paulo vargas groff. modelos de parlamentarismo

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Brasília a. 40 n. 160 out./dez. 2003 137 Paulo Vargas Groff Introdução Existem certos elementos que caracteri- zam um sistema de governo como sendo parlamentarista e não presidencialista ou diretorialista. Todavia, não existe um tipo único de parlamentarismo, assim como não existe um tipo único de presidencialismo, não sendo possível dizer o mesmo do dire- torialismo, pelo fato de encontrarmos este sistema apenas na Suíça. Apesar de cada Estado ter as suas particularidades, no que se refere ao sistema parlamentarista, é pos- sível hoje destacarmos três modelos distin- tos de parlamentarismo: o modelo britâni- co, que é considerado o modelo clássico por ter sido o primeiro a surgir, e os modelos alemão e francês. Esses modelos distintos vão surgir em função da relação do parla- mentarismo com a forma de governo, mo- nárquica ou republicana, e dentro da forma republicana em função da eleição direta ou indireta do chefe de Estado, ou seja, do Pre- sidente da República. Portanto, dependen- Modelos de parlamentarismo: inglês, alemão e francês Paulo Vargas Groff é Doutor em Direito pela Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbon- ne) e Professor de Direito Constitucional das Faculdades de Direito da Universidade Lutera- na do Brasil (ULBRA) e do Instituto Ritter dos Reis, RS. Sumário Introdução. 1. Sistema parlamentarista. 1.1. Definições sobre o parlamentarismo. 1.2. Ca- racterísticas do parlamentarismo. 2. Modelos referenciais de parlamentarismo. 2.1. Monar- quia parlamentarista – modelo inglês. 2.2. Re- pública parlamentarista – modelo alemão. 2.3. República parlamentarista-presidencialista – modelo francês. Conclusão.

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Existem certos elementos que caracterizam um sistema de governo como sendo parlamentarista e não presidencialista ou diretorialista. Todavia, não existe um tipo único de parlamentarismo, assim como nãoexiste um tipo único de presidencialismo, não sendo possível dizer o mesmo do diretorialismo, pelo fato de encontrarmos este sistema apenas na Suíça. Apesar de cadaEstado ter as suas particularidades, no que se refere ao sistema parlamentarista, é possível hoje destacarmos três modelos distintos de parlamentarismo: o modelo britânico, que é considerado o modelo clássico por ter sido o primeiro a surgir, e os modelos alemão e francês. Esses modelos distintos vão surgir em função da relação do parlamentarismo com a forma de governo, monárquica ou republicana, e dentro da forma republicana em função da eleição direta ou indireta do chefe de Estado, ou seja, do Presidente da República.

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Brasília a. 40 n. 160 out./dez. 2003 137

Paulo Vargas Groff

Introdução

Existem certos elementos que caracteri-zam um sistema de governo como sendoparlamentarista e não presidencialista oudiretorialista. Todavia, não existe um tipoúnico de parlamentarismo, assim como nãoexiste um tipo único de presidencialismo,não sendo possível dizer o mesmo do dire-torialismo, pelo fato de encontrarmos estesistema apenas na Suíça. Apesar de cadaEstado ter as suas particularidades, no quese refere ao sistema parlamentarista, é pos-sível hoje destacarmos três modelos distin-tos de parlamentarismo: o modelo britâni-co, que é considerado o modelo clássico porter sido o primeiro a surgir, e os modelosalemão e francês. Esses modelos distintosvão surgir em função da relação do parla-mentarismo com a forma de governo, mo-nárquica ou republicana, e dentro da formarepublicana em função da eleição direta ouindireta do chefe de Estado, ou seja, do Pre-sidente da República. Portanto, dependen-

Modelos de parlamentarismo: inglês,alemão e francês

Paulo Vargas Groff é Doutor em Direitopela Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbon-ne) e Professor de Direito Constitucional dasFaculdades de Direito da Universidade Lutera-na do Brasil (ULBRA) e do Instituto Ritter dosReis, RS.

SumárioIntrodução. 1. Sistema parlamentarista. 1.1.

Definições sobre o parlamentarismo. 1.2. Ca-racterísticas do parlamentarismo. 2. Modelosreferenciais de parlamentarismo. 2.1. Monar-quia parlamentarista – modelo inglês. 2.2. Re-pública parlamentarista – modelo alemão. 2.3.República parlamentarista-presidencialista –modelo francês. Conclusão.

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do da variação do lugar ocupado pelo chefede Estado, teremos um modelo ou outro.

Desejamos, com esta reflexão, tratar, pri-meiramente, do significado do parlamenta-rismo, com as suas definições e característi-cas básicas, para num segundo momentoanalisarmos os três modelos distintos deparlamentarismo, ressaltando as particula-ridades de cada um deles e a adequaçãodesses modelos a cada realidade, com ospontos que são apontados como sendo po-sitivos e negativos. Temos a clareza de quecada modelo está ligado à realidade própriade cada Estado, e, portanto, o fato de funci-onar de maneira razoável numa dada reali-dade não o torna apropriado para ser trans-plantado para outras realidades distintas.Tal reflexão adquire importância em funçãodo constante retorno da discussão sobre oparlamentarismo na política brasileira, semque os defensores desse sistema expressemcom maior clareza que tipo de parlamenta-rismo desejam para o Brasil. Isso não impli-ca dizer que devemos optar por um dosmodelos que iremos analisar.

1. Sistema parlamentaristaEntendemos ser de fundamental impor-

tância, primeiramente, demarcarmos clara-mente o que significa o parlamentarismoenquanto sistema de governo. Para isso ire-mos trabalhar com algumas definições e, fi-nalmente, traçaremos as características bá-sicas, válidas para os três modelos que ire-mos analisar logo após.

1.1. Definições sobre o parlamentarismo

O cientista político Philippe BRAUD(1996, p. 171) define o parlamentarismo comosendo o “regime político em que o governo(Conselho de Ministros), que exerce o poderem nome de um chefe de Estado irresponsá-vel, é politicamente responsável frente a umaAssembléia Nacional sujeita à dissolução”.

No nosso entender, o que define um sis-tema como sendo parlamentarista é o fatode haver uma dependência ou necessidade

de cooperação política entre os Poderes Exe-cutivo e Legislativo. Pois no sistema oposto,presidencialista, haverá a independênciapolítica entre os Poderes.

Existe no sistema parlamentarista ummecanismo de equilíbrio de forças. Esseequilíbrio de forças entre o Parlamento e ochefe de Estado está no fato de que o Parla-mento pode obter a demissão do Ministério,porém aquele pode ser dissolvido pelo che-fe de Estado (monarca na Inglaterra, naBélgica, no País Baixo ou na Espanha, e Pre-sidente da República na Itália, na Alemanhae na França). Assim, esse chefe de Estadosimboliza a unidade nacional, acima dospartidos políticos, e, conseqüentemente, dasdivergências e crises políticas. O chefe deEstado encarna a continuidade do estado edas instituições, sem ter os meios e os pode-res de colocar em prática uma política pró-pria. Dependendo da variação do lugar ocu-pado pelo chefe de Estado, sobretudo emfunção de sua eleição direta, este pode por-tar uma grande legitimidade popular (cf.MÉNY, 1993, p. 282), como é o caso doPresidente da República na França.

No parlamentarismo, geralmente o Par-lamento encontra-se dividido em duas Casasou Câmaras (bicameralismo): Câmara Alta(Câmara dos Lordes, na Inglaterra; Senado,na França; e Bundesrat, na Alemanha) eCâmara Baixa (Câmara dos Comuns, naInglaterra; Assembléia Nacional, na França;e Bundestag, na Alemanha). Somente a Câ-mara Baixa, na qual seus membros são re-sultantes do sufrágio universal, é que exer-ce controle sobre o governo. A Câmara Altatem seus membros geralmente escolhidospor via indireta, possuindo poderes limita-dos. Ela funciona mais como um poderModerador, com caráter conservador, se com-pararmos com a Câmara Baixa, que geralmen-te é mais sensível às pressões populares.

O Poder Executivo tem preponderânciasobre os demais Poderes na maioria dos re-gimes parlamentares contemporâneos,como, por exemplo, na Grã-Bretanha, naSuécia, na Alemanha. E as razões disso não

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se devem somente a disposições jurídicas,que introduzem um parlamentarismo raci-onalizado: existência de modalidades res-tritivas da colocação em jogo da responsa-bilidade política; domínio pelo governo daagenda das Assembléias; limitação da du-ração das sessões parlamentares. Em ver-dade, esse domínio decorre de dois fatoresfundamentais: primeiramente, a existênciade partidos disciplinados, tendo o primei-ro-ministro, enquanto líder do partido, odomínio sobre os parlamentares que lhe dãosustentação; o outro fator se deve ao aumen-to da necessidade de governar. Assim, tan-to as atividades legislativas como as admi-nistrativas estão hipertrofiadas, quando setrata de resolver difíceis tarefas com carátercada vez mais técnico. No entanto, o Legis-lativo se encontra bem menos aparelhadoque o Executivo, que pela sua própria natu-reza possui uma série de órgãos especiali-zados. Assim, acaba o Executivo legislandopor decreto e o Legislativo, quase que exclu-sivamente, vota os projetos de lei do Execu-tivo (cf. BRAUD, 1996, p. 172-173).

Fazendo um paralelo com as formas degoverno, Monarquia e República, verifica-mos que o presidencialismo e o diretorialis-mo ocorrem somente na República, enquan-to o parlamentarismo pode ser adotado tan-to na República como na Monarquia. Cercade 3/4

dos governos no mundo são do tipo

parlamentarista.

1.2. Características do parlamentarismo

Existem alguns elementos que são bási-cos para as diversas experiências parlamen-taristas: Executivo dualista, governo comresponsabilidade política e Câmara baixasujeita a dissolução.

– Executivo dualista: distinção entre che-fe de Estado (Monarca ou Presidente) e Che-fe de Governo (primeiro-ministro ou chan-celer). A instituição do chefe de Estado va-ria em função da forma de governo, republi-cana ou monárquica: sendo republicana,será temporária, e na monárquica, será vita-lícia e hereditária. Para alguns autores (cf.

SILVA, 1996, p. 128), a chefia do Estado nadatem que ver com o poder Executivo (gover-no), constituindo-se uma espécie de quartoPoder, neutro e eqüidistante dos demaisPoderes, uma espécie de poder Moderador.

O governo é o órgão executivo do siste-ma parlamentarista. Em regra geral, esseórgão é chefiado pelo líder da maioria parla-mentar, podendo representar um só partidoou a coligação de partidos. O chefe de gover-no recebe diferentes denominações: primei-ro-ministro, chanceler, presidente do conse-lho de ministros ou presidente do governo, eé indicado pelo chefe de Estado, que indicaráaquele que tiver a possibilidade de obter oapoio da maioria parlamentar. DiversasConstituições (cf. SILVA, 1996, p. 124) prevê-em que o chefe de Estado pode dissolver oParlamento caso este recuse sucessivamenteas indicações dos primeiros-ministros. Quan-do se fala em Parlamento, para fins de forma-ção do governo, está-se referindo somente àCâmara Baixa (Câmara do Deputados, As-sembléia Nacional ou Câmara dos Comuns).Os membros do governo geralmente são mem-bros do Parlamento e continuam no exercíciodo mandato parlamentar. Em matéria de pro-cesso legislativo, o sistema parlamentaristaconcede poder de iniciativa legislativa ao go-verno, com maior delegação legislativa.

– Governo com responsabilidade políti-ca: o governo para se manter necessita que asua política seja aprovada pela maioria par-lamentar. É um sistema alicerçado no con-senso ou aceitação, e não simplesmente noconceito de maioria ou de minoria. O consen-so pode deixar de existir, e o Parlamento ma-nifesta por meio da “moção de desconfian-ça”, tendo como conseqüência a demissão dogoverno. Existe ainda a “moção de censura”,para que o governo modifique a sua política.Pode o governo se adiantar e requerer ao Par-lamento uma “moção de confiança” para re-afirmar a sua estabilidade. A moção de des-confiança atinge todo o governo, implicandoa responsabilidade coletiva deste (princípioda responsabilidade solidária) (cf. SILVA,1996, p. 125). Por depender do apoio da mai-

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oria parlamentar, que pode desaparecer den-tro de uma mesma legislatura do Parlamentoou após novas eleições parlamentares, o man-dato do governo não tem duração fixa. Sãoexemplos de governos que tiveram uma lon-ga duração: o socialista, na Suécia (22 anos);o conservador, na Inglaterra (14 anos, dosquais 11 com Margareth Tatcher); o socialistade Filipe Gonzales, na Espanha (12 anos); oliberal, na Austrália (12 anos); o socialista daHolanda (8 anos) e o trabalhista na Noruega(8 anos). O jurista francês Maurice HAURIOU(HAURIOU, M. Précis de droit constitutionel.Paris: Sirey, 1929, apud GREWE, 1995, p. 371)considera a responsabilidade política do go-verno o único elemento que caracteriza o par-lamentarismo.

– Câmara Baixa sujeita a dissolução: aCâmara Baixa fica sujeita a dissolução peloChefe de Estado. Essa possibilidade faz comque a Câmara Baixa somente declare a des-confiança no governo em casos em que apolítica deste não tenha mais o apoio popu-lar. Do contrário, ao aprovar a moção dedesconfiança ao governo, pode estar dandoabertura para que o chefe de Estado dissol-va a Câmara Baixa, por entender que estanão mais representa convenientemente opovo. Dissolvida a Câmara Baixa, são con-vocadas novas eleições legislativas. A con-tinuidade do governo ou a necessidade deconstituição de um novo governo vai depen-der da maioria parlamentar surgida das elei-ções. A duração do mandato do membro daCâmara Baixa varia de Estado para Estado,sendo normalmente de 5 anos, mas em fun-ção da dissolução pode ser mais breve, sen-do, no entanto, permitida a reeleição. O sis-tema eleitoral sempre inclui o sistema elei-toral majoritário (voto distrital, com umavaga), ou misto (majoritário e proporcional)para a escolha dos parlamentares.

2. Modelos referenciais deparlamentarismo

Temos para nós que o sistema parlamen-tarista inglês, alemão e francês constituem

três modelos distintos e referenciais de par-lamentarismo, pela particularidade dessesmodelos e pelo fato de terem influenciadona estruturação de governos parlamentaris-tas de outros Estados.

2.1. Monarquia parlamentarista –modelo inglês

As instituições políticas britânicas sãoproduto da história; construídas dia apósdia, elas não são frutos de uma teoria elabo-rada. As principais instituições foram cons-truídas entre os séculos XI e XVIII, como re-sultado da disputa pelo poder político en-tre o Monarca e o Parlamento. O sistema bri-tânico deu nascença ao primeiro regimepolítico moderno, ao primeiro regime demo-crático, aos primeiros partidos políticos eao primeiro tipo de parlamentarismo.

No parlamentarismo britânico, o fato dehaver uma fusão entre o Legislativo e o Exe-cutivo, e o fato de existirem dois partidosfortes, conservador e trabalhista, são respon-sáveis pela estabilidade do sistema.

Depois de 1983, a Câmara dos Comunsconta com 650 deputados, com mandato deno máximo 5 anos. Mas geralmente a Câ-mara se dissolve durante o último ano domandato. As eleições são realizadas numúnico turno, por circunscrição (distrito), emque de cada circunscrição é eleito um depu-tado, ou seja, o mais votado. Todavia essesistema eleitoral majoritário induz ao votoútil e é capaz de cometer injustiças, poden-do ocorrer de um partido majoritário, com omaior número de votos por circunscrição,ter menor sufrágio que o partido minoritá-rio. Tal fato ocorreu em 1983, quando o par-tido conservador obteve 61% das cadeirascom 42% dos sufrágios (cf. BURDEAU, 1993,p. 201-202).

A concentração dos partidos, surgindodois grandes partidos: conservador e traba-lhista, fez com que após o resultado do es-crutínio já se soubesse qual seria o primei-ro-ministro, sabendo qual o partido majori-tário e qual o seu líder. O chefe de Estado,monarca, nomeia o primeiro-ministro, que é

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o líder do partido majoritário. Dessa forma,quando se vota no deputado se está na ver-dade escolhendo o primeiro-ministro. Exis-tem ainda outros partidos políticos, masesses não chegam a intervir no monopólioexercido pelos dois grandes partidos. Porexemplo, em 1955 os dois partidos obtive-ram 96,1% dos sufrágios exprimidos; em1992 foi de 76%, e, mesmo com a diminui-ção, esse domínio não chega a ser ameaça-do (cf. ARDANT, 1995, p. 247).

A Câmara dos Comuns tem um presi-dente, o speaker, eleito por toda a legislatura,podendo sair do partido majoritário ou mi-noritário. A sua função caracteriza-se pelaimparcialidade e neutralidade, sendo umcargo de grande prestígio. Inclusive, na suacircunscrição, a oposição se abstém de apre-sentar candidato, e normalmente ele é re-conduzido à presidência na nova legislatu-ra. Existe uma disciplina partidária muitorígida e os deputados obedecem geralmenteas indicações do partido, sob pena de nãoserem reeleitos. Em conseqüência, todos osprojetos depositados pelo gabinete no par-lamento são aprovados.

A Câmara dos Lordes é composta de maisde 1.000 membros, embora somente 150 com-pareçam às sessões. Destes, 900 são heredi-tários, 150 à vida, 26 são espirituais. Existeainda uma categoria especial, que são osLaw Lords, magistrados responsáveis pelaSuprema Corte da Grã-Bretanha, pois cabetambém à Câmara dos Lordes resolver oslitígios em última instância e estabelecer ajurisprudência. Todos os membros destaCâmara são nomeados pelo Monarca(Rainha), que pode a todo momento nomearos pares hereditários e os à vida. Todaviaesses poderes pertencem hoje ao primeiro-ministro. Até 1911 a Câmara dos Lordes ti-nha as mesmas atribuições da Câmara dosComuns. Depois dessa data, em função doParliament Act, a Câmara dos Lordes ficousomente com o poder de veto sobre as leis,com valor suspensivo por um ano (um mêspara matérias financeiras), podendo, pormeio desse mecanismo, retardar a execução

de uma lei. Dessa forma, o papel dessa Câ-mara tem-se qualificado nos últimos tem-pos, em virtude da nomeação de pares à vida,personalidades reconhecidas pelas suas com-petências (BURDEAU, 1993, p. 203-204).

A Grã-Bretanha é uma monarquia, e apassagem da coroa se faz por meio das re-gras hereditárias do direito comum, em quehomens e mulheres têm os mesmos direitos.Os poderes reais são consideráveis: nomea-ção de um grande número de cargos, o di-reito de conceder o título de Lorde, os títulosem geral e as condecorações, o direito deconvocar, prorrogar e dissolver a Câmarados Comuns, o direito de guerra e de paz,direito de tratados, etc. Mas o exercício des-ses poderes se dá através do gabinete ou doprimeiro-ministro, que contra-assinam, as-sumindo a responsabilidade política. Toda-via, a importância maior da coroa inglesaestá nos valores que ela historicamente ex-pressa: a grandeza do império britânico e asvirtudes da família inglesa. Embora isso tudoseja contestado na atualidade, não fazendomais unanimidade, o poder real tem uma for-ça simbólica considerável na Grã-Bretanha.

O primeiro-ministro é teoricamente es-colhido pela Rainha, juntamente com osprincipais ministros. Os demais ministros esecretários são da livre nomeação do pri-meiro-ministro. Segundo o uso, os ministrosdevem pertencer ao Parlamento, ficando acargo do primeiro-ministro verificar a pro-porção entre membros da Câmara dos Lor-des e membros da Câmara dos Comuns. OGabinete é uma espécie de órgão executivoda maioria parlamentar. Os poderes primei-ro-ministro são consideráveis: exerce o Po-der Executivo, uma parte dos poderes reais,produção de legislação delegada pelo Par-lamento, etc. as decisões no Gabinete sãotomadas por unanimidade de acordo com ocostume (cf. BURDEAU, 1993, p. 207).

2.2. República parlamentarista –modelo alemão

A Constituição da República Federal daAlemanha, de 8 de maio de 1949, primeira

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do pós-guerra, manteve as mesmas institui-ções da Constituição de Weimar de 1919:um Parlamento, um Presidente da Repúbli-ca e um gabinete dirigido por um Chance-ler. O que mudou foi a sua estrutura internae suas relações (cf. BURDEAU, 1993, p. 209).

O federalismo aparece como uma formade separação dos poderes e uma garantiapara as liberdades, para se contrapor aoEstado unitário e centralizador nazista.Assim, cada Land (Estado-membro) possuia sua organização constitucional, com umParlamento, um Executivo eleito pelo Parla-mento e um controle de constitucionalida-de interno ao Land. Portanto, os Länder(membros da Federação) adotam também osistema parlamentarista.

Dessa forma, de acordo com o princípioda participação, os quinze Länder que cons-tituem a Federação são representados nasegunda Câmara, o Bundesrat (Conselho Fe-deral). O número de representantes por Landé variável, e seus membros são de livre esco-lha e destituição dos governos dos Länder.

As competências da União (Bund) e osLänder estão disciplinadas na ConstituiçãoFederal, sendo classificadas em três grupos:aquelas que são da competência do Bund,aquelas que de competência concorrente eaquelas da competência dos Länder. Existeum Tribunal Constitucional para regrar osconflitos de competências entre a União(Bund) e os Länder.

O Parlamento é composto de duas Câ-maras: o Bundestag (Diète), que representatodo o povo da Federação, e o Bundesrat,que representa os Länder. As eleições aoBundestag têm um modo especial de escru-tínio, que combina a representação propor-cional e o sistema majoritário, o que acabapor favorecer os grandes partidos. Assim, ametade das vagas é destinada ao escrutíniomajoritário uninominal em turno único,dentro das circunscrições, e a outra metadedas vagas é repartida no interior de cadaLand, segundo a lista apresentada pelospartidos. O eleitor vota duas vezes (cf.ARDANT, 1995, p. 277).

O Bundesrat (Conselho Federal), junta-mente com o Bundestag e o governo federal,tem iniciativa de lei, mas o Conselho somentedispõe de veto suspensivo contra texto vo-tado pelo Bundestag. Todavia esse veto ad-quire caráter absoluto se diz respeito a ma-téria que coloca em jogo a existência do Con-selho, se a lei em questão se refere a direitosfundamentais ou se refere aos partidos po-líticos e ao sistema eleitoral. O ConselhoFederal ainda exerce uma função fundamen-tal, ele é o garantidor da democracia. As-sim, no caso em que o governo for autoriza-do pela Constituição a agir sem o consenti-mento da Câmara popular, ele não pode agirsem o acordo do Conselho. Vemos aqui umcaso curioso, de combinação do federalis-mo com o parlamentarismo (cf. BURDEAU,1993, p. 220).

Em relação ao Tribunal Constitucional,ele é o órgão exclusivo de controle da cons-titucionalidade. É composto de 16 membros,escolhidos a metade pelo Bundesrat (Con-selho) e a outra metade pelo Bundestag (Câ-mara Popular), com mandato de 12 anos,devendo recair sobre personalidade quali-ficada, resultando a escolha da negociaçãoentre os dois grandes partidos. A importân-cia do Tribunal é enorme, desempenhandotrês tarefas fundamentais: regulação dos li-tígios entre o Bund (União) e os Länder; con-trole da constitucionalidade; e, por último,assume uma espécie de polícia da morali-dade política.

O Presidente da República é eleito pelaAssembléia Federal, composta por deputa-dos do Bundestag (Câmara Popular) e umnúmero igual de membros eleitos sob o es-crutínio proporcional pelas Assembléiasdos Länder (Diètes), para um mandato decinco anos. Quanto ao papel destinado aoPresidente da República, esse é mais sim-bólico, sendo poucos e de pequena importân-cia os seus poderes. Ele pode exercer o direitode dissolução do Bundestag, desde que esteesteja de acordo (cf. BURDEAU, 1993, p. 221).

A estabilidade política da Alemanhadeve-se fundamentalmente à homogeneida-

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de de opinião e à disciplina das pessoas quefazem política, e menos às formalidades ju-rídicas. No entanto, também é importante oprocesso de escolha do Chanceler. Ele é eleitopela Câmara Popular (Bundestag), sob aproposição do Presidente da República. E,no caso de o candidato proposto não ser elei-to, a Câmara poderá, por maioria absolutados votos, eleger o Chanceler. Não sendopossível a maioria absoluta, o Presidente daRepública terá duas possibilidades, ou elenomeia o candidato que adquiriu maioriasimples ou dissolve a Câmara. No caso de aCâmara querer exprimir um voto de descon-fiança, ela deve eleger o sucessor por maioriaabsoluta. Caso seja o Chanceler que coloquea questão de confiança, e a Câmara o recusepor maioria absoluta, o Presidente da Repú-blica pode, sob proposição do Chanceler, dis-solver a Câmara dentro de três semanas. Mas,se nesse meio tempo a Câmara se restabelecere eleger o sucessor, a dissolução não será maispossível (cf. BURDEAU, 1993, p. 222).

2.3. República parlamentarista-presidencialista – modelo francês

A atual Constituição francesa é de1958, marcando o início da 5a República(V Rèpublique). Ela foi elaborada pelo Gene-ral Charles de Gaulle, que havia solicitadoe recebido plenos poderes para resolver oproblema da crise da Argélia, então colôniafrancesa, e para revisar a Constituição. Naverdade, foi feita uma nova Constituição,que depois de elaborada foi submetida àconsulta de um Comitê Constitucional, com-posto por 2/3 do Parlamento, e a referendum.Nesse referendum, foi aprovada por 79,25%dos votos válidos, mesmo havendo a posi-ção contrária dos partidos de esquerda e depersonalidades como François Mitterand ePierre Mendes France. Assim, ela foi pro-mulgada em 4 de outubro de 1958. Na ver-dade, foi De Gaulle que foi plebiscitado, en-contrando na Constituição plenos poderes.

As idéias centrais da Constituição pro-vêm principalmente do General De Gaulle,que estabeleceu alguns princípios como:

necessidade de um chefe de Estado forte,eleito por um colégio eleitoral mais amploque o Parlamento, colocado acima dos par-tidos políticos, uma espécie de árbitro, deonde precede o Poder Executivo; manuten-ção do bicameralismo, em que a segundaCâmara (Senado) tem um papel importantede “reflexão e melhoramento” da legislação;restauração da autoridade do Estado, aci-ma dos partidos políticos (cf. ARDANT,1995, p. 414-417).

Acusada por muitos constitucionalistas,cientistas políticos e pela esquerda em geralde ter sido feita sob medida para o Generalde Gaulle, de ser um texto de circunstância,aos poucos esta Constituição foi-se institu-cionalizando. Ela tem mais de 43 anos deexistência, tendo passado por ela cinco pre-sidentes da República, entre eles FrançoisMitterrand, que fora contrário a sua adoção,mas que enquanto Presidente declarou sesentir à vontade nas roupagens criadas poressa Constituição.

Dois traços são bem marcantes na Cons-tituição de 1958: a restauração da autorida-de do Estado e o estabelecimento de limitesao poder dos partidos. A partir da revisãode 1962, o Presidente da República passoua ser eleito diretamente pelo povo, adqui-rindo a mesma legitimidade do Parlamen-to. O Presidente nomeia o primeiro-minis-tro, que, se for do mesmo partido, trabalhajunto com o Presidente. Todavia, o Presiden-te não pode revogar a nomeação. A Consti-tuição não é muito clara sobre a relação en-tre o Presidente da República e o primeiro-ministro. Segundo o art. 5o, o papel do Presi-dente é de “assegurar, pela sua arbitragem,o funcionamento regular dos poderes pú-blicos, assim como a continuidade do Esta-do” (BURDEAU, 1993, p. 508). Dessa for-ma, é a prática que lhe foi dando contorno.

Criou-se uma primazia do Executivo so-bre o Legislativo, devido à perda de poderdos partidos políticos. Estes perderam omonopólio sobre a iniciativa de lei; a lei dei-xou de ter soberania, pois passou a ser con-trolada pelo Conselho Constitucional, uma

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instância distinta dos três Poderes (sistemapolítico de controle de constitucionalidade);a pauta legislativa começou a obedecer àsprioridades do governo; o Parlamentodeixou de eleger o Presidente, e o primei-ro-ministro não precisa ter a aprovaçãodo Parlamento para assumir seus plenospoderes (cf. ARDANT, 1995, p. 418-424),embora necessite para governar e se man-ter no poder.

A Constituição de 1958 foi a primeira aconstitucionalizar os partidos políticos. Oart. 4o dispõe que “os partidos e os grupa-mentos políticos concorrem para a expres-são do sufrágio. Eles se formam e exercemsuas atividades livremente. Eles devem res-peitar os princípios da soberania nacionale da democracia”. Assim, a partir da Cons-tituição de 1958, assistimos a uma impor-tante transformação do sistema de partidos,do bipartidarismo passa-se ao multiparti-darismo estável.

Um fato marcante também na vida des-sa Constituição foi a alternância de poder,no momento em que assume a presidência osocialista François Mitterrrand, em 1981, eas sucessivas “coabitações” de um chefe deEstado socialista e chefes de governo de di-reita, entre março de 1986 e maio de 1988, eentre 1993 e 1995 (cf. ARDANT, 1995, p. 418-420). Mais recentemente, entre 1997 e 2002,tivemos uma situação oposta de “coabita-ção”, um chefe de Estado da direita, o Presi-dente da República Jacques Chirac, e umchefe de Governo socialista, o primeiro-mi-nistro Lionel Jospin. Essa situação não foinada tranqüila, sendo razão para constan-tes conflitos, pois as fronteiras das atribui-ções do chefe de Estado e do chefe de gover-no não estão bem demarcadas na Constitui-ção, e muitas vezes as fronteiras são ultra-passadas de forma proposital, pois ambasas figuras entendem encarnar a vontade danação e representam os dois grandes gru-pos políticos. Tal situação fica mais críticacom a proximidade de eleições, sejam elaslocais, legislativas ou presidenciais. Anun-ciava-se de antemão que nas eleições presi-

denciais de 2002 tanto Chirac como Jospiniriam apresentar-se como candidatos natu-rais. As eleições em primeiro turno, em 21de abril de 2002, colocaram fim à coabita-ção, com a retirada de Jospin da cena políti-ca, por não ter conseguido ir para o segun-do turno das eleições presidenciais, deixan-do o segundo lugar para o candidato daextrema-direita, Jean-Marie Le Pen. Tendoganhado as eleições no segundo turno,Chirac escolheu um primeiro-ministro deseu partido, mesmo não tendo maioria par-lamentar, contando com a complacência dopartido socialista. As eleições legislativas,em setembro de 2002, dirão sobre a novamaioria parlamentar. No entanto, a figurada coabitação tem sido apontada por mui-tas personalidades francesas como a causado crescimento assustador da extrema-di-reita na França e a ida de seu candidato aosegundo turno das eleições presidenciais,devido ao desgaste das duas principaisagremiações políticas lideradas pelo primei-ro-ministro e Presidente da República (TOU-RAINE, 2002).

O mandato do presidente da Repúblicaé de 7 anos e não tem limite de reeleição;assim, Miterrand permaneceu 14 anos noPalais Élysée (sede do chefe de Estado). Nes-te momento, existe uma proposta do Parti-do Socialista de redução do mandato para 5anos, mas isso não tem encontrado muitoeco nos partidos de direita. O mandato dosparlamentares é de 5 anos, mas pode serabreviado em caso de dissolução, como aque houve em 1998. O grupo político do pre-sidente Chirac tinha a maioria parlamentare o primeiro-ministro era do mesmo partido(RPR) do presidente da República. Chiracdecide antecipar em dois anos as eleiçõeslegislativas, dissolvendo a Assembléia Na-cional, por entender que as eleições naquelemomento lhe dariam novamente a maioriaparlamentar, o que achava que não seriapossível no futuro, em função de discussõessobre a União Européia, que poderiam tra-zer desgastes internos, prejudicando o seugrupo político. Mas, ao contrário das previ-

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sões do Presidente Chirac, o seu grupo nãoobteve maioria, tendo que aceitar uma mai-oria parlamentar e um governo do grupopolítico oposto, liderado pelo partido socia-lista (PS). O modo de eleição dos deputadossegue o princípio do escrutínio uninomi-nal majoritário em dois turnos. Assim, éeleito um deputado por circunscrição, e,para ser eleito no primeiro turno, o candi-dato deve obter a maioria absoluta dos su-frágios exprimidos (em que não são conta-bilizados os votos em branco) e um núme-ro de sufrágios igual a ¼ do número deeleitores inscritos (cf. BURDEAU, 1993, p.470). Para concorrer ao segundo turno, oscandidatos devem ter obtido ao menos12,5% dos votos válidos (cf. GREWE,1995, p. 402-403).

No que se refere à maioria parlamentar,é considerada perfeita quando o presidenteda República é eleito pela maioria dos vo-tos, no primeiro ou no segundo turno, foreleita uma maioria parlamentar do mesmopartido do presidente da República, e o pri-meiro-ministro contar com maioria gover-namental. Havendo maioria perfeita, é opresidente da República que, na prática,governa e que detém o Poder do Estado. E amaioria é considerada imperfeita quandonão coincidem essas maiorias, devendo co-existir presidente da República e primeiro-ministro de forças políticas opostas. A essasituação chama-se coabitação. Neste últimocaso, é reforçada a figura do primeiro-mi-nistro, que se torna mais dependente doParlamento.

Esse modelo foi adotado por Portugal,por meio da Constituição de 1976. O elemen-to relevante é a eleição do presidente da Re-pública pelo voto direto do povo. Ele é o chefede Estado e convive com um chefe de Gover-no, o primeiro-ministro, sendo o Executivodualista. O primeiro-ministro é politicamen-te responsável perante o Parlamento (As-sembléia Nacional), que pode ser dissolvi-do pelo presidente da República. Nessemodelo, os poderes concedidos ao presiden-te da República são inferiores aos concedi-

dos ao presidente da República presidenci-alista, mas maiores que os concedidos aopresidente da República do modelo parla-mentarista alemão. Mas esses poderes po-dem ser ainda acrescentados consideravel-mente, quando o presidente da Repúblicafor o líder do grupo político que tiver maio-ria no Parlamento, ou seja, tiver a chamadamaioria perfeita. Nesse caso, o presidenteda República assume também, de fato, achefia de governo, pois o governo age se-gundo a sua vontade.

Conclusão

É difícil afirmar que um modelo é me-lhor que o outro, pois, apesar dos proble-mas apontados em cada um, as críticas nãosão tão fortes a ponto de colocarem em riscoa base desses modelos, e demonstram ter-seadaptado a cada realidade. O modelo fran-cês parece dar maior legitimidade para ochefe de Estado, pelo fato de ser eleito dire-tamente pelo povo. Por outro lado, a suaposição de garante das instituições, apare-cendo acima dos partidos políticos, fica pre-judicada pelo fato de precisar do apoio dospartidos políticos para viabilizar a sua elei-ção, sendo obrigado a apresentar um pro-grama político para ser eleito. Ainda a dua-lidade no nível do Executivo desaparece nosistema francês quando existe a dita maio-ria perfeita, em que um mesmo grupo políti-co domina no Parlamento, no governo e nachefia do Estado.

No modelo inglês, apesar de não ter aeleição do chefe de Estado, este necessita selegitimar constantemente, principalmentepor meio das ações de suas personalidades.A existência de dois partidos fortes e disci-plinados dá estabilidade ao sistema, sendoconsiderado o ponto fundamental.

No modelo alemão, o sistema centra-seno Governo e no Parlamento, pois o chefede Estado tem um papel bastante decorati-vo, ficando numa posição bastante discre-ta, não tratando sequer das relações exterio-res, função própria do chefe de Estado.

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Procuramos, assim, distinguir esses trêsmodelos em função da constituição e dopapel do chefe de Estado, embora outras clas-sificações possam ser feitas, por exemplo,em função do papel desempenhado pelospartidos políticos.

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