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Pau-rosa Aniba rosaeodora Ducke Lauraceae MANUAL DE SEMENTES DA AMAZÔNIA ANO 2003 FASCÍCULO 3

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Page 1: Pau-rosa · Pau-rosa Aniba rosaeodora Ducke Lauraceae MANUAL DE SEMENTES DA AMAZÔNIA ANO 2003 FASCÍCULO 3

Pau-rosaAniba rosaeodora DuckeLauraceae

MANUAL DE SEMENTES DA AMAZÔNIA ANO 2003 FASCÍCULO 3

Page 2: Pau-rosa · Pau-rosa Aniba rosaeodora Ducke Lauraceae MANUAL DE SEMENTES DA AMAZÔNIA ANO 2003 FASCÍCULO 3

NOMES VULGARES:

ESPECIES RELACIONADAS:

DESCRIÇÃO BOTÂNICA:

Árvore:

Folha:

pau-rosa, pau-rosa-itaúba (Brasil), cara-cara, “rosewood” (Guiana), “bois-de-rose”, “bois-de-rose-femelle” (Guiana Francesa), “enclit-rosenhout” (Suriname).

o gênero Aniba é constituído por 41 espécies neotropicais (Mabberley 1990) e a fitoquímica de 18 destas espécies é suficientemente conhecida para permitir a classificação sistemática baseada em compostos secundários (Gottlieb & Kubitzki 1981). Baseado em evidências bioquímicas e similaridades morfológicas, Kubitzki e Renner (1982) incorporaram Aniba duckei em Aniba rosaeodora, apesar da presença específica de cotoína em A. duckei Kosterm e pinocembrina em A. rosaeodora Ducke. Ambas são caracterizadas pela presença do álcool linalol, que fornece um odor forte e perfumado em todas as partes da planta. São consideradas sinonímias para Aniba rosaeodora Ducke: Aniba rosaeodora Ducke var. amazonica Ducke e Aniba duckei Kostermans.Aniba parviflora e A. coto são consideradas espécies relacionadas com A. rosaeodora pela presença do pseudo-alcalóide anibina. A. parviflora é uma árvore de pequeno porte com a madeira de cor esverdeada clara.

Baseada em Ducke (1938) e Kubitzki & Renner (1982).

de grande porte, podendo atingir até 30 m de altura por 2 m de diâmetro, com um tronco reto e cilíndrico e uma casca pardo-amarelada ou avermelhada que se desprende facilmente em grandes placas. A copa estreita ou ovalada ocupa o dossel intermediário ou superior da floresta.

obovada-elíptica ou lanceolada, com uma grande variação em tamanho, geralmente medindo de 14 (6-25) cm de comprimento por 5 (2,5-8) cm de largura. Base obtusa e imediatamente arredondada, ápice bastante acuminado, com margens planas ou levemente recurvadas. A superfície superior é glabra, coriácea e verde escura e a inferior levemente pubescente e amarela pálido. As nervuras secundárias divergem das nervuras primárias em um ângulo

1

Aniba rosaeodora DuckeLauraceaeSampaio, P. T. B., Ferraz, I. D. K. & Camargo, J. L. C.

2 cm

Aniba rosaeodora Ducke: (A) fruto imaturo. (B) fruto maduro. (C) fruto cortado visualizando a polpa amarela e a semente com tegumento. (D) semente sem tegumento visualizando os dois cotilédones. (E) vista frontal após a retirada de um dos cotilédones, mostrando a posição basal do eixo embrionário. (ilustrações: M. Nakajima)

A B C D E

Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke

Frutos em diferentes estádios de maturação e sementes.

de 45 a 60 graus. Pecíolo grosso e glabescente, canaliculado com 0,8 a 1,7 cm de comprimento. As folhas se distribuem alternadamente ao longo dos ramos menores ou se concentram em suas pontas.

Panícula sub-terminal com múltiplas flores localizadas nas axilas das brácteas caducas ou das folhas persistentes, densamente ferrugínea-tomentosa, com 4 a 17 cm de comprimento.

hermafrodita, pequena (1,5 mm de comprimento), de cor ferrugínea-tomentosa. O perianto tem 6 sépalas eretas iguais, ou às

Inflorescência:

Flor:

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2Sampaio, Ferraz & Camargo

Comprimento: 2,8 (2,4-3,1) cm; 4 cm ;B

3,5-4cm C

Diâmetro: 2,0 (1,8-2,3) cm; 2 cm B

Peso: 6,6 (4,3-8,4) g

Teor de água da polpa: 39,5 (32,8-48,1) %

No. de sementes/fruto: 1

Comprimento: 2,4 (1,9-2,9) cm

Largura: 1,7 (1,4-2,0) cm

Espessura: 1,5 (1,2-1,9) cm

Peso: 3,5 (1,8-5,5) g

No. de semente/kg: 272-392; 320A; 750

D

Teor de água: 48,5 (36-64) %

Reserva Principal: cotilédones

( ) Loureiro et al. 1979; ( ) Parrotta et al. 1995; ( ) van Roosmalen 1985; ( ) Lorenzi 1998.A BC D

SEMENTES

FRUTOS

BIOMETRIA

vezes, as externas podem ser menores. Comumente 9 estames, com filamentos da mesma largura ou menores do que as anteras. As anteras possuem válvulas que se abrem geralmente para cima liberando o pólen. Pistilo minutamente tomentoso. Ovário elipsóide ou ovóide, glabro ou piloso, incluído no tubo floral. Pedicelos pouco evidentes.

do tipo baga com uma cúpula. A cúpula é cônica, espessa, com superfície externa áspera marrom-esverdeada e superfície interna glabra e marrom. A baga é de forma obovóide a ovóide, de cor verde quando imatura, tornando-se roxa-escura quando madura, contendo apenas uma semente. .

ovóide, tegumento delgado, liso e opaco; de cor marrom clara com estrias longitudinais marrom-escuras. O tegumento quando seco é quebradiço. A semente tem dois cotilédones grandes, convexos, duros, lisos, de cor creme. O eixo embrionário é reto, central, próximo à base, com 3 mm de cumprimento, e também de cor creme.

Aniba rosaeodora Ducke ocorre na Guiana Francesa, distribuindo-se ao longo do escudo das Guianas, Suriname e a região amazônica da Venezuela, Colômbia e Peru (Ducke 1938). No Brasil, ocorre desde o estado do Amapá no nordeste amazônico, seguindo as duas margens do Rio Amazonas e tributários até o Peru à noroeste (SUDAM 1972); como também desde a região centro-sul do estado do Pará até a bacia do Rio Purus no sul do estado do Amazonas (Ducke 1938; Mitja & Lescure 1996). A espécie pode ser encontrada tanto em floresta de terra firme úmida como também em área de campinarana, presente nas regiões norte e central da Amazônia, com habitat preferencial em platôs e nascentes de igarapés (Kubitzki & Renner 1982).A densidade de árvores adultas (>10 cm DAP) nas florestas de terra firme ao norte de Manaus é de 2 árv/ha (Loureiro et al. 1979) ou até

Fruto:

Semente:

DISTRIBUIÇÃO, ABUNDÂNCIA E ECOLOGIA:

7,5 árv/ha (Mitja & Lescure 1996). Na Reserva Ducke, vizinha à Manaus foram encontradas 3 a 4 árv/25 ha com DAP >20 cm (Alencar & Fernandes 1978). Apesar da presença de indivíduos espacialmente dispersos, a distribuição das árvores adultas, nas poucas áreas que não foram exploradas, parece ser agregada em grupos de 5 a 8 árvores, com espaçamento de 50 a 100 m entre árvores e 300 a 400 m entre grupos (Alencar & Fernandes 1978; Araújo 1970). A regeneração natural do pau-rosa é irregular e pouco freqüente e, não segue um modelo clássico de distribuição espacial, no qual espera-se que a probabilidade de ocorrer plântulas estabelecidas é maior com o aumento da distância em relação à árvore-mãe. Um estudo com 80 árvores de pau-rosa (>10 cm de DAP), realizado ao norte de Manaus, mostrou que nos locais circunvizinhos para 70% das árvores foram encontradas plantas jovens. Aproximadamente 50% destas plantas jovens se distribuíram em um raio de até 10 m da árvore-mãe. A baixa freqüência da regeneração natural se caracterizou pelo fato que em apenas 35% destas árvores foram encontradas mais do que 10 plântulas (Mitja & Lescure 1996). Em outro estudo, também ao norte de Manaus, Santana (2000) encontrou a maior densidade de plântulas em uma distância de 4 a 5 m da árvore-mãe e nenhum outro indivíduo além dos 23 metros. Os sítios regenerativos mais comuns de plântulas de pau-rosa estão associados com clareiras e bordas de clareiras (Mitja & Lescure 1996).

3 cm

Muda de Aniba rosaeodora com 6 meses.(ilustração: M. Nakajima)

folhas simples alternas espiraladas

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3

JAN

MAR

ABR

MAI

NOV

OUT

SET

AGO

FEV

JUN

DEZ

JUL

FLORAÇÃ

O

SETNEMES ED ADE

UQ

FRUTIFICAÇÃO

FENOLOGIA SAVON SA

HLOF

Fenofases observadas na região de Manaus - AM

Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke

Inicial Médio

viveiro areia e vermiculita recém dispersas com tegumento

emergência 42% 35 54

viveiroA 50% silica-argila emergência 37-91% 30-40 n.d.

viveiroB 50% silica-argila emergência 39-75% 17-43 98-127

ogerminador 30 C papel de filtro com tegumento raiz primária (2 mm)

81% 24 37

papel de filtro sem tegumento raiz primária (2 mm)

84% 14 22

vermiculita sem tegumento raiz primária (2 mm)

94% 9 19

vermiculita sem tegumento plântula normal 76% 18 34

( ) Loureiro et al. 1979; ( ) Araújo 1967 A B

Localde estudo

Critério de germinação

Tempo de germinação (dias)Germinação final

Condição das sementes

Substrato

recém dispersas com tegumento

ogerminador 30 C

ogerminador 30 C

ogerminador 30 C

Final

97

60-120

126-168

47

29

37

61

43

n.d.

n.d.

34

19

16

32

Tempo para

germinação de 50%

das sementes

germináveis (dias)

TESTE DE GERMINAÇÃO

FENOLOGIA: Na Amazônia Central, estudos fenológicos mostraram uma grande variação para as fenofases floração e frutificação entre os indivíduos, não apresentando necessariamente uma frutificação anual. Nesta região, a floração ocorre entre outubro e março e a frutificação apresenta um pico entre fevereiro e junho (Magalhães & Alencar 1979). Em um estudo mais recente, Spironello e colaboradores (2001), observaram dois picos de floração para as árvores de um plantio na Reserva A. Ducke: o primeiro no final de abril e início de maio e o segundo no final de julho. Também foi

observado que o período de floração individual variou entre 45 e 75 dias; o tempo de maturação dos frutos de 13 até 14 meses e o período de frutificação se estendeu por 3 a 4 meses. Neste mesmo estudo, observou-se uma alta incidência de abortos dos frutos para a maioria das árvores estudadas (10-76%, n=10) e uma grande variação numérica na produção de frutos que oscilou entre 210 a 1620 frutos maduros por árvore. Apesar da espécie ser perenifólia ocorre uma maior mudança foliar durante a estação seca (Araújo 1970; Magalhães & Alencar 1979).

A predação dos frutos de pau-rosa, no plantio da Reserva A. Ducke apresentou uma alta incidência tanto em frutos abortados (58-86%), quanto em frutos maduros (70-96%), e foi causada por larvas de vários insetos. O nível de infestação foi independente da produtividade da árvore. Um coleóptero (Curculionidae) ataca os frutos durante a fase intermediária de desenvolvimento; enquanto que uma segunda espécie de coleóptero do gênero Heilus sp. (75% dos casos) e lepidópteras (20% dos casos) atacam os frutos na fase final de desenvolvimento até a maturação (W. Spironello, com. pers.). A proporção de infestação foi maior em frutos abortados, sugerindo que o coleóptero, que consome os cotilédones, pode estar induzindo estes abortos. Os frutos de pau-rosa também são severamente procurados por aves das famílias Psitacídeos e Ranfastídeos, que os comem mesmo antes da maturação. (W. Spironello, com. pers.).

Os frutos quando maduros se desprendem da cúpula e caem ao chão, mas como visto acima, podem ser comidos tanto na copa das árvores como após a dispersão, o quê torna a disponibilidade das sementes um dos pontos mais difíceis para a propagação da espécie. Quando coletados nas árvores antes da maturação, os frutos imaturos devem ser transportados em recipientes plásticos e armazenados a temperatura ambiente até atingir uma coloração escura, indicando um melhor ponto de maturação. Deve-se evitar qualquer dessecamento. Após alguns dias, inicia-se o processo de decomposição da polpa facilitando a extração das sementes que

PREDAÇÃO:

COLETA E EXTRAÇÃO DE SEMENTES:

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3 mm

Morfologia do eixo embrionário: (A) vista frontal, depois de retirado um dos cotilédones. (B) Vista lateral visualizando a inserção dos dois cotilédones. (ilustrações: M. Nakajima)

4Sampaio, Ferraz & Camargo

Classificação recalcitrante

Tolerância ao dessecamento não toleram secagem; um teor

de água < 20% é letal

Teor de água recomendado o teor de água da semente

deve ser mantido > 40%

Tolerância à refrigeração das

sementes embebidas

não toleram refrigeração < 10 ºC

Atualmente o melhor resultado

obtido através do método de

conservação

manter as sementes entre 15 e

20 ºC em sacos plásticos finos

e perfurados (com agulha) com

vermiculita úmida

Maior período de conservação

(tempo / % de germinação)

30 dias / 70%

Teor de água da semente baseado em porcentagem da massa fresca

ARMAZENAMENTO DE SEMENTES

deve ser feita manualmente devido ao tegumento ser muito frágil. Resíduos ainda persistentes podem ser eliminados através da lavagem das sementes em água corrente, deixando-as prontas para a semeadura (Ferraz 1993).

As sementes de pau-rosa são recalcitrantes pois não toleram dessecamento e devem ser armazenadas com um teor de água acima de 40%. Um teor de água de igual ou menor do que 20% foi considerado letal para a semente e mesmo 30% pode ser considerado crítico, porque 50% das sementes já perdem a germinabilidade. Em laboratório com condições ambientais as sementes perdem a germinabilidade em um período de 7 dias. As sementes de pau-rosa também são intolerantes à refrigeração. Atualmente, para armazenar as sementes por um

o operíodo curto à temperatura de 15 C a 20 C sugere-se utilizar sacos plásticos finos e perfurados com vermiculita úmida.

ARMAZENAMENTO DE SEMENTES:

GERMINAÇÃO:

PRÁTICAS DE VIVEIRO E PLANTIO:

A germinação de Aniba rosaeodora é do tipo hipógea-criptocotiledonar. O grau de maturação dos frutos influencia no processo germinativo; sementes provenientes de frutos mais maduros, de coloração roxa escura, apresentam uma maior porcentagem de germinação (Rosa et al. 1999). As sementes não apresentam dormência, apesar de que o tegumento apresenta uma certa resistência física à emissão da radícula. A retirada do tegumento reduz à metade o tempo de germinação em relação às sementes intactas. Quando as sementes sofrem um leve dessecamento, o tegumento enrijece, aumentando a sua resistência física. Recomenda-se assim, a retirada manual do tegumento após um corte longitudinal cuidadoso com um estilete para sementes com baixo vigor e aquelas que sofreram um leve dessecamento (Ferraz 1996). Em condições controladas, a germinação das sementes é

0 0alta entre as temperaturas de 20 C e 35 C. Mas, observando a 0velocidade do processo de germinação, as temperaturas entre 25 C e

030 C podem ser consideradas como ideais (Ferraz 1996).

A produção de mudas de Aniba rosaeodora pode ser feita por semeadura direta em sacos plásticos individuais ou em sementeiras para posterior repicagem. A semente pode ser colocada a uma profundidade de 1 a 2 cm sem interferir na taxa de germinação (Rosa et al. 1999). O pau-rosa não requer um substrato específico, Rosa e Ohashi (1999) não encontraram resultados diferenciados de germinação em sementes colocadas em areia, terra preta ou mistura de pedrisco com terra preta. Assim como, diferentes coberturas para sementeiras, como vermiculita,

Processo germinativo(ilustrações: M. Nakajima)

A B

Cotilédone Cotilédone

Plúmula

Ponto de inserção do cotilédone

Radícula

Tegumento

Cotilédone

raíz primária

epicótilocatáfilo

epicótilo

catáfilo

primeiro par de eófilosopostos

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5 Manual de Sementes da Amazônia 2003 (3) Aniba rosaeodora Ducke

palha de arroz ou serragem não influenciaram a germinação de sementes de pau-rosa (Marques et al. 1999). Um substrato organo-arenoso, aliado ao sombreamento entre 30 ou 50% são favoráveis ao desenvolvimento das mudas em viveiros (Rosa et al. 1997; Marques et al. 1999). Tais condições são similares aos sítios preferenciais de regeneração natural encontrados nas clareiras e bordas de clareiras das florestas de terra firme (SUDAM 1972; Rosa et al. 1997). Sombreamento (50%), adubação com NPK e irrigação diária favoreceram a sobrevivência (95%) e maximizaram o crescimento em altura das mudas (30 cm/ano) desta espécie em viveiro (Rosa et al. 1997). Santana e Barros (1997) ainda propõem a inoculação de micorriza para acelerar o crescimento das mudas em viveiros.O pau-rosa também pode ser propagado por estaquia (Vieira 1972). Um estudo realizado por Sampaio (1987) revelou que estacas de pau-rosa obtidas de ramos juvenis sem nenhum tratamento enraízaram 70% em média. Esta técnica oferece grandes possibilidades de seleção de material de alta qualidade para plantações experimentais.Os plantios de pau-rosa sob sombra parcial (50%) da floresta madura indicam que é possível o cultivo desta espécie em sistemas agro-silviculturais. O pau-rosa cresce em latossolos amarelos e vermelhos, em solos arenosos e argilosos, exclusivamente na terra firme. Trabalhos de melhoramento genético deverão selecionar procedências ou progênies de maior produtividade em óleo o quê contribuiria para elevar a produtividade atual, tornado o cultivo “ex situ” desta espécie atrativa para o agricultor (Sampaio et al. 2000). Um estudo realizado pela SUDAM (1979) mostrou que esta espécie apresenta bom índice de sobrevivência (80%), com incrementos médios anuais de 0,83 m em altura, 0,79 cm em diâmetro e 9,1

3m /ha/ano em volume em condições de sombra parcial na floresta primária (30% de luminosidade). Em solo argiloso amarelo e espaçamento de 10 x 5 m, o pau-rosa apresentou um incremento médio anual de 0,75 m no sétimo ano após o plantio (Alencar & Fernandes 1978). Pelas exigências lumínicas, recomenda-se plantar as mudas de pau-rosa em consórcio com outras espécies que propiciem um sombreamento de até 50% (Rosa et al. 1997).

O uso principal de Aniba rosaeodora é a extração do óleo de pau-rosa, constituído principalmente de um metabólito secundário conhecido como linalol, uma substância fixadora de perfumes. Apesar do linalol estar presente em todas as partes da árvore e o rendimento para a extração do óleo ser de 1,1% e 2,4% da biomassa de madeira e folhas respectivamente, o óleo é basicamente extraído da madeira (Gottlieb et al. 1964; Araújo et al. 1971; Chaar 2000). Para produzir 200 l de óleo através dos métodos tradicionais de destilação é necessário processar de 16 t a 30 t de madeira (Lescure & Castro 1992). A idade do material vegetativo pode influenciar na proporção de linalol obtido, folhas e galhos jovens são mais produtivos (Araújo et al. 1971). Na prática dos extratores, o pau-rosa extraído do estado do Amazonas pode ser classificado em três tipos segundo diferenças morfológicas e da produtividade do óleo: o pau-rosa mulatinho, cerne escuro, densidade elevada, que submerge quando as toras recém cortadas são postas nos rios, apresenta maior produtividade de óleo (15 l/t); o pau-rosa itaúba, de cor amarelada e menos densa (10 l/t) e o pau-rosa imbaúba, muito leve e fácil de rachar, de cor quase branca, com menor rendimento em óleo. A extração tradicional do óleo começa com a derrubada das árvores. O tronco é reduzido a lascas de madeira de 2 a 3 cm de largura e 5 mm de espessura com um triturador (SUDAM 1972; Ohashi et. al. 1977). Este material é colocado em um alambique e o processo de

0 0destilação é feito em duas etapas a temperaturas de 194 C e 200 C, com este processo, pode-se obter 75% de rendimento (Leitão 1939). A quantidade de óleo depende do tempo transcorrido entre a

USO E COMERCIALIZAÇÃO:

derrubada, início da destilação e a procedência da árvore. Em geral uma tonelada de madeira produz 9 a 12 litros de óleo (Alencar & Fernandes 1978; Prance 1987). Após a destilação, este óleo passa pelo processo de decantação e coagem para eliminar impurezas. O transporte é feito em tambores de até 180 kg (SUDAM 1972). Um estudo sobre o impacto da exploração de pau-rosa, em uma área de 490 ha ao norte de Manaus, mostrou que para o abate de 66 árvores houve um impacto direto de 1,2% da área total. Cada indivíduo abatido e transportado perturbou uma área de até 1000

2m , duplicando assim a área que anualmente espera-se ser afetada naturalmente pela formação de clareiras (Mitja & Lescure 1996). O volume de óleo de pau-rosa exportado na década de 60 atingiu mais de 500 t/ano, com cerca de 50 destilarias instaladas na região amazônica, extraindo aproximadamente 50 mil t/ano de madeira de pau-rosa de florestas nativas. Segundo Heinsdijk (1958), mais de 10 milhões de hectares foram explorados. Entre 1966 e 1986, a exportação através do porto de Manaus, diminuiu de 137 a 17 t e ao mesmo tempo, o número de destilarias na Amazônia diminuiu de 103 a 20. Em 1988, observou-se um aumento da exportação de 57 t associado a um aumento do preço de FOB que passou US$ 14 o kg em 1984 a US$ 21 por kg em 1988 (Lescure & Castro 1992). Em 1995, o estado do Amazonas exportou 41 t de óleo, a um preço de US$ 29,31 o kg. No ano de 2000, somente 4 t de óleo foram exportadas (Sampaio 2000). Fatores como a substituição do óleo natural de pau-rosa por correspondentes sintéticos e a inexistência de uma política florestal para o setor também contribuíram para o declínio da exportação do óleo nas últimas décadas (Sampaio 2000; Richards 1993). Atualmente, os principais importadores do pau-rosa são os Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha, Países Baixos e Reino Unido e alguns projetos de pesquisa interinstitucionais investigam as possibilidades de manejo sustentável do pau-rosa (ver Ohashi et al. 1997). O sucesso do manejo dos plantios de pau-rosa visando produção de óleo a partir de galhos e de folhas depende da capacidade de rebrota e do crescimento dos novos brotos. Em um estudo recente foi mostrado que a poda da copa estimulou o rebrotamento e a média do peso verde destas rebrotas (60 kg) foi significativamente superior (p > 0.001, teste t Student) ao peso verde da copa (37 kg) das árvores testemunhas, ou seja, não podadas anteriormente (Sampaio et al. 2000, Spironello et al. 2001). A capacidade de rebrota aliada a maior produtividade de óleo dos galhos e folhas em relação à madeira das árvores, indicam que este método pode ser considerado como uma alternativa para o manejo sustentável de pau-rosa. Do ponto de vista econômico, a poda da copa como fonte renovável de biomassa manteria por mais tempo o plantio e disponibilizaria recursos que podem ser investidos, por exemplo, em adubação, aumentando a eficiência da produção.Nos plantios de pau-rosa da Reserva Ducke, há uma grande variação na dimensão das copas. Árvores da bordadura, expostas a maior luminosidade, apresentaram maior diâmetro, altura e biomassa de copa. Em uma avaliação, aos nove anos de idade, Alencar e Fernandes (1978) sugeriram que as árvores que sombreavam o plantio deveriam ser reduzidas progressivamente para oferecer uma maior luminosidade. Espaçamentos maiores, desbastes, limpezas, adubação e podas periódicas certamente ajudariam maximizar a produtividade destes plantios.Empresários que desejam plantar pau-rosa visando maximizar a produção de óleo poderiam optar por plantios consorciados do pau-rosa com culturas como mandioca, pupunha, banana ou espécies florestais de rápido crescimento, já que o pau-rosa exige sombreamento nos primeiros anos de plantio. Estas culturas de ciclo curto contribuiriam na receita para manutenção do plantio, pois os custos são elevados e o retorno financeiro viria apenas após o décimo primeiro ano (Sampaio 1999).

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(Aniba rosaeodora Ducke) em viveiro.

Sampaio, Ferraz & Camargo

Page 8: Pau-rosa · Pau-rosa Aniba rosaeodora Ducke Lauraceae MANUAL DE SEMENTES DA AMAZÔNIA ANO 2003 FASCÍCULO 3

O Manual de Sementes é uma publicação do Projeto de Pesquisas Florestais da Amazônia Brasileira (Projeto Jacaranda), financiada pela cooperação entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA e a Japan International Cooperation Agency- JICA. As informações foram compiladas pela equipe do Laboratório de Sementes da CPST do INPA.

Período do Projeto: Fase I 1995-1998; Fase II 1998-2003http://jacar.inpa.gov.br/

Apoio: MCT - INPA, ABC; JICA; CNPq

Endereço:INPA- Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia CPST - Coordenação de Pesquisas em Silvicultura TropicalLaboratório de SementesAv. Ephygênio Salles, s/nºCaixa Postal 478CEP: 69011-970; Manaus-AMTel: (92) 643-1922; 642-3430

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Editores: Isolde D. K. Ferraz & José Luís Campana CamargoFotografias: Isolde D. K. FerrazDesenhos morfológicos: Mutsuko NakajimaProjeto Gráfico: Tito FernandesImpressão: Gráfica Sérgio Cardoso & Cia. LtdaTiragem: 1000Local: Manaus - Amazonas

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