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SEGUNDA-FEIRA FORTALEZA - CE, - 7 DE ABRIL DE 2014 WWW.OPOVO.COM.BR E-MAIL: [email protected] // FONES: (85) 3255 6137, 3255 6115 // FAX: (85) 3255 6139 // TWITTER: @VIDAEARTEOPOVO // FACEBOOK: /OPOVOONLINE EDITOR-CHEFE FELIPE ARAÚJO ([email protected]) EDITORES-ADJUNTOS Silvia Bessa ([email protected]) Henrique Araújo ([email protected]) “O Dragão está começando em toda sua potência. Sempre pensei o Dragão como uma agência de desenvolvimento cultural no Ceará” Ator e diretor do coletivo “Os Pícaros Incorrigíveis”, José Magno Sousa festeja a recuperação da saúde cultural do Dragão do Mar O ANO DO DRAGÃO PATRIMÔNIO. CULTURA O cenário é conhe- cido por cearenses e turistas: casarões coloridos no entor- no, planetário espe- lhado e a passarela vermelha que“não tem fim”. Polo aglutinador de cultura no Ceará, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura completa agora 15 anos, mas apenas nos últimos dois o es- paço tem ganhado novo fô- lego e conseguido se expan- dir na missão de formar, criar e difundir a cultura cearense. A inauguração do Porto Ira- cema das Artes, a reabertura do Cinema do Dragão, agora em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, e as novas exposições nos museus são peças-chave nessa retomada do centro cultural. “A programação do Dra- gão do Mar deu uma repa- ginada, isso é fato”, diz a estudante universitária Re- beka Lúcio. Frequentadora do equipamento “de vez em O Dragão do Mar vem passando por revitalização em sua programação. Artes plásticas e cinema são destaques do equipamento, que chega aos 15 anos em abril sempre”, Rebeka, que é atriz, conta que o Dragão é o lugar que “exala” cultura em Fortaleza. “Os editais de- moraram para sair e viemos de um período em que não teve tanta apresentação, mas agora a programação está ga- nhando o espaço”, afirma. A estudante celebra o fato de o Dragão ter “voltado à ativa” e diz que a revitalização é “fundamental para a eferves- cência cultural” da cidade. Para entender o atual mo- mento do Dragão do Mar, no entanto, é preciso revisitar setembro de 2012. Foi quan- do o sociólogo Paulo Linha- res assumiu a presidência do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), instituição responsável pela gestão do Dragão do Mar. Linhares par- ticipou do processo de cri- ação do Dragão, entre 1993 e 1999, mas, até 2012, nunca havia gerido o equipamento. “Agora é que o Dragão está começando em toda sua potência. Sempre pensei o Dragão como uma espécie de agência de desenvolvi- mento cultural no Ceará e agora estamos chegando lá”, afirma Linhares. De acordo com o gestor, o equipamen- to precisa ser mais do que um difusor de música, teatro, cinema, dança e artes plásti- cas. “Pensei originalmente o Dragão como centro de for- mação e criação artística e agora, com o Porto Iracema das Artes, chegamos de vez a isso”, garante. Ator e diretor do coleti- vo “Os Pícaros Incorrigíveis”, José Magno Sousa festeja a re- cuperação da saúde cultural do Dragão. “É bom perceber que ele está de portas aber- tas, inclusive, para os grupos da periferia. A programação está democrática e os artistas estão tendo maior visibilida- de”, responde. Contemplado com o edital de 2012, Magno se apresentou somente em fevereiro de 2014 “devido às burocracias”. Durante o mês de abril, o Vida&Arte discute os mui- tos aspectos que envolvem o Dragão do Mar: da re- lação tumultuada com o entorno degradado à falta de manutenção. Leia mais na página 4 Paulo Renato Abreu paulorenatoabreu @opovo.com.br u

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Page 1: PATRIMÔNIO. CULTURA O ANO DO DRAGÃO...lhau, Periquita nele!”. Porre de gim, além de grande, é sempre o pri-meiro e o último. “Para o mundo, que eu quero descer!”. Cachaça,

SEGUNDA-FEIRAFORTALEZA - CE, - 7 DE ABRIL DE 2014

WWW.OPOVO.COM.BR E-MAIL: [email protected] // FONES: (85) 3255 6137, 3255 6115 // FAX: (85) 3255 6139 // TWITTER: @VIDAEARTEOPOVO // FACEBOOK: /OPOVOONLINE

EDITOR-CHEFEFELIPE ARAÚJO ([email protected])

EDITORES-ADJUNTOSSilvia Bessa ([email protected])Henrique Araújo ([email protected])

“O Dragão está começando em

toda sua potência. Sempre pensei o Dragão como

uma agência de desenvolvimento

cultural no Ceará”

Ator e diretor do coletivo “Os Pícaros Incorrigíveis”, José Magno Sousa festeja a recuperação da saúde cultural do Dragão do Mar

O ANO DO DRAGÃO PATRIMÔNIO. CULTURA

O cenário é conhe-cido por cearenses e turistas: casarões coloridos no entor-no, planetário espe-lhado e a passarela

vermelha que“não tem fim”. Polo aglutinador de cultura no Ceará, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura completa agora 15 anos, mas apenas nos últimos dois o es-paço tem ganhado novo fô-lego e conseguido se expan-dir na missão de formar, criar e difundir a cultura cearense. A inauguração do Porto Ira-cema das Artes, a reabertura do Cinema do Dragão, agora em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, e as novas exposições nos museus são peças-chave nessa retomada do centro cultural.

“A programação do Dra-gão do Mar deu uma repa-ginada, isso é fato”, diz a estudante universitária Re-beka Lúcio. Frequentadora do equipamento “de vez em

O Dragão do Mar vem passando por revitalização em sua programação. Artes plásticas e cinema são destaques

do equipamento, que chega aos 15 anos em abril

sempre”, Rebeka, que é atriz, conta que o Dragão é o lugar que “exala” cultura em Fortaleza. “Os editais de-moraram para sair e viemos de um período em que não teve tanta apresentação, mas agora a programação está ga-nhando o espaço”, afirma. A estudante celebra o fato de o Dragão ter “voltado à ativa” e diz que a revitalização é “fundamental para a eferves-cência cultural” da cidade.

Para entender o atual mo-mento do Dragão do Mar, no entanto, é preciso revisitar setembro de 2012. Foi quan-do o sociólogo Paulo Linha-res assumiu a presidência do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), instituição responsável pela gestão do Dragão do Mar. Linhares par-ticipou do processo de cri-ação do Dragão, entre 1993 e 1999, mas, até 2012, nunca havia gerido o equipamento.

“Agora é que o Dragão está começando em toda sua potência. Sempre pensei o Dragão como uma espécie de agência de desenvolvi-mento cultural no Ceará e agora estamos chegando lá”,

afirma Linhares. De acordo com o gestor, o equipamen-to precisa ser mais do que um difusor de música, teatro, cinema, dança e artes plásti-cas. “Pensei originalmente o Dragão como centro de for-mação e criação artística e agora, com o Porto Iracema das Artes, chegamos de vez a isso”, garante.

Ator e diretor do coleti-vo “Os Pícaros Incorrigíveis”, José Magno Sousa festeja a re-cuperação da saúde cultural do Dragão. “É bom perceber que ele está de portas aber-tas, inclusive, para os grupos da periferia. A programação está democrática e os artistas estão tendo maior visibilida-de”, responde. Contemplado com o edital de 2012, Magno se apresentou somente em fevereiro de 2014 “devido às burocracias”.

Durante o mês de abril, o Vida&Arte discute os mui-tos aspectos que envolvem o Dragão do Mar: da re-lação tumultuada com o entorno degradado à falta de manutenção.

Leia mais na página 4

Paulo Renato Abreu paulorenatoabreu @opovo.com.br

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BD O POVO
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#Data: 20140407 #Clichê: Primeiro #Editoria: Vida & Arte
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#Autor: Paulo Renato Abreu <CULTURA> <ANIVERSÁRIO> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
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FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 7 DE ABRIL DE 20144

Projeto Brincando e Pintando: programação infantil gratuita reúne crianças nos fins de semana na Praça Verde do Dragão do Mar

DIVULGAÇÃO/MARINA CAVALCANTE

A dinâmica da nova agenda

Quem se aproxima de Sebastião Laurindo já é logo avisado: “Tem água, cerveja, refri...”. Sebastião é ambulan-te e trabalha no entor-

no do Dragão do Mar duran-te toda a semana. O vendedor diz ter percebido que o “movi-mento aumentou um pouco”, mas reclama: as vendas con-tinuam “fracas”. “O movimen-to é grande mesmo só no final de semana. Acho que o Dra-gão é um pouco repetitivo, as pessoas vêm, conhecem e gos-tam, mas depois não encon-tram nada de novo”, afirma.

Para Paulo Linhares, presi-dente do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), a “luta” do cenário cultural do Ceará é justamente firmar uma plateia fiel. “Não temos públi-co capaz de manter o campo cultural autônomo. Acho que só agora que nós temos uma classe média universitária mais presente”, analisa. Linhares diz que, cada vez mais, o Dragão tem conseguido um “público de qualidade”.

A reabertura do Cinema do Dragão é um dos fatores que explicam essa nova safra de público. Em setembro de 2013, as salas de exibição foram rei-nauguradas em parceria com a Fundação Joaquim Nabu-co. O cinema foi reforma-do, ganhando nova estrutura, curadoria e equipamentos de alta tecnologia.

Cinemas

Somando as duas salas de exibição, o cinema recebe de 1.000 a 1.500 espectadores por semana. Para Pedro Azevedo, curador do espaço ao lado do cineasta Salomão Santana, essa média de público é “exce-lente”. “O que está acontecen-do agora é resultado do que a gente queria desde o começo. Temos um cuidado com a pro-

gramação e a preocupação em também pensar o debate”, afir-ma Pedro.

Desde que foram reinaugu-radas, as salas também têm servido para eventos já con-solidados na cidade. O Cine Ceará e o Festival For Rain-bow, por exemplo, tiveram as edições mais recentes realiza-das no Dragão. Nesta semana, chega por lá também o Festi-val Varilux de Cinema Fran-cês. Até 16 de abril, serão exi-bidos 16 filmes.

Exposições

O Dragão ganhou novo fô-lego também com as expo-sições de artes plásticas que têm ocupado o equipamen-to. “A política de exposições no Dragão tem hoje alta vi-sibilidade no Brasil. Essas ex-posições que estamos fazen-do têm um impacto nacional”, considera Paulo Linhares. De acordo com o gestor, o Dra-gão firmou “importantes par-cerias”, o que permitiu que esses projetos se concretizas-sem. Linhares cita as socie-dades com o Itaú Cultural, o Instituto Moreira Sales e a Casa Civil.

Atualmente, o espaço abri-ga cinco: Coleção Itaú Cul-tural de Fotografia Brasileira, mostra Bauhaus.filme, mostra Brasil Um PaísUm Mundo, além das exposições Crônicas do Devir e Vaqueiros. (Paulo Renato Abreu)

Desde que foram reinauguradas, as salas de cinema atraem público diverso ao Dragão

[email protected]

Umas e outras À memória de Cláudio Pereira

Dia desses, dei-me conta de que fazia exatos 40 anos que lidava com a birita. Pois é, como muitos dos meus contemporâneos, princi-piei cedo nas hostes etílicas. Dei o pontapé inicial, lembro-me bem, na festa dos meus quinze anos. O guaraná champagne já não me sa-ciava a sede como eu queria, faltava aquele algo mais e a cerveja es-tava ali, olhando para mim, pedindo para ser bebida. Ah, o primei-ro gole daquele líquido amargo, gasoso e gelado, cheio de mistério e promessas, a gente nunca esquece. “Bom como o cheiro de cerveja”, disse Guimarães Rosa de Jó Joaquim, loa em forma de símile em seu Desenredo. Doido para deixar de ser menino, agora era criar jeito de homem. O álcool parecia ser uma boa, principalmente se mamãe, fe-ra, não ralhasse... Os começos são sempre difíceis. A ânsia de conhecer e dominar a prática do levantamento de copo sempre esbarrava na falta de re-sistência do organismo a tanta ginástica. Disso resultavam ressacas homéricas: o miserável o dia inteiro de molho, no escuro, avesso a barulho, a todo momento chamando seus amigos Hugo, Juca e Raul. Mas, como disse Albert Camus, “não se pode criar experiência, é pre-ciso passar por ela”. Só o tempo para forjar no corpo modos e ma-neiras de biriteiro, sutil exercício este que precisa de um certo tipo especial de academia para se realizar: o bar. Pela ordem cronológi-ca de freqüência: Bar da Tia, Barbra’s, Barraca do Ideal, Lido, Estoril, Choperia do Romcy, Bar do Aírton, Padaria Espiritual, Opção, Alpen-dre, Cantinho, Helano... A vodca lhe faz dançar como um Fred Astaire e, de repente, faz o chão sumir sob seus pés. “Motorista, let’s go!”; “Vamos para onde, senhor?”; “Ora, para minha casa!”; “E onde fica a sua casa?”; “Jamais saberás!”. Uísque só após o crepúsculo e com o estômago forrado. “Comigo não tem isso não, bebo na hora que eu quiser, na minha barriga não tem relógio”. Vinho tinto para carnes vermelhas, vinho branco para frutos do mar. “Bacalhau não é peixe, bacalhau é baca-lhau, Periquita nele!”. Porre de gim, além de grande, é sempre o pri-meiro e o último. “Para o mundo, que eu quero descer!”. Cachaça, no banho de açude ou debaixo de chuva, não tem igual. “Querida, vou dar um tempo na cana, mas deixe só passar essa safra de cajá”. Pre-sepadas mil: a cada trago, dez chistes.

Que ninguém veja aqui qualquer estímulo ou elogio a esse ofício, tampouco coisa de gabola ou fanfarronice. Trata-se apenas do singelo testemunho

A transformação do suave amador de fim de semana no diarista polido e compenetrado. Quis saber certa vez Adélia Prado: “Quantos sacos de arroz já consumi?”. Parafraseando-a, pergunto eu: “Quan-tos rios da zinebra já bebi?”. Fará diferença? Claro que sim: tantas boas amizades feitas nas mesas, generosas do tamanho da cidade, uma turma imensa em que todos e todas se conhecem e se gostam, brindes espocando, violões violando o silêncio besta com seus bor-dões, a lua dizendo adeus, o sol dando bom dia, “Garçonzinho, me ajude, amigo, quero me embriagar”, quanta saudade, Cláudio Perei-ra. Seria todo bebedor um alcoólatra? Nada disso: Mário Quintana ergue a taça e diz: “Só se deve beber por gosto: beber por desgos-to é uma cretinice”. Evoé, Baco! Que ninguém veja aqui qualquer estímulo ou elogio a esse ofício, tampouco coisa de gabola ou fanfarronice. Trata-se apenas do singe-lo testemunho de alguém que sempre só encontrou prazer no que é, antes de tudo, uma arte. Há, claro, os que andam por aí com um cartaz imaginário pendurado no pescoço, escrito assim: “Não deem bebida a este animal”. Fujo dessas figuras como o vampiro foge da luz solar. Não é que o álcool degrade o homem; como afirmou Ches-terton, o homem é que degrada o álcool. Seria este um consolo para os males da vida, as decepções amorosas, os reveses da sorte? Paulo Mendes Campos, cronista brilhante que bebia mal, resumiu o lance numa bela imagem poética: “O homem entra no bar para transcen-der-se: eis a miserável verdade”.

ROMEU DUARTE

Esta coluna é publicada às

segundas

As novas exposições nos museus, a reabertura do cinema e o lançamento de feiras são algumas das ações que têm movimentado o Dragão do Mar

Carri Costa, ator e diretor da Cia. Cearense de Molecagem

Denis Lacerda, ator do coletivo As Travestidas

Entorno Eu acho que o Dragão está se esforçando pra abranger essa diversidade. Acompanho sua programação e vejo essa abrangência. O que não implica que tenha o alcance devido, pois a deterioração do entorno amedronta.

Sem interesse O Dragão do Mar, com seus editais, contempla cada área das artes, mas infelizmente não é o suficiente. É muito triste saber que um espaço como o centro Dragão do Mar não atrai os artistas se não for pelo interesse de editais de ocupação.

Você acha que a programação do Dragão do Mar contempla a diversidade da cultura cearense?

Confronto das ideias

SAIBA MAIS Feira e música no Dragão Outro fator comemorado no atual momento do Dragão do Mar é a volta do ‘Fuxico no Dragão”. Desde ontem, a feira tem reunido vinte expositores locais de moda, design e gastronomia. O evento já tem programação definida para os próximos domingos do mês de maio, sempre das 16h às 20 horas. Além da venda de produtos, o Fuxico também tem música. Por lá já se apresentaram nomes como Carlinhos Patriolino, Moacir Bedê, Soledad Brandão, Tarcísio Sardinha e os DJs Darwim Marinho, Estácio Facó e Renatinha. “Como músico, me sinto bem respaldado pelo Dragão do Mar”, afirma Carlinhos Patriolino.

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura Onde: rua Dragão do Mar, número 81, na Praia de Iracema. Telefones: (85) 3488 8600 e 3488 8608 Entrada franca.

CENTRO DRAGÃO DO MAR15 ANOS DO

BD O POVO
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#Data: 20140407 #Clichê: Primeiro #Editoria: Vida & Arte
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#Autor: Paulo Renato Abreu #Observação: 15 Anos do Centro Dragão do Mar <CULTURA> <ANIVERSÁRIO> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
BD O POVO
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#Autor: Romeu Duarte #Coluna: Romeu Duarte
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SEGUNDA-FEIRAFORTALEZA - CE, - 14 DE ABRIL DE 2014

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EDITOR-CHEFEFELIPE ARAÚJO ([email protected])

EDITORES-ADJUNTOSSilvia Bessa ([email protected])Henrique Araújo ([email protected])

DESPEDAÇADO DRAGÃO

Paulo Renato Abreu [email protected]

Duas jovens se aproximam da grade de proteção insta-lada ao lado do Planetário, um dos símbolos do lugar. Ignorando a faixa de isolamento e os cones, elas se escoram do gradil. Rapidamente, um guarda aparece para retirá-las. “Não pode se encostar”, ordena. O mo-tivo é logo entendido por quem observa a cena: as bases dessas grades estão corroídas e já se soltaram do piso. Quem se encostar corre o risco de cair do segundo andar do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Completando 15 anos neste mês, o equipamento cultu-ral carece de reparos. Infiltrações no teto, pintura e rebo-co descascados, lâmpadas quebradas, ferrugem e elevador parado são algumas marcas da idade, mas principalmen-

te do descaso. “Está previsto resolver todos os problemas de infraestrutura. Como você sabe, o Dragão do Mar tem 15 anos e muita coisa acontece de deterioração natural”, afir-ma Maninha Morais, diretora de planejamento e gestão do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), responsável pelo centro.

São mais de R$ 9 mi-lhões licitados para uma série de obras previstas. Desse montante, R$ 1 milhão foi

Completando 15 anos em abril com ampla programação

de shows, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

enfrenta problemas estruturais. Atraso na liberação de

recursos seria a justificativa. Secult e Dragão divergem

Ferrugem, pintura descascada e infiltrações são alguns dos problemas no Dragão

FOTOS SARA MAIA

usado para a reforma do ci-

nema, reinaugurado em se-

tembro passado. Do restante,

R$ 5 milhões já foram libe-

rados pelo Governo do Esta-

do para obra que deve incluir

iluminação, pintura e reparos

nas infiltrações. “Já tem R$ 5 milhões de-

positados e há seis meses

liberados. O governador já

liberou o dinheiro desde ou-

tubro, mas a Secretaria da

Cultura (Secult) teve uns

problemas jurídicos”, justifi-

ca Paulo Linhares, presiden-

te do IACC. De acordo com

Linhares, o equipamento, que

tem “historicamente uma re-

dução quase permanente de

investimentos em manuten-

ção”, passará por uma “gran-

de reforma”. A previsão é de

começar logo.

Resposta da Secult Procurada pelo O POVO

para esclarecimentos sobre

os “problemas jurídicos”

que emperram o repas-

se dos recursos para re-

forma do Dragão, a Se-

cult respondeu por nota. “A

continuidade das reformas

está garantida, nos próxi-

mos meses, a partir da assi-

natura, pela Secult, de adi-

tivo ao contrato original,

a ser realizada até o final

deste mês”, diz o texto, que não informa quais seriam os motivos do atraso para início da obra de reforma. Sobre a possibilidade de in-

tervenções de caráter emer-gencial, como a troca das gra-des de proteção corroídas, a Secult afirmou que “não há reforma de emergência” e “que cabe à (administração do) Dragão do Mar resolver os problemas pontuais de es-trutura”. Maninha devolve a responsabilidade. Segundo a gestora, o Dragão está “aguar-dando” a verba que “já deveria ter sido liberada” pela Secult.

Leia mais na página 5

SÉRIE ESPECIAL DRAGÃO DO MAR.

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#Data: 20140414 #Clichê: Primeiro #Editoria: Vida & Arte
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#Autor: Paulo Renato Abreu #Crédito: Sara Maia <REFORMA> <ANIVERSÁRIO> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
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FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 14 DE ABRIL DE 2014 5

Da biblioteca ao palco do Dragão

Peter Gasper é o res-ponsável pela ilumi-nação do Cristo Re-dentor no Rio de Janeiro. O designer também cuida da luz

do prédio do Congresso Naci-onal, em Brasília, e do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Gasper, cuja assinatura está por trás da iluminação origi-nal do Centro Dragão do Mar, retorna, uma década e meia depois, para recuperar todo o aparato do equipamento.

De acordo com Maninha Morais, diretora de planeja-mento e gestão do Institu-to de Arte e Cultura do Ceará (IACC), a recuperação do projeto luminotécnico está “na ordem dos R$ 3 milhões”. O montante faz parte dos R$ 5 milhões que serão usados para reforma de luz, pintura e infiltração do Dragão do Mar. “Peter vai dar uma nova rou-pagem e haverá uma atualiza-ção do projeto, que será todo em LED para reduzir o custo com energia”, diz Maninha.

Outra reforma programa-da para o equipamento cul-tural refere-se à integração com a Biblioteca Pública Me-nezes Pimentel, obra anunci-ada ainda em 2012. Segundo nota divulgada pela Secreta-ria da Cultura do Estado (Se-cult), “um ajuste ao projeto (de integração) está sendo re-alizado pelo Departamento de Arquitetura e Engenharia do Governo do Estado, incluindo consulta aos arquitetos res-ponsáveis pelo projeto origi-nal do Dragão do Mar. Os ajustes estarão definidos até a próxima semana (esta sema-na) e os trabalhos poderão se-guir normalmente”.

As duas cabeças

Presidente do IACC, Paulo Linhares garante: “Acredito que, até final de julho, a gente tenha condição de estar com a obra de integração da bibli-oteca”. De acordo com Linha-res, a administração do Dra-gão do Mar tem trabalhado as “duas cabeças” do equipa-mento. A de baixo seria a área inferior à do Planetário Ru-bens de Azevedo, que inclui teatro e cinema, e a de cima, a entrada dos museus, próxima à biblioteca.

“Vamos deixar a de baixo um sucesso. Quando terminar a cabeça de cima, vamos fazer uma loja com linhas de pro-dutos Dragão do Mar e criar áreas de convivência lá”, pro-jeta Linhares.

Hoje, porém, o elo entre “as duas cabeças”, o elevador

do centro cultural, está para-do. “O elevador está funcio-nando. É novo. A questão é só de contratação de um as-censorista, de falta de pesso-al”, explica Maninha.

As duas plateias

O último reparo no cen-tro, que agora comemora 15 anos, foi a reforma do palco de teatro. A reinauguração do palco, entretanto, desa-gradou parte da classe ar-tística, como os atores do

De acordo com administração do centro, o Dragão passará por reforma na iluminação, pintura e integração com a biblioteca pública

FOTOS SARA MAIA

Centro Dragão do Mar: nova iluminação em LED e integração á biblioteca pública são as promessas

Da Internet como arte No endereço http://obeijo.co, projeto criado por Alexandre Pas-choalini e Thany Sanches, o usuário – termo curioso para definir um consumidor de arte – tem a possibilidade de interagir com duas si-lhuetas humanas que não se desgrudam, atadas a um beijo eterno. O internauta pode criar as mais variadas danças com esse corpo-uno formado por dois seres, mexendo e remexendo suas articula-ções enquanto uma trilha sonora ressoa. Durante essa experiência, o espaço e o tempo parecem como que deformados, e uma quase-hipnose invade o participante. Temos um lugar de forte interação e distorção de percepções. A partir desse exemplo, e passada mais de uma década do século XXI, talvez seja cabível a pergunta: seria a In-ternet a grande invenção estética do século atual? Em 1935, o pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940) iniciou a escrita de um texto muito relevante para a arte no século XX, o A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. Nele, Ben-jamin dava vida a conceitos que renovaram a teoria da arte, como o de “aura”, valorizando, em contrapartida, a ideia da reprodução, disseminação e recepção da arte na sociedade. O pensador alemão afirma que a apreciação da arte passava de um cunho ritualístico para um político, após o surgimento da fotografia e a subsequente invenção do cinema. A aura é uma figura singular, composta de ele-mentos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distan-te, por mais próxima que ela esteja. A atuação do público se torna, portanto, chave nessa perspectiva. Para Benjamin, assim como para outros teóricos, artistas, e mesmo para o público – o que, aliás, aca-bou transformando essa ideia em um pertinente clichê –, o cinema foi a grande invenção estética do século XX. Sua criação gerou toda uma nova dinâmica de organização da expressão artística, além da invenção de técnicas próprias: planos-sequência, travellings, novos recursos sonoros e de montagem etc. Apesar de ter iniciado sua difusão no final do século passado – e não foi assim também com o cinema na virada do século XIX para o XX? –, é nesta era que a Internet começa a ganhar contornos mais visíveis. Sob um olhar rápido e genérico, ela pode ser compreendi-da apenas como um mero veículo de propagação e difusão de ou-tras artes: cinema, música, artes visuais... No entanto, há certamen-te características que a tornam uma arte sui generis, já que carrega o predicado-mor de toda invenção estética, segundo Benjamin: a ca-pacidade de diferenciar as eras e alterar a própria natureza da arte. O que seria, então, próprio da Internet? Quais características a tor-nam arte singular e dona da capacidade de transformar/deslocar os tempos e os espaços? A ideia de acesso é primordial ao pensarmos a Internet. Toda cri-ação que é veiculada através dela é reproduzida a partir do aces-so-alcance de um local (os links, endereços dos sites ou servido-res). Isso gera uma relação particular entre o apreciador/especta-dor/internauta e a obra. É como se o site fosse um hospedeiro (e no próprio glossário internético/tecnológico temos a expressão em in-glês “host”) que se coloca à disposição de um número x de parasi-tas prontos a acessar suas entranhas, seu conteúdo. A própria pala-vra endereço expõe essa nova condição da obra: localiza-se em uma morada para a qual nos encaminhamos; nós a acessamos, a visita-mos, a frequentamos. A Internet parece reivindicar um novo local para a figura do artis-ta. Quem são os artistas da web? Os designers, os webdesigners? Simplesmente alguém que teve uma ideia? Ou todos estes reunidos em uma equipe? Um processo irreversível de encontros no espaço e no tempo é de-sencadeado e afirmado aqui: movimentos de aproximação de reali-dades. Ironicamente, através da World Wide Web (www), esses en-contros só se dão no virtual-digital. Alcançamos a possibilidade de travar relação com uma pessoa no outro extremo do globo terrestre em questão de segundos. É evidentemente o caso das redes sociais, dos chats, dos ambientes virtuais etc. Além disso, não seria a pró-pria difusão, dispersão, uma característica plausível para a arte? Ca-da vez mais assistimos à criação de plataformas pensadas especifi-camente para existirem na rede mundial de computadores. Tudo in-dica que a Internet, como toda forma de arte, possibilitou a criação de novos universos, horizontes de percepções, sensações e relações. Cabe-nos agora a realização, gradual e em processo, de cartografias e mapeamentos desse novo campo que se abre.

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segundas

Filosofia [email protected]

POR CIRO LUBLINER

A CIDADÃ

Aurilene França, gerente em escritório de advocacia

O Dragão do Mar ainda é um dos equipamentos culturais da cidade que está sobrevivendo. Eu acredito que ele teve seu apogeu. Agora teve um declínio, porém não morreu. Tem sido resistente e está num processo de ressurgir. Mas você vê, arquitetonicamente falando, o abandono por parte do órgão público. Tem a questão de acessibilidade e uma série de coisas que estão sendo esquecidas.”

A SÉRIE Dragão 15 anos Durante as segundas-feiras do mês de abril, que marca o aniversário do Dragão do Mar, o Vida&Arte publica uma série de reportagens que, juntas, resultarão num raio-X do equipamento. O capítulo inicial da série tratou da agenda cultural do Dragão, que vem se revitalizando nos últimos tempos.

CENTRO DRAGÃO DO MAR15 ANOS DO

coletivo “As Travestidas”. Durante temporada do es-petáculo Engenharia Eró-tica, em fevereiro passado, os artistas criticaram as mudanças na plateia, que agora só tem uma entrada central, deixando um vão bem diante do palco.

Regente do grupo “Vi-trola Nova”, Carlos do Valle esteve em cartaz com o espetáculo Vitro-la Jukebox – Novelas, nos meses de janeiro e feverei-ro. “A utilização da fren-te do palco ficou redu-zida. Tivemos dificuldade de dispor a banda e o ce-nário, mas a maior e mais chocante diferença foi em relação à disposição da plateia após a reforma”, reclama Carlos.

A plateia se dividiu em duas. No centro, um corredor serve de entrada e saída. “Isso trouxe significativas mu-danças na logística do nosso espetáculo, pois agora havia duas platei-as. Além da movimenta-ção do publico ter difi-cultado”, disse o regente. (Paulo Renato Abreu)

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#Data: 20140414 #Clichê: Primeiro #Editoria: Vida & Arte
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#Autor: Paulo Renato Abreu #Crédito: Sara Maia #Observação: 15 Anos do Centro Dragão do Mar <REFORMA> <ANIVERSÁRIO> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
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#Autor: Ciro Lubliner #Coluna: Filosofia Pop
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FÁBI

O L

IMA

CENTRO DRAGÃO DO MAR15 ANOS DO

A ideia de um polo cultural que tivesse como centro o Dragão do Mar não se concretizou ao longo dos 15 anos do equipamento. Entorno ainda carece de políticas públicas

O SOM AO REDOR SÉRIE ESPECIAL.

Paulo Renato Abreu [email protected]

Caio, o mais velho dos irmãos, segu-ra a mão direita. O mais novo, Erick, vai no colo. “Eu gosto muito de vir ao Dra-

gão do Mar, principalmen-te, dia de domingo, que tem brincadeira pra crian-ça”, conta a funcionária pú-blica Paula Gomes, mãe dos meninos. O marido de Paula não acompanha a família no passeio. “Ele deixa a gente e vai para casa. Quan-do termina, eu ligo, por-que a gente não tem a se-gurança de deixar o carro por aqui”, afirma. Apesar de nunca ter sido assaltada na região, Paula diz temer, pois

sabe de “várias pessoas que já foram”.

Comemorando 15 anos neste mês, o Centro Dragão de Mar de Arte e Cultura registra ao seu redor certo vazio urbano. Ruas mal ilu-minadas, imóveis desocupa-dos, calçadas malcuidadas e paradas de ônibus isola-das são algumas das marcas do entorno. Esses proble-mas têm como consequên-cia a falta de integração entre o Dragão do Mar e ou-tros equipamentos (Estoril, por exemplo), concentração de usuários de drogas, entre tantos outros reveses.

Ainda em 1993, quando Paulo Linhares começou a pensar o centro cultural, o plano era “desapropriar os galpões e fazer ateliês, dei-

xando os artistas moran-do próximo”, afirma o ide-alizador e atual presidente do Instituto de Arte e Cul-tura do Ceará (IACC). A ideia era dinamizar toda a área vizinha ao equipamen-to para que a região virasse um polo integrado.

“Resistência”

Apesar de o plano de tra-zer a classe artística para perto não ter dado certo, com a inauguração do espa-ço, se instalaram bares, res-taurantes e boates em pré-dios próximos ao Dragão. O entorno abriga também cen-tros culturais como a Caixa Cultural e o Sesc Senac Ira-cema. E, sobretudo, abriga atos de resistência de gente que acredita ser possível tra-

SAIBA MAIS “Área tranquila” Responsável pela segurança dos arredores do Centro Dragão de Mar, o Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) garante “não ter maiores registos de problemas” na região. “Diariamente é uma área bem tranquila. Para nós não chega. Se acontece alguma coisa lá, a vítima não oficializa”, afirma o major Clairton Abreu, comandante do batalhão. O POVO solicitou junto à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) dados sobre crimes cometidos na Praia de Iracema, mas teve o pedido negado. Por meio da Assessoria de Comunicação, a SSPDS também negou a solicitação de entrevista com Servilho Paiva, secretário de segurança do Estado.

balhar e morar nos arredo-res do Dragão do Mar.

É o caso do artista visu-al Rian Fontenele que, em 2012, se instalou em um dos galpões próximos ao equi-pamento. “É uma resistên-cia, uma tentativa autônoma de formar um polo cultural, também com a intenção de requalificação urbana”, afir-ma Rian. Para o artista que mora e trabalha no galpão, “é perceptível a presença de usuários de droga” e afirma “faltar presença” dos gover-nantes e assistência que de-veria ir muito “além do po-liciamento”. Apesar disso, ele garante se sentir segu-ro e não abandona o dese-jo de ver o entorno “requa-lificado, arborizado e mais convidativo”.

ENTENDA A SÉRIE No mês em que o Centro Dragão do Mar celebra 15 anos de funcionamento o Vida & Arte dedica uma série de reportagens sobre o principal equipamento público de cultura do Estado. No dia 7, abrindo a série, tratamos das mudanças na programação que têm reanimado o espaço. No dia 14, a matéria retratou a precariedade da estrutura física. Na próxima semana, você confere detalhes sobre o Porto Iracema das Artes.

Dragão do Mar: abandono do entorno afeta o centro cultural

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#Data: 20140421 #Clichê: Primeiro #Editoria: Vida & Arte
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#Autor: Paulo Renato Abreu #Crédito: Fábio Lima #Observação: 15 Anos do Centro Dragão do Mar <POLÍTICAS PÚBLICAS> <ANIVERSÁRIO> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
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FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 21 DE ABRIL DE 2014 5

CONTINUAÇÃO DA CAPA.

Se o Dragão do Mar não “engoliu” o Poço da Draga, como temiam os moradores, também não foi capaz de atrair visibilidade e desenvolvimento para a comunidade vizinha. O diálogo segue pontual

“A grande expectativa era ‘o que seria um centro cultural’. Depois de 15 anos a gente já tem uma noção do que é arte, cinema, essas coisas”

Comerciantes se queixam da falta de diálog

Organizada há três anos, a Associação Dragões do Mar reúne donos de estabelecimentos comerciais no entorno do equipamento cultural. Além dos proprietários de casas noturnas, o grupo reúne empresas como a Advance Comunicação e a Caixa Cultural. Segundo informação divulgada pela Assessoria de Comunicação do grupo, “hoje em dia o maior desafio é encontrar uma forma de diálogo contínua e direta com o Dragão do Mar, já que, infelizmente, isso não vem acontecendo”.

A associação é encabeçada pelo Buoni Amici’s Sport Bar, Chopp do Bixiga, Kais Bar Restaurante, Órbita Bar, Cearosa e Advance. Os membros afirmam reconhecer a importância de estarem “ao lado de um dos maiores centros culturais do País”, mas lamentam “falta de integração” com o equipamento. (P.R.A.)

VIZINHOS

A Draga e o Dragão CAMILA DE ALMEIDA/ESPECIAL PARA O POVO

Poço da Draga: comunidade vizinha ao Centro Dragão do Mar, sem saneamento básico e pavimentação, conta 108 anos de existência

Lílian Cláudia Coelho, vendedora

Noélia Santos, estudante universitária

Geração de renda “Eu trabalho dentro do Dragão desde o começo, vai fazer 15 anos que eu sou cadastrada. Faço parte da ‘Galera do Dragão’, ganhei uma bata para trabalhar e fiz um curso para poder vender lá dentro. Comecei vendendo lanche, quando tem evento lá eu vendo bebida e pipoca”.

Fora da programação ”Poderia ser bem mais integrado. O pessoal daqui poderia estar bem mais presente lá no Dragão do Mar. Eu monto aqui na comunidade uma quadrilha de Festa Junina e a gente já até se apresentou lá, mas a última vez foi em 2012. A integração poderia ser bem melhor”

O Centro Dragão do Mar procura estabelecer relação com a comunidade do Poço da Draga?

CONFRONTO DAS IDEIAS

CENTRO DRAGÃO DO MAR15 ANOS DO

Enquanto o Centro Dragão do Mar co-memora 15 anos neste abril, a co-munidade Poço da Draga já completa

108 no próximo mês. “O pes-soal daqui costuma dizer que o Dragão do Mar é que é o nosso entorno, chegamos aqui primeiro”, conta Cássia Vasconcelos, rindo-se. A mo-radora da comunidade é au-xiliar de coordenação de Au-diovisual e Música no Porto Iracema das Artes - braço de formação do equipamen-to cultural. Cássia afirma haver desde a inauguração do centro “muita conversa com a comunidade”, localiza-da entre o equipamento cul-tural e a praia.

Essa “conversa”, entre-tanto, é pontual. “Fui flanelinha durante mui-tos anos. Mas agora tem muito flanelinha ladrão, tem muito roubo de carro”, reclama Ednardo Gaspar, também morador do Poço. Ele diz não ter encontrado oportunidade junto ao Ins-tituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC) – que gere o Dragão e o Porto Irace-ma, além do Centro Cul-tural Bom Jardim. Atual-mente, Ednardo conta que “melhorou de vida” ven-dendo “churrasco e birita”.

Segundo números divul-gados em 2013 pelo ONG Velaumar, o Poço da Draga abriga “mais de 505 fa-mílias”, testemunhas de um histórico de abando-no, que nem a localização privilegiada foi capaz de superar. O lugar não pos-sui saneamento básico e pavimentação. Segue sem qualquer planejamento ur-banístico, senão ameaçada por obras elaboradas para atender aos interesses do trade turístico.

“Aquela é uma comuni-dade antiga, que se fez co-munidade de pescadores e de fortalezenses antes de serem aviltados pela espo-liação imobiliária e econô-mica, fruto de um pro-cesso de urbanização que exclui”, afirma Tadeu Fei-tosa, professor do Departa-mento de Ciências da In-formação da UFC. Tendo se debruçado a analisar a região da Praia de Iracema em dissertação de mestra-do, Tadeu avalia ser pre-ciso pensar uma “agenda comum” de ações entre o Dragão do Mar e os con-juntos habitacionais, o co-mércio e outros equipa-mentos do entorno.

Um Dragão como vizinho

“Na época da constru-ção, todo mundo achava que o Dragão do Mar ia tomar conta da comuni-dade, que a gente ia ter que sair”, afirma o recre-ador Abrão Vasconcelos, morador há 25 anos. Havia também quem acreditasse que o prédio teria a forma da criatura mitológica. “A grande expectativa era ‘o que seria um centro cultu-ral’. Depois de 15 anos a gente já tem uma noção do que é arte, cinema, cultura, essas coisas”.

Abraão Vasconcelos aprendeu sua profissão no equipamento cultural. Ele

se fez recreador com o projeto Brincando e Pin-tando do Dragão do Mar, que prioriza contratação de jovens da comunidade. Tendo saído “no corte de 2006”, Abraão agora traba-lha em um hotel na Praia de Iracema.

Projetos

“O Pavilhão Atlântico hoje é de gestão do Dra-gão, pois a comunidade pediu. Lá é onde a popula-ção faz os eventos e daqui a gente fornece cursos para eles”, afirma Paulo Li-nhares, presidente do Ins-tituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC). O ges-tor diz trabalhar duas fren-tes junto ao Poço da Draga: o projeto de qualificação cultural e a construção de um centro para dependen-tes químicos.

O centro para depen-dentes ainda não tem data para ser inaugurado, mas deve ser financiado pelo Fundo Estadual de Comba-te à Pobreza (Fecop). À po-pulação, resta a esperan-ça de dias melhores. Pois, como sintetiza a moradora Cássia, “o povo do Poço é teimoso em todos os sen-tidos. Tanto por continu-ar no mesmo lugar, como por querer ser alguém na vida”. (Paulo Renato Abreu)

EM IMAGENS

1) Centro Dragão do Mar e os antigos armazéns transformados em espaços boates e outros espaços de cultura e lazer. Várias experiências ao longo dos anos fecharam, deixando vazios no entorno 2) Rua do Poço da Draga. Comunidade viu o Dragão do Mar abrir espaço entre os galpões históricos e se encravar na vizinhança . Depois outros grandes equipamentos. Os investimentos, no entanto, não contemplaram o Poço que continua sem saneamento básico 3) A histórica rua José Avelino - que guarda ainda os trilhos do antigo bonde - corta em duas partes o centro cultural e é retrato de abandono em quase toda sua extensão, com iluminação precária e calçadas quebradas

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FÁBIO LIMA

CAMILA DE ALMEIDA / ESPECIAL PARA O POVO

SARA MAIA

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#Data: 20140421 #Clichê: Primeiro #Editoria: Vida & Arte
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#Autor: Paulo Renato Abreu #Crédito: Camila de Almeida/Especial para O POVO #Crédito: Fábio Lima #Crédito: Sara Maia #Observação: 15 Anos do Centro Dragão do Mar <POLÍTICAS PÚBLICAS> <ANIVERSÁRIO> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
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#Autor: Paulo Renato Abreu <POLÍTICAS PÚBLICAS> <ANIVERSÁRIO> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
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“O Porto Iracema oferece formação a partir do que o artista participante está precisando, pois ele amadurece seu processo criativo”

CENTRO DRAGÃO DO MAR15 ANOS DO

Porto Iracema das Artes, escola do Dragão do Mar, tem cursos nas áreas de música, audiovisual, dança, teatro e artes visuais. Instituição ocupa vácuo deixado pelo antigo Instituto Dragão do Mar

NA TABA PORTO IRACEMA. FORMAÇÃO

DE IRACEMA

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escola do Dragão do s de música, audiovisual, ais. Instituição ocupa vácuo

Paulo Renato Abreu paulorenatoabreu @opovo.com.br

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breu

O jovem músico Marco Leonel Fukuda teve “grata surpresa” em julho de 2013. Foi quando descobriu que o Instituto de

Arte e Cultura do Ceará (IACC) abriria laboratórios de criação artística. “Era uma ótima oportunidade de poder encaminhar meu projeto e de-senvolver um trabalho por sete meses”, relembra. A chance parecia realmente ani-madora: os selecionados teri-am direito à formação com tu-toria de grandes mestres do País, dispondo de tempo e di-nheiro para aperfeiçoar suas propostas artísticas.

A “surpresa” que deixou Fukuda “curioso” se relevou uma experiência formativa muito maior, hoje conheci-da como Porto Iracema das Artes, escola de formação e criação do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Além dos laboratórios (música, au-

diovisual, teatro e artes vi-suais), a instituição oferece cursos técnicos (dança e mul-timídia) e básicos em diver-sas linguagens. Com um in-vestimento de R$ 11 milhões, o Porto Iracema ganhou sede em espaço reformado e devi-damente equipado na antiga Capitania dos Portos, ao lado do Dragão do Mar.

Passados sete meses desde que foi selecionado, Marco Leonel Fukuda se prepara para apresentar o show “Jor-nada de Violão e Viola”, na próxima quinta-feira. “Essa oportunidade do laboratório não é feita só dos recursos pú-blicos investidos. A médio e longo prazos, significa a inser-ção dos artistas no meio local e até nacional. É também o diálogo com os outros artistas, que será partilhado com For-taleza e outras cidades”, pon-tua Fukuda.

A apresentação do músico nesta semana faz parte da pro-gramação do aniversário de 15 anos do Dragão do Mar, período no qual serão apre-sentados os projetos desen-volvidos nos Laboratórios de

Criação do Porto Iracema. A mostra inclui quatro espetácu-los teatrais, cinco shows mu-sicais, quatro exposições de artes visuais e a apresentação de cinco projetos de séries de televisão.

“O Porto Iracema oferece formação a partir do que o artista participante está pre-cisando, pois ele amadurece seu processo criativo. Além disso, tem os cursos básicos para quem está começando e é também uma escola múltipla, que consegue criar um diálo-go entre as várias linguagens”, afirma Elisabete Jaguaribe, di-retora de formação do Porto.

Elisabete também fez parte da equipe fundadora do Insti-tuto Dragão do Mar de Arte e Indústria Audiovisual do Ceará, experiência que inspi-ra o Porto Iracema. De 1996 e 2003, o instituto formou uma geração de artistas cearenses, consolidando-se como a pri-meira grande experiência de escola voltada à profissionali-zação artística no Estado.

Continuidade?

Apesar da relevância dos

trabalhos surgidos no Insti-tuto Dragão do Mar, a esco-la formativa não se manteve. Segundo Elisabete, o institu-to só “funcionou bem por três anos”. No período em que ficou de portas abertas, so-freu grandes alterações com as mudanças de gestão na Se-cretaria da Cultura do Estado. Diante do que houve com o instituto, a dúvida logo apare-ce: como garantir a continui-dade do Porto Iracema?

“Para falar a verdade, esse é um dos grandes dramas, por-que a legitimação institucio-nal desses projetos no Ceará é muito complexa”, afirma Paulo Linhares, presidente do IACC. O gestor, entretanto, diz acreditar que “hoje o Ceará tem uma massa críti-ca” capaz de lutar pela conti-nuidade da escola. “Você vê, por exemplo, a experiência da Vila das Artes, que se mante-ve mesmo com a mudança de gestão”, diz Linhares.

Novas turmas

“Temos até o final do ano para consolidar a experiên-cia do Porto de uma forma

“Esse é um dos grandes dramas. A legitimação institucional desses projetos no Ceará é muito complexa”

que não se tenha mais retro-cessos”, planeja Elisabete. Por outro lado, a gestora lamen-ta esses dez anos de vácuo desde o fechamento do ins-tituto e a abertura do Porto, em agosto de 2013. “Se hoje o campo cultural cearense tem um alto nível, imagine se ti-vesse continuado a experiên-cia do instituto. Estaríamos numa situação de prestígio cultural enorme.” Ainda para 2014, a diretora garante um novo edital de inscrição para os laboratórios de formação para “início de maio”.

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#Autor: Paulo Renato Abreu #Observação: 15 Anos do Centro Dragão do Mar <ANIVERSÁRIO> <ESCOLA PORTO IRACEMA DAS ARTES> <CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA>
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FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 28 DE ABRIL DE 2014 5

FORMAÇÃO.

Linguagens do Porto Iracema

Nos últimos sete meses, o dire-tor teatral Gil-berto Gravonski repetiu por sete vezes a ponte

aérea Rio de Janeiro/For-taleza. O gaúcho radicado no Rio foi convidado como tutor pelo grupo cearense formado pelos atores Ari Areia, Tavares Neto e Gabi Gomes, artistas seleciona-dos para o Laboratório de Pesquisa Teatral do Porto Iracema das Artes. “O in-teressante de um laborató-rio como esse é ver a von-tade dos jovens de estar à frente de um projeto. Eles estão propondo e não só embarcando em projeto de outros”, avalia Gravonski.

O resultado do proces-so de trocas entre o dire-tor e os artistas é a peça Caio e Léo, que será apre-sentada na próxima quin-ta-feira na Mostra Especial do Porto Iracema das Artes, parte dos festejos de 15 anos do Centro Dragão do Mar.

A mostra contemplará várias linguagens - um re-flexo da diversidade que o Porto persegue -, incluin-do teatro, cinema, dança, audiovisual, música, tudo distribuído entre os labo-ratórios e cursos básicos e técnicos.

Alguns artistas, entre-tanto, questionam procedi-mentos do Porto Iracema. Para Rosa Primo, coorde-nadora do curso de dança da Universidade Federal do Ceará (UFC), ainda há uma série de indagações sobre a forma como a dança está sendo conduzida pela insti-tuição. “A meu ver, o curso técnico teve que sofrer um rearranjo para caber na es-trutura do Porto Iracema e essa estrutura me pare-

Mostra com os resultados dos cursos do Porto Iracema das Artes integra o calendário que festeja os 15 anos do Dragão do Mar a partir do dia 30

DIVULGAÇÃO

Porto Iracema ocupa sede da antiga Capitania dos Portos

Dois latino-americanos O mês de abril de 2014 ficará marcado pelas mortes de dois latino-americanos que podem ser considerados “fundamentais”: o escritor Gabriel García Márquez, (Colômbia, 1927) e o sociólogo político Er-nesto Laclau (Argentina, 1935). “Fundamental”, contudo, – devemos convir – é um termo bastante forte. Alguém que não tenha sido tocado nem pela obra de Márquez nem pela de Laclau pode, e até deve, perguntar: como assim? Ou se-ja, filosoficamente falando: fundamental para quê e como? O que, em suma, esses pensamentos fundamentam? E como se erguem es-ses ditos “fundamentos”? Uma das coisas que tanto a obra de um quanto a de outro, ca-da qual à sua maneira, parecem fundamentar é uma percepção sobre um aspecto singular dessa multiplicidade chamada Amé-rica Latina. O que parece importar em Márquez ou Laclau não é dizer ou sugerir o que essa região geográfica, cultural ou po-lítica seria “mesmo”, “na verdade”, mas sim mergulhar em cer-tas experiências desse meio ambiente para extrair dali algumas intuições que justamente as fundamentariam retrospectivamen-te, pelo que produzem, através da narratividade dos romances (Márquez) ou da conceituação política (Laclau). Duas experiências e percepções correlatas, abordadas nas obras do romancista colombiano e do sociólogo argentino, po-dem ser destacadas: a dos “pais militares da pátria” (sobretudo os ditadores) e a do “populismo”. Assim, em Márquez, encontramos o patriarca fictício Nicanor Alva-rado (O Outono do patriarca, 1975) e, em menor medida e noutro contexto, o próprio “libertador” Simón Bolívar de O General em seu labirinto (1989), como sujeitos políticos sobre os quais se concentra, de forma incontrolável e febril, o poder. Para além da figura de Bo-lívar ou dos chamados “caudilhos” da tradição hispano-americana, somos remetidos a ditadores militares emblemáticos e à destruição que causaram, como no caso dos governos do brasileiro Médici, do chileno Pinochet ou do argentino Videla, entre tantos outros. Já no caso de Laclau, somos confrontados com uma nova visão sobre o fenômeno populista (A Razão populista, 2005), essa es-tranha tendência para tantos analistas políticos, mas que soa comum para os povos latino-americanos, às vezes até mesmo convergindo com a própria questão do patriarca de Márquez. É assim que se misturam patriarcas e populistas em figuras como as de Getúlio Vargas (Brasil) ou Juan Perón (Argentina), ainda com todas as diferenças que os separam.

O que parece fascinar em Márquez e Laclau é a maneira pela qual eles extraem da história latino-americana algo que a excede

Não se trata tanto de concordar ou discordar de Márquez com sua imagem patética do patriarca político como uma quase fatalidade latino-americana, e tampouco de Laclau com sua abordagem positiva do populismo – positiva tan-to no sentido do reconhecimento de sua singularidade co-mo construção política quanto no sentido de enxergá-lo co-mo um modo de buscar ou garantir algum nível de demo-cracia. Trata-se, de maneira mais simples e produtiva, de acompanhar cada uma das intuições desses autores como visões sobre algo que vai muito além da história da Améri-ca Latina com suas vicissitudes. Trata-se de tentar ver para onde essas intuições podem apontar. É essa “fundamenta-ção” que está efetivamente em jogo. Enfim, o que parece fascinar em Márquez e Laclau é a ma-neira pela qual eles extraem da história latino-americana al-go que a excede, permitindo que o meio mostrado e analisa-do possa se tornar outra coisa, diferente do que parece ser. Seria, talvez, a realização do voto oswaldiano (de Oswald de Andrade, 1890-1954): mergulhar no nosso local “deglutindo” suas condições de formação para fazê-lo brotar transmutado, transfigurado, antropofagizado. Tanto Márquez quanto Laclau o fizeram, embora suas res-pectivas obras não necessariamente coincidam nem se redu-zam a questões do continente onde nasceram. Laclau, inclusi-ve, partiu para a Inglaterra no final dos anos 1960 e não mais retornou, dedicando-se a temas comuns a histórias políticas bem distintas da saga latino-americana, já ao lado de sua mu-lher, Chantal Mouffe (assim, Hegemonia e estratégia socialis-ta: para uma política democrática radical, 1985). Pouco importa. De um jeito ou de outro, esses dois latino-ameri-canos parecem fazer emergir uma América Latina sempre passível de recriação, seja nas entrelinhas de um romance “realista mági-co” (Márquez), seja nas bordas de uma análise política (Laclau).

Esta coluna é publicada às

segundas

Filosofia [email protected]

POR PAULO ONETO

Diferenças entre o Porto Iracema das Artes e o Instituto Dragão do Mar de Cultura

Nos anos 1990, o Instituto Dragão do Mar foi pensado para, junto com o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, reestruturar a política cultural do Ceará. O sociólogo Paulo Linhares, então secretário da Cultura na gestão do governador Ciro Gomes, idealizou o projeto que pretendia transformar o Estado em polo nacional de produção cultural. A experiência é retomada agora pelo Porto Iracema das Artes.

Elisabete Jaguaribe, diretora de formação do Porto Iracema e uma das fundadoras do Instituto Dragão do Mar, afirma, porém, que a nova experiência tem dinâmica totalmente atualizada. Entre as diferenças, Elisabete aponta a existência dos laboratórios, que “aperfeiçoa o artista a partir das necessidades dele”.

Diferentemente dos cursos do instituto - que ofereceu

inicialmente 156 cursos voltados para a formação básica de artistas, técnicos e produtores -, o Porto Iracema oferece também formação direcionada para artistas já iniciados . A diretora destaca também as bolsas em dinheiro recebidas pelos artistas que compõe esses percussos formativos.

Silas de Paula foi o último diretor do Instituto Dragão do Mar. O O fotógrafo assumiu o cargo no início dos anos 2000. Para Silas, o projeto do Porto Iracema é “muito importante”, mas sugere que o Porto não conseguirá “atingir a mesma dimensão do anterior” (Instituto).

Segundo ele, por mais que tenha os mesmos idealizadores do antigo equipamento, o Porto também depende de outros fatores, como um “Governo que já demonstrou que arte e cultura não são tão importantes”. (Paulo Renato Abreu)

DOIS PORTOS

RESUMO DA SÉRIE

Na série especial “15 anos do Centro Dragão do Mar”, o Vida&Arte discutiu aspectos que envolvem o maior centro cultural do Estado. Ao longo de todo o mês de abril, a série abordou a agenda cultural renovada, infraestrutura e entorno degradados e a retornada do processo de formação.

CENTRO DRAGÃO DO MAR15 ANOS DO

ce frágil, sobretudo quan-do visualizamos uma pos-sível mudança de gestão em breve”, analisa. O Curso Técnico em Dança existe há oito anos e foi incorpora-do ao Porto no ano passado.

Rosa cobra “clareza do aporte financeiro e de re-conhecimento técnico” do curso. A bailarina e pes-quisadora afirma que, his-toricamente, a dança foi sendo negligenciada por falta de “gestões sensíveis” à linguagem, citando como exemplo positivo a propos-ta construída na Vila das Artes, equipamento da Pre-feitura de Fortaleza.

Outro problema é men-cionado por Silas de Paula. O fotógrafo e professor universitário diz ser neces-sário, ao pensar a forma-ção, ouvir os interessados “em mudanças qualitativas e não só em seus projetos pessoais”.

Silas afirma que, a cada começo de gestão cul-tural, é sugerido diálo-go com a classe artística, mas, “quando o políti-co assume, esquece tudo”. (Paulo Renato Abreu).

Primeira reportagem da série especial “15 anos do Dragão do Mar”, “O Ano do Dragão” discutiu a revitalização da programação do centro cultural. “Dragão Despedaçado” demonstrou que, apesar dos avanços, antigas mazelas persistem no centro. Na sequência, “O Som ao Redor” radiografou a precariedade do entorno do Dragão. Na quarta e última parte, publicada hoje, a série conclui apresentando o Porto Iracema das Artes, que retoma os processos formativos no Estado após o fim do Instituto Dragão do Mar.

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