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1 REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS Nome do pesquisador: Jéssica Moreira Mariquito Naime Silva E-mail e telefone de contato: [email protected] – (31) 9159.2010 Município: BOA VISTA Número da lei: Lei Complementar nº924 Data da aprovação do Plano Diretor: 28 de novembro de 2006 Estado: RORAIMA A. Informações gerais do município 1. Caracterização sócio-demográfica e econômica do município. O estado de Roraima corresponde a 5,81% da superfície do país, ocupando 225.116,1 km 2 . A capital Boa Vista faz parte da subdivisão Fronteira de Integração Continental da porção Ocidental da Amazônia, onde se localizam os estados de Roraima, Acre e Amazonas. A Fronteira de Integração Continental corresponde a uma porção do estado de Roraima de baixa densidade demográfica, sendo atendida pela BR-174 que liga Manaus/Boa Vista à Venezuela. A posição estratégica do estado e a ligação da capital a outras grandes cidades permitem negociações comerciais vantajosas para Boa Vista, embora, ao mesmo tempo, sendo uma região fronteiriça, necessite de rígido controle para segurança principalmente de populações indígenas. Quanto às características físico-ambientais, Boa Vista está localizada na Formação Geomorfológica Boa Vista, na zona de clima equatorial com médias altas de temperatura alcançando 27,4ºC e chuvas abundantes. A vegetação é do tipo Savana (gramíneo lenhosa) e o município está contido na Bacia do Alto Rio Branco. A cidade foi fundada em 1890 por um Decreto Estadual e suas primeiras ocupações são, principalmente, de nordestinos vindos do Maranhão e do Ceará, os quais recebiam porções de terra para cultivo agrícola, sendo esta uma das primeiras atividades do município. O estado de Roraima passou por um expressivo crescimento populacional entre 1950 e 2000 – de 17.247 para 324.397 hab. – acompanhado por intenso processo de urbanização. Na década entre 1991 e 2000, a taxa de crescimento média anual foi de 4,72%, em que a população do estado passou de 217.583 para 324.397 habitantes. A taxa de urbanização nesse período foi de 17,66%, passando de 64,72% para 76,15% 1 . Esse processo de urbanização foi mais patente na capital, que concentrou grande parte dessa população. Em contraste aos 324.397 mil hab. do estado em 2000, Boa Vista abrigava 197.098 hab, apenas de população urbana, conforme TAB 3. A presença indígena é marcante em todo o estado. Tem-se observado intensa migração desses de suas aldeias para Boa Vista, onde ocupam principalmente os bairros Raiar do Sol e Pintolândia. Dentre os motivos para o deslocamento, segundo uma pesquisa da Prefeitura de Boa Vista, o Diagnóstico Municipal Integrado (2003), destacam-se a busca por melhor instrução e por 1 Dados obtidos no diagnóstico da situação do município de Boa Vista, encomendado pela Prefeitura em 2003.

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Page 1: PD Boa Vista-avaliação

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REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS

Nome do pesquisador: Jéssica Moreira Mariquito Naime Silva E-mail e telefone de contato: [email protected] – (31) 9159.2010 Município: BOA VISTA Número da lei: Lei Complementar nº924 Data da aprovação do Plano Diretor: 28 de novembro de 2006 Estado: RORAIMA A. Informações gerais do município

1. Caracterização sócio-demográfica e econômica do município.

O estado de Roraima corresponde a 5,81% da superfície do país, ocupando 225.116,1 km2. A

capital Boa Vista faz parte da subdivisão Fronteira de Integração Continental da porção Ocidental

da Amazônia, onde se localizam os estados de Roraima, Acre e Amazonas. A Fronteira de

Integração Continental corresponde a uma porção do estado de Roraima de baixa densidade

demográfica, sendo atendida pela BR-174 que liga Manaus/Boa Vista à Venezuela. A posição

estratégica do estado e a ligação da capital a outras grandes cidades permitem negociações

comerciais vantajosas para Boa Vista, embora, ao mesmo tempo, sendo uma região fronteiriça,

necessite de rígido controle para segurança principalmente de populações indígenas.

Quanto às características físico-ambientais, Boa Vista está localizada na Formação Geomorfológica

Boa Vista, na zona de clima equatorial com médias altas de temperatura alcançando 27,4ºC e

chuvas abundantes. A vegetação é do tipo Savana (gramíneo lenhosa) e o município está contido

na Bacia do Alto Rio Branco.

A cidade foi fundada em 1890 por um Decreto Estadual e suas primeiras ocupações são,

principalmente, de nordestinos vindos do Maranhão e do Ceará, os quais recebiam porções de

terra para cultivo agrícola, sendo esta uma das primeiras atividades do município. O estado de

Roraima passou por um expressivo crescimento populacional entre 1950 e 2000 – de 17.247 para

324.397 hab. – acompanhado por intenso processo de urbanização. Na década entre 1991 e 2000,

a taxa de crescimento média anual foi de 4,72%, em que a população do estado passou de

217.583 para 324.397 habitantes. A taxa de urbanização nesse período foi de 17,66%, passando de

64,72% para 76,15%1. Esse processo de urbanização foi mais patente na capital, que concentrou

grande parte dessa população. Em contraste aos 324.397 mil hab. do estado em 2000, Boa Vista

abrigava 197.098 hab, apenas de população urbana, conforme TAB 3.

A presença indígena é marcante em todo o estado. Tem-se observado intensa migração desses de

suas aldeias para Boa Vista, onde ocupam principalmente os bairros Raiar do Sol e Pintolândia.

Dentre os motivos para o deslocamento, segundo uma pesquisa da Prefeitura de Boa Vista, o

Diagnóstico Municipal Integrado (2003), destacam-se a busca por melhor instrução e por

1 Dados obtidos no diagnóstico da situação do município de Boa Vista, encomendado pela Prefeitura em 2003.

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oportunidades de trabalho. A TAB 1 apresenta os números populacionais do estado e da capital,

por cor e sua respectiva porcentagem, em 2000. Observa-se que a maioria da população é parda e

boa parte é branca, tanto no estado de Roraima quanto em Boa Vista. A população indígena é

bem maior, proporcionalmente, no estado (8,67%) do que na capital (3,07%); tendência essa que

só é seguida pela população preta – 4,23 e 3,74% respectivamente.

Tabela 1- População residente, por cor e Porcentagem – 2000

Cor

Roraima Boa Vista

População % População

%

Branca 80.387 24,78 55.600 27,72

Preta 13.725 4,23 7.504 3,74

Amarela 455 0,14 275 0,14

Parda 199.661 61,55 130.295 64,96

Indígena 28.128 8,67 6.150 3,07

Total 324.397 100 200.568 100 Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000

A TAB 2 mostra a relação entre a população da capital e do estado, estratificada por cor. A capital

concentra grande parte da população do estado – 62%, média essa mantida para as demais

estratificações (69, 55, 60 e 65%). Diferentemente, Boa Vista abriga somente 22% da população

indígena de Roraima que, em relação às demais, ainda não é tão significativa. De qualquer forma,

a imigração de índios para a capital pode suscitar um debate sobre as políticas de apoio às tribos e

sua sobrevivência nas aldeias.

Tabela 2 - Percentual da População de Boa Vista em relação ao total da População do estado por cor – 2000

Cor %

Branca 69

Preta 55

Amarela 60

Parda 65

Indígena 22

Total 62 Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000

A.1.a – População urbana e rural e sua evolução nos últimos 27 anos

A cidade de Boa Vista no período de 1980 a 2007 quase quadruplicou sua população total,

passando de 67.017 a 249.853 habitantes. Ela adquiriu, assim, o status de cidade grande. Sua

população passou a ser majoritariamente urbana, diferentemente do quadro em 1980, quando o

tamanho da população rural ainda aproximava-se muito da urbana, como observado na TAB 3. Os

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dados indicam que os períodos de maiores taxas de crescimento populacional foram de 1980 a

1991 (7,22%) e de 1996 a 2000 (4,92%), fato observado principalmente em sua população urbana,

que apresentou taxas de crescimento respectivamente de 9,60% e 6,99%. A população urbana de

Boa Vista, nesses 27 anos analisados, passa de 43.854 para 246.156 habitantes, quintuplicando

seu número. A TAB 3 indica também que de 2000 a 2007 há uma pequena desaceleração no ritmo

de crescimento do município, tanto em sua população urbana quanto rural.

Tabela 3 – Boa Vista – População e evolução populacional – 1980 a 2007

Situação de

domicílio

1980 1991 ∆%

1980-1991

1996 ∆%

1991-1996

2000 ∆%

1996-2000

∆% 1991-2000 2007

∆% 2000-2007

População total

67.017 144.249 7,22

165.518 2,79

200.568 4,92

3,73

249.853

3,19

Urbana 43.854 120.157 9,60

150.442 4,60

197.098 6,99

5,65

246.156

3,23

Rural 23.163 24.092 0,36

15.076 -8,95

3.470 -30,74

-19,37

3.697

0,91

Fonte: Banco SIDRA – IBGE – http//www.sidra.ibge.org.br

A população rural merece destaque uma vez que os dados mostram sua expressiva queda nos

últimos 27 anos, passando de 23.163 para apenas 3.697 habitantes, embora tenham ocorrido dois

períodos de singelo crescimento, 1980-1991 e 2000-2007. O êxodo rural significativo e tardio, com

taxa de -30,74% entre 1996 e 2000, evidencia a necessidade de análises e investimentos das

potencialidades e dos problemas da urbanização acelerada de Boa Vista. No entanto, no último

espaço de tempo analisado, a população rural aparenta caminhar para um inexpressivo

crescimento, devendo este ser nos próximos anos criteriosamente observado.

A.1.b – Evolução da PEA por setor nos últimos 10 anos

A TAB 4 mostra a evolução da população ocupada de 1991 a 2000. Os dados indicam que houve

um aumento expressivo do percentual de ocupação nos setores de comércio de mercadorias,

prestação de serviços e administração pública, ocupando este último a maior parcela da

população em 2000, com 20,46%. Merece destaque também a queda nos valores da população

ocupada nos setores de atividades agropecuárias, de extração vegetal e pesca e em outras

atividades industriais, no período entre 1991 e 2000. Essas evidências permitem apontar para uma

mudança nas características da cidade de Boa Vista, que aliada ao aumento expressivo da

população urbana nesse período, novas atividades tipicamente urbanas passam a prevalecer,

transformando as estruturas econômicas da capital. Ao mesmo tempo, o aumento da população

ocupada no setor de administração pública permite inferir o fortalecimento do papel da capital na

hierarquia de cidades do estado de Roraima.

Page 4: PD Boa Vista-avaliação

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Tabela 4 – População ocupada, com 10 anos ou mais de idade, por setor de atividade e sexo

(em %) – Boa Vista – 1991 e 2000

Setor de ocupação 1991 2000

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Atividades agropecuárias, de extração vegetal e pesca 8,95 8,41 0,54 4,22 3,79 0,43

Indústria de transformação 4,47 3,94 0,53 5,00 3,93 1,07

Indústria da construção civil 7,81 7,43 0,38 8,36 8,09 0,26

Outras atividades industriais 23,36 22,56 0,80 1,91 1,49 0,42

Comércio de mercadorias 10,65 7,19 3,45 16,02 9,38 6,64

Transporte e comunicação 3,39 3,14 0,25 4,19 3,76 0,43

Serviços auxiliares da atividade econômica 1,64 1,23 0,41 2,50 1,48 1,02

Prestação de serviços 12,97 6,68 6,29 17,31 7,78 9,54

Social 11,89 3,61 8,28 11,86 3,80 8,07

Administração pública 12,71 8,08 4,63 20,46 10,93 9,53

Outras atividades 2,17 1,31 0,86 8,16 5,80 2,36

Total 100 74 26 100 60 40

Fonte: IBGE - Censo Demográfico 1991 e 2000

Na estratificação por sexo observa-se um aumento significativo da participação feminina,

principalmente nas atividades de comércio de mercadorias, prestação de serviços e administração

pública. A população ocupada masculina também aumentou nesses três setores, mas não de

forma tão expressiva. No entanto, de 1991 a 2000 ainda são os homens que aparecem com maior

percentual de ocupação: 74% e 60%, respectivamente. Em 1991, o setor de outras atividades

industriais era o maior responsável pela população ocupada (23,36%), principalmente a masculina

(22,56%), mas em 2000 esse percentual diminui drasticamente para 1,91% no total desse setor.

A.1.c – Estratificação da população por renda e sua evolução nos últimos 10 anos

Os dados da TAB 5, de pessoas ocupadas por classes de rendimento, indica uma evolução positiva

na renda da população de Boa Vista. A participação de pessoas sem rendimento diminuiu de 1991

a 2000, conforme os dados, embora com variações pequenas, passando de 47,27% para 40,01%.

No corte por gênero, as mulheres se destacaram. A proporção daquelas que não têm rendimento

caiu de 30,41% em 1991 para 24,49% em 2000 e, de outro lado, a participação das mulheres com

rendimento aumentou em relação a dos homens, como pode ser visto na comparação entre as

colunas referentes a 1991 e 2000. No entanto, as mulheres ainda aparecem com o maior

percentual, tanto em 1991 quanto em 2000, na classe sem rendimento.

Em 1991, as classes de salário que abrigavam maior percentual de pessoas ocupadas eram: mais

de 5 a 10 salários mínimos e mais de 1 a 2 salários mínimos, respectivamente com 12,09% e

11,71%. Em 2000, há um aumento significativo da segunda classe de rendimento supracitada,

atingindo 16,20% da população ocupada e aparecendo com o maior percentual. Em seguida, a

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classe mais de ½ a 1 salário mínimo e a classe mais de 5 a 10 salários mínimos, exibem os maiores

percentuais de PO. A segunda sofre uma leve queda na participação, de 12,09% para 10,05%,

nesse período. De 1991 a 2000 aumentou-se a porcentagem nas classes de rendimento até 2

salários mínimos e diminui a mesma nas classes de mais de 2 salários mínimos.

Tabela 5 – Pessoas de 10 anos ou mais, ocupadas, por classe de rendimento (em %) Boa Vista – 1991 e 2000

Classes de rendimento 1991* 2000*

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Até ¼ de salário mínimo 0,15 0,04 0,11 0,29 0,15 0,14

Mais de ¼ a ½ salário mínimo 1,08 0,44 0,64 1,26 0,64 0,62

Mais de ½ a 1 salário mínimo 4,29 2,64 1,66 10,66 4,68 5,97

Mais de 1 a 2 salários mínimos 11,71 7,79 3,92 16,20 8,90 7,30

Mais de 2 a 3 salários mínimos 8,86 6,52 2,34 8,41 5,08 3,33

Mais de 3 a 5 salários mínimos 9,82 7,06 2,76 8,27 5,28 2,99

Mais de 5 a 10 salários mínimos 12,09 9,36 2,73 10,05 6,38 3,68

Mais de 10 a 15 salários mínimos 2,74 2,22 0,52 2,24 1,40 0,84

Mais de 15 a 20 salários mínimos 0,86 0,71 0,15 1,16 0,77 0,39

Mais de 20 a 30 salários mínimos 1,13 0,97 0,16 0,75 0,49 0,27

Mais de 30 salários mínimos - - - 0,70 0,50 0,20

Sem rendimento 47,27

16,86

30,41

40,01 15,52 24,49

Fonte: IBGE - Censo Demográfico 1991 e 2000

* Salário min Cr$ 36.161,60 em 1991 * Salário min R$ 151,00 em 2000

Quanto à diferença na ocupação dos homens e das mulheres, vê-se que entre os nove anos

analisados a classe de rendimento em que há maior participação feminina continua sendo a de

mais de 1 a 2 salários mínimos, evidenciando a pequena participação da mulher no mercado de

trabalho qualificado. Entre os homens há uma queda no rendimento, uma vez que em 1991 a

classe de rendimento de maior ocupação masculina era a de mais de 5 a 10 salários mínimos e em

2000 passa a ser a classe mais de 1 a 2 salários mínimos.

Portanto, em Boa Vista, no período analisado, há um aumento do número de pessoas com

rendimento, embora: i) haja uma concentração de pessoas nas faixas menores de renda; ii) a

porcentagem da população com rendimento é de apenas 60% (em 2000); iii) permaneça uma

diferença significativa entre pessoas ocupadas do sexo masculino e feminino, indicando para

fortes desigualdades de gênero.

Assim, apesar do aumento do número de pessoas com rendimento, não houve considerável

aumento da riqueza no município. Dados apresentados pelo diagnóstico que antecedeu a

elaboração do PD, relativos a 2003, indicam que 58% da população de Boa Vista vivem abaixo da

linha da pobreza, sendo que destes, quase a totalidade vive na linha de indigência. A renda mensal

média de um trabalhador de Boa Vista está entre um e três salários mínimos, sendo que apenas

32,75% dos trabalhadores têm rendimento mensal superior a três salários mínimos.

Page 6: PD Boa Vista-avaliação

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A.1.d – Acesso aos serviços básicos de saneamento ambiental e bens de consumo

A TAB 6, de acesso a serviços básicos e bens de consumo, mostra uma melhoria nas duas variáveis,

no período de dez anos analisado. Os valores indicam que a melhora foi significativa, mas o

abastecimento e o pleno acesso aos bens e serviços ainda não alcançou 100% da população.

Dentre os serviços básicos, a energia elétrica obteve a menor taxa de evolução entre 1991 e 2000,

contudo é o serviço que atende à maior porcentagem de pessoas (98,8%), seguido pelo acesso à

coleta de lixo (91,5%) e água encanada (77,9%). Os valores salientam a importância de se investir

em melhores condições de acesso a serviços que dizem respeito à principalmente saúde da

população de Boa Vista.

Tabela 6 - Percentual de pessoas que vivem em domicílios com acesso a serviços básicos e bens de consumo – Boa Vista - 1991/2000

Indicadores 1991

(%)

2000

(%)

Água Encanada 67,9 77,9

Energia Elétrica 96,2 98,8

Coleta de Lixo 81,1 91,5

Telefone 36,3 54,3

Televisão 80,4 90,5

Geladeira 84,5 93,0

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil – PNUD, 2003

No caso do acesso a bens de consumo, variável que auxilia na análise do aumento da renda e na

diminuição da desigualdade socioeconômica, os valores também apontam para uma melhora. O

acesso ao telefone passa de 36,3% em 1991 para 54,3% em 2000, maior taxa de evolução. O

acesso à geladeira mantém-se em primeiro lugar em 1991 com 84% e em 2000, 93% de acesso,

respectivamente, seguido pela televisão com 80,4% evoluindo para 90,5% no ano 2000.

A.1.e - Déficit habitacional

Tabela 6 - Déficit Habitacional – Boa Vista – 2000

Situação déficit absoluto % do total de

domicílios domicílios vagos

Total 6.047 12 9.055

Fonte: Metrodata – Observatório das Metrópoles, 2000.

Como é recorrente em municípios brasileiros, o número de domicílios vagos em Boa Vista é maior

que o déficit absoluto em 3.008 unidades habitacionais no ano de 2000. Chama atenção o

percentual do déficit em relação ao total de domicílios existentes, de 12%.

Page 7: PD Boa Vista-avaliação

7

2. Tipologia municipal (PlanHab)

Boa Vista se enquadra na categoria C – Aglomerados e capitais prósperas do Norte e Nordeste.

3. Solicitar a prefeitura/câmara os diagnóstico/estudos que subsidiaram a elaboração do Plano Diretor, caso estes estejam disponíveis.

Os diagnósticos que subsidiaram a elaboração do PD foram utilizados nesta análise, e foram retirados do site da Prefeitura Municipal de Boa Vista, onde também se encontra o anteprojeto da Lei do PD, disponível em: http://www.boavista.rr.gov.br/produtos/index.html.

4. Verificar se o município já possuía Plano Diretor antes da elaboração deste.

Sim, a atual lei do Plano Diretor revoga o Plano anterior, de 6 de setembro de 1991, Lei Municipal nº244.

5. Ao final da leitura do Plano Diretor, com foco nos aspectos elencados nesse roteiro, solicita-se uma avaliação sintética, buscando refletir sobre o sentido geral do Plano, procurando responder às seguintes questões:

(i) Conteúdo: O Plano apresenta uma estratégia econômica/sócio-territorial para o desenvolvimento do município? Quais são os elementos centrais desta estratégia? Caso não apresente uma estratégia de desenvolvimento econômico/sócio/territorial, qual é o sentido do plano?

O Plano não apresenta uma estratégia econômica e sócio-territorial de desenvolvimento do município, apesar de o diagnóstico apontar para uma grande segregação socioespacial e elevados índices de pobreza. Foram previstos alguns programas que visam à dinamização econômica, mas tratam-se de ações mais pontuais, como o incentivo ao ecoturismo e às atividades agropecuárias. Não há uma relação mais sistemática dessas propostas com o território.

Não foram definidas ações para reversão do processo de segregação socioespacial, cuja face mais visível é a ausência de uma política habitacional e de regras para parcelamento e uso e ocupação do solo que visem ampliar a produção de moradias de habitação social. O déficit absoluto em 2000 era de 6.047 unidades (vide TAB 6) e o volume de migrações que vem recebendo a cidade, associado ao intenso processo de urbanização, conforme mostra o diagnóstico, apontam para um aumento da demanda por habitação e terra urbanizada.

Assim, apesar de o Plano apresentar boas propostas em termos de diretrizes, objetivos e ações estratégicas para as políticas setoriais do município não interagem a ponto de se configurar como uma proposta coesa de reversão dos processos negativos que afetam à população, e de representar um planejamento de longo prazo.

A política habitacional é um dos grandes pontos fracos desse plano. Pois, além de não terem sido definidas estratégias para ampliação do número de habitações sociais, não foi definido no macrozoneamento áreas ou zonais especiais de interesse social. Os pilares dessa política são a promoção de programas de regularização urbanística e fundiária, e a remoção de famílias de áreas ambientalmente frágeis, fato esse que se justifica por causa dos problemas de inundação e de serviço de drenagem urbana que afetam centralmente os mais pobres. Assim, apesar de a capacitação de mão-de-obra para a construção civil e o apoio à formação de cooperativas e outras formas de associativismo para a construção de habitações ser um dos objetivos da política habitacional, há um descolamento com a dimensão do território, já que não se garantiu de formas de aumentar a oferta de terra urbanizada e acessível.

Page 8: PD Boa Vista-avaliação

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Do ponto de vista do controle social sobre as políticas urbanas, o Conselho da Cidade de Boa Vista foi implantando, contemplado comitês técnicos para assessorar a elaboração e a execução das políticas setoriais do município. Apesar de não haver uma paridade entre sociedade civil e poder público, a sua composição tem potencial para garantir a efetividade do conselho como um órgão de gestão democrática e compartilhada das políticas. O Estatuto das Cidades lembra que nem sempre um conselho paritário é o ideal, pois pode provocar o seu esvaziamento em função do abandono desse instrumento por parte dos gestores. Nesse sentido, é importante que se garanta espaço para a participação de todos os segmentos da sociedade.

Vale ressaltar que o Plano foi elaborado à partir da análise constantes no diagnóstico prévio, que identificando os problemas, apresentou diversas ações possíveis para contorná-los. Essas recomendações foram, em larga medida, incorporadas pelo PD. Da mesma forma, a aprovação do PD suscitou a revisão das leis de parcelamento e de uso e ocupação do solo do município, aprovadas pela Câmara Legislativa Municipal na mesma data que o Plano Diretor. Essas leis, mais a lei que determina a incorporação do Conselho da Cidade na Estrutura Organizacional Básica do Poder Executivo, estão em consonância com as diretrizes do PD, que por sua vez incorpora diversos princípios definidos no Estatuto das Cidades.

(ii) Linguagem: Verificar se o plano traz um glossário ou um documento explicativo. Verificar se a linguagem predominante no plano é excessivamente técnica, dificultando sua compreensão pela população, ou se procura uma linguagem mais acessível.

Não constam anexos ou glossários explicativos no PD. Tais documentos não se mostram necessários, já que a linguagem utilizada no Plano é bastante acessível, de fácil compreensão. Ademais, o diagnóstico que subsidiou a elaboração do Plano apresenta de forma clara a relação entre os problemas e situações detectadas no município e as recomendações para tratá-los. Essas recomendações, em sua maioria, constam como diretrizes e ações para as políticas públicas municipais definidas no Plano Diretor.

(iii) Relação do Plano Diretor com o Orçamento Municipal. Verificar se o plano define prioridades de investimentos, relacionando-as ao ciclo de elaboração orçamentária subseqüente.

A única menção ao orçamento municipal no PD é que se busque garantir nos PPAs (Planos Plurianuais) a inclusão do Programa de implementação do Plano Diretor.

(iv) Relação entre o Plano Diretor e o PAC ou outros grandes investimentos. Caso o município seja atingido por algum investimento importante em infra-estrutura de logística/energia, avaliar se o Plano diretor leva em consideração estes investimentos e seus impactos.

Não consta no PD de Boa Vista referência aos investimentos do PAC.

Um grande investimento previsto no município é a construção do Anel Viário, mencionado no diagnóstico e no Plano Diretor. Trata-se de uma alça viária que objetiva retirar o tráfego pesado da BR-174 que passa pelo centro da cidade. No PD consta a elaboração de EIA/RIMA, com prazo para conclusão, e a elaboração de normas para o uso e para a implantação de atividades ao longo da via. No diagnóstico estão relacionados os problemas que envolvem a construção desse anel, que parecem ser maiores caso ele não seja construído de fato.

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B. Acesso à terra urbanizada I. A Função Social da Propriedade

1. O Plano estabelece como objetivo ou diretriz o cumprimento da função social da propriedade? De que forma?

Não foi estabelecido como objetivo ou diretriz, especificamente, o cumprimento da função social da propriedade. Entretanto, algumas diretrizes estabelecidas no PD, bem como instrumentos de política urbana, estão voltados para o cumprimento da função social da propriedade, tais como a determinação de ocupar os vazios urbanos em áreas com melhor infra-estrutura (art. 49, inciso IV), e a aplicação de Parcelamento e Edificação Compulsórios e do IPTU Progressivo.

Além disso, em diversos trechos da lei do PD de Boa Vista remete-se às determinações constantes no Estatuto das Cidades como balizadoras para a aplicação das diretrizes e instrumentos que esta lei prevê.

II. Controle do Uso e Ocupação do Solo

1. O Plano estabelece macrozoneamento? Da zona urbana e rural?

Sim, o Macrozoneamento do município divide o seu território em Área Urbana e Área Rural.

2. Estão definidos os objetivos do macrozoneamento? Quais?

Sim, são eles:

I - priorizar a utilização sustentável dos recursos naturais e dos serviços gerados pelo meio ambiente;

II - incentivar as atividades agrícolas, em especial as dos setores hortifrutigranjeiros;

III - evitar os processos erosivos do solo, a superexplotação e a contaminação dos mananciais hídricos superficiais e subterrâneos, bem como a poluição atmosférica;

IV - proteger e conservar a diversidade da fauna e flora nativa do enclave savânico do Estado de Roraima no âmbito do município de Boa Vista;

V - compatibilizar a expansão urbana com a proteção do patrimônio ambiental do município e com os condicionantes dos meios físico e biótico.

3. O macrozoneamento está demarcado em mapas? Delimitado por perímetros?

Segundo consta no PD, o macrozoneamento está delimitado em mapa, o qual é um anexo da lei municipal que dispõe sobre o Plano Diretor. Entretanto, não obtivemos acesso ao referido mapa.

4. Além do Macrozoneamento o plano estabelece alguma outra forma de regulação do uso e ocupação do solo ou remete a uma revisão/elaboração de lei de uso e ocupação do solo?

O Macrozoneamento Urbano definido no PD de Boa Vista delimita apenas grandes áreas e suas funções, remetendo à lei de uso e ocupação do solo (no art. 29) a função de dispor sobre a subdivisão da Área Urbana em zonas e sobre os parâmetros urbanísticos que incidirão sobre as mesmas.

A referida lei (Lei Municipal nº926 de 28 de novembro de 2006), aprovada juntamente com a lei

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do Plano Diretor, revoga a lei anterior de mesma temática, em vigência desde 1991. Esta nova lei de uso e ocupação do solo representa uma revisão da lei anterior, encampando as determinações constantes no novo Plano Diretor de 2006.

Essa lei de uso e ocupação define da seguinte forma a divisão da Área Urbana do município:

A Área Urbana Parcelada (AUP), definida pelo PD, subdivide-se em:

i. Zona Central (ZC); ii. Zonas Residenciais (ZRs); iii. Eixos Comerciais e de Serviços (ECSs); iv. Zona Industrial (ZI); v. Zonas Institucionais (ZILs).

A Área Urbana de Expansão (AUE), também definida pelo PD, subdivide-se em duas áreas descontínuas:

i. AUE1, que se destina à implantação de novos loteamentos e cemitérios; ii. AUE2, de interesse funcional, com vistas à implantação de equipamentos de porte médio e grande, como garagens, galpões e indústrias.

Em relação ao zoneamento ambiental, o art. 7º, inciso III, prevê a criação de um Sistema Local de Unidades de Conservação da Natureza, que tem por objetivo proteger o patrimônio ambiental do município, conectando essas unidades a outras áreas de preservação de municípios vizinhos. Enquanto essas unidades não forem definidas, o referido artigo determina que qualquer projeto ou obra que venha a interferir sobre o patrimônio ambiental deverá ser submetido à avaliação da Secretaria Municipal de Gestão Ambiental e Assuntos Indígenas.

III. Perímetro Urbano e Parcelamento do Solo

1. O Plano estendeu (ou diminuiu) o perímetro urbano? Criou alguma regra para a extensão do perímetro? Qual?

Não está claro se houve ou não a extensão/diminuição do perímetro urbano. O art. 22, que dispõe sobre a matéria, apenas menciona que está entre as diretrizes para a promoção do ordenamento territorial e estruturação urbana “a redefinição dos limites do perímetro urbano” (inciso I), sem definir se isso já foi feito pelo Macrozoneamento proposto no Plano Diretor.

2. O plano incluiu regras para o parcelamento do solo urbano ou remeteu para legislação específica? Criou regras específicas para parcelamento de interesse social?

O PD remete à lei municipal específica para definir as regras de parcelamento do solo urbano – Lei nº925 de 28 de novembro de 2006, a qual foi sancionada e promulgada concomitantemente à lei do PD. Seu art. 1º, § único, determina que os parâmetros contidos nessa lei devam obedecer às normas previstas no Plano Diretor e na lei de uso e ocupação do solo (Lei Municipal nº926/2006).

O art. 43 da lei de parcelamento do solo admite a possibilidade de haver lotes com dimensões inferiores àquelas estabelecidas pela lei de uso e ocupação em: Áreas de Interesse Social (AEIS), quando se mostrar inviável a regularização fundiária dentro dos parâmetros da lei (inciso II); e em programas habitacionais de interesse social (inciso III). No que se refere à regularização de parcelamentos do solo já estabelecidos, o art. 64, § 2º, determina que a regularização de parcelamento do solo em AEIS deverá obedecer a regras específicas, estabelecidas na lei que reger sobre a questão.

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3. Identificar a previsão de área de expansão urbana e sua definição.

No Macrozoneamento Urbano está prevista a Área Urbana de Expansão (AUE), a qual se subdivide em duas áreas descontínuas:

i. AUE1, que se destina à implantação de novos loteamentos e cemitérios; ii. AUE2, de interesse funcional, com vistas à implantação de equipamentos de porte médio e grande, como garagens, galpões e indústrias.

4. Verificar se o plano estabelece que os novos loteamentos devem prever percentuais para área de habitação de interesses social.

Não, o PD e a lei de parcelamento não apresentam definições quanto à reserva de percentuais para habitação de interesse social em loteamentos novos. A lei de uso e ocupação do solo não apresenta maiores definições sobre os parâmetros para a ocupação das Áreas Urbanas de Expansão além daquelas apresentadas na questão anterior (B-III-3).

IV. Coeficientes e Macrozonas:

1. Verificar quais são os tipos de zona e/ou macrozonas definidos no Plano.

O PD define que o território municipal divide-se em Área Rural e Área Urbana (art. 16).

A Área Rural se subdivide em (art. 17):

i. Zona Agrícola de Uso Intensivo (ZAUI); ii. Zona Agrícola de Uso Controlado (ZAUC); iii. Zona Ambiental de Proteção Integral (ZAPI); iv. Terra Indígena.

A Área Urbana se subdivide em (art. 24):

i. Área Urbana Parcelada (AUP), que por sua se subdivide em: a) Área Urbana Consolidada (AUC); b) Área Urbana em Processo de Consolidação 1 (APC1); c) Área Urbana em Processo de Consolidação 2 (APC2).

ii. Área urbana de Expansão (AUE), que por sua se subdivide em: a) Área urbana de Expansão 1 (AUE1); b) Área urbana de Expansão 2 (AUE2).

2. Definição de coeficientes de aproveitamento básico e máximo (se não forem definidos esses coeficientes, verificar quais são os parâmetros utilizados para o controle do uso e ocupação do solo).

A lei de uso e ocupação do solo (Lei Municipal nº926/2006) apresenta em seu art. 3º, inciso VII, a seguinte definição de coeficiente de aproveitamento do terreno (CAT): “relação entre a área edificada, excluída a área não computável, e a área do lote onde se implanta a edificação”. Não constam outras definições, como aproveitamento básico e máximo. Essa lei apresenta os seguintes coeficientes de aproveitamento do terreno (CAT) para as zonas estabelecidas na Área Urbana Parcelada:

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Subdivisões da AUP – Área Urbana Parcelada

Subzonas CAT

Zona Central ZC1 liberado

ZC2 1,5

Zonas Residenciais

ZR1 2

ZR2 1,5

ZR3 1,5

ZR4 1,5

Eixos Comerciais e de Serviços ECS obedecem aos critérios da zona em que estão localizados

Zona Industrial ZI 2

Zonas Institucionais ZIL obedecem a parâmetros urbanísticos específicos de acordo com suas características próprias

3. Definição do que é subutilização, não utilização e terreno vazio.

O PD, no art. 32, apenas define imóvel subutilizado genericamente como o “imóvel urbano que não apresentar uso e/ou construção em áreas dotadas de infra-estrutura”. Não apresenta outras definições e remete à lei municipal específica para definir o parcelamento, a edificação e a utilização compulsórios de solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado.

4. Definição de como se calculam os coeficientes de aproveitamento.

O art. 8º, § 1º, da lei de uso e ocupação do solo (Lei Municipal nº926/2006) define que “para o cálculo do coeficiente de aproveitamento do terreno (CAT) considera-se a área total construída, excetuando-se: subsolo, quando totalmente enterrado; áreas de recreação e lazer não cobertas e permeáveis”.

5. Definição das macrozonas e/ou zonas e seus coeficientes e/ou parâmetros de utilização.

A lei de uso e ocupação do solo (Lei Municipal nº926/2006) apresenta parâmetros de utilização apenas para as zonas que são partes da Área Urbana Parcelada (AUP), quais sejam: tamanho mínimo e testada mínima do lote, coeficiente de aproveitamento do terreno, altura máxima da edificação; número máximo de pavimentos, taxa de ocupação máxima do terreno, afastamento da edificação; taxa de permeabilidade mínima do terreno e usos compatíveis.

Não constam na referida lei os critérios de uso e ocupação do solo para a Área Urbana de Expansão (AUE1 e AUE2).

6. Identificar o estabelecimento de zoneamento e políticas específicas para as áreas centrais e sítios históricos.

A Zona Central está demarcada pelo Macrozoneamento Urbano estabelecido pelo PD, e é composta por duas subzonas (setores 1 e 2), definidas pela lei de uso e ocupação do solo. Para cada uma delas foram estabelecidos parâmetros de uso e ocupação específicos, citados na questão B-IV-5 acima.

Entretanto, não constam no PD políticas específicas para áreas centrais e sítios históricos, restringindo-se essa lei a reafirmar genericamente o intuito de valorizar o patrimônio cultural do município (art. 71), sem a definição de diretrizes, objetivos e metas para tal.

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Dentre os instrumentos de política urbana previstos no PD (art. 30), apesar de não haver definições específicas para seu uso, alguns podem ter sua aplicação diretamente relacionada com a preservação do patrimônio histórico, como é o caso da desapropriação (inciso III), do “tombamento e inventário dos imóveis, conjuntos urbanos, sítios urbanos ou rurais (inciso IV), e a “avaliação de impacto ambiental e relatórios de impacto ambiental” (inciso VII).

O direito de preempção, previsto em subseção específica, pode ser exercido quando o poder público necessitar de proteger áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico, conforme determina o art. 37, inciso VIII.

7. Identificar o estabelecimento de zoneamento específico para áreas de proteção ambiental.

No Macrozoneamento Municipal definido pelo PD, consta a delimitação da Zona Ambiental de Proteção Integral (ZAPI) que, segundo o art. 21, está definido em planta que é documento anexo ao PD. Contudo, não obtivemos acesso à referida planta do Macrozoneamento. Os limites das macrozonas, por sua vez, deverão ser descritos em lei ordinária, segundo este mesmo art. 21.

Além disso, o art. 6º, inciso I, define como diretriz estratégica para a qualificação ambiental do município de Boa Vista “a preservação, a proteção, a recuperação e a valorização do patrimônio ambiental”. O art. 8º do PD apresenta os territórios considerados como patrimônio ambiental de Boa Vista, quais sejam:

I - os corpos hídricos perenes e intermitentes e suas respectivas áreas de Preservação Permanente - APP, definidas pela Lei Federal 4771 datado de 15 de setembro de 1965, Código Florestal;

II - as faixas marginais de proteção dos igarapés, das lagoas e dos rios, com exceção apenas da orla do rio Branco, dentro do perímetro urbano, nos bairros 13 de Setembro, Calungá, Francisco Caetano Filho, Centro, São Pedro, Canarinho e Caçari, já consolidados;

III - os mananciais, especialmente aqueles que compõem as sub-bacias dos igarapés Água Boa de Cima e Água Boa;

IV - as formações pioneiras dos lagos e banhados;

V - os remanescentes das diversas fisionomias do ecossistema savana, em área urbana ou rural;

VI - as formações florestais;

VII - as áreas verdes públicas ou particulares, existentes na cidade, sobretudo quando constituída por espécies nativas;

VIII - os morros da região de Monte Cristo;

IX - a Serra da Moça, do Murupu, da Nova Olinda, de Santa Fé, do Flecha e o Morro do Truaru;

X - a Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN Maní, localizada na região de Monte Cristo;

XI - os habitats naturais das espécies da fauna regional ameaçadas de extinção, cuja ocorrência no território do município foi identificada através do censo preliminar, elaborado como subsídio a este Plano Diretor.

V. ZEIS Não consta no Macrozoneamento do município a delimitação de ZEIS. A referência a tais áreas é feita de forma genérica no art. 26, que determina que na Área Urbana Parcelada (AUP) serão definidas as áreas prioritárias para fins de regularização fundiária e urbanística, as quais serão

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então declaradas como Áreas de Especial Interesse Social (AEIS).

As AEIS são entendidas pelo PD de Boa Vista apenas como instrumento para a promoção de programas de regularização fundiária e urbanística, tal como demonstram as seções que tratam da Política Habitacional e dos Instrumentos de Regularização Fundiária (Capítulo VI, seções I e II), e não como um mecanismo de garantia do acesso à terra urbanizada e acessível a equipamentos públicos para a população de baixa renda na produção de futuras unidades habitacionais. É patente dessa questão o fato de não haver a previsão de instauração de AEIS nas Áreas Urbanas de Expansão e nem a preocupação de garantir áreas para habitação de interesse social em novos parcelamentos.

Não constam outras definições acerca da aplicação dessas AEIS, tais como população que acessa os projetos habitacionais nessas áreas, as tipologias habitacionais ou a remissão para lei específica para regulamentar a sua aplicação. Tampouco há definições quanto a investimentos em equipamentos sociais nas AEIS.

VI. Avaliação geral do zoneamento em relação ao acesso à terra urbanizada.

1. Qual o significado do zoneamento proposto sob o ponto de vista do acesso à terra urbanizada? (ou seja, procure avaliar o zoneamento, buscando identificar em que porções do território, de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo zoneamento se favorece o acesso à terra urbanizada pelas classes populares ou, pelo contrário, se favorece a utilização das áreas pelos empreendimentos imobiliários voltados para classes médias e altas). Para fazer esta leitura, atentar para as seguintes características: tamanhos mínimos de lote, usos permitidos (incluindo possibilidades de usos mistos na edificação) e possibilidade de existência de mais de uma unidade residencial no lote.

Pode-se concluir que o PD de Boa Vista não apresenta uma preocupação sistemática com a moradia popular e com o acesso a terra urbanizada para habitação de interesse social. Em se tratando de viabilizar esse tipo de habitação, o plano prevê apenas programas de regularização fundiária, em que o foco é apenas “remediar” o que já foi produzido. Para isso, está prevista a instauração de AEIS em áreas degradas e o uso do instrumento direito de preempção.

Não estão previstos instrumentos, diretrizes ou programas que visem aumentar a oferta de terra urbanizada para acompanhar a demanda crescente por habitação. Não está prevista a destinação de áreas para HIS nos novos parcelamentos e nem na área de expansão urbana. Isso se configura em problema, tendo em vista o déficit absoluto de 6.047 unidades habitacionais em 2000, o que representa 12% do total de domicílios vagos (vide TAB 6).

A lei de uso e ocupação (Lei Municipal nº926/2006) flexibiliza o tamanho padrão do lote, que pode chegar até a 250m² de área nos casos de AEIS, quando se mostrar inviável a regularização fundiária dentro dos parâmetros da lei; e em programas habitacionais de interesse social. Mas como não foram definidas áreas específicas para HIS no zoneamento, não há uma vinculação legal que garanta terra urbanizada para essa finalidade. Nesse caso, a destinação de áreas para HIS depende de decretos do Poder Executivo, ficando essa questão sujeita à dinâmica política que envolve a prefeitura municipal e à correlação de forças entre o executivo e os movimentos organizados da sociedade.

2. Avaliar este zoneamento do ponto de vista quantitativo (percentual do território urbanizável destinado ao território popular frente ao percentual de população de baixa

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renda no município) e qualitativo (localização deste território no município).

Como os territórios destinados a HIS não foram definidos pelo zoneamento, não é possível determinar qual a parcela do território que abriga casas populares e a sua localização. A ausência dessa destinação de áreas urbanizadas é especialmente grave em face da conhecida pobreza do município, em que 40% da população não apresentava rendimentos em 2000, e outros 36,82% ganhavam até 3 salários mínimos (vide TAB 4). Assim, apenas os mecanismos de mercado não são suficientes para garantir o acesso de grande parcela da população ao mercado formal de terras.

VII. Instrumentos de Política Fundiária

INSTRUMENTOS Como se aplica¹ Onde se aplica² Quando se aplica³

Edificação/ Parcelamento Compulsórios

O art.31 remete à lei municipal específica para determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, a qual deve fixar condições e prazos para sua aplicação.

O § único do art.31 define apenas de forma genérica que “são consideradas áreas urbanas prioritárias para aplicação deste instrumento aquelas definidas na planta de Macrozoneamento Urbano”, à qual não obtivemos acesso.

Lei municipal específica deverá fixar os prazos (vide art.31).

IPTU Progressivo no Tempo

O art. 33 prevê que o IPTU Progressivo será aplicado no caso de descumprimento das condições e prazos para parcelamento, edificação ou utilização compulsórios nos termos da lei específica que dispor sobre o instrumento, cuja elaboração está prevista no art. 34.

As áreas passíveis de aplicação deste instrumento estão relacionadas àquelas onde incide o Parcelamento e Edificação Compulsórios.

A alíquota deverá ser majorada pelo prazo de cinco anos consecutivos, observando o disposto em lei específica. No caso de a obrigação não ser cumprida no prazo de cinco anos, manter-se-á a cobrança da alíquota máxima até que se cumpra o determinado (art.35), e fica facultado ao município proceder à desapropriação do imóvel com pagamento em títulos da dívida pública (art.36).

Outorga Onerosa

Não está previsto no PD. - -

Operação Interligada

Não está previsto no PD. - -

ZEIS – Zonas de Especial

Interesse Social

A utilização de AEIS como instrumento de política fundiária está prevista pelo art.51, inciso I. Não há, contudo, outras definições sobre a sua aplicação, a não ser aquela que menciona que as áreas prioritárias à regularização fundiária são passíveis de serem decretadas como AEIS. Como não há a remissão para lei que o regulamente, o instrumento é auto-aplicável.

Segundo o art.26, é na Área Urbana Parcelada (AUP) que serão definidas as áreas prioritárias para fins de regularização fundiária e urbanística e as áreas prioritárias para a recuperação e proteção ambiental.

Não foram definidos prazos e nem a remissão para lei específica.

Operação Urbana

Consorciada

Não está previsto no PD. - -

Transferência do Direito de Construir

Não está previsto no PD. - -

EIV – Estudos de Impacto de Vizinhança

Este instrumento não está previsto na lei do PD, mas sim na lei de uso e ocupação do solo (Lei Municipal nº926/2006). Seu art.35 determina que o EIV é obrigatório para o licenciamento de empreendimento ou atividades potencialmente causadores de impacto ao meio ambiente urbano, nos procedimentos

I - casas noturnas; II - edificações com área útil principal igual ou superior a 5 mil m²; III - estacionamento ou garagem para mais de 100 veículos; IV - hospital; V - hotel com área de terreno igual ou superior a mil m²; VI - templo e local de culto em geral; VII - atividades e instalações especiais, conforme definidas em anexo da

O órgão municipal competente deverá fixar os prazos para a realização de medidas mitigadoras ou compensatórias aos danos ambientais causados, estando o licenciado sujeito à pena de: multa, a ser definida pelo município; embargo da obra ou suspensão das atividades, após 30 dias do decurso do prazo

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administrativos de licença ou autorização para obra de construção, ampliação ou modificação destinada a abrigar uma das atividades previstas pelo art.36, descritas na coluna à direita. A realização do EIV não elimina a necessidade do EIA (art. 35, §único), a não ser nos casos em que a autoridade competente desobrigar (art.39). O Município poderá condicionar a validade da licença do empreendimento ou atividade sujeita ao EIV ao cumprimento de medidas mitigadoras e compensatórias que atenuem os impactos ambientais (art.37). O instrumento é auto-aplicável, pois depende apenas da execução pelo órgão do executivo municipal competente.

referida lei; VIII - outros serviços e comércios que importem em edificações com área útil igual ou superior a 150 m²; IX - atividades industriais; X - edificações com destinação institucional; XI – Cemitério (art.36).

para cumprimento da obrigação ou da descontinuidade na manutenção da medida exigida (art.37). O EIV apresentado, após aceito para análise pelo setor municipal competente, deverá ficar à disposição para consulta por qualquer interessado pelo prazo mínimo de 30 dias (art.42). O prazo para expedição de licença ou autorização com a exigência de EIV é de 60 dias (art.46).

CUEM -Concessão de Uso Especial

para Moradia

Tal qual estipula o texto legal do EC, o art.53 do PD determina que o Executivo deverá outorgar àquele que possuir como seu imóvel público municipal de até 250 m², situado em área urbana, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, título de Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia em relação à referida área, desde que não seja proprietário ou concessionário de outro imóvel urbano ou rural. Os §3º ao 6º do referido artigo determinam que: a CUEM poderá ser solicitada de forma individual ou coletiva; quando de interesse da comunidade, as atividades econômicas locais vinculadas à moradia, como pequenas atividades comerciais, indústria doméstica, artesanato, oficinas de serviços não poluentes devem ser mantidas; extinta a CUEM, o Poder Público recuperará o domínio pleno do terreno; é responsabilidade do Poder Público promover as obras de urbanização nas áreas onde foi obtido título de CUEM. O art.57 reveste o Executivo da competência de prestar orientação técnica, urbanística, jurídica e social a indivíduos, entidades, grupos comunitários e movimentos na área de Habitação de Interesse Social, para a garantia da moradia digna. Esse instrumento depende apenas de outorga do executivo, sendo, portanto, auto-aplicável.

A aplicação desse instrumento não está vinculada a sua localização no território municipal, e sim à condição de uso do imóvel urbano, tal como especificado na coluna à esquerda. O §1º do art.53 faculta ao Executivo assegurar o exercício do direito de concessão de uso especial para fins de moradia, individual ou coletivamente, em local diferente daquele que gerou esse direito, nas hipóteses de: I - área de risco cuja condição não possa ser equacionada e resolvida por obras e outras intervenções; II - área de uso comum do povo com outras destinações prioritárias de interesse público, definidas no PD; III - área de comprovado interesse da defesa nacional, da preservação ambiental e da proteção dos ecossistemas naturais; IV - área destinada a projeto de urbanização; V - área situada em via de comunicação.

O art. 53 determina que o Executivo deve outorgar a CUEM aos chefes de família que possuirem como seu imóvel urbano com fins de moradia até data da publicação da presente lei. Não há menção ao uso deste instrumento no período que se sucederá à promulgação da lei do PD.

Direito de Superfície

Não está previsto no PD. - -

Direito de Preempção

O art. 37 reproduz o texto legal do EC ao conceder ao poder público municipal a preferência, pelo prazo de cinco anos, para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares para as seguintes finalidades: regularização fundiária; execução de programas e projetos habitacionais de interesse social; constituição de reserva fundiária; ordenamento e

O art.42 remete à lei municipal específica para definir as áreas sobre as quais incidirá o direito de preempção. Portanto, ele não é auto-aplicável. O art. 56 determina que o Executivo poderá exercer o direito de preempção visando garantir áreas necessárias para regularização fundiária, nos termos da lei do EC.

O Executivo deverá notificar o proprietário do imóvel localizado em área delimitada para o exercício do direito de preempção no prazo de 30 dias a partir da lei que o delimitou. No caso de existência de terceiros interessados na compra do imóvel nas condições mencionadas no caput, o proprietário deverá comunicar, imediatamente, ao órgão municipal competente, sua intenção de alienar

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direcionamento da expansão urbana; implantação de equipamentos comunitários; criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes; criação de unidades de conservação da natureza ou proteção de outras áreas de interesse ambiental; proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico.

onerosamente o imóvel (art. 38, §1º). Recebida a notificação a que se refere o artigo anterior, o Executivo municipal deverá manifestar, expressamente, dentro do prazo legal, o interesse ou desinteresse de exercer a preferência para aquisição do imóvel (art.40).

Observações: (1) Como se aplica – fazer uma descrição sucinta do funcionamento do instrumento. (2) Onde se aplica – identificar a relação com o zoneamento ou macrozoneamento. (3) Quando se aplica – verificar se a aplicação ocorre a partir da data de aprovação do plano; se há prazo para regulamentação; ou se há outras definições.

Além dos instrumentos especificados no quando acima, estão também previstos no PD, no art. 30: a desapropriação; o tombamento e inventário de imóveis, conjuntos urbanos, sítios urbanos ou rurais; usucapião especial de imóvel urbano; e EIA/RIMA. Entretanto não há quaisquer definições a respeito de sua aplicação. Esses instrumentos foram previstos para serem utilizados “para o planejamento, gestão e promoção do desenvolvimento urbano” em Boa Vista.

Os seguintes instrumentos têm sua aplicação definida para casos específicos. Conforme definido pelo art. 51, eles tem seu uso relacionado a ações de “regularização urbanística e fundiária, dos assentamentos precários, conjuntos habitacionais e loteamentos irregulares, localizados em áreas adequadas à moradia”:

I - criação de Áreas de Especial de Interesse Social - AEIS; II - concessão do direito real de uso; III - a concessão de uso especial para fins de moradia; IV - usucapião especial, individual ou coletivo, de imóvel urbano; V - direito de preempção; VI - assistência técnica urbanística, jurídica e social, gratuita; VII - desapropriação individual ou coletiva de interesse público.

C. Acesso aos serviços e equipamentos urbanos, com ênfase no acesso à habitação, ao saneamento ambiental e ao transporte e à mobilidade. I – O Plano Diretor e a Integração das Políticas Urbanas Buscar-se-á avaliar a existência de uma abordagem integrada das políticas urbanas através dos seguintes aspectos:

1. Definições, diretrizes e políticas que expressem essa abordagem integrada.

Dentre as diretrizes definidas para as políticas setoriais, para a política de habitação encontra-se a seguinte: “promover intervenções habitacionais integradas a outros programas sociais, ambientais e de geração de trabalho e renda” (art. 50, inciso II).

Referente ao Sistema de Planejamento e Gestão Municipal, tem-se como estratégia para fortalecer esse sistema “promover maior integração e articulação entre os programas e ações desenvolvidas pelos órgãos e entidades municipais, estaduais e federais, especialmente com os municípios vizinhos”; e “melhorar a integração intersetorial entre os órgãos da administração municipal” (art. 73, incisos I e II).

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Algumas políticas setoriais são, por natureza, mais integradas a outras, como é o caso, por exemplo, de saneamento ambiental e meio ambiente; meio ambiente e política indígena (haja vista que o órgão que cuida dessa temática denomina-se Secretaria Municipal de Gestão Ambiental e Assuntos Indígenas); política habitacional e meio ambiente, principalmente no que se refere a loteamentos localizados em áreas de risco e de proteção ambiental, dentre outras. Assim sendo, as diretrizes definidas no PD para as políticas setoriais refletem, de certa forma, essa integração, seja pela sua disposição no PD ou pelos instrumentos de política urbana a serem utilizados para atender mais de uma política. Entretanto, não constam outras diretrizes que afirmem explicitamente a busca por essa integração, e sim a criação de um instrumento que a promova, conforme questão abaixo.

2. A criação de programas e a instituição de instrumentos visando a integração das políticas urbanas.

Como mecanismo de integração entre as políticas urbanas, poderão ser criadas Áreas de Integração Setorial (AIS), que fazem parte do Sistema de Planejamento e Gestão Municipal. Essas AIS participarão do planejamento, do acompanhamento e monitoramento das políticas públicas, e abrangem, preferencialmente, os seguintes temas (art. 75): I - Desenvolvimento Institucional e Gestão Democrática; II - Desenvolvimento Social e Cidadania; III - Desenvolvimento Econômico; IV - Desenvolvimento Urbano e Ambiental; V - Desenvolvimento Cultural.

Segundo o art. 75, § 1º, “as Áreas de Integração Setorial, quando criadas, serão constituídas por órgãos e entidades da Administração Municipal, direta e indireta, cuja atuação se dê sobre temas correlatos, podendo inclusive um mesmo órgão integrar mais de uma Área de Integração Setorial”.

3. Identificar eventuais contradições e dicotomias entre as definições e instrumentos relativos às políticas setoriais previstas no Plano.

Não foram identificas contradições ou dicotomias.

II – O Plano Diretor e a Política de Habitação Buscar-se-á identificar:

1. A existência de diagnóstico identificando a situação habitacional do município, com ênfase nas desigualdades sociais nas condições de moradia e no déficit habitacional. Identificar se essa avaliação incluiu levantamentos específicos ou se o plano prevê a elaboração de cadastros de moradias precárias.

Apesar de o diagnóstico de Boa Vista, documento que antecedeu a elaboração do Plano Diretor, conter capítulos específicos sobre saneamento, transporte e mobilidade, fauna, flora e geomorfologia do território municipal, não há uma seção dedicada à questão habitacional. No que capítulo que analisa os indicadores socioeconômicos e a estrutura urbana da cidade, há uma seção denominada Estrutura Urbana Atual que apresenta um breve panorama da situação habitacional no município, contido em apenas dois parágrafos.

Segundo o diagnóstico, a estrutura urbana de Boa Vista apresenta elevada segregação espacial, decorrente implantação de conjuntos habitacionais e loteamentos que induziram os vetores de expansão para áreas ambientalmente frágeis e, portanto, inadequadas para a ocupação. Aponta-se para a concentração de equipamentos urbanos na área central da cidade, o que indica que a

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acessibilidade a serviços essenciais para os moradores de regiões periféricas é ruim, o que afeta centralmente os mais pobres. Nesse caso, o princípio do direito à cidade está sendo descumprido.

Outro ponto destacado pelo diagnóstico é o fato de a cidade possuir alto percentual de imóveis residenciais, sem, contudo, apontar quantos deles estão desocupados e qual o déficit habitacional. Essa informação está solta no texto do diagnóstico, sem que sejam discutidos quaisquer outros pontos relacionados ao mercado de habitações ou à política habitacional.

Assim, a ausência do tratamento da questão habitacional no diagnóstico e a precariedade das diretrizes para essa política definidas no PD nos aponta para o descaso da Prefeitura em relação a esse problema. Problema esse que se agrava ainda mais no contexto de intenso processo de urbanização, haja vista as migrações que a cidade vem recebendo, especialmente com o deslocamento de populações indígenas para Boa Vista, e o déficit habitacional acumulado, que em 2000 era de 6.047 unidades habitacionais, que representavam 12% do total de domicílios vagos (vide TAB 6).

2. As diretrizes estabelecidas para a política de habitação.

Dentre as diretrizes para a política habitacional de Boa Vista, definidas no art. 50, destacam-se: adotar tratamento diferenciado para as diversas situações habitacionais, inclusive para as diferentes formas de risco das moradias; resgatar áreas institucionais para o uso público de interesse coletivo; ampliar e melhorar a infra-estrutura básica dos loteamentos ocupados, principalmente no que diz respeito ao esgotamento sanitário e drenagem pluvial; incentivar e apoiar a formação de cooperativas e demais formas de associativismo para construção de empreendimentos habitacionais; apoiar outras formas não convencionais de produção da moradia, como autoconstrução e mutirão; implantar sistema de fiscalização descentralizado para controle da ocupação urbana e preservação municipal; adotar práticas de gestão participativa e transparente para a política habitacional, tais como a implantar o Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista.

Constam entre as diretrizes para a política habitacional a reestruturação do setor habitacional do município e a adesão ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social, o que pode indicar uma mudança de rumos nas práticas que vinham sendo adotadas neste setor do município.

3. A definição de objetivos (e o grau de concretude dos mesmos) e o eventual estabelecimento de metas concretas.

O art. 49 apresenta os objetivos da política habitacional de Boa Vista, quais sejam: atuar nas áreas de risco e preservação ambientais ocupadas por habitações; promover a regularização fundiária e urbanística de loteamentos e conjuntos habitacionais; conter o processo de ocupação irregular; ocupar vazios urbanos em áreas onde haja melhor infra-estrutura, observadas as características das mesmas; incentivar estudos e projetos para redução do custo da produção habitacional; promover parcerias e buscar novas fontes de recursos de investimento; criar o Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista. Não foram apresentados prazos e metas relativos a esses objetivos, o que torna seu grau de concretude muito baixo.

4. A definição de uma estratégia de aumento da oferta de moradias na cidade pela intervenção regulatória, urbanística e fiscal na dinâmica de uso e ocupação do solo urbano.

Dentre as diretrizes e objetivos apresentados para a política habitacional de Boa Vista, alguns se referem a definições que podem resultar no aumento da oferta de moradias na cidade.

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Entretanto, essas definições não se apresentam de forma integrada, como uma estratégia bem delimitada de enfrentamento do déficit e da demanda futura por habitação.

A esse respeito, importa destacar as seguintes ações previstas: ocupar vazios urbanos em áreas onde haja melhor infra-estrutura; incentivar estudos e projetos para redução do custo da produção habitacional; estimular as inovações tecnológicas e a pesquisa de materiais regionais; incentivar e apoiar a formação de cooperativas e demais formas de associativismo para construção de empreendimentos habitacionais; e apoiar outras formas não convencionais de produção da moradia, como autoconstrução e mutirão (arts. 49 e 50).

Entretanto, nota-se que essas ações são muito mais de natureza técnico-urbanística, do que regulatória ou fiscal. Há ainda uma diretriz que prevê a promoção de parcerias e a busca de novas fontes de recursos para o enfrentamento da questão habitacional (art. 49, inciso VI), mas não explicita as formas de concretização desse objetivo, o que a torna de pouca efetividade.

5. A definição de instrumentos específicos visando à produção de moradia popular. Verificar

se o plano define instrumentos específicos voltados para cooperativas populares.

Pelo que se nota, o foco das ações previstas no PD de Boa Vista é mais a promoção da regularização fundiária e do controle de novas ocupações do que a ampliação da oferta de habitação de interesse social de forma constante, como pilar de uma política habitacional. Nesse sentido, os instrumentos previstos que visam à produção desse tipo de habitação estão relacionados às ações de regularização urbanística e fundiária. Um exemplo disso é que a demarcação de AEIS é entendida somente como um instrumento passível de ser utilizado em programas de regularização fundiária e urbanística, não sendo esse tipo de área definida previamente no Macrozoneamento do território municipal.

Assim sendo, o art. 51 define que para a promoção da “regularização urbanística e fundiária dos assentamentos precários, conjuntos habitacionais e loteamentos irregulares, localizados em áreas adequadas à moradia”, poderão ser utilizados os seguintes instrumentos: criação de Áreas de Especial de Interesse Social - AEIS; concessão do direito real de uso; a concessão de uso especial para fins de moradia; usucapião especial, individual ou coletivo, de imóvel urbano; direito de preempção; assistência técnica urbanística, jurídica e social, gratuita; desapropriação individual ou coletiva de interesse público.

Algumas diretrizes relativas ao uso dos instrumentos de regularização fundiária supracitados envolvem o apoio a grupos sociais e entidades organizadas como as cooperativas populares. O art. 53, § 3º, autoriza que a solicitação de Concessão de Uso Especial para fins de moradia poderá ser solicitada de forma individual ou coletiva, o que atende às cooperativas populares de produção de moradia e outras de motivação econômica distinta. O art. 54 determina que “o município prestará assistência técnica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos com direito ao usucapião especial, individual ou coletivo de imóvel urbano, visando a agilizar os processos de regularização fundiária”. O art. 57, por sua vez, incumbe ao Executivo a tarefa de “prestar orientação técnica, urbanística, jurídica e social a indivíduos, entidades, grupos comunitários e movimentos na área de Habitação de Interesse Social, para a garantia da moradia digna”.

6. A criação de programas específicos (urbanização de favelas, regularização de loteamentos, etc.)

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O PD não cria especificamente um programa de urbanização e regularização de favelas e assentamentos precários, embora preveja instrumentos a serem utilizados pelo município nesse tipo de programa, como aqueles mencionados na questão C-II-5 anterior.

7. A utilização dos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade – em especial, (i) a instituição de ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social, inclusive em áreas vazias; (ii) a demarcação de áreas dotadas de infra-estrutura, inclusive em centrais, para fins de habitação popular; (iii) o estabelecimento de parâmetros de uso e ocupação do solo condizentes com os princípios da função social da propriedade; (iv) a outorga onerosa do direito de construir; (v) o parcelamento compulsório e o IPTU progressivo – e sua relação com a política de habitação definida no plano diretor, observando a aplicação desses instrumentos em áreas definidas, seus objetivos e o estabelecimento de prazos.

(i) A implantação de AEIS está prevista pelo PD como um instrumento a ser adotado em programas de regularização fundiária e urbanística, e poderá ser demarcada pelo município no âmbito da Área Urbana Parcelada (AUP) nas área consideradas prioritárias à realização desse tipo de programa.

(ii) Não consta tal demarcação.

(iii) No Macrozoneamento Urbano não constam áreas demarcadas especificamente para habitação de interesse social. A lei de uso e ocupação do solo (Lei Municipal nº926/2006) determina que o tamanho dos lotes definidos para cada zona poderá ser flexibilizado para atender a loteamentos de interesse social. Esses lotes poderão ter tamanho mínimo de 250m² e poderão ser implantados na ZR 3 e na ZEU 1 (art. 12, § único).

(iv) Este instrumento não está previsto no PD de Boa Vista.

(v) Apesar de tais instrumentos estarem previstos no PD (vide quadro de instrumentos de política fundiária), a sua aplicação não está atrelada à política habitacional, uma vez que não constam os objetivos a que servem a sua aplicação no território urbano municipal.

8. O uso de outros instrumentos voltados para a política habitacional tais como consórcios imobiliários, operações interligadas com destinação de recursos para o Fundo de Habitação, etc.

Nenhum dos instrumentos típicos previstos no EC para a política habitacional, além daqueles já mencionados, está previsto no PD de Boa Vista. A lei de parcelamento do solo urbano (Lei Municipal nº925/2006), por sua vez, cria um mecanismo de alimentação para o Fundo Municipal de Habitação. Trata-se da destinação dos recursos obtidos no processo de regularização de parcelamentos do solo urbano para esse fundo. Esta lei determina que uma área não inferior a 35% da área total da gleba a ser parcelada são consideradas áreas públicas, destinadas ao município para a implantação de equipamentos e infra-estrutura urbana (art. 48, inciso I). Assim, no processo de regularização de parcelamentos urbanos, “o Município poderá aceitar para fins de regularização a substituição parcial da destinação de áreas públicas no próprio empreendimento por pagamento em moeda corrente, a ser destinado ao Fundo Municipal de Habitação” (art. 65, § 1º, inciso III).

9. O estabelecimento de plano municipal de habitação, a definição de objetivos, diretrizes e o estabelecimento de prazos.

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O PD não estabelece um plano municipal de habitação, mas prevê, dentre as diretrizes da estratégia de produção e regularização habitacional, “a elaboração de uma política habitacional que se articule com as demais políticas setoriais e considere os condicionantes ambientais do Município de Boa Vista” (art. 48, inciso I). Para tanto, aponta os objetivos (art. 49) e as diretrizes (art. 50) atinentes a essa política.

Dentre as diretrizes para a política habitacional, prevê-se a adesão ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), a criação do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (FMHIS) e a criação do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista. Não foram definidos prazos.

10. A existência de princípios e objetivos que visem à ação articulada com os níveis de governo estadual e federal.

A única menção à integração entre os diferentes níveis de governo refere-se a uma das diretrizes para a política habitacional, a qual prevê “a integração do sistema de cadastro de beneficiários de programas habitacionais nos três níveis de governo” (art. 50, inciso XX).

11. A instituição de fundo específico de habitação de interesse social, ou de fundo de desenvolvimento urbano (desde que também seja destinado à habitação), e suas fontes de recursos, observando: (i) o detalhamento da destinação dos recursos do Fundo; (ii) quem gere o Fundo criado; (iii) quais são as receitas do Fundo; (iv) a necessidade de legislação específica; (v) prazos estabelecidos.

Há apenas a menção ao intuito de se criar o Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social – FMHIS (art. 50, inciso XVII), sem, entretanto, mencionar prazos, fontes e a legislação específica que deverá regulamentá-lo.

12. A existência de definições relativas ao orçamento municipal (PPA, LDO e LOA), como tornar obrigatório a existência de um Programa de Habitação a ser contemplado nos instrumentos orçamentários PPA, LDO e LOA ou a determinação de prioridades de investimentos, a definição de obras e investimentos concretos na área habitacional, por exemplo.

Não constam definições relativas à relação entre a política habitacional e os instrumentos orçamentários municipais.

13. A definição de critérios de gênero, etnia/raça ou de outras políticas afirmativas.

Não foram definidos critérios de gênero, etnia ou raça. Uma das diretrizes da política habitacional reafirma a “prioridade ao atendimento de idosos, portadores de deficiência e famílias chefiadas por mulheres, dentre o grupo de menor renda, nos programas e nas ações habitacionais” (art. 50, inciso XIII).

14. O grau de auto-aplicabilidade das definições estabelecidas na política habitacional.

As diretrizes e objetivos da política habitacional de Boa Vista constantes no PD viabilizam ao poder Executivo a sua execução direta. Entretanto, os instrumentos urbanísticos e de regularização fundiária dependem de lei específica para serem regulamentados. Nesse caso, a política habitacional não é auto-aplicável.

15. A definição dos instrumentos e mecanismos de controle social na política de habitação.

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Uma das diretrizes para a política habitacional constante no PD é a criação do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista (art. 50, inciso XVIII). A lei municipal que cria tal conselho (Lei Municipal nº923/2006), inserindo-o como parte da Estrutura Organizacional Básica do Poder Executivo do município de Boa Vista, foi aprovada e publicada no Diário Oficial do município juntamente com as leis do Plano Diretor, de Parcelamento do Solo Urbano e a de Uso e Ocupação do Solo. Dentre os comitês técnicos que compõem o Conselho, encontra-se o de Habitação (art. 7º, inciso I). III – O Plano Diretor e a Política de Saneamento Ambiental Buscar-se-á identificar:

1. A existência de diagnóstico identificando a situação do município na área do saneamento ambiental, com ênfase nas desigualdades sociais no acesso ao abastecimento de água, à rede de esgotos e à coleta de resíduos sólidos, bem como a situação social relativa à gestão de recursos hídricos, em especial à drenagem urbana e seus impactos sobre as áreas sujeitas às enchentes.

O diagnóstico sobre as condições de saneamento ambiental em Boa Vista aborda todas essas dimensões do problema. O diagnóstico sobre recursos hídricos e drenagem urbana descreve as condições em que convivem lagoas, rios e igarapés e a ocupação humana. Em Boa Vista, além de um terreno tipicamente alagadiço, por sua formação de relevo, solo e vegetação, as chuvas são bastante sentidas pela população local em função do deficiente sistema de drenagem. Vários problemas decorrem desta interação, como inundações, doenças de veiculação hídrica, destinação inapropriada do esgoto, entre outros, e que atingem especialmente as camadas mais pobres da sociedade boa-vistense. O capital imobiliário, historicamente, beneficiou-se de uma postura permissiva do poder público, construindo loteamentos em áreas impróprias para ocupação como margens de rios e igarapés intermitentes.

No diagnóstico consta que, no momento de sua elaboração, o município não contava com cadastro sobre os dispositivos de drenagem urbana já implantados ou em fase de implantação. Sabe-se apenas que aproximadamente 70% da área urbana atual não é atendida por nenhum tipo de dispositivo de drenagem.

A Companhia de Água e Esgoto de Roraima (CAER) tem a concessão do serviço de abastecimento de água e esgotamento sanitário na cidade. A CAER capta água por meio de dois sistemas: captação superficial nas águas do Rio Branco, que corta a cidade; e captação subterrânea em poços profundos instalados, viabilizados pelas características hídricas do terreno (bastante irrigado). A água é tratada em Estações de Tratamento de Águas (ETAs) distribuídas pela cidade.

Segundo a Companhia, aproximadamente 95% da cidade de Boa Vista é atendida pelo sistema de abastecimento de águas (dados do diagnóstico elaborado em 2006). Entretanto, dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, que também constam no diagnóstico do município, indicam que 77,9% da população tinham acesso a água encanada, no ano 2000, contrastando com os dados da CAER.

Paralelamente ao sistema de abastecimento público, muitos habitantes fazem uso de captações particulares de água, normalmente em poços ou no Rio Branco, sem que essa água atenda aos parâmetros de higiene adquiridos com o tratamento. A incorreta destinação do esgoto contamina as águas superficiais (rios) e os poços rasos (freáticos), causando os problemas de saúde pública. Desta forma, o diagnóstico propõe que sejam estabelecidas ações de controle desse tipo de

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captação e destinação de esgoto, bem como a instrução da população sobre o correto uso de fossas sépticas (manejo e distanciamento dos poços).

O sistema de tratamento de esgoto realizado pela CAER foi considerado insatisfatório, gerando conflitos entre a Companhia e a Prefeitura (por meio de seus técnicos) que já solicitou a alteração dos procedimentos, sem que fosse atendida. A referida empresa tem incorrido em crime ambiental ao lançar o esgoto “in natura” diretamente nas lagoas anaeróbias, expondo a população do entorno a condições insalubres de vida.

As estações elevatórias de esgoto (EEEs) são responsáveis por destinar estes resíduos para as lagoas de estabilização. Essas estações se encontram em estado de conservação precário, não havendo técnicos responsáveis por sua operação e manutenção. Elas operam aquém da sua capacidade, uma vez que não foram instalados todos os equipamentos previstos para o seu funcionamento. O tratamento realizado é ineficiente, segundo as vistorias realizadas na lagoa de despejo dos efluentes tratados. Segundo o diagnóstico, somente 30% da população é atendida pela rede de coleta, atualmente com 207 km e 12.978 ligações.

Os serviços de limpeza urbana e coleta de resíduos sólidos no município se mostram ineficientes. O diagnóstico apresenta a situação da prestação desses serviços, que são terceirizados pela Prefeitura a três outras empresas. A coleta de lixo domiciliar é freqüente, entretanto não há um planejamento em relação aqueles estabelecimentos que geram maior lixo e que deveriam receber atendimento especial. O aterro sanitário, que substitui o antigo lixão desde 2002, não é operado adequadamente, causando impactos maiores ao ambiente do que deveria.

A coleta seletiva foi implantada na cidade, mas opera apenas de forma parcial, visto que a cooperativa de catadores responsável por esse serviço não têm condições físicas de atender à quantidade de resíduos recicláveis que são dispostos. O serviço de varrição de ruas e praças não destina adequadamente seus resíduos, sendo estes levados a um terreno indicado pela Secretaria Municipal de Gestão Ambiental (SMGA), o qual se tornou um segundo “lixão”, tendo em vista o inadequado manejo desses recursos. Além disso, a empresa responsável pela capina na cidade, não fornece os equipamentos adequados a seus funcionários, os quais trabalhavam sem uniforme na época da feitura do diagnóstico.

Esses diagnósticos contêm propostas de políticas e ações para o enfretamento dos problemas levantados, inclusive para a composição do Macrozoneamento do município. Muitas dessas foram incorporadas no Plano Diretor como diretrizes e objetivos de ação do poder público municipal.

2. As diretrizes estabelecidas para a política de saneamento ambiental, identificando se o PD apresenta uma visão integrada de saneamento ambiental. Aqui também é fundamental verificar se na política de uso do solo há definições relativas à disponibilidade de infra-estrutura de saneamento.

A Promoção do Saneamento Ambiental Urbano é o capítulo (VII) do PD que trata da política de saneamento para o município, e contém subseções referentes ao Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário (Seção I), à Drenagem Urbana (Seção II), aos Resíduos Sólidos (Seção III) e ao Programa de Áreas Verdes e Arborização Urbana (Seção IV). As diretrizes estabelecidas para essas áreas da política se apresentam de forma integrada entre si e também em relação à política de Meio Ambiente do município.

Em linhas gerais, a política de abastecimento de água e esgotamento sanitário manifesta o objetivo de ampliar a rede de abastecimento e esgotamento, com qualidade, para 100% da população, controlando o desperdício; erradicar o lançamento clandestino de esgoto nas redes

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pluviais, bem como controlar o lançamento de resíduos poluentes em mananciais e rios; controlar o uso de fossas e esclarecer aos usuários sobre o tratamento correto das fossas sépticas; estudar a viabilidade de implantação de sistemas alternativos de coleta e tratamento de esgoto para regiões periféricas da cidade.

Dentre as diretrizes para a política de drenagem urbana, destacam-se: elaborar o Plano Diretor de Drenagem Urbana até 2008; realizar levantamento topográfico da área urbana e de expansão urbana em 2007; disciplinar a ocupação das cabeceiras e várzeas das bacias do município, preservando a vegetação marginal; estudar formas de uso adequado para o entorno das lagoas, proibindo invasões e ocupações indevidas e preservando áreas naturais de inundação; estender a rede de drenagem a toda população.

No que se refere à política para gestão dos resíduos sólidos, constam as seguintes diretrizes: preservar a qualidade dos recursos hídricos pelo controle efetivo da disposição final de resíduos em áreas de mananciais; minimizar a geração de resíduos sólidos por meio da adoção da política de reduzir, reutilizar e reciclar; dar tratamento e disposição final ambientalmente adequados aos resíduos sólidos remanescentes; aperfeiçoar o serviço de limpeza urbana; recuperar áreas públicas degradadas ou contaminadas.

O Programa de Áreas Verdes e Arborização Urbana tem por objetivo “amenizar os efeitos climáticos da região equatorial onde se insere o município, proporcionando maior conforto ambiental e bem-estar à população residente na cidade” (art.68). Para tanto, estão previstas as seguintes ações: realizar um diagnóstico da cobertura vegetal e dos espaços livres da área urbana; elaborar projetos de arborização e paisagismo para as diversas áreas urbanas; fortalecer o horto municipal para a produção de mudas para os diversos usos, priorizando as espécies regionais.

As informações sobre a disponibilidade de infra-estrutura de saneamento constam no diagnóstico que subsidiou a elaboração do Plano Diretor, e estão descritas na questão anterior (C-III-1).

3. A definição de objetivos (e o grau de concretude dos mesmos) e o eventual estabelecimento de metas concretas. Verificar se o PD apresenta alguma definição sobre a titularidade municipal do serviço ou sobre o papel do município na gestão dos serviços, se traz alguma indicação de privatização dos mesmos, ou ainda se traz alguma informação relativa ao contrato com a prestadora de serviços.

Para cada um dos setores da política de saneamento foram estabelecidos objetivos. Entretanto, não constam metas e prazos para alcançá-los, apesar de várias das diretrizes determinarem que sejam estabelecidas metas para as ações previstas.

Sobre a relação do Executivo Municipal com a concessionária, não há informações sobre o contrato de prestação de serviços ou a sua natureza (se privatizado ou estatal). A parceria com a concessionária na implementação da política de abastecimento de água e esgotamento sanitário se faz presente nas seguintes diretrizes previstas no PD:

Art. 60 - Caberá ao Município estabelecer articulação com os demais níveis de governo e concessionárias, com os seguintes objetivos: I - ampliar abastecimento de água para consumo visando a atingir 100% da população, seja através da captação superficial ou de poços profundos, subterrâneos; II - assegurar a qualidade e a regularidade no abastecimento de água para consumo humano e outros fins; III - desestimular o desperdício, reduzir as perdas de água tratada e incentivar a alteração de padrões de consumo; IV - assegurar a ampliação das redes de esgotamento sanitário, seguida de tratamento e transporte eficientes; V - criar e manter

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atualizado cadastro das redes e instalações em sistema georreferenciado; VI - erradicar as ligações clandestinas de esgoto nas redes de águas pluviais.

Art. 61, inciso I - estabelecer metas e prazos para ampliação, regularidade e qualidade no sistema de abastecimento de água mediante entendimentos com a concessionária; inciso II - estabelecer metas de redução de perdas de água em toda a cidade, mediante entendimentos com a concessionária; inciso IV - avaliar a viabilidade técnico-econômica da implantação de sistemas alternativos de coleta e tratamento de esgotos, para bairros distantes das lagoas de tratamento existentes, mediante articulação com a concessionária; inciso V - estabelecer metas e prazos para ampliação e manutenção do sistema de coleta de esgotos, para toda a Área Urbana, mediante acordos com a concessionária; VI - estabelecer articulação com os diversos níveis de governo e concessionária para implementação de cadastro das redes e instalações existentes.

Art. 62, inciso XI - viabilizar a disposição final dos resíduos dos caminhões limpa-fossas no sistema de tratamento de esgotos da cidade, lagoas de estabilização, mediante estudos e projetos em parceria com a concessionária; XII - estabelecer prazos junto à concessionária para a manutenção das estações elevatórias, redes de recalque e área de tratamento de esgotos, incluindo a eficiência do tratamento das lagoas de estabilização e a área física do tratamento.

4. A definição de instrumentos específicos visando à universalização do acesso aos serviços de saneamento ambiental.

Não foram previstos instrumentos específicos com tal objetivo.

5. A utilização dos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade – em especial, (i) a instituição de ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social, inclusive em áreas vazias; (ii) a demarcação de áreas dotadas de infra-estrutura, inclusive em centrais, para fins de habitação popular; (iii) o estabelecimento de parâmetros de uso e ocupação do solo condizentes com os princípios da função social da propriedade; (iv) a outorga onerosa do direito de construir; (v) o parcelamento compulsório e o IPTU progressivo – e sua relação com a política de saneamento ambiental definida no plano diretor, observando a aplicação desses instrumentos em áreas definidas, seus objetivos e o estabelecimento de prazos.

Tais instrumentos não foram definidos para serem utilizados especificamente na política de saneamento ambiental.

6. A utilização de outros instrumentos para viabilizar a política de saneamento ambiental, tais como direito de preempção sobre áreas destinadas a implementação de estação de tratamento de efluentes; transferência de direito de construir sobre perímetros a serem atingidos por obras de implementação de infra-estrutura de saneamento, etc.

Segundo o art. 37, § único, o direito de preempção será exercido sempre que o Poder Público necessitar de áreas para: V - implantação de equipamentos urbanos e comunitários; VI - criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes, os quais estão diretamente relacionados com a política de saneamento ambiental. Não constam outros instrumentos relacionados a essa política.

Além disso, o art. 30 define que para o “planejamento, gestão e promoção do desenvolvimento urbano, o Município de Boa Vista adotará, dentre outros, os instrumentos de política urbana que forem necessários, notadamente aqueles previstos na Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001 - Estatuto da Cidade”, e elenca os seguintes instrumentos:

I - parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;

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II - imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU - progressivo no tempo; III - desapropriação; IV - tombamento e inventários de imóveis, conjuntos urbanos, sítios urbanos ou rurais; V - usucapião especial de imóvel urbano; VI - direito de preempção; VII - avaliação de impacto ambiental e relatórios de impacto ambiental.

Entretanto, não o PD define as circunstâncias e as formas de aplicação desses instrumentos, com exceção do parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, o IPTU Progressivo e o direito de preempção.

7. O estabelecimento de plano municipal de saneamento ambiental, a definição de objetivos, diretrizes e o estabelecimento de prazos.

O PD de Boa Vista não estabelece um plano municipal de saneamento ambiental, mas tem por objetivo “implementar as diretrizes contidas na Política Nacional do Meio Ambiente, Política Nacional de Recursos Hídricos, Política Nacional de Saneamento, Lei Orgânica do Município, Código de Posturas do Município e demais normas correlatas e regulamentares da legislação federal e da legislação estadual, no que couber” (art. 59). A Política Nacional de Saneamento determina que os municípios devam elaborar seus planos municipais. Assim, apenas de forma indireta, a elaboração do plano municipal de saneamento está prevista no PD de Boa Vista.

8. A existência de princípios e objetivos que visem à ação articulada com os níveis de governo estaduais e federal.

O art. 60 determina, apenas genericamente, que o município deva estabelecer articulação com os demais níveis de governo para o cumprimento dos objetivos estabelecidos para a política municipal de saneamento. O art. 61 também determina articulação com os diversos níveis de governo no que se refere à implementação de cadastro das redes e instalações existentes.

9. A instituição de fundo específico de saneamento ambiental, ou de fundo de desenvolvimento urbano (desde que também seja destinado ao saneamento ambiental), e suas fontes de recursos, observando: (i) o detalhamento da destinação dos recursos do Fundo; (ii) quem gere o Fundo criado; (iii) quais são as receitas do Fundo; (iv) a necessidade de legislação específica; (v) prazos estabelecidos.

A instituição de fundo específico de saneamento ambiental está prevista apenas de forma indireta. Isso porque o art. 59 do PD prevê a implementação das diretrizes da Política Nacional de Saneamento nas ações do município, e esta Política determina a criação de um fundo municipal de saneamento.

10. A existência de definições relativas ao orçamento municipal (PPA, LDO e LOA), como a determinação de prioridades de investimentos, ou a definição de obras e investimentos concretos na área de saneamento ambiental, por exemplo.

Não constam definições relativas à relação entre a política habitacional e os instrumentos orçamentários municipais.

11. A definição de critérios de gênero, etnia/raça ou de outras políticas afirmativas.

Não foram definidos tais critérios.

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12. O grau de auto-aplicabilidade das definições estabelecidas na política de saneamento ambiental.

Com exceção do instrumento direito de preempção, que depende de lei específica para delimitar as áreas passíveis de aplicá-lo, as demais diretrizes e objetivos da política de saneamento são auto-aplicáveis, uma vez que dependem apenas de decisão do Executivo.

13. A definição de uma política de extensão da rede de serviços de saneamento ambiental na expansão urbana.

Dentre os objetivos definidos para a política de saneamento, consta a expansão a toda população dos serviços de água e esgotamento sanitário, sem, contudo, especificar sobre as zonas em que estes serviços serão instalados.

14. A definição dos instrumentos e mecanismos de controle social na política de saneamento ambiental.

A implantação do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista está previsto no PD e foi regulamentado pela Lei Municipal nº924/2006. Dentre os comitês técnicos de assessoramento de suas atividades encontra-se o de Saneamento Ambiental (art. 7º, inciso II).

IV – O Plano Diretor e a Política de Mobilidade e Transporte Buscar-se-á identificar:

1. A existência de diagnóstico identificando a situação do município na área da mobilidade e do transporte, com ênfase nas desigualdades sociais no acesso as áreas centrais (trabalho, escola e lazer).

O diagnóstico da situação de transporte em Boa Vista inicia-se com a conceituação e distinção entre mobilidade e acessibilidade:

Mobilidade é entendida como o grau de movimentação das pessoas dentro de uma cidade, expressa em número de viagens. O indicador para medi-la é o índice de mobilidade, obtido pela divisão entre o número de viagens totais em um dia, qualquer que seja o modo usado, pelo número de habitantes.

Acessibilidade tem relação com a capacidade das pessoas em utilizar determinado meio de transporte, a qual pode ser restringida por fatores como tarifa, distância da origem do usuário, adequabilidade do meio de transporte aos objetivos dos usuários, dentre outros. A acessibilidade está diretamente relacionada à mobilidade, uma vez que a primeira pode afetar a segunda de forma significativa.

A Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional de Boa Vista – EMHUR é responsável pela gestão do sistema de transporte coletivo em Boa Vista, que é formado pela rede de ônibus coletivo, o serviço de transporte escolar e o serviço de táxis. Em 2005, momento da realização do diagnóstico, a EMHUR contava com capacidade operacional aquém da sua necessidade, mas a então gestão municipal estava trabalhando para equipar a empresa de forma que ela cumprisse com todas as suas funções estabelecidas em decreto. Para tanto, estavam sendo realizados concursos públicos, visando ampliar o número de agentes fiscalizadores do trânsito.

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A frota de ônibus coletivo em circulação foi considerada precária pelas vistorias realizadas. O diagnóstico estabelece uma correlação entre a precariedade da frota e a situação financeira das duas empresas concessionárias do serviço de transporte coletivo, que estariam submetidas a um círculo vicioso: o sistema ineficiente, com pouca freqüência dos ônibus, atrasos, e linhas que não atendem aos trajetos realizados pela população, leva a uma preterição por parte dos usuários desse sistema de transporte, o que leva a uma redução dos rendimentos dessas empresas. Essas acabam por reduzir o número de carros em circulação, culminando em mais tempo de espera por parte dos usuários.

O sistema de táxi-lotação foi implantado na cidade, e acabou por concorrer com o sistema de ônibus. Assim, ao invés de serem complementares, os táxis-lotação vêm substituindo o papel originalmente dos ônibus. Como a frota é boa e o tempo de deslocamento é menor, os usuários preferem pagar R$ 2,00 no táxi-lotação a pagar R$ 1,80 nos ônibus coletivos (a preços de 2005). O crescimento desse tipo de serviço pode culminar no congestionamento das vias, principalmente as centrais, segundo o diagnóstico.

A localização do terminal de integração entre as linhas de ônibus, apontada como inadequada, e a ausência de um sistema de integração tarifária (ainda em processo de implementação na época da realização do diagnóstico) também fazem parte do quadro de ineficiência do sistema de transporte público. E, da mesma forma, contribuem para que os usuários prefiram os táxis-lotação.

Assim, o diagnóstico apresenta sugestões de ações a serem adotadas para o enfrentamento desses problemas, focando centralmente na necessidade de promover uma reengenharia de tráfego, que altere os itinerários dos ônibus, com impactos sobre o tempo das viagens, de forma a conferir centralidade aos ônibus coletivos no sistema de transporte municipal. As diretrizes, objetivos e ações estratégicas previstas no PD para a política de mobilidade e transporte incorporaram amplamente as sugestões constantes no diagnóstico.

2. As diretrizes estabelecidas para a política de mobilidade e transporte, com ênfase na inclusão social. Identificar-se-á a existência de alguma política ou diretrizes relativas às tarifas.

Dentre as diretrizes para a política de mobilidade urbana, tem-se a implantação de um programa de acessibilidade com vistas a garantir o acesso universal em todo o espaço público onde seja fisicamente possível (art. 44, inciso III); e a elaboração de projetos específicos para melhorar as condições de segurança dos pedestres, especialmente dos portadores de necessidades especiais (art. 45, inciso II).

Dentre os objetivos estabelecidos para a política de transportes, encontra-se a manutenção de adequado sistema de informação e comunicação aos usuários da via pública e, gradativamente, acessibilizá-lo aos deficientes visuais e auditivos (art. 46, inciso IV). Dentre as ações estratégicas dessa política, prevê-se exigir das concessionárias/permissionárias do serviço de transporte coletivo que coloquem em operação veículos de melhor acessibilidade universal em todas as linhas de ônibus (art. 47, inciso IV).

O art. 47, inciso V, inclui como ação estratégica para a política de transporte realizar estudos que visem a desonerar a tarifa de ônibus, bem como a renovação da frota, sendo essa a única definição relativa a tarifas constante no PD de Boa Vista.

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3. Deve ser avaliado se as diretrizes e os objetivos de intervenção visam: a) conformar o sistema de transportes pela definição de modais com funções diferentes; b) definição do modal prioritário a ser estimulado pelo poder público; c) a existência de princípios regulatórios; d) a existência de diretrizes para integração de modais; e) a definição de uma hierarquização do sistema viário.

a) o PD refere-se apenas à inclusão dos táxis no planejamento da mobilidade como um modal complementar ao serviço de transporte público ofertado pelos ônibus (art. 47, inciso VI);

b) não foi definido o modal prioritário a ser estimulado pelo poder público, apenas a priorização do transporte coletivo (art. 47, inciso III);

c) o art. 44, inciso VI, prevê apenas genericamente a definição de “critérios de mobilidade e acessibilidade que precisarão ser cumpridos nas reformas urbanísticas da cidade, para garantir a prioridade da movimentação universal, de bicicleta e em transporte coletivo e outros”. Da mesma forma, o art. 47, inciso VII, prevê o estabelecimento de uma política de regulação do estacionamento nos logradouros públicos, e o inciso XXVIII determina que deva ser exigida a “apresentação de estudo técnico de impacto sobre o trânsito para o licenciamento de projetos de edificação que sejam pólos geradores de tráfego, em obediência ao Código de Trânsito Brasileiro”;

d) o art. 46 aponta como objetivo da política de transportes, de forma genérica, a promoção de um transporte coletivo integrado de qualidade e acessível à população. Consta, também, o objetivo de incluir os táxis como transporte complementar ao transporte coletivo (art. 47, inciso VI);

e) O inciso V, do art. 44, define os seguintes parâmetros para a estruturação do sistema viário da cidade:

i. classificação das vias públicas em arteriais, coletoras e locais;

ii. indicação dos eixos-tronco e anéis de integração;

iii. adequação das vias existentes as suas funções hierárquicas no sistema viário;

iv. eliminação de pontos críticos;

v. redefinição de um padrão de sinalização quando da realização de obras em vias públicas que preveja passagens provisórias para os pedestres, em condições dignas e seguras, inclusive para os portadores de necessidades especiais.

4. A definição de objetivos (e o grau de concretude dos mesmos) e o eventual estabelecimento de metas concretas.

O art. 46 apresenta os objetivos da política de transportes de Boa Vista, a saber:

I- buscar um transporte coletivo integrado de qualidade e acessível à população;

II- manter as velocidades de deslocamento e melhorar a velocidade do transporte público;

III- ampliar as áreas destinadas a estacionamento e adequá-las a padrões de segurança e de integração com o conjunto do sistema viário;

IV- manter adequado sistema de informação e comunicação aos usuários da via pública e, gradativamente, acessibilizá-lo aos deficientes visuais e auditivos;

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V- aumentar a segurança viária promovendo e fiscalizando o respeito entre os usuários dos diferentes modos de transporte;

VI- estimular o uso de combustíveis menos poluentes e promover o controle da poluição, inclusive sonora, causada pelo tráfego.

Não foram definidos metas e prazos para o atendimento de tais objetivos.

5. A definição de instrumentos específicos visando à ampliação da mobilidade da população e promoção de serviços de transporte público de qualidade (identificando a existência de política de promoção de ciclovias e transportes não-poluentes e/ou não-motorizados).

Como um dos instrumentos que objetiva a ampliação da mobilidade da população, tem-se a integração do serviço de táxi ao transporte coletivo tradicionalmente realizado pelos ônibus. Está previsto também um programa de promoção da acessibilidade universal em todo o espaço público que seja fisicamente possível, que se refere, basicamente, à mobilidade de pedestres.

O estímulo ao uso de combustíveis menos poluentes e a promoção do controle da poluição, inclusive sonora, provocada pelo tráfego, estão igualmente previstos pelo PD, ainda que de forma genérica. A existência de ciclovias consta no PD, mas elas foram mencionadas apenas no que se refere ao controle de circulação indevida de automóveis nas ciclovias da cidade. Nenhuma outra diretriz aborda sobre o uso desse espaço.

6. A utilização dos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade – em especial, (i) a instituição de ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social, inclusive em áreas vazias; (ii) a demarcação de áreas dotadas de infra-estrutura, inclusive em centrais, para fins de habitação popular; (iii) o estabelecimento de parâmetros de uso e ocupação do solo condizentes com os princípios da função social da propriedade; (iv) a outorga onerosa do direito de construir; (v) o parcelamento compulsório e o IPTU progressivo – e sua relação com a política de mobilidade e transportes definida no plano diretor, observando a aplicação desses instrumentos em áreas definidas, seus objetivos e o estabelecimento de prazos.

Na definição sobre o uso de tais instrumentos não consta relação com a política de transporte e mobilidade.

7. A utilização de outros instrumentos vinculados à política de transporte/mobilidade, tais como: operações urbanas consorciadas para viabilizar intervenções no sistema viário e/ou sistemas de transporte coletivo, transferência de potencial construtivo de perímetros a serem atingidos por obras de implementação de infra-estrutura, outorga onerosa de potencial construtivo etc.

Não constam no PD tais instrumentos, tipicamente utilizados para a promoção da política de transportes. Entretanto, o art. 30 define que para o planejamento, gestão e promoção do desenvolvimento urbano, o Município de Boa Vista adotará, dentre outros, os instrumentos de política urbana que forem necessários, e elenca os seguintes instrumentos, sem definir precisamente as circunstâncias de sua aplicação:

I - parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; II - imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU - progressivo no tempo; III - desapropriação; IV - tombamento e inventários de imóveis, conjuntos urbanos, sítios urbanos ou rurais;

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V - usucapião especial de imóvel urbano; VI - direito de preempção; VII - avaliação de impacto ambiental e relatórios de impacto ambiental.

8. O estabelecimento de plano municipal de mobilidade e/ou de plano viário da cidade, seus objetivos, suas diretrizes e o estabelecimento de prazos.

A elaboração do Plano Municipal de Mobilidade e Transportes está prevista no art. 43 do PD, o qual deve observar as disposições contidas no Código de Trânsito Brasileiro, em consonância com a Política Nacional de Trânsito. O prazo determinado para a elaboração do Plano é o ano de 2007.

9. A existência de princípios e objetivos que visem a ação articulada com os níveis de governo estaduais e federal.

No PD, a ação articulada com outros níveis de governo está prevista para a manutenção das vias de acesso à cidade (art. 47, inciso VII), e a parceria especificamente com o estado tem como objetivo a implantação de programas de educação para o trânsito (art. 47, inciso XIX).

10. A instituição de fundo específico de mobilidade e transportes, ou de fundo de desenvolvimento urbano (desde que também seja destinado a área de transporte e mobilidade), e suas fontes de recursos, observando: (i) o detalhamento da destinação dos recursos do Fundo; (ii) quem gere o Fundo criado; (iii) quais são as receitas do Fundo; (iv) a necessidade de legislação específica; (v) prazos estabelecidos.

A existência ou a criação de um fundo específico de mobilidade e transporte não foram mencionadas no PD.

11. A existência de definições relativas ao orçamento municipal (PPA, LDO e LOA), como a determinação de prioridades de investimentos, ou a definição de obras e investimentos concretos na área de mobilidade e transportes, por exemplo.

Não constam tais definições.

12. A definição de critérios de gênero, etnia/raça ou de outras políticas afirmativas.

No PD estão previstas ações para a promoção da acessibilidade universal, com a inclusão de portadores de necessidades especiais (art. 44, inciso V), e deficientes visuais e auditivos (art. 46, inciso IV). Não foram definidos critério de gênero, etnia ou raça.

13. O grau de auto-aplicabilidade das definições estabelecidas na política de mobilidade e transportes.

A política de mobilidade e transporte definida no PD é auto-aplicável, pois não depende de leis específicas para regulamentá-las, cabendo apenas ao Executivo Municipal a sua execução.

14. A definição de uma política de extensão da rede de serviços de transportes públicos na expansão urbana.

Como ação estratégica para a política de transportes, consta o ajuste periódico da “rede de transporte público às novas necessidades de mobilidade dos cidadãos, por meio da ampliação do atendimento do sistema tronco-alimentador nas regiões de maior expansão urbana e, se oportuno, também com o aumento da freqüência de determinadas linhas” (art. 47, inciso I).

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15. A definição dos instrumentos e mecanismos de controle social na política de transporte e mobilidade.

A implantação do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista está previsto no PD e foi regulamentado pela Lei Municipal nº924/2006. Dentre os comitês técnicos de assessoramento de suas atividades encontra-se o de Mobilidade e Transportes (art. 7º, inciso IV).

V – O Plano Diretor e a Política de Meio Ambiente Buscar-se-á identificar:

1. A existência de diagnóstico identificando a situação do município na área do meio

ambiente, com ênfase nas desigualdades sociais relacionadas aos impactos da degradação do meio ambiente sobre as diferentes áreas da cidade (localização de depósitos de lixo ou de resíduos tóxicos, disponibilidade de áreas verdes, por exemplo), na perspectiva da justiça sócio-ambiental.

O diagnóstico contém seções específicas referentes a solo, geomorfologia, fauna e flora, as quais apresentam informações importantes para subsidiar o macrozoneamento do município e o estabelecimento de políticas ambientais adequadas. Foram apontadas as potencialidades de cada uma das áreas, em termos de agricultura, pecuária e outras atividades.

O terreno onde se situa o município é bem irrigado, com lagoas, rios e igarapés que atravessam inclusive a zona urbana. A ocupação intensiva e sem regulamentação levou à ocupação de áreas alagáveis para fins de moradia, trazendo grandes problemas para a população, principalmente a mais pobre. Assim, há uma preocupação recorrentemente manifesta de se tentar reverter esses processos, delimitando e desocupando áreas de proteção e outras impróprias para moradia.

A disposição de lixo, e os conflitos ambientais que isso gera, as disparidades no acesso aos recursos naturais e a distribuição dos ônus decorrentes do processo de degradação ambiental são tratados na seção sobre Saneamento Ambiental, vide questão C-III-1.

2. As diretrizes estabelecidas para a política de meio ambiente. Verificar particularmente se existem dispositivos restritivos à moradia de interesse social (por exemplo, remoções de moradias em áreas de preservação).

A seção referente à Política de Meio Ambiente apresenta objetivos e ações estratégicas para a sua implementação. Dentre as ações estratégicas tem-se: o fortalecimento do Sistema de Gestão Ambiental do município e das atividades relacionadas ao licenciamento e fiscalização ambientais; a definição de procedimentos para avaliar os impactos ambientais de obras e intervenções realizadas na cidade; a instituição de programas de combate ao fogo, à biopirataria, ao atropelamento de animais silvestres; e de monitoramento dos recursos ambientais (art. 9º, incisos I a VII).

O art. 12 apresenta as diretrizes da política ambiental voltadas especificamente para os recursos hídricos: observar a Política Nacional de Recursos Hídricos, nos termos da legislação federal e o Código Florestal; definir metas de redução da poluição hídrica; priorizar a preservação dos igarapés e lagoas inseridos nas zonas sul/sudoeste da cidade por serem áreas menos degradadas e passíveis de recuperação; preservar as cabeceiras e nascentes dos principais cursos d'água da área urbana.

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Foram também apresentadas ações estratégicas para a política de recursos hídricos (art. 13): definir as bacias e sub-bacias hidrográficas do município em sistema georreferenciado até o ano de 2007; fiscalizar e normatizar a atividade de mineração e os movimentos de terra em APAs, exigindo a aplicação de medidas mitigadoras; dar continuidade e fomentar projetos de recuperação e revitalização de igarapés e lagoas tanto permanentes como temporárias; trabalhar na conscientização ambiental e no gradativo reassentamento da população residente no leito de igarapés e lagoas temporárias e permanentes, bem como em seu entorno; desenvolver campanhas para promoção do uso racional dos recursos hídricos e a importância de sua preservação; desenvolver instrumentos para compensação de proprietários de áreas adequadamente preservadas na região de mananciais; elaborar o Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos para o município até 2008 e assegurar mecanismos para sua implantação.

Não foram apresentados dispositivos específicos de restrição à mordia social, mas é recorrente no PD, não só na seção que trata da política de meio ambiente, a preocupação com a remoção e o reassentamento de populações que vivem em áreas ambientalmente frágeis, como nas proximidades de igarapés e mananciais. Tendo em vista que o terreno do município é extremamente irrigado e alagadiço, a remoção dessas populações se justifica em função das constantes inundações, principalmente em áreas periféricas, potencializadas pelo deficiente sistema de drenagem disponível, que colocam em risco a vida e a saúde dos moradores. Esse problema foi também enfatizado no diagnóstico que subsidiou a elaboração do PD.

3. A definição de objetivos (e o grau de concretude dos mesmos) e o eventual estabelecimento de metas concretas.

Foram definidos os seguintes objetivos para a política de meio ambiente (art. 7º) e para a política de recursos hídricos. Os objetivos foram delimitados e apresentados de forma clara, sendo sua execução viável pelo poder público. As ações previstas estão referenciadas ao arcabouço normativo e jurídico federal, como é o caso do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação - Lei Federal nº 9985/00), do Código Florestal (Lei Federal nº 4771/65), da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei Federal nº 9.433/97) e da Lei que trata das Unidades de Conservação (Lei federal nº 9.985/00).

Foram estabelecidos prazos apenas para a definição de bacias e sub-bacias hidrográficas do município em sistema georreferenciado, que deveria ser feito até 2007 (art. 13, inciso I); para a elaboração do Plano de Gestão Integrado de Recursos Hídricos do município, com prazo até 2008; e a execução do Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) das obras do anel viário, até o ano de 2008, com a definição de medidas mitigadoras dos impactos ambientais causados.

4. A definição de instrumentos específicos visando a sustentabilidade ambiental (zoneamento ambiental e instrumentos jurídicos e fiscais). Verificar se o plano tem definições – e quais – e relativas aos seguintes pontos: (i) Delimitação de Áreas de restrição ambiental. (ii) Delimitação de Áreas de utilização e conservação dos recursos naturais. (iii) Delimitação de Áreas de preservação permanente em função de situações críticas existentes. (iv) Delimitação de Áreas a serem revitalizadas. (v) Delimitação de Áreas a serem recuperadas ambientalmente. (vi) Delimitação de unidades de conservação. (vii) Delimitação de zonas de transição entre as Áreas a serem preservadas, conservadas e ocupadas. (viii) Delimitação de Áreas de recuperação e

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proteção da Fauna e Flora. (ix) Delimitação de Áreas de recuperação e proteção de Recursos Hídricos.

No macrozoneamento do município foram definidas a Zona Agrícola de Uso Controlado (ZAUC), que tem por objetivo potencializar as atividades rurais de baixo impacto ao meio ambiente, onde devem ser priorizadas as culturas perenes em detrimento das culturas anuais; a Zona Ambiental de Proteção Integral (ZAPI), que tem por objetivo a conservação da natureza e a recuperação ambiental das áreas antropizadas, e a Terra Indígena, sobre a qual não há maiores definições.

A respeito da ZAPI, o art. 20 define que as unidades de conservação a serem criadas nessa área deverão ser precedidas “de estudos em escala compatível com a natureza dos recursos ambientais que a motive”, e que enquanto não forem instituídas tais unidades, qualquer projeto, obra ou atividade que interfira nas condições naturais da ZAPI será submetida à Secretaria Municipal de Gestão Ambiental e Assuntos Indígenas.

Além disso, o art. 8º define as seguintes áreas, consideradas como patrimônio ambiental do município de Boa Vista, sem, contudo, apresentar diretrizes de atuação para essas áreas:

I - os corpos hídricos perenes e intermitentes e suas respectivas áreas de Preservação Permanente - APP;

II - as faixas marginais de proteção dos igarapés, das lagoas e dos rios, com exceção apenas da orla do rio Branco, dentro do perímetro urbano, nos bairros 13 de Setembro, Calungá, Francisco Caetano Filho, Centro, São Pedro, Canarinho e Caçari, já consolidados;

III - os mananciais, especialmente aqueles que compõem as sub-bacias dos igarapés Água Boa de Cima e Água Boa;

IV - as formações pioneiras dos lagos e banhados;

V - os remanescentes das diversas fisionomias do ecossistema savana, em área urbana ou rural;

VI - as formações florestais;

VII - as áreas verdes públicas ou particulares, existentes na cidade, sobretudo quando constituída por espécies nativas;

VIII - os morros da região de Monte Cristo;

IX - a Serra da Moça, do Murupu, da Nova Olinda, de Santa Fé, do Flecha e o Morro do Truaru;

X - a Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN Maní, na região de Monte Cristo;

XI - os habitats naturais das espécies da fauna regional ameaçadas de extinção, cuja ocorrência no território do município foi identificada através do censo preliminar, elaborado como subsídio a este Plano Diretor.

5. A compatibilização do planejamento territorial com o diagnóstico ambiental, através das seguintes definições: (i) Delimitação de Áreas de Risco de Inundação. (ii) Delimitação de Áreas de Risco Geológico. (iii) Mapeamento da geomorfologia dos solos e aptidões. (iv) Mapeamento de declividades. (v) Delimitação de Áreas com restrição de impermeabilização dos solos. (vi) Delimitação de Áreas de ocupação e de expansão urbana, considerando as condições dos ecossistemas locais e a capacidade de suporte da infra-estrutura. (vii) Delimitação de Áreas de risco à ocupação humana. (viii) Delimitação de Áreas de atividades agrícolas. (ix) Delimitação de Áreas de atividades de exploração.

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(x) Localização preferencial de comércio, indústria e serviços. (xi) Áreas especiais instituídas em correspondência com as atividades econômicas geradoras de impacto nos ecossistemas locais. (xii) Áreas especiais instituídas em correspondência com as atividades de infra-estrutura urbana geradoras de impacto nos ecossistemas locais.

Essas áreas não foram especificamente delimitadas no macrozoneamento do Plano Diretor, mas o diagnóstico que o precedeu realizou pesquisa de campo em que foram identificadas muitas dessas áreas. O diagnóstico conta com estudo detalhado sobre a composição geológica do terreno, e formação do solo e da vegetação do município, apontando para as potencialidades do solo em termos de produção agropecuária e de extração. Além disso, apesar de não estarem delimitados em mapa, são mencionados os pontos que acumulam os maiores problemas decorrentes da ocupação humana para o meio ambiente, principalmente aqueles relacionados à moradia irregular e a destinação de lixo e esgotamento sanitário.

6. O estabelecimento de plano municipal de meio ambiente, seus objetivos, suas diretrizes e o estabelecimento de prazos.

Não, está prevista apenas a criação de um Plano de Gestão Integrada de Recursos Hídricos, comprazo previsto até 2008.

7. A existência de princípios e objetivos que visem a ação articulada com os níveis de governo estaduais e federal.

A parceria com outros níveis de governo está prevista apenas de forma implícita em um dos objetivos da política de meio ambiente que prevê o apoio ao “desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas em parceria com instituições regionais, nacionais e internacionais de ensino e pesquisa, em benefício da ampliação do conhecimento sobre as dinâmicas e processos culturais e ecológicos específicos da região central do Estado de Roraima, onde se insere o município” (art. 7º, inciso VII).

8. A instituição de fundo específico de meio ambiente e suas fontes de recursos, observando: (i) o detalhamento da destinação dos recursos do Fundo; (ii) quem gere o Fundo criado; (iii) quais são as receitas do Fundo; (iv) a necessidade de legislação específica; (v) prazos estabelecidos.

Apesar de o art. 9º, inciso I, mencionar a existência do Fundo Municipal de Meio Ambiente, integrante do Sistema de Gestão Ambiental, não forma apresentadas outras definições a seu respeito.

9. A existência de definições relativas ao orçamento municipal (PPA, LDO e LOA), como a determinação de prioridades de investimentos, ou a definição de obras e investimentos concretos na área ambiental, por exemplo.

Não constam tais definições.

10. A definição de critérios de gênero, etnia/raça ou de outras políticas afirmativas.

Não foram definidos tais critérios.

11. O grau de auto-aplicabilidade das definições estabelecidas na política de meio ambiente.

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As definições da política de meio ambiente e de recursos hídricos são auto-aplicáveis pelo Executivo Municipal, uma vez que não dependem/remetem a lei complementares específicas para regulamentar definições e instrumentos.

12. A definição dos instrumentos e mecanismos de controle social na política de meio ambiente.

O art. 9º, inciso I, apresenta o Conselho Municipal de Meio Ambiente como órgão integrante do Sistema de Gestão Ambiental.

D – Sistema de Gestão e Participação Democrática Questões centrais:

1. A existência de previsão de audiências públicas obrigatórias. Se sim, em que casos?

Não estão previstas audiências públicas.

2. As definições relativas às consultas públicas (plebiscito; referendo popular ou outras).

Não estão previstas consultas públicas.

3. As definições relativas às Conferências (identificar quais) e sua periodicidade.

Não estão previstas conferências.

4. A instituição de Conselho das Cidades e outros Conselhos ligados à política urbana (Conselho Gestor do Fundo de Habitação de Interesse Social, Conselho de Transporte, Conselho de Saneamento, de Desenvolvimento Urbano, etc.) e se existem conexões ou mecanismos de articulação entre estes.

A implantação do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista está previsto no PD e foi regulamentado pela Lei Municipal nº924 de 28 de novembro de 2006. No PD não consta a existência de outros conselhos temáticos.

5. Identificar para cada Conselho:

a) Composição por Segmento

(i) governo: 4 representantes do Poder Executivo Municipal e 2 representantes do Poder Legislativo Municipal.

(ii) empresários: 1 representante das entidades empresariais.

(iii) trabalhadores e entidades de ensino e pesquisa: 1 representante de entidades profissionais e acadêmicas.

(iv) movimento popular: 1 representante dos movimentos sociais e populares.

(v) ONGs: 1 representante de ONGs nacionais que desenvolvem trabalhos na área urbana e rural do município.

(vi) outros: 1 representante das entidades da classe dos trabalhadores.

(vii) total: 11 membros.

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b) Composição do poder público e sociedade

Tabela – Composição poder público e sociedade

Conselho Composição (Poder Público e Sociedade Civil)

Segmentos sociais representados

Participação do Movimento Popular (%)

Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista

11 membros

Poder Público: 54,5%

Sociedade Civil: 45,5%

Legislativo Municipal: 18%

Executivo Municipal: 36%

Mov. Sociais e Populares: 9%

Entidades Empresariais: 9%

Ent. da Classe Trabalhadora: 9%

ONGs: 9%

Ent. Profissionais e Acadêmicas: 9%

Mov. Sociais e Populares: 9%

Observações: (i) Composição: anotar a composição percentual entre o poder público e a sociedade; (ii) Segmentos sociais representados: levar em consideração dos seguintes segmentos: poder público federal; poder público estadual; poder público municipal; movimentos populares; entidades da área empresarial; entidades dos trabalhadores; entidades da área profissional, acadêmica e de pesquisa; organizações não-governamentais; (iii) Participação do movimento popular: indicar o peso relativo (%) do segmento do movimento popular na composição total do Conselho das Cidades.

c) Caráter (consultivo ou deliberativo ou ambos)

O art. 2º da lei municipal que dispõe sobre o Conselho da Cidade (nº924/2006) determina que o conselho é “órgão colegiado de natureza deliberativa, fiscalizadora e consultiva, integrante da estrutura da Prefeitura Municipal de Boa Vista”.

d) Atribuições (verificar se está prevista como uma das atribuições a iniciativa de revisão dos planos diretores)

O art. 3º determina as seguintes funções ao conselho, dentre as quais não foi possível identificar a função de revisar o Plano Diretor:

I- propor diretrizes, instrumentos, normas e prioridades da Política Municipal de Desenvolvimento;

II- acompanhar, fiscalizar e avaliar a implementação da política nacional de desenvolvimento urbano, em especial as políticas de habitação, de saneamento ambiental, de transportes, de mobilidade urbana e planejamento territorial urbano, orientação e acessibilidade, e recomendar as providências necessárias ao cumprimento de seus objetivos;

III- propor a edição de resoluções gerais de direito urbanísticos e, manifestar-se sobre as propostas de alteração da legislação pertinente;

IV- emitir parecer sobre a aplicação da Lei Federal nº10.257, de junho de 2001, e dos demais atos normativos relacionados ao desenvolvimento urbano e rural;

V- promover a cooperação entre os governos da União, dos Estados, do Município e da sociedade civil em geral, na formulação e execução da política municipal de desenvolvimento urbano e rural;

VI- promover, em parceria com as Instituições governamentais e não governamentais,

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nacionais, estaduais, municipais e internacionais, a assimilação de sistemas de indicadores sociais, no sentido de estabelecer metas e procedimentos com base nos indicadores sociais, com desígnio de monitorar a aplicação das atividades relacionadas com o desenvolvimento urbano e rural.

VII- estimular ações que visem propiciar a geração, apropriação e utilização de conhecimentos científicos, tecnológicos, gerenciais e organizativos pelas populações das áreas urbanas e rurais.

VIII- promover a realização de estudos, debates e pesquisas sobre a aplicação e os resultados estratégicos alcançados pelos programas e projetos desenvolvidos pela Prefeitura Municipal de Boa Vista, e do Estado de Roraima;

IX- estimular a ampliação e o aperfeiçoamento dos mecanismos de participação e controle social, por intermédio de rede nacional de órgãos colegiados estaduais, regionais e municipais, visando fortalecer o desenvolvimento urbano sustentável;

X- poderá sugerir propostas, desde que aprovadas pelo Chefe do Executivo, para atender as diretrizes de distribuição regional ou setorial do orçamento da Prefeitura Municipal de Boa Vista e do Governo do Estado, destinados à política urbana e rural;

XI- administrar o seu regimento interno e decidir sobre as alterações propostas pelos seus membros.

e) A definição da forma de eleição dos conselheiros.

O art. 6º da Lei Municipal nº924/2006 determina que “os representantes titulares e suplentes de que tratam os incisos III e VII do art. 4º desta Lei serão eleitos em assembléia de cada segmento, sendo convocado especialmente para esta finalidade pelo Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista”. E o § 4º, desse mesmo artigo, faz a ressalva de que “a prefeitura Municipal de Boa Vista, indicará em portaria, os órgãos e entidades cujos representantes participarão do primeiro mandato do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista”.

f) A definição de critérios de gênero na composição do conselho.

Tais critérios não foram definidos.

6. Previsão de participação da população e de entidades representativas dos vários segmentos da sociedade na formulação, execução e acompanhamento dos planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

O intuito de garantir de participação da sociedade civil nas políticas públicas do município encontra-se reafirmado em alguns pontos do PD, mas apenas de forma genérica, sem a definição dos canais e instrumentos que viabilizem a participação.

Especialmente no capítulo que trata do Sistema de Planejamento e Gestão Municipal, alguns trechos destacam o princípio da participação: o art. 72 define como um dos objetivos desse Sistema a ampliação da participação social no processo de planejamento e gestão das políticas municipais. O art. 74, por sua vez, apresenta as diretrizes para a ampliação da participação social, que são:

I - assegurar a gestão democrática da cidade, garantindo a efetivação de canais de participação da sociedade no planejamento e gestão do Município de Boa Vista;

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II - ampliar e fortalecer os conselhos municipais vinculados à administração direta e indireta nas suas respectivas áreas de atuação, em especial o Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista;

III - incentivar a formação de novos canais de participação da sociedade;

IV - capacitar lideranças comunitárias para o exercício democrático;

V - incentivar a participação da comunidade na elaboração, execução e fiscalização das políticas setoriais.

7. A definição de criação de Fóruns entre governo e sociedade para debate de políticas urbanas.

Não foram criados fóruns específicos, mas na lei que dispõe sobre o Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista, dentre as suas competências, O Conselho poderá promover, segundo seu interesse, “seminários ou encontros regionais sobre assuntos da sua agenda, bem como, estudos sobre a definição de convênios nas áreas de desenvolvimento urbano e rural sustentável e na propriedade urbana e rural, a serem firmados com organismos nacionais ou internacionais públicos ou privados” (art. 3º, § único).

8. A definição de criação de instâncias de participação social no orçamento público municipal (definir quais instâncias estão previstas: debates, reuniões periódicas, audiências, consultas públicas, etc. e se são condição obrigatória para o encaminhamento das propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentária e do orçamento anual).

Não foram criadas tais instâncias.

9. Verificar no plano diretor a relação que existe entre a definição de obras e investimentos propostos com a capacidade financeira do município (se existem definições relativas a essa relação e quais).

Não existem quaisquer definições que relacionem investimentos e obras à capacidade financeira do município.

10. A definição de outras instâncias de participação.

Não foram definidas outras instâncias de participação além do Conselho Municipal da Cidade.

11. Identificar a existência no plano da instituição de sistema de gestão, estrutura, composição e atribuições de cada órgão; as formas de articulação das ações dos diferentes órgãos municipais.

O art. 75 do PD determina que “o Sistema de Planejamento e Gestão Municipal será constituído pelos órgãos de administração direta e indireta e o Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista envolvidos nas políticas de desenvolvimento local e por Áreas de Integração Setorial - AIS, que poderão ser criadas para facilitar a implementação do processo”. Entretanto, o PD não discrimina quais são esses órgãos, os quais são definidos por lei municipal específica (nº774 de 16 de dezembro de 2004), a qual não tivemos acesso.

Essas Áreas de Integração Setorial constituem-se em um mecanismo criado pelo PD para a promoção da integração entre as políticas do município, e podem ser criadas por interesse dos órgãos envolvidos na implementação dessas políticas quando a situação requerer a atuação de mais de uma área da administração pública municipal.

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12. Identificar no plano diretor as formas de planejamento e execução das ações; se existem definições relacionadas às formas regionalizadas e centralizadas de gestão; e como está prevista a participação da sociedade neste processo?

A menção a esse tipo de gestão é feita de forma genérica, apenas. No artigo que trata das competências do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista, da Lei Municipal nº923/2006, consta o estímulo à “ampliação e ao aperfeiçoamento dos mecanismos de participação e controle social, por intermédio de rede nacional de órgãos colegiados estaduais, regionais e municipais, visando fortalecer o desenvolvimento urbano sustentável” (art. 3º, inciso IX).

O art. 73, inciso IV, do PD, define como uma das diretrizes para fortalecer o sistema de planejamento e gestão municipal a promoção de gradativa “descentralização da gestão administrativa e do atendimento e assistência às lideranças comunitárias”.

13. Identificar, no plano, as formas de monitoramento das ações no território municipal; está prevista a participação da sociedade?

O Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista é um dos mecanismos de monitoramentos das políticas municipais previstos no PD. Segundo a lei que o regulamenta (Lei Municipal nº923/2006), compete a este órgão “acompanhar, fiscalizar e avaliar a implementação da política nacional de desenvolvimento urbano, em especial as políticas de habitação, de saneamento ambiental, de transportes, de mobilidade urbana e planejamento territorial urbano, orientação e acessibilidade, e recomendar as providências necessárias ao cumprimento de seus objetivos” (art. 3º, inciso II).

De forma genérica, a seção que trata do Sistema de Planejamento e Gestão Municipal apresenta uma diretriz relativa à criação de um órgão que promova a gestão do Plano Diretor, a saber:

Art. 76 - O Município, quando da revisão da estrutura administrativa, deverá definir um órgão coordenador da gestão do Plano Diretor Estratégico e Participativo com a participação do Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista, para planejar e monitorar o crescimento da cidade de Boa Vista, disciplinando e controlando a ocupação e o uso do solo no município, de forma a garantir o seu desenvolvimento sustentável.

Apesar de a ampliação da participação da sociedade ser um princípio reafirmado em alguns pontos do PD, o único mecanismo concreto de monitoramento das ações e políticas municipais que envolve a participação direta da sociedade definido pelo PD é o Conselho da Cidade.

14. Identificar, no plano, a referência a existência de cadastros (imobiliário, multifinalitário, georreferenciados, planta de valores genéricos e as formas de atualização) e a implementação dos impostos territoriais (IPTU, ITR e ITBI). Observação: O ITR pode não aparecer porque o plano pode ter sido aprovado antes do ITR ser passado para o município.

Não consta no PD nenhuma definição sobre os impostos territoriais municipalmente cobrados, bem como a existência de cadastros de tais naturezas.

15. Identificar a previsão no plano de revisão do código tributário.

Não constam referências ao código tributário no município no PD.

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MATERIAL CONSULTADO

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. PNUD (Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e FUNDAÇÃO JOÃO

PINHEIRO. Software base de dados Censo de 1991 e 2000.

BOA VISTA. Lei 923, de 28 de novembro de 2006. Altera o art. 2º, inciso I, alínea A, da Lei 774/00,

inserindo o Conselho Municipal da Cidade de Boa Vista/RR e dá outras providências. Diário

Oficial do Município de Boa Vista, Ano XII, nº1858, de 30 nov de 2006.

BOA VISTA. Lei Complementar 924, de 28 de novembro de 2006. Dispõe sobre o Plano Diretor

Estratégico e Participativo de Boa Vista e dá outras providências. Diário Oficial do Município

de Boa Vista, Ano XII, nº1858, de 30 nov de 2006.

BOA VISTA. Lei 925, de 28 de novembro de 2006. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano do

Município de Boa Vista e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Boa Vista,

Ano XII, nº1858, de 30 nov de 2006.

BOA VISTA. Lei 926, de 29 de novembro de 2006. Dispõe sobre o Uso e Ocupação do Solo do

Município de Boa Vista e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Boa Vista,

Ano XII, nº1858, de 30 nov de 2006.

BRASIL. Estatuto da cidade: Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Estabelece diretrizes gerais da

política urbana. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. Diagnóstico Municipal Integrado do

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Banco Sidra. Disponível em

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MINISTÉRIO DAS CIDADES. Plano Nacional de Habitação: Caracterização dos tipos de municípios.

Maio de 2008. Disponível em http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-

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OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES. Necessidades Habitacionais, 2000. Base de dados Metrodata.

Disponível em http://www.observatoriodasmetropoles.ufrj.br/metrodata/nechab/index.html.

Acesso em 10 jun 2009.