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PATERNIDADE BIOLÓGICA X PATERNIDADE SOCIOAFETIVA BIOLOGICAL PATERNITY X PARTNER AFFECTIONE PATERNITY Viviane Cristina Rodrigues Cavallini RESUMO O estudo trata dos novos rumos e pilares do direito de família, principalmente após o advento da Constituição Federal de 1988. Para tanto, traçou-se a evolução do direito de família destacando-se a questão da despatrimonialização e da desbiologização. Procurou-se introduzir o leitor nos conceitos de paternidade biológica e de paternidade socioafetiva. Também, disserta-se sobre o valor jurídico do afeto e o princípio da afetividade como norteador do moderno direito de família, enfatizando-se a posição moderna da prevalência do afeto sobre os laços consangüíneos. A filiação socioafetiva é fruto do amor, do afeto e não da consangüinidade. Não precisa decorrer de uma gravidez. Ainda, ressaltou-se o caso do menino Sean, envolvendo a disputa de sua guarda entre o pai biológico e o seu padrasto (pai socioafetivo). PALAVRAS-CHAVES: FAMÍLIA. PATERNIDADE. SOCIOAFETIVIDADE. DESBIOLOGIZAÇÃO. ABSTRACT The study treat of the new ways and law pillars of family, especially after the advent of the federal constitution of 1988. Thus, it is traced the evolution of family law including detached the question about unpatrimony and fron unbiological of the Law family. Looked to introduce the reader at the biological paternity concept and partner affectione paternity. Also, discourse on the legal value of love and affection principle as a guiding of the modern law of the family, emphasizing to the position of the modern prevalence of consanguineous affection on the links. The partner affection membership is the fruit of love, of affection and not of consanguinity. No need for an ongoing pregnancy. At Last, brought to emphasis the case of Sean Boy, involving the quarrel of his guard among biological father and his father in law. KEYWORDS: FAMILY. PATERNITY. PARTNER AFFECTION. UNBIOLOGICAL. INTRODUÇÃO 4013

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PATERNIDADE BIOLÓGICA X PATERNIDADE SOCIOAFETIVA

BIOLOGICAL PATERNITY X PARTNER AFFECTIONE PATERNITY

Viviane Cristina Rodrigues Cavallini

RESUMO

O estudo trata dos novos rumos e pilares do direito de família, principalmente após o advento da Constituição Federal de 1988. Para tanto, traçou-se a evolução do direito de família destacando-se a questão da despatrimonialização e da desbiologização. Procurou-se introduzir o leitor nos conceitos de paternidade biológica e de paternidade socioafetiva. Também, disserta-se sobre o valor jurídico do afeto e o princípio da afetividade como norteador do moderno direito de família, enfatizando-se a posição moderna da prevalência do afeto sobre os laços consangüíneos. A filiação socioafetiva é fruto do amor, do afeto e não da consangüinidade. Não precisa decorrer de uma gravidez. Ainda, ressaltou-se o caso do menino Sean, envolvendo a disputa de sua guarda entre o pai biológico e o seu padrasto (pai socioafetivo).

PALAVRAS-CHAVES: FAMÍLIA. PATERNIDADE. SOCIOAFETIVIDADE. DESBIOLOGIZAÇÃO.

ABSTRACT

The study treat of the new ways and law pillars of family, especially after the advent of the federal constitution of 1988. Thus, it is traced the evolution of family law including detached the question about unpatrimony and fron unbiological of the Law family. Looked to introduce the reader at the biological paternity concept and partner affectione paternity. Also, discourse on the legal value of love and affection principle as a guiding of the modern law of the family, emphasizing to the position of the modern prevalence of consanguineous affection on the links. The partner affection membership is the fruit of love, of affection and not of consanguinity. No need for an ongoing pregnancy. At Last, brought to emphasis the case of Sean Boy, involving the quarrel of his guard among biological father and his father in law.

KEYWORDS: FAMILY. PATERNITY. PARTNER AFFECTION. UNBIOLOGICAL.

INTRODUÇÃO

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O direito é uma ciência criada para reger as relações entre os homens e como tal não pode permanecer alheia aos anseios e as transformações da sociedade, sendo portanto mutável.

A família é um dos institutos do direito que mais sofreu alterações nas últimas décadas, principalmente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, quando se positivou os novos tipos de família, bem como a sua proteção jurídica, rompendo-se com a antiga idéia de que esta estava alicerçada no patrimônio passando a admitir o afeto como o suporte do novo conceito de família. Passou a não ser mais permitida a discriminação entre os filhos havidos ou não na constância do casamento, bem como o incentivo e a facilidade de se converter a união estável em casamento.

A partir de então, novos conceitos surgiram como o de família socioafetiva, paternidade socioafetiva e filiação socioafetiva, nascendo também dúvidas jurídicas acerca dessas novas matérias e relações jurídicas. A título de reflexão, lança-se a seguinte pergunta: Entre a paternidade biológica e a socioafetiva, qual delas deve prevalecer?

Durante muito tempo a família foi vista apenas como a reunião de pessoas que possuíam o mesmo sangue, ou seja, para ser considerado membro de uma família deveria guardar com esta laços consangüíneos ou então relação de conjugalidade, que era a existente entre o marido e a esposa. Admitia apenas a família constituída através de um casamento civil e os filhos legítimos advindos desta união, relegando à própria sorte as uniões estáveis, os concubinatos e a prole extramatrimonial.

O próprio Código Civil do início do século XX (1916) reconhecia apenas a família instituída pelo matrimônio, ignorando todas as demais nuances que poderiam ocorrer, trazendo tratamento diferenciado aos filhos legítimos - concebidos na constância do casamento -, dos ilegítimos - concebidos à margem do casamento - (artigos 377 e 1605, §1º, ambos do Código Civil de 1916). A família era exclusivamente vista como uma comunidade de sangue, além de ser patriarcal e hierarquizada. Esta família patriarcal denominada de tradicional ou nuclear, era composta de pai, mãe e filhos legítimos, ou seja, de sangue.

Nesta época não havia qualquer preocupação pessoal ou sentimental com relação à nova família que se estava formando, muito menos com os seus membros. O que se privilegiava era o casamento dando continuidade àquela família, ou seja, fazendo-se perpetrar o sobrenome da família nas próximas gerações. Alguns casamentos eram "arranjados" pelos pais dos nubentes e pouco importava a vontade dos noivos, mas sim, os interesses das famílias em se unirem.

Infelizmente o legislador de 1916 (Código Civil) inverteu a importância do valor da pessoalidade e do patrimônio, deixando este último em evidência. Contudo, essa proteção ao patrimônio se mostra desatualizada com a estrutura familiar atualmente encontrada, vez que a maioria das famílias brasileiras são compostas de pessoas de baixo poder aquisitivo onde o patrimônio jamais de concretizará.

Na segunda metade do século XX, este pensamento patrimonialista, tradicionalista e patriarcal começa a ser visto em segundo plano e as pessoas iniciam uma preocupação muito maior com o seu bem estar do que com o seu patrimônio. Este fenômeno chama-se despatrimonialização ou repersonalização [1]. Nos anos 60 houve a revolução sexual

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com a chegada da pílula anticoncepcional [2], marco histórico para as mulheres, que poderiam usufruir do prazer sexual sem a obrigatoriedade da procriação podendo realizar o planejamento familiar. Esta década e as seguintes romperam barreiras até antes intocáveis, permitindo-se a valorização do amor e do afeto contra o patrimônio.

A partir de então as pessoas se uniriam a quem se assemelhassem afetivamente. O amor e a afetividade ocupam o lugar que por muito tempo foi do patrimônio. Nitidamente verifica-se um divisor de águas antes inimaginável nas relações familiares. Houve o "aprimoramento de relações sinceras e emocionalmente concatenadas. O elemento afetivo é atomizado" [3]. Ressalta Grisard Filho que ocorreu a superação do paradigma da família patriarcal, fundamentada no princípio da dignidade da pessoa humana de cada um de seus membros, ocorrendo a maximização do afeto, permitindo que as uniões fossem feitas por desejos e laços de afetividade [4].

É nítido que o caráter patrimonial arraigado no Código Civil de 1916 também se transportou para o de 2002, contudo, em menor proporção, uma vez que este último traz inserções sobre o amor e o afeto quando trata da filiação não biológica (artigo 1593, do Código Civil). A Carta Magna de 1988 também é importantíssima para o chamado caráter da despatrimonialização ou repersonalização da família, vez que em seu artigo 266, § 3º, reconhece a união estável como uma família detentora de todos os direitos e obrigações da família legalmente constituída pelo casamento. "O direito de família deve ser repensado e construído em bases mais reais para entrar em sintonia com os valores deste fim de século, que apontam para a realização da pessoa pelo que ela é e não pelo que tem" [5].

A partir de então a família começou a ser encarada como uma "relação de mútua assistência", guardando relação direta com o princípio da solidariedade. Verifica-se "uma noção de família mais democrática" [6]. "Não existe mais espaço para uniões formalmente sustentadas pela infelicidade pessoal dos seus membros. A afetividade é refratária à hipocrisia" [7].

Destacam-se as palavras de Grisard Filho que se encaixam perfeitamente no desfecho ora estudado:

Neste sentido se diz que a família é convivência orientada pelo princípio da solidariedade em função da afetividade e laços emocionais conjuntos. A família é a comunidade de vida material e afetiva de seus membros, que permite a subsistência, o desenvolvimento e o conforto deles, assim como o intercâmbio solidário, a mútua companhia, o apoio moral e afetivo para alcançar o desenvolvimento pessoal, a autodeterminação e a felicidade para cada um. Também se diz, modernamente, que a família emana de um casal permanente, estável, comprometido, de união voluntária e amorosa, que cumpra a função de proteger seus componentes e os transforme para seus tratos com a sociedade [8].

Ressalta Rodrigo da Cunha Pereira que:

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Nunca é demais repetir que é justamente aí, na família, que residem, nascem e morrem todas as questões mais fundamentais do ser humano. É aí que se funda e estrutura-se o sujeito [9].

Hodiernamente a família está unida por laços de amor e de afeto e não por laços patrimoniais. O caráter patrimonial foi renegado ao segundo plano deixando o pódium para o afeto e a amor. O alicerce da nova família não é mais o patrimônio, mas sim os laços afetivos. A família pode ter um patrimônio invejável, contudo se não houver amor e afetividade entre os seus membros ela está fadada ao fracasso.

1. CONCEITO DE FILIAÇÃO

Filiação é o liame que existe entre ascendente e descendente, em linha reta de primeiro grau, podendo ser consangüíneo ou não, não havendo necessidade da união sexual, vez que também pode ser decorrente de inseminação artificial homóloga e heteróloga -fecundação in vivo-, de implantações de embriões homólogos e heterólogos -fecundação in vitro-, bem como de adoção[10].

Ana Cláudia Silva Scalquette assegura que:

Filiação é a relação de parentesco em linha reta de primeiro grau que se estabelece entre pais e filhos, seja essa relação decorrente de vínculo sangüíneo ou de outra origem legal, como no caso de adoção ou reprodução assistida com utilização de material genético de pessoa estranha ao casal [11].

Em igual sentido, Paulo Luiz Netto Lôbo afirma que filiação é:

A relação de parentesco que se estabelece entre duas pessoas, uma das quais nascida da outra, ou adotada, ou vinculada mediante posse de estado de filiação ou por concepção derivada de inseminação artificial heteróloga [...] Sob o ponto de vista do direito brasileiro, a filiação é biológica ou não biológica. Por ser uma construção cultural, resultante da convivência familiar e da afetividade, o direito a considera como um fenômeno socioafetivo, incluindo a de origem biológica, que antes detinha a exclusividade [12].

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Filiação traduz-se no elo que há entre pai-mãe e filho, sendo biológico ou afetivo, não tendo exigência da união sexual, permitindo-se sua concretização através da adoção, inseminação artificial e implantação de embriões.

1.1. FILIAÇÃO BIOLÓGICA

Filiação biológica é aquela em que o filho carrega a carga genética de seu pai e de sua mãe. É derivada da identificação genética entre pai/mãe e filho. É aquela onde há a efetiva participação de um homem e de uma mulher, através da união sexual, ou então, apenas de seu material genético (inseminação artificial homóloga e heteróloga -fecundação in vivo- e ainda través da implantação de embriões -fecundação in vitro-), sendo sempre decorrente de uma gravidez. Em todos os casos haverá o material genético de ambos ou de apenas um dos pais, sendo certo que esta filiação será sempre biológica.

Segundo Luiz Edson Fachin "a paternidade biológica vem pronta sobre a filiação; elo inato, indissolúvel, não raro impenetrável" [13]. Ser pai sempre foi algo considerado da ordem do natural e da ciência. É da natureza do homem o ato de procriar.

A paternidade biológica pode ser reconhecida de forma espontânea ou através de ação de investigação de paternidade, chamada de paternidade jurídica, ou seja, imposta pela lei. Nestes casos a filiação é imposta a quem nem sempre é o pai, havendo uma insegurança jurídica, vez que a identidade genética é um direito do ser humano e está inserido no rol dos direitos da personalidade.

1.2. FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

A filiação socioafetiva é fruto do amor, do afeto, mas não da consangüinidade. A relação de filiação não precisa decorrer de uma gravidez onde há a participação efetiva do pai e da mãe, mas sim tem que haver a identificação da criança como filho pelos seus pais, bem como a aceitação pela criança de que é filho de sua mãe e de seu pai. "A importância jurídica do afeto, como construtor de vínculos entre as pessoas, criou essa nova forma de parentesco civil. A filiação socioafetiva é construída na convivência afetuosa entre pais e filhos não biológicos"[14]. "Não se adquire com o nascimento, mas com o convívio, com o cuidado, com o morar junto aprendendo a amar e a se conhecer" [15]. "Ela não é um dado e sim um construído" [16] e [17]. "É o princípio da convivência familiar" [18].

Para José Sebastião de Oliveira "a família só tem sentido quando unida pelos laços de respeito, consideração, amor e afetividade. Inexistentes estes atributos, o que existe é um mero 'elo de direito, sem vinculação fática' " [19].

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Luiz Edson Fachin tece alguns comentários sobre a filiação socioafetiva:

A descendência genética é assim um dado; a filiação socioafetiva se constrói; é mais: uma distinção entre o virtual e o real. A paternidade biológica vem pronta sobre a filiação; elo inato, indissolúvel, não raro impenetrável. Ao reverso, a relação paterno-filial socioafetiva se revela; é uma conquista que ganha grandeza e se afirma nos detalhes [20].

Situa-se no passado o pensamento de que a filiação biológica guardava superioridade. Antes mesmo da Constituição de 1988, através da doutrina e da jurisprudência a ciência do direito começou a interpretar e valorizar o afeto, atribuindo-se relevância aos laços afetivos em detrimento dos biológicos. O direito passou a se interessar em tutelar as relações de afeto realmente existentes no lugar de se proteger as relações biológicas onde muitas vezes não havia qualquer identificação entre a criança e o seu genitor (pai ou mãe).

Segundo José Sebastião de Oliveira: "mais valem filhos felizes com pessoas (pais socioafetivos) que lhes dêem a real dimensão do que é ser filho e do que é ser tratado como tal, do que estar ligado jurídica e biologicamente a um verdadeiro vácuo de sentimentos" [21].

Os filhos não reconhecem seus pais apenas porque guardam com eles o mesmo material genético, o mesmo sangue. Respeitam-os e assim os reconhecem pelo fato de entre eles existir relação de afeto, carinho, respeito, dependência, independente de laços de sangue. O que importa para um indivíduo não é a carga genética que carrega, mas sim "que alguém ocupe, em seu imaginário, o lugar simbólico de pai e de mãe, que é dado pelas funções exercidas em suas vidas" [22]. A esta família dá-se o nome de família sociológica, ou seja, fundada no afeto [23].

"Enquanto existir affectio, haverá família (princípio da liberdade), e desde que consolidada na simetria, na colaboração, na comunhão não hierarquizada (princípio da igualdade)" [24]. Aqui se visualiza o fenômeno da repersonalização ou despatriomonialização que são os novos moldes do direito de família.

"Para a configuração do amor e da dedicação, não há necessidade da ligação de sangue, o sentimento de estima e consideração pelos semelhantes pode ocorrer em função da própria coexistência, que oportuniza o conhecimento e a afeição" [25]. "O estado de filiação deriva da comunhão afetiva que se constrói entre pais e filhos, independentemente de serem parentes consangüíneos" [26]. O ideal seria que a filiação consangüínea correspondesse à filiação socioafetiva, contudo, nem sempre isto é possível.

1.2.1. CONSTRUÇÃO DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

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Para que haja a comprovação da filiação socioafetiva é necessário a posse de estado de filho, o que lhe garante os mesmos direitos da filiação natural, ante o princípio da isonomia entre os filhos, garantido constitucionalmente no artigo 227, § 6º. A posse de estado de filho é a "situação fática na qual uma pessoa desfruta do status de filho em relação a outra pessoa, independentemente dessa situação corresponder à realidade legal [...] para constituir-se deve ser contínua e notória" [27].

O estado de filiação significa a externalização da convivência familiar e do afeto/afetividade [28]. Não é expresso em lei, sendo formado por três elementos defendidos pela doutrina e pela jurisprudência para a sua caracterização, com sendo o nome, o trato e a fama [29].

O requisito do nome se assinala pelo uso do nome de família (sobrenome/patronímico) do pai e/ou da mãe, pelo filho.

O trato se traduz na forma como o filho é tratado por seus pais, se é provido de educação, vestuário, alimentação, assistência moral e intelectual, ou seja, se realmente é tratado como filho e se trata os pais como tal, se os reconhecem como sendo seus pais.

O elemento da fama diz respeito a como esta pessoa é vista na sociedade, se as pessoas a enxerga como sendo filho de seus pais [30], ou seja, a imagem que transpassa às pessoas.

Paulo Luiz Netto Lôbo tece comentários sobre o estado de filiação:

A aparência do estado de filiação revela-se pela convivência familiar, pelo efetivo cumprimento pelos pais dos deveres de guarda, educação e sustento do filho, pelo relacionamento afetivo, enfim, pelo comportamento que adotam outros pais e filhos na comunidade em que vivem. De modo geral a doutrina identifica o estado de filiação quando há o tractus (comportamento dos parentes aparentes: a pessoa é tratada pelos pais ostensivamente como filha, e esta trata aqueles como seus pais), nomen (a pessoa porta o nome de família dos pais) e fama (imagem social ou reputação: a pessoa é reconhecida como filha pela família e pela comunidade; ou as autoridades assim a consideram) [31].

Luiz Edson Fachin também cuidou da posse de estado de filho:

Se o liame biológico que liga um pai a seu filho é um dado, a paternidade pode exigir mais do que laços de sangue. Afirma-se aí a paternidade socioafetiva que se capta juridicamente na posse de estado de filho. Embora não seja imprescindível o chamamento de filho, os cuidados na alimentação e na instrução, o carinho no

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tratamento, quer em público, quer na intimidade do lar, revelam no comportamento a base da paternidade [32].

E mais:

Pai também é aquele que se revela no comportamento cotidiano, de forma sólida e duradoura, capaz de estreitar os laços de paternidade numa relação socioafetiva, aquele, enfim, que, além de emprestar o nome de família, o trata como sendo verdadeiramente seu filho perante o ambiente social [33].

Para a caracterização da posse de estado de filho não há necessidade da cumulação dos três requisitos (nome, trato e fama) vez que o uso do nome de família do pai e/ou da mãe é elemento dispensável, portanto não obrigatório. Basta a presença do trato e da fama para que se tenha caracterizado o estado de filiação [34].

Para Magda Guadalupe dos Santos:

Ungido pela dimensão do tempo, o direito assenta-se, pois, no estatuto simbólico da afeição, reconhecendo como pai aquele que durante uma vida soube proteger e zelar pelo filho, ensejando-lhe o acesso à sociabilidade, com ele repartindo seus projetos, construindo seu olhar sobre o mundo, dando-lhe seu nome e seu apreço. Reconhece-se àquele que registra, educa, ama e protege uma criança o direito de ser nomeado Pai de seu filho[35].

Esta filiação obrigatoriamente está alicerçada nos pilares do amor e do afeto, vez que por muitas vezes o filho não guarda qualquer relação genética com os pais. Sua trajetória construtiva está calcada no afeto/afetividade desdobrando-se e materializando-se no tratamento da criança como seu filho, cuidando de sua educação, alimentação, vestimentas, orientações, formação moral e intelectual, independentemente da origem biológica, no modo pelo qual esta criança e seus pais serão reconhecidos perante a sociedade (fama), e em caráter não obrigatório pela utilização do nome de família dos pais pela criança.

2. DO VALOR JURÍDICO DO AFETO

De acordo com a evolução familiar verificou-se na Introdução que a base da família moderna não é mais o patrimônio nem os laços sangüíneos, mas sim os laços afetivos. Para que as pessoas se unam e formem uma família não há mais a exigência de que haja

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o casamento civil muito menos de que os filhos sejam decorrentes desta união, vez que estão atados pelos nós do afeto, do amor e não pelos de sangue. Quando não há mais afeto, a viga mestre do relacionamento familiar se esvai e as pessoas se desunem, abalando a estrutura da família. "Não havendo mais afetividade, não existe razão para manutenção, aos olhos da sociedade, de uma estrutura meramente formal e vazia de fundamento" [36].

Definir o que seja afetividade e afeto não é tarefa fácil ao operador do direito. Para tanto se busca o conceito na psicologia e na sociologia, emprestando-os ao direito. Segundo o dicionário, afeto vem a ser "sentimento benévolo e terno para com alguém; amor; amizade; ternura; simpatia" e afetividade é "qualidade de afetivo; conjunto dos fenômenos afetivos; faculdade individual de experimentar ou ser afetado pelo prazer ou pela dor" [37].

Giselle Câmara Groeninga explica o que vem a ser afeto:

Os afetos são o equivalente da energia psíquica, dos impulsos, dos desejos que afetam o organismo e se ligam a representações, a pessoas, objetos, significativos. Transformam-se em sentimentos e dão um sentido às relações e, ainda, influenciam nossa forma de interpretar o mundo.

[...]

Os afetos podem estar em maior ou menor sintonia com o pensamento e com a realidade externa ou dele dissociados. Por todas essas razões, cabe integrar ao conhecimento o conhecimento afetivo sobre o conhecimento [38].

O vernáculo amor não é considerado um termo técnico jurídico, contudo, com o passar dos anos passou a ter a proteção e o reconhecimento jurídico devidos, tendo valor jurídico, uma vez que as relações familiares são por ele sustentadas [39].

Atualmente os filhos não reconhecem seus pais apenas porque guardam com eles o mesmo material genético, o mesmo sangue. Respeitam-os e assim os reconhecem pelo fato de entre eles existir relação de afeto, carinho, respeito, dependência, independente de laços de sangue.

Para a afetividade pouco importa a origem genética dos indivíduos, tanto verdade que por diversas vezes percebe-se que amigos, que não guardam qualquer laço de sangue entre si, identificam-se muito mais, do que as pessoas da própria família consangüínea. "Para a configuração do amor e da dedicação, não há necessidade da ligação de sangue, o sentimento de estima e consideração pelos semelhantes pode ocorrer em função da própria coexistência, que oportuniza o conhecimento e a afeição" [40].

A própria Constituição Federal em seus artigos 226, § 3º e 227, § 6º reconhece o afeto e a convivência familiar como sendo o elo entre os membros de uma família em detrimento da origem genética e patrimonial não permitindo qualquer discriminação

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com relação aos filhos e facilitando a conversão da união estável em casamento [41]. Aqui a Constituição reconhece o princípio da solidariedade entre seus membros. "Corolário da dignidade da pessoa humana tem-se o princípio da solidariedade, o qual enfeixa as relações familiares e como tal serve de base fundante ao chamado fenômeno da repersonalização" [42].

3. DO AFETO COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Direitos fundamentais são os direitos dos seres humanos reconhecidos e positivados na Constituição Federal. São os direitos de mais valor, de existência em si. São os direitos de primeira geração, como por exemplo, a vida, a integridade física, a liberdade.

Afirma Sérgio Resende de Barros que "não é possível pensar outros direitos fundamentais sem pensar na família" [43]. Acredita que o direito à vida, à integridade física, à liberdade, dentre outros, "dão fundamento ao direito à família e remetem ao recinto familiar - o lar -, onde eles se realizam mais efetivamente, desde que envolvidos e amparados pelo afeto" [44].

Ainda, destaca:

Tendo por epicentro o afeto e por centro o lar por ele constituído e mantido, os direitos humanos familiais - tanto o direito fundamental à família, quanto os direitos operacionais da família - não mais podem ser recusados a nenhuma outra forma de entidade familiar que exista na sociedade brasileira.

[...]

Jamais devem cessar, mas sempre acelerar o seu evoluir, de modo que o direito de família brasileiro seja sempre - não só o mais humano dos direitos - como também o mais humano dos direitos humanos [45].

O direito fundamental à família tem como viga mestra o direito ao afeto, ou seja, ao amor, tendo como teto/cobertura o direito ao lar.

4. DA AFETIVIDADE COMO PRINCÍPIO

O vernáculo princípio origina-se do latim principium ou principiu, que significa momento em que alguma coisa tem origem; início; começo; causa primária; matéria

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constitutiva; agente natural; razão; base; regra que se funda num juízo de valor e que constitui um modelo para a ação; regra; lei fundamental; preceito moral; máxima; sentença [46].

Celso Antônio Bandeira de Mello define princípio como:

Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhe o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, precisamente porque define a lógica e a racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhe a tônica que lhe dá o sentido harmônico [47].

Depreende-se que princípio nada mais é do que a base, a viga mestra, o pilar de sustentação de um modelo, de um padrão, alicerçado num juízo de valor, axiológico.

No campo do direito, princípios são normais gerais, fundamentais e abstratas, que exprimem valores, constituindo-se em indicadores para as regras nas quais se estendem. Na esfera jurídica, princípios são conjecturas normativas basilares, de caráter geral, codificadas ou não, que revelam os valores fundamentais do sistema jurídico, orientam e condicionam a aplicação do direito [48].

Sendo assim, verifica-se que é o princípio que sustenta um determinado sistema. Conforme se verificou acima, modernamente as famílias estão calcadas no afeto. Desta forma pode-se afirmar que a base, a viga mestra da família é o afeto, sendo a afetividade o seu princípio.

A priori, é difícil de aceitar que a afetividade seja princípio, uma vez que a mesma não consta literalmente no texto constitucional. Contudo, referida expressão é encontrada de forma tácita no texto constitucional, quando menciona o reconhecimento da união estável (artigo 226, § 3º) e prega a igualdade entre os filhos (artigo 227, § 6º).

Maria Berenice Dias reconhece a afetividade como princípio:

A família e o casamento adquiriram um novo perfil, voltados muito mais a realizar os interesses afetivos e existenciais de seus integrantes.

[...]

A comunhão de afeto é incompatível com o modelo único, matrimonializado da família. Por isso, a afetividade entrou nas cogitações dos juristas, buscando explicar as relações familiares contemporâneas.

[...]

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A teoria e a prática das instituições de família dependem, em última análise, de nossa competência em dar e receber amor. Talvez nada mais seja necessário dizer para evidenciar que o princípio norteador do direito das famílias é o princípio da afetividade [49] .

Paulo Luiz Netto Lôbo também defende o princípio da afetividade. Entende que afetividade "é um princípio, é uma norma e tem natureza normativa" [50]. Para tanto, elenca alguns fundamentos constitucionais que permitem identificar a afetividade como princípio: a) princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III); b) princípio da solidariedade (artigo 3º, I); c) princípio da convivência familiar e comunitária (artigo 227, caput); d) princípio da igualdade entre os cônjuges e entre os filhos (artigos 226 e 227, § 6º); e) a adoção como escolha afetiva (artigo 227, §§ 5º e 6º) [51].

Sem sombra de dúvidas a afetividade é o princípio basilar do moderno direito de família. As famílias estão calcadas nas bases sólidas do amor e não mais do patrimônio. Homem e mulher se unem baseados na afetividade que os sustentam. Pais e filhos se reconhecem e se aceitam reciprocamente através do elo afetivo que os ligam, muito mais fortes que os laços consangüíneos.

5. DA AFETIVIDADE COMO PARTE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Dignidade da pessoa humana é a busca de algo minimamente aceitável. É algo absolutamente impostergável, irrenunciável, inatingível. Para Immanuel Kant dignidade é tudo aquilo que não tem preço. "No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se por em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade" [52].

O princípio da dignidade da pessoa humana foi positivado pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, inciso III. É considerado o princípio dos princípios, ou então, um supraprincípio, ou ainda, valor fundamental do ordenamento jurídico [53]. González Perez afirma que a "dignidade da pessoa humana chega a ser um princípio geral do direito" [54].

Luiz Edson Fachin define dignidade da pessoa humana como sendo:

Princípio fundamental da República Federativa do Brasil. É o que chama de princípio estruturante, constitutivo e indicativo das idéias diretivas básicas de toda a ordem constitucional. Tal princípio ganha concretização por meio de outros princípios e regras constitucionais formando um sistema interno harmônico, e afasta, de pronto, a idéia de predomínio do individualismo atomista no Direito. Aplica-se como leme a todo o

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ordenamento jurídico nacional compondo-lhe o sentido e fulminando de inconstitucionalidade todo preceito que com ele conflitar [55].

O princípio da dignidade da pessoa humana garante a deferência que cada indivíduo tem que ter com o outro e isto se inicia no âmbito da família [56]. Deste princípio pode-se extrair que ao ser humano é garantido viver com dignidade. Contudo, o que seria vida com dignidade?

O princípio da dignidade humana está calcado em três grandes pilares, quais sejam: a) o direito à vida e à existência dignas, incluindo o direito à integridade física e psíquica; b) o direito à liberdade e c) o direito à igualdade ou à isonomia [57].

A vida é considerada a viga mestra do princípio da dignidade humana, vez que, é dela que se irradiam e dependem todos os demais direitos. Sérgio Resende de Barros defende que "o direito à vida implica o direito à família" [58]. Assim, compreende-se que para que uma pessoa possa ter uma vida digna é necessário que ela tenha uma família. É necessário que para que uma criança se sinta totalmente digna que ela tenha uma família que a acolha reconhecendo-a como membro dela, permitindo que ela evolua e contribua com o desenvolvimento dos seus membros. Essa criança deve estar amparada pela figura do pai, da mãe e se possível, de irmãos.

Lourival Serejo afirma que:

No Direito de Família, a dignidade da pessoa se espraia em todos os seus institutos, em toda a sua extensão, como forma de garantia e do reconhecimento da função que cada membro desempenha no seio da sua família.

[...]

A dignidade é, enfim, o respeito que cada um merece do outro, a começar no seio da própria família, onde a educação deve ser voltada para essa conscientização [59].

A terceira coluna sustentável do princípio da dignidade é o princípio da igualdade ou da isonomia, segundo o qual não se permite qualquer tipo ou espécie de discriminação ou hierarquia entre os cônjuges, bem como entre os filhos biológicos e os não biológicos. Esta igualdade é exigência do próprio princípio da dignidade da pessoa humana [60].

João Baptista Villela reflete sobre o assunto:

A família não é criação do estado ou igreja. Tampouco é uma invenção do direito como são, por exemplo, o leasing, a sociedade por cotas de responsabilidade limitada, o mandado de segurança, o aviso prévio, a suspensão condicional da pena ou o devido

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processo legal. Estes institutos são produtos da cultura jurídica e foram criados para servir a sociedade. Mas a família antecede ao estado, pré-existe a igreja e é contemporânea do direito. Pela ordem natural das coisas, não está no poder de disposição do estado ou da igreja desenhar, ao seu arbítrio, o perfil da família. O poder jurídico de um e de outra relativamente a família não pertence a ordem da atribuição. Pertence, ao contrário, a ordem do reconhecimento, pode-se observar de resto, que, ao longo da história, a autoridade intrínseca da família impõe-se aos poderes sacros e profanos com um silencioso noli me tangere! Lucy Mair registra a propósito, que nem os governos de tendência coletivista mais exacerbada chegaram a cogitar de abolir a família, ainda quando tenham enfraquecidos os laços do matrimônio e encorajado os filhos a delatar os pais por subversão política [61].

No mesmo prisma é o entendimento de Paulo Luiz Netto Lobo quando defende que "a família é concebida com base nos princípios de liberdade e igualdade: igualdade total entre os cônjuges e entre os filhos, independentemente da condição de nascimento" [62].

Como se percebe é nítida a valorização do ser humano no seio da família. Referida valorização guarda proporção direta com o princípio da dignidade da pessoa humana constitucionalmente garantido. "A proteção à pessoa, recebendo status constitucional, deve ser princípio orientador no seu tratamento em todas as esferas. A proteção aos componentes da família não constitui exceção à regra, o que conduz à sua priorização em relação ao grupo" [63]. "Impõe-se compreender família como espaço em que cada membro na condição de sujeito de direito, dotado de dignidade ocupa um lugar, ou seja, lugar de realização da dignidade das pessoas humanas" [64].

Para que se tenha dignidade humana nas relações familiares é indispensável a presença do afeto, pois caso contrário, tudo não passaria de uma família patrimonialista, tradicional, a qual já foi superada com o advento da Constituição Federal de 1988. A afetividade está arraigada ao conceito de dignidade da pessoa humana, fazendo parte do mesmo, vez que para que os homens vivam em família é exigido no mínimo laços de afeto que os unem.

Uma família que não possui laços de afeto, que está ligada apenas por questões patrimoniais ou morais possui membros com sua dignidade humana no mínimo arranhada, uma vez que não estão exercendo o princípio da liberdade e da vida digna. Atualmente a afetividade é mais um critério utilizado para se averiguar a presença do vínculo de paternidade/maternidade e é balizada no princípio da dignidade da pessoa humana.

6. DO FENÔMENO DA DESBIOLOGIZAÇÃO

O direito de família como já exposto na Introdução passou por uma radical transformação deixando o caráter patrimonialista de lado e passou a valorar o afeto

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como elo entre seus integrantes. A partir da Constituição Federal de 1988 a era da desbiologização firmou-se no direito brasileiro, significando dizer que nas relações jurídicas deve ser considerado o laço do amor, o laço afetivo e não apenas o nó genético, biológico ou registral [65].

Atualmente o afeto impera nas relações familiares, deixando de lado o caráter biológico. Hoje o que vale é a verdade do coração e não a verdade do exame de DNA. A verdade sociológica predomina sobre a genética. "A verdadeira filiação só pode vingar no terreno da afetividade, da intensidade das relações que unem pais e filhos, independente da origem biológica-genética" [66]. "A origem do vínculo é irrelevante, o que é determinante é a situação fática em si" [67].

Paulo Luiz Netto Lôbo entende que qualquer relação de filiação é socioafetiva, seja ela biológica ou não, sendo certo que "a paternidade sócio-afetiva é gênero do qual são espécies a paternidade biológica e a paternidade não-biológica" [68]. Aduz José Sebastião de Oliveira que "o ideal é uma conciliação entre o aspecto afetivo e o biológico, com prevalência para o primeiro" [69].

Como se percebe, o fator biológico realmente perdeu lugar para o socioafetivo, uma vez que a criança cria laços de afeto, segurança e respeito com quem se dedica aos seus cuidados, não medindo esforços para a sua criação e educação, partilhando com ela uma relação de amor, assistência material, lazer e carinho, mútuos.

Acerca do tema Fabíola Santos Albuquerque afirma:

[...] encontra eco no direito de família contemporâneo, comprometido com uma nova pauta principiológica e realizando a socioafetividade em detrimento dos ditames do biologismo. Vivenciamos a consolidação de novas molduras das relações familiares comprometidas com valores humanos e solidários; logo, inconcebível privilegiar os ditames do biologismo em prejuízo da afetividade das relações estabelecidas no tempo. A verdade arrogante da ciência, a qual se manifesta pelo exame de DNA, não pode ter o condão da primazia da verdade e simplesmente apagar todo um conjunto valorativo comprometido com a dignidade da pessoa humana. A diretriz perseguida é a estabilidade das relações de família [70].

O direito tem a força normativa de obrigar um pai e uma mãe biológicos a pagar pensão alimentícia aos filhos, contudo não tem o condão de obrigá-los a amar seus filhos biológicos. "O sistema jurídico é capaz de obrigar os pais biológicos à responsabilidade, mas não é capaz de impor a afetividade entre pais e filhos" [71] e [72]. O cordão umbilical biológico se rompe logo após o parto, mas o cordão umbilical do afeto e do amor, permanece interligado por toda vida, pois o filho que não é biológico, certamente foi muito mais querido e desejado do que o biológico, vez que a concepção deste, por vezes, se dá de forma acidental e não desejada.

Rolf Madaleno, em seu artigo intitulado Filhos do coração defende o fenômeno da desbiologização:

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Os filhos são realmente conquistados pelo coração, obra de uma relação de afeto construída a cada dia, em ambiente de sólida e transparente demonstração de amor à pessoa gerada por indiferente origem genética, pois importa ter vindo ao mundo para ser acolhida como filho de adoção por afeição [73].

No mesmo sentido Rodrigo da Cunha Pereira:

Lugar de pai, lugar de mãe, lugar de filhos, sem, entretanto, estarem necessariamente ligados biologicamente. Tanto é assim, uma questão de lugar, que um indivíduo pode ocupar o lugar de pai ou mãe, sem que seja o pai ou a mãe biológicos. Exatamente por ser uma questão de lugar, de função exercida, que existe o milenar instituto da adoção [74].

Depreende-se que atualmente o fenômeno da desbiologização está em destaque e já superou o caráter biológico das relações de filiação, merecendo todo o respeito e o reconhecimento pelos operados do direito, pelo fato dessas relações socioafetivas se tratarem de verdadeiras entidades familiares.

7. AFETIVIDADE E O CASO DO MENINO SEAN

Recentemente a guarda de um menino de apenas 8 anos teve repercussão internacional, vez que seu pai biológico que é americano a disputa com seu padrasto (pai socioafetivo) que é brasileiro.

A lide em testilha deve versar sobre o prisma do melhor interesse do menor, conforme dispõe o artigo 3º da Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças, da qual o Brasil é signatário.

Sean comprovadamente é muito bem cuidado pelo seu padrasto e o afeto e cumplicidade desenvolvidos entre os dois é fundamental para o reconhecimento da paternidade socioafetiva. A socioafetividade se constrói ao longo dos anos e foi justamente isto que ocorreu com Sean e seu padrasto (pai socioafetivo).

Pelo princípio do melhor interesse da criança e da dignidade da pessoa humana, é imperioso que Sean não seja retirado do seio familiar com o qual já está totalmente adaptado, sendo levado para outra Nação, onde a língua e os costumes são totalmente diferentes, bem como estaria rodeado de pessoas com a qual não guarda qualquer laço afetivo, mas apenas consangüíneo. É imprescindível que Sean fique sob a guarda e

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responsabilidade do padrasto (pai socioafetivo), primando pela supremacia da filiação socioafetiva em detrimento da filiação biológica.

Nada impede, porém, que o pai biológico e o socioafetivo realizem um acordo estabelecendo o direito de visita daquele, para que assim Sean possa resgatar o contato e o convívio com o pai biológico. Plausível também pensar na hipótese de ser incluída na sua Certidão de Nascimento o nome do pai socioafetivo, mantendo-se o nome do biológico.

O que se espera é que o menor Sean não seja mais objeto de discussões e desavenças constantes entre as famílias brasileira e a americana, uma vez que esta criança precisa de um ambiente familiar equilibrado para que possa se desenvolver com dignidade.

8. CONCLUSÃO

Com a evolução do instituto da família e sua transição do caráter patrimonial para o afetivo, chamado de despatrimonialização ou repersonalização do direito de família, o afeto alcança proporção e importância até antes desconhecidas. O afeto, o amor e o companheirismo é o que devem reger as relações familiares e não mais o patrimônio, fato este já ultrapassado.

O afeto merece reconhecimento e proteção jurídica, sendo elevado à categoria de princípio das relações familiares, fazendo parte inclusive do princípio da dignidade da pessoa humana. Ressalta-se, ainda, que a família é o lugar de realização da dignidade da pessoa humana de cada um de seus membros.

Quanto ao reconhecimento da filiação socioafetiva esta ganhou proporção após a promulgação da Constituição Federal e os tribunais pátrios têm dado a ela maior importância e reconhecimento em detrimento da filiação biológica.

O fenômeno da desbiologização tem imperado atualmente, vez que a relação de amor entre pai e filho não se impõe por um simples exame de DNA, reconhecido posteriormente por uma sentença. A relação de filiação é algo imensurável e é construída ao longo dos anos, no dia-a-dia. Trata-se de uma relação de extrema confiança que essa criança tem que ter para com quem despende carinho, amor, afeto e cuidados para com ela. Uma simples sentença, ainda que transitada em julgado, não tem o condão de atribuir o aspecto socioafetivo a uma relação de filiação.

A justiça é capaz de atribuir a paternidade a alguém, mas não é capaz de fazer este pai amar e se relacionar com o seu filho. Caso a ciência jurídica não reconhecesse a socioafetividade em detrimento da biologia, mantendo-se a paternidade apenas pelos laços consangüíneos, renegando o aspecto afetivo, certamente não estaria distribuindo justiça, mas estaria apenas disseminando filiações e paternidades decorrentes da coisa julgada.

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No caso de Sean, primando pelo princípio do melhor interesse da criança e da dignidade humano, sua guarda deve permanecer com o padrasto (pai socioafetivo), respeitando-se os laços afetivos criados entre ambos, visto que no direito de família moderno impera o fenômeno da desbiologização em detrimento de laços consangüíneos.

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[1] GRISARD FILHO, Waldyr. Famílias reconstituídas: novas uniões depois da separação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 59.

[2] LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 210.

[3] OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 243-245.

[4] GRISARD FILHO, Waldyr. Famílias reconstituídas: novas uniões depois da separação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 59.

[5] LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações familiares. In: BITTAR, Carlos Alberto (Coord). O direito de família e a Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 80.

[6] ANDRADE, Fernando Dias. Poder familiar e afeto numa perspectiva espinosana. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 372.

[7] OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 240.

[8] GRISARD FILHO, Waldyr. Famílias reconstituídas: novas uniões depois da separação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 29.

[9] PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família do século XXI. In: NAVES, Bruno Torquato de Oliveira, FIUZA, César, SÁ, Maria de Fátima Freire de (Coords.). Direito civil: atualidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 237.

[10] Neste sentido DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. V. V. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 426-427. MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. p. 147.

[11] SCALQUETTE, Ana Cláudia Silva. Família & Sucessões. São Paulo: Barros, Fisher & Associados, 2005. p. 77.

[12] LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 192.

[13] FACHIN, Luiz Edson. Da paternidade: relação biológica e afetiva. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. p. 97.

[14] PATINÕ, Ana Paula Corrêa. Direito civil: direito de família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 111.

[15] DELINSKI, Julie Cristine. O novo direito da filiação. São Paulo: Dialética, 1997. p. 34-35.

[16] DELINSKI, Julie Cristine. O novo direito da filiação. São Paulo: Dialética, 1997. p. 33.

[17] No mesmo sentido OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 256.

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[18] ALBUQUERQUE, Fabíola Santos. Adoção à brasileira e a verdade do registro civil. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 351.

[19] OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 242.

[20] FACHIN, Luiz Edson. Da paternidade: relação biológica e afetiva. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. p. 97.

[21] OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 258.

[22] PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família: uma abordagem psicanalítica. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 54.

[23] DELINSKI, Julie Cristine. O novo direito da filiação. São Paulo: Dialética, 1997. p. 34.

[24] OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 237.

[25] LIMA, Maria Aparecida Singh Bezerra de. Do sistema da filiação em razão da sócio-afetividade. In: ______. Repersonalização das relações familiares em razão da filiação socioafetiva, na perspectiva dos direitos da personalidade. 2006. f. 178-185. Dissertação (Mestrado em Ciências Jurídicas) - Centro de Ensino Superior de Maringá, Maringá. p. 185.

[26] LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 204.

[27] LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 211.

[28] LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito ao estado de filiação e direito à origem genética: uma distinção necessária. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Afeto, ética, família e o novo código civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 510.

[29] CÂNDIDO, Nathalie Carvalho. Filiação na reprodução assistida heteróloga. DireitoNet. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br:80/artigos/x/36/70/3670/>. Acesso em: 15 dez. 2008.

[30] Neste sentido DELINSKI, Julie Cristine. O novo direito da filiação. São Paulo: Dialética, 1997. p. 44. PATINÕ, Ana Paula Corrêa. Direito civil: direito de família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 111. LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 206. CÂNDIDO, Nathalie Carvalho. Filiação na reprodução assistida heteróloga. DireitoNet. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br:80/artigos/x/36/70/3670/>. Acesso em: 15 dez. 2008.

[31] LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 212.

[32] FACHIN, Luiz Edson. Da paternidade: relação biológica e afetiva. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. p. 59.

[33] FACHIN, Luiz Edson. Estabelecimento da filiação e paternidade presumida. Porto Alegre: Fabris, 1992. p. 169.

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[34] Neste sentido WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre as filiações biológica e socioafetiva. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 157. OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de direito de família. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2002. p. 50.

[35] SANTOS, Magna Guadalupe dos. Por Uma constituição simbólico-jurídica sobre o nome do pai: aspectos dos direitos de filiação e paternidade. Revista da Faculdade de Direito Milton Campos, Belo Horizonte, n. 8, p.248-249, 2001.

[36] OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 243.

[37] Dicionário on line. Disponível em <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx>. Acesso em: 25 set. 2008.

[38] GROENINGA, Giselle Câmara. Direito e psicanálise - um novo horizonte epistemológico. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Afeto, ética, família e o novo código civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 260-261.

[39] LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 208.

[40] LIMA, Maria Aparecida Singh Bezerra de. Do sistema da filiação em razão da sócio-afetividade. In: ______. Repersonalização das relações familiares em razão da filiação socioafetiva, na perspectiva dos direitos da personalidade. 2006. f. 178-185. Dissertação (Mestrado em Ciências Jurídicas) - Centro de Ensino Superior de Maringá, Maringá. p. 185.

[41] GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito civil brasileiro. V. VI. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 311.

[42] ALBUQUERQUE, Fabíola Santos. Adoção à brasileira e a verdade do registro civil. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 348.

[43] BARROS, Sérgio Resende de. Direitos humanos da família: dos fundamentais aos operacionais. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Afeto, ética, família e o novo código civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 612.

[44] BARROS, Sérgio Resende de. Direitos humanos da família: dos fundamentais aos operacionais. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Afeto, ética, família e o novo código civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 612-613.

[45] BARROS, Sérgio Resende de. Direitos humanos da família: dos fundamentais aos operacionais. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Afeto, ética, família e o novo código civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 619-620.

[46] Dicionário on line. Disponível em <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx>. Acesso em: 20 mar. 2008.

[47] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 545.

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[48] ROLIM, Luciano Sampaio Gomes. Uma visão crítica do princípio da proporcionalidade. Jus Navegandi, Teresina, ano 6, n. 56, abr. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2858>. Acesso em: 12 mar. 2008.

[49] DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 61.

[50] LÔBO, Paulo Luiz Netto. A família enquanto estrutura de afeto. In: BASTOS, Eliene Ferreira, DIAS, Maria Berenice (Coords.). A família além dos mitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 253.

[51] LÔBO, Paulo Luiz Netto. A família enquanto estrutura de afeto. In: BASTOS, Eliene Ferreira, DIAS, Maria Berenice (Coords.). A família além dos mitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 255-256.

[52] KANT, Immanuel apud NICOLODI, Márcia. Os direitos da personalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 134, 17 nov. 2003 .Disponível em: . Acesso em: 02 set. 2008.

[53] DELGADO, Mário Luiz. Direitos da personalidade nas relações de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 705.

[54] PEREZ, González apud SEREJO, Lourival. Direito constitucional da família. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 17-18.

[55] FACHIN, Luiz Edson. Estatuto jurídico do patrimônio mínimo. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 190.

[56] DELGADO, Mário Luiz. Direitos da personalidade nas relações de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 704.

[57] DELGADO, Mário Luiz. Direitos da personalidade nas relações de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 705.

[58] BARROS, Sérgio Resende de apud DELGADO, Mário Luiz. Direitos da personalidade nas relações de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 704.

[59] SEREJO, Lourival. Direito constitucional da família. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 19-20.

[60] DELGADO, Mário Luiz. Direitos da personalidade nas relações de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 716-717.

[61] VILLELA, João Baptista apud DELGADO, Mário Luiz. Direitos da personalidade nas relações de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 716-717.

[62] LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações familiares. In: BITTAR, Carlos Alberto (Coord). O direito de família e a constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 61.

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[63] POLICARPO, Douglas. A incompatibilidade da dignidade afetiva e o direito à sucessão. Uma abordagem do reconhecimento da paternidade extemporânea. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1256, 9 dez. 2006. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9257>. Acesso em: 04 set. 2008.

[64] ALBUQUERQUE, Fabíola Santos. Adoção à brasileira e a verdade do registro civil. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 348.

[65] SANTOS, Jonny Maikel. O novo Direito de Família e a prestação alimentar. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 208, 30 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/imprimir.asp?id=4740>. Acesso em: 04 set. 2008.

[66] LEITE, Eduardo de Oliveira. Procriações artificiais e o direito: aspectos médicos, religiosos, psicológicos, éticos e jurídicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 202.

[67] ALBUQUERQUE, Fabíola Santos. Adoção à brasileira e a verdade do registro civil. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 361.

[68] LÔBO, Paulo Luiz Netto. Paternidade socioafetiva e o retrocesso da súmula no. 301/STJ. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 795-796.

[69] OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 259.

[70] ALBUQUERQUE, Fabíola Santos. Adoção à brasileira e a verdade do registro civil. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 365-366.

[71] MORAES, Maria Celina Bodin de. Deveres parentais e responsabilidade civil. In: Revista Brasileira de Direito de Família, n. 31. p. 39-66.

[72] No mesmo sentido OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 255. SIMÕES, Thiago Felipe Vargas. A família afetiva - O afeto como formador de família. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=336>. Acesso em 17 mar. 2009.

[73] MADALENO, Rolf. Filhos do coração. In: Revista Brasileira de direito de família, n. 23. p. 22.

[74] PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Família, direitos humanos, psicanálise e inclusão social. In: Revista Brasileira de Direito de Família, n. 16. p. 8.