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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DANIEL GRECCO PACHECO Peças que se movem, narrativas que se criam. A história da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá, México. Campinas 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DANIEL GRECCO PACHECO

Peças que se movem, narrativas que se criam. A história da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá, México.

Campinas

2017

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DANIEL GRECCO PACHECO

Peças que se movem, narrativas que se criam. A história da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá, México.

Dissertação apresentada ao Instituto de

Filosofia e Ciências Humanas da

Universidade Estadual de Campinas

como parte dos requisitos exigidos para a

obtenção do título de Mestre em História,

na área História da Arte.

Supervisor/Orientador: Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL

DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO

DANIEL GRECCO PACHECO E ORIENTADA PELO

PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI.

Campinas

2017

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A comissão julgadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação de Mestrado, composta pelos

Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 23 de março de 2017,

considerou o candidato Daniel Grecco Pacheco aprovado.

Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari

Prof. Dr. Alexandre Guida Navarro

Prof. Dr. Fernando Torres Londoño

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de

vida acadêmica do aluno.

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Dedico esse trabalho aos meus pais, Marcia e

Antonio Carlos, à minha família e à minha

querida Isa.

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Agradecimentos

Durante essa minha trajetória do mestrado contei com a presença e ajuda de muitas

pessoas que possibilitaram que o sonho de uma pesquisa sobre os povos indígenas

mesoamericanos se tornasse possível. Como parte fundamental deste processo começo

destacando o papel que o professor e amigo Fernando Torres Londoño teve durante a minha

formação de historiador. Foi a partir de suas apaixonadas aulas sobre América Pré-Colombiana

na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP que me despertou o interesse em

estudar as antigas culturas do continente americano. Isso também possibilitou a sequência de

minha carreira acadêmica na graduação com a elaboração de um projeto de Iniciação Científica

que seria agraciado com um prêmio de melhor trabalho na área. Essa conquista me abriu outras

portas como o primeiro contato com o professor Alexandre Guida Navarro, que teve um papel

fundamental para o meu ingresso neste programa de pós-graduação. Serei sempre grato por sua

generosidade e enorme ajuda. Na sequência tive o privilégio de ter como orientador o professor

Pedro Paulo Funari, que além de ser uma referência na área dos estudos de cultura material,

também se tornou um precioso amigo. Obrigado pelas inúmeras oportunidades, ajudas e

ensinamentos que tive durante esses anos de orientação. Agradeço também a Raquel Funari por

todo o carinho e amizade. Além deles, não poderia deixar de citar o papel fundamental na

construção desse projeto que teve o professor Adam Sellen que me ajudou a construir o meu

objeto de pesquisa e me acolheu gentilmente em meu estágio no México.

Diversos professores fizeram parte de minha trajetória, mas destaco o papel importante

que teve Claudia Valladão de Mattos Avolese, principalmente por seus incontáveis esforços

para o estabelecimento da área de pesquisa de Questões de Arte Não Europeia no programa de

pós-graduação da Unicamp. Além dela, gostaria de agradecer muito a ajuda e o carinho recebido

pelos professores Eduardo Natalino dos Santos, Leila Maria França e Amy Buono, além de uma

especial lembrança ao professor Edgar De Decca, do qual tive a honra de ser aluno em 2014 e

que nos fará sempre muita falta. Agradeço também aos diversos locais que me abrigaram e

ajudaram em minha trajetória no exterior, em especial à generosidade da amiga Ana

Hamerschlak, meus amigos Gui Bodi e Mayra, e todos os profissionais com quem eu tive

contato na Biblioteca Yucatanense, Museu Palácio Cantón, sítio de Chichén Itzá, Museu

Americano de História Natural, Museu Peabody, American Antiquarian Society, Getty

Institute, Universidad Nacional Autónoma de México, Universidad Autónoma de Yucatán e

um especial agradecimento ao Instituto Nacional de Antropología e Historia do México.

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Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ

pela bolsa de estudos concedida e ao Getty Institute pelo apoio incondicional que foram parte

fundamental dessa pesquisa. Destaco ainda um agradecimento especial aos meus amigos do

Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte da Unicamp - LAP/Unicamp, que me

acompanharam e brindaram três anos de bonitas amizades, Jefferson, Juliana, Cida, Filipe,

Tobias, Tami, Thiago, Natalia, Luciane, Guilherme e Patrícia. Meus amigos do Centro de

Estudos Mesoamericanos e Andinos da Universidade de São Paulo - CEMA/USP, Eduardo

Gorobets, Maria Luiza, Ana Cristina, Charles, Pedro e Marques. E minhas amigas e colegas da

linha de pesquisa, Sandra, Virgínia, Sabrina e Juliana.

Por fim, e seguramente os meus agradecimentos mais efusivos vão para os meus pais,

que sempre estiveram presentes com um apoio, carinho e um amor incondicional. Minha irmã

querida, Gi, que mesmo distante sempre está presente, e meus importantes e queridos amigos

que participaram dessa trajetória, em especial ao Fred Castelo Branco Teixeira. O meu

companheiro de longa data e irmão Fernando Pesce (Chino), que me acompanha desde a

PUC/SP e meus amigos mexicanos, Choca Weber, Roberto Velasco, amigo de diversas

“pláticas”, Alfredo e France que me acolheram de uma maneira muito carinhosa e afetuosa e

fizeram com que eu ganhasse uma nova família mexicana. Além do meu amigo Carlos Lazcano,

uma pessoa muito especial com a qual tive o prazer de fazer um estágio de campo e que se

tornou um amigo para toda a vida. Por fim, essa pesquisa de mestrado me deu talvez o maior

presente que uma pessoa pode receber dessa vida; um grande amor. Agradeço a minha querida

Isa por me acalmar, me incentivar e me oferecer todo o apoio, paciência, carinho e amor que

foram fundamentais durante esse tortuoso, mas inesquecível trajeto. Um agradecimento

especial também para toda a minha família e em particular a Antonio, Carol, João e Bela que

me receberam lindamente nos Estados Unidos durante a minha pesquisa de campo. Além da

minha querida tia Teresa que sempre me acompanhou durante o meu trajeto.

Para terminar dedico esse trabalho a todos os povos indígenas do continente americano

do passado e do presente. Em especial aos maias iucatecos que lutaram na Guerra de Castas,

aos maias chiapanecos por sua incansável luta contra o capitalismo selvagem do mundo

contemporâneo, e a todos os povos maias que seguem suas lutas cotidianas por vidas mais

dignas.

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Kili’ich Ixi’im - Sagrado Maíz

Eres masa en las manos de Dios.

En tu corazón cobró vida su aliento.

Por eso te invocamos.

Eres madre porque nos diste a luz.

Eres padre porque nos formaste.

Somos tus hijos porque glorificamos tu nombre.

Eres la carne de nuestro cuerpo.

Eres el alma de nuestro corazón.

Eres el aliento de nuestro pensamiento.

Nuestro ropaje es rojo porque naces al sol.

Nuestro ropaje es negro porque naces la noche.

Nuestro ropaje es blanco porque eres viento del norte.

Nuestro ropaje es amarillo porque eres viento del sur.

Los pájaros son tus guardianes por darles vida.

Los animales te celebran por darles alimento.

Los hombres te adoran por darles entendimiento.

Te vistes de tierra para nacer de nuevo.

Te vistes de viento cuando espigas.

Te vistes de nuestra carne cuando eres pozole.

Haces de nuestros hijos el futuro.

Haces de campesino un hombre.

Haces de tu mazorca una mujer.

En ti está nuestra esperanza.

En ti será vencida el hambre.

En ti morirá la langosta y el gusano artificial de Monsanto.

Renueva nuestro corazón y nuestra carne será nueva.

Renueva nuestro pensamiento y nuestro espíritu será nuevo.

Renueva nuestra tierra y serás nuevo.

Pedro Uc Be

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RESUMO

Esta pesquisa se propõe investigar as trajetórias e os sentidos da oferenda encontrada pelo

explorador Augustus Le Plongeon e sua esposa Alice Dixon Le Plongeon na Plataforma das

Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá, México, no final do século XIX. Ao realizar um

histórico das peças, procuramos relacionar os objetos com os manuscritos, fotos, e informações

recolhidas e produzidas por este casal de estudiosos numa abordagem que combine fontes de

arquivo e coleções arqueológicas, para recuperar o contexto arqueológico de tal descoberta e

assim propor uma interpretação da função e simbologia do conjunto de objetos que compunham

a oferenda.

Para isso, foram utilizados conceitos relacionados à prática ritual, ao ato de ofertar objetos a

entes não humanos, bem como a própria ritualidade dos artefatos, e os itinerários percorridos

por essas peças até a atualidade. O material foi trabalhado a partir da produção de um catálogo

com fichas individuais das peças para uma organização e classificação.

A partir desse trabalho com uma epistemologia construída pelo casal de exploradores no século

XIX foi possível recuperar histórias, usos e reusos das peças em seus itinerários, e por fim

propor uma análise dos sentidos antigos desse conjunto de objetos, ao perceber questões sociais

e da cosmovisão da sociedade de Chichén Itzá materializados nesses artefatos.

Palavras chave: Le Plongeon; Chichén Itzá; Plataforma das Águias e Jaguares; México; Maias

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ABSTRACT

This research proposes to investigate the trajectories and meanings of the offering found by the

explorer Augustus Le Plongeon and his wife Alice Dixon Le Plongeon in the Platform of the

Eagles and Jaguars in the site of Chichén Itzá, Mexico, at the end of the 19th century. In

proposing a history of the pieces, we try to relate the objects with the manuscripts, photos, and

information gathered and produced by these scholars in an approach that combines archival

sources and archaeological collections, to recover the archaeological context of such discovery

and thus make an interpretation of the function and symbology of the set of objects that made

up the offering.

We used concepts related to ritual practice, the act of offering objects to supernatural beings,

as well as the rituals of the artifacts themselves, and the itineraries covered by these pieces up

to the present time. The material was worked from the production of a catalog with individual

for an organization and classification of the objects.

From this work with an epistemology constructed by the couple of explorers in the

nineteenth century it was possible to recover stories, uses and reuses of the objects in their

itineraries, and finally propose an analysis of the ancient meanings of this set of objects, when

perceiving social issues and the worldview of Chichén Itzá society that materialized in these

artifacts.

Keywords: Le Plongeon; Chichén Itzá; Platform of Eagles and Jaguars; Mexico; Mayas

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RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo investigar los itinerarios y trayectos de los objetos de la ofrenda

descubierta por el explorador Augustus Le Plongeon y su esposa Alice Dixon Le Plongeon en

la Plataforma de las Águilas y Jaguares en el sitio de Chichén Itzá, México, a finales del siglo

XIX. Al proponer una historia de los objetos, tratamos de relacionar los artefactos con

manuscritos, fotos, e informaciones recolectadas y producidas por esta pareja de estudiosos

utilizando un enfoque que combine fuentes de archivo y colecciones arqueológicas para

recuperar el contexto arqueológico de este descubrimiento y así hacer una interpretación de la

función y el simbolismo del conjunto de objetos.

Para ello, se utilizaron los conceptos relacionados con la práctica ritual, el acto de ofrendar

objetos para los seres sobrenaturales, la propia ritualidad de los artefactos, además de las

trayectorias de los objetos desde su descubrimiento hasta la actualidad. El material fue trabajado

con la producción de un catálogo de registros individuales de piezas para una mejor

organización y clasificación.

A partir de este trabajo con una epistemología construida por la pareja de exploradores en el

siglo XIX se ha recuperado historias, usos y reutilizaciones de los artefactos en sus itinerarios,

para finalmente proponer una interpretación del uso antiguo de este conjunto de objetos,

dándose cuenta de las cuestiones sociales y cosmovisión de la sociedad de Chichén Itzá que se

han materializado en estos artefactos.

Palabras clave: Le Plongeon; Chichén Itzá; Plataforma de las Águilas y Jaguares; Mexico;

Mayas

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Divisão dos períodos mesoamericanos ........................................................ 22

Tabela 2 – Os diversos nomes dados por estudiosos à Plataforma das Águias e Jaguares de

Chichén Itzá .................................................................................................................... 74

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SUMÁRIO

Introdução ..................................................................................................................... 16

Palavras Iniciais .............................................................................................................. 17

A área Maia .................................................................................................................... 18

A área mesoamericana .................................................................................................... 19

Cronologia ...................................................................................................................... 20

Augustus e Alice Le Plongeon entram em cena ............................................................. 22

Capítulo 1: Discussões teóricas e metodológicas ........................................................ 24

1.1.O comportamento ritual ............................................................................................ 25

1.2. A oferenda ............................................................................................................... 29

1.3. As oferendas na Mesoamérica ................................................................................. 32

1.4. O espaço ritual e o espaço arquitetônico ................................................................. 33

1.5.O Contexto arqueológico .......................................................................................... 35

1.6. Os Tipos de depósitos .............................................................................................. 37

1.7.Os rituais de dedicação e terminação ....................................................................... 37

1.8. Por um itinerário dos objetos ................................................................................... 39

1.9. O desenvolvimento metodológico ........................................................................... 42

1.10. Por uma História das Coleções .............................................................................. 43

1.11. Os documentos do casal Le Plongeon ................................................................... 44

1.12. A fotografia como fonte histórica .......................................................................... 46

1.13. O estudo dos documentos ...................................................................................... 48

1.14. As peças da oferenda ............................................................................................. 48

1.15. O desenvolvimento da pesquisa ............................................................................ 49

Capítulo 2: O casal Le Plongeon e Chichén Itzá ....................................................... 50

2.1. Uma viagem pelo mundo acadêmico ...................................................................... 50

2.2. Vida e obra do casal Le Plongeon ........................................................................... 53

2.3. A cidade dos Itzás .................................................................................................... 58

2.4. A geografia do sítio ................................................................................................. 60

2.5. O assentamento ........................................................................................................ 60

2.6. Patrimônio mundial da UNESCO e Maravilha do Mundo Moderno ...................... 62

2.7. Uma história de muitos viajantes e estudos ............................................................. 63

2.8. A história de uma plataforma .................................................................................. 65

2.9. Dados e estudos sobre a Plataforma das Águias e Jaguares .................................... 65

2.10. A plataforma no tempo .......................................................................................... 66

2.11. Intervenções arqueológicas.................................................................................... 69

2.12. As plataformas no mundo mesoamericano ............................................................ 70

2.13. Uma plataforma, diversos nomes .......................................................................... 73

Capítulo 3: As trajetórias das peças da oferenda. Usos e reusos ............................. 75

3.1. A oferenda volta à luz .............................................................................................. 76

3.2. Um jaguar esquecido ............................................................................................... 79

3.3. O histórico dos itinerários do jaguar reclinado ........................................................ 81

3.4. Um jaguar ressignificado – a história da esfinge mexicana .................................... 83

3.5. Águias e Jaguares em painéis .................................................................................. 88

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3.6. As peças ................................................................................................................... 89

3.7. Os painéis viajam pelas fontes................................................................................. 90

3.8. Os painéis em movimento – usos e ressignificações ............................................... 94

3.9. O Rei Tigre – a glória do casal Le Plongeon ........................................................... 98

3.10. Uma peça e muitas interpretações ......................................................................... 98

3.11. Os itinerários e disputas do Rei Tigre de Le Plongeon ........................................ 101

3.12. A glória do Rei Tigre ............................................................................................ 104

3.13. A vitória do centralismo ....................................................................................... 108

3.14. As peças dispersas da oferenda ............................................................................ 109

3.15. Um histórico das peças ......................................................................................... 110

3.16. Breves notícias sobre os itinerários das peças dispersas ...................................... 112

3.17. Os artefatos móveis – líticos, contas de pedras e conchas .................................... 114

3.18. Considerações iniciais sobre as peças móveis ...................................................... 115

3.19. Os Itinerários das peças móveis – usos e reusos .................................................. 118

3.20. Palavras finais sobre o capítulo ............................................................................ 121

Capítulo 4: O recuperar das vozes esquecidas nas peças ........................................ 122

4.1. A construção de uma interpretação ........................................................................ 122

4.2. A Plataforma das Águias e Jaguares e seus objetos associados ............................. 123

4.3. A plataforma como uma expressão social .............................................................. 124

4.4. As decorações das fachadas – os guerreiros reclinados e a presença de Kukulcan 125

4.5. As Águias e Jaguares devoradores de corações...................................................... 127

4.6. A plataforma e sua espacialidade ........................................................................... 131

4.7. Esculturas como peças vivas .................................................................................. 135

4.8. O guerreiro reclinado .............................................................................................. 136

4.9. O nobre jaguar reclinado ........................................................................................ 137

4.10. Os líticos no mundo mesoamericano .................................................................... 138

4.11. Os líticos em ação – guerra e sacrifício no pensamento maia .............................. 139

4.12. Uma oferenda reunida .......................................................................................... 142

4.13. Vida e morte de um edifício ................................................................................. 142

4.14. Palavras finais sobre o capítulo ............................................................................ 147

Conclusão: Muitos finais e novos recomeços ............................................................ 148

Bibliografia ................................................................................................................... 150

O catálogo ..................................................................................................................... 171

Observações prévias ...................................................................................................... 171

Fichas ............................................................................................................................. 173

Anexos ........................................................................................................................... 255

1. Mapa da área maia ..................................................................................................... 255

2. Mapa da Mesoamérica ............................................................................................... 255

3. A descoberta da estátua do chacmool ........................................................................ 256

4. O transporte da estátua do chacmool em Chichén Itzá .............................................. 256

5. Desenho do corte estratigráfico realizado na Plataforma de Vênus .......................... 257

6. Mapa do sítio de Chichén Itzá ................................................................................... 257

7. Mapa da Grande Nivelação de Chichén Itzá ............................................................. 258

8. A Plataforma das Águias e Jaguares, Chichén Itzá ................................................... 258

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9. Mapa da Plataforma das Águias e Jaguares feito pelo programa AutoCad ............... 259

10. Planta da Plataforma das Águias e Jaguares feita por Jorge Acosta ....................... 259

11. Trabalhos de restauro na Plataforma das Águias e Jaguares, década de 1930 ........ 260

12. Conteúdo da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares .................................. 260

13. Foto da escultura do jaguar reclinado ...................................................................... 261

14. Foto da retirada do chacmool .................................................................................. 261

15. Gravura feita por Augustus Le Plongeon com a reconstrução da plataforma ......... 262

16. Desenho comparação esfinge egípcia e a escultura do jaguar reclinado ................. 262

17. Foto de um dos painéis de baixo-relevo com figura de águia ................................. 263

18. Foto de um dos painéis de baixo-relevo com figura de jaguar ................................ 263

19. Foto de um dos painéis de baixo-relevo com figura de guerreiros reclinados ........ 264

20. Foto de Alfred P. Maudslay de painéis de baixo-relevo e do jaguar reclinado ....... 264

21. Peças líticas encontradas na oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares .......... 265

22. Alice Dixon Le Plongeon e trabalhadores indígenas na Plataforma das Águias e Jaguares

antes de sua escavação ................................................................................................... 265

23. Foto da águia da espécie Harpia harpyja ................................................................ 266

24. Detalhes de extração de coração em cena do mural da sala 3 de Bonampak .......... 266

25. Desenho de disco com cena de extração de coração, Chichén Itzá ......................... 267

26. Frisos que adornam o Templo dos Guerreros, Chichén Itzá ................................... 267

27. Foto de atlante e personagem reclinado com a cabeça móvel, Chichén Itzá ........... 268

28. Documento da entrada do chacmool no Museo Nacional da Cidade do México .... 268

29. Documento do traslado do chacmool de Mérida para a Cidade do México ............ 269

30. Primeiras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal Le Plongeon ao

Museu Americano de História Natural de Nova York, 1910 ........................................ 269

31. Outras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal Le Plongeon ao

Museu Americano de História Natural de Nova York, 1911 ........................................ 270

32. Peça de jadeíta tubular usada por Alice Dixon Le Plongeon como broche ............. 270

33. Detalhe do dorso da escultura do jaguar reclinado .................................................. 277

34. Adornos de olhos feitos de ouro decorados com serpentes emplumadas ................ 271

35. Reconstituição com a provável localização das peças da oferenda no momento de sua

descoberta ...................................................................................................................... 272

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Introdução

Essa pesquisa de mestrado tem como principal objetivo estudar o contexto e os objetos

da oferenda encontrada pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares em

Chichén Itzá, México no século XIX, a partir do uso de diversas fontes como: documentos de

arquivo, periódicos, fotos, anotações, procuramos recuperar a trajetória dos objetos após a

escavação, bem como recuperar o contexto em que se deu esse trabalho. Mostraremos como

podemos ter acesso a informações antigas a partir de uma análise de um estudo realizado no

século XIX, e discutir os usos e ressignificações que os objetos sofreram após o seu

desterramento, e a partir dos itinerários percorridos. Ao longo dessa dissertação procuramos

mostrar como é possível trabalhar com a cultura material tendo como ponto de partida

elementos presentes numa epistemologia antiga. Ao fazer uso de anotações e estudos

desenvolvidos por um casal de arqueólogos do século XIX estudamos os objetos e seus diversos

itinerários, com a construção de uma rede, em que mapeamos os movimentos e usos das peças

no tempo e espaço. Por fim, apresentaremos também uma interpretação própria desse conjunto

de objetos e do local onde eles foram recuperados.

Essa investigação concentrou-se apenas nos objetos desenterrados pelo casal na

Plataforma das Águias e Jaguares. Durante os trabalhos desses exploradores em Chichén Itzá

outros locais foram estudados e objetos recuperados, como por exemplo a escavação feita na

Plataforma de Vênus em 1881. Com um contexto semelhante ao da outra plataforma, esse

conjunto de peças também foi disperso ao longo dos anos. Neste primeiro momento em nosso

trabalho de mestrado optamos por estudar apenas a Plataforma das Águias e Jaguares.

Pretendemos num estudo posterior nos debruçar sobre os trabalhos do casal Le Plongeon feitos

também na Plataforma de Vênus, já que acreditamos na possibilidade da existência de relações

entre as duas construções e objetos.

Ao longo dessa pesquisa contamos com bolsa CNPQ processo número: 134389/2014-

0, e realizamos três períodos de pesquisa no exterior. A primeira estada foi no final de 2015

durante a participação de um estágio no México com o arqueólogo, doutor e professor da

Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM, Jesús Carlos Lazcano Arce, como parte

do projeto El Hombre y sus recursos en el Valle Puebla-Tlaxcala, conduzido pelo Instituto de

Investigaciones Antropológicas da UNAM. Além disso, ficamos uma semana sob supervisão

do doutor e professor também da UNAM, unidade de Mérida, Centro Peninsular en

Humanidades y Ciencias Sociales – CEPHCIS, Adam Temple Sellen realizando pesquisa de

arquivo e reuniões de orientação. No ano de 2016 com o auxílio de um incentivo oferecido pelo

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Getty Institute dos Estados Unidos em conjunto com o programa de pós-graduação em História

da Arte da Unicamp, pela linha de pesquisa em Questões de Arte Não-Europeia, fizemos um

estágio para pesquisa de dois meses no México e Estados Unidos. Estivemos hospedados um

mês e meio na cidade de Mérida sob supervisão do Dr. Sellen onde realizamos trabalho de

arquivo, fotos de artefatos e da estrutura estudada em Chichén Itzá. Nos Estados Unidos

realizamos pesquisa e estudo dos artefatos e documentos da oferenda que estão no Museu

Americano de História Natural em Nova York, Museu Peabody da Universidade de Harvard

em Boston, e na biblioteca da American Antiquarian Society em Worcester. Já no mês de agosto

do mesmo ano obtivemos um financiamento junto ao Getty Institute para ficar um período de

vinte dias desenvolvendo pesquisas com documentos referentes a esse trabalho na cidade de

Los Angeles, Estados Unidos.

Essa dissertação de mestrado foi estruturada em duas partes. O primeiro, do qual faz

parte esse texto introdutório, conta ainda com um capítulo com os referenciais teóricos que

foram utilizados no objeto dessa pesquisa, um capítulo contextual que irá apresentar o sítio de

Chichén Itzá, uma breve história do casal Le Plongeon e informações sobre a Plataforma das

Águias e Jaguares. Além de um capítulo sobre os itinerários e trajetórias que as peças realizaram

após a descoberta do casal no século XIX, bem como seus usos e ressignificações. E por fim,

um capítulo que traz uma breve interpretação do conjunto das peças que formavam a oferenda

com a apresentação de uma ideia do seu possível significado dentro da sociedade antiga de

Chichén Itzá. Já a parte final irá apresentar um catálogo construído para organizar os objetos da

oferenda com questões técnicas sobre esse material, além de um anexo composto pelas imagens

que foram usadas para ilustrar ideias presentes no texto. Ao longo dessa dissertação optamos

por manter e utilizar a nomenclatura das construções do sítio de Chichén Itzá em língua

espanhola, exceto os artigos que antecedem os nomes. Ainda nessa introdução trataremos de

questões sobre o contexto dessa dissertação com uma breve apresentação sobre a área maia, a

área chamada de Mesoamérica, e a cronologia criada por estudiosos para estudá-la.

Palavras iniciais

Este projeto insere-se numa linha de pesquisa até então inédita no Brasil, recém-criada

pela Universidade Estadual de Campinas sob a direção da professora Claudia Valladão de

Mattos Avolese a partir do projeto Expanding Art History: teaching non-European art at

Unicamp, financiado pela Fundação Getty de Los Angeles, Estados Unidos, em parceria com a

Unicamp, como parte do programa Connecting Art Histories que aborda questões referentes a

uma História da Arte Não-Europeia. Um incentivo a novas pesquisas nesta área se insere na

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importância e necessidade da elaboração de uma História da Arte com uma nova abordagem

teórica e metodológica própria para o estudo de manifestações artísticas que pertençam a outras

culturas além da civilização europeia (GETTY, 2013, p.2; MATTOS, 2014, p.260). Uma nova

abordagem que questione as estruturas da disciplina calcada nas raízes clássicas ocidentais e

desenvolvida numa linearidade histórica e com conceitos estéticos evolucionistas

(PAZSTORY, 2005, p.9, p.192). O objetivo é construir uma contraposição de uma História da

Arte com seus diversos pontos conectados de maneira heterogênea e não linear, que leve em

conta as complexidades sociais locais de cada estrutura de elementos artísticos, com

ramificações em todos os seus sentidos com conexões e rupturas.

O questionamento da condução do campo desta disciplina e a divisão entre centro e

periferia fizeram-se presente nas últimas décadas com uma grande problematização de noções

da arte europeia. Um movimento desta natureza ocorre atualmente no Brasil e em países latino-

americanos onde se propõe um desenvolvimento de modelos próprios em contextos locais em

contrapartida às noções europeias, numa constante busca por um discurso mais plural

(MATTOS, 2014, p.259).

A área Maia

A região maia ocupa grande parte do oeste da área conhecida como Mesoamérica, é

composta pela existência de 29 línguas de etnias diferentes, grande parte ainda hoje falada no

território mexicano e guatemalteco. É um território que se estende por cerca de 342.000 km², e

abarca a Península de Iucatã no México, com os atuais estados de Campeche, Chiapas, Tabasco,

Quintana Roo e Iucatã, além da Guatemala, Belize, o oeste de El Salvador, e Honduras. Ainda

que seja uma cultura que apresente muitas características comuns, percebe-se uma grande

variação cultural, a começar pela própria divisão em três grandes zonas geográficas que se

caracterizam por formas especificas e trajetórias históricas singulares. A área maia é

tradicionalmente dividida em 1) Litoral do Pacífico, Terras altas da Guatemala e El Salvador;

2) terras baixas centrais e meridionais; 3) terras baixas do Norte (BAUDEZ, 2004, p.20) (ver

anexo 1).

Essas divisões também possuem diferentes características geográficas e climáticas,

sendo as terras baixas do Sul, caracterizadas quase que exclusivamente por uma floresta densa

e um clima tropical úmido, com importantes fluxos de rios. As terras baixas do norte de Iucatã

são caracterizadas por uma floresta mais baixa, clima seco, com uma grande formação de

calcário e praticamente desprovida de rios. Nessa área é comum a existência de fluxos de água

subterrâneos, com a formação de grandes olhos de água, subterrâneos ou não, provenientes de

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uma formação geológica cárstica. Já as terras altas da Guatemala e El Salvador são regiões de

grandes altitudes com clima frio. A parte do Litoral do Pacífico guatemalteco é caracterizado

por ser circundado por altas cadeias de montanhas vulcânicas com a ocorrência de alguns rios

e um clima quente e úmido.

A área mesoamericana

O conceito de Mesoamérica é algo que permeia toda essa pesquisa e, portanto, merece

uma atenção especial sobre a sua construção e utilização. Essa denominação foi criada e

utilizada pela primeira vez pelo antropólogo Paul Kirchhoff em 1943 para determinar uma

extensa área cultural que inclui a metade meridional do México toda a Guatemala, Belize, El

Salvador, parte ocidental de Honduras, costa pacífica da Nicarágua e noroeste da Costa Rica.

Uma região de grande extensão geográfica, com aproximadamente 906.000 Km, com uma larga

diversidade ecológica e geográfica (ver anexo 2). Essa área é assim chamada por apresentar

características culturais em comum, como elementos religiosos, constituição étnica, linguística,

o cultivo do milho e do cacau, além de elementos artísticos, arquitetônicos, ideias de concepção

de mundo, contagem do tempo, e calendário (KIRCHHOFF, 1960, pp.8-9; SANTOS, 2002,

p.40). Acredita-se que as populações desta área iniciaram um processo de sedentarização a

partir do ano 2000 a.C., até a aparição de complexas sociedades, séculos mais tarde.

Quanto aos aspectos religiosos, esta região também possui elementos em comum como

as cerimônias, o culto, a prática da adivinhação, uma grande dependência e importância nos

ciclos calendáricos, que combinam um ciclo solar de 365 dias e um ciclo cerimonial de 260

dias, os lugares de ritos, a pratica do sacrifício humano e do autossacrifício, as oferendas de

incenso, a prática do jogo de bola, a ideia da existência de diversas eras, ou idades anteriores, a

divisão espacial cosmológica em quatro direções e um centro, e em treze céus e nove

inframundos (BAUDEZ, 2004, p.17; SANTOS, 2002, p.41).

Outras ideias importantes presentes nas visões de mundo das diversas civilizações que

englobam a Mesoamérica é a noção de que o cosmos e o mundo foram formados a partir de

duas forças vitais em ação contínua, a existência de dualidades fundamentais, e a noção de que

o homem deve contribuir com o seu sangue para manter o funcionamento do universo

(SANTOS, 2002, p.41).

Ainda que este conceito de Mesoamérica seja amplamente utilizado pelos especialistas

e acadêmicos que estudam esta região, há que se notar que ele foi fruto de uma construção

histórica e é uma ferramenta analítica criada para estudos. Tal formulação não se esgota em sua

significação, sendo ainda alvo de intensos debates e críticas (MATOS MOCTEZUMA, 2000,

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p.95). É importante notar que tal percepção sobre a possível existência de uma área cultural

única presente nesta área tem raízes já durante o período colonial, quando o missionário

espanhol Frei Bartolomé de Las Casas, chamou a atenção para a semelhança entre povos da

Guatemala e de outras partes dessa região da América Central e México, que segundo ele,

seriam integrados por elementos culturais comuns (LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001a,

p.58).

Nas últimas décadas, entretanto, nota-se o surgimento de discussões acerca desse

conceito. A arqueóloga Lourdes Domínguez, por exemplo, chama a atenção para as frágeis

fronteiras delimitadas entre a Mesoamérica e o Caribe (DOMÍNGUEZ, comunicação pessoal,

2015), já que este último, assim como qualquer espaço humano, também seria um local

histórico e não meramente geográfico (DOMÍNGUEZ; FUNARI, 2012, p.13). O Caribe desde

tempos antigos foi um importante espaço de contato e comunicação entre os diversos povos da

região, e sua relação com a Mesoamérica seria algo impossível de mensurar a partir de uma

definição do estabelecimento de duas áreas culturais distintas.

Investigadores mexicanos como Eduardo Matos Moctezuma e Enrique Nalda

questionam, por exemplo, o procedimento de classificação a partir de traços culturais como

algo que desnaturaliza a cultura, pois acaba por desmembrar seus elementos como que se

estivessem vinculados entre si dentro de sistemas sociais. Além disso, segundo esses estudiosos,

os traços culturais que serviram de base para Kirchhoff seriam próprios apenas de determinadas

áreas, e que isso seria o reflexo de um momento especifico nas vésperas da Conquista e não

características de uma área cultural dinâmica como é a Mesoamérica (LÓPEZ AUSTIN;

LÓPEZ LUJÁN, 2001a, p.62). Mesmo levando em conta algumas dessas críticas e ressalvas

apresentadas anteriormente, a presente pesquisa fará uso do conceito de Mesoamérica tal como

proposto por Kirchhoff por acreditar que ainda é o termo analítico mais indicado para tratar as

civilizações antigas localizadas entre o México e parte da América Central.

Cronologia

Sob o ponto de vista cronológico, a história maia, bem como a história mesoamericana

foi dividida em três grandes períodos utilizados como ferramenta analítica para os estudos das

civilizações que fazem parte dessa área. Tal percepção sobre a necessidade da criação de uma

divisão temporal do passado indígena mexicano e centro-americano foi iniciada em princípios

do século XX no México quando os estudiosos passaram a se debruçar na construção de uma

cronologia sobre este passado. Ao colocar objetos e ruínas dentro de uma sequência genuína, e

a partir do uso de novas técnicas de escavação, foi possível dividir o longo passado indígena

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em estágios (BERNAL, 1980, p.162). Entretanto, é interessante ressaltarmos o que afirma

Alfredo López Austin e Leonardo López Luján (2001a) que uma divisão em períodos é sempre

resultado de uma construção histórica:

Toda periodización es un modelo de transformación histórica, fundado en un criterio

de clasificación de las sociedades que obedece a una forma dada de concebir la historia

(LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001a, p.68).

A utilização de tal cronologia construída para tratar a história mesoamericana acaba por

seguir critérios baseados em um desenvolvimento cultural evolutivo, mas também com um

caráter histórico global e étnico nacionalista. A mescla de ambas correntes é frequente nos

estudos mesoamericanos, ainda que muitos autores se preocupem por não atribuir a ela um

sentido evolutivo unilinear, mas sim levando em conta as variações dos limites cronológicos,

subdivisões e nomenclaturas de cada região (LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001a, p.69).

Durante a segunda metade do século XX diversos estudiosos da Mesoamérica

estabeleceram outras divisões temporais utilizando com base estudos cerâmicos, artísticos,

estratigráficos, datações de Carbono 14 e o deciframento de datas em inscrições antigas

(MATOS MOCTEZUMA, 2000, p.102). Ainda que haja uma extensa problematização do uso

atual da nomenclatura tradicional, Pré-Clássico, Clássico e Pós-Clássico nos estudos

mesoamericanos é convenção entre os especialistas usá-la para situar os eventos dentro da

trajetória histórica da região.

Com isso, a cronologia que decidimos adotar nesta dissertação segue a proposta

construída por alguns autores da área maia como Sabloff (1994), mas com algumas alterações

recentes propostas por Inomata, a partir de novos estudos sobre a antiguidade das primeiras

cidades maias na atual Guatemala (INOMATA; MACLELLAN, TRIADAN; MUNSON;

BURHAM; AOYAMA; NASU; PINZÓN; YONENOBU, 2015). Sendo assim, os períodos são

divididos em:

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Tabela 1 - Divisão dos períodos mesoamericanos (Fonte: SABLOFF, 1994; INOMATA; MACLELLAN,

TRIADAN; MUNSON; BURHAM; AOYAMA; NASU; PINZÓN; YONENOBU, 2015

No que se refere a questões cronológicas específicas do sítio de Chichén Itzá, decidimos

adotar nessa dissertação a interpretação que considera o auge desta cidade como pertencendo

ao período Clássico Terminal, tal qual como utilizada por alguns autores que têm se dedicado

a pesquisas nesse sítio, e que consideram a constituição de Chichén Itzá como sendo

essencialmente maia, a partir de dinâmicas locais (RINGLE, 1998; COBOS, 2001;

NAVARRO, 2007).

Augustus e Alice Le Plongeon entram em cena

Além da importância da inserção de tal pesquisa nas questões discutidas anteriormente,

este trabalho se justifica dentro do próprio campo dos estudos mesoamericanos, ao resgatar o

material produzido das pesquisas empreendidas por dois dos pioneiros nos estudos de Chichén

Itzá, os ingleses Augustus Le Plongeon e Alice Dixon Le Plongeon. Essa questão vai ao

encontro do que acreditamos ser o próprio papel do historiador, de revirar o passado em busca

de memórias e eventos esquecidos ou deixados de lado de maneira proposital numa constante

tentativa de dar voz ao que foi calado e silenciado.

Durante muito tempo o casal Le Plongeon foi colocado à margem no campo dos

primeiros estudos sobre a cultura maia. Ao se privilegiar outros precursores dessa área como

John Lloyd Stephens, Jean Frederick Waldeck, Alfred Maudslay, Edward Thompson, entre

outros, a literatura arqueológica maia e mesoamericana relegou Le Plongeon a uma posição

afastada. Tido como excêntrico e exótico por diferentes estudiosos, a importância dos estudos

e do legado de Le Plongeon nunca foi explorada de forma aprofundada. Ao considerar os

escritos e teorias desse explorador como testemunhos de seu tempo, esta pesquisa procurou dar

voz e fazer uso deste legado com a utilização e a análise dos escritos de campo, fotografias e

cartas produzidas pelo casal Le Plongeon durante as suas pesquisas em Chichén Itzá na década

Período Pré-Clássico

Inicia-se por volta de

2000 a.C. e termina em

225 d.C..

É subdividido em Inicial

(2000-1000 a.C.), Médio

(1000-350 a.C.), e Tardio

(350 a.C. a 225 d.C.)

Período Clássico

Abarca de 225 d.C. a 1050

d.C..

Também é subdividido em

Clássico Inicial (225-600

d.C.), Clássico Tardio

(600-800 d.C.), Clássico

Terminal (800-1050 d.C.).

Período Pós-Clássico

Começa em 1050 d.C. e

termina em 1525 d.C. com a

invasão e conquista espanhola.

Este período é subdividido em

Pós-Clássico Inicial (1050-

1200 d.C.), e Pós-Clássico

Tardio (1200-1525 d.C.)

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de 1870 para construir a trajetória dos objetos escavados, bem como propor uma interpretação

desse conjunto de artefatos descobertos na Plataforma das Águias e Jaguares.

Assim, a presente pesquisa também busca contribuir de alguma maneira para novas

abordagens sobre a História da Arte dos povos originários do nosso continente americano, e

fortalecer os estudos mesoamericanos dentro e fora do Brasil. Um campo muito fértil e que tem

se fortalecido nas últimas décadas.

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El Uno Chuen sacó de sí mismo su divinidad e hizo el

cielo y la tierra.

El Dos Eb hizo la primera escalera y bajó su divinidad

en medio del cielo, en medio del agua, donde no había

tierra, ni piedra, ni árbol.

El Tres Ben hizo todas las cosas, la muchedumbre de

las cosas, las cosas de los cielos, del mar y de la tierra.

El Cuatro Ix sucedió que se encontraron, inclinándose,

el cielo y la tierra.

El Cinco Men sucedió que se hizo la primera luz, donde

no había sol ni luna.

El Siete Caban nació por primera vez la tierra donde no

había nada para nosotros antiguamente.

[…] En el Trece Ak’bal sucedió que tomó agua,

humedeció la tierra y modeló el cuerpo del hombre.

Libros de Chilam Balam

Capítulo 1: Discussões teóricas e metodológicas

A base teórica desta pesquisa foi elaborada e apresentada em duas partes. A primeira

trata especificamente do conceito de oferenda que foi pensado para ser usado durante o estudo

das peças e a segunda parte, aborda o outro referencial adotado para entender as dinâmicas e

questões que envolvem a circulação dos objetos da oferenda. Pensamos que tal estrutura seja

de grande valia para alcançar os dois objetivos principais dessa investigação de mestrado. O

primeiro que é estudar as trajetórias e a história da circulação das peças da oferenda, buscando

recuperar seus contextos, elementos materializados, e relações que existiram durante esses

itinerários. E o segundo objetivo que é a tentativa de apontar uma interpretação desse conjunto

de objetos, com a construção de uma narrativa que os coloque de uma forma reunida uma vez

mais em sua história.

Na parte metodológica foi necessário pensar uma abordagem que lograsse abarcar as

naturezas diversas dos objetos que são o foco desta análise. Procuramos fazer uso de uma

metodologia que se utilizasse de documentos produzidos por Augustus Le Plongeon e Alice

Dixon Le Plongeon durante sua temporada de trabalho de campo em Chichén Itzá entre os anos

de 1875 e 1876, constituídos por fotografias, desenhos, notícias de jornais, documentos de

museus, um diário de campo, e cartas entre Le Plongeon e personagens que entraram em contato

com o casal nesse período de tempo. Tal método possibilitou levantar o maior número de

informações e dados sobre as peças da oferenda e suas trajetórias ao longo dos anos. Além

disso, para um estudo mais detalhado e a fim de organizar todo esse material foi elaborado um

catálogo com fichas individuais de cada objeto, que está disponível na parte final dessa

dissertação.

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1.1 O comportamento ritual

A noção de ritual foi primeiramente utilizada como um termo formal de análises durante

o século XIX para tentar identificar o que se acreditava ser uma categoria universal da

experiência humana (BELL, 2009, p.14). Mais tarde, antropólogos funcionalistas como

Bronislaw Malinowski, buscaram explorar ações rituais para analisar a sociedade e a natureza

do fenômeno social. Depois, com a corrente simbólica na Antropologia procurou-se analisar de

que maneira o estudo da conduta e o simbolismo ritual poderiam ser utilizados como

ferramentas para compreender a estrutura e os processos sociais (TURNER, 1988). A partir de

então diversas definições e elementos do que seria um ritual passaram a ser desenvolvidos e

definidos pelos especialistas da área da Antropologia e Ciências Sociais.

Segundo Jean Cazeneuve, um ritual pode ser assim definido como um conjunto de

práticas e ações codificadas, individuais ou coletivas, que podem ser cerimônias vinculadas a

crenças sobrenaturais, ou simples hábitos sociais, usos e costumes, e que ocorrem de maneira

repetida e marcada (CAZENEUVE, 1971, pp.16-19). Ou ainda, seria o momento de ação em

que se dá essa troca com as divindades, ou entidades não humanas, realizado num ato específico

e planejado que ocorre em determinados locais e em certas datas especiais (POLITIS;

MESSINEO; KAUFMANN; BARROS; ÁLVAREZ; DI PRADO; SCALISE, 2005, p.80).

Henry Hubert e Marcel Mauss, em artigo publicado em 1899, demonstraram como

atividades rituais sacralizam objetos, pessoas e eventos, ao mapeá-los como fenômenos

religiosos e ideias que derivam de atividades sociais (MAUSS; HUBERT, 2013). Essa inter-

relação entre sociedade e um ritual mostra-se presente durante a transmissão de conhecimento

e valores normativos necessários para a reprodução e sobrevivência de uma cultura, ocorrida

durante a performance social de uma atividade ritual. Ela combina ao mesmo tempo crenças

cosmológicas e padrões da ordem social, numa constante transmissão de ideias repetitivas e de

domínio público (LÓPEZ LUJÁN, 2005, p.33).

No campo da cultura material, estudiosos como o arqueólogo Collin Renfrew (1985) se

dedicaram a estudar questões relacionadas a práticas religiosas e de culto nas sociedades

antigas. Em alguns de seus trabalhos sobre este tema, Renfrew procurou estabelecer questões

que permeariam as manifestações dessas práticas na cultura material. Foi proposto uma

possibilidade de identificar padrões religiosos utilizados por determinada sociedade, onde

certas variáveis dos dados arqueológicos podem influir sobre a identificação de um culto e o

local de sua realização (RENFREW, 1985, p.12). Segundo Renfrew, um ritual envolveria a

produção de ações performáticas situadas num tempo específico, praticadas de maneira repetida

pelos atores envolvidos (RENFREW, 2010, p.9).

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Ao longo do tempo, teóricos da religião classificaram um rito em diferentes formas.

Jean Cazeneuve (1971, p.30) dividiu-os em ritos pragmáticos ou de controle (designados a

influenciar os fenômenos naturais), ritos comemorativos (representações míticas) e ritos de luto

(transformação dos mortos em deuses). Já Mauss e Hubert (2013) dividem os ritos sacrificiais

de acordo com o tempo de ocorrência, cerimônias que marcam determinadas mudanças na

trajetória de vida de um indivíduo, como nascimento, ritos de passagem, matrimônio, ou ritos

realizados de acordo com datas especificas no calendário e em diferentes épocas de períodos

temporais.

A atividade ritual na Mesoamérica, seguindo o conceito de tradição religiosa

desenvolvido pelo historiador Alfredo López Austin, (1996) pode ser considerada como um

todo organizado, já que são percebidos alguns elementos rituais comuns aos diversos povos da

região em diferentes temporalidades. E apesar desta área cultural ter sofrido intensas

transformações ao longo dos séculos, principalmente durante o processo da conquista

espanhola, haveria princípios básicos da estrutura religiosa, narrativas de criação de mundo e

formas de pensamentos integrados em uma mesma corrente histórica e que se caracterizam por

sua notável persistência através dos séculos (LÓPEZ AUSTIN, 2013, p. 192). Outros autores

como Alfred Tozzer (1957), Karl Taube (1993), Linda Schele e Mary Miller (1986) também

apontam para elementos compartilhados entre culturas com temporalidades diferentes dentro

da Mesoamérica. Ainda que tenha se mantido uma unidade essencial derivada de suas origens

comuns e da interação intensa entre os povos de toda a área, os habitantes da antiga

Mesoamérica reconheciam a diversidade de cultos particulares de cada região e inclusive de

cada cidade, povo e grupo social, mas as entendiam como peculiaridades dentro da mesma

ordem cósmica comum a todos eles (CHINCHILLA MAZARIEGOS, 2011, p.18).

Embora se reconheçam alguns elementos religiosos comuns a determinados povos da

região, recentemente alguns autores têm problematizado e questionado essa ideia de um núcleo

central e estático de uma religião mesoamericana. Pesquisadores como Ana Díaz (2015),

Federico Navarrete Linares (2015), Johannes Neurath (2015) têm levantado hipóteses de que

determinadas concepções cosmológicas mesoamericanas teriam sido mais fluídas e com

alterações contextuais nas diferentes temporalidades e espacialidades da região. A própria

divisão dicotômica entre humanos e não humanos adotada comumente para tratar questões

ligadas a atividades rituais na Mesomaérica, também tem sido problematizada, com a

apresentação de ideias de que essas relações seriam mais complexas, com conexões entre

pessoas e elementos de tempos e espaços diferentes.

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O arqueólogo Leonardo López Luján (2005) assim como outros autores, acreditam que

a religião mesoamericana atingia praticamente todos os aspectos da vida social dos povos que

viviam nesta área. Ela regularia os elementos do cotidiano, desde os atos mais insignificantes

do dia-a-dia, até as relações existentes dentro de diferentes entidades políticas (THOMPSON,

1970, p.161; DE LA GARZA, 2002, p.10). Teria sido uma religião que se desenvolveu, se

tornou forte e foi dogmatizada em proporção direta ao crescimento da complexidade social e

organização governamental.

Um dos elementos que serviam como base para essa estrutura religiosa era a crença num

constante e direto relacionamento entre humanos e não humanos (LÓPEZ LUJÁN, 2005, p.31).

De acordo com conceitos da religião mesoamericana, os seres divinos seriam onipresentes no

cosmos e se manifestavam em todos os processos da natureza como sendo forças heterogêneas

em conflito. Essas forças eram tidas como energias sagradas capazes de manifestar-se em seres

e fenômenos naturais (DE LA GARZA, 2002, p.9). Elas foram pensadas como sendo capazes

de se dividir e se fundir entre si. Uma das mais importantes formas de ação desses seres eram

suas aparições no mundo como forças do tempo (LÓPEZ AUSTIN, 2013, p.190).

Acredita-se que a concepção de tempo era cíclica e havia uma visão de universo segundo

a qual este estava dividido em três níveis verticais e horizontalmente em quatro pontos cardeais,

com o centro compondo a quinta direção. Entre os maias, acreditava-se que cada um desses

pontos era associado a uma cor, vermelho-leste, branco-norte, preto-oeste, amarelo-sul, uma

árvore, ceiba, em cada ponto e uma no eixo do mundo que marcava o centro. Além disso, seres

sobrenaturais eram relacionados aos pontos cardeais, como os bacabes, carregadores e

ordenadores do mundo nos diversos ciclos cosmogônicos de criação e destruição, e os chaacs,

deuses da chuva, associados a cada uma dessas direções (BAUDEZ, 2004, p.382; LÓPEZ

AUSTIN, 2001, p.250; DE LA GARZA, 2002, p.69). Segundo a religião mesoamericana, para

garantir o funcionamento adequado do universo era necessário a prática de ritos em escala

microcósmica que teriam repercussões sobre o macrocosmo. Isso se dava em espaços criados

na arquitetura das cidades, ou locais da natureza como paisagens rituais. Os esquemas espaciais

das cidades e dos conjuntos arquitetônicos, sua planificação nos mostra a construção de cenários

que representavam o macrocosmo para a prática de rituais (BAUDEZ, 2004, p.196). A função

fundamental dos ritos mesoamericanos era a de assegurar o funcionamento adequado do

universo, regulando simultaneamente o tempo e o espaço (BAUDEZ, 2004, p.197; LÓPEZ

AUSTIN, 2001, p.237). Dentre as práticas religiosas mais comuns no mundo mesoamericano,

estavam os ritos de passagem, autossacrifícios, sacrifícios humanos, e as oferendas às

divindades.

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Outras duas características apontadas por estudiosos sobre a religião maia são de grande

importância para o prosseguimento deste trabalho. A primeira diz respeito à presença constante

que elementos religiosos tiveram dentro da arte. As manifestações artísticas eram um local

propício para a exibição de conceitos sobre os cosmos, figuras divinas, ritos e personagens

religiosos. Uma de suas principais características era o emprego de temas que envolviam a ação

humana e não humana, como poder, legitimidade e cosmovisão através de símbolos largamente

compartilhados com formas que alternavam modos de representação realísticos e conceituais

(STONE; ZENDER, 2011; PASZTORY, 2001). Ou como nos diz Beatriz de La Fuente:

Así, por médio de las expresiones plásticas enfrentamos variadas cuestiones en íntima

relación con los conceptos acerca del cosmos: las maneras y formas en que se percibía

al universo, cómo estaba ordenado y dividido, quiénes ocupaban los sectores, cómo

se vinculaban las partes y el todo (DE LA FUENTE, 2002, p. 139).

Além disso, era uma arte com um caráter público, monumental e propagandístico que

cumpria essa função ritual. Muitas de suas obras tinham uma especificidade relacionada com o

sitio onde se encontravam tanto por terem sido pensadas para um espaço arquitetônico

particular, como por terem sido elaboradas dentro de uma escola artística regional específica

(SCHELE; MILLER, 1986, p.33). Dessa forma, com base nos estudos sobre a arte maia é

possível ter contato com as crenças, elementos e concepções religiosas presentes na

cosmovisão. Esses registros abrangem desde artes plásticas, arquitetura, esculturas, até pintura

mural e objetos portáteis.

Uma outra questão a ser ressaltada é a relação entre a religião e o poder dentro da

sociedade maia antiga. Partindo da ideia de que a religião atingia a todos os aspectos da vida

social, nota-se um grande e extenso uso de elementos religiosos por parte dos governantes e da

elite. Segundo Ciudad Ruiz, esse aspecto foi largamente explorado pelos dirigentes das cidades

maias:

[...] la manipulación del subconsciente colectivo por parte de los dirigentes sirvió para

que éstos sancionaran la jerarquización social y el acceso desigual a la riqueza

mediante la reinterpretación a su favor de los principales conceptos cosmológicos e

ideológicos que compartía toda la sociedad (CIUDAD RUIZ, 2002, p.195).

Essa conexão entre religião e poder teria estabelecido suas raízes durante o Período Pré-

Clássico e se aprofundado de maneira mais explícita durante o Período Clássico, quando se nota

presente em grande parte das manifestações culturais associadas à elite dirigente das cidades.

Essas manifestações do religioso eram percebidas de maneira evidente nos centros das grandes

cidades, decoração e dedicação de monumentos, além de tumbas e oferendas. As relações entre

os governantes e os deuses era algo muito estreito, com uma constante associação e construção

idearia dos dirigentes que buscavam associar-se a divindades presentes na cosmovisão maia,

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com práticas de incorporação e personificação dessas entidades nos próprios governantes

(CIUDAD RUIZ, 2002, p.208; MILBRATH, 1999, p.11). Para isso era comum a realização de

complexas cerimônias com reatualizações de antigas narrativas de criação humana e não

humana, além de uma tentativa constante de contatos com os diferentes seres que compunham

o mundo mesoamericano. Um desses contatos era feito através da colocação de oferendas e

depósitos em locais públicos e privados.

1.2. A oferenda

Seguindo uma bibliografia que se preocupa em estudar as dimensões sociológicas e

históricas das religiões temos diversos autores que trabalharam com o conceito de oferenda a

partir da ideia de que este ato permitiria um dos maiores desejos dos seres-humanos: entrar em

contato com os seres divinos (CAZENUEVE, 1971; MAUSS, 2003; LEACH, 1978; LÓPEZ

LUJÁN, 2005; BAAL, 1976; NAGAO, 1985). Segundo o verbete escrito pelo arqueólogo

Leonardo López Luján na The Oxford Encyclopedia of Mesoamerican Cultures. The

civilizations of Mexico and Central America. Vol.2. (CARRASCO, 2001, pp.403-404) as

oferendas seriam “o resultado tangível de atos individuais ou coletivos de um caráter simbólico

que são repetidas de acordo com regras invariáveis e que alcançam efeitos que são pelo menos

em parte, de uma natureza extra empírica” (LÓPEZ LUJÁN, 2001, p.403).

Em termos específicos, esses conjuntos rituais eram doações feitas com o propósito de

estabelecer uma comunicação e troca com o sobrenatural. Desta forma, uma oferenda seria a

“doação ou destruição de uma posse preciosa que serve para propiciar ou render homenagem

ao sobrenatural, sendo que ele mesmo se torna sagrado no ato da dedicação” (NAGAO, 1985,

p.1). Só que esse ato de doação não é algo livre ou involuntário. Para Marcel Mauss (2003), o

ato de ofertar envolveria três obrigações subsequentes; dar, aceitar e retribuir com a existência

de um conteúdo contratual de uma oferenda. Com sacrifícios e oferendas as pessoas pagam às

divindades seus pedidos para as suas necessidades mais elementares e variadas. O sacrifício

seria um dever e o sacrificante se privaria de algum elemento importante, às vezes da própria

vida, para receber algo sagrado em troca num ato de entrega que deveria ser correspondido.

Segundo Mauss, essa troca seria constituída sempre por uma relação desigual tendo em vista a

diferença de dimensões entre os seres humanos e os deuses. Estes dariam algo grande em troca

de pequenas doações dos humanos (MAUSS, 2003, p.14).

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López Austin (2013) investiga a aplicação dessas leis na religião mesoamericana usando

também o próprio léxico dos antigos nahuas1, ao mostrar que alguns ritos sacrificiais tinham

como propósito imolar as vítimas em troca de chuvas, colheitas, saúde e vitorias. Os homens

sacrificados nestas cerimônias recebiam o nome de nextlahualtin, na língua nahuatl. Palavra

esta que teria como significado a ideia de “os pagamentos”. Neste tipo de ocasião os seres

humanos entregavam seu bem mais precioso, a própria vida, e com o ato ritual pretendiam

estabelecer um vínculo que obrigava os deuses a retribuir o bem recebido (LÓPEZ AUSTIN,

2013, p.190). As oferendas representariam assim a necessidade que tinham essas divindades de

uma colaboração efetiva por parte dos homens e a possibilidade de alcançar o outro mundo

através delas, como uma espécie de ponte entre os mundos, terrestre e divino. Desta forma,

segundo López Austin, (2013, p.190) o estudo das oferendas seria uma forma para encontrar as

características que os homens atribuíam aos distintos deuses como uma via para a compreensão

das mensagens que lhes dirigiam. Mensagens estas que passariam por uma intervenção dos

participantes para alterá-las e moldá-las para que ficassem inteligíveis aos deuses a partir do

estabelecimento de um sistema de comunicação entre as duas partes. Uma ideia também

presente no pensamento do antropólogo Edmund Leach, que interpreta uma oferenda a partir

de uma abordagem semiótica.

Para Leach, uma oferenda possuiria uma estrutura análoga à linguagem verbal, com

discursos endereçados ao sobrenatural, divididos em elementos similares a parágrafos, frases,

palavras e silabas. Esses elementos atuariam como metáforas ou metonímias baseadas em

códigos específicos (linguístico, coreográfico, gesticular, musical, etc.) como partes integrantes

de um discurso. (LEACH, 1978, p.49). Neste sentido, López Luján em seu importante estudo

sobre as oferendas mexicas encontradas durante as escavações do Projeto do Templo Mayor do

sitio de Tenochtitlan (2005), utiliza muitos dos conceitos apresentados por Leach (1978) para

fazer uma interpretação semiótica desses conjuntos de objetos. Para ele, os elementos das

oferendas em conjunto fornecem informações de como a imagem deve ser lida e de seus

sentidos de leitura (LÓPEZ LUJÁN, 2005).

Segundo López Luján, a cerimônia ritual também deveria ser comparada com outras

variações do mesmo complexo significante produzido pela mesma visão de mundo e uma

tradição compartilhada. Elementos como materiais pictográficos, esculturais e materiais

1 Povos originários do norte do México que migraram para o sul e se estabeleceram principalmente na região do

Centro do México, por volta do século X d.C.. Era um grupo que se caracterizava pelo uso comum da língua

nahuatl, além de preceitos religiosos e cosmovisão. Dentre eles estavam os toltecas, que foram os primeiros nahuas

a adentrar a região, e posteriormente os astecas ou mexicas que viriam a se estabelecer no Vale do México no

século XIII (TAGGART, 2001, p.359; SANTOS, 2002, p.76).

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narrativos, seriam parte de um complexo de significação relativamente unificado, no qual

possíveis correlações entre eles poderiam nos proporcionar um entendimento aumentado para

decodificar a linguagem das oferendas. Essa ideia desenvolvida por López Luján de analisar as

oferendas de acordo com um conceito de longa duração da tradição ritual, crenças religiosas e

cosmovisão, vai de encontro com o proposto por López Austin (1996) da existência de uma

tradição religiosa mesoamericana.

Ainda que proponha uma interpretação baseada na semiótica ao procurar em toda

oferenda o seu sistema de comunicação, López Luján também destaca a importância do

contexto histórico e arqueológico para uma interpretação deste conjunto ritual e que um estudo

de uma oferenda deve ir além de uma simples análise de seus conteúdos (LÓPEZ LUJÁN,

2005, p.113). Segundo ele, alguns objetos possuem múltiplos valores semânticos, cada um

expresso de maneira diferente e dependente do contexto o qual ele foi encontrado. Desta forma,

podemos perceber que cada oferenda deve ser analisada como sendo parte de um complexo de

relações sociais regulamentados e expressados num ato ritual dentro de um quadro de uma

religião especifica e de um contexto específico.

Ao trabalhar com a oferenda encontrada na Plataforma das Águias e Jaguares,

pretendemos levar em conta uma análise simbólica dos objetos e os tipos de mensagem que

poderiam existir a partir da união e da colocação de tais objetos juntos num conjunto

organizado. Entretanto, propomos algo que vai além da questão simbólica dos próprios objetos.

Ressaltamos a importância de levar em conta o contexto específico destes objetos procurando

também estabelecer uma história deposicional, tal como foi proposta por William H. Walker

(2000, p.143), como algo primordial para se entender as atividades rituais de antigas sociedades.

Ao verificar se os edifícios onde foram encontrados tais objetos passaram por diferentes

episódios de reconstrução, remodelação ou abandono, levantando uma perspectiva de traçar

uma história de vida do próprio edifício (WALKER, 2000, p.136) pretende-se dar uma ênfase

na relação entre o objeto e o edifício, numa análise detalhada do contexto arqueológico de tais

peças.

A Arqueologia simbólica e estrutural que teve como característica uma virada para o

texto nos anos de 1980, tratou a interpretação de depósitos rituais como sendo afirmações

materiais e ou códigos através dos quais estruturas simbólicas poderiam ser lidas (POLLARD,

2008, p.45). Segundo alguns autores, o simbólico seria uma dimensão essencial para a prática

social, nos quais as ações seriam constituídas por formas e categorias com significados e

sentidos próprios, fundamentais para a constituição social (SHANKS; TILLEY, 1987, p.74). A

deposição foi vista como um processo pelo qual o significado e o sentido situavam-se e

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comunicavam-se, em que objetos pertencentes a depósitos atuavam como significantes de

conceitos complexos, como a relação entre os domínios humanos e não humanos. Entretanto,

segundo Joshua Pollard, esta forma de compreender o mundo dos objetos em termos apenas

simbólicos poderia ser vista como algo limitado, já que não daria conta de explicar a totalidade

do seu formato e contexto. Sendo assim, entendimentos mais diversificados da materialidade

foram sendo desenvolvidos nos quais a constituição física das coisas, sua biografia, ontologia,

e característica performática tomaram o centro da discussão (POLLARD, 2008, p.46).

Uma abordagem essencialmente semiótica do estudo de uma oferenda também se

mostra problemática em casos de objetos que se encontram fora de seus contextos originais.

Como é o caso da oferenda a ser analisada nesta pesquisa. Os objetos encontrados pelo casal

Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares estão dispersos e mesmo com os registros

recuperados do momento da escavação, não há informação suficiente para fazer uma

interpretação semiótica das peças em seu local de origem deposicional. Neste caso, procuramos

reconstruir o contexto fazendo uso das informações disponíveis, como os registros de campo, e

fotos, estudo do histórico da própria plataforma, informações sobre a disposição e estratigrafia

dos objetos a partir dos relatos feitos por Le Plongeon, e os comportamentos rituais dos maias

do período Clássico Terminal para tentar construir uma interpretação da função e sentido

daquele conjunto de objetos.

1.3. As oferendas na Mesoamérica

Durante toda a história das civilizações mesoamericanas foi possível identificar uma

grande riqueza de variedade de oferendas encontradas. As mais antigas datam do período Pré-

Clássico Inicial (2000-1000 a.C.) e geralmente são constituídas por estatuetas antropomórficas,

vasos cerâmicos depositados em preenchimentos de construções. No período Pré-Clássico

Médio (1000-350 a.C.) uma mudança radical ocorreu com o progressivo aumento da

complexidade social e consequentemente com a construção dos primeiros centros-cívicos-

cerimoniais. Neste momento nota-se um aumento acentuado na quantidade e qualidade das

oferendas oferecidas aos seres não humanos. Ainda que possuam certas diferenças ao longo do

tempo e espaço existem alguns padrões comuns de oferendas compartilhadas por diversas

sociedades mesoamericanas. Semelhanças quanto aos locais de depósitos, com características

físicas comuns, posição dos objetos em relação à arquitetura, e também quanto à natureza da

característica desses elementos. Artefatos que evocam simbolismos poderosos, como minerais,

(pedras de cristais, quartzo, pedras verdes, estalactites), plantas (flores, sementes, espinhos),

animais, e seres humanos. Eles também continham objetos semipreciosos, cerâmica, metal,

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concha, osso, tecido, madeira, e outros materiais. Ornamentos, vasos, imagens divinas, e

instrumentos de sacrifício e autossacrifício eram muito comuns também (BAUDEZ, 2004,

p.214; LÓPEZ LUJÁN, 2001, p.403). Todos esses elementos que eram depositados em

oferendas, além de sua função, e de seu possível valor estético, tinham um grande valor

simbólico e desempenhavam um papel fundamental dentro da estrutura do rito (BAUDEZ,

2004, p.215).

As oferendas mesoamericanas costumavam ser enterradas em locais considerados

sagrados para o propósito de comemorações ou consagrações de monumentos, construções,

além de eventos calendáricos para homenagear divindades, abandono sistemático, ou

reconstruções de templos e monumentos. Os locais de depósitos também obedeciam a alguns

padrões e eram considerados áreas de fronteira com o mundo sobrenatural. Esses locais

incluíam características geográficas variadas como, topos de montanhas, cavernas, cenotes,

outros diferentes corpos de água, além de locais pertencentes ao espaço urbano das cidades

como praças, avenidas, aquedutos, edifícios religiosos, templos, campos de jogo de bola,

esculturas monumentais, estelas, altares, tronos, e habitações, palácios, residências urbanas, e

casas rurais (LÓPEZ LUJÁN, 2001, p.403).

Outro padrão recorrente diz respeito à posição das oferendas em relação à arquitetura.

Elas costumavam ser enterradas no centro, nas esquinas, e ao longo dos eixos principais das

construções (JOYCE, 1992). Eram comuns também nas entradas, no centro de quartos, bem

como no pé de escadarias, e no topo de pirâmides. Geralmente as oferendas eram preparadas

em ocasiões especiais da vida social, como a construção, renovação, consagração, e fechamento

de importantes edifícios, a inauguração e reutilização de importantes monumentos escultóricos,

o final de grandes ciclos de tempo, ritos de passagem, vitórias militares, crises econômicas e

sociais, e catástrofes naturais. Nessas ocasiões eram usados não apenas materiais perecíveis,

mas também uma grande gama de objetos, matérias-primas, organismos biológicos, e itens

manufaturados (LOPÉZ LUJÁN, 2001, p.404).

1.4. O espaço ritual e o espaço arquitetônico

Outro conceito a ser trabalhado e que possui estreita relação com a atividade ritual é a

ideia de espaço ritual. Segundo Edmund Leach (1978), existem três componentes espaciais em

qualquer cenário próprio para a prática ritual. O primeiro seria o próprio local dotado de uma

importância simbólica, o segundo o local onde a maioria dos ritos acontece e o terceiro a zona

ocupada pelos espectadores participantes de tal cerimônia.

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Na cosmovisão mesoamericana há vários exemplos de zonas liminares onde os humanos

podem entrar em contato com os deuses, como lagos, cavernas, montanhas e construções feitas

pelo homem (LÓPEZ LUJÁN, 2005, p.37; DE LA GARZA, 2002, p.55). Essas construções

como os templos eram considerados locais sagrados na Mesoamérica, já que este era visto como

um edifício que tendia a replicar e reproduzir as zonas liminares da natureza. Para um melhor

entendimento das dimensões das práticas que eram realizadas no local que faz parte dos estudos

dessa pesquisa acreditamos que uma reflexão sobre a questão da espacialidade dessas

construções seja de fundamental importância.

Para isso foram utilizados alguns autores que consideram a Arquitetura como uma

expressão de elementos cognitivos, que interpretam os espaços arquitetônicos como sendo

pensados e planejados de acordo com as concepções culturais de cada sociedade antes de serem

edificados (PARKER-PEARSON; RICHARDS, 1994, p.9; ANDREWS, 1975; NORBERG-

SCHULZ, 1980). O espaço seria como uma construção cultural e o seu significado obtido a

partir de práticas sociais em momentos específicos (NORBERG-SCHULZ, 1980). Isso

desempenharia um importante papel na cidade, já que o espaço pode ser definido como um

símbolo e um meio da arquitetura simbólica. Segundo Alexandre Navarro (2012, p.33), a

imagem tem um papel decisivo na função de humanizar um espaço, pois seria a materialização

de uma atividade social da cultura que a concebeu.

A própria noção de espaço tem sido constantemente rediscutida, a partir de uma nova

abordagem que leve em conta uma percepção de questões sociais materializadas no espaço que

passa a ser pensado como algo estritamente vinculado com o cultural. Um organismo dinâmico

e em constantes alterações históricas e políticas, além de possibilitar uma re-compatibilização

entre natureza e cultura (CRIADO BOADO, 1991, p.12). A artificialidade do ambiente

construído seria também um próprio microcosmo da sociedade e uma ferramenta para a

compreensão da estrutura social. Assim sendo, esse espaço criado refletiria questões sociais e

cosmológicas, conceitos do universo de uma determinada sociedade. Segundo Cristian

Norberg-Schulz (1980), a relação entre os seres-humanos está enraizada no espaço existencial,

a partir de uma necessidade de colher relações vitais no mundo circundante para dar sentido e

ordem a um mundo de eventos e ações. Além disso, a Arquitetura é antes de tudo um espaço

entendido não somente como um meio físico, mas também como a materialização de uma ideia,

um saber, cria ordem dentro da sociedade, e se configura em um eficiente mecanismo para a

produção de sentido, exibição, controle e orientação das intenções (CRIADO BOADO, 2015,

p.6, p.25).

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Além da questão simbólica e uma manifestação artística, a Arquitetura também se

apresenta como uma solução para o cotidiano social. Um reflexo de necessidades funcionais,

conceitos espaciais, tradições históricas, cosmovisão, além de fatores práticos como a

disponibilidade de matéria prima do meio-ambiente para tal produção. O estudo da Plataforma

das Águias e Jaguares levou em conta a sua localização espacial na grande praça da cidade de

Chichén Itzá da parte norte da cidade, conhecida como a Grande Nivelação, e suas relações

com as construções que compõem esse espaço. Essas questões serão aprofundadas mais adiante

ao longo dessa dissertação.

1.5. O Contexto arqueológico

Para se analisar este conjunto de objetos unidos por um enterramento, se faz necessário

a recuperação do contexto arqueológico para um melhor entendimento da função simbólica e

funcional dos objetos que serão estudados. Levando em conta que uma leitura desses resquícios

materiais deva ser entendida como algo a ser interpretado pelo arqueólogo e não como uma

fonte de dados ou fatos em estado bruto e detentores de uma verdade absoluta. (VOSS, 2009,

p.20; FUNARI, 2003, p.33).

Além disso, ao considerar os objetos não apenas como um indicador de relações sociais,

mas também como elementos que atuam como direcionadores e mediadores das atividades

humanas percebe-se a necessidade de uma análise do contexto do artefato, seu arranjo, e

associação com outros itens encontrados em conjunto para a construção de uma interpretação

de tal depósito (LUCERO, 2008, p.189). De acordo com autores como Ian Hodder e Scott

Hutson (2003), é necessário procurar estabelecer o significado em contextos históricos

particulares, mas sempre levando em conta que toda tentativa de reconstrução cultural do

passado, pressupõe e estabelece uma relação com significados subjetivos para os determinados

contextos históricos. A compreensão do contexto pode ir além de um achado, mas também o

estudo do contexto de uma estrutura, construção, ou resto orgânico. O contexto de um objeto

consiste em seu nível imediato (o material que o rodeia, em geral, algum tipo de sedimento),

sua situação (a posição horizontal, e vertical dentro do nível), e sua associação a outras

descobertas (a aparição conjunta de outros restos arqueológicos, em geral no mesmo nível).

Desde o estabelecimento da Arqueologia moderna com os primeiros estudos que levaram a

cabo uma análise de tal natureza, o contexto ganhou cada vez mais importância em atividades

para identificar e registrar de maneira adequada as associações existentes entre os restos de um

depósito (RENFREW; BAHN, 1998, p.44).

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Com a corrente Pós-processual da Arqueologia, a partir dos anos de 1980, o contexto

ganhou ainda mais importância e passou a ser visto como um elemento chave na explicação do

significado do artefato, já que um mesmo objeto pode ser interpretado de maneira diversa a

partir de posições de enterramento, e associações com outros objetos, construções ou matéria

orgânica diferentes (JOHNSON, 2010, p.110). Segundo Hodder e Hutson, o objeto não diria

nada por ele próprio, mas sim dentro de um contexto especifico, “Archaeology is concerned

with finding objects in layers and other contexts (rooms, sites, pits, burials) so that their date

and meaning can be interpreted.” (HODDER; HUTSON, 2003, p.4). Christopher Tilley

também destaca o papel que adquire o espaço onde o objeto foi encontrado para uma construção

da interpretação do artefato:

The specificity of place is an essential element in understanding its significance. It

follows that the meanings of space always involve a subjective dimension and cannot

be understood apart from the symbolically constructed lifeworlds of social actors

(TILLEY, 1994, p.11).

Outros autores como Lynn Meskell ressaltam a importância do contexto cultural ao

redor de cada objeto. No livro, Object Worlds of Ancient Egypt, Material Biographies Past and

Present (2004), Meskell analisa a relação existente entre objetos e pessoas, e como as peças

incorporam memórias, ideias e concepções de mundo daqueles que as produziram e as

utilizaram. Nesse sentido, uma análise do contexto cultural de cada artefato é algo fundamental

para uma compreensão do objeto. “Context is everything no matter how momentary or fleeting

those relationships of connection may prove” (MESKELL, 2004, p.6). Ela afirma que situações

e processos específicos podem alterar os objetos, sua agência e atuação, e fazer com que eles

não sejam apenas elementos estáticos. Outro autor que corrobora com essa ideia é Tim Ingold,

ao afirmar que “the more that objects are removed from the contexts of life-activity in which

they are produced and used – the more they appear as static objects of disinterested

contemplation.” (2000, p.64).

A partir dessa discussão apresentada e percebendo a importância de pensar o contexto

de um objeto sob uma perspectiva mais ampla, pretendeu-se levar em conta alguns elementos

importantes propostos por López Luján (2005), tais como a localização contextual de uma

oferenda, as características da estrutura onde os objetos estão localizados, a quantidade e

qualidade dos objetos extraídos, o nível de escavação aos quais eles pertencem, sua orientação,

associação espacial, e seu estado de preservação. Além de questões referentes ao próprio

enterramento das peças, como o tipo de deposição e a prática ritual envolvida.

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa encontramos algumas dificuldades para

recuperar essas informações por uma tentativa de recuperar por completo o contexto

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arqueológico das peças. Para isso utilizamos uma metodologia proposta por pesquisadores que

trabalham com o estudo de peças arqueológicas com contextos arqueológicos problemáticos

que não apresentam informações completas sobre o momento de sua retirada do solo. Isso será

apresentado mais adiante nesse capítulo no item sobre o desenvolvimento metodológico dessa

dissertação.

1.6. Tipos de depósitos

Para orientar uma interpretação que possa ser utilizada para discutir o tipo de depósito

encontrado na Plataforma das Águias e Jaguares ressalta-se a importância de levarmos em conta

questões histórico-culturais associadas ao contexto de tal prática (FUNARI, 2003, p.36).

Dessa maneira, nos debruçamos sobre as análises de diferentes tipos de depósitos

arqueológicos propostos no trabalho realizado por William Coe (1965) na área maia. Coe

definiu o termo cache, ou depósito e seus diferentes tipos de ocorrência dentro da área maia

baseados no tipo, estado e localização dos artefatos em seus respectivos locais. Desta forma

teríamos que um depósito seria um ou mais objetos encontrados juntos, cujo agrupamento teria

sido resultado de um ato intencional, e poderiam ser divididos em três tipos: depósitos

dedicatórios, oferendas colocadas antes da conclusão da construção de uma estrutura

arquitetônica, depósitos intrusivos, colocados numa estrutura tanto durante quanto após a sua

construção e oferendas terminais, objetos quebrados, partes originais de estruturas

arquitetônicas achadas ao redor de construções e monumentos, com a função de oferendas

cerimoniais, ou sacrifícios feitas no momento do abandono de tal estrutura (COE, 1965, pp.462,

464).

1.7. Os rituais de dedicação e terminação

A visão de mundo mesoamericana se refere às forças naturais de morte e renascimento

a processos culturais incorporados na paisagem do corpo humano e seus ciclos de vida.

Processos de humanização e de crenças se refletiam nos objetos, casas, espaços, e edifícios

sagrados, criados pelos mesoamericanos (MOCK, 1998, p.9; LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.242).

Na visão de mundo dessas sociedades existiam dois grupos de seres, os humanos e os seres não

humanos. No mundo humano, os seres e os elementos que os rodeavam como objetos,

construções, eram compostos por um aspecto visível e outra substância interior. Já os seres não

humanos eram compostos por matéria pouco densa, leve, e assim podiam transitar livremente

por todas as instâncias do cosmos (LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.243). Um outro eixo fundamental

na estrutura do pensamento mesoamericano que se relacionava com a ideia de um mundo

animado era a estruturação da vida em ciclos temporais, com um constante uso do ciclo da vida

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humana como metáfora de regeneração contínua, com seguidos nascimentos, mortes e

renascimentos (LÓPEZ AUSTIN, 1980).

Desta forma, podemos encontrar como parte da lógica do pensamento mesoamericano

a realização de cerimônias de dedicação para consagrar uma construção e dotar o prédio de um

poder divino. Já os rituais de terminação se configuravam uma ocasião para matar ritualmente

a estrutura antiga e seu poder acumulado (MOCK, 1998, p.10).

Segundo Stephen Houston (2014) os maias, assim como outros povos mesoamericanos,

acreditavam que a matéria animada e objetos poderiam se associar aos seres-humanos. Pedras

e outros objetos teriam a capacidade de serem energizados por espíritos e forças da natureza

que eram interiorizados e davam vida aos artefatos (SHARER, 1999, p.491). Por este

pensamento as esculturas e outros materiais como madeiras, objetos líticos e conchas, por

exemplo, tinham a capacidade de escutar, e interagir como seres ativos (HOUSTON, 2014,

p.75; SIEVERT, 1992, p.27). Esta ideia também se faz presente em estudos etnográficos

desenvolvidos por Evon Z. Vogt entre os maias Tzotzil, que mostram a permanência da crença

na existência de um elemento interior, chamado ch’ulel em todos os elementos do nosso mundo,

coisas vivas, materiais e locais sagrados (VOGT, 1998). Ou ainda na obra de Pedro Pitarch

Ramón sobre a comunidade Tzeltal de Cancúc em Chiapas em que ele faz um detalhado estudo

etnográfico sobre essas entidades anímicas que residem nos objetos, nos elementos, e nos seres

vivos (PITARCH RAMÓN, 1996). Relatos de rituais de renovação de figuras de madeira

também estão presentes nos escritos do Frei Diego de Landa, Relación de las Cosas de Yucatán,

onde há uma descrição detalhada da renovação de estatuetas, bem como a reconstrução de

templos durante os meses de Chen e Yax (TOZZER, 1941, p.184).

David Freidel identifica alguns elementos que indicariam a ocorrência de um ritual de

terminação de dessacralização de monumentos esculpidos, como indícios de queima, destruição

proposital, com a retirada da decoração de construções, além da decapitação e quebra proposital

de partes de esculturas (FREIDEL, 1998, p.192). Peças que eram enterradas e ou seladas em

pontos específicos das estruturas.

Já as oferendas de fundação eram associadas ao levantamento de novos monumentos,

ou edifícios, ou à reparação de um conjunto arquitetônico (BAUDEZ, 2004, p.214). Este tipo

de oferenda também poderia fazer parte do preenchimento de alguma plataforma, ou de uma

praça, ou quando antecedia a construção de uma estela ou altar, ou a parede de alguma casa. O

conteúdo de oferendas de fundação era colocado diretamente na terra ou no preenchimento,

mas também poderia ser guardado em recintos para protegê-las.

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Esses tipos de rituais associados à renovação e terminação de objetos e estruturas

possuem uma longa duração na história mesoamericana. Conceitos e características que foram

de grande importância para o seguimento desta pesquisa, já que durante a investigação foi

levantada a hipótese de que os objetos recuperados por Augustus Le Plongeon na Plataforma

das Águias e Jaguares apresentariam características de um ritual de terminação de tal estrutura.

Discussão que será apresentada mais adiante no decorrer da dissertação.

1.8. Por um itinerário dos objetos

Para uma análise que leve em conta as circulações e itinerários dos objetos que

compunham a oferenda foi pensado a utilização de referenciais presentes em estudos que têm

se dedicado a pensar a cultura material de uma maneira própria. Durante as décadas de 1980 e

1990 estudiosos passaram a se debruçar com mais atenção sobre questões referentes a

materialidade de peças, incorporações e representações de elementos da cognição humana nos

objetos. Ao destacar a ideia de que os objetos circulam e levam consigo questões que são

materializadas por grupos humanos, esses estudos enfocaram na constante interação e

influência e agência mútua entre coisas e humanos, propondo uma própria revisão da ontologia

dos objetos.

Essa corrente de pensamento foi liderada por estudiosos da University College London

School, na Inglaterra, que acabaram por criar novas interpretações focadas na materialidade dos

objetos a partir de uma recuperação de conceitos filosóficos presentes em teorias de alguns

pensadores do século XIX e XX. Ao se utilizarem de tal arcabouço teórico foi possível a

elaboração de uma nova abordagem que propunha repensar a relação entre sujeito e objeto. Essa

virada material sofrida pela Antropologia e disciplinas relacionadas durante a década de 1980

foi fundamental para se pensar os próprios objetos como partes de projetos humanos. Deriva

desse momento a ideia desenvolvida pelo antropólogo norte-americano, Igor Kopytoff, com a

proposição de uma análise que levasse em conta uma biografia dos objetos, apresentada no

artigo A Biografia Cultural das Coisas: A Mercantilização como Processo, parte do livro A

Vida social das Coisas: As Mercadorias sob uma Perspectiva Cultural do antropólogo indiano

Arjun Appadurai, que acabou por tornar-se um estudo paradigmático dentro da teoria social que

procura analisar os objetos em seus diferentes momentos e suas constantes inter-relações com

os humanos. Appadurai foca na trajetória total de uma commoditie a partir de sua produção,

troca, distribuição, até o consumo. Em seu estudo ele utiliza termos que aludem a uma vida

social desses objetos, com uma reiterada preocupação com as questões econômicas e políticas

de suas trajetórias.

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Além das obras de Kopytoff e Appadurai, outros estudos foram realizados levando em

conta uma preocupação com um novo materialismo buscando inspirações em obras de filósofos

anteriores que já haviam apresentado discussões nesse sentido. A obra de Friedrich Hegel,

Fenomenologia do Espírito, de 1807 em que o autor questiona a afirmação da ciência que

coloca a distinção entre o que é uma coisa e o que é um ser humano, é uma das bases dessas

novas discussões. Hegel afirma a dificuldade em descrever o que é um sujeito, pois ele seria

inconsciente e indiferenciado, já que passaria a ser definido em relação a um objeto. Ao

afirmarmos o que é uma coisa temos que buscar razões para essa afirmação. Sendo assim este

processo de objetificação responsável por criar o mundo e nós mesmos estaria dentro de uma

relação dinâmica e dialética.

Karl Marx também afirma que o sujeito cria um mundo externo, uma objetificação em

relação ao qual o sujeito humano se desenvolve. Mas ele vê como algo negativo essa

objetificação, já que o ato de produção não seria feito a partir de uma maneira livre, mas sim

sob condições de dominação, o que resultaria na separação entre as pessoas e seus produtos.

Num processo que resultaria em alienação, fetichismo e reificação do humano.

Já o alemão Edmund Husserl na primeira metade do século XX propunha uma volta às

coisas mesmas, com discussões inseridas no campo da fenomenologia. Husserl procurou

analisar a presença do fenômeno dentro da relação entre sujeito e objeto, pois seria assim que

poderíamos significar o nosso mundo a partir de como as coisas eram vistas por nós e voltar ao

próprio mundo da vida, ao mundo das experiências. O filósofo alemão Martin Heidegger

também procurou explorar as implicações vigentes na ciência e no senso comum sobre as

coisas. Em seu texto, Das Ding (1971) inspirado por Kant, Heidegger procura pensar qual seria

o limite e o sentido de determinar certa coisa. Esses referenciais filosóficos sobre o mundo dos

objetos serviram como ponto de partida para a elaboração de novas ideias que passaram a

enxergar as próprias coisas como partes de projetos humanos.

Essas novas correntes de pensamento levaram a uma maior atenção por parte dos

estudiosos a análises do papel de entidades não humanas dentro da teoria social, além de

desenvolver uma vontade de extrair dos artefatos os seus valores sociais e significados, não

simplesmente atributos comportamentais ou tecnológicos, além de pensar nas relações

existentes entre os próprios objetos, fazendo uso de uma abordagem que privilegiasse esses

tipos de relações, como os estudos propostos por Alfred Gell (1998), Christopher Gosden

(1999), Christopher Tilley (2006), entre outros. Essa nova perspectiva passou a levar em conta

uma nova relação dialética de dependência constante entre pessoas e objetos, mutuamente

constituídos num tipo de “entrelaçamento”, presente no conceito de “entanglement”, discutido

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por Ian Hodder (2012). Com isso, procurou-se também desenvolver uma percepção que observe

os objetos como elementos ativos que dividem o mundo com os seres vivos, ao estabelecer uma

posição relacional, além da existência de um mundo material próprio (OLSEN, 2013, p.9).

Para uma melhor compreensão da relação entre objetos e humanos, os estudiosos que

fazem parte dessa corrente teórica acabaram por propor uma ontologia que questione a própria

visão de mundo moderna, moldada pelo Iluminismo que se constituiu a partir da separação em

distintos domínios a sociedade, natureza e religião. Tal separação teria originado essa dicotomia

entre objetos e pessoas pensados como pertencentes a diferentes domínios antagônicos entre si

(JOYCE, GILLESPIE, 2015, p.7; LATOUR, 2009; DESCOLA, 2016, p.23). A constituição de

uma nova ontologia seria o ponto de partida para esse novo materialismo, que interpreta as

coisas como partes integrais de relacionamentos e subjetividades em processos ativos de

materializações nos quais a incorporação humana é uma parte integral. Com isso, foi proposto

também uma nova problematização acerca da ação das coisas, ao ampliar a agência social aos

objetos, considerando-os como agentes e atores legítimos e participantes das dinâmicas sociais

e não apenas como elementos passivos (GELL, 1998; LATOUR, 2009; INGOLD, 2011;

GUERNSEY, 2012; O’NEIL, 2012).

Para interpretar as circulações das peças descobertas pelo casal Le Plongeon na

Plataforma das Águias e Jaguares, adotaremos como referencial teórico as ideias apresentadas

por Rosemary Joyce e Susan Gillespie na recente obra Things in Motion. Object Itineraries in

Anthropological Practice (2015). As autoras utilizam-se da metáfora de itinerários para traçar

a trajetória de objetos em seus diferentes momentos, e assim perceber suas relações e

movimentos, além da materialização de memórias e histórias, considerando mudanças e

permanências, usos e reusos, que acrescentam novos significados às peças (JOYCE;

GILLESPIE, 2015, p.11). Tal interpretação difere um pouco da proposta anterior de se pensar

os objetos de uma maneira linear e seguindo estritamente os momentos presentes numa vida

humana, como o nascimento, infância, fase adulta, velhice, morte e desintegração

(APPADURAI, 2008). Joyce e Gillespie sugerem algo mais amplo que captaria a complexidade

própria dos artefatos, suas dinâmicas específicas, além de elementos materializados nas peças

durante as diferentes etapas de suas trajetórias, como memórias, crenças, ideias e

conhecimentos (JOYCE; GILLESPIE, 2015, p.12). Segundo as autoras, essa ideia de biografia

de objetos obedecendo a princípios de uma vida humana poderia causar distorções de suas

dinâmicas e assim impedir a compreensão de como esses artefatos funcionam à sua própria

maneira (JOYCE, 2015, p.21).

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Para Joyce e Gillespie, tal visão além de apresentar uma característica reducionista é

também algo muito centrado numa agência secundária das peças apenas estando relacionadas a

ações humanas, ao fazer o uso da metáfora de uma biografia de objetos. Já a noção de itinerário

procura captar a amplitude das coisas, as dinâmicas entre as próprias peças ressaltando

momentos e espaços durante as etapas de suas circulações. Além disso, as autoras ressaltam

que tal abordagem histórica de análise da vida de um objeto tem o potencial de resistir à

imposição da fronteira entre o objeto e sua representação. Já que as coisas poderiam viajar e

circular por via de outros meios, como descrições textuais, desenhos e fotografias (JOYCE,

GILLESPIE, 2015, p.12).

Dessa forma, acreditamos que ao analisarmos os itinerários e trajetórias das peças

encontradas na Plataforma das Águias e Jaguares poderemos perceber suas dinâmicas internas

e perceber ideias, memórias e diferentes significados adquiridos e incorporados por esses

objetos ao longo de seus movimentos.

1.9. O desenvolvimento metodológico

O objetivo final deste estudo de mestrado é o de desenvolver uma espécie de

Arqueologia do arquivo (SELLEN, comunicação pessoal, 2015) ao procurar estudar objetos

que estão dispersos em diferentes arquivos, mas que fizeram parte de um mesmo conjunto de

artefatos que foram pensados para estarem juntos a fim de produzir um discurso sobre um

aspecto da sociedade antiga de Chichén Itzá. Para isso foi feito uso de um material documental

constituído por elementos de diversas naturezas. Ao propor um histórico do achado do casal Le

Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares, buscamos relacionar os objetos com os

manuscritos, fotos, e informações recolhidas e produzidas por este casal de estudiosos do século

XIX, numa abordagem que combine fontes de arquivo, coleções arqueológicas, além de uma

detalhada análise do contexto em que foram encontrados os objetos (URCID; SELLEN, 2008,

p.177) para reconstruir as trajetórias das circulações desses objetos ao longo de suas histórias

em diferentes locais e momentos. Tal metodologia também tem sido utilizada por estudiosos de

uma área que ficou conhecida como História das Coleções, um campo que se dedica aos estudos

de peças sem um contexto arqueológico conhecido, ou com poucas informações sobre esse

contexto. Segundo Adam Sellen e Lynneth Lowe, podemos definir o colecionismo

arqueológico como sendo o:

[...] el proceso de reunir de manera sistemática objetos antiguos y la información

asociada (arqueológica) […] e incluir también otros datos que documenten la

trayectoria histórica de los artefactos a partir de su descubrimiento, como son el

análisis, la interpretación y la exhibición del objeto (SELLEN; LOWE, 2009, p.53).

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1.10. Por uma História das Coleções

O ato de colecionar objetos está presente desde os primórdios da civilização humana.

Registros de práticas desse tipo foram encontradas há 45.000 anos atrás entre as populações

Cro-Magnon com a realização de atividades humanas interlaçadas com questões rituais, sociais

e a coleta de objetos com um destacado interesse estético (SELLEN, 2015, p.36). Uma prática

que seguiu sendo adotada por diversos povos da antiguidade até a Idade Moderna e

Contemporânea. Com a colonização e conquista do continente americano pelos europeus houve

um aumento do colecionismo a partir do surgimento dos gabinetes, coleções de objetos,

manufaturados e naturais que tinham algum destaque sob a ótica do europeu. Já em território

mexicano, a descoberta da estátua da deusa Coatlicue em 1790 na Cidade do México marcou

um novo paradigma dentro da história da Arqueologia e do colecionismo desse país,

provocando um grande impulso aos gabinetes (SELLEN, 2015, p.44). Os colecionadores

passaram a ser cada vez mais frequentes no México ao final do século XVIII e tiveram um papel

importante na disseminação do interesse dos artefatos naturais e culturais do país, além de

suscitar discussões acerca das origens das populações americanas.

O desenvolvimento da Arqueologia profissional no México no início do século XX,

levou à formação de museus de Arqueologia e Antropologia em diversas regiões do país. Com

os projetos arqueológicos empreendidos em diversos sítios mexicanos nesse momento, muitos

objetos recuperados durante as escavações passaram a ter diferentes destinos. A grande

quantidade de material escavado levou a um armazenamento dos objetos em reservas e

depósitos de museus que passaram a acumular peças de diferentes naturezas e origens, muitas

delas sem informações precisas sobre o contexto em que foram recuperadas.

Os estudos desses objetos que por vezes são deixados de lado pela ciência arqueológica

devido à falta de informações sobre o seu contexto tem levado à criação de um campo de estudos

chamado de História das Coleções. No México, durante o século XX, um importante estudioso

e incentivador de tais estudos nos acervos de museus foi o arqueólogo Felipe Solís, responsável

pela publicação de diversas descrições e catálogos de objetos de depósitos. A importância

desses objetos também remete ao fato de que eles podem ajudar de maneira determinante nas

interpretações e significado de fragmentos recuperados durante as escavações, além de revelar

novos objetos em suas categorias e classificações tipológicas que muitas vezes eram

desconhecidos até então, e passam assim a ser o de ponto de partida para futuras investigações.

Tal como definido pelo historiador Roberto Velasco Alonso, esse campo se dedica a

reunir os diversos registros de uma peça, como conjuntos de informação presentes e todo o tipo

de arquivo (institucionais, hemerotecas, bibliográficos, catalográficos) relativo às peças nos

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museus e coleções. Esse material vai desde interpretações acadêmicas até as notícias de seu

descobrimento ou aquisição em cadernos de campo com a finalidade de sistematizar os dados

(VELASCO ALONSO, 2015, p.371). Tal área seria uma ramificação da história que se criou

no momento da concepção dos museus através dos registros que sobre eles foram deixados por

seus criadores e responsáveis ao longo do tempo.

Dessa forma, uma das responsabilidades da História das Coleções seria a de mapear e

localizar os diferentes acervos permitindo detectar correspondências que entrelacem a

informação necessária para rastrear os contextos registrados dos objetos sem contexto, além de

enriquecer com informações aqueles já melhor documentados. Ao ordenar, classificar e associar

toda a quantidade de informação possível de ser recuperada ao objeto esses estudos ajudam a

recuperar a voz e o entendimento dessas peças escondidas.

1.11. Os documentos do casal Le Plongeon

O corpus documental utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa foi analisado

seguindo uma abordagem que leve em conta que o documento é um vestígio (BLOCH, 2002,

p.73) e expressa um aspecto do tempo em que ele foi produzido, e as estruturas de poder da

sociedade na qual ele fez parte (LE GOFF, 2003, p.49). Além de olhar para as imagens com a

intenção de perceber o que elas transmitiam e queriam transmitir e também perceber seu sentido

no contexto e tempo em que foram idealizadas (VILLELA, 2013, p.165).

Em estudos dessa natureza é fundamental ter uma noção mais ampla do contexto em

que tal documento foi produzido, a partir de uma análise da atuação dos primeiros arqueólogos

ou proto-arqueologos no continente americano no século XIX. Neste sentido acreditamos ser

importante olharmos os trabalhos destes pesquisadores sob uma ótica que considere a

Arqueologia como uma prática intelectual relacionada ao contexto histórico e social de

determinada época, como sendo o resultado de condições sociais e relações ocorridas em

diferentes períodos (FUNARI, 2008; TRIGGER, 2004). Ao examinar a influência dos fatores

sociais presentes nas pesquisas científicas podemos ter uma importante noção de como esta

produção foi construída e pensada em diferentes momentos dentro de uma perspectiva histórica.

Além de perceber como os fatos sociais e contextos de determinadas épocas acabaram por

pautar e servir como base para a produção cientifica.

Os trabalhos do casal Le Plongeon se inserem numa época de forte agitação política na

América Latina com a consolidação dos movimentos de independência iniciados em inícios do

século XIX. Um período que suscitou a atuação de aspirações coloniais de poderes europeus e

estadunidenses não apenas em questões econômicas dos países recém-formados, mas também

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sobre os bens culturais. Levando a uma situação que uma corrente de estudiosos chama de

imperialismo informal (DIAZ-ANDREU GARCIA, 2007; TRIGGER, 1984; TRIPP EVANS,

2004; FERREIRA, 2010). Segundo Bruce Trigger (1984, p.356), a Arqueologia imperialista é

associada a alguns países dominantes politicamente que exercem suas influências políticas,

econômicas e culturais ao longo de áreas ao redor do mundo. Neste sentido, muito dos trabalhos

desses proto-arqueólogos do século XIX na América estão associados a esta prática, como a

atuação do próprio Le Plongeon em sua tentativa de levar aos Estados Unidos grande parte dos

objetos recuperados durante as escavações em Chichén Itzá.

Outra questão é perceber como teorias arqueológicas desse período fizeram parte de

construções do pensamento cientifico de uma maneira mais ampla. É importante notar que Le

Plongeon se inseria na produção de conhecimento do século XIX, que se caracterizou pela

propagação de teorias difusionistas, por um forte eurocentrismo, mas também por uma

preocupação dos Estados Unidos em rivalizar com esse pensamento europeu, o que deu origem

a correntes de pensamento que tinham como construção teórica a ideia de que o continente

americano deveria ter a sua própria história grandiosa para rivalizar com os europeus

(TRIGGER, 2004, p.102). Seguindo as teorias de Charles Etienne Brasseur de Bourbourg,

estudioso francês, que acreditava que a civilização mundial teria se desenvolvido a partir de

uma única origem e a América do Norte seria o continente que deu início ao mundo, Le

Plongeon achava que o México antigo era o local onde estavam as sementes da civilização

mundial, e a civilização maia seria a “cultura mãe” de todas as outras (DESMOND, 2009, p.14).

Isto fazia parte de uma tentativa de criar uma narrativa histórica ampla que abarcasse o

continente americano e inseri-lo numa história mundial. Um movimento epistemológico

surgido no final do século XIX de uma busca por uma história global:

Contra o descentramento operado por Marx – pela análise histórica das relações de

produção, das determinações econômicas e da luta de classes – ele deu lugar, em finais

do século XIX, à busca de uma história global, em que todas as diferenças de uma

sociedade poderiam ser reconduzidas a uma forma única, à organização de uma visão

de mundo, ao estabelecimento de um sistema de valores, a um tipo coerente de

civilização (FOUCAULT, 2014, p.47).

Além disso, essas teorias fizeram parte de um contexto no qual floresceu o difusionismo

como elemento central na elucidação e explicação do passado e na história da humanidade.

Segundo Trigger, (2004, p.147) o final do século XIX foi marcado por um sentimento de

desilusão com o progresso junto com a ideia de que o comportamento humano estava

biologicamente determinado, o que levou a um ceticismo em relação à criatividade humana e

sua capacidade de inovação. Com a predominância destas ideias de que a mudança seria

contrária à natureza humana é que teorias caracterizadas por um declínio da ideia de um

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desenvolvimento independente ganham força. Desta forma, o princípio da migração humana

passou a ser utilizado para explicar as mudanças culturais (TRIGGER, 2004, p.148). Ideia que

se fez presente na maioria dos escritos dos estudiosos desta geração.

Assim, é a partir de uma preocupação com essas questões teóricas e a relação existente

entre a produção de conhecimento e o seu respectivo contexto social, que os documentos

produzidos pelo casal Le Plongeon sobre as escavações na Plataforma das Águias e Jaguares

foram analisados.

1.12. A fotografia como fonte histórica

Além das anotações e registros de campo, dentre o material produzido pelo casal Le

Plongeon em suas investigações estão o extenso corpus de fotografias produzidas durante a

estada do casal em Chichén Itzá. Para a atual pesquisa foi levado em consideração apenas as

fotos sobre os estudos realizados na Plataforma das Águias e Jaguares.

A Fotografia pode ser vista como um ato cultural, produto de escolhas que refletem a

maneira à qual o seu autor enxerga o mundo e os elementos que o constituem (NOVAES, 1998,

p.117, GURAN, 2011, p.80). Ela só é capaz de ser compreendida com a realização de uma

ampla investigação sobre o seu contexto de produção, além das próprias especificidades

técnicas, ao colocá-la como um ponto de partida para uma análise antropológica. A foto

enquanto documento histórico apresenta características visíveis, condições da sociedade que a

produziu, mas também elementos invisíveis, que seria uma linguagem mediada por escolhas

formais e estéticas, e a presença da visão de mundo do seu autor (GURAN, 2011, p.85). Como

propõe Kossoy, o registro visual documenta a própria atitude do fotógrafo diante da realidade

de seu tempo como uma forma de expressão de sua própria subjetividade presente no ato da

foto (KOSSOY, 2014, p.46).

Uma análise de um corpus fotográfico para uma pesquisa no campo da História da Arte

e da Arqueologia deve levar em conta a própria importância e papel da fotografia nestas duas

disciplinas. Hoje é comum a ideia de que a História da Arte enquanto disciplina científica tenha

se munido e se formado concomitantemente ao próprio desenvolvimento da fotografia em larga

escala no final do século XIX (MATTOS; IMORDE, 2014, p.150). Uma importância que

remete ao fato de ter-se aventado a possibilidade de reunir, comparar imagens, algo até então

impossível sem a reprodução em massa. Alguns estudiosos como Claudia Valladão de Mattos

Avolese e Joseph Imorde (2014) destacam o fato de que a trajetória da História da Arte como

disciplina acadêmica é a história do uso de reproduções, e não a do discurso diante do original.

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Além disso, a fotografia teria sido um elemento que conferiu certo grau de objetividade às

análises de obras de arte:

A invenção da reprodução para a História da Arte poderia mesmo ser comparada à

invenção do microscópio para a biologia, quando se passou a examinar em

laboratório, com objetividade, um trecho particular da natureza que de outra forma

seria inacessível ao olhar e ao pensamento (MATTOS; IMORDE, 2014, p.150)

Ao mesmo tempo em que a fotografia se tornou um elemento fundamental no nascente

campo da História da Arte, ela também causou uma importante revolução nos primeiros estudos

arqueológicos. Em meados do século XIX a fotografia emerge como um papel inovador para a

coleta de informações e conhecimento, a partir da possibilidade de captura da expressão cultural

de povos, seus costumes, habitações, monumentos, religião e fatos sociais através do registro

fotográfico (KOSSOY, 2014, p.29). Essa técnica logo se tornou um importante aspecto da

ilustração arqueológica, tornando-se ao final deste século a forma dominante de registro das

explorações do passado americano (PILLSBURY, 2012, p.25). Este período ficou marcado pela

utilização da fotografia de colódio que consistia em sua aplicação ainda na forma líquida em

uma placa de metal ou vidro criando então uma película muito fina. Esta placa era submersa

por alguns minutos em uma solução de nitrato de prata tornando-se assim fotossensível. Quando

retirada do banho de nitrato de prata, agora fotossensível, era colocada ainda úmida em um dark

slide para que fosse exposta através da câmera. O tempo de exposição destas placas para que

fosse possível gravar uma imagem era bastante longo comparado aos dias de hoje e dependia

das condições climáticas, mesmo estas sendo expostas à luz do dia.

Segundo Adam Sellen (2012, p.217), essas inovações no desenvolvimento da fotografia

para o registro de peças e coleções arqueológicas também estariam relacionadas ao importante

papel que a foto teve na busca internacional por materiais para museus, como curadores,

compradores de antiguidades, que faziam uso das imagens para procurar novas peças. Esse fato

levou a uma grande circulação de fotografias de peças arqueológicas pelo México, Estados

Unidos e Europa durante o final do século XIX e início do XX. O uso da fotografia arqueológica

também resultou num aumento da documentação das ruínas, o que consequentemente serviu

como uma ferramenta para a elaboração das teorias das origens culturais da civilização maia

(TRIPP EVANS, 2004, p.4). Neste sentido destacam-se os trabalhos do francês Désiré Charnay,

pioneiro no uso da máquina fotográfica para o registro das ruínas mesoamericanas em 1863, e

posteriormente o trabalho do casal Le Plongeon com seus detalhados registros a partir do uso

da fotografia, além da implementação de novas técnicas, como sequências fotográficas e a foto

panorâmica (PILLSBURY, 2012, p.28).

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Ao propor a utilização do estudo da fotografia como uma forma de recuperação do

contexto de peças antigas (SELLEN, 2012, p.226; FASH, 2013, p.91), além de percebê-las

como um testemunho do momento histórico em que foram elaboradas, procuramos, a partir de

uma análise e interpretação do corpus fotográfico do casal Le Plongeon, utilizá-lo como fonte

de dados históricos sobre o contexto das escavações empreendidas na Plataforma das Águias e

Jaguares. Pois segundo afirma Sellen, a fotografia antiga seria uma importante ferramenta no

estudo de antigas coleções e objetos sem contexto e a partir do seu estudo seria possível

“reconstituir antigos achados de enterros e sítios, bem como entender a mente desses

colecionadores e proto-arqueólogos e como eles construíram o conhecimento sobre o passado”

(SELLEN, 2012, p.208). Ou ainda como coloca Barbara Fash, que fotografias antigas que não

passaram por alterações seriam ferramentas documentais mais precisas para reapresentar e

recuperar elementos de um passado desconhecido (FASH, 2013, p.92).

1.13. O estudo dos documentos

Os documentos dos quais fazem parte as anotações de campo, desenhos, e registros

feitos pelo casal Le Plongeon sobre as escavações da Plataforma das Águias e Jaguares foram

analisados segundo uma metodologia apresentada por Pedro Paulo Funari no livro Antiguidade

Clássica. A História e a cultura a partir dos documentos (2002). Numa abordagem que

considera os documentos como “discursos a serem lidos como resultados da elaboração

humana, evitando falsas oposições entre diferentes tipos de evidências, materiais e textuais,

mas como todos sendo produtos da cultura” (FUNARI, 2002, p.25). Existem documentos de

diversas categorias com uma grande variedade de discursos, e ainda que haja muitos tipos de

análises documentais, alguns elementos gerais podem ser encontrados em sua maioria:

Elementos como o estudo da tipologia de fontes, lugar de origem, datação do texto,

estilo e características linguísticas, elaboração de um resumo com uma sinopse do

texto, inserção do contexto histórico, explicação detalhada do documento envolvendo

um estudo minucioso dos termos utilizados em seu contexto, autoria, inserindo o autor

nas circunstâncias e no meio cultural, e uma conclusão, além de uma bibliografia

consultada (FUNARI, 2002, pp.26-27)

Estes princípios de uma análise documental foram levados em conta durante o estudo,

com a elaboração de fichas individuais do material analisado, para um melhor ordenamento e

organização dos dados obtidos nos documentos. Fichas que não serão apresentadas no corpo da

dissertação, sendo apenas para uso pessoal durante a pesquisa.

1.14. As peças da oferenda

Os artefatos descobertos pelo casal Augustus Le Plongeon e Alice Dixon na Plataforma

das Águias e Jaguares foram estudados adotando a ferramenta analítica da elaboração de um

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catálogo. Este catálogo foi pensado para conferir uma organização aos materiais estudados

durante a pesquisa, além de fornecer dados para possíveis futuros trabalhos sobre o tema. Para

a sua elaboração foram seguidos alguns fundamentos utilizados por autores como Marina

Cavicchioli (2004), Mary Miller e Simon Martin (2004), Clemency Chase Coggins e Orrin C.

Shane III (1989) e Murtha Baca, Patricia Harpring, Elisa Lanzi, Linda McRae e Ann Whiteside

(2006) em estudos em que foram realizadas classificações de objetos seguindo critérios como:

dimensões, forma, referências bibliográficas anteriores sobre a peça, contexto onde foi

encontrada, matéria-prima, descrição do objeto, além de informações sobre a sua localização

atual. O catálogo com as peças recuperadas da oferenda encontra-se no final dessa dissertação.

1.15. O desenvolvimento da pesquisa

Ao propor um histórico das peças encontradas pelo casal Le Plongeon na Plataforma

das Águias e Jaguares, procuramos recuperar informações desse material presente em fontes de

arquivo, coleções arqueológicas, fotos, notícias de jornais, anotações dos exploradores que

fizeram a descoberta, além de qualquer menção à peça existente em trabalhos antigos e

modernos. Criamos redes para a realização de um extenso e minucioso levantamento realizado

em diferentes áreas e objetos a fim de recolher o maior número de dados e informações sobre

as peças, a sua descoberta, trajetória ao longo dos anos, até chegar ao estado atual de cada

objeto. Feito isso, pretendemos reconstruir o contexto arqueológico de tal descoberta e por fim

fazer uma breve interpretação do conjunto de objetos que fazia parte da oferenda encontrada

pelo casal Le Plongeon.

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Es pues Chichenizá un asiento muy bueno a diez leguas

de Izamal y once de Valladolid, en la cual, según dicen

los antiguos indios, reinaron tres señores hermanos los

cuales, según se acuerdan haber oído de sus pasados,

vinieron a aquella tierra de la parte del poniente y

juntaron en estos asientos gran población de pueblos y

gentes, la cual rigieron algunos años en mucha paz y

justicia. Eran muy honradores de su dios y así edificaron

muchos edificios y muy galanos, en especial uno, el

mayor. […]

Frei Diego de Landa

Capítulo 2: O casal Le Plongeon e Chichén Itzá

2.1. Uma viagem pelo mundo acadêmico

Augustus Le Plongeon e Alice Dixon Le Plongeon estão entre os personagens mais

controversos e polêmicos da história dos estudos maias. Eles fizeram parte da Arqueologia

americana num momento crucial do seu desenvolvimento como uma disciplina acadêmica ao

final do século XIX, que marcou o fim da especulação e o início da descrição e coleta de dados

(DESMOND; MESSENGER, 1988, p.XIX; BERNAL, 1980; TRIGGER, 2004; WILLEY;

SABLOFF, 1993).

Existem poucas obras que tratem da vida e carreira do casal. Grande parte das

referências que encontramos acerca dos Le Plongeon são pequenas menções em livros sobre a

história da Arqueologia na área maia e Mesoamérica. Entretanto, a maioria destas referências

trata e analisa o trabalho de Augustus e Alice com vistas e a partir de conceitos teóricos da

Arqueologia atual. Uma Arqueologia já constituída como disciplina científica, que muito difere

do fazer arqueológico do momento da atuação do casal. Diferente de outros exploradores e

viajantes da área maia do século XIX que tiveram um grande destaque com o reconhecimento

de suas obras e uso de seus trabalhos para pesquisas posteriores, o casal Le Plongeon padece

de um esquecimento sendo relegados a pecha de exóticos, controversos e polêmicos. Muito

dessa construção teria origem nas ideias extravagantes desenvolvidas por Le Plongeon e

apoiadas por Alice para tentar explicar a origem e história da civilização maia, além de

acusações do uso de técnicas agressivas ao patrimônio arqueológico.

Entretanto, devemos considerar os Le Plongeon como pertencentes ao seu tempo, como

um retrato histórico de um contexto do final do século XIX quando teorias sobre difusionismo

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e contatos entre diversas civilizações antigas eram levantadas para tentar explicar a história do

mundo (FOUCAULT, 2014, p.47; TRIGGER, 2004, p.147).

Uma das primeiras referências sobre a vida e obra de Le Plongeon aparece no livro Lost

Tribes and Sunken Continents (1962) de Robert Wauchope, com um trecho em um capítulo que

o caracteriza apenas como um explorador excêntrico problemático e arrogante e sua esposa

Alice como uma porta-voz de suas infundadas teorias difusionistas:

[...] his [Le Plongeon's] arrogant flaunting of his own ego produced a lurid epoch in

the history of American archaeology. […] and Alice was a young and lovely bride

parroting his bizarre theories (WAUCHOPE, 1962, p.8).

A obra de Robert Brunhouse, En Busca de los Mayas. Los Primeros Arqueólogos, que

teve a sua primeira edição publicada na década de 1970 (2013) traz a história da Arqueologia

maia a partir da apresentação de alguns dos principais exploradores e viajantes na área maia no

século XIX. Este estudo é um exemplo de uma falta de preocupação com uma maior

contextualização destes personagens dentro do contexto sócio-político da época. A construção

da narrativa deste livro é baseada na história da vida desses exploradores, com pouca

contextualização social ou histórica desses personagens. Ainda que apresente diversas

informações sobre a vida de Le Plongeon, ele é tido apenas como uma figura polêmica,

misteriosa, relegando a um segundo plano o trabalho de documentação e registro feito em seus

estudos. Brunhouse termina sua descrição sobre Le Plongeon concluindo que a causa da pouca

importância dada aos trabalhos deste proto-arqueólogo teria sido motivada por sua

personalidade excêntrica:

Como aficionado a la arqueología maya, Le Plongeon ocupó una posición lamentable

debido a las particularidades de su personalidad. [...] Por ironía, es posible que sus

extrañas especulaciones hayan desacreditado en mucho la teorización general entre

los pensadores serios (BRUNHOUSE, 2013, pp.154-155).

Outra obra que dedica uma parte a uma breve descrição sobre Le Plongeon é o recente

trabalho de Alfredo Barrera Rubio, En Busca de los Antiguos Mayas. Historia de la

Arqueología en Yucatán (2015). Neste livro Barrera Rubio apresenta um panorama geral da

história das atividades arqueológicas na Península de Iucatã ao longo dos séculos. Para isso ele

reconstrói a vida dos principais personagens que atuaram em pesquisas e investigações na

península. Um desses personagens é Le Plongeon. Apesar de conter as principais informações

sobre sua vida e trabalhos, também se nota uma falta de contextualização histórica do período

vivido pelo explorador. Além disso, o texto acaba por apontar apenas as suas teorias, ocultando

a metodologia de seu trabalho de campo:

Explorador y arqueólogo excéntrico y polémico, se caracterizó por sus ideas

extravagantes sobre contactos entre las culturas egipcia, griega, caldea e hindú, con la

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maya. También postuló una relación de dichas culturas con la francmasonería de

épocas anteriores al templo de Salomón (BARRERA RUBIO, 2015, p.28).

O trabalho mais relevante e detalhado já feito sobre o casal Le Plongeon é o de Lawrence

Gustave Desmond e Phyllis Mauch Messenger, A Dream of Maya. Augustus and Alice Le

Plongeon in Nineteenth-Century Yucatan (1988). Fazendo uso de extensa documentação, este

livro é quase uma biografia do casal, com detalhes sobre as atividades empreendidas por eles

na Península de Iucatã, bem como uma apresentação das ideias e teorias criadas para tentar

explicar a origem e existência dos maias. Ao contextualizar suas teorias dentro do seu tempo e

apresentar de forma detalhada os métodos de trabalho de Le Plongeon e Alice em Chichén Itzá

e Uxmal, Desmond e Messenger ressaltam a importância do casal de exploradores como

produtores de dados e informações úteis para os estudos maias.

A partir desta obra, outros autores passaram a tratar as atividades de Le Plongeon com

um enfoque maior nos importantes dados, fotos, desenhos e registros coletados pelo explorador

e sua esposa durante os anos de trabalho de campo. Daniel Schávelzon (1985) ressalta que todo

o material levantado por Le Plongeon ficou marginalizado pela literatura arqueológica durante

anos devido a suas ideias e teorias excêntricas. Entretanto, Schávelzon ressalta a importância

que Le Plongeon teve para a história dos estudos maias e para a própria história da Arqueologia

com seus trabalhos em Chichén Itzá:

Recordemos que Le Plongeon causó gran revuelo con sus dos excavaciones en ese

sitio, ya que fue el primero en postular la importancia del trabajo de campo para luego

poder plantear cualquier tipo de teorías. Por otra parte, fue el primero en realizar

análisis químicos de los restos orgánicos descubiertos, al igual que el primero en

realizar trabajos estratigráficos en la zona maya (SCHÁVELZON, 1985, p.56).

Esta importância da atuação de Le Plongeon, destacada por Schávelzon vem sendo aos

poucos redescoberta por outros pesquisadores da área mesoamericana. Adam Sellen e Lynneth

Lowe (2009) destacam a importância do uso do legado do casal Le Plongeon para as recentes

investigações arqueológicas e históricas sobre o passado da cidade de Chichén Itzá, bem como

para a história do colecionismo em Iucatã. Pela primeira vez foi feita uma tentativa de relacionar

os objetos descobertos por Le Plongeon em Chichén Itzá e Cozumel, com seus escritos, notas,

desenhos e fotografias. Tal trabalho foi utilizado como ponto de partida para esta dissertação

de mestrado.

Outro importante estudo que traz informações sobre a trajetória do casal Le Plongeon,

bem como uma detalhada contextualização de sua obra é o livro Romancing the Maya, de R.

Tripp Evans (2004). Nele o autor ressalta a importância de se analisar os primeiros arqueólogos

da área maia a partir de uma perspectiva que leve em conta o contexto político de cada época,

e como esses personagens atuaram em compasso com isso. Neste sentido, Tripp Evans

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apresenta-nos as teorias de Le Plongeon dentro de um quadro mais amplo ressaltando suas

origens em outros autores da época, como o francês Charles Etienne Brasseur de Bourbourg,

que em suas interpretações fez uso do conceito de difusionismo para explicar a origem das

civilizações antigas. Em meados da década de 1860, Brasseur de Bourbourg propôs a ideia de

uma influência mutua entre a América antiga e o antigo Egito, além de uma teoria que colocava

a América como a origem do mundo (TRIPP EVANS, 2004, p.113). Mais tarde, Le Plongeon

iria aprofundar tal teoria, ao considerar toda a cultura, inclusive a moderna do seu tempo, como

dependente e originada pelos maias.

Ainda que Tripp Evans discuta o teor fantástico das teses de Le Plongeon sobre a história

dos antigos maias ele ressalta o importante aporte técnico e metodológico trazido por este

explorador para o campo da Arqueologia. Dentre essas inovações estariam os grandes avanços

tecnológicos no uso da fotografia de campo e formas de gesso usadas em réplicas. Segundo

Tripp Evans, em termos de qualidade e de quantidade o registro fotográfico de Le Plongeon das

ruínas maias não teve paralelos no século XIX. Ele foi pioneiro num tipo de close-up

arqueológico e também na realização de fotos panorâmicas. Outro ponto importante teria sido

a imersão que o casal Le Plongeon fez em Iucatã que fez com que eles fossem os primeiros

arqueólogos amadores a se comunicar com guias locais, trabalhadores e oficiais do governo

mexicano em sua própria língua. Além do uso de uma metodologia que buscava comprovar

uma tese fazendo uso de um trabalho de campo, algo inovador para aquele momento (TRIPP

EVANS, 2004, p.130).

Segundo Tripp Evans as obras de Le Plongeon falharam ao não conseguir alcançar o

grande público e o público acadêmico por sua pouca credibilidade científica. Suas teorias teriam

comprometido a recepção do seu trabalho, ainda que a combinação entre o fraudulento e o

autêntico fosse algo comum naquele período do século XIX. O autor conclui afirmando que o

“eventual contexto literário das descobertas de Le Plongeon não diminui o seu valor e suas

atividades em Iucatã demonstram um grande exemplo do seu valor real e de sua seriedade”

(TRIPP EVANS, 2004, p.139).

2.2. Vida e obra do casal Le Plongeon

Nascido na ilha de Jersey, na França, em 04 de maio de 1826, Augustus Henry Julius

Le Plongeon, que mais tarde se naturalizou inglês, frequentou um colégio militar de Caen

durante sua infância e depois ingressou na École Polytechnique de Paris em 1841. Logo após

fez uma viagem de barco até a América do Sul quando visitou este continente pela primeira

vez.

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Ao regressar à Europa, Le Plongeon teve seus primeiros contatos com a fotografia com

o inglês William Henry Fox Talbot que produziu uma imagem de negativo num papel a partir

do qual múltiplos positivos poderiam ser impressos, o que possibilitava pela primeira vez a

produção de cópias de fotografias. Quando regressou à América visitou St. Thomas nas Ilhas

Virgens, onde realizou testes com fotografias aprimorando a sua técnica. Em 1855 ele

estabeleceu um estúdio fotográfico em São Francisco nos Estados Unidos, que o fez obter um

grande sucesso comercial (TRIPP EVANS, 2004, p.128).

Nos Estados Unidos, Le Plongeon passou a se dedicar também a algumas práticas

médicas ao fazer estágios com um médico. Após três anos auxiliando e estudando medicina,

Augustus recebeu o título de doutor. Na década seguinte em 1862 ele teve o primeiro contato

com a Arqueologia ao viajar ao Peru para fotografar antigas ruínas. Nesta viajem ele pode

colocar em prática a nova técnica do processo negativo do prato de vidro, chamado de colódio

úmido. Tal processo tinha mais sensibilidade à luz e permitia uma produção de um número

maior de cópias.

A utilização desse novo domínio técnico fez com que um ano depois, Le Plongeon fosse

convidado pelo arqueólogo Ephraim G. Squier, já famoso por seus trabalhos nos montículos do

Vale do Mississipi nos Estados Unidos, para acompanhá-lo a fotografar os sítios arqueológicos

peruanos que estava pesquisando naquele momento (DESMOND; MESSENGER, 1988, p.8).

Depois dessa experiência Augustus estabeleceu-se por um período em Lima ao abrir

uma clínica médica e também passou a se dedicar ao estudo de terremotos, a partir do seu

interesse na eletromagnética. Ao estudar uma vez mais os sítios arqueológicos peruanos, desta

vez por conta própria, Le Plongeon começou a desenvolver sua teoria de que a América teria

sido a origem da civilização mundial. Em 1870 ele retorna a São Francisco e depois em 1871

vai a Londres onde conheceu a jovem fotógrafa Alice Dixon (TRIPP EVANS, 2004, p.128).

Dois anos depois eles se casaram e se mudaram para Nova York, local onde Augustus

passou a ter cada vez mais contato com a academia estadunidense. Neste momento ele publicou

um manual de fotografia que tratava de maneira detalhada os materiais e fórmulas utilizadas

pelas novas técnicas. Com isso, Le Plongeon começou a estabelecer mais contatos e fazer

planos para uma viagem para explorar as ruínas arqueológicas mexicanas (DESMOND;

MESSENGER, 1988, p.12).

Qualquer estudo que seja feito sobre os trabalhos de Le Plongeon deve estar presente o

nome de Alice. Mais do que ser lembrada apenas como a esposa de Augustus, e de ter sido sua

fiel companheira durante toda a empreitada pelos sítios maias de Iucatã, Alice possui um

importante papel de destaque. Como fotógrafa, fez uso de avançadas técnicas para os registros

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fotográficos dos sítios e das peças estudadas pelo casal, fez anotações de campo, com

minuciosas descrições das atividades, com o desenvolvimento de atividades que podemos

considerá-la como a primeira mulher a realizar estudos arqueológicos na área maia

(DESMOND, 2009, p. XVII). Além disso, no final de sua vida, Alice teve um importante papel

intelectual com a publicações de diversos artigos e livros, participações em seminários, além

de um ativismo político destacado a favor dos direitos das mulheres.

Alice Dixon Le Plongeon nasceu em uma família de fotógrafos, e desde cedo

desenvolveu uma grande habilidade para a fotografia, além de uma destacada facilidade para a

escrita. Quando conheceu Augustus logo se interessou pela ideia de conhecer um novo

continente e explorar a antiga cultura do México. Durante as investigações realizadas pelo casal

nos sítios maias iucatecos, Alice preparava todas as placas dos negativos em vidro de colódio

úmido usados por Augustus, além de ter produzido uma grande quantidade de fotos de alta

qualidade (DESMOND, 2009, p.3). Foram mais de 2400 fotos, com diversas sequências

fotográficas de painéis-múltiplos e panoramas.

No ano de 1873, após algumas tentativas frustradas de angariar patrocínio, o casal Le

Plongeon fez a sua primeira viagem à Península de Iucatã dispondo de recursos próprios. Nesta

época o território iucateco vivia uma situação política conturbada com uma rebelião indígena

que ficaria conhecida como a Guerra das Castas que envolveu uma luta de indígenas contra

integrantes das classes dominantes espanholas, e levou grande parte da península naquele

momento a ser governada pelos rebeldes. Essa situação criou muita dificuldade para os

trabalhos de Le Plongeon durante esses primeiros anos em que esteve em Iucatã (DESMOND;

MESSENGER, 1988, pp.25-26).

Durante os trabalhos, Augustus e Alice aprenderam a língua maia iucateco e

estabeleceram contatos com importantes intelectuais da península daquele momento, como o

erudito ilustrado, padre Cresencio Carrillo y Ancona, grande fomentador da investigação

arqueológica na região e fundador do Museu Iucateco em 1871 (SELLEN; RUZ, 2015, p. 22).

Após uma estada em Mérida e em outras cidades e povoados, o casal Le Plongeon chega ao

sítio de Chichén Itzá no ano de 1875, local que era controlado pela guerrilha indígena, Chan

Santa Cruz Maya, o que os obrigou a estabelecer sua sede para as investigações no povoado

vizinho chamado Pisté (DESMOND; MESSENGER, 1988, p.25). Neste local Le Plongeon

tinha a escolta de alguns soldados do governo de Iucatã, mas logo decidiu reunir-se com os

líderes da guerrilha indígena no sítio para pedir uma autorização de trabalho. Com o passar do

tempo apenas alguns poucos soldados permaneceram acompanhando o casal em suas

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investigações que foi ganhando a confiança dos rebelados cada vez mais (DESMOND;

MESSENGER, 1988, p.26).

Ao começar os trabalhos em Chichén Itzá o casal Le Plongeon fez estudos no Templo

Superior dos Jaguares na parte norte da cidade, onde encontrou baixos-relevos e resquícios de

pintura mural em suas paredes. Augustus realizou estudos e cópias das cenas desses murais, e

chegou à conclusão de que seriam uma narrativa de eventos religiosos, guerras, e governantes

da antiga cidade. Dentre as personagens presentes nas figuras, Le Plongeon identificou o que

para ele seriam os governantes deste local. A rainha Móo e o seu irmão, o guerreiro Coh,

também conhecido como príncipe Chaac Mol, uma referência ao jaguar que aparecia num

escudo deste personagem no mural. Segundo Le Plongeon, teria existido uma antiga dinastia

maia em Iucatã comandados pela rainha Móo e pelo príncipe Coh. (DESMOND;

MESSENGER, 1988, pp.30-32; LE PLONGEON, 1900). Dias depois o explorador, sua esposa

Alice e seus ajudantes indígenas passaram a trabalhar nas escavações do montículo ao lado do

Templo dos Jaguares, que depois no século XX seria chamado de Plataforma das Águias e

Jaguares. Neste local eles encontraram um conjunto de objetos enterrados. Frustrados após ter

sua tentativa de levar alguns dos artefatos para os Estados Unidos negada pelo governo

mexicano, Le Plongeon e Alice deixaram Chichén Itzá e passaram a visitar outros sítios da

região. Durante esta nova viagem eles visitaram Isla Mujeres, Cozumel, Belize, Mayapan,

Uxmal, e publicaram parte dos trabalhos desenvolvidos no livro Vestiges of the Mayas, de 1881.

Nesse mesmo ano o casal retornou a Chichén Itzá para seguir com os estudos.

Na retomada dos trabalhos neste sítio, o casal Le Plongeon desenvolveu talvez a sua

investigação mais meticulosa e destacada. Buscando encontrar os restos mortais do príncipe

Coh, eles iniciaram um trabalho de escavação num montículo que se localizava próximo à

Plataforma das Águias e Jaguares. Le Plongeon se surpreendeu pela semelhança entre as duas

estruturas, formato e tamanho parecidos. Neste local denominado por Le Plongeon como

Mausoléo do Príncipe Cay, (que mais tarde foi chamada de Plataforma de Vênus) foram

encontrados objetos enterrados e oferendados, como placas de pedra em baixo-relevo, 182

cones feitos de pedra, uma escultura em pedra que foi interpretada posteriormente como um

porta-estandarte com formato humano, 12 cabeças de serpentes esculpidas em pedra, uma urna

de pedra, que Le Plongeon acreditou que poderia conter as cinzas do príncipe chacmool, além

de diversos líticos, cacos de cerâmica fina, e um esqueleto de um pequeno animal (DESMOND;

MESSENGER, 1988, p.91; DESMOND, 2008, p.161).

Mais importante do que a própria descoberta foi a forma como Le Plongeon a registrou.

Ele realizou anotações das peças encontradas, minuciosas medidas da estrutura da construção,

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tirou fotos dos achados, e fez uso de técnicas estratigráficas, numa das primeiras tentativas de

utilização deste método em território mexicano (SCHÁVELZON, 1999, p.3) (ver anexo 5).

Mais tarde com a profissionalização da Arqueologia no país, no início do século XX, a

estratigrafia seria aperfeiçoada pela Escuela Internacional de Arqueología y Etnología sob a

iniciativa de Jorge Engerrand e Franz Boas (BERNAL, 1980, p.160). Le Plongeon desenhou o

corte estratigráfico da plataforma, tentando reproduzir o local, a camada e a disposição das

peças encontradas, trabalho que resultou num importante legado deixado pelo explorador

(BRASWELL, 2012, p.233).

Antes de deixar Chichén Itzá, o casal Le Plongeon fez ainda notas e outras cópias de

baixos-relevos encontrados no sítio, e terminou de traçar uma reprodução dos murais do Templo

Superior dos Jaguares. Ao retornar aos Estados Unidos, Le Plongeon buscou apresentar o

resultado de seus trabalhos em congresso, feiras e publicações cientificas, mas a recepção de

sua obra nesses meios acabou sendo bem reduzida. Em 1886 Augustus publicou o livro Sacred

Mysteries among the Mayas and the Quiches, 11,500 years ago, ao mesmo tempo em que Alice

publicava Here and There in Yucatan, com o relato de algumas das jornadas do casal pela

Península de Iucatã durante os anos de pesquisas. Dez anos mais tarde em 1896, foi publicado

o livro Queen Móo and the Egyptian Sphinx, como uma apresentação sumária de sua obra e

ideias sobre a Arqueologia maia. Nesta obra ele insistiu no papel central da América do Norte

na fundação da civilização mundial.

Este momento na vida do casal é marcado por intensas disputas acadêmicas com

estudiosos que questionavam suas ideias acerca da origem e história dos maias e relações com

o povo egípcio. Ao longo de sua trajetória Le Plongeon se envolveu em intensas polêmicas com

outros estudiosos como Désiré Charnay, Edward Thompson, Herbert Spinden e Daniel Brinton.

Todos acusavam Le Plongeon de haver usado práticas duvidosas em seus trabalhos de campo,

bem como ter criado teorias sem nenhuma comprovação cientifica.

Augustus e Alice passaram o final de suas vidas tentando defender suas teorias contra

os ataques e críticas sofridas, além de publicar seus artigos e expor peças coletadas durante suas

viagens ao México. Le Plongeon morre em 1908 aos 82 anos no Brooklyn, Nova York, e Alice

morreria dois anos depois em 1910 aos 59 anos (DESMOND; MESSENGER, 1988, pp.120-

122).

Ao perceber os discursos de Le Plongeon como localizados historicamente e

temporalmente em teorias que faziam parte de num momento em que a produção científica

estava imbuída de ideias difusionistas e como uma maneira de servir às novas elites americanas

como uma ferramenta de constituição identitária, questiona-se a visão tradicional apresentada

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de um exotismo e falta de cientificismo em seus escritos. Ao empreender uma análise que leve

em conta o discurso tal qual como proposto por Foucault podemos inferir outra visão sobre tais

textos. Já que para ele, a prática discursiva seria:

[...] um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no

espaço que definiram, numa época dada, e para uma área social, econômica,

geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa

(FOUCAULT, 2014, p.164).

Desta forma os escritos de Le Plongeon devem ser vistos como parte da produção

científica de sua época, mas também dentro de uma estrutura que leve em conta os respectivos

receptores deste discurso. Em suas correspondências com Salisbury Jr., notam-se certos

elementos utilizados para engrandecer seus achados a partir da elaboração de teorias grandiosas

que dessem conta de uma explicação ampla da história mundial. Esta utilização retórica teria,

além de fazer parte das próprias subjetividades de seu autor, pertencido a um conjunto de

discursos construídos dentro do contexto de uma lógica presente entre os exploradores naquele

momento do século XIX, que era a de recolher objetos com alto grau de apelo estético e vendê-

los a museus ou entregá-los aos seus respectivos patrocinadores para garantir verba para

próximas expedições (HUTSON, 2012, p.305).

Além disso, é importante estabelecer um olhar para a obra do casal Le Plongeon para

além da parte interpretativa. O seu legado já notado por alguns estudiosos (DESMOND;

MESSENGER, 1988; SELLEN; LOWE, 2002; SCHÁVELZON, 1985; TRIPP EVANS, 2004)

vai além e se caracteriza por importantes contribuições aos estudos da história maia. O grande

corpus fotográfico com inovações técnicas e a tentativa de fazer uso pela primeira vez de um

estudo estratigráfico em Chichén Itzá fazem parte deste legado. Ao pretender dar

prosseguimento a esta nova visão sobre os trabalhos de Le Plongeon e sua utilização para os

estudos mesoamericanos, é que foi pensada a diretriz a ser trilhada por esta pesquisa.

2.3. A cidade dos Itzás

Localizada nas terras baixas do norte da Península de Iucatã, Chichén Itzá é considerada

uma das cidades mais importantes da civilização maia e um dos sítios arqueológicos mais

estudados e visitados na área mesoamericana. A cidade apresentou diferentes períodos de

ocupação que teriam se originado por volta de 300-200 a.C. e atingido um auge durante o

período Clássico Terminal (800-1050 d.C.), quando se destacou como um centro regional de

controle de rotas comerciais e bens de consumo de luxo, além de desempenhar uma posição de

coletora de impostos a sítios menores subjugados ao seu poder (COBOS, 2012, p.242; GARCÍA

MOLL; COBOS, 2009, p.41).

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Existem duas interpretações sobre a tradução do nome de Chichén Itzá baseadas na

língua maia iucateco. A primeira proposta pelos historiadores Santiago Pacheco Cruz e

Francisco Javier Santamaría com o Diccionario de etimologías toponímicas Mayas (1959), que

apontava para sendo “água resinosa solamente en la orilla”, e a outra pelo arqueólogo Román

Piña Chan, que seria “en la boca del pozo del brujo del água”, fazendo uma referência ao Cenote

Sagrado, ou a cidade dos bruxos da água, tradução já mencionada anteriormente por Frei Diego

de Landa no século XVI (PIÑA CHAN, 2011, p.13).

Alvo de intensos debates desde os primeiros estudos sobre o sítio, a ocupação de

Chichén Itzá, bem como o seu início e origem ainda hoje suscitam muita discussão entre os

estudiosos. Ainda que haja diversas interpretações que considerem o sítio como um local de

invasão de povos toltecas oriundos do Centro do México (CHARNAY, 1887; TOZZER, 1930;

MORLEY, 1946; DE LA GARZA, 1984; SHARER, 1999), ou de maias mexicanizados, de

origem Putun que viviam na costa de Tabasco e Campeche antes de se moverem a Iucatã

(THOMPSON, 1970), acreditamos que Chichén Itzá teria sido um sítio essencialmente maia

desde o início de seu povoamento no período Pré-Clássico Tardio, com origem na própria

Península de Iucatã (COBOS, 1998; KUBLER, 1968; ANDREWS, 1978; LINCOLN, 1990;

PIÑA CHAN, 2011; NAVARRO, 2007). Os arqueólogos têm observado indícios de que o

inicio da organização interna do assentamento foi dispersa e essencialmente maia, onde grupos

arquitetônicos se mesclavam com áreas verdes e campos de cultivos agrícolas (COBOS, 2001,

p.253). Entre os séculos de 700 e 800 d.C. Chichén Itzá foi cenário de um processo rápido de

povoamento e atividade construtiva que teve como centro a parte sul da cidade, onde está

localizado o Complexo das Monjas. A partir do ano de 900 d.C. nota-se uma transformação de

Chichén Itzá em uma cidade e capital regional quando ocorre a mudança do centro da cidade

do Complexo das Monjas para a Grande Nivelação. Acredita-se que esses dois centros da cidade

teriam sido datados em períodos diferentes, mas de forma sequencial (COBOS, 2001, p.255).

Neste período após 900 d.C. a estrutura interna e a economia de Chichén Itzá mostram uma

comunidade centralizada e socialmente hierárquica com uma economia voltada para o mercado

de bens, que atingiu o seu auge graças ao controle de intrincadas redes de intercâmbio, que

englobavam o controle de salinas e bens de consumo de luxo. A partir dessas duas

características podemos perceber um caráter cosmopolita de Chichén Itzá com uma forte

confluência de ideias e pessoas.

A cidade passou a se utilizar de uma fusão de elementos de prestígio de diversas regiões

mesoamericanas para a criação de uma cultura única em que faziam parte diferentes elementos

artísticos, arquitetônicos e religiosos. Isso teria levado a Chichén Itzá a constituir-se com traços

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sociais, políticos e culturais híbridos, fazendo deste assentamento um centro cosmopolita e

irradiador de novas mensagens simbólicas. Não existiu um mero transporte desses elementos

estrangeiros à Chichén, mas sim a construção de uma nova realidade cultural e política pela

elite governante desse sítio (KRISTAN-GRAHAM; KOWALSKI, 2011, pp.28-29; RINGLE;

BEY III, 2009).

O auge de Chichén Itzá se encerra no Período Pós-Clássico Inicial quando há uma

grande redução ocupacional e cessão da atividade construtiva com evidências de reuso de

antigos edifícios e um abandono de sua área central administrativa, religiosa. A maior parte de

sua população teria migrado para assentamentos periféricos e o sítio teria passado a funcionar

como um centro cerimonial para peregrinos (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.61).

2.4. A geografia do sítio

O sitio está localizado na parte oriental da Planície de Iucatã, no município de Tinum,

com acesso pelo quilômetro 120 da estrada federal que liga Mérida a Puerto Juárez (LEÓN;

GÓNGORA, 1994, p.6). Está assentado sobre uma planície cárstica que abarca grande parte do

centro-norte das terras baixas de Iucatã (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.33). A península

possui uma formação rochosa originada há cerca de 30 milhões de anos, emergida durante o

Mioceno e o Plioceno com um solo constituído por rochas calcárias e poucas fontes de águas

na superfície (RUÍZ, 1996, pp.3-4; ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.18). Está localizada numa

área de clima Tropical Quente Úmido, com dois períodos definidos, úmido durante o verão e

outono, e seco no inverno e primavera. Numa área de solos ricos em magnésio, cálcio e matéria

orgânica, com uma vegetação de altura média, além de uma rica fauna com grande variedade

de animais para a caça.

Nesta região faz-se presente uma grande quantidade de fluxos de água subterrâneos,

conectados à superfície por meio de cavernas e cenotes, grandes poços de água natural

(GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.33). Chichén Itzá foi construída no entorno de cinco

cenotes; o Cenote Sagrado ou de Sacrifícios, o Xtoloc, Kanjuyum, Ikil e Holtún. Recentemente,

em agosto de 2015 foi divulgada a existência de um outro corpo de água embaixo da Pirâmide

de Kukulcan (El Castillo) no centro da parte norte do sítio (WONG, 2015).

2.5. O assentamento

Chichén Itzá possui uma área de 40 Km² é conectado por uma extensa rede de caminhos,

sacbeoob, 75 no total, que eram uma espécie de estradas que moldavam o ambiente físico e

serviam para o transporte e locomoção entre diferentes partes da cidade, (NAVARRO, 2013,

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p.47; GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.61) além de possuir cerca de 20 conjuntos

arquitetônicos (GUÍA VISUAL CHICHÉN ITZÁ, 2008) (ver anexo 6).

A maior parte de suas estruturas monumentais localiza-se em três grandes praças: a

ampla praça que abarca o Complexo das Monjas, Caracol, Templo dos Tableros, Akab Dzib e

a Casa Colorada. Outro agrupamento que engloba o Grupo do Osario e sua plataforma murada,

com os edifícios do Osario, a Casa dos Metates, a Casa das Columnas-Atlantes, e uma série de

plataformas complexas que comunicam a praça com uma sacbé (conjunto de calçadas,

conhecidas como sacbeoob, ou caminhos brancos em maia iucateco), que uniam as diferentes

partes da cidade leva ao Templo e ao Cenote Xtoloc (GUÍA VISUAL CHICHÉN ITZÁ, 2008,

p.5) E na parte norte do sitio está localizada a plataforma norte, ou Grande Nivelação, rodeada

por uma muralha, que abarca o Grupo das Mil Columnas, a Praça do Castillo e se liga ao Cenote

Sagrado por outra sacbé.

Essa parte do sítio divide-se em dois setores: a primeira é a Plaza do Castillo, onde estão

localizadas as estruturas conhecidas como a Pirâmide do Castillo (ou Kukulcan), o Templo dos

Jaguares (que se divide em Templo Superior dos Jaguares e Templo Inferior dos Jaguares), o

Tzompantli, a Plataforma das Águias e Jaguares, Plataforma de Vênus, Gran Juego de Pelota

(Grande quadra do jogo de bola), Templo Norte e Templo Sul. A segunda parte da Grande

Nivelação é composta pelo Grupo das Mil Columnas, do qual fazem parte o Mercado, o Templo

das Grandes Mesas, o Templo das Pequeñas Mesas, o Palácio das Columnas Esculpidas, Baño

de Vapor, a Columnata Oeste, Columnata Norte, Columnata Nordeste, Columnata Noroeste e

Columnata Sudeste, além do Templo dos Guerreros (ver anexo 7). Pesquisadores como o

arqueólogo mexicano Rafael Cobos (1999) têm apontado que esses três grupos distintos

possuem diferentes padrões e cronologias de assentamentos. As construções da área central

estavam protegidas por muralhas que funcionavam como espaços para a elite e restringiam o

acesso a determinados grupos sociais.

Apesar da grande quantidade de informações sobre o assentamento urbano de Chichén

Itzá, os estudiosos encontram diversos problemas ao determinar a extensão completa do sitio,

bem como detalhes de sua organização interna através do tempo (SCHMIDT, 2000, p.208).

Pesquisas realizadas nos últimos vinte anos mostraram uma grande expansão urbana da cidade,

que ia do atual povoado de Pisté até o norte, passando pelo cenote Poxil, alcançaria as grutas e

o sítio de Balamkanché no oriente e ao sul se estenderia mais além da plataforma do grupo dos

três dinteles (SCHMIDT, 2000, p.208). Essa extensão de Chichén Itzá teria se dado durante o

auge da cidade entre os séculos X e XI, quando se acredita que o seu território abarcaria entre

20 e 25 quilômetros quadrados. Um espaço que mesclaria grande complexos arquitetônicos

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com construções mais simples. Nesse momento havia o uso de novos complexos arquitetônicos

formados por templos, altares e estruturas de pátio-galeria, elementos característicos da

paisagem da cidade (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.43).

A zona arqueológica se encontra sob custódia do INAH – Instituto Nacional de

Antropología e Historia, e depois da construção do parador turístico em 1987, foi criado o

Patronato de las Unidades de Servicios Culturales y Turísticos del Estado de Yucatan (REJÓN

PATRÓN, 2003, p.21). O sítio é aberto ao público o ano todo das 08:00 às 17:00 com um

espetáculo de luz e som das 19:00 às 20:00. A área de visita corresponde a 2 km² e compreende

o Cenote Sagrado, a Grande Nivelação, o Grupo do Osario, Casa Colorada, Caracol, Conjunto

das Monjas, e o edifício Akab Dzib. No final do ano de 2004 se deu a abertura comercial do

sitio para vendedores informais (SOLÍS, 2006, p.5).

2.6. Patrimônio mundial da UNESCO e Maravilha do Mundo Moderno

Aceito sob o nome de Pre-Hispanic City of Chichén Itzá, o sítio de Chichén Itzá teve

ratificada a sua aceitação como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO em julho

de 1988, sob os critérios I, II, III que se referem a: I – representar uma obra-prima do gênio

criador humano; II - mostrar um importante intercâmbio de valores humanos, durante um

período de tempo ou dentro de uma área cultural mundial, desenvolvimento da arquitetura ou

da tecnologia, das artes monumentais, urbanismo ou projeto paisagístico; III - dar um

testemunho único ou excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização viva ou

desaparecida (UNESCO World Heritage List). A inserção de Chichén Itzá nesta lista coincidiu

com a elevação da cidade balneária de Cancún à importante polo turístico mexicano durante o

início da década de 1980. Localizado a 188 quilômetros de Cancún, o sítio de Chichén Itzá

passou a fazer parte dessa nova dinâmica na indústria do turismo de massa da região, tornando-

se também um procurado destino desses visitantes. Segundo dados do INAH, no ano de 2015

o sítio recebeu mais de dois milhões de visitantes entre turistas mexicanos e estrangeiros.

Após ter se tornado um Patrimônio Mundial da Humanidade, uma das estruturas de

Chichén Itzá passou a ser considerada uma das “Sete Maravilhas do Mundo Moderno”. Em

eleição feita durante os anos de 2006 e 2007 por uma associação criada pelo cineasta, curador

de museu e explorador suíço Bernard Weber, a Pirâmide do Castillo (Kukulcan) foi eleita uma

das maravilhas modernas, o que aumentou ainda mais o interesse do turismo de massa pelo

sítio.

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2.7. Uma história de muitos viajantes e estudos

Podemos classificar o histórico dos estudos em Chichén Itzá a partir de três etapas de

investigações; a primeira entre os séculos XVI e XVIII com as descrições e relatos dos cronistas

da Coroa espanhola, a segunda no século XIX com os relatos e explorações de viajantes e a

última já no século XX com as escavações e restaurações empreendidas por projetos das

grandes universidades e do governo mexicano (LEÓN; GÓNGORA, 1994, p.6).

A primeira fase de investigações e contato dos conquistadores espanhóis com o sitio

tem início em 1528 com Francisco de Montejo, o primeiro europeu a utilizar o local como um

assentamento para defender-se dos constantes ataques indígenas, durante sua luta para

conquistar a Península de Iucatã. Tempos depois, Chichén Itzá seria mencionada pela primeira

vez em escritos dos missionários espanhóis com o Frei Diego de Landa, que descreveu a

existência de edifícios antigos nesta localidade, além da elaboração de um mapa-croqui da

Pirâmide do Castillo, e referências à Plataforma de Vênus, Plataforma das Águias e Jaguares,

Cenote Sagrado e a calçada utilizada para chegar até ele (GARCÍA MOLL; COBOS, 2009,

p.15; BERNAL, 1980, p.42). Após Landa outros freis espanhóis como Luis Villalpando e Diego

López de Cogolludo, e encomendeiros como Blas Gonzalez também mencionaram o sítio em

seus escritos (DE LA GARZA, 1983).

O século XIX assistiu à chegada de uma geração de viajantes e exploradores que

deixaram um importante legado com seus registros, desenhos e fotografias tiradas do sítio.

Dentre eles se destacam as explorações feitas por John Burke em 1838, o barão Emmanuel Von

Friederischtahl, em 1840, e Benjamin Norman, John L. Stephens e Frederick Catherwood em

1842. Na sequência chegaram Désiré Charnay nas décadas de 1850 e 1860, Augustus e Alice

Le Plongeon em 1875, Alfred Maudslay em 1889, Teobert Maler entre os anos de 1887 e 1894,

William Holmes em 1895, o bispo iucateco, Crescencio Carrillo y Ancona, nesta mesma época,

até chegar a Edward H. Thompson, e a pintora Adela Breton, ambos entre o final do século XIX

e o início do século XX. Esse momento marcou o final das explorações individuais e o início

dos grandes projetos arqueológicos no sítio (MIRANDA; ROMERO; SCHMIDT; SOLÍS,

2007, p.50; BARRERA RUBIO, 2015, pp.26, 27, 44, 45, 48, 49).

O primeiro desses grandes projetos foi empreendido pela Carnegie Institution of

Washington a partir de um contrato firmado junto ao governo mexicano que entre os anos de

1923 e 1937, permitiu que esta instituição realizasse uma grande ação de restauro e investigação

de algumas partes do sitio. Tal tarefa foi comandada pelo arqueólogo Sylvanus G. Morley e

posteriormente por Alfred V. Kidder (BARRERA RUBIO, 2015, p.55). Além de um

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levantamento topográfico, este projeto explorou e restaurou o Templo dos Guerreros, a

Columnata Norte e Noroeste, o Mercado, o Caracol, o Complexo das Monjas, o Templo dos

Tableros, e algumas partes do Grupo da Série Inicial e dos Três Dinteles, com a atuação de

arqueólogos estadunidenses como Earl Morris, Ann Axtell Morris e Karl Ruppert (NAVARRO,

2009, p.10).

Neste mesmo projeto fizeram parte, pelo lado do governo mexicano, por meio do

Instituto Nacional de Antropología e História (INAH), Eduardo Martínez Cantón, Manuel

Cirerol Sansores, José Erosa Peniche e Miguel Ángel Fernández que realizaram a restauração

e exploração da Pirâmide do Castillo (Kukulcan), do Gran Juego de Pelota, Tzompantli,

Plataforma de Vênus, e outros edifícios da Grande Nivelação (LEÓN; GÓNGORA, 1994,

pp.16-17). Este trabalho se desenvolveu entre os anos de 1930 e 1940. Já nos anos de 1950 foi

a vez de Jorge R. Acosta restaurar a Plataforma das Águias e Jaguares e o Templo dos

Guerreros, e do arqueólogo Alberto Ruz Lhuillier realizar trabalhos de consolidação em

edifícios menores. Dez anos mais tarde, Román Piña Chan fez investigações no Cenote Sagrado

do sítio, também com um projeto comandado pelo INAH.

Ao final da década de 1970, Peter J. Schmidt realizou um estudo para analisar as

diferentes etapas construtivas da praça do Castillo, além da restauração das fachadas oeste e sul

desta pirâmide. Na década seguinte os trabalhos de investigação aumentaram com as atuações

de Charles Lincoln, Don Patterson e Bruce Love. Nos anos de 1990 dois grandes projetos

arqueológicos comandados pelo INAH atuaram em Chichén Itzá. O primeiro ocorreu entre os

anos de 1990 e 1991 conduzido por Agustín Peña, com estudos na Columnata Oeste do

Conjunto das Mil Columnas, além de escavações estratigráficas na parte sul do sítio. Já entre

1993 e 1994 foi levado a cabo o Proyecto Arqueológico de Chichén Itzá encabeçado pelo

arqueólogo Peter J. Schmidt, que restaurou e explorou a Pirâmide do Osario, a Plataforma de

Vênus e as tumbas também pertencentes ao Grupo do Osario, a Columnata Noroeste do

Conjunto das Mil Columnas, a Pirâmide das Grandes Mesas, e a Sacbé I. Paralelamente deu-se

também a atuação de um projeto comandado por Rafael Cobos da Universidad Autónoma de

Yucatan (UADY) para o estudo de um conjunto habitacional do sítio (MIRANDA; ROMERO;

SCHMIDT; SOLÍS, 2007, p.56). Os anos 2000 também assistiram a atuação de diversos

pesquisadores investigando o sítio de Chichén Itzá e suas relações com outros sítios da

península. Rafael Cobos dirigiu o projeto arqueológico Chichén Itzá: estúdio de la comunidad

del Clásico Tardío com estudos na Grande Nivelação e também na Ilha de Cerritos, localizada

a cerca de 100 km de Chichén Itzá e considerada um importante porto utilizado por esta cidade.

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2.8. A história de uma plataforma

A história da trajetória da Plataforma das Águias e Jaguares que será apresentada nessa

dissertação foi pensada a partir de uma abordagem proposta por William Walker e Lisa Lucero

(2000) na qual percebia-se a importância de uma análise conjunta de objetos deposicionados,

ou oferendados e seus locais de depósito. Para conseguir estabelecer elementos para tal análise

foi pensada a recuperação da história de vida do templo, ou da estrutura, com a recuperação da

sequência deposicional, ou histórias da atividade ritual do edifício, bem como de todos os

momentos de intervenções humanas sofridas por ele. Este tipo de análise seria algo fundamental

para recuperar e entender as atividades rituais realizadas em tal templo no passado (WALKER;

LUCERO, 2000). Segundo esses autores, as casas, templos e monumentos são complexos

artefatos que possuem histórias de vida compostas de diferentes estágios como manufatura, uso,

reuso, abandono e pós-abandono. Ao reconstruir a trajetória da história da plataforma

procuramos ao final, considerar todas as relações existentes entre as múltiplas variáveis numa

sequência de depósitos de objetos.

Ainda que com o uso da estratigrafia e a análise de objetos e elementos da estrutura em

situ seja algo fundamental para tal abordagem proposta, acreditamos que ela também possa ser

utilizada em estudos de objetos fora de seus contextos originais, como uma forma de se agrupar

e analisar todos os dados disponíveis para uma interpretação e tentativa de recuperação do

contexto de tais objetos. Como é o caso da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.

2.9. Dados e estudos sobre a Plataforma das Águias e Jaguares

A Plataforma que hoje é conhecida como Águias e Jaguares está localizada na parte

norte da Grande Nivelação possui uma orientação de 17º, assim como os demais edifícios

localizados nesta grande praça, e é datada como pertencente ao Período Clássico Terminal (800

a 1050 d.C.). É uma estrutura radial de planta quadrada composta por taludes2 e tableros3 com

painéis de figuras em baixos-relevos nos quatro lados, e decoração também na cornija,4 na parte

superior das fachadas. Em cada uma das quatro faces a plataforma apresenta escadarias com

dez degraus cada, decoradas com uma cabeça e corpo de serpente emplumada (NAVARRO,

2007) (ver anexo 8). A estrutura possui nove metros e quarenta centímetros de cada lado com

2 Rampa, inclinação de um terreno, ou parte presente de um templo que se constrói em seus muros de arrimo

(NAVARRO, 2012, p.95; GENDROP, 2009, p.194). 3 Plano elevado que tem como função ornamentar algumas partes de uma construção (NAVARRO, 2012, p.95;

GENDROP, 2009, p.191). 4 Molduras salientes que arrematam a parte superior de construções (NAVARRO, 2012, p.94; GENDROP, 2009,

p.63).

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dois metros e setenta e cinco centímetros de altura (ver anexo 9). Está formada por um corpo

apenas de talude, sobre o qual aparece um tablero aberto, e sobre este outro em forma de tablero

fechado (ACOSTA, 1951, p.4) (ver anexo 10). A estrutura toda é feita de pedra calcária e está

localizada ao lado do Tzompantli, ou plataforma dos crâneos e próximo ao complexo do

Templo dos Jaguares e do Gran Juego de Pelota. Pela proximidade e aparência de motivos

semelhantes levantamos a hipótese de que essas estruturas poderiam ter funções conjuntas

dentro de eventos sociais comuns.

2.10. A plataforma no tempo

Os primeiros registros que mencionam a Plataforma das Águias e Jaguares aparecem

nos escritos do franciscano Frei Diego de Landa, bispo de Iucatã entre 1572 e 1579. Em seu

manuscrito, Relación de Cosas de las Yucatán, datado de aproximadamente 1566, Landa cita

duas estruturas com quadro escadarias que ficavam localizadas no “pátio” próximo à Pirâmide

do Castillo:

Tenía delante la escalera del norte, algo aparte, dos teatros de cantería, pequeños, de

cuatro escaleras, enlosados por arriba, en que dicen representaban las farsas y

comedias para solaz del pueblo. Va desde el patio, enfrente de estos teatros, una

hermosa y ancha calzada hasta un pozo (que está) como a dos tiros de piedra

(LANDA, 1986, pp.113-114).

Ao analisarmos essa descrição feita por Landa com o auxílio de um mapa atual da

Grande Nivelação de Chichén Itzá percebemos que as duas estruturas citadas pelo franciscano

com quatro escadarias em suas faces e que ficavam ao norte da Pirâmide do Castillo seriam as

duas plataformas da Grande Nivelação, a Plataforma de Vênus e a das Águias e Jaguares.

Segundo o religioso essas duas construções teriam como função principal a representação de

espetáculos teatrais.

Séculos mais tarde com a redescoberta dos sítios iucatecos pelos exploradores europeus

e estadunidenses, descrições sobre a plataforma voltam a aparecer. Nos escritos de John Lloyd

Stephens e Frederick Catherwood no século XIX não há exatamente descrições sobre a

construção, mas ela aparece em um mapa feito pela dupla de exploradores datado de março de

1841. Próximo ao que Stephens chamou de “Gymnasium”, que seria o Gran Juego de Pelota,

ele localizou uma estrutura que aparece com o nome de “Ruined Mound”, ou montículo em

ruína (STEPHENS, 2003). É essa construção que seria a Plataforma das Águias e Jaguares. Esta

nomenclatura demonstra a condição que o edifício estava naquele momento. Nas próprias

descrições de Augustus e Alice Le Plongeon de 1875 o casal chama este local de montículo já

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que estava parcialmente destruído e coberto por terra e plantas. Os Le Plongeon foram os

primeiros a escavar e a descrever a estrutura com mais detalhes.

Já nos escritos do explorador austríaco Teobert Maler que percorreu Iucatã entre os anos

de 1887 a 1894 a plataforma aparece nomeada como Mausoleo 1 e é extensamente descrita. Ele

afirma que esse tipo de construção seria algo totalmente diferente do resto das construções do

sítio:

Un cuerpo rectangular, sólido, de unos tres a seis metros de elevación, formando

plataforma en la parte superior, sobre la cual está colocada la estatua colosal del héroe

o dios en cuestión, y escalenas en medio de cada lado, o a veces solo en uno o dos:

constituye la forma típica de una tumba real de Chichén (MALER, 1932, p.50).

Mais adiante em seu texto, Maler descreve com detalhes a plataforma e seus elementos

decorativos e arquitetônicos:

A la corta distancia de unos ciento cincuenta pasos al nordeste del “Templo de los

Tigres y Escudos”, tenemos el mausoleo Nº 1, dedicado a un personaje, cuyo nombre

debe relacionarse con “Tigre” (Balán) […] Parece que este monumento tenía escaleras

por los cuatro lados, principiando sus rampas con cabezas de culebra, bien esculpidas.

En cuanto a la decoración de las paredes del cuerpo sólido, casi cuadrangular, tiene

por base una escarpa de piedra aparejada; a esta sigue la parte vertical del muro con

bellísimos bajo relieves de tigres, alternándose con grandes águilas. Cada tigre y cada

águila lleva un gran huevo (¿o acaso corazón humano?) en su garra derecha, un

símbolo difícil de explicar. Encima del cuerpo principal del muro, se extiende un

hermoso friso con figuras humanas recostadas, y el todo está coronado por una hilera

de calaveras, de siniestro aspecto. No todos estos adornos se encuentran todavía en su

lugar, pero los que se cayeron se encuentran entre los escombros y así hemos podido

restablecer mentalmente la antigua disposición arquitectónica (MALER, 1932, pp. 50

e 51).

Em princípios do século XX a Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, com uma

equipe do Museu Peabody conduziu o maior projeto de escavação e pesquisa levado a cabo até

então no sítio de Chichén Itzá. Esse projeto foi encabeçado pelo arqueólogo estadunidense

Alfred M. Tozzer, que ficou uma longa temporada no sítio fazendo suas investigações. Lá ele

atuou em conjunto com o também arqueólogo e cônsul estadunidense em Iucatã e Campeche,

Edward H. Thompson. Com uma equipe de alguns trabalhadores, eles dragaram o Cenote

Sagrado do sítio, além de outros estudos como cópias de baixos-relevos sob a supervisão da

inglesa Adela Breton. Anos mais tarde, em 1957, após a morte de Tozzer, foi lançado o livro

Chichen Itzá and its Cenote of Sacrifice, A Comparative Study of Contemporaneous Maya and

Toltec, fruto de seu extenso trabalho no sítio. Nesta obra Tozzer procurou abarcar todos os

aspectos de Chichén Itzá, como sua história, cultos religiosos, artes, e contatos com outras

regiões. Neste trabalho o arqueólogo menciona a Plataforma das Águias e Jaguares, chamando-

a de “Mausolea I” ou “Tribunes of the Eagles”:

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By reason of the character of the design on these platforms, they seem clearly to

belong with the Temple of the Warriors, which is most closely concerned with the

Jaguar-Eagle cult. These are the Tribunes of the Eagles, of the Skulls or the

Tzompantli, and of the Cones (TOZZER, 1957, p.43).

Ao analisar a plataforma, Tozzer associa-a ao Templo dos Guerreiros a partir de sua

iconografia, ainda que espacialmente ela esteja mais próxima a outros edifícios como o Templo

dos Jaguares, por exemplo. Mais adiante em seu texto, Tozzer discute a função das plataformas.

Ele afirma que são construções associadas aos tempos mexicas, estariam relacionadas ao culto

às águias e jaguares, e serviriam como um altar ou local para sacrifício e oferendas, além de ter

uma função de um palco ou uma plataforma de dança. Na década de 1940 a arquiteta russa

Tatiana Proskouriakoff em seu livro An Album of Maya Architecture (1943) desenha e

reconstrói a Plataforma das Águias e Jaguares com base nos relatos do bispo Diego de Landa

de que seria um local para representações teatrais e performances. Proskouriakoff chama a

plataforma de Mausoléu Nº 1, Tumba do chacmool ou Plataforma das Águias:

The last name seems most apt, for its panels depict alternately Eagles and jaguars,

each holding what appear to be a human heart. Since Eagles and jaguars were symbols

of military orders in Yucatan, it seems not unlikely that the performances staged on

these platforms were in some way connected with the ignoble art of waging war,

which through Mexican influence was evidently gaining importance as a sphere of

activity (PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94).

Assim como Tozzer, Proskouriakoff em sua descrição associa o uso da estrutura a ordens

militares de jaguares e águias comuns no Centro do México, na cultura mexica.

Já o arqueólogo mexicano, estudioso de Chichén Itzá, Román Piña Chan em seu livro

Chichén Itzá. La Ciudad de los brujos del agua, publicado no ano de 1980, chama a plataforma

de “Templo de las Águilas y Tigres”. Após uma detalhada descrição da construção e de seus

detalhes decorativos e arquitetônicos, Piña Chan diz que seria provável que em cima da

estrutura se utilizassem peças de porta-estandartes em formatos de jaguar tais quais como foram

encontrados no Cenote Sagrado. Além disso, ele interpreta o personagem da cornija da

plataforma como sendo Kukulcan ou Vênus na forma do guerreiro recostado que estaria

relacionado a Tlalchitonatiuh, deidade mesoamericana associada ao pôr do sol, quando as

estrelas sobem ao céu (PIÑA CHAN, 2011, p.80).

Outro importante arqueólogo mexicano que trabalhou em Chichén Itzá no início do

século XX e que comenta sobre a plataforma em uma de suas obras é José Erosa Peniche. No

livro Guía para Visitar las Ruínas de Chichén Itzá, Erosa Peniche descreve a construção e seus

detalhes decorativos apresentando uma nova interpretação sobre a cena em que estão os

jaguares e as águias. Ao invés de pensar que esses animais estivessem devorando os corações

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que estão em suas mãos, Erosa Peniche segue uma outra linha de investigação que supõe que

essas figuras estariam numa cena de oração ou conversa com os corações humanos.

Já Ignacio Marquina, importante arquiteto e arqueólogo mexicano, que foi diretor de

Monumentos Pré-hispânicos na década de 1940, em seu livro Arquitectura Prehispánica, de

1951, descreve a plataforma como sendo parte do complexo composto pelo Templo dos

Jaguares e o Tzompantli. Entretanto, para ele Le Plongeon teria encontrado a famosa peça do

chacmool na outra plataforma, a de Vênus (MARQUINA, 1951, p. 836). Mais adiante no livro,

Marquina fala sobre a própria plataforma, com uma descrição arquitetônica e decorativa, e ao

final afirma que este seria um dos monumentos de Chichén Itzá mais semelhante aos que são

encontrados em Tula, cidade localizada no Centro do México, devido às suas características

arquitetônicas e de estilo (MARQUINA, 1951, p. 888).

2.11. Intervenções arqueológicas

Após uma breve apresentação de uma historiografia sobre a Plataforma das Águias e

Jaguares é importante mostrarmos também as diversas intervenções sofridas por essa estrutura

ao longo do tempo. Intervenções com objetivos de restauro e conservação que foram

comandadas por órgãos do governo mexicano na primeira metade do século XX.

Como já foi discutido anteriormente, o que hoje é a plataforma ficou em ruínas durante

séculos coberta pela terra e pela vegetação local. Isso é retratado pelos exploradores do século

XIX como Augustus Le Plongeon, por exemplo. Este explorador foi também o primeiro a

escavar tal plataforma, e após este trabalho terminou por deixar as ruínas da forma como

estavam, com um grande amontoado de terra e resquícios das pedras que compunham a

estrutura. Em nossa investigação, foi possível constatar que esta é a única escavação pela qual

a plataforma passou até hoje. A primeira intervenção visando o restauro da estrutura foi

realizada no ano de 1931 pelo governo mexicano com uma equipe do INAH, sob o comando

do arqueólogo Eduardo Martínez Cantón, e com a participação de José Erosa Peniche, da

direção de Arqueologia do governo mexicano e Theodore Arthur Willard da Carnegie

Institution de Washington, Estados Unidos. No informe do INAH de nº 1089-16 de 19 de maio

de 1931, Martínez Cantón relata os primeiros trabalhos para retirada de escombros e início do

restauro da construção com a colocação das primeiras pedras identificadas. Os trabalhos se

concentraram na parte nordeste do templo, além de uma primeira tentativa de restauro dos lados

leste e ângulo sudeste (MARTÍNEZ CANTÓN, 1931, p.6). Em seu relatório o arqueólogo

também ressalta ter encontrado um anel dourado e dois botões de pedra nos escombros em

frente a esta estrutura. (ver anexo 11).

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A segunda e definitiva intervenção na plataforma foi realizada entre os anos de 1951 e

1952 por uma equipe comandada pelo arqueólogo Jorge Ruffier Acosta, que terminou por

restaurá-la por completo. No informe nº 1129-15 Acosta relata os trabalhos feitos na estrutura

e afirma que ela estava bastante destruída naquele momento, com algumas das pedras

esculpidas dispostas ordenadamente no solo, deixadas pelos arqueólogos que haviam

trabalhado na plataforma nos anos de 1930. Além disso, foram encontrados in situ apenas o

talude inferior e alguns degraus. Os demais elementos, tableros, cornijas, alfardas e as grandes

cabeças de serpente estavam jogados no entorno da estrutura (ACOSTA, 1951, p.3). Acosta

ressalta que após ordenar o material deduziu que se tratava de uma construção semelhante à

Plataforma de Vênus, restaurada anteriormente. Ele observou que as placas de baixo-relevo das

fachadas obedeciam a uma ordem de um jaguar no meio de duas águias, e algumas dessas placas

já haviam sido colocadas nos trabalhos de 1931. Essas duas intervenções a da década de 1930

e a de vinte anos mais tarde foram as únicas realizadas na Plataforma das Águias e Jaguares até

então.

2.12. As plataformas no mundo mesoamericano

O tipo de construção conhecido como plataforma é um dos elementos básicos da

arquitetura mesoamericana. Usada especialmente em partes externas das grandes cidades

possuía algumas características próprias fazendo-se presente em diferentes áreas e sítios da

Mesoamérica ao longo do tempo. Esse sistema arquitetônico era algo muito utilizado para

diversas construções. Constitui-se de um espaço aberto com um nível mais elevado de um bloco

construtivo com a presença de degraus, que davam uma aparência piramidal a tais estruturas

(NAVARRO, 2013, p.43). Uma plataforma podia ser a base ou o corpo de qualquer estrutura

piramidal.

Segundo o Diccionario de Arquitectura Mesoamericana de Paul Gendrop (2009), uma

plataforma é uma superfície elevada, plana e lisa, que constitui a parte superior de um acumulo

de sedimentos, sobre o qual pode se erguer uma ou várias construções (GENDROP, 2009,

p.161). Ignacio Marquina (1951, p.15) também discute a função desse tipo de elemento

arquitetônico, além de mostrar como ele foi se modificando ao longo do tempo. Segundo

Marquina, os diversos tipos de plataformas piramidais, ou plataformas simples seriam o

resultado da combinação entre o seu núcleo e o revestimento. O tipo básico seria a plataforma

de paredes verticais e o talude, elementos típicos teotihuacanos, com variações dessa mesma

composição de estrutura ao longo do tempo e região.

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Ainda discutindo a função e a presença de plataformas na Mesoamérica, Alfred Tozzer

dedica uma parte importante do seu livro Chichen Itzá and its Cenote of Sacrifice, A

Comparative Study of Contemporaneous Maya and Toltec (1957), para tratar desse assunto.

Tozzer diz que esse tipo de construção era algo comum no centro de praças ou na frente de

templos por toda a região mesoamericana. Segundo o arqueólogo, tal estrutura composta por

quatro lados poderia servir como um altar ou local de sacrifício e oferendas, e também como

um palco ou plataforma de dança (TOZZER, 1957, p.81).

Acredita-se que a ocorrência desse tipo de plataforma radial com quatro lados e quatro

escadarias seja datada do período Pré-Clássico Tardio na área maia. Tal forma foi fundamental

nos chamados Grupos E, em que três pequenas construções e um templo eram alinhados com

orientações ao leste, com o centro e as esquinas marcando posições de movimentos solares

como solstícios e equinócios (SCHELE; MATHEWS, 1999, p.180). As plataformas radiais

também estão presentes em diversos outros sítios e períodos do passado mesoamericano. A

cidade de Uaxactún, pertencente ao Período Pré-Clássico, foi um dos primeiros locais de

surgimento de estruturas desse tipo que se tem notícia na área maia (NAVARRO, 2007, p.63).

Na Península de Iucatã, no sítio de Uxmal, um dos mais importantes dessa região, que teve seu

auge de ocupação durante o Clássico Tardio há uma plataforma quadrangular localizada em

frente ao templo chamado, Palácio do Governador. É uma estrutura pequena, com cinco degraus

onde foi encontrada uma oferenda com contas de jade e pedra coral, um peitoral de jade e cinco

vasilhas de alabastro (TOZZER, 1957, p.81). Assim como em Chichén Itzá, tal plataforma

também está localizada num espaço reservado a elite governante da cidade. Em Mayapan,

importante cidade maia do período Pós-Clássico também localizada em Iucatã, nota-se a

ocorrência de algumas plataformas de formato quadrangular. Elas estão localizadas na área

cerimonial da cidade, próximas aos templos principais, como a Pirâmide de Kukulcan, e o

Observatório. São estruturas erguidas seguindo um padrão de localização em frente de templos

e em praças abertas (MILBRATH; PERAZA LOPE, 2003, p.9). Outro exemplo de plataforma

radial presente na área maia é a estrutura A-3 de Ceibal, sítio que teve o seu início de

povoamento durante o Período Pré-Clássico, e está localizado na região do Petén na Guatemala.

Essa construção é uma plataforma radial com quatro fachadas e quatro escadarias e em sua parte

superior há uma estrutura que criava um ambiente fechado (SCHELE; MATHEWS, 1999,

p.181). Já no Centro do México, em Teotihuacan, a grande metrópole mesoamericana,

localizada no Valle de Teotihuacan, que iniciou seu processo de povoamento por volta de 500

e 100 a.C. (MATOS MOCTEZUMA, 2009, p.30) temos a incidência de diversas estruturas com

formato de plataformas quadrangulares localizadas na frente de templos ou em praças

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circundadas por importantes estruturas da elite do sítio. Encontramos tais plataformas na Plaza

de la Luna, com uma estrutura em frente à Pirâmide da Lua, junto ao Templo de Quetzalcoatl,

na Ciudadela, no complexo da Pirâmide do Sol, em contextos associados a templo e praças.

Ainda no Centro do México destaca-se também a ocorrência de plataformas no sítio de

Tula. Localizado no Estado de Hidalgo, e considerado a antiga capital tolteca o sítio teve seu

início de povoamento por volta do ano de 650 d.C. e apogeu nos séculos X e XII (COBEAN;

JIMÉNEZ GARCÍA; GUADALUPE MASTACHE, 2012, p.136). Essa cidade que guarda

grandes semelhanças arquitetônicas com Chichén Itzá apresenta uma plataforma quadrangular

muito parecida com a Plataforma das Águias e Jaguares. Conhecida como Plataforma do

Adoratório, ela possui oito metros e cinquenta centímetros de cada lado, dois metros de altura,

quatro escadarias com seis degraus cada, e seus lados são formados por taludes (MARQUINA,

1951, p.159). A estrutura está localizada na praça principal do sítio entre três importantes

construções, a Pirâmide C, o Palácio Quemado e o Tzompantli, próximo ao Jogo de Pelota

Número 2. O Adoratório está alinhado com a escadaria central da Pirâmide C e o centro do

Edifício K. Segundo Robert Cobean, Elizabeth Jiménez García e Alba Guadalupe Mastache

(2012, p.98) essa estrutura possivelmente teve escadarias e uma escultura de chacmool, já que

o arqueólogo Jorge Acosta encontrou uma escultura desse formato entre os escombros do

edifício. Aqui cabe uma observação de que foi o mesmo Acosta que também fez os restauros

finais da Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá, o que levou a muitos

questionamentos por parte de estudiosos sobre as interpretações utilizadas por esse arqueólogo

para levar a cabo os dois trabalhos. Em El Tajín, antiga capital totonoca, localizada no atual

Estado de Veracruz, no México, também encontramos uma plataforma quadrangular com as

configurações estudadas. Tajín foi um importante sítio localizado temporalmente no período

Clássico Tardio, com as primeiras construções que datam aproximadamente de 600 d.C.

(LADRÓN DE GUEVARA, 2010, p.23), tendo seu auge entre os anos de 750 e 950 d.C.. O

padrão arquitetônico dessa cidade consiste em edifícios de base quadrada ou retangular com

um ou vários corpos sobrepostos. No centro cerimonial da cidade há a presença de uma

plataforma quadrangular com dimensões próximas as da plataforma do Adoratório de Tula. No

sítio de Xochitécatl-Cacaxtla, localizado no Vale de Puebla-Tlaxcala, que conta com um início

de ocupação desde o período Pré-Clássico, existe uma estrutura quadrangular no centro

cerimonial da cidade. Chamado de Basamento de los Volcanes, esta construção de formato

retangular teve duas etapas construtivas realizadas no período Clássico Tardio por volta do ano

de 750 d.C. (SERRA PUCHE; LAZCANO ARCE, 2012, p.201). Essa estrutura se caracteriza

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por ter as fachadas em estilo talude-tablero e está localizada no centro da grande praça de

Xochitécatl.

Além da cultura material, encontramos menções a estruturas com formato de

plataformas quadrangulares na pintura mural, como na cidade de Bonampak, localizada na

região do Rio Usumacinta em Chiapas. Nos murais do quarto 3 da estrutura 1 do sítio há uma

cena de uma cerimônia de elite, com músicos e personagens ataviados sobre uma grande

estrutura que se assemelha a uma plataforma (ver anexo 24). As cenas dos murais parecem estar

retratando essas estruturas também como locais de apresentação de cativos de guerra para

sacrifício, bem como para a apresentação de danças e espetáculos (INOMATA, 2006, p.199).

2.13. Uma plataforma, diversos nomes

Durante as nossas pesquisas nos deparamos com uma grande quantidade de informação

dispersa sobre a Plataforma das Águias e Jaguares. Diversos estudiosos que se debruçaram a

analisar essa construção acabaram por nomeá-la de diferentes formas, o que levou a um

entendimento problemático e a uma referência confusa do edifício em diversas publicações.

Para organizar essas informações dispersas pensamos na elaboração de uma tabela com os

diferentes nomes que a plataforma ganhou ao longo dos anos. Abaixo apresentamos essa tabela,

com o nome do estudioso, a nomeação dada ao edifício e a referência bibliográfica onde se

encontra essa informação. Pensamos que dessa forma futuros estudos sobre a Plataforma das

Águias e Jaguares possam partir de dados mais claros sobre a construção. Optamos por deixar

os nomes dados à plataforma na língua original, tal qual encontrados nas fontes pesquisadas.

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Autor Nome dado à plataforma Referência Bibliográfica

Frei Diego De Landa Teatro de cantería LANDA, [1566] 1986

John Lloyd Stephens

e Frederick

Catherwood

Ruined Mound STEPHENS, [1843] 2003

Augustus Le

Plongeon e Alice

Dixon Le Plongeon

Prince Coh Mausoleum / Tiger

Mausoleum

LE PLONGEON, [1896] 1900;

DESMOND, 2009

Alfred Percival

Maudslay

Small mound / Mound 13 MAUDSLAY, 1889-1902

Ignacio Marquina Casa de las Águilas MARQUINA, 1928

Teobert Maler Mausoleum 1 MALER, 1932

Tatiana

Proskouriakoff

Mausoleum Nº 1 / Tomb of

chacmool / Eagles Plataform

PROSKOURIAKOFF, [1943]

2002

José Erosa Peniche El templo de las Águilas EROSA PENICHE, 1946

Karl Ruppert Plataform of Eagles RUPPERT, 1952

Alfred M. Tozzer Mausolea I / Tribunes of the Eagles TOZZER, 1957

Román Piña Chan Templo de las Águilas y Tigres PIÑA CHAN, [1980] 2011

Tabela 2 – Os diversos nomes dados por estudiosos à Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá.

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Nosotros nacimos de la noche. En ella vivimos.

Moriremos en ella. Pero la luz será mañana para los

más, para todos aquellos que hoy lloran la noche, para

quienes se niega el día, para quienes es regalo la muerte,

para quienes está prohibida la vida. Para todos la luz.

Para todos todo. Para nosotros el dolor y la angustia,

para nosotros la alegre rebeldía, para nosotros el futuro

negado, para nosotros la dignidad insurrecta. Para

nosotros nada.

EZLN – Ejército Zapatista de Liberación Nacional

Capítulo 3: As trajetórias das peças da oferenda. Usos e reusos

Como parte fundamental da investigação levada a cabo nessa dissertação, pretendemos

agora traçar o itinerário e as relações empreendidas pelas peças da oferenda da Plataforma das

Águias e Jaguares a partir do momento de seu desterramento feito pelo casal Le Plongeon no

final do século XIX até os dias atuais. Iremos traçar de uma maneira geral os caminhos e as

implicações sofridas pelas peças durante essas trajetórias. Para isso, faremos uso do referencial

teórico construído por Rosemary Joyce e Susan Gillespie em Things in Motion. Objects

Itineraries in Anthropological Practice (2015) e também aspectos apresentados por Arjun

Appadurai em seu livro, A Vida Social das Coisas: As Mercadorias sob uma Perspectiva

Cultural, (2008). Ambos já apresentados e discutidos no capítulo de considerações teóricas.

Para esse trabalho da recuperação do histórico das peças pensamos em estruturar tal

análise a partir de uma divisão das peças em conjuntos. Agrupamentos que se formaram e se

originaram após o descobrimento das peças pelo casal Le Plongeon. Algumas das peças

acabaram viajando unidas para diferentes destinos, fruto de uma intenção do casal de

exploradores para definir onde tais peças seriam abrigadas, ou ainda resultado de situações não

planejadas e geradas por circunstâncias diferentes. Dessa forma, fizemos uma divisão de cinco

grupos principais. A ordem de análise das peças e dos grupos, foi pensada seguindo a ordem do

desterramento das peças no momento de sua descoberta, tal qual relatada por Alice Dixon Le

Plongeon em seu diário de campo, hoje nos arquivos da coleção especial do Instituto Getty de

Los Angeles, Estados Unidos, e publicado em 2009 por Lawrence Desmond, com o título

Yucatan through her Eyes. Alice Dixon Le Plongeon, Wrtiter & Expeditionary Photographer.

Tivemos acesso a esse material durante nossa estada no Instituto Getty em agosto de 2016.

O primeiro grupo é composto pela escultura de pedra calcária em formato de um jaguar

reclinado, o segundo compreende as lápides e elementos que formam a decoração das fachadas

da plataforma. O terceiro conjunto engloba a escultura de pedra calcária com o formato de um

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personagem reclinado conhecido como chacmool. O quarto grupo é composto por peças que

nomeamos como dispersas, que foram registradas pelo casal no momento da descoberta, mas

que depois tiveram suas trajetórias ocultadas e possuem um destino desconhecido. E o último

grupo é composto por objetos móveis, como líticos, pequenas contas de pedras e conchas. Este

foi subdividido em dois conjuntos; as peças que foram doadas ao Museu Americano de História

Natural de Nova York, e as que acabaram sendo destinadas ao Museu Peabody de Harvard em

Boston (ver anexo 12).

Acreditamos que tal divisão se configura num método de análise mais útil, que irá levar

em conta um novo itinerário das peças a partir de sua descoberta. Esse momento da intervenção

do casal Le Plongeon na plataforma e o consequente desterramento das peças foi considerado

como o marco de partida nas investigações desse capítulo. Como não dispomos de análises

físicas e tecnológicas mais completas sobre as peças, fica impossibilitada uma tentativa de

contextualizar os artefatos desde o momento de sua produção ainda no período pré-hispânico.

Ainda que tentemos sugerir algumas dessas origens, uma completa e mais específica análise

ficaria para um projeto posterior. Um detalhamento maior da materialidade dos artefatos, bem

como questões técnicas, descrições de suas iconografias estão disponíveis na parte do catálogo

que se encontra ao final dessa dissertação.

3.1. A oferenda volta à luz

Este precioso objeto de la antigüedad, cuyo origen se pierde en la noche de los

tiempos, es digno del estudio de los hombres pensadores. La Historia y la Arqueología

en sus graves y profundas investigaciones descubrirán tal vez algún día el arcano que

encierra, como todos esos preciosos monumentos que riegan la extensión de nuestro

rico suelo, prueba evidente de la antigua civilización de los Mayas, que absorbe la

atención del Viejo Mundo (PERIÓDICO OFICIAL, 02/03/1877, pp. 3 e 4).

A história que contaremos a seguir foi extraída dos escritos do casal Le Plongeon sobre

os trabalhos realizados no final do ano de 1875 no montículo dos escombros da Plataforma das

Águias e Jaguares. O relato foi baseado em duas fontes principais; os escritos de Augustus e o

diário de anotações de Alice feito durante as viagens do casal (ver anexo 35). Para isso

regressamos à Península de Iucatã, México, no final do século XIX. As descobertas realizadas

naquele domingo ensolarado de primeiro de novembro de 1875 em Chichén Itzá iriam mudar

para sempre a trajetória da vida do casal de exploradores, bem como o próprio manejo do

patrimônio histórico e arqueológico mexicano. Após pouco mais de dois meses trabalhando em

Chichén Itzá, o casal Le Plongeon tinha acabado de terminar os estudos e registros no Templo

dos Jaguares, localizado na Grande Nivelação, parte norte do sítio, quando se deram conta de

um pequeno montículo com um formato quadrangular e com algumas pedras aparentes

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localizado ao lado do templo. Os detalhes das placas de pedra enterradas nesse local logo

chamaram a atenção dos exploradores por possuírem uma ornamentação com motivos

relacionados aos encontrados no Templo dos Jaguares. Nesse momento, Le Plongeon já havia

criado a sua narrativa que descrevia a história antiga de Chichén. A história da Rainha Móo e

do príncipe Coh, ou príncipe chacmool.

Ao observar o montículo com imagens que faziam alusão a esse personagem, Augustus

logo pensou que aquele pequeno monte de terra e escombros, seria o local onde o chacmool

estaria enterrado. Seria o seu mausoléu. Foi então que deram início os trabalhos de escavação.

A primeira peça encontrada foi a escultura de um jaguar reclinado sem cabeça feita de pedra

calcária, que estava a poucos metros da superfície. A descoberta animou o grupo de

exploradores que continuou os trabalhos. Na sequência foram achados em cada uma das

esquinas do montículo, placas de pedra-calcária com figuras de jaguares e águias em baixo-

relevo. Num total de oito placas. Ainda que atingidos pelo forte calor característico da

península, os trabalhos seguiam. Pedras e pequenos objetos cerâmicos eram encontrados,

alguns deles partidos e danificados, até que as escavações chegaram a um grande objeto feito

de pedra com formato circular. Era uma urna de pedra calcária onde estavam umas pequenas

contas de pedra verde, uma peça alongada feita desse mesmo material e muito pó. Ao cavar

mais um pouco ao redor da urna, os trabalhadores avistaram partes de uma peça de pedra

calcária de grande dimensão.

Então foi a vez de Le Plongeon ajudado com seus dez trabalhadores indígenas que o

acompanhava, encontrar a peça mais destacada de seus estudos e que acabou por ganhar uma

grande repercussão em toda a sua vida. Enterrada a oito metros de profundidade a estátua que

Augustus nomeou como chacmool logo chamou sua atenção e de todos os trabalhadores

presentes. Os trabalhos das escavações realizados no montículo duraram cerca de um mês.

Segundo relata Alice em seu diário (DESMOND, 2009, p.119), a retirada do chacmool e a

escavação do local foram tarefas muito difíceis e trabalhosas. Foi necessário um grande

empenho por parte dos trabalhadores, pois além da profundidade onde se encontrava a peça,

havia ainda muitas árvores a serem retiradas do montículo. Outro problema adicional ocorrido

durante os trabalhos foi a deserção de diversos soldados que estavam designados para fazer a

segurança do casal fruto do recrudescimento das tensões sociais que ocorriam em Iucatã

naquele momento com a Guerra de Castas. Fato este que atrasou muito os trabalhos.

Para facilitar a remoção das pedras do montículo, Augustus criou uma máquina feita de

madeira que possuía uma estaca apoiada no solo que sustentava em seu topo um outro pedaço

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de madeira onde havia um cesto anexado em sua extremidade que servia para depositar as

pedras e materiais encontrados no montículo (DESMOND, 2009, p.123). Nos dias que se

seguiram, Alice teve problemas de saúde e com o colódio de sua máquina fotográfica, além

disso, foram dias muito chuvosos, que dificultaram os trabalhos de extração da escultura. Dez

dias depois dos inícios dos trabalhos no montículo, Alice relata que pela primeira vez pode ver

o chacmool, ainda parcialmente coberto pela terra:

Dr. descended & removed the covering which he had put over the head. Looking down

upon from the brink of the opening, it appeared to me one of the most beautiful heads

I had ever seen. I experienced an intense pleasure looking at it, knowing how long it

had been hidden. Dr. tried in vain to move it, it was firm was a rock. He remained a

short time below & cleared as much as he could, the loose earth away with his hands,

following the direction of the body, which direction the body, which he found in a

strange reclining, sitting posture. After seeing in which direction, the body was, he

found that he would have it enlarge the opening, for the statue was not in the center

and the knees yet under the mound (DESMOND, 2009, p.124).

Os dias se passavam e a ansiedade de retirar a peça aumentava cada vez mais. Alice e

Augustus queriam poder admirar a peça em sua totalidade, perceber cada detalhe. Todo

pequeno avanço no trabalho gerava uma expectativa ainda maior no casal. No dia 25 de

novembro, Alice relata que pela primeira vez pode observar detalhes da escultura. Ela descreve

que o personagem levava uma fita vermelha no entorno do pescoço, uma espécie de medalha

no peito, braceletes amarelos assim como as ligas e a fita que segura a sandália na cor vermelha.

A metade direita do corpo estava pintada da cor natural, um pálido marrom amarelado

(DESMOND, 2009, p.133).

Nos dias seguintes outros materiais foram retirados do montículo. Próximo a urna eles

acharam uma parte de uma faca de sílex, outra urna de pedra um pouco menor que a primeira,

e do lado direito da base da estátua do chacmool 31 pontas de lança finamente cortadas, sendo

28 brancas e 3 verde-escuros. Ao perceber a dificuldade que seria em remover a escultura do

chacmool do seu enterramento, Augustus decidiu construir uma carriola de madeira para poder

transportá-la. Nos dias 24 e 25 de novembro, finalmente os trabalhadores conseguiram remover

a estátua do montículo com ajuda das madeiras colocadas por Augustus. E assim, o chacmool

ganhava vida mais uma vez. Depois disso, o processo para movê-lo com a carriola de madeira,

também foi lento e gradual. Eles conseguiam avançar alguns metros por dia. Após mais alguns

dias a peça foi transportada para a cidade vizinha de Pisté, a apenas dois quilômetros do sítio

de Chichén Itzá, local onde o casal de exploradores tinha estabelecido um tipo de base de

operações na igreja da cidade (DESMOND; MESSENGER, 1988, pp.40-41). Augustus e os

trabalhadores conseguiram chegar com o chacmool em Pisté em 20 de dezembro de 1875, onde

ele ficou escondido até o ano de 1877 quando a peça foi confiscada pelo governo iucateco.

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Le Plongeon e Alice tinham chegado ao ápice de seus estudos arqueológicos. A peça

recém-retirada do solo era a glória. Eles acreditavam que estavam diante de uma das peças

arqueológicas de maior relevância para a história da Arqueologia mundial. Logo Augustus

batizou a peça de Chaac Mol, príncipe e irmão menor da rainha Móo. Levar a peça para Pisté

seria apenas uma etapa para o objetivo principal de Le Plongeon que era a de levá-la junto com

os outros artefatos a uma exposição que iria acontecer na cidade da Filadélfia nos Estados

Unidos.

Após retirar o chacmool do montículo, o casal Le Plongeon seguiu a realização de seus

estudos no local. Foram desenhadas e traçadas as paredes da estrutura, anotações sobre os

trabalhos empreendidos, medidas foram tomadas, e desenhos com hipotéticas reconstruções do

templo também foram feitos pelo casal. Além de diversas fotos tiradas durante todo esse

processo. Alice relata que o montículo teria sido escavado até enquanto foram achados pedras

e artefatos. Em seu diário ela diz que os trabalhos seguiram até ser atingida uma terra fresca de

coloração preta, sinal de que as evidencias culturais teriam acabado (DESMOND, 2009, p.136).

Essa camada da terra que marcou o fim das escavações teria sido, segundo Alice, a uma

profundidade de aproximadamente dez metros a partir do topo do montículo. Ela afirma que

nada ficou para ser descoberto, já que eles teriam descoberto tudo o que estava enterrado lá. Ao

final, o casal decidiu deixar as pedras caídas nos quatro lados do montículo.

Essa introdução nos apresenta a descoberta da oferenda da Plataforma das Águias e

Jaguares de Chichén Itzá que será analisada e descrita agora de maneira mais detalhada, com

uma tentativa de reconstruir os itinerários que as peças desse conjunto fizeram a partir desse

marco.

3.2. Um jaguar esquecido

O ponto de partida dessa investigação sobre os itinerários das peças consistiu num

grande mapeamento de publicações recentes e antigas acerca de estudos em Chichén Itzá que

pudessem conter informações sobre os objetos. Foram consultadas fontes de pesquisadores

atuais e que atuaram ao longo do século XX, além de exploradores e arqueólogos amadores, e

notícias de jornais da época dos trabalhos do casal na plataforma. A primeira peça desenterrada

pelos Le Plongeon em seu empreendimento foi a escultura de pedra calcária com o formato de

um jaguar reclinado encontrada semienterrada, logo no topo do montículo (DESMOND;

MESSENGER, 1988, p.34-35; SALISBURY, 1877, pp.58-59) (ver ficha 1 do catálogo e anexo

35). Os trabalhos que tratam dessa escultura rareiam. Além de algumas pequenas referências,

encontramos apenas um artigo específico sobre o objeto. É a publicação de 1985 de Daniel

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Schávelzon, El Jaguar de Chichén Itzá, un monumento olvidado (1985) que constitui uma breve

apresentação sobre a história da escultura e uma análise iconográfica inicial. Informações sobre

os itinerários da peça que estão presentes no texto, foram de grande importância para um

mapeamento inicial de nossa investigação. Nesse artigo Schávelzon, afirma que a peça teria

ficado nas cercanias de Chichén Itzá até meados da década de 1950, quando após o restauro da

Plataforma das Águias e Jaguares, ela acabou sendo levada para o Museu Palácio Cantón de

Mérida. Após isso, a peça teria ficado esquecida no deposito do museu até o ano de 1984,

quando o então diretor, Peter Schmidt localizou a escultura durante a catalogação das peças

presentes no museu. Além dessa obra, outros estudos importantes para o levantamento de dados

para a nossa pesquisa foram as publicações de Adam Sellen e Lynneth Lowe, Las Antiguas

Colecciones Arqueológicas de Yucatán en el Museo Americano de Historia Natural (2009),

Lawrence Gustave Desmond, The Chacmool and Queen Moo (1981), Yucatan through her

Eyes. Alice Dixon Le Plongeon, Wrtiter & Expeditionary Photographer (2009), e A Dream of

Maya. Augustus and Alice Le Plongeon in Nineteenth Century Yucatan (1988) trabalho em

conjunto com Phyllis Mauch Messenger. Essas publicações trazem relatos e um histórico dos

trabalhos do casal Le Plongeon em Chichén Itzá, com informações detalhadas sobre o que foi

realizado e o material recuperado pelo casal de investigadores. Já o arqueólogo estadunidense

Alfred Tozzer em seu livro, Chichén Itzá and its Cenote of Sacrifice, volume XI (1957) afirma

que o depósito descoberto pelo casal Le Plongeon foi a primeira oferenda encontrada em

Chichén Itzá. Ele cita de maneira geral e incompleta o material, e acaba por não mencionar a

existência da estátua do jaguar reclinado (TOZZER, 1957, p.85). Já Sellen e Lowe relatam a

presença da estátua do jaguar reclinado como sendo uma “estátua de un leopardo moribundo

con cabeza humana” que foi encontrada pelo casal na oferenda (SELLEN; LOWE, 2009, p.58).

Outro documento fundamental em nossas análises foi o diário de Alice Dixon Le Plongeon

redigido durante o período de viagens do casal pela Península de Iucatã. Esse documento

encontra-se nos arquivos do Instituto Getty de Los Angeles e foi publicado por Desmond no

ano de 2009 com o título de Yucatán through her eyes: Alice Dixon Le Plongeon: Writer and

Expeditionary Photographer. Nesse trabalho há a recuperação dos relatos da descoberta da peça

com descrições detalhadas sobre o contexto arqueológico encontrado pelo casal no momento

dos trabalhos. Foi a partir deles que tomamos conhecimento pela primeira vez da existência da

escultura. Dentre os relatos de estudiosos antigos sobre a figura do jaguar, menções à peça

aparecem também em uma foto tomada pelo explorador austríaco Teobert Maler, em finais do

século XIX quando a escultura ainda estava no sítio de Chichén Itzá. A foto foi publicada no

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livro do alemão Eduard Seler, Die ruinen von Chichén Itzá in Yucatán em 1915 e pertence ao

acervo do Museu Iberoamericano de Berlim.

O jaguar reclinado também é mencionado na publicação de Alfred Percival Maudslay,

explorador inglês que visitou Chichén Itzá em 1889 e encontrou a escultura próxima ao

montículo escavado por Le Plongeon. Na parte de Arqueologia da enciclopédia, Biologia

Centrali-Americana, publicado em oito volumes de 1889 a 1902, Maudslay coloca uma foto da

peça, mas sem a cabeça com formato humano que fora colocada propositalmente por Le

Plongeon durante os trabalhos de escavação.

3.3. O histórico dos itinerários do jaguar reclinado

Desde o momento de sua descoberta foi anexada à peça uma cabeça de um personagem

humano que porta um tocado com formato de um felino (ver ficha 2 do catálogo). Essa cabeça

foi colocada em conjunto com a peça pela primeira vez por Le Plongeon e ainda que não pareça

ter pertencido à escultura, essa construção do estudioso fazia parte da elaboração de uma

narrativa para explicar a cultura maia. Este objeto também é feito de pedra calcária e parece ter

sido a cabeça de alguma escultura de tipo chacmool presente no sítio. Uma descrição mais

detalhada desses artefatos, assim como de todas as outras peças mencionadas nesse capítulo

podem ser encontradas na parte do catálogo dessa dissertação.

Por meio de estudos que discutem a cronologia do sítio e levando em conta a localização

espacial da escultura do jaguar reclinado no momento de sua descoberta, podemos aferir que a

escultura tenha sido manufaturada entre os anos de 1000 a 1100, momento em que a Grande

Nivelação, uma vez centro da cidade de Chichén Itzá, teria atingido o seu tamanho atual

(GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.60; BRASWELL; PENICHE MAY, 2012, p.250). Ainda

que a peça nunca tenha passado por testes para constatar uma datação mais precisa, acreditamos

que ela tenha sido elaborada por volta desse período pelos indícios contextuais. Um estudo mais

aprofundado que leve em conta as características físicas da peça, como o seu material preciso

de manufatura, além de uma datação relativa é uma das nossas intenções com os

prosseguimentos de nossas pesquisas durante um possível doutoramento.

Mesmo que ainda não haja muitos estudos sobre oficinas de manufatura de esculturas

de pedra na Península de Iucatã, as pedras calcárias utilizadas para a produção de esculturas e

construções teriam sido recolhidas localmente, através da ocorrência de sascaberas, locais de

extração de pedra calcária que são abundantes ao longo do sítio (COBOS, 2000, p.123). Esse

tipo de material faz parte da própria constituição geológica da península de Iucatã que está

assentada sobre uma planície cárstica que abarca grande parte do centro-norte das terras baixas

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maias. A península possui uma formação rochosa originada há cerca de 30 milhões de anos

emergida durante os períodos Mioceno e Plioceno que é composta por um solo de rochas

calcárias e poucas fontes de águas na superfície, sendo comum a presença de fluxos aquáticos

subterrâneos (RUÍZ, 1996, pp.3-4; ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.18). Essa abundância de

material calcário na região nos leva a aferir que a escultura tenha sido produzida com material

local do próprio sítio.

O uso funcional e ritual da escultura teria se dado após a sua manufatura até o abandono

sistemático do sítio. As peças, assim como os outros objetos da oferenda da Plataforma das

Águias e Jaguares, teriam ficado enterrados por séculos até o ano de 1875 com as explorações

realizadas pelo casal Le Plongeon. Em seu diário, Alice Dixon Le Plongeon relata que no dia

01 de novembro de 1875, Augustus começou a explorar um montículo próximo ao Templo dos

Jaguares. Durante os trabalhos a estátua do jaguar teria sido um dos primeiros objetos

desenterrados:

Dr. Discovered a mound with sculptured slabs, and a statue of a dying tiger without

head half buried in the ground. [...] This mound is not far from the tiger monument.

We took it to be a mausoleum. [...] [...] The reclining tiger, with three holes in the

back, sculptured in the round; was a little way off from the mound, but we think it was

once at the top (LE PLONGEON, 1873-1876, p.147).

Mais adiante no relato Alice descreve detalhadamente as medidas da peça, além de

registrá-la por meio de fotografia. Menções à descoberta do artefato também aparecem numa

carta de 19 de fevereiro de 1878 enviada por Augustus Le Plongeon para o seu patrocinador,

Stephen Salisbury Jr., presidente da American Antiquarian Society. Na carta, Le Plongeon fala

sobre suas descobertas e problemas com o governo mexicano a respeito da tentativa de

importação dos objetos descobertos e descreve as peças encontradas durante as escavações na

Plataforma das Águias e Jaguares. O explorador cita a escultura do jaguar ao descrevê-la:

Besides the statue of Chaacmol, I have found (ilegível) in the same position but

smaller those Chaacmol, unfortunately, without head, the reclining tiger, with human

head. The photograph of which is in my collection, besides bas-reliefs (LE

PLONGEON, 19/02/1878).

Na sequência, a peça foi fotografada pelo casal Le Plongeon, com a cabeça humana

colocada sobre a escultura, e deixada no local de sua escavação (ver anexo 13). Alguns anos

mais tarde, na década de 1880, o explorador Teobert Maler em uma de suas visitas ao sitio

também fez um registro fotográfico da escultura.

Depois disso os relatos sobre o jaguar reclinado rareiam. Há ainda uma menção numa

carta de 1877, enviada por Juan Peón Contreras, então diretor do Museu Yucateco, que depois

passaria a se chamar Museu de Antropologia Palácio Cantón, à Agustín Del Rio, governador

do Estado de Iucatã na época, falando sobre as descobertas de Le Plongeon em Chichén Itzá.

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Ele cita a descoberta do chacmool e junto a escultura com formato de um tigre reclinado,

também de pedra, sem cabeça, deixada a uma curta distância do sitio:

Aún se conserva à corta distancia del sitio donde fue exhumada la efigie (chacmool),

una estatua de piedra representando un tigre sobre una base cuadrilinga también, la

cual se presume cubrió el mausoleo antes de la destrucción (PEÓN CONTRERAS,

1877).

Alfred Tozzer também reafirma o contexto onde foi encontrada a escultura do jaguar

reclinado, fazendo uma citação à publicação de Salisbury de 1877:

This figure (o chacmool), now in the National Museum, México, was found inside the

platform of Mausoleum I, now called the Platform of the Eagles, under the figure of

a “red jaguar” (TOZZER, 1957, p.91).

Com base nesses documentos e em registros posteriores podemos constatar que durante

todo o período que vai de 1875, momento de sua descoberta, até a década de 1950, momento

final dos trabalhos de restauros na Plataforma das Águias e Jaguares, a peça teria ficado

abandonada em alguma parte do sítio. Com o final dos restauros, uma equipe do INAH, decide

levá-la ao Museu Palácio Cantón em Mérida, onde está até hoje guardada em seus depósitos.

Teobert Maler em seu texto Impresiones de viaje a Cobá y Chichén Itzá, publicado

posteriormente apenas em 1932, relata a presença da escultura do jaguar nas cercanias do

montículo onde ele foi descoberto:

A la corta distancia de unos ciento cincuenta pasos al nordeste del “Templo de los

tigres y Escudos”, tenemos el mausoleo n1, dedicado a un personaje, cuyo nombre

debe relacionarse con “Tigre” (Balán), porque la figura de un gran tigre-acaso con la

cabeza humana que separada del tronco hallamos cerca-yace hoy al pié del montículo

y debe haber antes coronado la plataforma (MALER, 1932, pp. 50 e 51).

Após mais de três décadas esquecida no depósito do Palácio Cantón e longe dos olhos

do público durante os trabalhos de catalogação da coleção do museu na década de 1980 pelo

então diretor Peter Schmidt, é que se voltou a ter qualquer registro da escultura. Esse aparente

abandono da peça contrasta com a atitude tomada por Le Plongeon logo após a sua descoberta.

Le Plongeon dispensou à peça um importante papel dentro da sua teoria sobre as origens da

cultura maia e de suas relações com os egípcios.

3.4. Um jaguar ressignificado – a história da esfinge mexicana

Seguindo as análises dos itinerários sofridos pela peça e as implicações e sentidos

materializados no objeto iremos apresentar agora como a escultura do jaguar reclinado foi

reinterpretada e usada para fins específicos a partir de uma ressignificação.

Logo após a descoberta da peça em 1875 Le Plongeon fez questão de registrá-la e lhe

conferiu grande importância. Para ele, a escultura comprovaria parte de sua teoria acerca da

origem dos maias, uma história que tinha como protagonistas a rainha Móo e o príncipe Coh.

Ao começar os trabalhos em Chichén Itzá o casal Le Plongeon fez estudos no Templo Superior

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dos Jaguares, que também está localizado na Grande Nivelação a poucos metros da Plataforma

das Águias e Jaguares. No templo, Augustus e Alice realizaram estudos e fizeram moldes e

fotos dos baixos-relevos e resquícios de pintura mural. Ali é abundante a presença de figuras

de jaguares, bem como de guerreiros e personagens que teriam feito parte da história de Chichén

Itzá. Ao realizar esses estudos, Augustus chegou à conclusão de que havia uma narrativa de

eventos religiosos, guerras, e governantes presentes na decoração do Templo dos Jaguares.

Dentre as personagens representadas nas paredes do templo, Le Plongeon identificou o

que para ele seriam os governantes do sítio. O explorador nomeou as figuras como sendo a

rainha Móo e o seu irmão, o guerreiro Coh, também chamado de príncipe Chaac Mool, uma

referência ao jaguar que aparecia num escudo deste personagem no mural. Le Plongeon

acreditava que Chichén Itzá teria sido governada por uma antiga dinastia maia presente em

Iucatã que seria composta por esses dois irmãos que também eram amantes. O casal teria outros

três irmãos, Nic, Cay, e Aac, o caçula e assassino do príncipe Coh, que o teria matado por

ciúmes de sua relação com a rainha Móo. (DESMOND; MESSENGER, 1988, pp.30-32; LE

PLONGEON, 1900). Para legitimar essa história Le Plongeon buscou evidências na cultura

material encontrada no sítio. Daí nasce a sua principal motivação em escavar o montículo que

numa primeira análise ele pensou tratar-se do mausoléu desse governante da cidade. A

descoberta das peças do jaguar reclinado e mais tarde o próprio chacmool atestariam essa

narrativa criada anteriormente.

Nesse primeiro momento da escavação do montículo, a escultura do jaguar reclinado

ganha grande importância para Le Plongeon. Logo que ela foi recuperada, Augustus alterou o

seu significado anterior colocando uma cabeça de pedra calcária com formato humano, e que

claramente não pertencia originalmente à peça. Em seus relatos, o próprio Augustus afirma ter

encontrado a cabeça em outro lugar do sítio:

[…] A long Stone, half interred among others, attracted my attention. Scraping away

the earth from around it, with the machete and the hand, the effigy of a reclining tiger

soon appeared. But the head was wanting. This human form, I had the happiness to

find [, some meters distant, among a pile of other carved stone. […] The pile of stones

had been in times past the pedestal that supported the effigy of the dying tiger with a

human head, which the Toltecs had thrown down when they invaded Chichen, at the

beginning of the Christian era (SALISBURY, 1877, pp. 69-70).

Ao colocar a cabeça na estátua a intenção de Augustus foi a de criar uma narrativa que

acomodasse a sua história sobre os antigos governantes de Chichén Itzá, bem como reafirmasse

as relações entre a cultura maia antiga e os egípcios. Le Plongeon afirmava ter encontrado a

Esfinge Americana, composta por um corpo de felino e uma cabeça humana, fazendo

referências e comparações à grande esfinge egípcia de Gizé:

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The mausoleum was crowned by a most interesting statue. It was that of a dying

leopard with a human head (Plate LXII.), a veritable sphinx; the prototype, may be,

of the mysterious Egyptian Sphinx, the most ancient monument in the valley of the

Nile. This Maya sphinx, like the leopard in the sculptures, had three deep holes in its

back—symbols of the three spear thrusts that caused Prince Coil's death. Thus, it has

come to the knowledge of succeeding generations that the brave Maya warrior, whom

foes could not vanquish in fair fight, was treacherously slain by a cowardly assassin—

this assassin his own brother Aac; just as Osiris in Egypt is said to have been murdered

by his brother Set, and for the same motive, jealousy (LE PLONGEON, 1900, p.158).

A narrativa foi complementada com uma comparação da própria história por trás da

peça egípcia, já que Augustus cria uma narrativa para a peça maia aos moldes e semelhante

àquela passada no Egito. Essa construção feita por Le Plongeon é vista tanto em fotos tiradas

no momento da descoberta, quanto em gravuras e desenhos, como uma reconstrução de como

seria o uso da escultura do jaguar e da Plataforma das Águias e Jaguares (ver anexo 15). Além

disso, Le Plongeon contou com um importante meio difusor de notícias daquela época; os

periódicos, para reafirmar e difundir a sua tese sobre a peça. Em nossa pesquisa de campo em

arquivos, localizamos algumas publicações que fazem referência à peça com um corpo de felino

e cabeça humana. O jornal El Siglo Diez y Nueve, da Cidade do México, datado de 22 de maio

de 1877, em sua página dois, apresenta uma notícia sobre os estudos e descobertas feitas por

Le Plongeon em Chichén Itzá e cita que dentre outros objetos foi descoberto “un tigre con

cabeza humana”:

La estatua estaba a ocho metros de profundidad debajo de otras ruinas y junto a ella,

en un lugar que se cree era el sepulcro del antiguo rey, se encontraron gran número de

bajo-relieves, jeroglíficos y signos misteriosos cuya explicación ocupará ahora largo

tiempo a los anticuarios. En el mismo número de la Ilustración citado antes, hemos

visto preciosos grabados que representan la estatua de Chaacmol, un tigre con cabeza

humana y dos bajo-relieves, encontrado todo en el mausoleo de aquel rey […] (SIGLO

DIEZ Y NUEVE, 22/05/1877, p.2).

A circulação dessa ideia da existência de uma peça com formato de felino e cabeça

humana continuou circulando para além daquele momento inicial da descoberta. Décadas mais

tarde, já no século XX outro periódico publica um extenso texto de Alice no qual ela fala sobre

as teorias de Augustus e cita a escultura uma vez mais. Esse texto publicado no jornal London

Magazine de 21 de abril de 1910 foi intitulado de The Mayas of Yucatan and The Egyptians,

numa tentativa de seguir defendendo as ideias criadas por Augustus sobre a origem da

civilização maia e seus contatos com os egípcios. Logo no início do texto Alice afirma que para

entender a civilização egípcia é necessário ir a outra parte do mundo, nas Américas para estudar

o início dessa cultura. A autora fala sobre os estudos de seu marido Augustus na cidade de

Chichén Itzá e cita a existência de duas tumbas, a do príncipe Coh e a do seu irmão Cay

(Plataforma das Águias e Jaguares e Plataforma de Vênus), ambas estudadas por ela e seu

marido. Além disso, ela afirma que elementos e inscrições presentes em partes dessa cidade,

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como no Complexo de las Monjas, por exemplo, decifradas por Augustus atestariam as relações

entre a cultura maia e os egípcios.

Seguindo em sua apresentação sobre a teoria criada por seu marido, Alice mostra na

terceira página do texto um quadro comparativo entre as escritas maia e egípcia. Já na parte

final do artigo ela chega na história da princesa Móo e do príncipe Coh. Aqui, Alice cita a

semelhança dessa história com a de Isis e Osíris no Egito, ambas narrativas com o mesmo

enredo, paixão entre irmãos terminada com um final trágico. Para contar essa história Alice

descreve os estudos de Le Plongeon no Templo dos Jaguares, fazendo comparações com

construções importantes no Egito. Ao descrever as semelhanças entre as duas histórias, a autora

ressalta o fato de que Osíris foi representado na forma de um leopardo com seus sacerdotes

sempre usando roupas com esses motivos felinos. Da mesma forma, ela afirma que o príncipe

Coh também era chamado de Chaac-mol, que na língua maia iucateco seria leopardo (ver anexo

16). Já Móo, o nome da princesa de Chichén significaria arara. Alice cita que tanto Osíris quanto

Coh tinham dois irmãos, Isis e Niké e Móo e Niké. Na sequência, a autora analisa a localização

espacial dos templos dedicados a ambos os governantes, e afirma que a esfinge egípcia foi

encontrada entre os templos dedicados a Isis e Osíris, da mesma forma que no sítio maia,

também tinha sido encontrada uma esfinge entre os templos dedicados aos governantes da

cidade.

Alice cita o enredo da história entre os irmãos em Chichén Itzá, uma história semelhante

à ocorrida no Egito com a existência de rivalidades que levariam a um consequente assassinato.

Durante toda essa construção narrativa é interessante notarmos o uso de elementos da cultura

material encontrados e estudados pelo casal Le Plongeon durante suas investigações no sítio.

Na sequência do texto, Alice relata os achados nas escavações das duas plataformas Águias e

Jaguares e de Vênus, chamando a atenção para a presença da escultura do chacmool e segue

levantando evidências das similitudes entre as culturas maia e egípcia. Ao final ela termina o

texto reafirmando essa relação e a existência de uma origem comum entre esses dois povos,

mas que provavelmente os maias teriam sido anteriores e originado a civilização egípcia.

Mais do que o conteúdo da teoria apresentada por Alice, o interessante a ressaltar para

a nossa pesquisa é a utilização feita da figura do jaguar reclinado na própria construção da

narrativa que trata das relações entre as duas culturas citadas. Essas ideias aparecem também

detalhadas no livro de Augustus chamado Queen Móo and the Egyptian Sphinx. Publicado

originalmente em 1896 e com uma segunda edição em 1900, esse livro foi o resultado de suas

investigações em Chichén Itzá com uma apresentação de maneira mais detalhada de suas teorias

acerca das relações e origens dos maias e egípcios. Logo na apresentação e prefácio do livro,

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Augustus cita a Plataforma das Águias e Jaguares e a escultura do jaguar reclinado, inserindo-

os dentro da sua narrativa sobre as origens dos maias:

Before leaving her mother-country in the "West she had caused to be erected, not only

a memorial hall to the memory of her brother-husband, but also a superb mausoleum

in which were placed his remains and a statue representing him. On the top of the

monument was his totem, a dying leopard with a human head—a veritable sphinx.

Once established in the land of her adoption, did she order the erection of another of

his totems—again a leopard with human head—to preserve his memory among her

followers? The names inscribed on the base of the Egyptian sphinx seem to suggest

this conjecture (LE PLONGEON, 1900, preface XIX).

Durante todo o livro, Le Plongeon vai construindo a narrativa da história da princesa

Móo e seu irmão o príncipe Coh fazendo uso dos materiais estudados e encontrados durante o

tempo que ficou em Chichén Itzá. Além disso, o autor levanta a questão sobre o significado da

esfinge egípcia, ao colocar que o seu sentido ainda era desconhecido. Mas segundo, Augustus

uma forma para poder tentar chegar a alguma interpretação sobre o monumento seria a partir

da realização de uma análise espacial e contextual do local onde ele foi erguido, uma proposta

metodológica incomum e de certa forma precursora para sua época. Ao realizar tal interpretação

Le Plongeon também expande a análise para o Mausoléu de Coh, a Plataforma das Águias e

Jaguares. Com isso, ele levanta a seguinte questão:

May not that lion or leopard with a human head be the totem of some famous

personage in the mother country, closely related to Queen Moo, highly venerated by

her and her people, whose memory she wished to perpetuate in the land of her

adoption and among coming generations? Was it the totem of Prince Coh? (LE

PLONGEON, 1900, p. 162).

Ao concluir sua narrativa, Augustus afirma que a princesa Móo teria erguido esse

mausoléu em homenagem e memória de seu irmão e amante o príncipe Coh, onde a estátua do

jaguar reclinado teve um importante papel:

There she (Queen Móo) had represented him (Prince Coh) as a dying leopard with a

human head, his back pierced with three spear wounds. In Egypt she figured him also

as a leopard with a human head; but erect and proud, a glorified soul watching over

the country that had insured her safety, giving her a new home; over the people she

loved, and who obeyed with reverence her smallest mandate, and after her death

deified and worshipped her, calling her the "good mother of the gods and of men," as

Maya was called by the Greeks, as Maya was by the Hindoos, and Mayaoel by the

Mexicans (LE PLONGEON, 1900, pp. 165 e 166).

Toda essa construção narrativa feita por Le Plongeon e sua esposa com a utilização da

escultura do jaguar reclinado demonstra que nesse momento da descoberta dos objetos da

oferenda, a peça teve um papel importante para o estudioso. A partir dessa ressignificação e de

um novo sentido dado à peça ela ganhou um novo papel durante essa etapa do seu itinerário.

Um papel que perpassou sua localização espacial e temporal, já que foi associada e relacionada

à escultura da esfinge erguida no Egito antigo. É interessante notar como esse momento de seu

itinerário imputou uma posição de protagonista à peça ao recriar relações em que ela estaria

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envolvida. Um protagonismo que depois lhe foi tirado, em pró da escultura do chacmool,

considerada por Le Plongeon a grande descoberta da sua vida, como veremos na sequência. Já

a escultura do jaguar reclinado aos poucos foi perdendo o seu protagonismo, da mesma forma

em que as teorias de Le Plongeon passaram a ser rechaçadas e desacreditas ao longo do tempo.

Outra questão a ser ressaltada na análise do itinerário da escultura, é que a

ressignificação sofrida pela peça a acompanhou até os dias atuais, já que a cabeça humana

colocada de maneira arbitrária por Le Plongeon acabou por se tornar uma parte da peça ainda

hoje. Ambos os objetos passaram a ser um único conjunto. A não aceitação das ideias de Le

Plongeon que envolviam a peça parece refletir no próprio papel da escultura. Já que nos anos

seguintes de sua descoberta ela ficou abandonada numa parte do sítio de Chichén Itzá. Mesmo

após o final dos restauros da Plataforma das Águias e Jaguares levados a cabo pelo arqueólogo

Jorge Ruffier Acosta no início da década de 1950, a escultura não teve o valor reconhecido por

estudiosos e autoridades do sitio. Essa situação acabou por relegá-la a um papel secundário que

teve como destino o depósito do museu Palácio Cantón de Mérida junto com outras 9.000 peças.

Dessa forma, tal qual como ela é tratada por Schávelzon em seu artigo, nas últimas etapas de

seu itinerário, o jaguar acabou por se tornar uma peça esquecida. Acabou por tornar-se o “jaguar

olvidado”.

3.5. Águias e Jaguares em painéis

O próximo conjunto de peças a ser analisado é composto pelas placas de baixo-relevo

que constituíam a decoração das fachadas da plataforma, além das placas e esculturas em

formato de cabeça de serpente emplumada que decoravam as escadarias (ver fichas de 4 a 42

no catálogo). O monumento é dotado de um formato quadrangular com quatro fachadas

divididas em duas pelas escadarias que as cortam na metade. O que resulta que cada fachada

seja dividida em duas partes. As peças da fachada formam um total de 56 todas feitas de pedra

calcária, sendo que dois painéis com imagens de jaguar e algumas placas que formam o corpo

das serpentes emplumadas que decoram as alfardas do edifício estão faltantes. As peças são

divididas em seis tipos de figuras diferentes. São elas; duas placas na parte superior da fachada,

também conhecida como cornija, três na parte central, e duas placas e duas esculturas em cada

uma das escadarias da plataforma.

Esse conjunto de peças foi o primeiro a ser encontrado por Augustus e Alice, e possuem

uma importância central para as teorias criadas pelo casal sobre a história do príncipe chacmool

e a princesa Móo. Foi a partir da observação de uma das placas com a figura de um jaguar que

estava no montículo é que Augustus decidiu começar os trabalhos de escavação neste local (ver

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anexo 22). Ainda que nos relatos do casal Le Plongeon apareçam apenas referência às placas

dos personagens reclinados, dos jaguares e das águias, iremos também analisar os outros

elementos decorativos da fachada que acreditamos que estivessem também enterrados no

montículo. A recuperação da história do itinerário dessas peças foi um pouco problemática, já

que não encontramos informações detalhadas das trajetórias de cada uma delas. As informações

mais detalhadas dão conta apenas de um dos conjuntos desses objetos, as placas de baixo-relevo

com figuras de águias e jaguares.

3.6. As peças

As peças que compõe o conjunto das placas de baixo-relevo das fachadas da Plataforma

das Águias e Jaguares é composto por quatro grupos com duas composições de placas separadas

pela escadaria de cada face. Cada grupo possui uma parte conhecida como cornija, que se

caracteriza por toda a área superior que circunda a fachada da estrutura, uma parte central, e as

escadarias e suas alfardas5 (ver catálogo fichas 8, 13, 17, 21, 26, 31, 36, 41).

A parte superior possui uma cena composta por dois personagens reclinados, o centro

das fachadas da plataforma é composto por uma cena com três elementos, seguindo uma ordem

de leitura da esquerda para a direita, o primeiro elemento localizado à esquerda é a figura de

uma águia, representada de perfil, segurando um coração em suas garras, à direita desta figura,

na posição central do painel, se encontra a imagem de um felino que se assemelha a um jaguar

sentado, também de perfil, com um corpo com traços humanos, levando um coração em suas

patas. E a última figura de cada painel, que se localiza na parte extrema direita, é uma vez mais

uma águia de perfil, com algumas diferenças da águia da primeira figura. Essa configuração de

cena se repete em cada uma das faces da fachada da plataforma. As características da

iconografia em cada painel nos levam a supor que provavelmente tenham sido resultado da

utilização de alguns moldes durante a sua manufatura, já que algumas das placas apresentam

decoração igual. De resto, apesar de manter alguns elementos comuns, existem pequenas

variações em seus elementos constitutivos.

O edifício possui quatro escadarias, uma em cada uma de suas faces. As escadarias

contam com dez degraus cada e são limitadas e acompanhadas por alfardas presentes na parte

alta de cada uma delas. No topo das alfardas das escadarias está presente uma cabeça de serpente

emplumada feita de pedra. Já nos taludes está o corpo da figura da serpente emplumada em

5 Elementos que flanqueiam uma escadaria, como vigas entrelaçadas na parede da construção (NAVARRO, 2013,

p.70; GENDROP, 2009, p.14).

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baixo relevo. Essas peças somam um total de oito cabeças de serpentes que arrematam as

escadas da plataforma.

Todas as partes da decoração da fachada da plataforma foram feitas de pedra calcária,

oriundas provavelmente de fontes locais.

3.7. Os painéis viajam pelas fontes

Os registros na bibliografia consultada acerca dos painéis de pedra calcária são em sua

maioria referentes à sua iconografia e forma. Alguns estudiosos se debruçaram sobre as peças

em análises sobre a plataforma, mas de maneira superficial, com descrições básicas. A respeito

da trajetória das peças encontramos referências em documentos antigos, além de algumas

informações em relatórios de trabalhos de restauro e conservação desenvolvidos pelo governo

mexicano no edifício. O primeiro registro sobre as peças é oriundo do próprio relato de Alice

Dixon Le Plongeon das atividades desenvolvidas por ela e seu marido Augustus em Iucatã. Nos

relatos sobre os trabalhos no montículo, Alice afirma que Augustus teria descoberto “um

montículo com lajes esculpidas” com referência aos painéis de baixo-relevo:

[...] The slabs represented tigers, and macaws eating human heart. This mound is not

far from the tiger monument. We took it to be a mausoleum. (DESMOND, 2009,

p.117).

Na sequência do texto aparecem duas informações importantes para as nossas

investigações. A primeira diz respeito a como o local foi deixado após os trabalhos de

escavação. Alice diz que ao final dos trabalhos eles decidiram deixar as pedras “caídas nos

quatro lados do montículo”. Isso nos levou a interpretar que as placas também tenham sido

abandonadas no local naquele primeiro momento. Isso se reforça pelo relato feito em seguida

por Alice de que Le Plongeon tentou carregar as peças, pois planejava também levá-las à

exposição da Filadélfia nos Estados Unidos, mas não conseguiu e acabou desistindo da ideia:

Dr. wanted to take our small cart to Chichen to bring from there a tiger & eagle slab

which he wanted to send to Philadelphia with the statue. When he called his men

together three declared themselves very ill. He examined them, and found them well.

[…] The truck had been carefully repaired, & Dr. went with 6 men to Chichen, in

search of the slabs. Their strength was not sufficient to carry the stones, so Dr. was

obliged to abandon the idea (DESMOND, 2009, p.142).

Essa intenção de remoção das placas foi confirmada em um texto escrito por Salisbury

Jr. no ano de 1877 (p.63); “Dr. Le Plongeon had formed a design of sending the statue and

certain bas-reliefs, together with plans and photographs, to the Centennial Exhibition”. A

dificuldade em carregar as placas, além da negativa do governo mexicano de uma permissão

para tirar as peças do país acabou fazendo com que o explorador desistisse da ideia. Em duas

cartas a autoridades mexicanas e estadunidenses sobre a tentativa de levar as peças descobertas

para os Estados Unidos, Le Plongeon cita os painéis de baixo-relevo. Numa carta ao cônsul

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estadunidense para ser apresentada ao governador iucateco General Protásio Guerra, Augustus

menciona as placas de baixo-relevo, ao afirmar que as peças descobertas por ele em Chichén

Itzá seriam de sua propriedade; “The statues of chacmool – two – and the bas-relief discovered

by my lady and by myself consequently belong to us” (LE PLONGEON, 21/02/1877, p.2). Em

outra carta enviada no dia oito de maio de 1877 a Vicente Biva Palacio, presidente da

Geographical and Statistical Society do México, o explorador também cita os painéis, que

teriam sido deixados junto com as outras peças da oferenda, prontas para o transporte imediato:

[…] to get the others relics which we had left ready for transportation, the bass-reliefs

of chacmool and his wife, who is by the effigy of an ara militaris (macaw) eating

human heart” (LE PLONGEON, 08/05/1877, p.4).

Com a informação presente no diário de Alice de que as peças foram deixadas no local,

além de registros em fotografias tomadas por ela no momento da descoberta e outras feitas por

Maler, quase dez anos depois, mostram que as lápides com figuras de jaguares, águias e os

personagens reclinados ainda estavam no mesmo local próximo ao montículo escavado após

alguns anos (ver anexos 17, 18, 19).

Outra descrição antiga dos painéis também aparece em texto de Stephen Salisbury Jr.

do ano de 1877 sobre as descobertas de Le Plongeon na Península de Iucatã. Salisbury relata

com minucia os objetos encontrados pelo explorador nas escavações do montículo:

One of this pictures shows the sculptured slabs which may have decorated the mound

where the excavation was made, and which again appear on the side of the opening

through which the statue is seen emerging. The slabs are elaborately wrought, and

represent, the one a tiger holding something in his paw, and the other a bird of prey,

with talons similarly employed (SALISBURY, 1877, p.59).

Um registro semelhante apareceu também no jornal panamenho, Daily Star and Herald,

em sua edição de 10 de fevereiro de 1882. A nota do jornal que tratou das descobertas

empreendidas pelo casal Le Plongeon em Chichén Itzá, citou com detalhes as placas de baixo-

relevo com as figuras dos personagens reclinados, além de relacionar esses personagens com

figuras egípcias:

Here he also discovered a slab on which was represented in bas relief a dying warrior

reclining on his back and having the left arm placed across his chest, with the hand

resting on the right shoulder in exactly the same attitude which the Egyptians gave to

the mummies of some of their eminent men (DAILY STAR AND HERALD,

10/02/1882).

Já entre as fontes mais recentes onde há referências sobre esse conjunto de peças,

destacamos o livro A Dream of Maya. Augustus and Alice Le Plongeon in Nineteenth-Century

Yucatán (1988) de Lawrence Desmond e Phyllis Messenger, em que os autores recuperam a

importância que os painéis tiveram no momento de suas descobertas para o prosseguimento das

explorações do casal que levou à descoberta dos objetos enterrados no montículo:

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After studying the scenes in the murals, Augustus concluded that they showed the

history of a single generation of Maya rulers at Chichen Itzá. He took animal

representations to be their totems or spirits. An eagle, which he identified as a macaw,

became the symbol for a Maya princess, one of the central characters. She became

Queen Móo, after the Maya word for macaw. Her brother was named powerful

warrior, or Prince Chaacmol, a reference to the jaguar whose spots appeared on a

shield in the mural and in bas-reliefs on the side of the temple (DESMOND;

MESSENGER, 1988, p.30).

Nos escritos do explorador austríaco Teobert Maler que percorreu Iucatã entre os anos

de 1887 a 1894, as placas de baixo-relevo são mencionadas quando o autor descreve os

monumentos do sítio de Chichén Itzá e cita a Plataforma das Águias e Jaguares, nomeada por

ele como Mausoleo 1, com detalhes de seus elementos decorativos e arquitetônicos:

A la corta distancia de unos ciento cincuenta pasos al nordeste del “Templo de los

Tigres y Escudos”, tenemos el mausoleo Nº 1, dedicado a un personaje, cuyo nombre

debe relacionarse con “Tigre” (Balán) […] Parece que este monumento tenía escaleras

por los cuatro lados, principiando sus rampas con cabezas de culebra, bien esculpidas.

En cuanto a la decoración de las paredes del cuerpo sólido, casi cuadrangular, tiene

por base una escarpa de piedra aparejada; a esta sigue la parte vertical del muro con

bellísimos bajo relieves de tigres, alternándose con grandes águilas. Cada tigre y cada

águila lleva un gran huevo (¿o acaso corazón humano?) en su garra derecha, un

símbolo difícil de explicar. Encima del cuerpo principal del muro, se extiende un

hermoso friso con figuras humanas recostadas, y el todo está coronado por una hilera

de calaveras, de siniestro aspecto. No todos estos adornos se encuentran todavía en su

lugar, pero los que se cayeron se encuentran entre los escombros y así hemos podido

restablecer mentalmente la antigua disposición arquitectónica (MALER, 1932, pp. 50

e 51).

No tomo sobre Chichén Itzá da enciclopédia Biologia Centrali-Americana (1889-1902),

Maudslay apresenta duas fotos sobre as placas com figuras dos jaguares e das águias (ver anexo

20). Outro estudioso que acabou por citar os elementos decorativos da plataforma foi Alfred

Tozzer. O arqueólogo fez um estudo detalhado de templos e monumentos e de seus elementos

decorativos. Em seu livro Chichén Itzá and its Cenote of Sacrifice. A comparative study of

contemporaneous Maya and Toltecs (1957) ele descreve a Plataforma das Águias e Jaguares,

com detalhes de sua decoração:

In bas-relief on each side of the four stairways of the Platform of the Eagles

(Mausoleum 1) are two groups of three figures: usually a jaguar in the center

consuming a human heart and, on either side, an eagle doing the same thing. As a

frieze above each of the eight groups are two figures of the good Tlalchitonatiuh, feet

to feet, as we have noted on the Temple of the Warriors (TOZZER, 1957, p.132).

Já os relatórios da primeira intervenção para restauro feita na Plataforma das Águias e

Jaguares pelo governo mexicano em 1931 falam sobre o destino de uma das placas de baixo-

relevo com a figura de um jaguar. O arqueólogo Martínez Cantón (1930, p.8) afirma que uma

das placas com a figura do jaguar foi levada ao Museu Arqueológico de Yucatán, antigo nome

do Museu Palácio Cantón, local onde o objeto se conservava até aquele momento. Além disso,

ele alertava José Reygadas Vértiz, diretor de monumentos pré-hispânicos do governo mexicano,

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que seria importante desenvolver uma ação para trazer de volta ao sítio de Chichén Itzá a peça

que estava faltando:

Desde hace algún tiempo debidamente autorizado el Director del Museo

Arqueológico, hizo en Chichén Itzá una recolección de piedras, muy a pesar nuestro,

pertenecientes a “El Tzompantli” y “Las Aguilas” que a su entender eran irreponibles

y que ahora lamentamos profundamente al hacer las obras de reposición en “El

Tzompantli”. Esperamos la llegada de usted a esta región para proceder a recogerlas

y devolverlas a su sitio (MARTÍNEZ CANTÓN, 1930, p.8).

Nos relatórios da segunda e definitiva intervenção na Plataforma das Águias e Jaguares

finalizada por Jorge Acosta em 1952 há uma detalhada descrição dos motivos presentes nas

placas e um relato sobre os trabalhos feitos na estrutura:

Esta combinación escultórica de un jaguar entre dos águilas y con dos personajes en

la parte superior, se encontraba en cada lado de la escalera; razón por la que se repite

ocho veces en todo en monumento. Las cuatro escaleras de la estructura están

limitadas por alfardas que siguen la misma inclinación de los escalones. Cada una de

ellas está decorada con una serpiente emplumada en bajo relieve. La cola del reptil

está apoyada sobre el suelo y está por un haz de plumas (ACOSTA, 1951, p.4).

Na sequência do relatório, Acosta afirma que a estrutura estava bastante destruída antes

da intervenção e que inclusive, algumas das placas de baixo-relevo foram encontradas dispostas

ordenadamente no solo deixadas pelos arqueólogos que haviam trabalhado na plataforma nos

anos de 1930. Além disso, foram encontrados in situ apenas o talude inferior e alguns degraus.

Os demais elementos, tableros, cornijas, alfardas e as grandes cabeças de serpente estavam

jogados no entorno da estrutura (ACOSTA, 1951, p.3). Acosta ressalta ainda que os

arqueólogos notaram que das oito lápides com figuras de jaguares que completavam a fachada,

faltavam três. Uma foi levada ao Museu Palácio Cantón, outra para o Museu Nacional de

Antropologia da Cidade do México e a terceira até aquele momento não havia sido encontrada.

Já as oito cabeças de serpentes que arrematam as escadarias da plataforma foram todas

localizadas em diferentes partes do sítio e colocadas durante o restauro. Acosta afirma que

muitas das peças não estavam próximas ao monumento, já que algumas haviam sido levadas

para a antiga fazenda de Chichén Itzá pelo arqueólogo estadunidense Edward H. Thompson:

Después de una detallada revisión del material, se observó que faltaban algunas

lápidas para completar las fachadas. Por ejemplo, de las ocho representaciones de

jaguares que originalmente tuvo, faltaban tres. De estas, una fue traída del Museo de

Antropología de Mérida, otra encuentra en el Museo Nacional de Antropología de la

ciudad de México y la tercera hasta el momento no ha sido localizada. Es importante

hacer notar, que mucho de las piedras no estaban próximas al monumento, debido a

que fueron removidas y a que algunas de ellas habían sido llevadas a la antigua

Hacienda de Chichén Itzá por Eduardo Thompson. Estas fueron traídas

posteriormente, tanto por el Arqueólogo Erosa Peniche, como por el Arqueólogo

Alberto Ruz L., ya últimas fechas por nosotros (ACOSTA, 1951, pp.5 e 6).

Além desses relatórios de trabalhos levados a cabo na primeira metade do século XX

em Chichén Itzá que as peças são mencionadas, encontramos um estudo recente sobre a

iconografia dos painéis da Plataforma das Águias e Jaguares. Tal análise foi realizada entre os

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anos de 2007 e 2008 pela arqueóloga mexicana Federica Sodi Miranda do INAH. Ela realizou

uma investigação iconográfica dos motivos dos painéis que decoram a fachada da plataforma,

com a elaboração de desenhos dos motivos das placas e um estudo sobre os resquícios das cores

nessas peças.

3.8. Os painéis em movimento – usos e ressignificações

Ao consultar esse material apresentado, foi possível recuperar os itinerários de algumas

das peças que compõe esse conjunto das placas de pedra calcaria em baixo-relevo que foi

encontrado pelo casal Le Plongeon na exploração do montículo. As referências encontradas no

material pesquisado mostram que as placas descobertas por Le Plongeon nos escombros foram

retiradas pelo explorador e colocadas nas cercanias do edifício. Mais tarde, após a retirada da

estátua do chacmool, Augustus também teria tentado levar algumas das lápides para o povoado

de Pisté, mas sem sucesso, acabou deixando-as ao redor da construção. Alguns anos depois, em

1886, Teobert Maler visitou Chichén Itzá e fotografou algumas peças desse conjunto. Na foto

é possível notar placas com a figura do jaguar, e com a figura do personagem reclinado. Pelo

contexto da foto, ela teria sido tirada no mesmo local onde Le Plongeon as desenterrou.

Após esse registro e os relatórios de arqueólogos mexicanos que trabalharam no restauro

da Plataforma das Águias e Jaguares houve um hiato de cerca de 45 anos sem notícias das peças.

Segundo Jorge Acosta, algumas das placas foram retiradas do local do montículo e levadas à

Fazenda de Chichén Itzá, então propriedade do arqueólogo e cônsul dos Estados Unidos em

Iucatã, Edward Thompson. Parte das peças teriam ficado ali até a conclusão dos trabalhos de

restauro da plataforma terminados em 1952 por Acosta. Entretanto, duas dos painéis com

figuras de jaguar teriam sido levadas a museus mexicanos, uma para o Museu Palácio Cantón

em Mérida, e outra para o Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México. Uma terceira

não se sabe o destino. Dessas, a que estava no Museu Palácio Cantón retornou para o sítio de

Chichén Itzá durante os trabalhos de restauro de Acosta, e as outras permanecem em seus

destinos já mencionados

No relato de Jorge Acosta após o restauro da plataforma também aparece menções à

outras peças da fachada. Ele relata que por fortuna foi possível localizar todas as oito esculturas

de cabeças de serpentes que decoram as alfardas das escadarias do templo. Dessas, seis estavam

próximas ao monumento, uma tinha sido levada para a antiga Fazenda de Chichén Itzá e a outra

se encontrava próxima à Plataforma de Vênus (ACOSTA, 1951, p.9). Além desse relato de

Acosta, algumas dessas peças com figuras de cabeças de serpentes esculpidas aparecem em

fotos tiradas por exploradores que passaram por Chichén Itzá no final do século XIX. A

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primeira imagem aparece em foto tirada pelo casal Le Plongeon em 1875 logo após o

desterramento dos objetos do montículo. Na foto, Alice aparece sentada ao lado de uma das

placas com a figura de águia no momento da retirada da escultura do chacmool, que aparece

colocada sobre duas toras de madeira (ver anexo 14). Além disso, o casal Le Plongeon também

tirou outras fotos apenas das placas com as figuras de jaguares e águias (ver anexos 17, 18, 19).

Alguns anos mais tarde, na década de 1880, Teobert Maler registrou duas dessas peças em uma

foto tirada dos objetos escavados pelo casal. Na foto é possível verificar duas das cabeças nas

extremidades, além de um dos painéis dos personagens reclinados que aparece no centro, com

um trabalhador indígena ao fundo. Em outra fotografia feita por esse explorador podemos

perceber a presença de partes de uma das placas dos personagens reclinados, além da parte de

baixo do painel da águia. Já sobre as outras peças que compõe a fachada da plataforma não há

informações sobre deslocamentos e itinerários. Pelos relatos dos arqueólogos que fizeram o

restauro da plataforma, podemos aferir que tais objetos talvez nunca tenham saído do sítio. Aqui

destacamos o uso da fotografia como um documento visual cujo conteúdo revela informações

em contextos específicos, tal qual como mencionado por Boris Kossoy (2014, p.32).

Os itinerários dos objetos tratados aqui evidenciam dois momentos importantes na

construção de significados e interpretações sobre a história maia e da própria plataforma. Num

primeiro momento, a descoberta das lápides com figuras de jaguares e águias e de um

personagem reclinado ataviado com elementos de guerra levou Augustus Le Plongeon a optar

por escavar o montículo onde estavam esses objetos e a relacioná-lo à sua narrativa sobre a

história do príncipe Chaac Mol e da princesa Móo. Ao avistar tais peças, o explorador logo

supôs que o montículo teria ligação com as narrativas desses personagens que estavam nos

murais do Templo dos Jaguares. Esse uso dos elementos decorativos e da iconografia presentes

nas placas de pedra calcária foi de grande importância para Le Plongeon levar adiante suas

teorias.

Além disso, no livro Queen Móo and The Egyptian Sphinx, Augustus faz uma

interpretação das figuras de jaguares e águias segurando corações nas garras. A figura do jaguar

levando o coração à boca é interpretada especificamente por Le Plongeon como uma

representação do príncipe chacmool como jaguar, praticando um ato de canibalismo com

inimigos mortos em batalhas. Já a rainha Móo que seria a representação de uma arara, também

estaria representada nos painéis no ato de segurar um coração em suas garras (LE PLONGEON,

1900, p.88). Segundo o explorador, esses animais poderiam estar num ato de devorar ou lamber

um coração humano. Fato que seria comum em alguns povos durante a realização de batalhas:

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Being portrayed in the act of licking the hearts of their enemies, whom they had

vanquished on the battle-field, certainly indicates that the Mayas, although ordinarily

not addicted to cannibalism, like many other nations of antiquity sometimes ate the

hearts of their conquered foes, in the belief that by so doing they would inherit their

valor. This same custom prevails even in our day among various peoples (LE

PLONGEON, 1900, p.157).

As cabeças de serpentes foram interpretadas por Le Plongeon como sendo figuras que

faziam menções aos governantes maias, chamados por ele de Cans. As peças encontradas na

oferenda fariam referência de que o templo onde estavam teria sido edificado pelos reis maias

(LE PLONGEON, 1900, p.158). Os painéis em baixo-relevo com a figura de um personagem

reclinado foram interpretados por Augustus como sendo o próprio príncipe Coh ataviado com

uma vestimenta de guerra e portando armas em suas mãos num momento de batalha (LE

PLONGEON, 1900, p.155). O explorador também relacionou essa imagem com a da escultura

do jaguar reclinado, que seria uma representação do príncipe Coh, com as marcas dos

ferimentos causadores de sua morte representadas pelos furos encontrados no dorso da peça.

Já no século XX com novos estudos na área maia e a apresentação de novas

interpretações, a iconografia desses objetos serviu para diversos autores que trabalharam o sítio

de Chichén Itzá construírem interpretações acerca do uso e sentido da Plataforma das Águias e

Jaguares, que teve o seu nome associado à presença de tais peças. Na década de 1940 a arquiteta

russa Tatiana Proskouriakoff com a publicação An Album of Maya Architecture (1943) desenha

e reconstrói a Plataforma das Águias e Jaguares com base nos relatos do bispo Diego de Landa

de que seria um local para representações teatrais e performances. Além disso, Proskouriakoff

interpreta o templo de acordo com a iconografia presente nos painéis da fachada:

The last name seems most apt, for its panels depict alternately Eagles and jaguars,

each holding what appear to be a human heart. Since Eagles and jaguars were symbols

of military orders in Yucatan, it seems not unlikely that the performances staged on

these platforms were in some way connected with the ignoble art of waging war,

which through Mexican influence was evidently gaining importance as a sphere of

activity (PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94).

A estudiosa seguiu a interpretação levada a cabo alguns anos antes por Alfred Tozzer,

que via na iconografia da fachada da plataforma, águias e jaguares com corações humanos nas

patas sendo levados à boca num ato que indicava o consumo desse órgão vital por parte dos

dois animais (TOZZER, 1957, p.132). Já o arqueólogo mexicano, Román Piña Chan em seu

livro Chichén Itzá. La Ciudad de los brujos del agua, publicado no ano de 1980, também segue

a mesma interpretação e faz uma detalhada descrição da Plataforma das Águias e Jaguares com

seus elementos decorativos e arquitetônicos. Piña Chan interpreta o personagem do painel

superior da plataforma como sendo Kukulcan ou Vênus na forma do guerreiro recostado que

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estaria relacionado a Tlalchitonatiuh, deidade mesoamericana associada ao pôr do sol, quando

as estrelas sobem ao céu (PIÑA CHAN, 2011, p.80).

Ignácio Marquina, importante arquiteto e arqueólogo mexicano, que foi diretor de

Monumentos Pré-hispânicos na década de 1940, no livro Arquitectura Prehispanica, de 1951,

também segue a teoria de que as figuras estariam devorando os corações humanos que seguram

em suas garras. Marquina descreve a plataforma como sendo parte do complexo composto pelo

Templo dos Jaguares e o Tzompantli. O arquiteto fala sobre a estrutura, com uma descrição

arquitetônica e decorativa. “En los tableros están esculpidas águilas y jaguares devorando

corazones, y en el tablero más alto figuras recostadas y serpientes” (MARQUINA, 1951,

p.888).

Outro importante arqueólogo mexicano que trabalhou em Chichén Itzá no início do

século XX e que interpreta o significado da plataforma é José Erosa Peniche. No livro Guía

para Visitar las Ruínas de Chichén Itzá, Erosa Peniche descreve a construção e seus detalhes

decorativos apresentando uma nova interpretação sobre a cena em que estão os jaguares e as

águias. Ao invés de pensar que esses animais estivessem devorando os corações que estão em

suas mãos, Erosa Peniche segue uma outra linha de investigação que supõe que essas figuras

estariam numa cena de oração ou conversa com os corações humanos:

[...] tanto los tigres como las águilas que presentan corazones en sus garras tienen la

lengua de fuera, lo que hace opinar a personas amantes de estos estudios que no están

en actitud de devorarlos sino más bien de oración o de plática con los corazones

humanos (EROSA PENICHE, 1946, p.26).

Já Jorge Acosta nas conclusões do seu relatório sobre os trabalhos na plataforma

interpreta esse monumento como sendo um edifício dedicado à divindade de Quetzalcoatl, ou

Kukulcan, a serpente emplumada, devido à aparição de diversas representações dessa divindade

na decoração das escadas da plataforma:

Al mismo tempo los otros bajorrelieves nos están indicando que estuvo dedicado a

Quetzalcoatl como dios creador, las águilas nos recuerdan al sol, los jaguares con sus

manchas a la noche y los personajes recostados y el Chac Mool a la lluvia. En otros

términos, todos estos elementos están representando la creación con la eterna lucha

entre la vida y la muerte respectivamente (ACOSTA, 1951, p.43).

Todas essas interpretações foram criadas a partir de estudos sobre esse conjunto de peças

composto pelas placas de pedra calcária em baixo-relevo e os elementos decorativos das

escadarias da plataforma. Tais objetos serviram como importantes fontes para a criação de

teorias sobre o papel do templo em diferentes etapas de sua história. Ainda que os itinerários

dessas peças tenham sido mais reduzidos no que diz respeito a deslocamentos físicos eles nos

mostram as peças como fontes para interpretações. Papel que também se alterou no tempo e no

espaço.

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3.9. O Rei Tigre – a glória do casal Le Plongeon

A próxima peça a ser analisada é a escultura descoberta por Augustus e Alice que

ganhou maior destaque e ser tornou uma das peças de arte pré-colombiana mais famosas e

difundidas em todo o mundo. Trata-se da escultura de um personagem antropomorfo reclinado

com as pernas unidas e que leva um orifício em seu abdômen (ver ficha 3 do catálogo). Tal

escultura foi nomeada por Le Plongeon como chacmool. Nome que a acompanha até hoje e que

é usado para designar diversas outras estátuas com esse mesmo formato que foram descobertas

em outras partes da Mesoamérica ao longo dos anos. Veremos que das peças que fazem parte

da oferenda, esta é sem dúvida, a que ganhou maior destaque, com uma quantidade maior de

material publicado relacionado à existência do objeto. Além disso, esse artefato ganhou

contornos para além de sua existência como um objeto pertencente a cultura maia de Chichén

Itzá. Ele assumiu diferentes posições em momentos distintos de sua existência. Inspirou

movimentos culturais, foi alvo de disputas internacionais e nacionais no México e acabou por

fazer parte de movimentos artísticos contemporâneos. Em nossa apresentação procuramos

resgatar e ordenar cada um desses momentos para criarmos uma narrativa que englobe os

diferentes pontos dos seus itinerários em espacialidades e temporalidades variadas.

Assim como a peça do jaguar reclinado, a estátua do chacmool também é feita de pedra

calcária, provavelmente oriunda de alguma fonte local, com datação aproximada do século IX.

Essa peça também carece de um estudo com análises físicas e químicas detalhadas. A escultura

foi polida e pintada no acabamento pelo artista que a confeccionou, sendo que alguns pequenos

resquícios dessa tinta original ainda são possíveis de se observar numa análise mais atenta (ver

ficha 3 do catálogo). Ao compararmos este chacmool com outros encontrados em Chichén Itzá

percebemos haver certas diferenças estilísticas, como a própria posição do corpo do

personagem, e tamanho, levando a uma interpretação de que poderiam ter sido confeccionados

por diferentes escultores e sem um molde especifico.

3.10. Uma peça e muitas interpretações

De acordo com Lawrence G. Desmond no verbete escrito para a enciclopédia The

Oxford Encyclopedia of Mesoamerican Cultures. The Civilizations of Mexico and Central

America (vol.1, 2001), o chacmool é:

[…] a sculpture of a human seated on the ground, with the upper back raised, head

turned to a near right angle, legs, drawn up to the buttocks, elbows on the ground, and

hands holding a vessel, disk, or plate on the stomach where offerings may have been

placed or human sacrifices enacted (DESMOND, 2001, p.168).

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Essas características descritas por Desmond são comuns às peças chamadas de

chacmool encontradas em diversas localidades da Mesoamérica. Ainda que hajam algumas

variações estilísticas e na iconografia das figuras suas formas básicas se mantém. A peça

descoberta por Le Plongeon foi a primeira de outras com o mesmo formato que seriam

encontradas anos mais tarde em diferentes partes da Mesoamérica. Por meio de uma revisão

bibliográfica verificamos a existência de alguns estudos e interpretações diversas sobre a função

e simbologia de tal escultura. Apesar de ser uma das imagens mais divulgadas e conhecidas da

arte mesoamericana até hoje, ela é também uma das figuras mais controversas. As pesquisas

que encontramos sobre esse tema são em sua maioria problemáticas, pois são poucas as figuras

de chacmool achadas em seu contexto arqueológico original, o que dificulta muito a sua

interpretação (LÓPEZ AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001b). Até hoje foram encontradas cerca

de cinquenta e cinco esculturas interpretadas como chacmool em toda a Mesoamérica. Apesar

de apresentarem grandes variações, essas figuras possuem alguns traços comuns, que a

caracterizam, como sendo uma escultura tridimensional de uma figura deitada no chão, uma

base de pedra, reclinada, com os joelhos dobrados e seu corpo em um único eixo do pescoço

aos pés. Os cotovelos permanecem também no solo, criando uma espécie de tensão na figura.

As mãos se encontram em seu peito, segurando ou não, um disco, um prato, ou vaso (MILLER,

1985).

Ainda que apresentem essas características comuns, percebemos uma grande variação

regional e temporal quanto a sua forma. Elas podem diferir quanto ao lado em que está girada

a cabeça, a posição do abdômen em relação ao peito, o ponto de apoio sobre as extremidades,

o formato do corpo do personagem, assim como a base onde está colocado, a matéria prima,

tamanho, elementos iconográficos e diferenças estilísticas. Pelos levantamentos preliminares

foi possível perceber a existência de um consenso hoje entre os pesquisadores de que os

chacmool seriam parte do mobiliário ritual mesoamericano, uma espécie de mesa

multifuncional que poderia adquirir uma determinada função dentro de uma cultura específica

onde estavam inseridas, e ocupavam uma posição frontal de edifícios religiosos (LÓPEZ

AUSTIN; LÓPEZ LUJÁN, 2001b).

Dentre os estudos realizados sobre a escultura chama a atenção um grupo composto por

alguns maianistas que relacionam o chacmool a origens maias do Período Clássico, com uma

tentativa de encontrar ligações e elementos na iconografia desse período que teriam de alguma

forma se relacionado com a figura da estátua (KUBLER, 1968; RUZ LHUILLIER, 1962;

MARTIN, 2002; MILLER, 1985). Esses autores enxergam no chacmool raízes presentes no

Período Clássico maia, em que a peça seria uma representação de um guerreiro capturado e

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humilhado, preparando-se para o sacrifício. Além dessa teoria temos diversas outras discussões

sobre as esculturas, como origens geográficas (CHARNAY, 1984; BAGBY, 1950) e funções

utilitárias (ACOSTA, 1956; TOZZER, 1957; SCHMIDT, 1974). Dentro dessas temos um grupo

que coloca essas esculturas como mesa de oferendas (CORONA NUÑEZ, 1952; ACOSTA,

1956; WINNING, 1960), ou pedra de sacrifícios (CUÉLLAR, 1981; GRAULICH, 1984;

LÓPEZ LUJÁN; URCID, 2002). Esses últimos autores também ressaltam ainda uma possível

variação funcional e estética sofrida por esse tipo de escultura ao longo do tempo.

Quanto a questões simbólicas é comum entre as esculturas descobertas na área mexica

possuírem ornamentos com referências à divindade da chuva na Mesoamérica, Tlaloc.

Simbologia que também aparece nos ornamentos de orelha da peça escavada por Le Plongeon.

Segundo algumas interpretações como a de Fernando Getino Granados e Javier Silva (2003,

p.71), o chacmool seria um guerreiro sacrificado que leva elementos importantes como o

peitoral de mariposa, faca de pedernal no braço símbolos ígneos de sacrifício. Já John Carlson

(2013) considera o chacmool como sendo um guerreiro vitorioso de elite, associados ao jogo

de bola ritual, importante cerimônia relacionada ao início da vida. Esse autor vê em Teotihuacan

a origem desse tipo de escultura com a forma reclinada. Há ainda alguns autores que

interpretaram o chacmool como sendo uma representação do deus do vinho na Mesoamérica

(CUÉLLAR, 1981). Essa variedade de interpretações também está relacionada com a

diversidade da iconografia das peças encontradas por toda a região mesoamericana. Isso faz

com que entre os pesquisadores não haja um consenso acerca do significado simbólico da peça,

ainda que sobre sua função e uso já haja uma concordância maior.

Além do chacmool encontrado na Plataforma das Águias e Jaguares foram encontradas

até hoje em Chichén Itzá outras 16 esculturas desse tipo. A grande maioria se localiza na parte

norte da cidade, onde está a Grande Nivelação. Cinco delas foram achadas em posição

arquitetônica, posicionados nas entradas de vestíbulos ou antecâmaras, em posições centrais de

edifícios. Outros foram encontrados enterrados em estruturas monumentais ou próximos delas

(MILLER, 1985). Na Mesoamérica, as esculturas com formato de chacmool foram encontradas

espalhadas por sítios como México-Tenochtitlan, Tula, Cempoala, Coyotzingo, e locais como

Michoacan, Tlaxcala entre outros, totalizando cerca de cinquenta esculturas.

Até hoje foi possível constatar apenas uma provável referência a um chacmool em uma

fonte etnohistórica. Ele aparece na Crônica Mexicana, datada de 1598 e escrita por Fernando

Alvarado Tezozómoc, um nobre tenochca, historiador, parente de Moctezuma, um dos últimos

governantes mexicas. Neste documento há uma menção do uso da peça não entre os maias, mas

sim entre os mexicas em um trecho em que se descreve uma grande cerimônia para comemorar

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a inauguração da ampliação do Templo Mayor de Tenochtitlan em 1487. Neste trecho Alvarado

Tezozómoc descreve que durante a cerimônia foi usado pelo próprio governante mexica

Ahuítzotl uma estátua de um personagem com a “cabeça torcida” para um ritual de sacrifício

de capturados de guerra que marcava essa cerimônia:

Y [en] saliendo [que] salió el sol, comiençan de [en]bixar a los que abían de morir con

albayalde (tiçatl) y enplumalles las cabezas y, hechos esto, los suben [en] los altos de

los templos y primero en el de Huizilopochtli [...] Y los quatro [que] an de acarrear a

los miserables condenados estauan [en]bixados de negro, ahumados, prietos,

[en]bixados de almagro pies y manos, paresçían a los mesmos demonios, [que] solo

la bista de ellos estauan a los que los mirauan. Estaua parado el Ahuitzotl, rrey, ençima

del tuchcatl, una piedra figurada una figura [que] [e]staua y tenía torcida la cabeça, y

[en] sus espaldas estaua parado el rrey y a los pies del rrey degollauan. Arrebatan los

tiznados como diablos de los coxedores a uno y [en]tre quatro de ellos tiéndenle

boquiarriba estirándolo todos quatro (ALVARADO TEZOZÓMOC, 2001, p. 307).

Leonardo López Luján e Javier Urcid interpretam a figura presente nesse trecho da

Crônica Mexicana como sendo um chacmool, pois seria a única peça do mobiliário escultórico

mexica que se encaixaria na descrição referida representada com o corpo torcido (LÓPEZ

LUJÁN; URCID, 2002). Essa descrição feita por Alvarado Tezozómoc se faz importante ao

mostrar o chacmool como uma peça de uso ritual e ligada a cerimônias de sacrifícios de cativos

de guerra na Mesoamérica. Com o seu provável uso relacionado a grandes cerimônias

empreendidas pelas elites governantes, além da presença da peça na parte frontal de edifícios

importantes para tais realizações.

3.11. Os itinerários e disputas do Rei Tigre de Le Plongeon

Após a retirada da peça do montículo no dia 20 de dezembro de 1875 ela foi levada ao

seu primeiro itinerário. O casal Le Plongeon decidiu carregar a escultura ao povoado de Pisté

com a ajuda de uma carriola de madeira e dos trabalhadores maias que os acompanhavam (ver

anexo 4). No vilarejo o chacmool foi escondido e deixado por mais de um ano em um arbusto

nas margens da estrada que liga até a cidade de Dzitás. Durante esse meio tempo outras ações

intelectuais sobre a escultura fizeram com que ela permanecesse em destaque. A primeira delas

foi a mudança na grafia do nome chacmool realizada por Stephen Salisbury Jr..

O patrocinador de Le Plongeon em suas empreitadas no México era quem recebia os

relatórios sobre os trabalhos do casal. Em um desses relatórios, Salisbury alterou a grafia do

nome da peça de Chaac Mol para Chacmool, um termo maia para designar o animal puma. Essa

mudança não levou em consideração a própria criação do termo por Le Plongeon que tinha

como origem a junção de duas palavras na língua maia iucateco, chaac – “tempestade, ou poder

irresistível” e mol, “a pata de qualquer grande animal carnívoro”, ou traduzido em sua totalidade

por Le Plongeon como “leopardo” (LE PLONGEON, 1900, p.157). Salisbury justificou essa

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alteração ao afirmar que a nova forma da grafia obedecia e seguia uma maneira mais usual e

atual de se referir ao termo (SALISBURY, 1877, p.64).

Já a segunda etapa do itinerário que se seguiu ao desterramento foi uma batalha ocorrida

no campo das ideias, quando a escultura foi alvo de uma intensa disputa quanto aos direitos de

sua propriedade. Foi a partir desse momento que teve início a fama do chacmool em território

mexicano. Pela primeira vez na história da Arqueologia mexicana uma peça arqueológica do

país foi disputada juridicamente pelo governo (TRIPP EVANS, 2004, p.134).

Desde a remoção da peça quando Le Plongeon percebeu tratar-se de uma escultura em

perfeito estado de conservação, e que ele associava a um importante personagem da história

maia, o arqueólogo demonstrou seu interesse em levar a peça a uma feira que iria acontecer na

cidade estadunidense da Filadélfia em 1876. Le Plongeon acreditava que a escultura iria

justificar o patrocínio que ele recebia da American Antiquarian Society, e planejava assim

pleitear um prosseguimento deste patrocínio junto a Salisbury Jr. (DESMOND; MESSENGER,

1988, p.41; TRIPP EVANS, 2004, p.134). Além disso, a peça era para ele algo único e um dos

objetos arqueológicos mais importantes da história americana, comparado a grandes obras

maestras da história da humanidade:

The statue, Mr. President, the only one of its kind in the world, shows positively that

the ancient inhabitants of America have made, in the arts of drawing and sculpture,

advances, equal at least to those made by the Assyrian, Caldean and Egyptian artists

(SALISBURY, 1877, p.69).

Foi nesse momento em que ocorreu um dos fatos mais marcantes da vida de Le

Plongeon, a batalha jurídica com o governo mexicano para levar a estátua do chacmool para os

Estados Unidos. Esse momento foi marcado por muitas disputas e pela materialização de um

novo sentimento nacionalista que começava a tomar conta do México recém-independente que

via em seu patrimônio histórico e arqueológico, as raízes para o futuro identitário do país que

estava sendo criado.

Planejando levar a escultura e outros objetos para os Estados Unidos, Le Plongeon

entrou em contato com o presidente mexicano da época, Sebastián Lerdo de Tejada por meio

de cartas para pedir uma autorização para levar as peças aos Estados Unidos. Durante nossas

pesquisas nos arquivos da American Antiquarian Society e Getty Institute localizamos cartas

enviadas por Augustus Le Plongeon a Lerdo de Tejada, Salisbury Jr., e outros políticos com

pedidos formais para realizar a exportação dos objetos. Em correspondência enviada no dia 27

de janeiro de 1876 ao presidente Tejada, Le Plongeon fez uma descrição pormenorizada das

suas atividades e escavações em Chichén Itzá e outros sítios da região. O documento relata a

descoberta do chacmool além de seu interesse por uma fama pessoal com essa descoberta:

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Well, then I had resolved that, cost what it might, the world should know my statue –

my statue, that was to establish my fame forever among the scientific circles of the

civilized world. I had to carry it, but, alas! I calculated without the prohibitive laws

(SALISBURY, 1877, p.71).

Na sequência da carta o explorador ressalta a importância que seria levar a escultura

para a feira da Filadélfia e se coloca no papel de um personagem de grande importância para o

México:

Will the man who, to place this country at the height of other civilized nations, has

known how to improvise. […] I ask the greatest discovery ever made in American

Archaeology, to remain lost and unknown to the scientific men, to the artists, to the

travelers, to the choicest of the nations that are soon to gather at Philadelphia? No! I

do not believe it! I do not wish to, I cannot believe it! (SALISBURY, 1877, p.72).

E já no final ele faz o pedido formal de levar a estátua para os Estados Unidos:

[...] 1st To carry the statues of Chacmool, and some bas-reliefs that have relations to

the story of that Chieftain, and are represented in the plates 4 and 5, together with my

mural tracings, plans and photographs to the approaching Exposition of Philadelphia

(SALISBURY, 1877, pp.72-73).

Após longa demora e com base em uma lei de 1827 sobre questões aduaneiras, o

governo mexicano, já sob o comando do general Porfírio Díaz decide negar o pedido de Le

Plongeon. Ainda assim, o arqueólogo resolve apelar a outras autoridades mexicanas e

estadunidenses para tentar reaver a peça, ou receber algum tipo de ressarcimento financeiro

pelo confisco do objeto. Em uma das diversas cartas enviadas às autoridades, Le Plongeon diz

que não há leis mexicanas que tratem desse caso, já que as leis criadas durante o império de

Maximiliano foram derrogadas com a sua morte, e o consequente fim do império. O arqueólogo

demonstrou conhecimento sobre a legislação mexicana, que de fato naquele momento não havia

documento que tratasse sobre a questão do patrimônio histórico e arqueológico do país:

Effectively today there does not exist in the Mexican republic decrees or laws that

prohibit the study of the ancient monuments or deprive the archaeologists of right to

the property of the architectural and historical pieces that guided by their knowledge,

they discover. The statues of chacmool – two – and the bas-relief discovered by my

lady and by myself consequently belong to us (LE PLONGEON, 21/02/1877).

Outro argumento usado pelo explorador é a de que as suas investigações foram feitas

com o conhecimento e aprovação do governo mexicano, além de questionar o direito com que

as autoridades mexicanas e iucatecas teriam sobre uma peça encontrada em um território

dominado pelos rebeldes maias, envolvidos na Guerra de Castas, já que o sítio de Chichén Itzá

naquele momento estava em território dominado pela guerrilha Chan Santa Cruz, composta por

indígenas revoltosos. Le Plongeon usa esse fato para requerer a propriedade sobre a peça:

Because the discoveries were made in places where nor you Señor General, nor the

supreme government of Mexico rule in fact, but Señor Dr. Crecencio Poot, chief of

Chan Santa Cruz, and which are at last one league beyond the most advanced military

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lines, in the enemy’s country. Consequently, the said statue may be considered as

booty made on the enemy, belonging to the captors (LE PLONGEON, 21/02/1877).

Esse argumento seria usado em outra carta enviada em maio deste mesmo ano, ao

presidente do Instituto de Geografia e Estatística do México, Vicente Riva Palacio. Le Plongeon

mais uma vez questiona o controle do governo mexicano sobre as terras onde o chacmool foi

descoberto:

And shall or be said that Mexico, that country which so loudly proclaims the principles

of liberty and progress, disowner them in fact despoiling, a lady of archaeological

treasures, acquisted at the cost of constant dangers, and privations without number in

a country inhabited by savage Indians and where the government of Mexico does not

command in fact? What excuse will give to the civilized world of the congress of wise

archaeologists that will soon be invited at Luxembourg? (LE PLONGEON,

08/05/1877).

Todos esses protestos feitos pelo arqueólogo acabaram sendo em vão, já que a peça seria

confiscada pelo governo iucateco em março de 1877 por ordem do então governador do Estado,

General Protásio Guerra. Esse ato, bem como o itinerário da peça até a cidade de Mérida com

as novas relações e questões que circundaram o chacmool nesse trajeto é o que será tratado a

seguir.

3.12. A glória do Rei Tigre

A etapa a seguir da trajetória do chacmool está circundada de glória e da materialização

de disputas políticas internas que ocorriam no México no final do século XIX. A principal delas

era a querela entre o Governo Central e os governos estatais, entre o centralismo e o

federalismo. Mas antes disso veio a glória máxima atingida pela estátua do chacmool. Uma

fama acompanhada por uma revolução cultural que a peça provocou no Estado de Iucatã e na

cidade de Mérida.

Com o confisco da escultura realizado pelo governo iucateco os dirigentes decidiram

imputar à estátua um sentimento de orgulho regional do povo de Iucatã, como um símbolo do

passado glorioso da região. Com isso foi preparada uma grande cerimônia para marcar a entrada

do Rei Tigre em Mérida, que causou uma comoção regional (DESMOND; MESSENGER,

1988, p.42). Ainda que tenha ficado por pouco tempo na cidade de Mérida, a escultura do

chacmool movimentou toda a vida cultural e social de seus moradores naquele momento. Os

jornais da época acompanharam todos os passos para a chegada do chacmool a Mérida, com a

organização de uma grande cerimônia para receber a escultura, além de informações diárias

sobre os trajetos percorridos pelo chacmool:

A las ocho del día de mañana deberá hacer en entrada a esta ciudad el inteligente

Director del Museo Yucateco J. P. P. Contreras la estatua del Rey Chacmool que el

sabio Mr. Le Plongeon extrajo de las ruinas de Chichén Itzá [...] Apenas se ha tenido

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noticia de la aproximación del chacmool con entusiasmo entre todos los vecinos de la

ciudad por lo cual los que inscriben a invitación de otras muchas personas han tomado

a su cargo solemnizar la entrada de la estatua invitando a toso los amantes de las

glorias de Yucatán. El trayecto de entrada será la calle de Litilpeilia à cuyos habitantes

roguemos adornen las fachadas de sus casas con cortinas. (PRISMAS, 1877).

Este trecho de um panfleto enviado aos habitantes de Mérida em fevereiro de 1877

demonstrava toda a expectativa e o clamor popular para a festa que foi organizada para receber

a escultura na cidade. O título do texto era uma clara demonstração de orgulho nacional e

regional, e da utilização de uma estreita associação entre ciência e a construção da identidade

nacional mexicana. O texto faz uso de uma retórica carregada de palavras de ordem como;

Gloria à Mexico! Gloria à la Ciência! Gloria à Le Plongeon! Gloria à Yucatan!.

A chegada do chacmool a Mérida, em primeiro de março de 1877, relatada pelo

Periódico Oficial do dia dois de março desse mesmo ano descreve que a entrada da peça foi ao

som da banda militar e acompanhada por uma procissão composta por oficiais, membros da

alta sociedade, crianças de escolas da cidade e diversas pessoas comuns. As ruas estavam cheias

de espectadores para contemplar a chegada da escultura:

Como dijimos en nuestro anterior número, ayer por la mañana hizo su entrada la efigie

del Rey-Tigre con la Comisión, que, bajo las órdenes del C. Juan Peón Contreras,

Director del Museo Yucateco, había ido por disposición del C. Gobernador y

Comandante militar en busca de ella por entre los montes contiguos al pueblo de Pisté.

Un gentío inmenso llenaba el camino que conduce de la hacienda Multuncuc á esta

Capital. Al llegar la estatua al punto llamado “La Cruz de Galvez” la banda militar

rompió en alegres notas, ejecutando una marcha guerrera, análoga á la festividad.

Presidia la concurrencia el C. General Protásio Guerra, Gobernador y Comandante

militar del Estado en carretela abierta, acompañado del C. Consejero de Estado Darío

Galera e el Jefe político C. P. Echánove: cerca de estos ciudadanos venía la Comisión

conductora, compuesta del referido Director del Museo, del Teniente Coronel Sandi

y del Comandante Alfredo Tamayo, ayudante del C. Gobernador, los cuales eran

seguidos por multitud de carruajes de paseo y por un concurso extenso y numeroso de

hijos del pueblo. Los liceos y escuelas municipales estuvieron también ahí. Gran

satisfacción causaba ver ese enjambre de niños que concurría igualmente á participar

de ese triunfo de la ciencia. La concurrencia tomó rumbo a la plaza de Mejorada. Al

entrar la colosal estatua á la “Calle de Porfirio Díaz” la música dejó oír la inmortal

obra del maestro Cuevas “El himno del Estado”. Hileras compactas de señoras y

caballeros, ocupaban las dos aceras de esa calle hasta el “Parque Central”. Al pasar

Chac-Mool por frente de la sociedad “La Siempreviva”, la niña Isabel Cirerol, alumna

de este Liceo, pronunció una bellísima poesía que publicaremos en este periódico.

Siempre creímos que aquella sociedad entusiasta por las glorias científicas no dejaría

de quemar su grano de incienso ante el altar de la ilustración. Continuó así la entrada

triunfal de la efigie hasta el “Parque Central”. Colocada en la parte media de la calle,

entre dicho parque y el atrio del templo católico de Jesús, permaneció hasta después

del medio día en que fue trasportada sobre el mismo atrio, donde permanecerá por

algunos días á la exposición pública para colocarla después en el lugar que se tiene

destinado en el Museo. Durante el tiempo que permaneció en el centro de la calle,

frente al “Parque Central”, tuvimos el gusto de oir á los CC. Pedro Sandi y Francisco

Novelo Quijano, que pronunciaron composiciones alusivas a esa gran festividad y al

C. A. Tamayo que leyó una preciosa oda de nuestro amigo Rodolfo Menéndez.

Oportunamente daremos publicidade á estas piezas literárias (PERIÓDICO

OFICIAL, 02/03/1877, p.3).

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Esse uso da estátua do chacmool por parte do governo iucateco também parece indicar

para uma tentativa de agregação social, e orgulho das raízes identitárias do estado que naquele

momento era assolado pela Guerra de Castas, além de uma disputa política por uma autonomia

estatal frente ao governo centralista do centro do México. A independência do país levada a

cabo no início da década de 1820 levou ao estabelecimento de um sistema centralista na

organização política mexicana, em que os estados acabaram por tornar-se departamentos

administrativos tendo os seus governadores nomeados e não eleitos (REED, 2014, p.36). Essa

situação desagradou de sobremaneira a classe governante de Iucatã acostumada com o exercício

do poder local. Já que desde o estabelecimento do sistema colonial a elite do estado sempre

manteve uma certa autonomia. Somado a isso, estava a grave situação social pela qual Iucatã

passava com uma guerra civil entre brancos e indígenas chamada de Guerra de Castas. Tal

guerra atingiu todo esse território de 1847 a 1901 e se configurou numa forte luta da população

indígena contra os abusos e a situação marginal que viviam desde o momento da invasão

europeia e que se seguiu durante todo o período colonial naquela região.

Além dessa questão política, a chegada da escultura do chacmool a Mérida também

causou uma revolução cultural na cidade. Durante os festejos do desfile da peça pela capital do

estado, poesias, textos literários, músicas e obras de arte foram feitas para saudar a importância

do Rei Tigre para os iucatecos. Juan Peón Contreras, diretor do Museo Yucateco, logo da

chegada do artefato a Mérida encomenda uma cópia de gesso da estátua além de um quadro de

pintura a óleo com a imagem do chacmool. Outro fato importante foi a publicação no Periódico

Oficial do estado de uma poesia criada por Isabel Cirerol, estudante de uma escola de Mérida,

intitulada de Chac-mool, na qual ela exalta a importância dessa peça não apenas para a ciência,

mas também para a própria constituição da pátria mexicana. A poesia foi declamada no

momento da entrada da estátua em Mérida:

Chac-mool

Salud, hermosa estatua de las ruinas,

Obra grandiosa de uma antigua raza

Tú que has sido, talvez, em otros dias

De mil pueblos la imagen venerada;

Tu que has visto pasar tantas edades,

Y cruzar tantas épocas lejanas,

Al rigor implacable de los tempos

También fueron tus glorias olvidadas,

Y rodó por el suelo tu grandeza,

Y cayó el pedestal dó te ostentabas...

Pasáronse los siglos... y entretanto

Has vivido entre escombros sepultada.

Plugo à la ciência com su luz divina

Penetrar em tu lóbrega morada,

Y del seno profundo de la tierra

Para admirar al mundo te levanta

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! Gloria al viajero que llegara un día

Allá en Chichén à colocar la platan,

Y llegar à la pátria un monumento

Digno de las naciones ilustradas:

Y al noble jóven que corrió afanoso

A transportar la colosal estatua...!

Para vosotros gratitud eterna

A nombre de la ciencia y de la pátria.

(PERIÓDICO OFICIAL, 05/03/1877)

Ainda no campo da cultura, o chacmool também inspirou a criação de uma obra teatral

com finalidades políticas escrita por José Martí, filósofo, escritor, poeta e grande mártir da

independência cubana contra o domínio espanhol. Martí visitou Mérida no ano de 1877 no

mesmo período em que a estátua do chacmool estava no centro das discussões da elite e de

políticos locais. Engajado na luta contra o imperialismo europeu no continente americano o

filósofo demonstrava um grande interesse pelas antiguidades locais, fato que motivou a criação

de uma obra literária com o nome de Chacmool. Tendo a peça como pano de fundo, Martí,

utilizou-a para discutir questões políticas e identitárias do continente americano naquele

momento. Ele considerava a estátua como uma síntese da civilização americana-mexicana, algo

genuinamente local (MELGAR TISOC, 2005, p.38).

A trama da obra de Martí girava em torno da escultura que representava os povos latino-

americanos e tinha uma orientação anticolonial. A importância que o filósofo via na peça vai

de encontro com a maneira que ela foi pensada e tratada pela elite iucateca do final do século

XIX e como esse objeto materializou outros elementos que iam além de seu próprio significado

e sentido antigo.

Esses fatos nos levaram a pensar que a estátua do chacmool teve uma importância para

além de sua existência física naquele momento. Ela conseguiu criar um ambiente cultural com

a efervescência de diversos trabalhos que faziam menção à sua existência. O que fez com que

a peça ganhasse conotações de uma importância maior do que o seu próprio contexto antigo

apontava. A construção identitária associada ao passado glorioso da região que envolveu a

escultura foi exaltada pela elite iucateca em seus anseios sobre uma organização política que

lhe favorecesse frente ao governo central mexicano. Sentimento que fica claro no discurso do

político iucateco, C. Francisco Novelo Quijano, pronunciado no dia em que o chacmool chegou

ao Parque Central no centro de Mérida:

Sí, nuestros antepasados los heroicos mayas, sin haber recibido el bautismo de la

civilización europea, crearon estos monumentos grandiosos e magníficos que hoy los

sabios nacionales y extranjeros contemplan con profunda admiración. El hombre por

do quiera que ha posado su planta, ha dejado regados en su tránsito multitud de huellas

que atestiguan de una manera muy elocuente sus esfuerzos por la vía del progreso y

del adelanto. […] Sí, ¡adelante! Y ¡vivan los nobles hijos de Yucatán agrupados en

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torno del radiante templo de la ciencia y de la investigación!! (PERIÓDICO

OFICIAL, 14/03/1877, p.4).

Entretanto, toda essa comoção regional pelo chacmool logo daria lugar a uma certa

frustração, pois a peça foi uma vez mais confiscada agora pelo governo central mexicano sob a

ordem do general Porfírio Díaz, recém-declarado presidente da República.

3.13. A vitória do centralismo

Mapeando a rota final da peça após a chegada em Mérida no dia 01 de março de 1877,

o chacmool foi levado à capital do país no mês de maio daquele mesmo ano. Num fato

simbólico que também denotava uma vitória do centralismo frente à autonomia iucateca.

Confiscada a mando de Porfírio Díaz, o chacmool foi levado de navio e em seguida seguiu de

trem até a capital federal. Essa seria a última etapa dos itinerários realizados pela peça. A

chegada ao Museu Nacional representou uma nova ressignificação da escultura, tida agora

como uma peça de suma importância para a constituição da história da nação, num contexto

mais amplo. O transporte do chacmool para este museu fez parte de um conjunto de ações do

então presidente mexicano na tentativa de construção de uma nova nação mexicana calcada em

seu importante passado pré-hispânico. Além do chacmool, outros monolitos antigos foram

levados ao museu nessa mesma época para que ficassem expostos e atestassem a grandeza do

país recém-independente. Em texto publicado no periódico El Siglo Diez y Nueve do dia dezoito

de abril de 1877, o então governador de Iucatã, Agustín Del Rio destaca a importância da

remoção da peça para a capital do país que agora seria estudada com mais detalhes:

El gobierno de mi cargo, deseando que esta joya preciosa de la arqueología sea

conocida en esa capital y estudiada por los sabios y los hombres pensadores que están

en más continua relación con la ciencia ha dispuesto sea remitida al Museo Nacional

como un presente que en este día memorable, 02 de abril, consagra el Estado de

Yucatán al ilustre caudillo C. General Díaz, que en 1867 venció á los enemigos de la

república en la heroica Puebla de Zaragoza al frente del denotado ejército de Oriente.

Pronto estará en esa capital dicha estatua y estoy seguro que ocupará uno de los

lugares de más preferencia en el Museo Nacional. Como conozco la ilustración de

ustedes y el empeño que en todo tiempo han demostrado por enaltecer las glorias de

la ciencia me apresuro a comunicarles este sueño que no dado llamará la atención no

solo de las personas que son afectadas a las investigaciones arqueológicas sino

también de las que estiman en cuanto valen esas ricas adquisiciones de la nación (EL

SIGLO DIEZ Y NUEVE, 18/04/1877, p.3).

Durante nossas investigações no Arquivo do Museu Nacional de Antropología da

Cidade do México, conseguimos localizar documentos que atestam a entrada da peça no museu,

bem como recibos que mostram o translado (ver anexos 28 e 29). O chacmool ficou no antigo

Museo Nacional até a inauguração do moderno Museu Nacional de Antropologia em 1964,

quando a peça fez o seu último itinerário até às novas instalações desse museu onde está em

exposição. Como parte final desse deslocamento, o chacmool hoje ganhou a atenção do público,

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e passou a fazer parte de diversos roteiros turísticos de milhares de visitantes que percorrem o

museu diariamente, além de ter se tornado uma das peças arqueológicas mais famosas da área

mesoamericana. Com os avanços dos estudos e as posteriores descobertas de outras peças

semelhantes em diferentes partes dessa região, a escultura ganhou ainda mais notoriedade, e

acabou se tornando num dos símbolos mais reproduzidos da arte pré-colombiana. Uma

importância mais ampla da que a escultura teve para Le Plongeon, que via naquela figura de

um personagem reclinado a prova da existência do antigo governante maia que tinha tido um

papel fundamental no estabelecimento dessa civilização.

No século XX com a instauração de um momento de crise dentro da História da Arte e

a insatisfação com a arte e as instituições, muitos artistas passaram a se voltar para centros de

tradições não-europeias, a fim de buscar inspiração para os seus trabalhos (MATTOS, 2014,

p.259). Nesse contexto, objetos da arte pré-colombiana foram fontes de inspiração recorrentes

para diversos artistas. Dentre esses artistas destaca-se a figura do escultor britânico Henry

Moore que fez extenso uso de inspirações do México antigo para construir as suas obras. Uma

de suas obras mais famosas, Reclining Figure, da década de 1950 é inspirada na figura do

chacmool em suas formas e posição.

O conhecimento de Moore e outros artistas pelo chacmool foi possível dada a dimensão

de publicidade que atingiu esse tipo de figura reclinada sendo uma das peças pré-colombianas

mais reproduzidas e admiradas na arte moderna. Visibilidade essa que nasce na famosa

descoberta feita por Augustus e Alice.

3.14. As peças dispersas da oferenda

Se asegura haber encontrado el Doctor en sus investigaciones, una urna conteniendo

sabe Dios qué. Los tratamientos químicos creemos que nos darían alguna luz sobre el

particular para poder aventurar nuestra opinión (LOZA, 20/01/1876, p.2).

O próximo conjunto que será analisado faz referência a algumas peças de diferentes

naturezas, mas que serão apresentadas de maneira conjunta nessa dissertação, pois são objetos

que foram mencionados em registros de fontes antigas, mas seus traços se perderam ao longo

do tempo, e o seu paradeiro atual é desconhecido. Para o estudo dessas peças foi fundamental

uma pesquisa em textos antigos do momento da descoberta que faziam menção a esse material.

Além disso, a consulta a fotografias daquele momento também se mostrou de grande

importância, pois esses são os únicos registros visuais da existência de tais objetos.

Esse conjunto de peças é composto por duas urnas de pedra calcária de formato circular,

duas placas de cerâmica lisa e uma peça em formato tubular de jadeíta polida. Não foi possível

encontrar relatos sobre as características físicas das peças. Apenas que quatro delas seriam feitas

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de pedra calcária e uma de jadeíta. Devido à falta de informações e registros atuais sobre esses

objetos optamos por não incluí-los no material catalogado durante essa pesquisa. Ainda que

essas peças não tenham muito registro, algumas delas foram de grande importância para as

narrativas criadas por Le Plongeon sobre a história da civilização maia antiga. Veremos agora

como esses objetos foram utilizados para a construção dessa interpretação.

3.15. Um histórico das peças

Segundo os relatos do casal Le Plongeon feitos durante os trabalhos na Plataforma das

Águias e Jaguares, foram descobertas duas urnas de pedra calcária, uma com tamanho maior e

outra de menor dimensão. Esse objeto menor teria sido encontrado junto com um grupo de

objetos líticos e de duas placas planas de cerâmica na base da estátua do chacmool. A peça era

pintada de ocre amarelo com três penas e uma tampa que a cobria. Dentro foi encontrada uma

conta redonda de jadeíta extremamente polida. Essa última peça será analisada posteriormente,

já que ela se encontra em exposição no Museu Americano de História Natural de Nova York,

Estados Unidos. Os relatos de Le Plongeon dão conta da descoberta desse grupo de artefatos:

I then found a rough sort of urn of calcareous stone; it contained a little dust, and upon

it the cover of a coarse earthen pot, painted with yellow ochre. (This cover has since

been broken). It was placed near the head of the statue, and the upper part, with the

three feathers that adorn it, appeared among loose stones, placed around it with great

care (SALISBURY JR, 1877, p.70).

Nos relatos de Alice há uma menção do tamanho dessa urna. Ela afirma que o objeto

teria cerca de 66,0 centímetros de diâmetro e 63,5 centímetros de profundidade com uma

espessura de aproximadamente 10,0 centímetros:

The came to a large round stone jar, [Refers to note in margin, which reads “This jar

or urn measured 26-inch diameter, 25 deep. Thickness of stone 4 in.”] with circular

stone covering it as a lid[.] […] The men had taken the lid away. Inside was a small

earthenware lid, a large round bead of jade, and some dust […] (DESMOND, 2009,

p.121).

Na sequência dos trabalhos, próximo à cabeça do chacmool foi achada a outra urna, de

tamanho maior e também feita de pedra calcária. Dentro havia um pouco de pó, o que levou

Augustus a pensar que se tratava das cinzas do príncipe chacmool, além de uma peça de jadeíta

em formato tubular que ele presenteou Alice (DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35). Nos

relatos, ela afirma que essa urna maior estava pintada da cor vermelha em seu interior,

semelhante a cor de sangue. Esse fato levou ao casal pensar que a tinta seria algum tipo de

sangue seco que estava dentro da urna.

A coloração vermelha do interior da urna maior, foi importante para a interpretação

criada por Augustus. Ao descobrir esse objeto com cinzas dentro, Le Plongeon logo o

identificou como sendo um vaso canópico, que portava as cinzas, o sangue e o coração do

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príncipe chacmool, numa clara alusão aos vasos canópicos egípcios, objetos utilizados para o

depósito de restos mortais e enterrado junto aos mortos. A ideia de que a urna encontrada por

Le Plongeon continha restos humanos se difundiu naquele momento em que eram feitas as

escavações no montículo. No relato de Alice, ela menciona que durante a visita de sete homens

às escavações eles ficaram encantados ao observar uma urna que continha o sangue de um

importante personagem do passado:

They listened with open mouths to the Corporal while he told them that it was a man

enchanted since 10,000 years, and that we had found his blood in that urn

(DESMOND, 2009, p.137).

Além disso, essa associação com o mundo egípcio feita pelo casal Le Plongeon é

ilustrada num artigo escrito por Alice para a revista The London Magazine já no início do século

XX. Esse artigo era um texto comparativo entre maias e egípcios, reafirmando a tese criada por

Augustus de que os maias teriam originado a civilização egípcia:

With the statue were two heavy stone urns, similar to that shown in one of our

illustrations, one of which contained ashes, and the other held the charred remains of

what was once a human heart, as was proved by chemical analysis. This was also the

ancient custom of the Egyptians (LE PLONGEON, 1910, p.128).

Uma interpretação já presente no livro de Augustus chamado Mayapan and Maya Inscriptions

lançado em 1881.

A jadeíta tubular aparece em algumas das publicações feitas pelo casal Le Plongeon

sobre os achados da oferenda. Alice menciona a descoberta da peça no texto escrito no dia 15

de novembro de 1875 em seu diário: “There was also na oblong green jade bead, highly

polished (The same I had later, set in gold, in Mexico, and use it as a brooch)” (DESMOND,

2009, p.127). Já dentre as fontes modernas, Desmond e Messenger (1988, p.35) também

descrevem essa passagem da descoberta da peça que foi presenteada a Alice por Augustus.

Tripp Evans (2004, p.136) descreve a história do objeto ao relatar como Le Plongeon fez uso

do ocultismo durante os seus trabalhos arqueológicos com a criação de relações entre ele e Alice

com personagens maias do passado.

Além desses registros em documentos escritos, também foi possível localizar algumas

referências das peças presentes em documentos fotográficos em momentos posteriores

próximos às escavações feitas pelo casal Le Plongeon. O primeiro registro que se tem das urnas

aparece nas fotos tomadas por Teobert Maler por volta de 1886, poucos anos após os trabalhos

do casal no sítio. Uma das urnas aparece numa foto com os objetos escavados oriundos da

oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares. Na fotografia é possível observar parte dos

painéis com imagens de personagens reclinados, a cabeça que Le Plongeon colocou na escultura

do jaguar reclinado e uma parte inferior de uma das placas com imagens de águias. A estátua

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do jaguar reclinado aparece no centro com um trabalhador indígena ao fundo. À esquerda dessa

peça aparece uma urna circular de pedra calcária. Ao lado da urna há ainda uma outra lápide

com uma parte da figura do personagem reclinado. De acordo com as medidas apresentadas por

Alice e comparando com as medidas da escultura do jaguar reclinado, podemos supor que a

urna fotografada se trataria da primeira de tamanho menor. Essa foto pertence ao acervo do

Museu Iberoamericano de Berlim, na coleção de Eduard Seler.

A mesma peça apareceria numa foto tirada por Alfred Maudslay por volta do ano de

1889 durante suas investigações no sítio de Chichén Itzá. A imagem mostra um indígena

sentado ao lado da escultura do jaguar reclinado com uma urna de pedra à sua esquerda. (ver

anexo 20). Ao analisarmos as duas figuras podemos identificar muitas semelhanças. A mais

notória é a posição da urna em relação à escultura do jaguar. Em ambas as fotos a urna está à

esquerda da estátua. Tendo em vista a proximidade das visitas dos dois estudiosos a Chichén

Itzá e da tomada das fotos, é bem provável que os objetos colocados para a foto de Maler tenham

sido deixados em uma mesma posição para a foto de Maudslay. Ou seja, é provável que os

objetos não tenham sido removidos de uma data para a outra. O que nos traz um indício sobre

o itinerário dos dois objetos nesse curto espaço de tempo.

Já a jadeíta tubular aparece em fotos antigas de Alice usando a peça e no livro Here and

There in Yucatan: Miscellanies, publicado em 1886, além de uma foto da peça também no livro

Queen Móo’s Talisman, de autoria de Alice. Ambas as fotos foram reproduzidas por Tripp

Evans (2004, p.138) e Desmond e Messenger (1988, p.36) em imagens que Alice aparece

usando o objeto e outra que mostra a peça em detalhe (ver anexo 32).

3.16. Breves notícias sobre os itinerários das peças dispersas

Das cinco peças que compõe esse conjunto que decidimos chamar de peças dispersas,

três possuem referências em algumas fontes (escritas ou imagéticas), enquanto que as outras

praticamente não encontramos referências. As duas placas de cerâmica lisa, exceto pela menção

feita por Alice e Augustus no momento da escavação do montículo não aparecem em mais

nenhum relato posterior. Com essa lacuna de informação não foi possível fazer nenhuma

referência às essas peças ou a seus itinerários. Como o relato existente também é muito breve

não conseguimos ter uma descrição pormenorizada desses dois objetos. Já as duas urnas

encontradas junto ao chacmool e a jadeíta polida de formato tubular aparecem em outros relatos

escritos além de documentos fotográficos. Entretanto, tais registros terminam no final do século

XIX. Em nossas pesquisas não encontramos referências à essas peças nos escritos de estudiosos

que trabalharam em Chichén Itzá na nova fase da Arqueologia profissional. Nos próprios

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trabalhos de restauro da plataforma levados a cabo nas décadas de 1930 e 1950 também não há

menções sobre esses objetos.

Assim sendo, temos algumas questões importantes a serem discutidas sobre os

itinerários das urnas. A primeira tem a ver com a urna maior. Após as pesquisas podemos

sugerir dois tipos de itinerários que essa peça esteve envolvida. O primeiro diz respeito à

maneira como ela foi utilizada pelo casal Le Plongeon para justificar a sua narrativa sobre a

origem dos maias e a história do príncipe Coh. Já que segundo essa interpretação, a urna seria

o local onde estariam os restos mortais desse personagem enterrado na plataforma, o seu

mausoléu. O achado da urna veio a confirmar para Augustus que aquele local era o túmulo

desse personagem. Além disso, as próprias descrições dessa peça feitas pelo casal atestariam

essa ideia. O relato de que o interior da urna estava pintado com tinta vermelha cor de sangue

como único registro sobre essa peça reforça ainda mais o uso do objeto para a narrativa criada.

Como não dispomos de imagens e nem outras descrições sobre a peça não foi possível

confirmar essa coloração do seu interior.

O outro aspecto do itinerário dessa peça diz respeito a um possível deslocamento físico

dela relatado por Alice em seu diário. Nos escritos do dia 27 de novembro de 1875 a fotógrafa

relata que uma urna descoberta no montículo teria sido levada de Chichén Itzá a Pisté por seis

trabalhadores. Mas no meio do caminho o objeto caiu e foi partido em duas metades:

The men were again sent to bring the pila, or urn. We went later taking 6 new

workmen. In the road, we met the men carrying the urn to Pisté. They stopped & set

it on the ground for us to pass. […] The urn had been brought to Pisté, but they broke

it in two. We are both sorry & angry (DESMOND, 2009, p.134).

A partir desse curto relato podemos interpretar duas questões. Uma seria que a urna

relatada nos parece ser a maior devido ao fato de Alice afirmar que foi necessário o trabalho de

seis homens para deslocá-la. A outra questão é que como o relato termina com a descrição da

destruição da peça poderíamos supor que o objeto tenha sido deixado em algum lugar no meio

do caminho entre Chichén Itzá e Pisté. Não há registro de que ela tenha sido levada de volta ao

sítio.

A última peça encontrada na oferenda que não encontramos referências é a jadeíta em

formato tubular achada dentro de uma das urnas. Esse objeto logo chamou a atenção do casal

pela grande qualidade de manufatura. No momento da descoberta, Augustus resolveu

presentear Alice com esse artefato que passou a usá-lo como um broche, um adereço de sorte.

Esse adorno significou para o casal de exploradores uma conexão espiritual de Alice com a

rainha Móo. A peça ficou conhecida como o talismã de Alice, ou o talismã da rainha Móo e

acabou sendo o título de um livro publicado pela fotógrafa no ano de 1902, um romance de

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intriga política, que narra a morte e a decadência da cidade de Chichén Itzá. Alice relata a

descoberta da peça e descreve a relação entre o príncipe chacmool e a rainha Móo, procurando

explicar a ligação espiritual que segundo ela, o casal Le Plongeon tinha com os antigos maias.

Além disso, inspirado pelo objeto, e pelo livro, ela compôs uma música com o nome The

Lover’s Song, from Queen Móo’s Talisman, em que falava de uma grande relação entre dois

amantes.

As ideias apresentadas por Alice da existência de uma conexão entre ela e a personagem

criada por Le Plongeon para explicar a história de Chichén Itzá fazia parte de outras criações

de Augustus que também se projetavam nas ruínas e no antigo passado maia. Grande admirador

e praticante do ocultismo o explorador acreditava que ele assim como Alice teriam vivido em

outras vidas em Chichén Itzá (TRIPP EVANS, 2004, p.130). Segundo Le Plongeon, a rainha

Móo teria fugido do Egito e ido para a área maia com uma nova identidade onde teria fundado

um novo reino. Após 115 séculos de sua partida essa personagem teria retornado reencarnada

como Alice Dixon Le Plongeon (TRIP EVANS, 2004, p.136). Para marcar isso, Le Plongeon

presenteou sua esposa com o pequeno tubo de jadeíta.

Esse objeto nunca foi encontrado. Acreditamos que ele tenha sido usado por Alice até

o final de sua vida. No epílogo do livro Yucatan Through her Eyes, Desmond afirma que a peça

provavelmente tenha sido jogada ao mar junto com o corpo de Alice após a sua morte no ano

de 1910 (2009, p.329).

Com todas essas questões levantadas procuramos dar conta de recuperar histórias sobre

as trajetórias dessas peças. Ainda que com a escassa documentação disponível tal trabalho tenha

ficado um pouco reduzido tentamos apresentar os indícios de possíveis deslocamentos das

peças, além de questões materializadas e pensadas sobre esses objetos.

3.17. Os artefatos móveis – líticos, contas de pedras e conchas

O último grupo de objetos que analisaremos seus itinerários e histórias compreende os

artefatos de pequenas dimensões feitos de pedra e concha que subdividimos em dois conjuntos;

as peças que foram doadas ao Museu Americano de História Natural de Nova York e as que

acabaram sendo destinadas ao Museu Peabody de Harvard em Boston. Predominam nesses

conjuntos pontas de lanças feitas de diferentes tipos de pedras. Fazem parte também as contas

pequenas de pedras, o objeto esférico de pedra verde polida encontrado em uma das urnas

descobertas pelo casal, além de pequenas contas também feitas de pedra, conchas e pequenas

esferas de pedra calcária. Trataremos esses objetos em conjuntos já que os aspectos mais

importantes analisados nesse momento são os seus itinerários e trajetórias. Com base num

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levantamento preliminar essas peças foram agrupadas de maneiras diferentes e levadas a locais

diversos. Na parte final dessa dissertação será apresentado um catálogo que irá tratar com mais

detalhe cada uma dessas peças. Durante o nosso estágio de pesquisa nos Estados Unidos em

2016 tivemos acesso a esse material com a realização de fotos e tomadas de medidas das peças.

Também é importante ressaltarmos que há uma diferença no número desses objetos que foram

relatados pelo casal no momento das escavações com o número atual de peças que foram

localizadas. Aqui serão mencionados os números dos objetos que aparecem nos documentos

produzidos durante os trabalhos dos arqueólogos e que depois serão contrastados com as peças

localizadas nos museus pesquisados. Passemos agora para uma apresentação dessas peças.

3.18. Considerações iniciais sobre as peças móveis

Após um levantamento de fontes antigas e estudos recentes foi possível chegar a

algumas conclusões sobre os tipos e quantidades dos objetos de pedra que serão aqui

apresentados. Entretanto, foram evidenciadas algumas divergências quanto ao número exato

das peças encontradas. No diário de Alice há o registro de que teriam sido encontrados um

pedaço de lança feita de sílex claro, 31 pontas de projéteis, sendo 28 brancas e 3 verde escuras

(DESMOND, 2009, p.127). Outros 31 pontas de projéteis, algumas em pedra verde teriam sido

encontradas no outro lado da base do chacmool (DESMOND, 2009, p.128). Já Desmond e

Messenger (1988, p.35) mencionam que na base da estátua também estariam outras 18 pontas

de projéteis de sílex, incluindo sete de pedra verde. Essa informação não aparece em outras

fontes nem no diário de Alice. Já Adam Sellen e Lynneth Lowe (2009, p.58) ao apresentarem

esse material lítico descoberto pelo casal Le Plongeon mencionam que o Museu Americano de

História Natural conserva 24 dessas peças.

A partir da consulta de algumas fontes (SIEVERT, 1992; COGGINS; SHANE III, 1989,

SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992) foi possível constatar que as oito peças que estão no

Museu Peabody estavam agrupadas junto com materiais extraídos do Cenote Sagrado de

Chichén Itzá. Essa informação foi fundamental para o início do mapeamento dessas peças que

acreditamos originalmente ter pertencido à oferenda descoberta pelo casal Le Plongeon na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Os objetos líticos que serão analisados no catálogo são compostos por 24 peças bifaciais

talhadas que estão no Museu Americano de História Natural, sendo duas facas de sílex

incompletas nas cores café e café escuro, 18 pontas de lança lanceoladas, foliáceas feitas de

calcedônia branca com retoques denticulados e algumas com resquícios de pigmento vermelho,

além de quatro pontas de projéteis feitas de pedra verde bifaciais com lado chanfrado. Também

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fazem parte do conjunto a peça de jadeíta polida de formato cilíndrico, contas de conchas

alaranjadas, um grupo de pequenas esferas de pedra calcária em formatos de botões, duas

pequenas pedras verdes e pequenas conchas. Já o conjunto que está no Museu Peabody é

composto por oito objetos: três pontas de projéteis bifaciais, talhadas feitas de pedra verde, duas

pontas de projéteis de quartzo, uma delas cinza e outra vermelha e alaranjada. Essas cinco peças

são bifaciais com lado chanfrado, provavelmente pontas de dardos de atlatl6 (SHEETS, LADD,

BATHGATE, 1992, p.162). E por fim, três pontas de lança feitas de calcedônia branca com

resquícios de pigmento vermelho, muito semelhantes às que estão no Museu Americano de

História Natural, tanto pela morfologia, quanto pela aparência do material que as constituem.

Essas peças são lanceoladas foliáceas e possuem retoques denticulados (COGGINS; SHANE

III, 1989, p.39) (ver catálogo).

Todas as pontas de projéteis são ricamente elaboradas, com cortes que denotam uma

grande precisão de seus construtores. Assim como os outros objetos descobertos na oferenda

esses objetos não possuem análises físicas e tecnológicas sobre sua constituição e origem. Os

dois museus contatados afirmaram que esses conjuntos de peças não passaram por estudos

físico-químicos para saber o mineral que as compõe. Desses objetos, encontramos informações

mais detalhadas em apenas seis das oito peças do Museu Peabody, já que elas são mencionadas

em publicações da década de 1980 e 1990, com estudos mais específicos sobre a natureza do

material (SIEVERT, 1992; COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992). Os dados sobre

os demais artefatos foram colhidos nos catálogos dos museus. Apesar da falta de informação

podemos realizar algumas interpretações, a partir da consulta a estudos sobre a circulação de

pedras e materiais pela Mesoamérica.

Os especialistas apontam para uma baixa quantidade de material lítico encontrado no

sítio de Chichén Itzá, fato que contrasta com outros sítios da Península de Iucatã onde esse

material é abundante. A maior quantidade de obsidiana encontrada em Chichén Itzá seria

proveniente das fontes de Ucareo-Zinapecúaro, localizadas em Michoacán no Centro do

México e pertencentes ao período de 850 a 1050 d.C. (BRASWELL; PENICHE MAY, 2012,

p.256; COBOS, 1998, p.919). Esses materiais teriam chegado à Península através de rotas

terrestres e marítimas de longa distância marcando de maneira significante a circulação de

objetos e a chegada de produtos em Chichén Itzá durante o seu apogeu (BRASWELL, 1996,

p.1). A Ilha de Cerritos, importante sítio portuário localizado ao norte de Iucatã e a 100

6 Lança-dardos portáteis, ou propulsores, são chamados de atlatls na língua nahuatl. Eram peças de madeira que

resultavam num alcance maior dos objetos lançados (INOMATA; TRIADAN, 2009, p.69; NAVARRO, 2012,

p.202).

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quilômetros de distância de Chichén Itzá teria sido o principal meio de entrada de obsidiana e

outros materiais líticos oriundos do Centro do México no norte da península. Este sítio teria

sido um entreposto comercial dominado e associado a Chichén Itzá durante o Período Clássico

Terminal (BRASWELL, 2003, p.140; COBOS, 1998; COBOS 2013). Acredita-se que a ilha

tenha sido um ponto de intersecção de redes de comércio e distribuição de objetos de

intercâmbio como matérias primas, peças semitrabalhadas, mercadorias ou bens elaborados em

oficinas (COBOS, 2013, p.56).

Já os objetos feitos de sílex e os que pertencem ao tipo calcedônia provavelmente seriam

de origem local. Iucatã possui formações de pedra calcária com grande concentração de sílex,

elemento constitutivo da pedra de pedernal (ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.23). As principais

fontes desse material na península seriam na pequena serra de Ticul e na zona norte próximo a

Chicxulub. Estudos realizados pela arqueóloga María Alejandra Espinosa Vázquez no sítio de

Aké, localizado próximo à cidade de Mérida, apontam que a maior quantidade de peças

fabricadas com sílex seria de formato bifacial (ESPINOSA VÁZQUEZ, 2013, p.24). Tipo de

técnica que também predomina no material dessa natureza encontrado na oferenda da

Plataforma das Águias e Jaguares.

Os objetos feitos de pedra verde seriam oriundos principalmente de oficinas e fontes

localizadas ao longo do vale do rio Motágua, no oriente das terras altas da Guatemala, que teria

sido o ponto de partida de rotas comerciais que levaram esse tipo de material a diversas partes

da área maia (COBOS, 2013, p.61, GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.232). Pesquisadores

como Kazuo Aoyama (2006) identificaram um crescimento na produção de navalhas de

obsidiana e pontas bifaciais de obsidiana e sílex ao final do período Clássico Tardio na região

do Vale de Copán. O que talvez leve a uma consideração de uma crescente competitividade

entre os povos dessa região nesse momento, uma pujança que logo chegaria ao fim com a

chegada do Período Pós-Clássico Inicial.

Após a apresentação de tais estudos, podemos sugerir que parte dessas peças líticas

descobertas na oferenda da plataforma seriam oriundas de outras partes da região

mesoamericana e teriam chegado por meio de rotas de comércio à Península de Iucatã. Esses

objetos tinham uma grande importância e valor comercial de prestígio e simbólico dentro das

sociedades mesoamericanas, sendo a base da economia de alguns estados, além de permitirem

o fortalecimento e crescimento de algumas cidades com base no controle da exploração,

manufatura e circulação desses objetos de pedra (MARTÍNEZ CALLEJA, 2014, p.168).

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3.19. Os Itinerários das peças móveis – usos e reusos

As peças que compõe esse grupo de objetos móveis também tiveram um papel dentro

das interpretações criadas pelo casal Le Plongeon. Ainda que tais peças não tenham tido o

destaque que outras como a escultura do chacmool tiveram, elas também foram usadas e

ressignificadas de seu contexto original. Segundo os relatos do casal, esse material teria sido

encontrado em diferentes partes da oferenda. Le Plongeon afirma que no pote esculpido no

abdômen da estátua do chacmool foram encontrados pedaços de duas lâminas de sílex, de cor

café e café escuro, uma conta de pedra verde e material orgânico que Le Plongeon pensou se

tratar do coração cremado do príncipe chacmool. Esse material orgânico foi enviado por

Augustus para análise nos Estados Unidos. O químico Charles Thompson do Worcester Free

Institute analisou o material e declarou que se tratava de parte de um corpo humano que teria

sido queimado (SALISBURY, 1877, p.35). Em nossas pesquisas não encontramos mais

informações sobre esse estudo químico que teria sido feito com o material encontrado no

chacmool.

Seguindo em suas escavações, Le Plongeon relata ter encontrado as 31 pontas líticas,

incluindo sete de pedra verde na base do chacmool. Dentro de uma das urnas circulares de pedra

foram achadas as peças redondas de pedra calcária em formato de botões, pintados de amarelo

e com furos, um pedaço de osso que se desconhece o paradeiro atual, e a conta grande de jadeíta

polida em formato esférico. Logo que o casal encontrou todos esses objetos, Augustus os

relacionou de imediato a outra peça que já havia sido escavada do montículo; a escultura do

jaguar reclinado. O explorador notou que a escultura de pedra que representava um dos aspectos

do príncipe Coh, possuía furos em suas costas. Esses orifícios foram interpretados por Augustus

como sendo sinais de feridas que teriam causado a morte desse personagem pelo seu irmão Aac.

Os ferimentos teriam sido causados pelos objetos de pedra encontrados em seu tumulo; as

pontas de projéteis:

This Maya sphinx, like the leopard in the sculptures, had three deep holes in its back—

symbols of the three spear thrusts that caused Prince Coil's death. Thus, it has come

to the knowledge of succeeding generations that the brave Maya warrior, whom foes

could not vanquish in fair fight, was treacherously slain by a cowardly assassin—this

assassin his own brother Aac; just as Osiris in Egypt is said to have been murdered by

his brother Set, and for the same motive, jealousy (LE PLONGEON, 1900, p.158).

Essa passagem dos escritos de Le Plongeon é interessante, pois além de explicar os

buracos da estátua do jaguar ele os relaciona com as peças líticas encontradas na oferenda. Na

página seguinte a esse relato apresentado, Augustus publicou uma foto das duas peças de sílex

que estão no Museu Americano de História Natural relacionando-as com o ferimento do

personagem (ver anexo 21). Além disso, o explorador interpretava os resquícios de pigmento

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vermelho, hematita ou cinábrio, presentes em algumas das pontas de projéteis como sendo

marcas de sangue.

As peças líticas acabaram sendo separadas pelo próprio Le Plongeon em anos

posteriores ao achado. Desapontado com a negativa do governo mexicano sobre o pedido para

levar objetos da oferenda para a exposição na Filadélfia, Le Plongeon enviou alguns pequenos

objetos e fotografias para serem expostos. Esse material não chegou a tempo da exposição, mas

foi comprado por Salisbury Jr. para a American Antiquarian Society. Dentre esses objetos

estavam algumas das pontas de projéteis. Em texto publicado em 1877 Salisbury Jr. relata esse

episódio, e chama a atenção para a qualidade das peças:

The relics are interesting specimens of pottery and of the ornaments or weapons that

were found with the statue, whose excavation has been described by the discover

himself. The jade points and Flints are very carefully wrought, and suggest rather the

idea of selection as symbols than of ordinary warlike implements. A portion or all of

the articles mentioned, together with ashes, were found in a stone urn, and are shown

on the opposite page (SALISBURY, 1877, p.74).

Em texto publicado por Alice em seu diário no dia 22 de setembro de 1876 ela descreve

que dentre esse material enviado aos Estados Unidos estavam doze pontas de projéteis de pedra

verde e doze de cor branca, além de outros objetos (DESMOND, 2009, p.210). Uma pequena

nota do jornal Boston Globe de 25 de abril de 1877 que fala sobre a descoberta da oferenda e

do chacmool menciona que algumas dessas peças estavam com Salisbury Jr; “the jade sword

points and flint arrow heads in the possession of Mr. Salisbury, who has himself visited the

ruins of Yucatan, are also of curious interest”. Alguns desses objetos depois seriam doados por

Salisbury Jr. ao Museu Peabody de Harvard no ano de 1883. Em nossas pesquisas conseguimos

localizar três dessas peças doadas que são pontas de projéteis de pedra verde, bifacial, talhada

de lado chanfrado (ver números 75, 76, 79 do catálogo).

As trajetórias dos outros artefatos que estão no Museu Peabody também contaram com

a participação da American Antiquarian Society e de Salisbury Jr.. No início da década de 1890

Salisbury propôs a um amigo fazer explorações arqueológicas em Iucatã. Esse amigo era

Edward H. Thompson arqueólogo mandado pela American Antiquarian Society e pelo Museu

Peabody para estudar sítios da península iucateca. Para isso, Thompson foi nomeado cônsul

estadunidense na região de Iucatã e Campeche e decidiu estudar o sitio de Chichén Itzá. A fim

de realizar esses estudos o estadunidense comprou a Fazenda Chichén que se encontrava dentro

do sítio e dessa forma começou a explorar o Cenote Sagrado, poço de água e antigo local ritual

e de peregrinação. Com apoio do Museu Peabody Thompson dragou as águas do cenote e

recolheu centenas de objetos de ouro, cobre, jadeíta, madeira, copal, obsidiana. Como gozava

de privilégios consulares, Thompson conseguiu enviar ilegalmente uma enorme quantidade

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desses objetos para os Estados Unidos. Fato que só foi investigado e indiciado pelo governo

mexicano na década de 1920.

Os registros de outras peças desse conjunto oriundo da oferenda do chacmool e que

estão no Museu Peabody apontam que foi Edward Thompson quem doou alguns desses objetos

para o museu no ano de 1910. Elas teriam ido para essa instituição junto com o material

recolhido no cenote. Esses objetos seriam as pontas de projéteis bifaciais, talhadas feitas de

quartzo, uma delas cinza e outra vermelha e alaranjada (ver números 77 e 78 do catálogo). As

peças teriam sido adquiridas por Thompson de um velho índio que as guardava em uma capela

e que teria trabalhado nas explorações guiadas pelo casal Le Plongeon. Segundo Thompson,

esse índio teria tirado as peças do solo quando Le Plongeon estava distraído (COGGINGS,

SHANE III, 1989, p.102; PEABODY MUSEUM, 2016).

Já as peças que fazem parte do outro conjunto de líticos que hoje é abrigado pelo Museu

Americano de História Natural tiveram uma trajetória mais simples. Esses objetos ficaram com

Alice após a morte de Augustus em 1908, junto com todo o material produzido durante as

escavações no México. Dois anos após a morte do casal todo esse material ficou sob custódia

de Maude Blackwell, uma amiga particular. Quatro meses depois ela resolveu seguir um pedido

de Alice e vender parte do material ao Museu Americano de História Natural de Nova York.

Foram vendidas as pontas de projéteis, as contas de pedra verde, entre outros objetos e fotos

(DESMOND, 2009, p.333). O Museu Americano de História Natural possui em seu arquivo

dois recibos dessas doações feitas por Blackwell (ver anexos 30 e 31). A primeira doação data

de 18 de outubro de 1910, e tratou-se de objetos como; um colar de contas de pedra, duas lanças

de obsidiana, uma conta de pedra verde, um colar de contas de conchas, uma ponta de projétil,

dois pedaços de pedra verde cavada, quatro contas de pedras, 22 pontas de projéteis, fragmentos

de pedra verde e turquesa, uma rede, e um apito de cerâmica.

A segunda doação é datada de 04 de novembro de 1911, e dela consta objetos como;

uma conta de pedra verde, um pequeno objeto curvado também do mesmo material, um

pequeno pendente de jadeíta polida, algumas pontas de projéteis, contas de pedra, e fragmentos

de cerâmica. Objetos que somavam um valor de $ 150,00 dólares na época. Em conjunto, foram

doados moldes, desenhos e fotos feitos pelo casal Le Plongeon.

Todo esse material ainda hoje se conserva nos dois museus, mas de acordo com o

tratamento recebido nessas duas instituições podemos discutir algumas questões. A primeira

delas é que apenas o objeto de jadeíta circular polida que possuí um grande apreço estético está

exibido nas vitrines do Museu Americano de História Natural. O restante do material da

oferenda que está nesse museu e o que se encontra no Museu Peabody, estão guardados nos

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depósitos e longe do olhar do público. Isso reflete um pouco a maneira como esse tipo de objeto

lítico é tratado pela lógica museológica. Fato que também se evidencia no próprio tratamento

dado pelo casal Le Plongeon durante o momento de descoberta. As descrições sobre as peças

líticas estão ausentes na maioria dos escritos sobre os objetos encontrados na oferenda. Elas são

mencionadas de maneira breve. Nos textos há uma clara predileção pelos objetos monumentais

feitos de pedra calcária, como as esculturas. Isso demonstrava o foco maior do interesse dos

estudos também naquele momento do século XIX por objetos com uma apreciação estética e

estilística bem demarcada. Algo que de certa forma, permaneceu na lógica museológica

presente no século XX.

Além disso, ainda sobre os itinerários desses objetos, diferente das outras peças oriundas

da oferenda, estas acabaram por circular por outros lugares que não apenas o México. Esses

itinerários mais ampliados podem ser entendidos pela própria materialidade e constituição física

desses objetos. Diferente das esculturas de pedra e das placas de baixo-relevo, os objetos líticos

e as pequenas contas de pedra possuem uma maior portabilidade, o que teria facilitado uma

circulação mais ampla e irrestrita que não foi possível no caso das peças maiores.

3.20. Palavras finais sobre o capítulo

Nesse capítulo sobre as peças da oferenda procuramos observar e recuperar os itinerários

dos objetos tentando perceber além dos deslocamentos físicos e espaciais das peças, os usos e

ressignificados sofridos ao longo desses percursos no tempo e espaço. Histórias e memórias

que foram materializadas a partir do uso desses objetos, traçando um fio condutor que nos

trouxe até os dias atuais, além de uma apresentação de como esses artefatos seguem sendo

pensados e utilizados na contemporaneidade. Agora na sequência iremos apresentar uma

interpretação da oferenda tentando fazer uma aproximação do sentido e significado que este

conjunto de objetos poderia ter tido durante o período em que foi pensado e realizado.

Acreditamos que com essa última parte poderemos dar conta de uma maneira mais ampla dos

estudos desses objetos, já que este é um dos nossos objetivos nessa pesquisa.

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Aquella Chichén Itzá, Orillas-de-los-pozos-del-brujo-

del-agua, tendrá su fardo de trece grados. Barrida será

la provincia de Chichen, Orillas-de-los-pozos, y arderá

el fuego en el centro del pueblo y podrán hablarse unos

a otros los Ah Kines, Sacerdotes-del-culto-solar. […]

Libros de Chilam-Balam

Capítulo 4: O recuperar das vozes esquecidas nas peças

4.1. A construção de uma interpretação

A parte final dessa dissertação irá apresentar uma interpretação do conjunto de objetos

descoberto pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares de Chichén Itzá. Essa

interpretação foi criada a partir de uma apresentação de nossas ideias do que seria o uso e função

desse edifício relacionado ao simbolismo e função dos objetos recolhidos que resultou numa

interpretação dos artefatos, bem como no sentido da própria oferenda.

Essa construção final será apresentada de maneira conjunta, mas a partir da estruturação

de três pontos principais; uma análise dos elementos da plataforma, apresentação de possíveis

simbolismos e funcionalidades, a interpretação do conjunto das peças encontradas na oferenda,

e para finalizar, o sentido do estado da plataforma e das peças no momento em que elas foram

encontradas por Augustus e Alice durante as escavações de 1875, séculos após o uso e abandono

da cidade de Chichén Itzá. A nossa hipótese é de que o edifício e o conjunto de objetos teriam

sido utilizados em alguma atividade ligada a cerimônias bélicas associadas a questões de

fertilidade e renascimento, e o contexto da oferenda tal qual foi encontrado por esses

exploradores poderia ser um ritual de terminação e dessacralização do edifício. Entretanto,

reconhecemos que esta seria apenas uma primeira sugestão de uma interpretação, e que para a

construção de algo mais elaborado e que dê conta de todos os aspectos e as complexidades

apresentadas pelo material de estudo seria necessário um estudo mais aprofundado o que

demandaria um projeto específico para essa finalidade.

Para a construção dessa interpretação fizemos uso de uma análise da própria plataforma,

suas decorações e simbolismos dos objetos que a constitui, pois acreditamos que o uso e sentido

da plataforma esteja intrinsicamente relacionado aos objetos ali encontrados. Além disso,

levamos em conta registros de intervenções de diversas naturezas realizadas na plataforma,

estudos sobre os objetos encontrados na oferenda, registros de campo feitos por Alice Dixon

Le Plongeon sobre o local escavado, além da consulta a estudos sobre rituais de destruição de

templos na região mesoamericana.

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A construção dessa interpretação não se acaba em si própria e suscitou algumas questões

derivadas de nossa proposição. Mais do que uma tentativa de apresentar uma explicação

fechada, procuramos deixar evidentes alguns elementos que possam voltar a ser trabalhados em

futuras pesquisas que abarquem a oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.

4.2. A Plataforma das Águias e Jaguares e seus objetos associados

Como parte de nossa análise contextual referente à análise da oferenda encontrada no

século XIX pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares em Chichén Itzá,

apresentaremos uma interpretação da função e simbolismo de tal construção para que seja

possível, propor uma interpretação do conjunto de objetos que foi encontrado enterrado em seu

interior. Ao analisar a iconografia da fachada e o formato da estrutura da plataforma levamos

em conta a ideia de que tais formas e representações faziam parte de um sistema de mensagem

relacionado às próprias atividades que eram realizadas na construção. É comum a ideia de que

os adornos de espaços arquitetônicos apresentavam imagens que confirmam as atividades que

ocorriam em seus interiores (GETINO GRANADOS; SILVA, 2003, p.70). Essa interpretação

se baseia na própria observação da iconografia dos edifícios e em contextos e achados

arqueológicos em seus interiores.

Na análise da plataforma serão apresentados elementos que surgiram ao empreendermos

uma análise espacial, iconográfica e arquitetônica da construção. Para isso, seguimos uma

abordagem proposta por autores como Parker Pearson e Richards (1994), Felipe Criado Boado

(1991) e já discutidos em Chichén Itzá por Alexandre Navarro (2007) que consideram a

arquitetura espacial como fonte de uma mensagem da cultura responsável por sua construção,

obedecendo elementos de cognição e atividades específicas com um proposito igualmente

específico e definido previamente. Uma abordagem culturalista interpreta a paisagem e a

arquitetura como a objetificação das práticas sociais tanto de caráter material como imaginário

(Cf. CRIADO BOADO, 1991, p.6; 2015, p.7). Também foi considerada a interpretação que

leva em conta a longa duração de conceitos arquitetônicos na Mesoamérica, desde o Período

Pré-Clássico até a Conquista Espanhola, elementos como pirâmides, plataformas, praças,

terraças, pátios, muros, campos de jogo de bola (DELVENDAHL, 2010, p.145). Entretanto,

sempre se atendo a algumas alterações espaço-temporais de tais conceitos, mas que acabaram

por não resultar em grandes divergências e modificações absolutas de sentido. Também foram

analisados os elementos e motivos que decoram as fachadas da construção, a partir de uma

desconstrução e tentativa de leitura de seus significados com comparações com outras aparições

presentes na área maia e Mesoamérica como um todo.

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A partir de uma análise espacial da estrutura, iconografia de sua decoração, formato

arquitetônico, e materiais arqueológicos recolhidos no seu interior e entorno, acreditamos que

o uso e simbolismo de tal plataforma estivesse ligado a uma forma de culto de guerra associado

a figura das águias e jaguares, com questões ligadas a fertilidade e renascimento. Seguimos

assim interpretações sugeridas por alguns autores que notaram a presença de alguns desses

elementos na Plataforma das Águias e Jaguares e em outras construções localizadas na Grande

Nivelação (TOZZER, 1957; ACOSTA, 1951).

Ao analisarmos a iconografia presente na plataforma, bem como alguns de seus objetos

recuperados percebemos a presença de figuras de jaguares e águias segurando corações

humanos, guerreiros reclinados e figuras de Kukulcan associados ao planeta Vênus, elementos

que aludem a questões relacionadas a eterna luta entre a vida e a morte, nascimento e

renascimento, vinculados à própria noção de guerra na visão de mundo maia.

Em edifícios localizados na Grande Nivelação, parte norte de Chichén Itzá, encontra-se

motivos relacionados a guerra, sacrifícios coletivos, exibição de partes humanas, que aparecem

em monumentos como o Tzompantli, o Templo dos Jaguares, o Gran Juego de Pelota, a

Plataforma de Vênus, o Templo dos Guerreros, e a própria Plataforma das Águias e Jaguares.

Segundo Virginia Miller (2007), essa ênfase em imagens de sacrifício e morte não

necessariamente demonstra um aumento no sacrifício humano, mas poderia refletir em

mudanças ideológicas e políticas ocorridas em Chichén Itzá com a representação coletiva ao

invés da individual como nas cidades do sul da área maia.

4.3. A plataforma como uma expressão social

Iremos agora tratar das imagens que aparecem nas fachadas da plataforma, e das

relações espaciais da plataforma com as construções que a rodeiam com o objetivo de levantar

hipóteses de seus possíveis usos e simbologias a partir do significado das figuras que a compõe.

Para isso será utilizado uma metodologia proposta pelo arqueólogo Alexandre Guida Navarro

em seu trabalho de doutoramento, Las Serpientes Emplumadas de Chichén Itzá: distribución

en los espacios arquitectónicos e imaginería, pela Universidad Nacional Autónoma de México,

2007. Nesse estudo, Navarro propõe uma análise da ocorrência das figuras das serpentes

emplumadas no sítio de Chichén Itzá, com uma análise dos seus locais de ocorrência. Para isso,

ele se utilizou de uma metodologia para um estudo formal das construções onde havia imagens

das serpentes emplumadas, que levasse em conta a multidimensionalidade do espaço e as

distintas manifestações de uma formação sociocultural (NAVARRO, 2007, p.133). Tal análise

formal aponta para algumas etapas no estudo das formas e imagens de um determinado objeto

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ou construção. Essa metodologia é constituída por dois momentos diversos; (1º) desconstruir e

(2º) descrever os fenômenos considerados, sem introduzir a eles um sentido próprio. Com isso

descreve-se o objeto de estudo desde si mesmo, eliminando fatores mais subjetivos que

modificam o seu significado a ser estudado. A parte final seria marcada por uma tentativa de

reconstrução de seu significado.

La reconstrucción implica la descomposición del espacio social pretérito en los

niveles que lo constituyen, con el fin de identificar cuáles son los elementos básicos

que lo conforman y descubrir su morfología y configuración interna. Con este tipo de

análisis se pretende llegar a una descripción a partir de la lógica interna de los espacios

construidos, un estudio desde adentro, y con ello establecer la forma básica o patrón

formal invariante que se manifiesta en dicha construcción (NAVARRO, 2007, p.

133).

Em nossa dissertação, procuramos seguir essa metodologia adotada por Navarro para

um estudo formal da Plataforma das Águias e Jaguares. Para isso, as duas primeiras etapas

propostas pelo arqueólogo foram realizadas nas fichas do catálogo que tratam sobre esses

objetos que compõe a decoração das fachadas da construção (fichas 4 a 42 do catálogo). Agora

iremos apresentar a parte final da metodologia proposta, que seria uma interpretação dos

elementos destacados na descrição.

As cenas apresentadas nas fachadas da plataforma mostram uma repetição de alguns

elementos comuns. O primeiro é a parte superior, a cornija, em seguida a parte central das

quatro fachadas, e por último os detalhes das escadarias e os elementos que as compõem.

4.4. As decorações das fachadas – os guerreiros reclinados e a presença de Kukulcan

O primeiro conjunto de imagens mostra os dois personagens reclinados que aparecem

na parte superior dos painéis das fachadas da Plataforma das Águias e Jaguares numa posição

semelhante à da figura do chacmool (ver fichas 4, 9, 14, 18, 22, 27, 32, 37 do catálogo). Esses

personagens estão recostados, levam adereços corpóreos e um objeto ao redor dos olhos

relacionado à figura da divindade da chuva Chaac entre os maias ou Tlaloc no centro do México,

uma figura constantemente associada à fertilidade dentro do pensamento mesoamericano. Um

par de objetos semelhantes feitos de ouro foi recuperado durante escavações feitas no Cenote

Sagrado de Chichén Itzá (ver anexo 34). Chaac foi uma das divindades mais importantes e

representadas pelos maias em toda a Península de Iucatã. Venerado por ser o deus da chuva,

dos raios e tempestades, é vinculado a agricultura e fertilidade, e uma figura das mais antigas

na região no período pré-colombiano, sendo cultuado como deus patrono de diversas

importantes cidades, além de símbolo dos governantes durante guerras (DE LA GARZA, 2009,

p.36).

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Os dois personagens reclinados das fachadas da plataforma levam em suas mãos um

objeto pelo qual podemos aferir que se trata de um guerreiro, ou algum personagem ligado a

uma atividade bélica. Ambos os personagens estão segurando um objeto retangular comprido

que parece ter o formato de uma arma, ou um coldre para guardar flechas. Objeto muito

semelhante ao que personagens dos murais sul e norte do Edifício A do sítio de Cacaxtla,

localizado no Centro do México possuem (PIÑA CHAN, 1998, pp. 90 e 95). Na parte superior

deste objeto, nota-se uma figura circular, que se assemelha a um símbolo venusiano. Os dois

personagens estão olhando cada um para uma direção, leste e oeste, acompanhando assim o

movimento diário do sol.

Outra figura presente nessa parte superior do painel é um símbolo que está acima dos

dois personagens e também pode ser interpretado como relacionado ao planeta Vênus. Este

planeta e os seus movimentos são associados a atividades guerreiras nas civilizações

mesoamericanas (MILLER; TAUBE, 2011, p.181). Além disso, Vênus também era

considerado uma das representações da figura de Kukulcan, ou Quetzalcoatl, a serpente

emplumada (MILBRATH, 1999, p.177). Essa associação com Vênus está presente na narrativa

do Códice Matritense, onde Quetzalcoatl tido como puro e virtuoso, provoca a inveja de

feiticeiros que lhe preparam uma armadilha e o embebedam. Sentindo-se envergonhado,

Quetzalcoatl abandona Tula e vai à Tillan Tlapallan o fogaréu, local onde ele termina por se

sacrificar, jogando-se numa fogueira. Após a sua morte, seu coração se elevou e se converteu

na estrela da manhã, ou seja, em Vênus (FERNANDEZ SOUZA, 2001, p.194). A associação

entre Kukulcan, a serpente emplumada e Vênus é percebida em diversas partes das construções

de Chichén Itzá, como no Complexo do Mercado, Columnata Nordeste, Plataforma de Vênus

da Grande Nivelação e da Praça do Osario, Anexo das Monjas, e no Templo dos Jaguares

(MILBRATH, 1999, p.181; FERNANDEZ SOUZA, 2001). Todos são locais onde as figuras

da serpente emplumada se mesclam com elementos de Vênus. Seguindo essas interpretações

acerca do símbolo de Vênus associado com a guerra, e à figura de Kukulcan, temos que o painel

superior da fachada da plataforma poderia fazer uma alusão a atividades guerreiras dentro da

sociedade maia associada à figura de Vênus, e de Kukulcan, elemento que aparece tanto neste

painel, quanto na decoração da escadaria da estrutura, com as cabeças de serpente, e o corpo

com plumas em painéis que decoram as alfardas das escadarias do monumento. Essa

interpretação é corroborada por Acosta (1951, p.46) que acredita que esses personagens

reclinados presentes nas fachadas da plataforma estariam associados a figura de Vênus e

Tlahuizcalpantecuhtli, aspecto de Quetzalcoatl ou Kukulcan em seu renascimento como estrela

da manhã após sacrificar-se para ser convertido em sol (PIÑA CHAN, 1998, p.53).

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4.5. As Águias e Jaguares devoradores de corações

Os painéis com as águias que ocupam a parte central das faces da fachada da plataforma,

juntamente com a figura dos jaguares são os elementos mais destacados na decoração dessa

construção, tanto que foram usadas pelos estudiosos modernos para nomear o templo. Presente

em grande parte da Mesoamérica, a águia é a maior ave desta região. A figura representada no

painel possui traços da espécie Harpia harpyja, tipo de ave comum em toda a área

mesoamericana. Ela possui um bico curvo para baixo e uma proeminente crista com penas (ver

anexo 23).

Na região do Centro do México durante o período Pós-Clássico, a águia era usada para

representar o sol, com a palavra em nahuatl cuauhtlehuanitl (MILLER; TAUBE, 2011, p.83),

e também o sacrifício humano associado a forma primitiva do nascer do sol. Outra utilização

comum era para simbolizar os movimentos solares. Assim como o jaguar, ela foi usada para

representar as duas ordens militares mexica; os guerreiros águia e os guerreiros jaguar. Figuras

de águias aparecem também em outras construções de Chichén Itzá. Nos frisos do Templo dos

Guerreros estão presentes águias segurando corações humanos (ver anexo 26), e em uma pintura

localizada no talude desse mesmo templo, encontra-se um esqueleto armado com facas

apresentando uma cabeça decapitada a uma águia. Nos painéis com as figuras das águias que

compõem as fachadas da plataforma alguns importantes elementos aparecem compondo as

cenas. Em algumas imagens notamos a presença de figuras de jade (ver fichas 6, 11, 15, 19, 24,

28, 30, 33, 38 do catálogo). O jade como iremos discutir mais adiante, é um elemento de vital

importância dentro da antiga Mesoamérica. Constantemente associado a elementos aquáticos

relacionados à vida e à fertilidade esse mineral aparece em diversas representações na cultura

material dos antigos povos dessa região (NAGAO, 1985, p.51; FRANÇA, 2000). Outra figura

presente em alguns dos painéis é a flor de três pétalas que faz menção ao planeta Vênus, tema

recorrente na iconografia das fachadas da plataforma (ver fichas 5, 11, 15, 16, 19, 20, 23, 24,

28, 38 do catálogo).

Além das águias a outra figura que domina as cenas da decoração das fachadas da

plataforma é o jaguar. Esse felino é um dos animais mais importantes nas representações da

arte mesoamericana. Sua figura foi muito difundida por toda a Mesoamérica em diferentes

períodos. Referenciado por suas atividades caçadoras e tido como um dos mais poderosos

felinos do continente americano, o jaguar foi uma das figuras simbólicas mais importantes dessa

região. Na visão de mundo de diversas culturas mesoamericanas esse felino foi usado como

símbolo de poder político, associado a atividades bélicas, sacrifício e relações com a noite e o

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Inframundo. Constantemente associado ao sol noturno, como na fonte histórica Chilam Balam

de Tizimin do período colonial em Iucatã (EDMONSON, 1982), ou ao movimento do sol

durante a noite que passa pelo Inframundo (THOMPSON, 1960), o jaguar teve um destaque

por sua força e atividade caçadora, sendo uma figura metaforicamente associada ao poder

militar (STONE; ZENDER, 2011, p.195).

As primeiras aparições da imagem deste felino deram-se na civilização olmeca, entre

1250 e 400 a.C.. Neste momento foi frequente a presença de esculturas com figuras de criaturas

metade humana e metade felina, com lábios caídos que parecem grunhir (SAUNDERS, 2005,

p.22). Na língua maia antiga Ch’olan e em línguas maias modernas, o jaguar é representado

pelo nome B’alam. Com conotações importantes na cosmogonia mesoamericana, ele está

presente na figura de um dos Heróis Gêmeos do início da criação humana relatada pelos maias

quichés no Popol Vuh. Ixbalanque durante a partida do Jogo de Bola contra os senhores do

Inframundo vestiu-se e pintou-se como um jaguar para invocar a sua força e poder. Ao final

das lutas contra os senhores do Inframundo, Ixbalanque acabou por transformar-se na lua, uma

metáfora entre os maias quichés para explicar o surgimento desse astro celeste

(BROTHERSON; MEDEIROS, 2007). Na própria escrita e contagem de tempo entre os maias,

o jaguar é associado ao dia de número três, chamado Ak’bal, que significa noite e escuridão

(VALVERDE VALDÉS, 2005, p.49). A característica dual desse felino também remete a seu

importante papel como o grande destruidor do mundo, da ordem estabelecida, que poderia pôr

fim a toda a humanidade capaz de poder devorar o sol. Neste sentido ele era fundamental na

ideia cíclica presente na cosmovisão maia, de constantes ordenações e destruições do mundo.

Seu símbolo seria um elemento de controle social e de equilíbrio numa nova época

(VALVERDE VALDÉS, 2005, p.50). A constante associação do jaguar com o Inframundo e a

escuridão remete ao movimento diário do sol e do planeta Vênus, já que ambos corpos celestes

fariam esse percurso diariamente para descansar e renascer no próximo dia, configurando esse

movimento numa metáfora de morte e renascimento.

Todas essas características importantes fizeram com que a figura do jaguar tivesse um

grande destaque na produção artística da cultura maia, com constantes representações deste

felino associadas a símbolos de poder entre governantes. Em diversas escavações arqueológicas

em cidades maias foram encontrados adereços com menções à jaguares em tumbas de

governantes e de importantes personagens das cidades. Além disso, em alguns enterramentos

foram achados até mesmo esqueletos desses felinos. Em Uxmal, Iucatã, um trono com formato

de um jaguar bicéfalo foi encontrado numa oferenda em frente ao Palácio do Governador,

importante construção na parte central da cidade. Em Chichén Itzá durante escavações no

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Templo dos Jaguares, subestrutura da Pirâmide do Castillo, e escadaria associada ao edifício

das Monjas foram encontrados tronos que levam o formato de um pequeno jaguar. Além disso,

esculturas chamadas de porta-estandartes em formato de jaguar também foram achadas nesse

sítio, como a que foi recuperada no Cenote Sagrado, ou a peça encontrada por Le Plongeon na

própria Plataforma das Águias e Jaguares.

Em painéis esculpidos presentes em Chichén Itzá também há indícios do uso desse tipo

de mobiliários pelos governantes. Nos relevos das paredes do Templo Norte, associado ao

campo do jogo de bola, e nas pinturas da banqueta norte do Templo do Chac Mool há imagens

de governantes sentados em tronos em formatos de jaguar (COBOS, 2005, p.39). Além disso,

encontramos representações de jaguares como elementos decorativos de monumentos de

Chichén Itzá em cinco edifícios localizados na Grande Nivelação. A Plataforma das Águias e

Jaguares, o Templo dos Guerreiros, a subestrutura do Castillo (Pirâmide de Kukulcan), o

Templo das Grandes Mesas, e o Templo dos Jaguares.

Nos painéis das fachadas da Plataforma das Águias e Jaguares, as figuras dos jaguares

aparecem acompanhados de alguns elementos importantes. Em algumas das imagens estão

presentes figuras de lírios aquáticos, uma flor que cresce na água e abre suas pétalas ao

amanhecer e os fecha durante a tarde. Além disso, essa planta é caracterizada por possuir

elementos psicotrópicos, sendo muito utilizada entre os antigos maias em cerimônias em que

os participantes buscavam sair de seus estados normais de consciência (ver fichas 7 e 29 do

catálogo). Em dois painéis das fachadas também estão presentes figuras que representam o

milho (ver fichas 7 e 29 do catálogo), elemento primordial para a criação humana segundo os

maias, tal qual conta a narrativa do Popol Vuh, além de ser um alimento fundamental para os

maias e outros povos mesoamericanos. Um elemento associado à própria vida

(BROTHERSON; MEDEIROS, 2007; STONE. ZENDER, 2011, p.225). Além disso, notamos

algumas figuras de flores que simbolizam o planeta Vênus (ver fichas 20, 29, 35 do catálogo),

além de uma figura que parece ser um peitoral de jade utilizado por um dos jaguares (ver ficha

7 do catálogo).

O último elemento de destaque nos painéis da decoração da fachada da plataforma é o

coração que aparece tanto com as águias, quanto com os jaguares. As representações de

corações na Mesoamérica estão muito associadas a oferendas de sacrifício (MILLER; TAUBE,

2011, p.91). Ao identificá-los como um órgão vital dos seres humanos, foi um elemento

importante para a ideologia de sacrifícios humanos como oferendas para os deuses. A oferenda

de corações dos sacrificados era um culto comum particularmente a deidades solares. Eram o

alimento básico para a sua manutenção (HOUSTON; SCHERER, 2010, p.173).

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O sacrifício de corações humanos foi algo difundido na Mesoamérica desde o Período

Clássico, acentuando-se no Clássico Terminal e Pós-Clássico. Em Teotihuacan, no Palácio dos

Jaguares, próximo à Pirâmide da Lua, foram pintados afrescos com imagens de jaguares

levando corações à boca, numa cena datada dos anos de 450 a 600 d.C., período da construção

do edifício. Nos murais de Bonampak também há representações de sacrifícios com a extração

de corações humanos. A cena que domina a sala 3 da estrutura onde se localizam os murais no

sítio, remete a um sacrifício de um cativo e a subsequente extração do coração durante uma

cerimônia palaciana, que se desenrola numa estrutura com aspecto de uma plataforma. Na parte

central da figura observa-se um corpo esticado segurado por dois personagens, enquanto que

um terceiro, ajoelhado na parte de cima segura o coração da vítima junto com uma ferramenta

utilizada para a extração (MILLER; BRITTENHAM, 2013, p.135) (ver anexo 24).

Em Chichén Itzá encontramos algumas representações da figura de extração de

corações, e da exibição desse órgão em alguns locais. Elas aparecem nos murais do Templo dos

Guerreros, no Templo Superior dos Jaguares, e num disco de ouro extraído do Cenote Sagrado

(MILLER, 2007, p.179). Neste disco há uma cena de extração de coração humano durante um

ritual. Na figura, o sacrificado é agarrado por outros dois personagens e tem o seu coração

arrancado por um indivíduo ataviado que leva um destacado tocado (ver anexo 25). Assim como

entre os mexicas, a arte de Chichén Itzá também focava em eventos rituais como a extração do

coração humano, cabeças decapitadas, ossos e esqueletos sobrenaturais.

A reunião desses três últimos elementos citados, a águia, o jaguar e o coração sendo

devorado, nos remete a narrativas que tratam da criação do sol e início da vida na Terra. Como

já apresentado anteriormente, e reforçado por uma passagem do Códice Florentino, esse relato

narra que após o nascimento do Sol e da Lua, uma águia e um jaguar também entraram na

fogueira primordial o que acabou resultando na pintura corpórea deste felino, que faria menção

a um chamuscado do fogo (SAUNDERS, 2005, p.22). O interessante nesta passagem é a

associação e relação que se estabelece entre os dois animais com os dois astros celestes, a partir

desse ato voluntário de sacrifício por parte da águia e do jaguar. Esses dois animais teriam como

principal função nutrir o Sol de corações humanos para mantê-lo em funcionamento e assim

evitar um cataclismo na Terra (BENSON, 2001, p.349; TOZZER, 1957, p.275; CASO, 2007,

p.53). Essa importância nas figuras de jaguares e águias levou algumas culturas

mesoamericanas a estruturar seus exércitos com simbologias relacionadas a águia e ao jaguar.

Há indícios entre os toltecas e mexicas a existência de ordens militares de guerreiros que eram

nomeados por esses dois animais (TOZZER, 1957, p.129; BAUDEZ, 2004, p.259).

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No caso de Chichén Itzá e em especial à Plataforma das Águias e Jaguares, tais figuras

poderiam estar relacionadas a questões ligadas às suas conotações metafóricas de sol e lua,

sendo vinculadas aos movimentos desses dois astros celestes imbuídos de significados de morte

e renascimento. Numa possível relação com a guerra e com a função que as atividades bélicas

tinham nesse ciclo vital presente na visão de mundo maia.

4.6. A plataforma e sua espacialidade

Dividida em quatro lados, com quatro escadarias e quatro faces, a plataforma faria uma

alusão a um importante elemento presente na visão de mundo maia e mesoamericana que é a

ideia do espaço dividido em quatro partes seguindo as direções cardeais, com elementos

próprios em cada um dos lados, como específicas divindades que atuavam em cada uma das

partes, os chamados bacabes entre os habitantes de Iucatã. O alemão Eduard Seler foi um dos

primeiros estudiosos a perceber essa importância da divisão quadripartite nas concepções de

mundo entre os maias e outros povos da região (SELER, 1915). Essa divisão remete a questões

cosmológicas fundamentais na vida mesoamericana, pois estão relacionadas ao movimento

solar e lunar, que acabam por definir o diagrama do espaço cósmico, além de servir como ponto

fundamental também para questões agrícolas, como o plantio do milho, por exemplo

(MILBRATH, 1999, p.17). Essas ideias ainda hoje são encontradas na cosmovisão e costumes

dos povos maias e de outras etnias indígenas.

A grande ocorrência de estruturas com características de uma plataforma quadrangular

disposta em contextos espaciais próximas a construções pertencentes à elite governante de cada

sítio, nos leva a uma interpretação que considere uma relação entre o exercício do poder e a

realização de espetáculos e apresentações nessas estruturas. Nas sociedades pré-hispânicas e

também durante o período colonial, os espetáculos aparecem como importantes eventos para

uma comunidade envolvendo diversos protagonistas e espectadores, num ato que

provavelmente envolveria toda a população da cidade (INOMATA, 2006, p.192). Eventos que

poderiam ser ritos calendáricos, visitas de dignatários estrangeiros, ou ainda com evocação a

questões relativas a guerras, como indícios de apresentações de cativos, e personagens a serem

sacrificados.

No que se refere ao uso da plataforma seguimos uma interpretação apresentada por

Tozzer (1957) e Proskouriakoff (1943) de que tal estrutura composta por quatro lados poderia

servir como um altar ou local de sacrifício e oferendas, e também como um palco ou plataforma

de dança. Essa ideia aparece pela primeira vez nos escritos do bispo Diego de Landa ao se

referir às duas plataformas presentes na Grande Nivelação de Chichén Itzá, Plataforma de

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Vênus e das Águias e Jaguares, como dois teatros para a realização de encenações (LANDA,

1986, pp.113, 114). Uma outra questão importante levantada sobre a plataforma aparece no

informe de restauro feito pelo arqueólogo Jorge R. Acosta, ao afirmar que foram encontrados

indícios de elementos cônicos ao redor dos escombros da plataforma no momento de seu

restauro. Isso levou o arqueólogo a supor que tal construção poderia ter tido um templo em seu

cume (ACOSTA, 1951, p.40). Talvez para a construção de uma interpretação mais apurada

sobre tal assunto seja preciso um trabalho específico sobre as plataformas existentes em

Chichén Itzá, além de uma tentativa de mapear a existência dessas possíveis peças a que Acosta

se refere.

Num olhar a partir da espacialidade da plataforma notamos a sua presença junto ao

Tzompantli, Templo dos Jaguares, Gran Juego de Pelota e da Pirâmide do Castillo, formando

um tipo de conjunto com essas construções. Essa interpretação da existência de agrupamentos

de edifícios dentro dessa área, segue uma ideia apresentada por Navarro (2007) de perceber a

Grande Nivelação não como um bloco homogêneo, mas sim como um local onde haviam

diversos espaços específicos.

A localização da plataforma alude a algumas questões importantes, como uma

materialização de um discurso de poder da elite responsável pela construção dessa parte do sítio

com temas em comuns com tais construções vizinhas na tentativa de criar uma mensagem

interligada e mais ampla. Para a apresentação de uma análise sobre essa mensagem foi

importante um estudo dos motivos decorativos presentes na plataforma, bem como

comparações com os motivos nos templos vizinhos, além de alusões a materiais arqueológicos

encontrados nos edifícios.

O primeiro templo que está ao lado da estrutura é a plataforma de crâneos, o Tzompantli,

ou “lugar onde estão alinhados os cabelos” (BALDERAS, 2010, p.331). Esse tipo de construção

foi comum à outras áreas da Mesoamérica a partir do período Clássico Terminal. Composto por

uma plataforma de 55 metros de comprimento por 12 de largura, em formato de “T”, possui

como elementos decorativos fileiras de crâneos de perfil e painéis com cenas em que aparecem

personagens ataviados como guerreiros, portando armas com aparência de lança dardos, atlatl,

e possuem as pernas descarnadas, Entre o tablero do edifício há molduras com a imagem de

serpentes emplumadas na parte superior e sem plumas na parte inferior (NAVARRO, 2009,

p.6). Nos painéis da fachada também existem imagens de águias devorando corações, além de

molduras, próximas às cornijas com a imagem de serpentes emplumadas na parte superior e

sem plumas na parte inferior. Em seu interior encontram-se estruturas que parecem estar

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destinadas a suportar estacas para enfileirar os crâneos dos inimigos sacrificados para exibi-los

como cabeças troféus (NAVARRO, 2009, p.6; HERS, 2010, p.234).

No interior dessa plataforma enterrados foram descobertas três esculturas de chacmool,

uma pedra circular parecida com um marcador do jogo de bola, além de restos de um espelho

de pirita, figuras de atlantes e alguns resquícios de ossadas humanas (ACOSTA, 1951). Nos

painéis estão representados personagens ataviados como guerreiros, com armas e alguns deles

seguram cabeças decapitadas em uma das mãos. Dentre os objetos depositados nesta estrutura

estão duas caveiras acompanhadas de jade e um disco de pirita quebrado, mandíbulas, ossos, e

pontas de flechas e outros materiais encontrados próximo à sacbe 1 que se acredita

originalmente estarem associados ao Tzompantli (MILLER, 2007, p.170; ACOSTA, 1951).

A imagens das fachadas com alusões a cenas de guerras, decapitações e sacrifícios, bem

como o material arqueológico encontrado nessa estrutura mostram indícios de uma relação a

um simbolismo de cultos bélicos e sacrifícios associados ao renascimento e fertilidade. Com

elementos relacionados à guerra, a figura de uma águia devorando um coração, assim como

aparece na Plataforma das Águias e Jaguares, além da presença de chacmool e jade e um espelho

de pirita quebrado.

Ao lado desta estrutura encontra-se o Templo dos Jaguares e o complexo do Gran Juego

de Pelota. O Templo dos Jaguares apresenta grandes colunas em forma de cascavel, na fachada

superior a decoração é composta por bandas de serpentes entrelaçadas, jaguares e escudos. Na

parte interior há pintura mural com cenas que possuem como decoração principal motivos

relacionados a atividades bélicas, além da presença constante de jaguares e serpentes

emplumadas. Nas paredes da estrutura superior dessa construção, encontram-se resquícios de

pintura mural com a representação de diversos guerreiros em procissões, com grandes atavios,

peitorais com formato de borboletas, propulsores, tocados e adereços de orelhas. Dentre os

guerreiros destacam-se dois personagens, Kukulcan, e Kakupacal, Capitão Serpente

Emplumada e Capitão Disco Solar. As representações desses personagens aparecem também

em outras partes do sítio de Chichén Itzá, na Grande Nivelação, como na Pirâmide do Castillo

e no Templo Norte, como mostra o trabalho realizado por Alexandre Navarro (2012). A partir

de suas investigações, Navarro caracteriza os dois personagens como capitães de guerra, e

governantes da cidade em diferentes períodos. Assim como o Tzompantli, e a Plataforma das

Águias e Jaguares, na decoração do Gran Juego de Pelota também aparecem alusões à

sacrifícios de personagens levados a cabo durante as cerimônias que envolviam os jogos de

bola. A grande quadra do jogo de bola de Chichén Itzá é considerada a maior da área maia já

descoberta até hoje. Sua planta tem formato de “T” mede 168 metros de comprimento por 70

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de largura, e é composto por duas largas plataformas paralelas de 95 metros de comprimento

com 8 metros de altura (NAVARRO, 2013, p.49). As quadras do jogo de bola são locais

públicos construídos sob uma forte propaganda ideológica cuja iconografia servia para

legitimar o poder do governante e assim garantir a perpetuação da cosmovisão maia

(NAVARRO, 2013, p.50; LONDOÑO, 2015).

Nas banquetas do campo de Chichen Itzá há a representação do que seriam dois grupos

rivais de jogadores, e ao final do jogo um deles, que parece ser o capitão, segura a cabeça

decepada de um outro jogador, da qual jorra sangue em forma de serpente. O sangue e a serpente

são dois elementos fundamentais na criação do mundo e dos homens, o que reforça a função do

edifício como memória coletiva mais do que o jogo em si (NAVARRO, 2013, p.50).

Outro templo localizado próximo à Plataforma das Águias e Jaguares é a Pirâmide do

Castillo, ou de Kukulcan. Esta estrutura é uma construção piramidal com quatro lados radiais,

e quatro escadarias em cada uma de suas faces com 364 degraus cada, limitadas por alfardas

que começam por uma grande cabeça de serpente emplumada. Possui 30 metros de altura, com

nove plataformas sobrepostas, e 55,5 metros de largura. O edifício apresenta uma primeira etapa

construtiva, que resultou na edificação de um templo com o mesmo formato, mas de menor

tamanho, chamado de Subestrutura do Castillo. Nesse local durante escavações na década de

1930 conduzidas pelo arqueólogo Manuel Cirerol Sansores, foram descobertos um chacmool,

um trono em formato de jaguar pintado de vermelho com 80 incrustações de pedra verde em

seu corpo fazendo alusões às suas manchas. Em cima da peça foi achado um disco de mosaico

de turquesa e concha, dividido em oito partes, com quatro figuras de serpente desenhadas com

pedra incrustrada. Essa serpente se assemelha à serpente identificada por Karl Taube (1992),

como a serpente de fogo, ou Xiuhcoatl, que estaria representada neste disco. Sob o piso da

subestrutura foi encontrada uma oferenda dentro de uma caixa de pedra com dois discos de

mosaico de turquesa, duas facas de sílex, uma série de placas gravadas de jade e colares de

pedra verde (CIREROL SANSORES, 1936, p.6; GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.138).

Dentro da Grande Nivelação temos também dois outros templos que possuem

características que acreditamos estar relacionadas à elementos presentes na Plataforma das

Águias e Jaguares, que é o Templo dos Guerreros e a Plataforma de Vênus. Composto por uma

planta quadrangular de 40 metros na lateral e 12 metros em sua altura maior, com quatro corpos

escalonados de talude e tablero, o Templo dos Guerreros possui diferentes etapas construtivas

(MARQUINA, 1964, p.869). A primeira etapa é chamada de Templo do chacmool, em

referência a uma estátua deste personagem que foi encontrada em suas dependências. A

decoração do Templo dos Guerreros leva elementos iconográficos semelhantes a outras

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construções da Grande Nivelação. Suas fachadas são decoradas com figuras de Chaac, de

Tlahuizcalpantecuhtli, ou homem-pássaro-serpente, aspecto de Kukulcan como Vênus. Assim

como o Tzompantli e a Plataforma das Águias e Jaguares, no Templo dos Guerreros há figuras

de águias e jaguares devorando corações humanos, e personagens reclinados, segurando uma

arma e usando óculos com a figura de Chaac, muito semelhantes aos que estão nas fachadas da

Plataforma das Águias e Jaguares (ver anexo 26). Esse templo também conta com uma escultura

de chacmool que decora sua porção superior. Já a Plataforma de Vênus apresenta alguns

elementos em comum com a Plataforma das Águias e Jaguares. Além da mesma configuração

como uma plataforma radial em formato quadrangular, em sua decoração leva figuras de

serpentes emplumadas nas alfardas das escadarias, símbolos de Vênus com atados dos anos, e

uma meia flor que seria o símbolo de Pop, ou senhorio (NAVARRO, 2007, p.221).

Outros elementos decorativos que aparecem por todas as fachadas do monumento são

símbolos de Vênus e figuras de homem-pássaro-serpente, também alusões a esse mesmo

planeta. Nesta plataforma também foi encontrada uma escultura de chacmool e uma oferenda

com alguns elementos semelhantes aos encontrados na Plataforma das Águias e Jaguares.

A posição da Plataforma das Águias e Jaguares na Grande Nivelação próxima ao

Tzompantli, a Pirâmide do Castillo, ao Gran Juego de Pelota, Templo dos Jaguares, Templo

dos Guerreros e Plataforma de Vênus, além dos objetos encontrados e motivos em comum,

evidenciam que esses edifícios provavelmente compartilhavam alguns dos elementos

relacionados à cultos bélicos, sacrifício, renascimento e fertilidade. O papel da Plataforma das

Águias e Jaguares dentro desse contexto poderia ter sido o de um local para o desenvolvimento

de atividades como representações ligadas a rituais de guerras, sacrifício e oferendas de sangue,

e uma iconografia vinculada também a movimentos de astros celestes, associados à própria

ideia de nascimento e renascimento presente na visão de mundo maia.

4.7. Esculturas como peças vivas

As duas esculturas presentes na oferenda foram interpretadas levando em conta não

apenas suas atuações como indicadores de relações sociais, mas também como direcionadores

e mediadores de atividades humanas, e de relações entre objetos e humanos e entre os próprios

objetos. Seguimos essa perspectiva a partir do uso da teoria de agência de Alfred Gell (1998),

utilizada também pelas historiadoras da arte Megan O’Neil (2012) e Julia Guernsey (2012) em

estudos que tiveram como objetivo analisar os objetos dentro da cultura maia antiga como

elementos ativos e parte da dinâmica social. Esse exercício procura perceber a incorporação da

agência humana na escultura reconhecendo ao mesmo tempo o poder das imagens em si

mesmas para articular significados sociais e afetar audiências. (GUERNSEY, 2012, p.11). Tais

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ideias adquirem ressonância dentro da própria ontologia maia e mesoamericana tal qual como

eram pensadas as relações entre objetos e humanos. Esses povos acreditavam que a matéria

animada e os objetos poderiam se associar aos humanos. Pedras e outros objetos teriam a

capacidade de serem energizados por espíritos e forças da natureza, que eram interiorizadas e

davam vida aos artefatos (HOUSTON, 2014). Por esse pensamento as esculturas e outros

materiais como pedras, madeiras, e objetos líticos, por exemplo, tinham a capacidade de escutar,

e interagir como seres ativos (HOUSTON, 2014, p.75; SIEVERT, 1992, p.27).

4.8. O guerreiro reclinado

Após a apresentação da iconografia dos painéis de baixo-relevo, e das peças com

formatos de serpentes emplumadas que faziam parte das fachadas da plataforma, iremos agora

discutir questões ligadas às outras peças encontradas na oferenda. Numa análise sobre a

escultura do chacmool construímos uma interpretação sobre o seu uso e significado dentro do

contexto em que fazia parte na Plataforma das Águias e Jaguares. Após um levantamento feito

sobre esse tipo de escultura na Mesoamérica, percebemos que há uma variação em relação a

seus elementos iconográficos que os decoram. Seguindo uma interpretação proposta por Karl

Taube (1992; 2000), Alfred Tozzer (1957), Ringle e Bey III (2009) acreditamos que o

personagem do chacmool seria a figura de um nobre guerreiro capturado responsável por levar

oferendas às divindades. Seria o guerreiro que se imola como sacrifício.

A peça descoberta por Le Plongeon leva em seu abdômen um prato que provavelmente

serviria como cuahxicalli, ou local de depósito dos corações extraídos das vítimas, ou ainda

receptáculos para oferendas de diversos tipos (ver ficha 3 do catálogo). O tocado, ou capacete

usado pelo personagem é algo comumente encontrado em esculturas do Centro do México,

como o sítio de Tula. Conhecido como capacete tolteca ele é representado com a junção de

pequenas contas juntas sendo associado a guerreiros. O peitoral que a figura carrega remete à

imagem de uma borboleta, importante símbolo na iconografia mesoamericana presente em

culturas como a teotihuacana, como símbolo das almas de guerreiros mortos. Os adereços nos

braços e pernas sugerem que o personagem era possivelmente um membro de elite. Já nos

ornamentos de orelha do chacmool aparecem pequenas figuras da divindade da chuva Chaac

(MILLER, 1985). Essa figura é uma divindade associada à fertilidade, mas também relacionada

à destruição, num constante ciclo de nascimento, morte e renascimento (MILLER; TAUBE,

1993). Uma construção cíclica também vinculada à própria função das guerras entre os maias

e povos mesoamericanos. A guerra sagrada, que destrói e recria, fonte de captura de cativos que

seriam posteriormente oferecidos a sacrifícios num processo de manutenção do mundo.

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Ainda que existam algumas variações estilísticas e iconográficas da peça ao longo dos

diferentes locais onde foram encontradas esculturas desse tipo na Mesoamérica, acreditamos

que a associação da figura do chacmool com questões bélicas seja algo presente em todas as

peças e que acaba por moldar o seu significado.

4.9. O nobre jaguar reclinado

A escultura do jaguar encontrada por Le Plongeon remete a algumas questões já

apresentadas sobre o simbolismo e uso da figura desse felino dentre os estados mesoamericanos

e na área maia. A importância do jaguar e sua vinculação a atividades bélicas e de poder está

presente em diversas partes da cidade de Chichén Itzá. A peça encontrada pelo casal na oferenda

da plataforma apresenta algumas particularidades em sua constituição. Ainda que o formato da

cabeça original seja desconhecido, a posição da figura, bem como sua decoração corpórea nos

indicam algumas questões a serem destacadas. A posição deitada e com parte do corpo torcida

é algo incomum entre as representações de felinos na Mesoamérica. O corpo da figura é

decorado de duas maneiras diferentes. Na parte da frente ela apresenta diversas marcas com

formatos de flores que representariam as manchas da pele do jaguar (ver ficha 1 do catálogo).

Segundo Valverde Valdés (2005, p.51) as figuras de flores e jaguares seriam dois elementos

simbólicos que unidos se complementam ao indicar questões ligadas a origem, terra e

fertilidade, além de ser uma flor noturna, vinculada ao Inframundo. Dessa forma, a associação

da flor e do jaguar seria uma insígnia referente à nobreza, relacionada à figura do grande senhor

governante. Além disso, flores como decoração corpórea de jaguares na Mesoamérica também

foram interpretadas como sendo marcas chamuscadas sofridas pelo felino no momento de sua

entrada no fogo primordial (TAUBE, 2000).

Na parte do dorso da figura os detalhes que compõem o corpo do felino mudam. Os

baixos-relevos marcados na peça apontam o que parece ser a presença de escamas ou plumas

(ver anexo 33). Essa associação entre jaguar e plumas também é vista em outras partes da área

maia e na Mesoamérica. Tocados de governantes com a união entre jaguares e pássaros, como

no caso do Lintel 41 da Estrutura 42 de Yaxchilán, ou ainda figuras de vasilhas teotihuacanas

com jaguares com plumas. Segundo John Carlson a figura do jaguar emplumado estaria

diretamente relacionada ao planeta Vênus e ao sacrifício (1993, p.227).

A função dessa peça é difícil de ser precisada. Ainda que seguindo interpretações de

outros autores pudéssemos aferir que se trataria de um porta estandarte, não estamos muito

seguros dessa função específica, já que a peça também poderia ter funcionado como um trono

para os senhores governantes do sítio. Os furos que aparecem no dorso da escultura, assim como

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a falta de sua cabeça poderiam também ter sido feitos como resultado de um ritual de terminação

da peça.

Ainda que existam dúvidas quanto ao uso da escultura, acreditamos que tanto o jaguar

reclinado quanto o chacmool fariam parte de um conjunto de outras peças dentro de Chichén

Itzá, como os atlantes, e um personagem reclinado com a cabeça móvel, que mostrariam uma

interação entre objetos e humanos (ver anexo 27). Com formas realistas a fim de recriar uma

ação humana nas próprias peças essas esculturas eram colocadas num papel central e tratados

como peças vivas no contexto cerimonial de onde faziam parte, como uma fonte de agência, e

um elemento social mediador, em que qualquer objeto é a extensão da agência de um sujeito

(GELL, 1998, p.12).

Isso nos remete a maneira como a historiadora da arte Julia Guernsey (2012) pensa as

esculturas na Mesoamérica, que não devem ser vistas apenas como uma mera ferramenta, mas

sim um participante dinâmico em que podemos pensar sobre questões de significado, função,

contexto, espaço, ritual, performance, audiência, e de que maneira essas questões se intersectam

ou entram em conflito entre si (GUERNSEY, 2012, p.11). Assim, acreditamos que o chacmool

e o jaguar reclinado seriam dois importantes atores presentes na teatralidade das performances

sociais em Chichén Itzá estabelecendo uma relação e uma fusão com aquele que praticava a

ação ritual, bem como com o público envolvido.

4.10. Os líticos no mundo mesoamericano

Os materiais líticos tiveram uma importante conotação simbólica em toda a região

mesoamericana durante o período pré-colombiano. Uma importância que estava relacionada

principalmente com a cosmovisão e concepções de mundo desses povos (FRANÇA, 2000, p.1;

MARTÍNEZ CALLEJA, 2014, p.167). O jade, ou a jadeíta (forma desse tipo de mineral que é

encontrada na Mesoamérica, essencialmente composta por silicato de sódio e alumínio, Na Al

Si2 O6) era um dos objetos mais importantes dentro do universo cosmológico mesoamericano.

Os chalchihuitl na língua nahuatl, estavam associados a elementos ligados a água e ao seu culto

e foram encontrados em diversas oferendas e escondites por toda essa área (LOPEZ LUJÁN,

2005, p.165; FRANÇA, 2000, p.1). O aspecto de sua cor, textura e brilho, provavelmente fez

com que esse material estivesse relacionado à significados aquáticos e às divindades associadas

a essa natureza como Chalchihuitlicue, deusa das águas, e o deus da água, Tlaloc entre os povos

do Centro do México, Cocijo entre os zapotecos e Chaac entre os maias. Alguns estudiosos

inclusive associam o jade com a fertilidade (NAGAO, 1985, p.51), vegetação, águas e aos

relatos míticos sobre o milho presentes nas culturas mesoamericanas (FRANÇA, 2000, p.1;

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PROSKOURIAKOFF, 1974, p.3). Relatos nas fontes escritas, pictoglíficas e na cultura material

nos trazem diversas referências ao jade, como símbolo de fertilidade, renascimento e elemento

gerador da vida:

The greenstone beads, the bracelets, the fine turquoises are precious. Only they are

precious: they are what brings life to the world, what nourishes it, what gives it

vitality. What is alive – through them, lives, talks, is happy and laughs (SAHAGÚN,

1979: bk.VI, ch. 8, f. 29).

Apesar do grande número de citações desse tipo de pedra na Mesoamérica, o jade era

algo raro nessa região. Com isso, temos diversas outras pedras verdes semelhantes, como o

jasper, a serpentina, a albita, os quartzos, a obsidiana verde e outras que eram utilizadas para as

mesmas finalidades (FRANÇA, 2000, p.2). Esse tipo de pedra teve uma utilização bem variada

entre os estados da região em temporalidades diferentes com destaque para o uso como objetos

cerimoniais e funerários:

Enquanto a tradição Olmeca se distinguiu por um uso cerimonial e votivo (oferendas),

entre os maias, o uso do jade social apresenta padrões mais variados entre os quais

destaca-se o uso social (como ornamento da elite dirigente), na consagração de

edifícios e ainda, o uso doméstico (FRANÇA, 2000, p.2).

A pedra verde foi usada ainda como elemento para a produção de contas, mosaicos,

orelheiras, anéis, narigueiras, braceletes, preenchimento dentário, colares, estatuetas, peitorais,

e outros objetos (MENDOZA, 2001, p.65). Entre os maias era comum o uso desse tipo de objeto

com formato esférico feito de conchas, e também de pedras de diferentes tipos. Em Chichén

Itzá, além das peças achadas na Plataforma das Águias e Jaguares, foram encontradas contas

verdes também na Plataforma de Vênus e no Cenote Sagrado (PROSKOURIAKOFF, 1974,

p.19). Em toda a Mesoamérica o uso e circulação de pedras preciosas eram atividades

vinculadas às elites das cidades, com um valor importante também dentro do contexto

socioeconômico.

4.11. Os líticos em ação – guerra e sacrifício no pensamento maia

As pontas de projéteis estavam associadas a atividades ligadas a guerras, sacrifícios,

autossacrifícios e são encontradas em oferendas e escondites em diferentes sítios de diferentes

períodos dentro da Mesoamérica. Tais objetos adquiriam funções em rituais de finais de

períodos, ascensões de governantes, cerimônias para contatos com divindades, guerras,

inauguração ou abandono de edifícios, adquirindo inclusive características de seres

sobrenaturais (SIEVERT, 1992, p.112; CIUDAD RUIZ, 2002, p. 198).

As pontas de projéteis rituais ou funcionais, ou ambas, eram os principais objetos de

batalha na área maia. As evidências desse tipo de material se iniciam no Período Clássico até o

período colonial. Uma das primeiras armas utilizadas eram as lanças para combates de corpo-

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a-corpo. Equipamento bélico que era composto geralmente por uma ponta extremamente afiada

de alguma pedra como obsidiana, ou sílex, por exemplo. Esse objeto viria a ser incrementado

com o surgimento do lança-dardos portátil e o uso de dardos por volta de 900 a.C.. Os lança-

dardos, ou atlatls na língua nahuatl resultaram num alcance maior dos objetos lançados,

funcionavam como um tipo de uma extensão do braço do guerreiro e eram objetos mais leves

o que proporcionava um fácil deslocamento (INOMATA; TRIADAN, 2009, p.69). Na área

maia esse objeto estava relacionado com a influência de Teotihuacan durante os séculos IV e

V, e durante o período Clássico Terminal esse tipo de arma passou a ser adotado com uma

ênfase maior. Em Chichén Itzá existem diversas representações de lança-dardos portáteis na

iconografia de objetos e pintura mural, como por exemplo, nas cenas de batalhas presentes no

Templo Superior dos Jaguares (COGGINS; SHANE III, 1989, pp.161-162). Essas

representações também se refletem na cultura material, com a localização de partes de atlatls

no Cenote Sagrado, além das peças de pontas de projéteis recuperadas em oferendas no sítio

(COGGINS; SHANE III, 1989).

Já para a prática de sacrifícios, os objetos de pedra mais utilizados eram as facas feitas

de sílex ou obsidiana em forma lanceolada, que acoplavam um cabo de madeira. Essas peças

eram talhadas com uma grande complexidade, e algumas eram ricamente decoradas (MATOS

MOCTEZUMA, 2010, p.59). Seus usos mais comuns seriam para a extração de coração dos

sacrificados, decapitação e esquartejamento.

As atividades como guerras, e sacrifícios rituais faziam parte de um discurso baseado

numa violência organizada presente na Mesoamérica e que seguia uma série de elementos que

demarcavam eventos sociais internos que permeavam o próprio funcionamento de tais

sociedades (ORR; KOONTZ, 2009, p.XIV; NAVARRO, 2012, p.199). As guerras tiveram um

papel decisivo na constituição da Mesoamérica como área cultural, e foram essenciais para uma

constante circulação de ideias e tecnologias por toda a região (NAVARRO, 2012, p.200). Além

disso, a organização bélica também pode estar associada à crescente complexidade social dos

estados maias a partir do período Pré-Clássico (GRAZIOSO SIERRA, 2002, p.219). Ainda que

existissem conflitos por motivações políticas, econômicas e de domínio de território, esse tipo

de violência organizada, e violência ritual era algo comum dentro dos estados mesoamericanos.

Dessa forma, temos uma relação estreita entre as atividades bélicas e atividades rituais, em que

a preparação para a guerra, as campanhas militares e as cerimônias que se seguiam contavam

com uma destacada ritualização e conotações simbólicas (GRAZIOSO SIERRA, 2002, p.232).

Percebe-se uma grande variabilidade e heterogeneidade, intensidade, duração e objetivos

diversos das guerras mesoamericanas (WORKINGER; JOYCE, 2009, p.6). Uma dessas formas

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seriam as realizações de conflitos durante os finais de períodos calendáricos, e a utilização de

ciclos de corpos celestes para demarcar conflitos, com indicações sugerindo quais períodos do

ano seriam mais indicados para a realização de batalhas levando em conta as condições

climáticas (MILBRATH, 1999, p.193). Em algumas inscrições do período Clássico na área

maia notam-se a presença do glifo interpretado como “guerras estrelares”, ou guerras que

coincidiam com os movimentos de Vênus, que indicavam que muitas batalhas e eventos de

sacrifício seriam agendados para coincidirem com dias em que Vênus nascia pela primeira vez

após sua conjunção inferior ou superior (MILLER, 1989, p.293; LÓPEZ AUSTIN, LÓPEZ

LUJÁN, 2001a, p.162).

Alguns estudiosos apresentam quatro tipos de guerras dentro dos estados maias. O

primeiro tipo seriam eventos para captura de cativos, o segundo, eventos de decapitação, com

a captura de importantes personagens rivais em batalhas para o sacrifício, o terceiro tipo eventos

de destruição com objetivos específicos nas batalhas. E o quarto, eventos que envolviam

conquistas territoriais e de dominação política (CHASE; CHASE, 2003). Além disso, haveria

ainda alguns períodos na história maia onde evidências apontam para um recrudescimento no

número de batalhas. Indícios na cultura material apontam para a existência de guerras

destrutivas de larga escala nas terras baixas maias durante o período Clássico Terminal até o

Pós-Clássico, com destruição e saques de diversas cidades (WEBSTER, 2000).

A própria visão de mundo cíclica da sociedade maia e mesoamericana aponta para esses

movimentos de terminação, com uma ideia de um mundo em constantes nascimentos e

destruições e a realização de sacrifícios para a manutenção do cosmos. As narrativas de criação

do mundo dos povos mesoamericanos tinham como personagens divindades e sacrifícios para

a criação humana (LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.246; MATOS MOCTEZUMA, 2010, p.46). Os

maias assim como outros povos dessa região acreditavam que o sangue era sagrado e que eles

deveriam oferecê-lo em sacrifício aos deuses para homenageá-los (TAUBE, 1993, p.17).

Acredita-se que existiam dois tipos de sacrifícios na Mesoamérica. O primeiro um sacrifício

que envolvia os deuses, realizados por eles sobre os humanos, e o segundo quando os próprios

humanos sacrificavam a outros de sua espécie a pedido das forças divinas e em homenagem a

elas (MATOS MOCTEZUMA, 2010, p.43). Esse último caso se dava em rituais de

autossacrifício, ou de sacrifício de prisioneiros de guerra que eram oferecidos aos deuses em

troca da manutenção do equilíbrio do cosmos. Além do sacrifício para alimentar os deuses,

tínhamos na área maia e mesoamericana a realização de outros tipos de sacrifícios como os que

eram realizados em determinadas festividades calendáricas, com intenções variadas, como

pedir a chegada das chuvas, reviver determinados eventos primordiais, comemoração de

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construções, ou renovações de templos, ascensões de governantes ao trono, e outras causas

(MATOS MOCTEZUMA, 2010, p.46). Essas ideias faziam parte de como esses povos

pensavam o universo e de que forma eles deveriam agir para a vida em sociedade. Era uma

maneira de garantir a continuidade da vida na Terra e receber a proteção necessária para a

própria subsistência humana.

Toda essa breve discussão sobre questões ligadas a atividades de rituais bélicos que teria

tido a Plataforma das Águias e Jaguares e seus elementos associados como artífices dessas

práticas, fazia parte de uma ideia de que a religião na sociedade maia e mesoamericana

integraria a todos os componentes sociais existentes criando-lhes uma identidade, como por

exemplo a apresentação de símbolos que representam o poder estatal vinculados a essas

narrativas fundacionais e questões relacionadas ao nascimento, morte e renascimento dentro do

pensamento mesoamericano. Acreditamos que tal dinâmica estaria presente na vida social de

Chichén Itzá no momento da utilização da plataforma. Mais do que a construção de uma

resposta única e fechada, colocamos aqui algumas inquietações que poderiam ser trabalhadas

com mais detalhes em futuras investigações sobre os sentidos da oferenda descoberta pelo casal

Le Plongeon e as relações entre Chichén Itzá e outros sítios mesoamericanos.

4.12. Uma oferenda reunida

A interpretação mostrada até aqui sugeriu o uso e o significado dos objetos e da própria

Plataforma das Águias e Jaguares durante o período de ocupação de Chichén Itzá. Nessa parte

final pretendemos discutir uma interpretação da oferenda e dos objetos descobertos pelo casal

Le Plongeon da maneira como foram encontrados já no século XIX, ou seja, quase seiscentos

anos após o provável abandono do sítio. Acreditamos que a forma como os objetos estavam

depositados no momento da chegada do casal de exploradores tenha sido pensada de maneira

proposital e que os artefatos colocados obedecendo a preceitos que faziam parte da visão de

mundo dos maias pré-hispânicos, com características que nos levaram a levantar uma hipótese

de que teria havido uma destruição e enterramento proposital de objetos que antes fizeram parte

da constituição da plataforma e de sua funcionalidade. A nossa hipótese que será apresentada

aqui dá conta de que a oferenda descoberta pelo casal Le Plongeon seria um tipo de oferenda

pertencente a um ritual de terminação e abandono de edifício. Uma prática que tem sido cada

vez mais alvo de discussões de estudiosos na área maia e mesoamericana.

4.13. Vida e morte de um edifício

Iremos recuperar agora uma ideia já mencionada no capítulo sobre os referenciais

teóricos e metodológicos dessa dissertação, que trata de um dos elementos centrais no

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pensamento e na maneira de entender o mundo entre os maias e outros povos mesoamericanos,

que é a ideia da existência de um mundo animado em seus diferentes aspectos. Esses povos

acreditavam que objetos e construções que os rodeavam eram compostos por um aspecto visível

e uma outra substância interior. Dessa forma, havia a ideia de que tudo possuía um elemento

interno, tudo era personificado (GRAULICH, 2010, p.407). Isso dialogava com a concepção de

que o mundo era construído e gerido dentro de constantes ciclos, formados por inícios, finais e

recomeços. Como um ciclo da própria vida pensada como constantes nascimentos, mortes e

renascimentos. Ciclos que pautavam e serviam como base para os diferentes tipos de

pensamentos acerca do mundo mesoamericano e dos elementos que o rodeava. Como

mencionado anteriormente, tal pensamento também se constituía em processos de humanização

que se refletiam nos objetos, casas, espaços, e edifícios sagrados, criados pelos mesoamericanos

(MOCK, 1998, p.9; LÓPEZ AUSTIN, 2001, p.242).

Assim, essas ideias eram estendidas para o tratamento dado a objetos e construções

realizadas dentro dos grandes centros cívicos. Cidades que eram entendidas como

representações da natureza de uma maneira organizada e tratadas como elementos vivos dentro

do mundo mesoamericano (GRAULICH, 2010, p.407). Alguns estudiosos como Stephen

Houston, Karl Taube e David Stuart corroboram com essa ideia e afirmam que objetos como

estátuas e estelas maias funcionavam como algo além de uma representação, mas sim

incorporavam os personagens que estavam ali nas peças a partir de uma transferência de parte

da essência vital desses personagens para os monumentos (HOUSTON; STUART; TAUBE,

2006). Isso está relacionado com a própria criação escultórica dos antigos maias. Dado essa

grande importância que esses objetos tinham dentro da cosmovisão maia, esses povos

dedicaram uma grande atenção para a produção desse tipo de objeto, com o desenvolvimento

de técnicas refinadas que incluíam o naturalismo, retratos, tridimensionalidade, relações com

questões do seu espaço físico, que propiciariam uma constante relação das peças com os

humanos que as circundavam (O’NEIL, 2012, p.316).

A partir dessa estrutura de pensamento era comum encontrarmos a realização de

cerimônias que tratassem das essências presentes na cultura material, como a realização de

rituais de terminação de objetos e construções com o sentido de retirar o poder intrínseco a

esses elementos para o encerramento de um ciclo. Eram momentos para acabar com o poder

acumulado pelo objeto antigo, e assim matá-lo ritualmente (TIESLER; CUCINA, 2010, p.201).

Nesses atos não havia, contudo, uma ideia de destruição dos sentidos, significados e conceitos

inerentes aos objetos como diversos movimentos iconoclastas fizeram ao longo da história. Mas

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sim era algo que não descartava o objeto, apenas modificava o seu status perante a cosmovisão

daquele grupo social em um momento específico de sua história.

Entre as culturas nahuas do Centro do México havia o conceito de tlazolli, usado para

designar algo que teve o seu uso esgotado, terminado, algo que havia perdido o seu sentido

primordial (MOCK, 1998, p.10). Isso era aplicado nos diferentes objetos que os rodeavam, com

uma constante associação entre a mutilação de objetos, com a mutilação corpórea para marcar

um novo recomeço, uma nova ordem. Essa ideia de limpeza ritual através da absorção do mal

em objetos rituais é algo comum nas diversas culturas indígenas. Os maias tinham um grande

apreço por rituais de purificação, que envolviam diferentes estâncias como comidas, enemas

rituais, e purificação sexual (MOCK, 1998, p.10).

Ainda que a realização desse tipo de ritual possa a um primeiro momento nos sugerir

que os objetos e as construções que eram destruídos, ou semidestruídos seriam descartados e

considerados como algo encerrado por si, é interessante pensarmos que essas alterações não

anulariam as características e agências de tais monumentos. Pois como bem pontua Megan O’

Neil, as realizações desse tipo de violência contra os objetos não tiravam o seu poder de atuação,

mas sim indicavam que eles passariam a ter uma outra função e relação dentro do meio social

onde estavam inseridos (O’NEIL, 2013, p.45). Os danos quando são produzidos por uma ação

humana nesses elementos destruídos, faziam com que eles passassem a ser índices de marcas

de uma relação do humano com a peça, mesmo que fosse algo destrutivo ao objeto (O’NEIL,

2013, p.50). Dessa forma, o próprio fragmento também é um índice importante dessa relação,

que pode apontar questões sociais em sua ocorrência.

Recentemente alguns estudiosos tem se dedicado a analisar esse tipo de comportamento

ritual dos povos mesoamericanos com interpretações de objetos e construções que teriam

passado por processos de terminação (MOCK, 1998; INOMATA; WEBB, 2003; SUGIYAMA,

1998; FREIDEL, SUHLER, COBOS, 1998; LÓPEZ LUJAN, 1998; COE, 1959; O’NEIL,

2013). Algumas características específicas de um ritual de terminação são identificadas, mas

obedeceriam de maneira geral a alteração de objetos, com indícios de queima, destruição

proposital, como a retirada da decoração de construções, além da decapitação e quebra

proposital de partes de esculturas, e objetos que eram enterrados e ou selados em pontos

específicos das estruturas (FREIDEL, 1998, p.192).

Segundo Suhler e Freidel (1995), existe em Chichén Itzá elementos que apontam para a

ocorrência de rituais de terminação durante o abandono de sua população. Esses autores

indicam para a realização de rituais de terminação em locais como a Subestrutura do Castillo,

Templo Inferior dos Jaguares, Caracol, as Monjas e no Osario. Na subestrutura do Castillo, há

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talvez o caso mais famoso desse tipo de cerimônia que teria sido realizada em Chichén Itzá.

Essa subestrutura teria sido uma etapa de construção anterior, erguida por volta do século X

(BRASWELL; PENICHE MAY, 2012, p.258) e é constituída por nove corpos escalonados

onde foi encontrada uma oferenda com uma caixa de pedra com uma pequena porção de ossos

humanos próximos a ela. Na caixa havia duas placas de mosaicos, jadeíta, caracol e obsidiana

(EROSA PENICHE, 1946, p.17). Além disso, foi encontrado um chacmool, uma estátua em

formato de trono com a figura de um jaguar, além de espelhos de pirita. Esses objetos foram

lacrados e uma nova estrutura foi construída em cima da anterior, a estrutura que hoje se

configura na atual aparência da pirâmide. Ainda em Chichén Itzá, um estudo feito por Ruth

Krochock (1995) aponta para a realização de um selamento, um fechamento intencional de um

texto hieroglífico presente no Mercado, como sendo um evento de terminação. Outro evento

destacado nas terras baixas maias do norte, teria ocorrido no sítio de Yaxuná, onde também há

indícios de rituais de terminação levados a cabo após derrotas militares ocorridos nessa cidade.

Em construções da elite foram achados objetos destruídos e fora de contexto, com sinais de que

teriam passado por rituais de terminação (FREIDEL; SUHLER; COBOS, 1998).

Tendo em vista essas questões teóricas sobre esse tipo de ritual, para sugerir a nossa

interpretação consultamos os relatos de Alice Dixon Le Plongeon do momento da escavação

empreendida por ela e Augustus no local da plataforma. Logo no início de suas anotações de

campo, Alice chama a atenção para a descoberta de algumas das placas de baixo-relevo e da

escultura do jaguar reclinado que estavam próximos à superfície da terra, enterrados de uma

maneira pouco profunda e com partes quebradas (DESMOND, 2009, p.117) (ver anexo 22). Na

sequência a fotógrafa relata que próximo ao chacmool foram encontrados os objetos líticos,

alguns deles quebrados (fichas 51 e 52 do catálogo), outros pequenos objetos de pedra (ficha

43 do catálogo) e fragmentos de peças partidas (ficha 44 do catálogo). A estátua do jaguar

reclinado, os painéis de baixo-relevo da fachada e os fragmentos de objetos são os elementos

da oferenda mais importantes para a nossa interpretação. Era comum nesse tipo de ritual de

terminação de uma construção a retirada dos ornamentos da fachada com um enterramento de

maneira superficial. A própria peça do jaguar reclinado, além de também ter sido encontrada

semienterrada ela estava sem a cabeça. A mutilação de estátuas e objetos era outra característica

recorrente nesse tipo de cerimônia. Seguindo as escavações, as descobertas das duas caixas de

pedra com pequenos objetos de cerâmica, e pedras preciosas dentro (ver ficha 50 do catálogo),

além da estátua do chacmool, percebemos semelhanças com o tipo de objetos encontrados na

subestrutura do Castillo, por exemplo. Ambas possuem alguns padrões de objetos que foram

enterrados e selados; uma estátua de chacmool, uma estátua com a figura de um jaguar, caixas

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de pedra com restos de cerâmica e pedras dentro, além de pequenas pedras e restos de objetos

ao redor dessas peças.

Os objetos da oferenda que foram encontrados quebrados, ou com alguma parte

faltando, como as duas facas de sílex, ou a própria estátua do jaguar reclinado acreditamos que

estavam relacionados com uma quebra proposital de peças para retirar a sua força interior e

oferecê-los aos deuses:

Los seres humanos, como el jade precioso, las vasijas policromas, o un cuchillo de

obsidiana pueden ser quebrados de la misma manera para ser entregados al otro

mundo (FARR; EPPICH; ARROYAVE, 2008, p. 735).

Nos relatos de Alice ela faz menções que a escavação teria sido realizada no centro do

montículo, onde os objetos teriam sido encontrados, exceto algumas das placas de baixo-relevo

que estavam nas extremidades da construção (ver anexo 35). Essa provável localização das

peças no eixo central do edifício nos remete ao que diz Rosemary Joyce (1992) de que os

depósitos dedicatórios eram encontrados nos eixos das construções, e simbolicamente

representariam caminhos atravessando que uniam as oferendas sagradas com a construção e o

cosmos onde estaria a força interior do templo (JOYCE, 1992, p.497). Caminhos que poderiam

ser destruídos ritualmente com a realização dos rituais de terminação de objetos que estavam

associados à construção, que dessa forma acabariam com uma memória sagrada que pertencia

à construção.

A partir das análises dos objetos encontrados na oferenda da Plataforma das Águias e

Jaguares e de seu contexto, foram levantadas três hipóteses sobre o que teria motivado a

finalização desse conjunto ritual. A primeira seria um possível ritual de terminação dessa

estrutura durante o abandono de Chichén Itzá entre o final do século XII e início do XIII. A

segunda possibilidade seria uma cerimônia ocorrida durante alguma mudança de governo ou

término de um período de domínio de algum senhor governante específico, e por fim, um

abandono de uso especificamente da plataforma. Os objetos teriam sido enterrados como um

sinal de um final de um ciclo que alteraria alguns de seus elementos simbólicos anteriores

passando assim a fazer parte de um outro contexto de uso e significado. Ainda que tenhamos

levantado essas hipóteses preliminares sobre a ocorrência de rituais de terminação, acreditamos

que a realização de trabalhos posteriores específicos sobre o conjunto de peças descobertas pelo

casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares possam trazer à luz novos elementos

que poderão contribuir para essa discussão e interpretação. A realização de análises mais

detalhadas dos objetos que compõe a oferenda, como a realização de datações relativas das

peças, talvez possam aludir se esses objetos foram enterrados de maneira conjunta ou em etapas,

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períodos diferentes. Uma informação importante para poder comprovar a hipótese levantada

aqui nessa dissertação e tentar interpretar a natureza desse tipo de enterramento.

4.14. Palavras finais sobre o capítulo

Neste capítulo procuramos apresentar duas hipóteses de uma interpretação sobre o

sentido dos objetos encontrados enterrados na plataforma das Águias e Jaguares pelo casal Le

Plongeon. Para isso, analisamos e sugerimos uma interpretação e usos e sentidos das peças com

base em comparações com elementos em comum presentes na Mesoamérica e no próprio sítio

de Chichén Itzá. Procuramos analisar a plataforma, sua espacialidade, decoração, relacionando-

os com os objetos encontrados. A partir de questões levantadas sugerimos uma interpretação de

que a plataforma poderia ter sido utilizada para cultos bélicos realizados pela elite dessa antiga

cidade maia, relacionados com o ciclo básico da vida, nascimento, morte e renascimento, que

obedece ao próprio movimento solar, e também do planeta Vênus.

Ao final sugerimos também uma provável causa do contexto de enterramento dos

artefatos na estrutura. Essas interpretações apresentadas não se encerram nesse primeiro

momento seriam uma tentativa inicial de se trabalhar com esse material que poderia ser

estudado com mais detalhe numa futura investigação sobre a natureza da oferenda encontrada

pelo casal Le Plongeon na Plataforma das Águias e Jaguares, bem como o próprio sentido da

construção. As hipóteses apresentadas levaram a questionamentos que não foram respondidos

nessa dissertação. Acreditamos que tal apresentação seja um fecundo ponto de partida para

novas investigações que envolvam a sociedade de Chichén Itzá, práticas rituais, relações com

o centro do México e questões ligadas ao abandono do sítio. Temas que ainda despertam grande

interesse e debate entre os pesquisadores da área.

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Conclusão: Muitos finais e novos recomeços

O trabalho para a apresentação desse conjunto de peças foi uma primeira tentativa de

recuperar a história desses artefatos que desde o seu desterramento no século XIX foram

estudados de maneira separada e pouco aprofundada. Objetos suscitam a criação de histórias e

materializam subjetividades, narrativas e discursos, a partir dos seus usos e reusos. Essas

reutilizações levam à criação de novas histórias e significados acerca dos artefatos e nos mostra

como o olhar do estudioso, ou daquele que se debruça a estudar a cultura material do passado,

têm suas concepções de mundo e discursos refletidos em suas interpretações sobre esses

objetos. Tal qual nos diz Funari:

[...] aqueles objetos reintegrados pelo arqueólogo passam a possuir novas funções e a

exercer mediações no interior das relações sociais em que foram inseridos (2003,

p.34).

Todo objeto que sai do seu contexto original e é inserido em um outro resulta num

processo de ressignificação, que faz com que essas peças assumam um novo papel. E ao assumir

esse novo papel os objetos e elementos do passado acabam por ganhar uma visão do presente

sobre eles (SHANKS; TILLEY, 1987, p.8). A própria nomeação de um objeto como artefato

arqueológico gera a criação de novas histórias e papéis sobre essa peça (PELLINI, 2016, p.252).

Os objetos descobertos por Le Plongeon e sua esposa Alice até hoje levam resquícios dos

pensamentos desse casal de exploradores. Ainda que sejam interpretados de uma nova maneira,

reflexo dos diversos estudos realizados desde então, suas nomenclaturas tais como foram

criadas pelo casal ainda continuam a vigorar, seja no nome da estátua do chacmool, ou das

estátuas dos atlantes. Junto com a reminiscência das nomenclaturas criadas pelo explorador

restam parte de ideias de suas subjetividades materializadas nas peças, que a partir do estudo

dessa cultura material nos possibilita visitar o passado e acessar o seu mundo perdido

(PIMENTA SILVA, comunicação pessoal, 2017).

Essa pesquisa apontou para a possibilidade de estudos sobre objetos antigos a partir do

uso de fontes secundárias. Durante esse estudo mostramos como uma análise dos reusos e

ressignificações feitos pelo casal Le Plongeon nos possibilitou recuperar as relações e conexões

que esses objetos possuem entre si. Foi a partir do acesso que tivemos a esses objetos pelos

estudos feitos no século XIX por esse casal de exploradores, que histórias e significados das

peças puderam ser recuperadas. Isso nos leva à importância que um trabalho epistemológico de

desconstrução narrativa pode ter ao se estudar objetos do passado.

Além disso, essa dissertação procurou mostrar a possiblidade de pesquisa de objetos

com um contexto arqueológico problemático. A partir da utilização e recuperação de diversos

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tipos de fontes ligadas aos objetos, procuramos mapear todas as referências encontradas para

levantar a maior quantidade de informações possíveis que pudessem nos ajudar a traçar um

itinerário da trajetória histórica dessas peças. Ao perceber seus usos e reusos em diferentes

temporalidades e espacialidades, procuramos organizar os artefatos de uma maneira que nos

possibilitou a elaboração de uma interpretação sobre esse conjunto, além de servir para abrir a

possiblidade de futuras pesquisas sobre esse material. Ao ordenar, classificar e associar toda a

quantidade de informação possível sobre esses objetos nossa pesquisa procurou ajudar a

recuperar a voz e o entendimento dessas peças.

A recuperação do contexto desse depósito ritual, bem como suas características,

sentidos, itinerários e histórias criadas em torno das peças pode nos ajudar a entender questões

ainda em aberto sobre o sítio de Chichén Itzá, como sua atividade social, ritual e abandono.

Esperamos que esse trabalho tenha contribuído não apenas para os estudos sobre a área maia,

mas também para estudos sobre a cultura material que tratem de objetos com problemas de

contexto e dispersos entre si. Ao trabalhar com os artefatos descobertos pelo casal Le Plongeon

na Plataforma das Águias e Jaguares, procuramos dar uma nova luz a esses objetos. Um

conjunto de peças que agora volta à vida e passa a estar disponível uma vez mais em sua

totalidade, emanando vozes e narrativas que antes estavam silenciadas.

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O catálogo

Observações prévias

Os artefatos descobertos pelo casal Augustus Le Plongeon e Alice Dixon Le Plongeon

na Plataforma das Águias e Jaguares foram dispostos em um catálogo com fichas individuais,

a fim de conferir uma organização, além de fornecer dados para possíveis futuros trabalhos

sobre o tema. Ao pensar tal ferramenta metodológica, tivemos como base estruturas utilizadas

por alguns autores como; Marina Cavicchioli (2004), Mary Miller e Simon Martin (2004),

Clemency Chase Coggins e Orrin C. Shane III (1989) e Murtha Baca, Patricia Harpring, Elisa

Lanzi, Linda McRae e Ann Whiteside (2006) em estudos em que foram realizadas

classificações de objetos seguindo critérios como: dimensões, forma, referências bibliográficas

anteriores sobre a peça, contexto onde foi encontrada, matéria-prima, descrição do objeto, além

de informações sobre a sua localização atual. Procuramos seguir essas diretrizes ao elaborar o

catálogo dessa dissertação.

Antes de apresentá-lo temos algumas considerações a serem colocadas. Durante o nosso

estudo tivemos dificuldades para obter algumas das informações presentes principalmente no

que diz respeito à matéria-prima de cada objeto. Como esses artefatos nunca foram estudados

antes de maneira sistemática, não há informações, nem análises laboratoriais prévias sobre a

constituição física deles. Os dados recolhidos e apresentados no catálogo foram obtidos a partir

de fontes secundárias, junto aos museus onde se encontram as peças. Da mesma forma, em

nossas pesquisas tivemos dificuldades de acesso aos painéis que decoram as fachadas da

Plataforma das Águias e Jaguares. As medidas apresentadas desses materiais foram

conseguidas em fontes antigas e não possuem a precisão necessária. Outros elementos das

fachadas obtivemos a partir de consulta a um plano da plataforma feito pelo programa Autocad

e disponibilizado gentilmente pelo diretor do sítio de Chichén Itzá, o arqueólogo, Marco

Antonio Santos Ramírez durante nossa visita a esse sítio em maio de 2016. Esperamos que no

prosseguimento dessa pesquisa num projeto futuro consigamos aprofundar nossas análises

sobre essas questões.

As medidas das peças líticas foram obtidas a partir de nossos estudos de campo aos

museus onde elas estão armazenadas. Todas as fotos das peças apresentadas no catálogo foram

tomadas pelo autor. Os desenhos apresentados de alguns dos painéis que fazem parte das

fachadas da plataforma foram tirados do estudo feito pela arqueóloga Federica Sodi Miranda,

do INAH, México (2007) em seus estudos sobre a iconografia da decoração da plataforma.

Infelizmente não há desenhos de todas as faces do edifício. As ilustrações são de autoria de

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Idelfonso Hoil Moo. Após essas observações, passemos agora ao catálogo que compõe essa

dissertação.

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1 Objeto: Escultura de pedra com formato de um jaguar reclinado

Material e técnica: Peça esculpida em pedra calcária

Tamanho e forma: A escultura possui 116,0 cm de comprimento, 63,0 cm de

largura, e 56,0 cm de altura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado semienterrado próximo à

superfície da terra na Plataforma das Águias e Jaguares (DESMOND, 2009, p.117)

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao

acervo do Museu de Antropologia de Mérida, Palácio Cantón, México. A escultura tem

a cabeça faltante, apresenta uma falta também na parte traseira do lado direito. A parte

de trás da escultura está danificada, com partes quebradas.

Descrição: A peça é uma escultura com formato de um jaguar reclinado, com

características realísticas, possui dois furos no dorso, sendo um profundo e outro mais

superficial. A cabeça está faltante. Em sua parte frontal, é decorada com figuras em baixo-

relevo com formatos de flores com três pétalas e meias-luas. A peça foi esculpida com

uma base retangular. As patas do lado direito do corpo estão dobradas e deitadas na base.

A figura está reclinada, numa posição que mostra o jaguar deitado de lado. Os detalhes do

corpo da figura na parte de trás não apresentam as pétalas, mas sim elementos geométricos

que parecem representar escamas, ou plumas (ver anexo 33).

Referências Bibliográficas

Fonte original: LE PLONGEON, 19/02/1878; LE PLONGEON, 1900, p. 158

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2 Objeto: Parte de uma escultura de pedra com formato de uma cabeça de

um personagem humano

Material e técnica: Peça esculpida em pedra calcária.

Tamanho e forma: A escultura possui 36,0 cm de altura, 31,0 cm de diâmetro.

Dados do contexto original: Artefato encontrado semienterrado nas

proximidades da Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao

acervo do Museu de Antropologia de Mérida, Palácio Cantón, México. A peça possui

o nariz com partes faltantes, um buraco no local da boca e queixo. Uma das orelhas está

faltando e a outra está danificada. A parte frontal do tocado também está quebrada.

Descrição:

A peça é uma cabeça com um rosto de formato humano, ataviado com ornamento em uma

das orelhas, tocado com uma cabeça de felino e uma faixa entre a cabeça e o tocado. A

peça parece ter sido a cabeça de alguma escultura de tipo chacmool presente no sítio.

Referências Bibliográficas

Fonte original: LE PLONGEON, 19/02/1878; LE PLONGEON, 1900, p. 158

Fontes secundárias: PEON CONTRERAS, 1877; SALISBURY, 1877; SIGLO

DIEZ Y NUEVE, 22/05/1877; LE PLONGEON, 1910, p.127; MALER, 1932, pp. 50 e

51; TOZZER, 1957, p.91; SCHAVÉLZON, 1985; DESMOND; MESSENGER, 1988;

SELLEN; LOWE, 2009; DESMOND, 2009

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3 Objeto: Chacmool, escultura de pedra com formato de um personagem

reclinado

Material e técnica: Pedra calcária esculpida e polida

Tamanho e forma: A escultura mede 1,46 m de comprimento, por 1,15 m de altura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado a cerca de oito

metros de profundidade na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao

acervo do Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México, México. A peça foi

polida, apresenta resquícios de tinta vermelha nas tornozeleiras, além de restos de

coloração laranja nas sandálias da figura. A peça apresenta ótimo estado de

conservação, mas com alguns desgastes localizados.

Descrição: Escultura de um personagem humano, com forma realista, com o abdômen

numa posição de 90 graus em relação ao solo. Está reclinado, tem a cabeça girada para a

direita, os cotovelos apoiados em sua base, com as mãos colocadas na altura do abdômen

onde segura um pequeno prato. A peça foi polida e confeccionada junto com uma base

retangular. A figura foi esculpida em três dimensões para que pudesse ser vista a partir

de ângulos diferentes. O personagem leva adereços nos braços com formas simples,

peitoral em formado de borboleta, tocado, ou capacete composto por pequenas contas

juntas e adereços de orelha retangulares, decorados com imagens da divindade da chuva,

Chaac. Usa tornozeleiras, adereços nas pernas e sandálias.

Referências Bibliográficas

Fonte original: LE PLONGEON, 19/02/1878; LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: PEON CONTRERAS, 1877; SALISBURY, 1877; MALER,

1932; TOZZER, 1957; MILLER, 1985; DESMOND; MESSENGER, 1988; TRIPP

EVANS, 2004; SELLEN; LOWE, 2009; DESMOND, 2009

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4 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há muitas marcas

de umidade nas peças.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e

tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com

três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que

sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de

Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao

planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o

personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas

alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas

com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a

joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da

esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita

também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a

uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na

parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste

e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

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Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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5 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há algumas

marcas de umidade.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e

alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma

longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas

plumas. Na parte superior da cena e do lado esquerdo da águia há duas flores de três

pétalas que é associada ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios

aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

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Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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6 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras que o divide em duas partes. Há marcas de

umidade.

Descrição:

O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas

plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-

lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do

coração. Ela está virada para o lado esquerdo da cena. Logo acima da águia há um tubo

de jade, e na extremidade superior do painel uma flor que faz referência ao planeta Vênus.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 179: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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7 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachadura que o divide em suas partes. Há pequenos pontos

de umidade e está num bom estado de conservação.

Descrição:

O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil

segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com

sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares e aparenta estar

usando um peitoral de jade de formato tubular. A boca está aberta com a língua aparente

e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta que se ramifica em duas. O

personagem está virado para o lado esquerdo da cena. Há flores de lírio aquático ao redor

do felino. Na parte inferior do lado esquerdo do painel há uma figura que aparenta ser

uma planta de milho.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 180: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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8 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m por 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel do corpo da serpente emplumada apresenta partes faltantes, além de

marcas de umidade por todo o conjunto.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 181: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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9 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras que o divide em cinco partes. Há algumas pequenas

partes faltantes.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e

tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com

três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que

sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de

Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao

planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o

personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas

alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas

com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a

joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da

esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita

também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a

uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na

parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste

e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;

PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 182: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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10 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta pontos de umidade.

Descrição:

O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas

plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-

lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do

coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na parte superior há figuras de lírios

aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 183: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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11 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há sinais de

umidade na peça.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e

alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma

longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada por

algumas plumas. Na parte superior da cena do lado direito da águia há uma flor de três

pétalas que é associada ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios

aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 184: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

184

12 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta pequenas manchas de umidade.

Descrição:

O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil

segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com

sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está

aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta

que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Há flores

de lírios aquáticos ao redor do felino.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 185: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

185

13 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada sul, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. Alguns painéis que formam a parte do corpo da figura estão faltando. Também

apresenta marcas de umidade em alguns pontos das peças.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 186: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

186

14 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada leste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está rachado, dividido em cinco partes e possui uma das partes faltante.

Apresenta sinais de umidade e algumas pequenas partes faltantes.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e

tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com

três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que

sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de

Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao

planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o

personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas

alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas

com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a

joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da

esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita

também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a

uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na

parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste

e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;

PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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187

15 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada)

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada leste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está rachado em quatro partes, apresenta marcas de umidade e uma

pequena peça faltante na parte inferior.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e

alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma

longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas

plumas. Na parte superior da cena e do lado esquerdo da águia há duas flores de três

pétalas que é associada ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios

aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 188: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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16 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia

agarrando um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual: A peça está colocada na fachada leste, lado sul da

Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá, México. O painel está rachado

em duas partes, apresenta marcas de umidade e algumas pequenas partes faltantes.

Descrição:

O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas

plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-

lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do

coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na extremidade superior esquerda

do painel há uma flor de três pétalas que faz referência ao planeta Vênus.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 189: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

189

17 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada leste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. Os painéis que fariam parte do corpo da figura estão ausentes. A cabeça de

serpente apresenta sinais de umidade.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 190: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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18 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados.

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo.

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada leste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está dividido em seis placas, sendo que uma está faltante. Há sinais de

umidade em algumas partes.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e

tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com

três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que

sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de

Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao

planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o

personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas

alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas

com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a

joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da

esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita

também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a

uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na

parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste

e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;

PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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19 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada leste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta uma rachadura na parte inferior, há uma parte faltante, além

de marcas de umidade e desgaste.

Descrição:

O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas

plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-

lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do

coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na extremidade superior do painel

há uma flor que faz referência ao planeta Vênus.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

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192

20 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual: A peça está colocada na fachada leste, lado norte da

Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá, México. O painel apresenta

rachaduras que o divide em três partes. Há algumas pequenas partes faltantes e marcas

de umidade.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e

alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma

longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada por

algumas plumas. Dos dois lados da águia estão presentes flores de três pétalas, associadas

ao planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 193: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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21 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada leste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. Dos painéis que fariam parte do corpo da figura apenas um está presente. Sinais

de umidade ao longo da cabeça de serpente.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 194: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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22 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras e está dividido em algumas partes. O personagem

da esquerda apresenta todo o corpo faltante. Há sinais de umidade pelo painel.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. O restante do seu corpo está faltante. O personagem da direita também

se encontra na mesma posição reclinada segura nas mãos um objeto retangular que se

assemelha a uma arma com três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar

flechas, com uma figura que sai deste objeto com formato de uma serpente. Possui um

adereço ao redor dos olhos relacionado ao deus da chuva Chaac, leva um adorno de orelha

sem pedras nas pontas, mas com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Usa

joelheira, com pedras alongadas em formato retangular. Os personagens olham em direção

ao leste e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;

PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 195: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

195

23 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. A peça apresenta rachaduras que a dividem em quatro partes. Há sinais de

umidade.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e

alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma

longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas

plumas. A cena é decorada com lírios aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 196: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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24 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O conjunto está muito danificado e tem a parte do corpo da águia faltante. Há

sinais de umidade.

Descrição:

O painel apresenta apenas parte da cabeça de uma águia que está virada para o lado

esquerdo da cena, e suas patas. Na parte superior do painel há uma flor que faz referência

ao planeta Vênus.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 197: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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25 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta marcas de umidade e alguns furos.

Descrição:

O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil

segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com

sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está

aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta

que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado esquerdo da cena. Há

flores de lírio aquático ao redor do felino.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 198: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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26 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado leste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. Um dos painéis que forma a parte do corpo da figura está faltando. A parte de

baixo da boca da serpente está quebrada e faltando. As peças apresentam sinais de

umidade.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 199: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

199

27 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está rachado e dividido em quatro partes. Apresenta marcas de umidade.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e

tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com

três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que

sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de

Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao

planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o

personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas

alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas

com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a

joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da

esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita

também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a

uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na

parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste

e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;

PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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200

28 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. Parte do corpo da figura está faltante. Apresenta sinais de umidade.

Descrição:

O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas

plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-

lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma voluta na direção do

coração. Ela está virada para o lado direito da cena. Na parte superior do painel há uma

flor de três pétalas que faz referência ao planeta Vênus.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 201: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

201

29 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. Parte do corpo da figura está danificada e apresenta alguns sinais de umidade.

Descrição:

O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil

segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com

sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está

aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta

que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Na parte

superior do painel do lado esquerdo há uma flor de três pétalas que faz referência ao

planeta Vênus. Ao redor do felino há flores de lírio aquático, e uma planta de milho na

parte inferior do lado direito do painel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 202: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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30 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada)

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está rachado em quatro partes, e se encontra bem danificado. Algumas

peças que o compõem estão faltantes. Apresenta marcas de umidade.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e

alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma

longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada por

algumas plumas. Na parte superior da cena há uma flor de três pétalas que é associada ao

planeta Vênus. A cena também é decorada com lírios aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 203: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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31 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada norte, lado oeste da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O corpo da figura é composto por um painel dividido em três partes, com uma

delas faltante. As peças apresentam sinais de umidade. A boca da serpente apresenta

partes faltantes.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 204: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

204

32 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144)

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está rachado em quatro partes e apresenta marcas de umidade.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e

tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com

três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que

sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de

Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao

planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o

personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas

alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas

com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a

joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da

esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita

também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a

uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na

parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste

e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;

PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

Page 205: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

205

33 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está dividido em duas placas por uma rachadura, apresenta marcas de

umidade, e algumas pequenas partes faltantes.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora e uma voluta sai de sua boca e

alcança a figura que representa um coração. Ela leva plumagem por todo o corpo, uma

longa cauda e está virada para o lado direito da cena. Sua cabeça é formada por algumas

plumas. Na parte superior da cena há flores de três pétalas que é associada ao planeta

Vênus. A cena também é decorada com lírios aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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34 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas)

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está dividido em duas placas por uma rachadura, apresenta marcas de

umidade e algumas pequenas partes faltantes.

Descrição:

O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas

plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-

lo à boca. O bico está aberto, a língua aparente e da boca sai uma pequena voluta na

direção do coração. Ela está virada para o lado esquerdo da cena. Na extremidade

superior do painel há uma flor de lírio aquático.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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35 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. A peça apresenta pequenos pontos de umidade e pequenas partes faltantes.

Descrição:

O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil

segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com

sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está

aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta

que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado esquerdo da cena. Há

flores de lírio aquático ao redor do felino. Na parte superior da cena e logo abaixo da pata

que segura o coração, há flores de três pétalas, relacionadas ao planeta Vênus.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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208

36 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m de altura e 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado norte da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. A peça apresenta sinais de umidade.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 209: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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37 Objeto: Painel de baixo-relevo com dois personagens reclinados

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: Placa retangular com 1,34 m de comprimento por 55,88 cm de

altura (DESMOND, 2009, p.144).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras que o divide em seis partes. Há marcas de umidade

e algumas pequenas partes faltantes.

Descrição: Placa com cena composta por dois personagens reclinados. O personagem

localizado do lado esquerdo apresenta um pequeno tocado com plumas de tamanho

mediano, uma peça circundando os olhos que faz referência ao deus da chuva Chaac,

adereços de orelha com formato retangular com pedras em cada ponta, quatro contas de

colar, e braceletes. Possui um cinto com duas cordas entrelaçadas, uma saia, joelheiras e

tornozeleiras. Em suas mãos segura um objeto retangular que se assemelha a uma arma com

três pontas em suas extremidades, ou um coldre para guardar flechas, com uma figura que

sai deste objeto com formato de uma serpente. Esse objeto é decorado com uma figura de

Vênus. Na parte superior da figura aparece um símbolo que também faz referência ao

planeta Vênus e parece sair uma fumaça próximo ao seu capacete ou tocado. Já o

personagem da direita está com adereços bem parecidos ao anterior, apresentando pequenas

alterações. A primeira mudança seria um adereço de orelha sem as pedras nas pontas, mas

com o mesmo formato usado pelo personagem anterior. Uma outra modificação é a

joelheira, que leva pedras mais alongadas em formato retangular, enquanto que a figura da

esquerda apresenta um adereço com pedras de dimensões menores. O personagem da direita

também se encontra na mesma posição reclinada, segurando um objeto que se assemelha a

uma arma, ou um coldre para guardar flechas, do qual sai uma figura de uma serpente. Na

parte de cima da cena há um símbolo venusiano. Os personagens olham em direção ao leste

e oeste.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26; ACOSTA,

1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957; PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94;

PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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210

38 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 54,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta uma rachadura que o divide em duas partes. Há muitas

marcas de umidade e desgastes.

Descrição:

O painel apresenta a figura de uma águia de perfil com o corpo formado por longas

plumas. Ela está segurando um coração com uma de suas patas, num movimento de levá-

lo à boca. O bico está aberto e a língua aparente. Ela está virada para o lado direito da

cena. Na extremidade superior do painel há uma flor que faz referência ao planeta Vênus.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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39 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de uma águia agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 50,8 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medida aproximada).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel apresenta rachaduras que o divide em quatro partes. Há muitas marcas

de umidade.

Descrição:

O painel representa a figura de uma águia de perfil, segurando um coração em suas garras.

A águia está com o bico aberto, com a língua de fora. Ela leva plumagem por todo o

corpo, uma longa cauda e está virada para o lado esquerdo da cena. Sua cabeça é formada

por algumas plumas. Na parte superior da cena há uma grande planta de lírio aquático.

Do lado direito da figura há uma flor de três pétalas que é associada ao planeta Vênus. A

parte inferior da cena também é decorada com lírios aquáticos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Desenho: SODI MIRANDA, 2007

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212

40 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O painel está em bom estado de conservação, apresenta apenas alguns pequenos

pontos de umidade.

Descrição:

O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil

segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com

sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está

aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta

que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Há flores

de lírio aquático ao redor do felino.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 213: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

213

41 Objeto: Cabeça de serpente emplumada e alfarda em pedra calcária

Material e técnica: Escultura e painel de pedra calcária em baixo-relevo

Tamanho e forma: A cabeça de serpente tem aproximadamente 42,0 cm por 39,0

cm e a alfarda mede 1,69 m de altura por 53,0 cm de largura.

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça está colocada

na fachada oeste, lado sul da Plataforma da Águias e Jaguares no sítio de Chichén Itzá,

México. O conjunto apresenta sinais de umidade e possui uma das peças que compõe o

corpo da serpente emplumada faltante.

Descrição:

A peça é um conjunto formado por uma cabeça de serpente emplumada esculpida e o seu

corpo formado por painéis de baixo-relevo. A cabeça possui olhos circulares,

sobrancelhas em formato de espiral, orifícios nasais, face aberta, dentes e presas

aparentes, língua bífida (NAVARRO, 2007, cédula, n 88, CXX). O corpo da serpente

apresenta o desenho de plumas e guizos de cascavel.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

Page 214: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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42 Objeto: Painel de baixo-relevo com a figura de um jaguar agarrando

um coração

Material e técnica: Painel de pedra calcária esculpido em baixo-relevo

Tamanho e forma: O painel possui 65,0 cm de comprimento por 66,04 cm de

altura (medidas aproximadas).

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na Plataforma das

Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça pertence ao

acervo do Museu de Nacional de Antropologia, Cidade do México, México. O painel

apresenta uma parte faltante na extremidade superior direita, e algum resquício de tinta

original avermelhada.

Descrição:

O painel apresenta a figura de um felino que se assemelha a um jaguar sentado de perfil

segurando um coração em uma de suas patas. Ele possui detalhes em baixo-relevo, com

sua pintura corporal que alterna formato de flores com pontos circulares. A boca está

aberta com a língua aparente e o coração em sua pata direita. De sua boca sai uma voluta

que se ramifica em duas. O personagem está virado para o lado direito da cena. Há flores

de lírio aquático ao redor do felino.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: LE PLONGEON, 1900

Fontes secundárias: CANTÓN, 1930, p.8; EROSA PENICHE, 1946, p.26;

ACOSTA, 1951, p.4; MARQUINA, 1951, p.888; TOZZER, 1957;

PROSKOURIAKOFF, 2002, p.94; PIÑA CHAN, 2011, p.80; SODI MIRANDA, 2007.

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215

43 Objeto: 19 pequenas peças de pedra calcária

Material e técnica: Pedra calcária cavada, polida e decorada

Tamanho e forma: Cerca de 1 cm de diâmetro cada peça.

Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças

pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. As peças apresentam alguns resquícios de coloração, e algumas

manchas brancas.

Descrição:

Contas de pedras calcária com formato de pequenos botões, com decoração

cavada em formato de espiral em uma das faces, e quatro furos cavados na outra.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1937

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216

44 Objeto: 2 pequenos fragmentos de pedra verde

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: As peças medem cerca de 1,5 cm por 2,0 cm.

Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças

pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. As peças apresentam resquícios de materiais e estão quebradas.

Descrição:

Dois fragmentos de pedras verde. Uma delas está cortada. Possivelmente fariam

parte de uma conta de pedras.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1941

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45 Objeto: 29 pequenas conchas alaranjadas

Material e técnica: Conchas

Tamanho e forma: As peças medem de 1,5 cm a 2,0 cm.

Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças

pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. Peças em bom estado de conservação.

Descrição:

Pequenas contas de conchas alaranjadas. Quatro peças com formato cilíndrico,

dezessete peças com formato tubular, e oito peças com formato retangular

achatado. Todas as peças possuem furos cilíndricos.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1935

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218

46 Objeto: 4 pequenos fusos de pedra calcária

Material e técnica: Pedra calcária

Tamanho e forma: As peças medem 2,0 cm de diâmetro.

Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças

pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. As peças apresentam pequenas partes quebradas.

Descrição:

Quatro pequenos fusos de pedra calcária. Provavelmente faziam parte de um

grupo de contas. Três deles estão completos, possuem formato esférico e um

orifício circular no centro. Uma das peças é um pequeno fragmento em formato

de meia-lua.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1938

Page 219: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

219

47 Objeto: 3 pequenas contas de pedra calcária

Material e técnica: Pedra calcária

Tamanho e forma: As peças medem 1,0 cm de diâmetro.

Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: As peças

pertencem ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. As peças apresentam pequenas partes quebradas.

Descrição:

Três pequenas contas de pedra calcária de formato esférico. Possuem um pequeno

orifício circular no centro.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1939

Page 220: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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48 Objeto: Pequena peça de concha retangular achatada

Material e técnica: Concha

Tamanho e forma: A peça mede 1,5 cm por 2,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado enterrado na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta alguns pontos de desgaste.

Descrição:

Pequena concha avermelhada de formato retangular achatado. Possui dois

pequenos orifícios. Provavelmente fazia parte de algum conjunto de contas de

conchas.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1933

Page 221: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

221

49 Objeto: Conjunto de 12 pequenas peças de conchas

Material e técnica: Concha

Tamanho e forma: As peças medem 1,0 cm por 0,5 cm / 1,5 cm por 0,5

cm / 1,0 cm por 1,0 cm

Dados do contexto original: Artefatos encontrados enterrados na

Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual: As peças pertencem ao acervo do Museu

Americano de História Natural, Nova York, Estados Unidos. As peças estão em

bom estado de conservação.

Descrição:

Conjunto de 12 contas de conchas alaranjadas com formato tubular. Cada peça

possui um orifício que a cruza longitudinalmente.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1934

Page 222: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

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50 Objeto: Jadeíta esférica polida

Material e técnica: Jadeíta polida

Tamanho e forma: Aproximadamente 5 cm de diâmetro

Dados do contexto original: Artefato encontrado dentro da urna menor

enterrada na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. Objeto em exibição. A peça apresenta algumas manchas em sua

superfície.

Descrição:

A peça é uma conta redonda de jadeíta polida, com um grande orifício circular.

Provavelmente faria parte de um conjunto de contas de pedras.

Referências Bibliográficas

Fonte primária: DESMOND, 2009, p.120

Fonte secundária: Catálogo do Museu Americano de História Natural de

Nova York, N 30.0/1943

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223

51 Objeto: Faca de sílex

Material e técnica: Pedra sílex talhada

Tamanho e forma: A peça mede 3,8 cm por 9,8 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. O objeto apresenta pequena parte faltante em um dos lados de

sua base. Não possui indício de uso.

Descrição:

A peça é uma faca de sílex bifacial de fina espessura e base reta, que alterna as

cores café claro e café escuro. Há sinais de retoques por precisão nas bordas.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; SELLEN;

LOWE, 2009; DESMOND, 2009, p.120; Catálogo do Museu Americano de

História Natural de Nova York, N 30.0/1945-A

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52 Objeto: Parte de faca de sílex

Material e técnica: Pedra sílex talhada

Tamanho e forma: A peça mede 5,0 cm por 3,5 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça possui sua extremidade superior faltante. Não há sinal

de uso.

Descrição:

A peça é um fragmento de uma faca de sílex bifacial de fina espessura, que alterna

as cores café claro e café escuro. O objeto é a parte da base da faca e há sinais de

retoques por precisão nas bordas.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1945-A

Page 225: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

225

53 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,9 cm por 7,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não

há indício de uso

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1946

Page 226: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

226

54 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 6,2 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não

há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de

História Natural de Nova York, N 30.0/1947

Page 227: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

227

55 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,2 cm por 7,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta resquícios de pigmento vermelho. Não há

sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1948

Page 228: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

228

56 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 7,1 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não

há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1949

Page 229: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

229

57 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 7,1 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não

há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1950

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230

58 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 7,2 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta dois retoques denticulados, um de cada lado da

peça. Base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1951

Page 231: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

231

59 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 7,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1952

Page 232: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

232

60 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 7,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1953

Page 233: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

233

61 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 7,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho e

pontos pretos ao longo da peça. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1954

Page 234: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

234

62 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 6,8 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1955

Page 235: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

235

63 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 6,8 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1956

Page 236: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

236

64 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 7,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1957

Page 237: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

237

65 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,2 cm por 6,7 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta alguns retoques denticulados nas laterais. Base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1958

Page 238: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

238

66 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 7,8 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta dois retoques denticulados, um de cada lado da

peça. Base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1959

Page 239: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

239

67 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 6,2 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados. Base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1960

Page 240: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

240

68 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 6,5 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho e

possui a extremidade superior quebrada. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados. Base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1961

Page 241: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

241

69 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 6,8 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1962

Page 242: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

242

70 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 6,9 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho.

Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1963

Page 243: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

243

71 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 5,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A peça apresenta um bom estado de conservação. Não há sinais

de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1964

Page 244: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

244

72 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,1 cm por 5,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. O objeto apresenta alguns resquícios de material branco. Um

dos lados próximo à base apresenta uma pequena parte quebrada. Não há sinais

de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1965

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73 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 5,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A base da peça possui uma parte faltante. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra verde. Apresenta base reta, pequenos retoques por precisão nas

bordas ao longo da peça.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1966

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74 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,8 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Americano de História Natural, Nova York,

Estados Unidos. A extremidade superior da peça possui uma pequena parte

faltante. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SELLEN; LOWE, 2009; Catálogo do Museu Americano de História

Natural de Nova York, N 30.0/1967

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247

75 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,4 cm por 4,9 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto está

em ótimo estado de conservação. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas, base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 10-4-20/C5291A

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248

76 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 5,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. Um dos lados

da base possui uma parte faltante. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas, base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 10-4-20/C5291B

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77 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra quartzo alaranjada e avermelhada talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,5 cm por 4,4 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. A peça apresenta

resquícios de pigmentos vermelho. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra quartzo alaranjada e avermelhada, com parte esbranquiçada

também. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 10-67-20/C5401A

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250

78 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra quartzo cinza talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,0 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto está

em ótimo estado de conservação. Não apresenta sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra quartzo cinza. Apresenta pequenos retoques por precisão nas

bordas, base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 10-67-20/C5401B

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79 Objeto: Ponta de projétil

Material e técnica: Pedra verde talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,9 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto

apresenta uma parte faltante em um dos lados da base. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de projétil bifacial de fina espessura, com lado chanfrado,

feita de pedra verde. Apresenta pequenos retoques por precisão nas bordas e base

reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 42-20-30576

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80 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,8 cm por 4,3 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto

apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 10-4-20/C5291A

Page 253: Peças que se movem, narrativas que se criam.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/322812/1/Pacheco_Daniel... · PROF. DR. PEDRO PAULO ABREU FUNARI. Campinas 2017 . A comissão

253

81 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,6 cm por 4,5 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto

apresenta pequenos resquícios de pigmento vermelho. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta retoques denticulados e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159;

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 10-4-20/C5291B

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82 Objeto: Ponta de lança

Material e técnica: Pedra calcedônia branca talhada

Tamanho e forma: A peça mede 2,7 cm por 4,7 cm

Dados do contexto original: Artefato encontrado próximo à base do

chacmool, enterrado na Plataforma das Águias e Jaguares.

Dados do contexto atual e estado de conservação: A peça

pertence ao acervo do Museu Peabody, Boston, Estados Unidos. O objeto

apresenta alguns resquícios de pigmento vermelho. Não há sinais de uso.

Descrição:

A peça é uma ponta de lança bifacial de fina espessura, lanceolada, foliácea, feita

de calcedônia branca. Apresenta dois retoques denticulados um de cada lado da

peça e base reta.

Referências Bibliográficas

Fontes primárias: SALISBURY, 1877; LE PLONGEON, 1900, p.159

Fontes secundárias: DESMOND; MESSENGER, 1988, p.35; DESMOND,

2009, p.120; SHEETS, LADD, BATHGATE, 1992; SIEVERT, 1992;

COGGINS; SHANE III, 1984; COGGINS, 1992; Catálogo do Museu Peabody,

N 10-4-20/C5291C

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Anexos

Anexo 1 - (Mapa da área maia) - (Fonte: http://mayawoerterbuch.de) (Acessado em: 10 mar. 2016).

Anexo 2 - (Mapa da Mesoamérica) - (Fonte: FAMSI – Foundation for the Advancement of Mesoamerican

Studies) (Acessado em: 10 fev. 2016).

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256

Anexo 3 - (A descoberta da estátua do chacmool. Augustus Le Plongeon aparece sentado em cima da peça.)

(Foto de Alice Dixon Le Plongeon, 1875) - (Acervo Getty Institute).

Anexo 4 - (O transporte da estátua chacmool em Chichén Itzá.) (Foto de Alice Dixon Le Plongeon, 1875)

(Acervo Getty Institute).

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257

Anexo 5 - (Desenho do corte estratigráfico realizado durante as escavações da Plataforma de Vênus, Chichén

Itzá, 1883.) (Autor: Augustus Le Plongeon) (Desenho reproduzido por DESMOND; MESSENGER, 1988, p.95).

Anexo 6 - (Mapa do sítio de Chichén Itzá, 1952) (Fonte: Carnegie Institution of Washington).

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258

Anexo 7 - (Mapa da Grande Nivelação de Chichén Itzá) (Fonte: SCHELE; MATHEWS, 1999, p.205).

Anexo 8 - (Plataforma das Águias e Jaguares, Chichén Itzá.) (Foto tirada por Daniel Grecco Pacheco, 2015).

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259

Anexo 9 - (Mapa da Plataforma das Águias e Jaguares feito pelo programa AutoCad) (Cortesia do diretor do sítio

de Chichén Itzá, Marco Antonio Santos Ramirez).

Anexo 10 – (Planta da Plataforma das Águias e Jaguares feita por Jorge Acosta) (Fonte: ACOSTA, 1951, lâmina

número 1.)

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Anexo 11 – (Trabalhos de restauro na Plataforma das Águias e Jaguares feitos por José Erosa Peniche e Eduardo

Martínez Cantón, década de 1930.) (Fonte: MARTÍNEZ CANTÓN, 1931)

Anexo 12 – (Conteúdo da oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.) (Levantamento feito pelo autor.)

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Anexo 13 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon após a descoberta do jaguar reclinado na Plataforma das

Águias e Jaguares, 1875.) (Acervo Getty Institute)

Anexo 14 – (Foto da retirada do chacmool com Alice Dixon Le Plongeon ao lado de um painel com a figura de

águia.) (Acervo Getty Institute)

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Anexo 15 – (Gravura feita por Augustus Le Plongeon com a reconstrução da Plataforma das Águias e Jaguares e

a escultura do jaguar reclinado no topo.) (Acervo Getty Institute)

Anexo 16 – (Detalhe de desenho da comparação entre a escultura do jaguar reclinado e a esfinge egípcia. Artigo

de Alice Dixon Le Plongeon no jornal London Magazine de 21 de abril de 1910.) (Acervo Getty Institute)

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Anexo 17 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon de um dos painéis de baixo-relevo com figura de águias,

1875.) (Acervo Getty Institute)

Anexo 18 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon de um dos painéis de baixo-relevo com figura de jaguar,

1875.) (Acervo Getty Institute)

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Anexo 19 – (Foto tomada pelo casal Le Plongeon de um dos painéis de baixo-relevo com figura de guerreiros

reclinados, 1875.) (Acervo Getty Institute)

Anexo 20 – (Detalhes de fotos tomadas por Alfred P. Maudslay das placas de baixo-relevo e da estátua do jaguar

reclinado, 1889.) (Fotos alteradas do livro MAUDSLAY, 1889-1902, p.33)

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265

Anexo 21 – (Peças líticas encontradas pelo casal Le Plongeon na oferenda da Plataforma das Águias e Jaguares.)

(Foto reproduzida por LE PLONGEON, 1900, p.159)

Anexo 22 – (Alice Dixon Le Plongeon e trabalhadores indígenas na Plataforma das Águias e Jaguares antes de

sua escavação, 1875.) (Acervo Getty Institute)

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266

Anexo 23 – (Foto da águia da espécie Harpia harpyja.) (Fonte: https://www.peregrinefund.org/explore-raptors-

species/Harpy_Eagle) (Acessado em 25 jan. 2017)

Anexo 24 – (Detalhes de extração de coração em cena do mural da sala 3 de Bonampak.) (Foto editada do livro

MILLER; BRITTENHAM, 2013, p.135)

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Anexo 25 – (Desenho de disco recuperado no Cenote Sagrado de Chichén Itzá que mostra uma cena de extração

de coração.) (Figura presente no livro GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.84.)

Anexo 26 – (Frisos que adornam a pirâmide do Templo dos Guerreros, com figuras de águias e jaguares

segurando corações humanos) (Figura presente no livro BAUDEZ, 2004, p.260)

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Anexo 27 – (Foto de atlante e personagem reclinado com a cabeça móvel, Chichén Itzá.) (Fotos tiradas por

Daniel Grecco Pacheco, 2014.)

Anexo 28 – (Documento que registra a entrada da estátua do chacmool no Museo Nacional da Cidade do

México, 1877.) (Acervo Museo Nacional de Antropología, Mexico)

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Anexo 29 – (Documento que registra o traslado da estátua do chacmool de Mérida para o Museo Nacional da

Cidade do México, 1877.) (Acervo Museo Nacional de Antropología, Mexico)

Anexo 30 – (Documento que registra as primeiras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal

Le Plongeon ao Museu Americano de História Natural de Nova York, 1910.) (Acervo Museu Americano de

História Natural, Nova York, EUA)

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Anexo 31 – (Documento que registra as outras doações feitas por Ms. Maude Blackwell do material do casal Le

Plongeon ao Museu Americano de História Natural de Nova York, 1911.) (Acervo Museu Americano de

História Natural, Nova York, EUA)

Anexo 32 – (Peça de jadeíta tubular usada por Alice Dixon Le Plongeon como broche.) (IN: TRIPP EVANS,

2004, p.138)

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Anexo 33 – (Detalhe do dorso da escultura do jaguar reclinado.) (Foto tirada por Daniel Grecco Pacheco, 2016.)

Anexo 34 – (Adornos de olhos feitos de ouro decorados com serpentes emplumadas. Objeto recuperado no

Cenote Sagrado de Chichén Itzá.) (Figura presente no livro GARCÍA MOLL; COBOS, 2009, p.80)

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Anexo 35 – (Reconstituição da provável localização das peças da oferenda no momento de sua descoberta.)

(Desenho feito pelo autor com base em relatos de Alice Dixon Le Plongeon. IN: DESMOND, 2009, p.119)