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RESERVA BIOLÓGICA DO MATO GRANDE:
UM PATRIMÕNIO CULTURAL E NATURAL
Juliana Corrêa Pereira
José Milton Schlee Jr.
A Reserva Biológica do Mato Grande foi decretada no dia 12 de março de 1975
pelo Decreto Estadual n° 23.798, com a finalidade de recuperar e preservar o equilíbrio
natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.
O Grupo Ecológico Amantes da Natureza (GEAN) juntamente com a
comunidade de Arroio Grande (RS, Brasil) tem lutado desde 2001 pela implantação
desta unidade de conservação no Mato Grande como forma de assegurar a conservação
e preservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida das populações locais
abrangidas. Sem a sua efetiva implantação ocorre uma gradativa perda da
biodiversidade do ecossistema do Mato Grande, tornando-se vulnerável o equilíbrio
natural de toda a biorregião da Lagoa Mirim.
ASPECTOS BIOFÍSICOS: CLIMA, GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA.
A Reserva Biológica do Mato Grande possui uma área de 5.161ha do bioma de
restinga, atualmente de domínio privado, localiza-se no Distrito de Santa Isabel (32°08’
S, 52°44’ W), município de Arroio Grande, sul do Rio Grande do Sul, Brasil (Figura
1).Considerada uma das áreas núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, devido
sua importância para a conservação de remanescentes de mata de restinga.
O clima da região, como em toda a Planície Costeira do Rio Grande do Sul, é
subtropical úmido, enquadra-se na classificação de Köpeen como “Cfa”, mesotérmico
brando, com temperaturas médias das máximas superior a 22°C e a média das mínimas
entre -3 e 18°C (Vieira,1988). Quanto aos níveis de precipitação, apresenta valores
médios anuais entre 1150mm e 1450mm, com 92 a 110 dias de chuva por ano (Schlee
Jr, 2000).
O Mato Grande está localizado na Planície Costeira interna em região
fisionômica natural marcada por terrenos de sedimentação recente associados
geomorfologicamente as transgressões e regressões marinhas quaternárias, responsáveis
pela gênese do complexo lagunar: Lagoa Mirim, canal do São Gonçalo e Laguna dos
Patos.
Figura1. Localização da Reserva Biológica do Mato Grande (a); Ficus organensis
espécie característica do Mato Grande (b) e aspecto geral da mata de Restinga, campos
e banhados(c).
Os terrenos quartenários, com altitudes inferiores a 15m são cobertos sobre tudo
de dunas e banhados. A vegetação florestal forma fragmentos longitudinais associados
aos solos bem drenados, tipo Areias Quartzosas distróficas com baixo conteúdo de
matéria orgânica e solos mal drenados, que pode variar desde Solos Orgânicos até Glei
Húmicos e Glei Pouco Húmico (Waechter & Jarenkow, 1998).
ASPECTOS DO AMBIENTE NATURAL E BIODIVERSIDADE DO MATO
GRANDE
Inserida no Bioma de Restinga a REBIO possui associados ecossistemas de
banhados, matas de restinga paludosa e arenosa, campos arenosos secos e úmidos. Toda
esta complexidade biológica está refletida nos elementos da fauna e flora, apresentando
componentes florísticos pertencentes fitogeograficamente a todos contingentes
migratórios da flora estadual. Estruturalmente a mata apresenta elevado valor de
equabilidade e diversidade específica, ressaltando também a influência atlântica na
Lagoa Mirim
MATO GRANDE
a b
c
fisionomia da reserva dada pela presença de Figueiras, Bromeliáceas e Orquidáceas
(Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares, 2005).
No Mato Grande, os banhados ocupam grande área de alagamentos no inverno,
formando uma rede entre os arroios Parapó e Moreira, e a Lagoa Mirim; no verão os
banhados adquirem feições pantanosas, tornando-se algumas áreas com características
de campo úmido.
A Mata de Restinga Arenosa tem como principal característica apresentar uma
maior complexidade estrutural florística dentre o ecossistema Restinga, localiza-se em
áreas bem drenadas, não sujeitas à alagamentos sazonais, sobre cristas de dunas
pleistocênicas. As espécies arbóreas com maior representação fisionômica nos
remanescentes de mata são: Ficus spp. (figueira-de-folha-miúda e figueira-de-folha-
grande), Ruprechtia laxiflora (farinha-seca), Erythrina crista-galli (corticeira).
A influência tropical se observa na floresta do Mato Grande em todas as formas
de vida e ambientes, exemplificado pelo elevado número de espécies epifíticas e
herbáceas: Bromeliáceas (7), Orquidáceas (7), Cactáceas (5) e Piperáceas (5) e
arbustivas: Acanthaceae (1) e Rubiaceae (1) (Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares, 2005).
Quanto à fauna observada na REBIO, percebe-se a associação de aves palustres,
aves migratórias do hemisfério norte e sul tanto quanto aves florestais. Foram
encontrados mamíferos ameaçados de extinção a nível estadual e regional, bem como
espécies generalistas que possuem papel de extrema importância como dispersores em
fragmentos florestais no sul do Rio Grande do Sul, e que mantém suas populações ainda
viáveis em toda biorregião no Mato Grande e Lagoa Mirim.
Com o intuito contribuir com ferramentas científicas comprobatórias necessárias
para a efetiva implantação da Reserva Biológica do Mato Grande, um grupo de
pesquisadores do Grupo Ecológico Amantes da Natureza realiza uma série de estudos
qualitativos e quantitativos do ambiente natural (a fauna, a flora, as suas relações
ecológicas). Ecologia Florestal foi pesquisado pela equipe de biólogos José Milton
Schlee Jr. e Juliana Corrêa Pereira, o estudo sobre os mamíferos terrestres de médio e
grande porte foi realizado pelo Ecólogo José Bonifácio Garcia Soares, e levantamento
ornitológico na REBIO e entorno, está sendo desenvolvido pela equipe composta pelos
biólogos: Prof. Rafael Dias, Marco Antônio Afonso Coimbra e Jéferson Vizentin
Bugoni. Além disso, o Engenheiro Agrônomo Cláudio Corrêa Pereira estudou o
histórico da ocupação indígena pré-colonial no Mato Grande.
Ecologia Florestal na Reserva Biológica do Mato Grande
No levantamento florístico geral da mata de restinga foram encontradas 89
espécies distribuídas em 37 famílias, pertencentes a sinúsia arbórea, arbustiva, herbácea
e epifítica (Tabela 1).
Tabela 1. Espécies presentes na mata de restinga na Reserva Biológica do Mato Grande,
Arroio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil.
EPHEDRACEAE
Ephedra tweediana
ACANTACEAE
Dicliptera sp.
Hygrophila sp.
Justicia brasiliana Roth
ANACARDIACEAE
Lithraea brasiliensis Marchand
Schinus polygamus
AQUIFOLIACEAE(Edwin 1967)
Ilex dumosa Reiss.
ASTERACEAE
Mikania cordifolia (L. F.)Willd.
BROMELIACEAE
Aechmea recurvata
Billbergia nutans Wendl. Ex. Regel
Bromélia antiacantha Bertol.
Tilandsia aëranthus (Loisel.) L. B. Smith
Tilandsia geminiflora Brongn.
T. stricta
Tilandsia usneoides L.
CACTACEAE
Cereus hildmanianus K. Schum.
Lepismium cruciforme (Vell.) Miq.
Lepismium lumbricoides (Lem.) Barthl.
Opuntia monacantha Haw.
Rhipsalis baccifera (Mill)Stearn
CAESALPINIACEAE (Burkart 1987...)
Senna corymbosa
CELASTRACEAE (Okano, 1992)
Maytenus cassineformis Reissek
M. ilicifolia Mart ex Reiss.
COMBRETACEAE (Exell & Reitz 1967)
Terminalia australis Camb.
COMMELINACEAE
Tradescantia fluminensis Vell
Tripogandra glandulosa (Seub.)Rohweder
EBENACEAE
Diospyros inconstans Jacq.
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum argentinum Schultz
EUPHORBIACEAE
Sebastiania brasiliensis Spreng.
Sebastiania commersoniana
Sebastiania schottiana
FLACOURTIACEAE (Sleumer 1980)
Casearia decandra Jacq.
Casearia silvestris Sw.
Xylosma pseudosalzsmanii
LAMIACEAE
Vitex megapotamica(Spreng.)Mold.
MALVACEAE
Hybiscus cisplatensis
Pavonia friesii Krap.
Pavonia sepium Vell.
Sida prostrata St.-Hil.
Sida rhombifolia L.
MELIACEAE
Trichilia elegans A Juss.
MIMOSACEAE
Calliandra tweediei Bentham
Mimosa bimucronata(DC.) Ktze
MORACEAE
Ficus luschnathiana(Miq.) Miq.
Fícus organensis
Sorocea bonplandii (Baill.) Burger et al.
MYRSINACEAE (Siqueira 1987)
Myrsine ferruginea = M. Coriacea
Myrsine laetevirens
Myrsine umbellata
M. parvula
MYRTACEAE (Marchiori & Sobral 1997)
Blepharocalyx salicifolius(Kunth)Berg
Eugenia uniflora L.
Eugenia uruguayensis Camb.
Myrcia palustris (DC.)Kaus
Myrcianthes cisplatensis (Camb.)Berg
Myrcianthes gigantea (Legr.)Legr.
ORCHIDACEAE
Campilocentrum aromaticum B. Rodr.
Cattleya intermédia Grah. Ex Hook.
Mesadenella cuspidata (Lindl.)Garay
Oncidium ciliatum Lindl.
Oncidium flexuosum Sims
Oncidium pumilum Lindl.
Pleurothallis smithiana Lindl
PALMAE (Reitz 1974)
Syagrus romanzoffiana (Cham.)Glasm.
PAPILIONACEAE (Neubert & Miotto 1996)
Erythrina crista-galli L.
Sesbania punicea (Cav.) Benth
Vigna adenantha
PHYTOLACACEAE
Phytolacca dioica L. (Burkart, 1987)
PIPERACEAE
Peperomia catharinae Miq.
Peperomia delicatula Hensch.
Peperomia obtusifolia (L.) A Dietr.
Peperomia tetraphylla (Forst.)Hook. Et Arn.
Piper gaudichaudianum Kunth
POLYGONACEAE
Ruprechtia laxiflora
PONTEDERIDACEAE
Pontederia lanceolata Nutt.
RHAMNACEAE
Scutia buxifolia Reiss.
RUBIACEAE
Cephalanthus glabratus
Guettarda uruguensis Cham. Et Schlecht.
RUTACEAE
Zanthoxylum hyemale St.-Hil.
Zanthoxylum rhoifolium Lam.
SANTALACEAE (Mattos 1967b)
Jodina rhombifolia Hook. Et Arn.
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (St.-Hil.) Radlk.
Cupania vernalis Camb.
SAPOTACEAE
Chrysophyllum marginatum
Chrysophyllum gonocarpum
Sideroxylom obtusifolium
ULMACEAE (Marchioretto 1988)
Celtis spinosa Spreng.
Trema micrantha (L.) Blume
VITACEAE
Cissus striata Ruiz et Pav.
Na REBIO foram encontradas duas espécies da flora ameaçadas de extinção:
Jodina rhombifolia (cancorosa-de-três-pontas) pertencente à família Santalacaceae e
Ephedra tweediana da família Ephedraceae. Também ocorrem três espécies imunes ao
corte conforme legislação estadual vigente: Erythrina crista-galli (corticeira), Ficus
organensis e F. luschnathiana ( figueiras).
Estudo fitossociológico do componente arbóreo de um
remanescente de Mata de Restinga Arenosa, sul do Brasil.
Capítulo baseado no artigo publicado por Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares
(2005).
Metodologia
A metodologia utilizada para a análise e compreensão da flora inclui levantamento
quantitativo e qualitativo. A amostragem fitocenológica do componente arbóreo foi
analisada através do método dos quadrantes centrados (Cottam e Curtis, 1956; Waechter
e Jarenkow, 1998; Durigan, 2003). A árvore mais próxima dentro de cada quadrante
com diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou superior a 5cm foram amostradas,
anotando-se a sua altura e distância até o ponto. Estimou-se para as espécies amostradas
os parâmetros absolutos e relativos de densidade, freqüência, dominância, assim como
os valores de importância (VI) e cobertura (VC), o índice de diversidade de Shannon
(H’) e a equabilidade de Pielou (J’) (Magurran,1988).
Resultados
Na análise estrutural da sinúsia arbórea, foram inventariados até o momento 20
pontos amostrais e completada a avaliação qualitativa da flora fanerogâmica de todos os
ambientes dentro da REBIO Mato Grande.
Nos três transectos realizados foram amostrados 20 pontos, totalizando uma área
de trabalho de 909,327m2. A distância média estimada de 3,371m resultou em uma
densidade total de 879,771 ind/ha distribuídos em 17 espécies e 13 famílias.
As espécies que se destacaram em VI foram Ficus luschnatiana (13,77),
Ruprechtia laxiflora (12,35), Sideroxylum obtusifolium (11,06), Zanthoxylum rhoifolium
(9,72) e Jodina rhombifolia (6,93) que acumularam 53,83% do total (Tabela 2).
Nesta organização em valores de importância observa-se a relevância das
espécies oriundas do contingente migratório atlântico, definindo o aspecto
fitofisionômico do Mato Grande, caracterizado pelo dossel constituído por Ficus
luschnatiana e Sideroxylum obtusifolium que apresentam valores altos de dominância,
assim como elevada área basal e altura; a submata é constituída por Ruprechtia
laxiflora, Zanthoxylum rhoifolium e Jodina rhombifolia que possuem elevada
freqüência e densidade, no entanto apresentam baixa área basal e altura (Tabela 2).
O índice de diversidade de Shannon (2,55 nats.indivíduo-1
) é um dos mais altos
já registrados para as matas de restinga do sul do Rio Grande do Sul, assim como no
resultado do índice de equabilidade de Pielou (J’) que foi 0,90 (Tabela 3),
provavelmente influenciado pela maior continentalidade em relação a outras matas de
restinga do estado, e por influência dos diversos contingentes migratórios de flora que
chegam ao Mato Grande oriundos dos corredores de diversidade como os arroios
Parapó e Moreira, canal São Gonçalo.
Ao analisar a ecologia florestal do Mato Grande a riqueza específica e elevado
índice de diversidade da estrutura da sinúsia arbóreo denota a extrema importância da
manutenção das relações interespecíficas entre fauna e flora em toda a biorregião do
Mato Grande.
Das espécies arbóreas amostradas 94% apresentam síndrome de dispersão por
animais (zoocórica), o que segundo Morellato (1992) é uma das principais
características das florestas tropicais onde cerca de 60 a 90% das espécies vegetais da
floresta são adaptadas a este tipo de dispersão, o que evidencia a influência tropical e a
riqueza estrutural da floresta do Mato Grande para a manutenção do equilíbrio dinâmico
das florestas da Bacia da Lagoa Mirim (Tabela 4).
Tabela 2. Parâmetros fitossociológicos estimados para as espécies arbóreas amostradas
em um remanescente de Mata de Restinga, na Reserva Biológica do Mato Grande, para
indivíduos com DAP≥5cm em ordem decrescente de valor de importância, onde Ni é o
número de indivíduos amostrados, DA a densidade absoluta, DR a densidade relativa,
FA a freqüência absoluta, FR a densidade relativa, AB a área basal, DoA a dominância
absoluta, DoR a dominância relativa, IVI o índice de valor de importância e IVC o
índice de valor de cobertura.
Ponto/Espécie Ni DA DR(%) FA(%) FR(%) AB(cm2) DoA(cm) DoR(%) VI IVC
11.1-Ficus luschnatiana 3 32,991 3,75 10 3,5 14070,346 154733,62 34,051 13,77 37,8
2.3-Ruprechtia laxiflora 15 164,96 18,75 40 14,03 1771,667 19483,27 4,28 12,35 23
2.4-Sideroxylum obtusifolium 5 54,985 6,25 25 8,77 7506,314 82548,016 18,16 11,06 24,4
1.2-Zanthoxylum rhoifolium 11 120,97 13,75 35 12,28 1293,636 14219,307 3,13 9,72 16,9
14.1-Jodina rhombifolia 6 65,982 7,5 25 8,77 1863,676 20495,113 4,51 6,93 12
14.2- Eugenia uniflora 8 87,977 10 25 8,77 465,295 5116,916 1,126 6,63 11,1
4.3-Vitex megapotamica 3 32,991 3,75 15 5,26 3774,707 41510,996 9,13 6,05 12,9
1.1-Casearia silvestris 6 65,982 7,5 20 7,01 1259,026 13845,69 3,046 5,85 10,5
2.1-Diospyrus inconstans 4 43,988 5 15 5,26 2762,209 30376,41 6,684 5,65 11,7
3.4-Eugenia uruguayensis 5 54,985 6,25 20 7,01 701,095 7710,042 1,69 4,98 7,94
5.1-Syagrus rommanzofianum 1 10,997 1,25 5 1,75 412,541 4536,772 10,979 4,66 12,2
2.1-Ficus organensis 3 32,991 3,75 10 3,5 2753,22 30277,556 6,663 4,64 10,4
5.4-Chrysophylum marginatum 5 54,985 6,25 15 5,26 983,206 10812,458 2,379 4,63 8,63
9.1-Cereus hildmanianus 2 21,994 2,5 10 3,5 729,03 8017,247 1,764 2,59 4,26
3.1-Chrysophylum gonocarpum 1 10,997 1,25 5 1,75 498,646 5483,68 1,206 1,40 2,46
17.2-Scutia buxifolia 1 10,997 1,25 5 1,75 444,133 4884,194 1,074 1,36 2,32
20.2-Erythroxylum argentinum 1 10,997 1,25 5 1,75 31,831 350,05 0,077 1,03 1,33
Tabela 3. Levantamentos fitossociológicos realizados no sul do Brasil, indicando o
autor, a localização da área de estudo, os métodos de amostragem, número de espécies
(Ne), densidade total por área (DTA), o índice de diversidade de Shannon (H’) e o
índice de equabilidade de Pielou (J’). Fonte Método Ne DTA H’ J’
(ind/ha)
SCHLEE Jr., 2000 Parcelas 34 1224 2,53 0,71
Capão do Leão, RS 0,5 ha
31°47’S, 52°15’W
Área de Formações Pioneiras
KILCA, 2002 Parcelas
Rio Piratini, RS 0,5 ha 37 2202 2,87 0,79
31°54’S, 52°39’W 0,5 ha 29 1734 2,31 0,69
Floresta Estacional Semidecidual
CORRÊA-PEREIRA, 2004 Parcelas 32 1676 2,64 0,76
Arroio Grande, RS 0,5 ha
32°04’S, 53°05'W
Floresta Estacional Semidecidual
Este estudo Quadrantes 17 880 2,55 0,90 Arroio Grande, RS 20 pontos 32°08'S, 52°44'W Área de Formações Pioneiras
WAECHTER & JARENKOW, 1998 Quadrantes 12 791 1,886
Taim, RS 30 pontos
32°30' a 32°50'S, 52°20' a 52°40'W
Área de Formações Pioneiras
Tabela 4. Relação das espécies amostradas em um remanescente de Mata de Restinga,
na Reserva Biológica do Mato Grande, Arroio Grande, RS, com a categoria sucessional
(Cat. Suc.), onde Pio=pioneira, Sin=secundária inicial, Sta=secundária tardia; com
síndrome de dispersão (Sín. Disp.), onde Ane= anemocórica, Aut= autocória e Zoo=
zoocória; e com os contingentes migratórios.
Família Espécie Nome popular Cat. Suc. Sín. Disp. Contigente
Flacourtiaceae Casearia sylvestris chá-de-bugre Sin Zoo pantropical
Rutaceae Zanthoxylum rhoifolium Mamica-de-cadela Sin Zoo pantropical
Moraceae Ficus organensis figueira-de-folha-miúda Sta Zoo pantropical
Ebenaceae Diospyrus inconstans maria-preta Sta Zoo pantropical
Polygonaceae Ruprechtia laxifolia marmeleiro-do-mato Sin Ane oeste
Sapotaceae Sideroxylum obtusifolium Quixadeira Sta Zoo anfiatlântico
Sapotaceae Chrysophylum gonocarpum aguaí-da-serra Sta Zoo pantropical
Myrtaceae Eugenia uruguayensis Batinga-vermelha Sta Zoo pantropical
Lamiaceae Vitex magapotamica Tarumã Sta Zoo pantropical
Arecaceae Syagrus rommanzofiana Gerivá Sin Zoo neotropical
Sapotaceae Chrysophylum marginatum aguaí-vermelho Pio Zoo pantropical
Cactaceae Cereus hildimanianus mandacarú Sta Zoo neotropical
Moraceae Ficus luschnatiana figueira-de-folha-grande Sta Zoo pantropical
Santalacaceae Jodina rhombifolia cancorosa-de-três-pontas Sta Zoo chaquenho
Myrtaceae Eugenia uniflora pitangueira Sin Zoo pantropical
Rhamnaceae Scutia buxifolia Corunilha Sin Zoo pantropical
Erythroxylaceae Erythroxylum argentinum Cocão Sta Zoo pantropical
Estudo sobre mamíferos de Médio e Grande Porte na REBIO Mato Grande
Capítulo baseado no artigo publicado por Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares
(2005).
Metodologia
Quanto à metodologia empregada para os estudos da mastofauna, foram
utilizados métodos que envolvem técnicas diretas e indiretas de identificação. Para a
identificação direta das espécies foram empregadas quatro armadilhas fotográficas
instaladas em trilhas freqüentemente utilizadas pelos animais (Vidolin, 2000; Wemmer
et al 1996; Tomas e Miranda, 2003), assim como a identificação visual e localização de
carcaças. A identificação indireta foi feita através da identificação de odores, tocas,
fezes e pegadas (Travi & Gaetani, 1985; Becker & Dalponte, 1991) e a utilização de
armadilhas de pegadas (plots).
As armadilhas foram montadas em locais que maximizem a possibilidade de
captura tais como trilhas ou locais próximos a água, distanciadas no mínimo a cada 1km
de forma a possibilitar uma maior independência dos dados. Armadas por período
médio de 72 horas/máquina nas saídas de campo mensais. Quirópteros e roedores
pertencentes às famílias Cricetidade, Muridae, Ctenomydae e Echymydae foram
omitidos do inventário em função de problemas logísticos e de identificação. A
seqüência taxonômica e a nomenclatura seguem González (2001).
Resultados
Quanto a analise da mastofauna ocorrente na região de estudo, foram registradas 12
espécies de mamíferos pertencentes a 09 famílias (Tabela 5). Dentre as espécies
encontradas, o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) (Figura 2) e a lontra (Lontra
longicaudis) são consideradas ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul (Marques et
al., 2002). O gato-maracajá (Leopardus wiedii), igualmente ameaçado, carece de
confirmação. Entretanto, a ocorrência desse felino é esperada, considerando que foi
registrado em estudo anterior em área de geomorfologia e vegetação similar à área de
estudo. Sendo considerada uma espécie de hábitos principalmente arborícola, a presença
deste felino provavelmente ocorra devido ao uso dos corredores de mata ciliar que
ligam ambientes florestais da Serra do Sudeste com ambientes de Restinga da Planície
Costeira.
Tabela 4 – Mamíferos inventariados entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005 na
REBIO do Mato Grande, município de Arroio Grande, Rio Grande do Sul. Táxons
indicados com um asterisco são considerados ameaçados de extinção no Rio Grande do
Sul (sensu Marques et al., 2002), ao passo que aqueles marcados com dois asteriscos
foram introduzidos na América do Sul pelo homem. Acrônimos das categorias de
ameaça: Vu – vulnerável; En – em perigo; Cr – criticamente em perigo. Acrônimos da
forma de registro: Ft – flagrante fotográfico; Ov – observação visual; Cc – observação
de carcaças; Vt – observação de vestígios.
TÁXONS NOME POPULAR REBIO MATO GRANDE
Ov Ft Vt Cc
DIDELPHIMORPHIA
DIDELPHIDAE
Didelphis albiventris gambá-de-orelha-branca X X
CINGULATA
DASYPODIADE
Dasypus novemcinctus tatu-galinha X X X X
CARNIVORA
CANIDAE
Lycalopex gymnocercus graxaim-do-campo X
Cerdocyon thous graxaim-do-mato X X X
FELIDAE
Oncifelis geoffroyi *Vu gato-do-mato-grande X
MUSTELIDAE
Conepatus chinga Zorrilho X X
Galictis cuja Furão X X
Lontra longicaudis *Vu Lontra X
PROCYONIDAE
Procyon cancrivorus mão-pelada X
RODENTIA
HYDROCHOERIDAE
Hydrochoerus hydrochaeris Capivara X X X X
MYOCASTORIDAE
Myocastor coypus ratão-do-banhado X X X X
LAGOMORPHA
LEPORIDAE
Lepus sp. ** Lebre X
No local de estudo, foi verificada reprodução de pelo menos três espécies,
conforme evidenciado por flagrante fotográfico de ratão-do-banhado (Myocastor
coypus), observação visual de capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) e pegadas de mão-
pelada (Procyon cancrivorus).
Figura 2. Registro fotográfico de espécie ameaçada de extinção, gato-do-mato-
grande (Oncifelis geoffroyi) na Reserva Biológica do Mato Grande.
O habitat de muitas espécies na Planície Costeira na biorregião da Lagoa Mirim
foi devastado por atividades agropastoris, com a conversão de campos e banhados em
lavouras de arroz ou áreas de pecuária e as matas alteradas pelo sobrepastoreio do gado,
restando somente alguns remanescentes de matas ciliares, de restinga e trechos de
banhados mais profundos. Espécies ameaçadas de extinção, como o gato-do-mato-
grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra longicaudis) encontrados na REBIO do
Mato Grande, sofrem para manter suas populações geneticamente viáveis devido a essas
grandes modificações no ambiente natural.
A intensa pressão exercida pela caça ilegal está impactando as populações de
mamíferos locais. Durante as amostragens constatou-se um grande número de carcaças,
principalmente de ratão-do-banhado (Myocastor coypus) espalhadas em locais com
vestígios de acampamentos humanos.
Estudo sobre o Histórico da Ocupação Indígena Pré-Colonial no Mato Grande
Quanto aos estudos de ocupação indígena pré-colonial no Mato Grande,
realizados pelo Eng. Agr. Cláudio Correa Pereira, foram encontrados até o presente
momento 14 sítios arqueológicos distribuídos na extensão de toda a crista de duna
plestocênica orientada no sentido Leste-Oeste, paralela a Lagoa Mirim (Figura 3).
Diversos artefatos indígenas foram observados: materiais líticos (raspadores,
percutores, pontas-de-flecha) e cerâmicos (cacos de cerâmica). E em um dos sítios
apresentaram vestígios de uma ocupação mais duradoura, através de camadas com
restos orgânicos (fragmentos de ossos de mamíferos, vértebras de peixes, restos de
conchas, carvão e cinzas).
Figura 3. Sítio arqueológico na Reserva Biológica do Mato Grande.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Reserva Biológica do Mato Grande é um inestimável patrimônio cultural e
natural para as futuras gerações, os estudos realizados até o momento pelo Grupo
Ecológico Amantes da Natureza demonstram sua extrema importância e relevância para
conservação e preservação de toda a biorregião da Lagoa Mirim.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Juliana Corrêa Pereira e José Milton Schlee Jr.
Biólogos e Pesquisadores do
Grupo Ecológico Amantes da Natureza