentais, estelas, altares, tronos, e habitações, palácios, residências urbanas, e
casas rurais (LÓPEZ LUJÁN, 2001, p.403).
Outro padrão recorrente diz respeito à posição das oferendas em relação à arquitetura.
Elas costumavam ser enterradas no centro, nas esquinas, e ao longo dos eixos principais das
construções (JOYCE, 1992). Eram comuns também nas entradas, no centro de quartos, bem
como no pé de escadarias, e no topo de pirâmides. Geralmente as oferendas eram preparadas
em ocasiões especiais da vida social, como a construção, renovação, consagração, e fechamento
de importantes edifícios, a inauguração e reutilização de importantes monumentos escultóricos,
o final de grandes ciclos de tempo, ritos de passagem, vitórias militares, crises econômicas e
sociais, e catástrofes naturais. Nessas ocasiões eram usados não apenas materiais perecíveis,
mas também uma grande gama de objetos, matérias-primas, organismos biológicos, e itens
manufaturados (LOPÉZ LUJÁN, 2001, p.404).
1.4. O espaço ritual e o espaço arquitetônico
Outro conceito a ser trabalhado e que possui estreita relação com a atividade ritual é a
ideia de espaço ritual. Segundo Edmund Leach (1978), existem três componentes espaciais em
qualquer cenário próprio para a prática ritual. O primeiro seria o próprio local dotado de uma
importância simbólica, o segundo o local onde a maioria dos ritos acontece e o terceiro a zona
ocupada pelos espectadores participantes de tal cerimônia.
34
Na cosmovisão mesoamericana há vários exemplos de zonas liminares onde os humanos
podem entrar em contato com os deuses, como lagos, cavernas, montanhas e construções feitas
pelo homem (LÓPEZ LUJÁN, 2005, p.37; DE LA GARZA, 2002, p.55). Essas construções
como os templos eram considerados locais sagrados na Mesoamérica, já que este era visto como
um edifício que tendia a replicar e reproduzir as zonas liminares da natureza. Para um melhor
entendimento das dimensões das práticas que eram realizadas no local que faz parte dos estudos
dessa pesquisa acreditamos que uma reflexão sobre a questão da espacialidade dessas
construções seja de fundamental importância.
Para isso foram utilizados alguns autores que consideram a Arquitetura como uma
expressão de elementos cognitivos, que interpretam os espaços arquitetônicos como sendo
pensados e planejados de acordo com as concepções culturais de cada sociedade antes de serem
edificados (PARKER-PEARSON; RICHARDS, 1994, p.9; ANDREWS, 1975; NORBERG-
SCHULZ, 1980). O espaço seria como uma construção cultural e o seu significado obtido a
partir de práticas sociais em momentos específicos (NORBERG-SCHULZ, 1980). Isso
desempenharia um importante papel na cidade, já que o espaço pode ser definido como um
símbolo e um meio da arquitetura simbólica. Segundo Alexandre Navarro (2012, p.33), a
imagem tem um papel decisivo na função de humanizar um espaço, pois seria a materialização
de uma atividade social da cultura que a concebeu.
A própria noção de espaço tem sido constantemente rediscutida, a partir de uma nova
abordagem que leve em conta uma percepção de questões sociais materializadas no espaço que
passa a ser pensado como algo estritamente vinculado com o cultural. Um organismo dinâmico
e em constantes alterações históricas e políticas, além de possibilitar uma re-compatibilização
entre natureza e cultura (CRIADO BOADO, 1991, p.12). A artificialidade do ambiente
construído seria também um próprio microcosmo da sociedade e uma ferramenta para a
compreensão da estrutura social. Assim sendo, esse espaço criado refletiria questões sociais e
cosmológicas, conceitos do universo de uma determinada sociedade. Segundo Cristian
Norberg-Schulz (1980), a relação entre os seres-humanos está enraizada no espaço existencial,
a partir de uma necessidade de colher relações vitais no mundo circundante para dar sentido e
ordem a um mundo de eventos e ações. Além disso, a Arquitetura é antes de tudo um espaço
entendido não somente como um meio físico, mas também como a materialização de uma ideia,
um saber, cria ordem dentro da sociedade, e se configura em um eficiente mecanismo para a
produção de sentido, exibição, controle e orientação das intenções (CRIADO BOADO, 2015,
p.6, p.25).
35
Além da questão simbólica e uma manifestação artística, a Arquitetura também se
apresenta como uma solução para o cotidiano social. Um reflexo de necessidades funcionais,
conceitos espaciais, tradições históricas, cosmovisão, além de fatores práticos como a
disponibilidade de matéria prima do meio-ambiente para tal produção. O estudo da Plataforma
das Águias e Jaguares levou em conta a sua localização espacial na grande praça da cidade de
Chichén Itzá da parte norte da cidade, conhecida como a Grande Nivelação, e suas relações
com as construções que compõem esse espaço. Essas questões serão aprofundadas mais adiante
ao longo dessa dissertação.
1.5. O Contexto arqueológico
Para se analisar este conjunto de objetos unidos por um enterramento, se faz necessário
a recuperação do contexto arqueológico para um melhor entendimento da função simbólica e
funcional dos objetos que serão estudados. Levando em conta que uma leitura desses resquícios
materiais deva ser entendida como algo a ser interpretado pelo arqueólogo e não como uma
fonte de dados ou fatos em estado bruto e detentores de uma verdade absoluta. (VOSS, 2009,
p.20; FUNARI, 2003, p.33).
Além disso, ao considerar os objetos não apenas como um indicador de relações sociais,
mas também como elementos que atuam como direcionadores e mediadores das atividades
humanas percebe-se a necessidade de uma análise do contexto do artefato, seu arranjo, e
associação com outros itens encontrados em conjunto para a construção de uma interpretação
de tal depósito (LUCERO, 2008, p.189). De acordo com autores como Ian Hodder e Scott
Hutson (2003), é necessário procurar estabelecer o significado em contextos históricos
particulares, mas sempre levando em conta que toda tentativa de reconstrução cultural do
passado, pressupõe e estabelece uma relação com significados subjetivos para os determinados
contextos históricos. A compreensão do contexto pode ir além de um achado, mas também o
estudo do contexto de uma estrutura, construção, ou resto orgânico. O contexto de um objeto
consiste em seu nível imediato (o material que o rodeia, em geral, algum tipo de sedimento),
sua situação (a posição horizontal, e vertical dentro do nível), e sua associação a outras
descobertas (a aparição conjunta de outros restos arqueológicos, em geral no mesmo nível).
Desde o estabelecimento da Arqueologia moderna com os primeiros estudos que levaram a
cabo uma análise de tal natureza, o contexto ganhou cada vez mais importância em atividades
para identificar e registrar de maneira adequada as associações existentes entre os restos de um
depósito (RENFREW; BAHN, 1998, p.44).
36
Com a corrente Pós-processual da Arqueologia, a partir dos anos de 1980, o contexto
ganhou ainda mais importância e passou a ser visto como um elemento chave na explicação do
significado do artefato, já que um mesmo objeto pode ser interpretado de maneira diversa a
partir de posições de enterramento, e associações com outros objetos, construções ou matéria
orgânica diferentes (JOHNSON, 2010, p.110). Segundo Hodder e Hutson, o objeto não diria
nada por ele próprio, mas sim dentro de um contexto especifico, “Archaeology is concerned
with finding objects in layers and other contexts (rooms, sites, pits, burials) so that their date
and meaning can be interpreted.” (HODDER; HUTSON, 2003, p.4). Christopher Tilley
também destaca o papel que adquire o espaço onde o objeto foi encontrado para uma construção
da interpretação do artefato:
The specificity of place is an essential element in understanding its significance. It
follows that the meanings of space always involve a subjective dimension and cannot
be understood apart from the symbolically constructed lifeworlds of social actors
(TILLEY, 1994, p.11).
Outros autores como Lynn Meskell ressaltam a importância do contexto cultural ao
redor de cada objeto. No livro, Object Worlds of Ancient Egypt, Material Biographies Past and
Present (2004), Meskell analisa a relação existente entre objetos e pessoas, e como as peças
incorporam memórias, ideias e concepções de mundo daqueles que as produziram e as
utilizaram. Nesse sentido, uma análise do contexto cultural de cada artefato é algo fundamental
para uma compreensão do objeto. “Context is everything no matter how momentary or fleeting
those relationships of connection may prove” (MESKELL, 2004, p.6). Ela afirma que situações
e processos específicos podem alterar os objetos, sua agência e atuação, e fazer com que eles
não sejam apenas elementos estáticos. Outro autor que corrobora com essa ideia é Tim Ingold,
ao afirmar que “the more that objects are removed from the contexts of life-activity in which
they are produced and used – the more they appear as static objects of disinterested
contemplation.” (2000, p.64).
A partir dessa discussão apresentada e percebendo a importância de pensar o contexto
de um objeto sob uma perspectiva mais ampla, pretendeu-se levar em conta alguns elementos
importantes propostos por López Luján (2005), tais como a localização contextual de uma
oferenda, as características da estrutura onde os objetos estão localizados, a quantidade e
qualidade dos objetos extraídos, o nível de escavação aos quais eles pertencem, sua orientação,
associação espacial, e seu estado de preservação. Além de questões referentes ao próprio
enterramento das peças, como o tipo de deposição e a prática ritual envolvida.
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa encontramos algumas dificuldades para
recuperar essas informações por uma tentativa de recuperar por completo o contexto
37
arqueológico das peças. Para isso utilizamos uma metodologia proposta por pesquisadores que
trabalham com o estudo de peças arqueológicas com contextos arqueológicos problemáticos
que não apresentam informações completas sobre o momento de sua retirada do solo. Isso será
apresentado mais adiante nesse capítulo no item sobre o desenvolvimento metodológico dessa
dissertação.
1.6. Tipos de depósitos
Para orientar uma interpretação que possa ser utilizada para discutir o tipo de depósito
encontrado na Plataforma das Águias e Jaguares ressalta-se a importância de levarmos em conta
questões histórico-culturais associadas ao contexto de tal prática (FUNARI, 2003, p.36).
Dessa maneira, nos debruçamos sobre as análises de diferentes tipos de depósitos
arqueológicos propostos no trabalho realizado por William Coe (1965) na área maia. Coe
definiu o termo cache, ou depósito e seus diferentes tipos de ocorrência dentro da área maia
baseados no tipo, estado e localização dos artefatos em seus respectivos locais. Desta forma
teríamos que um depósito seria um ou mais objetos encontrados juntos, cujo agrupamento teria
sido resultado de um ato intencional, e poderiam ser divididos em três tipos: depósitos
dedicatórios, oferendas colocadas antes da conclusão da construção de uma estrutura
arquitetônica, depósitos intrusivos, colocados numa estrutura tanto durante quanto após a sua
construção e oferendas terminais, objetos quebrados, partes originais de estruturas
arquitetônicas achadas ao redor de construções e monumentos, com a função de oferendas
cerimoniais, ou sacrifícios feitas no momento do abandono de tal estrutura (COE, 1965, pp.462,
464).
1.7. Os rituais de dedicação e terminação
A visão de mundo mesoamericana se refere às forças naturais de morte e renascimento
a processos culturais incorporados na paisagem do corpo humano e seus ciclos de vida.
Processos de humanização e de crenças se refletiam nos objetos, casas, espaços, e edifícios
sagrados, criados pelos mesoamericanos (MOCK, 1998, p.9; LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.242).
Na visão de mundo dessas sociedades existiam dois grupos de seres, os humanos e os seres não
humanos. No mundo humano, os seres e os elementos que os rodeavam como objetos,
construções, eram compostos por um aspecto visível e outra substância interior. Já os seres não
humanos eram compostos por matéria pouco densa, leve, e assim podiam transitar livremente
por todas as instâncias do cosmos (LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.243). Um outro eixo fundamental
na estrutura do pensamento mesoamericano que se relacionava com a ideia de um mundo
animado era a estruturação da vida em ciclos temporais, com um constante uso do ciclo da vida
38
humana como metáfora de regeneração contínua, com seguidos nascimentos, mortes e
renascimentos (LÓPEZ AUSTIN, 1980).
Desta forma, podemos encontrar como parte da lógica do pensamento mesoamericano
a realização de cerimônias de dedicação para consagrar uma construção e dotar o prédio de um
poder divino. Já os rituais de terminação se configuravam uma ocasião para matar ritualmente
a estrutura antiga e seu poder acumulado (MOCK, 1998, p.10).
Segundo Stephen Houston (2014) os maias, assim como outros povos mesoamericanos,
acreditavam que a matéria animada e objetos poderiam se associar aos seres-humanos. Pedras
e outros objetos teriam a capacidade de serem energizados por espíritos e forças da natureza
que eram interiorizados e davam vida aos artefatos (SHARER, 1999, p.491). Por este
pensamento as esculturas e outros materiais como madeiras, objetos líticos e conchas, por
exemplo, tinham a capacidade de escutar, e interagir como seres ativos (HOUSTON, 2014,
p.75; SIEVERT, 1992, p.27). Esta ideia também se faz presente em estudos etnográficos
desenvolvidos por Evon Z. Vogt entre os maias Tzotzil, que mostram a permanência da crença
na existência de um elemento interior, chamado ch’ulel em todos os elementos do nosso mundo,
coisas vivas, materiais e locais sagrados (VOGT, 1998). Ou ainda na obra de Pedro Pitarch
Ramón sobre a comunidade Tzeltal de Cancúc em Chiapas em que ele faz um detalhado estudo
etnográfico sobre essas entidades anímicas que residem nos objetos, nos elementos, e nos seres
vivos (PITARCH RAMÓN, 1996). Relatos de rituais de renovação de figuras de madeira
também estão presentes nos escritos do Frei Diego de Landa, Relación de las Cosas de Yucatán,
onde há uma descrição detalhada da renovação de estatuetas, bem como a reconstrução de
templos durante os meses de Chen e Yax (TOZZER, 1941, p.184).
David Freidel identifica alguns elementos que indicariam a ocorrência de um ritual de
terminação de dessacralização de monumentos esculpidos, como indícios de queima, destruição
proposital, com a retirada da decoração de construções, além da decapitação e quebra proposital
de partes de esculturas (FREIDEL, 1998, p.192). Peças que eram enterradas e ou seladas em
pontos específicos das estruturas.
Já as oferendas de fundação eram associadas ao levantamento de novos monumentos,
ou edifícios, ou à reparação de um conjunto arquitetônico (BAUDEZ, 2004, p.214). Este tipo
de oferenda também poderia fazer parte do preenchimento de alguma plataforma, ou de uma
praça, ou quando antecedia a construção de uma estela ou altar, ou a parede de alguma casa. O
conteúdo de oferendas de fundação era colocado diretamente na terra ou no preenchimento,
mas também poderia ser guardado em recintos para protegê-las.
39
Esses tipos de rituais associados à renovação e terminação de objetos e estruturas
possuem uma longa duração na história mesoamericana. Conceitos e características que foram
de grande importância para o seguimento desta pesquisa, já que durante a investigação foi
levantada a hipótese de que os objetos recuperados por Augustus Le Plongeon na Plataforma
das Águias e Jaguares apresentariam características de um ritual de terminação de tal estrutura.
Discussão que será apresentada mais adiante no decorrer da dissertação.
1.8. Por um itinerário dos objetos
Para uma análise que leve em conta as circulações e itinerários dos objetos que
compunham a oferenda foi pensado a utilização de referenciais presentes em estudos que têm
se dedicado a pensar a cultura material de uma maneira própria. Durante as décadas de 1980 e
1990 estudiosos passaram a se debruçar com mais atenção sobre questões referentes a
materialidade de peças, incorporações e representações de elementos da cognição humana nos
objetos. Ao destacar a ideia de que os objetos circulam e levam consigo questões que são
materializadas por grupos humanos, esses estudos enfocaram na constante interação e
influência e agência mútua entre coisas e humanos, propondo uma própria revisão da ontologia
dos objetos.
Essa corrente de pensamento foi liderada por estudiosos da University College London
School, na Inglaterra, que acabaram por criar novas interpretações focadas na materialidade dos
objetos a partir de uma recuperação de conceitos filosóficos presentes em teorias de alguns
pensadores do século XIX e XX. Ao se utilizarem de tal arcabouço teórico foi possível a
elaboração de uma nova abordagem que propunha repensar a relação entre sujeito e objeto. Essa
virada material sofrida pela Antropologia e disciplinas relacionadas durante a década de 1980
foi fundamental para se pensar os próprios objetos como partes de projetos humanos. Deriva
desse momento a ideia desenvolvida pelo antropólogo norte-americano, Igor Kopytoff, com a
proposição de uma análise que levasse em conta uma biografia dos objetos, apresentada no
artigo A Biografia Cultural das Coisas: A Mercantilização como Processo, parte do livro A
Vida social das Coisas: As Mercadorias sob uma Perspectiva Cultural do antropólogo indiano
Arjun Appadurai, que acabou por tornar-se um estudo paradigmático dentro da teoria social que
procura analisar os objetos em seus diferentes momentos e suas constantes inter-relações com
os humanos. Appadurai foca na trajetória total de uma commoditie a partir de sua produção,
troca, distribuição, até o consumo. Em seu estudo ele utiliza termos que aludem a uma vida
social desses objetos, com uma reiterada preocupação com as questões econômicas e políticas
de suas trajetórias.
40
Além das obras de Kopytoff e Appadurai, outros estudos foram realizados levando em
conta uma preocupação com um novo materialismo buscando inspirações em obras de filósofos
anteriores que já haviam apresentado discussões nesse sentido. A obra de Friedrich Hegel,
Fenomenologia do Espírito, de 1807 em que o autor questiona a afirmação da ciência que
coloca a distinção entre o que é uma coisa e o que é um ser humano, é uma das bases dessas
novas discussões. Hegel afirma a dificuldade em descrever o que é um sujeito, pois ele seria
inconsciente e indiferenciado, já que passaria a ser definido em relação a um objeto. Ao
afirmarmos o que é uma coisa temos que buscar razões para essa afirmação. Sendo assim este
processo de objetificação responsável por criar o mundo e nós mesmos estaria dentro de uma
relação dinâmica e dialética.
Karl Marx também afirma que o sujeito cria um mundo externo, uma objetificação em
relação ao qual o sujeito humano se desenvolve. Mas ele vê como algo negativo essa
objetificação, já que o ato de produção não seria feito a partir de uma maneira livre, mas sim
sob condições de dominação, o que resultaria na separação entre as pessoas e seus produtos.
Num processo que resultaria em alienação, fetichismo e reificação do humano.
Já o alemão Edmund Husserl na primeira metade do século XX propunha uma volta às
coisas mesmas, com discussões inseridas no campo da fenomenologia. Husserl procurou
analisar a presença do fenômeno dentro da relação entre sujeito e objeto, pois seria assim que
poderíamos significar o nosso mundo a partir de como as coisas eram vistas por nós e voltar ao
próprio mundo da vida, ao mundo das experiências. O filósofo alemão Martin Heidegger
também procurou explorar as implicações vigentes na ciência e no senso comum sobre as
coisas. Em seu texto, Das Ding (1971) inspirado por Kant, Heidegger procura pensar qual seria
o limite e o sentido de determinar certa coisa. Esses referenciais filosóficos sobre o mundo dos
objetos serviram como ponto de partida para a elaboração de novas ideias que passaram a
enxergar as próprias coisas como partes de projetos humanos.
Essas novas correntes de pensamento levaram a uma maior atenção por parte dos
estudiosos a análises do papel de entidades não humanas dentro da teoria social, além de
desenvolver uma vontade de extrair dos artefatos os seus valores sociais e significados, não
simplesmente atributos comportamentais ou tecnológicos, além de pensar nas relações
existentes entre os próprios objetos, fazendo uso de uma abordagem que privilegiasse esses
tipos de relações, como os estudos propostos por Alfred Gell (1998), Christopher Gosden
(1999), Christopher Tilley (2006), entre outros. Essa nova perspectiva passou a levar em conta
uma nova relação dialética de dependência constante entre pessoas e objetos, mutuamente
constituídos num tipo de “entrelaçamento”, presente no conceito de “entanglement”, discutido
41
por Ian Hodder (2012). Com isso, procurou-se também desenvolver uma percepção que observe
os objetos como elementos ativos que dividem o mundo com os seres vivos, ao estabelecer uma
posição relacional, além da existência de um mundo material próprio (OLSEN, 2013, p.9).
Para uma melhor compreensão da relação entre objetos e humanos, os estudiosos que
fazem parte dessa corrente teórica acabaram por propor uma ontologia que questione a própria
visão de mundo moderna, moldada pelo Iluminismo que se constituiu a partir da separação em
distintos domínios a sociedade, natureza e religião. Tal separação teria originado essa dicotomia
entre objetos e pessoas pensados como pertencentes a diferentes domínios antagônicos entre si
(JOYCE, GILLESPIE, 2015, p.7; LATOUR, 2009; DESCOLA, 2016, p.23). A constituição de
uma nova ontologia seria o ponto de partida para esse novo materialismo, que interpreta as
coisas como partes integrais de relacionamentos e subjetividades em processos ativos de
materializações nos quais a incorporação humana é uma parte integral. Com isso, foi proposto
também uma nova problematização acerca da ação das coisas, ao ampliar a agência social aos
objetos, considerando-os como agentes e atores legítimos e participantes das dinâmicas sociais
e não apenas como elementos passivos (GELL, 1998; LATOUR, 2009; INGOLD, 2011;
GUERNSEY, 2012; O’NEIL, 2012).
Para interpretar as circulações das peças descobertas pelo casal Le Plongeon na
Plataforma das Águias e Jaguares, adotaremos como referencial teórico as ideias apresentadas
por Rosemary Joyce e Susan Gillespie na recente obra Things in Motion. Object Itineraries in
Anthropological Practice (2015). As autoras utilizam-se da metáfora de itinerários para traçar
a trajetória de objetos em seus diferentes momentos, e assim perceber suas relações e
movimentos, além da materialização de memórias e histórias, considerando mudanças e
permanências, usos e reusos, que acrescentam novos significados às peças (JOYCE;
GILLESPIE, 2015, p.11). Tal interpretação difere um pouco da proposta anterior de se pensar
os objetos de uma maneira linear e seguindo estritamente os momentos presentes numa vida
humana, como o nascimento, infância, fase adulta, velhice, morte e desintegração
(APPADURAI, 2008). Joyce e Gillespie sugerem algo mais amplo que captaria a complexidade
própria dos artefatos, suas dinâmicas específicas, além de elementos materializados nas peças
durante as diferentes etapas de suas trajetórias, como memórias, crenças, ideias e
conhecimentos (JOYCE; GILLESPIE, 2015, p.12). Segundo as autoras, essa ideia de biografia
de objetos obedecendo a princípios de uma vida humana poderia causar distorções de suas
dinâmicas e assim impedir a compreensão de como esses artefatos funcionam à sua própria
maneira (JOYCE, 2015, p.21).
42
Para Joyce e Gillespie, tal visão além de apresentar uma característica reducionista é
também algo muito centrado numa agência secundária das peças apenas estando relacionadas a
ações humanas, ao fazer o uso da metáfora de uma biografia de objetos. Já a noção de itinerário
procura captar a amplitude das coisas, as dinâmicas entre as próprias peças ressaltando
momentos e espaços durante as etapas de suas circulações. Além disso, as autoras ressaltam
que tal abordagem histórica de análise da vida de um objeto tem o potencial de resistir à
imposição da fronteira entre o objeto e sua representação. Já que as coisas poderiam viajar e
circular por via de outros meios, como descrições textuais, desenhos e fotografias (JOYCE,
GILLESPIE, 2015, p.12).
Dessa forma, acreditamos que ao analisarmos os itinerários e trajetórias das peças
encontradas na Plataforma das Águias e Jaguares poderemos perceber suas dinâmicas internas
e perceber ideias, memórias e diferentes significados adquiridos e incorporados por esses
objetos ao longo de seus movimentos.
1.9. O desenvolvimento metodológico
O objetivo final deste estudo de mestrado é o de desenvolver uma espécie de
Arqueologia do arquivo (SELLEN, comunicação pessoal, 2015) ao procurar estudar objetos
que estão dispersos em diferentes arquivos, mas que fizeram parte de um mesmo conjunto de
artefatos que foram pensados para estarem juntos a fim de produzir um discurso sobre um
aspecto da sociedade antiga de Chichén Itzá. Para isso foi feito uso de um material documental
constituído por elementos de diversas naturezas. Ao propor um histórico do achado do casal Le
Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares, buscamos relacionar os objetos com os
manuscritos, fotos, e informações recolhidas e produzidas por este casal de estudiosos do século
XIX, numa abordagem que combine fontes de arquivo, coleções arqueológicas, além de uma
detalhada análise do contexto em que foram encontrados os objetos (URCID; SELLEN, 2008,
p.177) para reconstruir as trajetórias das circulações desses objetos ao longo de suas histórias
em diferentes locais e momentos. Tal metodologia também tem sido utilizada por estudiosos de
uma área que ficou conhecida como História das Coleções, um campo que se dedica aos estudos
de peças sem um contexto arqueológico conhecido, ou com poucas informações sobre esse
contexto. Segundo Adam Sellen e Lynneth Lowe, podemos definir o colecionismo
arqueológico como sendo o:
[...] el proceso de reunir de manera sistemática objetos antiguos y la información
asociada (arqueológica) […] e incluir también otros datos que documenten la
trayectoria histórica de los artefactos a partir de su descubrimiento, como son el
análisis, la interpretación y la exhibición del objeto (SELLEN; LOWE, 2009, p.53).
43
1.10. Por uma História das Coleções
O ato de colecionar objetos está presente desde os primórdios da civilização humana.
Registros de práticas desse tipo foram encontradas há 45.000 anos atrás entre as populações
Cro-Magnon com a realização de atividades humanas interlaçadas com questões rituais, sociais
e a coleta de objetos com um destacado interesse estético (SELLEN, 2015, p.36). Uma prática
que seguiu sendo adotada por diversos povos da antiguidade até a Idade Moderna e
Contemporânea. Com a colonização e conquista do continente americano pelos europeus houve
um aumento do colecionismo a partir do surgimento dos gabinetes, coleções de objetos,
manufaturados e naturais que tinham algum destaque sob a ótica do europeu. Já em território
mexicano, a descoberta da estátua da deusa Coatlicue em 1790 na Cidade do México marcou
um novo paradigma dentro da história da Arqueologia e do colecionismo desse país,
provocando um grande impulso aos gabinetes (SELLEN, 2015, p.44). Os colecionadores
passaram a ser cada vez mais frequentes no México ao final do século XVIII e tiveram um papel
importante na disseminação do interesse dos artefatos naturais e culturais do país, além de
suscitar discussões acerca das origens das populações americanas.
O desenvolvimento da Arqueologia profissional no México no início do século XX,
levou à formação de museus de Arqueologia e Antropologia em diversas regiões do país. Com
os projetos arqueológicos empreendidos em diversos sítios mexicanos nesse momento, muitos
objetos recuperados durante as escavações passaram a ter diferentes destinos. A grande
quantidade de material escavado levou a um armazenamento dos objetos em reservas e
depósitos de museus que passaram a acumular peças de diferentes naturezas e origens, muitas
delas sem informações precisas sobre o contexto em que foram recuperadas.
Os estudos desses objetos que por vezes são deixados de lado pela ciência arqueológica
devido à falta de informações sobre o seu contexto tem levado à criação de um campo de estudos
chamado de História das Coleções. No México, durante o século XX, um importante estudioso
e incentivador de tais estudos nos acervos de museus foi o arqueólogo Felipe Solís, responsável
pela publicação de diversas descrições e catálogos de objetos de depósitos. A importância
desses objetos também remete ao fato de que eles podem ajudar de maneira determinante nas
interpretações e significado de fragmentos recuperados durante as escavações, além de revelar
novos objetos em suas categorias e classificações tipológicas que muitas vezes eram
desconhecidos até então, e passam assim a ser o de ponto de partida para futuras investigações.
Tal como definido pelo historiador Roberto Velasco Alonso, esse campo se dedica a
reunir os diversos registros de uma peça, como conjuntos de informação presentes e todo o tipo
de arquivo (institucionais, hemerotecas, bibliográficos, catalográficos) relativo às peças nos
44
museus e coleções. Esse material vai desde interpretações acadêmicas até as notícias de seu
descobrimento ou aquisição em cadernos de campo com a finalidade de sistematizar os dados
(VELASCO ALONSO, 2015, p.371). Tal área seria uma ramificação da história que se criou
no momento da concepção dos museus através dos registros que sobre eles foram deixados por
seus criadores e responsáveis ao longo do tempo.
Dessa forma, uma das responsabilidades da História das Coleções seria a de mapear e
localizar os diferentes acervos permitindo detectar correspondências que entrelacem a
informação necessária para rastrear os contextos registrados dos objetos sem contexto, além de
enriquecer com informações aqueles já melhor documentados. Ao ordenar, classificar e associar
toda a quantidade de informação possível de ser recuperada ao objeto esses estudos ajudam a
recuperar a voz e o entendimento dessas peças escondidas.
1.11. Os documentos do casal Le Plongeon
O corpus documental utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa foi analisado
seguindo uma abordagem que leve em conta que o documento é um vestígio (BLOCH, 2002,
p.73) e expressa um aspecto do tempo em que ele foi produzido, e as estruturas de poder da
sociedade na qual ele fez parte (LE GOFF, 2003, p.49). Além de olhar para as imagens com a
intenção de perceber o que elas transmitiam e queriam transmitir e também perceber seu sentido
no contexto e tempo em que foram idealizadas (VILLELA, 2013, p.165).
Em estudos dessa natureza é fundamental ter uma noção mais ampla do contexto em
que tal documento foi produzido, a partir de uma análise da atuação dos primeiros arqueólogos
ou proto-arqueologos no continente americano no século XIX. Neste sentido acreditamos ser
importante olharmos os trabalhos destes pesquisadores sob uma ótica que considere a
Arqueologia como uma prática intelectual relacionada ao contexto histórico e social de
determinada época, como sendo o resultado de condições sociais e relações ocorridas em
diferentes períodos (FUNARI, 2008; TRIGGER, 2004). Ao examinar a influência dos fatores
sociais presentes nas pesquisas científicas podemos ter uma importante noção de como esta
produção foi construída e pensada em diferentes momentos dentro de uma perspectiva histórica.
Além de perceber como os fatos sociais e contextos de determinadas épocas acabaram por
pautar e servir como base para a produção cientifica.
Os trabalhos do casal Le Plongeon se inserem numa época de forte agitação política na
América Latina com a consolidação dos movimentos de independência iniciados em inícios do
século XIX. Um período que suscitou a atuação de aspirações coloniais de poderes europeus e
estadunidenses não apenas em questões econômicas dos países recém-formados, mas também
45
sobre os bens culturais. Levando a uma situação que uma corrente de estudiosos chama de
imperialismo informal (DIAZ-ANDREU GARCIA, 2007; TRIGGER, 1984; TRIPP EVANS,
2004; FERREIRA, 2010). Segundo Bruce Trigger (1984, p.356), a Arqueologia imperialista é
associada a alguns países dominantes politicamente que exercem suas influências políticas,
econômicas e culturais ao longo de áreas ao redor do mundo. Neste sentido, muito dos trabalhos
desses proto-arqueólogos do século XIX na América estão associados a esta prática, como a
atuação do próprio Le Plongeon em sua tentativa de levar aos Estados Unidos grande parte dos
objetos recuperados durante as escavações em Chichén Itzá.
Outra questão é perceber como teorias arqueológicas desse período fizeram parte de
construções do pensamento cientifico de uma maneira mais ampla. É importante notar que Le
Plongeon se inseria na produção de conhecimento do século XIX, que se caracterizou pela
propagação de teorias difusionistas, por um forte eurocentrismo, mas também por uma
preocupação dos Estados Unidos em rivalizar com esse pensamento europeu, o que deu origem
a correntes de pensamento que tinham como construção teórica a ideia de que o continente
americano deveria ter a sua própria história grandiosa para rivalizar com os europeus
(TRIGGER, 2004, p.102). Seguindo as teorias de Charles Etienne Brasseur de Bourbourg,
estudioso francês, que acreditava que a civilização mundial teria se desenvolvido a partir de
uma única origem e a América do Norte seria o continente que deu início ao mundo, Le
Plongeon achava que o México antigo era o local onde estavam as sementes da civilização
mundial, e a civilização maia seria a “cultura mãe” de todas as outras (DESMOND, 2009, p.14).
Isto fazia parte de uma tentativa de criar uma narrativa histórica ampla que abarcasse o
continente americano e inseri-lo numa história mundial. Um movimento epistemológico
surgido no final do século XIX de uma busca por uma história global:
Contra o descentramento operado por Marx – pela análise histórica das relações de
produção, das determinações econômicas e da luta de classes – ele deu lugar, em finais
do século XIX, à busca de uma história global, em que todas as diferenças de uma
sociedade poderiam ser reconduzidas a uma forma única, à organização de uma visão
de mundo, ao estabelecimento de um sistema de valores, a um tipo coerente de
civilização (FOUCAULT, 2014, p.47).
Além disso, essas teorias fizeram parte de um contexto no qual floresceu o difusionismo
como elemento central na elucidação e explicação do passado e na história da humanidade.
Segundo Trigger, (2004, p.147) o final do século XIX foi marcado por um sentimento de
desilusão com o progresso junto com a ideia de que o comportamento humano estava
biologicamente determinado, o que levou a um ceticismo em relação à criatividade humana e
sua capacidade de inovação. Com a predominância destas ideias de que a mudança seria
contrária à natureza humana é que teorias caracterizadas por um declínio da ideia de um
46
desenvolvimento independente ganham força. Desta forma, o princípio da migração humana
passou a ser utilizado para explicar as mudanças culturais (TRIGGER, 2004, p.148). Ideia que
se fez presente na maioria dos escritos dos estudiosos desta geração.
Assim, é a partir de uma preocupação com essas questões teóricas e a relação existente
entre a produção de conhecimento e o seu respectivo contexto social, que os documentos
produzidos pelo casal Le Plongeon sobre as escavações na Plataforma das Águias e Jaguares
foram analisados.
1.12. A fotografia como fonte histórica
Além das anotações e registros de campo, dentre o material produzido pelo casal Le
Plongeon em suas investigações estão o extenso corpus de fotografias produzidas durante a
estada do casal em Chichén Itzá. Para a atual pesquisa foi levado em consideração apenas as
fotos sobre os estudos realizados na Plataforma das Águias e Jaguares.
A Fotografia pode ser vista como um ato cultural, produto de escolhas que refletem a
maneira à qual o seu autor enxerga o mundo e os elementos que o constituem (NOVAES, 1998,
p.117, GURAN, 2011, p.80). Ela só é capaz de ser compreendida com a realização de uma
ampla investigação sobre o seu contexto de produção, além das próprias especificidades
técnicas, ao colocá-la como um ponto de partida para uma análise antropológica. A foto
enquanto documento histórico apresenta características visíveis, condições da sociedade que a
produziu, mas também elementos invisíveis, que seria uma linguagem mediada por escolhas
formais e estéticas, e a presença da visão de mundo do seu autor (GURAN, 2011, p.85). Como
propõe Kossoy, o registro visual documenta a própria atitude do fotógrafo diante da realidade
de seu tempo como uma forma de expressão de sua própria subjetividade presente no ato da
foto (KOSSOY, 2014, p.46).
Uma análise de um corpus fotográfico para uma pesquisa no campo da História da Arte
e da Arqueologia deve levar em conta a própria importância e papel da fotografia nestas duas
disciplinas. Hoje é comum a ideia de que a História da Arte enquanto disciplina científica tenha
se munido e se formado concomitantemente ao próprio desenvolvimento da fotografia em larga
escala no final do século XIX (MATTOS; IMORDE, 2014, p.150). Uma importância que
remete ao fato de ter-se aventado a possibilidade de reunir, comparar imagens, algo até então
impossível sem a reprodução em massa. Alguns estudiosos como Claudia Valladão de Mattos
Avolese e Joseph Imorde (2014) destacam o fato de que a trajetória da História da Arte como
disciplina acadêmica é a história do uso de reproduções, e não a do discurso diante do original.
47
Além disso, a fotografia teria sido um elemento que conferiu certo grau de objetividade às
análises de obras de arte:
A invenção da reprodução para a História da Arte poderia mesmo ser comparada à
invenção do microscópio para a biologia, quando se passou a examinar em
laboratório, com objetividade, um trecho particular da natureza que de outra forma
seria inacessível ao olhar e ao pensamento (MATTOS; IMORDE, 2014, p.150)
Ao mesmo tempo em que a fotografia se tornou um elemento fundamental no nascente
campo da História da Arte, ela também causou uma importante revolução nos primeiros estudos
arqueológicos. Em meados do século XIX a fotografia emerge como um papel inovador para a
coleta de informações e conhecimento, a partir da possibilidade de captura da expressão cultural
de povos, seus costumes, habitações, monumentos, religião e fatos sociais através do registro
fotográfico (KOSSOY, 2014, p.29). Essa técnica logo se tornou um importante aspecto da
ilustração arqueológica, tornando-se ao final deste século a forma dominante de registro das
explorações do passado americano (PILLSBURY, 2012, p.25). Este período ficou marcado pela
utilização da fotografia de colódio que consistia em sua aplicação ainda na forma líquida em
uma placa de metal ou vidro criando então uma película muito fina. Esta placa era submersa
por alguns minutos em uma solução de nitrato de prata tornando-se assim fotossensível. Quando
retirada do banho de nitrato de prata, agora fotossensível, era colocada ainda úmida em um dark
slide para que fosse exposta através da câmera. O tempo de exposição destas placas para que
fosse possível gravar uma imagem era bastante longo comparado aos dias de hoje e dependia
das condições climáticas, mesmo estas sendo expostas à luz do dia.
Segundo Adam Sellen (2012, p.217), essas inovações no desenvolvimento da fotografia
para o registro de peças e coleções arqueológicas também estariam relacionadas ao importante
papel que a foto teve na busca internacional por materiais para museus, como curadores,
compradores de antiguidades, que faziam uso das imagens para procurar novas peças. Esse fato
levou a uma grande circulação de fotografias de peças arqueológicas pelo México, Estados
Unidos e Europa durante o final do século XIX e início do XX. O uso da fotografia arqueológica
também resultou num aumento da documentação das ruínas, o que consequentemente serviu
como uma ferramenta para a elaboração das teorias das origens culturais da civilização maia
(TRIPP EVANS, 2004, p.4). Neste sentido destacam-se os trabalhos do francês Désiré Charnay,
pioneiro no uso da máquina fotográfica para o registro das ruínas mesoamericanas em 1863, e
posteriormente o trabalho do casal Le Plongeon com seus detalhados registros a partir do uso
da fotografia, além da implementação de novas técnicas, como sequências fotográficas e a foto
panorâmica (PILLSBURY, 2012, p.28).
48
Ao propor a utilização do estudo da fotografia como uma forma de recuperação do
contexto de peças antigas (SELLEN, 2012, p.226; FASH, 2013, p.91), além de percebê-las
como um testemunho do momento histórico em que foram elaboradas, procuramos, a partir de
uma análise e interpretação do corpus fotográfico do casal Le Plongeon, utilizá-lo como fonte
de dados históricos sobre o contexto das escavações empreendidas na Plataforma das Águias e
Jaguares. Pois segundo afirma Sellen, a fotografia antiga seria uma importante ferramenta no
estudo de antigas coleções e objetos sem contexto e a partir do seu estudo seria possível
“reconstituir antigos achados de enterros e sítios, bem como entender a mente desses
colecionadores e proto-arqueólogos e como eles construíram o conhecimento sobre o passado”
(SELLEN, 2012, p.208). Ou ainda como coloca Barbara Fash, que fotografias antigas que não
passaram por alterações seriam ferramentas documentais mais precisas para reapresentar e
recuperar elementos de um passado desconhecido (FASH, 2013, p.92).
1.13. O estudo dos documentos
Os documentos dos quais fazem parte as anotações de campo, desenhos, e registros
feitos pelo casal Le Plongeon sobre as escavações da Plataforma das Águias e Jaguares foram
analisados segundo uma metodologia apresentada por Pedro Paulo Funari no livro Antiguidade
Clássica. A História e a cultura a partir dos documentos (2002). Numa abordagem que
considera os documentos como “discursos a serem lidos como resultados da elaboração
humana, evitando falsas oposições entre diferentes tipos de evidências, materiais e textuais,
mas como todos sendo produtos da cultura” (FUNARI, 2002, p.25). Existem documentos de
diversas categorias com uma grande variedade de discursos, e ainda que haja muitos tipos de
análises documentais, alguns elementos gerais podem ser encontrados em sua maioria:
Elementos como o estudo da tipologia de fontes, lugar de origem, datação do texto,
estilo e características linguísticas, elaboração de um resumo com uma sinopse do
texto, inserção do contexto histórico, explicação detalhada do documento envolvendo
um estudo minucioso dos termos utilizados em seu contexto, autoria, inserindo o autor
nas circunstâncias e no meio cultural, e uma conclusão, além de uma bibliografia
consultada (FUNARI, 2002, pp.26-27)
Estes princípios de uma análise documental foram levados em conta durante o estudo,
com a elaboração de fichas individuais do material analisado, para um melhor ordenamento e
organização dos dados obtidos nos documentos. Fichas que não serão apresentadas no corpo da
dissertação, sendo apenas para uso pessoal durante a pesquisa.
1.14. As peças da oferenda
Os artefatos descobertos pelo casal Augustus Le Plongeon e Alice Dixon na Plataforma
das Águias e Jaguares foram estudados adotando a ferramenta analítica da elaboração de um
49
catálogo. Este catálogo foi pensado para conferir uma organização aos materiais estudados
durante a pesquisa, além de fornecer dados para possíveis futuros trabalhos sobre o tema. Para
a sua elaboração foram seguidos alguns fundamentos utilizados por autores como Marina
Cavicchioli (2004), Mary Miller e Simon Martin (2004), Clemency Chase Coggins e Orrin C.
Shane III (1989) e Murtha Baca, Patricia Harpring, Elisa Lanzi, Linda McRae e Ann Whiteside
(2006) em estudos em que foram realizadas classificações de objetos seguindo critérios como:
dimensões, forma, referências bibliográficas anteriores sobre a peça, contexto onde foi
encontrada, matéria-prima, descrição do objeto, além de informações sobre a sua localização
atual. O catálogo com as peças recuperadas da oferenda encontra-se no final dessa dissertação.
1.15. O desenvolvimento da pesquisa
Ao propor um histórico das peças encontradas pelo casal Le Plongeon na Plataforma
das Águias e Jaguares, procuramos recuperar informações desse material presente em fontes de
arquivo, coleções arqueológicas, fotos, notícias de jornais, anotações dos exploradores que
fizeram a descoberta, além de qualquer menção à peça existente em trabalhos antigos e
modernos. Criamos redes para a realização de um extenso e minucioso levantamento realizado
em diferentes áreas e objetos a fim de recolher o maior número de dados e informações sobre
as peças, a sua descoberta, trajetória ao longo dos anos, até chegar ao estado atual de cada
objeto. Feito isso, pretendemos reconstruir o contexto arqueológico de tal descoberta e por fim
fazer uma breve interpretação do conjunto de objetos que fazia parte da oferenda encontrada
pelo casal Le Plongeon.
50
Es pues Chichenizá un asiento muy bueno a diez leguas
de Izamal y once de Valladolid, en la cual, según dicen
los antiguos indios, reinaron tres señores hermanos los
cuales, según se acuerdan haber oído de sus pasados,
vinieron a aquella tierra de la parte del poniente y
juntaron en estos asientos gran población de pueblos y
gentes, la cual rigieron algunos años en mucha paz y
justicia. Eran muy honradores de su dios y así edificaron
muchos edificios y muy galanos, en especial uno, el
mayor. […]
Frei Diego de Landa
Capítulo 2: O casal Le Plongeon e Chichén Itzá
2.1. Uma viagem pelo mundo acadêmico
Augustus Le Plongeon e Alice Dixon Le Plongeon estão entre os personagens mais
controversos e polêmicos da história dos estudos maias. Eles fizeram parte da Arqueologia
americana num momento crucial do seu desenvolvimento como uma disciplina acadêmica ao
final do século XIX, que marcou o fim da especulação e o início da descrição e coleta de dados
(DESMOND; MESSENGER, 1988, p.XIX; BERNAL, 1980; TRIGGER, 2004; WILLEY;
SABLOFF, 1993).
Existem poucas obras que tratem da vida e carreira do casal. Grande parte das
referências que encontramos acerca dos Le Plongeon são pequenas menções em livros sobre a
história da Arqueologia na área maia e Mesoamérica. Entretanto, a maioria destas referências
trata e analisa o trabalho de Augustus e Alice com vistas e a partir de conceitos teóricos da
Arqueologia atual. Uma Arqueologia já constituída como disciplina científica, que muito difere
do fazer arqueológico do momento da atuação do casal. Diferente de outros exploradores e
viajantes da área maia do século XIX que tiveram um grande destaque com o reconhecimento
de suas obras e uso de seus trabalhos para pesquisas posteriores, o casal Le Plongeon padece
de um esquecimento sendo relegados a pecha de exóticos, controversos e polêmicos. Muito
dessa construção teria origem nas ideias extravagantes desenvolvidas por Le Plongeon e
apoiadas por Alice para tentar explicar a origem e história da civilização maia, além de
acusações do uso de técnicas agressivas ao patrimônio arqueológico.
Entretanto, devemos considerar os Le Plongeon como pertencentes ao seu tempo, como
um retrato histórico de um contexto do final do século XIX quando teorias sobre difusionismo
51
e contatos entre diversas civilizações antigas eram levantadas para tentar explicar a história do
mundo (FOUCAULT, 2014, p.47; TRIGGER, 2004, p.147).
Uma das primeiras referências sobre a vida e obra de Le Plongeon aparece no livro Lost
Tribes and Sunken Continents (1962) de Robert Wauchope, com um trecho em um capítulo que
o caracteriza apenas como um explorador excêntrico problemático e arrogante e sua esposa
Alice como uma porta-voz de suas infundadas teorias difusionistas:
[...] his [Le Plongeon's] arrogant flaunting of his own ego produced a lurid epoch in
the history of American archaeology. […] and Alice was a young and lovely bride
parroting his bizarre theories (WAUCHOPE, 1962, p.8).
A obra de Robert Brunhouse, En Busca de los Mayas. Los Primeros Arqueólogos, que
teve a sua primeira edição publicada na década de 1970 (2013) traz a história da Arqueologia
maia a partir da apresentação de alguns dos principais exploradores e viajantes na área maia no
século XIX. Este estudo é um exemplo de uma falta de preocupação com uma maior
contextualização destes personagens dentro do contexto sócio-político da época. A construção
da narrativa deste livro é baseada na história da vida desses exploradores, com pouca
contextualização social ou histórica desses personagens. Ainda que apresente diversas
informações sobre a vida de Le Plongeon, ele é tido apenas como uma figura polêmica,
misteriosa, relegando a um segundo plano o trabalho de documentação e registro feito em seus
estudos. Brunhouse termina sua descrição sobre Le Plongeon concluindo que a causa da pouca
importância dada aos trabalhos deste proto-arqueólogo teria sido motivada por sua
personalidade excêntrica:
Como aficionado a la arqueología maya, Le Plongeon ocupó una posición lamentable
debido a las particularidades de su personalidad. [...] Por ironía, es posible que sus
extrañas especulaciones hayan desacreditado en mucho la teorización general entre
los pensadores serios (BRUNHOUSE, 2013, pp.154-155).
Outra obra que dedica uma parte a uma breve descrição sobre Le Plongeon é o recente
trabalho de Alfredo Barrera Rubio, En Busca de los Antiguos Mayas. Historia de la
Arqueología en Yucatán (2015). Neste livro Barrera Rubio apresenta um panorama geral da
história das atividades arqueológicas na Península de Iucatã ao longo dos séculos. Para isso ele
reconstrói a vida dos principais personagens que atuaram em pesquisas e investigações na
península. Um desses personagens é Le Plongeon. Apesar de conter as principais informações
sobre sua vida e trabalhos, também se nota uma falta de contextualização histórica do período
vivido pelo explorador. Além disso, o texto acaba por apontar apenas as suas teorias, ocultando
a metodologia de seu trabalho de campo:
Explorador y arqueólogo excéntrico y polémico, se caracterizó por sus ideas
extravagantes sobre contactos entre las culturas egipcia, griega, caldea e hindú, con la
52
maya. También postuló una relación de dichas culturas con la francmasonería de
épocas anteriores al templo de Salomón (BARRERA RUBIO, 2015, p.28).
O trabalho mais relevante e detalhado já feito sobre o casal Le Plongeon é o de Lawrence
Gustave Desmond e Phyllis Mauch Messenger, A Dream of Maya. Augustus and Alice Le
Plongeon in Nineteenth-Century Yucatan (1988). Fazendo uso de extensa documentação, este
livro é quase uma biografia do casal, com detalhes sobre as atividades empreendidas por eles
na Península de Iucatã, bem como uma apresentação das ideias e teorias criadas para tentar
explicar a origem e existência dos maias. Ao contextualizar suas teorias dentro do seu tempo e
apresentar de forma detalhada os métodos de trabalho de Le Plongeon e Alice em Chichén Itzá
e Uxmal, Desmond e Messenger ressaltam a importância do casal de exploradores como
produtores de dados e informações úteis para os estudos maias.
A partir desta obra, outros autores passaram a tratar as atividades de Le Plongeon com
um enfoque maior nos importantes dados, fotos, desenhos e registros coletados pelo explorador
e sua esposa durante os anos de trabalho de campo. Daniel Schávelzon (1985) ressalta que todo
o material levantado por Le Plongeon ficou marginalizado pela literatura arqueológica durante
anos devido a suas ideias e teorias excêntricas. Entretanto, Schávelzon ressalta a importância
que Le Plongeon teve para a história dos estudos maias e para a própria história da Arqueologia
com seus trabalhos em Chichén Itzá:
Recordemos que Le Plongeon causó gran revuelo con sus dos excavaciones en ese
sitio, ya que fue el primero en postular la importancia del trabajo de campo para luego
poder plantear cualquier tipo de teorías. Por otra parte, fue el primero en realizar
análisis químicos de los restos orgánicos descubiertos, al igual que el primero en
realizar trabajos estratigráficos en la zona maya (SCHÁVELZON, 1985, p.56).
Esta importância da atuação de Le Plongeon, destacada por Schávelzon vem sendo aos
poucos redescoberta por outros pesquisadores da área mesoamericana. Adam Sellen e Lynneth
Lowe (2009) destacam a importância do uso do legado do casal Le Plongeon para as recentes
investigações arqueológicas e históricas sobre o passado da cidade de Chichén Itzá, bem como
para a história do colecionismo em Iucatã. Pela primeira vez foi feita uma tentativa de relacionar
os objetos descobertos por Le Plongeon em Chichén Itzá e Cozumel, com seus escritos, notas,
desenhos e fotografias. Tal trabalho foi utilizado como ponto de partida para esta dissertação
de mestrado.
Outro importante estudo que traz informações sobre a trajetória do casal Le Plongeon,
bem como uma detalhada contextualização de sua obra é o livro Romancing the Maya, de R.
Tripp Evans (2004). Nele o autor ressalta a importância de se analisar os primeiros arqueólogos
da área maia a partir de uma perspectiva que leve em conta o contexto político de cada época,
e como esses personagens atuaram em compasso com isso. Neste sentido, Tripp Evans
53
apresenta-nos as teorias de Le Plongeon dentro de um quadro mais amplo ressaltando suas
origens em outros autores da época, como o francês Charles Etienne Brasseur de Bourbourg,
que em suas interpretações fez uso do conceito de difusionismo para explicar a origem das
civilizações antigas. Em meados da década de 1860, Brasseur de Bourbourg propôs a ideia de
uma influência mutua entre a América antiga e o antigo Egito, além de uma teoria que colocava
a América como a origem do mundo (TRIPP EVANS, 2004, p.113). Mais tarde, Le Plongeon
iria aprofundar tal teoria, ao considerar toda a cultura, inclusive a moderna do seu tempo, como
dependente e originada pelos maias.
Ainda que Tripp Evans discuta o teor fantástico das teses de Le Plongeon sobre a história
dos antigos maias ele ressalta o importante aporte técnico e metodológico trazido por este
explorador para o campo da Arqueologia. Dentre essas inovações estariam os grandes avanços
tecnológicos no uso da fotografia de campo e formas de gesso usadas em réplicas. Segundo
Tripp Evans, em termos de qualidade e de quantidade o registro fotográfico de Le Plongeon das
ruínas maias não teve paralelos no século XIX. Ele foi pioneiro num tipo de close-up
arqueológico e também na realização de fotos panorâmicas. Outro ponto importante teria sido
a imersão que o casal Le Plongeon fez em Iucatã que fez com que eles fossem os primeiros
arqueólogos amadores a se comunicar com guias locais, trabalhadores e oficiais do governo
mexicano em sua própria língua. Além do uso de uma metodologia que buscava comprovar
uma tese fazendo uso de um trabalho de campo, algo inovador para aquele momento (TRIPP
EVANS, 2004, p.130).
Segundo Tripp Evans as obras de Le Plongeon falharam ao não conseguir alcançar o
grande público e o público acadêmico por sua pouca credibilidade científica. Suas teorias teriam
comprometido a recepção do seu trabalho, ainda que a combinação entre o fraudulento e o
autêntico fosse algo comum naquele período do século XIX. O autor conclui afirmando que o
“eventual contexto literário das descobertas de Le Plongeon não diminui o seu valor e suas
atividades em Iucatã demonstram um grande exemplo do seu valor real e de sua seriedade”
(TRIPP EVANS, 2004, p.139).
2.2. Vida e obra do casal Le Plongeon
Nascido na ilha de Jersey, na França, em 04 de maio de 1826, Augustus Henry Julius
Le Plongeon, que mais tarde se naturalizou inglês, frequentou um colégio militar de Caen
durante sua infância e depois ingressou na École Polytechnique de Paris em 1841. Logo após
fez uma viagem de barco até a América do Sul quando visitou este continente pela primeira
vez.
54
Ao regressar à Europa, Le Plongeon teve seus primeiros contatos com a fotografia com
o inglês William Henry Fox Talbot que produziu uma imagem de negativo num papel a partir
do qual múltiplos positivos poderiam ser impressos, o que possibilitava pela primeira vez a
produção de cópias de fotografias. Quando regressou à América visitou St. Thomas nas Ilhas
Virgens, onde realizou testes com fotografias aprimorando a sua técnica. Em 1855 ele
estabeleceu um estúdio fotográfico em São Francisco nos Estados Unidos, que o fez obter um
grande sucesso comercial (TRIPP EVANS, 2004, p.128).
Nos Estados Unidos, Le Plongeon passou a se dedicar também a algumas práticas
médicas ao fazer estágios com um médico. Após três anos auxiliando e estudando medicina,
Augustus recebeu o título de doutor. Na década seguinte em 1862 ele teve o primeiro contato
com a Arqueologia ao viajar ao Peru para fotografar antigas ruínas. Nesta viajem ele pode
colocar em prática a nova técnica do processo negativo do prato de vidro, chamado de colódio
úmido. Tal processo tinha mais sensibilidade à luz e permitia uma produção de um número
maior de cópias.
A utilização desse novo domínio técnico fez com que um ano depois, Le Plongeon fosse
convidado pelo arqueólogo Ephraim G. Squier, já famoso por seus trabalhos nos montículos do
Vale do Mississipi nos Estados Unidos, para acompanhá-lo a fotografar os sítios arqueológicos
peruanos que estava pesquisando naquele momento (DESMOND; MESSENGER, 1988, p.8).
Depois dessa experiência Augustus estabeleceu-se por um período em Lima ao abrir
uma clínica médica e também passou a se dedicar ao estudo de terremotos, a partir do seu
interesse na eletromagnética. Ao estudar uma vez mais os sítios arqueológicos peruanos, desta
vez por conta própria, Le Plongeon começou a desenvolver sua teoria de que a América teria
sido a origem da civilização mundial. Em 1870 ele retorna a São Francisco e depois em 1871
vai a Londres onde conheceu a jovem fotógrafa Alice Dixon (TRIPP EVANS, 2004, p.128).
Dois anos depois eles se casaram e se mudaram para Nova York, local onde Augustus
passou a ter cada vez mais contato com a academia estadunidense. Neste momento ele publicou
um manual de fotografia que tratava de maneira detalhada os materiais e fórmulas utilizadas
pelas novas técnicas. Com isso, Le Plongeon começou a estabelecer mais contatos e fazer
planos para uma viagem para explorar as ruínas arqueológicas mexicanas (DESMOND;
MESSENGER, 1988, p.12).
Qualquer estudo que seja feito sobre os trabalhos de Le Plongeon deve estar presente o
nome de Alice. Mais do que ser lembrada apenas como a esposa de Augustus, e de ter sido sua
fiel companheira durante toda a empreitada pelos sítios maias de Iucatã, Alice possui um
importante papel de destaque. Como fotógrafa, fez uso de avançadas técnicas para os registros
55
fotográficos dos sítios e das peças estudadas pelo casal, fez anotações de campo, com
minuciosas descrições das atividades, com o desenvolvimento de atividades que podemos
considerá-la como a primeira mulher a realizar estudos arqueológicos na área maia
(DESMOND, 2009, p. XVII). Além disso, no final de sua vida, Alice teve um importante papel
intelectual com a publicações de diversos artigos e livros, participações em seminários, além
de um ativismo político destacado a favor dos direitos das mulheres.
Alice Dixon Le Plongeon nasceu em uma família de fotógrafos, e desde cedo
desenvolveu uma grande habilidade para a fotografia, além de uma destacada facilidade para a
escrita. Quando conheceu Augustus logo se interessou pela ideia de conhecer um novo
continente e explorar a antiga cultura do México. Durante as investigações realizadas pelo casal
nos sítios maias iucatecos, Alice preparava todas as placas dos negativos em vidro de colódio
úmido usados por Augustus, além de ter produzido uma grande quantidade de fotos de alta
qualidade (DESMOND, 2009, p.3). Foram mais de 2400 fotos, com diversas sequências
fotográficas de painéis-múltiplos e panoramas.
No ano de 1873, após algumas tentativas frustradas de angariar patrocínio, o casal Le
Plongeon fez a sua primeira viagem à Península de Iucatã dispondo de recursos próprios. Nesta
época o território iucateco vivia uma situação política conturbada com uma rebelião indígena
que ficaria conhecida como a Guerra das Castas que envolveu uma luta de indígenas contra
integrantes das classes dominantes espanholas, e levou grande parte da península naquele
momento a ser governada pelos rebeldes. Essa situação criou muita dificuldade para os
trabalhos de Le Plongeon durante esses primeiros anos em que esteve em Iucatã (DESMOND;
MESSENGER, 1988, pp.25-26).
Durante os trabalhos, Augustus e Alice aprenderam a língua maia iucateco e
estabeleceram contatos com importantes intelectuais da península daquele momento, como o
erudito ilustrado, padre Cresencio Carrillo y Ancona, grande fomentador da investigação
arqueológica na região e fundador do Museu Iucateco em 1871 (SELLEN; RUZ, 2015, p. 22).
Após uma estada em Mérida e em outras cidades e povoados, o casal Le Plongeon chega ao
sítio de Chichén Itzá no ano de 1875, local que era controlado pela guerrilha indígena, Chan
Santa Cruz Maya, o que os obrigou a estabelecer sua sede para as investigações no povoado
vizinho chamado Pisté (DESMOND; MESSENGER, 1988, p.25). Neste local Le Plongeon
tinha a escolta de alguns soldados do governo de Iucatã, mas logo decidiu reunir-se com os
líderes da guerrilha indígena no sítio para pedir uma autorização de trabalho. Com o passar do
tempo apenas alguns poucos soldados permaneceram acompanhando o casal em suas
56
investigações que foi ganhando a confiança dos rebelados cada vez mais (DESMOND;
MESSENGER, 1988, p.26).
Ao começar os trabalhos em Chichén Itzá o casal Le Plongeon fez estudos no Templo
Superior dos Jaguares na parte norte da cidade, onde encontrou baixos-relevos e resquícios de
pintura mural em suas paredes. Augustus realizou estudos e cópias das cenas desses murais, e
chegou à conclusão de que seriam uma narrativa de eventos religiosos, guerras, e governantes
da antiga cidade. Dentre as personagens presentes nas figuras, Le Plongeon identificou o que
para ele seriam os governantes deste local. A rainha Móo e o seu irmão, o guerreiro Coh,
também conhecido como príncipe Chaac Mol, uma referência ao jaguar que aparecia num
escudo deste personagem no mural. Segundo Le Plongeon, teria existido uma antiga dinastia
maia em Iucatã comandados pela rainha Móo e pelo príncipe Coh. (DESMOND;
MESSENGER, 1988, pp.30-32; LE PLONGEON, 1900). Dias depois o explorador, sua esposa
Alice e seus ajudantes indígenas passaram a trabalhar nas escavações do montículo ao lado do
Templo dos Jaguares, que depois no século XX seria chamado de Plataforma das Águias e
Jaguares. Neste local eles encontraram um conjunto de objetos enterrados. Frustrados após ter
sua tentativa de levar alguns dos artefatos para os Estados Unidos negada pelo governo
mexicano, Le Plongeon e Alice deixaram Chichén Itzá e passaram a visitar outros sítios da
região. Durante esta nova viagem eles visitaram Isla Mujeres, Cozumel, Belize, Mayapan,
Uxmal, e publicaram parte dos trabalhos desenvolvidos no livro Vestiges of the Mayas, de 1881.
Nesse mesmo ano o casal retornou a Chichén Itzá para seguir com os estudos.
Na retomada dos trabalhos neste sítio, o casal Le Plongeon desenvolveu talvez a sua
investigação mais meticulosa e destacada. Buscando encontrar os restos mortais do príncipe
Coh, eles iniciaram um trabalho de escavação num montículo que se localizava próximo à
Plataforma das Águias e Jaguares. Le Plongeon se surpreendeu pela semelhança entre as duas
estruturas, formato e tamanho parecidos. Neste local denominado por Le Plongeon como
Mausoléo do Príncipe Cay, (que mais tarde foi chamada de Plataforma de Vênus) foram
encontrados objetos enterrados e oferendados, como placas de pedra em baixo-relevo, 182
cones feitos de pedra, uma escultura em pedra que foi interpretada posteriormente como um
porta-estandarte com formato humano, 12 cabeças de serpentes esculpidas em pedra, uma urna
de pedra, que Le Plongeon acreditou que poderia conter as cinzas do príncipe chacmool, além
de diversos líticos, cacos de cerâmica fina, e um esqueleto de um pequeno animal (DESMOND;
MESSENGER, 1988, p.91; DESMOND, 2008, p.161).
Mais importante do que a própria descoberta foi a forma como Le Plongeon a registrou.
Ele realizou anotações das peças encontradas, minuciosas medidas da estrutura da construção,
57
tirou fotos dos achados, e fez uso de técnicas estratigráficas, numa das primeiras tentativas de
utilização deste método em território mexicano (SCHÁVELZON, 1999, p.3) (ver anexo 5).
Mais tarde com a profissionalização da Arqueologia no país, no início do século XX, a
estratigrafia seria aperfeiçoada pela Escuela Internacional de Arqueología y Etnología sob a
iniciativa de Jorge Engerrand e Franz Boas (BERNAL, 1980, p.160). Le Plongeon desenhou o
corte estratigráfico da plataforma, tentando reproduzir o local, a camada e a disposição das
peças encontradas, trabalho que resultou num importante legado deixado pelo explorador
(BRASWELL, 2012, p.233).
Antes de deixar Chichén Itzá, o casal Le Plongeon fez ainda notas e outras cópias de
baixos-relevos encontrados no sítio, e terminou de traçar uma reprodução dos murais do Templo
Superior dos Jaguares. Ao retornar aos Estados Unidos, Le Plongeon buscou apresentar o
resultado de seus trabalhos em congresso, feiras e publicações cientificas, mas a recepção de
sua obra nesses meios acabou sendo bem reduzida. Em 1886 Augustus publicou o livro Sacred
Mysteries among the Mayas and the Quiches, 11,500 years ago, ao mesmo tempo em que Alice
publicava Here and There in Yucatan, com o relato de algumas das jornadas do casal pela
Península de Iucatã durante os anos de pesquisas. Dez anos mais tarde em 1896, foi publicado
o livro Queen Móo and the Egyptian Sphinx, como uma apresentação sumária de sua obra e
ideias sobre a Arqueologia maia. Nesta obra ele insistiu no papel central da América do Norte
na fundação da civilização mundial.
Este momento na vida do casal é marcado por intensas disputas acadêmicas com
estudiosos que questionavam suas ideias acerca da origem e história dos maias e relações com
o povo egípcio. Ao longo de sua trajetória Le Plongeon se envolveu em intensas polêmicas com
outros estudiosos como Désiré Charnay, Edward Thompson, Herbert Spinden e Daniel Brinton.
Todos acusavam Le Plongeon de haver usado práticas duvidosas em seus trabalhos de campo,
bem como ter criado teorias sem nenhuma comprovação cientifica.
Augustus e Alice passaram o final de suas vidas tentando defender suas teorias contra
os ataques e críticas sofridas, além de publicar seus artigos e expor peças coletadas durante suas
viagens ao México. Le Plongeon morre em 1908 aos 82 anos no Brooklyn, Nova York, e Alice
morreria dois anos depois em 1910 aos 59 anos (DESMOND; MESSENGER, 1988, pp.120-
122).
Ao perceber os discursos de Le Plongeon como localizados historicamente e
temporalmente em teorias que faziam parte de num momento em que a produção científica
estava imbuída de ideias difusionistas e como uma maneira de servir às novas elites americanas
como uma ferramenta de constituição identitária, questiona-se a visão tradicional apresentada
58
de um exotismo e falta de cientificismo em seus escritos. Ao empreender uma análise que leve
em conta o discurso tal qual como proposto por Foucault podemos inferir outra visão sobre tais
textos. Já que para ele, a prática discursiva seria:
[...] um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no
espaço que definiram, numa época dada, e para uma área social, econômica,
geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa
(FOUCAULT, 2014, p.164).
Desta forma os escritos de Le Plongeon devem ser vistos como parte da produção
científica de sua época, mas também dentro de uma estrutura que leve em conta os respectivos
receptores deste discurso. Em suas correspondências com Salisbury Jr., notam-se certos
elementos utilizados para engrandecer seus achados a partir da elaboração de teorias grandiosas
que dessem conta de uma explicação ampla da história mundial. Esta utilização retórica teria,
além de fazer parte das próprias subjetividades de seu autor, pertencido a um conjunto de
discursos construídos dentro do contexto de uma lógica presente entre os exploradores naquele
momento do século XIX, que era a de recolher objetos com alto grau de apelo estético e vendê-
los a museus ou entregá-los aos seus respectivos patrocinadores para garantir verba para
próximas expedições (HUTSON, 2012, p.305).
Além disso, é importante estabelecer um olhar para a obra do casal Le Plongeon para
além da parte interpretativa. O seu legado já notado por alguns estudiosos (DESMOND;
MESSENGER, 1988; SELLEN; LOWE, 2002; SCHÁVELZON, 1985; TRIPP EVANS, 2004)
vai além e se caracteriza por importantes contribuições aos estudos da história maia. O grande
corpus fotográfico com inovações técnicas e a tentativa de fazer uso pela primeira vez de um
estudo estratigráfico em Chichén Itzá fazem parte deste legado. Ao pretender dar
prosseguimento a esta nova visão sobre os trabalhos de Le Plongeon e sua utilização para os
estudos mesoamericanos, é que foi pensada a diretriz a ser trilhada por esta pesquisa.
2.3. A cidade dos Itzás
Localizada nas terras baixas do norte da Península de Iucatã, Chichén Itzá é considerada
uma das cidades mais importantes da civilização maia e um dos sítios arqueológicos mais
estudados e visitados na área mesoamericana. A cidade apresentou diferentes períodos de
ocupação que teriam se originado por volta de 300-200 a.C. e atingido um auge durante o
período Clássico Terminal (800-1050 d.C.), quando se destacou como um centro regional de
controle de rotas comerciais e bens de consumo de luxo, além de desempenhar uma posição de
coletora de impostos a sítios menores subjugados ao seu poder (COBOS, 2012, p.242; GARCÍA
MOLL; COBOS, 2009, p.41).
59
Existem duas interpretações sobre a tradução do nome de Chichén Itzá baseadas na
língua maia iucateco. A primeira proposta pelos historiadores Santiago Pacheco Cruz e
Francisco Javier Santamaría com o Diccionario de etimologías toponímicas Mayas (1959), que
apontava para sendo “água resinosa solamente en la orilla”, e a outra pelo arqueólogo Román
Piña Chan, que seria “en la boca del pozo del brujo del água”, fazendo uma referência ao Cenote
Sagrado, ou a cidade dos bruxos da água, tradução já mencionada anteriormente por Frei Diego
de Landa no século XVI (PIÑA CHAN, 2011, p.13).
Alvo de intensos debates desde os primeiros estudos sobre o sítio, a ocupação de
Chichén Itzá, bem como o seu início e origem ainda hoje suscitam muita discussão entre os
estudiosos. Ainda que haja diversas interpretações que considerem o sítio como um local de
invasão de povos toltecas oriundos do Centro do México (CHARNAY, 1887; TOZZER, 1930;
MORLEY, 1946; DE LA GARZA, 1984; SHARER, 1999), ou de maias mexicanizados, de
origem Putun que viviam na costa de Tabasco e Campeche antes de se moverem a Iucatã
(THOMPSON, 1970), acreditamos que Chichén Itzá teria sido um sítio essencialmente maia
desde o início de seu povoamento no período Pré-Clássico Tardio, com origem na própria
Península de Iucatã (COBOS, 1998; KUBLER, 1968; ANDREWS, 1978; LINCOLN, 1990;
PIÑA CHAN, 2011; NAVARRO, 2007). Os arqueólogos têm observado indícios de que o
inicio da organização interna do assentamento foi dispersa e essencialmente maia, onde grupos
arquitetônicos se mesclavam com áreas verdes e campos de cultivos agrícolas (COBOS, 2001,
p.253). Entre os séculos de 700 e 800 d.C. Chichén Itzá foi cenário de um processo rápido de
povoamento e atividade construtiva que teve como centro a parte sul da cidade, onde está
localizado o Complexo das Monjas. A partir do ano de 900 d.C. nota-se uma transformação de
Chichén Itzá em uma cidade e capital regional quando ocorre a mudança do centro da cidade
do Complexo das Monjas para a Grande Nivelação. Acredita-se que esses dois centros da cidade
teriam sido datados em períodos diferentes, mas de forma sequencial (COBOS, 2001, p.255).
Neste período após 900 d.C. a estrutura interna e a economia de Chichén Itzá mostram uma
comunidade centralizada e socialmente hierárquica com uma economia voltada para o mercado
de bens, que atingiu o seu auge graças ao controle de intrincadas redes de intercâmbio, que
englobavam o controle de salinas e bens de consumo de luxo. A partir dessas duas
características podemos perceber um caráter cosmopolita de Chichén Itzá com uma forte
confluência de ideias e pessoas.
A cidade passou a se utilizar de uma fusão de elementos de prestígio de diversas regiões
mesoamericanas para a criação de uma cultura única em que faziam parte diferentes elementos
artísticos, arquitetônicos e religiosos. Isso teria levado a Chichén Itzá a constituir-se com traços
60
sociais, políticos e culturais híbridos, fazendo deste assentamento um centro cosmopolita e
irradiador de novas mensagens simbólicas. Não existiu um mero transporte desses elementos
estrangeiros à Chichén, mas sim a construção de uma nova realidade cultural e política pela
elite governante desse sítio (KRISTAN-GRAHAM; KOWALSKI, 2011, pp.28-29; RINGLE;
BEY III, 2009).
O auge de Chichén Itzá se encerra no Período Pós-Clássico Inicial quando há uma
grande redução ocupacional e cessão da atividade construtiva com evidências de reuso de
antigos edifícios e um abandono de sua área central administrativa, religiosa. A maior parte de
sua população teria migrado para assentamentos periféricos e o sítio teria passado a funcionar
como um centro cerimonial para peregrinos (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.61).
2.4. A geografia do sítio
O sitio está localizado na parte oriental da Planície de Iucatã, no município de Tinum,
com acesso pelo quilômetro 120 da estrada federal que liga Mérida a Puerto Juárez (LEÓN;
GÓNGORA, 1994, p.6). Está assentado sobre uma planície cárstica que abarca grande parte do
centro-norte das terras baixas de Iucatã (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.33). A península
possui uma formação rochosa originada há cerca de 30 milhões de anos, emergida durante o
Mioceno e o Plioceno com um solo constituído por rochas calcárias e poucas fontes de águas
na superfície (RUÍZ, 1996, pp.3-4; ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.18). Está localizada numa
área de clima Tropical Quente Úmido, com dois períodos definidos, úmido durante o verão e
outono, e seco no inverno e primavera. Numa área de solos ricos em magnésio, cálcio e matéria
orgânica, com uma vegetação de altura média, além de uma rica fauna com grande variedade
de animais para a caça.
Nesta região faz-se presente uma grande quantidade de fluxos de água subterrâneos,
conectados à superfície por meio de cavernas e cenotes, grandes poços de água natural
(GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.33). Chichén Itzá foi construída no entorno de cinco
cenotes; o Cenote Sagrado ou de Sacrifícios, o Xtoloc, Kanjuyum, Ikil e Holtún. Recentemente,
em agosto de 2015 foi divulgada a existência de um outro corpo de água embaixo da Pirâmide
de Kukulcan (El Castillo) no centro da parte norte do sítio (WONG, 2015).
2.5. O assentamento
Chichén Itzá possui uma área de 40 Km² é conectado por uma extensa rede de caminhos,
sacbeoob, 75 no total, que eram uma espécie de estradas que moldavam o ambiente físico e
serviam para o transporte e locomoção entre diferentes partes da cidade, (NAVARRO, 2013,
61
p.47; GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.61) além de possuir cerca de 20 conjuntos
arquitetônicos (GUÍA VISUAL CHICHÉN ITZÁ, 2008) (ver anexo 6).
A maior parte de suas estruturas monumentais localiza-se em três grandes praças: a
ampla praça que abarca o Complexo das Monjas, Caracol, Templo dos Tableros, Akab Dzib e
a Casa Colorada. Outro agrupamento que engloba o Grupo do Osario e sua plataforma murada,
com os edifícios do Osario, a Casa dos Metates, a Casa das Columnas-Atlantes, e uma série de
plataformas complexas que comunicam a praça com uma sacbé (conjunto de calçadas,
conhecidas como sacbeoob, ou caminhos brancos em maia iucateco), que uniam as diferentes
partes da cidade leva ao Templo e ao Cenote Xtoloc (GUÍA VISUAL CHICHÉN ITZÁ, 2008,
p.5) E na parte norte do sitio está localizada a plataforma norte, ou Grande Nivelação, rodeada
por uma muralha, que abarca o Grupo das Mil Columnas, a Praça do Castillo e se liga ao Cenote
Sagrado por outra sacbé.
Essa parte do sítio divide-se em dois setores: a primeira é a Plaza do Castillo, onde estão
localizadas as estruturas conhecidas como a Pirâmide do Castillo (ou Kukulcan), o Templo dos
Jaguares (que se divide em Templo Superior dos Jaguares e Templo Inferior dos Jaguares), o
Tzompantli, a Plataforma das Águias e Jaguares, Plataforma de Vênus, Gran Juego de Pelota
(Grande quadra do jogo de bola), Templo Norte e Templo Sul. A segunda parte da Grande
Nivelação é composta pelo Grupo das Mil Columnas, do qual fazem parte o Mercado, o Templo
das Grandes Mesas, o Templo das Pequeñas Mesas, o Palácio das Columnas Esculpidas, Baño
de Vapor, a Columnata Oeste, Columnata Norte, Columnata Nordeste, Columnata Noroeste e
Columnata Sudeste, além do Templo dos Guerreros (ver anexo 7). Pesquisadores como o
arqueólogo mexicano Rafael Cobos (1999) têm apontado que esses três grupos distintos
possuem diferentes padrões e cronologias de assentamentos. As construções da área central
estavam protegidas por muralhas que funcionavam como espaços para a elite e restringiam o
acesso a determinados grupos sociais.
Apesar da grande quantidade de informações sobre o assentamento urbano de Chichén
Itzá, os estudiosos encontram diversos problemas ao determinar a extensão completa do sitio,
bem como detalhes de sua organização interna através do tempo (SCHMIDT, 2000, p.208).
Pesquisas realizadas nos últimos vinte anos mostraram uma grande expansão urbana da cidade,
que ia do atual povoado de Pisté até o norte, passando pelo cenote Poxil, alcançaria as grutas e
o sítio de Balamkanché no oriente e ao sul se estenderia mais além da plataforma do grupo dos
três dinteles (SCHMIDT, 2000, p.208). Essa extensão de Chichén Itzá teria se dado durante o
auge da cidade entre os séculos X e XI, quando se acredita que o seu território abarcaria entre
20 e 25 quilômetros quadrados. Um espaço que mesclaria grande complexos arquitetônicos
62
com construções mais simples. Nesse momento havia o uso de novos complexos arquitetônicos
formados por templos, altares e estruturas de pátio-galeria, elementos característicos da
paisagem da cidade (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.43).
A zona arqueológica se encontra sob custódia do INAH – Instituto Nacional de
Antropología e Historia, e depois da construção do parador turístico em 1987, foi criado o
Patronato de las Unidades de Servicios Culturales y Turísticos del Estado de Yucatan (REJÓN
PATRÓN, 2003, p.21). O sítio é aberto ao público o ano todo das 08:00 às 17:00 com um
espetáculo de luz e som das 19:00 às 20:00. A área de visita corresponde a 2 km² e compreende
o Cenote Sagrado, a Grande Nivelação, o Grupo do Osario, Casa Colorada, Caracol, Conjunto
das Monjas, e o edifício Akab Dzib. No final do ano de 2004 se deu a abertura comercial do
sitio para vendedores informais (SOLÍS, 2006, p.5).
2.6. Patrimônio mundial da UNESCO e Maravilha do Mundo Moderno
Aceito sob o nome de Pre-Hispanic City of Chichén Itzá, o sítio de Chichén Itzá teve
ratificada a sua aceitação como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO em julho
de 1988, sob os critérios I, II, III que se referem a: I – representar uma obra-prima do gênio
criador humano; II - mostrar um importante intercâmbio de valores humanos, durante um
período de tempo ou dentro de uma área cultural mundial, desenvolvimento da arquitetura ou
da tecnologia, das artes monumentais, urbanismo ou projeto paisagístico; III - dar um
testemunho único ou excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização viva ou
desaparecida (UNESCO World Heritage List). A inserção de Chichén Itzá nesta lista coincidiu
com a elevação da cidade balneária de Cancún à importante polo turístico mexicano durante o
início da década de 1980. Localizado a 188 quilômetros de Cancún, o sítio de Chichén Itzá
passou a fazer parte dessa nova dinâmica na indústria do turismo de massa da região, tornando-
se também um procurado destino desses visitantes. Segundo dados do INAH, no ano de 2015
o sítio recebeu mais de dois milhões de visitantes entre turistas mexicanos e estrangeiros.
Após ter se tornado um Patrimônio Mundial da Humanidade, uma das estruturas de
Chichén Itzá passou a ser considerada uma das “Sete Maravilhas do Mundo Moderno”. Em
eleição feita durante os anos de 2006 e 2007 por uma associação criada pelo cineasta, curador
de museu e explorador suíço Bernard Weber, a Pirâmide do Castillo (Kukulcan) foi eleita uma
das maravilhas modernas, o que aumentou ainda mais o interesse do turismo de massa pelo
sítio.
63
2.7. Uma história de muitos viajantes e estudos
Podemos classificar o histórico dos estudos em Chichén Itzá a partir de três etapas de
investigações; a primeira entre os séculos XVI e XVIII com as descrições e relatos dos cronistas
da Coroa espanhola, a segunda no século XIX com os relatos e explorações de viajantes e a
última já no século XX com as escavações e restaurações empreendidas por projetos das
grandes universidades e do governo mexicano (LEÓN; GÓNGORA, 1994, p.6).
A primeira fase de investigações e contato dos conquistadores espanhóis com o sitio
tem início em 1528 com Francisco de Montejo, o primeiro europeu a utilizar o local como um
assentamento para defender-se dos constantes ataques indígenas, durante sua luta para
conquistar a Península de Iucatã. Tempos depois, Chichén Itzá seria mencionada pela primeira
vez em escritos dos missionários espanhóis com o Frei Diego de Landa, que descreveu a
existência de edifícios antigos nesta localidade, além da elaboração de um mapa-croqui da
Pirâmide do Castillo, e referências à Plataforma de Vênus, Plataforma das Águias e Jaguares,
Cenote Sagrado e a calçada utilizada para chegar até ele (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009,
p.15; BERNAL, 1980, p.42). Após Landa outros freis espanhóis como Luis Villalpando e Diego
López de Cogolludo, e encomendeiros como Blas Gonzalez também mencionaram o sítio em
seus escritos (DE LA GARZA, 1983).
O século XIX assistiu à chegada de uma geração de viajantes e exploradores que
deixaram um importante legado com seus registros, desenhos e fotografias tiradas do sítio.
Dentre eles se destacam as explorações feitas por John Burke em 1838, o barão Emmanuel Von
Friederischtahl, em 1840, e Benjamin Norman, John L. Stephens e Frederick Catherwood em
1842. Na sequência chegaram Désiré Charnay nas décadas de 1850 e 1860, Augustus e Alice
Le Plongeon em 1875, Alfred Maudslay em 1889, Teobert Maler entre os anos de 1887 e 1894,
William Holmes em 1895, o bispo iucateco, Crescencio Carrillo y Ancona, nesta mesma época,
até chegar a Edward H. Thompson, e a pintora Adela Breton, ambos entre o final do século XIX
e o início do século XX. Esse momento marcou o final das explorações individuais e o início
dos grandes projetos arqueológicos no sítio (MIRANDA; ROMERO; SCHMIDT; SOLÍS,
2007, p.50; BARRERA RUBIO, 2015, pp.26, 27, 44, 45, 48, 49).
O primeiro desses grandes projetos foi empreendido pela Carnegie Institution of
Washington a partir de um contrato firmado junto ao governo mexicano que entre os anos de
1923 e 1937, permitiu que esta instituição realizasse uma grande ação de restauro e investigação
de algumas partes do sitio. Tal tarefa foi comandada pelo arqueólogo Sylvanus G. Morley e
posteriormente por Alfred V. Kidder (BARRERA RUBIO, 2015, p.55). Além de um
64
levantamento topográfico, este projeto explorou e restaurou o Templo dos Guerreros, a
Columnata Norte e Noroeste, o Mercado, o Caracol, o Complexo das Monjas, o Templo dos
Tableros, e algumas partes do Grupo da Série Inicial e dos Três Dinteles, com a atuação de
arqueólogos estadunidenses como Earl Morris, Ann Axtell Morris e Karl Ruppert (NAVARRO,
2009, p.10).
Neste mesmo projeto fizeram parte, pelo lado do governo mexicano, por meio do
Instituto Nacional de Antropología e História (INAH), Eduardo Martínez Cantón, Manuel
Cirerol Sansores, José Erosa Peniche e Miguel Ángel Fernández que realizaram a restauração
e exploração da Pirâmide do Castillo (Kukulcan), do Gran Juego de Pelota, Tzompantli,
Plataforma de Vênus, e outros edifícios da Grande Nivelação (LEÓN; GÓNGORA, 1994,
pp.16-17). Este trabalho se desenvolveu entre os anos de 1930 e 1940. Já nos anos de 1950 foi
a vez de Jorge R. Acosta restaurar a Plataforma das Águias e Jaguares e o Templo dos
Guerreros, e do arqueólogo Alberto Ruz Lhuillier realizar trabalhos de consolidação em
edifícios menores. Dez anos mais tarde, Román Piña Chan fez investigações no Cenote Sagrado
do sítio, também com um projeto comandado pelo INAH.
Ao final da década de 1970, Peter J. Schmidt realizou um estudo para analisar as
diferentes etapas construtivas da praça do Castillo, além da restauração das fachadas oeste e sul
desta pirâmide. Na década seguinte os trabalhos de investigação aumentaram com as atuações
de Charles Lincoln, Don Patterson e Bruce Love. Nos anos de 1990 dois grandes projetos
arqueológicos comandados pelo INAH atuaram em Chichén Itzá. O primeiro ocorreu entre os
anos de 1990 e 1991 conduzido por Agustín Peña, com estudos na Columnata Oeste do
Conjunto das Mil Columnas, além de escavações estratigráficas na parte sul do sítio. Já entre
1993 e 1994 foi levado a cabo o Proyecto Arqueológico de Chichén Itzá encabeçado pelo
arqueólogo Peter J. Schmidt, que restaurou e explorou a Pirâmide do Osario, a Plataforma de
Vênus e as tumbas também pertencentes ao Grupo do Osario, a Columnata Noroeste do
Conjunto das Mil Columnas, a Pirâmide das Grandes Mesas, e a Sacbé I. Paralelamente deu-se
também a atuação de um projeto comandado por Rafael Cobos da Universidad Autónoma de
Yucatan (UADY) para o estudo de um conjunto habitacional do sítio (MIRANDA; ROMERO;
SCHMIDT; SOLÍS, 2007, p.56). Os anos 2000 também assistiram a atuação de diversos
pesquisadores investigando o sítio de Chichén Itzá e suas relações com outros sítios da
península. Rafael Cobos dirigiu o projeto arqueológico Chichén Itzá: estúdio de la comunidad
del Clásico Tardío com estudos na Grande Nivelação e também na Ilha de Cerritos, localizada
a cerca de 100 km de Chichén Itzá e considerada um importante porto utilizado por esta cidade.
65
2.8. A história de uma plataforma
A história da trajetória da Plataforma das Águias e Jaguares que será apresentada nessa
dissertação foi pensada a partir de uma abordagem proposta por William Walker e Lisa Lucero
(2000) na qual percebia-se a importância de uma análise conjunta de objetos deposicionados,
ou oferendados e seus locais de depósito. Para conseguir estabelecer elementos para tal análise
foi pensada a recuperação da história de vida do templo, ou da estrutura, com a recuperação da
sequência deposicional, ou histórias da atividade ritual do edifício, bem como de todos os
momentos de intervenções humanas sofridas por ele. Este tipo de análise seria algo fundamental
para recuperar e entender as atividades rituais realizadas em tal templo no passado (WALKER;
LUCERO, 2000). Segundo esses autores, as casas, templos e monumentos são complexos
artefatos que possuem histórias de vida compostas de diferentes estágios como manufatura, uso,
reuso, abandono e pós-abandono. Ao reconstruir a trajetória da história da plataforma
procuramos ao final, considerar todas as relações existentes entre as múltiplas variáveis numa
sequência de depósitos de objetos.
Ainda que com o uso da estratigrafia e a análise de objetos e elementos da estrutura em
situ seja algo fundamental para tal abordagem proposta, acreditamos que ela também possa ser
utilizada em estudos de objetos fora de seus contextos originais, como uma forma de se agrupar
e analisar todos os dados disponíveis para uma interpretação e tentativa de recuperação do
contexto de tais objetos. Como é o caso da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.
2.9. Dados e estudos sobre a Plataforma das Águias e Jaguares
A Plataforma que hoje é conhecida como Águias e Jaguares está localizada na parte
norte da Grande Nivelação possui uma orientação de 17º, assim como os demais edifícios
localizados nesta grande praça, e é datada como pertencente ao Período Clássico Terminal (800
a 1050 d.C.). É uma estrutura radial de planta quadrada composta por taludes2 e tableros3 com
painéis de figuras em baixos-relevos nos quatro lados, e decoração também na cornija,4 na parte
superior das fachadas. Em cada uma das quatro faces a plataforma apresenta escadarias com
dez degraus cada, decoradas com uma cabeça e corpo de serpente emplumada (NAVARRO,
2007) (ver anexo 8). A estrutura possui nove metros e quarenta centímetros de cada lado com
2 Rampa, inclinação de um terreno, ou parte presente de um templo que se constrói em seus muros de arrimo
(NAVARRO, 2012, p.95; GENDROP, 2009, p.194). 3 Plano elevado que tem como função ornamentar algumas partes de uma construção (NAVARRO, 2012, p.95;
GENDROP, 2009, p.191). 4 Molduras salientes que arrematam a parte superior de construções (NAVARRO, 2012, p.94; GENDROP, 2009,
p.63).
66
dois metros e setenta e cinco centímetros de altura (ver anexo 9). Está formada por um corpo
apenas de talude, sobre o qual aparece um tablero aberto, e sobre este outro em forma de tablero
fechado (ACOSTA, 1951, p.4) (ver anexo 10). A estrutura toda é feita de pedra calcária e está
localizada ao lado do Tzompantli, ou plataforma dos crâneos e próximo ao complexo do
Templo dos Jaguares e do Gran Juego de Pelota. Pela proximidade e aparência de motivos
semelhantes levantamos a hipótese de que essas estruturas poderiam ter funções conjuntas
dentro de eventos sociais comuns.
2.10. A plataforma no tempo
Os primeiros registros que mencionam a Plataforma das Águias e Jaguares aparecem
nos escritos do franciscano Frei Diego de Landa, bispo de Iucatã entre 1572 e 1579. Em seu
manuscrito, Relación de Cosas de las Yucatán, datado de aproximadamente 1566, Landa cita
duas estruturas com quadro escadarias que ficavam localizadas no “pátio” próximo à Pirâmide
do Castillo:
Tenía delante la escalera del norte, algo aparte, dos teatros de cantería, pequeños, de
cuatro escaleras, enlosados por arriba, en que dicen representaban las farsas y
comedias para solaz del pueblo. Va desde el patio, enfrente de estos teatros, una
hermosa y ancha calzada hasta un pozo (que está) como a dos tiros de piedra
(LANDA, 1986, pp.113-114).
Ao analisarmos essa descrição feita por Landa com o auxílio de um mapa atual da
Grande Nivelação de Chichén Itzá percebemos que as duas estruturas citadas pelo franciscano
com quatro escadarias em suas faces e que ficavam ao norte da Pirâmide do Castillo seriam as
duas plataformas da Grande Nivelação, a Plataforma de Vênus e a das Águias e Jaguares.
Segundo o religioso essas duas construções teriam como função principal a representação de
espetáculos teatrais.
Séculos mais tarde com a redescoberta dos sítios iucatecos pelos exploradores europeus
e estadunidenses, descrições sobre a plataforma voltam a aparecer. Nos escritos de John Lloyd
Stephens e Frederick Catherwood no século XIX não há exatamente descrições sobre a
construção, mas ela aparece em um mapa feito pela dupla de exploradores datado de março de
1841. Próximo ao que Stephens chamou de “Gymnasium”, que seria o Gran Juego de Pelota,
ele localizou uma estrutura que aparece com o nome de “Ruined Mound”, ou montículo em
ruína (STEPHENS, 2003). É essa construção que seria a Plataforma das Águias e Jaguares. Esta
nomenclatura demonstra a condição que o edifício estava naquele momento. Nas próprias
descrições de Augustus e Alice Le Plongeon de 1875 o casal chama este local de montículo já
67
que estava parcialmente destruído e coberto por terra e plantas. Os Le Plongeon foram os
primeiros a escavar e a descrever a estrutura com mais detalhes.
Já nos escritos do explorador austríaco Teobert Maler que percorreu Iucatã entre os anos
de 1887 a 1894 a plataforma aparece nomeada como Mausoleo 1 e é extensamente descrita. Ele
afirma que esse tipo de construção seria algo totalmente diferente do resto das construções do
sítio:
Un cuerpo rectangular, sólido, de unos tres a seis metros de elevación, formando
plataforma en la parte superior, sobre la cual está colocada la estatua colosal del héroe
o dios en cuestión, y escalenas en medio de cada lado, o a veces solo en uno o dos:
constituye la forma típica de una tumba real de Chichén (MALER, 1932, p.50).
Mais adiante em seu texto, Maler descreve com detalhes a plataforma e seus elementos
decorativos e arquitetônicos:
A la corta distancia de unos ciento cincuenta pasos al nordeste del “Templo de los
Tigres y Escudos”, tenemos el mausoleo Nº 1, dedicado a un personaje, cuyo nombre
debe relacionarse con “Tigre” (Balán) […] Parece que este monumento tenía escaleras
por los cuatro lados, principiando sus rampas con cabezas de culebra, bien esculpidas.
En cuanto a la decoración de las paredes del cuerpo sólido, casi cuadrangular, tiene
por base una escarpa de piedra aparejada; a esta sigue la parte vertical del muro con
bellísimos bajo relieves de tigres, alternándose con grandes águilas. Cada tigre y cada
águila lleva un gran huevo (¿o acaso corazón humano?) en su garra derecha, un
símbolo difícil de explicar. Encima del cuerpo principal del muro, se extiende un
hermoso friso con figuras humanas recostadas, y el todo está coronado por una hilera
de calaveras, de siniestro aspecto. No todos estos adornos se encuentran todavía en su
lugar, pero los que se cayeron se encuentran entre los escombros y así hemos podido
restablecer mentalmente la antigua disposición arquitectónica (MALER, 1932, pp. 50
e 51).
Em princípios do século XX a Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, com uma
equipe do Museu Peabody conduziu o maior projeto de escavação e pesquisa levado a cabo até
então no sítio de Chichén Itzá. Esse projeto foi encabeçado pelo arqueólogo estadunidense
Alfred M. Tozzer, que ficou uma longa temporada no sítio fazendo suas investigações. Lá ele
atuou em conjunto com o também arqueólogo e cônsul estadunidense em Iucatã e Campeche,
Edward H. Thompson. Com uma equipe de alguns trabalhadores, eles dragaram o Cenote
Sagrado do sítio, além de outros estudos como cópias de baixos-relevos sob a supervisão da
inglesa Adela Breton. Anos mais tarde, em 1957, após a morte de Tozzer, foi lançado o livro
Chichen Itzá and its Cenote of Sacrifice, A Comparative Study of Contemporaneous Maya and
Toltec, fruto de seu extenso trabalho no sítio. Nesta obra Tozzer procurou abarcar todos os
aspectos de Chichén Itzá, como sua história, cultos religiosos, artes, e contatos com outras
regiões. Neste trabalho o arqueólogo menciona a Plataforma das Águias e Jaguares, chamando-
a de “Mausolea I” ou “Tribunes of the Eagles”:
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By reason of the character of the design on these platforms, they seem clearly to
belong with the Temple of the Warriors, which is most closely concerned with the
Jaguar-Eagle cult. These are the Tribunes of the Eagles, of the Skulls or the
Tzompantli, and of the Cones (TOZZER, 1957, p.43).
Ao analisar a plataforma, Tozzer associa-a ao Templo dos Guerreiros a partir de sua
iconografia, ainda que espacialmente ela esteja mais próxima a outros edifícios como o Templo
dos Jaguares, por exemplo. Mais adiante em seu texto, Tozzer discute a função das plataformas.
Ele afirma que são construções associadas aos tempos mexicas, estariam relacionadas ao culto
às águias e jaguares, e serviriam como um altar ou local para sacrifício e oferendas, além de ter
uma função de um palco ou uma plataforma de dança. Na década de 1940 a arquiteta russa
Tatiana Proskouriakoff em seu livro An Album of Maya Architecture (1943) desenha e
reconstrói a Plataforma das Águias e Jaguares com base nos relatos do bispo Diego de Landa
de que seria um local para representações teatrais e performances. Proskouriakoff chama a
plataforma de Mausoléu Nº 1, Tumba do chacmool ou Plataforma das Águias:
The last name seems most apt, for its panels depict alternately Eagles and jaguars,
each holding what appear to be a human heart. Since Eagles and jaguars were symbols
of military orders in Yucatan, it seems not unlikely that the performances staged on
these platforms were in some way connected with the ignoble art of waging war,
which through Mexican influence was evidently gaining importance as a sphere of
activity (PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94).
Assim como Tozzer, Proskouriakoff em sua descrição associa o uso da estrutura a ordens
militares de jaguares e águias comuns no Centro do México, na cultura mexica.
Já o arqueólogo mexicano, estudioso de Chichén Itzá, Román Piña Chan em seu livro
Chichén Itzá. La Ciudad de los brujos del agua, publicado no ano de 1980, chama a plataforma
de “Templo de las Águilas y Tigres”. Após uma detalhada descrição da construção e de seus
detalhes decorativos e arquitetônicos, Piña Chan diz que seria provável que em cima da
estrutura se utilizassem peças de porta-estandartes em formatos de jaguar tais quais como foram
encontrados no Cenote Sagrado. Além disso, ele interpreta o personagem da cornija da
plataforma como sendo Kukulcan ou Vênus na forma do guerreiro recostado que estaria
relacionado a Tlalchitonatiuh, deidade mesoamericana associada ao pôr do sol, quando as
estrelas sobem ao céu (PIÑA CHAN, 2011, p.80).
Outro importante arqueólogo mexicano que trabalhou em Chichén Itzá no início do
século XX e que comenta sobre a plataforma em uma de suas obras é José Erosa Peniche. No
livro Guía para Visitar las Ruínas de Chichén Itzá, Erosa Peniche descreve a construção e seus
detalhes decorativos apresentando uma nova interpretação sobre a cena em que estão os
jaguares e as águias. Ao invés de pensar que esses animais estivessem devorando os corações
69
que estão em suas mãos, Erosa Peniche segue uma outra linha de investigação que supõe que
essas figuras estariam numa cena de oração ou conversa com os corações humanos.
Já Ignacio Marquina, importante arquiteto e arqueólogo mexicano, que foi diretor de
Monumentos Pré-hispânicos na década de 1940, em seu livro Arquitectura Prehispánica, de
1951, descreve a plataforma como sendo parte do complexo composto pelo Templo dos
Jaguares e o Tzompantli. Entretanto, para ele Le Plongeon teria encontrado a famosa peça do
chacmool na outra plataforma, a de Vênus (MARQUINA, 1951, p. 836). Mais adiante no livro,
Marquina fala sobre a própria plataforma, com uma descrição arquitetônica e decorativa, e ao
final afirma que este seria um dos monumentos de Chichén Itzá mais semelhante aos que são
encontrados em Tula, cidade localizada no Centro do México, devido às suas características
arquitetônicas e de estilo (MARQUINA, 1951, p. 888).
2.11. Intervenções arqueológicas
Após uma breve apresentação de uma historiografia sobre a Plataforma das Águias e
Jaguares é importante mostrarmos também as diversas intervenções sofridas por essa estrutura
ao longo do tempo. Intervenções com objetivos de restauro e conservação que foram
comandadas por órgãos do governo mexicano na primeira metade do século XX.
Como já foi discutido anteriormente, o que hoje é a plataforma ficou em ruínas durante
séculos coberta pela terra e pela vegetação local. Isso é retratado pelos exploradores do século
XIX como Augustus Le Plongeon, por exemplo. Este explorador foi também o primeiro a
escavar tal plataforma, e após este trabalho terminou por deixar as ruínas da forma como
estavam, com um grande amontoado de terra e resquícios das pedras que compunham a
estrutura. Em nossa investigação, foi possível constatar que esta é a única escavação pela qual
a plataforma passou até hoje. A primeira intervenção visando o restauro da estrutura foi
realizada no ano de 1931 pelo governo mexicano com uma equipe do INAH, sob o comando
do arqueólogo Eduardo Martínez Cantón, e com a participação de José Erosa Peniche, da
direção de Arqueologia do governo mexicano e Theodore Arthur Willard da Carnegie
Institution de Washington, Estados Unidos. No informe do INAH de nº 1089-16 de 19 de maio
de 1931, Martínez Cantón relata os primeiros trabalhos para retirada de escombros e início do
restauro da construção com a colocação das primeiras pedras identificadas. Os trabalhos se
concentraram na parte nordeste do templo, além de uma primeira tentativa de restauro dos lados
leste e ângulo sudeste (MARTÍNEZ CANTÓN, 1931, p.6). Em seu relatório o arqueólogo
também ressalta ter encontrado um anel dourado e dois botões de pedra nos escombros em
frente a esta estrutura. (ver anexo 11).
70
A segunda e definitiva intervenção na plataforma foi realizada entre os anos de 1951 e
1952 por uma equipe comandada pelo arqueólogo Jorge Ruffier Acosta, que terminou por
restaurá-la por completo. No informe nº 1129-15 Acosta relata os trabalhos feitos na estrutura
e afirma que ela estava bastante destruída naquele momento, com algumas das pedras
esculpidas dispostas ordenadamente no solo, deixadas pelos arqueólogos que haviam
trabalhado na plataforma nos anos de 1930. Além disso, foram encontrados in situ apenas o
talude inferior e alguns degraus. Os demais elementos, tableros, cornijas, alfardas e as grandes
cabeças de serpente estavam jogados no entorno da estrutura (ACOSTA, 1951, p.3). Acosta
ressalta que após ordenar o material deduziu que se tratava de uma construção semelhante à
Plataforma de Vênus, restaurada anteriormente. Ele observou que as placas de baixo-relevo das
fachadas obedeciam a uma ordem de um jaguar no meio de duas águias, e algumas dessas placas
já haviam sido colocadas nos trabalhos de 1931. Essas duas intervenções a da década de 1930
e a de vinte anos mais tarde foram as únicas realizadas na Plataforma das Águias e Jaguares até
então.
2.12. As plataformas no mundo mesoamericano
O tipo de construção conhecido como plataforma é um dos elementos básicos da
arquitetura mesoamericana. Usada especialmente em partes externas das grandes cidades
possuía algumas características próprias fazendo-se presente em diferentes áreas e sítios da
Mesoamérica ao longo do tempo. Esse sistema arquitetônico era algo muito utilizado para
diversas construções. Constitui-se de um espaço aberto com um nível mais elevado de um bloco
construtivo com a presença de degraus, que davam uma aparência piramidal a tais estruturas
(NAVARRO, 2013, p.43). Uma plataforma podia ser a base ou o corpo de qualquer estrutura
piramidal.
Segundo o Diccionario de Arquitectura Mesoamericana de Paul Gendrop (2009), uma
plataforma é uma superfície elevada, plana e lisa, que constitui a parte superior de um acumulo
de sedimentos, sobre o qual pode se erguer uma ou várias construções (GENDROP, 2009,
p.161). Ignacio Marquina (1951, p.15) também discute a função desse tipo de elemento
arquitetônico, além de mostrar como ele foi se modificando ao longo do tempo. Segundo
Marquina, os diversos tipos de plataformas piramidais, ou plataformas simples seriam o
resultado da combinação entre o seu núcleo e o revestimento. O tipo básico seria a plataforma
de paredes verticais e o talude, elementos típicos teotihuacanos, com variações dessa mesma
composição de estrutura ao longo do tempo e região.
71
Ainda discutindo a função e a presença de plataformas na Mesoamérica, Alfred Tozzer
dedica uma parte importante do seu livro Chichen Itzá and its Cenote of Sacrifice, A
Comparative Study of Contemporaneous Maya and Toltec (1957), para tratar desse assunto.
Tozzer diz que esse tipo de construção era algo comum no centro de praças ou na frente de
templos por toda a região mesoamericana. Segundo o arqueólogo, tal estrutura composta por
quatro lados poderia servir como um altar ou local de sacrifício e oferendas, e também como
um palco ou plataforma de dança (TOZZER, 1957, p.81).
Acredita-se que a ocorrência desse tipo de plataforma radial com quatro lados e quatro
escadarias seja datada do período Pré-Clássico Tardio na área maia. Tal forma foi fundamental
nos chamados Grupos E, em que três pequenas construções e um templo eram alinhados com
orientações ao leste, com o centro e as esquinas marcando posições de movimentos solares
como solstícios e equinócios (SCHELE; MATHEWS, 1999, p.180). As plataformas radiais
também estão presentes em diversos outros sítios e períodos do passado mesoamericano. A
cidade de Uaxactún, pertencente ao Período Pré-Clássico, foi um dos primeiros locais de
surgimento de estruturas desse tipo que se tem notícia na área maia (NAVARRO, 2007, p.63).
Na Península de Iucatã, no sítio de Uxmal, um dos mais importantes dessa região, que teve seu
auge de ocupação durante o Clássico Tardio há uma plataforma quadrangular localizada em
frente ao templo chamado, Palácio do Governador. É uma estrutura pequena, com cinco degraus
onde foi encontrada uma oferenda com contas de jade e pedra coral, um peitoral de jade e cinco
vasilhas de alabastro (TOZZER, 1957, p.81). Assim como em Chichén Itzá, tal plataforma
também está localizada num espaço reservado a elite governante da cidade. Em Mayapan,
importante cidade maia do período Pós-Clássico também localizada em Iucatã, nota-se a
ocorrência de algumas plataformas de formato quadrangular. Elas estão localizadas na área
cerimonial da cidade, próximas aos templos principais, como a Pirâmide de Kukulcan, e o
Observatório. São estruturas erguidas seguindo um padrão de localização em frente de templos
e em praças abertas (MILBRATH; PERAZA LOPE, 2003, p.9). Outro exemplo de plataforma
radial presente na área maia é a estrutura A-3 de Ceibal, sítio que teve o seu início de
povoamento durante o Período Pré-Clássico, e está localizado na região do Petén na Guatemala.
Essa construção é uma plataforma radial com quatro fachadas e quatro escadarias e em sua parte
superior há uma estrutura que criava um ambiente fechado (SCHELE; MATHEWS, 1999,
p.181). Já no Centro do México, em Teotihuacan, a grande metrópole mesoamericana,
localizada no Valle de Teotihuacan, que iniciou seu processo de povoamento por volta de 500
e 100 a.C. (MATOS MOCTEZUMA, 2009, p.30) temos a incidência de diversas estruturas com
formato de plataformas quadrangulares localizadas na frente de templos ou em praças
72
circundadas por importantes estruturas da elite do sítio. Encontramos tais plataformas na Plaza
de la Luna, com uma estrutura em frente à Pirâmide da Lua, junto ao Templo de Quetzalcoatl,
na Ciudadela, no complexo da Pirâmide do Sol, em contextos associados a templo e praças.
Ainda no Centro do México destaca-se também a ocorrência de plataformas no sítio de
Tula. Localizado no Estado de Hidalgo, e considerado a antiga capital tolteca o sítio teve seu
início de povoamento por volta do ano de 650 d.C. e apogeu nos séculos X e XII (COBEAN;
JIMÉNEZ GARCÍA; GUADALUPE MASTACHE, 2012, p.136). Essa cidade que guarda
grandes semelhanças arquitetônicas com Chichén Itzá apresenta uma plataforma quadrangular
muito parecida com a Plataforma das Águias e Jaguares. Conhecida como Plataforma do
Adoratório, ela possui oito metros e cinquenta centímetros de cada lado, dois metros de altura,
quatro escadarias com seis degraus cada, e seus lados são formados por taludes (MARQUINA,
1951, p.159). A estrutura está localizada na praça principal do sítio entre três importantes
construções, a Pirâmide C, o Palácio Quemado e o Tzompantli, próximo ao Jogo de Pelota
Número 2. O Adoratório está alinhado com a escadaria central da Pirâmide C e o centro do
Edifício K. Segundo Robert Cobean, Elizabeth Jiménez García e Alba Guadalupe Mastache
(2012, p.98) essa estrutura possivelmente teve escadarias e uma escultura de chacmool, já que
o arqueólogo Jorge Acosta encontrou uma escultura desse formato entre os escombros do
edifício. Aqui cabe uma observação de que foi o mesmo Acosta que também fez os restauros
finais da Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá, o que levou a muitos
questionamentos por parte de estudiosos sobre as interpretações utilizadas por esse arqueólogo
para levar a cabo os dois trabalhos. Em El Tajín, antiga capital totonoca, localizada no atual
Estado de Veracruz, no México, também encontramos uma plataforma quadrangular com as
configurações estudadas. Tajín foi um importante sítio localizado temporalmente no período
Clássico Tardio, com as primeiras construções que datam aproximadamente de 600 d.C.
(LADRÓN DE GUEVARA, 2010, p.23), tendo seu auge entre os anos de 750 e 950 d.C.. O
padrão arquitetônico dessa cidade consiste em edifícios de base quadrada ou retangular com
um ou vários corpos sobrepostos. No centro cerimonial da cidade há a presença de uma
plataforma quadrangular com dimensões próximas as da plataforma do Adoratório de Tula. No
sítio de Xochitécatl-Cacaxtla, localizado no Vale de Puebla-Tlaxcala, que conta com um início
de ocupação desde o período Pré-Clássico, existe uma estrutura quadrangular no centro
cerimonial da cidade. Chamado de Basamento de los Volcanes, esta construção de formato
retangular teve duas etapas construtivas realizadas no período Clássico Tardio por volta do ano
de 750 d.C. (SERRA PUCHE; LAZCANO ARCE, 2012, p.201). Essa estrutura se caracteriza
73
por ter as fachadas em estilo talude-tablero e está localizada no centro da grande praça de
Xochitécatl.
Além da cultura material, encontramos menções a estruturas com formato de
plataformas quadrangulares na pintura mural, como na cidade de Bonampak, localizada na
região do Rio Usumacinta em Chiapas. Nos murais do quarto 3 da estrutura 1 do sítio há uma
cena de uma cerimônia de elite, com músicos e personagens ataviados sobre uma grande
estrutura que se assemelha a uma plataforma (ver anexo 24). As cenas dos murais parecem estar
retratando essas estruturas também como locais de apresentação de cativos de guerra para
sacrifício, bem como para a apresentação de danças e espetáculos (INOMATA, 2006, p.199).
2.13. Uma plataforma, diversos nomes
Durante as nossas pesquisas nos deparamos com uma grande quantidade de informação
dispersa sobre a Plataforma das Águias e Jaguares. Diversos estudiosos que se debruçaram a
analisar essa construção acabaram por nomeá-la de diferentes formas, o que levou a um
entendimento problemático e a uma referência confusa do edifício em diversas publicações.
Para organizar essas informações dispersas pensamos na elaboração de uma tabela com os
diferentes nomes que a plataforma ganhou ao longo dos anos. Abaixo apresentamos essa tabela,
com o nome do estudioso, a nomeação dada ao edifício e a referência bibliográfica onde se
encontra essa informação. Pensamos que dessa forma futuros estudos sobre a Plataforma das
Águias e Jaguares possam partir de dados mais claros sobre a construção. Optamos por deixar
os nomes dados à plataforma na língua original, tal qual encontrados nas fontes pesquisadas.
74
Autor Nome dado à plataforma Referência Bibliográfica
Frei Diego De Landa Teatro de cantería LANDA, [1566] 1986
John Lloyd Stephens
e Frederick
Catherwood
Ruined Mound STEPHENS, [1843] 2003
Augustus Le
Plongeon e Alice
Dixon Le Plongeon
Prince Coh Mausoleum / Tiger
Mausoleum
LE PLONGEON, [1896] 1900;
DESMOND, 2009
Alfred Percival
Maudslay
Small mound / Mound 13 MAUDSLAY, 1889-1902
Ignacio Marquina Casa de las Águilas MARQUINA, 1928
Teobert Maler Mausoleum 1 MALER, 1932
Tatiana
Proskouriakoff
Mausoleum Nº 1 / Tomb of
chacmool / Eagles Plataform
PROSKOURIAKOFF, [1943]
2002
José Erosa Peniche El templo de las Águilas EROSA PENICHE, 1946
Karl Ruppert Plataform of Eagles RUPPERT, 1952
Alfred M. Tozzer Mausolea I / Tribunes of the Eagles TOZZER, 1957
Román Piña Chan Templo de las Águilas y Tigres PIÑA CHAN, [1980] 2011
Tabela 2 – Os diversos nomes dados por estudiosos à Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá.
75
Nosotros nacimos de la noche. En ella vivimos.
Moriremos en ella. Pero la luz será mañana para los
más, para todos aquellos que hoy lloran la noche, para
quienes se niega el día, para quienes es regalo la muerte,
para quienes está prohibida la vida. Para todos la luz.
Para todos todo. Para nosotros el dolor y la angustia,
para nosotros la alegre rebeldía, para nosotros el futuro
negado, para nosotros la dignidad insurrecta. Para
nosotros nada.
EZLN – Ejército Zapatista de Liberación Nacional
Capítulo 3: As trajetórias das peças da oferenda. Usos e reusos
Como parte fundamental da investigação levada a cabo nessa dissertação, pretendemos
agora traçar o itinerário e as relações empreendidas pelas peças da oferenda da Plataforma das
Águias e Jaguares a partir do momento de seu desterramento feito pelo casal Le Plongeon no
final do século XIX até os dias atuais. Iremos traçar de uma maneira geral os caminhos e as
implicações sofridas pelas peças durante essas trajetórias. Para isso, faremos uso do referencial
teórico construído por Rosemary Joyce e Susan Gillespie em Things in Motion. Objects
Itineraries in Anthropological Practice (2015) e também aspectos apresentados por Arjun
Appadurai em seu livro, A Vida Social das Coisas: As Mercadorias sob uma Perspectiva
Cultural, (2008). Ambos já apresentados e discutidos no capítulo de considerações teóricas.
Para esse trabalho da recuperação do histórico das peças pensamos em estruturar tal
análise a partir de uma divisão das peças em conjuntos. Agrupamentos que se formaram e se
originaram após o descobrimento das peças pelo casal Le Plongeon. Algumas das peças
acabaram viajando unidas para diferentes destinos, fruto de uma intenção do casal de
exploradores para definir onde tais peças seriam abrigadas, ou ainda resultado de situações não
planejadas e geradas por circunstâncias diferentes. Dessa forma, fizemos uma divisão de cinco
grupos principais. A ordem de análise das peças e dos grupos, foi pensada seguindo a ordem do
desterramento das peças no momento de sua descoberta, tal qual relatada por Alice Dixon Le
Plongeon em seu diário de campo, hoje nos arquivos da coleção especial do Instituto Getty de
Los Angeles, Estados Unidos, e publicado em 2009 por Lawrence Desmond, com o título
Yucatan through her Eyes. Alice Dixon Le Plongeon, Wrtiter & Expeditionary Photographer.
Tivemos acesso a esse material durante nossa estada no Instituto Getty em agosto de 2016.
O primeiro grupo é composto pela escultura de pedra calcária em formato de um jaguar
reclinado, o segundo compreende as lápides e elementos que formam a decoração das fachadas
da plataforma. O terceiro conjunto engloba a escultura de pedra calcária com o formato de um
76
personagem reclinado conhecido como chacmool. O quarto grupo é composto por peças que
nomeamos como dispersas, que foram registradas pelo casal no momento da descoberta, mas
que depois tiveram suas trajetórias ocultadas e possuem um destino desconhecido. E o último
grupo é composto por objetos móveis, como líticos, pequenas contas de pedras e conchas. Este
foi subdividido em dois conjuntos; as peças que foram doadas ao Museu Americano de História
Natural de Nova York, e as que acabaram sendo destinadas ao Museu Peabody de Harvard em
Boston (ver anexo 12).
Acreditamos que tal divisão se configura num método de análise mais útil, que irá levar
em conta um novo itinerário das peças a partir de sua descoberta. Esse momento da intervenção
do casal Le Plongeon na plataforma e o consequente desterramento das peças foi considerado
como o marco de partida nas investigações desse capítulo. Como não dispomos de análises
físicas e tecnológicas mais completas sobre as peças, fica impossibilitada uma tentativa de
contextualizar os artefatos desde o momento de sua produção ainda no período pré-hispânico.
Ainda que tentemos sugerir algumas dessas origens, uma completa e mais específica análise
ficaria para um projeto posterior. Um detalhamento maior da materialidade dos artefatos, bem
como questões técnicas, descrições de suas iconografias estão disponíveis na parte do catálogo
que se encontra ao final dessa dissertação.
3.1. A oferenda volta à luz
Este precioso objeto de la antigüedad, cuyo origen se pierde en la noche de los
tiempos, es digno del estudio de los hombres pensadores. La Historia y la Arqueología
en sus graves y profundas investigaciones descubrirán tal vez algún día el arcano que
encierra, como todos esos preciosos monumentos que riegan la extensión de nuestro
rico suelo, prueba evidente de la antigua civilización de los Mayas, que absorbe la
atención del Viejo Mundo (PERIÓDICO OFICIAL, 02/03/1877, pp. 3 e 4).
A história que contaremos a seguir foi extraída dos escritos do casal Le Plongeon sobre
os trabalhos realizados no final do ano de 1875 no montículo dos escombros da Plataforma das
Águias e Jaguares. O relato foi baseado em duas fontes principais; os escritos de Augustus e o
diário de anotações de Alice feito durante as viagens do casal (ver anexo 35). Para isso
regressamos à Península de Iucatã, México, no final do século XIX. As descobertas realizadas
naquele domingo ensolarado de primeiro de novembro de 1875 em Chichén Itzá iriam mudar
para sempre a trajetória da vida do casal de exploradores, bem como o próprio manejo do
patrimônio histórico e arqueológico mexicano. Após pouco mais de dois meses trabalhando em
Chichén Itzá, o casal Le Plongeon tinha acabado de terminar os estudos e registros no Templo
dos Jaguares, localizado na Grande Nivelação, parte norte do sítio, quando se deram conta de
um pequeno montículo com um formato quadrangular e com algumas pedras aparentes
77
localizado ao lado do templo. Os detalhes das placas de pedra enterradas nesse local logo
chamaram a atenção dos exploradores por possuírem uma ornamentação com motivos
relacionados aos encontrados no Templo dos Jaguares. Nesse momento, Le Plongeon já havia
criado a sua narrativa que descrevia a história antiga de Chichén. A história da Rainha Móo e
do príncipe Coh, ou príncipe chacmool.
Ao observar o montículo com imagens que faziam alusão a esse personagem, Augustus
logo pensou que aquele pequeno monte de terra e escombros, seria o local onde o chacmool
estaria enterrado. Seria o seu mausoléu. Foi então que deram início os trabalhos de escavação.
A primeira peça encontrada foi a escultura de um jaguar reclinado sem cabeça feita de pedra
calcária, que estava a poucos metros da superfície. A descoberta animou o grupo de
exploradores que continuou os trabalhos. Na sequência foram achados em cada uma das
esquinas do montículo, placas de pedra-calcária com figuras de jaguares e águias em baixo-
relevo. Num total de oito placas. Ainda que atingidos pelo forte calor característico da
península, os trabalhos seguiam. Pedras e pequenos objetos cerâmicos eram encontrados,
alguns deles partidos e danificados, até que as escavações chegaram a um grande objeto feito
de pedra com formato circular. Era uma urna de pedra calcária onde estavam umas pequenas
contas de pedra verde, uma peça alongada feita desse mesmo material e muito pó. Ao cavar
mais um pouco ao redor da urna, os trabalhadores avistaram partes de uma peça de pedra
calcária de grande dimensão.
Então foi a vez de Le Plongeon ajudado com seus dez trabalhadores indígenas que o
acompanhava, encontrar a peça mais destacada de seus estudos e que acabou por ganhar uma
grande repercussão em toda a sua vida. Enterrada a oito metros de profundidade a estátua que
Augustus nomeou como chacmool logo chamou sua atenção e de todos os trabalhadores
presentes. Os trabalhos das escavações realizados no montículo duraram cerca de um mês.
Segundo relata Alice em seu diário (DESMOND, 2009, p.119), a retirada do chacmool e a
escavação do local foram tarefas muito difíceis e trabalhosas. Foi necessário um grande
empenho por parte dos trabalhadores, pois além da profundidade onde se encontrava a peça,
havia ainda muitas árvores a serem retiradas do montículo. Outro problema adicional ocorrido
durante os trabalhos foi a deserção de diversos soldados que estavam designados para fazer a
segurança do casal fruto do recrudescimento das tensões sociais que ocorriam em Iucatã
naquele momento com a Guerra de Castas. Fato este que atrasou muito os trabalhos.
Para facilitar a remoção das pedras do montículo, Augustus criou uma máquina feita de
madeira que possuía uma estaca apoiada no solo que sustentava em seu topo um outro pedaço
78
de madeira onde havia um cesto anexado em sua extremidade que servia para depositar as
pedras e materiais encontrados no montículo (DESMOND, 2009, p.123). Nos dias que se
seguiram, Alice teve problemas de saúde e com o colódio de sua máquina fotográfica, além
disso, foram dias muito chuvosos, que dificultaram os trabalhos de extração da escultura. Dez
dias depois dos inícios dos trabalhos no montículo, Alice relata que pela primeira vez pode ver
o chacmool, ainda parcialmente coberto pela terra:
Dr. descended & removed the covering which he had put over the head. Looking down
upon from the brink of the opening, it appeared to me one of the most beautiful heads
I had ever seen. I experienced an intense pleasure looking at it, knowing how long it
had been hidden. Dr. tried in vain to move it, it was firm was a rock. He remained a
short time below & cleared as much as he could, the loose earth away with his hands,
following the direction of the body, which direction the body, which he found in a
strange reclining, sitting posture. After seeing in which direction, the body was, he
found that he would have it enlarge the opening, for the statue was not in the center
and the knees yet under the mound (DESMOND, 2009, p.124).
Os dias se passavam e a ansiedade de retirar a peça aumentava cada vez mais. Alice e
Augustus queriam poder admirar a peça em sua totalidade, perceber cada detalhe. Todo
pequeno avanço no trabalho gerava uma expectativa ainda maior no casal. No dia 25 de
novembro, Alice relata que pela primeira vez pode observar detalhes da escultura. Ela descreve
que o personagem levava uma fita vermelha no entorno do pescoço, uma espécie de medalha
no peito, braceletes amarelos assim como as ligas e a fita que segura a sandália na cor vermelha.
A metade direita do corpo estava pintada da cor natural, um pálido marrom amarelado
(DESMOND, 2009, p.133).
Nos dias seguintes outros materiais foram retirados do montículo. Próximo a urna eles
acharam uma parte de uma faca de sílex, outra urna de pedra um pouco menor que a primeira,
e do lado direito da base da estátua do chacmool 31 pontas de lança finamente cortadas, sendo
28 brancas e 3 verde-escuros. Ao perceber a dificuldade que seria em remover a escultura do
chacmool do seu enterramento, Augustus decidiu construir uma carriola de madeira para poder
transportá-la. Nos dias 24 e 25 de novembro, finalmente os trabalhadores conseguiram remover
a estátua do montículo com ajuda das madeiras colocadas por Augustus. E assim, o chacmool
ganhava vida mais uma vez. Depois disso, o processo para movê-lo com a carriola de madeira,
também foi lento e gradual. Eles conseguiam avançar alguns metros por dia. Após mais alguns
dias a peça foi transportada para a cidade vizinha de Pisté, a apenas dois quilômetros do sítio
de Chichén Itzá, local onde o casal de exploradores tinha estabelecido um tipo de base de
operações na igreja da cidade (DESMOND; MESSENGER, 1988, pp.40-41). Augustus e os
trabalhadores conseguiram chegar com o chacmool em Pisté em 20 de dezembro de 1875, onde
ele ficou escondido até o ano de 1877 quando a peça foi confiscada pelo governo iucateco.
79
Le Plongeon e Alice tinham chegado ao ápice de seus estudos arqueológicos. A peça
recém-retirada do solo era a glória. Eles acreditavam que estavam diante de uma das peças
arqueológicas de maior relevância para a história da Arqueologia mundial. Logo Augustus
batizou a peça de Chaac Mol, príncipe e irmão menor da rainha Móo. Levar a peça para Pisté
seria apenas uma etapa para o objetivo principal de Le Plongeon que era a de levá-la junto com
os outros artefatos a uma exposição que iria acontecer na cidade da Filadélfia nos Estados
Unidos.
Após retirar o chacmool do montículo, o casal Le Plongeon seguiu a realização de seus
estudos no local. Foram desenhadas e traçadas as paredes da estrutura, anotações sobre os
trabalhos empreendidos, medidas foram tomadas, e desenhos com hipotéticas reconstruções do
templo também foram feitos pelo casal. Além de diversas fotos tiradas durante todo esse
processo. Alice relata que o montículo teria sido escavado até enquanto foram achados pedras
e artefatos. Em seu diário ela diz que os trabalhos seguiram até ser atingida uma terra fresca de
coloração preta, sinal de que as evidencias culturais teriam acabado (DESMOND, 2009, p.136).
Essa camada da terra que marcou o fim das escavações teria sido, segundo Alice, a uma
profundidade de aproximadamente dez metros a partir do topo do montículo. Ela afirma que
nada ficou para ser descoberto, já que eles teriam descoberto tudo o que estava enterrado lá. Ao
final, o casal decidiu deixar as pedras caídas nos quatro lados do montículo.
Essa introdução nos apresenta a descoberta da oferenda da Plataforma das Águias e
Jaguares de Chichén Itzá que será analisada e descrita agora de maneira mais detalhada, com
uma tentativa de reconstruir os itinerários que as peças desse conjunto fizeram a partir desse
marco.
3.2. Um jaguar esquecido
O ponto de partida dessa investigação sobre os itinerários das peças consistiu num
grande mapeamento de publicações recentes e antigas acerca de estudos em Chichén Itzá que
pudessem conter informações sobre os objetos. Foram consultadas fontes de pesquisadores
atuais e que atuaram ao longo do século XX, além de exploradores e arqueólogos amadores, e
notícias de jornais da época dos trabalhos do casal na plataforma. A primeira peça desenterrada
pelos Le Plongeon em seu empreendimento foi a escultura de pedra calcária com o formato de
um jaguar reclinado encontrada semienterrada, logo no topo do montículo (DESMOND;
MESSENGER, 1988, p.34-35; SALISBURY, 1877, pp.58-59) (ver ficha 1 do catálogo e anexo
35). Os trabalhos que tratam dessa escultura rareiam. Além de algumas pequenas referências,
encontramos apenas um artigo específico sobre o objeto. É a publicação de 1985 de Daniel
80
Schávelzon, El Jaguar de Chichén Itzá, un monumento olvidado (1985) que constitui uma breve
apresentação sobre a história da escultura e uma análise iconográfica inicial. Informações sobre
os itinerários da peça que estão presentes no texto, foram de grande importância para um
mapeamento inicial de nossa investigação. Nesse artigo Schávelzon, afirma que a peça teria
ficado nas cercanias de Chichén Itzá até meados da década de 1950, quando após o restauro da
Plataforma das Águias e Jaguares, ela acabou sendo levada para o Museu Palácio Cantón de
Mérida. Após isso, a peça teria ficado esquecida no deposito do museu até o ano de 1984,
quando o então diretor, Peter Schmidt localizou a escultura durante a catalogação das peças
presentes no museu. Além dessa obra, outros estudos importantes para o levantamento de dados
para a nossa pesquisa foram as publicações de Adam Sellen e Lynneth Lowe, Las Antiguas
Colecciones Arqueológicas de Yucatán en el Museo Americano de Historia Natural (2009),
Lawrence Gustave Desmond, The Chacmool and Queen Moo (1981), Yucatan through her
Eyes. Alice Dixon Le Plongeon, Wrtiter & Expeditionary Photographer (2009), e A Dream of
Maya. Augustus and Alice Le Plongeon in Nineteenth Century Yucatan (1988) trabalho em
conjunto com Phyllis Mauch Messenger. Essas publicações trazem relatos e um histórico dos
trabalhos do casal Le Plongeon em Chichén Itzá, com informações detalhadas sobre o que foi
realizado e o material recuperado pelo casal de investigadores. Já o arqueólogo estadunidense
Alfred Tozzer em seu livro, Chichén Itzá and its Cenote of Sacrifice, volume XI (1957) afirma
que o depósito descoberto pelo casal Le Plongeon foi a primeira oferenda encontrada em
Chichén Itzá. Ele cita de maneira geral e incompleta o material, e acaba por não mencionar a
existência da estátua do jaguar reclinado (TOZZER, 1957, p.85). Já Sellen e Lowe relatam a
presença da estátua do jaguar reclinado como sendo uma “estátua de un leopardo moribundo
con cabeza humana” que foi encontrada pelo casal na oferenda (SELLEN; LOWE, 2009, p.58).
Outro documento fundamental em nossas análises foi o diário de Alice Dixon Le Plongeon
redigido durante o período de viagens do casal pela Península de Iucatã. Esse documento
encontra-se nos arquivos do Instituto Getty de Los Angeles e foi publicado por Desmond no
ano de 2009 com o título de Yucatán through her eyes: Alice Dixon Le Plongeon: Writer and
Expeditionary Photographer. Nesse trabalho há a recuperação dos relatos da descoberta da peça
com descrições detalhadas sobre o contexto arqueológico encontrado pelo casal no momento
dos trabalhos. Foi a partir deles que tomamos conhecimento pela primeira vez da existência da
escultura. Dentre os relatos de estudiosos antigos sobre a figura do jaguar, menções à peça
aparecem também em uma foto tomada pelo explorador austríaco Teobert Maler, em finais do
século XIX quando a escultura ainda estava no sítio de Chichén Itzá. A foto foi publicada no
81
livro do alemão Eduard Seler, Die ruinen von Chichén Itzá in Yucatán em 1915 e pertence ao
acervo do Museu Iberoamericano de Berlim.
O jaguar reclinado também é mencionado na publicação de Alfred Percival Maudslay,
explorador inglês que visitou Chichén Itzá em 1889 e encontrou a escultura próxima ao
montículo escavado por Le Plongeon. Na parte de Arqueologia da enciclopédia, Biologia
Centrali-Americana, publicado em oito volumes de 1889 a 1902, Maudslay coloca uma foto da
peça, mas sem a cabeça com formato humano que fora colocada propositalmente por Le
Plongeon durante os trabalhos de escavação.
3.3. O histórico dos itinerários do jaguar reclinado
Desde o momento de sua descoberta foi anexada à peça uma cabeça de um personagem
humano que porta um tocado com formato de um felino (ver ficha 2 do catálogo). Essa cabeça
foi colocada em conjunto com a peça pela primeira vez por Le Plongeon e ainda que não pareça
ter pertencido à escultura, essa construção do estudioso fazia parte da elaboração de uma
narrativa para explicar a cultura maia. Este objeto também é feito de pedra calcária e parece ter
sido a cabeça de alguma escultura de tipo chacmool presente no sítio. Uma descrição mais
detalhada desses artefatos, assim como de todas as outras peças mencionadas nesse capítulo
podem ser encontradas na parte do catálogo dessa dissertação.
Por meio de estudos que discutem a cronologia do sítio e levando em conta a localização
espacial da escultura do jaguar reclinado no momento de sua descoberta, podemos aferir que a
escultura tenha sido manufaturada entre os anos de 1000 a 1100, momento em que a Grande
Nivelação, uma vez centro da cidade de Chichén Itzá, teria atingido o seu tamanho atual
(GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.60; BRASWELL; PENICHE MAY, 2012, p.250). Ainda
que a peça nunca tenha passado por testes para constatar uma datação mais precisa, acreditamos
que ela tenha sido elaborada por volta desse período pelos indícios contextuais. Um estudo mais
aprofundado que leve em conta as características físicas da peça, como o seu material preciso
de manufatura, além de uma datação relativa é uma das nossas intenções com os
prosseguimentos de nossas pesquisas durante um possível doutoramento.
Mesmo que ainda não haja muitos estudos sobre oficinas de manufatura de esculturas
de pedra na Península de Iucatã, as pedras calcárias utilizadas para a produção de esculturas e
construções teriam sido recolhidas localmente, através da ocorrência de sascaberas, locais de
extração de pedra calcária que são abundantes ao longo do sítio (COBOS, 2000, p.123). Esse
tipo de material faz parte da própria constituição geológica da península de Iucatã que está
assentada sobre uma planície cárstica que abarca grande parte do centro-norte das terras baixas
82
maias. A península possui uma formação rochosa originada há cerca de 30 milhões de anos
emergida durante os períodos Mioceno e Plioceno que é composta por um solo de rochas
calcárias e poucas fontes de águas na superfície, sendo comum a presença de fluxos aquáticos
subterrâneos (RUÍZ, 1996, pp.3-4; ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.18). Essa abundância de
material calcário na região nos leva a aferir que a escultura tenha sido produzida com material
local do próprio sítio.
O uso funcional e ritual da escultura teria se dado após a sua manufatura até o abandono
sistemático do sítio. As peças, assim como os outros objetos da oferenda da Plataforma das
Águias e Jaguares, teriam ficado enterrados por séculos até o ano de 1875 com as explorações
realizadas pelo casal Le Plongeon. Em seu diário, Alice Dixon Le Plongeon relata que no dia
01 de novembro de 1875, Augustus começou a explorar um montículo próximo ao Templo dos
Jaguares. Durante os trabalhos a estátua do jaguar teria sido um dos primeiros objetos
desenterrados:
Dr. Discovered a mound with sculptured slabs, and a statue of a dying tiger without
head half buried in the ground. [...] This mound is not far from the tiger monument.
We took it to be a mausoleum. [...] [...] The reclining tiger, with three holes in the
back, sculptured in the round; was a little way off from the mound, but we think it was
once at the top (LE PLONGEON, 1873-1876, p.147).
Mais adiante no relato Alice descreve detalhadamente as medidas da peça, além de
registrá-la por meio de fotografia. Menções à descoberta do artefato também aparecem numa
carta de 19 de fevereiro de 1878 enviada por Augustus Le Plongeon para o seu patrocinador,
Stephen Salisbury Jr., presidente da American Antiquarian Society. Na carta, Le Plongeon fala
sobre suas descobertas e problemas com o governo mexicano a respeito da tentativa de
importação dos objetos descobertos e descreve as peças encontradas durante as escavações na
Plataforma das Águias e Jaguares. O explorador cita a escultura do jaguar ao descrevê-la:
Besides the statue of Chaacmol, I have found (ilegível) in the same position but
smaller those Chaacmol, unfortunately, without head, the reclining tiger, with human
head. The photograph of which is in my collection, besides bas-reliefs (LE
PLONGEON, 19/02/1878).
Na sequência, a peça foi fotografada pelo casal Le Plongeon, com a cabeça humana
colocada sobre a escultura, e deixada no local de sua escavação (ver anexo 13). Alguns anos
mais tarde, na década de 1880, o explorador Teobert Maler em uma de suas visitas ao sitio
também fez um registro fotográfico da escultura.
Depois disso os relatos sobre o jaguar reclinado rareiam. Há ainda uma menção numa
carta de 1877, enviada por Juan Peón Contreras, então diretor do Museu Yucateco, que depois
passaria a se chamar Museu de Antropologia Palácio Cantón, à Agustín Del Rio, governador
do Estado de Iucatã na época, falando sobre as descobertas de Le Plongeon em Chichén Itzá.
83
Ele cita a descoberta do chacmool e junto a escultura com formato de um tigre reclinado,
também de pedra, sem cabeça, deixada a uma curta distância do sitio:
Aún se conserva à corta distancia del sitio donde fue exhumada la efigie (chacmool),
una estatua de piedra representando un tigre sobre una base cuadrilinga también, la
cual se presume cubrió el mausoleo antes de la destrucción (PEÓN CONTRERAS,
1877).
Alfred Tozzer também reafirma o contexto onde foi encontrada a escultura do jaguar
reclinado, fazendo uma citação à publicação de Salisbury de 1877:
This figure (o chacmool), now in the National Museum, México, was found inside the
platform of Mausoleum I, now called the Platform of the Eagles, under the figure of
a “red jaguar” (TOZZER, 1957, p.91).
Com base nesses documentos e em registros posteriores podemos constatar que durante
todo o período que vai de 1875, momento de sua descoberta, até a década de 1950, momento
final dos trabalhos de restauros na Plataforma das Águias e Jaguares, a peça teria ficado
abandonada em alguma parte do sítio. Com o final dos restauros, uma equipe do INAH, decide
levá-la ao Museu Palácio Cantón em Mérida, onde está até hoje guardada em seus depósitos.
Teobert Maler em seu texto Impresiones de viaje a Cobá y Chichén Itzá, publicado
posteriormente apenas em 1932, relata a presença da escultura do jaguar nas cercanias do
montículo onde ele foi descoberto:
A la corta distancia de unos ciento cincuenta pasos al nordeste del “Templo de los
tigres y Escudos”, tenemos el mausoleo n1, dedicado a un personaje, cuyo nombre
debe relacionarse con “Tigre” (Balán), porque la figura de un gran tigre-acaso con la
cabeza humana que separada del tronco hallamos cerca-yace hoy al pié del montículo
y debe haber antes coronado la plataforma (MALER, 1932, pp. 50 e 51).
Após mais de três décadas esquecida no depósito do Palácio Cantón e longe dos olhos
do público durante os trabalhos de catalogação da coleção do museu na década de 1980 pelo
então diretor Peter Schmidt, é que se voltou a ter qualquer registro da escultura. Esse aparente
abandono da peça contrasta com a atitude tomada por Le Plongeon logo após a sua descoberta.
Le Plongeon dispensou à peça um importante papel dentro da sua teoria sobre as origens da
cultura maia e de suas relações com os egípcios.
3.4. Um jaguar ressignificado – a história da esfinge mexicana
Seguindo as análises dos itinerários sofridos pela peça e as implicações e sentidos
materializados no objeto iremos apresentar agora como a escultura do jaguar reclinado foi
reinterpretada e usada para fins específicos a partir de uma ressignificação.
Logo após a descoberta da peça em 1875 Le Plongeon fez questão de registrá-la e lhe
conferiu grande importância. Para ele, a escultura comprovaria parte de sua teoria acerca da
origem dos maias, uma história que tinha como protagonistas a rainha Móo e o príncipe Coh.
Ao começar os trabalhos em Chichén Itzá o casal Le Plongeon fez estudos no Templo Superior
84
dos Jaguares, que também está localizado na Grande Nivelação a poucos metros da Plataforma
das Águias e Jaguares. No templo, Augustus e Alice realizaram estudos e fizeram moldes e
fotos dos baixos-relevos e resquícios de pintura mural. Ali é abundante a presença de figuras
de jaguares, bem como de guerreiros e personagens que teriam feito parte da história de Chichén
Itzá. Ao realizar esses estudos, Augustus chegou à conclusão de que havia uma narrativa de
eventos religiosos, guerras, e governantes presentes na decoração do Templo dos Jaguares.
Dentre as personagens representadas nas paredes do templo, Le Plongeon identificou o
que para ele seriam os governantes do sítio. O explorador nomeou as figuras como sendo a
rainha Móo e o seu irmão, o guerreiro Coh, também chamado de príncipe Chaac Mool, uma
referência ao jaguar que aparecia num escudo deste personagem no mural. Le Plongeon
acreditava que Chichén Itzá teria sido governada por uma antiga dinastia maia presente em
Iucatã que seria composta por esses dois irmãos que também eram amantes. O casal teria outros
três irmãos, Nic, Cay, e Aac, o caçula e assassino do príncipe Coh, que o teria matado por
ciúmes de sua relação com a rainha Móo. (DESMOND; MESSENGER, 1988, pp.30-32; LE
PLONGEON, 1900). Para legitimar essa história Le Plongeon buscou evidências na cultura
material encontrada no sítio. Daí nasce a sua principal motivação em escavar o montículo que
numa primeira análise ele pensou tratar-se do mausoléu desse governante da cidade. A
descoberta das peças do jaguar reclinado e mais tarde o próprio chacmool atestariam essa
narrativa criada anteriormente.
Nesse primeiro momento da escavação do montículo, a escultura do jaguar reclinado
ganha grande importância para Le Plongeon. Logo que ela foi recuperada, Augustus alterou o
seu significado anterior colocando uma cabeça de pedra calcária com formato humano, e que
claramente não pertencia originalmente à peça. Em seus relatos, o próprio Augustus afirma ter
encontrado a cabeça em outro lugar do sítio:
[…] A long Stone, half interred among others, attracted my attention. Scraping away
the earth from around it, with the machete and the hand, the effigy of a reclining tiger
soon appeared. But the head was wanting. This human form, I had the happiness to
find [, some meters distant, among a pile of other carved stone. […] The pile of stones
had been in times past the pedestal that supported the effigy of the dying tiger with a
human head, which the Toltecs had thrown down when they invaded Chichen, at the
beginning of the Christian era (SALISBURY, 1877, pp. 69-70).
Ao colocar a cabeça na estátua a intenção de Augustus foi a de criar uma narrativa que
acomodasse a sua história sobre os antigos governantes de Chichén Itzá, bem como reafirmasse
as relações entre a cultura maia antiga e os egípcios. Le Plongeon afirmava ter encontrado a
Esfinge Americana, composta por um corpo de felino e uma cabeça humana, fazendo
referências e comparações à grande esfinge egípcia de Gizé:
85
The mausoleum was crowned by a most interesting statue. It was that of a dying
leopard with a human head (Plate LXII.), a veritable sphinx; the prototype, may be,
of the mysterious Egyptian Sphinx, the most ancient monument in the valley of the
Nile. This Maya sphinx, like the leopard in the sculptures, had three deep holes in its
back—symbols of the three spear thrusts that caused Prince Coil's death. Thus, it has
come to the knowledge of succeeding generations that the brave Maya warrior, whom
foes could not vanquish in fair fight, was treacherously slain by a cowardly assassin—
this assassin his own brother Aac; just as Osiris in Egypt is said to have been murdered
by his brother Set, and for the same motive, jealousy (LE PLONGEON, 1900, p.158).
A narrativa foi complementada com uma comparação da própria história por trás da
peça egípcia, já que Augustus cria uma narrativa para a peça maia aos moldes e semelhante
àquela passada no Egito. Essa construção feita por Le Plongeon é vista tanto em fotos tiradas
no momento da descoberta, quanto em gravuras e desenhos, como uma reconstrução de como
seria o uso da escultura do jaguar e da Plataforma das Águias e Jaguares (ver anexo 15). Além
disso, Le Plongeon contou com um importante meio difusor de notícias daquela época; os
periódicos, para reafirmar e difundir a sua tese sobre a peça. Em nossa pesquisa de campo em
arquivos, localizamos algumas publicações que fazem referência à peça com um corpo de felino
e cabeça humana. O jornal El Siglo Diez y Nueve, da Cidade do México, datado de 22 de maio
de 1877, em sua página dois, apresenta uma notícia sobre os estudos e descobertas feitas por
Le Plongeon em Chichén Itzá e cita que dentre outros objetos foi descoberto “un tigre con
cabeza humana”:
La estatua estaba a ocho metros de profundidad debajo de otras ruinas y junto a ella,
en un lugar que se cree era el sepulcro del antiguo rey, se encontraron gran número de
bajo-relieves, jeroglíficos y signos misteriosos cuya explicación ocupará ahora largo
tiempo a los anticuarios. En el mismo número de la Ilustración citado antes, hemos
visto preciosos grabados que representan la estatua de Chaacmol, un tigre con cabeza
humana y dos bajo-relieves, encontrado todo en el mausoleo de aquel rey […] (SIGLO
DIEZ Y NUEVE, 22/05/1877, p.2).
A circulação dessa ideia da existência de uma peça com formato de felino e cabeça
humana continuou circulando para além daquele momento inicial da descoberta. Décadas mais
tarde, já no século XX outro periódico publica um extenso texto de Alice no qual ela fala sobre
as teorias de Augustus e cita a escultura uma vez mais. Esse texto publicado no jornal London
Magazine de 21 de abril de 1910 foi intitulado de The Mayas of Yucatan and The Egyptians,
numa tentativa de seguir defendendo as ideias criadas por Augustus sobre a origem da
civilização maia e seus contatos com os egípcios. Logo no início do texto Alice afirma que para
entender a civilização egípcia é necessário ir a outra parte do mundo, nas Américas para estudar
o início dessa cultura. A autora fala sobre os estudos de seu marido Augustus na cidade de
Chichén Itzá e cita a existência de duas tumbas, a do príncipe Coh e a do seu irmão Cay
(Plataforma das Águias e Jaguares e Plataforma de Vênus), ambas estudadas por ela e seu
marido. Além disso, ela afirma que elementos e inscrições presentes em partes dessa cidade,
86
como no Complexo de las Monjas, por exemplo, decifradas por Augustus atestariam as relações
entre a cultura maia e os egípcios.
Seguindo em sua apresentação sobre a teoria criada por seu marido, Alice mostra na
terceira página do texto um quadro comparativo entre as escritas maia e egípcia. Já na parte
final do artigo ela chega na história da princesa Móo e do príncipe Coh. Aqui, Alice cita a
semelhança dessa história com a de Isis e Osíris no Egito, ambas narrativas com o mesmo
enredo, paixão entre irmãos terminada com um final trágico. Para contar essa história Alice
descreve os estudos de Le Plongeon no Templo dos Jaguares, fazendo comparações com
construções importantes no Egito. Ao descrever as semelhanças entre as duas histórias, a autora
ressalta o fato de que Osíris foi representado na forma de um leopardo com seus sacerdotes
sempre usando roupas com esses motivos felinos. Da mesma forma, ela afirma que o príncipe
Coh também era chamado de Chaac-mol, que na língua maia iucateco seria leopardo (ver anexo
16). Já Móo, o nome da princesa de Chichén significaria arara. Alice cita que tanto Osíris quanto
Coh tinham dois irmãos, Isis e Niké e Móo e Niké. Na sequência, a autora analisa a localização
espacial dos templos dedicados a ambos os governantes, e afirma que a esfinge egípcia foi
encontrada entre os templos dedicados a Isis e Osíris, da mesma forma que no sítio maia,
também tinha sido encontrada uma esfinge entre os templos dedicados aos governantes da
cidade.
Alice cita o enredo da história entre os irmãos em Chichén Itzá, uma história semelhante
à ocorrida no Egito com a existência de rivalidades que levariam a um consequente assassinato.
Durante toda essa construção narrativa é interessante notarmos o uso de elementos da cultura
material encontrados e estudados pelo casal Le Plongeon durante suas investigações no sítio.
Na sequência do texto, Alice relata os achados nas escavações das duas plataformas Águias e
Jaguares e de Vênus, chamando a atenção para a presença da escultura do chacmool e segue
levantando evidências das similitudes entre as culturas maia e egípcia. Ao final ela termina o
texto reafirmando essa relação e a existência de uma origem comum entre esses dois povos,
mas que provavelmente os maias teriam sido anteriores e originado a civilização egípcia.
Mais do que o conteúdo da teoria apresentada por Alice, o interessante a ressaltar para
a nossa pesquisa é a utilização feita da figura do jaguar reclinado na própria construção da
narrativa que trata das relações entre as duas culturas citadas. Essas ideias aparecem também
detalhadas no livro de Augustus chamado Queen Móo and the Egyptian Sphinx. Publicado
originalmente em 1896 e com uma segunda edição em 1900, esse livro foi o resultado de suas
investigações em Chichén Itzá com uma apresentação de maneira mais detalhada de suas teorias
acerca das relações e origens dos maias e egípcios. Logo na apresentação e prefácio do livro,
87
Augustus cita a Plataforma das Águias e Jaguares e a escultura do jaguar reclinado, inserindo-
os dentro da sua narrativa sobre as origens dos maias:
Before leaving her mother-country in the "West she had caused to be erected, not only
a memorial hall to the memory of her brother-husband, but also a superb mausoleum
in which were placed his remains and a statue representing him. On the top of the
monument was his totem, a dying leopard with a human head—a veritable sphinx.
Once established in the land of her adoption, did she order the erection of another of
his totems—again a leopard with human head—to preserve his memory among her
followers? The names inscribed on the base of the Egyptian sphinx seem to suggest
this conjecture (LE PLONGEON, 1900, preface XIX).
Durante todo o livro, Le Plongeon vai construindo a narrativa da história da princesa
Móo e seu irmão o príncipe Coh fazendo uso dos materiais estudados e encontrados durante o
tempo que ficou em Chichén Itzá. Além disso, o autor levanta a questão sobre o significado da
esfinge egípcia, ao colocar que o seu sentido ainda era desconhecido. Mas segundo, Augustus
uma forma para poder tentar chegar a alguma interpretação sobre o monumento seria a partir
da realização de uma análise espacial e contextual do local onde ele foi erguido, uma proposta
metodológica incomum e de certa forma precursora para sua época. Ao realizar tal interpretação
Le Plongeon também expande a análise para o Mausoléu de Coh, a Plataforma das Águias e
Jaguares. Com isso, ele levanta a seguinte questão:
May not that lion or leopard with a human head be the totem of some famous
personage in the mother country, closely related to Queen Moo, highly venerated by
her and her people, whose memory she wished to perpetuate in the land of her
adoption and among coming generations? Was it the totem of Prince Coh? (LE
PLONGEON, 1900, p. 162).
Ao concluir sua narrativa, Augustus afirma que a princesa Móo teria erguido esse
mausoléu em homenagem e memória de seu irmão e amante o príncipe Coh, onde a estátua do
jaguar reclinado teve um importante papel:
There she (Queen Móo) had represented him (Prince Coh) as a dying leopard with a
human head, his back pierced with three spear wounds. In Egypt she figured him also
as a leopard with a human head; but erect and proud, a glorified soul watching over
the country that had insured her safety, giving her a new home; over the people she
loved, and who obeyed with reverence her smallest mandate, and after her death
deified and worshipped her, calling her the "good mother of the gods and of men," as
Maya was called by the Greeks, as Maya was by the Hindoos, and Mayaoel by the
Mexicans (LE PLONGEON, 1900, pp. 165 e 166).
Toda essa construção narrativa feita por Le Plongeon e sua esposa com a utilização da
escultura do jaguar reclinado demonstra que nesse momento da descoberta dos objetos da
oferenda, a peça teve um papel importante para o estudioso. A partir dessa ressignificação e de
um novo sentido dado à peça ela ganhou um novo papel durante essa etapa do seu itinerário.
Um papel que perpassou sua localização espacial e temporal, já que foi associada e relacionada
à escultura da esfinge erguida no Egito antigo. É interessante notar como esse momento de seu
itinerário imputou uma posição de protagonista à peça ao recriar relações em que ela estaria
88
envolvida. Um protagonismo que depois lhe foi tirado, em pró da escultura do chacmool,
considerada por Le Plongeon a grande descoberta da sua vida, como veremos na sequência. Já
a escultura do jaguar reclinado aos poucos foi perdendo o seu protagonismo, da mesma forma
em que as teorias de Le Plongeon passaram a ser rechaçadas e desacreditas ao longo do tempo.
Outra questão a ser ressaltada na análise do itinerário da escultura, é que a
ressignificação sofrida pela peça a acompanhou até os dias atuais, já que a cabeça humana
colocada de maneira arbitrária por Le Plongeon acabou por se tornar uma parte da peça ainda
hoje. Ambos os objetos passaram a ser um único conjunto. A não aceitação das ideias de Le
Plongeon que envolviam a peça parece refletir no próprio papel da escultura. Já que nos anos
seguintes de sua descoberta ela ficou abandonada numa parte do sítio de Chichén Itzá. Mesmo
após o final dos restauros da Plataforma das Águias e Jaguares levados a cabo pelo arqueólogo
Jorge Ruffier Acosta no início da década de 1950, a escultura não teve o valor reconhecido por
estudiosos e autoridades do sitio. Essa situação acabou por relegá-la a um papel secundário que
teve como destino o depósito do museu Palácio Cantón de Mérida junto com outras 9.000 peças.
Dessa forma, tal qual como ela é tratada por Schávelzon em seu artigo, nas últimas etapas de
seu itinerário, o jaguar acabou por se tornar uma peça esquecida. Acabou por tornar-se o “jaguar
olvidado”.
3.5. Águias e Jaguares em painéis
O próximo conjunto de peças a ser analisado é composto pelas placas de baixo-relevo
que constituíam a decoração das fachadas da plataforma, além das placas e esculturas em
formato de cabeça de serpente emplumada que decoravam as escadarias (ver fichas de 4 a 42
no catálogo). O monumento é dotado de um formato quadrangular com quatro fachadas
divididas em duas pelas escadarias que as cortam na metade. O que resulta que cada fachada
seja dividida em duas partes. As peças da fachada formam um total de 56 todas feitas de pedra
calcária, sendo que dois painéis com imagens de jaguar e algumas placas que formam o corpo
das serpentes emplumadas que decoram as alfardas do edifício estão faltantes. As peças são
divididas em seis tipos de figuras diferentes. São elas; duas placas na parte superior da fachada,
também conhecida como cornija, três na parte central, e duas placas e duas esculturas em cada
uma das escadarias da plataforma.
Esse conjunto de peças foi o primeiro a ser encontrado por Augustus e Alice, e possuem
uma importância central para as teorias criadas pelo casal sobre a história do príncipe chacmool
e a princesa Móo. Foi a partir da observação de uma das placas com a figura de um jaguar que
estava no montículo é que Augustus decidiu começar os trabalhos de escavação neste local (ver
89
anexo 22). Ainda que nos relatos do casal Le Plongeon apareçam apenas referência às placas
dos personagens reclinados, dos jaguares e das águias, iremos também analisar os outros
elementos decorativos da fachada que acreditamos que estivessem também enterrados no
montículo. A recuperação da história do itinerário dessas peças foi um pouco problemática, já
que não encontramos informações detalhadas das trajetórias de cada uma delas. As informações
mais detalhadas dão conta apenas de um dos conjuntos desses objetos, as placas de baixo-relevo
com figuras de águias e jaguares.
3.6. As peças
As peças que compõe o conjunto das placas de baixo-relevo das fachadas da Plataforma
das Águias e Jaguares é composto por quatro grupos com duas composições de placas separadas
pela escadaria de cada face. Cada grupo possui uma parte conhecida como cornija, que se
caracteriza por toda a área superior que circunda a fachada da estrutura, uma parte central, e as
escadarias e suas alfardas5 (ver catálogo fichas 8, 13, 17, 21, 26, 31, 36, 41).
A parte superior possui uma cena composta por dois personagens reclinados, o centro
das fachadas da plataforma é composto por uma cena com três elementos, seguindo uma ordem
de leitura da esquerda para a direita, o primeiro elemento localizado à esquerda é a figura de
uma águia, representada de perfil, segurando um coração em suas garras, à direita desta figura,
na posição central do painel, se encontra a imagem de um felino que se assemelha a um jaguar
sentado, também de perfil, com um corpo com traços humanos, levando um coração em suas
patas. E a última figura de cada painel, que se localiza na parte extrema direita, é uma vez mais
uma águia de perfil, com algumas diferenças da águia da primeira figura. Essa configuração de
cena se repete em cada uma das faces da fachada da plataforma. As características da
iconografia em cada painel nos levam a supor que provavelmente tenham sido resultado da
utilização de alguns moldes durante a sua manufatura, já que algumas das placas apresentam
decoração igual. De resto, apesar de manter alguns elementos comuns, existem pequenas
variações em seus elementos constitutivos.
O edifício possui quatro escadarias, uma em cada uma de suas faces. As escadarias
contam com dez degraus cada e são limitadas e acompanhadas por alfardas presentes na parte
alta de cada uma delas. No topo das alfardas das escadarias está presente uma cabeça de serpente
emplumada feita de pedra. Já nos taludes está o corpo da figura da serpente emplumada em
5 Elementos que flanqueiam uma escadaria, como vigas entrelaçadas na parede da construção (NAVARRO, 2013,
p.70; GENDROP, 2009, p.14).
90
baixo relevo. Essas peças somam um total de oito cabeças de serpentes que arrematam as
escadas da plataforma.
Todas as partes da decoração da fachada da plataforma foram feitas de pedra calcária,
oriundas provavelmente de fontes locais.
3.7. Os painéis viajam pelas fontes
Os registros na bibliografia consultada acerca dos painéis de pedra calcária são em sua
maioria referentes à sua iconografia e forma. Alguns estudiosos se debruçaram sobre as peças
em análises sobre a plataforma, mas de maneira superficial, com descrições básicas. A respeito
da trajetória das peças encontramos referências em documentos antigos, além de algumas
informações em relatórios de trabalhos de restauro e conservação desenvolvidos pelo governo
mexicano no edifício. O primeiro registro sobre as peças é oriundo do próprio relato de Alice
Dixon Le Plongeon das atividades desenvolvidas por ela e seu marido Augustus em Iucatã. Nos
relatos sobre os trabalhos no montículo, Alice afirma que Augustus teria descoberto “um
montículo com lajes esculpidas” com referência aos painéis de baixo-relevo:
[...] The slabs represented tigers, and macaws eating human heart. This mound is not
far from the tiger monument. We took it to be a mausoleum. (DESMOND, 2009,
p.117).
Na sequência do texto aparecem duas informações importantes para as nossas
investigações. A primeira diz respeito a como o local foi deixado após os trabalhos de
escavação. Alice diz que ao final dos trabalhos eles decidiram deixar as pedras “caídas nos
quatro lados do montículo”. Isso nos levou a interpretar que as placas também tenham sido
abandonadas no local naquele primeiro momento. Isso se reforça pelo relato feito em seguida
por Alice de que Le Plongeon tentou carregar as peças, pois planejava também levá-las à
exposição da Filadélfia nos Estados Unidos, mas não conseguiu e acabou desistindo da ideia:
Dr. wanted to take our small cart to Chichen to bring from there a tiger & eagle slab
which he wanted to send to Philadelphia with the statue. When he called his men
together three declared themselves very ill. He examined them, and found them well.
[…] The truck had been carefully repaired, & Dr. went with 6 men to Chichen, in
search of the slabs. Their strength was not sufficient to carry the stones, so Dr. was
obliged to abandon the idea (DESMOND, 2009, p.142).
Essa intenção de remoção das placas foi confirmada em um texto escrito por Salisbury
Jr. no ano de 1877 (p.63); “Dr. Le Plongeon had formed a design of sending the statue and
certain bas-reliefs, together with plans and photographs, to the Centennial Exhibition”. A
dificuldade em carregar as placas, além da negativa do governo mexicano de uma permissão
para tirar as peças do país acabou fazendo com que o explorador desistisse da ideia. Em duas
cartas a autoridades mexicanas e estadunidenses sobre a tentativa de levar as peças descobertas
para os Estados Unidos, Le Plongeon cita os painéis de baixo-relevo. Numa carta ao cônsul
91
estadunidense para ser apresentada ao governador iucateco General Protásio Guerra, Augustus
menciona as placas de baixo-relevo, ao afirmar que as peças descobertas por ele em Chichén
Itzá seriam de sua propriedade; “The statues of chacmool – two – and the bas-relief discovered
by my lady and by myself consequently belong to us” (LE PLONGEON, 21/02/1877, p.2). Em
outra carta enviada no dia oito de maio de 1877 a Vicente Biva Palacio, presidente da
Geographical and Statistical Society do México, o explorador também cita os painéis, que
teriam sido deixados junto com as outras peças da oferenda, prontas para o transporte imediato:
[…] to get the others relics which we had left ready for transportation, the bass-reliefs
of chacmool and his wife, who is by the effigy of an ara militaris (macaw) eating
human heart” (LE PLONGEON, 08/05/1877, p.4).
Com a informação presente no diário de Alice de que as peças foram deixadas no local,
além de registros em fotografias tomadas por ela no momento da descoberta e outras feitas por
Maler, quase dez anos depois, mostram que as lápides com figuras de jaguares, águias e os
personagens reclinados ainda estavam no mesmo local próximo ao montículo escavado após
alguns anos (ver anexos 17, 18, 19).
Outra descrição antiga dos painéis também aparece em texto de Stephen Salisbury Jr.
do ano de 1877 sobre as descobertas de Le Plongeon na Península de Iucatã. Salisbury relata
com minucia os objetos encontrados pelo explorador nas escavações do montículo:
One of this pictures shows the sculptured slabs which may have decorated the mound
where the excavation was made, and which again appear on the side of the opening
through which the statue is seen emerging. The slabs are elaborately wrought, and
represent, the one a tiger holding something in his paw, and the other a bird of prey,
with talons similarly employed (SALISBURY, 1877, p.59).
Um registro semelhante apareceu também no jornal panamenho, Daily Star and Herald,
em sua edição de 10 de fevereiro de 1882. A nota do jornal que tratou das descobertas
empreendidas pelo casal Le Plongeon em Chichén Itzá, citou com detalhes as placas de baixo-
relevo com as figuras dos personagens reclinados, além de relacionar esses personagens com
figuras egípcias:
Here he also discovered a slab on which was represented in bas relief a dying warrior
reclining on his back and having the left arm placed across his chest, with the hand
resting on the right shoulder in exactly the same attitude which the Egyptians gave to
the mummies of some of their eminent men (DAILY STAR AND HERALD,
10/02/1882).
Já entre as fontes mais recentes onde há referências sobre esse conjunto de peças,
destacamos o livro A Dream of Maya. Augustus and Alice Le Plongeon in Nineteenth-Century
Yucatán (1988) de Lawrence Desmond e Phyllis Messenger, em que os autores recuperam a
importância que os painéis tiveram no momento de suas descobertas para o prosseguimento das
explorações do casal que levou à descoberta dos objetos enterrados no montículo:
92
After studying the scenes in the murals, Augustus concluded that they showed the
history of a single generation of Maya rulers at Chichen Itzá. He took animal
representations to be their totems or spirits. An eagle, which he identified as a macaw,
became the symbol for a Maya princess, one of the central characters. She became
Queen Móo, after the Maya word for macaw. Her brother was named powerful
warrior, or Prince Chaacmol, a reference to the jaguar whose spots appeared on a
shield in the mural and in bas-reliefs on the side of the temple (DESMOND;
MESSENGER, 1988, p.30).
Nos escritos do explorador austríaco Teobert Maler que percorreu Iucatã entre os anos
de 1887 a 1894, as placas de baixo-relevo são mencionadas quando o autor descreve os
monumentos do sítio de Chichén Itzá e cita a Plataforma das Águias e Jaguares, nomeada por
ele como Mausoleo 1, com detalhes de seus elementos decorativos e arquitetônicos:
A la corta distancia de unos ciento cincuenta pasos al nordeste del “Templo de los
Tigres y Escudos”, tenemos el mausoleo Nº 1, dedicado a un personaje, cuyo nombre
debe relacionarse con “Tigre” (Balán) […] Parece que este monumento tenía escaleras
por los cuatro lados, principiando sus rampas con cabezas de culebra, bien esculpidas.
En cuanto a la decoración de las paredes del cuerpo sólido, casi cuadrangular, tiene
por base una escarpa de piedra aparejada; a esta sigue la parte vertical del muro con
bellísimos bajo relieves de tigres, alternándose con grandes águilas. Cada tigre y cada
águila lleva un gran huevo (¿o acaso corazón humano?) en su garra derecha, un
símbolo difícil de explicar. Encima del cuerpo principal del muro, se extiende un
hermoso friso con figuras humanas recostadas, y el todo está coronado por una hilera
de calaveras, de siniestro aspecto. No todos estos adornos se encuentran todavía en su
lugar, pero los que se cayeron se encuentran entre los escombros y así hemos podido
restablecer mentalmente la antigua disposición arquitectónica (MALER, 1932, pp. 50
e 51).
No tomo sobre Chichén Itzá da enciclopédia Biologia Centrali-Americana (1889-1902),
Maudslay apresenta duas fotos sobre as placas com figuras dos jaguares e das águias (ver anexo
20). Outro estudioso que acabou por citar os elementos decorativos da plataforma foi Alfred
Tozzer. O arqueólogo fez um estudo detalhado de templos e monumentos e de seus elementos
decorativos. Em seu livro Chichén Itzá and its Cenote of Sacrifice. A comparative study of
contemporaneous Maya and Toltecs (1957) ele descreve a Plataforma das Águias e Jaguares,
com detalhes de sua decoração:
In bas-relief on each side of the four stairways of the Platform of the Eagles
(Mausoleum 1) are two groups of three figures: usually a jaguar in the center
consuming a human heart and, on either side, an eagle doing the same thing. As a
frieze above each of the eight groups are two figures of the good Tlalchitonatiuh, feet
to feet, as we have noted on the Temple of the Warriors (TOZZER, 1957, p.132).
Já os relatórios da primeira intervenção para restauro feita na Plataforma das Águias e
Jaguares pelo governo mexicano em 1931 falam sobre o destino de uma das placas de baixo-
relevo com a figura de um jaguar. O arqueólogo Martínez Cantón (1930, p.8) afirma que uma
das placas com a figura do jaguar foi levada ao Museu Arqueológico de Yucatán, antigo nome
do Museu Palácio Cantón, local onde o objeto se conservava até aquele momento. Além disso,
ele alertava José Reygadas Vértiz, diretor de monumentos pré-hispânicos do governo mexicano,
93
que seria importante desenvolver uma ação para trazer de volta ao sítio de Chichén Itzá a peça
que estava faltando:
Desde hace algún tiempo debidamente autorizado el Director del Museo
Arqueológico, hizo en Chichén Itzá una recolección de piedras, muy a pesar nuestro,
pertenecientes a “El Tzompantli” y “Las Aguilas” que a su entender eran irreponibles
y que ahora lamentamos profundamente al hacer las obras de reposición en “El
Tzompantli”. Esperamos la llegada de usted a esta región para proceder a recogerlas
y devolverlas a su sitio (MARTÍNEZ CANTÓN, 1930, p.8).
Nos relatórios da segunda e definitiva intervenção na Plataforma das Águias e Jaguares
finalizada por Jorge Acosta em 1952 há uma detalhada descrição dos motivos presentes nas
placas e um relato sobre os trabalhos feitos na estrutura:
Esta combinación escultórica de un jaguar entre dos águilas y con dos personajes en
la parte superior, se encontraba en cada lado de la escalera; razón por la que se repite
ocho veces en todo en monumento. Las cuatro escaleras de la estructura están
limitadas por alfardas que siguen la misma inclinación de los escalones. Cada una de
ellas está decorada con una serpiente emplumada en bajo relieve. La cola del reptil
está apoyada sobre el suelo y está por un haz de plumas (ACOSTA, 1951, p.4).
Na sequência do relatório, Acosta afirma que a estrutura estava bastante destruída antes
da intervenção e que inclusive, algumas das placas de baixo-relevo foram encontradas dispostas
ordenadamente no solo deixadas pelos arqueólogos que haviam trabalhado na plataforma nos
anos de 1930. Além disso, foram encontrados in situ apenas o talude inferior e alguns degraus.
Os demais elementos, tableros, cornijas, alfardas e as grandes cabeças de serpente estavam
jogados no entorno da estrutura (ACOSTA, 1951, p.3). Acosta ressalta ainda que os
arqueólogos notaram que das oito lápides com figuras de jaguares que completavam a fachada,
faltavam três. Uma foi levada ao Museu Palácio Cantón, outra para o Museu Nacional de
Antropologia da Cidade do México e a terceira até aquele momento não havia sido encontrada.
Já as oito cabeças de serpentes que arrematam as escadarias da plataforma foram todas
localizadas em diferentes partes do sítio e colocadas durante o restauro. Acosta afirma que
muitas das peças não estavam próximas ao monumento, já que algumas haviam sido levadas
para a antiga fazenda de Chichén Itzá pelo arqueólogo estadunidense Edward H. Thompson:
Después de una detallada revisión del material, se observó que faltaban algunas
lápidas para completar las fachadas. Por ejemplo, de las ocho representaciones de
jaguares que originalmente tuvo, faltaban tres. De estas, una fue traída del Museo de
Antropología de Mérida, otra encuentra en el Museo Nacional de Antropología de la
ciudad de México y la tercera hasta el momento no ha sido localizada. Es importante
hacer notar, que mucho de las piedras no estaban próximas al monumento, debido a
que fueron removidas y a que algunas de ellas habían sido llevadas a la antigua
Hacienda de Chichén Itzá por Eduardo Thompson. Estas fueron traídas
posteriormente, tanto por el Arqueólogo Erosa Peniche, como por el Arqueólogo
Alberto Ruz L., ya últimas fechas por nosotros (ACOSTA, 1951, pp.5 e 6).
Além desses relatórios de trabalhos levados a cabo na primeira metade do século XX
em Chichén Itzá que as peças são mencionadas, encontramos um estudo recente sobre a
iconografia dos painéis da Plataforma das Águias e Jaguares. Tal análise foi realizada entre os
94
anos de 2007 e 2008 pela arqueóloga mexicana Federica Sodi Miranda do INAH. Ela realizou
uma investigação iconográfica dos motivos dos painéis que decoram a fachada da plataforma,
com a elaboração de desenhos dos motivos das placas e um estudo sobre os resquícios das cores
nessas peças.
3.8. Os painéis em movimento – usos e ressignificações
Ao consultar esse material apresentado, foi possível recuperar os itinerários de algumas
das peças que compõe esse conjunto das placas de pedra calcaria em baixo-relevo que foi
encontrado pelo casal Le Plongeon na exploração do montículo. As referências encontradas no
material pesquisado mostram que as placas descobertas por Le Plongeon nos escombros foram
retiradas pelo explorador e colocadas nas cercanias do edifício. Mais tarde, após a retirada da
estátua do chacmool, Augustus também teria tentado levar algumas das lápides para o povoado
de Pisté, mas sem sucesso, acabou deixando-as ao redor da construção. Alguns anos depois, em
1886, Teobert Maler visitou Chichén Itzá e fotografou algumas peças desse conjunto. Na foto
é possível notar placas com a figura do jaguar, e com a figura do personagem reclinado. Pelo
contexto da foto, ela teria sido tirada no mesmo local onde Le Plongeon as desenterrou.
Após esse registro e os relatórios de arqueólogos mexicanos que trabalharam no restauro
da Plataforma das Águias e Jaguares houve um hiato de cerca de 45 anos sem notícias das peças.
Segundo Jorge Acosta, algumas das placas foram retiradas do local do montículo e levadas à
Fazenda de Chichén Itzá, então propriedade do arqueólogo e cônsul dos Estados Unidos em
Iucatã, Edward Thompson. Parte das peças teriam ficado ali até a conclusão dos trabalhos de
restauro da plataforma terminados em 1952 por Acosta. Entretanto, duas dos painéis com
figuras de jaguar teriam sido levadas a museus mexicanos, uma para o Museu Palácio Cantón
em Mérida, e outra para o Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México. Uma terceira
não se sabe o destino. Dessas, a que estava no Museu Palácio Cantón retornou para o sítio de
Chichén Itzá durante os trabalhos de restauro de Acosta, e as outras permanecem em seus
destinos já mencionados
No relato de Jorge Acosta após o restauro da plataforma também aparece menções à
outras peças da fachada. Ele relata que por fortuna foi possível localizar todas as oito esculturas
de cabeças de serpentes que decoram as alfardas das escadarias do templo. Dessas, seis estavam
próximas ao monumento, uma tinha sido levada para a antiga Fazenda de Chichén Itzá e a outra
se encontrava próxima à Plataforma de Vênus (ACOSTA, 1951, p.9). Além desse relato de
Acosta, algumas dessas peças com figuras de cabeças de serpentes esculpidas aparecem em
fotos tiradas por exploradores que passaram por Chichén Itzá no final do século XIX. A
95
primeira imagem aparece em foto tirada pelo casal Le Plongeon em 1875 logo após o
desterramento dos objetos do montículo. Na foto, Alice aparece sentada ao lado de uma das
placas com a figura de águia no momento da retirada da escultura do chacmool, que aparece
colocada sobre duas toras de madeira (ver anexo 14). Além disso, o casal Le Plongeon também
tirou outras fotos apenas das placas com as figuras de jaguares e águias (ver anexos 17, 18, 19).
Alguns anos mais tarde, na década de 1880, Teobert Maler registrou duas dessas peças em uma
foto tirada dos objetos escavados pelo casal. Na foto é possível verificar duas das cabeças nas
extremidades, além de um dos painéis dos personagens reclinados que aparece no centro, com
um trabalhador indígena ao fundo. Em outra fotografia feita por esse explorador podemos
perceber a presença de partes de uma das placas dos personagens reclinados, além da parte de
baixo do painel da águia. Já sobre as outras peças que compõe a fachada da plataforma não há
informações sobre deslocamentos e itinerários. Pelos relatos dos arqueólogos que fizeram o
restauro da plataforma, podemos aferir que tais objetos talvez nunca tenham saído do sítio. Aqui
destacamos o uso da fotografia como um documento visual cujo conteúdo revela informações
em contextos específicos, tal qual como mencionado por Boris Kossoy (2014, p.32).
Os itinerários dos objetos tratados aqui evidenciam dois momentos importantes na
construção de significados e interpretações sobre a história maia e da própria plataforma. Num
primeiro momento, a descoberta das lápides com figuras de jaguares e águias e de um
personagem reclinado ataviado com elementos de guerra levou Augustus Le Plongeon a optar
por escavar o montículo onde estavam esses objetos e a relacioná-lo à sua narrativa sobre a
história do príncipe Chaac Mol e da princesa Móo. Ao avistar tais peças, o explorador logo
supôs que o montículo teria ligação com as narrativas desses personagens que estavam nos
murais do Templo dos Jaguares. Esse uso dos elementos decorativos e da iconografia presentes
nas placas de pedra calcária foi de grande importância para Le Plongeon levar adiante suas
teorias.
Além disso, no livro Queen Móo and The Egyptian Sphinx, Augustus faz uma
interpretação das figuras de jaguares e águias segurando corações nas garras. A figura do jaguar
levando o coração à boca é interpretada especificamente por Le Plongeon como uma
representação do príncipe chacmool como jaguar, praticando um ato de canibalismo com
inimigos mortos em batalhas. Já a rainha Móo que seria a representação de uma arara, também
estaria representada nos painéis no ato de segurar um coração em suas garras (LE PLONGEON,
1900, p.88). Segundo o explorador, esses animais poderiam estar num ato de devorar ou lamber
um coração humano. Fato que seria comum em alguns povos durante a realização de batalhas:
96
Being portrayed in the act of licking the hearts of their enemies, whom they had
vanquished on the battle-field, certainly indicates that the Mayas, although ordinarily
not addicted to cannibalism, like many other nations of antiquity sometimes ate the
hearts of their conquered foes, in the belief that by so doing they would inherit their
valor. This same custom prevails even in our day among various peoples (LE
PLONGEON, 1900, p.157).
As cabeças de serpentes foram interpretadas por Le Plongeon como sendo figuras que
faziam menções aos governantes maias, chamados por ele de Cans. As peças encontradas na
oferenda fariam referência de que o templo onde estavam teria sido edificado pelos reis maias
(LE PLONGEON, 1900, p.158). Os painéis em baixo-relevo com a figura de um personagem
reclinado foram interpretados por Augustus como sendo o próprio príncipe Coh ataviado com
uma vestimenta de guerra e portando armas em suas mãos num momento de batalha (LE
PLONGEON, 1900, p.155). O explorador também relacionou essa imagem com a da escultura
do jaguar reclinado, que seria uma representação do príncipe Coh, com as marcas dos
ferimentos causadores de sua morte representadas pelos furos encontrados no dorso da peça.
Já no século XX com novos estudos na área maia e a apresentação de novas
interpretações, a iconografia desses objetos serviu para diversos autores que trabalharam o sítio
de Chichén Itzá construírem interpretações acerca do uso e sentido da Plataforma das Águias e
Jaguares, que teve o seu nome associado à presença de tais peças. Na década de 1940 a arquiteta
russa Tatiana Proskouriakoff com a publicação An Album of Maya Architecture (1943) desenha
e reconstrói a Plataforma das Águias e Jaguares com base nos relatos do bispo Diego de Landa
de que seria um local para representações teatrais e performances. Além disso, Proskouriakoff
interpreta o templo de acordo com a iconografia presente nos painéis da fachada:
The last name seems most apt, for its panels depict alternately Eagles and jaguars,
each holding what appear to be a human heart. Since Eagles and jaguars were symbols
of military orders in Yucatan, it seems not unlikely that the performances staged on
these platforms were in some way connected with the ignoble art of waging war,
which through Mexican influence was evidently gaining importance as a sphere of
activity (PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94).
A estudiosa seguiu a interpretação levada a cabo alguns anos antes por Alfred Tozzer,
que via na iconografia da fachada da plataforma, águias e jaguares com corações humanos nas
patas sendo levados à boca num ato que indicava o consumo desse órgão vital por parte dos
dois animais (TOZZER, 1957, p.132). Já o arqueólogo mexicano, Román Piña Chan em seu
livro Chichén Itzá. La Ciudad de los brujos del agua, publicado no ano de 1980, também segue
a mesma interpretação e faz uma detalhada descrição da Plataforma das Águias e Jaguares com
seus elementos decorativos e arquitetônicos. Piña Chan interpreta o personagem do painel
superior da plataforma como sendo Kukulcan ou Vênus na forma do guerreiro recostado que
97
estaria relacionado a Tlalchitonatiuh, deidade mesoamericana associada ao pôr do sol, quando
as estrelas sobem ao céu (PIÑA CHAN, 2011, p.80).
Ignácio Marquina, importante arquiteto e arqueólogo mexicano, que foi diretor de
Monumentos Pré-hispânicos na década de 1940, no livro Arquitectura Prehispanica, de 1951,
também segue a teoria de que as figuras estariam devorando os corações humanos que seguram
em suas garras. Marquina descreve a plataforma como sendo parte do complexo composto pelo
Templo dos Jaguares e o Tzompantli. O arquiteto fala sobre a estrutura, com uma descrição
arquitetônica e decorativa. “En los tableros están esculpidas águilas y jaguares devorando
corazones, y en el tablero más alto figuras recostadas y serpientes” (MARQUINA, 1951,
p.888).
Outro importante arqueólogo mexicano que trabalhou em Chichén Itzá no início do
século XX e que interpreta o significado da plataforma é José Erosa Peniche. No livro Guía
para Visitar las Ruínas de Chichén Itzá, Erosa Peniche descreve a construção e seus detalhes
decorativos apresentando uma nova interpretação sobre a cena em que estão os jaguares e as
águias. Ao invés de pensar que esses animais estivessem devorando os corações que estão em
suas mãos, Erosa Peniche segue uma outra linha de investigação que supõe que essas figuras
estariam numa cena de oração ou conversa com os corações humanos:
[...] tanto los tigres como las águilas que presentan corazones en sus garras tienen la
lengua de fuera, lo que hace opinar a personas amantes de estos estudios que no están
en actitud de devorarlos sino más bien de oración o de plática con los corazones
humanos (EROSA PENICHE, 1946, p.26).
Já Jorge Acosta nas conclusões do seu relatório sobre os trabalhos na plataforma
interpreta esse monumento como sendo um edifício dedicado à divindade de Quetzalcoatl, ou
Kukulcan, a serpente emplumada, devido à aparição de diversas representações dessa divindade
na decoração das escadas da plataforma:
Al mismo tempo los otros bajorrelieves nos están indicando que estuvo dedicado a
Quetzalcoatl como dios creador, las águilas nos recuerdan al sol, los jaguares con sus
manchas a la noche y los personajes recostados y el Chac Mool a la lluvia. En otros
términos, todos estos elementos están representando la creación con la eterna lucha
entre la vida y la muerte respectivamente (ACOSTA, 1951, p.43).
Todas essas interpretações foram criadas a partir de estudos sobre esse conjunto de peças
composto pelas placas de pedra calcária em baixo-relevo e os elementos decorativos das
escadarias da plataforma. Tais objetos serviram como importantes fontes para a criação de
teorias sobre o papel do templo em diferentes etapas de sua história. Ainda que os itinerários
dessas peças tenham sido mais reduzidos no que diz respeito a deslocamentos físicos eles nos
mostram as peças como fontes para interpretações. Papel que também se alterou no tempo e no
espaço.
98
3.9. O Rei Tigre – a glória do casal Le Plongeon
A próxima peça a ser analisada é a escultura descoberta por Augustus e Alice que
ganhou maior destaque e ser tornou uma das peças de arte pré-colombiana mais famosas e
difundidas em todo o mundo. Trata-se da escultura de um personagem antropomorfo reclinado
com as pernas unidas e que leva um orifício em seu abdômen (ver ficha 3 do catálogo). Tal
escultura foi nomeada por Le Plongeon como chacmool. Nome que a acompanha até hoje e que
é usado para designar diversas outras estátuas com esse mesmo formato que foram descobertas
em outras partes da Mesoamérica ao longo dos anos. Veremos que das peças que fazem parte
da oferenda, esta é sem dúvida, a que ganhou maior destaque, com uma quantidade maior de
material publicado relacionado à existência do objeto. Além disso, esse artefato ganhou
contornos para além de sua existência como um objeto pertencente a cultura maia de Chichén
Itzá. Ele assumiu diferentes posições em momentos distintos de sua existência. Inspirou
movimentos culturais, foi alvo de disputas internacionais e nacionais no México e acabou por
fazer parte de movimentos artísticos contemporâneos. Em nossa apresentação procuramos
resgatar e ordenar cada um desses momentos para criarmos uma narrativa que englobe os
diferentes pontos dos seus itinerários em espacialidades e temporalidades variadas.
Assim como a peça do jaguar reclinado, a estátua do chacmool também é feita de pedra
calcária, provavelmente oriunda de alguma fonte local, com datação aproximada do século IX.
Essa peça também carece de um estudo com análises físicas e químicas detalhadas. A escultura
foi polida e pintada no acabamento pelo artista que a confeccionou, sendo que alguns pequenos
resquícios dessa tinta original ainda são possíveis de se observar numa análise mais atenta (ver
ficha 3 do catálogo). Ao compararmos este chacmool com outros encontrados em Chichén Itzá
percebemos haver certas diferenças estilísticas, como a própria posição do corpo do
personagem, e tamanho, levando a uma interpretação de que poderiam ter sido confeccionados
por diferentes escultores e sem um molde especifico.
3.10. Uma peça e muitas interpretações
De acordo com Lawrence G. Desmond no verbete escrito para a enciclopédia The
Oxford Encyclopedia of Mesoamerican Cultures. The Civilizations of Mexico and Central
America (vol.1, 2001), o chacmool é:
[…] a sculpture of a human seated on the ground, with the upper back raised, head
turned to a near right angle, legs, drawn up to the buttocks, elbows on the ground, and
hands holding a vessel, disk, or plate on the stomach where offerings may have been
placed or human sacrifices enacted (DESMOND, 2001, p.168).
99
Essas características descritas por Desmond são comuns às peças chamadas de
chacmool encontradas em diversas localidades da Mesoamérica. Ainda que hajam algumas
variações estilísticas e na iconografia das figuras suas formas básicas se mantém. A peça
descoberta por Le Plongeon foi a primeira de outras com o mesmo formato que seriam
encontradas anos mais tarde em diferentes partes da Mesoamérica. Por meio de uma revisão
bibliográfica verificamos a existência de alguns estudos e interpretações diversas sobre a função
e simbologia de tal escultura. Apesar de ser uma das imagens mais divulgadas e conhecidas da
arte mesoamericana até hoje, ela é também uma das figuras mais controversas. As pesquisas
que encontramos sobre esse tema são em sua maioria problemáticas, pois são poucas as figuras
de chacmool achadas em seu contexto arqueológico original, o que dificulta muito a sua
interpretação (LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001b). Até hoje foram encontradas cerca
de cinquenta e cinco esculturas interpretadas como chacmool em toda a Mesoamérica. Apesar
de apresentarem grandes variações, essas figuras possuem alguns traços comuns, que a
caracterizam, como sendo uma escultura tridimensional de uma figura deitada no chão, uma
base de pedra, reclinada, com os joelhos dobrados e seu corpo em um único eixo do pescoço
aos pés. Os cotovelos permanecem também no solo, criando uma espécie de tensão na figura.
As mãos se encontram em seu peito, segurando ou não, um disco, um prato, ou vaso (MILLER,
1985).
Ainda que apresentem essas características comuns, percebemos uma grande variação
regional e temporal quanto a sua forma. Elas podem diferir quanto ao lado em que está girada
a cabeça, a posição do abdômen em relação ao peito, o ponto de apoio sobre as extremidades,
o formato do corpo do personagem, assim como a base onde está colocado, a matéria prima,
tamanho, elementos iconográficos e diferenças estilísticas. Pelos levantamentos preliminares
foi possível perceber a existência de um consenso hoje entre os pesquisadores de que os
chacmool seriam parte do mobiliário ritual mesoamericano, uma espécie de mesa
multifuncional que poderia adquirir uma determinada função dentro de uma cultura específica
onde estavam inseridas, e ocupavam uma posição frontal de edifícios religiosos (LÓPEZ
AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001b).
Dentre os estudos realizados sobre a escultura chama a atenção um grupo composto por
alguns maianistas que relacionam o chacmool a origens maias do Período Clássico, com uma
tentativa de encontrar ligações e elementos na iconografia desse período que teriam de alguma
forma se relacionado com a figura da estátua (KUBLER, 1968; RUZ LHUILLIER, 1962;
MARTIN, 2002; MILLER, 1985). Esses autores enxergam no chacmool raízes presentes no
Período Clássico maia, em que a peça seria uma representação de um guerreiro capturado e
100
humilhado, preparando-se para o sacrifício. Além dessa teoria temos diversas outras discussões
sobre as esculturas, como origens geográficas (CHARNAY, 1984; BAGBY, 1950) e funções
utilitárias (ACOSTA, 1956; TOZZER, 1957; SCHMIDT, 1974). Dentro dessas temos um grupo
que coloca essas esculturas como mesa de oferendas (CORONA NUÑEZ, 1952; ACOSTA,
1956; WINNING, 1960), ou pedra de sacrifícios (CUÉLLAR, 1981; GRAULICH, 1984;
LÓPEZ LUJÁN; URCID, 2002). Esses últimos autores também ressaltam ainda uma possível
variação funcional e estética sofrida por esse tipo de escultura ao longo do tempo.
Quanto a questões simbólicas é comum entre as esculturas descobertas na área mexica
possuírem ornamentos com referências à divindade da chuva na Mesoamérica, Tlaloc.
Simbologia que também aparece nos ornamentos de orelha da peça escavada por Le Plongeon.
Segundo algumas interpretações como a de Fernando Getino Granados e Javier Silva (2003,
p.71), o chacmool seria um guerreiro sacrificado que leva elementos importantes como o
peitoral de mariposa, faca de pedernal no braço símbolos ígneos de sacrifício. Já John Carlson
(2013) considera o chacmool como sendo um guerreiro vitorioso de elite, associados ao jogo
de bola ritual, importante cerimônia relacionada ao início da vida. Esse autor vê em Teotihuacan
a origem desse tipo de escultura com a forma reclinada. Há ainda alguns autores que
interpretaram o chacmool como sendo uma representação do deus do vinho na Mesoamérica
(CUÉLLAR, 1981). Essa variedade de interpretações também está relacionada com a
diversidade da iconografia das peças encontradas por toda a região mesoamericana. Isso faz
com que entre os pesquisadores não haja um consenso acerca do significado simbólico da peça,
ainda que sobre sua função e uso já haja uma concordância maior.
Além do chacmool encontrado na Plataforma das Águias e Jaguares foram encontradas
até hoje em Chichén Itzá outras 16 esculturas desse tipo. A grande maioria se localiza na parte
norte da cidade, onde está a Grande Nivelação. Cinco delas foram achadas em posição
arquitetônica, posicionados nas entradas de vestíbulos ou antecâmaras, em posições centrais de
edifícios. Outros foram encontrados enterrados em estruturas monumentais ou próximos delas
(MILLER, 1985). Na Mesoamérica, as esculturas com formato de chacmool foram encontradas
espalhadas por sítios como México-Tenochtitlan, Tula, Cempoala, Coyotzingo, e locais como
Michoacan, Tlaxcala entre outros, totalizando cerca de cinquenta esculturas.
Até hoje foi possível constatar apenas uma provável referência a um chacmool em uma
fonte etnohistórica. Ele aparece na Crônica Mexicana, datada de 1598 e escrita por Fernando
Alvarado Tezozómoc, um nobre tenochca, historiador, parente de Moctezuma, um dos últimos
governantes mexicas. Neste documento há uma menção do uso da peça não entre os maias, mas
sim entre os mexicas em um trecho em que se descreve uma grande cerimônia para comemorar
101
a inauguração da ampliação do Templo Mayor de Tenochtitlan em 1487. Neste trecho Alvarado
Tezozómoc descreve que durante a cerimônia foi usado pelo próprio governante mexica
Ahuítzotl uma estátua de um personagem com a “cabeça torcida” para um ritual de sacrifício
de capturados de guerra que marcava essa cerimônia:
Y [en] saliendo [que] salió el sol, comiençan de [en]bixar a los que abían de morir con
albayalde (tiçatl) y enplumalles las cabezas y, hechos esto, los suben [en] los altos de
los templos y primero en el de Huizilopochtli [...] Y los quatro [que] an de acarrear a
los miserables condenados estauan [en]bixados de negro, ahumados, prietos,
[en]bixados de almagro pies y manos, paresçían a los mesmos demonios, [que] solo
la bista de ellos estauan a los que los mirauan. Estaua parado el Ahuitzotl, rrey, ençima
del tuchcatl, una piedra figurada una figura [que] [e]staua y tenía torcida la cabeça, y
[en] sus espaldas estaua parado el rrey y a los pies del rrey degollauan. Arrebatan los
tiznados como diablos de los coxedores a uno y [en]tre quatro de ellos tiéndenle
boquiarriba estirándolo todos quatro (ALVARADO TEZOZÓMOC, 2001, p. 307).
Leonardo López Luján e Javier Urcid interpretam a figura presente nesse trecho da
Crônica Mexicana como sendo um chacmool, pois seria a única peça do mobiliário escultórico
mexica que se encaixaria na descrição referida representada com o corpo torcido (LÓPEZ
LUJÁN; URCID, 2002). Essa descrição feita por Alvarado Tezozómoc se faz importante ao
mostrar o chacmool como uma peça de uso ritual e ligada a cerimônias de sacrifícios de cativos
de guerra na Mesoamérica. Com o seu provável uso relacionado a grandes cerimônias
empreendidas pelas elites governantes, além da presença da peça na parte frontal de edifícios
importantes para tais realizações.
3.11. Os itinerários e disputas do Rei Tigre de Le Plongeon
Após a retirada da peça do montículo no dia 20 de dezembro de 1875 ela foi levada ao
seu primeiro itinerário. O casal Le Plongeon decidiu carregar a escultura ao povoado de Pisté
com a ajuda de uma carriola de madeira e dos trabalhadores maias que os acompanhavam (ver
anexo 4). No vilarejo o chacmool foi escondido e deixado por mais de um ano em um arbusto
nas margens da estrada que liga até a cidade de Dzitás. Durante esse meio tempo outras ações
intelectuais sobre a escultura fizeram com que ela permanecesse em destaque. A primeira delas
foi a mudança na grafia do nome chacmool realizada por Stephen Salisbury Jr..
O patrocinador de Le Plongeon em suas empreitadas no México era quem recebia os
relatórios sobre os trabalhos do casal. Em um desses relatórios, Salisbury alterou a grafia do
nome da peça de Chaac Mol para Chacmool, um termo maia para designar o animal puma. Essa
mudança não levou em consideração a própria criação do termo por Le Plongeon que tinha
como origem a junção de duas palavras na língua maia iucateco, chaac – “tempestade, ou poder
irresistível” e mol, “a pata de qualquer grande animal carnívoro”, ou traduzido em sua totalidade
por Le Plongeon como “leopardo” (LE PLONGEON, 1900, p.157). Salisbury justificou essa
102
alteração ao afirmar que a nova forma da grafia obedecia e seguia uma maneira mais usual e
atual de se referir ao termo (SALISBURY, 1877, p.64).
Já a segunda etapa do itinerário que se seguiu ao desterramento foi uma batalha ocorrida
no campo das ideias, quando a escultura foi alvo de uma intensa disputa quanto aos direitos de
sua propriedade. Foi a partir desse momento que teve início a fama do chacmool em território
mexicano. Pela primeira vez na história da Arqueologia mexicana uma peça arqueológica do
país foi disputada juridicamente pelo governo (TRIPP EVANS, 2004, p.134).
Desde a remoção da peça quando Le Plongeon percebeu tratar-se de uma escultura em
perfeito estado de conservação, e que ele associava a um importante personagem da história
maia, o arqueólogo demonstrou seu interesse em levar a peça a uma feira que iria acontecer na
cidade estadunidense da Filadélfia em 1876. Le Plongeon acreditava que a escultura iria
justificar o patrocínio que ele recebia da American Antiquarian Society, e planejava assim
pleitear um prosseguimento deste patrocínio junto a Salisbury Jr. (DESMOND; MESSENGER,
1988, p.41; TRIPP EVANS, 2004, p.134). Além disso, a peça era para ele algo único e um dos
objetos arqueológicos mais importantes da história americana, comparado a grandes obras
maestras da história da humanidade:
The statue, Mr. President, the only one of its kind in the world, shows positively that
the ancient inhabitants of America have made, in the arts of drawing and sculpture,
advances, equal at least to those made by the Assyrian, Caldean and Egyptian artists
(SALISBURY, 1877, p.69).
Foi nesse momento em que ocorreu um dos fatos mais marcantes da vida de Le
Plongeon, a batalha jurídica com o governo mexicano para levar a estátua do chacmool para os
Estados Unidos. Esse momento foi marcado por muitas disputas e pela materialização de um
novo sentimento nacionalista que começava a tomar conta do México recém-independente que
via em seu patrimônio histórico e arqueológico, as raízes para o futuro identitário do país que
estava sendo criado.
Planejando levar a escultura e outros objetos para os Estados Unidos, Le Plongeon
entrou em contato com o presidente mexicano da época, Sebastián Lerdo de Tejada por meio
de cartas para pedir uma autorização para levar as peças aos Estados Unidos. Durante nossas
pesquisas nos arquivos da American Antiquarian Society e Getty Institute localizamos cartas
enviadas por Augustus Le Plongeon a Lerdo de Tejada, Salisbury Jr., e outros políticos com
pedidos formais para realizar a exportação dos objetos. Em correspondência enviada no dia 27
de janeiro de 1876 ao presidente Tejada, Le Plongeon fez uma descrição pormenorizada das
suas atividades e escavações em Chichén Itzá e outros sítios da região. O documento relata a
descoberta do chacmool além de seu interesse por uma fama pessoal com essa descoberta:
103
Well, then I had resolved that, cost what it might, the world should know my statue –
my statue, that was to establish my fame forever among the scientific circles of the
civilized world. I had to carry it, but, alas! I calculated without the prohibitive laws
(SALISBURY, 1877, p.71).
Na sequência da carta o explorador ressalta a importância que seria levar a escultura
para a feira da Filadélfia e se coloca no papel de um personagem de grande importância para o
México:
Will the man who, to place this country at the height of other civilized nations, has
known how to improvise. […] I ask the greatest discovery ever made in American
Archaeology, to remain lost and unknown to the scientific men, to the artists, to the
travelers, to the choicest of the nations that are soon to gather at Philadelphia? No! I
do not believe it! I do not wish to, I cannot believe it! (SALISBURY, 1877, p.72).
E já no final ele faz o pedido formal de levar a estátua para os Estados Unidos:
[...] 1st To carry the statues of Chacmool, and some bas-reliefs that have relations to
the story of that Chieftain, and are represented in the plates 4 and 5, together with my
mural tracings, plans and photographs to the approaching Exposition of Philadelphia
(SALISBURY, 1877, pp.72-73).
Após longa demora e com base em uma lei de 1827 sobre questões aduaneiras, o
governo mexicano, já sob o comando do general Porfírio Díaz decide negar o pedido de Le
Plongeon. Ainda assim, o arqueólogo resolve apelar a outras autoridades mexicanas e
estadunidenses para tentar reaver a peça, ou receber algum tipo de ressarcimento financeiro
pelo confisco do objeto. Em uma das diversas cartas enviadas às autoridades, Le Plongeon diz
que não há leis mexicanas que tratem desse caso, já que as leis criadas durante o império de
Maximiliano foram derrogadas com a sua morte, e o consequente fim do império. O arqueólogo
demonstrou conhecimento sobre a legislação mexicana, que de fato naquele momento não havia
documento que tratasse sobre a questão do patrimônio histórico e arqueológico do país:
Effectively today there does not exist in the Mexican republic decrees or laws that
prohibit the study of the ancient monuments or deprive the archaeologists of right to
the property of the architectural and historical pieces that guided by their knowledge,
they discover. The statues of chacmool – two – and the bas-relief discovered by my
lady and by myself consequently belong to us (LE PLONGEON, 21/02/1877).
Outro argumento usado pelo explorador é a de que as suas investigações foram feitas
com o conhecimento e aprovação do governo mexicano, além de questionar o direito com que
as autoridades mexicanas e iucatecas teriam sobre uma peça encontrada em um território
dominado pelos rebeldes maias, envolvidos na Guerra de Castas, já que o sítio de Chichén Itzá
naquele momento estava em território dominado pela guerrilha Chan Santa Cruz, composta por
indígenas revoltosos. Le Plongeon usa esse fato para requerer a propriedade sobre a peça:
Because the discoveries were made in places where nor you Señor General, nor the
supreme government of Mexico rule in fact, but Señor Dr. Crecencio Poot, chief of
Chan Santa Cruz, and which are at last one league beyond the most advanced military
104
lines, in the enemy’s country. Consequently, the said statue may be considered as
booty made on the enemy, belonging to the captors (LE PLONGEON, 21/02/1877).
Esse argumento seria usado em outra carta enviada em maio deste mesmo ano, ao
presidente do Instituto de Geografia e Estatística do México, Vicente Riva Palacio. Le Plongeon
mais uma vez questiona o controle do governo mexicano sobre as terras onde o chacmool foi
descoberto:
And shall or be said that Mexico, that country which so loudly proclaims the principles
of liberty and progress, disowner them in fact despoiling, a lady of archaeological
treasures, acquisted at the cost of constant dangers, and privations without number in
a country inhabited by savage Indians and where the government of Mexico does not
command in fact? What excuse will give to the civilized world of the congress of wise
archaeologists that will soon be invited at Luxembourg? (LE PLONGEON,
08/05/1877).
Todos esses protestos feitos pelo arqueólogo acabaram sendo em vão, já que a peça seria
confiscada pelo governo iucateco em março de 1877 por ordem do então governador do Estado,
General Protásio Guerra. Esse ato, bem como o itinerário da peça até a cidade de Mérida com
as novas relações e questões que circundaram o chacmool nesse trajeto é o que será tratado a
seguir.
3.12. A glória do Rei Tigre
A etapa a seguir da trajetória do chacmool está circundada de glória e da materialização
de disputas políticas internas que ocorriam no México no final do século XIX. A principal delas
era a querela entre o Governo Central e os governos estatais, entre o centralismo e o
federalismo. Mas antes disso veio a glória máxima atingida pela estátua do chacmool. Uma
fama acompanhada por uma revolução cultural que a peça provocou no Estado de Iucatã e na
cidade de Mérida.
Com o confisco da escultura realizado pelo governo iucateco os dirigentes decidiram
imputar à estátua um sentimento de orgulho regional do povo de Iucatã, como um símbolo do
passado glorioso da região. Com isso foi preparada uma grande cerimônia para marcar a entrada
do Rei Tigre em Mérida, que causou uma comoção regional (DESMOND; MESSENGER,
1988, p.42). Ainda que tenha ficado por pouco tempo na cidade de Mérida, a escultura do
chacmool movimentou toda a vida cultural e social de seus moradores naquele momento. Os
jornais da época acompanharam todos os passos para a chegada do chacmool a Mérida, com a
organização de uma grande cerimônia para receber a escultura, além de informações diárias
sobre os trajetos percorridos pelo chacmool:
A las ocho del día de mañana deberá hacer en entrada a esta ciudad el inteligente
Director del Museo Yucateco J. P. P. Contreras la estatua del Rey Chacmool que el
sabio Mr. Le Plongeon extrajo de las ruinas de Chichén Itzá [...] Apenas se ha tenido
105
noticia de la aproximación del chacmool con entusiasmo entre todos los vecinos de la
ciudad por lo cual los que inscriben a invitación de otras muchas personas han tomado
a su cargo solemnizar la entrada de la estatua invitando a toso los amantes de las
glorias de Yucatán. El trayecto de entrada será la calle de Litilpeilia à cuyos habitantes
roguemos adornen las fachadas de sus casas con cortinas. (PRISMAS, 1877).
Este trecho de um panfleto enviado aos habitantes de Mérida em fevereiro de 1877
demonstrava toda a expectativa e o clamor popular para a festa que foi organizada para receber
a escultura na cidade. O título do texto era uma clara demonstração de orgulho nacional e
regional, e da utilização de uma estreita associação entre ciência e a construção da identidade
nacional mexicana. O texto faz uso de uma retórica carregada de palavras de ordem como;
Gloria à Mexico! Gloria à la Ciência! Gloria à Le Plongeon! Gloria à Yucatan!.
A chegada do chacmool a Mérida, em primeiro de março de 1877, relatada pelo
Periódico Oficial do dia dois de março desse mesmo ano descreve que a entrada da peça foi ao
som da banda militar e acompanhada por uma procissão composta por oficiais, membros da
alta sociedade, crianças de escolas da cidade e diversas pessoas comuns. As ruas estavam cheias
de espectadores para contemplar a chegada da escultura:
Como dijimos en nuestro anterior número, ayer por la mañana hizo su entrada la efigie
del Rey-Tigre con la Comisión, que, bajo las órdenes del C. Juan Peón Contreras,
Director del Museo Yucateco, había ido por disposición del C. Gobernador y
Comandante militar en busca de ella por entre los montes contiguos al pueblo de Pisté.
Un gentío inmenso llenaba el camino que conduce de la hacienda Multuncuc á esta
Capital. Al llegar la estatua al punto llamado “La Cruz de Galvez” la banda militar
rompió en alegres notas, ejecutando una marcha guerrera, análoga á la festividad.
Presidia la concurrencia el C. General Protásio Guerra, Gobernador y Comandante
militar del Estado en carretela abierta, acompañado del C. Consejero de Estado Darío
Galera e el Jefe político C. P. Echánove: cerca de estos ciudadanos venía la Comisión
conductora, compuesta del referido Director del Museo, del Teniente Coronel Sandi
y del Comandante Alfredo Tamayo, ayudante del C. Gobernador, los cuales eran
seguidos por multitud de carruajes de paseo y por un concurso extenso y numeroso de
hijos del pueblo. Los liceos y escuelas municipales estuvieron también ahí. Gran
satisfacción causaba ver ese enjambre de niños que concurría igualmente á participar
de ese triunfo de la ciencia. La concurrencia tomó rumbo a la plaza de Mejorada. Al
entrar la colosal estatua á la “Calle de Porfirio Díaz” la música dejó oír la inmortal
obra del maestro Cuevas “El himno del Estado”. Hileras compactas de señoras y
caballeros, ocupaban las dos aceras de esa calle hasta el “Parque Central”. Al pasar
Chac-Mool por frente de la sociedad “La Siempreviva”, la niña Isabel Cirerol, alumna
de este Liceo, pronunció una bellísima poesía que publicaremos en este periódico.
Siempre creímos que aquella sociedad entusiasta por las glorias científicas no dejaría
de quemar su grano de incienso ante el altar de la ilustración. Continuó así la entrada
triunfal de la efigie hasta el “Parque Central”. Colocada en la parte media de la calle,
entre dicho parque y el atrio del templo católico de Jesús, permaneció hasta después
del medio día en que fue trasportada sobre el mismo atrio, donde permanecerá por
algunos días á la exposición pública para colocarla después en el lugar que se tiene
destinado en el Museo. Durante el tiempo que permaneció en el centro de la calle,
frente al “Parque Central”, tuvimos el gusto de oir á los CC. Pedro Sandi y Francisco
Novelo Quijano, que pronunciaron composiciones alusivas a esa gran festividad y al
C. A. Tamayo que leyó una preciosa oda de nuestro amigo Rodolfo Menéndez.
Oportunamente daremos publicidade á estas piezas literárias (PERIÓDICO
OFICIAL, 02/03/1877, p.3).
106
Esse uso da estátua do chacmool por parte do governo iucateco também parece indicar
para uma tentativa de agregação social, e orgulho das raízes identitárias do estado que naquele
momento era assolado pela Guerra de Castas, além de uma disputa política por uma autonomia
estatal frente ao governo centralista do centro do México. A independência do país levada a
cabo no início da década de 1820 levou ao estabelecimento de um sistema centralista na
organização política mexicana, em que os estados acabaram por tornar-se departamentos
administrativos tendo os seus governadores nomeados e não eleitos (REED, 2014, p.36). Essa
situação desagradou de sobremaneira a classe governante de Iucatã acostumada com o exercício
do poder local. Já que desde o estabelecimento do sistema colonial a elite do estado sempre
manteve uma certa autonomia. Somado a isso, estava a grave situação social pela qual Iucatã
passava com uma guerra civil entre brancos e indígenas chamada de Guerra de Castas. Tal
guerra atingiu todo esse território de 1847 a 1901 e se configurou numa forte luta da população
indígena contra os abusos e a situação marginal que viviam desde o momento da invasão
europeia e que se seguiu durante todo o período colonial naquela região.
Além dessa questão política, a chegada da escultura do chacmool a Mérida também
causou uma revolução cultural na cidade. Durante os festejos do desfile da peça pela capital do
estado, poesias, textos literários, músicas e obras de arte foram feitas para saudar a importância
do Rei Tigre para os iucatecos. Juan Peón Contreras, diretor do Museo Yucateco, logo da
chegada do artefato a Mérida encomenda uma cópia de gesso da estátua além de um quadro de
pintura a óleo com a imagem do chacmool. Outro fato importante foi a publicação no Periódico
Oficial do estado de uma poesia criada por Isabel Cirerol, estudante de uma escola de Mérida,
intitulada de Chac-mool, na qual ela exalta a importância dessa peça não apenas para a ciência,
mas também para a própria constituição da pátria mexicana. A poesia foi declamada no
momento da entrada da estátua em Mérida:
Chac-mool
Salud, hermosa estatua de las ruinas,
Obra grandiosa de uma antigua raza
Tú que has sido, talvez, em otros dias
De mil pueblos la imagen venerada;
Tu que has visto pasar tantas edades,
Y cruzar tantas épocas lejanas,
Al rigor implacable de los tempos
También fueron tus glorias olvidadas,
Y rodó por el suelo tu grandeza,
Y cayó el pedestal dó te ostentabas...
Pasáronse los siglos... y entretanto
Has vivido entre escombros sepultada.
Plugo à la ciência com su luz divina
Penetrar em tu lóbrega morada,
Y del seno profundo de la tierra
Para admirar al mundo te levanta
107
! Gloria al viajero que llegara un día
Allá en Chichén à colocar la platan,
Y llegar à la pátria un monumento
Digno de las naciones ilustradas:
Y al noble jóven que corrió afanoso
A transportar la colosal estatua...!
Para vosotros gratitud eterna
A nombre de la ciencia y de la pátria.
(PERIÓDICO OFICIAL, 05/03/1877)
Ainda no campo da cultura, o chacmool também inspirou a criação de uma obra teatral
com finalidades políticas escrita por José Martí, filósofo, escritor, poeta e grande mártir da
independência cubana contra o domínio espanhol. Martí visitou Mérida no ano de 1877 no
mesmo período em que a estátua do chacmool estava no centro das discussões da elite e de
políticos locais. Engajado na luta contra o imperialismo europeu no continente americano o
filósofo demonstrava um grande interesse pelas antiguidades locais, fato que motivou a criação
de uma obra literária com o nome de Chacmool. Tendo a peça como pano de fundo, Martí,
utilizou-a para discutir questões políticas e identitárias do continente americano naquele
momento. Ele considerava a estátua como uma síntese da civilização americana-mexicana, algo
genuinamente local (MELGAR TISOC, 2005, p.38).
A trama da obra de Martí girava em torno da escultura que representava os povos latino-
americanos e tinha uma orientação anticolonial. A importância que o filósofo via na peça vai
de encontro com a maneira que ela foi pensada e tratada pela elite iucateca do final do século
XIX e como esse objeto materializou outros elementos que iam além de seu próprio significado
e sentido antigo.
Esses fatos nos levaram a pensar que a estátua do chacmool teve uma importância para
além de sua existência física naquele momento. Ela conseguiu criar um ambiente cultural com
a efervescência de diversos trabalhos que faziam menção à sua existência. O que fez com que
a peça ganhasse conotações de uma importância maior do que o seu próprio contexto antigo
apontava. A construção identitária associada ao passado glorioso da região que envolveu a
escultura foi exaltada pela elite iucateca em seus anseios sobre uma organização política que
lhe favorecesse frente ao governo central mexicano. Sentimento que fica claro no discurso do
político iucateco, C. Francisco Novelo Quijano, pronunciado no dia em que o chacmool chegou
ao Parque Central no centro de Mérida:
Sí, nuestros antepasados los heroicos mayas, sin haber recibido el bautismo de la
civilización europea, crearon estos monumentos grandiosos e magníficos que hoy los
sabios nacionales y extranjeros contemplan con profunda admiración. El hombre por
do quiera que ha posado su planta, ha dejado regados en su tránsito multitud de huellas
que atestiguan de una manera muy elocuente sus esfuerzos por la vía del progreso y
del adelanto. […] Sí, ¡adelante! Y ¡vivan los nobles hijos de Yucatán agrupados en
108
torno del radiante templo de la ciencia y de la investigación!! (PERIÓDICO
OFICIAL, 14/03/1877, p.4).
Entretanto, toda essa comoção regional pelo chacmool logo daria lugar a uma certa
frustração, pois a peça foi uma vez mais confiscada agora pelo governo central mexicano sob a
ordem do general Porfírio Díaz, recém-declarado presidente da República.
3.13. A vitória do centralismo
Mapeando a rota final da peça após a chegada em Mérida no dia 01 de março de 1877,
o chacmool foi levado à capital do país no mês de maio daquele mesmo ano. Num fato
simbólico que também denotava uma vitória do centralismo frente à autonomia iucateca.
Confiscada a mando de Porfírio Díaz, o chacmool foi levado de navio e em seguida seguiu de
trem até a capital federal. Essa seria a última etapa dos itinerários realizados pela peça. A
chegada ao Museu Nacional representou uma nova ressignificação da escultura, tida agora
como uma peça de suma importância para a constituição da história da nação, num contexto
mais amplo. O transporte do chacmool para este museu fez parte de um conjunto de ações do
então presidente mexicano na tentativa de construção de uma nova nação mexicana calcada em
seu importante passado pré-hispânico. Além do chacmool, outros monolitos antigos foram
levados ao museu nessa mesma época para que ficassem expostos e atestassem a grandeza do
país recém-independente. Em texto publicado no periódico El Siglo Diez y Nueve do dia dezoito
de abril de 1877, o então governador de Iucatã, Agustín Del Rio destaca a importância da
remoção da peça para a capital do país que agora seria estudada com mais detalhes:
El gobierno de mi cargo, deseando que esta joya preciosa de la arqueología sea
conocida en esa capital y estudiada por los sabios y los hombres pensadores que están
en más continua relación con la ciencia ha dispuesto sea remitida al Museo Nacional
como un presente que en este día memorable, 02 de abril, consagra el Estado de
Yucatán al ilustre caudillo C. General Díaz, que en 1867 venció á los enemigos de la
república en la heroica Puebla de Zaragoza al frente del denotado ejército de Oriente.
Pronto estará en esa capital dicha estatua y estoy seguro que ocupará uno de los
lugares de más preferencia en el Museo Nacional. Como conozco la ilustración de
ustedes y el empeño que en todo tiempo han demostrado por enaltecer las glorias de
la ciencia me apresuro a comunicarles este sueño que no dado llamará la atención no
solo de las personas que son afectadas a las investigaciones arqueológicas sino
también de las que estiman en cuanto valen esas ricas adquisiciones de la nación (EL
SIGLO DIEZ Y NUEVE, 18/04/1877, p.3).
Durante nossas investigações no Arquivo do Museu Nacional de Antropología da
Cidade do México, conseguimos localizar documentos que atestam a entrada da peça no museu,
bem como recibos que mostram o translado (ver anexos 28 e 29). O chacmool ficou no antigo
Museo Nacional até a inauguração do moderno Museu Nacional de Antropologia em 1964,
quando a peça fez o seu último itinerário até às novas instalações desse museu onde está em
exposição. Como parte final desse deslocamento, o chacmool hoje ganhou a atenção do público,
109
e passou a fazer parte de diversos roteiros turísticos de milhares de visitantes que percorrem o
museu diariamente, além de ter se tornado uma das peças arqueológicas mais famosas da área
mesoamericana. Com os avanços dos estudos e as posteriores descobertas de outras peças
semelhantes em diferentes partes dessa região, a escultura ganhou ainda mais notoriedade, e
acabou se tornando num dos símbolos mais reproduzidos da arte pré-colombiana. Uma
importância mais ampla da que a escultura teve para Le Plongeon, que via naquela figura de
um personagem reclinado a prova da existência do antigo governante maia que tinha tido um
papel fundamental no estabelecimento dessa civilização.
No século XX com a instauração de um momento de crise dentro da História da Arte e
a insatisfação com a arte e as instituições, muitos artistas passaram a se voltar para centros de
tradições não-europeias, a fim de buscar inspiração para os seus trabalhos (MATTOS, 2014,
p.259). Nesse contexto, objetos da arte pré-colombiana foram fontes de inspiração recorrentes
para diversos artistas. Dentre esses artistas destaca-se a figura do escultor britânico Henry
Moore que fez extenso uso de inspirações do México antigo para construir as suas obras. Uma
de suas obras mais famosas, Reclining Figure, da década de 1950 é inspirada na figura do
chacmool em suas formas e posição.
O conhecimento de Moore e outros artistas pelo chacmool foi possível dada a dimensão
de publicidade que atingiu esse tipo de figura reclinada sendo uma das peças pré-colombianas
mais reproduzidas e admiradas na arte moderna. Visibilidade essa que nasce na famosa
descoberta feita por Augustus e Alice.
3.14. As peças dispersas da oferenda
Se asegura haber encontrado el Doctor en sus investigaciones, una urna conteniendo
sabe Dios qué. Los tratamientos químicos creemos que nos darían alguna luz sobre el
particular para poder aventurar nuestra opinión (LOZA, 20/01/1876, p.2).
O próximo conjunto que será analisado faz referência a algumas peças de diferentes
naturezas, mas que serão apresentadas de maneira conjunta nessa dissertação, pois são objetos
que foram mencionados em registros de fontes antigas, mas seus traços se perderam ao longo
do tempo, e o seu paradeiro atual é desconhecido. Para o estudo dessas peças foi fundamental
uma pesquisa em textos antigos do momento da descoberta que faziam menção a esse material.
Além disso, a consulta a fotografias daquele momento também se mostrou de grande
importância, pois esses são os únicos registros visuais da existência de tais objetos.
Esse conjunto de peças é composto por duas urnas de pedra calcária de formato circular,
duas placas de cerâmica lisa e uma peça em formato tubular de jadeíta polida. Não foi possível
encontrar relatos sobre as características físicas das peças. Apenas que quatro delas seriam feitas
110
de pedra calcária e uma de jadeíta. Devido à falta de informações e registros atuais sobre esses
objetos optamos por não incluí-los no material catalogado durante essa pesquisa. Ainda que
essas peças não tenham muito registro, algumas delas foram de grande importância para as
narrativas criadas por Le Plongeon sobre a história da civilização maia antiga. Veremos agora
como esses objetos foram utilizados para a construção dessa interpretação.
3.15. Um histórico das peças
Segundo os relatos do casal Le Plongeon feitos durante os trabalhos na Plataforma das
Águias e Jaguares, foram descobertas duas urnas de pedra calcária, uma com tamanho maior e
outra de menor dimensão. Esse objeto menor teria sido encontrado junto com um grupo de
objetos líticos e de duas placas planas de cerâmica na base da estátua do chacmool. A peça era
pintada de ocre amarelo com três penas e uma tampa que a cobria. Dentro foi encontrada uma
conta redonda de jadeíta extremamente polida. Essa última peça será analisada posteriormente,
já que ela se encontra em exposição no Museu Americano de História Natural de Nova York,
Estados Unidos. Os relatos de Le Plongeon dão conta da descoberta desse grupo de artefatos:
I then found a rough sort of urn of calcareous stone; it contained a little dust, and upon
it the cover of a coarse earthen pot, painted with yellow ochre. (This cover has since
been broken). It was placed near the head of the statue, and the upper part, with the
three feathers that adorn it, appeared among loose stones, placed around it with great
care (SALISBURY JR, 1877, p.70).
Nos relatos de Alice há uma menção do tamanho dessa urna. Ela afirma que o objeto
teria cerca de 66,0 centímetros de diâmetro e 63,5 centímetros de profundidade com uma
espessura de aproximadamente 10,0 centímetros:
The came to a large round stone jar, [Refers to note in margin, which reads “This jar
or urn measured 26-inch diameter, 25 deep. Thickness of stone 4 in.”] with circular
stone covering it as a lid[.] […] The men had taken the lid away. Inside was a small
earthenware lid, a large round bead of jade, and some dust […] (DESMOND, 2009,
p.121).
Na sequência dos trabalhos, próximo à cabeça do chacmool foi achada a outra urna, de
tamanho maior e também feita de pedra calcária. Dentro havia um pouco de pó, o que levou
Augustus a pensar que se tratava das cinzas do príncipe chacmool, além de uma peça de jadeíta
em formato tubular que ele presenteou Alice (DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35). Nos
relatos, ela afirma que essa urna maior estava pintada da cor vermelha em seu interior,
semelhante a cor de sangue. Esse fato levou ao casal pensar que a tinta seria algum tipo de
sangue seco que estava dentro da urna.
A coloração vermelha do interior da urna maior, foi importante para a interpretação
criada por Augustus. Ao descobrir esse objeto com cinzas dentro, Le Plongeon logo o
identificou como sendo um vaso canópico, que portava as cinzas, o sangue e o coração do
111
príncipe chacmool, numa clara alusão aos vasos canópicos egípcios, objetos utilizados para o
depósito de restos mortais e enterrado junto aos mortos. A ideia de que a urna encontrada por
Le Plongeon continha restos humanos se difundiu naquele momento em que eram feitas as
escavações no montículo. No relato de Alice, ela menciona que durante a visita de sete homens
às escavações eles ficaram encantados ao observar uma urna que continha o sangue de um
importante personagem do passado:
They listened with open mouths to the Corporal while he told them that it was a man
enchanted since 10,000 years, and that we had found his blood in that urn
(DESMOND, 2009, p.137).
Além disso, essa associação com o mundo egípcio feita pelo casal Le Plongeon é
ilustrada num artigo escrito por Alice para a revista The London Magazine já no início do século
XX. Esse artigo era um texto comparativo entre maias e egípcios, reafirmando a tese criada por
Augustus de que os maias teriam originado a civilização egípcia:
With the statue were two heavy stone urns, similar to that shown in one of our
illustrations, one of which contained ashes, and the other held the charred remains of
what was once a human heart, as was proved by chemical analysis. This was also the
ancient custom of the Egyptians (LE PLONGEON, 1910, p.128).
Uma interpretação já presente no livro de Augustus chamado Mayapan and Maya Inscriptions
lançado em 1881.
A jadeíta tubular aparece em algumas das publicações feitas pelo casal Le Plongeon
sobre os achados da oferenda. Alice menciona a descoberta da peça no texto escrito no dia 15
de novembro de 1875 em seu diário: “There was also na oblong green jade bead, highly
polished (The same I had later, set in gold, in Mexico, and use it as a brooch)” (DESMOND,
2009, p.127). Já dentre as fontes modernas, Desmond e Messenger (1988, p.35) também
descrevem essa passagem da descoberta da peça que foi presenteada a Alice por Augustus.
Tripp Evans (2004, p.136) descreve a história do objeto ao relatar como Le Plongeon fez uso
do ocultismo durante os seus trabalhos arqueológicos com a criação de relações entre ele e Alice
com personagens maias do passado.
Além desses registros em documentos escritos, também foi possível localizar algumas
referências das peças presentes em documentos fotográficos em momentos posteriores
próximos às escavações feitas pelo casal Le Plongeon. O primeiro registro que se tem das urnas
aparece nas fotos tomadas por Teobert Maler por volta de 1886, poucos anos após os trabalhos
do casal no sítio. Uma das urnas aparece numa foto com os objetos escavados oriundos da
oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares. Na fotografia é possível observar parte dos
painéis com imagens de personagens reclinados, a cabeça que Le Plongeon colocou na escultura
do jaguar reclinado e uma parte inferior de uma das placas com imagens de águias. A estátua
112
do jaguar reclinado aparece no centro com um trabalhador indígena ao fundo. À esquerda dessa
peça aparece uma urna circular de pedra calcária. Ao lado da urna há ainda uma outra lápide
com uma parte da figura do personagem reclinado. De acordo com as medidas apresentadas por
Alice e comparando com as medidas da escultura do jaguar reclinado, podemos supor que a
urna fotografada se trataria da primeira de tamanho menor. Essa foto pertence ao acervo do
Museu Iberoamericano de Berlim, na coleção de Eduard Seler.
A mesma peça apareceria numa foto tirada por Alfred Maudslay por volta do ano de
1889 durante suas investigações no sítio de Chichén Itzá. A imagem mostra um indígena
sentado ao lado da escultura do jaguar reclinado com uma urna de pedra à sua esquerda. (ver
anexo 20). Ao analisarmos as duas figuras podemos identificar muitas semelhanças. A mais
notória é a posição da urna em relação à escultura do jaguar. Em ambas as fotos a urna está à
esquerda da estátua. Tendo em vista a proximidade das visitas dos dois estudiosos a Chichén
Itzá e da tomada das fotos, é bem provável que os objetos colocados para a foto de Maler tenham
sido deixados em uma mesma posição para a foto de Maudslay. Ou seja, é provável que os
objetos não tenham sido removidos de uma data para a outra. O que nos traz um indício sobre
o itinerário dos dois objetos nesse curto espaço de tempo.
Já a jadeíta tubular aparece em fotos antigas de Alice usando a peça e no livro Here and
There in Yucatan: Miscellanies, publicado em 1886, além de uma foto da peça também no livro
Queen Móo’s Talisman, de autoria de Alice. Ambas as fotos foram reproduzidas por Tripp
Evans (2004, p.138) e Desmond e Messenger (1988, p.36) em imagens que Alice aparece
usando o objeto e outra que mostra a peça em detalhe (ver anexo 32).
3.16. Breves notícias sobre os itinerários das peças dispersas
Das cinco peças que compõe esse conjunto que decidimos chamar de peças dispersas,
três possuem referências em algumas fontes (escritas ou imagéticas), enquanto que as outras
praticamente não encontramos referências. As duas placas de cerâmica lisa, exceto pela menção
feita por Alice e Augustus no momento da escavação do montículo não aparecem em mais
nenhum relato posterior. Com essa lacuna de informação não foi possível fazer nenhuma
referência às essas peças ou a seus itinerários. Como o relato existente também é muito breve
não conseguimos ter uma descrição pormenorizada desses dois objetos. Já as duas urnas
encontradas junto ao chacmool e a jadeíta polida de formato tubular aparecem em outros relatos
escritos além de documentos fotográficos. Entretanto, tais registros terminam no final do século
XIX. Em nossas pesquisas não encontramos referências à essas peças nos escritos de estudiosos
que trabalharam em Chichén Itzá na nova fase da Arqueologia profissional. Nos próprios
113
trabalhos de restauro da plataforma levados a cabo nas décadas de 1930 e 1950 também não há
menções sobre esses objetos.
Assim sendo, temos algumas questões importantes a serem discutidas sobre os
itinerários das urnas. A primeira tem a ver com a urna maior. Após as pesquisas podemos
sugerir dois tipos de itinerários que essa peça esteve envolvida. O primeiro diz respeito à
maneira como ela foi utilizada pelo casal Le Plongeon para justificar a sua narrativa sobre a
origem dos maias e a história do príncipe Coh. Já que segundo essa interpretação, a urna seria
o local onde estariam os restos mortais desse personagem enterrado na plataforma, o seu
mausoléu. O achado da urna veio a confirmar para Augustus que aquele local era o túmulo
desse personagem. Além disso, as próprias descrições dessa peça feitas pelo casal atestariam
essa ideia. O relato de que o interior da urna estava pintado com tinta vermelha cor de sangue
como único registro sobre essa peça reforça ainda mais o uso do objeto para a narrativa criada.
Como não dispomos de imagens e nem outras descrições sobre a peça não foi possível
confirmar essa coloração do seu interior.
O outro aspecto do itinerário dessa peça diz respeito a um possível deslocamento físico
dela relatado por Alice em seu diário. Nos escritos do dia 27 de novembro de 1875 a fotógrafa
relata que uma urna descoberta no montículo teria sido levada de Chichén Itzá a Pisté por seis
trabalhadores. Mas no meio do caminho o objeto caiu e foi partido em duas metades:
The men were again sent to bring the pila, or urn. We went later taking 6 new
workmen. In the road, we met the men carrying the urn to Pisté. They stopped & set
it on the ground for us to pass. […] The urn had been brought to Pisté, but they broke
it in two. We are both sorry & angry (DESMOND, 2009, p.134).
A partir desse curto relato podemos interpretar duas questões. Uma seria que a urna
relatada nos parece ser a maior devido ao fato de Alice afirmar que foi necessário o trabalho de
seis homens para deslocá-la. A outra questão é que como o relato termina com a descrição da
destruição da peça poderíamos supor que o objeto tenha sido deixado em algum lugar no meio
do caminho entre Chichén Itzá e Pisté. Não há registro de que ela tenha sido levada de volta ao
sítio.
A última peça encontrada na oferenda que não encontramos referências é a jadeíta em
formato tubular achada dentro de uma das urnas. Esse objeto logo chamou a atenção do casal
pela grande qualidade de manufatura. No momento da descoberta, Augustus resolveu
presentear Alice com esse artefato que passou a usá-lo como um broche, um adereço de sorte.
Esse adorno significou para o casal de exploradores uma conexão espiritual de Alice com a
rainha Móo. A peça ficou conhecida como o talismã de Alice, ou o talismã da rainha Móo e
acabou sendo o título de um livro publicado pela fotógrafa no ano de 1902, um romance de
114
intriga política, que narra a morte e a decadência da cidade de Chichén Itzá. Alice relata a
descoberta da peça e descreve a relação entre o príncipe chacmool e a rainha Móo, procurando
explicar a ligação espiritual que segundo ela, o casal Le Plongeon tinha com os antigos maias.
Além disso, inspirado pelo objeto, e pelo livro, ela compôs uma música com o nome The
Lover’s Song, from Queen Móo’s Talisman, em que falava de uma grande relação entre dois
amantes.
As ideias apresentadas por Alice da existência de uma conexão entre ela e a personagem
criada por Le Plongeon para explicar a história de Chichén Itzá fazia parte de outras criações
de Augustus que também se projetavam nas ruínas e no antigo passado maia. Grande admirador
e praticante do ocultismo o explorador acreditava que ele assim como Alice teriam vivido em
outras vidas em Chichén Itzá (TRIPP EVANS, 2004, p.130). Segundo Le Plongeon, a rainha
Móo teria fugido do Egito e ido para a área maia com uma nova identidade onde teria fundado
um novo reino. Após 115 séculos de sua partida essa personagem teria retornado reencarnada
como Alice Dixon Le Plongeon (TRIP EVANS, 2004, p.136). Para marcar isso, Le Plongeon
presenteou sua esposa com o pequeno tubo de jadeíta.
Esse objeto nunca foi encontrado. Acreditamos que ele tenha sido usado por Alice até
o final de sua vida. No epílogo do livro Yucatan Through her Eyes, Desmond afirma que a peça
provavelmente tenha sido jogada ao mar junto com o corpo de Alice após a sua morte no ano
de 1910 (2009, p.329).
Com todas essas questões levantadas procuramos dar conta de recuperar histórias sobre
as trajetórias dessas peças. Ainda que com a escassa documentação disponível tal trabalho tenha
ficado um pouco reduzido tentamos apresentar os indícios de possíveis deslocamentos das
peças, além de questões materializadas e pensadas sobre esses objetos.
3.17. Os artefatos móveis – líticos, contas de pedras e conchas
O último grupo de objetos que analisaremos seus itinerários e histórias compreende os
artefatos de pequenas dimensões feitos de pedra e concha que subdividimos em dois conjuntos;
as peças que foram doadas ao Museu Americano de História Natural de Nova York e as que
acabaram sendo destinadas ao Museu Peabody de Harvard em Boston. Predominam nesses
conjuntos pontas de lanças feitas de diferentes tipos de pedras. Fazem parte também as contas
pequenas de pedras, o objeto esférico de pedra verde polida encontrado em uma das urnas
descobertas pelo casal, além de pequenas contas também feitas de pedra, conchas e pequenas
esferas de pedra calcária. Trataremos esses objetos em conjuntos já que os aspectos mais
importantes analisados nesse momento são os seus itinerários e trajetórias. Com base num
115
levantamento preliminar essas peças foram agrupadas de maneiras diferentes e levadas a locais
diversos. Na parte final dessa dissertação será apresentado um catálogo que irá tratar com mais
detalhe cada uma dessas peças. Durante o nosso estágio de pesquisa nos Estados Unidos em
2016 tivemos acesso a esse material com a realização de fotos e tomadas de medidas das peças.
Também é importante ressaltarmos que há uma diferença no número desses objetos que foram
relatados pelo casal no momento das escavações com o número atual de peças que foram
localizadas. Aqui serão mencionados os números dos objetos que aparecem nos documentos
produzidos durante os trabalhos dos arqueólogos e que depois serão contrastados com as peças
localizadas nos museus pesquisados. Passemos agora para uma apresentação dessas peças.
3.18. Considerações iniciais sobre as peças móveis
Após um levantamento de fontes antigas e estudos recentes foi possível chegar a
algumas conclusões sobre os tipos e quantidades dos objetos de pedra que serão aqui
apresentados. Entretanto, foram evidenciadas algumas divergências quanto ao número exato
das peças encontradas. No diário de Alice há o registro de que teriam sido encontrados um
pedaço de lança feita de sílex claro, 31 pontas de projéteis, sendo 28 brancas e 3 verde escuras
(DESMOND, 2009, p.127). Outros 31 pontas de projéteis, algumas em pedra verde teriam sido
encontradas no outro lado da base do chacmool (DESMOND, 2009, p.128). Já Desmond e
Messenger (1988, p.35) mencionam que na base da estátua também estariam outras 18 pontas
de projéteis de sílex, incluindo sete de pedra verde. Essa informação não aparece em outras
fontes nem no diário de Alice. Já Adam Sellen e Lynneth Lowe (2009, p.58) ao apresentarem
esse material lítico descoberto pelo casal Le Plongeon mencionam que o Museu Americano de
História Natural conserva 24 dessas peças.
A partir da consulta de algumas fontes (SIEVERT, 1992; COGGINS; SHANE III, 1989,
SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992) foi possível constatar que as oito peças que estão no
Museu Peabody estavam agrupadas junto com materiais extraídos do Cenote Sagrado de
Chichén Itzá. Essa informação foi fundamental para o início do mapeamento dessas peças que
acreditamos originalmente ter pertencido à oferenda descoberta pelo casal Le Plongeon na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Os objetos líticos que serão analisados no catálogo são compostos por 24 peças bifaciais
talhadas que estão no Museu Americano de História Natural, sendo duas facas de sílex
incompletas nas cores café e café escuro, 18 pontas de lança lanceoladas, foliáceas feitas de
calcedônia branca com retoques denticulados e algumas com resquícios de pigmento vermelho,
além de quatro pontas de projéteis feitas de pedra verde bifaciais com lado chanfrado. Também
116
fazem parte do conjunto a peça de jadeíta polida de formato cilíndrico, contas de conchas
alaranjadas, um grupo de pequenas esferas de pedra calcária em formatos de botões, duas
pequenas pedras verdes e pequenas conchas. Já o conjunto que está no Museu Peabody é
composto por oito objetos: três pontas de projéteis bifaciais, talhadas feitas de pedra verde, duas
pontas de projéteis de quartzo, uma delas cinza e outra vermelha e alaranjada. Essas cinco peças
são bifaciais com lado chanfrado, provavelmente pontas de dardos de atlatl6 (SHEETS, LADD,
BATHGATE, 1992, p.162). E por fim, três pontas de lança feitas de calcedônia branca com
resquícios de pigmento vermelho, muito semelhantes às que estão no Museu Americano de
História Natural, tanto pela morfologia, quanto pela aparência do material que as constituem.
Essas peças são lanceoladas foliáceas e possuem retoques denticulados (COGGINS; SHANE
III, 1989, p.39) (ver catálogo).
Todas as pontas de projéteis são ricamente elaboradas, com cortes que denotam uma
grande precisão de seus construtores. Assim como os outros objetos descobertos na oferenda
esses objetos não possuem análises físicas e tecnológicas sobre sua constituição e origem. Os
dois museus contatados afirmaram que esses conjuntos de peças não passaram por estudos
físico-químicos para saber o mineral que as compõe. Desses objetos, encontramos informações
mais detalhadas em apenas seis das oito peças do Museu Peabody, já que elas são mencionadas
em publicações da década de 1980 e 1990, com estudos mais específicos sobre a natureza do
material (SIEVERT, 1992; COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992). Os dados sobre
os demais artefatos foram colhidos nos catálogos dos museus. Apesar da falta de informação
podemos realizar algumas interpretações, a partir da consulta a estudos sobre a circulação de
pedras e materiais pela Mesoamérica.
Os especialistas apontam para uma baixa quantidade de material lítico encontrado no
sítio de Chichén Itzá, fato que contrasta com outros sítios da Península de Iucatã onde esse
material é abundante. A maior quantidade de obsidiana encontrada em Chichén Itzá seria
proveniente das fontes de Ucareo-Zinapecúaro, localizadas em Michoacán no Centro do
México e pertencentes ao período de 850 a 1050 d.C. (BRASWELL; PENICHE MAY, 2012,
p.256; COBOS, 1998, p.919). Esses materiais teriam chegado à Península através de rotas
terrestres e marítimas de longa distância marcando de maneira significante a circulação de
objetos e a chegada de produtos em Chichén Itzá durante o seu apogeu (BRASWELL, 1996,
p.1). A Ilha de Cerritos, importante sítio portuário localizado ao norte de Iucatã e a 100
6 Lança-dardos portáteis, ou propulsores, são chamados de atlatls na língua nahuatl. Eram peças de madeira que
resultavam num alcance maior dos objetos lançados (INOMATA; TRIADAN, 2009, p.69; NAVARRO, 2012,
p.202).
117
quilômetros de distância de Chichén Itzá teria sido o principal meio de entrada de obsidiana e
outros materiais líticos oriundos do Centro do México no norte da península. Este sítio teria
sido um entreposto comercial dominado e associado a Chichén Itzá durante o Período Clássico
Terminal (BRASWELL, 2003, p.140; COBOS, 1998; COBOS 2013). Acredita-se que a ilha
tenha sido um ponto de intersecção de redes de comércio e distribuição de objetos de
intercâmbio como matérias primas, peças semitrabalhadas, mercadorias ou bens elaborados em
oficinas (COBOS, 2013, p.56).
Já os objetos feitos de sílex e os que pertencem ao tipo calcedônia provavelmente seriam
de origem local. Iucatã possui formações de pedra calcária com grande concentração de sílex,
elemento constitutivo da pedra de pedernal (ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.23). As principais
fontes desse material na península seriam na pequena serra de Ticul e na zona norte próximo a
Chicxulub. Estudos realizados pela arqueóloga María Alejandra Espinosa Vázquez no sítio de
Aké, localizado próximo à cidade de Mérida, apontam que a maior quantidade de peças
fabricadas com sílex seria de formato bifacial (ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.24). Tipo de
técnica que também predomina no material dessa natureza encontrado na oferenda da
Plataforma das Águias e Jaguares.
Os objetos feitos de pedra verde seriam oriundos principalmente de oficinas e fontes
localizadas ao longo do vale do rio Motágua, no oriente das terras altas da Guatemala, que teria
sido o ponto de partida de rotas comerciais que levaram esse tipo de material a diversas partes
da área maia (COBOS, 2013, p.61, GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.232). Pesquisadores
como Kazuo Aoyama (2006) identificaram um crescimento na produção de navalhas de
obsidiana e pontas bifaciais de obsidiana e sílex ao final do período Clássico Tardio na região
do Vale de Copán. O que talvez leve a uma consideração de uma crescente competitividade
entre os povos dessa região nesse momento, uma pujança que logo chegaria ao fim com a
chegada do Período Pós-Clássico Inicial.
Após a apresentação de tais estudos, podemos sugerir que parte dessas peças líticas
descobertas na oferenda da plataforma seriam oriundas de outras partes da região
mesoamericana e teriam chegado por meio de rotas de comércio à Península de Iucatã. Esses
objetos tinham uma grande importância e valor comercial de prestígio e simbólico dentro das
sociedades mesoamericanas, sendo a base da economia de alguns estados, além de permitirem
o fortalecimento e crescimento de algumas cidades com base no controle da exploração,
manufatura e circulação desses objetos de pedra (MARTÍNEZ CALLEJA, 2014, p.168).
118
3.19. Os Itinerários das peças móveis – usos e reusos
As peças que compõe esse grupo de objetos móveis também tiveram um papel dentro
das interpretações criadas pelo casal Le Plongeon. Ainda que tais peças não tenham tido o
destaque que outras como a escultura do chacmool tiveram, elas também foram usadas e
ressignificadas de seu contexto original. Segundo os relatos do casal, esse material teria sido
encontrado em diferentes partes da oferenda. Le Plongeon afirma que no pote esculpido no
abdômen da estátua do chacmool foram encontrados pedaços de duas lâminas de sílex, de cor
café e café escuro, uma conta de pedra verde e material orgânico que Le Plongeon pensou se
tratar do coração cremado do príncipe chacmool. Esse material orgânico foi enviado por
Augustus para análise nos Estados Unidos. O químico Charles Thompson do Worcester Free
Institute analisou o material e declarou que se tratava de parte de um corpo humano que teria
sido queimado (SALISBURY, 1877, p.35). Em nossas pesquisas não encontramos mais
informações sobre esse estudo químico que teria sido feito com o material encontrado no
chacmool.
Seguindo em suas escavações, Le Plongeon relata ter encontrado as 31 pontas líticas,
incluindo sete de pedra verde na base do chacmool. Dentro de uma das urnas circulares de pedra
foram achadas as peças redondas de pedra calcária em formato de botões, pintados de amarelo
e com furos, um pedaço de osso que se desconhece o paradeiro atual, e a conta grande de jadeíta
polida em formato esférico. Logo que o casal encontrou todos esses objetos, Augustus os
relacionou de imediato a outra peça que já havia sido escavada do montículo; a escultura do
jaguar reclinado. O explorador notou que a escultura de pedra que representava um dos aspectos
do príncipe Coh, possuía furos em suas costas. Esses orifícios foram interpretados por Augustus
como sendo sinais de feridas que teriam causado a morte desse personagem pelo seu irmão Aac.
Os ferimentos teriam sido causados pelos objetos de pedra encontrados em seu tumulo; as
pontas de projéteis:
This Maya sphinx, like the leopard in the sculptures, had three deep holes in its back—
symbols of the three spear thrusts that caused Prince Coil's death. Thus, it has come
to the knowledge of succeeding generations that the brave Maya warrior, whom foes
could not vanquish in fair fight, was treacherously slain by a cowardly assassin—this
assassin his own brother Aac; just as Osiris in Egypt is said to have been murdered by
his brother Set, and for the same motive, jealousy (LE PLONGEON, 1900, p.158).
Essa passagem dos escritos de Le Plongeon é interessante, pois além de explicar os
buracos da estátua do jaguar ele os relaciona com as peças líticas encontradas na oferenda. Na
página seguinte a esse relato apresentado, Augustus publicou uma foto das duas peças de sílex
que estão no Museu Americano de História Natural relacionando-as com o ferimento do
personagem (ver anexo 21). Além disso, o explorador interpretava os resquícios de pigmento
119
vermelho, hematita ou cinábrio, presentes em algumas das pontas de projéteis como sendo
marcas de sangue.
As peças líticas acabaram sendo separadas pelo próprio Le Plongeon em anos
posteriores ao achado. Desapontado com a negativa do governo mexicano sobre o pedido para
levar objetos da oferenda para a exposição na Filadélfia, Le Plongeon enviou alguns pequenos
objetos e fotografias para serem expostos. Esse material não chegou a tempo da exposição, mas
foi comprado por Salisbury Jr. para a American Antiquarian Society. Dentre esses objetos
estavam algumas das pontas de projéteis. Em texto publicado em 1877 Salisbury Jr. relata esse
episódio, e chama a atenção para a qualidade das peças:
The relics are interesting specimens of pottery and of the ornaments or weapons that
were found with the statue, whose excavation has been described by the discover
himself. The jade points and Flints are very carefully wrought, and suggest rather the
idea of selection as symbols than of ordinary warlike implements. A portion or all of
the articles mentioned, together with ashes, were found in a stone urn, and are shown
on the opposite page (SALISBURY, 1877, p.74).
Em texto publicado por Alice em seu diário no dia 22 de setembro de 1876 ela descreve
que dentre esse material enviado aos Estados Unidos estavam doze pontas de projéteis de pedra
verde e doze de cor branca, além de outros objetos (DESMOND, 2009, p.210). Uma pequena
nota do jornal Boston Globe de 25 de abril de 1877 que fala sobre a descoberta da oferenda e
do chacmool menciona que algumas dessas peças estavam com Salisbury Jr; “the jade sword
points and flint arrow heads in the possession of Mr. Salisbury, who has himself visited the
ruins of Yucatan, are also of curious interest”. Alguns desses objetos depois seriam doados por
Salisbury Jr. ao Museu Peabody de Harvard no ano de 1883. Em nossas pesquisas conseguimos
localizar três dessas peças doadas que são pontas de projéteis de pedra verde, bifacial, talhada
de lado chanfrado (ver números 75, 76, 79 do catálogo).
As trajetórias dos outros artefatos que estão no Museu Peabody também contaram com
a participação da American Antiquarian Society e de Salisbury Jr.. No início da década de 1890
Salisbury propôs a um amigo fazer explorações arqueológicas em Iucatã. Esse amigo era
Edward H. Thompson arqueólogo mandado pela American Antiquarian Society e pelo Museu
Peabody para estudar sítios da península iucateca. Para isso, Thompson foi nomeado cônsul
estadunidense na região de Iucatã e Campeche e decidiu estudar o sitio de Chichén Itzá. A fim
de realizar esses estudos o estadunidense comprou a Fazenda Chichén que se encontrava dentro
do sítio e dessa forma começou a explorar o Cenote Sagrado, poço de água e antigo local ritual
e de peregrinação. Com apoio do Museu Peabody Thompson dragou as águas do cenote e
recolheu centenas de objetos de ouro, cobre, jadeíta, madeira, copal, obsidiana. Como gozava
de privilégios consulares, Thompson conseguiu enviar ilegalmente uma enorme quantidade
120
desses objetos para os Estados Unidos. Fato que só foi investigado e indiciado pelo governo
mexicano na década de 1920.
Os registros de outras peças desse conjunto oriundo da oferenda do chacmool e que
estão no Museu Peabody apontam que foi Edward Thompson quem doou alguns desses objetos
para o museu no ano de 1910. Elas teriam ido para essa instituição junto com o material
recolhido no cenote. Esses objetos seriam as pontas de projéteis bifaciais, talhadas feitas de
quartzo, uma delas cinza e outra vermelha e alaranjada (ver números 77 e 78 do catálogo). As
peças teriam sido adquiridas por Thompson de um velho índio que as guardava em uma capela
e que teria trabalhado nas explorações guiadas pelo casal Le Plongeon. Segundo Thompson,
esse índio teria tirado as peças do solo quando Le Plongeon estava distraído (COGGINGS,
SHANE III, 1989, p.102; PEABODY MUSEUM, 2016).
Já as peças que fazem parte do outro conjunto de líticos que hoje é abrigado pelo Museu
Americano de História Natural tiveram uma trajetória mais simples. Esses objetos ficaram com
Alice após a morte de Augustus em 1908, junto com todo o material produzido durante as
escavações no México. Dois anos após a morte do casal todo esse material ficou sob custódia
de Maude Blackwell, uma amiga particular. Quatro meses depois ela resolveu seguir um pedido
de Alice e vender parte do material ao Museu Americano de História Natural de Nova York.
Foram vendidas as pontas de projéteis, as contas de pedra verde, entre outros objetos e fotos
(DESMOND, 2009, p.333). O Museu Americano de História Natural possui em seu arquivo
dois recibos dessas doações feitas por Blackwell (ver anexos 30 e 31). A primeira doação data
de 18 de outubro de 1910, e tratou-se de objetos como; um colar de contas de pedra, duas lanças
de obsidiana, uma conta de pedra verde, um colar de contas de conchas, uma ponta de projétil,
dois pedaços de pedra verde cavada, quatro contas de pedras, 22 pontas de projéteis, fragmentos
de pedra verde e turquesa, uma rede, e um apito de cerâmica.
A segunda doação é datada de 04 de novembro de 1911, e dela consta objetos como;
uma conta de pedra verde, um pequeno objeto curvado também do mesmo material, um
pequeno pendente de jadeíta polida, algumas pontas de projéteis, contas de pedra, e fragmentos
de cerâmica. Objetos que somavam um valor de $ 150,00 dólares na época. Em conjunto, foram
doados moldes, desenhos e fotos feitos pelo casal Le Plongeon.
Todo esse material ainda hoje se conserva nos dois museus, mas de acordo com o
tratamento recebido nessas duas instituições podemos discutir algumas questões. A primeira
delas é que apenas o objeto de jadeíta circular polida que possuí um grande apreço estético está
exibido nas vitrines do Museu Americano de História Natural. O restante do material da
oferenda que está nesse museu e o que se encontra no Museu Peabody, estão guardados nos
121
depósitos e longe do olhar do público. Isso reflete um pouco a maneira como esse tipo de objeto
lítico é tratado pela lógica museológica. Fato que também se evidencia no próprio tratamento
dado pelo casal Le Plongeon durante o momento de descoberta. As descrições sobre as peças
líticas estão ausentes na maioria dos escritos sobre os objetos encontrados na oferenda. Elas são
mencionadas de maneira breve. Nos textos há uma clara predileção pelos objetos monumentais
feitos de pedra calcária, como as esculturas. Isso demonstrava o foco maior do interesse dos
estudos também naquele momento do século XIX por objetos com uma apreciação estética e
estilística bem demarcada. Algo que de certa forma, permaneceu na lógica museológica
presente no século XX.
Além disso, ainda sobre os itinerários desses objetos, diferente das outras peças oriundas
da oferenda, estas acabaram por circular por outros lugares que não apenas o México. Esses
itinerários mais ampliados podem ser entendidos pela própria materialidade e constituição física
desses objetos. Diferente das esculturas de pedra e das placas de baixo-relevo, os objetos líticos
e as pequenas contas de pedra possuem uma maior portabilidade, o que teria facilitado uma
circulação mais ampla e irrestrita que não foi possível no caso das peças maiores.
3.20. Palavras finais sobre o capítulo
Nesse capítulo sobre as peças da oferenda procuramos observar e recuperar os itinerários
dos objetos tentando perceber além dos deslocamentos físicos e espaciais das peças, os usos e
ressignificados sofridos ao longo desses percursos no tempo e espaço. Histórias e memórias
que foram materializadas a partir do uso desses objetos, traçando um fio condutor que nos
trouxe até os dias atuais, além de uma apresentação de como esses artefatos seguem sendo
pensados e utilizados na contemporaneidade. Agora na sequência iremos apresentar uma
interpretação da oferenda tentando fazer uma aproximação do sentido e significado que este
conjunto de objetos poderia ter tido durante o período em que foi pensado e realizado.
Acreditamos que com essa última parte poderemos dar conta de uma maneira mais ampla dos
estudos desses objetos, já que este é um dos nossos objetivos nessa pesquisa.
122
Aquella Chichén Itzá, Orillas-de-los-pozos-del-brujo-
del-agua, tendrá su fardo de trece grados. Barrida será
la provincia de Chichen, Orillas-de-los-pozos, y arderá
el fuego en el centro del pueblo y podrán hablarse unos
a otros los Ah Kines, Sacerdotes-del-culto-solar. […]
Libros de Chilam-Balam
Capítulo 4: O recuperar das vozes esquecidas nas peças
4.1. A construção de uma interpretação
A parte final dessa dissertação irá apresentar uma interpretação do conjunto de objetos
descoberto pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá. Essa
interpretação foi criada a partir de uma apresentação de nossas ideias do que seria o uso e função
desse edifício relacionado ao simbolismo e função dos objetos recolhidos que resultou numa
interpretação dos artefatos, bem como no sentido da própria oferenda.
Essa construção final será apresentada de maneira conjunta, mas a partir da estruturação
de três pontos principais; uma análise dos elementos da plataforma, apresentação de possíveis
simbolismos e funcionalidades, a interpretação do conjunto das peças encontradas na oferenda,
e para finalizar, o sentido do estado da plataforma e das peças no momento em que elas foram
encontradas por Augustus e Alice durante as escavações de 1875, séculos após o uso e abandono
da cidade de Chichén Itzá. A nossa hipótese é de que o edifício e o conjunto de objetos teriam
sido utilizados em alguma atividade ligada a cerimônias bélicas associadas a questões de
fertilidade e renascimento, e o contexto da oferenda tal qual foi encontrado por esses
exploradores poderia ser um ritual de terminação e dessacralização do edifício. Entretanto,
reconhecemos que esta seria apenas uma primeira sugestão de uma interpretação, e que para a
construção de algo mais elaborado e que dê conta de todos os aspectos e as complexidades
apresentadas pelo material de estudo seria necessário um estudo mais aprofundado o que
demandaria um projeto específico para essa finalidade.
Para a construção dessa interpretação fizemos uso de uma análise da própria plataforma,
suas decorações e simbolismos dos objetos que a constitui, pois acreditamos que o uso e sentido
da plataforma esteja intrinsicamente relacionado aos objetos ali encontrados. Além disso,
levamos em conta registros de intervenções de diversas naturezas realizadas na plataforma,
estudos sobre os objetos encontrados na oferenda, registros de campo feitos por Alice Dixon
Le Plongeon sobre o local escavado, além da consulta a estudos sobre rituais de destruição de
templos na região mesoamericana.
123
A construção dessa interpretação não se acaba em si própria e suscitou algumas questões
derivadas de nossa proposição. Mais do que uma tentativa de apresentar uma explicação
fechada, procuramos deixar evidentes alguns elementos que possam voltar a ser trabalhados em
futuras pesquisas que abarquem a oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.
4.2. A Plataforma das Águias e Jaguares e seus objetos associados
Como parte de nossa análise contextual referente à análise da oferenda encontrada no
século XIX pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares em Chichén Itzá,
apresentaremos uma interpretação da função e simbolismo de tal construção para que seja
possível, propor uma interpretação do conjunto de objetos que foi encontrado enterrado em seu
interior. Ao analisar a iconografia da fachada e o formato da estrutura da plataforma levamos
em conta a ideia de que tais formas e representações faziam parte de um sistema de mensagem
relacionado às próprias atividades que eram realizadas na construção. É comum a ideia de que
os adornos de espaços arquitetônicos apresentavam imagens que confirmam as atividades que
ocorriam em seus interiores (GETINO GRANADOS; SILVA, 2003, p.70). Essa interpretação
se baseia na própria observação da iconografia dos edifícios e em contextos e achados
arqueológicos em seus interiores.
Na análise da plataforma serão apresentados elementos que surgiram ao empreendermos
uma análise espacial, iconográfica e arquitetônica da construção. Para isso, seguimos uma
abordagem proposta por autores como Parker Pearson e Richards (1994), Felipe Criado Boado
(1991) e já discutidos em Chichén Itzá por Alexandre Navarro (2007) que consideram a
arquitetura espacial como fonte de uma mensagem da cultura responsável por sua construção,
obedecendo elementos de cognição e atividades específicas com um proposito igualmente
específico e definido previamente. Uma abordagem culturalista interpreta a paisagem e a
arquitetura como a objetificação das práticas sociais tanto de caráter material como imaginário
(Cf. CRIADO BOADO, 1991, p.6; 2015, p.7). Também foi considerada a interpretação que
leva em conta a longa duração de conceitos arquitetônicos na Mesoamérica, desde o Período
Pré-Clássico até a Conquista Espanhola, elementos como pirâmides, plataformas, praças,
terraças, pátios, muros, campos de jogo de bola (DELVENDAHL, 2010, p.145). Entretanto,
sempre se atendo a algumas alterações espaço-temporais de tais conceitos, mas que acabaram
por não resultar em grandes divergências e modificações absolutas de sentido. Também foram
analisados os elementos e motivos que decoram as fachadas da construção, a partir de uma
desconstrução e tentativa de leitura de seus significados com comparações com outras aparições
presentes na área maia e Mesoamérica como um todo.
124
A partir de uma análise espacial da estrutura, iconografia de sua decoração, formato
arquitetônico, e materiais arqueológicos recolhidos no seu interior e entorno, acreditamos que
o uso e simbolismo de tal plataforma estivesse ligado a uma forma de culto de guerra associado
a figura das águias e jaguares, com questões ligadas a fertilidade e renascimento. Seguimos
assim interpretações sugeridas por alguns autores que notaram a presença de alguns desses
elementos na Plataforma das Águias e Jaguares e em outras construções localizadas na Grande
Nivelação (TOZZER, 1957; ACOSTA, 1951).
Ao analisarmos a iconografia presente na plataforma, bem como alguns de seus objetos
recuperados percebemos a presença de figuras de jaguares e águias segurando corações
humanos, guerreiros reclinados e figuras de Kukulcan associados ao planeta Vênus, elementos
que aludem a questões relacionadas a eterna luta entre a vida e a morte, nascimento e
renascimento, vinculados à própria noção de guerra na visão de mundo maia.
Em edifícios localizados na Grande Nivelação, parte norte de Chichén Itzá, encontra-se
motivos relacionados a guerra, sacrifícios coletivos, exibição de partes humanas, que aparecem
em monumentos como o Tzompantli, o Templo dos Jaguares, o Gran Juego de Pelota, a
Plataforma de Vênus, o Templo dos Guerreros, e a própria Plataforma das Águias e Jaguares.
Segundo Virginia Miller (2007), essa ênfase em imagens de sacrifício e morte não
necessariamente demonstra um aumento no sacrifício humano, mas poderia refletir em
mudanças ideológicas e políticas ocorridas em Chichén Itzá com a representação coletiva ao
invés da individual como nas cidades do sul da área maia.
4.3. A plataforma como uma expressão social
Iremos agora tratar das imagens que aparecem nas fachadas da plataforma, e das
relações espaciais da plataforma com as construções que a rodeiam com o objetivo de levantar
hipóteses de seus possíveis usos e simbologias a partir do significado das figuras que a compõe.
Para isso será utilizado uma metodologia proposta pelo arqueólogo Alexandre Guida Navarro
em seu trabalho de doutoramento, Las Serpientes Emplumadas de Chichén Itzá: distribución
en los espacios arquitectónicos e imaginería, pela Universidad Nacional Autónoma de México,
2007. Nesse estudo, Navarro propõe uma análise da ocorrência das figuras das serpentes
emplumadas no sítio de Chichén Itzá, com uma análise dos seus locais de ocorrência. Para isso,
ele se utilizou de uma metodologia para um estudo formal das construções onde havia imagens
das serpentes emplumadas, que levasse em conta a multidimensionalidade do espaço e as
distintas manifestações de uma formação sociocultural (NAVARRO, 2007, p.133). Tal análise
formal aponta para algumas etapas no estudo das formas e imagens de um determinado objeto
125
ou construção. Essa metodologia é constituída por dois momentos diversos; (1º) desconstruir e
(2º) descrever os fenômenos considerados, sem introduzir a eles um sentido próprio. Com isso
descreve-se o objeto de estudo desde si mesmo, eliminando fatores mais subjetivos que
modificam o seu significado a ser estudado. A parte final seria marcada por uma tentativa de
reconstrução de seu significado.
La reconstrucción implica la descomposición del espacio social pretérito en los
niveles que lo constituyen, con el fin de identificar cuáles son los elementos básicos
que lo conforman y descubrir su morfología y configuración interna. Con este tipo de
análisis se pretende llegar a una descripción a partir de la lógica interna de los espacios
construidos, un estudio desde adentro, y con ello establecer la forma básica o patrón
formal invariante que se manifiesta en dicha construcción (NAVARRO, 2007, p.
133).
Em nossa dissertação, procuramos seguir essa metodologia adotada por Navarro para
um estudo formal da Plataforma das Águias e Jaguares. Para isso, as duas primeiras etapas
propostas pelo arqueólogo foram realizadas nas fichas do catálogo que tratam sobre esses
objetos que compõe a decoração das fachadas da construção (fichas 4 a 42 do catálogo). Agora
iremos apresentar a parte final da metodologia proposta, que seria uma interpretação dos
elementos destacados na descrição.
As cenas apresentadas nas fachadas da plataforma mostram uma repetição de alguns
elementos comuns. O primeiro é a parte superior, a cornija, em seguida a parte central das
quatro fachadas, e por último os detalhes das escadarias e os elementos que as compõem.
4.4. As decorações das fachadas – os guerreiros reclinados e a presença de Kukulcan
O primeiro conjunto de imagens mostra os dois personagens reclinados que aparecem
na parte superior dos painéis das fachadas da Plataforma das Águias e Jaguares numa posição
semelhante à da figura do chacmool (ver fichas 4, 9, 14, 18, 22, 27, 32, 37 do catálogo). Esses
personagens estão recostados, levam adereços corpóreos e um objeto ao redor dos olhos
relacionado à figura da divindade da chuva Chaac entre os maias ou Tlaloc no centro do México,
uma figura constantemente associada à fertilidade dentro do pensamento mesoamericano. Um
par de objetos semelhantes feitos de ouro foi recuperado durante escavações feitas no Cenote
Sagrado de Chichén Itzá (ver anexo 34). Chaac foi uma das divindades mais importantes e
representadas pelos maias em toda a Península de Iucatã. Venerado por ser o deus da chuva,
dos raios e tempestades, é vinculado a agricultura e fertilidade, e uma figura das mais antigas
na região no período pré-colombiano, sendo cultuado como deus patrono de diversas
importantes cidades, além de símbolo dos governantes durante guerras (DE LA GARZA, 2009,
p.36).
126
Os dois personagens reclinados das fachadas da plataforma levam em suas mãos um
objeto pelo qual podemos aferir que se trata de um guerreiro, ou algum personagem ligado a
uma atividade bélica. Ambos os personagens estão segurando um objeto retangular comprido
que parece ter o formato de uma arma, ou um coldre para guardar flechas. Objeto muito
semelhante ao que personagens dos murais sul e norte do Edifício A do sítio de Cacaxtla,
localizado no Centro do México possuem (PIÑA CHAN, 1998, pp. 90 e 95). Na parte superior
deste objeto, nota-se uma figura circular, que se assemelha a um símbolo venusiano. Os dois
personagens estão olhando cada um para uma direção, leste e oeste, acompanhando assim o
movimento diário do sol.
Outra figura presente nessa parte superior do painel é um símbolo que está acima dos
dois personagens e também pode ser interpretado como relacionado ao planeta Vênus. Este
planeta e os seus movimentos são associados a atividades guerreiras nas civilizações
mesoamericanas (MILLER; TAUBE, 2011, p.181). Além disso, Vênus também era
considerado uma das representações da figura de Kukulcan, ou Quetzalcoatl, a serpente
emplumada (MILBRATH, 1999, p.177). Essa associação com Vênus está presente na narrativa
do Códice Matritense, onde Quetzalcoatl tido como puro e virtuoso, provoca a inveja de
feiticeiros que lhe preparam uma armadilha e o embebedam. Sentindo-se envergonhado,
Quetzalcoatl abandona Tula e vai à Tillan Tlapallan o fogaréu, local onde ele termina por se
sacrificar, jogando-se numa fogueira. Após a sua morte, seu coração se elevou e se converteu
na estrela da manhã, ou seja, em Vênus (FERNANDEZ SOUZA, 2001, p.194). A associação
entre Kukulcan, a serpente emplumada e Vênus é percebida em diversas partes das construções
de Chichén Itzá, como no Complexo do Mercado, Columnata Nordeste, Plataforma de Vênus
da Grande Nivelação e da Praça do Osario, Anexo das Monjas, e no Templo dos Jaguares
(MILBRATH, 1999, p.181; FERNANDEZ SOUZA, 2001). Todos são locais onde as figuras
da serpente emplumada se mesclam com elementos de Vênus. Seguindo essas interpretações
acerca do símbolo de Vênus associado com a guerra, e à figura de Kukulcan, temos que o painel
superior da fachada da plataforma poderia fazer uma alusão a atividades guerreiras dentro da
sociedade maia associada à figura de Vênus, e de Kukulcan, elemento que aparece tanto neste
painel, quanto na decoração da escadaria da estrutura, com as cabeças de serpente, e o corpo
com plumas em painéis que decoram as alfardas das escadarias do monumento. Essa
interpretação é corroborada por Acosta (1951, p.46) que acredita que esses personagens
reclinados presentes nas fachadas da plataforma estariam associados a figura de Vênus e
Tlahuizcalpantecuhtli, aspecto de Quetzalcoatl ou Kukulcan em seu renascimento como estrela
da manhã após sacrificar-se para ser convertido em sol (PIÑA CHAN, 1998, p.53).
127
4.5. As Águias e Jaguares devoradores de corações
Os painéis com as águias que ocupam a parte central das faces da fachada da plataforma,
juntamente com a figura dos jaguares são os elementos mais destacados na decoração dessa
construção, tanto que foram usadas pelos estudiosos modernos para nomear o templo. Presente
em grande parte da Mesoamérica, a águia é a maior ave desta região. A figura representada no
painel possui traços da espécie Harpia harpyja, tipo de ave comum em toda a área
mesoamericana. Ela possui um bico curvo para baixo e uma proeminente crista com penas (ver
anexo 23).
Na região do Centro do México durante o período Pós-Clássico, a águia era usada para
representar o sol, com a palavra em nahuatl cuauhtlehuanitl (MILLER; TAUBE, 2011, p.83),
e também o sacrifício humano associado a forma primitiva do nascer do sol. Outra utilização
comum era para simbolizar os movimentos solares. Assim como o jaguar, ela foi usada para
representar as duas ordens militares mexica; os guerreiros águia e os guerreiros jaguar. Figuras
de águias aparecem também em outras construções de Chichén Itzá. Nos frisos do Templo dos
Guerreros estão presentes águias segurando corações humanos (ver anexo 26), e em uma pintura
localizada no talude desse mesmo templo, encontra-se um esqueleto armado com facas
apresentando uma cabeça decapitada a uma águia. Nos painéis com as figuras das águias que
compõem as fachadas da plataforma alguns importantes elementos aparecem compondo as
cenas. Em algumas imagens notamos a presença de figuras de jade (ver fichas 6, 11, 15, 19, 24,
28, 30, 33, 38 do catálogo). O jade como iremos discutir mais adiante, é um elemento de vital
importância dentro da antiga Mesoamérica. Constantemente associado a elementos aquáticos
relacionados à vida e à fertilidade esse mineral aparece em diversas representações na cultura
material dos antigos povos dessa região (NAGAO, 1985, p.51; FRANÇA, 2000). Outra figura
presente em alguns dos painéis é a flor de três pétalas que faz menção ao planeta Vênus, tema
recorrente na iconografia das fachadas da plataforma (ver fichas 5, 11, 15, 16, 19, 20, 23, 24,
28, 38 do catálogo).
Além das águias a outra figura que domina as cenas da decoração das fachadas da
plataforma é o jaguar. Esse felino é um dos animais mais importantes nas representações da
arte mesoamericana. Sua figura foi muito difundida por toda a Mesoamérica em diferentes
períodos. Referenciado por suas atividades caçadoras e tido como um dos mais poderosos
felinos do continente americano, o jaguar foi uma das figuras simbólicas mais importantes dessa
região. Na visão de mundo de diversas culturas mesoamericanas esse felino foi usado como
símbolo de poder político, associado a atividades bélicas, sacrifício e relações com a noite e o
128
Inframundo. Constantemente associado ao sol noturno, como na fonte histórica Chilam Balam
de Tizimin do período colonial em Iucatã (EDMONSON, 1982), ou ao movimento do sol
durante a noite que passa pelo Inframundo (THOMPSON, 1960), o jaguar teve um destaque
por sua força e atividade caçadora, sendo uma figura metaforicamente associada ao poder
militar (STONE; ZENDER, 2011, p.195).
As primeiras aparições da imagem deste felino deram-se na civilização olmeca, entre
1250 e 400 a.C.. Neste momento foi frequente a presença de esculturas com figuras de criaturas
metade humana e metade felina, com lábios caídos que parecem grunhir (SAUNDERS, 2005,
p.22). Na língua maia antiga Ch’olan e em línguas maias modernas, o jaguar é representado
pelo nome B’alam. Com conotações importantes na cosmogonia mesoamericana, ele está
presente na figura de um dos Heróis Gêmeos do início da criação humana relatada pelos maias
quichés no Popol Vuh. Ixbalanque durante a partida do Jogo de Bola contra os senhores do
Inframundo vestiu-se e pintou-se como um jaguar para invocar a sua força e poder. Ao final
das lutas contra os senhores do Inframundo, Ixbalanque acabou por transformar-se na lua, uma
metáfora entre os maias quichés para explicar o surgimento desse astro celeste
(BROTHERSON; MEDEIROS, 2007). Na própria escrita e contagem de tempo entre os maias,
o jaguar é associado ao dia de número três, chamado Ak’bal, que significa noite e escuridão
(VALVERDE VALDÉS, 2005, p.49). A característica dual desse felino também remete a seu
importante papel como o grande destruidor do mundo, da ordem estabelecida, que poderia pôr
fim a toda a humanidade capaz de poder devorar o sol. Neste sentido ele era fundamental na
ideia cíclica presente na cosmovisão maia, de constantes ordenações e destruições do mundo.
Seu símbolo seria um elemento de controle social e de equilíbrio numa nova época
(VALVERDE VALDÉS, 2005, p.50). A constante associação do jaguar com o Inframundo e a
escuridão remete ao movimento diário do sol e do planeta Vênus, já que ambos corpos celestes
fariam esse percurso diariamente para descansar e renascer no próximo dia, configurando esse
movimento numa metáfora de morte e renascimento.
Todas essas características importantes fizeram com que a figura do jaguar tivesse um
grande destaque na produção artística da cultura maia, com constantes representações deste
felino associadas a símbolos de poder entre governantes. Em diversas escavações arqueológicas
em cidades maias foram encontrados adereços com menções à jaguares em tumbas de
governantes e de importantes personagens das cidades. Além disso, em alguns enterramentos
foram achados até mesmo esqueletos desses felinos. Em Uxmal, Iucatã, um trono com formato
de um jaguar bicéfalo foi encontrado numa oferenda em frente ao Palácio do Governador,
importante construção na parte central da cidade. Em Chichén Itzá durante escavações no
129
Templo dos Jaguares, subestrutura da Pirâmide do Castillo, e escadaria associada ao edifício
das Monjas foram encontrados tronos que levam o formato de um pequeno jaguar. Além disso,
esculturas chamadas de porta-estandartes em formato de jaguar também foram achadas nesse
sítio, como a que foi recuperada no Cenote Sagrado, ou a peça encontrada por Le Plongeon na
própria Plataforma das Águias e Jaguares.
Em painéis esculpidos presentes em Chichén Itzá também há indícios do uso desse tipo
de mobiliários pelos governantes. Nos relevos das paredes do Templo Norte, associado ao
campo do jogo de bola, e nas pinturas da banqueta norte do Templo do Chac Mool há imagens
de governantes sentados em tronos em formatos de jaguar (COBOS, 2005, p.39). Além disso,
encontramos representações de jaguares como elementos decorativos de monumentos de
Chichén Itzá em cinco edifícios localizados na Grande Nivelação. A Plataforma das Águias e
Jaguares, o Templo dos Guerreiros, a subestrutura do Castillo (Pirâmide de Kukulcan), o
Templo das Grandes Mesas, e o Templo dos Jaguares.
Nos painéis das fachadas da Plataforma das Águias e Jaguares, as figuras dos jaguares
aparecem acompanhados de alguns elementos importantes. Em algumas das imagens estão
presentes figuras de lírios aquáticos, uma flor que cresce na água e abre suas pétalas ao
amanhecer e os fecha durante a tarde. Além disso, essa planta é caracterizada por possuir
elementos psicotrópicos, sendo muito utilizada entre os antigos maias em cerimônias em que
os participantes buscavam sair de seus estados normais de consciência (ver fichas 7 e 29 do
catálogo). Em dois painéis das fachadas também estão presentes figuras que representam o
milho (ver fichas 7 e 29 do catálogo), elemento primordial para a criação humana segundo os
maias, tal qual conta a narrativa do Popol Vuh, além de ser um alimento fundamental para os
maias e outros povos mesoamericanos. Um elemento associado à própria vida
(BROTHERSON; MEDEIROS, 2007; STONE. ZENDER, 2011, p.225). Além disso, notamos
algumas figuras de flores que simbolizam o planeta Vênus (ver fichas 20, 29, 35 do catálogo),
além de uma figura que parece ser um peitoral de jade utilizado por um dos jaguares (ver ficha
7 do catálogo).
O último elemento de destaque nos painéis da decoração da fachada da plataforma é o
coração que aparece tanto com as águias, quanto com os jaguares. As representações de
corações na Mesoamérica estão muito associadas a oferendas de sacrifício (MILLER; TAUBE,
2011, p.91). Ao identificá-los como um órgão vital dos seres humanos, foi um elemento
importante para a ideologia de sacrifícios humanos como oferendas para os deuses. A oferenda
de corações dos sacrificados era um culto comum particularmente a deidades solares. Eram o
alimento básico para a sua manutenção (HOUSTON; SCHERER, 2010, p.173).
130
O sacrifício de corações humanos foi algo difundido na Mesoamérica desde o Período
Clássico, acentuando-se no Clássico Terminal e Pós-Clássico. Em Teotihuacan, no Palácio dos
Jaguares, próximo à Pirâmide da Lua, foram pintados afrescos com imagens de jaguares
levando corações à boca, numa cena datada dos anos de 450 a 600 d.C., período da construção
do edifício. Nos murais de Bonampak também há representações de sacrifícios com a extração
de corações humanos. A cena que domina a sala 3 da estrutura onde se localizam os murais no
sítio, remete a um sacrifício de um cativo e a subsequente extração do coração durante uma
cerimônia palaciana, que se desenrola numa estrutura com aspecto de uma plataforma. Na parte
central da figura observa-se um corpo esticado segurado por dois personagens, enquanto que
um terceiro, ajoelhado na parte de cima segura o coração da vítima junto com uma ferramenta
utilizada para a extração (MILLER; BRITTENHAM, 2013, p.135) (ver anexo 24).
Em Chichén Itzá encontramos algumas representações da figura de extração de
corações, e da exibição desse órgão em alguns locais. Elas aparecem nos murais do Templo dos
Guerreros, no Templo Superior dos Jaguares, e num disco de ouro extraído do Cenote Sagrado
(MILLER, 2007, p.179). Neste disco há uma cena de extração de coração humano durante um
ritual. Na figura, o sacrificado é agarrado por outros dois personagens e tem o seu coração
arrancado por um indivíduo ataviado que leva um destacado tocado (ver anexo 25). Assim como
entre os mexicas, a arte de Chichén Itzá também focava em eventos rituais como a extração do
coração humano, cabeças decapitadas, ossos e esqueletos sobrenaturais.
A reunião desses três últimos elementos citados, a águia, o jaguar e o coração sendo
devorado, nos remete a narrativas que tratam da criação do sol e início da vida na Terra. Como
já apresentado anteriormente, e reforçado por uma passagem do Códice Florentino, esse relato
narra que após o nascimento do Sol e da Lua, uma águia e um jaguar também entraram na
fogueira primordial o que acabou resultando na pintura corpórea deste felino, que faria menção
a um chamuscado do fogo (SAUNDERS, 2005, p.22). O interessante nesta passagem é a
associação e relação que se estabelece entre os dois animais com os dois astros celestes, a partir
desse ato voluntário de sacrifício por parte da águia e do jaguar. Esses dois animais teriam como
principal função nutrir o Sol de corações humanos para mantê-lo em funcionamento e assim
evitar um cataclismo na Terra (BENSON, 2001, p.349; TOZZER, 1957, p.275; CASO, 2007,
p.53). Essa importância nas figuras de jaguares e águias levou algumas culturas
mesoamericanas a estruturar seus exércitos com simbologias relacionadas a águia e ao jaguar.
Há indícios entre os toltecas e mexicas a existência de ordens militares de guerreiros que eram
nomeados por esses dois animais (TOZZER, 1957, p.129; BAUDEZ, 2004, p.259).
131
No caso de Chichén Itzá e em especial à Plataforma das Águias e Jaguares, tais figuras
poderiam estar relacionadas a questões ligadas às suas conotações metafóricas de sol e lua,
sendo vinculadas aos movimentos desses dois astros celestes imbuídos de significados de morte
e renascimento. Numa possível relação com a guerra e com a função que as atividades bélicas
tinham nesse ciclo vital presente na visão de mundo maia.
4.6. A plataforma e sua espacialidade
Dividida em quatro lados, com quatro escadarias e quatro faces, a plataforma faria uma
alusão a um importante elemento presente na visão de mundo maia e mesoamericana que é a
ideia do espaço dividido em quatro partes seguindo as direções cardeais, com elementos
próprios em cada um dos lados, como específicas divindades que atuavam em cada uma das
partes, os chamados bacabes entre os habitantes de Iucatã. O alemão Eduard Seler foi um dos
primeiros estudiosos a perceber essa importância da divisão quadripartite nas concepções de
mundo entre os maias e outros povos da região (SELER, 1915). Essa divisão remete a questões
cosmológicas fundamentais na vida mesoamericana, pois estão relacionadas ao movimento
solar e lunar, que acabam por definir o diagrama do espaço cósmico, além de servir como ponto
fundamental também para questões agrícolas, como o plantio do milho, por exemplo
(MILBRATH, 1999, p.17). Essas ideias ainda hoje são encontradas na cosmovisão e costumes
dos povos maias e de outras etnias indígenas.
A grande ocorrência de estruturas com características de uma plataforma quadrangular
disposta em contextos espaciais próximas a construções pertencentes à elite governante de cada
sítio, nos leva a uma interpretação que considere uma relação entre o exercício do poder e a
realização de espetáculos e apresentações nessas estruturas. Nas sociedades pré-hispânicas e
também durante o período colonial, os espetáculos aparecem como importantes eventos para
uma comunidade envolvendo diversos protagonistas e espectadores, num ato que
provavelmente envolveria toda a população da cidade (INOMATA, 2006, p.192). Eventos que
poderiam ser ritos calendáricos, visitas de dignatários estrangeiros, ou ainda com evocação a
questões relativas a guerras, como indícios de apresentações de cativos, e personagens a serem
sacrificados.
No que se refere ao uso da plataforma seguimos uma interpretação apresentada por
Tozzer (1957) e Proskouriakoff (1943) de que tal estrutura composta por quatro lados poderia
servir como um altar ou local de sacrifício e oferendas, e também como um palco ou plataforma
de dança. Essa ideia aparece pela primeira vez nos escritos do bispo Diego de Landa ao se
referir às duas plataformas presentes na Grande Nivelação de Chichén Itzá, Plataforma de
132
Vênus e das Águias e Jaguares, como dois teatros para a realização de encenações (LANDA,
1986, pp.113, 114). Uma outra questão importante levantada sobre a plataforma aparece no
informe de restauro feito pelo arqueólogo Jorge R. Acosta, ao afirmar que foram encontrados
indícios de elementos cônicos ao redor dos escombros da plataforma no momento de seu
restauro. Isso levou o arqueólogo a supor que tal construção poderia ter tido um templo em seu
cume (ACOSTA, 1951, p.40). Talvez para a construção de uma interpretação mais apurada
sobre tal assunto seja preciso um trabalho específico sobre as plataformas existentes em
Chichén Itzá, além de uma tentativa de mapear a existência dessas possíveis peças a que Acosta
se refere.
Num olhar a partir da espacialidade da plataforma notamos a sua presença junto ao
Tzompantli, Templo dos Jaguares, Gran Juego de Pelota e da Pirâmide do Castillo, formando
um tipo de conjunto com essas construções. Essa interpretação da existência de agrupamentos
de edifícios dentro dessa área, segue uma ideia apresentada por Navarro (2007) de perceber a
Grande Nivelação não como um bloco homogêneo, mas sim como um local onde haviam
diversos espaços específicos.
A localização da plataforma alude a algumas questões importantes, como uma
materialização de um discurso de poder da elite responsável pela construção dessa parte do sítio
com temas em comuns com tais construções vizinhas na tentativa de criar uma mensagem
interligada e mais ampla. Para a apresentação de uma análise sobre essa mensagem foi
importante um estudo dos motivos decorativos presentes na plataforma, bem como
comparações com os motivos nos templos vizinhos, além de alusões a materiais arqueológicos
encontrados nos edifícios.
O primeiro templo que está ao lado da estrutura é a plataforma de crâneos, o Tzompantli,
ou “lugar onde estão alinhados os cabelos” (BALDERAS, 2010, p.331). Esse tipo de construção
foi comum à outras áreas da Mesoamérica a partir do período Clássico Terminal. Composto por
uma plataforma de 55 metros de comprimento por 12 de largura, em formato de “T”, possui
como elementos decorativos fileiras de crâneos de perfil e painéis com cenas em que aparecem
personagens ataviados como guerreiros, portando armas com aparência de lança dardos, atlatl,
e possuem as pernas descarnadas, Entre o tablero do edifício há molduras com a imagem de
serpentes emplumadas na parte superior e sem plumas na parte inferior (NAVARRO, 2009,
p.6). Nos painéis da fachada também existem imagens de águias devorando corações, além de
molduras, próximas às cornijas com a imagem de serpentes emplumadas na parte superior e
sem plumas na parte inferior. Em seu interior encontram-se estruturas que parecem estar
133
destinadas a suportar estacas para enfileirar os crâneos dos inimigos sacrificados para exibi-los
como cabeças troféus (NAVARRO, 2009, p.6; HERS, 2010, p.234).
No interior dessa plataforma enterrados foram descobertas três esculturas de chacmool,
uma pedra circular parecida com um marcador do jogo de bola, além de restos de um espelho
de pirita, figuras de atlantes e alguns resquícios de ossadas humanas (ACOSTA, 1951). Nos
painéis estão representados personagens ataviados como guerreiros, com armas e alguns deles
seguram cabeças decapitadas em uma das mãos. Dentre os objetos depositados nesta estrutura
estão duas caveiras acompanhadas de jade e um disco de pirita quebrado, mandíbulas, ossos, e
pontas de flechas e outros materiais encontrados próximo à sacbe 1 que se acredita
originalmente estarem associados ao Tzompantli (MILLER, 2007, p.170; ACOSTA, 1951).
A imagens das fachadas com alusões a cenas de guerras, decapitações e sacrifícios, bem
como o material arqueológico encontrado nessa estrutura mostram indícios de uma relação a
um simbolismo de cultos bélicos e sacrifícios associados ao renascimento e fertilidade. Com
elementos relacionados à guerra, a figura de uma águia devorando um coração, assim como
aparece na Plataforma das Águias e Jaguares, além da presença de chacmool e jade e um espelho
de pirita quebrado.
Ao lado desta estrutura encontra-se o Templo dos Jaguares e o complexo do Gran Juego
de Pelota. O Templo dos Jaguares apresenta grandes colunas em forma de cascavel, na fachada
superior a decoração é composta por bandas de serpentes entrelaçadas, jaguares e escudos. Na
parte interior há pintura mural com cenas que possuem como decoração principal motivos
relacionados a atividades bélicas, além da presença constante de jaguares e serpentes
emplumadas. Nas paredes da estrutura superior dessa construção, encontram-se resquícios de
pintura mural com a representação de diversos guerreiros em procissões, com grandes atavios,
peitorais com formato de borboletas, propulsores, tocados e adereços de orelhas. Dentre os
guerreiros destacam-se dois personagens, Kukulcan, e Kakupacal, Capitão Serpente
Emplumada e Capitão Disco Solar. As representações desses personagens aparecem também
em outras partes do sítio de Chichén Itzá, na Grande Nivelação, como na Pirâmide do Castillo
e no Templo Norte, como mostra o trabalho realizado por Alexandre Navarro (2012). A partir
de suas investigações, Navarro caracteriza os dois personagens como capitães de guerra, e
governantes da cidade em diferentes períodos. Assim como o Tzompantli, e a Plataforma das
Águias e Jaguares, na decoração do Gran Juego de Pelota também aparecem alusões à
sacrifícios de personagens levados a cabo durante as cerimônias que envolviam os jogos de
bola. A grande quadra do jogo de bola de Chichén Itzá é considerada a maior da área maia já
descoberta até hoje. Sua planta tem formato de “T” mede 168 metros de comprimento por 70
134
de largura, e é composto por duas largas plataformas paralelas de 95 metros de comprimento
com 8 metros de altura (NAVARRO, 2013, p.49). As quadras do jogo de bola são locais
públicos construídos sob uma forte propaganda ideológica cuja iconografia servia para
legitimar o poder do governante e assim garantir a perpetuação da cosmovisão maia
(NAVARRO, 2013, p.50; LONDOÑO, 2015).
Nas banquetas do campo de Chichen Itzá há a representação do que seriam dois grupos
rivais de jogadores, e ao final do jogo um deles, que parece ser o capitão, segura a cabeça
decepada de um outro jogador, da qual jorra sangue em forma de serpente. O sangue e a serpente
são dois elementos fundamentais na criação do mundo e dos homens, o que reforça a função do
edifício como memória coletiva mais do que o jogo em si (NAVARRO, 2013, p.50).
Outro templo localizado próximo à Plataforma das Águias e Jaguares é a Pirâmide do
Castillo, ou de Kukulcan. Esta estrutura é uma construção piramidal com quatro lados radiais,
e quatro escadarias em cada uma de suas faces com 364 degraus cada, limitadas por alfardas
que começam por uma grande cabeça de serpente emplumada. Possui 30 metros de altura, com
nove plataformas sobrepostas, e 55,5 metros de largura. O edifício apresenta uma primeira etapa
construtiva, que resultou na edificação de um templo com o mesmo formato, mas de menor
tamanho, chamado de Subestrutura do Castillo. Nesse local durante escavações na década de
1930 conduzidas pelo arqueólogo Manuel Cirerol Sansores, foram descobertos um chacmool,
um trono em formato de jaguar pintado de vermelho com 80 incrustações de pedra verde em
seu corpo fazendo alusões às suas manchas. Em cima da peça foi achado um disco de mosaico
de turquesa e concha, dividido em oito partes, com quatro figuras de serpente desenhadas com
pedra incrustrada. Essa serpente se assemelha à serpente identificada por Karl Taube (1992),
como a serpente de fogo, ou Xiuhcoatl, que estaria representada neste disco. Sob o piso da
subestrutura foi encontrada uma oferenda dentro de uma caixa de pedra com dois discos de
mosaico de turquesa, duas facas de sílex, uma série de placas gravadas de jade e colares de
pedra verde (CIREROL SANSORES, 1936, p.6; GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.138).
Dentro da Grande Nivelação temos também dois outros templos que possuem
características que acreditamos estar relacionadas à elementos presentes na Plataforma das
Águias e Jaguares, que é o Templo dos Guerreros e a Plataforma de Vênus. Composto por uma
planta quadrangular de 40 metros na lateral e 12 metros em sua altura maior, com quatro corpos
escalonados de talude e tablero, o Templo dos Guerreros possui diferentes etapas construtivas
(MARQUINA, 1964, p.869). A primeira etapa é chamada de Templo do chacmool, em
referência a uma estátua deste personagem que foi encontrada em suas dependências. A
decoração do Templo dos Guerreros leva elementos iconográficos semelhantes a outras
135
construções da Grande Nivelação. Suas fachadas são decoradas com figuras de Chaac, de
Tlahuizcalpantecuhtli, ou homem-pássaro-serpente, aspecto de Kukulcan como Vênus. Assim
como o Tzompantli e a Plataforma das Águias e Jaguares, no Templo dos Guerreros há figuras
de águias e jaguares devorando corações humanos, e personagens reclinados, segurando uma
arma e usando óculos com a figura de Chaac, muito semelhantes aos que estão nas fachadas da
Plataforma das Águias e Jaguares (ver anexo 26). Esse templo também conta com uma escultura
de chacmool que decora sua porção superior. Já a Plataforma de Vênus apresenta alguns
elementos em comum com a Plataforma das Águias e Jaguares. Além da mesma configuração
como uma plataforma radial em formato quadrangular, em sua decoração leva figuras de
serpentes emplumadas nas alfardas das escadarias, símbolos de Vênus com atados dos anos, e
uma meia flor que seria o símbolo de Pop, ou senhorio (NAVARRO, 2007, p.221).
Outros elementos decorativos que aparecem por todas as fachadas do monumento são
símbolos de Vênus e figuras de homem-pássaro-serpente, também alusões a esse mesmo
planeta. Nesta plataforma também foi encontrada uma escultura de chacmool e uma oferenda
com alguns elementos semelhantes aos encontrados na Plataforma das Águias e Jaguares.
A posição da Plataforma das Águias e Jaguares na Grande Nivelação próxima ao
Tzompantli, a Pirâmide do Castillo, ao Gran Juego de Pelota, Templo dos Jaguares, Templo
dos Guerreros e Plataforma de Vênus, além dos objetos encontrados e motivos em comum,
evidenciam que esses edifícios provavelmente compartilhavam alguns dos elementos
relacionados à cultos bélicos, sacrifício, renascimento e fertilidade. O papel da Plataforma das
Águias e Jaguares dentro desse contexto poderia ter sido o de um local para o desenvolvimento
de atividades como representações ligadas a rituais de guerras, sacrifício e oferendas de sangue,
e uma iconografia vinculada também a movimentos de astros celestes, associados à própria
ideia de nascimento e renascimento presente na visão de mundo maia.
4.7. Esculturas como peças vivas
As duas esculturas presentes na oferenda foram interpretadas levando em conta não
apenas suas atuações como indicadores de relações sociais, mas também como direcionadores
e mediadores de atividades humanas, e de relações entre objetos e humanos e entre os próprios
objetos. Seguimos essa perspectiva a partir do uso da teoria de agência de Alfred Gell (1998),
utilizada também pelas historiadoras da arte Megan O’Neil (2012) e Julia Guernsey (2012) em
estudos que tiveram como objetivo analisar os objetos dentro da cultura maia antiga como
elementos ativos e parte da dinâmica social. Esse exercício procura perceber a incorporação da
agência humana na escultura reconhecendo ao mesmo tempo o poder das imagens em si
mesmas para articular significados sociais e afetar audiências. (GUERNSEY, 2012, p.11). Tais
136
ideias adquirem ressonância dentro da própria ontologia maia e mesoamericana tal qual como
eram pensadas as relações entre objetos e humanos. Esses povos acreditavam que a matéria
animada e os objetos poderiam se associar aos humanos. Pedras e outros objetos teriam a
capacidade de serem energizados por espíritos e forças da natureza, que eram interiorizadas e
davam vida aos artefatos (HOUSTON, 2014). Por esse pensamento as esculturas e outros
materiais como pedras, madeiras, e objetos líticos, por exemplo, tinham a capacidade de escutar,
e interagir como seres ativos (HOUSTON, 2014, p.75; SIEVERT, 1992, p.27).
4.8. O guerreiro reclinado
Após a apresentação da iconografia dos painéis de baixo-relevo, e das peças com
formatos de serpentes emplumadas que faziam parte das fachadas da plataforma, iremos agora
discutir questões ligadas às outras peças encontradas na oferenda. Numa análise sobre a
escultura do chacmool construímos uma interpretação sobre o seu uso e significado dentro do
contexto em que fazia parte na Plataforma das Águias e Jaguares. Após um levantamento feito
sobre esse tipo de escultura na Mesoamérica, percebemos que há uma variação em relação a
seus elementos iconográficos que os decoram. Seguindo uma interpretação proposta por Karl
Taube (1992; 2000), Alfred Tozzer (1957), Ringle e Bey III (2009) acreditamos que o
personagem do chacmool seria a figura de um nobre guerreiro capturado responsável por levar
oferendas às divindades. Seria o guerreiro que se imola como sacrifício.
A peça descoberta por Le Plongeon leva em seu abdômen um prato que provavelmente
serviria como cuahxicalli, ou local de depósito dos corações extraídos das vítimas, ou ainda
receptáculos para oferendas de diversos tipos (ver ficha 3 do catálogo). O tocado, ou capacete
usado pelo personagem é algo comumente encontrado em esculturas do Centro do México,
como o sítio de Tula. Conhecido como capacete tolteca ele é representado com a junção de
pequenas contas juntas sendo associado a guerreiros. O peitoral que a figura carrega remete à
imagem de uma borboleta, importante símbolo na iconografia mesoamericana presente em
culturas como a teotihuacana, como símbolo das almas de guerreiros mortos. Os adereços nos
braços e pernas sugerem que o personagem era possivelmente um membro de elite. Já nos
ornamentos de orelha do chacmool aparecem pequenas figuras da divindade da chuva Chaac
(MILLER, 1985). Essa figura é uma divindade associada à fertilidade, mas também relacionada
à destruição, num constante ciclo de nascimento, morte e renascimento (MILLER; TAUBE,
1993). Uma construção cíclica também vinculada à própria função das guerras entre os maias
e povos mesoamericanos. A guerra sagrada, que destrói e recria, fonte de captura de cativos que
seriam posteriormente oferecidos a sacrifícios num processo de manutenção do mundo.
137
Ainda que existam algumas variações estilísticas e iconográficas da peça ao longo dos
diferentes locais onde foram encontradas esculturas desse tipo na Mesoamérica, acreditamos
que a associação da figura do chacmool com questões bélicas seja algo presente em todas as
peças e que acaba por moldar o seu significado.
4.9. O nobre jaguar reclinado
A escultura do jaguar encontrada por Le Plongeon remete a algumas questões já
apresentadas sobre o simbolismo e uso da figura desse felino dentre os estados mesoamericanos
e na área maia. A importância do jaguar e sua vinculação a atividades bélicas e de poder está
presente em diversas partes da cidade de Chichén Itzá. A peça encontrada pelo casal na oferenda
da plataforma apresenta algumas particularidades em sua constituição. Ainda que o formato da
cabeça original seja desconhecido, a posição da figura, bem como sua decoração corpórea nos
indicam algumas questões a serem destacadas. A posição deitada e com parte do corpo torcida
é algo incomum entre as representações de felinos na Mesoamérica. O corpo da figura é
decorado de duas maneiras diferentes. Na parte da frente ela apresenta diversas marcas com
formatos de flores que representariam as manchas da pele do jaguar (ver ficha 1 do catálogo).
Segundo Valverde Valdés (2005, p.51) as figuras de flores e jaguares seriam dois elementos
simbólicos que unidos se complementam ao indicar questões ligadas a origem, terra e
fertilidade, além de ser uma flor noturna, vinculada ao Inframundo. Dessa forma, a associação
da flor e do jaguar seria uma insígnia referente à nobreza, relacionada à figura do grande senhor
governante. Além disso, flores como decoração corpórea de jaguares na Mesoamérica também
foram interpretadas como sendo marcas chamuscadas sofridas pelo felino no momento de sua
entrada no fogo primordial (TAUBE, 2000).
Na parte do dorso da figura os detalhes que compõem o corpo do felino mudam. Os
baixos-relevos marcados na peça apontam o que parece ser a presença de escamas ou plumas
(ver anexo 33). Essa associação entre jaguar e plumas também é vista em outras partes da área
maia e na Mesoamérica. Tocados de governantes com a união entre jaguares e pássaros, como
no caso do Lintel 41 da Estrutura 42 de Yaxchilán, ou ainda figuras de vasilhas teotihuacanas
com jaguares com plumas. Segundo John Carlson a figura do jaguar emplumado estaria
diretamente relacionada ao planeta Vênus e ao sacrifício (1993, p.227).
A função dessa peça é difícil de ser precisada. Ainda que seguindo interpretações de
outros autores pudéssemos aferir que se trataria de um porta estandarte, não estamos muito
seguros dessa função específica, já que a peça também poderia ter funcionado como um trono
para os senhores governantes do sítio. Os furos que aparecem no dorso da escultura, assim como
138
a falta de sua cabeça poderiam também ter sido feitos como resultado de um ritual de terminação
da peça.
Ainda que existam dúvidas quanto ao uso da escultura, acreditamos que tanto o jaguar
reclinado quanto o chacmool fariam parte de um conjunto de outras peças dentro de Chichén
Itzá, como os atlantes, e um personagem reclinado com a cabeça móvel, que mostrariam uma
interação entre objetos e humanos (ver anexo 27). Com formas realistas a fim de recriar uma
ação humana nas próprias peças essas esculturas eram colocadas num papel central e tratados
como peças vivas no contexto cerimonial de onde faziam parte, como uma fonte de agência, e
um elemento social mediador, em que qualquer objeto é a extensão da agência de um sujeito
(GELL, 1998, p.12).
Isso nos remete a maneira como a historiadora da arte Julia Guernsey (2012) pensa as
esculturas na Mesoamérica, que não devem ser vistas apenas como uma mera ferramenta, mas
sim um participante dinâmico em que podemos pensar sobre questões de significado, função,
contexto, espaço, ritual, performance, audiência, e de que maneira essas questões se intersectam
ou entram em conflito entre si (GUERNSEY, 2012, p.11). Assim, acreditamos que o chacmool
e o jaguar reclinado seriam dois importantes atores presentes na teatralidade das performances
sociais em Chichén Itzá estabelecendo uma relação e uma fusão com aquele que praticava a
ação ritual, bem como com o público envolvido.
4.10. Os líticos no mundo mesoamericano
Os materiais líticos tiveram uma importante conotação simbólica em toda a região
mesoamericana durante o período pré-colombiano. Uma importância que estava relacionada
principalmente com a cosmovisão e concepções de mundo desses povos (FRANÇA, 2000, p.1;
MARTÍNEZ CALLEJA, 2014, p.167). O jade, ou a jadeíta (forma desse tipo de mineral que é
encontrada na Mesoamérica, essencialmente composta por silicato de sódio e alumínio, Na Al
Si2 O6) era um dos objetos mais importantes dentro do universo cosmológico mesoamericano.
Os chalchihuitl na língua nahuatl, estavam associados a elementos ligados a água e ao seu culto
e foram encontrados em diversas oferendas e escondites por toda essa área (LOPEZ LUJÁN,
2005, p.165; FRANÇA, 2000, p.1). O aspecto de sua cor, textura e brilho, provavelmente fez
com que esse material estivesse relacionado à significados aquáticos e às divindades associadas
a essa natureza como Chalchihuitlicue, deusa das águas, e o deus da água, Tlaloc entre os povos
do Centro do México, Cocijo entre os zapotecos e Chaac entre os maias. Alguns estudiosos
inclusive associam o jade com a fertilidade (NAGAO, 1985, p.51), vegetação, águas e aos
relatos míticos sobre o milho presentes nas culturas mesoamericanas (FRANÇA, 2000, p.1;
139
PROSKOURIAKOFF, 1974, p.3). Relatos nas fontes escritas, pictoglíficas e na cultura material
nos trazem diversas referências ao jade, como símbolo de fertilidade, renascimento e elemento
gerador da vida:
The greenstone beads, the bracelets, the fine turquoises are precious. Only they are
precious: they are what brings life to the world, what nourishes it, what gives it
vitality. What is alive – through them, lives, talks, is happy and laughs (SAHAGÚN,
1979: bk.VI, ch. 8, f. 29).
Apesar do grande número de citações desse tipo de pedra na Mesoamérica, o jade era
algo raro nessa região. Com isso, temos diversas outras pedras verdes semelhantes, como o
jasper, a serpentina, a albita, os quartzos, a obsidiana verde e outras que eram utilizadas para as
mesmas finalidades (FRANÇA, 2000, p.2). Esse tipo de pedra teve uma utilização bem variada
entre os estados da região em temporalidades diferentes com destaque para o uso como objetos
cerimoniais e funerários:
Enquanto a tradição Olmeca se distinguiu por um uso cerimonial e votivo (oferendas),
entre os maias, o uso do jade social apresenta padrões mais variados entre os quais
destaca-se o uso social (como ornamento da elite dirigente), na consagração de
edifícios e ainda, o uso doméstico (FRANÇA, 2000, p.2).
A pedra verde foi usada ainda como elemento para a produção de contas, mosaicos,
orelheiras, anéis, narigueiras, braceletes, preenchimento dentário, colares, estatuetas, peitorais,
e outros objetos (MENDOZA, 2001, p.65). Entre os maias era comum o uso desse tipo de objeto
com formato esférico feito de conchas, e também de pedras de diferentes tipos. Em Chichén
Itzá, além das peças achadas na Plataforma das Águias e Jaguares, foram encontradas contas
verdes também na Plataforma de Vênus e no Cenote Sagrado (PROSKOURIAKOFF, 1974,
p.19). Em toda a Mesoamérica o uso e circulação de pedras preciosas eram atividades
vinculadas às elites das cidades, com um valor importante também dentro do contexto
socioeconômico.
4.11. Os líticos em ação – guerra e sacrifício no pensamento maia
As pontas de projéteis estavam associadas a atividades ligadas a guerras, sacrifícios,
autossacrifícios e são encontradas em oferendas e escondites em diferentes sítios de diferentes
períodos dentro da Mesoamérica. Tais objetos adquiriam funções em rituais de finais de
períodos, ascensões de governantes, cerimônias para contatos com divindades, guerras,
inauguração ou abandono de edifícios, adquirindo inclusive características de seres
sobrenaturais (SIEVERT, 1992, p.112; CIUDAD RUIZ, 2002, p. 198).
As pontas de projéteis rituais ou funcionais, ou ambas, eram os principais objetos de
batalha na área maia. As evidências desse tipo de material se iniciam no Período Clássico até o
período colonial. Uma das primeiras armas utilizadas eram as lanças para combates de corpo-
140
a-corpo. Equipamento bélico que era composto geralmente por uma ponta extremamente afiada
de alguma pedra como obsidiana, ou sílex, por exemplo. Esse objeto viria a ser incrementado
com o surgimento do lança-dardos portátil e o uso de dardos por volta de 900 a.C.. Os lança-
dardos, ou atlatls na língua nahuatl resultaram num alcance maior dos objetos lançados,
funcionavam como um tipo de uma extensão do braço do guerreiro e eram objetos mais leves
o que proporcionava um fácil deslocamento (INOMATA; TRIADAN, 2009, p.69). Na área
maia esse objeto estava relacionado com a influência de Teotihuacan durante os séculos IV e
V, e durante o período Clássico Terminal esse tipo de arma passou a ser adotado com uma
ênfase maior. Em Chichén Itzá existem diversas representações de lança-dardos portáteis na
iconografia de objetos e pintura mural, como por exemplo, nas cenas de batalhas presentes no
Templo Superior dos Jaguares (COGGINS; SHANE III, 1989, pp.161-162). Essas
representações também se refletem na cultura material, com a localização de partes de atlatls
no Cenote Sagrado, além das peças de pontas de projéteis recuperadas em oferendas no sítio
(COGGINS; SHANE III, 1989).
Já para a prática de sacrifícios, os objetos de pedra mais utilizados eram as facas feitas
de sílex ou obsidiana em forma lanceolada, que acoplavam um cabo de madeira. Essas peças
eram talhadas com uma grande complexidade, e algumas eram ricamente decoradas (MATOS
MOCTEZUMA, 2010, p.59). Seus usos mais comuns seriam para a extração de coração dos
sacrificados, decapitação e esquartejamento.
As atividades como guerras, e sacrifícios rituais faziam parte de um discurso baseado
numa violência organizada presente na Mesoamérica e que seguia uma série de elementos que
demarcavam eventos sociais internos que permeavam o próprio funcionamento de tais
sociedades (ORR; KOONTZ, 2009, p.XIV; NAVARRO, 2012, p.199). As guerras tiveram um
papel decisivo na constituição da Mesoamérica como área cultural, e foram essenciais para uma
constante circulação de ideias e tecnologias por toda a região (NAVARRO, 2012, p.200). Além
disso, a organização bélica também pode estar associada à crescente complexidade social dos
estados maias a partir do período Pré-Clássico (GRAZIOSO SIERRA, 2002, p.219). Ainda que
existissem conflitos por motivações políticas, econômicas e de domínio de território, esse tipo
de violência organizada, e violência ritual era algo comum dentro dos estados mesoamericanos.
Dessa forma, temos uma relação estreita entre as atividades bélicas e atividades rituais, em que
a preparação para a guerra, as campanhas militares e as cerimônias que se seguiam contavam
com uma destacada ritualização e conotações simbólicas (GRAZIOSO SIERRA, 2002, p.232).
Percebe-se uma grande variabilidade e heterogeneidade, intensidade, duração e objetivos
diversos das guerras mesoamericanas (WORKINGER; JOYCE, 2009, p.6). Uma dessas formas
141
seriam as realizações de conflitos durante os finais de períodos calendáricos, e a utilização de
ciclos de corpos celestes para demarcar conflitos, com indicações sugerindo quais períodos do
ano seriam mais indicados para a realização de batalhas levando em conta as condições
climáticas (MILBRATH, 1999, p.193). Em algumas inscrições do período Clássico na área
maia notam-se a presença do glifo interpretado como “guerras estrelares”, ou guerras que
coincidiam com os movimentos de Vênus, que indicavam que muitas batalhas e eventos de
sacrifício seriam agendados para coincidirem com dias em que Vênus nascia pela primeira vez
após sua conjunção inferior ou superior (MILLER, 1989, p.293; LÓPEZ AUSTIN, LÓPEZ
LUJÁN, 2001a, p.162).
Alguns estudiosos apresentam quatro tipos de guerras dentro dos estados maias. O
primeiro tipo seriam eventos para captura de cativos, o segundo, eventos de decapitação, com
a captura de importantes personagens rivais em batalhas para o sacrifício, o terceiro tipo eventos
de destruição com objetivos específicos nas batalhas. E o quarto, eventos que envolviam
conquistas territoriais e de dominação política (CHASE; CHASE, 2003). Além disso, haveria
ainda alguns períodos na história maia onde evidências apontam para um recrudescimento no
número de batalhas. Indícios na cultura material apontam para a existência de guerras
destrutivas de larga escala nas terras baixas maias durante o período Clássico Terminal até o
Pós-Clássico, com destruição e saques de diversas cidades (WEBSTER, 2000).
A própria visão de mundo cíclica da sociedade maia e mesoamericana aponta para esses
movimentos de terminação, com uma ideia de um mundo em constantes nascimentos e
destruições e a realização de sacrifícios para a manutenção do cosmos. As narrativas de criação
do mundo dos povos mesoamericanos tinham como personagens divindades e sacrifícios para
a criação humana (LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.246; MATOS MOCTEZUMA, 2010, p.46). Os
maias assim como outros povos dessa região acreditavam que o sangue era sagrado e que eles
deveriam oferecê-lo em sacrifício aos deuses para homenageá-los (TAUBE, 1993, p.17).
Acredita-se que existiam dois tipos de sacrifícios na Mesoamérica. O primeiro um sacrifício
que envolvia os deuses, realizados por eles sobre os humanos, e o segundo quando os próprios
humanos sacrificavam a outros de sua espécie a pedido das forças divinas e em homenagem a
elas (MATOS MOCTEZUMA, 2010, p.43). Esse último caso se dava em rituais de
autossacrifício, ou de sacrifício de prisioneiros de guerra que eram oferecidos aos deuses em
troca da manutenção do equilíbrio do cosmos. Além do sacrifício para alimentar os deuses,
tínhamos na área maia e mesoamericana a realização de outros tipos de sacrifícios como os que
eram realizados em determinadas festividades calendáricas, com intenções variadas, como
pedir a chegada das chuvas, reviver determinados eventos primordiais, comemoração de
142
construções, ou renovações de templos, ascensões de governantes ao trono, e outras causas
(MATOS MOCTEZUMA, 2010, p.46). Essas ideias faziam parte de como esses povos
pensavam o universo e de que forma eles deveriam agir para a vida em sociedade. Era uma
maneira de garantir a continuidade da vida na Terra e receber a proteção necessária para a
própria subsistência humana.
Toda essa breve discussão sobre questões ligadas a atividades de rituais bélicos que teria
tido a Plataforma das Águias e Jaguares e seus elementos associados como artífices dessas
práticas, fazia parte de uma ideia de que a religião na sociedade maia e mesoamericana
integraria a todos os componentes sociais existentes criando-lhes uma identidade, como por
exemplo a apresentação de símbolos que representam o poder estatal vinculados a essas
narrativas fundacionais e questões relacionadas ao nascimento, morte e renascimento dentro do
pensamento mesoamericano. Acreditamos que tal dinâmica estaria presente na vida social de
Chichén Itzá no momento da utilização da plataforma. Mais do que a construção de uma
resposta única e fechada, colocamos aqui algumas inquietações que poderiam ser trabalhadas
com mais detalhes em futuras investigações sobre os sentidos da oferenda descoberta pelo casal
Le Plongeon e as relações entre Chichén Itzá e outros sítios mesoamericanos.
4.12. Uma oferenda reunida
A interpretação mostrada até aqui sugeriu o uso e o significado dos objetos e da própria
Plataforma das Águias e Jaguares durante o período de ocupação de Chichén Itzá. Nessa parte
final pretendemos discutir uma interpretação da oferenda e dos objetos descobertos pelo casal
Le Plongeon da maneira como foram encontrados já no século XIX, ou seja, quase seiscentos
anos após o provável abandono do sítio. Acreditamos que a forma como os objetos estavam
depositados no momento da chegada do casal de exploradores tenha sido pensada de maneira
proposital e que os artefatos colocados obedecendo a preceitos que faziam parte da visão de
mundo dos maias pré-hispânicos, com características que nos levaram a levantar uma hipótese
de que teria havido uma destruição e enterramento proposital de objetos que antes fizeram parte
da constituição da plataforma e de sua funcionalidade. A nossa hipótese que será apresentada
aqui dá conta de que a oferenda descoberta pelo casal Le Plongeon seria um tipo de oferenda
pertencente a um ritual de terminação e abandono de edifício. Uma prática que tem sido cada
vez mais alvo de discussões de estudiosos na área maia e mesoamericana.
4.13. Vida e morte de um edifício
Iremos recuperar agora uma ideia já mencionada no capítulo sobre os referenciais
teóricos e metodológicos dessa dissertação, que trata de um dos elementos centrais no
143
pensamento e na maneira de entender o mundo entre os maias e outros povos mesoamericanos,
que é a ideia da existência de um mundo animado em seus diferentes aspectos. Esses povos
acreditavam que objetos e construções que os rodeavam eram compostos por um aspecto visível
e uma outra substância interior. Dessa forma, havia a ideia de que tudo possuía um elemento
interno, tudo era personificado (GRAULICH, 2010, p.407). Isso dialogava com a concepção de
que o mundo era construído e gerido dentro de constantes ciclos, formados por inícios, finais e
recomeços. Como um ciclo da própria vida pensada como constantes nascimentos, mortes e
renascimentos. Ciclos que pautavam e serviam como base para os diferentes tipos de
pensamentos acerca do mundo mesoamericano e dos elementos que o rodeava. Como
mencionado anteriormente, tal pensamento também se constituía em processos de humanização
que se refletiam nos objetos, casas, espaços, e edifícios sagrados, criados pelos mesoamericanos
(MOCK, 1998, p.9; LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.242).
Assim, essas ideias eram estendidas para o tratamento dado a objetos e construções
realizadas dentro dos grandes centros cívicos. Cidades que eram entendidas como
representações da natureza de uma maneira organizada e tratadas como elementos vivos dentro
do mundo mesoamericano (GRAULICH, 2010, p.407). Alguns estudiosos como Stephen
Houston, Karl Taube e David Stuart corroboram com essa ideia e afirmam que objetos como
estátuas e estelas maias funcionavam como algo além de uma representação, mas sim
incorporavam os personagens que estavam ali nas peças a partir de uma transferência de parte
da essência vital desses personagens para os monumentos (HOUSTON; STUART; TAUBE,
2006). Isso está relacionado com a própria criação escultórica dos antigos maias. Dado essa
grande importância que esses objetos tinham dentro da cosmovisão maia, esses povos
dedicaram uma grande atenção para a produção desse tipo de objeto, com o desenvolvimento
de técnicas refinadas que incluíam o naturalismo, retratos, tridimensionalidade, relações com
questões do seu espaço físico, que propiciariam uma constante relação das peças com os
humanos que as circundavam (O’NEIL, 2012, p.316).
A partir dessa estrutura de pensamento era comum encontrarmos a realização de
cerimônias que tratassem das essências presentes na cultura material, como a realização de
rituais de terminação de objetos e construções com o sentido de retirar o poder intrínseco a
esses elementos para o encerramento de um ciclo. Eram momentos para acabar com o poder
acumulado pelo objeto antigo, e assim matá-lo ritualmente (TIESLER; CUCINA, 2010, p.201).
Nesses atos não havia, contudo, uma ideia de destruição dos sentidos, significados e conceitos
inerentes aos objetos como diversos movimentos iconoclastas fizeram ao longo da história. Mas
144
sim era algo que não descartava o objeto, apenas modificava o seu status perante a cosmovisão
daquele grupo social em um momento específico de sua história.
Entre as culturas nahuas do Centro do México havia o conceito de tlazolli, usado para
designar algo que teve o seu uso esgotado, terminado, algo que havia perdido o seu sentido
primordial (MOCK, 1998, p.10). Isso era aplicado nos diferentes objetos que os rodeavam, com
uma constante associação entre a mutilação de objetos, com a mutilação corpórea para marcar
um novo recomeço, uma nova ordem. Essa ideia de limpeza ritual através da absorção do mal
em objetos rituais é algo comum nas diversas culturas indígenas. Os maias tinham um grande
apreço por rituais de purificação, que envolviam diferentes estâncias como comidas, enemas
rituais, e purificação sexual (MOCK, 1998, p.10).
Ainda que a realização desse tipo de ritual possa a um primeiro momento nos sugerir
que os objetos e as construções que eram destruídos, ou semidestruídos seriam descartados e
considerados como algo encerrado por si, é interessante pensarmos que essas alterações não
anulariam as características e agências de tais monumentos. Pois como bem pontua Megan O’
Neil, as realizações desse tipo de violência contra os objetos não tiravam o seu poder de atuação,
mas sim indicavam que eles passariam a ter uma outra função e relação dentro do meio social
onde estavam inseridos (O’NEIL, 2013, p.45). Os danos quando são produzidos por uma ação
humana nesses elementos destruídos, faziam com que eles passassem a ser índices de marcas
de uma relação do humano com a peça, mesmo que fosse algo destrutivo ao objeto (O’NEIL,
2013, p.50). Dessa forma, o próprio fragmento também é um índice importante dessa relação,
que pode apontar questões sociais em sua ocorrência.
Recentemente alguns estudiosos tem se dedicado a analisar esse tipo de comportamento
ritual dos povos mesoamericanos com interpretações de objetos e construções que teriam
passado por processos de terminação (MOCK, 1998; INOMATA; WEBB, 2003; SUGIYAMA,
1998; FREIDEL, SUHLER, COBOS, 1998; LÓPEZ LUJAN, 1998; COE, 1959; O’NEIL,
2013). Algumas características específicas de um ritual de terminação são identificadas, mas
obedeceriam de maneira geral a alteração de objetos, com indícios de queima, destruição
proposital, como a retirada da decoração de construções, além da decapitação e quebra
proposital de partes de esculturas, e objetos que eram enterrados e ou selados em pontos
específicos das estruturas (FREIDEL, 1998, p.192).
Segundo Suhler e Freidel (1995), existe em Chichén Itzá elementos que apontam para a
ocorrência de rituais de terminação durante o abandono de sua população. Esses autores
indicam para a realização de rituais de terminação em locais como a Subestrutura do Castillo,
Templo Inferior dos Jaguares, Caracol, as Monjas e no Osario. Na subestrutura do Castillo, há
145
talvez o caso mais famoso desse tipo de cerimônia que teria sido realizada em Chichén Itzá.
Essa subestrutura teria sido uma etapa de construção anterior, erguida por volta do século X
(BRASWELL; PENICHE MAY, 2012, p.258) e é constituída por nove corpos escalonados
onde foi encontrada uma oferenda com uma caixa de pedra com uma pequena porção de ossos
humanos próximos a ela. Na caixa havia duas placas de mosaicos, jadeíta, caracol e obsidiana
(EROSA PENICHE, 1946, p.17). Além disso, foi encontrado um chacmool, uma estátua em
formato de trono com a figura de um jaguar, além de espelhos de pirita. Esses objetos foram
lacrados e uma nova estrutura foi construída em cima da anterior, a estrutura que hoje se
configura na atual aparência da pirâmide. Ainda em Chichén Itzá, um estudo feito por Ruth
Krochock (1995) aponta para a realização de um selamento, um fechamento intencional de um
texto hieroglífico presente no Mercado, como sendo um evento de terminação. Outro evento
destacado nas terras baixas maias do norte, teria ocorrido no sítio de Yaxuná, onde também há
indícios de rituais de terminação levados a cabo após derrotas militares ocorridos nessa cidade.
Em construções da elite foram achados objetos destruídos e fora de contexto, com sinais de que
teriam passado por rituais de terminação (FREIDEL; SUHLER; COBOS, 1998).
Tendo em vista essas questões teóricas sobre esse tipo de ritual, para sugerir a nossa
interpretação consultamos os relatos de Alice Dixon Le Plongeon do momento da escavação
empreendida por ela e Augustus no local da plataforma. Logo no início de suas anotações de
campo, Alice chama a atenção para a descoberta de algumas das placas de baixo-relevo e da
escultura do jaguar reclinado que estavam próximos à superfície da terra, enterrados de uma
maneira pouco profunda e com partes quebradas (DESMOND, 2009, p.117) (ver anexo 22). Na
sequência a fotógrafa relata que próximo ao chacmool foram encontrados os objetos líticos,
alguns deles quebrados (fichas 51 e 52 do catálogo), outros pequenos objetos de pedra (ficha
43 do catálogo) e fragmentos de peças partidas (ficha 44 do catálogo). A estátua do jaguar
reclinado, os painéis de baixo-relevo da fachada e os fragmentos de objetos são os elementos
da oferenda mais importantes para a nossa interpretação. Era comum nesse tipo de ritual de
terminação de uma construção a retirada dos ornamentos da fachada com um enterramento de
maneira superficial. A própria peça do jaguar reclinado, além de também ter sido encontrada
semienterrada ela estava sem a cabeça. A mutilação de estátuas e objetos era outra característica
recorrente nesse tipo de cerimônia. Seguindo as escavações, as descobertas das duas caixas de
pedra com pequenos objetos de cerâmica, e pedras preciosas dentro (ver ficha 50 do catálogo),
além da estátua do chacmool, percebemos semelhanças com o tipo de objetos encontrados na
subestrutura do Castillo, por exemplo. Ambas possuem alguns padrões de objetos que foram
enterrados e selados; uma estátua de chacmool, uma estátua com a figura de um jaguar, caixas
146
de pedra com restos de cerâmica e pedras dentro, além de pequenas pedras e restos de objetos
ao redor dessas peças.
Os objetos da oferenda que foram encontrados quebrados, ou com alguma parte
faltando, como as duas facas de sílex, ou a própria estátua do jaguar reclinado acreditamos que
estavam relacionados com uma quebra proposital de peças para retirar a sua força interior e
oferecê-los aos deuses:
Los seres humanos, como el jade precioso, las vasijas policromas, o un cuchillo de
obsidiana pueden ser quebrados de la misma manera para ser entregados al otro
mundo (FARR; EPPICH; ARROYAVE, 2008, p. 735).
Nos relatos de Alice ela faz menções que a escavação teria sido realizada no centro do
montículo, onde os objetos teriam sido encontrados, exceto algumas das placas de baixo-relevo
que estavam nas extremidades da construção (ver anexo 35). Essa provável localização das
peças no eixo central do edifício nos remete ao que diz Rosemary Joyce (1992) de que os
depósitos dedicatórios eram encontrados nos eixos das construções, e simbolicamente
representariam caminhos atravessando que uniam as oferendas sagradas com a construção e o
cosmos onde estaria a força interior do templo (JOYCE, 1992, p.497). Caminhos que poderiam
ser destruídos ritualmente com a realização dos rituais de terminação de objetos que estavam
associados à construção, que dessa forma acabariam com uma memória sagrada que pertencia
à construção.
A partir das análises dos objetos encontrados na oferenda da Plataforma das Águias e
Jaguares e de seu contexto, foram levantadas três hipóteses sobre o que teria motivado a
finalização desse conjunto ritual. A primeira seria um possível ritual de terminação dessa
estrutura durante o abandono de Chichén Itzá entre o final do século XII e início do XIII. A
segunda possibilidade seria uma cerimônia ocorrida durante alguma mudança de governo ou
término de um período de domínio de algum senhor governante específico, e por fim, um
abandono de uso especificamente da plataforma. Os objetos teriam sido enterrados como um
sinal de um final de um ciclo que alteraria alguns de seus elementos simbólicos anteriores
passando assim a fazer parte de um outro contexto de uso e significado. Ainda que tenhamos
levantado essas hipóteses preliminares sobre a ocorrência de rituais de terminação, acreditamos
que a realização de trabalhos posteriores específicos sobre o conjunto de peças descobertas pelo
casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares possam trazer à luz novos elementos
que poderão contribuir para essa discussão e interpretação. A realização de análises mais
detalhadas dos objetos que compõe a oferenda, como a realização de datações relativas das
peças, talvez possam aludir se esses objetos foram enterrados de maneira conjunta ou em etapas,
147
períodos diferentes. Uma informação importante para poder comprovar a hipótese levantada
aqui nessa dissertação e tentar interpretar a natureza desse tipo de enterramento.
4.14. Palavras finais sobre o capítulo
Neste capítulo procuramos apresentar duas hipóteses de uma interpretação sobre o
sentido dos objetos encontrados enterrados na plataforma das Águias e Jaguares pelo casal Le
Plongeon. Para isso, analisamos e sugerimos uma interpretação e usos e sentidos das peças com
base em comparações com elementos em comum presentes na Mesoamérica e no próprio sítio
de Chichén Itzá. Procuramos analisar a plataforma, sua espacialidade, decoração, relacionando-
os com os objetos encontrados. A partir de questões levantadas sugerimos uma interpretação de
que a plataforma poderia ter sido utilizada para cultos bélicos realizados pela elite dessa antiga
cidade maia, relacionados com o ciclo básico da vida, nascimento, morte e renascimento, que
obedece ao próprio movimento solar, e também do planeta Vênus.
Ao final sugerimos também uma provável causa do contexto de enterramento dos
artefatos na estrutura. Essas interpretações apresentadas não se encerram nesse primeiro
momento seriam uma tentativa inicial de se trabalhar com esse material que poderia ser
estudado com mais detalhe numa futura investigação sobre a natureza da oferenda encontrada
pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares, bem como o próprio sentido da
construção. As hipóteses apresentadas levaram a questionamentos que não foram respondidos
nessa dissertação. Acreditamos que tal apresentação seja um fecundo ponto de partida para
novas investigações que envolvam a sociedade de Chichén Itzá, práticas rituais, relações com
o centro do México e questões ligadas ao abandono do sítio. Temas que ainda despertam grande
interesse e debate entre os pesquisadores da área.
148
Conclusão: Muitos finais e novos recomeços
O trabalho para a apresentação desse conjunto de peças foi uma primeira tentativa de
recuperar a história desses artefatos que desde o seu desterramento no século XIX foram
estudados de maneira separada e pouco aprofundada. Objetos suscitam a criação de histórias e
materializam subjetividades, narrativas e discursos, a partir dos seus usos e reusos. Essas
reutilizações levam à criação de novas histórias e significados acerca dos artefatos e nos mostra
como o olhar do estudioso, ou daquele que se debruça a estudar a cultura material do passado,
têm suas concepções de mundo e discursos refletidos em suas interpretações sobre esses
objetos. Tal qual nos diz Funari:
[...] aqueles objetos reintegrados pelo arqueólogo passam a possuir novas funções e a
exercer mediações no interior das relações sociais em que foram inseridos (2003,
p.34).
Todo objeto que sai do seu contexto original e é inserido em um outro resulta num
processo de ressignificação, que faz com que essas peças assumam um novo papel. E ao assumir
esse novo papel os objetos e elementos do passado acabam por ganhar uma visão do presente
sobre eles (SHANKS; TILLEY, 1987, p.8). A própria nomeação de um objeto como artefato
arqueológico gera a criação de novas histórias e papéis sobre essa peça (PELLINI, 2016, p.252).
Os objetos descobertos por Le Plongeon e sua esposa Alice até hoje levam resquícios dos
pensamentos desse casal de exploradores. Ainda que sejam interpretados de uma nova maneira,
reflexo dos diversos estudos realizados desde então, suas nomenclaturas tais como foram
criadas pelo casal ainda continuam a vigorar, seja no nome da estátua do chacmool, ou das
estátuas dos atlantes. Junto com a reminiscência das nomenclaturas criadas pelo explorador
restam parte de ideias de suas subjetividades materializadas nas peças, que a partir do estudo
dessa cultura material nos possibilita visitar o passado e acessar o seu mundo perdido
(PIMENTA SILVA, comunicação pessoal, 2017).
Essa pesquisa apontou para a possibilidade de estudos sobre objetos antigos a partir do
uso de fontes secundárias. Durante esse estudo mostramos como uma análise dos reusos e
ressignificações feitos pelo casal Le Plongeon nos possibilitou recuperar as relações e conexões
que esses objetos possuem entre si. Foi a partir do acesso que tivemos a esses objetos pelos
estudos feitos no século XIX por esse casal de exploradores, que histórias e significados das
peças puderam ser recuperadas. Isso nos leva à importância que um trabalho epistemológico de
desconstrução narrativa pode ter ao se estudar objetos do passado.
Além disso, essa dissertação procurou mostrar a possiblidade de pesquisa de objetos
com um contexto arqueológico problemático. A partir da utilização e recuperação de diversos
149
tipos de fontes ligadas aos objetos, procuramos mapear todas as referências encontradas para
levantar a maior quantidade de informações possíveis que pudessem nos ajudar a traçar um
itinerário da trajetória histórica dessas peças. Ao perceber seus usos e reusos em diferentes
temporalidades e espacialidades, procuramos organizar os artefatos de uma maneira que nos
possibilitou a elaboração de uma interpretação sobre esse conjunto, além de servir para abrir a
possiblidade de futuras pesquisas sobre esse material. Ao ordenar, classificar e associar toda a
quantidade de informação possível sobre esses objetos nossa pesquisa procurou ajudar a
recuperar a voz e o entendimento dessas peças.
A recuperação do contexto desse depósito ritual, bem como suas características,
sentidos, itinerários e histórias criadas em torno das peças pode nos ajudar a entender questões
ainda em aberto sobre o sítio de Chichén Itzá, como sua atividade social, ritual e abandono.
Esperamos que esse trabalho tenha contribuído não apenas para os estudos sobre a área maia,
mas também para estudos sobre a cultura material que tratem de objetos com problemas de
contexto e dispersos entre si. Ao trabalhar com os artefatos descobertos pelo casal Le Plongeon
na Plataforma das Águias e Jaguares, procuramos dar uma nova luz a esses objetos. Um
conjunto de peças que agora volta à vida e passa a estar disponível uma vez mais em sua
totalidade, emanando vozes e narrativas que antes estavam silenciadas.
150
Bibliografia
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171
O catálogo
Observações prévias
Os artefatos descobertos pelo casal Augustus Le Plongeon e Alice Dixon Le Plongeon
na Plataforma das Águias e Jaguares foram dispostos em um catálogo com fichas individuais,
a fim de conferir uma organização, além de fornecer dados para possíveis futuros trabalhos
sobre o tema. Ao pensar tal ferramenta metodológica, tivemos como base estruturas utilizadas
por alguns autores como; Marina Cavicchioli (2004), Mary Miller e Simon Martin (2004),
Clemency Chase Coggins e Orrin C. Shane III (1989) e Murtha Baca, Patricia Harpring, Elisa
Lanzi, Linda McRae e Ann Whiteside (2006) em estudos em que foram realizadas
classificações de objetos seguindo critérios como: dimensões, forma, referências bibliográficas
anteriores sobre a peça, contexto onde foi encontrada, matéria-prima, descrição do objeto, além
de informações sobre a sua localização atual. Procuramos seguir essas diretrizes ao elaborar o
catálogo dessa dissertação.
Antes de apresentá-lo temos algumas considerações a serem colocadas. Durante o nosso
estudo tivemos dificuldades para obter algumas das informações presentes principalmente no
que diz respeito à matéria-prima de cada objeto. Como esses artefatos nunca foram estudados
antes de maneira sistemática, não há informações, nem análises laboratoriais prévias sobre a
constituição física deles. Os dados recolhidos e apresentados no catálogo foram obtidos a partir
de fontes secundárias, junto aos museus onde se encontram as peças. Da mesma forma, em
nossas pesquisas tivemos dificuldades de acesso aos painéis que decoram as fachadas da
Plataforma das Águias e Jaguares. As medidas apresentadas desses materiais foram
conseguidas em fontes antigas e não possuem a precisão necessária. Outros elementos das
fachadas obtivemos a partir de consulta a um plano da plataforma feito pelo programa Autocad
e disponibilizado gentilmente pelo diretor do sítio de Chichén Itzá, o arqueólogo, Marco
Antonio Santos Ramírez durante nossa visita a esse sítio em maio de 2016. Esperamos que no
prosseguimento dessa pesquisa num projeto futuro consigamos aprofundar nossas análises
sobre essas questões.
As medidas das peças líticas foram obtidas a partir de nossos estudos de campo aos
museus onde elas estão armazenadas. Todas as fotos das peças apresentadas no catálogo foram
tomadas pelo autor. Os desenhos apresentados de alguns dos painéis que fazem parte das
fachadas da plataforma foram tirados do estudo feito pela arqueóloga Federica Sodi Miranda,
do INAH, México (2007) em seus estudos sobre a iconografia da decoração da plataforma.
Infelizmente não há desenhos de todas as faces do edifício. As ilustrações são de autoria de
172
Idelfonso Hoil Moo. Após essas observações, passemos agora ao catálogo que compõe essa
dissertação.
173
1 Objeto: Escultura de pedra com formato de um jaguar reclinado
Material e técnica: Peça esculpida em pedra calcária
Tamanho e forma: A escultura possui 116,0 cm de comprimento, 63,0 cm de
largura, e 56,0 cm de altura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado semienterrado próximo à
superfície da terra na Plataforma das Águias e Jaguares (DESMOND, 2009, p.117)
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao
acervo do Museu de Antropologia de Mérida, Palácio Cantón, México. A escultura tem
a cabeça faltante, apresenta uma falta também na parte traseira do lado direito. A parte
de trás da escultura está danificada, com partes quebradas.
Descrição: A peça é uma escultura com formato de um jaguar reclinado, com
características realísticas, possui dois furos no dorso, sendo um profundo e outro mais
superficial. A cabeça está faltante. Em sua parte frontal, é decorada com figuras em baixo-
relevo com formatos de flores com três pétalas e meias-luas. A peça foi esculpida com
uma base retangular. As patas do lado direito do corpo estão dobradas e deitadas na base.
A figura está reclinada, numa posição que mostra o jaguar deitado de lado. Os detalhes do
corpo da figura na parte de trás não apresentam as pétalas, mas sim elementos geométricos
que parecem representar escamas, ou plumas (ver anexo 33).
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SELLEN; LOWE, 2009; DESMOND, 2009
174
2 Objeto: Parte de uma escultura de pedra com formato de uma cabeça de
um personagem humano
Material e técnica: Peça esculpida em pedra calcária.
Tamanho e forma: A escultura possui 36,0 cm de altura, 31,0 cm de diâmetro.
Dados do contexto original: Artefato encontrado semienterrado nas
proximidades da Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao
acervo do Museu de Antropologia de Mérida, Palácio Cantón, México. A peça possui
o nariz com partes faltantes, um buraco no local da boca e queixo. Uma das orelhas está
faltando e a outra está danificada. A parte frontal do tocado também está quebrada.
Descrição:
A peça é uma cabeça com um rosto de formato humano, ataviado com ornamento em uma
das orelhas, tocado com uma cabeça de felino e uma faixa entre a cabeça e o tocado. A
peça parece ter sido a cabeça de alguma escultura de tipo chacmool presente no sítio.
Referências Bibliográficas
Fonte original: LE PLONGEON, 19/02/1878; LE PLONGEON, 1900, p. 158
Fontes secundárias: PEON CONTRERAS, 1877; SALISBURY, 1877; SIGLO
DIEZ Y NUEVE, 22/05/1877; LE PLONGEON, 1910, p.127; MALER, 1932, pp. 50 e
51; TOZZER, 1957, p.91; SCHAVÉLZON, 1985; DESMOND; MESSENGER, 1988;
SELLEN; LOWE, 2009; DESMOND, 2009
175
3 Objeto: Chacmool, escultura de pedra com formato de um personagem
reclinado
Material e técnica: Pedra calcária esculpida e polida
Tamanho e forma: A escultura mede 1,46 m de comprimento, por 1,15 m de altura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado a cerca de oito
metros de profundidade na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao
acervo do Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México, México. A peça foi
polida, apresenta resquícios de tinta vermelha nas tornozeleiras, além de restos de
coloração laranja nas sandálias da figura. A peça apresenta ótimo estado de
conservação, mas com alguns desgastes localizados.
Descrição: Escultura de um personagem humano, com forma realista, com o abdômen
numa posição de 90 graus em relação ao solo. Está reclinado, tem a cabeça girada para a
direita, os cotovelos apoiados em sua base, com as mãos colocadas na altura do abdômen
onde segura um pequeno prato. A peça foi polida e confeccionada junto com uma base
retangular. A figura foi esculpida em três dimensões para que pudesse ser vista a partir
de ângulos diferentes. O personagem leva adereços nos braços com formas simples,
peitoral em formado de borboleta, tocado, ou capacete composto por pequenas contas
juntas e adereços de orelha retangulares, decorados com imagens da divindade da chuva,
Chaac. Usa tornozeleiras, adereços nas pernas e sandálias.
Referências Bibliográficas
Fonte original: LE PLONGEON, 19/02/1878; LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: PEON CONTRERAS, 1877; SALISBURY, 1877; MALER,
1932; TOZZER, 1957; MILLER, 1985; DESMOND; MESSENGER, 1988; TRIPP
EVANS, 2004; SELLEN; LOWE, 2009; DESMOND, 2009
176
4 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há muitas marcas
de umidade nas peças.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e
tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com
três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que
sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de
Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao
planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o
personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas
alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas
com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a
joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da
esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita
também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a
uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na
parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste
e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
177
5 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há algumas
marcas de umidade.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e
alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma
longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas
plumas. Na parte superior da cena e do lado esquerdo da águia há duas flores de três
pétalas que é associada ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios
aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
178
6 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras que o divide em duas partes. Há marcas de
umidade.
Descrição:
O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas
plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-
lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do
coração. Ela está virada para o lado esquerdo da cena. Logo acima da águia há um tubo
de jade, e na extremidade superior do painel uma flor que faz referência ao planeta Vênus.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
179
7 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachadura que o divide em suas partes. Há pequenos pontos
de umidade e está num bom estado de conservação.
Descrição:
O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil
segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com
sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares e aparenta estar
usando um peitoral de jade de formato tubular. A boca está aberta com a língua aparente
e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta que se ramifica em duas. O
personagem está virado para o lado esquerdo da cena. Há flores de lírio aquático ao redor
do felino. Na parte inferior do lado esquerdo do painel há uma figura que aparenta ser
uma planta de milho.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
180
8 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m por 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel do corpo da serpente emplumada apresenta partes faltantes, além de
marcas de umidade por todo o conjunto.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
181
9 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras que o divide em cinco partes. Há algumas pequenas
partes faltantes.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e
tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com
três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que
sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de
Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao
planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o
personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas
alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas
com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a
joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da
esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita
também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a
uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na
parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste
e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
182
10 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta pontos de umidade.
Descrição:
O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas
plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-
lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do
coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na parte superior há figuras de lírios
aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
183
11 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há sinais de
umidade na peça.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e
alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma
longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada por
algumas plumas. Na parte superior da cena do lado direito da águia há uma flor de três
pétalas que é associada ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios
aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
184
12 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta pequenas manchas de umidade.
Descrição:
O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil
segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com
sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está
aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta
que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Há flores
de lírios aquáticos ao redor do felino.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
185
13 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. Alguns painéis que formam a parte do corpo da figura estão faltando. Também
apresenta marcas de umidade em alguns pontos das peças.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
186
14 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada leste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está rachado, dividido em cinco partes e possui uma das partes faltante.
Apresenta sinais de umidade e algumas pequenas partes faltantes.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e
tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com
três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que
sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de
Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao
planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o
personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas
alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas
com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a
joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da
esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita
também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a
uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na
parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste
e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
187
15 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada)
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada leste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está rachado em quatro partes, apresenta marcas de umidade e uma
pequena peça faltante na parte inferior.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e
alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma
longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas
plumas. Na parte superior da cena e do lado esquerdo da águia há duas flores de três
pétalas que é associada ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios
aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
188
16 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia
agarrando um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual: A peça está colocada na fachada leste, lado sul da
Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá, México. O painel está rachado
em duas partes, apresenta marcas de umidade e algumas pequenas partes faltantes.
Descrição:
O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas
plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-
lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do
coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na extremidade superior esquerda
do painel há uma flor de três pétalas que faz referência ao planeta Vênus.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
189
17 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada leste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. Os painéis que fariam parte do corpo da figura estão ausentes. A cabeça de
serpente apresenta sinais de umidade.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
190
18 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados.
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo.
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada leste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está dividido em seis placas, sendo que uma está faltante. Há sinais de
umidade em algumas partes.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e
tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com
três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que
sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de
Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao
planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o
personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas
alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas
com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a
joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da
esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita
também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a
uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na
parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste
e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
191
19 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada leste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta uma rachadura na parte inferior, há uma parte faltante, além
de marcas de umidade e desgaste.
Descrição:
O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas
plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-
lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do
coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na extremidade superior do painel
há uma flor que faz referência ao planeta Vênus.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
192
20 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual: A peça está colocada na fachada leste, lado norte da
Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá, México. O painel apresenta
rachaduras que o divide em três partes. Há algumas pequenas partes faltantes e marcas
de umidade.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e
alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma
longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada por
algumas plumas. Dos dois lados da águia estão presentes flores de três pétalas, associadas
ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
193
21 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada leste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. Dos painéis que fariam parte do corpo da figura apenas um está presente. Sinais
de umidade ao longo da cabeça de serpente.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
194
22 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras e está dividido em algumas partes. O personagem
da esquerda apresenta todo o corpo faltante. Há sinais de umidade pelo painel.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. O restante do seu corpo está faltante. O personagem da direita também
se encontra na mesma posição reclinada segura nas mãos um objeto retangular que se
assemelha a uma arma com três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar
flechas, com uma figura que sai deste objeto com formato de uma serpente. Possui um
adereço ao redor dos olhos relacionado ao deus da chuva Chaac, leva um adorno de orelha
sem pedras nas pontas, mas com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Usa
joelheira, com pedras alongadas em formato retangular. Os personagens olham em direção
ao leste e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
195
23 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. A peça apresenta rachaduras que a dividem em quatro partes. Há sinais de
umidade.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e
alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma
longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas
plumas. A cena é decorada com lírios aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
196
24 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O conjunto está muito danificado e tem a parte do corpo da águia faltante. Há
sinais de umidade.
Descrição:
O painel apresenta apenas parte da cabeça de uma águia que está virada para o lado
esquerdo da cena, e suas patas. Na parte superior do painel há uma flor que faz referência
ao planeta Vênus.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
197
25 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta marcas de umidade e alguns furos.
Descrição:
O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil
segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com
sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está
aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta
que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado esquerdo da cena. Há
flores de lírio aquático ao redor do felino.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
198
26 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. Um dos painéis que forma a parte do corpo da figura está faltando. A parte de
baixo da boca da serpente está quebrada e faltando. As peças apresentam sinais de
umidade.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
199
27 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está rachado e dividido em quatro partes. Apresenta marcas de umidade.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e
tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com
três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que
sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de
Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao
planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o
personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas
alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas
com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a
joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da
esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita
também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a
uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na
parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste
e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
200
28 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. Parte do corpo da figura está faltante. Apresenta sinais de umidade.
Descrição:
O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas
plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-
lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do
coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na parte superior do painel há uma
flor de três pétalas que faz referência ao planeta Vênus.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
201
29 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. Parte do corpo da figura está danificada e apresenta alguns sinais de umidade.
Descrição:
O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil
segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com
sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está
aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta
que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Na parte
superior do painel do lado esquerdo há uma flor de três pétalas que faz referência ao
planeta Vênus. Ao redor do felino há flores de lírio aquático, e uma planta de milho na
parte inferior do lado direito do painel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
202
30 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada)
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está rachado em quatro partes, e se encontra bem danificado. Algumas
peças que o compõem estão faltantes. Apresenta marcas de umidade.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e
alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma
longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada por
algumas plumas. Na parte superior da cena há uma flor de três pétalas que é associada ao
planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
203
31 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O corpo da figura é composto por um painel dividido em três partes, com uma
delas faltante. As peças apresentam sinais de umidade. A boca da serpente apresenta
partes faltantes.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
204
32 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144)
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está rachado em quatro partes e apresenta marcas de umidade.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e
tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com
três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que
sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de
Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao
planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o
personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas
alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas
com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a
joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da
esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita
também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a
uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na
parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste
e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
205
33 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está dividido em duas placas por uma rachadura, apresenta marcas de
umidade, e algumas pequenas partes faltantes.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e
alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma
longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas
plumas. Na parte superior da cena há flores de três pétalas que é associada ao planeta
Vênus. A cena também é decorada com lírios aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
206
34 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas)
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está dividido em duas placas por uma rachadura, apresenta marcas de
umidade e algumas pequenas partes faltantes.
Descrição:
O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas
plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-
lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma pequena voluta na
direção do coração. Ela está virada para o lado esquerdo da cena. Na extremidade
superior do painel há uma flor de lírio aquático.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
207
35 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. A peça apresenta pequenos pontos de umidade e pequenas partes faltantes.
Descrição:
O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil
segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com
sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está
aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta
que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado esquerdo da cena. Há
flores de lírio aquático ao redor do felino. Na parte superior da cena e logo abaixo da pata
que segura o coração, há flores de três pétalas, relacionadas ao planeta Vênus.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
208
36 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m de altura e 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. A peça apresenta sinais de umidade.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
209
37 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de
altura (DESMOND, 2009, p.144).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras que o divide em seis partes. Há marcas de umidade
e algumas pequenas partes faltantes.
Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem
localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho
mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,
adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de
colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e
tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com
três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que
sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de
Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao
planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o
personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas
alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas
com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a
joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da
esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita
também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a
uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na
parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste
e oeste.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,
1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;
PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
210
38 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta uma rachadura que o divide em duas partes. Há muitas
marcas de umidade e desgastes.
Descrição:
O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas
plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-
lo à boca. O bico está aberto e a língua aparente. Ela está virada para o lado direito da
cena. Na extremidade superior do painel há uma flor que faz referência ao planeta Vênus.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
211
39 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medida aproximada).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há muitas marcas
de umidade.
Descrição:
O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.
A águia está com o bico aberto, com a língua de fora. Ela leva plumagem por todo o
corpo, uma longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada
por algumas plumas. Na parte superior da cena há uma grande planta de lírio aquático.
Do lado direito da figura há uma flor de três pétalas que é associada ao planeta Vênus. A
parte inferior da cena também é decorada com lírios aquáticos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
Desenho: SODI MIRANDA, 2007
212
40 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O painel está em bom estado de conservação, apresenta apenas alguns pequenos
pontos de umidade.
Descrição:
O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil
segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com
sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está
aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta
que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Há flores
de lírio aquático ao redor do felino.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
213
41 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária
Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo
Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0
cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada
na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,
México. O conjunto apresenta sinais de umidade e possui uma das peças que compõe o
corpo da serpente emplumada faltante.
Descrição:
A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu
corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,
sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas
aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente
apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
214
42 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando
um coração
Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo
Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de
altura (medidas aproximadas).
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das
Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao
acervo do Museu de Nacional de Antropologia, Cidade do México, México. O painel
apresenta uma parte faltante na extremidade superior direita, e algum resquício de tinta
original avermelhada.
Descrição:
O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil
segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com
sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está
aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta
que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Há flores
de lírio aquático ao redor do felino.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: LE PLONGEON, 1900
Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;
ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;
PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.
215
43 Objeto: 19 pequenas peças de pedra calcária
Material e técnica: Pedra calcária cavada, polida e decorada
Tamanho e forma: Cerca de 1 cm de diâmetro cada peça.
Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças
pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. As peças apresentam alguns resquícios de coloração, e algumas
manchas brancas.
Descrição:
Contas de pedras calcária com formato de pequenos botões, com decoração
cavada em formato de espiral em uma das faces, e quatro furos cavados na outra.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1937
216
44 Objeto: 2 pequenos fragmentos de pedra verde
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: As peças medem cerca de 1,5 cm por 2,0 cm.
Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças
pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. As peças apresentam resquícios de materiais e estão quebradas.
Descrição:
Dois fragmentos de pedras verde. Uma delas está cortada. Possivelmente fariam
parte de uma conta de pedras.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1941
217
45 Objeto: 29 pequenas conchas alaranjadas
Material e técnica: Conchas
Tamanho e forma: As peças medem de 1,5 cm a 2,0 cm.
Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças
pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. Peças em bom estado de conservação.
Descrição:
Pequenas contas de conchas alaranjadas. Quatro peças com formato cilíndrico,
dezessete peças com formato tubular, e oito peças com formato retangular
achatado. Todas as peças possuem furos cilíndricos.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1935
218
46 Objeto: 4 pequenos fusos de pedra calcária
Material e técnica: Pedra calcária
Tamanho e forma: As peças medem 2,0 cm de diâmetro.
Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças
pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. As peças apresentam pequenas partes quebradas.
Descrição:
Quatro pequenos fusos de pedra calcária. Provavelmente faziam parte de um
grupo de contas. Três deles estão completos, possuem formato esférico e um
orifício circular no centro. Uma das peças é um pequeno fragmento em formato
de meia-lua.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1938
219
47 Objeto: 3 pequenas contas de pedra calcária
Material e técnica: Pedra calcária
Tamanho e forma: As peças medem 1,0 cm de diâmetro.
Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças
pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. As peças apresentam pequenas partes quebradas.
Descrição:
Três pequenas contas de pedra calcária de formato esférico. Possuem um pequeno
orifício circular no centro.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1939
220
48 Objeto: Pequena peça de concha retangular achatada
Material e técnica: Concha
Tamanho e forma: A peça mede 1,5 cm por 2,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta alguns pontos de desgaste.
Descrição:
Pequena concha avermelhada de formato retangular achatado. Possui dois
pequenos orifícios. Provavelmente fazia parte de algum conjunto de contas de
conchas.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1933
221
49 Objeto: Conjunto de 12 pequenas peças de conchas
Material e técnica: Concha
Tamanho e forma: As peças medem 1,0 cm por 0,5 cm / 1,5 cm por 0,5
cm / 1,0 cm por 1,0 cm
Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na
Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual: As peças pertencem ao acervo do Museu
Americano de História Natural, Nova York, Estados Unidos. As peças estão em
bom estado de conservação.
Descrição:
Conjunto de 12 contas de conchas alaranjadas com formato tubular. Cada peça
possui um orifício que a cruza longitudinalmente.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1934
222
50 Objeto: Jadeíta esférica polida
Material e técnica: Jadeíta polida
Tamanho e forma: Aproximadamente 5 cm de diâmetro
Dados do contexto original: Artefato encontrado dentro da urna menor
enterrada na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. Objeto em exibição. A peça apresenta algumas manchas em sua
superfície.
Descrição:
A peça é uma conta redonda de jadeíta polida, com um grande orifício circular.
Provavelmente faria parte de um conjunto de contas de pedras.
Referências Bibliográficas
Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120
Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de
Nova York, N 30.0/1943
223
51 Objeto: Faca de sílex
Material e técnica: Pedra sílex talhada
Tamanho e forma: A peça mede 3,8 cm por 9,8 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. O objeto apresenta pequena parte faltante em um dos lados de
sua base. Não possui indício de uso.
Descrição:
A peça é uma faca de sílex bifacial de fina espessura e base reta, que alterna as
cores café claro e café escuro. Há sinais de retoques por precisão nas bordas.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; SELLEN;
LOWE, 2009; DESMOND, 2009, p.120; Catálogo do Museu Americano de
História Natural de Nova York, N 30.0/1945-A
224
52 Objeto: Parte de faca de sílex
Material e técnica: Pedra sílex talhada
Tamanho e forma: A peça mede 5,0 cm por 3,5 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça possui sua extremidade superior faltante. Não há sinal
de uso.
Descrição:
A peça é um fragmento de uma faca de sílex bifacial de fina espessura, que alterna
as cores café claro e café escuro. O objeto é a parte da base da faca e há sinais de
retoques por precisão nas bordas.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1945-A
225
53 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,9 cm por 7,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não
há indício de uso
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1946
226
54 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 6,2 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não
há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de
História Natural de Nova York, N 30.0/1947
227
55 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,2 cm por 7,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta resquícios de pigmento vermelho. Não há
sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1948
228
56 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 7,1 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não
há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1949
229
57 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 7,1 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não
há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1950
230
58 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 7,2 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta dois retoques denticulados, um de cada lado da
peça. Base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1951
231
59 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 7,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1952
232
60 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 7,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1953
233
61 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 7,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho e
pontos pretos ao longo da peça. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1954
234
62 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 6,8 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1955
235
63 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 6,8 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1956
236
64 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 7,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1957
237
65 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,2 cm por 6,7 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1958
238
66 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 7,8 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta dois retoques denticulados, um de cada lado da
peça. Base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1959
239
67 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 6,2 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados. Base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1960
240
68 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 6,5 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho e
possui a extremidade superior quebrada. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados. Base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1961
241
69 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 6,8 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1962
242
70 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 6,9 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.
Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1963
243
71 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 5,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A peça apresenta um bom estado de conservação. Não há sinais
de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1964
244
72 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,1 cm por 5,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. O objeto apresenta alguns resquícios de material branco. Um
dos lados próximo à base apresenta uma pequena parte quebrada. Não há sinais
de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1965
245
73 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 5,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A base da peça possui uma parte faltante. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra verde. Apresenta base reta, pequenos retoques por precisão nas
bordas ao longo da peça.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1966
246
74 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,8 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,
Estados Unidos. A extremidade superior da peça possui uma pequena parte
faltante. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História
Natural de Nova York, N 30.0/1967
247
75 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,4 cm por 4,9 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto está
em ótimo estado de conservação. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas, base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 10-4-20/C5291A
248
76 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 5,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. Um dos lados
da base possui uma parte faltante. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas, base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 10-4-20/C5291B
249
77 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra quartzo alaranjada e avermelhada talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 4,4 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. A peça apresenta
resquícios de pigmentos vermelho. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra quartzo alaranjada e avermelhada, com parte esbranquiçada
também. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 10-67-20/C5401A
250
78 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra quartzo cinza talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,0 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto está
em ótimo estado de conservação. Não apresenta sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra quartzo cinza. Apresenta pequenos retoques por precisão nas
bordas, base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 10-67-20/C5401B
251
79 Objeto: Ponta de projétil
Material e técnica: Pedra verde talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,9 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto
apresenta uma parte faltante em um dos lados da base. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,
feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base
reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 42-20-30576
252
80 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 4,3 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto
apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 10-4-20/C5291A
253
81 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 4,5 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto
apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 10-4-20/C5291B
254
82 Objeto: Ponta de lança
Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada
Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,7 cm
Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do
chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.
Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça
pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto
apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não há sinais de uso.
Descrição:
A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita
de calcedônia branca. Apresenta dois retoques denticulados um de cada lado da
peça e base reta.
Referências Bibliográficas
Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159
Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,
2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;
COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,
N 10-4-20/C5291C
255
Anexos
Anexo 1 - (Mapa da área maia) - (Fonte: http://mayawoerterbuch.de) (Acessado em: 10 mar. 2016).
Anexo 2 - (Mapa da Mesoamérica) - (Fonte: FAMSI – Foundation for the Advancement of Mesoamerican
Studies) (Acessado em: 10 fev. 2016).
256
Anexo 3 - (A descoberta da estátua do chacmool. Augustus Le Plongeon aparece sentado em cima da peça.)
(Foto de Alice Dixon Le Plongeon, 1875) - (Acervo Getty Institute).
Anexo 4 - (O transporte da estátua chacmool em Chichén Itzá.) (Foto de Alice Dixon Le Plongeon, 1875)
(Acervo Getty Institute).
257
Anexo 5 - (Desenho do corte estratigráfico realizado durante as escavações da Plataforma de Vênus, Chichén
Itzá, 1883.) (Autor: Augustus Le Plongeon) (Desenho reproduzido por DESMOND; MESSENGER, 1988, p.95).
Anexo 6 - (Mapa do sítio de Chichén Itzá, 1952) (Fonte: Carnegie Institution of Washington).
258
Anexo 7 - (Mapa da Grande Nivelação de Chichén Itzá) (Fonte: SCHELE; MATHEWS, 1999, p.205).
Anexo 8 - (Plataforma das Águias e Jaguares, Chichén Itzá.) (Foto tirada por Daniel Grecco Pacheco, 2015).
259
Anexo 9 - (Mapa da Plataforma das Águias e Jaguares feito pelo programa AutoCad) (Cortesia do diretor do sítio
de Chichén Itzá, Marco Antonio Santos Ramirez).
Anexo 10 – (Planta da Plataforma das Águias e Jaguares feita por Jorge Acosta) (Fonte: ACOSTA, 1951, lâmina
número 1.)
260
Anexo 11 – (Trabalhos de restauro na Plataforma das Águias e Jaguares feitos por José Erosa Peniche e Eduardo
Martínez Cantón, década de 1930.) (Fonte: MARTÍNEZ CANTÓN, 1931)
Anexo 12 – (Conteúdo da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.) (Levantamento feito pelo autor.)
261
Anexo 13 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon após a descoberta do jaguar reclinado na Plataforma das
Águias e Jaguares, 1875.) (Acervo Getty Institute)
Anexo 14 – (Foto da retirada do chacmool com Alice Dixon Le Plongeon ao lado de um painel com a figura de
águia.) (Acervo Getty Institute)
262
Anexo 15 – (Gravura feita por Augustus Le Plongeon com a reconstrução da Plataforma das Águias e Jaguares e
a escultura do jaguar reclinado no topo.) (Acervo Getty Institute)
Anexo 16 – (Detalhe de desenho da comparação entre a escultura do jaguar reclinado e a esfinge egípcia. Artigo
de Alice Dixon Le Plongeon no jornal London Magazine de 21 de abril de 1910.) (Acervo Getty Institute)
263
Anexo 17 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon de um dos painéis de baixo-relevo com figura de águias,
1875.) (Acervo Getty Institute)
Anexo 18 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon de um dos painéis de baixo-relevo com figura de jaguar,
1875.) (Acervo Getty Institute)
264
Anexo 19 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon de um dos painéis de baixo-relevo com figura de guerreiros
reclinados, 1875.) (Acervo Getty Institute)
Anexo 20 – (Detalhes de fotos tomadas por Alfred P. Maudslay das placas de baixo-relevo e da estátua do jaguar
reclinado, 1889.) (Fotos alteradas do livro MAUDSLAY, 1889-1902, p.33)
265
Anexo 21 – (Peças líticas encontradas pelo casal Le Plongeon na oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.)
(Foto reproduzida por LE PLONGEON, 1900, p.159)
Anexo 22 – (Alice Dixon Le Plongeon e trabalhadores indígenas na Plataforma das Águias e Jaguares antes de
sua escavação, 1875.) (Acervo Getty Institute)
266
Anexo 23 – (Foto da águia da espécie Harpia harpyja.) (Fonte: https://www.peregrinefund.org/explore-raptors-
species/Harpy_Eagle) (Acessado em 25 jan. 2017)
Anexo 24 – (Detalhes de extração de coração em cena do mural da sala 3 de Bonampak.) (Foto editada do livro
MILLER; BRITTENHAM, 2013, p.135)
267
Anexo 25 – (Desenho de disco recuperado no Cenote Sagrado de Chichén Itzá que mostra uma cena de extração
de coração.) (Figura presente no livro GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.84.)
Anexo 26 – (Frisos que adornam a pirâmide do Templo dos Guerreros, com figuras de águias e jaguares
segurando corações humanos) (Figura presente no livro BAUDEZ, 2004, p.260)
268
Anexo 27 – (Foto de atlante e personagem reclinado com a cabeça móvel, Chichén Itzá.) (Fotos tiradas por
Daniel Grecco Pacheco, 2014.)
Anexo 28 – (Documento que registra a entrada da estátua do chacmool no Museo Nacional da Cidade do
México, 1877.) (Acervo Museo Nacional de Antropología, Mexico)
269
Anexo 29 – (Documento que registra o traslado da estátua do chacmool de Mérida para o Museo Nacional da
Cidade do México, 1877.) (Acervo Museo Nacional de Antropología, Mexico)
Anexo 30 – (Documento que registra as primeiras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal
Le Plongeon ao Museu Americano de História Natural de Nova York, 1910.) (Acervo Museu Americano de
História Natural, Nova York, EUA)
270
Anexo 31 – (Documento que registra as outras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal Le
Plongeon ao Museu Americano de História Natural de Nova York, 1911.) (Acervo Museu Americano de
História Natural, Nova York, EUA)
Anexo 32 – (Peça de jadeíta tubular usada por Alice Dixon Le Plongeon como broche.) (IN: TRIPP EVANS,
2004, p.138)
271
Anexo 33 – (Detalhe do dorso da escultura do jaguar reclinado.) (Foto tirada por Daniel Grecco Pacheco, 2016.)
Anexo 34 – (Adornos de olhos feitos de ouro decorados com serpentes emplumadas. Objeto recuperado no
Cenote Sagrado de Chichén Itzá.) (Figura presente no livro GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.80)
272
Anexo 35 – (Reconstituição da provável localização das peças da oferenda no momento de sua descoberta.)
(Desenho feito pelo autor com base em relatos de Alice Dixon Le Plongeon. IN: DESMOND, 2009, p.119)