pde : resultados e desafios na educaÇÃo do campo
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PDE : RESULTADOS E DESAFIOS NA EDUCAÇÃO DO CAMPO
PRINCÍPIOS DO PDE
“Não há como construir uma sociedade justa e solidária sem uma educação republicana, pautada na construção da autonomia, pela inclusão e pelo respeito à diversidade. Só é possível garantir o desenvolvimento nacional se a Educação for alçada a condição de eixo estruturante da ação do Estado de forma a potencilizar seus efeitos. Reduzir desigualdades sociais e regionais se traduz na equalização das oportunidades de acesso à Educação de qualidade.” (Haddad, PDE – Razões, Príncipios e Programas)
PRINCÍPIOS DO PDE
A razão de ser do PDE está precisamente na necessidade de se enfrentar estruturalmente a desigualdade de oportunidades educacionais. Reduzir desigualdades sociais e regionais, na Educação, exige pensá-la no plano do país. O PDE pretende responder a este desafio através de um acoplamento entre as dimensões educacional e territorial. Não é possível perseguir a equidade sem promover este enlace. (Haddad, PDE – Razões, Príncipios e Programas)
Ações Específicas Educação do Campo no PDE
Programa Escola Ativa ProCampo – Licenciaturas em Educação do Campo Projovem Campo Saberes da Terra Luz para Todos nas Escolas Proinfo Rural Caminhos da Escola
Objetivos,Resultados e Metas
ESCOLA ATIVA- Multisseriadas do Campo:
( 48.998 escolas;1,3 milhão de alunos). Formação; material didático; acompanhamento. Resultados 2008 atendimento a 1177 municípios Qualificação de 3.651 técnicos na metodologia do Programa Metas 2009 1.159 novos municípios; atendimento a 30.743 escolas; formação de 4.400 multiplicadores entrega de 111 mil kits de material didático – livros de alfabetização para as
diferentes disciplinas; Entrega de 30.743 mil kits de material pedagógico (jogos e material de
aprendizagem).
Objetivos,Resultados e Metas
PROCAMPO Licenciatura em Educação do Campo por área de conhecimento para
atuação nas séries finais do EF e EM, em regime de Alternância em universidades públicas . Início 2007: – UnB; UFS; UFMG e UFBA –
240 Educadores em Formação Resultados 2008
14 instituições de ensino superior receberam recursos em 2008 para a realização de cursos, para a formação de 1060 professores. Porém,
Dificuldades administrativas e operacionais adiaram ínicio cursos. Metas 2009 e 2010
Cada ano mais 2020 professores em 33 universidades públicas. Edital/2009 para novas turmas encerrou dia 30/06/2009.
Objetivos,Resultados e Metas
PROJOVEM CAMPO SABERES DA TERRA – Proporcionar formação integral ao jovem (18 a 29 anos) do campo
por meio de elevação de escolaridade, conclusão do Ensino Fundamental; qualificação social e profissional;
O curso tem duração de 2 anos (modalidade Educação de Jovens e Adultos), tendo como eixos a agricultura familiar e a sustentabilidade; está estruturado em regime de alternância. Os educandos recebem uma bolsa a cada dois meses.
Meta 2009 – 24.000 jovens agricultores (Edital Aberto para apresentação dos projetos – até 30-09)
Parceria: MEC-SECAD; MDS; MDA- SAF;SDT; S.N. Juventude- Presidência República; MTE-S.N.Economia Solidária; MMA
Objetivos,Resultados e Metas
Proinfo Rural – promover o uso pedagógicos de Tecnologias de Informática e Comunicação
Em 2008, 3750 Laboratórios em Escolas
do campo. Meta em 2009, previsão de novos 7.500
Laboratórios de Informática nas Escolas do Campo
Objetivos,Resultados e Metas
CAMINHOS DA ESCOLAConsiste na aquisição de veículos padronizados para o transporte escolar de estudantes do meio rural.
Resultados 2008 - Foram atendidos 1.300 municípios;
comprados 2.487 ônibus escolares; (R$ 300 milhões - 2007; R$ 600 milhões - 2008)
Meta 2009 - 6.600 veículos - R$ 1.15 bilhão previstos
DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO PDE
DESAFIOS Magnitude das Desigualdades Sociais e Educacionais no Campo Enfrentamento da concepção/projeto hegemônico de campo Tendência diminuição das escolas no campo Círculo vicioso instalado: carências socioeconômicas; ausência de oferta; Altos índices de analfabetismo; alta distorção idade série; média baixa de anos de
escolaridade; precariedade da formação dos docentes
POSSIBILIDADES Escola como centro de dinamização e promoção do desenvolvimento da
comunidade; Escola como espaço potencializador de um projeto de futuro juventude do campo Escola como instrumento; ferramenta da resistência camponesa
A rede de ensino do meio rural se caracteriza por estabelecimentos de pequeno porte, razão pela qual, em termos absolutos, se equipara ao número de estabelecimentos do meio urbano.
Nos últimos anos, as políticas de nucleação das escolas que ocorre no meio rural, aliada à de transporte escolar, que em sua maioria desloca o aluno residente na área rural para escolas urbanas, vem modificando essa característica.
Chama a atenção a diminuição significativa do número de estabelecimentos de ensino da educação básica no meio
rural, no período de 2005 a 2007, que passou de 96.557 para
88.386, com uma redução de 8.171 escolas.
Total Urbana Rural Total Urbana RuralTotal 207.234 110.677 96.557 198.397 110.011 88.386 -Creche 32.296 27.572 4.724 38.784 31.382 7.402 -Pré-Escola 105.616 59.600 46.016 104.323 56.414 47.909 -Ensino Fundamental 162.727 72.314 90.413 154.321 71.658 82.663 - Anos Iniciais 150.023 61.068 88.955 141.313 60.185 81.128 - Anos Finais 57.716 41.952 15.764 59.648 42.057 17.591 -Ensino Médio 23.561 22.184 1.377 24.266 22.521 1.745 -Educação Especial 7.053 6.814 239 6.978 6.704 274 -Educação de Jovens e Adultos 45.433 24.959 20.474 42.753 25.198 17.555
Nota: O mesmo estabelecimento pode oferecer mais de um nível/modalidade de ensino.
2007
Tabela 12 - Número de estabelecimentos por localização segundo o nível/modalidade de ensino - Brasil - 2005/2007
Fonte:MEC/Inep - Censo Escolar 2005 e EducaCenso 2007.
2005
Estabelecimentos de ensinoNivel/Modalidade de Ensino
PRECARIEDADE E INSUFICIÊNCIA DA OFERTA
Historicamente e de maneira geral, as questões que se colocam sobre a rede de ensino do meio rural, referem-se à sua precariedade e insuficiência. Ocorre uma oferta concentrada de matrículas para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Os dados mostram uma queda abrupta na oferta dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
A relação de matricula no meio rural, entre os anos iniciais e finais do ensino fundamental estabelece que, para duas vagas nos anos iniciais, existe uma nos anos finais. Esse mesmo raciocínio pode ser feito com relação aos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, com seis vagas nos anos finais correspondendo a apenas uma vaga no ensino médio. Essa desproporção na distribuição percentual das matrículas revela um afunilamento na oferta educacional do meio rural, dificultando o progresso escolar daqueles alunos que estariam almejando continuar os seus estudos em escolas localizadas neste território
NÍVEIS INSUFICIENTES E DESIGUAIS DE ACESSO, PERMANÊNCIA, DESEMPENHO E CONCLUSÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
Gráfico 3 - Percentual de matrículas por nível de ensino segundo a localização - Brasil 2007
40%
67%
36%
29%
23%
5%
0%
20%
40%
60%
80%
Urbana Rural
EF - Anos Iniciais EF - Anos Finais Ensino Médio
PERSISTÊNCIA DE ELEVADO CONTIGENTE DE ANALFABETOS, REFORÇANDO DESIGUALDADES
2000 2007 2000 2007 2000 2007
13,6 10,0 10,3 7,6 29,8 23,3
16,3 10,8 11,2 8,4 29,9 19,4
26,2 19,9 19,5 14,8 42,7 33,8
8,1 5,7 7,0 5,0 19,3 15,4
7,7 5,4 6,5 4,7 12,5 8,9
10,8 8,1 9,4 6,9 19,9 15,6
Fonte:IBGE - Censo Demografico 2000 e PNAD 2007.
Sul
Centro-Oeste
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Taxa de Analfabetismo (%)
Tabela 1 - Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais por localização do domicílio - Brasil e Grande Regiões - 2000/2007
RuralRegiões Geográficas
Total Urbana
PERSISTÊNCIA DE ELEVADO CONTIGENTE DE ANALFABETOS, REFORÇANDO DESIGUALDADES
Gráfico 1 - Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais segundo a localização do domicílio - Brasil e Grandes Regiões - 2007
7,6 8,4
14,8
5,0 4,76,9
23,3
19,4
33,8
15,4
8,9
15,6
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
%
Urbana Rural
NÍVEL DE ESCOLARIDADE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA É BAIXO E DESIGUAL
2000 2007 2000 2007 2000 2007
Brasil 6,4 7,3 6,9 7,8 3,8 4,5
Norte 5,6 6,8 6,5 7,4 3,3 4,7
Nordeste 5,2 6,0 6,0 6,8 3,2 3,7
Sudeste 7,1 7,9 7,3 8,2 4,5 5,1
Sul 6,8 7,6 7,3 8,0 4,9 5,4
Centro-Oeste 6,6 7,5 6,9 7,8 4,2 5,0
Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000 e PNAD 2007
Anos de Estudos
Tabela 2 - Número médio de anos de estudos da população de 15 anos ou mais por localização do domicílio - Brasil e Grandes Regiões - 2000/2007
RuralRegiões
Geográficas Total Urbana
Formação dos Educadores Do total de funções docentes no país, atuando na modalidade regular do ensino
fundamental e médio, o meio rural detém 16,7%, ou seja, 311.025 profissionais em exercício, dos quais 57,1% não têm formação superior, que corresponde a 177.645 docentes sem nível superior no campo.
2005 2007EF - Anos iniciais 205.820 130.401 EF - Anos finais 106.534 162.774 Ensino médio 14.822 17.850 Fonte: MEC/Inep - Censo Escolar 2005 e 2007
Nível de atuaçãoBrasil Rural
Tabela 4 - Número de funções docentes por nível de atuação
2005EF - Anos iniciais 78,4 64,9 84.630EF - Anos finais 46,9 55,4 90.177Ensino médio 46,9 15,9 2.838
177.645Fonte: MEC/Inep - Censo Escolar 2005 e 2007
Total
Nível de atuação2007
Brasil Rural
Tabela 5 - Percentual de docentes sem formação superior por nível de atuação
Nos anos iniciais do ensino fundamental as desigualdades regionais mostram a natureza desestruturante da formação do corpo docente, que exibe elevados percentuais sem formação superior nas regiões menos favorecidas (o meio rural do norte e nordeste) com 81,8% e 74,3%, respectivamente, em oposição às regiões melhor posicionadas (o meio rural do sudeste e sul) com 42,4% e 38,0%, respectivamente.
DESAFIO: PROPOR; INDUZIR E ARTICULAR REDES QUE ADEREM AO ESCOLA ATIVA A GARANTIRA PROPORCIONAR A PARTICIPAÇÃO DE SEUS DOCENTES TAMBÉM NO PROCAMPO.
Gráfico 17 - Taxa de docentes SEM formação superior que atuam nos ANOS INICIAIS do ensino fundamental - Grandes Regiões - 2007
48,550,2
26,322,5
19,7
81,8
74,3
42,4
38,0
48,3
0,0
30,0
60,0
90,0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
%
Urbana Rural
No meio rural das regiões Norte e Nordeste, anos finais do ensino fundamental a taxa de docentes sem qualificação de nível superior é de 74,8% e 63,82%, respectivamente, reforçando as desigualdades regionais. Ainda nas regiões Sul e Sudeste têm-se 65,2% e 78,8%, respectivamente, sem formação de nível superior. Vale registrar o aprofundamento da desigualdade urbano-rural, quando para o meio urbano das regiões Sul e Sudeste estas taxas apresentam os valores de 4,8% e 7,2%, respectivamente .
Gráfico 18 - Taxa de docentes SEM formação superior que atuam nos ANOS FINAIS do ensino fundamental - Grandes Regiões - 2007
18,7
25,1
4,87,2
9,8
74,8
63,8
34,8
21,2
41,5
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
%
Urbana Rural
Gráfico 19 - Taxa de docentes SEM formação superior que atuam no ENSINO MEDIO segundo as grandes regiões - 2007
8,5
12,1
3,04,9
8,4
27,0
21,9
8,07,1
18,2
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
%
Urbana Rural
Fonte: MEC/Inep – EducaCenso 2007
No Ensino Médio ainda se perpetuam essas deficiências de formação, conforme se verifica para o meio rural das regiões Norte e Nordeste, com 27,0% e 21,9% de seus docentes sem formação adequada.
Gráfico 5 - Percentual de matriculas do ensino fundamental regular segundo a inexistência de dependências físicas e facilidades pedagógicas (biblioteca,
laboratório de ciências, acesso à internet ou laboratório de ciências)Brasil Rural - 2007
75%
98%92% 90%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Biblioteca Laboratório de ciências Acesso à internet Laboratório deinformática
EXTREMA PRECARIEDADE NA INFRA-ESTRUTURA DA OFERTA EXISTENTE
EM BUSCA DA EQUIDADE - DAS DESIGUALDADES AOS DIREITOS
Há um outro sentido possível de focalização: como ação reparatória, necessária para restituir a grupos sociais o acesso efetivo a direitos universais formalmente iguais – acesso que teria sido perdido como resultado de injustiças passadas, em virtude de desiguais oportunidades de gerações passadas que se transmitiram às presentes na perpetuação da desigualdade de recursos e capacidades.
Sem ação - política- programa, focalizados nesses grupos aqueles direitos são letra morta ou se cumprirão num horizonte temporal muito distante. Essas ações complementariam políticas públicas universais, na medida em que diminuiriam as distâncias que normalmente tornam irrealizável a noção de igualdades de oportunidades embutidas nesses direitos. “
Célia Lessa
DESAFIOS
A superação dos problemas expostos pelos dados analisados impõe-nos o desafio da construção de políticas articuladas, que atuem simultaneamente no enfrentamento de suas várias dimensões, considerando-as como parte de uma mesma e indissociável realidade. Os elevados níveis de analfabetismo encontrados, não podem dissociar-se da precária oferta de escolaridade, no ensino fundamental e médio no campo, bem como da escassez de renda neste território (que impõe abandono precoce dos estudos), associando-se ainda ao problema da alta distorção idade-série encontrada. Ou seja, se quer enfatizar que a ação do Estado – a promoção de políticas públicas, que tenham um caráter afirmativo, que busquem suprir as imensas desigualdades educacionais encontradas no campo – só surtirá efeito no sentido da promoção da equidade se forem executadas simultânea e articuladamente
.
DESAFIOS
Portanto, a diminuição dos índices de analfabetismo e sua manutenção em níveis baixos só se tornarão possível a partir da redução do intenso ritmo atualmente existente da produção de novos analfabetos, reais e funcionais, no meio rural. Se não for interrompido o fluxo que produz jovens e adultos analfabetos hoje no meio rural, ou seja, se não forem criadas condições que possibilitem aos jovens rurais garantirem a continuidade de sua trajetória de escolarização, não resolverá o problema a ampliação da oferta de programas de educação de jovens e adultos específicos para o campo, seja via Pronera, Brasil Alfabetizado ou Saberes da Terra.