participacao popular
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Participação popular na CâmaraTRANSCRIPT
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Biblioteca Digital da Cmara dos Deputados
Centro de Documentao e Informao
Coordenao de Biblioteca
http://bd.camara.gov.br
"Dissemina os documentos digitais de interesse da atividade legislativa e da sociedade.
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CMARA DOS DEPUTADOS
CENTRO DE FORMAO, TREINAMENTO E APERFEIOAMENTO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO
Alexandro Gomes da Silva Carvalho
A PARTICIPAO POPULAR NA CMARA DOS DEPUTADOS FRENTE S
NOVAS TECNOLOGIAS
Braslia
2008
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Alexandro Gomes da Silva Carvalho
A PARTICIPAO POPULAR NA CMARA DOS DEPUTADOS FRENTE S NOVAS TECNOLOGIAS
Monografia apresentada para aprovao no curso
de Especializao em Processo Legislativo da
Cmara dos Deputados.
Orientador: Prof. Especialista Miguel Gernimo da
Nbrega Netto
Braslia
2008
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Autorizao
Autorizo a divulgao do texto completo no stio da Cmara dos Deputados e a
reproduo total ou parcial, exclusivamente, para fins acadmicos e cientficos.
Assinatura: _____________________________________
Data: _____/_____/________
Carvalho, Alexandro Gomes da Silva. A participao popular na Cmara dos Deputados frente s novas tecnologias [manuscrito] / Alexandro Gomes da Silva Carvalho. -- 2008. 87 f.
Orientador: Miguel Gernimo da Nbrega Netto. Impresso por computador. Monografia (especializao) -- Centro de Formao, Treinamento e Aperfeioamento (Cefor), da Cmara dos Deputados, Curso de Especializaoem Processo Legislativo, 2008.
1. Brasil. Congresso Nacional. Cmara dos Deputados. 2. Processo legislativo, participao social, Brasil. 3. Participao poltica, Brasil. 4. Tecnologia da informao, Brasil. I. Ttulo
CDU 342.537.4(81)
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A PARTICIPAO POPULAR NA CMARA DOS DEPUTADOS FRENTE S
NOVAS TECNOLOGIAS
Monografia Curso de Especializao em Processo Legislativo da Cmara dos Deputados 1 Semestre de 2008.
Aluno: Alexandro Gomes da Silva Carvalho
Banca Examinadora:
_______________________________________________Prof. Miguel Gernimo da Nbrega Netto Orientador
_______________________________________________Prof. Luiz Claudio Alves dos Santos Cmara dos Deputados
Braslia, .... de .......................... de 2008.
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Dedico este trabalho minha famlia, em especial esposa, Helosa, e filhas, Anna Carolina e Manuella,
por tudo que, consciente ou inconscientemente, fazem em auxlio ao meu crescimento como ser humano e
pela compreenso nos momentos de ausncia.
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A Deus, princpio de tudo.
Ao orientador Prof. Miguel Gernimo da Nbrega Netto, pelo inestimvel auxlio e pela
dedicao demonstrada.
A todos os professores e colegas.
Cmara dos Deputados e ao CEFOR por terem propiciado as condies para realizao deste curso.
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Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituio.
(Constituio da Repblica Federativa do
Brasil de 1988, art. 1, pargrafo nico)
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RESUMO
Este estudo tem como objetivo principal a reflexo quanto s formas de
participao popular proporcionadas pela Cmara dos Deputados frente s novas tecnologias.
O mtodo de abordagem utilizado foi a dialtica, e o mtodo de procedimento, a pesquisa-
ao, utilizando como fontes de informao a pesquisa documental e bibliogrfica. Dessa
forma, foram apresentados, em primeiro lugar, os pressupostos bsicos da participao
popular no Brasil e as tendncias da teoria democrtica contempornea. Em seguida, foi
realizada uma anlise sobre as novas possibilidades proporcionadas pelas Tecnologias de
Informao e Comunicao (TICs), em especial, as novas formas de agir e de participar
emergentes na sociedade da informao, nas quais as interaes e formao de organizaes e
comunidades so potencializadas. Ento, foram identificadas as principais formas de
participao popular na Cmara dos Deputados, verificando, paralelamente, como essa Casa
utiliza as TICs para provimento dessa participao por meio do Portal da Cmara. Por fim,
com o emprego de uma tipologia de graus de democracia digital, esse Portal foi analisado e
classificado.
Palavras-chave: participao popular, processo legislativo, novas tecnologias, TICs,
democracia participativa, democracia eletrnica.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1: TICs e convergncia tecnolgica. ............................................................................32
Figura 2: Mapa da excluso digital no Brasil. ........................................................................48
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Critrios utilizados na comparao de sites legislativos sul-americanos................52
Tabela 2 Sugestes recebidas na CLP no perodo de 2001 a 2007........................................58
Tabela 3 Situao das sugestes recebidas na CLP no perodo de 2001 a 2007, excludas as
relativas s leis oramentrias...................................................................................................58
Tabela 4 N de contatos realizados na Ouvidoria da Cmara 1 trim./2007.......................63
Tabela 5 Tipos de manifestao feitas junto Ouvidoria da Cmara 1 trim./2007...........63
Tabela 6 Assuntos mais abordados nas manifestaes Ouvidoria da Cmara 1 trim./
2007...........................................................................................................................................63
Tabela 7 Elementos, contedos e ferramentas caractersticos do primeiro grau de
democracia digital, localizados no Portal da Cmara dos Deputados.......................................67
Tabela 8 Elementos, contedos e ferramentas caractersticos do segundo grau de democracia
digital, localizado no Portal da Cmara dos Deputados............................................................68
Tabela 9 Elementos, contedos e ferramentas caractersticos do terceiro grau de democracia
digital, localizado no Portal da Cmara dos Deputados............................................................69
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADSL Asymmetric Digital Subscriber Line
Caixa Caixa Econmica Federal
Cege Comit Executivo do Governo Eletrnico
Cenin Centro de Informtica da Cmara dos Deputados
CLP Comisso de Legislao Participativa
CGI Comit Gestor da Internet
CPI Comisso Parlamentar de Inqurito
CRFB Constituio da Repblica Federativa do Brasil
EVDO Evolution Data Optimized
FGV Fundao Getlio Vargas
FUST Fundo de Universalizao de Servios de Telecomunicaes
GPRS General Packet Radio Service
HTML HyperText Markup Language
Internet Rede Mundial de Computadores
Ku K-under
LDO Lei de Diretrizes Oramentrias
Legin Sistema de Legislao Informatizada
LOA Lei Oramentria Anual
MPEG Moving Picture Experts Group
MPU Ministrio Pblico da Unio
NGP Nova Gesto Pblica
NPM New Public Management
ONU Organizao da Naes Unidas
PC Personal Computer
PDA Personal Digital Assistant
PDF Portable Document Format
PPA Plano Plurianual
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
Prodasen Secretaria Especial de Informtica do Senado Federal
RICD Regimento Interno da Cmara dos Deputados
Sileg Sistema de Informaes Legislativas
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SocInfo Sociedade da Informao
SMPTE Society of Motion Picture and Television Engineers
STJ Superior Tribunal de Justia
RVBI Rede Virtual de Bibliotecas
TCP/IP Transmission Control Protocol/Internet Protocol
TIC Tecnologia da Informao e Comunicao
TSE Tribunal Superior Eleitoral
Unesco Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura
VC-1 Video Codec (SMTPE 421M)
VDSL Very-high-bit-rate Digital Subscriber Line
VoIP Voice over Internet Protocol
WCDMA Wideband Code Division Multiple Access
Web World Wide Web
Wi-Fi Rede WLAN que implementa o padro IEEE 802.11
WiMAX Worldwide Interoperability for Microwave Access
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SUMRIO
INTRODUO.......................................................................................................................14
CAPTULO 1BASES DA PARTICIPAO POPULAR NO BRASIL ...................................................18
1.1 Evoluo Histrica.......................................................................................................18
1.2 Transformaes do Conceito de Democracia no Contexto de Participao Popular
......................................................................................................................................23
1.2.1 Democracia Direta ...............................................................................................23 1.2.2 Democracia Representativa...................................................................................24 1.2.3 Democracia Partidria...........................................................................................25 1.2.4 Videodemocracia...................................................................................................26 1.2.5 Democracia Virtual...............................................................................................26
1.3 Pensamento Contemporneo de Democracia Participativa ....................................28
CAPTULO 2NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO COMO FACILITADORES DA PARTICIPAO POPULAR......................................................31
2.1 Informaes Preliminares...........................................................................................31
2.2 Novas Formas de Organizao Social........................................................................34
2.2.1 Comunidades Virtuais............................................................................................342.2.2 Ativismo em Rede..................................................................................................36
2.3 Governo Eletrnico no Brasil.....................................................................................39
2.4 Possibilidades da Democracia Eletrnica..................................................................42
2.5 Graus de Participao Democrtica Digital..............................................................44
2.6 Desafios da Incluso Digital........................................................................................47
CAPTULO 3PARTICIPAO POPULAR NA CMARA DOS DEPUTADOS E AS NOVAS TECNOLOGIAS.....................................................................................................................50
3.1 Portal da Cmara dos Deputados...............................................................................50
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3.1.1 Interao com os Deputados..................................................................................523.1.2 Oramento Brasil...................................................................................................533.1.3 Transparncia.........................................................................................................533.1.4 Fale Conosco..........................................................................................................543.1.5 Conhea a Cmara..................................................................................................543.1.6 Interao Legislativa..............................................................................................553.1.7 Plenarinho..............................................................................................................55
3.2 Comisso de Legislao Participativa (CLP)............................................................56
3.2.1 Utilizao das TICs pela CLP................................................................................60
3.3 Ouvidoria Parlamentar...............................................................................................61
3.3.1 Informaes Estatsticas sobre a Ouvidoria ..........................................................623.3.2 Utilizao das TICs pela Ouvidoria.......................................................................64
3.4 Secretaria de Comunicao (SECOM)......................................................................65
3.4.1 Utilizao das TICs pela SECOM..........................................................................65
3.5 Centro de Documentao e Informao (CEDI).......................................................66
3.5.1 Utilizao das TICs pelo CEDI..............................................................................66
3.6 Anlise do Grau de Democracia Digital do Portal da Cmara dos Deputados.....67
CONCLUSO.........................................................................................................................70
REFERNCIAS......................................................................................................................76
ANEXOS..................................................................................................................................82
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INTRODUO
Este estudo trata da participao popular na Cmara dos Deputados frente s
alternativas trazidas pelas novas tecnologias de informao e comunicao. Sua abrangncia
compreende a anlise das formas de participao proporcionadas, sob o prisma do uso de
tecnologias, e das novas modalidades de atuao social.
Observa-se que a evoluo da informtica no contexto mundial tem alterado
sobremaneira a vida das pessoas, criando uma espcie de sociedade on-line que se utiliza das
novas tecnologias de comunicao disponibilizadas, especialmente, pela rede mundial de
computadores (Internet) para realizar diversas atividades, como comunicao e
relacionamento (e-mails, mensagens instantneas, participao em fruns, listas de discusso
e blogs1), cultura e educao (museus e bibliotecas virtuais, cursos a distncia, wikis2,
contedos multimdia), informao e notcias (jornais, revistas, notcias em tempo real),
entretenimento e lazer (jogos on-line), transaes comerciais (bancos, compras em shoppings
centers virtuais), acesso a servios pblicos, entre outras.
Aliada a essa gama de servios eletrnicos e aproveitando-se da mesma base,
que so as tecnologias de informao e comunicao (TICs) e sua massificao, observa-se
nessa sociedade contempornea o surgimento de novas formas de organizao social baseadas
nas comunidades virtuais.
No Brasil, essa nova sociedade tem criado inmeras demandas sobre o Estado,
em nvel municipal, estadual e federal, e nos trs Poderes, Executivo, Legislativo e Judicirio,
e quando no consegue atend-las, adequadamente, pode levar a uma crise de governana de
alcance local e mundial, conforme o caso (FREY, 2002).
1Blog, weblog ou blogue uma pgina da Web cujas atualizaes (chamadas posts) so organizadas cronologicamente de forma inversa (como um dirio). Esses posts podem ou no pertencer ao mesmo gnero de escrita, referir-se ao mesmo assunto ou ter sido escritos pela mesma pessoa.(WIKIPDIA, [2008]).2Wiki ('W' maisculo) um software colaborativo que permite a edio coletiva de documentos, por meio de uma linguagem de marcao simples e eficaz, utilizando-se apenas de um navegador web. Uma nica pgina num wiki referida como uma 'nica pgina', enquanto o conjunto total de pginas, que esto normalmente altamente interligadas, chama-se 'o wiki' ('w' minsculo). Uma das principais caractersticas da tecnologia wiki a facilidade com que as pginas so criadas e alteradas geralmente no existe qualquer reviso antes das modificaes serem aceitas, e a maioria dos wikis so abertos a todo o pblico ou pelo menos a todas as pessoas que tm acesso ao servidor wiki. (WIKIPDIA, [2008]).
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Por isso, espera-se do Estado, em primeiro lugar, a prestao de servios
eletrnicos de forma rpida e direta. Por outro lado, buscam-se, nas esferas polticas, espaos
para relacionamento, participao e colaborao da mesma forma como ocorre nos espaos
privados virtuais.
Nesse cenrio, um importante debate sobre a participao das sociedades civis
nas democracias liberais contemporneas tem sido realizado por tericos, polticos, governo e
imprensa. Muitos tm difundido a idia de que, aproveitando-se das potencialidades tcnicas
de interao mais horizontais3, oferecidas pelas novas tecnologias digitais, haveria
possibilidades de melhorar a participao do cidado nos negcios pblicos e na tomada de
deciso poltica (SILVA, S., 2005, p. 451).
Nesse sentido, a pergunta-problema a ser respondida por este trabalho a
seguinte: como a Cmara dos Deputados tem tratado da participao popular frente s
oportunidades trazidas pelas novas tecnologias de informao e comunicao?
Assim, este estudo objetiva analisar como a Cmara dos Deputados tem
proporcionado a participao popular em suas atividades parlamentares, utilizando-se das
alternativas propiciadas pelas tecnologias de informao e comunicao que poderiam
potencializar essa participao. Para esse fim, sero abordadas as seguintes questes
especficas:
1) quais as formas de participao popular disponveis na Cmara dos
Deputados que utilizam as TICs?
2) Quais so as recentes formas de organizao social proporcionadas pelas
novas tecnologias no contexto brasileiro e quais so os seus potenciais de utilizao pela
Cmara dos Deputados?
3) Quais foram as inovaes trazidas pela criao da Comisso de Legislao
Participativa (CLP) em 2001 e como ela utiliza as TICs?
4) Como funcionam os mecanismos de interao da populao com seus
representantes eleitos?
Para alcanar os objetivos propostos, este estudo utiliza uma metodologia
especfica, entendida como o caminho a ser seguido, assinalando-se quatro elementos
principais (MEDEIROS, 2006, p. 266):
3O termo interao horizontal refere-se a uma maior fluidez e facilidade nas interaes, com menos formalidade e nveis de hierarquia.
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1) quadro de referncia: entre as correntes de pensamento estudadas, a que foi
considerada mais adequada para a presente investigao, inserida no contexto das Cincias
Sociais, foi a dialtica, assim como entendida na cincia contempornea, visto que ela [...]
insiste na relao dinmica entre sujeito e objeto no processo do conhecimento
(MEDEIROS, 2006, p. 273), ou seja, [...] valoriza a contradio dinmica do fato observado
e a atividade criadora do sujeito que observa, as oposies contraditrias entre o todo e a parte
e os vnculos do saber e do agir com a vida social dos homens (CHIZZOTTI, 2001, apud
MEDEIROS, 2006, p. 273).
2) Caracterizao do estudo: o universo do estudo so as formas de
participao popular na Cmara dos Deputados que utilizam as TICs, como, por exemplo, na
Comisso de Legislao Participativa (CLP).
3) Fontes de pesquisa: a forma de coleta de dados a documentao do tipo
indireta, com utilizao dos dois tipos de pesquisa:
pesquisa documental: que envolve a legislao em vigor, regulamentos e
normas internas, o Portal da Cmara dos Deputados na Internet e outros sites;
pesquisas bibliogrficas: para reviso da literatura sobre o assunto.
As referncias para este estudo, obtidas aps a seleo das pesquisas
documentais e bibliogrficas realizadas, compem-se principalmente do seguinte:
Referncia Quantidade FonteLivros 6 Primria
Legislao 3 PrimriaRevistas 8 Secundria
Monografias, Dissertaes e Teses 6 SecundriaManuais Internos da Cmara dos Deputados 1 Secundria
Relatrios 5 Secundria
4) Procedimentos: como mtodo de procedimento utilizada a pesquisa-ao,
definida como
[...] um tipo de pesquisa social com base emprica que concebida e realizada em estreita associao com uma [possvel] ao ou com a resoluo de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2002, p. 14).
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Num contexto organizacional, a ao
[...] visa freqentemente resolver problemas de ordem aparentemente mais tcnica, por exemplo, introduzir uma nova tecnologia ou desbloquear a circulao da informao dentro da organizao. De fato, por trs de problemas desta natureza h sempre uma srie de condicionantes sociais a serem evidenciados pela investigao. (THIOLLENT, 2002, p. 15).
Uma das especificidades da pesquisa-ao a associao de dois tipos de
objetivos: 1) objetivo prtico, destinado a solucionar um possvel problema; e 2) objetivo do
conhecimento, voltado para fazer avanar o conhecimento cientfico por meio do objetivo
anterior (THIOLLENT, 2002, p. 18).
Dessa forma, este estudo est estruturado em trs captulos. No primeiro,
apresentam-se o conceito de participao popular e sua evoluo histrica mundial e
brasileira, assim como as transformaes de significado poltico do termo democracia, e,
por fim, como se desenvolvem as discusses tericas contemporneas sobre democracia
participativa. No segundo captulo, faz-se um relato sobre as novas tecnologias de
informao e comunicao e como elas impactam a sociedade civil, o governo e a
democracia. No ltimo, verifica-se como a Cmara dos Deputados utiliza as TICs para
proporcionar a participao poltica sociedade civil, contribuindo, dessa forma, para a
consolidao dos ideais democrticos no Brasil.
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CAPTULO 1
BASES DA PARTICIPAO POPULAR NO BRASIL
1.1 Evoluo Histrica
A idia de democracia pressupe o envolvimento dos cidados em diversas
atividades da vida poltica da sociedade, que em conjunto so denominadas de participao
poltica. Segundo Avelar (2006, p. 223), participao poltica pode ser definida como a ao
de indivduos e grupos com o objetivo de influenciar o processo poltico. De modo amplo, a
participao a ao que se desenvolve em solidariedade com outros no mbito do Estado ou
de uma classe, com o objetivo de modificar ou conservar a estrutura (e, portanto, valores) de
um sistema de interesses dominantes. (PIZZORNO, 1966, apud AVELAR, 2006, p. 225).
A participao poltica surgiu com os ideais de Estado de soberania popular,
interligados aos movimentos revolucionrios europeus, nos sculos XVIII e XIX, dentro das
revolues industriais e burguesas, que levaram a uma queda gradual da aristocracia e
ascenso da burguesia, num primeiro momento, e, em seguida, da classe trabalhadora. Dessa
forma, h uma ruptura significativa do determinismo, vigente desde a antigidade, entre
posio social dos indivduos e o poder poltico. Inmeras alianas, com o objetivo de
extenso dos direitos de cidadania, so realizadas entre a burguesia emergente, a aristocracia e
os soberanos e, posteriormente, entre a burguesia e os trabalhadores, na Europa. (AVELAR,
2006, p. 224).
A partir das reivindicaes populares, com o objetivo de superar as
desigualdades existentes, ocorreu a extenso do voto s classes populares at se atingir o
sufrgio universal masculino4, bem como a garantia do voto secreto. Ademais, os direitos de
organizao poltica, com livre associao e reunio para essas finalidades, tornaram possvel
o fortalecimento das reivindicaes por mais igualdade pelas coletividades organizadas
politicamente. Como exemplo da ampliao da sociedade civil organizada, particularmente no
sculo XX, surgem os partidos polticos e os movimentos sociais, entre eles o socialista e o de
mulheres. Esse processo foi observado na Europa ocidental, enquanto em outros pases de
4A possibilidade de voto pelas mulheres ocorreu posteriormente, aps reivindicaes dos movimentos de mulheres.
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regimes absolutistas, essas transformaes na sociedade vieram bem depois (AVELAR, 2006,
p. 224).
No Brasil, a expressividade da participao poltica s veio a ocorrer em
meados do sculo XX, aps o intenso processo de urbanizao, industrializao e
modernizao, com a transformao do Pas, em algumas dcadas, de uma sociedade
essencialmente rural para uma sociedade urbana. As mudanas econmicas proporcionaram a
criao de organizaes sindicais, que se consolidaram no centro-sul, alcanando expresso
poltica nas dcadas de 1960 e 1970. Outras organizaes sociais ganharam fora, como os
movimentos de mulheres, ampliando o espao poltico da sociedade civil organizada na
dcada de 1980. Assim, quando se compara com a sociedade europia ocidental, verifica-se
que a utilizao da organizao associativa como meio democrtico somente se consolidou no
Brasil aps mais de um sculo. (AVELAR, 2006, p. 225).
Do ponto de vista da evoluo constitucional acerca da participao popular,
observa-se como ponto de partida o ressurgimento, na Constituio de 1946, da democracia
representativa aps ter sido enfraquecida e desfigurada nos governos oligrquicos anteriores.
A partir de 1964, com o golpe militar, a democracia sofre um novo revs com: decretao de
recesso do Congresso Nacional e demais instncias legislativas; imposio de eleies
indiretas; cassao de direitos polticos de vrios representantes do Legislativo e
posteriormente dos cidados em geral, impossibilitando, assim, a organizao dos
movimentos sociais e partidos polticos (MIRANDA, 2006; BENEVIDES, 2003, apud
MIRANDA, 2006, p. 48).
O primeiro presidente civil eleito aps o regime militar, Tancredo Neves5,
ainda foi eleito por voto indireto, em 1985. Com a instituio de uma Assemblia Constituinte
em 1987 e promulgao da nova Constituio, em 1988, o Pas voltou normalidade
democrtica, institucional e jurdica. Os principais avanos desta Constituio referiram-se:
[...] extenso dos direitos sociais e polticos aos cidados, o reconhecimento da existncia de direitos e deveres coletivos (alm dos individuais), a instituio do habeas data (assegurando ao cidado a obteno de informaes sobre sua pessoa existentes em arquivos e bancos de dados do Estado), o voto facultativo para analfabetos e jovens entre 16 e 18 anos, alm de outras mudanas institucionais.
5O presidente eleito Tancredo Neves no chegou a tomar posse em virtude de complicaes de sade que culminaram em seu falecimento. O vice-presidente eleito Jos Sarney foi ento empossado como primeiro presidente civil aps o regime militar.
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O Congresso obteve, com a Constituio de 1988, um papel de maior destaque no processo oramentrio e no controle das polticas pblicas: maior capacidade de emendar o oramento enviado pelo Executivo, o aumento do papel institucional do Tribunal de Contas da Unio (TCU) na fiscalizao da execuo oramentria e da implementao das polticas pblicas pelo Poder Executivo, alm da reduo do quorum exigido para derrubada dos vetos daquele poder. (VOGEL, 2006).
A Constituio de 1988, ao optar pelo princpio da soberania popular, inovou
em relao possibilidade real de participao popular no exerccio do poder, assegurando
diversas formas de participao da sociedade na Administrao Pblica e na poltica nacional,
representando um grande avano no processo de democratizao do Estado, sendo chamada
de Constituio Cidad. (MIRANDA, 2006, p. 51).
Nesse contexto, o art. 14 estabelece o princpio da soberania popular, que para
Bonavides (2003, p. 117) constitui parte da espinha dorsal do sistema brasileiro de
organizao poltica, assentado sobre duas dimenses: uma representativa, que tem
funcionado normalmente desde a promulgao desta Constituio, e outra democrtica direta,
ambas positivamente expressas no pargrafo nico do art. 1, conforme transcrio dos
dispositivos a seguir:
Art. 1.................................................................................................................Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio. ...........................................................................................................................Art. 14. A soberania popular ser exercida pelo sufrgio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I plebiscito;II referendo;III iniciativa popular. (CRFB, 1988).
Entretanto, os mecanismos de democracia direta previstos no art. 14, plebiscito,
referendo e iniciativa popular, tm sido de certa forma negligenciados pela classe poltica,
pois foram utilizados em rarssimas ocasies6.
6Aps a Constituio de 1988, tanto o plebiscito quanto o referendo foram utilizados uma nica vez. O plebiscito foi realizado por exigncia constitucional em 21 de abril de 1993, para que o eleitorado pudesse definir a forma (repblica ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo). Por sua vez, o nico referendo foi realizado em 23 de outubro de 2005 para decidir sobre a comercializao de armas de fogo e munio no Brasil.
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No caso da iniciativa popular, nota-se que o maior empecilho para sua
concretizao a exigncia constitucional, disposta no 2 do art. 61, de grande nmero de
assinaturas (mnimo de 1% do eleitorado nacional) oriundas geograficamente de, pelo menos,
cinco estados diferentes, conforme transcrio a seguir:
Art. 61...........................................................................................................................................................................................................................................
2 A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentao Cmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mnimo, um por cento do eleitorado nacional, distribudo pelo menos por cinco Estados, com no menos de trs dcimos por cento dos eleitores de cada um deles. (CRFB, 1988).
A outra face do mesmo problema a inviabilidade de conferncia das
assinaturas e demais dados requeridos pelo art. 252 do Regimento Interno da Cmara dos
Deputados (RICD), fato que levou subscrio de parlamentares, ou do Presidente da
Repblica nos trs projetos de iniciativa popular apresentados Cmara dos Deputados desde
1988 at o final de 2007, todos transformados em norma jurdica, conforme descrio a
seguir:
1) PL n 2.710, de 1992 cria o Fundo Nacional de Moradia Popular FNMP e o Conselho Nacional de Moradia Popular CNMP e d outras providncias. Situao atual: transformado em Norma Jurdica Lei n 11.124, de 2005;
2) PL n 4.146, de 1993 d nova redao ao artigo primeiro da Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispe sobre os crimes hediondos, nos termos do artigo quinto, inciso XLIII, da Constituio Federal, e determina outras providncias. Explicao da ementa: caracterizando chacina realizada por esquadro da morte como crime hediondo (projeto chamado Daniela Perez ou Gloria Perez). Situao atual: transformado em Norma Jurdica Lei n 8.930, de 1994;
3) PL n 1.517, de 1999 modifica a Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997, e altera dispositivos da Lei n 4.737, de 15 de julho de 1965 Cdigo Eleitoral. Explicao da ementa: incluindo a possibilidade de cassao do registro de candidato que doar, oferecer ou prometer bem ou vantagem pessoal em troca de voto. Situao atual: transformado em Norma Jurdica Lei n 9.840, de 1999. (SANTOS; NBREGA NETTO, CARNEIRO, 2007, p. 435-6, grifo dos autores).
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importante salientar que tramitam no Congresso propostas de emenda
constitucional visando diminuio da quantidade de assinaturas necessrias, bem como
alterao nas exigncias procedimentais, facilitando, assim, as iniciativas da sociedade civil.
Quanto iniciativa popular, espera-se que no futuro seja possvel utilizar-se da
Internet para obteno das assinaturas necessrias sua apresentao Cmara dos
Deputados. Ressalta-se que a utilizao da Internet depende de grande esforo de adaptao
de sistemas, municiando-os com os mecanismos de segurana necessrios a esse meio,
incluindo a adoo da tecnologia de assinaturas digitais, que atualmente ainda possui um
custo elevado7.
No que se refere ao plebiscito e ao referendo, se convocados, dependem da
utilizao da informtica para sua efetivao, uma vez que o processo de votao no Brasil se
d mediante o uso de urnas eletrnicas. Entretanto, o custo de mobilizao da Justia Eleitoral
para uma determinada votao alto8, podendo ser uma alternativa o aproveitamento das
datas das eleies nacionais (federais e municipais), que ocorrem a cada dois anos, para
utilizao concomitante desses instrumentos.
Uma outra possibilidade disponibilizada pelas tecnologias a utilizao da
Internet em substituio s urnas eletrnicas, que facilitaria a execuo desses instrumentos,
reduzindo substancialmente o seu custo. Dessa forma, o plebiscito e o referendo poderiam ser
utilizados mais vezes, quando necessrio, sem desconsiderar outros bloqueios de natureza
poltica que dificultam a utilizao desses instrumentos, como retrata o Prof. Paulo Bonavides
(2003, p. 57):
[...] So bloqueios todos eles impeditivos e confiscatrios do exerccio legtimo da vontade popular, que manipulada, escamoteada e ultrajada. Ocorrem tais bloqueios, significativamente, dentro e fora das Constituies, dentro e fora dos Trs Poderes tradicionais, encastelados tambm na sociedade e na organizao do Estado e da economia.No importa tanto o lugar onde ocorrem; importa, sim, o dano que ocasionam ao povo e o embargo que opem democracia participativa, retardando-lhe o avano, desmantelando-lhe a estratgia de expanso, depravando-lhe a qualidade, diminuindo-lhe o grau de eficcia.
7As possibilidades de adoo da assinatura digital no processo legislativo foram discutidas e podem ser consultadas no trabalho Assinatura Digital no Processo Legislativo da Cmara dos Deputados (VASCONCELOS; SILVA, M.; NBREGA NETTO, 2006).8De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o custo do referendo sobre a comercializao das armas ocorrido em 2005 foi de, aproximadamente, R$ 274 milhes. (TSE, 2005).
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1.2 Transformaes do Conceito de Democracia no Contexto de Participao Popular
A democracia, aps resistir passagem das eras histricas, se depara nos
tempos atuais, caracterizados pela sociedade da informao, com novos desafios. Ao longo do
tempo, a democracia sobreviveu, porm, sofreu profundas alteraes em seu significado com
relao a seus aspectos polticos, assim como atingiu contornos sociais mais abrangentes.
Baseando-se no trabalho de Casseb (2006), apresentam-se, a seguir, as
principais modificaes de sentido que o termo democracia sofreu, da Grcia Antiga aos
dias de hoje.
1.2.1 Democracia Direta
Considerada modelo clssico de democracia, teve sua origem na experincia da
Cidade-Estado de Atenas, na Grcia Antiga, onde, nos sculos V e IV a. C., o governo era
exercido diretamente pelos cidados, que se reuniam diariamente em praa pblica, formando
a soberana Assemblia dos Cidados, para deliberarem sobre as decises governamentais.
(CASSEB, 2006, p. 6).
Pela exaltao do princpio de igualdade entre os cidados, os cargos pblicos
eram escolhidos por sorteio, sendo a eleio vista como oposta ao ordenamento democrtico.
(MIGUEL, 2002, p. 484). Entretanto,
[...] no se quer afirmar que na tica no houvesse uma liderana com influncia desproporcional na conduo dos negcios pblicos. Apenas que, naquele contexto, a palavra democracia designava um conjunto especfico de instituies voltadas, muitas delas, para permitir a participao efetiva dos cidados na tomada das decises polticas. Instituies como a assemblia popular e o preenchimento de cargos por sorteio permitiam uma presena muito maior do homem comum no processo decisrio e obrigavam os prprios candidatos liderana a uma superviso muito mais estrita dos populares. Em especial, ningum estava condenado a ser liderado, j que o instituto da isegoria garantia a todos direito igual fala no espao decisrio, isto , na gora. Mais do que uma forma de liberdade de expresso, tal como
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a entendemos hoje, a isegoria representava o direito de ser escutado durante o processo de tomada de deciso. (MIGUEL, 2002, p. 484).
importante salientar que a participao poltica no era exercida pela maioria
da populao, pois ficava restrita aos cidados, termo que exclua as mulheres, os escravos,
os estrangeiros, entre outros. Assim, o poder era exercido, de fato, por uma minoria,
considerada aristocrtica ou oligrquica no conceito aristotlico9. (CASSEB, 2006, p. 7).
1.2.2 Democracia Representativa10
Com a runa da democracia direta, na Antigidade, principalmente pelo
surgimento da figura do demagogo na Assemblia dos Cidados, que se utilizava da
oratria em interesse prprio ou contrrio ao interesse geral da comunidade, a democracia
deixou de ser uma prtica por um longo perodo, restringindo-se ao campo de estudos
tericos, sendo um dos motivos o fato de se entender como democracia, naquela poca, o
poder direto dos cidados, invivel em Estados de maior porte.
Entretanto, com o surgimento da representao no cenrio poltico da
Inglaterra, em fins do sculo XVII e incio do sculo XVIII, e que, aps receber contornos
tericos na Frana, difundiu-se mundialmente como uma nova forma de participao popular,
o significado do termo democracia foi, posteriormente, alterado, de forma significativa,
deixando de ter a noo de governo direto e passando a se referir a uma democracia
representativa.
Nessa nova forma de democracia, os cidados governam de modo indireto
mediante representantes eleitos por meio de eleies competitivas, que, alm de servirem
como processo de escolha, tambm teriam a funo de controle sobre os governantes.
Contudo, intrnseco a esse modelo de democracia, sobressai o problema da
reduzida participao popular efetiva, que se restringe praticamente ao dia da eleio. E
mesmo nesse momento, a escolha dos representantes sofre diversos tipos de presso, como a
9De acordo com Aristteles, aristocracia seria o governo de poucos em benefcio de todos (toda a comunidade), e, oligarquia, o governo de poucos em benefcio prprio.10Tambm conhecida na literatura como Democracia Indireta.
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propaganda enganosa e o poder da mdia moderna, o que dificulta o voto consciente.
(CASSEB, 2006).
Com efeito, a democracia representativa, que para muitos seria o renascimento
da democracia, deixou de se sobressair, levando uma srie de propostas para uma nova
configurao democrtica, culminando no surgimento da democracia partidria.
1.2.3 Democracia Partidria
No incio do sculo XX, no perodo entre as duas Grandes Guerras, a
expectativa democrtica voltou-se aos partidos polticos, que a essa poca encontravam-se
plenamente consolidados.
A teoria da base democrtica partidria exigia como requisitos partidos sem
vcios, com programa de governo vivel e detalhado para atender os problemas da sociedade,
bem como a escolha de candidatos comprometidos com a execuo desse programa
partidrio.
Dessa forma, esperava-se aumento da participao popular, pois mais do que
representantes, os eleitores escolheriam a forma de atuao do governo mediante a escolha do
programa partidrio.
Entretanto, a prtica resultou em fracasso, pois a busca desenfreada por votos
pelos partidos os levaram a inserir em seus programas de governo princpios e idias
genricas sem aplicao prtica, sepultando, assim, os ideais de eleio de programas.
Os partidos se tornaram, com raras excees, meras associaes de interesses
privados, existindo para lanar candidatos individuais, predominando no cenrio atual a
democracia meramente representativa, em que, geralmente, vota-se no candidato, e no em
partidos em razo de seus programas, regredindo, dessa forma, situao anterior. (CASSEB,
2006).
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1.2.4 Videodemocracia
Segundo Casseb (2006), nesse cenrio, onde impera a democracia
representativa como regra geral, surge um novo modelo democrtico, baseado na era da
imagem televisiva, em que os representantes eleitos tm como um de seus principais objetivos
obter a ateno da sociedade durante quase todo o tempo de durao dos mandatos, j se
preparando para a eleio subseqente, denominada por Giovanni Sartori (1994 apud
CASSEB, 2006, p. 9) como videodemocracia: Trata-se da campanha poltica permanente,
preparada cuidadosamente pela oposio e situao, que diariamente levada ao cidado,
pelos meios de comunicao de massa. (CASSEB, 2006, p. 9).
Nesse sentido, os meios de comunicao de massa exercem influncia em
diversos segmentos da vida humana, o mesmo ocorrendo na vida poltica e no processo
eleitoral. Dessa forma,
Giovanni Sartori ainda assevera que os mritos da democracia televisiva informaes em maior quantidade e velocidade so superados pelos defeitos, pois a informao passada no transmitida na formatao de mera notcia objetiva de um fato, mas sim na emisso de um ponto de vista, o que j revela modificao da realidade objetiva. (CASSEB, 2006, p. 10).
1.2.5 Democracia Virtual
Casseb (2006, p. 10), de acordo com suas palavras, ousa ao afirmar que em
decorrncia da evoluo natural do processo democrtico, como consequncia da
preponderncia da informtica nos tempos contemporneos, surge um novo modelo
democrtico, realidade irreversvel e que tende a aprimorar-se, denominado democracia
informatizada ou democracia virtual.
Ressalta-se que, no Brasil, a utilizao da informtica j intensiva nas
atividades preparatrias, de execuo e apurao no processo eleitoral, com destaque para a
prpria votao computadorizada, eliminando as cdulas de papel.
Apesar de Casseb (2006) referir-se somente ao processo de votao, as novas
tecnologias de informao e comunicao ampliam outras possibilidades democrticas,
conforme a seguinte definio:
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A democracia eletrnica ou e-democracy representa o uso das estratgias democrticas de gesto e de tecnologia da informao e comunicao pelos mais diversos atores democrticos (governo, representantes oficiais eleitos, mdia, organizaes polticas, cidados, etc) dentro de processos polticos e de governana de comunidades locais e internacionais. Para muitos, a e-democracy sugere participao dos cidados com mais habilidade no uso da Internet, das comunicaes mveis e de outras tecnologias. Por outro lado, exige uma participao mais ativa nas variadas formas de envolvimento dos cidados nos desafios pblicos. (CLIFT, 2003, apud REZENDE; FREY; BETINI, 2003, p. 12).
Sob um enfoque diferente, encontra-se em outros autores a classificao da
democracia em: Direta, Indireta e Semidireta. As duas primeiras foram aqui descritas como
Democracia Direta, respectivamente Democracia Representativa. J a Semidireta
refere-se a uma modalidade em que se altera a forma clssica de Democracia Representativa
para aproxim-la da Democracia Direta. Na doutrina atual, so cinco os instrumentos
defendidos quanto aos mecanismos da Democracia Semidireta: o referendo popular, o
plebiscito, a iniciativa, o direito de veto e o recall, assim definidos :
O direito de veto, nas palavras de Bonavides, a faculdade dada ao povo de se manifestar contrrio a um ato normativo ou lei, j devidamente elaborada pelo poder competente e em vias de ser posta em execuo. O recall a capacidade de uma parte do eleitorado de destituir um funcionrio ou o representante no curso de seu mandato, este tambm conhecido como revogao individual. O referendo popular o poder do povo de sancionar as leis. O parlamento normalmente elabora a lei, mas esta s [...] passa a vigorar quando o seu projeto submetido ao sufrgio dos cidados que o aprovam.[...] Enquanto o referendo demanda apenas a aprovao de uma reforma, o plebiscito transfere ao povo o poder legiferante e decisrio. utilizado para consulta sobre qualquer questo de interesse pblico, no precisa ter, necessariamente, feio normativa e pode ser utilizado para avaliar repercusso de medida futura a ser tomada. Sua deciso soberana e definitiva. A iniciativa popular o instituto que mais se aproxima dos anseios populares de participao positiva nos atos legislativos. A iniciativa um instrumento de Democracia direta, voluntria, que proporciona ao povo o exerccio de uma verdadeira orientao governamental. a possibilidade de o povo atuar em matria legislativa, mediante proposio de determinado projeto de lei por certo nmero de eleitores. (MIRANDA, 2006, p. 42).
Desses instrumentos, a Constituio de 1988 s adotou o referendo, o
plebiscito e a iniciativa popular, conforme citado no item 1.1 deste Captulo.
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1.3 Pensamento Contemporneo de Democracia Participativa
A concepo atual de democracia est dividida em duas vertentes: a primeira
trata da idia de governo do povo, que corresponde ao significado etnolgico de
democracia, de herana e imaginrio gregos; a segunda associa a democracia ao processo
eleitoral, como mtodo de escolha dos governantes (MIGUEL, 2002, p. 484).
A possibilidade e a necessidade de maior igualdade entre os homens foram
propagadas por importantes correntes de pensamento poltico, nos sculos XVIII e XIX,
compostas por pensadores como Rousseau, Marx, entre outros, que, de uma forma ou de
outra, propunham uma sociedade eqitativa. Na Europa, comeava a haver de fato uma
democratizao da vida social, sobretudo a partir da Revoluo de Fevereiro de 1848,
realizada pela classe operria francesa. O direito ao voto foi aos poucos sendo estendido at
alcanar o sufrgio masculino, e os plebeus passaram a se considerar iguais aos nobres, ou
seja, as estruturas aristocrticas comearam a ruir. Tocqueville (1992, apud MIGUEL, 2002),
mesmo sendo um aristocrata integrante da nobreza francesa, ao analisar a democracia
efervescente nos Estados Unidos, em 1835, afirma que o avano da igualdade era um fato
durvel, universal, imune interferncia humana, considerando igualdade quase sinnimo de
democracia, bem como conceitos interdependentes (MIGUEL, 2002, p. 485).
Nesse momento, quando a desigualdade questionada, ressurgem autores que
dizem o contrrio, que a igualdade social impossvel e que sempre haver um grupo
naturalmente mais capacitado para deter os cargos de poder. Segundo Miguel (2002), para os
tericos polticos do elitismo, Pareto, Mosca e Michels, de uma forma ou de outra, o poder
exercido por minorias elitistas que so substitudas sempre por outras minorias emergentes.
Dessa forma, pode-se resumir a discusso sobre a igualdade da seguinte maneira:
[...] a ordem estamental medieval afirmava a desigualdade entre os indivduos. Contra ela, o liberalismo vai propugnar que todos so iguais. Os socialistas, ento, denunciam que a igualdade formal, apreciada pelos liberais, incua diante da permanncia de profunda desigualdade material. Em oposio ao socialismo, a teoria elitista vai dizer que a igualdade impossvel. [...]
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Os elitistas miraram no socialismo, mas acabaram acertando tambm a democracia, denunciando como fantasista qualquer idia de governo da maioria. (MIGUEL, 2002, p. 485).
Entretanto, uma importante corrente da teoria democrtica, amplamente
dominante e enraizada no senso comum, aceita e utiliza o argumento elitista como
pressuposto; a tese da democracia concorrencial, de autoria de Joseph Schumpeter, que
influenciou, de formas diferenciadas, autores de peso como Giovanni Sartori, Robert Dahl e
Anthony Downs. Seu sucesso deve-se a vrios fatores, entre eles, o fato de ter lanado uma
nova viso da relao entre democracia e participao, com a publicao do livro
Capitalismo, Socialismo e Democracia, em 1942, nove anos aps Hitler ter assumido o poder.
Ademais, para alguns analistas, o mal da Repblica de Weimar, ao permitir o avano do
nazismo, foi o excesso de participao. Por outro lado, o regime totalitrio da Unio
Sovitica, assim como o da Alemanha, promovia a mobilizao das massas, embora no
promovessem, em ambos os regimes, a sua participao efetiva. Ento, a participao popular
ficou associada mais ao totalitarismo do que democracia. (MIGUEL, 2002, p. 499).
Schumpeter afirma que as pessoas no sabem determinar o que melhor para
elas quando se trata de questes pblicas, agindo por impulsos vagos, equivocados e
desinformados, ou seja, o povo no sabe tomar decises. Assim, sua teoria da democracia no
se baseia mais no governo do povo, mas na competio das elites, conforme ele define:
o mtodo democrtico aquele acordo institucional para se chegar a decises polticas em que os indivduos adquirem o poder de deciso atravs de uma luta competitiva pelos votos da populao. (SCHUMPETER, 1984, apud MIGUEL, 2002, p. 502).
Assim, para essa corrente, a apatia do povo revela satisfao com o sistema
poltico, impede o acirramento das diferenas e diminui as presses sobre o Estado, gerando
como consequncia uma maior estabilidade. Promove-se a alterao de valores, com a
estabilidade ocupando o lugar dos ideais democrticos como meta da organizao poltica.
Nesse modelo, a democracia fica reduzida a um processo eleitoral, e a
participao do cidado, ao mnimo ato de votar, configurando, assim, um retrato fiel e
legitimador dos regimes polticos ocidentais. Representa, porm, um rebaixamento do ideal
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democrtico, com a negao da possibilidade de qualquer forma substantiva de soberania
popular nos moldes de como a democracia era entendida at o sculo XIX. Schumpeter e seus
seguidores buscam, ao dar fundamento terico aos regimes eleitorais, neutralizar aqueles que
reivindicam um regime mais participativo e igualitrio (MIGUEL, 2002, p. 506).
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CAPTULO 2
NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO COMO
FACILITADORES DA PARTICIPAO POPULAR
2.1 Informaes Preliminares
Como bem ensinam os livros de histria moderna, a rede mundial de
computadores, a Internet, surgiu, enquanto embrio, nos laboratrios militares dos EUA no
final da dcada de 1960. Entretanto, logo se expandiu para o ambiente civil, primeiramente
para o meio acadmico norte-americano (anos 80) e mundial, e, em seguida, patrocinada por
iniciativas governamentais e pelas grandes corporaes econmicas, para o restante da
sociedade de forma exponencial, como ainda hoje ocorre (CASTELLS, 2004).
Inicialmente utilizada para comunicao de dados digitais entre computadores,
a Internet se tornou um meio de convergncia para diversos contedos digitais, formando uma
nova rea de estudos:
A rea de Tecnologias de Informao e Comunicao, ou TICs, designa de forma bastante flexvel um subsetor da economia que rene e integra as reas originais de informtica, de telecomunicaes e de contedos digitais que por sua vez se refere a um conjunto de subsetores, incluindo cinema/televiso/rdio, editorao de livros e revistas, produo e explorao de jogos eletrnicos etc. em um todo que claramente muito maior do que a soma das partes. (TAKAHASHI, 2007, p. 222).
Na esteira da evoluo das tecnologias subjacentes Internet, as mdias
analgicas tambm foram, paulatinamente, sendo incorporadas grande rede em formato
digital, transformado-as e adicionando novas aplicaes a seus servios (BITTENCOURT,
2007), num fenmeno conhecido como convergncia digital (conforme se apresenta na Figura
1):
A convergncia digital o processo de unificao da televiso, de computadores e de telefones, um processo impulsionado pela revoluo digital e as tecnologias subjacentes da Internet os protocolos TCP/IP. [...] A convergncia digital possibilita a existncia da Internet de banda larga,
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que rene a qualidade de voz e imagem da televiso com a interatividade dos computadores em rede. (CHAHIN et al., 2004, p. 3).
Segundo Bittencourt (2007), os principais fatores e tecnologias associadas que
esto impulsionando a convergncia digital, e, dessa forma, impulsionando a transio da
ltima mdia que permanecia analgica, que a televiso aberta, para a televiso digital, so
os seguintes:
Aumento da capacidade das redes: utilizao de fibra ptica, que tem capacidade de transmisso
milhares de vezes maior do que o fio de cobre ou o cabo coaxial, utilizados no incio da era das telecomunicaes;
novos satlites de alta potncia em banda Ku e outras, que tambm permitam a transmisso de enorme capacidade de informaes e contedos, podendo ser acessados por antenas cada vez menores e mais prticas;
tecnologia ADSL/VDSL, que faz com que um fio telefnico convencional consiga transportar uma quantidade de informao centenas de vezes superior do incio do processo de digitalizao;
tecnologias sem fio EVDO/WCDMA, que transformam as redes de telefonia celular em redes de transporte de dados wireless (sem fio) de alta velocidade, criando a Internet mvel e transportando no apenas voz, mas uma enorme diversidade de contedos multimdia, inclusive vdeo;
Figura 1: TICs e convergncia tecnolgica. Fonte: TAKAHASHI, 2007, p. 223.
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cable modems, que transformam as redes de televiso a cabo em redes de telecomunicaes capazes de prover servios de telefonia sobre a IP e acesso Internet em banda larga.
Tecnologia IP: que permite a conectividade total [...] em qualquer mdia.
Tcnicas digitais de compresso: MPEG-2, MPEG-4, VC-1: que possibilitam aumento da diversidade e da qualidade de contedos multimdia transportados pelas diversas redes, chegando at mesmo a permitir a transmisso de programas de vdeo atravs de linhas telefnicas, com e sem fio.
Aumento da capacidade de processamento: dos mais diversos dispositivos como computadores pessoais (PCs), notebooks, PDAs (personal digital assistants) e celulares, que cada vez mais conseguem abarcar uma quantidade maior de informaes e de contedos [...]
Exploso da mobilidade: viabilizada pelas tecnologias celulares como GPRS, EVDO, WCDMA e de Internet mvel como Wi-Fi e WiMAX, permitindo acesso instantneo a qualquer contedo, em qualquer hora e em qualquer lugar.
Aumento da capacidade de armazenamento: que permite que grandes provedores disponibilizem imensas quantidades de contedo de acervo para consumo em novas mdias [...]
Aumento da resoluo de displays: tecnologias como LCD, plasma, projeo por microespelhos e outras, [...]. (BITTENCOURT, 2007, p. 416).
Naturalmente que a maioria dos fatores citados anteriormente, ao contribuir
para uma maior abrangncia das redes, mobilidade e disponibilizao de mais servios e
contedos diferenciados na Internet, favorecem diretamente a continuidade da forte expanso
na base de usurios observada at ento.
Assim, no mundo dos negcios, o avano das TICs tem proporcionado uma
verdadeira revoluo, alterando os seus rumos e estratgias, independentemente da natureza
de seus produtos, mercados e processos, bem como transformando significativamente as suas
tradicionais estruturas organizacionais (AMATO NETO, 2006). Nesse sentido, esse autor
afirma que:
a informao o combustvel da nova economia e deve ser compreendida em seu sentido mais amplo, como conhecimento, idias e capacidade mental (brainpower). Bens intangveis, satisfao e software representam um segmento crescente da economia. As organizaes mais bem sucedidas, no apenas as empresas comerciais mas tambm a administrao pblica, so aquelas que operam sobre uma base do conhecimento coletivo. Isso significa cooperao eficiente, compartilhamento de informaes, gerao de novas idias e o desenvolvimento para explor-las. Competio cooperativa entre
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entidades individuais est no centro desta nova era, e deve fornecer maior orientao estratgica para inovao e criatividade. (FILOS; BANAHAM, 2000, apud AMATO NETO, 2006, p. 109).
Da mesma forma, as organizaes pblicas tm sido amplamente impactadas
pelas novas TICs, pois apesar de terem objetivos finais diferentes dos da iniciativa privada,
tambm tm a informao, em seu sentido mais amplo, como base de suas atuaes, como a
Cmara dos Deputados, onde a informao produzida, armazenada e disseminada, com
utilizao de tecnologias digitais em todas as fases, imprescindvel para a sociedade
brasileira em decorrncia de suas atribuies institucionais de discusso e deliberao
legislativa e oramentria, assim como de fiscalizao das atividades do Poder Executivo. As
novas TICs proporcionam Cmara dos Deputados, representante do povo, instrumentos e
facilidades para um trabalho cooperativo com a sociedade civil, por meio da participao do
cidado, agregando inovaes, criatividade e, acima de tudo, garantindo uma maior
legitimidade sua atuao, que se d, assim, em maior sintonia com as aspiraes sociais.
2.2 Novas Formas de Organizao Social
2.2.1 Comunidades Virtuais
As novas tecnologias relacionadas Internet tm proporcionado novas formas
de organizao social, como as redes colaborativas em comunidades virtuais, que podem ser
assim definidas:
A comunidade virtual composta por um conjunto de pessoas reunidas por um interesse comum, por meio da Internet, constituda de trs tipos distintos de redes: a) redes de interesse/conhecimento, b) redes de competncia e c) redes de atuao.a) Redes de interesse/conhecimento congregam grupos interessados em discutir assuntos, trocar informaes e formar conhecimento sobre uma determinada matria;b) redes de competncia so formadas por um conjunto de profissionais e/ou instituies com competncia em determinada rea do conhecimento e que podem oferecer suporte e assistncia tcnica nessas reas, por meio da rede;c) redes de atuao so redes especficas para desenvolvimento de projetos bem delineados, cujas tarefas so distribudas entre os diversos ns da rede.
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Como, por exemplo, as redes de software livre, que desenvolveram o sistema operacional LINUX. (NASCIMENTO, 2004, p. 47).
Para Recuero (2005), um dos primeiros autores a definir o termo comunidade
virtual foi Rheingold, que o fez da seguinte forma:
As comunidades virtuais so agregados sociais que surgem da Rede [Internet], quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discusses pblicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relaes pessoais no espao ciberntico [ciberespao]. (RHEINGOLD, 1996, apud RECUERO, 2005, p. 12).
Para essa autora, os elementos formadores da comunidade virtual, em
decorrncia dessa definio, seriam: as discusses pblicas; as pessoas que se encontram e
reencontram, ou que ainda mantm contato por meio da Internet; o tempo; e o sentimento, que
uma vez combinados, poderiam ser formadores de redes de relaes sociais, constituindo-se
em comunidades.
De forma similar, Lvy (1999, p. 127) argumenta que uma comunidade virtual
construda sobre afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mtuos, em um
processo de cooperao ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades
geogrficas e das filiaes institucionais.
Assim, essas novas formas de organizao sociais dinamizadas pela interao
on-line so naturalmente propcias s discusses e participao polticas, sobretudo em
espaos temticos, nos quais os indivduos podem participar de acordo com suas reas de
especializao ou de interesse. Sendo a Cmara dos Deputados a Casa de representao
popular, lugar de discusso das questes nacionais por excelncia, torna-se o ambiente ideal
para fomentar a participao efetiva dos indivduos, por meio de comunidades virtuais com
espaos temticos, proporcionando, dessa forma, uma maior sintonia entre as decises
polticas e os anseios da populao.
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2.2.2 Ativismo em Rede
Segundo Machado (2007, p. 248), as tecnologias digitais se tornaram
instrumentos de fundamental importncia para organizao e articulao de novos coletivos
sociais conectados Internet, proporcionando, assim, a formao de novas formas de ativismo
baseadas na atuao em rede.
Aps reviso histrica da evoluo do termo movimentos sociais, esse autor,
entre vrias abordagens existentes e aceitas, opta por defini-lo como sendo [...] formas de
organizao e articulao baseadas em um conjunto de interesses e valores comuns, com o
objetivo de definir e orientar as formas de atuao social. (MACHADO, 2007, p. 268).
Em seguida, discorre que, em decorrncia das transformaes no cenrio
poltico internacional com o fim da Guerra Fria, e, assim, com a dissipao do conflito
ideolgico antes imperante, as iniciativas da sociedade civil, por meio dos movimentos
sociais, passaram a ser entendidas no mais como de carter subversivo ou revolucionrio,
mas sim, como manifestaes prprias para a promoo dos direitos civis e da cidadania,
invertendo a lgica do conflito para a da cooperao.
Essa mudana gradual culminou no reconhecimento pelo Estado do status
jurdico dessas formaes sociais, passando a incorpor-las mediante mecanismos
institucionais prprios, como no caso das organizaes no-governamentais (ONGs).
Machado (2007) ressalta a distino entre movimentos sociais, numa concepo mais ampla,
e organizaes sociais, uma vez que estas ltimas apresentam um carter institucional como
representantes legtimos para determinadas demandas de um segmento especfico da
sociedade, como o caso das ONGs.
Enfatiza que as novas ferramentas tecnolgicas possibilitam nveis de
organizao e intercmbio cada vez mais complexos por parte de indivduos, grupos e
organizaes sociais, potencializando suas aes. A matria-prima bsica dessa nova forma de
atuao a informao gerada e eficazmente distribuda, que traz um novo poder, conforme
Machado (2007):
[...] Este poder resulta da ampliao da capacidade de produzir, reproduzir, compartilhar, expressar e difundir fatos, idias, valores, vises de mundo e
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experincias individuais e coletivas em torno de interesses, identidades e crenas e em um espao muito curto de tempo. A possibilidade de comunicao rpida, barata e de grande alcance faz atualmente da Internet o principal instrumento de articulao e comunicao das organizaes da sociedade civil, movimentos sociais e grupos de cidados. [...] Agrupando dezenas ou at centenas de organizaes de diferentes portes e universos culturais, lingsticos e identitrios diversos, com base na infra-estrutura da rede mundial, elas conseguem agregar eficiente e eficazmente o descontentamento, para gerar amplas e complexas sinergias em aes globais. (MACHADO, 2007, p. 268).
Por fim, esse mesmo autor cita que as principais caractersticas dos
movimentos sociais frentes s novas TICs, de acordo com as suas interpretaes combinadas
com enfoques de Giddens, Castells, Melucci e Hall sobre movimentos sociais e identidade,
so as seguintes:
1) Proliferao e ramificao dos coletivos sociais. A rapidez e alcance das novas tecnologias de informao permitem uma proliferao das organizaes civis e dos coletivos sociais, assim como uma integrao eficiente e estratgica entre os mesmos, baseada principalmente no idealismo e voluntarismo de seus membros, incentivados pela relao custo-benefcio bastante favorvel. Surgem novas formas de alianas e sinergias de alcance global. Com isso, aumentaram enormemente as formas de mobilizao, participao, interao, acesso informao, bem como a proviso de recursos, as afiliaes individuais e as ramificaes entre os movimentos sociais.
2) Horizontalidade e flexibilidade das redes. As organizaes tendem a ser cada vez mais horizontais, menos hierarquizadas, mais flexveis, com mltiplos ns, conectadas a numerosas micro-redes ou clulas que podem ser rapidamente ativadas. [...].
3) Tendncia coalizacional. Atuam crescentemente em forma de redes coalizacionais11 (Diani, 2003, Escobar, 2000), de alcance mundial, em torno de interesses comuns e com base na infra-estrutura de comunicao propiciada pela Internet.
4) Existncia dinmica ou segundo objetivos ou fatos. Tm grande dinamismo, podem formar-se, alcanar certos objetivos, causar impacto e repercusso, expandir-se por razo de um fato poltico e da mesma forma, podem rapidamente se desmanchar ou desaparecer, conforme a situao (passado o fato, com o objetivo alcanado ou o fracasso).
5) Minimalismo organizacional-material. A sede fsica se tornou irrelevante: fax, telefone ou endereo postal passam a ser itens secundrios. A
11Organizaes diferentes que formam alianas para atuarem cooperativamente visando interesses comuns.
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possibilidade de operao a um custo muito baixo incentiva a associao individual, a emergncia de novos movimentos sociais e as associaes dos movimentos entre si.
6) Universalismo e particularismo das causas. Ainda que possa parecer contraditrio, os ideais podem ser universalistas e particularistas. Podem atender a uma ou a um conjunto de aspiraes de coletivos sociais bastante pequenos e especficos (e at mesmo, geograficamente separados). No entanto, ainda que ligadas a uma causa ou tema especfico, as lutas podem orientar-se cada vez mais com relao a um quadro mais amplo de lutas, que diz respeito a princpios de aceitao universal, como desenvolvimento sustentvel, direitos humanos, direito autodeterminao dos povos, combate ao racismo e formas de discriminao, democracia, liberdade de expresso, etc.
7) Grande poder de articulao e eficincia. Permitem a organizao de protestos simultneos em diferentes cidades e pases, assim como a articulao local de vrios grupos de manifestantes dispersos. Ao contrrio do que se possa crer, a convergncia de interesses no se d somente no plano virtual. Ela se materializa tambm por aes concretas. [...].
8) Estratgias deslocalizadas de ideologias compartilhadas. As estratgias no espao dos fluxos so deslocalizadas, buscam ligar identidades, objetivos, ideologias e vises de mundo compartilhadas. Identidade e solidariedade passam a desempenhar papis fundamentais para a formao de tais redes. [...].
9) Multiplicidade de identidades / circulao de militantes. Permite a circulao dos militantes nas redes. Um mesmo ativista pode estar enredado com outras causas, com outros atores coletivos; pode militar em vrios movimentos e, mesmo transmitir suas reivindicaes nas diferentes redes de que participa. [...].
10) Identidade difusa dos sujeitos sociais. O anonimato e a multiplicidade de identidades potencializam as formas de ativismo. Por esta mesma razo, cada vez mais difcil tratar de questes identitrias dos movimentos sociais. Os interesses dos indivduos que os ligam em redes so cada vez mais cruzados, diversos e freqentemente tnues. Luta-se cada vez mais em torno de cdigos culturais, valores e interesses diversos. Essa luta se d, cada vez menos, a partir dos indivduos e mais sobre a construo de sujeitos sociais. [...]. (MACHADO, 2007, p. 273).
Esses emergentes tipos de movimentos e organizao social so os maiores
demandantes por novos espaos de participao poltica junto aos governos. Esse mesmo
processo atinge tambm a Cmara dos Deputados. Cita-se, por exemplo, a atuao da
organizao civil Transparncia Brasil12, que tem como foco principal o combate 12A Transparncia Brasil uma organizao independente e autnoma, fundada em abril de 2000 por um grupo de indivduos e organizaes no-governamentais comprometidos com o combate corrupo (TRANSPARNCIA BRASIL, [2001]).
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corrupo, nas constantes presses por mais informaes sobre os diversos tipos de gastos
realizados pela Cmara dos Deputados.
Por outro lado, a participao das entidades civis organizadas nas decises
polticas favorece o processo de maturao da sociedade, uma vez que pressiona o
aperfeioamento e a modernizao dos servios e instituies pblicas, bem como das normas
legais que lhes estrutura e do forma.
2.3 Governo Eletrnico13 no Brasil
A revoluo tecnolgica, associada Administrao Pblica, a partir da dcada
de 1970, e materializada na implementao de servios pblicos mais eficientes e com maior
transparncia, constituiu em fator determinante para as transformaes ocorridas, desde ento,
na gesto pblica em nvel mundial, renovando prticas, estilos e padres (CRUZ, 2006, p.
23).
Conforme Heeks (2001 apud Barbosa et al., 2007, p. 513), outros dois fatores
destacam-se, dentre as causas determinantes da necessidade de reviso dos modelos de gesto
e seus mecanismos de governana14, pelos governos de vrios pases: a) a crise da gesto dos
gastos pblicos; e b) a denominada, pela confluncia de vrios estudos, nova gesto pblica
(NGP), ou new public management (NPM)15.
Os ventos mundiais sobre governana e NGP chegaram ao Brasil em meados
dos anos de 1990, inicialmente, com o Plano Diretor de Reforma do Estado, com foco na
reforma administrativa, onde se buscava uma Administrao Pblica gerencial que tinha
como caractersticas bsicas:
13Outros termos sinnimos: e-gov, e-governo, governana eletrnica, governo digital, governo virtual, Estado virtual, electronic government, e-government, wired-government (BARBOSA et al., 2007, p. 512).14Governana sendo relacionada ao [...] aumento da capacidade das organizaes pblicas, por meio da adoo de princpios gerenciais focados em resultados e nfase em mecanismos de controle, em adotar boas prticas de gesto que permitam a efetiva monitorao da ao do governo pela sociedade. (BARBOSA et al., 2007, p. 512).15Segundo Barbosa et al. (2007, p. 513), new public management (NPM) ou nova gesto pblica (NGP) um movimento com origem nas teorias institucionais e na racionalidade econmica, sendo, no contexto do processo poltico e das prticas de gesto pblicas, composto pela unio de dois princpios: da Teoria da Escolha Pblica (Public Choice Theory), que consiste na aplicao da anlise econmica poltica, e da Teoria do Gerencialismo, que consiste na administrao voltada para resultados, desempenho e produtividade e prticas gerenciais orientadas para os anseios do cidado.
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a preocupao com a eficincia e a efetividade da mquina administrativa, com a descentralizao e com a implantao de controles gerenciais, a melhoria da capacidade da burocracia e a democratizao da gesto, orientada ao cidado, com mecanismos de transparncia e controle social. (CHAHIN et al., 2004, p. 11).
Para Barbosa et al. (2007, p. 513), NGP um termo conceitual genrico que
descreve o movimento de reforma do setor pblico, com base em princpios gerenciais
voltados para resultados, eficincia, governana e orientao da gesto pblica para prticas
de mercado, cujos princpios foram disseminados mundialmente a partir do final da dcada de
1980.
Com a intensificao do uso de tecnologia pelos governos, o conceito de
governana evoluiu rapidamente para o conceito de governana eletrnica ou e-governana
(CRUZ, 2006), sendo definida pela Organizao das Naes Unidas (ONU) da seguinte
forma:
E-governana no necessariamente o governo enquanto uma entidade fsica, nem o ato de governar os indivduos. Pode ser mais bem definida como um processo: o processo pelo qual as instituies, as organizaes e os cidados dirigem a si mesmos. E-governana tambm trata da interao com o setor pblico e de como a sociedade se organiza para tomar decises coletivamente, e prov os mecanismos de transparncia para que o resultado de tais decises seja acompanhado. (NAES UNIDAS apud CRUZ, 2006, p. 24).
Assim, governo eletrnico ou e-gov refere-se a um conjunto de estratgias e
aes realizadas pelos governos, para integrar as TICs aos processos governamentais, com o
objetivo de gerar maiores nveis de eficincia na Administrao, controle e transparncia na
tomada de decises e participao cidad (OLIVEIRA et al., 2007, p. 642), constituindo a
base da governana eletrnica no servio pblico.
Para Barbosa et al. (2007, p. 520), os termos governana eletrnica e governo
eletrnico so utilizados pelos autores ora de forma sinnima, ora de forma diferenciada em
conceitos no to claros. Assim, utiliza-se do conceito da Organizao das Naes Unidas
para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco), colocando a governana eletrnica como um
conceito mais abrangente, que inclui as atividades do governo eletrnico e prope trs
dimenses para a governana eletrnica no servio pblico a seguir:
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e-administrao pblica, associada melhoria dos processos governamentais e do trabalho interno do setor pblico com a utilizao das TICs;
e-servios pblicos, associada melhoria da prestao de servios ao cidado e criao de novos canais digitais para o acesso e a entrega de servios;
e-democracia, associada ao uso das TICs para permitir maior participao do cidado, mais ativa no processo de tomada de deciso. (BARBOSA et al., 2007, p. 520, grifo do autor).
No Brasil, os rgos governamentais implementam sites na Internet desde
1993, porm o marco inicial para a elaborao de uma poltica sistemtica de governo
eletrnico foi o amplo trabalho desenvolvido pelo projeto Sociedade da Informao (SocInfo)
do Ministrio da Cincia e Tecnologia, coordenado por Tadao Takahashi, iniciado em maio
de 1999 e finalizado em setembro de 2000, com a publicao do chamado Livro Verde16.
Nessa mesma poca, esse tema entrou na agenda de prioridades do governo federal, quando
foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial de Tecnologia da Informao17 e, em seguida,
o Comit Executivo do Governo Eletrnico18 (Cege). (CHAHIN et al., 2004, p. 35).
Esse Comit (Cege), ainda em vigor, foi criado com o objetivo de formular
polticas, estabelecer diretrizes, coordenar e articular as aes de implantao do governo
eletrnico no Brasil, e apresentou, em 20/9/2000, o documento Poltica de Governo
Eletrnico19.
Embora voltadas inicialmente para o Poder Executivo, as inovaes alcanadas
foram disseminadas nos demais Poderes da Repblica em nvel federal, assim como para as
outras unidades federativas: os estados (incluindo o Distrito Federal) e os municpios. No
mbito do Legislativo, as iniciativas da Cmara dos Deputados e do Senado Federal, na
construo de canais de comunicao com a sociedade por meio da Internet, tm sido bem
sucedidas e, freqentemente, premiadas, apesar de no terem sido acompanhadas de
planejamento sistematizado das aes de tecnologia da informao ou de reformulaes
administrativas (CRUZ, 2006, p. 26; FERNANDES, 2007, p. 102).
16TAKAHASHI, T. (Org.). Sociedade da informao no Brasil Livro Verde. Braslia: Ministrio da Cincia e Tecnologia, 2000. Disponvel em: . Acesso em: 14 jan. 2008.17Criado pelo Decreto Presidencial de 3 de abril de 2000.18Criado pelo Decreto Presidencial de 18 de outubro de 2000.19Documento disponvel em: https://www.governoeletronico.gov.br/anexos/E15_90proposta_de_politica_de_ governo_eletronico.pdf.
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Registra-se citao do Portal da Cmara dos Deputados20 como destaque do
Brasil no recente relatrio da Organizao das Naes Unidas (ONU), que analisa o uso das
TICs na implementao de governana eletrnica pelos pases associados (UNITED
NATIONS, 2008). Segundo esse relatrio, o site da Cmara, o nico da Administrao
Pblica brasileira que foi citado, permite que os cidados conversem diretamente com seus
representantes por meio do servio Fale com o Deputado, e que participem de debates na
Internet em chats e fruns de discusso21, reforando, assim, a interao entre cidados e
deputados brasileiros, em um pas grande e com uma populao geograficamente dispersa
como o Brasil.
2.4 Possibilidades da Democracia Eletrnica22
Apesar de haver vrias iniciativas no Brasil de sites governamentais com
servios eletrnicos, so poucas as experincias que disponibilizam participao poltica
efetiva, com possibilidade de deciso sobre assuntos pblicos. Entretanto, existem
experincias bem-sucedidas em outros pases, especificamente no nvel local dos municpios,
conforme a seguinte descrio:
Um crescente nmero de municpios [nos pases mais desenvolvidos] est experimentando com a implementao de redes cvicas e outras formas de participao on-line, cujo objetivo o fortalecimento das comunidades locais e a experimentao com novas formas de participao democrtica (FREY, 2002, apud REZENDE; FREY; BETINI, 2003; TSAGAROUSIANOU et al.,1998, apud REZENDE; FREY; BETINI, 2003, p. 12).
Concernente criao de comunidades e fruns de discusso e deliberao
virtuais, existem avaliaes divergentes, principalmente com relao ao papel das autoridades
governamentais:
Alguns autores defendem a independncia de projetos de democracia eletrnica do poder estatal, alegando uma principal oposio de interesses entre as concepes do poder administrativo e dos interesses da sociedade (DAHLBERG, 2001). Em contraposio, partimos porm da suposio de que o fato do poder pblico assumir responsabilidade referente
20Disponvel em: www.camara.gov.br.21Disponvel em: www2.camara.gov.br/popular.22Sinnimos: ciberdemocracia, e-democracia, e-democracy.
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estimulao, organizao e mediao de tais fruns no precisa ser necessariamente um obstculo para uma efetiva democracia eletrnica, sob a condio porm de que o controle social assegurado pela prpria comunidade local. (REZENDE; FREY; BETINI, 2003, p. 13).
Por outro lado, existe uma controvrsia acerca do potencial democrtico das
TICs. Defensores do mundo virtual
[...] como Negroponte (1995) esto convencidos de que redes globais de infra-estrutura de comunicao, exploradas por atores privados, sero instrumentos decisivos para promover a democracia, o desenvolvimento e a solidariedade e para resolver as grandes desigualdades sociais do planeta (SFEZ, 2000, apud REZENDE; FREY; BETINI, 2003, p. 14).
Segundo eles,
A comunicao de mo dupla que se torna possvel na Internet se contrape comunicao de mo nica que prevalece nas mdias de comunicao de massa. Enquanto por exemplo, na televiso os debates pblicos so conduzidos em geral pelos lderes de opinio, sem uma participao ativa dos cidados comuns, parece que na Internet surgem novas possibilidades de criao de uma esfera pblica interativa, um tipo de gora eletrnica, sobretudo devido vantagem da dissoluo do espao enquanto condio de comunicao (SASSEN, 1997, apud REZENDE; FREY; BETINI, 2003, p. 13).
J para os ciber-pessimistas, a Internet, por suas inmeras possibilidades, em
vez de levar busca do interesse comum, gera comportamentos individualistas, nos quais os
cidados buscam em primeiro lugar o atendimento s suas preferncias. Dessa forma,
A aparente vantagem da Internet, que ela possibilita escolher entre ofertas imensas e diversificadas de informao e de acordo com preferncias e necessidades informacionais particulares, significa por outro lado que os cidados dedicam cada vez menos ateno s questes de interesse comum e que vo alm das prioridades individuais de percepo. Essa tendncia, de acordo com os ciber-pessimistas, coloca em xeque uma das premissas da idia de uma democracia sustentada por uma esfera pblica e poltica: a manuteno de um foco de ateno comum e de uma base de conhecimento coletiva e partilhada (WINKEL, 2001, apud REZENDE; FREY; BETINI, 2003, p. 15).
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Por outro lado, os ciber-otimistas esperam impactos positivos para a
revitalizao democrtica em todos os nveis do processo poltico, desde o acesso
informao e documentos administrativos ou polticos, at a ausncia de discriminao por
idade, sexo, cor ou raa, uma vez que a entrada dos atores na Internet no depende de uma
situao preestabelecida, mas apenas da sua ao no presente momento (SFEZ, 2000, apud
REZENDE; FREY; BETINI, 2003, p. 15). Citam que existem expectativas at de melhora na
participao de parte daqueles cidados que so mais relutantes em se engajar em debates
pblicos, por receio de exposio pessoal, uma vez que a participao virtual reduziria essa
exposio.
Entre os ciber-pessimistas e ciber-otimistas, existe um conjunto de autores que
defendem a utilizao da democracia eletrnica de forma parcimoniosa, em complemento
democracia representativa, com o aperfeioamento das formas atuais de participao popular
e o incentivo a novas, com utilizao das TICs para permitir uma efetiva e ampla conversao
civil. Por suas caractersticas mais conciliadoras, essas formas intermedirias de democracia
eletrnica so mais propcias utilizao pela Cmara dos Deputados.
2.5 Graus de Participao Democrtica Digital
Nos vrios debates sobre democracia digital, o cerne da discusso a
possibilidade de maior participao poltica da esfera civil nos processos de deciso. Essa
participao pode ocorrer em diferentes graus e intensidades, sendo que para alguns o ltimo
grau com a maior intensidade poderia se traduzir em uma democracia direta eletrnica de
inspirao grega (SILVA, S., 2005). Gomes prope a existncia de cinco graus de
participao popular no emprego das TICs, que podem contemplar as diferentes
compreenses de democracia, sobre os quais os vrios discursos poderiam ser enquadrados
(GOMES, 2004, apud SILVA, S., 2005, p. 454):
1) Primeiro grau de democracia digital. nfase na disponibilidade de
informaes governamentais e na melhoria da prestao de servios pblicos com utilizao
das TICs, que seriam consideradas, dessa forma, instrumentos democrticos. Ou seja, h uma
nfase na eficincia instrumental da relao poltica, porm, o pressuposto neste grau est
alicerado no fluxo de interao predominantemente de mo nica, do governo para o
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cidado, com dois papis claros: a) o papel de um governo que busca suprir as necessidades
de informao bsica, servios e bens pblicos ao cidado, tais como sade, educao,
transporte, segurana, saneamento bsico, facilidade no pagamento de impostos,
desburocratizao; e b) o papel de um cidado que aguarda receber, sem transtornos e com
rapidez, esses servios pblicos oferecidos.
2) Segundo grau de democracia digital. Consiste em um Estado que consulta
os cidados pela rede para averiguar a sua opinio a respeito de temas da agenda pblica.
Neste caso, o emprego das TICs pelo governo tem o papel aproximado de criar um canal de
comunicao com a sociedade, embora a emisso continue predominantemente de mo
nica, ou seja, no h um dilogo efetivo, mas to-somente uma emisso de sinais para a
esfera civil a fim de receber algum tipo de retorno sobre sua atuao. A abertura
governamental participao popular limita-se criao de canais de sondagem de opinio
sobre determinados assuntos polticos, no significando necessariamente que essa opinio ser
acatada nas decises polticas.
3) Terceiro grau de democracia digital. representado pelos princpios da
transparncia e da prestao de contas (accountability), o que gera uma maior permeabilidade
da esfera governamental para alguma interveno da esfera civil, assim como uma maior
preocupao na responsabilidade poltica e, dessa forma, um maior controle popular sobre as
aes governamentais. A publicidade de informaes difere do primeiro grau, onde a
informao menos preocupada em demonstrar transparncia dos atos pblicos e menos
preocupada tambm com a formao e as repercusses da opinio pblica. Neste terceiro
grau, a publicidade voltada para fortalecer a cidadania, disposta a evitar a prtica do
segredo. A permeabilidade poltica deste grau tambm difere do segundo grau, no qual est
restrita recepo da opinio pblica com predisposio a consider-la no processo de
deciso. No terceiro grau, a permeabilidade poltica se d mediante os mecanismos de
controle pblico propiciados pela transparncia das aes governamentais. Porm, ressalta-se
que, neste grau, a produo da deciso poltica continua, em ltima anlise, restrita esfera
pblica.
4) Quarto grau de democracia digital. Est baseado na democracia
deliberativa. Consiste na criao de processos e mecanismos de discusso, visando ao
convencimento mtuo para se chegar a uma deciso poltica tomada pelo prprio pblico,
definindo prticas mais sofisticadas de participao, baseadas em mais interao democrtica,
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com dilogo aberto e livre, onde participantes privados propem reivindicaes e argumentos
sobre problemas