aspectos teoricos da pesquisa participante - consideracoes sobre o significado e o papel da ciencia...

11
/"{-j " 't:\_j.c~'~ ?'!':;;;.~}--,,," 'J .{!\)~-.)_t2j.· i ..; ~ ~. ASPECTOS TE6RICOS DA PESQUISA PARTICIPANTE: considera~oes sabre a significado e 0 papeI da ciencia na participa«:;ao popular* Este artigo procura enfoca r teoricamente 0 significado e 0 pape! da cicncia na pctrticira~iio popular. Olema nao c novo. Stavenhagcn (J 97!) considerou-o em termos de teoria social e pratica social. Huynh (1979) abordou-o em termos de "desenvolvimcnto cndogeno", centrado 110 homcm e na participac;ao popular no dcscnvolvimcnto. A propria UNESCO assumiu a lidcran~a • Tr'JJu,,:ilO de Ht:ito: FCITcira cia Costa. Esta e Ulna vers~o condcllsacla pclo CCI'D do artigo original ;)ub!icado pclo Setor de Ci2ncins Sociais e suas Aplicayoes. UNESCO, Paris, 20 de junho de 1Cl80. rd. 3274-ETD·31. Os grifos clevcm-se ao CCPD, neste campo. Alcm do mais, a Organizal,:ao Internacional do Trabalho, o Instituto de Pesquis3 das Na<;6es Unidas para 0 Desenvolvimento Social eaComissao sobre a Participa~ao das Igrejas no Desenvolvi· mento, do COlGcilio Mundial de Igrejas, tambcm estao trabalhando sobre o problema da participac;ao popular. o que se entende por pes(juisa parlicipan/e? Antes de tudo, nao se trata do tipo conservador de pesquisa planejado par Kurt Levin, ou as propostas respeitadas de reforma social e a campanha contra a pobreza nos ,H1OS 60. Refere-se, antes, a uma "pesquisQ da al'ao l'olrada para as necessidades 'b6sicas do individuo" (Huynh, 1979) qlle res- ponde especidmenle as necessidades de poplIlar;oes qlle compreendclIl operarios, cmnzponeses, agricu!!ores e Indios - as classes JIIais carellle:, nas es:rulurQS' sociais contempor(;neas - levl1ndo em cOl/la suas aspi- rar;oes e poteruciar:dades de wnhecer e agir. £; a me/odologia qlle pro- Cllra incen/il'mr 0 dcsenvo!vimellio aU/Gnomu (at~tocon.fiante) a partir das bases e Imw rela/h'a independeru.:ia d~ exterior, como c1efinic.la e explicada mais pormenorizadarnente acliantc neste artigo. Neste semido, podemos distinguir e articular uma voz e UITI know- how ate agora reprimiclos pcla prcdominancia da cicncia classica, cujos ava[J~os hoje nos- prcocupam e seduzem. Dc fato, hi LIma fonte de sabcdoria e tracli~ao que, em sua aparente simpliciclade, nos ofercce as pistas e mesl110 as rcspostas para a crise social atua!. Iremos nos rcferir a essa fonte de sabedoria e tradi~ao como "cicncia popular" Oll "ciCllCi;] do homem cannum". \ FUNDAMENTOS TEORICOS PARA A DISCUSSAb Ern primeiro lugar, nao deveriamos fazer cia cicncia UI11 fctiche, como se Fosse lima cnticlade cnm viJa pr6pria, capaz cle reger 0 ulli- n:rso e dc c1ctclminar a fOI'I1J:! e 0 contexto dc nossa socicclacle, tantu prescote quan(iD futura. Tenhamos em mente que, longe de sa tao medonho agcnte, a cierlcia e apenas wn produlo cultural do il/ldecto lwnwno ({lie. re:~sp"o-;de -a--~ecess/dades co[e/iIJ(!5:_c,o.&cret(ls. - inclllsive

Upload: fernanda-sarmento

Post on 29-Jul-2015

257 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

/"{-j "'t:\_j.c~'~?'!':;;;.~}--,,," 'J .{!\)~-.)_t2j.·

i..;

~~.

ASPECTOS TE6RICOSDA PESQUISA PARTICIPANTE:

considera~oes sabre a significado e 0 papeIda ciencia na participa«:;ao popular*

Este artigo procura enfoca r teoricamente 0 significado e 0 pape!da cicncia na pctrticira~iio popular.

Olema nao c novo. Stavenhagcn (J 97!) considerou-o em termosde teoria social e pratica social. Huynh (1979) abordou-o em termosde "desenvolvimcnto cndogeno", centrado 110 homcm e na participac;aopopular no dcscnvolvimcnto. A propria UNESCO assumiu a lidcran~a

• Tr'JJu,,:ilO de Ht:ito: FCITcira cia Costa. Esta e Ulna vers~o condcllsacla pcloCCI'D do artigo original ;)ub!icado pclo Setor de Ci2ncins Sociais e suas Aplicayoes.UNESCO, Paris, 20 de junho de 1Cl80. rd. 3274-ETD·31. Os grifos clevcm-seao CCPD,

neste campo. Alcm do mais, a Organizal,:ao Internacional do Trabalho,o Instituto de Pesquis3 das Na<;6es Unidas para 0 DesenvolvimentoSocial e a Comissao sobre a Participa~ao das Igrejas no Desenvolvi·mento, do COlGcilio Mundial de Igrejas, tambcm estao trabalhando sobreo problema da participac;ao popular.

o que se entende por pes(juisa parlicipan/e? Antes de tudo, nao setrata do tipo conservador de pesquisa planejado par Kurt Levin, ouas propostas respeitadas de reforma social e a campanha contra apobreza nos ,H1OS 60. Refere-se, antes, a uma "pesquisQ da al'ao l'olradapara as necessidades 'b6sicas do individuo" (Huynh, 1979) qlle res-ponde especidmenle as necessidades de poplIlar;oes qlle compreendclIloperarios, cmnzponeses, agricu!!ores e Indios - as classes JIIais carellle:,nas es:rulurQS' sociais contempor(;neas - levl1ndo em cOl/la suas aspi-rar;oes e poteruciar:dades de wnhecer e agir. £; a me/odologia qlle pro-Cllra incen/il'mr 0 dcsenvo!vimellio aU/Gnomu (at~tocon.fiante) a partirdas bases e Imw rela/h'a independeru.:ia d~ exterior, como c1efinic.la eexplicada mais pormenorizadarnente acliantc neste artigo.

Neste semido, podemos distinguir e articular uma voz e UITI know-how ate agora reprimiclos pcla prcdominancia da cicncia classica, cujosava[J~os hoje nos- prcocupam e seduzem. Dc fato, hi LIma fonte desabcdoria e tracli~ao que, em sua aparente simpliciclade, nos ofercce aspistas e mesl110 as rcspostas para a crise social atua!. Iremos nos rcferira essa fonte de sabedoria e tradi~ao como "cicncia popular" Oll "ciCllCi;]do homem cannum".

\FUNDAMENTOS TEORICOS PARA A DISCUSSAb

Ern primeiro lugar, nao deveriamos fazer cia cicncia UI11 fctiche,como se Fosse lima cnticlade cnm viJa pr6pria, capaz cle reger 0 ulli-n:rso e dc c1ctclminar a fOI'I1J:! e 0 contexto dc nossa socicclacle, tantuprescote quan(iD futura. Tenhamos em mente que, longe de sa taomedonho agcnte, a cierlcia e apenas wn produlo cultural do il/ldectolwnwno ({lie. re:~sp"o-;de-a--~ecess/dades co[e/iIJ(!5:_c,o.&cret(ls.- inclllsive

Page 2: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

iiquelas coJ/Sideraf.oes artisticas, sobrenaturais ._~.. ex.r!acienrifica~_ - e

tam?et?1._aos objetivos .cspecificos determinados pdas classes socia is do-.. .•.

minantes .~ll1 P:Cif!.~OS.!list6ricos precisos. ./

Todos sabem que a ciencia e construida pela aplicac;:ao de regras,metodos e tecnicas sujeitas a certo tipo de racionalidade convencional-mente aceita por uma pequena comunidade constituida de mdividuoscham ados cientistas que, por serem humanos, estao, por isso mesmo,sujeitos a motivac;:oes, interesses, crenc;:as e superstic;oes, emoc;:6es e 111-terprctac;:oes de seu elesenvolvimento social, cultural e individual.

Conseqiiclltemente, mio pode haver va!ores abso!u{Qs no conlzeci--~ .... _. - - . -- _ .._---menta cientifico porqclc este ira variar confonlle as interesses ohjetivosdas classes eflvo!l'iclas nil forma~do e na ~c~l/llItla(I;O de cOfllzecime/~-;;,-

ou seja, na sua prodLH;ao. Nossa finalielade imecliata c exalllina~-;~t~-processo de produ<;50 do conhecimento cientifico em vez clo pr6prioproduto final rcpresentado por objetos. artdatos, leis, princfpios, for-mulas, . teses, paradigmas ou clemonstra:;oc:i

Em segundo lugar, dcyer-sc-ia reconheccr que hoje a eOllluniclacleocide,llal ele cicntistas lspeei:t1izados tende a l11onopolizar a eldini<Jiode cicncia e a elccidir 0 que e e 0 que niio e cientifico. Akm do rnais,csla comunid:ldc cicntirica ociclcnt:lI exerec lUll a nilida influl'ncia sobrea ll1:lnutell~';I() do .\f(,IIIS qllo politico e econt1l11ico quc cerca 0 sistemaindustrial c capilali-;Ia elomin:lllte. Soh cssas condi<;l;cs. evidentc:mentc,a produ<;iio d~ c.~nhLC·ilncllto ncstc Ilivel acha-se oricntadarpara a pre-scrva<;:jo c 0 forl:lk'cill1cnto do sistema.

P;:r;1 0 prnp'j\ilo :lcil1la, ns cicnlistas do sistema prefercm I;d;~rcom objclo~;, cl:l<l,)s e ralos congrucntcs COI11 os objctivos d,) ~lslcl11acapitalista, suprimindo Oll climinando outros objelivcs. que, se se tornas-SCI11 rckvantcs, uu ll1eSIl1O sc fossel11 repcnsados, ll10strariam altcrn.ati-V;IS contr:ldi!\)ri;IS, inconsislcl1ci:IS C fr;ICjuezas inercnlC5 ao sislema.

Lss<:s cladfls c nbj<:lOs inc()ngrucnlcs clo sislel1l:\ aprcselltalll, C0l110outras, su,i prl\pria estrutura cognitiva. e podcI11 possuir uma Jinguagerne sintaxe ele express:!o proprias. Este problema est~ scnelo estuelado ern

profundidade pela semi6tica contemporanea. Como responde a outros.interesses, esse conhecimento incongrucnte converge para urn nivel di-fererlte de desenvolvimento e comunicac;ao que ielentificaremos agoracomo a ciencia ou a cultura "emergente" ou "subversiva""

Isto nao significa que este nivel reprirnido au emergente seja anti-cientifico ou que se oponha ao proccsso de acumula~ao ell' conhecimen-to cientifico, tecl1ologico e artistico que VCll1 sendo urn processo cons-tante desde 0 surgimento dos hurnanoidcs. 1\0 entanto, esle IIlve! reco-

nhece uma dinnensao a/ltiga e l'iilida da alil'irlade (ielllifica e cultural

que avanrOI/ e cOllti11l/a a a\'a/l~:ar para fora dos canais acadernicos i/ls-

ritllcionais e gOj,'emalllelltais e que, pelo cOlllr6rio, lem se conslitllido

em lun fator m« est[mu!o COJlstrLltil'o, em crialtl'idade e inol'ar,:ao mesmo

dentro das instfwiroes estabelecidas que lem sid a desafiadas. (NowotnyeRose, 1979.)

EntendclllOI$ por cicncia popular - ou foiclore, conhecimento po-pular, sabedorial popular - 0 conhecimento empirico, au funclado nosensa comUIll, ,que tern sido uma caractl'ristica ancestral, cultural eiclcolog.ica clos (PC se aeham na base c1a sociedadc. [ste tanhecimcntoIhes tenl possibi'litado criar, trabalhar e interprctar. prcuominantcll1CntcCOIll os recursos naturais dirclos ofcrccielos ao homern.

Este conhecimento, folclnrc au sabedoria popular, nao c coclificaclosegundo os padriJes cia forma daillinantc e, por esta r<Jzao, 6 mel\ospre-zaelo COIllO se miio tivessc 0 clireito ele articul<Jr-se e cxpressar-sc emseus proprios telfIHOS, ~!as cste conheCImento popular talllbcm possuisua prclpria racironalidade e sua propria cstrulura de cZtusaliclade, isloc, pode-sc dcmOlllstrar que (em merito c validack ciciltifica pcr se ..

[sIc falclore: l1luito naturalmeillc penl1anccc rJlra J" cstrutura cien-tifica formal c()n~slruida pcla minoria intclcctual do sistema dOlllinante,por reprcsentar "Ima infra<;:al) a SU;lS regr;IS. i\SSi111, por exemplo, oscostuilles pr;ltic(ls de :1In CLlfClIHkiro C:lllljJ\)Ij':;S S:I() in:\ceitavcis a ummedico. E sua in:'lccitabi!idacJc provem do fato dc que ignoram c ultra-rassam os esqucm<1s inslitucionais clo medico.

Page 3: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

Como foi sugerido acima, a cierlcia e urn processo total e cons-tante que atua em varios niveis e que se el'?ressa pOl' meio de gruposde pessoas que pertencem a diferentes classes sociais. A ciencia pode,

~ porlanto, acrescentar e subtrair dados e objetos, enfatizar determinadosaspectos e negligenciar outros; po de atribuir maior importancia a de-lerminados fatores e, finalmente, construir e destruir paradigmas verifi-caveis de conhecimento.

Em determinadas conjunturas hist6ricas, diversos conjuntos de co-nhecimentos, dados, fatos e fatores tornam-se articulados de acordocom os interesses de classes sociais que se introduzem na luta pelopoder social, polftico ou economico (~uhn, J 970: 181- J 87). ~C!rta_nto,

·ha urn aparelho cicntifico construido para defender os interesses da/ burguesia, e este e hoje 0 aparelho dominante em nivel local e geral

nos paises ocidentais. Este e tambem 0 aparelho que limita 0 cresci-mento de {Jutras constiuC;6es cientfficas, como as que dizem respeitoaos que se encontram na base da sociedade.

o curso da hist6ria contemporanea parece trazer Ul1la mudanc;anesse modele de submissao de c1asse. Mas essa revoluC;ao nao implicanecessariamente 0 abandono de todo conhecimento que possibilitou adominac;ao burguesa, como se deu anteriormente com a feudal. Pelocontrario, pode-se antecipar que as descobcrtas tecnol6gicas realizadas13e!oscientistas burgueses podem ser benCficas para as classes proletariase ajuda-Ias a fortalecer 0 seu poder, uma vez este alcanc;ado atravesda ac;3:o politica. Portanto, nao e imperativo dcstruir 0 anterior parase empenh::u numa reconstr~c;ao de acordo co~ novos pIanos cienti-ficos revolucionarios.

Paradoxalmente, 0 triunfo atual da cicncia levou-a a arrancar amascara de nClitraliclade - empunhada principalmentc pelos acadcmicos- e' 0 cJisfarcc de objctivicladc COIll quc se pretendc impressionar 0

grande publico.A ciencia nao pode escapar entre os artificios da epistemologia.

Permaneceu antes enredada nas vicissitudes da polftica tradiciona\. Qconceito de velidade deixa de ser uma qualidade fixa, sendo conciicio-~~d'~ pOl' uma fun~ao de poder que formaliza e justifica 0 que e acei-tave\. E essa aceitac;ao e condicionada a vis6es concretas da sociedadepoIit;ca e 'seu cksenvolvimenlo. POl' essa razao, ser um cientista hojesignifica estar oompromissado com alguma coisa que afeta 0 presentee 0 futuro da hlumanidade. Portanto, a substancia da cicncia e tanto ..qualitativa quanto cultural; nao e ap~nas uma mera quantifica<;ao csta-tislica mas a compreensao de realidades.

o verdadeiilro e alivo cientista de hoje coloca-se questoes como:"Qual e 0 tipo de conhecimento que queremos e precisamos?"; "Aque se destina () conhecimento cientffico e quem dele se beneficiara?".

Portanto, estc parece ser 0 momento apropriado para se examinarfriamente os fatos e tentar melhor compreender a ciencia emergente ea cultura subversiva. Pode ser c0ll1puls6ria uma reordena<;iio da atuJ<;aocientifica a fim de torn-'f-iautil a sociedade como um tod;.C~:,: istaern mente, e inewitavel leva I' em considera<;iio as necessidades das' gran-des maiorias humanas que sao vitimm do progresso desequilibrado dapr6pria cicncia.

Corn relutfuDcia, e em virtude da amca<;a que acarretam para 0sistema dominan!e, est<l-se dando hojc grande 3ten<;ao as necessidadcsdas massas trabaUhadoras que sofrem a explorac;ao capitaiista. ,of. prcciso,pois, aproximar-s;.'C das bases da saciedade naa apenas COIll 0 objetivode entendcr sua propria vCfsiio de sua ci<3ncia pratica e expressiio cultu-ral, mas tambcm para procurar formas de incorpor{l-Ias :15 ne1cessidadcscoletivas mais ge!fais, sem ocasionar a perda de sua identid,ilde e seu

I ....

teor espedfico. Iremos nos rcfcrir a esse problema e a esse dilcma naspaginas""s~g~'i~t'es" no contexto tla mctodblogia especifica da pesquisaparticipante e da orientac;ao que cIa fomece a sells praticantes.

COrrll:Cl:11l0SeX<'lllIinancJo as contribui(,'ocs do conhecill1l:nto popular,ou fo!clore, a cicmcia do homem comum. Ela e 0 conhecimento pratico,emplrico, que ao longo dos seculos tern possibilitado, enquanto meios

Page 4: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

naturais diretos, que as pessoas sobrevivam, criem, interpretem, produ-zam e trabalhem. Gramsci mostrou urn caminho quando reivindicouque existe nas classes trabalhadoras uma "filosofia espontanea" contidana linguagem (como urn complexo de conhecimentos e conceitos), nosenso comum e no sistema de cren<;as que, embora incoerente e dispersoem nivel geral, tern valor na articula<;ao das praticas cotidianas (Grams-ci, 1976: 69-70).

De fato, basta recordar 0 quanto esta "filosofia" e cultura populartern feito pela civilizaryao, desde as produtos agricolas ate as pratic-~-smedicinais e as ricas contribui<;6es artlsticas. Nao e raro encontrar-sepessoas cultas que delas se apropriam e transform am a conhecimentoou a tecnologia e a arte popular, fazendo com que se most rem comonovas descobertas e modismos. ,f: a caso de artigos como 0 poncho deIii nas forma<;6es de cavalaria; de dan<;as como a clIlIlbia em seletossal6es de baile; da arte primitiva na pintura e da narrativa de costumespopulares. Muitos importantes inventos inecanicos foram projetados combase na experiencia rural, como foi 0 caso com muitas '.jas inven<;6esde Franklin, McCormack, LeTourneau e os irmaos W'right. As interpre-tary6es newtonianas de Kant em sua Critica da Raziio PI/ra trazem amarca dessa racionalidadc, que nao era senao a sensa comul11 de suacpoca. Galileu transrnitiu ern seu De motu uma teoria do movimentoque era a expressao tccnica CIa opiniao comum que existia des de 0

seculo XV (Mills, 1969: 111; Fayerabend, 1974: 63, 189).. Dramaturgos como Shakespeare tiveram origem puramente popular,

aSSlm como a representa<;ao de sUas tragcdias e comeclias. E os filmesde Chaplin ou a musica dos BeatJes nao teriam sido possfveis se naoestivessem enraizados no mundo clo homcm comum. Foucault encontranesta dimensao popular elementos suficientes para a "hi~toria viva" que.prop6e em sua arqueologia do saber (Foucault, 1970: 22-23). Poroutro lado, Levi-Strauss aborda 0 mesmo problema, embora com algum ,preconceito, quando escrcve a respeito do "pensamento selvagem". Mui-tos antropologos admitem que nao ha "melhores coletorcs de dados queos proprios nativos" e que 0 pape! clo cientista, nessas circunstflI1cias,cleve se limitar a seu registro e publica<;ao (Radin, 1933: 70-71). Dcfalo, recentes Il1Ol1ografias antropologicas refletem essa tendcncia derepresentar diretamcnte a expericncia de grupos e indivfduos cia basesocial.

AlCm disso, pode ser valida a interpreta<;ao da hist6ria e dasociedade feita pelos camponeses e operarios, pois corrige a versao de-formada conticla em muitos manuais academicos, "de vez que surge dasverdadeiras raiLes da classe trabalhadora, da memoria de seus antigosinformantes, de sua· pr6pria tradi<;ao oral e de seus momentos e clo-cumentos fam ili.a res". Portanto, a hist6ria (e tambem alguns· outroselementos culturais) pode ser "criticamente recuperada" a fim de quepossa ser colocada a serviryo das lutas e metas do hornem comum(Fals Borda, l!.978: 235).

Aceitando a premissa da ciencia ou fo\clore popular, podemosagora passar a abordar especificamente seis princfpios rnetodol6gicos da

pesquisa participante.

No final das anos 60 e no inicio dos anos 70, um enxame deardorosos cien\11stas sa.iu clas universiclades para sc "assimilar" ao ho-mem COI11um. Em geral, aqucle fenameno particular foi uma demons-tra<;ao de uma< basic a falta de respeito pela cuhura c filosofia do ho-

mem comum .Eram belTlI-intencionados mas se enganaram. 0 que procuravam

aqueles intclect\\lais, n.a epoca, consistia em tornarem-se capazes de exi-bir maos asperas e calejadas e pele tostada de sol como prova de heremaprendido a li~ao de que "0 homem comum nunca se engana"~ Estafoi uma fraude: muito convenientemente dcscoberta pelos ativistas de-sorientados. Mas desta vez a homem comum nao agiu errado, quandodestituiu aquele$ ativistas de autoridade por causa de sua falta de auten-ticidade. Foranf:l vitimas de um extremo objetivismo que so poderiaser explicado c[)mo pequeno-burgues (M andel, 1972: 51-61).

A li<;ao fo~i aprendida: de fato. nas lutas populares ha sempre urnespa<;o para os, inte1cctuais, tecnicos e cientist2s como tais, sem queseja preciso que: se disfarcem como camponescs Oll operarios de origem.Tem apenas, qille demonstrar honestamente seu _com;:,rom~~so__::orn "

Page 5: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

causa popular perseguida pOI' meio da contribui~ao especifica de__~l!.l!-

propria disciplina, sem negar completamente essas disciplinas.

Mesmo assim, esta importante abertura cientifica e politica foiquase sempre desperdi~ada pOI' intelectuais pessoalmente compromis-sad os, quando aplicavam rigidamente em sua pesquisa algumas ideiaspreestabelecidas ou principios ideol6gicos.

A experiencia real cnsina que nao C sequel' sonvenicnte aplicar nocampo essas ideias preestabelecidas, como em geral tem sido 0 casode nucleos de lidcran<;a que pertencem a par,idos politicos raclicais.Este c um comportamento dogmatico cia pior f-specie. Sabe-se, c claro,que 0 dogmatismo e, por defini<;ao, urn inimigo do metodo cientifico;pode tambem tornar-se um obstaculo para 0 avan~o na luta popular(Marx; 1971: 109).

Este tipo de critica e aplicaveJ ao col0:,ialismo intelectual de direi-ta assim como de esquerda, isto e, a tcndc.lcia a copiar tescs e imitarautores de paises dominantes sem levar em conta 0 meio cultural (Fun-da~ao Rosca, 1972: 72). Mas nao sigr.ifica necessaria mente que 0pesquisador devcria agir contra sua pr6uria organiza~ao au ir contraseus Iicleres. Pelo conldirio, tcm sido UlT,plamcnte reconhecido 0 papelde media~3o dessas organiza~6es politi.:as entre a teoria e a pratica,clesde Luckacs. Conludo, saber se a t:-abalho de intelcetuais compro-missados com grupos cle base esta ou nao politicamente amparaclo c ecientificamcnte util dcpende cia capaciclaclc da propria organiza<;ao poli-tica em os assimilar c respcita-Ios, c0nfcrindo a toclos a autonomia que

Ihes cabe.POI' essas razoes, a procura cle UI;)a "cicncia prolet{lria" em si tcm

sido contraprodutiva c inutil no que diz rcspcito a pesquisa participantc.Se 0 intelectual cngajado ou 0 nuclco clc licleran<;a se tornam dogmaticosem seu trabalho, podem estar forr~lando antes uma cicncia para 0 POyO,como cIa sempre foi concehida nos circulos das classes dominantes ctransmitida as massas cia mancira patcrnali5ta tradicional. Nao snia11m incentivo para se ohter all produzir conhecimento genulno a partirdus grupos de. base, para que cles possam cntender mclhor os seusproblemas e agir em defesa de seus intcresses (Fals Borda, 1978 :235).

Os pesquisadores participantes precisam partir da no<;ao de quc .~-cultura (ou a tradi<;ao) do campones ou cia operario nao e conservadoracomo frequentemente se supoe, mas e de fa to realista e dinamica.

Ha elementos positivos e negativos na cultura e na tradi<;ao cam-ponesa, com tcnclcncias para a mudan~a social e abertas as possibili-dades de transforma<;ao, tanto nO conhecimento, quanto na a<;30. Istoe eyidente. Senao, como poderiamos expticar tantas revo1tas camponesas

que oeorreram L'la historia mundial?Em muitos casos, tern sido facil determinar algumas clas fontes

e canais de aiiena<;ao que impedem a a<;50 camponesa; isto c, aquelcsque surgem do. difusao clos valores burgueses. Assim,_ c possivel cqui-.librar 0 peso desses valores atienanles pOl' meio de iima restitui<;ao enri~I'quecida do conhecimento dos camponeses (especialmente cla hist6rialocal e dos a~:ol1tecimentos hist6ricos) aos pr6prios camponeses. Esteesfor<;odeveria leva-Ios a 10VOSniveis de consciencia politica. Dessaforma, seu senso comum poderia ser transformado de modo a se tornarmais sensivel a mudan~as radicais na socicdade e aos tipos nccessariosde a<;ao. Da mesma forma, a voz das bases populares, antes calacla ou

reprimida, pode <Issim ser ouvida em nivel geral.Esse retOJrHClda cultura nao pode ser fcilO de qualqucr modo: deve

ser sistematico c organizaclo, e selll arrogilncia intelcclual (Mao, 1968:III, 119). Por isso, cssa tccnica d.:salienadora quc forma novo conhe-.cimento a um nivel popular tcm sido chamada de "resliIUi<;ao sistema-tica". A cste rcspeito, podcm-se clcstacar quatro regras espccificas:

I. Coml1l1Jica<;iio dijercllcial. Uma primeira regra dessa tccnica crestituir os matteriais historicos (e outros) de forma acleql1ada e adap-taclos cle acordo com 0 nivel cle clese;lvolvimento politico e educacionaldos grupos de base que forneceram a informa<;:ao, ou com qucm 0estudo foi reaiiz.::ado. Nao devcriam ser devolvidos adaptados apenasao nivcl politico d;s nucleos de lidcran<;a que, via de regra, c maisaV3n<;ado. Por essa razio, os cstudos desenyolvidos sac publicados pri-meiramente rw ([[Ie se rode chamar de "Nivc1 1" de cUlf1llnicaC;ao. !stn,em bel',!!, 10m" ~l forma de historias em qU~IJrinh()\, b':,l1 ilustr:;·.!:)" '.

simples. De~s,a mancira, os grupos populares 530 os primcirus a sc i'.ll',:l·rar clos resultados da pesql1isa. A esses folhetos na forma de hist6rias

Page 6: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

em quadrinh9s-acrescentam-se elementos como dispositivos audiovisuais;slides, grava~6es ou tapes, musica e representa~6es teatrais levadas porgrupos locais, e curta-metragens em que os atores sejam pessoas au-toctones.

Entao, em seguida, os mesmos textos sao publicados em urn nlvelmais elevadoe'de-U~ -~~d~-m~Ts--compTeto--para--os - ~~ci~~s-- de lide-'i-aii-~a ("Nfver 2").: Finalmente, os mesmos temas - sa~ aborci~dos de-uma fo~~~--d~s~~itiva e tcorica mais geral, levando ern conta ~s:~s:on-=-_~'textos nacional e regional, destin ad a aos intelectuais envolvidos ("~f-vel 3").---_ ..._-

Finalmente, nem tudo que for pesquisado podera ser publicavelse 0 pesquisador engajado levar em conta os objetivos pnlticos clas pes-soas envolvidas na a~ao, como se espera dele conforme os principios dapesquisa participante. Isto dependera de necessidades tMicas e do mauuso da informa~ao por parte claqueles idcntificados pelas pessoas ema~ao como seus inimigos.

2. Si!nplicidade de ~'Jm/ll/ica{:iio. A segunda regra determina queos resultados dos estudos sejam expressos numa linguagem acesslvela todos. Isto exige um novo estilo de apresen-ia;;ao' dos materiak-CTef'l~-tlficos e pode levar a alguma experimenta;;ao na divulga;;ao de re-sultados de pesquisa a urn publico mais amplo (Fals Borda, 1979.)

3. A /llo-invesliga{:iio e COI/Iro/e. A terceira regra rcfcre-se ao con-trole daiilvestiga;;ao pelos movimentos ou grupos de base e 0 estl-niuIo a auto-investiga~iio. Nessas circunstancias, I1enhum intelcctual.ou.pesquisador pode determinar sozinho 0 que deve ser investigado, ma~cleve chegar a uma decisao' apos consul tar as bases ou grupos popula~res intfressados: Levam-se em considerac;ao as priorid,~des e nccess~-clades idos niovlmentos ou !tItas populares e nao somente as neceSSl-dades dos pesquisadores. Assim, soluciona-se nao apenas 0 problemade "para quem" este estudo c feito, mas tambcl11 0 da incorpora;;aoclo cientist<t ao meio em que ele deve atuar. Para essa finalidade tcm-se'aclotado tecnicas dialogais e rompKlo 0 esquema assimctrico de objetoe sujeito da pesquisa. (Freire,' 1970.)

4. PoplI!ariza{:c1o lecnica. A quarta regra c reconhecer a genera-lidade d:.ls t(-clliGlS de pcsCJuisa mais simples e torna-las acesslveis aesscs grupos. Desse modo, cursos de metodologia .de pesquisa corrente<io mi'nistrados aos nucleos de lideran;;a mais avan~ados, de modo

a capacita ...:jos a romper com su~.dependcncia frente aos, Jntelectuaise--a- realiz3lf facilmente sua propria pesquisa.

QuanQlo se faz um exame da aplica~ao dessas quatro regras emI .

relac;ao comu as lutas camponesas e operarias em diversos palses, podc-se concluilf que 0 conhecimento da realidade tern sido consideravel-mente enrii-quecido com a resliwi{:iio sistenuilica. Por exemplo, telllsido pOSSIV,'elsubstituir os herois da cultura burguesa dominante pOl'

herois que perten;;am a luta popular. .o cannpesinato tem conseguido equilibrar de algl1m modo a Jlic-

na;;ao em (que tem vivido como parte de sua tradic;ao e pocle mantervivos movinnentos que, apesar da continua repressao, colocam em Xl:'

que govermos reacionarios, em determinados perlodos. t entao passIVe Iver como, por meio da edl1cac;ao polltica, 0 senso comum dos cam-poneses gr31dualmente adquire maior perspicacia e adota uma voz p['('1-

pria. Come'j;a a se tornal' "bom senso". Da-se a luz aql1i a uma no\;1tradi;;ao ~ um nlvel mais elevado de conhecimento, pdltica e e/a/l vi tal.

t clam que nem todo 0 processo pedag6gico e politico rcdll7.iu-sca recuperatr criticamente a historia e rcstitui-b sistematicamcntc itsbases camp'(Qoesas c operarias. Tarnbcm se da um feee/back diakticodas bases para os intelectuais e'ngajados. Isto ~ parte importante doprocesso totl;al da procura e idcntificac;ao da cicncia do homern conlllnl.

. A n~ce:ssid~de de feedback dialctico conduz a uma difercncia<;,jode papeis nlllltliamentc reconhecida. Conduz a implicac;ocs pdlticas doconceito de Gramsci do "intelectual organico", tema muito import antepara 0 qual voltamos agora nossa aten;;ao.

Os intc:ilectuais compromissados corn a tuta popular em diversnspalses tern l(entado formal' grupos de consulta ad hoc, constituidos decamponeses !ic!<")l1eos,trabalhadores e indios com vasta expericncia, coma finalidade de suplanlar os grupos dc' consulta formados pOl' <lcadc-micos e pro.]fcssorcs (a elite domin3ntc). (Fals Borda, 1978: 233.)Embora esses gflljJOS lid hoc nao tenham conseguido ate agora res-ponder tota\;;-nente a discussiio cientifica em si, elcs contribuiram p;\raaspectos prat'iicos c polfticos do trabalho de campo. No momento, entrecolaboradores, atinge-se urn determinado nivel razo3vcl de cliscussao

Page 7: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

1'1; IiIHi l't, 'in-. I ~

inI If '1/;

i J ~, I·

t 1{i i;; ,ii ;~, ,: ~~1'<i :t,i :.:

: itIIil..Ii) r,1

cientifica sobre 0 que se faz no campo. Ne~t~ nivel se faz tambem umaimportante articula~ao teorica: do partic~iar para 0 geral, e do regi·~-:':

, naI para 0 nacional, de modo que se pode formar uma visao integradade todo 0 conhecimento.

Esta discussao entre colaboradores e cnriquecida pela prMica nocampo, pelo cant acto com grupos de base e seus problemas concretose pelas opinioes e conceitos dos nucleos de lideran~a, camponeses eoperarios, dos grupos de consulta ad hoc. Tern se dado uma contri-buiC;ao intelectual decisiva da parte desses nucleos, expressa nas reivin-dicac;oes de cIareza e precisao na exposi~ao teorica; observac;oes sobrea aplicabilidade da teoria no contexto imediato; descric;ao vfvida efiel dos processos sociais locais; explicac;oes de estratcgias e taticas naslutas regionais; inforrna~oes sobre as rnotivac;oes do comportamentoindividual e coletivo nao perceptiveis pelas pessoas estranhas ao meio;elementos especiais da cultura rural, tais como herbologia e mitos;termos e linguagem ~tilizados na agricultura, cac;a e pesca; e princfpiostecnlC(J$ para 0 uso de instrumentos agricolas.

Tudo is to e informa~ao direta e valida sobre ·um know-how· quetern enriquecido as analises subseqiientes realizadas a urn nivel cienti-fico mais geral, pela comunidade intelectual engajada. P_~d~ have~ ~Ir1.1aconvicc;ao de que a tradi~ao popular - seu conhecimento empirico epratico - pode encontrar urn lugar de destaque no dcsenvolvin;~~l~_da ciencia como Urn processo humano constante e total, e de que aO vozdo horn em comum, antes calada, pode adquirir uma nova ressonancia.

9_s agentcs deste processo dialctico, inclusive os camponeses e. operarios treinfldos para uso dessas tccnicas, podem ser consideradosintefectuais org1anicos. Suas fontes de estfmulo e know-11Ow sao simul-taneamente populares, folcloricas e cientificas. Tambcm podem scr cha-mados de "rninoria organica"

COllseqiiellternente, uma das princirais responsabiliclaJcs c10s pcs-quisaclores (intclcctuais organicos) e articular 0 conhecimento concreloCOIll 0 conhecimento geral, 0 regional corn 0 nacional,_?- formar;ao so-cial corn 0 modo de produC;ao e, vice-versa, observar no campa as

aplicac;oes cOllcretas dos principios, diretrizes e tarefas. A fim de garantira· eficiencia dessa articula~ao, tem-se adotado urn ritmo especifico notempo e no espa~o, que vai da ac;ao a reflexao, e da refJexao a ac;ao,em um novo nivel de pnltica. Contudo, este procedimento reconhece aimportancia de se manter uma sincronizac;ao permanente de reflexao eac;ao no trabalho de campo, como urn ato de permanente equilibrio in-telectual.

o conhecimento cntao se move como Uma espiral continua em queo pesquisador vai das tarefas mais simples para as mais complexas edo conhecido para 0 desconhecido, em cantato permanente com as basessociais. Das bases, os conhecimentos sao recebidos e processados; a in-formaC;ao e sintetizada em primeiro nlvel; e a reflexao se da em umnivel mais geral e valida. Em seguida, os dados sac restituidos as basesde uma forma mais consistente e ordenada; estudam-se as conseqiienciasdesta restitui<;ao; e assim por diante, indefinidamente, mas de maneiraequilibrada, ldeterminada pela propria luta e por suas necessi(i Ides.

Podem-se resumir ern duas idcias as condic;oes minimas para 0 de-senvolvimcnto desse ritma e equilibrio e para 0 feedhack cultural dasbases para a minoria organica.

I. A die que a tarefa cientifica pocle ser realizada mcsmo nassituac;oes mais insatisfatorias e primitivas com 0 usa dos recursos locais,e de que, na verdadc, a modestia no manuseio do aparelho cientificoe nas concepc;oes tccnicas e a principal maneira de se realizar as tarcfasnecessarias no nivel atual de descnvolvimento na maiaria dos locais.Isto nao signFfica que, devido a sua modestia, este tipo de esforc;o cien-tifico seja de segunda- cIasse ou de que lile falte ambi<;ao.

2. A de' que a pesquisc.dor deveria: (a) abandonar a traclicionalarrogancia do erudito, aprendcr a ouvir discursos concebiclos em difc-rentes sintaxes; culturais, c adotar a hurnildade dos que realmente quc-.rem aprcnder e c1escohrir; (b) romper com a assimetria das rc1ac;()cssociais geralrncnle impostas entre 0 entrevislador C 0 entrevistaclo; C

(c) incarporar pessoas das bases sociais como indivfduos ativos e pen-sante;-n~~~~si~r~os de pesquisa.

Page 8: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

Portanto, a "ciencia modesta" e as tecnicas dialogais ou de partlcl-pa<;ao constituem referencias quase compuls6rias para todo e'sfor<;o queprocure estimular a ciencia popular, ou para se aprender com a sabe-

-doria e a cultura popular, ampliando este conhecimento ate urn nlve!mais geral. isto e do que trata a pesquisa participante, com 0 apoionecessario das ciencias emergentes e subversivas.

Baseados nos princfpios articulados aeima, 0 autor apresenta tres_~;{e_IT1pI()sconcretos de pesquisa participante em que esteve pessoalmenteenvolvido. (Por motivos de espa<;o, apenas dois casos serao-apresen-tados aqui.)

Durante 0 seculo XIX, 0 governo colombiano impos uma politicade distribuir reservas com direitos e titulos de posse, sem delimitac,:aode partes par herdeiros, entre seus ocupantes indigenas. N a pratica,este gesto permitiu que nao Indios obtivessern essa terra, como aconte-ceu em diversas partes do paIs. Mas na provIncia sulina de Caucamuitos descendentes das tribos de Paez e Guambiano combateram comexitoesta politica ate 0 seculo XX, quando ocorreu uma intervenc,:aoreligiosa.

Vma das reservas localizadas nao muilo distantes de Popayan (acapital cia provincia) incbmodava a arceb;spo local gu.c precisava deespac;o para construir um I seminario. Apos fazer acordos - ilegalmcnte- com 0 conselho indigena ~cabildo) separou-se um lote de terra damelhor parte da rcserva, onde a nova construc;ao foi erguida. Maistarde, lotes adjacentes foram acrescentados ao original, de modo que,apos umas poucas dccadas, quase toda a reserva foi tragada pela ar-qui diocese. A aliena<;ao resu]tantc [oi tamanha que a comunidade quaseesqueceu como se fizera a aquisi<;ao ilegal.

Quando a pressao pcb terra turnou-se aguda nos an05 70, osIfderes indlgenas locais organizaram-se pela; primeira vez num conse-lho de defesa coletiva chamado CRIC (Consejo Regional Incligena del

Cauca), que ainda e atuante na reglao e em outras partes da Colombia.Tendo criado Iiga<;6es corn cientistas sociais engajados, 0 CRIC come-C;Oll a examinar a questao desta reserva especifica assim como de mui-tas outras que foram perdidas para poderosas familias de Cauca.

Inicialmente foram empregadas tccnicas de entrevista com informan-tes velhos e isla levou as pesquisadores aos tabe1ioes em Popayan, on deestao guardados documentos e escrituras. Apos uma intensa procura,foram apresentados, documentos legais pertinentes e registrados com astecnicas paleograficas tradicionais, demonstrando a ilegalidade da pro-priedade arquridiocesana na dita reserva. Isto pode ser visto como umarecupera<;ao critica de uma porc,:ao da historia local que fora ocultadae ignorada peJos historiadores academicos, mas que pode entao serretomada pelos pr6prios atores hisloricos da comunidade local.

Armados com esta informa<;ao hist6fica por meio da restitui<;aosistematica ja descrita, 0 CRIC organizou uma campanha para reavera terra perdida. 0 arcebispo, apoiado pelo r:sto dos grandes proprie-tarios de Popayan (qu~ naturalmente tambcm se sentiam amea~ados),resistiu com a pollcia c tropas do exercito. Em decorrcncia da violcncia,foram mortos alguns Iideres indigcnas. A situa~ao logo ganhou atenc,:aonacional e intemacional quando os lideres do CRIC enviaram urn tele-grama ao papa Paulo VI queixando-se do arcebispo e enfatizaneJo ajustic,:a de sua c;}Usa, tudo em conformidade com a bula papal entaorecentemcnte promulgada, PO{Jlllorlllll Progressio. 0 papa interveio atra-yeS de seu n(mcio em Bogota. 0 arceb:spo de Popayan teve de cedere finalmente abriu mao da terra e das construc;6es. Foi uma gravedenota para os intcresscs latifundiarios na area e os proprietarios logorevidaram cOin maior violcncia. Os indios nao devolveram a terra.Eles ainda estao la apesar do terror c da marte cad a vez maior queIhes trouxe 0 Exercito colomhiano a servi<;o da aristocracia local.

As organizav5cs poHlicilS Ila Colombia relegc,rarn por decaclas acultura popular e 0 conhecimento do homem comum a urn segundoplano em seus pmgramas. Esses elementos eram vistas como fatores dealienac;ao e desorientac;:ao politica entre as massas.

Page 9: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

I !!I ,! 11I '.I '.f1;,1,11(,j JI j

I! ;\,

No entanto, a medida que avan<;ava a luta pela terra, muitosmilitantes com talentos artisticos come<;aram a contribuir a sua maneira,com resultados construtivos imprevistos, a mcbilizar pessoas. Isto exigiuuma rapida aprecia<;iio do ponto de vista dos pesquisadores que, ap6sexaminarem as circunstancias locais, concluiram que uma transforma;aoda musica e das can<;6es populares locais - 0 vallenato - tinha urnforte potencial de protesto. 0 homem comum nao apenas dan<;ava aoritmo dessa musica mas tambcm participava de audi<;6es em que asletras das can<;6es eram de dccisiva importancia.

Urn grupo de mllsicos de protesto surgiu rapidamente do meiocampones, armados com acorde6es, tambores e chocalhos, Come<;arama criar suas pr6pri:ls can<;6es base:ldos na luta pela t~rra, com resultadosextremamente bons. Uma dessas canc;6es de prot~sto (UEI indio sinua-no") foi gravada em urn estudio na cidade e tornou-se urn sucessonacional em 1974. Uma outra, tambern urn sucesso, foi proibida pelapolfcia (os mesmos oficiais que costurnavarn destruir os folhetos sobreJuana Julia, quando conseguiam encontra-Iosi.

Mas 0 impacto politico que este trabalho exerceu sobre 0 frontcultural foi mais importanle: as concentra<;6es de massa tornaram-sernais vivas e contavam com rnaior participac;ao, e as pessoas cantavamas mensagens das can<;6es em toda parte, alcanc;ando um efeito Jl1ultipli-cador de conscientizaC;ao. Urn dos melhores acordeonistas de protestotornou-se tao popular que foi encorajado a unir seu talento artistico auma fiorescente carreira politica no movimento campones. No fim, deurn si~1ples projeto de pesquisa, deu-se maior reconhecimento aos as-pectos culturais da ac;30 politica.

o que deve ser entao inicialmente extraido dessas considerac;6es?Vimos a nccessidadc de se manter uma postura critica com rcla<;ao aciE-;~ia cl<lssica e as conceitua<;6es correfltes._d_o que e a ciencia, c1oque.f~zem os cic!ltistas, C 0 que sao sellS compr0l1lissos cticos, caso quei-ramos llIelhor enteneler a natureza dos processos de desenvolvimcnto hojc,principal mente em paises do Tereeiro Mundo. Alem e1isso, afirmarnosa necessidacle de se descobrir a cstrutllracientifica intrinseca do conhe-

PESQUISA PARTICIPANTE 59

-/1/cirnento popl,ular. das regras do know-how popular e do senso comumenq~ant~ _~I_~mentos para alcan~ar as metas de uma sociedade mclhore'-urn mund@ mais justo. Esbo~ou-se um_a rnetodologia conseqiiente departicip~~~?_ ~~__.P~s.qu~sa pdo e c0rTl 0 homem com urn, apresentandovari·os ··princiiiPio~ e. regras de orientaC;iio deduzidas da experiencia realno campo.

A nccc5sidacle de continuar a experimentar e aprender ao longodcssas direc;o}es ernergentes e uma conclusao 6bvia. Nao parece que esUlse formando urn novo paradigma cientifico para substitllir qualquer lImja existente, atravcs da pesquisa participante. No ental1to, P.o.cI~!!1_o~nos aproxim:ar de urn tipo de brecha metodo16gica se os pesquisadoresengajados se1gllirem as efeitos dinamicos do rompimento da diade su-jeito-objeto que esta metodologia exige como uma de suas caracteristicasbasicas. S~()' muito evidentes as potencialidades de se obter urn novoconheciment® solido a partir do estabelecimento, na pesquisa de umarelac;ao rnais, proveitosa sujeito-sujeito, isto e, uma complcta intcgra::;iioe participac;a\o dos que sofrem a experiencia da pcsquisa. Nada sennonovas intuic;6Jes podem surgir de sse curso. Isto e igualmente importantecomo uma p10stura pratica, na medida que as politicas de participa:;iiotornam-se mais sensiveis as necessidacles rcais das bases sociais e ro111-pem com as .e1a;,;6es verticais c paternalistas tradicionais.

Mais es,;pecificamente, sac propostas duas areas para futura 111-vestigac;ao:

A PROCURA DE DIMENSOES SOCIO·POLlTICAS:OS VALORES; ESSENCIAIS DAS PESSOAS

Os valones essenciais podem ser comparados a seiva de uma arvoreou a semente de uma fruta. Os valores essenciais sao arraigados navisao de mlll1\do au na filosofia de vida. Surgem de crenr;a no sobrena-tural e no exctracientifico. As guerras no pass ado foram travadas emsell interesse. MilOS foram criaclos ou dcstruidos corn des. Idcologias,utopias e mOlvilllcntos sociais smgirarn Oll des;JparCCeralll com des.Esses valores fjzerarn do hornem 0 que ele e e deram it hist6ria seusenticlo e direw;ao teleol6gicas.

Portanto a racionalidade dos val ores essenciais pareceria irracional"

Page 10: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

se Ihe aplicassemos os criterios cartesianos que foram inculcados nasuniversidades e academias, sobre os quais se constmiu a ideia dominan-te e contempof<lnea de Ciencia. Mas de fa to tratamos aqui de umaconstru~ao racional diversa, que possui linguagem e sintaxe propr.i<is"-. '. _.- ~A fim de alcan<;ar e compreender os valores desta natureza Jacionalpopular, e necessario s~perar os obstaculos cognitivos domina~t~;'- e.adotar atitudes origin ad as da essencia das experiencias de vida Jvi.ven- .dales)." Estas atitudes deverimn ser tao extracientfficas quanto as quepertcncem aos grupos populares. E osativistas deveriam procurar do-minar duas ou mais linguagens cientfficas ou diferentcs nfveis de comu-nica~iio simultaneamente para realizar os sellS objetivos.

Podemos articular 0 conhecimento teorico e a praxis numa base per-manente?

Poderia haver muitas vantagens num plano educacional como esse.As falsas divisoes estabelecidas entre as cicncias humanas dcv'eriam desa-parecer (os bem conhecidos departamentos, as especializar;6es estritase as aeadcmias). Sabe-se que os problemas sociais eontemporfmeos maisimportantes - como a pobreza, a fame, a destrui~ao ecologica, a explo-ra<;ao e a violencia - exigem, para expJica~ao e solu<;ao, nfveis com-plexos de analise que ultrapassam qualquer area especializada. Nessascondi<;6es, surgiriam novas campos de a~ao tccnica e cientffica ligadosar··prementes necessidades comunitarias; dcixariam de ser eondieiona-nos· a servir aos iotcresses de uma burguesia avareota e exccssivamenterica. E enUio surgiriam organiza<;oes, parametros e a~6es que seriam maisdemocraticas, participantes e pluralistas, de modo que seriam sepultadasa ditadura de organism os dogmaticos e a amea~a de grupos facistas.

Dessa fom{a, poderfamos ver mais c1aramente como 0 hornem co-mum poderia d-ticular a sua propria cicncia e os seus conhecimentoscomo urn recurso vital para a defesa de sua ideotidade, para a prote~aode seus interesscs e para a preserva<;ao de valores essenciais, como sinaisde progresso ria desenvolvimento soc:al geral. Seria urmr cicncia enUioelevada ao nfve] cIa sabecloria.

Dissemos quc os principais desafios ncste campo surgem do intcr-cambia direto tcoria-c-pratica com as massas. Esses desafios origi'na[~-se da urgcncia de sc tcr uma cicncia do homem crftiea e iotegrada queseja tanto modesta quanta realista. Esses c1esafios nao provem de Ull1di::J.logo fcchado cntre Illembros de uma eliteeientffica sofisticada queusa vendas prafissionais e filosOficas, e que e "sabia" 0 bastaote paradetcrminar atc 0 scxo dos aojos.

A potencialidaclc cIa pesquisa partlclpante esta precisamente noseu deslocamcnto proposital das universidacles para 0 campo concretoda realidacle. Eslc tipo de pcsquisa modifica basicamente a estrutLlraacademica clJssica na I11cdida ern que red LIZas diferen<;as entre objetoe sujeito de estuda. Ela indllz os eruditos a destcr das lorres de marfimcase sujeitarel11 ao jUlzo das comunidades eml que vive~ e trabalharn,em vez de fazercf11 Jvalia<;6es cle doutores e catedraticos.

Poderia ser v,llido visualizar novos tipos de laborat6rios poplilareshoje, dispersos pcbs ciclades e 00 campo, ern fabricas e fazenclas, esti-mlilados par SClISproprios problemas, com a finaliclade de formar tcc-nicos de nfvcl intcrIlledi;lrio qlle fossem orgfmicos com as classes tra-balhadoras e slias mg,lniz;IC,'()es'!

Podcfllos conceDer as ullivcrsidadcs crn diaspora de modo quepossarn ser julgadas c consideradas mais com rcla~ao a sellS cfeitossociais abrangentes sabre a saciedade do que quanta a seus meios ffsicos?

Bettelheim, Ch2rles. Les Illites de classes ell U!~ss. Seuil/M2spero, Paris, 1977.

Blumer, Cio\'anni .. La Rel'olucioll Cultural chilla. Edieiones Peninsula, Barcelona,1912.

Deutscher. Isaac. Tro/sky. el profeta d(!sawwdo. Ediciones ERA, 1\1cxico, 1968.

F21s Borda. Orl;:1l1oo. Por fa praxis: cl problellla de como illvcsligar /a rca!idadpara /mllsforma!a. Simposio fntcmacional de Cartagena. vol. I, pp. 209·249,1978.

F21s Borda. Orlando. The Problelll of !,ll'estiga/illg !~('([Ii/y III urder /0 Trails/armil. Dialectic!! Anthropology. Spring. 1979.

Fals Bord;l, Orlando. :'.!O/IIjJox y roh,,: !lis/oria dol)/c de la Cus/C/. Ve'l. I. CarlosV,t1cIH:i" Editu,,·cs. Bog"l(l. jlrJ9.

Fcyer;d;cnd, P. Confra <!'l me/oelo (11gailIsl Me/hoell. Ediciones Peninsula. Barcelona,1974.

Foucault. Michel. La arqucologia del saber. Ediciones Siglo xx I, Mexico, 1979.

Page 11: Aspectos Teoricos Da Pesquisa Participante - Consideracoes Sobre o Significado e o Papel Da Ciencia Na Participacao Popular

Freire. Paulo. Pedagogia del oprimido (Pedagogy of the Oppressed). EdicionesAmerica Latina. Bogo.t3, 1970.

Fundacion Rosca. Causa popular. ciencia popular. Ediciones Rosca, Bogota. 1972.

Gramsci, Antonio. La formacion de los illtelectualcs (De Cuadernos de la Caree\).

Ediciones America Latina, Bogota, 1976.

Huynh. Cao Tri. Le concept du developpement endogene et cellire sur l'holl1l11e.

UNESCO. SS·79. ConL 601/3. Paris. 1979.Kuhn. T.H. The Structure of Scientific Revolutions. Macmillan, Chicago. 1970.

Lewis, George L. The Sociology of Popular Culture. Current Sociology, Vol. 26,

N.· 3 (Winter), 1978.

Mandel, Ernest. La formation de la pellsee ecorlOlIIique de Marx. lvbspero, Paris.

1972.1'-130 Tsc·wng. Dbras completas. Ediciones en Lenguas EXlranjeras. Pekin, 1968.

Marx, Karl. La miseria de la filosofia. Edi.ciones Siglo X XI, Buenos Aires, 197 t.

1'.Wls, C. Wright. De hombres sociales y mOl'imientos politicos. Edicioncs Siglo

XXI, Mexico, 1969.

Nowotny, Helga e Hilary Rose (cds.). Coullter-Movemcllts in the Sciences. D. Reidel

Publishing Co .. Dordrecht (Holland), 1979.

Radin, Paul. Methud and Theory of Ethnology. McGraw·Hill, New York, 1933.

Simposio InternaciOllal de Cartagena, Critica y politica ell cicncias sociales. Edito·

rial Punta de Lanza, Bogota, 1978.

Stavellhagcn, Rodolfo. Oecolonializing Applied Social Sciences. Human Organiza.

tion. Vol. 30. N." 4. 1971.

Wh.:elwright. LL. and Bruce Mcr-arlan.:. Desarrollo y revolucioll wltural enChilla. Editorial Nuestro Ti':lllpO. Mexico, 1972.

[ste e urn relat6rio prcliminar da pesquisa sobre 0 transporte do trabalhauol

na Baixada r-Iuminense. [Ie foi prepilr<ldo pOI' esta comissao de acordo com os

depoirneillos e discusso.:s travadas em diversos grupos dc trabalhadores da Pastoral

Operaria ern scis bairros escolhidos da selima rcgi,io da Diocl:se. Ele serve C0l110

docurnento interno para registrar informa\o.:s, e sera enriquecido corn a sua

leilUra e disCllss50 nos grupos que participaram desse levanlam.:nlo e quc pr<ltica·

mente fizeralll esse texlO. Servid tambcm como base prclirninar de rcflcxao

para 0 pms~q:~ll11enlo da pcsqllisa ':111 outras localidades d,l Diocese.

A CONDUCXO DO TRABALHADOR_.

Comissao de Transporte da Pastoral Operdriada Diocese de Nova 19l1a~u, Rio de JOlleir,)

rose Soares MilheiroRail11undo de Carv<dho

(auxiliar de eserit6rio)(serventc; delegado sindieal dosIrabalh<ldores de bebidas doRio de lanciro)(soldac!o!·)(socilll(l~u)(soci610ga)(Illotorisla d.: lransportc de curga)(pcdreiro de rnanuten\8o)

V;ddir 1I1<110s R.:isluse S.:rgio l.cik I.op.:,Maria Rosilme Barbma AlvilllIsaias Franco ua SilvaEdrisio dos Santos