patrimônio da reserva biológica do alto da serra de

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE Organizadoras Márcia Inês Martin Silveira Lopes Mizué Kirizawa Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo P atrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba A ANTIGA ESTAÇÃO BIOLÓGICA DO ALTO DA SERRA Instituto de Botânica São Paulo 2009 31225001 cap1 ao 9.indd 1 4/11/2009 14:40:35

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Page 1: Patrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DO MEIO AMBIENTE

OrganizadorasMárcia Inês Martin Silveira LopesMizué KirizawaMaria Margarida da Rocha Fiuza de Melo

Patrimônio da ReservaBiológica do Alto daSerra de ParanapiacabaA ANTIGA ESTAÇÃO BIOLÓGICADO ALTO DA SERRA

Instituto de BotânicaSão Paulo 2009

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Page 2: Patrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de

Editoras Responsáveis Márcia Inês Martin Silveira LopesMizué KirizawaMaria Margarida da Rocha Fiuza de Melo

Editora Assistente Maria Tereza Grombone Guaratini

Assistentes de EditoraçãoAndressa Ribeiro dos SantosYukio Hayashi da Silva

Pré-composição GráficaEditora Neotropica

DiagramaçãoMarli Santos de Jesus

Tratamento de ImagensLeonidio Gomes

CapaRobson Minghini

Fotos da CapaArmando Reis TavaresCezar KirizawaIngrid Yasbec Assad LudwigsMarcelo Pinto MarcelliMarlies SazimaMizué KirizawaOlga YanoOtavio Augusto Vuolo MarquesRafael Prezzi IndicattiRosangela Simão BianchiniSergio SakagawaThomas Püttker

Fotos da Dedicatória (pág. 11)Museu PaulistaInstituto de Botânica

Editoração, CTP, Impressão e AcabamentoImprensa Oficial do Estado de São Paulo

Tiragem1.000 exemplares

Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Biblioteca do Instituto de Botânica

Lopes, Márcia I.M.S.; Kirizawa, M.; Melo, Maria M. da R.F. de, orgs.Patrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba: a antiga Estação Biológica

do Alto da Serra / Márcia Inês Martin Silveira Lopes, Mizué Kirizawa, Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo –– São Paulo: Instituto de Botânica, 2009.

720 p.: il.

ISBN 978-85-7523-029-9

1. Mata Atlântica. 2. Ambiente físico. 3. Flora e fauna. 4. Ecologia. I. Título

Revisores CientíficosAdriana Fidalgo (IBt)Adriana Maria de Aquino (EMBRAPA-CNPA)Amélia Vera Guimarães de Sousa (UPM-São Paulo)Carlos Eduardo de Mattos Bicudo (IBt)Denise Pinheiro da Costa (IPJBRJ) Eduardo Pereira Cabral Gomes (IBt)Elaine Malosso (UFPE)Elisabete Aparecida Lopes (IBt)Ermelinda Maria De Lamonica Freire (UNIVAG)Francisco Langeani Neto (UNESP-São José do Rio Preto)Gladys Flavia Albuquerque Melo de Pinna (USP-São Paulo) Glauco Machado (UNICAMP-Campinas)Inês Cordeiro (IBt)Isabel Fernandes de Aguiar Mattos (IF)Ivan Sazima (UNICAMP-Campinas)Jaime Bertoluci (USP-ESALQ)Jose Bueno Conti (USP-São Paulo)Lana da Silva Sylvestre (UFRRJ)Lena Geise (UERJ) Lucia Rossi (IBt)Luiz Pedreira Gonzaga (UFRJ)Márcia Balistiero Figliolia (IF) Márcia Inês Martin Silveira Lopes (IBt)Marcio Rossi (IF) Maria Amélia Vitorino Cruz Barros (IBt) Maria Margarida Rocha Fiuza de Melo (IBt)Maria Tereza Grambone Guaratini (IBt)Massanori Takaki (UNESP-Rio Claro) Maurício Sedrez dos Reis (UFSC)Mizué Kirizawa (IBt)Pedro Gnaspini (USP-São Paulo) Regina Maria de Moraes (IBt)Ricardo Pinto da Rocha (USP-São Paulo) Ronaldo B. Francini (UNISANTOS)Rui Marconi Pfeifer (IF)Sandra Farto Botelho Trufem (IBt)Sergio Luiz Pompéia (Consultoria Paulista de Estudos Ambientais)Viviane Stern da Fonseca-Kruel (IPJBRJ)

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Luís Fábio Silveira

As aves: uma revisão histórica do conhecimento ornitológico em uma Reserva de Mata Atlântica do Estado de São Paulo

32CAPÍTULO

PARTE V FAUNA

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Page 4: Patrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de

Luís Fábio Silveira1,2

1. Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Caixa Postal 11461, CEP 05422-970, São Paulo, SP

2. Curador Associado das Coleções Ornitológicas, Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia, Caixa Postal 42494, CEP 04218-970, São Paulo, SP

[email protected]

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As aves: uma revisão histórica do conhecimento ornitológico em uma Reserva de Mata Atlântica do Estado de São Paulo

ABSTRACT

The birdS: A hiSToric review of The orniThologicAl knowledge in A reServe of ATlAnTic foreST in São pAulo STATe

The forest of Reserva Biológica de Paranapiacaba is located at Serra do Mar, in São Paulo State, Brazil. The first records of birds from this Reserve can be traced back to 1898 and this locality was intensively studied by the staff of Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP) until the 1920´s with some additional specimens collected in the 1960´s and 1970´s. The Reserva de Paranapiacaba is important as a type-locality of four bird taxa, two of them valid. From the beginning of the research in the Reserve, in the late XIX century and to the 1970´s, 124 species of birds were recorded. In March and August, 2004, field work was carried in the Reserve in order to do a new bird list and compare that with the records obtained until the 1970´s. Species were identified with the aid of binoculars and mist nests and tape-recordings were used also. Some specimens were collected and are housed at Museu Paulista. A total of 112 species of birds were registered and this number, combined with the previous studies, points to 183 species of birds recorded in the Reserva de Paranapiacaba. Despite this number, at least 28 species could be considered as extinct or probably extinct in the Reserve due the modifications in the vegetation caused by the pollution.

Key words: birds, extinctions, São Paulo, Serra de Paranapiacaba

RESUMO

AS AveS: umA reviSão hiSTóricA do conhecimenTo orniTológico em umA reServA de mATA ATlânTicA do eSTAdo de São pAulo

A Reserva Biológica de Paranapiacaba (RBP) é uma importante área de Mata Atlântica localizada na Serra do Mar paulista. Os primeiros registros da avifauna desta Unidade de Conservação datam de 1898; posteriormente, foi muito visitada pelos naturalistas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP) até a década de 1920. Algumas poucas coletas foram realizadas novamente apenas nas décadas de 1960 e 1970. A Reserva de Paranapiacaba é muito importante por abrigar a localidade-tipo de quatro táxons de aves, sendo que apenas dois deles são atualmente considerados válidos. Entre o final do século XIX e a década de 1970 foram registradas 124 espécies de aves nessa Reserva. Em março e agosto de 2004 foram realizadas duas visitas à área, com o objetivo de realizar um novo levantamento das aves e comparar a lista resultante com os dados obtidos até a década de 1970. Nesse levantamento foram utilizados diferentes métodos, como observações com binóculos, gravações das diversas vocalizações das aves e redes-de-neblina. Alguns espécimes foram coletados e encontram-se depositados no MZUSP. Foram anotadas, nesse novo levantamento, 112 espécies de aves. Este número, combinado com os resultados dos autores anteriores, aponta para um total de 183 espécies de aves já registradas na Reserva de Paranapiacaba. Apesar deste número expressivo, pelo menos 28 espécies podem, hoje, ser consideradas como extintas ou, provavelmente, extintas na Reserva, graças, às drásticas alterações na estrutura da vegetação, causadas pelas interferências antrópicas.

Palavras-chave: aves, extinções, São Paulo, Serra de Paranapiacaba

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A Mata Atlântica é um bioma reconhe-cidamente complexo. Estendendo-se, original-mente, da região costeira do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, no Brasil, além de estender-se até algumas porções da Argentina e Paraguai; apresenta uma elevada variação latitudinal e altitudinal, que proporciona a existência de uma grande variedade de hábitats. Nesse bioma rico e heterogêneo vivem aproximadamente 700 espécies de aves, e cerca de 200 delas são endêmicas, entre elas, 140 espécies de Passeriformes (Goerck 1997, Silva et al. 2004). Além disso, a Mata Atlântica abriga alguns “centros de endemismo”, entre os quais o da “Serra do Mar”, redefinido recentemente por Silva et al. (2004), e que se situa entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina. Essa região da Mata Atlântica é especialmente interessante por abrigar um elevado gradiente altitudinal, que varia de zero a 1.700 m acima do nível do mar. Entretanto, a despeito da sua importância, boa parte dessa região encontra-se alterada, especialmente nas áreas de menor altitude e topografia menos acidentada.

Situada próxima da cidade de São Paulo, onde se localiza o Museu Paulista (cujas coleções zoológicas, posteriormente, foram transferidas e deram origem ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo - MZUSP), e com acesso facilitado pela existência da estrada de ferro mantida pela São Paulo Railway Company, a Reserva de Paranapiacaba foi alvo de pesquisas ornitológicas desde o ano de 1898, poucos anos depois da inauguração do Museu Paulista, em setembro de 1895. As florestas extensas e bem preservadas que cobriam toda a vertente leste da Serra do Mar atraíram a atenção dos primeiros naturalistas e colecionadores do antigo Museu Paulista, que fizeram da Reserva Biológica de Paranapiacaba uma localidade contumaz de coletas, especialmente durante o primeiro quartel do século XX. Essas expedições, cuja duração variou entre um dia a pouco mais de um mês cada uma, formaram a base do nosso conhecimento sobre a avifauna desta porção da Serra do Mar.

O início da exploração ornitológica na Reserva de Paranapiacaba é marcado pelas coletas, ainda que modestas, de Helmuth Pinder, considerado como o primeiro coletor de aves

do MZUSP (Camargo 1998). Em julho de 1898 esse naturalista coletou exemplares de apenas três espécies, todas típicas da Mata Atlântica montana. Pelo pequeno número de exemplares, pode-se admitir que Pinder passou apenas umas poucas horas na Reserva; este coletor trabalhou principalmente no litoral, e deve ter aproveitado o intervalo de uma parada dos trens para coletar aves. A primeira grande expedição à Reserva (à época conhecida apenas por Alto da Serra) foi realizada 13 meses depois por João Leonardo Lima e Adolph Hempel que, entre os dias 1° e 12 de agosto de 1899, coletaram mais de cinquenta espécies diferentes. O sucesso dessa expedição, comprovado pela coleta de espécies que são raras ou cuja captura é bastante difícil, como a pararu-espelho (Claravis godefrida) e o entufado (Merulaxis ater), estimulou uma série de outras viagens, como as realizadas apenas por João Lima, entre os dias 6 e 8 de julho de 1900 e em 18 de novembro deste mesmo ano; na primeira, coletou 16 espécies e na segunda, obteve um raro curiango-do-banhado, Eleothreptus anomalus, com dois ovos, além de um tucano-de-bico-verde, Ramphastos dicolorus. Esse mesmo coletor retornou nos meses de julho e agosto de 1904, quando coletou exemplares pertencentes a 65 diferentes espécies.

Cabe aqui uma pequena explicação sobre como trabalhavam os naturalistas naqueles tempos pioneiros. Diferentemente de hoje, onde o ornitólogo usa diversos meios para atrair, identificar ou coletar as aves, como binóculos, gravações de cantos e chamados ou redes-de-neblina, naturalistas e coletores como Pinder ou Lima valiam-se apenas da sua perspicácia e da boa pontaria; o objetivo não era apenas abater o exemplar, mas fazê-lo de forma que o mesmo pudesse ser aproveitado para as coleções zoológicas; em resumo, o tiro não deveria causar grandes danos ao animal. Além disso, as condições de trabalho eram muito distintas das atuais. Sozinhos ou em duplas, os coletores profissionais não apenas capturavam as aves, mas também as taxidermizavam em campo, preparando os exemplares em uma posição padrão, para possibilitar os estudos posteriores. E, para taxidermizar as aves, contava-se apenas com a luz solar, já que a luz emanada por lampiões

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muitas vezes não era suficiente para possibilitar a preparação dos espécimes. Dessa forma, o número de indivíduos coletados por dia não deveria ser muito grande, pois não existiam refrigeradores onde o excedente poderia ser armazenado para ser preparado em um outro momento mais propício. Assim, o número de exemplares, por expedição, nunca era muito elevado, e sempre houve uma tendência para coletar uma maior variedade de espécies em detrimento de séries de umas poucas espécies. A vantagem imediata desse procedimento foi uma amostragem que enfatizou claramente a diversidade e que, hoje, nos proporciona uma rara oportunidade de acompanhar as mudanças na comunidade de aves da Reserva Biológica de Paranapiacaba.

A exploração ornitológica da Reserva de Paranapiacaba continuou durante a primeira década do século XX. Entretanto, nunca houve um plano definido de pesquisas para a Reserva, e muitas das expedições foram, além de esporádicas, de curta duração, obtendo resultados muito modestos. Ernst Garbe, em agosto de 1905, coletou apenas um exemplar de tovacuçu (Grallaria varia) e não deve ter permanecido na região por mais do que algumas horas. Outro coletor que passou por lá no mesmo ano, Francisco Günther, coletou apenas seis espécies, destacando-se, entre elas, uma murucututu (Pulsatrix perspicillata), coruja que, na Mata Atlântica, é habitualmente encontrada nas baixadas quentes do litoral. Outra expedição do Museu foi levada a cabo entre março e abril de 1906, quando João Lima retornou à Reserva de Paranapiacaba juntamente com Hermann Luederwaldt, e juntos coletaram 28 espécies. Entre estas estavam os, atualmente ameaçados de extinção, sabiá-pimenta (Carpornis melanocephala), cigarra-verdadeira (Sporophila falcirostris) e pichochó (Sporophila frontalis), sendo as duas últimas migratórias e ligadas às formações de bambus nativos. Lima ainda realizou mais quatro expedições à Reserva de Paranapiacaba, em junho e agosto de 1909, junho de 1911 e julho de 1923, coletando apenas 14 espécies nestas quatro viagens, sendo o ornitólogo que mais tempo passou nesta localidade.

A Reserva de Paranapiacaba, desde a última viagem de Lima, em 1923, não foi objeto de maiores estudos pela equipe do Museu. As prioridades de pesquisa voltaram-se para algumas regiões amazônicas, para a Mata Atlântica das baixadas quentes do Rio Doce e o sul da Bahia, e para o interior do Estado de São Paulo, este ainda largamente desconhecido. Isso pode explicar a ausência de visitas e de exemplares por quase quatro décadas. Apenas um exemplar de joão-bobo (Nystalus chacuru), habitante típico de áreas abertas ou alteradas, chegou ao Museu em junho de 1932, trazido pelo Senhor Heitor Morazof. Em fevereiro de 1962, o ornitólogo alemão Rolf Grantsau, recém-chegado ao Brasil, coletou exemplares de três espécies diferentes, chamando novamente a atenção do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo para a Reserva de Paranapiacaba. Prova disso é que, alguns meses depois (em junho e agosto), Alfonso Martins Olalla, famoso coletor equatoriano radicado no Brasil, trouxe para o Museu, exemplares de 27 espécies diferentes, muitas delas não capturadas por qualquer outro pesquisador que tenha trabalhado na Reserva e demonstrando que o conhecimento sobre a comunidade de aves dessa área ainda era insuficiente. Um ano depois, Olalla retornou à Reserva e coletou exemplares pertencentes a 14 espécies. O ciclo de expedições ornitológicas na Reserva encerrou-se com duas coletas muito pequenas, uma em junho de 1966, feita por Werner Bokermann, e outra em agosto de 1970, com Olalla. Durante esses 72 anos de pesquisas ornitológicas na Reserva de Paranapiacaba foram registradas 124 espécies, listadas no final deste capítulo (Tabela 1) e seguidas do respectivo ano em que foi anotada para a área.

Na Reserva de Paranapiacaba também foram coletados quatro exemplares que, após estudos mais detalhados, foram descritos como espécies novas. Em 1907, Ihering & Ihering descreveram Guaracava difficilis (atualmente Phylloscartes difficilis), listando um exemplar coletado em julho de 1898 como parátipo; em 1920, João Lima descreveu Sporophila sertanicola (mais tarde considerado como sinônimo de Sporophila falcirostris); e, em 1937

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e 1941, Olivério Pinto descreveu Hylopezus nattereri (Figura 1) e Cichlocolaptes leucophrus holti (Figura 2), respectivamente. A descoberta de novos táxons de aves, o grupo de vertebrados já naquela época considerado como um dos mais bem conhecidos, em uma área tão próxima da cidade de São Paulo, é um exemplo da riqueza de endemismos que a Mata Atlântica abriga e de como o nosso conhecimento sobre a diversidade desta região ainda era reduzido.

As pesquisas sobre a avifauna da Reserva de Paranapiacaba entraram em um relativo declínio após a segunda metade de década de 1960. A Reserva foi esporadicamente visitada por diferentes ornitólogos durante os anos seguintes, que lá permaneceram poucos dias, não existindo relatórios ou qualquer outra informação disponível sobre os resultados obtidos. Apenas em dezembro de 1999, o Centro de Estudos Ornitológicos (CEO), de São Paulo, realizou uma excursão de dez horas de duração à Reserva, registrando 59 espécies, cuja listagem está disponível em um relatório não publicado (CEO 1999).

Com o objetivo de fazer um levantamento das espécies que hoje habitam a Reserva de Paranapiacaba e de comparar a lista atual com os resultados dos autores que nos antecederam, foram realizadas duas visitas à Reserva, a primeira entre 4 e 8 de março e a segunda entre 6 e 8 de agosto de 2004. Para uma melhor e mais eficiente amostragem da avifauna utilizamos diversos métodos. Registros visuais e auditivos foram feitos durante todo o trajeto dentro da Reserva, enquanto que a coleta seletiva de alguns exemplares concentrou-se em duas transecções previamente selecionadas. As espécies foram identificadas visualmente com o auxílio de binóculos 10x40 e as diversas manifestações sonoras emitidas pelas aves foram gravadas em fita cassete (gravador Sony TCM 5000 EV e microfone Sennheiser ME 66). A captura das aves foi realizada por meio do uso de redes-de-neblina, estendidas em transecções abertas nas áreas escolhidas. Algumas aves foram coletadas e taxidermizadas, enquanto que alguns exemplares foram fixados inteiros em formol 10% e, posteriormente, preservados em etanol

70%, assim como todas as carcaças das aves que foram taxidermizadas. Foram anotados os dados biométricos (massa e comprimento total) e a coloração das partes nuas; amostras de tecido foram retiradas de todas as aves coletadas. Esse material está depositado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e as cópias das gravações realizadas estão depositadas no Arquivo Sonoro Elias Coelho (ASEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ).

As atividades de campo iniciaram-se antes do nascer do sol e estenderam-se até por volta das 20 horas, para a observação de aves noturnas, totalizando cerca de 50 horas de trabalho de campo. As redes-de-neblina foram abertas às 6 horas e fechadas às 18 horas. Dez redes foram estendidas na primeira campanha e sete na segunda (cada uma com 12 m de comprimento e 2,40 m de altura, com malha de 36 mm) em linha, nas transecções abertas nas localidades escolhidas, durante quatro dias, num total de 360 horas por rede.

Durante os trabalhos de campo na Reserva de Paranapiacaba foram registradas 112 espécies de aves. Este número, combinado com as 124 espécies registradas anteriormente por outros ornitólogos e coletores que passaram pela Reseva, aponta para um total de 183 espécies já registradas nessa Unidade de Conservação, que são apresentadas no Tabela 1, seguidas dos seus respectivos anos de registro.

Apesar desse razoável número de espécies, quando se comparam as listas obtidas até a década de 1970 com as atuais (CEO 1999 e a do presente trabalho), observa-se que algumas espécies desapareceram ou que suas populações foram drasticamente reduzidas. As trilhas aproveitadas para esse trabalho foram as mesmas que as dos coletores do passado, pois foram abertas à época da criação da Reserva, ainda no século XIX. Ao percorrer essas trilhas, nota-se que as espécies de aves mais sensíveis às alterações ambientais de natureza antrópica desapareceram ou foram substituídas por aquelas menos sensíveis (Stotz et al. 1996) que se tornaram muito comuns onde a vegetação perdeu boa parte da sua estrutura original.

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Figuras 1-4. 1. Hylopezus nattereri (pinto-do-mato). 2. Cichlocolaptes leucophrus (trepador-sobrancelha). 3. Carpornis cuculata (corocochó). 4. Phylloscartes oustaleti (papa-moscas-de-olheiras). (Fotos: Fábio Schunck)

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Aparentemente, os efeitos antrópicos sobre a vegetação da região da Reserva de Paranapiacaba já poderiam preceder os sérios problemas ambientais causados pela poluição nas décadas de 1970 e 1980, visto o comentário de Pinto (1945): “Hoje, no Alto da Serra, pouco parece restar da fauna original, se não também da pujante mata virgem dos primeiros tempos...”. Embora Pinto (1945) não tenha fundamentado melhor esse comentário, não permitindo uma análise mais objetiva, uma comparação dos registros históricos com os recentes, aliado à experiência do autor do presente trabalho com as espécies que ocorrem na Mata Atlântica, sugere que diversas espécies podem ter se extinguido nas matas da Reserva.

Ao analisar a coluna “Histórico” da Tabe-la 1, observa-se que 68 espécies da lista não foram mais encontradas, apesar dos esforços especialmente dispendidos para localizar algumas delas durante nossas coletas. Muitas dessas espécies não foram registradas por serem migratórias ou por problemas inerentes ao próprio trabalho de campo (por exemplo, não cantaram durante o período de estudo ou não existiam territórios nas áreas percorridas) e certamente serão registradas na Reserva de Paranapiacaba com o aumento do esforço amostral. Entre as que se enquadram nesses casos, podem ser citadas Florisuga fusca (Vieillot, 1817), Leucochloris albicollis (Vieillot, 1818), Trogon viridis (Linnaeus, 1766), Celeus flavescens (Gmelin, 1788), Cranioleuca pallida (Wied, 1831), Drymophila malura (Temminck, 1825), Phyllomyias fasciatus (Thunberg, 1822) e Thraupis ornata (Sparrman, 1789). Entretanto, devido às suas características ecológicas e exigências em relação à qualidade do hábitat, 28 espécies podem ter passado por uma drástica redução nas suas popula ções e até mesmo se extinguido na Reserva de Paranapiacaba (Ta be-la 2). As cinco espé cies atualmente consideradas como ameaça das de extinção (IBAMA 2003, BirdLife 2004) estão nesta lista, juntamente com ou tras, como Phibalura flavirostris Vieillot, 1816, Carpornis cucullata (Swainson, 1821) (Fi gu-ra 3), Phylloscartes difficilis (Ihering & Ihering,

1907), P. oustaletti (Sclater, 1887) (Figura 4), Cichlocolaptes leucophrus holti Pinto, 1941 (Figura 2) e Merulaxis ater Lesson, 1830. Uma característica em comum entre todas essas 28 espécies é a exigência de hábitats mais bem preservados. Algumas delas, como a pararu-espelho, a cigarra-verdadeira e o pichochó, preferem bambuzais nativos, enquanto que outras, como os limpa-folhas e o trepador-sobrancelha, buscam alimento em folhas secas ou em aglomerados de bromélias. Ambos os microhábitats estão grandemente modificados ou já ausentes na Reserva. Os bandos mistos, que reúnem indivíduos das mais diferentes espécies de aves e que percorrem a floresta em busca de alimento, também estão muito alterados. Pássaros, como o sanhaço-pardo e a catirumbava, não são mais vistos nesses bandos, que hoje são compostos quase exclusivamente por mariquitas, cambacicas e por algumas espécies de saíras, demonstrando um evidente “empobrecimento” desses agrupamentos.

Como e em qual intensidade a degradação ambiental, especialmente a poluição, alterou a comunidade de aves da Reserva Biológica de Paranapiacaba, e quanto tempo será necessário para que as espécies mais sensíveis recolonizem essa área (nos casos onde isso é ainda possível) é assunto que deve ser mais amplamente estudado. Apenas os pro gramas de monitoramentos de longo prazo podem responder estas questões. Existem, especialmente nas regiões a noroeste da Reserva, remanescentes de Mata Atlântica em bom estado de conservação, onde se registraram algumas das espécies que desapareceram da Reserva de Paranapiacaba, como o corocochó, Carpornis cucullata. Essas áreas do entorno podem funcionar como fonte de indivíduos que, encontrando novamente os seus hábitats preferenciais, teriam alguma chance de recolonizar a Reserva. As aves, especialmente as frugívoras, assumem um papel importante na renovação e na recuperação de florestas. Os registros recentes de grandes frugívoros como o jacu-açu, Penelope obscura bronzina Hellmayr, 1914 e o pavó, Pyroderus scutatus (Shaw, 1792), apontam para a possibilidade da recuperação das matas, por meio da dispersão de sementes

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de árvores frutíferas de maior porte, feita por estas aves. A recuperação do sub-bosque e dos bambuzais nativos também é fundamental para proporcinar hábitats para diversas espécies de aves das famílias Furnariidae, Thamnophilidae, Grallariidae e Tyrannidae, que dependem destes microambientes.

A riqueza e a pujança da flora da Reserva de Paranapiacaba, que tanto encantaram os naturalistas que por ali passaram, foram descritas com riqueza de detalhes pelo botânico Hoehne (1925), que chamava a atenção para a quantidade de palmeiras, samambaias-açus e epífitas; “Grande parte das árvores da Estação Biológica do Alto da Serra, tortuosas e inclinadas ou ramalhudas, cheias de vegetação epiphytica, estão quasi suffocadas. As touceiras de gravatás das mais variadas inflorescencias; de Philodendrums, Orchidaceas, Araceas e Begonias assentam sobre os ramos enfileiram-se pelos troncos...”. A riqueza da fauna também foi atestada por diversos naturalistas, como o belga Massart (Massart, apud Hoehne 1925), que escreveu: “À noite coaxam os sapos, choram as rãs, martela o ferreiro..., gemem as corujas. Ao romper da aurora cantam os passarinhos, trinam os nambús, vôam celeres os colibris, e os jacús e aves preciosas começam a mariscar na folhagem secca dos grotões”. Graças aos inúmeros problemas ambientais que a Reserva Biológica de Paranapiacaba passou, hoje temos apenas a lembrança desses tempos de onde se vislumbrava, entre a luxuriante vegetação da Mata Atlântica e a espessa neblina, o belo encontro do mar com a serra.

Agradecimentos

Às Dras. Márcia Inês Martin Silveira Lopes, Mizué Kirizawa e Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo, pelo convite para participar deste livro; à Dra. Rosângela Simão Bianchini, Encarregada da Reserva Biológica de Paranapiacaba, por permitir o acesso à área; aos colegas Miguel Trefaut Rodrigues, Renata Pardini, Vanessa K. Verdade, Dante Pavan, Norali Shawen Liou, Daniel Mautari e Érika Machado Costa Lima, que participaram

dos trabalhos de campo e contribuíram com discussões sobre este capítulo; à Fábio Schunck, Miguel T. Rodrigues e Renata Pardini, que leram o manuscrito e contribuiram com sugestões; ao Luiz Fernando de Andrade Figueiredo (Centro de Estudos Ornitológicos - CEO, São Paulo), por ter fornecido gentilmente um relatório inédito do CEO; ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, pelo apoio logístico; ao Sr. Antônio Victor da Costa, pelo apoio em campo e pelas informações sobre a avifauna da região; ao Programa Birders´ Exchange e à United Parcel Service (UPS) Brasil, pela doação de material importante para a realização deste trabalho; a Fábio Schunck, que gentilmente cedeu as fotografias utilizadas neste capítulo e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de produtividade concedida a Luís Fábio Silveira.

Referências bibliográficasBirdLife International. 2004. Threatened birds of

the world 2004. CD-Rom. Cambridge, UK, BirdLife International.

Camargo, H.F.A. 1998. Hellmuth Pinder (sic), o primeiro coletor e taxidermista de aves do Museu Paulista. Ararajuba 6 (1): 54-57.

Centro de Estudos Ornitológicos (CEO). 1999. As aves da Estação Biológica de Paranapiacaba. Relatório não publicado, São Paulo, 5 p.

Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO). 2008. Lista das aves do Brasil. Versão 05.10.2008. http://www.cbro.rg.br (acesso em 09.11.2008).

Hoehne, F.C. 1925. Album da secção de botanica do Museu Paulista e suas dependencias, etc. Imprensa Methodista, São Paulo, 214 p.

Goerck, J.M. 1997. Patterns of rarity in the birds of the Atlantic Forest of Brazil. Conservation Biology 11:112-118.

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 2003. Instrução Normativa n° 03, de 27 de maio de 2003 - Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção.

Pinto, O.M.O. 1945. Cinqüenta anos de investigação ornitológica – história das origens e do desenvolvimento da coleção ornitológica do Museu Paulista e de seu subseqüente progresso no Departamento de Zoologia da Secretaria de Agricultura. Arquivos de Zoologia 4: 261-340.

Silva, J.M.C., Souza, M.C. & Castelletti, C.H.M. 2004. Areas of endemism for passerine birds in the Atlantic Forest, South America. Global Ecology and Biogeography 13: 85-92.

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630 Luís Fábio Silveira

Tabela 1. Lista das aves registradas na Reserva Biológica (do Alto da Serra) de Paranapiacaba, Santo André, SP, Brasil. A nomenclatura e o arranjo sistemático seguem as proposições do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO 2008). A coluna “Histórico” relaciona o ano em que as espécies foram coletadas e/ou registradas, enquanto que a coluna “Recente” relaciona as espécies anotadas pelo autor e pelo CEO (1999). Espécies endêmicas ou cuja distribuição está centrada principalmente na Mata Atlântica (n = 83) são marcadas com um “#” e as ameaçadas de extinção (n = 5, IBAMA 2003, BirdLife International 2004), com um “§”. Espécies registradas exclusivamente pelo CEO (1999, n = 03) são assinaladas com um “*” na coluna “Recente”.

continua

ORDEM

Família (número de espécies registradas) Nome popular Histórico RecenteNome científico autor e data da descrição

TINAMIFORMESTinamidae (2)

Crypturellus obsoletus (Temminck, 1815) inhambu-guaçu 1904 X

Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) inhambu-chintã X

GALLIFORMESCracidae (1)

Penelope obscura bronzina Hellmayr, 1914 # jacuguaçu XPhasianidae (1)

Odontophorus capueira (Spix, 1825) # uru XFALCONIFORMESCathartidae (1)

Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça-preta XAccipitridae (4)

Harpagus diodon (Temminck, 1823) gavião-bombachinha XAccipiter superciliosus (Linnaeus, 1766) gavião-miudinho 1909, 1923Buteo brachyurus Vieillot, 1816 gavião-de-cauda-curta XRupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó X

Falconidae (3)Micrastur ruficollis (Vieillot, 1817) gavião-caburé XMilvago chimachima (Vieillot, 1816) carrapateiro X

Caracara plancus (Miller, 1777) caracará X

GRUIFORMESRallidae (2)

Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) três-potes XAramides saracura (Spix, 1825) # saracura-do-mato 1904

COLUMBIFORMESColumbidae (5)

Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) asa-branca X*Patagioenas plumbea (Vieillot, 1818) pomba-amargosa 1904 XColumbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha-roxa XClaravis godefrida (Temminck, 1811) § # pararu-espelho 1899Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti X

PSITTACIFORMESPsittacidae (3)

Pyrrhura frontalis (Vieillot, 1817) # tiriba-de-testa-vermelha 1904 XBrotogeris tirica (Gmelin, 1788) # periquito-rico 1899, 1906 XPionus maximiliani (Kuhl, 1820) maitaca-verde X

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Page 13: Patrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de

631Aves

Tabela 1. Continuação

continua

ORDEM

Família (número de espécies registradas) Nome popular Histórico RecenteNome científico autor e data da descrição

CUCULIFORMES

Cuculidae (2)Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato 1904 XCrotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto X

STRIGIFORMESStrigidae (2)

Megascops choliba (Vieillot, 1817) corujinha-do-mato XPulsatrix perspicillata (Latham, 1790) murucututu 1905

CAPRIMULGIFORMESCaprimulgidae (1)

Eleothreptus anomalus (Gould, 1838) curiango-do-banhado 1900APODIFORMESApodidae (2)

Streptoprocne zonaris (Shaw, 1796) andorinhão-de-coleira 1904Chaetura meridionalis Hellmayr, 1907 andorinhão-do-temporal X*

Trochilidae (7)Ramphodon naevius (Dumont, 1818) # beija-flor-grande-do-mato 1899, 1904

Phaethornis eurynome (Lesson, 1832) # rabo-branco-de-garganta-rajada 1904 X

Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) tesourão 1900 XFlorisuga fusca (Vieillot, 1817) # beija-flor-preto-e-branco XThalurania glaucopis (Gmelin, 1788) # tesoura-de-fronte-violeta 1899, 1900, 1904 XLeucochloris albicollis (Vieillot, 1818) # papo-branco XClytolaema rubricauda (Boddaert, 1783) # beija-flor-rubi 1900, 1904, 1905 X

TROGONIFORMESTrogonidae (3)

Trogon viridis Linnaeus, 1766 surucuá-grande-de-barriga-amarela 1899, 1904, 1906

Trogon rufus Gmelin, 1788 surucuá-de-barriga-amarela X

Trogon surrucura Vieillot, 1817 # surucuá-de-peito-azul X

CORACIIFORMESMomotidae (1)

Baryphthengus ruficapillus (Vieillot, 1818) # juruva 1906 XBucconidae (1)

Nystalus chacuru (Vieillot, 1816) joão-bobo 1932PICIFORMESRamphastidae (3)

Ramphastos dicolorus Linnaeus, 1766 # tucano-de-bico-verde 1900 XSelenidera maculirostris (Lichtenstein, 1823) # araçari-poca 1899, 1904, 1906Pteroglossus bailloni (Vieillot, 1819) # araçari-banana X

Picidae (6)Picumnus temminckii Larfresnaye, 1845 # pica-pau-anão-de-coleira 1904 XColaptes campestris (Vieillot, 1818) pica-pau-do-campo X

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632 Luís Fábio Silveira

continua

Tabela 1. Continuação

ORDEM

Família (número de espécies registradas) Nome popular Histórico RecenteNome científico autor e data da descrição

Piculus aurulentus (Temminck, 1821) # pica-pau-dourado X

Celeus flavescens (Gmelin, 1788) pica-pau-de-cabeça-amarela 1899

Melanerpes flavifrons (Vieillot, 1818) # benedito-de-testa-amarela 1904Veniliornis spilogaster (Wagler, 1827) # pica-pauzinho-verde-carijó 1906 X

PASSERIFORMESThamnophilidae (17)

Hypoedaleus guttatus (Vieillot, 1816) # chocão-carijó 1899Batara cinerea (Vieillot, 1819) matracão XMackenziaena leachii (Such, 1825) # borralhara-assobiadora 1962 XMackenziaena severa (Lichtenstein, 1823) # borralhara 1899Thamnophilus caerulescens Vieillot, 1816 choca-da-mata 1909, 1923, 1962 XThamnophilus ruficapillus Vieillot, 1816 choca-de-chapéu-vermelho 1962

Dysithamnus stictothorax (Temminck, 1823) # choquinha-de-peito-pintado

1899, 1904, 1906, 1962

Dysithamnus mentalis (Temminck, 1823) choquinha-lisa 1899, 1904, 1906, 1923, 1962 X

Dysithamnus xanthopterus Burmeister, 1856 # choquinha-de-asa-ferrugem 1899, 1962

Myrmotherula gularis (Spix, 1825) # choquinha-da-garganta-pintada 1900, 1904 X

Myrmotherula unicolor (Ménétriès, 1835) # § choquinha-cinzenta 1963Drymophila ferruginea (Temminck, 1822) # trovoada 1898, 1906 X

Drymophila ochropyga (Hellmayr, 1906) # choquinha-de-dorso-vermelho

1898, 1900, 1905, 1906 X

Drymophila malura (Temminck, 1825) # choquinha-carijó 1963Drymophila squamata (Lichtenstein, 1823) # pintadinho 1899Pyriglena leucoptera (Vieillot, 1818) # papa-taoca-do-sul 1906 X

Myrmeciza squamosa Pelzeln, 1868 # papa-formigas-de-escamas 1899, 1904, 1905, 1906 X

Conopophagidae (2)Conopophaga melanops (Vieillot, 1818) # cuspidor-de-máscara-preta 1904Conopophaga lineata (Wied, 1831) # chupa-dente 1900, 1906 X

Grallariidae (3)Grallaria varia (Boddaert, 1783) tovacuçu 1904, 1905 XHylopezus nattereri Pinto, 1937 # pinto-do-mato 1904

Rhinocryptidae (3)Merulaxis ater Lesson, 1830 # entufado 1899, 1900, 1904Scytalopus speluncae (Ménétriès, 1835) # tapaculo-preto 1904Scytalopus indigoticus (Wied, 1831) # macuquinho 1905, 1906

Formicariidae (1)Chamaeza meruloides Vigors, 1825 # tovaca-cantador 1900

Scleruridae (1)Sclerurus scansor (Ménétriès, 1835) # vira-folhas 1899 X

Dendrocolaptidae (5)Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818) arapaçu-verde 1906, 1909 XXiphocolaptes albicollis (Vieillot, 1818) arapaçu-de-garganta-

branca 1899Dendrocolaptes platyrostris Spix, 1825 arapaçu-grande 1899Lepidocolaptes falcinellus (Cabanis & Heine, 1859) # arapaçu-escamoso-do-sul XXiphorhynchus fuscus (Vieillot, 1818) # arapaçu-rajado 1899, 1904, 1906 X

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Page 15: Patrimônio da Reserva Biológica do Alto da Serra de

633Aves

continua

Tabela 1. Continuação

ORDEM

Família (número de espécies registradas) Nome popular Histórico RecenteNome científico autor e data da descrição

Furnariidae (17)Furnarius rufus (Gmelin, 1788) joão-de-barro XSynallaxis spixi Sclater, 1856 joão-teneném 1904, 1962 XSynallaxis ruficapilla Vieillot, 1819 # pichororé 1900, 1904 XCranioleuca pallida (Wied, 1831) # arredio-pálido 1962Phacellodomus erythrophthalmus (Wied, 1821) # joão-botina XAnabazenops fuscus (Vieillot, 1816) # trepador-coleira 1899, 1900 XSyndactyla rufosuperciliata (Lafresnaye, 1832) trepador-quiete 1899 XAnabacerthia amaurotis (Temminck, 1823) # limpa-folha-miúdo 1899, 1962 XPhilydor atricapillus (Wied, 1821) # limpa-folha-coroado 1899Philydor lichtensteini Cabanis & Heine, 1859 # limpa-folha-ocrácea 1904Philydor rufum (Vieillot, 1818) limpa-folha-testa-baia 1904, 1909

Automolus leucophthalmus (Wied, 1821) barranqueiro-de-olho-branco X

Cichlocolaptes leucophrus (Jardine & Selby, 1830) # trepador-sobrancelha 1899Heliobletus contaminatus Berlepsch, 1885 # trepadorzinho 1962Xenops minutus (Sparrman, 1788) bico-virado-miúdo XLochmias nematura (Lichtenstein, 1823) joão-porca X

Tyrannidae (32)Phyllomyias fasciatus (Thunberg, 1822) piolhinho 1906, 1962Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) risadinha XMyiopagis caniceps (Swainson, 1835) maria-da-copa XElaenia obscura (d´Orbigny & Lafresnaye, 1837) tucão X

Elaenia albiceps (d´Orbigny & Lafresnaye, 1837) guaracava-de-crista-branca X

Serpophaga subcristata (Vieillot, 1817) alegrinho 1962Mionectes rufiventris Cabanis, 1846 # abre-asa-de-cabeça-cinza XLeptopogon amaurocephalus Tschudi, 1846 cabeçudo 1899, 1904, 1962 XPhylloscartes ventralis (Temminck, 1824) borboletinha-do-mato 1909, 1962Phylloscartes oustaleti (Sclater, 1887) # papa-moscas-de-olheiras 1899Phylloscartes difficilis (Ihering & Ihering, 1907) # estalinho 1898, 1963Myiornis auricularis (Vieillot, 1818) miudinho 1899, 1904Hemitriccus diops (Temminck, 1822) # olho-falso 1899, 1909, 1923Hemitriccus nidipendulus (Wied, 1831) tachuri-campainha 1962, 1963Hemitriccus orbitatus (Wied, 1831) # tiririzinho-do-mato 1899Todirostrum poliocephalum (Wied, 1831) # teque-teque 1900Poecilotriccus plumbeiceps (Lafresnaye, 1846) ferreirinho-de-cara-canela 1900, 1904 XTolmomyias sulphurescens (Spix, 1825) bico-chato-de-orelha-preta 1904, 1906 XPlatyrinchus mystaceus Vieillot, 1818 patinho 1904, 1963 XContopus cinereus (Spix, 1825) papa-moscas-cinzento 1904, 1963Lathrotriccus euleri (Cabanis, 1868) enferrujado XColonia colonus (Vieillot, 1818) viuvinha 1906Muscipipra vetula (Lichtenstein, 1823) # tesoura-cinzenta 1904, 1962, 1966Attila rufus (Vieillot, 1819) # capitão-de-saíra XAttila phoenicurus Pelzeln, 1868 capitão-castanho X

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634 Luís Fábio Silveira

continua

Tabela 1. Continuação

ORDEM

Família (número de espécies registradas) Nome popular Histórico RecenteNome científico autor e data da descrição

Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) maria-cavaleira XMyiarchus swainsoni Cabanis & Heine, 1859 irré XPitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi XMegarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) nei-nei X

Myiozetetes similis (Spix, 1825) bem-te-vizinho-penacho-vermelho X

Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776) bem-te-vi-rajado XTyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri X

Cotingidae (5)Phibalura flavirostris Vieillot, 1816 tesourinha-da-mata 1899Carpornis cucullata (Swainson, 1821) # corocochó 1899, 1904, 1911Carpornis melanocephala (Wied, 1820) # § sabiá-pimenta 1906Pyroderus scutatus (Shaw, 1792) pavó XProcnias nudicollis (Vieillot, 1817) # araponga 1899

Pipridae (3)

Chiroxiphia caudata (Shaw & Nodder, 1793) # tangará 1899, 1904, 1909, 1963 X

Ilicura militaris (Shaw & Nodder, 1809) # tangarazinho 1904, 1907, 1962Neopelma chrysolophum Pinto, 1944 # fruxu 1899, 1905, 1962

Tityridae (2)Schiffornis virescens (Lafresnaye, 1838) # flautim 1904, 1962 XPachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) caneleiro-preto 1904 X

Vireonidae (3)Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari 1899, 1909, 1970 XVireo olivaceus (Linnaeus, 1766) juruviara XHylophilus poicilotis Temminck, 1822 # verdinho-coroado 1899, 1909 X

Hirundinidae (3)Progne tapera (Vieillot, 1817) andorinha-do-campo X

Pygochelidon cyanoleuca (Vieillot, 1817) andorinha-pequena-de-casa X

Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha-serrador XTroglodytidae (1)

Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra 1963 XPolioptilidae (1)

Ramphocaenus melanurus Vieillot, 1819 bico-assovelado 1899, 1900, 1906Turdidae (4)

Platycichla flavipes (Vieillot, 1818) sabiá-una 1899, 1962, 1963 X*Turdus rufiventris Vieillot, 1818 sabiá-laranjeira XTurdus leucomelas Vieillot, 1818 sabiá-barranco XTurdus albicollis Vieillot, 1818 sabiá-coleira 1904 X

Coerebidae (1)Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica 1904 X

Thraupidae (15)Orchesticus abeillei (Lesson, 1839) # sanhaço-pardo 1962Orthogonys chloricterus (Vieillot, 1819) # catirumbava 1904, 1906

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635Aves

Tabela 1. Continuação

ORDEM

Família (número de espécies registradas) Nome popular Histórico RecenteNome científico autor e data da descrição

Tachyphonus cristatus (Linnaeus, 1766) tiê-galo 1963 XTachyphonus coronatus (Vieillot, 1822) # tiê-preto 1899, 1904, 1963 XTrichothraupis melanops (Vieillot, 1818) tiê-de-topete 1904, 1906, 1962 XHabia rubica (Vieillot, 1817) tiê-do-mato-grosso 1963 XThraupis sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaço-cinzento 1904 XThraupis cyanoptera (Vieillot, 1817) # sanhaço-de-encontro-azul 1899, 1904

Thraupis ornata (Sparrman, 1789) # sanhaço-de-encontro-amarelo 1904

Stephanophorus diadematus (Temminck, 1823) sanhaço-frade X Pipraeidea melanonota (Vieillot, 1819) viúva 1904, 1909Tangara seledon (Statius Muller, 1776) # sete-cores 1906 X

Tangara cyanocephala (Statius Muller, 1776) # saíra-militar 1899, 1904, 1911, 1962

Tangara desmaresti (Vieillot, 1819) # saíra-lagarta 1900, 1904, 1909, 1911 X

Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) saí-azul 1966Emberizidae (6)

Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) tico-tico 1904, 1963 XSporophila frontalis (Verreaux, 1869) # § pichochó 1906Sporophila falcirostris (Temminck, 1820) # § cigarra-verdadeira 1906Saltator fuliginosus (Daudin, 1800) # pimentão 1899, 1904Saltator similis d´Orbigny & Lafresnaye, 1837 trinca-ferro-verdadeiro 1909, 1962 XCyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823) azulão 1963

Parulidae (4)Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) mariquita X

Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) pula-pula 1900, 1904, 1909, 1963 X

Basileuterus leucoblepharus (Vieillot, 1817) # pula-pula-assobiador XPhaeothlypis rivularis (Wied, 1821) pula-pula-ribeirinho 1904

Icteridae (3)Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766) guaxe 1906Cacicus chrysopterus (Vigors, 1825) # soldado 1904 XMolothrus bonariensis (Gmelin, 1789) chopim X

Fringillidae (1)Carduelis magellanica (Vieillot, 1805) pintassilgo XEuphonia violacea (Linnaeus, 1758) gaturamo-verdadeiro 1906

Euphonia pectoralis (Latham, 1801) # ferro-velho 1899, 1904 X

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636 Luís Fábio Silveira

Tabela 2. Espécies extintas ou provavelmente extintas na Reserva Biológica de Paranapiacaba, Santo André, SP, Brasil. As espécies marcadas com um “§” são consideradas como ameaçadas de extinção (IBAMA 2003, BirdLife 2004).

FamíliaNome científi co Nome popular Ano do último registro

COLUMBIDAEClaravis godefrida § pararu-espelho 1899

CAPRIMULGIDAEEleothreptus anomalus curiango-do-banhado 1900

TROCHILIDAERamphodon naevius beija-fl or-grande-do-mato 1904

FURNARIIDAEPhilydor atricapillus limpa-folha-coroado 1899Philydor lichtensteini limpa-folha-ocrácea 1904Cichlocolaptes leucophrus trepador-sobrancelha 1899

THAMNOPHILIDAEHypoedaleus guttatus chocão-carijó 1899Dysithamnus stictothorax choquinha-de-peito-pintado 1962Dysithamnus xanthopterus choquinha-de-asa-ferrugem 1962Myrmotherula unicolor § choquinha-cinzenta 1963

GRALLARIIDAEChamaeza meruloides tovaca-cantador 1900Hylopezus nattereri pinto-do-mato 1904

CONOPOPHAGIDAEConopophaga melanops cuspidor-de-máscara-preta 1904

RHINOCRYPTIDAEMerulaxis ater entufado 1904Scytalopus speluncae tapaculo-preto 1904Scytalopus indigoticus macuquinho 1906

TYRANNIDAEPhylloscartes oustaleti papa-moscas-de-olheiras 1899Phylloscartes diffi cilis estalinho 1963

COTINGIDAEPhibalura fl avirostris tesourinha-da-mata 1899Carpornis cucullata corocochó 1911Carpornis melanocephala § sabiá-pimenta 1906

THRAUPIDAEOrchesticus abeillei sanhaço-pardo 1962Orthogonys chloricterus catirumbava 1906

EMBERIZIDAESporophila frontalis § pichochó 1906Sporophila falcirostris § cigarra-verdadeira 1906Saltator fuliginosus pimentão 1904

PARULIDAEPhaeothlypis rivularis pula-pula-ribeirinho 1904

ICTERIDAECacicus haemorrhous guaxe 1906

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