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ASSUNTO: A práxis Arqueológica em cotas positivas e negativas do conjunto do Carmo – Olinda Suporte para implantação de um programa de restauração e conservação. 1 A práxis Arqueológica em cotas positivas e negativas do conjunto do Carmo - Olinda Suporte para implantação de um programa de restauração e conservação. Paulo Tadeu de Souza Albuquerque* A produção da pesquisa arqueológica, enquanto fonte de documentação do passado, assume papel fundamental como facilitador da compreensão do processo de formação e desenvolvimento de uma cidade e de um monumento ou estrutura edificada. A partir da consolidação da “leitura” arqueológica das camadas de sedimentação do terreno e das estruturas arquitetônicas nele encontradas se podem perceber os elementos de continuidade do processo de vida de um aglomerado urbano que, assim, se oferece ao entendimento da cidade ou sítio, desde o núcleo inicial do assentamento ou do módulo primário dos monumentos, até o traçado atual, sob diversos ângulos, tais como o urbanístico, o topográfico, o sócio-econômico, o organizacional, o funcional e uso, o patrimonial e cultural. Com colaboração de Miriam Cazzetta e Plínio Victor de Araújo (PMO). Participação de Plínio Campos de Araújo. Recife, 29 de Junho de 2007.

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ASSUNTO: A práxis Arqueológica em cotas positivas e negativas do conjunto do Carmo – Olinda Suporte para implantação de um programa de restauração e conservação.

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A práxis Arqueológica em cotas positivas e negativas do conjunto do Carmo - Olinda

Suporte para implantação de um programa de restauração e conservação.

Paulo Tadeu de Souza Albuquerque*

A produção da pesquisa arqueológica, enquanto fonte de documentação do passado, assume papel fundamental como facilitador da compreensão do processo de formação e desenvolvimento de uma cidade e de um monumento ou estrutura edificada. A partir da consolidação da “leitura” arqueológica das camadas de sedimentação do terreno e das estruturas arquitetônicas nele encontradas se podem perceber os elementos de continuidade do processo de vida de um aglomerado urbano que, assim, se oferece ao entendimento da cidade ou sítio, desde o núcleo inicial do assentamento ou do módulo primário dos monumentos, até o traçado atual, sob diversos ângulos, tais como o urbanístico, o topográfico, o sócio-econômico, o organizacional, o funcional e uso, o patrimonial e cultural.

• Com colaboração de Miriam Cazzetta e Plínio Victor de Araújo (PMO). • Participação de Plínio Campos de Araújo.

Recife, 29 de Junho de 2007.

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Ao lado da visão dinâmica deste processo de formação fornecido pela arqueologia urbana em cotas positivas e negativas é imprescindível estabelecer-se sempre o confronto desta com aquela oferecida pelas fontes documentais disponíveis, tais como a bibliográfica, iconográfica, cartográfica, arquivística, fotográfica etc. A prática arqueológica denominada de arqueologia urbana tem seus fundamentos e elaboração teórica provenientes, especialmente, do mundo anglo-saxão. Talvez por isso desde 1963, no que diz respeito às cidades, são percebidas na Inglaterra as conseqüências da interferência antrópica, a erosão acelerada do subsolo arqueológico, a degradação do patrimônio edificado e a importância dessas ocorrências como demarcadoras da dinâmica urbana. Daí, os anos sessenta terem marcado nesse país a tomada de consciência acerca dos problemas específicos da arqueologia nas cidades, consciência esta materializada na publicação da obra “The Erosion of History” (HEYGHWAY, 1972). A partir deste momento foi percebida a importância de encarar o estudo da cidade em conjunto com a escavação arqueológica. Junto com os novos processos de trabalho exigidos por esta nascente disciplina outras formas de seleção de zonas para análise e escavação, técnicas de campo, modos de registro, análise e tratamento das evidências arqueológicas estão a ser pensados e repensados em diversos países da Europa, de forma mais rápida em uns que em outros. As prospecções estratigráficas de cotas positivas e negativas e as análises das evidências arqueológicas no espaço urbano e do edificado têm alcançado uma importância e um dinamismo que as atividades análogas, desenvolvidas nos espaços rurais, poucas vezes alcançam. Novos compromissos, como o

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de inserir as evidências arqueológicas reconhecidas no conjunto da cidade atual, ou ainda, no monumento, estabelecer ações culturais e financeiras ligadas à conservação desses testemunhos, promovem o reconhecimento da importância da arqueologia estratigráfica no subsolo e nos elementos arquitetônicos e urbanísticos, enquanto ricas fontes de informações para o entendimento das cidades. Convém considerar que estes temas levantam questionamentos urgentes de toda ordem. Entre eles a instalação de uma nova e autêntica forma de trabalhar com a cidade e seus elementos construídos, entre o desenvolvimento para o futuro e a salvaguarda do passado.

Nesta direção parece sempre louvável o papel do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, quando considera, via de regra, a necessidade de realização de pesquisa histórica e arqueológica e da precedência de autorização especial para as intervenções em centros, núcleos e conjuntos tombados, implementando as respectivas salva-guardas necessárias, sempre que houver intervenção que demande alteração física do bem cultural protegido ou não, a saber, escavação, remoção, demolição etc.

Quando estas cautelas não ocorrem expõem-se os bens, que deveriam estar sujeitos à proteção legal, a grande risco, restando na falta destas, apenas a salva-guarda através da defesa dos interesses difusos, pendentes sempre do exercício dos direitos do cidadão ou de entidades civis.

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DIMENSÃO OPERACIONAL: Se de um lado o caso da pesquisa arqueológica, no contexto da intervenção de conservação e restauração do patrimônio cultural do ou no espaço urbano, tombado ou não, é um fato parcialmente absorvido e portanto aceito pela cultura de preservação no nosso país, em outros casos, o controle arqueológico do patrimônio construído, bem como a construção do solo urbano, ainda dependem de fatores não previsíveis. O Conjunto Carmelita é o primeiro núcleo do assentamento desta Ordem no Brasil, chegando em 1583, e que mais tarde, durante o período da presença holandesa nestas partes do Brasil, viria a sofrer danos. Por estar incluído dentro do Programa BID-Monumenta e ser a sede do Escritório Técnico desta 5ª SR, na cidade de Olinda, foi escolhido para ser o primeiro Monumento a ser pesquisado dentro de uma metodologia de um programa de arqueologia urbana nos níveis de cotas positivas e negativas, passando a ser denominado de Projeto Carmo Olinda, com a concordância da Prefeitura da cidade de Olinda em parceria com o IPHAN. Uma das maiores dificuldades atualmente encontrada, em órgãos executivos e ou de planejamento, infra-estrutura e tutela do patrimônio construído, é aquela do dever intervir em situações quase sempre complexas. A fase operativa coincide, na melhor das hipóteses, com o inicio dos trabalhos de engenharia e ou conservação, restauração, reabilitação, o que torna difícil a gestão de um canteiro arqueológico junto a outros de obras civis em edificações ou no espaço urbano.

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A contribuição da pesquisa arqueológica na investigação sobre história da arquitetura é relativamente nova e está voltada para a leitura do edifício como produto das relações econômicas e sociais e não para confirmação das fontes escritas ou iconográficas ou interpretações estilisticas. Assim sendo, ambas as especialidades, a arqueologia e a arquitetura, convergem para uma necessidade comum – compreender, em toda a sua plenitude, o processo construtivo e evolutivo do edificado, tal como determinam as Cartas Patrimoniais desde Atenas até Cracóvia. Para que a intervenção em construções históricas seja uma verdadeira oportunidade para conhecer o edifício e preservar os seus valores sugerimos que os agentes que nela intervêm dominem uma metodologia cientifica segura que considere os conceitos teóricos de tempo, espaço, forma, uso, função e ausência em seus diferentes parâmetros de análise: morfológico, tecnológico, conjetural, cenográfico e hipotético, objetivando a originalidade e autenticidade. Através da arqueologia de cotas positivas procura-se fazer com que os próprios edifícios contem a sua história e a história dos sítios arqueológicos em que estão inseridos. Esta abordagem permite a compreensão do edificado por meio da evolução do seu partido de planta, dos espaços internos e externos, dos volumes, cheios e vazios e de sua cobertura, nos mais diversos momentos históricos. O desenvolvimento da Arqueologia de cotas positivas ou Arqueologia da Arquitetura, como é denominada na Espanha, se deu a partir da difusão da metodologia arqueológica desenvolvida pelo pesquisador inglês E. C. Harris (1979), na seqüência da sua experiência nos grandes sítios arqueológicos

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urbanos de Londres. É então que, de uma forma sistematizada, se integram os elementos arquitetônicos (unidades estratigráficas positivas), no contexto geral da análise estratigráfica dos sítios escavados. A Arqueologia urbana e da Arquitetura ou Cotas Negativas e Positivas procura sujeitar a arquitetura e o urbanismo histórico a um processo de análise estratigráfico, como já foi referido, utilizando uma metodologia especificamente arqueológica, antes de se proceder a qualquer tipo de intervenção. Esta é a nossa proposta de trabalho e que aqui expomos. Considera que uma das condições essenciais para uma mais correta identificação de todos os aspectos relacionados com o edificado e o traçado urbano será possuir uma documentação gráfica – CARTA DE VALORAÇÃO -, nos mais diversos parâmetros e níveis de análises, sendo a fotogrametria terrestre, termo fotografia, ultra-som, etc, e os modelos computadorizados com base em programas do tipo autocad ferramentas importantes não só pela rapidez, mas por conferir uma maior exatidão e pormenor aos levantamentos, permitindo, posteriormente, a utilização de uma aplicativo tipo 3D, com todas as vantagens que este oferece, dentre as quais se destaca a restituição tridimensional do edifício, podendo se perceber todo o seu processo evolutivo. Associada à informação gráfica deverá também se construir uma Base de Dados Históricos que possa reunir todos os elementos informativos, textuais, gráficos e iconográficos sobre o edifício. Na Itália, por exemplo, este tipo de aplicação da informática é denominado SISTEMA DE INFORMAÇÃO MONUMENTAL (SIM), à semelhança dos chamados Sistemas de Informação Geográfica (GIS ou SIG), já bastante utilizado na gestão do território.

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De posse da documentação gráfica disponível do edifício dá-se início ao processo de leitura dos paramentos interiores e exteriores como uma forma de iniciarmos a adoção dos PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS por nos sintetizados em:

1. Coadunar a preservação dos elementos da cultura construída no passado - identificados em edifícios, lotes, ruas, praças, bairros, partidos de planta, programas do edificado - com a dinâmica da cidade, por meio da pesquisa arqueológica, dando-se ênfase à cidade, ao edifício ou à estrutura construtiva no presente e tomando como preceitos basilares: Tempo, Espaço, Forma, Uso, Função e Ausência em níveis de identificação Morfológica, Cenográfica, Conjectural e Hipotético , objetivando a Originalidade e Autenticidade.

2. Considerar como atributos de avaliação e definição de valores os aspectos cronológicos, tecnológicos,

morfológicos, cenográficos, conjecturais e hipotéticos, nos paradigmas de tempo, espaço, forma, uso, função e ausência, objetivando a originalidade e autenticidade, visto que permitam a compreensão do processo de apropriação, criação, ocupação, evolução e transformação do solo ou das estruturas edificadas, bem como da morfologia e do ordenamento urbano ou do edificado. Desta forma, pode-se valorar e identificar o acervo existente – praça, quadra, lote, edifício, evolução de partido de planta do edificado e de suas técnicas construtivas – considerando os parâmetros: largura e características das vias, parcelamento do solo, taxa de ocupação de quadras e lotes, impermeabilização, pavimentos, volumes de

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cheios e vazios, cobertura, materiais e técnicas construtivas, serviços e demais demarcadores – muros, arrimos, aterros, canais, obras de arte, cotas de nível, marcadores urbanos de posturas municipais, dentre outros, com seus diferentes usos, funções, ampliações, remodelações e supressões ao longo do tempo.

3. Sustentabilidade à reincorporação de antigos demarcadores urbanos ou construídos, tais como: paredes,

muros, muralhas, bastiões, baterias, revelins, vias, guias, cotas de soleiras, portas, janelas, arcos, vãos e demais elementos urbanos e arquitetônicos sejam eles oficiais, civil, religioso ou militares, bem como todo descarte da cultura material do construído e de consumo – o rico lixo composto por cerâmicas, faianças, vidros, metais e restos alimentares, manilhas, telhas, tijolos, cantarias, dentre outros – que caracterizam a denominada tralha doméstica do cotidiano do aglomerado urbano da cidade, promovendo processos de reapropriação destes elementos pela população, enquanto documentos históricos. Somente a partir dessa relação, o patrimônio urbano e construído será transformado em herança e contribuirá para a construção das identidades.

4. Elaborar, em harmonia com a proposta de uma arqueologia preventiva programada, a Carta de Valoraçao

Arqueológica do Construído nos seus diversos paramentos como instrumento técnico que servirá a todos profissionais envolvidos com a gestão administrativa do patrimônio construído da área em estudo. A Carta de Valoração Arqueológica do Construído deve ter como objetivo a individualização do construído em unidades crono-tecno-morfológicas. A individualização de uma área considerada unidade crono-tecno-morfológica não comporta automaticamente um vínculo de interesse arqueológico. Só a intervenção arqueológica estratigráfica de cotas positivas e negativas do construído pode conduzir a tal valoração

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definitiva que, pela peculiaridade da pesquisa arqueológica, pode dar resultados extremamente diversos e não codificados a priori.

5. Estudar, conhecer e reconhecer a evolução do patrimônio construído de uma cidade ou de um

monumento deve servir para agregar novos elementos de juízo e singularizar elementos, tipologias, soluções arquitetônicas, sistemas construtivos, estratégias de parcelamento ou subdivisão do espaço, dentre outros. Sem investigação não há elementos de juízo que permitam valorar um elemento construído adequadamente. Atribuir apriorísticamente uma não singularidade de um bem devido ao desconhecimento deste é cientificamente incorreto;

6. Aplicar prospecções arqueológicas no solo e nos elementos construídos, sejam imóveis ou conjuntos,

enquanto técnicas de investigação que permitem a valorização, a singularização e a reabilitação de um bem quando objeto de projetos públicos ou privados de conservação. A arqueologia estratigráfica de cotas positivas e negativas contribui para o entendimento das transformações e características construtivas do imóvel, como os materiais utilizados, as técnicas construtivas aplicadas, as cronologias relativas reveladas, as distribuições espaciais de todos os elementos evidenciados, as soluções estruturais reveladas e, portanto, serve para subsidiar os projetos de gestão, atendendo a anteprojetos e o projeto arquitetônico e/ou urbanístico, bem como os projetos complementares.

7. Adotar os procedimentos técnicos característicos da condução de um programa geral de pesquisa de

sítios arqueológicos pluriestratificados nos projetos de intervenção da infra-estrutura de serviços públicos e

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privados, subterrâneos ou aéreos, a exemplo da energia elétrica, telefonia, fibra ótica, gás, água, esgotamento sanitário, drenagens e similares.

A estratigrafia de cotas positivas e negativas da área do Programa foi uma das questões mais enfatizadas durante a campanha de campo, pois a formação de depósitos pluriestratificados e evolução das unidades crono-tecno-morfológica é bastante complexa e a história do construído de um monumento do porte do conjunto Carmelitano de Olinda demonstra os processos que são determinados por toda uma série de filtros culturais. O próprio dinamismo de uma sociedade ou instituição determina a ocupação de espaços que são sucessivamente abandonados, reutilizados, transformados, remodelados, reformados, reciclados, restringidos ou ampliados através dos tempos, resultando em diferentes assentamentos que se superpõem ou agregam-se no espaço e se sucedem cronologicamente, com freqüentes perturbações morfológicas, cenográficas verticais e horizontais. Por outro lado, em seus primeiros níveis de analise, trata-se de uma metodologia não destrutiva, não invasiva, com óbvias vantagens numa situação delicada como é a intervenção no patrimônio cultural edificado. No entanto, não podemos deixar de referir que existem também algumas limitações na aplicação desta metodologia, a mais importante das quais consiste na dificuldade em estabelecer cronologias absolutas para os edifícios. Outro problema que surgiu foi a grande quantidade e complexidade de informações que se pode recolher – a micro-história do edifício que se torna densa quanto maior forem as dimensões do construído. Por

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último, considera-se igualmente importante apontar, como limitação evidente, o fato do edifício ter apresentado em alguns determinados revestimentos frutos de anteriores ações de restauração, como demonstra documentação disponível, que impossibilitava a sua análise mais acurada, levando à adoção na primeira fase de intervenção à identificação de áreas que necessitariam de decapagem de alguns setores de panos de revestimentos de paredes para se poderem alcançar os níveis mais antigos e responder às questões anteriormente formuladas de autenticidade e originalidade, tal como num processo normal de pesquisa arqueológica em cotas negativas. Como já tivemos oportunidade de referir, a gênese da afirmação desta nova metodologia encontra-se intimamente ligada à proliferação de intervenções de grande envergadura em conjuntos históricos urbanos e em grandes monumentos. A evolução da consciência social em relação ao valor do patrimônio arquitetônico e a própria importância que tem adquirido o chamado turismo cultural. No entanto, existem inúmeros casos de intervenções em edifícios de grande importância histórica que estão a cargo das autarquias federais, estaduais e municipais ou mesmo na mão de particulares. Aos arquitetos disponibilizou-se a documentação produzida para que os mesmos possam atender a elaboração dos projetos cabíveis, os arqueólogos continuarão estudando os artefatos resgatados nas pesquisas arqueológicas e elaborando novos documentos e relatórios, os historiadores que se defrontam com os novos documentos recolhidos e elaborados decorrentes das pesquisas arqueológicas que os interpretem e os confrontem com outras documentações. Os engenheiros e técnicos de conservação e restauro garantirão, conjuntamente com os arqueólogos e arquitetos, o que possa dar sustentabilidade às informações

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identificadas, seu entendimento e a estabilidade do monumento e do patrimônio associado. Que se observe um verdadeiro trabalho de interdisciplinar, única garantia para que o edifício seja abordado como um todo, pois, como já referimos, o processo de recuperação é uma ocasião única para se conhecer o monumento. A descoordenação que muitas vezes se verifica entre as equipes envolvidas, arqueologia, arquitetura ou engenharia, a insuficiente formação teórica metodológica e a falta de uma prática interdisciplinar, tanto de arqueólogos como de arquitetos, em aspectos diretamente relacionados com a problemática deste tipo de intervenção tão particular, são fatores a ter em conta, bem como a ausência de análise crítica do trabalho e falta de um verdadeiro corpus teórico que enquadre este tipo de atividade, o que hoje é constatado e tão condenado pelos questionamentos levantados quando se olham obras realizadas como de “restauração”, em um passado bem recente. Procurou-se, ao longo das considerações anteriores, explicar a necessidade da aplicação de um método científico na intervenção de recuperação dos edifícios históricos como a única forma de atenuar a subjetividade das intervenções. A Arqueologia de cotas positivas ou da Arquitetura revela-se, assim, um instrumento eficaz e essencial para a investigação da realidade construída. Não existe intervenção arqueológica sem “destruição” mesmo que seja científica e, tal como no processo de prospecção arqueológica usual, tudo o que se pretende alterar ou remover com suporte científico deve ser objeto de todo um conjunto de registros gráficos e textuais.

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É na proposta da arqueologia estratigráfica formulada por HARRIS (1979), que encontramos referenciais metodológicos e conceituais de intervenção arqueológica em núcleos urbanos e seus componentes nos seus níveis de cotas positivas e negativas. Harris, em sua obra básica intitulada “Principles of Archaeological Stratigraphy”, distingue três momentos no estudo da estratigrafia arqueológica: o primeiro concernente à sua teoria e seus componentes; o segundo, à documentação e o terceiro, à correlação e construção da sequência estratigráfica. O primeiro item se identifica também com a primeira fase do trabalho do arqueólogo em campo - trata da aplicação da Lei de sucessão estratigráfica para individualizar os componentes de uma estratigrafia, assim como a combinação de estratos e interfaces, isto é de unidades estratigráficas. Este conceito de unidade estratigráfica constitui um ponto de referência central da proposta de HARRIS (1979). A introdução de conceito de unidade estratigráfica facilita enormemente o trabalho do arqueólogo, seja na condução da intervenção e na redação da sua documentação, como no momento de interpretação da sequência estratigráfica, originalidade e autenticidade. É possível portanto reduzir o processo de estratificação no momento do seu reconhecimento e da sua desmontagem estratigráfica a uma realidade que, por mais complexa que possa ser, retornará os seus componentes elementares e tipológicos, prontos para uma formalização. Dando atenção aos processos de acúmulo, depósito e construção ou, ao contrário, de erosão, inversão e destruição, cada unidade será positiva ou negativa, natural ou artificial.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:

1. Determinação genérica das grandes fases construtivas, determinação de elementos, componentes e materiais e técnicas construtivas. Sendo este um dos fatores mais significativos neste tipo de metodologia que é o estudo dos materiais e tecnologias utilizados em determinada construção, procurando analisar não só a sua proveniência, como as diferentes formas de produção utilizada. No processo de determinação dos métodos construtivos será porventura necessário recorrer-se ao estabelecimento de tipologias de modulações dos seus volumes, definindo altura do pé direito e largura de volumes e vãos, espessuras de paredes, número de pavimentos, bem como de elementos morfológicos do partido de planta e técnicas de confecção das esquadrias, estruturas de cobertura, entre outros. Neste âmbito, considera-se particularmente importante o estudo e identificação das ferramentas e técnicas utilizadas e as marcas deixadas pelos mestres de ofícios e aprendizes no tratamento as matérias primas e seus usos. Por outro lado, ao se analisarem os processos de deterioração dos materiais, poderão retirar-se também informações preciosas não só para a história do edifício, como também à aplicação de metodologias rigorosas nas ações de conservação e restauro que se pretendem efetuar. Assim, a análise sistemática de todos estes dados poderá fornecer aos investigadores informações a que muito dificilmente poderiam ter acesso, tal como: de que modo se organizavam os canteiros de obra?.

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Analisados todos estes fatores, em nossa perspectiva, a maior vantagem que se pode retirar da aplicação da Arqueologia de cotas positivas como método científico de registro é a possibilidade que esta confere à qualidade da interpretação e argumentação, permitindo criar verdadeiros modelos interpretativos, evitando-se, assim, a visão subjetiva e apriorística que tem privilegiado o retorno do edifício a um momento histórico ou estilístico, que sempre marcou grande parte dos estudos de história da arquitetura e obras de restauração, ou de se ignorar sua evolução histórica, originalidade e autenticidade. 2. Registro e identificação das diferentes unidades estratigráficas localizadas nas paredes e elementos construtivos que compõem o edifício (SIM). 3. Análise das relações estratigráficas entre as diferentes atividades que tiveram lugar ao longo da história do edifício como, por exemplo, relações de anterioridade, posterioridade e contemporaneidade, construindo-se deste modo um diagrama (cronologia relativa) indicando a originalidade e autenticidade.

4. Estabelecimento das diferentes fases da evolução morfo-tecnológica do edificado - diagrama de síntese crono-tecno-morfológico, criando toda uma documentação gráfica anteriormente ao início das ações invasivas como: decapagem, prospecções e escavações.

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1ª Abordagem:

Coleta de informações, busca e identificação do construído: Imediata inspeção, descrição e classificação de todos os parâmetros da área de interesse do projeto, o monumento e seu entorno imediato, inclusive com o estudo de suas potencialidades de prospecção arqueológicas e escavações.

Incluiu um exaustivo estudo iconográfico, imagens antigas depositadas nos arquivos de várias instituições nacionais e internacionais, documentação gráfica atual que fora até imagens aéreas e de imagens de satélite que compõe a data base etc., para o perfeito conhecimento das características morfológicas pertinentes; pesquisa bibliográfica, histórico-etnográfica, a fim de recolher subsídios indicativos de ocupação da área de implantação do monumento dentro da conformidade urbana da Cidade de Olinda. Os trabalhos de pesquisa de campo contaram com o apoio logístico e prático da equipe disponibilizada pelas Instituições ou órgão públicos e privados que apóiam o projeto – IPHAN e Prefeitura Municipal de Olinda. Posicionamento espacial aplicado à arqueologia: com o uso das técnicas cartográficas, estabeleceu-se a exata localização do sítio, ou monumento, suas coordenadas e seus referenciais, permitindo sua inclusão na CARTA DE VALORAÇÃO ARQUEOLÓGICA.

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Com as técnicas topográficas estabeleceu-se a exata dimensão e relevo da área, delineando-se a geometria do construído, para identificação de áreas passíveis de escavação ou prospecção. Foi realizado o quadriculamento da área que foi investigada, referenciada ao posicionamento espacial. Documentação fotográfica: O trabalho fotográfico foi produzido em fotos digitais. As fotografias privilegiaram a visão geral do construído, com tomadas cardinais por base e por ponto de visada, gerando uma documentação de geo-referênciamento de todas as fotos. As características peculiares, principalmente quando indicadoras da adaptação ao ambiente, ou quando definidoras do modo de vida ou de fazer, foram alvo de inventário fotográfico sistemático. Fotografou-se a contextualização dos vestígios e evidencias arqueológicas e ou arquitetônicas das unidades crono-tecno-morfológica identificadas antes de qualquer ação de coleta ou quando das escavações ou prospecções arqueológicas. Foram fotografados nos planos de topo ou perfil, na medida de sua decapagem. Os artefatos móveis ou imóveis delineados pelo grid de referência de posicionamento espacial, foram fotografados em seus diversos níveis e camadas estratigráficas. Os artefatos móveis significativos, referenciais ou caracterizadores de tipologia, foram detalhadamente fotografadas, tanto "in situ" , quanto em laboratório. Todas as fotos estam com orientação

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assinalada com relação escalar. As mesmas foram numeradas, registradas em planilhas eletrônicas e descritas com os dados pertinentes ao construído. Como esse projeto foi produtor de informações culturais e ambientais voltadas ao gerenciamento e salvaguarda foi necessário, também, apontar áreas de maior interesse para entendimento da relação entre a dinâmica da ocupação antrópica e o meio ambiente.

2ª Abordagem:

Procedimentos de vistorias: percurso a pé e ou vistoria de todas as áreas de interesse do projeto Carmo Olinda e análise de todos os ambientes que compõem o conjunto Carmelita de Olinda, identificando-se as principais e possíveis unidades crono-tecno-morfológica, destacando-as como áreas de potencial arqueológico de diferentes graus de relevância. Este procedimento que denominamos de vistoria, gerou um conjunto de plantas e perfis onde se levantou um conjunto de hipóteses que foram checadas em campo dentro dos parâmetros de tempo, espaço, forma, uso, função e ausência , com suas características identificatórias de níveis: cronológico, morfológico, cenográfico, conjectural e hipotético.

Estas hipóteses foram geradas quando da coleta de dados para a confecção de cartas temáticas e perfis crono-tecno-morfológicos que caracterizam os elementos arquitetônicos, arqueológicos, análise das evidências arqueológicas e arquitetônicas, através de fichas individuais em forma de plantas e perfis para cada unidade

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espaciais do partido de planta e criação de uma maquete virtual em 3D da área, com a construção de uma cronologia histórica do construído tanto do solo como do edificado , específica de cada elemento arquitetônico. Concentrou-se o esforço de pesquisa neste primeiro documento, ou seja, na produção de cartas temáticas que aqui podemos identificar como:

- Levantamento;

- Georeferênciamento;

- Identificação / Valoração;

- Evolução Crono-Tecno-Morfológica;

- Unidade Crono-Tecno-Morfológicas;

- Contextualização Iconográfica;

- Evolução Conjectural Hipotética.

3ª Abordagem:

Prospeções e escavações:

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A Escolha dos Métodos e Técnicas de Escavação Existem dois métodos de escavação arqueológica para as várias técnicas de abordagem do elemento construído. O método de escavação / prospecção artificial (em camadas de espessuras pré-definidas), e o método de escavação / prospecção estratigráfica (seguindo os limites naturais dos estratos / camadas). Destes, optamos por adaptar e adotar a decapagem estratigráfica como procedimento de escavação / prospecção dos elementos construídos que apresentam cotas positivas e negativas, conforme o conceito de estratigrafia arqueológica de HARRIS (1979), adaptada por CARVER (1983), BROGIOLO (1988) e CABALLERO (1995).

4ª Abordagem

Trabalhos de laboratório: estudo e classificação das evidencias e dos vestígios coletados:

Os materiais oriundos das cotas negativas serão estudados em laboratório, identificados, classificados e catalogados em banco de dados, quadra a quadra. As peças serão analisadas conforme as técnicas arqueológicas próprias de cada material, incluindo medições, descrição morfológica, história de uso, utilização e identificação da matéria-prima, suporte, e técnica de confecção.

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Para que as análises sejam feitas é preciso proceder-se, inicialmente, à higienização, desenho, identificação quando do material for coletado. Somente depois é que terão lugar as análises propriamente ditas, quando serão estudadas as características tecnológicas, morfológicas, funcionais e estilísticas das peças coletadas. Estudos comparativos entre o material oriundos de outros elementos construídos deverão ser realizados, para inferências sobre os sistemas sócio-culturais aos quais pertenciam.

5ª Abordagem

Trabalho de gabinete:

As análises de laboratório constituem atividade integrante e necessária aos trabalhos de resgate arqueológico, pois este só pode ser considerado como efetivamente realizado quando permite a produção de conhecimento científico sobre os processos culturais passados aos quais se relacionam a formação dos sítios arqueológicos.

Esse conhecimento só pode ser produzido pelo cruzamento dos resultados obtidos nos estudos do material coletado, com os dados arquivísticos e com a interpretação dos elementos construídos.

Os produtos esperados são:

• Elaboração de um conjunto de cartas temáticas contendo as informações relativas a evolução, ao ambiente e a implantação dos elementos construídos em cada unidade crono-tecno-morfológicas identificadas na área pesquisada, que, em seguida, são incorporadas e com isso passam a ser a denominada Carta de Valoração Arqueológica do Construído. A esta carta será acrescido um modelo em

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3 D de todo o ambiente onde se insere o conjunto edificado, bem como do próprio conjunto edificado.

• Criação de um banco de dados informatizado, contendo os resultados da catalogação, classificação, análise e interpretação de todos os elementos construídos neste caso se possível em 3 D e dos artefatos coletados ou identificados em seu contexto.

• Cruzamento das informações obtidas nas diferentes fontes de pesquisa sobre o ambiente natural e construído, que configuram o sítio arqueológico urbano Carmo Olinda, para sua contextualização e valorização.

Os procedimentos técnicos metodologicos básicos deste tipo de intervenção foram embasados por nós em

dois pontos:

1. Considerar o construído como um corpo único constituído de elementos existentes no subsolo e no solo, de forma integrada, para por meio do estudo arqueológico alcançar o maior número de informações para a atribuição cronológica do construído, superando a leitura estilística e funcional – originalidade e autênticidade. 2. Assumir a documentação do elemento construído como produto primordial para a leitura estratigráfica do edificado, composta por documentos gráficos acurados, executados a partir de um levantamento planialtimétrico, com o suporte – ou não – da fotogrametria terrestre. Esta documentação permitiu a criação de um modelo digital em 3 D (a concluir) capaz de servir como ferramenta de identificação,

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registro e controle da intervenção arqueológica, bem como para a elaboração de planos de manutenção e projetos de conservação e restauração. A utilização deste recurso em todos os elementos construídos nas diferentes unidades crono-tecno-morfológicas permitiu a interface entre elas e seus respectivos elementos caracterizadores.

Como a área de atuação do Projeto Carmo Olinda apresentou um altíssimo grau de antropismo, onde se verificou a formação de uma ou mais camadas arqueológicas depositadas no solo e evoluções tecnológicas e cronológicas das morfologias das estruturas arquitetônicas, como é comum nos monumentos e demais estruturas arquitetônicas de um sítios urbanos brasileiros do porte de uma cidade como Olinda, que assumem espessuras variáveis de cerca de poucos centímetros em alguns lugares e um a dois metros em outros, sendo que nas edificações os nivelamentos de paredes e muros chegou a vinte centímetros ou mais. Para melhor acompanhar esta dinâmica foi utilizado um conjunto de planilhas e quadras gráficas que nos permitiu classificar, catalogar, descrever e, posteriormente, analisar o material que foi levantado, localizando-o em megaquadras, hiperquadras, superquadras, quadras, quadrículas, sub-quadrículas e células, o que nos permitiu identificar sem maiores dificuldades as características de cada área escavada e prospectada, ou as evidências oriundas da remoção de revestimentos, tanto no contexto do programa, quanto no contexto do projeto. Estas quadrículas e planilhas atenderam as duas etapas:

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l.ª Etapa

Desenvolvimento da intervenção com a implantação de um sistema cartográfico, planialtimétrico, demarcado por poligonais, e no seu interior o estabelecimento de um grid de quadras, delimitando as áreas a serem investigadas, onde foram definidos os levantamentos disponíveis ou executados para o projeto especifico.

Foram utilizadas planilhas gráficas descrevendo os planos de topo e as unidades estratigráficas, recebendo cada divisão um código numérico com o qual será identificado e que passará a constar das demais planilhas. 2ª Etapa

Catalogação e registro dos vestígios arqueológicos: Para cada tipo de vestígio foi criada uma planilha específica, onde consta a identificação da quadra e da

quadrícula onde o material foi achado, através de código numérico.

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Estas quadras são delimitadas por coordenadas que se encontram num ponto zero pré-determinado conforme levantamento planialtimétrico, estando toda a escavação e prospecção arqueológica sujeita a um mesmo sistema de referência. Esta metodologia apresentou resultados absolutos, tanto para o controle do trabalho de campo pela equipe que, conhecedora das especificidades de cada vestígio, pode ter uma compreensão imediata da distribuição espacial já em campo e desta forma, adotar as decisões sobre onde escavar ou prospectar, que foram agilizadas, facilitando-se grandemente o trabalho de laboratório posterior. O Registro O tradicional diário de campo foisubstituído pela criação de um banco de dados, alimentado por dados extraídos de um conjunto de planilhas que proporcionaram ao investigador, em campo, uma leitura espacial dos vestígios identificados.

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Com este conjunto de planilhas para quadra, quadrícula, subquadrícula e célula, cada porção prospectada ou escavada, em cota positiva ou negativa, foi registrada bi e tridimensionalmente através de representação esquemática.

As planilhas de registro dos materiais detalham as características culturais das unidades crono-tecno-morfológicas, situando-as espacialmente através do código numérico das quadrículas. Fazem parte desta lista de planilhas: • Planilha de Plano de Topo (planta baixa) de Quadra, Quadrícula, Subquadrícula. • Planilha de Perfil Estratigráfico (corte ou perfis) de Quadrícula, Subquadrícula, etc. • Planilhas de Registros de Artefatos culturais coletados: Diversos (onde constam todas as categorias de vestígios arqueológicos); Planilha Lítico; Planilha Cerâmica ;Planilha Madeira; Planilha Metal ; Planilha Olaria; Planilha Alvenaria para quadricula e quadras (a edificação total); Planilha Azulejo e vitrificados; Planilha Numismática;Planilha louça (cerâmica faiança, faiança fina, porcelana); Planilha vítreo (plano e moldado);Planilha malacológico.

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• Planilhas gráficas: descrevem através de desenhos e esquemas as principais características visuais de estruturas e materiais e técnicas encontrados, bem como seu contexto e distribuição espacial em cada megaquadra, hiperquadra, superquadra, quadra, quadrícula, subquadrícula e célula. Estão codificadas dentro do mesmo sistema já descritos e aptos à informatização.

• Quadras-Gráficas: registram espacialmente os achados arqueológicos dentro do conjunto de quadrículas nas quais cada quadra gráfica se encontra dividida. Reúnem toda a informação recolhida diariamente nas prospecções de solo e estruturas arquitetônicas e escavação intensivas, qualificando e quantificando o material encontrado. Permitem a informatização dos dados reunidos.

A base deste sistema é o registro gráfico, através de representações diagramáticas, desenhos de evidências de artefatos e estruturas arquitetônicas, fotografias, que apoiados em notas textuais, qualificam, quantificam e descrevem todos os vestígios dentro de suas categorias. Desta forma, qualquer membro da equipe, a par da metodologia, consegue obter rapidamente uma visão de conjunto das escavações e prospecções realizadas, podendo, se for o caso, estudar os materiais e técnicas de seu interesse, o que permite que se dê continuidade aos trabalhos, mesmo por aqueles que não tomaram parte das atividades de campo.

Consideramos que o conjunto de planilhas poderá ser adaptado aos mais diversos objetivos de pesquisa, revelando os materiais e técnicas que foram encontradas e o seu contexto imediato, formando um todo dinâmico.

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Definição dos termos utilizados Devido ao fato de terem sido feitas por nós adaptações metodológicas para o estudo do sítio de um programa de arqueologia em cotas positivas e negativas, refletindo a realidade local e as condições de trabalho da equipe de arqueólogos e demais pesquisadores, levando-se em conta a proposta do projeto, os conceitos utilizados merecem ser definidos para maior clareza, o que faremos a seguir: Sítio: aqui entendido como unidade espacial definida para o desenvolvimento da pesquisa arqueológica urbana, criada a partir da definição de uma poligonal, delimitada por um conjunto de coordenadas planas estabelecidas, que é o primeiro e a base dos demais sistemas de referências espaciais, inclusive para o subsistema planialtimétrico das escavações. Coordenadas Planas: sistema de coordenadas de um plano horizontal, utilizado para descrever as posições dos pontos com uma origem arbitrária. A origem é estabelecida por dois eixos que se cruzam em ângulos retos. A posição de um ponto é determinada pelas distâncias perpendiculares a esses eixos. Grid: divisão das poligonais em espaços regulares quadrados, com medidas definidas pelo pesquisador. Altura: medida estabelecida em relação ao sistema planialtimétrico definido para o sítio, podendo ser positiva ou negativa em relação ao ponto zero inicial ou RN ( Referência de Nível).

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Mega Quadra-MQ: unidade espacial definida de 20 em 20 Quilômetros, por se trabalhar com a cidade atual, esta unidade espacial, facilitará no entendimento de incorporações de unidades arqueológicas independentes, que hoje passam a ser componentes de um sítio maior. Ex: bairro Distrito Arrabalde.

Hiper Quadra-HQ:unidade espacial definida de 2 em 2 Quilômetros, adequada para as unidades funcionais e administrativas de uma cidade com bairros. Ex: Bairro e Subúrbio.

Super Quadra-SQ:unidade espacial definida de 200 em 200 Metros, que se coadunam com a unidade de demarcação urbana como quarteirão ou quadra. Quadra-QRA: subdivisão da unidade espacial definida para o sítio por um grid de referência, aqui definido, de 20 por 20 Metros, tornando-se a quarta unidade de referência dentro do sistema planialtimétrico já definido. Quadrícula-QLA: subdivisão do grid de quadra em cem unidades de 2 por 2 Metros, tornando-se o quinta divisão do sistema de referência.

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Subquadrícula-SQLA: subdivisão das quadrículas em quatro unidades de 1 por 1 Metro, tornando-se a sexta divisão do sistema de referência. Célula-CLA:menor subdivisão dos sistemas de referência, obtida pela divisão das subquadrículas em cem unidades de 10 por 10 Centímetros. Aplicação do Sistema de Registro A partir da primeira definição, estabelecida pela implantação das poligonais que delimitam o sitio como unidade espacial, foi determinado o ponto zero que marcou o encontro das coordenadas conhecidas, com o traçado do grid, tanto no plano, quanto em termos altiplanimétricos. Com a implantação da quadra de vinte por vinte metros e sua divisão em quadrículas, de dois por dois metros, foi escolhida uma ou mais quadrículas, arbitrariamente, para um teste de prospecção. A escolha das quadrículas teste dependeu das informações já obtidas em outras quadras ou quadriculas ou simplesmente foi escolhida, seguindo indicações estruturais da edificação, afloramento de estruturas ou informações históricas, cartográficas, etc.

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Sabendo-se, através dos perfis estratigráficos obtidos nesta quadrícula a espessura aproximada das camadas com material arqueológico, como se encontrava depositada e se assenta em solo estéril, ou evidências construídas obtivemos a informação básica que norteou a abertura das demais quadrículas positivas ou negativas que foram objeto de nossos questionamentos. Aplicada em espaços abertos, ou disponível, foi necessário verificar a disponibilidade das áreas a ser escavadas e ou prospectadas, já que o sítio urbano continua sendo utilizado e habitado. Em uma situação de total disponibilidade da área, a técnica é a de escavar e ou prospectar em xadrez, ou seja, uma quadrícula sim outra não, cobrindo toda a quadra. O procedimento foi flexível, possibilitando abertura da quantidade de quadrículas contíguas que apresentem interesse para os objetivos propostos. As várias quadrículas foram abertas seguidamente tanto em cotas positivas como em negativas e depois de identificação de estruturas arquitetônicas ou peneiramento do sedimento, coletados e registrados os achados e levantados os perfis estratigráficos e de topo, elas, se necessário e possível, são fechadas ou revestidas, antes que se inicie a abertura de uma nova quadra. As quadras foram sendo abertas sucessivamente até que a poligonal pesquisada tenha sido totalmente esgotada, partindo-se para a definição de uma nova poligonal com seu grid de quadras e quadrículas.

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CONCLUSÃO

Pois não é que tudo começou em Vila Flor, no Rio Grande do Norte !!! Esta frase, aparentemente, irreverente retrata a mais pura realidade. O IPHAN no ano de 1987 solicitou à Professora da UFPE e criadora do NEA - Núcleo de Arqueologia do

departamento de História da referida Universidade, a Arqueóloga Gabriela Martin, a elaboração e condução de um projeto de salvamento arqueológico para uma pequena área daquele município no litoral do Rio Grande do Norte, o que foi feito.

Vale aqui frisar que a formação, atuação e produção acadêmica da supra citada Professora e Arqueóloga é de importância basilar na formação acadêmica de toda uma geração de profissionais na arqueologia brasileira.

Integrei a equipe desse projeto em todas as suas fases desde o inicio e posteriormente, ainda no primeiro ano dos trabalhos, me tornei seu coordenador de campo, durante os cinco anos de sua duração.

Com a expansão e as dimensões que o projeto assumiu, com novos objetivos e novas hipóteses, passamos a desenvolver questionamentos metodológicas juntamente com as Arqueólogas Miriam Cazzetta e Leila Maria Serafim Pacheco, pois os referenciais metodológicos e teóricos que inicialmente nortearam os trabalhos de campo e de laboratório, tendo como referência os princípios teóricos-metodológicos identificados nas obras dos pesquisadores Leroi Gouhan, Mortimer Wheeler, Paul Bahn, Colin Renfrew e Brown, não mais

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respondiam aos questionamentos que eram suscitados pelas características de um sítio histórico urbano de um país colonial.

Desse trabalho de revisão metodológica em Vila Flor decorre toda a concepção de nossos trabalhos que culminou com a introdução da metodologia de arqueologia urbana no Brasil com base na obra “ The Erosion of History” (HEYGHWAY,1972), onde estão contidos os conceitos de arqueologia urbana por nós adotados, que passaram a nortear a nossa produção acadêmica, que pode ser constatada através das apresentações de trabalhos em reuniões da SAB 1991 e 1993 e na continuidade do nosso trabalho em outros locais como na Catedral Velha e rua Chile em Natal (RN), como também na Catedral de Manaus(AM) e no Forte de São Luís,em São Luiz (MA).

Trabalhos que resultaram também na introdução no Brasil da metodologia da Arqueologia da Arquitetura ou de Cotas positivas e Negativas, (ver reunião da SAB 2001 e 2005) com base nos preceitos da obra “Principi di stratigrafia archeologica” (E. C. Harris, 1979) e “Arqueología e Arquitectura - análise arqueológica e intervención en edificios históricos - In Las actuaciones en el patrimônio construido”( CABALLERO ZOREDA, Luis ,1995). Estas informações se apresentam como pertinentes visto que a maioria dos arquitetos não tem contato com as questões metodológicas levantadas por arqueólogos, quando em contato com o bem patrimonial.

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Ante o exposto podemos apresentar este primeiro documento, que foi produto dos trabalhos de campo desenvolvidos entre 07 de Março de 2006 à 02 de Junho de 2006, conjuntamento com o arqueólogo Plínio de Araújo Victor ( SEPPACTUR - Prefeitura Municipal de Olinda), que proporcionou a elaboração de um conjunto de documentos gráficos, embasados na nossa proposta de aplicação de metodologia de arqueologia de cotas positivas e negativas, que estão aqui materializadas sob a denominação: A PRÁXIS ARQUEOLÓGICA EM COTAS POSITIVAS E NEGATIVAS DO CONJUNTO DO CARMO – OLINDA, composta de: 1º Levantamento;

2º Georeferênciamento;

3º Identificação / Valoração;

4º Evolução crono-tecno-morfológica;

5º Unidades crono-tecno-morfológica;

6º Contextualização iconográfica;

7º Evolução conjectural-hipotética.

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Esta documentação gráfica em conjunto com a documentação iconográfica e textual forma a denominada CARTA DE VALORAÇÃO ARQUEOLÓGICA do monumento que será a base para os demais documentos a serem produzidos por arqueólogos sobre as pesquisas arqueológicas no conjunto carmelitano da cidade de Olinda. Dentre estes documentos podemos salientar dois: um em conjunto com o Arqueólogo Plínio de Araújo Victor (PMO) sobre os artefatos e estruturas arqueológica e outro conjuntamente com o Arquiteto Eugênio Ávila Lins (UFBA) sobre a evolução morfológica e estilística, do conjunto carmelitano de Olinda. Podemos afirmar que como primeiros resultados demonstrados pelas pesquisas é que foi possível definir 09 unidades crono-tecno-morfológica e suas fases que caracterizam-se pelas seguintes unidades crono-tecno-morfológicas : 1ª 1535 à 1540 2º 1580 à 1588 3º 1590 à 1631 4º 1654 à 1704 6º 1694 à 1772 * 5º 1704 à 1770 7º 1831 à 1907 8º 1907 à 1938 9º 1940 à 2007

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Estas unidades crono-tecno-morfológica, quando analisada dentro dos paradigmas metodológicos de: tempo – espaço – forma – uso – função e ausência , considerando-se os parâmetros morfológico, cenográfico conjectural e hipotético, caracterizam-se pelos seguintes unidades já identificados nas cartas temáticas que compõem a carta de valoração arqueológica; ou seja a primeira unidade(1535 à 1540), materializa-se hoje na primitiva ermida, que hoje define a capela-mor da igreja; a segunda unidade(1580 à 1588) está definida por um edifício que serviu para hospício ou hospedaria e a sacristia por detrás da primitiva ermida; a terceira unidade(1590 à 1631) caracteriza-se pela nave até a altura do coro e por um edifício na face oposta ao antigo hospício, edifício este que dá origem as estruturas conventuais; a quarta unidade(1654 à 1704) caracteriza-se por uma nova fachada e o início de uma nova estrutura conventual; a quinta unidade(1704 à 1770) caracteriza-se pela conclusão da estrutura conventual, aonde chegará ao seu limite de expansão e a conclusão de uma concepção barroco-rococó, que definiu a última fase de expansão do monumento, paralela a esta sexta unidade(1694 à 1772) temos uma unidade crono-tecno-morfológica que é identificatória das estruturas que compõe os edifícios da Ordem 3ª do carmelo olindense, esta unidade tem cronologia semelhante a quinta unidade, pois desenvolveram-se concomitantemente a esta última; a sétima unidade(1831 à 1907) está caracterizada pelo abandono do monumento; a oitava unidade(1907 à 1938), está caracterizada por uma tentativa de recomposição física e institucional do conjunto carmelitano de Olinda; e a nona e última unidade(1940 à 2007) adquiri uma importância que a distingue das outras pois, passa o monumento que nos chegou a inserir-se nas ações de preservação e conservação do patrimônio nacional, data de sua inscrição no livro de tombo do patrimônio nacional, denominado tombamento federal.

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Esperamos com este primeiro documento e os que virão, contribuir para divulgação da importância e necessidade da adoção de suportes arqueológicos em cotas positivas e negativas para as ações de conservação e preservação que objetivam a originalidade e autenticidade dos conjunto urbanos e seus respectivos monumentos.

Recife, 29 de Junho de 2007

____________________________________________ Paulo Tadeu de Souza Albuquerque

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Sugestão de Leitura:

Archeologia dell’Architettura. Suplemento a Archeologia Medievale, Vol. 1. Firenza: Edizioni all’Insegna del Giglio. I, 1996. Archeologia dell’Architettura. Suplemento a Archeologia Medievale, Vol. 1. Firenza: Edizioni all’Insegna del Giglio. IV, 1999. Archeologia e restauro dei monumenti. A cura di Riccardo Francovich e Roberto Parenti. Firenza: Edizioni all’Insegna del Giglio. 1998 . Arqueología de la arquitectura. Actas de Burgos. Salamanca: Europa Artes Gráficas. 1996. AZCARATE, A., FERNÁNDEZ DE JÁUREGUI, A., NUÑEZ, M. – Documentación y Análisis Arquitectónico en el País Vasco. Algunas experiencias llevadas a cabo en Álava – España. In Informes de la construcción – Ler el documento construido. Madrid: Servicio de Publicaciones del Consejo Superior de Investigaciones Científicas. 1995, pp. 65-77. CABALLERO ZOREDA, Luis – Arqueoloxía e arquitectura análise arqueolóxica e intervención en edificios históricos. In Las actuaciones en el patrimonio

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construido: un diálogo interdisciplinar. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia. 1995, pp. 131-158. CARANDINI, Andrea – Historias en la tierra. Barcelona: Crítica. 1997. CERIONI, Cristiano – Archeologia e Architettura nel Duomo di San Leo. In Archeologia dell’architettura. Suplemento ad Archeologia Medievale. Vol. 1. Firenza: Edizioni all’Insegna del Giglio. IV, 1999, pp. 127-148. Contributti sul Restauro Archeologico. A cura di C. Pietramellara e L. Marino. Firenze: Alinea Editrice. 1982. DOGLIONI, Francesco – Stratigrafia e Restauro – Tra conoscenza e conservazione dell’architettura. Trieste: Edizioni Lint. 1997. ERLANDE-BRABENBURG, Alain – The Cathedral Builders of the Middle Ages. London: Thames and Hudson. 1997. GONZÁLEZ, Antoni – La iglesia de Sant Quirze de Pedret (Cercs, Barcelona). La restauración de una arquitectura testimonial. In LOGIA, Valencia: Servicios de Publicaciones UPV. 1996, pp. 40-57. HARRIS, Edward C. – Principi di stratigrafia archeologica. Roma: La Nuova Italia Scientifica. 1990.

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Informes de la construcción – Construir el passado. Madrid: Servicio de Publicaciones del Consejo Superior de Investigaciones Científicas. 1993. Informes de la construcción – Ler el documento construido. Madrid: Servicio de Publicaciones del Consejo Superior de Investigaciones Científicas. 1995. L’Echafaudage dans le chantier médiéval. Documents d’archéologie en Rhône-Alpes, n.º 13. Lyon: Ministére de la Cultura. 1996. OJEDA CALVO, Reys, PÉREZ PAZ, Antonio – Metodología aplicada en la intervención arqueológica en bienes inmuebles: Hacia un modelo de registo y gestión de datos. In PH. Sevilha: Instituto Andaluz del Patrimonio Historico. Ano IV. 1996, pp. 50-58 . PARENTI – Historia, importancia y aplicaciones del metodo de lectura de paramentos. In Colección de libros de texto del Master de Restauración y Rehabilitación del Patrimonio. 1995, pp. 259-269. PEREIRA, Paulo, RAMALHO, Maria de Magalhães – Pedra de Traçaria do Convento de São Francisco de Santarém. In Revista de Arqueologia Medieval,n.º 5. Santa Maria da Feira: Edições Afrontamento. 1997, pp. 295-301.

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PEREIRA, Paulo, RAMALHO, Maria de Magalhães – Segunda Pedra de Traçaria do Convento de São Francisco de Santarém. In Revista Estudos/Património,n.º 1. Lisboa: IPPAR. 2001, pp. 122-128. RAMALHO, Maria M. B. de Magalhães – A arqueologia na intervenção dos edifìcios históricos ou a Arqueologia da Arquitectura. In almadam,II série, n.º 5. Almada: Centro de Arqueologia de Almada. 1996, pp. 50-56. QUIRÓS CASTILLO, Juan António – Contribución al estudio de la arqueologia de la arquitectura. In Arqueologia y territorio medieval. Actas del Coloquio “Problemas en arqueologia medieval”. Jaen: Universidade de Jaen. 1993. RODWELL, Warwick – Church archaeology. Manchester: English Heritage/Batsfford Ltd. 1989

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CRONOLOGIA DO CONJUNTO CARMELITA DE OLINDA Tendo como base no trabalho “Berço Carmelitano no Brasil” de Flávio Dionísio de Santana e José Aylton Coelho de Mello, e documentação administrativa e relatórios de técnicos de obra desta 5ª SR.

1535 • Segundo o frei Bonifácio Mueller, em sua obra Olinda e Suas Igrejas, “logo depois de 1535 apareceram diversas ermidas e capelas, cuja fundação se prende ao nome do Donatário Duarte Coelho Pereira; são as de Santo Antônio e São Gonçalo, (...), primeiro centro de culto em Olinda, (...)”. Essa ermida tinha como padroeiro e fundador o colono Clemente Vaz Moreira e estava localizada fora do perímetro da cidade, num montículo entre os montes em que hoje se situam o Mosteiro de São Bento e o Convento dos Franciscanos. Segundo Soares Mariz, em seu Canônico-Pátrias, “era nesta capela que o donatário (...) costumava assistir à missa aos domingos”.

1580 • A convite do cardeal rei D. Henrique, quatro carmelitas juntaram-se ao comandante Frutuoso Barbosa, para conquistar e fundar a cidade da Paraíba. Os religiosos tinham como objetivo a catequização dos índios e infiéis e a fundação de um convento. Quando a frota estava fundeada em Recife, desabou um grande temporal, fazendo com que os carmelitas permanecessem em terras pernambucanas, dirigindo-se para a vila de Olinda,

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sendo bem recebidos pelo donatário e pelos colonos, desejosos de sua permanência na capitania. Para acomodação dos religiosos, foi oferecida a pequena ermida de Santo Antônio e São Gonçalo.

1583 • Em 30 de abril, os Carmelitas obtiveram do Capítulo Provincial reunido em Beja, Portugal, as licenças para a fundação de um convento Carmelita na vila de Olinda, recebendo para isso algumas doações de terras.

1584 • Início da construção do templo carmelitano e suas roças pelo frei Pedro Viana.

1588 • Em 20 de agosto, a escritura de doação da Capela de Santo Antônio e São Gonçalo foi lavrada pelo tabelião Cosme Colaço. A doação “para todo o sempre aos carmelitas para aí fundarem um convento da sua ordem” foi feita por Salvador Moreira e seu cunhado Pedro Matos, como sucessores do colono Clemente Vaz Moreira. Entretanto, tinha que obedecer a algumas cláusulas: Santo Antônio e São Gonçalo ficariam no altar-mor ao lado de Nossa Senhora do Carmo; Santo Antônio estivesse sempre como orago do convento, entre outras exigências. • Posse da Capela por Fr. Pedro Viana.

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• Possuindo uma extensa área para a construção da igreja, convento e hortas, os carmelitas deram início às obras nesse mesmo ano. • Além dos conventos, os carmelitas estabeleceram os chamados hospícios, que eram hospedarias dos que seguiam ou voltavam das missões, necessários porque as missões feitas pelos carmelitas tinham o caráter temporário nos aldeamentos.

1590 • Em 15 de dezembro, foi registrada a licença do 3° donatário da capitania, Jerônimo de Albuquerque Coelho, na Alfândega de Olinda, para a construção do convento. Por ordem do donatário, foram entregues aos carmelitas uma área que estava de posse da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, bem como outras de domínio particular, cedido pela Câmara por pertencer a seus bens patrimoniais.

1612 • Sepultamento do colono Antônio Fernandes, padroeiro da capela do Senhor Bom Jesus dos Passos. Cada capela tinha seu padroeiro. Os padroeiros tinham como prêmio sepultura reservada para ele e para seus parentes.

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1630 • As obras do convento e igreja do Carmo foram empreendidas tão vagarosamente que, quando da invasão dos holandeses, o convento ainda não se encontrava pronto, pois reza em relatório holandês de 1637 que “o Convento do Carmo de Olinda seria um belo edifício se estivesse acabado”. • Pode-se afirmar com certeza que até 1630 o templo carmelita já se constituía de sua igreja pronta, porém apenas com torre sineira construída na primeira metade do Séc. XVII.

1631 • A Igreja e o Convento do Carmo, em conseqüência do Incêndio, sofrido em 16 de fevereiro, ficaram reduzidos a um terço de sua parte.

1654 • Neste ano, o da restauração portuguesa, todos os templos e casarões iniciaram suas reconstruções. No Carmo, foi o conjunto devidamente reparado e voltou a ser a cabeça da vigararia no Brasil até 1686, quando perdeu por ordem papal esse privilégio.

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1680 • A reforma turônica surgiu em Turon, na França, sendo adotada pelos carmelitas portugueses, que seguiram sua regra e a sua constituição. Daí, para o Brasil, não durou muito, pois “em capítulo celebrado em Roma no dia 1 de junho de 1680 e confirmada pelo núncio apostólico em Portugal, datando daí essa nova reforma em Pernambuco e ficando o convento de Goiana com o predicamento de cabeça ou casa principal da constituição turonense na capitania, (...)”. Essa reforma causou o isolamento dos conventos que não abraçavam tal reforma. Nesse expediente entraram os conventos de Olinda e Nazaré do Cabo de Santo Agostinho, assinando suas sentenças de morte, lenta e constante. Uma das prerrogativas da nova observância era a austeridade; o que não combinava com a ostentação de Olinda. Assim sendo, passa o convento a pertencer à província da Bahia, que, a partir dessa data até a segunda metade do século XIX, encarregou-se de enviar para o Convento de Olinda e de Nazaré os priores responsáveis por sua administração, condenando o templo à depredação e ao despojamento de seus bens pelos próprios carmelitas, sendo desprezado pela província da Bahia.

1694 • Nessa data, segundo André Prat, já existia a Ordem Terceira do Carmo de Olinda, situada ao lado direito da igreja e tendo como titular da capela a Santa Tereza de Jesus.

16?? • Possível data da obra da torre do lado do evangelho (lado esquerdo).

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1704 • Datação das janelas ao nível do coro, que possuem frontões sincopados e ladeiam um nicho, onde estava a imagem do fundador da ordem ou a imagem de Nossa Senhora do Carmo. • Reparo geral do templo, sendo construída uma nova fachada, ou seja, um novo frontispício e o cruzeiro de pedra.

1726 • Data do término da obra da Torre do lado da epístola - direito (lado sul);

- A portaria do antigo convento está ligada à torre do lado do evangelho. Ela se apresenta com uma porta de frontão sincopado, tendo ao centro um brasão coroado, pilastras cinzeladas guarnecem a referida porta, de um lado e de outro, encostadas à parede, as pilastras posteriores de um copiar que ali existiu e abrigava a entrada. As colunas da frente desapareceram, porém ainda encontram-se os respectivos capitéis. - Menciona Pereira da Costa que, provavelmente na primeira metade do Século XVIII, verificou-se a reconstrução do convento, sob um plano mais vasto que o primitivo. Ficando então com um pavimento térreo e dois superiores e tendo ao centro uma grande quadra coberta, correndo em contorno uma vistosa galeria, que chegava a altura do primeiro pavimento. Essa galeria, que formava o pátio interior do edifício, terminava em peitoril sobre uma corrida arcaria firmada em coluna de pedra.

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- Dava acesso ao pavimento superior uma larga escadaria sob abóbada, tudo de pedra, que enfrentava o pórtico do vestíbulo ou portaria, um vasto salão retangular, com teto apainelado em molduras de talhas e as paredes revestidas até certa altura de uma barra de belíssimos azulejos com os extremos superiores em recortes, fechando painéis de assuntos bíblicos.

- O convento apresentava aspecto majestoso, tendo, entre a igreja e o convento, uma área retangular na qual se via a capela do capítulo, isoladamente disposta, em comunicação com a sacristia, cujas paredes revestiam-se por belos azulejos, vendo-se ao fundo seu altar, entre duas janelas, e junto ao qual foi enterrado o bispo diocesano Dom frei Francisco de Lima, cujos restos mortais foram resgatados pelo instituto histórico em 1867.

1770 � O altar mor em alvenaria pintado, é sobreposto por retábulo, tendo ao centro o painel da Nossa Senhora do Carmo, que hoje se encontra na sacristia do Convento do Carmo do Recife; incorporado pela talha dourada, ladeadas de Santos Elias e Eliseu, os fundadores da Ordem, e Santo Antônio e São Gonçalo em nome das capelas originais dos respectivos santos.

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1772 • Data que está esculpida na porta de entrada da Igreja da Ordem Terceira, provável época em que foi terminada a sua construção.

- Essa corporação terceira, entre o final do Século XVIII e a primeira metade do Século XIX, torna-se extinta.

1831 • Segundo um escritor que o visitou, o monumento encontrava-se em completo abandono, ao ponto das ervas silvestres estarem abarcando parte do templo, deixando apenas um estreito caminho que conduzia à porta do claustro. Inúmeros fatores corroboraram para o abandono do monumento: a invasão holandesa, a construção e melhor localização do Carmo do Recife e a reforma turônica de fins do século XVII.

1854 • Os absurdos praticados pelos carmelitas que chegavam da Bahia, os constantes sumiços do patrimônio e o lamentável abandono do templo causaram indignação à população. O governo imperial decide seqüestrar todos os bens dos carmelitas de Olinda, para isso alegando a impraticável venda de bens de raiz e o abandono.

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1855 • Frei João do Amor Divino Mascarenhas empreendeu uma ação contra o seqüestro do patrimônio do templo.

• Em 09 de março desse ano, foi feita a procissão do Senhor dos Passos, na qual a irmandade promove duas loterias, empreendendo um reparo na coberta do templo, bem como outros reparos, não tendo sido especificado em que setor do monumento esses reparos foram feitos. • A 19 de maio, um Ato do governo imperial proibiu de vez, por todo o império, a admissão de noviços, prejudicando todas as ordens religiosas.

1856 • Devido à resistência dos carmelitas e por decisão judicial, o seqüestro do patrimônio foi levantado. Todos os bens seqüestrados foram inventariados, resgatados e devolvidos ao templo carmelitano de Olinda.

1867 • Resgatados do Conjunto Carmelita os restos mortais do bispo diocesano D. frei Francisco de Lima.

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1870 • Suspensão do Frei João do Amor Divino Mascarenhas devido desobediência e descaso com o templo, tendo deixando-o em completo abandono, ficando a parte que ainda estava em pé transformada em albergaria, sendo habitada por prostitutas, mendigos e inválidos.

1871

• O frei Inocêncio do Monte Carmelo Senna, último a dirigir o convento de Olinda, deixa a igreja para tratar-se na Bahia, passando a administração à Irmandade dos Passos, a fim de que o Tesouro Nacional não pudesse alegar qualquer irregularidade.

1874 • A 04 de fevereiro, o governo imperial, por sentença do Juiz dos Feitos da Fazenda, considerou o convento e terrenos de seu quintal vagos e devolutos, sendo seqüestrados e incorporados ao Tesouro Nacional. O processo de incorporação só foi aprovado e realizado em 14 de agosto de 1878. Entretanto, continuavam os edifícios em notório estado de ruína.

1877 • Devido ao estado lamentável do prédio do convento a Câmara de Olinda solicitou ao Palácio da Presidência a demolição de um dos paredões do convento, cujo desabamento era iminente.

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• Em resposta, o presidente da província Manoel Clementino Carneiro da Cunha determina que a demolição do paredão deva se proceder nos termos do artigo 77 da lei provincial de 19 de junho de 1861, pois o prédio pertencia aos próprios nacionais, e que levaria ao conhecimento do governo imperial a solicitação, para ser avaliada.

1886 • A igreja dos terceiros carmelitanos já se encontrava em completa ruína, segundo o vigário provincial do convento de Recife.

1893 • O prefeito do município de Olinda manda proceder-se a demolição do que restava do convento, não sem antes entrar em contato com a Delegacia Fiscal e de se publicar um edital de concorrência para a obra, tendo sido ganha por um português, que comprou a parte do convento que pretendia demolir. Iniciando a obra, aproveitou os materiais na construção de três casas localizadas na Avenida Sigismundo Gonçalves. Entretanto, a obra não teve continuidade por ter sido embargada pela justiça. • Entre as ruínas da Igreja da Ordem Terceira, é encontrada a imagem da titular da igreja. Resgatada, ficou sob a posse de um morador de Recife, que recuperou a imagem e solicitou ao provincial uma capela para que fosse devidamente venerada. Conseguida a permissão, toma a seus cuidados o altar dedicado a Santa Tereza

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de Jesus, colocada em um nicho envidraçado, de madeira dourada, sendo ornamentado o altar por quatorze castiçais de madeira pintados e dourados; quatorze jarros de madeira, também pintados e dourados e um jogo de sacras envidraçadas. •

1894

• Beneficiados pela instauração da República, que deu o direito às corporações monásticas de se reorganizarem, chega nesse ano o primeiro contingente de religiosos carmelitas da província espanhola do “Dôce Nome de Maria”, que fizeram um convênio com os dois únicos carmelitas de Pernambuco, se comprometendo a ceder alguns de seus membros para impulsionar a restauração e reabrir o noviciado.

1897 • Início da recuperação do templo, quando o frei Mariano do Monte Carmelo Gordon fez importantes obras na capela mor, restaurando-a inteiramente e mandando ainda construir “sólido e esbelto camarim, com suas respectivas e elegantes arcadas, pilastra e abobada.” Todavia, muito faltava para a completa recuperação do prédio.

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1907 • Demolição do convento empreendida pelo prefeito Cornélio Padilha, antes da chegada do frei André Prat. A demolição foi empreendida sem qualquer consulta para autorizá-la, respaldada no código de postura do município, que dava à prefeitura o direito de demolição de qualquer prédio que estivesse em ruína. • Em julho desse ano, o Convento passa a fazer parte da província pernambucana. • Com a chegada do frei André Prat verifica-se uma aceleração nas obras de restauração do prédio. Este religioso foi um dos mais zelosos, e grande lutador no que concerne a recuperação do templo olindense. Apesar de ter sido um grande restaurador do templo, internamente, seu exacerbado zelo descaracterizou a igreja, pois fica claro que sua obra tentou assemelhar a igreja de Olinda à de Recife. Aliado a isso constrói junto a capela mor mais um edifício, cujo propósito era de servir de dependência para padres. Suas reformas tiveram início em fins do ano de 1907 e foram até 1915. Antes de iniciar as obras, convidou o engenheiro Dr. José Carlos Torres Cotrim, para fazer uma inspeção no prédio e opinar sobre a melhor maneira de se fazerem os reparos com o mínimo custo possível. • O relatório do engenheiro afirma que as obras da igreja são defeituosíssimas e fatalmente condenadas à ruína, não oferecendo maior solidez nem garantia de duração que as antigas obras de taipa. Diz também que:

- Na parte posterior do edifício pode quem quiser observar um arco, alias construído de cantaria de pedra liós, com uma junta no topo, sem a clássica aduela de fecho.

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- As paredes do lado direito do edifício (torre) estão seriamente comprometidas apresentando um desaprumo de cerca de 0,30. Essa deformação parece provir de defeito das fundações. Sugere a demolição da torre do lado direito, para recolocar em prumo a parede desse lado.

• As reparações foram feitas em todo o edifício. O lado externo com seu frontispício, a escalonada e a construção do novo anexo. Entretanto as maiores intervenções aconteceram na parte interna do templo. O provincial fez quase que uma cópia fiel da igreja carmelita do Recife. Das antigas capelas, preservou apenas duas: uma dedicada ao Senhor Bom Jesus dos Passos da Graça e a outra consagrada ao Santo Cristo do Perdão a qual conservava seu primitivo retábulo dourado. As demais foram encobertas pela construção dos altares à face das paredes da nave. • Convento foi demolido pela prefeitura dele restando hoje, além dos alicerces, semi-enterrados, o pórtico da entrada, e uma galeria do claustro incorporada à atual fachada leste da edificação.

1907-1915 • Reformas feitas por Frei André Prat.

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• A nave que era em um só nível, tendo um degrau para altares, foi completamente modificada. Prat retratou a nave da igreja de Recife, elevando junto aos altares o nível do piso e circulando toda a nave por um gradeio de jacarandá.

1910 • Segundo o Livro de Registro de Despesa e Receita, depreende-se que nesta data foi primeiramente reparada a coberta do templo e pintado parte da igreja, sendo também comprada neste ano uma serafina importada da Alemanha de cor preta. • São realizadas obras de menor porte pela Irmandade do Nosso Senhor dos Passos, sendo feitos melhoramentos em sua capela. As linhas arquitetônicas que hoje encontramos nessa capela são bastante recentes. Após alguns atritos com o provincial, a irmandade consegue autorização para erguer um cômodo contíguo ap altar do Senhor Bom Jesus dos Passos, por ser considerado uma grande necessidade para a igreja, ter uma sacristia. Contudo, hoje não mais se verifica esse cômodo, provavelmente tendo sido demolido pelas obras de restauro do IPHAN.

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1915 • A igreja foi recuperada por frei André Pratt, que edificou uma dependência que serviu de sede para a missão carmelita do nordeste. Esta dependência restaurada pela pró-Memória é hoje sede do escritório técnico, que administra atualmente o monumento.

Anos 1920 • O frei André Prat muda o piso de tijoleira da capela mor para o mosaico, julgado pelos fiéis mais cômodo e higiênico.

• As intervenções do religioso em Olinda foram quase que completas, faltaram poucas obras a fazer, como o imenso desejo de ver o convento reconstruído, porém o provincial parte para a Bahia sem realizar tal intento. Entretanto, aproveitando parte do convento demolido, construiu um espaço, criando a Escola Apostólica do Carmo.

Anos 1930 • A prefeitura de Olinda consegue junto ao Ministério da Fazenda a cessão dos terrenos carmelitas, a fim de promoverem a expansão urbana e o embelezamento do Carmo. Resguardado o templo, os terrenos foram cedidos à prefeitura e outros foram vendidos ou aforados a terceiros. O projeto de melhoramento iniciou-se:

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praças ajardinadas, muros derrubados, vias públicas criadas e o remoto “Caminho do Carro” (Sigismundo Gonçalves) ampliado.

• Aprovado o projeto de abertura da Rua Justino Gonçalves, ligando a Avenida Sigismundo Gonçalves ao Pátio de S. Pedro, cortando parte do morro dos carmelitas, obrigando-se a prefeitura a construir um muro de arrimo para estabilizar o morro. O muro só foi construído 16 anos depois, em 1948.

• Construído o Posto de Saúde e Maternidade, onde se localizavam as hortas do convento, realizando mais um corte no morro. Todas essas obras e recortes no morro, o desestabilizaram, acelerando o processo de arruinamento do templo.

1938 • Tombamento pelo IPHAN.

1940 • Neste ano, ainda encontravam-se as ruínas do prédio dos terceiros, derrubado pelo IPHAN.

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1941 • Devido a sucessivas obras de reparações que tem passado o monumento, perde-se muito do seu cunho original – que será resgatada pelo IPHAN na obras iniciadas por Dr. Ayrton de Carvalho, neste ano. O levantamento histórico foi encomendado ao próprio frei André Prat, servindo de subsídios as obras da igreja.

- Dr. Ayrton e sua equipe foram responsáveis por uma verdadeira busca às origens arquitetônicas dessa igreja, e a restaurou dentro das condições financeiras do Instituto.

- Quando a equipe de Dr. Ayrton chegou ao monumento, encontrou-o em ruína. Havia desabado parte do teto e a fachada estava nitidamente inclinada para frente, fenômeno que afetou também o cruzeiro. As paredes estavam cheias de fissuras, representando perigo de desabamento. Tratou-se de salvar, imediatamente, a fachada da igreja.

- Em entrevista realizada em 1996 com o Dr. José Ferrão Castelo Branco, a primeira informação prestada recaiu sobre o prédio da Ordem Terceira, onde foi encontrada parte do edifício em ruína, ainda em pé, contendo um primeiro andar de estilo neoclássico. Assim, em reunião com os técnicos, ficou decidido pela demolição do prédio que consistia na parte do consistório, preservando-se apenas uma parede do referido edifício – exatamente a parede da fachada lateral esquerda, fazendo parte do muro que circundava o convento. Dessa forma, cortou-se “até abaixo do piso do primeiro andar e se deixou como muro com suas

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paredes espessas.” A restauração (1941/1950) não deixou nenhum vestígio do templo dedicado a Santa Tereza de Jesus, da Ordem Terceira do Carmo.

- Com a demolição da Ordem Terceira foram construídas duas meias-águas a fim de se guardar materiais das obras e da serraria, que funcionou e incomodou até os anos 70.

- O Dr. Ayrton de Carvalho retira as pinturas do altar mor, deixando-o na própria madeira. O piso foi novamente trocado pelo de tijoleira e a escadaria que sobe para o altar mor passou a ser de assoalho.

• Serviço de estabilização da fachada, consolidação.

1942 • A fachada principal da igreja está toda escorada e já se acham concluídas, inteiramente, as fundações da

estrutura de concreto; as colunas da estrutura encontram-se parcialmente cheias. Coberta desmontada, já se encontram feitas três novas tesouras que irão substituir as antigas apodrecidas. Abertura das colunas e dos consolos da parte superior da estrutura.

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1943 • Execução de duas cintas de concreto armado sobre as paredes laterais da igreja. Substituição de 03 tesouras, asnas, terças, frechais, caibros e ripas. Foram executados serviços de conservação dos portões laterais.

1944 • Ano em que começou a prospecção no interior da igreja, mas a restauração propriamente dita foi de 1945 em diante. Paralelamente, estavam sendo realizadas pesquisas da mecânica do solo no morro do Carmo, pelo Instituto Tecnológico de Pernambuco, solicitado por Dr. Ayrton de Carvalho. • Em ofício, de 05 de julho desse ano, o Dr. Ayrton de Carvalho deixa clara a situação encontrada e as iniciativas da equipe. Encontrou as paredes da nave caiadas, sendo o fundo em branco e os relevos em amarelos. Foram retirados os rebocos e aplicadas, em várias partes, injeções de cimento em calda. Todo material de madeira estava estragado, sendo preciso plena restauração. • Na opnião de Dr. Ayrton, os altares laterais do arco-cruzeiro foram desmontados por não apresentarem evidencias de construção remota e por prejudicarem “as linhas sóbrias nesta majestosa igreja”. Suas talhas foram reaproveitadas e reassentadas em duas das capelas laterais (agora abertas, com a remoção dos altares frontais de madeira e alvenaria com pinturas murais).

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• Foram encontrados indícios de alvenaria que sustentava o antigo altar de pedra, em uma das capelas laterais. O altar à esquerda, segundo informações colhidas por Dr. Ayrton, havia sido executado com pedras retiradas do altar da quarta capela do mesmo lado, presumindo-se que todos os altares das capelas eram primitivamente de pedra calcária. Segundo o coordenador da restauração, a evidência dava-se pela extensa cantaria de pedra dessa igreja. • Por orientação de Dr. Ayrton a balaustrada do coro foi considerada pobre em relação às das tribunas, sendo confeccionada outra mais condizente; embora não fosse encontrado nenhum exemplar do balaústre da antiga grade. O coro é contemporâneo da construção da igreja; mas sua estrutura atual é nova, pois seu material primitivo foi saqueado pelos batavos. • A prospecção no piso da igreja revelou, com absoluta certeza, que a nave maior era de um só nível, havendo apenas um degrau para as capelas laterais no alinhamento das paredes da nave, foi corrigido imediatamente. • Quanto ao aspecto arquitetônico da capela mor, a necessidade primeira estava na eliminação das colunas criadas nas paredes laterais, optando-se por uma remoção para caracterizar as paredes lisas, visto que as encontradas não correspondiam ao período construtivo de origem. Procurou-se, então, um desenho mais adequado a sua cornija.

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• Renovação do pedestal do pórtico da fachada. Revestimento da fachada, restauração do portão lateral esquerdo e a pavimentação do piso do adro. Restauração e envernizamento das grades das tribunas, dos púlpitos e dos dois altares laterais.

1945 • Maiores detalhes sobre a capela-mor são conhecidos nas prospecções feitas nesse ano. Assim é que se pôde afirmar que a capela mor sofreu três grandes modificações. A terceira modificação e a mais recente é a do aspecto atual da capela que consistiu na elevação da mesa do altar, e no seu deslocamento; ela passou para o mesmo plano vertical do retábulo. Toda composição de talha compreendida entre a mesa do altar e o nível do nicho (antigo trono) é arranjo. • No primeiro semestre deste ano temos na capela dos Passos a substituição da coberta com modificação do seu sistema, acarretando elevações e cortes de paredes; fechou-se também um grande arco ao lado dessa capela. • Na retirada do reboco para aplicação das injeções de cimento em calda e na busca de vestígios primitivos, foram encontrados, nas paredes da nave da igreja, restos mortais, o que acarretou na construção de novos ossuários para depositá-los.

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• Defronte ao templo também foram empreendidas algumas obras de restauro. Recuperaram a porta da ala conventual; constituiu-se uma calçada à frente da igreja, evitando as infiltrações; e o cruzeiro, que estava inclinado, foi restabelecido. O cruzeiro atual não é o primitivo. • Prospecção sobre a capela-mor. Com o fim de obter elementos concretos sobre sua primitiva disposição. Início à restauração do retábulo da capela-mor e a descoberta do altar pintado. Eliminadas as colunas das paredes laterais.

1946 • Troca do piso da capela-mor, restauração das outras capelas. Retirar o suplemento acrescido às paredes laterais de embasamento, bem como as pilastras e o entablamento. Retirada dos ornatos e molduras existentes na parede curva dos fundos. Substituir alvenaria ao longo das paredes laterais por estrados de madeira, no que diz respeito ao cadeiral. Reparação do altar deixando a madeira na cor natural.

1947 • Demolição da dependência posterior do lado direito (oeste), em ruína.

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1948 • Deu-se a adoção de madeira na escada de acesso ao piso diante do altar-mor, aplicando revestimento de madeira nos socos, mureta cadeiral, revestimento de assoalho.

1950 • Solicita assistência técnica da Secção de Solos e Fundações, projeto de consolidação do morro do Carmo e conclusão dos serviços de restauração.

1954 • Obras de transporte e recolocação do cruzeiro.

1956 • Ocasião do tricentenário da restauração pernambucana o patrimônio histórico deu continuidade ao trabalho

de restauração realizando as seguintes obras: limpeza, retelhamento, pintura e estabilização do cruzeiro.

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1966 • Desmontagem para conserto da talha do altar lateral(transepto) do lado do evangelho, foi encontrado uma

pintura parietal provavelmente do século XVII.

1968 • Revisão da coberta da nave, capela-mor, galerias. Com substituição de caibros, ripas, frechais e imunização contra térmitas.

1971

• Projeto de um andar intermediário e colocação de óculos elípticos(no local da antiga capela captular, hoje acesso ao escritório do IPHAN).

1973 • Rebaixamento do terreno, abertura de valas para execução de embasamento e colocação de tubulação de escoamento e passeios laterais.