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Cartwright e Zander Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 1 [1] Parte Um INTRODUÇÃO À DINÂMICA DE GRUPO [3] 1 Origens da Dinâmica de Grupo Se um estafado hipotético marciano pudesse ver ingenuamente os habitantes da Terra, talvez ficasse impressionado com o tempo despendido pelos homens em fazer coi- sas reunidos em grupos. Notaria que quase todas as pessoas se congregam em grupos relativamente pequenos, cujos participantes moram na mesma casa, satisfazem suas ne- cessidades biológicas fundamentais no interior do grupo, dependem da mesma fonte para o sustento econômico, a criação dos filhos e o cuidado mútuo da saúde. Observaria que a educação e a socialização das crianças quase sempre ocorrem em outros grupos, geral- mente maiores, isto é, igrejas, escolas e outras instituições sociais. Verificaria que grande parte do trabalho do mundo é executado por pessoas que desempenham suas atividades em estreita interdependência, no interior de associações relativamente duradouras. Talvez se entristecesse ao descobrir grupos de homens empenhados em guerra, na qual conse- guem coragem e elevado moral através do orgulho em sua unidade e do sentimento de segurança com relação aos companheiros. Poderia alegrar-se ao ver grupos de pessoas que se divertem em recreações e esportes de vários tipos. Finalmente, poderia ficar intri- gado com os motivos pelos quais tanta gente gasta tanto tempo em pequenos grupos, pla- nejando, conversando e “em conferência”. Com certeza concluiria que, para compreender bem o que se passa na Terra, deveria examinar com muita atenção as maneiras pelas quais os grupos se formam, funcionam e desaparecem. Se voltarmos a una perspectiva mais conhecida e observarmos a nossa sociedade através de olhos dos habitantes da Terra, descobriremos que cada vez mais se reconhece, como um dos principais problemas da sociedade, o funcionamento e o mau funcionamen- to dos grupos. No comércio, no governo e nos meios militares existe um grande interesse em aumentar a produtividade dos grupos. Muitos estudiosos se alarmam com o [4] enfra- quecimento e a aparente desintegração da família. Educadores começam a acreditar que não podem realizar integralmente suas tarefas se não compreenderem o funcionamento da classe como um grupo social. Os interessados no bem-estar social procuram, diligente- mente, maneiras de reduzir os conflitos intergrupais entre o trabalho e o capital, e entre grupos religiosos e étnicos. O funcionamento de gangs juvenis é um dos obstáculos mais difíceis nas tentativas de impedir o crime. Comprova-se que muitas doenças mentais pro- vêm, de alguma forma, das relações do indivíduo com os grupos e que os grupos podem ser utilizados eficientemente na terapia mental. Quer se deseje compreender, quer se deseje aperfeiçoar o comportamento huma- no, é preciso conhecer a natureza dos grupos. Não é possível ter uma visão coerente do homem, nem uma tecnologia social adiantada, sem respostas seguras a uma série de ques-

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Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Origens da dinâmica de grupo 1

[1]

Parte Um INTRODUÇÃO À DINÂMICA DE GRUPO

[3]

1 Origens da Dinâmica de Grupo

Se um estafado hipotético marciano pudesse ver ingenuamente os habitantes da Terra, talvez ficasse impressionado com o tempo despendido pelos homens em fazer coi-sas reunidos em grupos. Notaria que quase todas as pessoas se congregam em grupos relativamente pequenos, cujos participantes moram na mesma casa, satisfazem suas ne-cessidades biológicas fundamentais no interior do grupo, dependem da mesma fonte para o sustento econômico, a criação dos filhos e o cuidado mútuo da saúde. Observaria que a educação e a socialização das crianças quase sempre ocorrem em outros grupos, geral-mente maiores, isto é, igrejas, escolas e outras instituições sociais. Verificaria que grande parte do trabalho do mundo é executado por pessoas que desempenham suas atividades em estreita interdependência, no interior de associações relativamente duradouras. Talvez se entristecesse ao descobrir grupos de homens empenhados em guerra, na qual conse-guem coragem e elevado moral através do orgulho em sua unidade e do sentimento de segurança com relação aos companheiros. Poderia alegrar-se ao ver grupos de pessoas que se divertem em recreações e esportes de vários tipos. Finalmente, poderia ficar intri-gado com os motivos pelos quais tanta gente gasta tanto tempo em pequenos grupos, pla-nejando, conversando e “em conferência”. Com certeza concluiria que, para compreender bem o que se passa na Terra, deveria examinar com muita atenção as maneiras pelas quais os grupos se formam, funcionam e desaparecem.

Se voltarmos a una perspectiva mais conhecida e observarmos a nossa sociedade através de olhos dos habitantes da Terra, descobriremos que cada vez mais se reconhece, como um dos principais problemas da sociedade, o funcionamento e o mau funcionamen-to dos grupos. No comércio, no governo e nos meios militares existe um grande interesse em aumentar a produtividade dos grupos. Muitos estudiosos se alarmam com o [4] enfra-quecimento e a aparente desintegração da família. Educadores começam a acreditar que não podem realizar integralmente suas tarefas se não compreenderem o funcionamento da classe como um grupo social. Os interessados no bem-estar social procuram, diligente-mente, maneiras de reduzir os conflitos intergrupais entre o trabalho e o capital, e entre grupos religiosos e étnicos. O funcionamento de gangs juvenis é um dos obstáculos mais difíceis nas tentativas de impedir o crime. Comprova-se que muitas doenças mentais pro-vêm, de alguma forma, das relações do indivíduo com os grupos e que os grupos podem ser utilizados eficientemente na terapia mental.

Quer se deseje compreender, quer se deseje aperfeiçoar o comportamento huma-no, é preciso conhecer a natureza dos grupos. Não é possível ter uma visão coerente do homem, nem uma tecnologia social adiantada, sem respostas seguras a uma série de ques-

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tões referentes ao funcionamento dos grupos, à ligação dos indivíduos com os grupos e à relação entre estes e a sociedade mais ampla. Quando e em que condições se formam os grupos? Quais as condições necessárias para o seu desenvolvimento e funcionamento eficiente? Quais os fatores que provocam o declínio e a desintegração dos grupos? Quais os tipos de grupos-possíveis? Podem possuir qualquer série arbitrária de propriedades ou só pode existir uma determinada combinação? Como os grupos influenciam o comporta-mento, o pensamento, a motivação e o ajustamento dos indivíduos? O que faz com que alguns grupos tenham grande influência sobre seus: participantes, enquanto outros exer-cem uma influência pequena ou nula? Quais as características individuais que são deter-minantes importantes das propriedades dos grupos? Quais as combinações de personali-dade, aptidão, motivação e valores dos participantes que influenciam a natureza e o fun-cionamento dos grupos? O que determina a natureza das relações entre grupos? Quando os grupos fazem parte de um sistema social mais amplo, quais as circunstâncias que for-talecem ou enfraquecem a organização interior? De que maneira o ambiente social de um grupo influi em suas características? Questões como estas precisam ser respondidas antes de obtermos uma compreensão real da natureza humana e do homem. Precisam, também, ser respondidas antes de podermos esperar o planejamento e a realização de uma socie-dade melhor. [5]

O estudioso de dinâmica de grupo se interessa por conhecimentos sobre a natureza dos grupos e principalmente sobre as forças psicológicas e. sociais a eles associadas. É claro que, há séculos, esse interesse vem motivando as atividades intelectuais dos pensa-dores. A mais antiga literatura filosófica de que se tem; conhecimento contém muita sa-bedoria sobre a natureza dos grupos e as relações entre indivíduos e grupos. Apresenta, igualmente, uma série de especificações sobre as “melhores” maneiras de organizar a vida coletiva. No período entre o século dezesseis e o dezenove, criou-se na Europa uma significativa literatura a respeito da natureza do homem e de seu lugar na sociedade. Nes-sa literatura pode-se encontrar a maioria das principais tendências ou “suposições bási-cas” que orientam as atuais pesquisas e reflexões sobre grupos. É evidente que o estudan-te atual de dinâmica de grupo tem interesses fundamentais semelhantes aos dos que es-creveram em outras épocas através de séculos. Apesar disso, é igualmente claro que a maneira de estudar os grupos, conhecida como “dinâmica de grupo”, é, estritamente, um desenvolvimento do século XX; difere significativamente da forma de estudo dos séculos precedentes.

O que é, então, a dinâmica de grupo? A expressão popularizou-se desde a Segun-da Grande Guerra, mas, infelizmente, com a maior divulgação, seu sentido tornou-se im-preciso. Segundo um emprego freqüente, a dinâmica de grupo refere-se a um tipo de ideo-logia política, interessada nas formas de organização e direção dos grupos. Essa ideologia acentua a importância da liderança democrática, a participação dos membros nas deci-sões, e as vantagens, tanto para a sociedade quanto para os indivíduos, das atividades cooperativas em grupos. Os críticos desse ponto de vista às vezes fazem sua caricatura, dizendo que apresenta a “participação” como a virtude suprema que propõe que tudo de-va ser feito em grupos, que não têm e não precisam de um líder, porque todos participam inteira e igualmente das atividades. Outro conhecido emprego da expressão dinâmica de grupo refere-se a um conjunto de técnicas tais como o desempenho de papéis, discussões, observação e “feedback” de processos coletivos – muito empregadas nas duas últimas décadas em programas de treinamento, planejados para o desenvolvimento de habilidade em relações humanas e na direção de conferências e comissões. Essas técnicas identifi-cam-se mais estreitamente com os National Training Laboratories cujos programas

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anuais em Bethel e Maine se tornaram muito [6] conhecidos. Segundo o terceiro emprego da expressão dinâmica de grupo, esta refere-se a um campo de pesquisa dedicado a obter conhecimento a respeito da natureza dos grupos, das leis de seu desenvolvimento e de suas inter-relações com os indivíduos, outros grupos e instituições mais amplas.

Evidentemente, não é possível legislar quanto ao emprego das expressões de uma língua. Contudo, é importante, para a clareza do pensamento e da comunicação, distinguir entre essas três coisas tão diferentes, rotuladas da mesma forma nas discussões leigas. Ainda que não sejam capazes de apresentá-la muito explicitamente, todos têm uma ideo-logia sobre as formas de organização da vida coletiva. Os responsáveis pela direção de grupos e pelo treinamento de pessoal para participar de grupos só podem fazê-lo através do emprego de um ou outro tipo de técnicas. Todavia, não existe uma correspondência rígida entre uma determinada ideologia sobre a natureza “ideal” dos grupos e o emprego de técnicas específicas de direção e treinamento. E deve ser evidente que a busca de me-lhor compreensão da natureza da vida coletiva não precisa ligar-se a uma determinada ideologia ou depender da aceitação de determinadas técnicas de direção. Neste livro, li-mitaremos o emprego da expressão dinâmica de grupo às referências ao campo de pes-quisa dedicado a desenvolver o conhecimento sobre a natureza da vida coletiva.

Neste sentido, a dinâmica de grupo é um ramo do conhecimento ou uma especia-lização-intelectual. Como se interessa pelo comportamento humano e pelas relações so-ciais, pode ser localizado entre as ciências sociais. Todavia, não pode ser identificado imediatamente como um setor de uma das disciplinas acadêmicas tradicionais. Para com-preender melhor em que a dinâmica de grupo difere dos outros campos conhecidos, con-sideremos rapidamente algumas de suas características distintivas.

1. Acentuação da pesquisa empírica, teoricamente significativa. Observamos

acima que, na história, é possível encontrar um interesse por grupos, e esse interesse não pode, portanto, distinguir a dinâmica de grupo das disciplinas mais antigas. A diferença está, principalmente, na maneira pela qual se explora esse interesse. Até o início deste século, quem sentia curiosidade pela natureza dos grupos para obter-respostas às suas questões dependia, sobretudo, da experiência pessoal [7] e de documentos históricos. Sem a necessidade de explicar uma acumulação de dados empíricos cuidadosamente reu-nidos, os escritores desse período de especulações dedicaram suas energias à criação de explicações teóricas e compreensivas dos grupos. Esses sistemas teóricos, principalmente os criados no século dezenove, eram complexos e muito amplos, pois foram criados por homens de notável capacidade intelectual. A lista de nomes desse período apresenta grandes pensadores, entre os quais Cooley, Durkheim, Freud, Giddings, LeBon, McDou-gall, Ross, Tarde, Tönnies e Wundt. Suas idéias ainda são encontradas nas discussões contemporâneas da vida coletiva.

Por volta da segunda década deste século começou, na ciência social, uma rebe-lião empírica, principalmente nos Estados Unidos, e ligada sobretudo à psicologia e à sociologia. Em vez de aceitar as especulações sobre a natureza dos grupos, algumas pes-soas começaram a procurar os fatos e tentaram separar dados objetivos e impressões sub-jetivas. Embora, inicialmente, essa pesquisa tenha sido orientada por questões empíricas muito simples, estabeleceu-se um critério, fundamentalmente novo, para avaliar o conhe-cimento sobre grupos. Em vez de perguntar apenas se certa proposição; sobre a natureza dos grupos era; plausível ou logicamente consistente, os interessados nos grupos começa-ram a exigir que a proposição se apoiasse em dados seguros, que poderiam ser reproduzi-dos por um outro pesquisador. O principal esforço consistiu em planejar e aperfeiçoar

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técnicas de pesquisa empírica, a fim de proporcionar precisão de medidas, padronização da observação, planos experimentais eficientes e análises estatísticas de dados. Quando, pelo fim da década de 30, a dinâmica de grupo começou a aparecer como campo identifi-cável, a rebelião empírica já tinha avançado na psicologia social e na sociologia, e desde o início a dinâmica de grupo pôde empregar os métodos de pesquisa característicos de uma ciência empírica. De fato, a dinâmica de grupo distingue-se de suas predecessoras intelectuais principalmente por depender, basicamente, de observação, quantificação, mensuração e experimentação cuidadosas.

Mas não se deve identificar a dinâmica de grupo exclusivamente com um empi-rismo extremo. Mesmo em seus primeiros tempos, o trabalho em dinâmica de grupo de-monstrou interesse pela construção de teoria e por hipóteses testáveis, derivadas da teoria, e chegou, progressivamente,a manter estreita inter-relação entre a coleta de dados e o avanço teórico. [8]

2. Interesse pela dinâmica de interdependência dos fenômenos. Embora a expres-

são dinâmica de grupo especifique os grupos como o objeto de estudo, concentra, ainda mais nitidamente, a atenção nas questões de dinâmica da vida coletiva. O estudante de dinâmica de grupo não se satisfaz unicamente com descrições das características dos gru-pos ou com fatos ligados a estes. Nem se contenta com uma classificação de tipos de gru-pos ou de formas de comportamento coletivo. Deseja saber como os fenômenos que ob-serva dependem um do outro, e quais os novos fenômenos que podem provir da criação de condições não observadas anteriormente. Em resumo, procura descobrir os princípios gerais, segundo os quais certas condições produzem determinados efeitos.

Essa pesquisa exige a preposição de muitas perguntas minuciosas sobre a interde-pendência entre fenômenos específicos. Se se modifica a participação num grupo, que outros aspectos do grupo se modificarão e quais permanecerão estáveis? Em que condi-ções um grupo tende a sofrer mudança de liderança? Quais as pressões que, num grupo, produzem uniformidade de pensamento entre seus participantes? Quais as condições que inibem a capacidade criadora dos participantes? Quais as transformações num grupo que aumentam, diminuem ou não alteram a produtividade? Se aumenta a coesão do grupo que outros aspectos serão alterados? As respostas a perguntas como estas revelam como de-terminados processos e características dependem de outros.

As teorias da dinâmica de grupo tentam formular relações causais entre fenôme-nos como esses. À medida que foram elaboradas, essas teorias orientaram o trabalho de dinâmica de grupo para a investigação intensiva de mudança, resistência à mudança, pressão social, influência, coerção, poder, coesão, atração, rejeição, interdependência, equilíbrio e instabilidade. Termos como estes referem-se, através da indicação do funcio-namento de forças psicológicas e sociais, a aspectos dinâmicos de grupos e desempenham um importante papel nas teorias da dinâmica de grupo.

3. Importância interdisciplinar. É importante reconhecer que a pesquisa da dinâ-

mica de grupo não se ligou, exclusivamente, a uma das disciplinas das ciências sociais. Os sociólogos naturalmente dedicaram grande energia ao estudo dos grupos, como o de-monstram as pesquisas sobre família, “gangs”, [9] grupos de trabalho, unidades militares e associações voluntárias. Os psicólogos dirigiram sua atenção a muitos grupos do mes-mo tipo, concentrando-se, principalmente, na maneira pela qual os grupos influenciam o comportamento, as atitudes e as personalidades dos indivíduos, e os efeitos das caracte-rísticas destes últimos no funcionamento do grupo. Os antropólogos culturais, ao investi-

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gar muitos tópicos estudados por sociólogos e psicólogos, contribuíram com dados sobre grupos que vivem em condições muito diferentes das encontradas na sociedade industrial contemporânea. Os especialistas em ciência política ampliaram seu tradicional interesse pelas grandes instituições e realizaram estudos sobre o funcionamento de grupos de pres-são e sobre a influência eleitoral da participação no grupo. E, cada vez mais, os econo-mistas passaram a reunir dados sobre a maneira pela qual a família decide gastar ou eco-nomizar dinheiro, sobre a influência, no número dos que trabalham, das necessidades e relações da família; sobre a influência dos objetivos dos sindicatos nas decisões dos ne-gócios e sobre a maneira de os vários ramos de negócios chegarem a decisões que têm conseqüências econômicas. Como as diversas ciências sociais têm interesse pelos grupos, é claro que qualquer conhecimento geral sobre a dinâmica dos grupos tem significação para todas.

4. Aplicabilidade potencial dos resultados. Todos aqueles que sentem responsabi-

lidade pelo aperfeiçoamento do trabalho coletivo e pela qualidade de suas conseqüências para os indivíduos e a sociedade devem fundamentar suas ações numa visão mais ou me-nos explícita dos resultados de diferentes condições e processos. Todos aqueles que se interessam pelo aperfeiçoamento da qualidade do trabalho numa equipe de pesquisa, pela eficiência de uma classe de escola dominical, pela moral de uma unidade militar, pela redução das conseqüências destrutivas do conflito intergrupal, ou que procuram atingir, através dos grupos, qualquer objetivo socialmente desejável, podem alimentar sua efi-ciência, fundamentando-a num firme conhecimento das leis que governam a vida do grupo.

As diversas profissões que se especializam no tratamento das necessidades espe-cíficas dos indivíduos e da sociedade têm muito a ganhar com os progressos do estudo científico dos grupos. No século passado, um desenvolvimento notável nas sociedades mais adiantadas foi a progressiva diferenciação por que passaram as profissões tradicio-nais – medicina, direito, educação e [10] teologia. Atualmente existem pessoas que rece-bem um preparo extensivo e dedicam suas vidas a especializações profissionais: media-ção nas relações trabalhistas, educação sanitária, aconselhamento matrimonial, relações humanas, relações intergrupais, trabalho em equipe, aconselhamento religioso, adminis-tração hospitalar, educação de adultos, administração pública, psiquiatria e psicologia clínica – para mencionar apenas algumas. A especialização nesses vários campos criou um desejo autoconsciente de melhorar os padrões e estabelecer exigências de preparação adequada. Atualmente, as principais universidades têm escolas especializadas em muitos desses campos. À medida que esse estudo se expandiu e racionalizou, os especialistas perceberam, cada vez mais, a necessidade de conhecer os resultados e os princípios fun-damentais criados nas ciências sociais. Todos esses profissionais precisam lidar com pes-soas, não apenas individualmente, mas em grupos e através de instituições sociais. Por-tanto, não é surpreendente verificar que os cursos de dinâmica de grupo se tornam cada vez mais comuns nas escolas de formação especializada, que agências interessadas pelo preparo profissional empregam pessoas com preparo em dinâmica de grupo e que a pes-quisa neste campo se realiza, freqüentemente, ligando-se ao trabalho dessas agências.

Em resumo, propomos que a dinâmica de grupo se defina como um campo de pesquisa dedicado ao conhecimento progressivo da natureza dos grupos, das leis de seu desenvolvimento e de suas inter-relações com indivíduos, outros grupos e instituições mais amplas. Pode ser identificada por quatro características distintivas: (a) uma acentua-ção da pesquisa empírica, teoricamente significativa, (b) um interesse pela dinâmica e pela interdependência entre os fenômenos, (c) uma importância geral para todas as ciên-

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cias sociais e (d) a aplicabilidade potencial dos resultados nas tentativas de aperfeiçoar o trabalho dos grupos e suas conseqüências nos indivíduos e na sociedade. Dentro desta concepção, a dinâmica de grupo não precisa estar ligada a qualquer ideologia específica, referente às maneiras pelas quais os grupos devem ser organizados e dirigidos, nem com a utilização de.quaisquer técnicas específicas de direção de grupo. De fato, um dos obje-tivos básicos da dinâmica de grupo é proporcionar um melhor fundamento científico para a ideologia e a ação. [11]

Condições que estimularam o desenvolvimento da dinâmica de grupo

A dinâmica de grupo apareceu, como um campo identificável de pesquisa, nos Es-

tados Unidos, no fim da década de 30. Sua origem como especialidade separada está li-gada, sobretudo, a Kurt Lewin (1890-1947), que popularizou a expressão dinâmica de grupo, fez significativas contribuições tanto à pesquisa quanto à teoria e, em 1945, esta-beleceu a primeira organização dedicada especificamente à pesquisa nesse campo A con-tribuição de Lewin foi de grande importância; todavia, como veremos minuciosamente, a dinâmica de grupo não foi criada apenas por uma pessoa. De fato, foi o resultado de mui-tos desenvolvimentos ocorridos durante um período de vários anos e em diversas disci-plinas e profissões. Numa perspectiva histórica, a dinâmica de grupo pode ser vista como a convergência de determinadas tendências nas ciências sociais e, mais amplamente, co-mo o produto da sociedade específica em que surgiu.

A época e o lugar do aparecimento da dinâmica de grupo não foram, naturalmen-te, acidentais. A sociedade americana da década de 30 fornecia o tipo de condições exigi-das para a emergência desse movimento intelectual. E, através dos anos, desde aquele tempo, unicamente determinados países apresentam um ambiente favorável para o seu desenvolvimento. Atualmente, a dinâmica de grupo enraizou-se principalmente nos Esta-dos Unidos e nos países do noroeste da Europa, embora tenham aparecido estudos impor-tantes em Israel, no Japão e na Índia. Três condições básicas parecem indispensáveis para o seu aparecimento e subseqüente desenvolvimento.

O apoio da sociedade Para que qualquer campo de pesquisa se desenvolva, é preciso haver uma socie-

dade que proporcione o apoio suficiente dos necessários recursos institucionais. Pelo fim da década de 30, as condições culturais e econômicas dos Estados Unidos favoreciam o aparecimento e o desenvolvimento da dinâmica de grupo. Atribuía-se grande valor à ciência, à tecnologia, à solução racional dos problemas e ao progresso. [12] Havia uma convicção fundamental de que, numa democracia, a natureza humana e a sociedade po-dem ser deliberadamente aperfeiçoadas, através da educação, da religião, da legislação e de muito trabalho. Acreditava-se que a indústria americana se desenvolvera com muita rapidez, não só por causa da abundância de recursos naturais, mas, principalmente, por-que adquirira “métodos” tecnológicos e administrativos. Os heróis do progresso america-no eram inventores – como Franklin, Fulton, Whitney, Morse, Bell e Edison – e indus-triais que modelaram novas organizações sociais, para a eficiente produção em massa. Embora tenha crescido o mito do inventor como lobo solitário, trabalhando em sua ca-verna de instrumentos, a pesquisa já se tornava uma operação em larga escala – o que

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pode ser visto pelo fato de as despesas públicas e privadas para a pesquisa, em 1930, te-rem atingido US$ 160.000.000 nos. Estados Unidos e terem aumentado, mesmo durante o período de depressão, a quase US$ 350.000.000, por volta de 1940.

A maior parte dessa pesquisa era feita, naturalmente, em ciências naturais e bioló-gicas, assim como em engenharia e medicina. A idéia de que a pesquisa poderia ser pro-veitosamente dirigida para a solução dos problemas sociais conseguiu uma aceitação muito mais lenta. No entanto, mesmo na década de 30 destinaram-se recursos significati-vos para as ciências sociais. A extraordinária utilização dos testes de inteligência durante a Primeira Grande Guerra estimulou a pesquisa das capacidades humanas e a aplicação de programas de testes nas escolas, na indústria e no governo. “A direção científica”, embora lenta no reconhecimento da importância dos fatores sociais, estabeleceu as bases de uma forma científica de direção das organizações. Começava a ser aceita a crença de que a solução de “problemas sociais” poderia ser facilitada pela pesquisa sistemática dos fatos. Por volta de 1920, Thomas e Znaniecki (45) demonstraram que as dificuldades inerentes à absorção dos imigrantes pela sociedade americana podiam ser investigadas sistematicamente; criaram-se diversos centros de pesquisa para aumentar o conhecimento e aperfeiçoar a ação referente ao bem-estar das crianças; pelo início da década de 30 mo-dificaram-se as práticas do serviço social e das cortes juvenis, a partir dos resultados de uma grande série de estudos de “gangs” juvenis de Chicago, realizada por Thrasher (46) [13] e Shaw (40); em 1939, já havia um número suficiente de pesquisas sobre relações intergrupais, o que permitiu a Myrdal (31) escrever um tratado compreensivo do “Pro-blema do Negro” nos Estados Unidos. O estabelecimento, em 1936, da Society for the Psychological Study of Social Issues, com 333 participantes, é sintomático da crença na possibilidade de realização de pesquisa empírica de problemas sociais. Quando, depois da Segunda Grande Guerra, começou a rápida expansão da dinâmica de grupo, havia setores importantes da sociedade americana preparados para apoiar financeiramente essa pesqui-sa. O apoio veio não só de instituições e fundações acadêmicas, como também do mundo dos negócios, do Governo Federal e de várias organizações preocupadas com o aperfei-çoamento das relações humanas.

Não se deve esquecer a importante contribuição, para o aparecimento e a difusão da dinâmica de grupo, das normas administrativas das instituições acadêmicas america-nas. O caráter interdisciplinar e multiprofissional da dinâmica de grupo só poderia desen-volver-se no interior de instituições acadêmicas com uma considerável flexibilidade ad-ministrativa. A pesquisa de dinâmica de grupo foi facilitada onde havia disposição para romper as separações tradicionais entre os departamentos de ciências sociais das escolas especializadas, assim como entre uma e outra disciplina. É significativo, por exemplo, que o primeiro trabalho especificamente denominado dinâmica de grupo tenha sido reali-zado não num dos departamentos tradicionais de ciência social, mas na Child Welfare Research Station, na Universidade Estadual de Iowa, e tenha contado com a colaboração de psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e engenheiros industriais. O Research Center for Groups Dynamics, a primeira instituição dedicada explicitamente à pesquisa desse novo campo, estabeleceu-se no Massachusetts Institute of Technology, em condi-ções que permitiam elevado nível de liberdade para inovação. Quando se transferiu para a Universidade de Michigan, o Centro se tornou uma parte de uma unidade administrativa, o Institute for Social Research, planejado para permitir compromissos conjuntos com qualquer departamento adequado ou escola especializada. Outros importantes centros de pesquisa no campo de dinâmica de grupo gozaram de liberdade semelhante quanto a res-trições [14] disciplinares, tal como ocorre com o Research Center for Human Relations

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da Universidade de New York, o Laboratory for Research in Social Relations da Univer-sidade de Harvard, e o Institute for Research in Social Science da Universidade de Caro-lina do Norte.

Elevado nível de especialização A tentativa de formular uma visão coerente da natureza da vida coletiva pode ser

motivada pela curiosidade intelectual ou pelo desejo de aperfeiçoar a ação social. Um estudo das condições criadoras da dinâmica de grupo revela que essas duas motivações desempenharam um papel importante. Muito cedo evidenciou-se entre os cientistas so-ciais – que, segundo um estereótipo comum, são motivados por curiosidade absurda – interesse por grupos e o reconhecimento de sua importância na sociedade. Todavia, deve-se também notar que alguns dos primeiros e mais significativos trabalhos sistemáticos sobre a natureza dos grupos foram escritos por profissionais liberais, cuja motivação tem sido freqüentemente considerada como exclusivamente prática. Antes de considerar a origem da dinâmica de grupo na ciência social, descreveremos, resumidamente, alguns dos desenvolvimentos nas profissões liberais e que facilitaram seu aparecimento.

Na década de 1930 surgiram novas profissões liberais, provavelmente mais nos Estados Unidos que em qualquer outro país. Muitas delas trabalhavam diretamente com grupos de pessoas e, à medida que se preocupavam com o aperfeiçoamento qualitativo de sua ação, tentaram codificar processos de descobrir princípios gerais para lidar com gru-pos. Gradualmente ficou evidente, em algumas profissões mais do que em outras, que as generalizações a partir da experiência não podiam ultrapassá-la e que, para chegar à com-preensão mais profunda, é necessária a pesquisa sistemática. Portanto, quando a dinâmica de grupo começou a surgir como um campo distinto, os líderes de algumas profissões liberais estavam bem preparados para aceitar a idéia de que a pesquisa sistemática da vida coletiva poderia trazer uma contribuição significativa para as suas especializações. Con-seqüentemente, diversas profissões liberais [15] contribuíram para a criação de uma at-mosfera favorável para o financiamento das pesquisas de dinâmica de grupo; deram, a partir de sua experiência acumulada, uma ampla concepção sistemática do funcionamento do grupo, a partir da qual era possível formular hipóteses de pesquisa; deram meios para a realização de pesquisas; forneceram os princípios de uma tecnologia para criar e mani-pular as variáveis na experimentação com grupos. Quatro profissões desempenharam um papel especialmente importante na origem e desenvolvimento da dinâmica de grupo.

Serviço social. Esta profissão deve ser mencionada em primeiro lugar por ter sido uma das primeiras a reconhecer explicitamente que os grupos podem ser orientados de forma a obterem seus participantes as modificações desejadas. Responsáveis pela admi-nistração de clubes, grupos de recreação, acampamentos, quadros esportivos, os assisten-tes sociais compreenderam que suas técnicas de lidar com grupos tinham efeitos impor-tantes nos processos coletivos e nos comportamentos, nas atitudes e nas personalidades dos participantes. Embora o objetivo do serviço social incluísse finalidades diversas, tais como “formação do caráter”, “recreação construtiva”, “retirar as crianças da rua e evitar problemas para elas”, e, posteriormente, “psicoterapia”, gradualmente ficou evidente que, qualquer que fosse o objetivo, algumas técnicas de orientação do grupo obtinham mais êxito do que outras. Um dos primeiros estudos experimentais de grupos referia-se aos resultados de diferentes formas de liderança no ajustamento de meninos aos alojamentos, nos acampamentos de verão (33). A riqueza de experiência obtida pelos assistentes so-

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ciais foi sistematizada por Busch (9), Coyle (11), e Wilson e Ryland (54). Inicialmente, a dinâmica de grupo esteve muito ligada a essa experiência, e os especialistas. continuaram a colaborar com os assistentes sociais em diversos projetos de pesquisa.

Psicoterapia de grupo. Embora a psicoterapia de grupo seja usual como um ramo da psiquiatria, a utilização de grupos para fins psicoterapêuticos ultrapassou os limites estritamente médicos, do que é um exemplo notável o movimento dos A.A. (Alcoólatras Anônimos). No desenvolvimento de uma forma especializada de psicoterapia de grupo, a teoria psicanalítica exerceu uma influência básica, mas não [16] exclusiva. A obra de Freud (principalmente: Psicologia Coletiva e Análise do Ego) estabeleceu os princípios, mas muitas das técnicas para tratar com grupos e grande parte da acentuação sobre pro-cessos de grupo foram contribuições de pessoas provenientes do campo do serviço social – ver, por exemplo, os trabalhos de Redl (37), Scheidlinger (39) e Slavson (43). Uma tradição um pouco diferente, embora fortemente psicanalítica em sua orientação, se de-senvolveu na Inglaterra, sob a influencia de Bion (7) e um grupo de pessoas ligadas ao Tavistock Institute of Human Relations (53). Um aspecto importante dessa perspectiva é a aplicação do trabalho psicanalítico de grupo a grupos “naturais”, em estabelecimentos militares, industriais e na comunidade. Ainda outra forma de psicoterapia de grupo foi estabelecida pela obra extraordinariamente criadora e pioneira de Moreno (90). Suas téc-nicas de desempenho de papéis (mais precisamente, psicodrama e sociodrama) e a so-ciometria foram algumas das primeiras contribuições para este campo e tiveram um gran-de valor, tanto na psicoterapia de grupo quanto na pesquisa de dinâmica de grupo. Embo-ra muitos dos progressos na. psicoterapia de grupo e na dinâmica de grupo tenham sido contemporâneos, os primeiros trabalhos de psicoterapia de grupo tiveram uma influência clara e distinta no trabalho inicial em dinâmica de grupo. E as duas linhas de esforços continuaram a influir uma na outra, como se pode verificar, por exemplo, no tratamento sistemático da psicoterapia de grupo de Bach (3).

Educação. A revolução na educação pública americana, no primeiro quartel deste século, fortemente-influenciada pela obra de Dewey, ampliou a concepção das finalida-des e dos processos da educação. O objetivo da educação nas escolas públicas tornou-se a preparação das crianças para a vida em sociedade, em vez de ser a simples transmissão de conhecimento. “Aprender fazendo” tornou-se um slogan popular através de projetos cole-tivos, atividades extracurriculares e autogoverno dos alunos. Os professores procuraram ensinar capacidade de liderança, cooperação, participação responsável e relações huma-nas. Pouco a pouco tornou-se evidente que os professores, como os assistentes sociais, precisavam influir no que ocorria nos grupos de crianças e precisavam de princípios que dirigissem o comportamento para finalidades construtivas. Simultaneamente, na educação de adultos apareceu uma tendência semelhante, pois os problemas eram aí mais eviden-tes, dada a [17] natureza voluntária da participação nos programas de educação. Começou a surgir a concepção do professor como um líder do grupo, que influi na aprendizagem dos alunos, não só por sua competência na matéria, como também por sua habilidade em alimentar a motivação, estimular a participação e criar entusiasmo. Embora continue até hoje a controvérsia quanto a essa maneira geral de encarar a educação, os educadores tinham acumulado, no fim da década de 30, um considerável conjunto de conhecimento sobre a vida dos grupos. A dinâmica de grupo se utilizou dessa experiência, ao formular hipóteses de pesquisa, e seus especialistas estabeleceram estreitas relações de trabalho

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com os educadores e escolas de educação.1 Tanto a prática educacional quanto a pesquisa de dinâmica de grupo se beneficiaram com essa associação.

Administração. Todo um conjunto de especialidades se reúne sob esse rótulo, to-das interessadas pela direção de grandes organizações. Entre elas, estão profissões especí-ficas, tais como administração comercial, administração pública, administração hospitalar e administração escolar. Embora cada uma deva criar especialistas em sua esfera especí-fica de ação, todas têm necessidade de planejar processos eficientes para a coordenação do comportamento das pessoas. Por esta razão, têm um interesse comum pelos resultados da ciência social. Seria de esperar, portanto, que as formas de tratamento sistemático dos processos de direção logo reconhecessem a importância dos grupos nas grandes empre-sas, e que se desenvolvessem as formas de direção dos grupos. Na realidade, os fatos his-tóricos são muito diferentes. Até a década de 1930, os esforços para desenvolver os prin-cípios de direção ignoravam nitidamente a existência de grupos. Uma exceção marcante são os trabalhos de Mary P. Follett (13, 14), que, depois da Primeira Grande Guerra, ten-tou construir uma forma sistemática de estudo da administração e, de maneira mais geral, do governo, em que se reconheciam os grupos como elementos importantes. Todavia, suas idéias tiveram pouca aceitação.

De fato, a orientação individualista foi predominante até 1933, quando apareceu o primeiro dos diversos livros de Mayo e colaboradores (27, 38). Essas publicações apre-sentaram um [18] programa extensivo de pesquisas, iniciadas em 1927 na fábrica Haw-thorne da Western Electric Company. O objetivo inicial dessa pesquisa era estudar a rela-ção entre as condições de trabalho e a incidência da fadiga nos operários. Introduziu-se uma série de variações experimentais – freqüência das pausas para descanso, quantidade de horas de trabalho, natureza dos incentivos salariais – com a intenção de verificar sua influência sobre a fadiga e a produtividade. O grande mérito desses pesquisadores foi aceitar a existência de efeitos não previstos, pois, segundo se verificou, as modificações importantes provocadas por seus experimentos apareceram nas relações interpessoais entre operários e entre os operários e a administração. Os resultados desse programa de pesquisa levaram Mayo e seus colaboradores a acentuar, principalmente, a organização social do grupo de trabalho, as relações sociais entre o supervisor e os subordinados, os padrões informais que dirigem o comportamento dos participantes dos grupos de traba-lho, os motivos e atitudes dos operários no contexto do grupo.

Dificilmente se pode exagerar o impacto dessa pesquisa em todos os ramos da administração. Haire descreve-o da seguinte maneira (17, 376):

Depois da publicação dessas pesquisas, mudou radical e irrevogavelmente o pen-

samento sobre os problemas industriais. Já não era possível considerar uma redução da produtividade apenas como função de mudanças de iluminação, fadiga física e coisas se-melhantes. Não era mais possível procurar uma explicação da mobilidade do operário apenas através de um homem econômico, procurando ganhar o máximo possível. O papel do líder começou a passar de dirigente do trabalho para mobilizador da cooperação. O in-centivo para o trabalho não mais foi compreendido como simples e unitário, mas como infinitamente variado, complexo e mutável. A nova perspectiva não só permitiu, mas exi-giu novas pesquisas e novas conceituações, destinadas a enfrentar os problemas.

Outra importante contribuição para essa nova visão da administração foi a teoria

sistemática de administração, publicada em 1938 por Barnard (5), e resultante de muitos 1 Nas universidades americanas, os professores para escolas primárias e secundárias devem obter diplo-

mas em escolas de educação. (Nota do tradutor).

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anos de experiência como gerente de empresa comercial. Embora esse livro não coloque a principal ênfase no grupo como tal, considera, em primeiro lugar, as necessidades hu-manas e os processos sociais. Barnard deixou claro que só se pode compreender satisfato-riamente e modelar eficientemente a prática da administração se se concebem as grandes organizações como [19] instituições sociais, compostas por pessoas em inter-relações sociais.

O aparecimento da dinâmica de grupo, no fim da década de 1930, ocorreu quando administradores e teóricos da organização começaram a acentuar a importância dos gru-pos e das “relações humanas” na administração. Nos anos subseqüentes os resultados da pesquisa de. dinâmica de grupo foram progressivamente incorporados aos tratamentos sistemáticos de administração, e um número cada vez maior de administradores apóia, de várias formas, a pesquisa de dinâmica de grupo.

Antes de abandonar a discussão do papei das profissões liberais na origem e no desenvolvimento da dinâmica de grupo, devemos observar que os desenvolvimentos aqui apresentados tiveram correspondentes, em diversos graus, em outros campos da ação social, muitos dos quais não apresentaram elevado nível de especialização. Deve-se men-cionar especialmente o apoio proveniente dos interessados em proporcionar um funda-mento científico para o trabalho em relações intergrupais, saúde pública, forças militares, educação religiosa, organização comunitária e linguagem.2

Desenvolvimento das ciências sociais Ao considerar as condições que estimularam a perspectiva atual da dinâmica de

grupo, nas ciências sociais, é essencial reconhecer que essa perspectiva só pôde aparecer porque houve determinados progressos em todas as ciências sociais. O aparecimento da dinâmica de grupo exigiu, portanto, não só uma sociedade que a apoiasse, mas também o desenvolvimento de profissões liberais e das ciências sociais.

Uma premissa básica da dinâmica de grupo é o emprego de métodos científicos no estudo de grupos. Só se poderia manter seriamente essa suposição depois da aceitação da crença mais [20] geral de que o homem, seu comportamento e suas relações sociais podem ser adequadamente estudados pela pesquisa científica. E, naturalmente, o emprego de métodos científicos, para o conhecimento do comportamento humano e das relações sociais, não poderia aparecer antes de suficiente desenvolvimento dos métodos científi-cos. As discussões sérias dessa possibilidade ocorreram somente no século dezenove. O tratamento extensivo do positivismo, apresentado por Comte em 1830, contribuiu com o principal avanço no exame autoconsciente das suposições básicas da possibilidade de submeter os fenômenos humanos e sociais à pesquisa científica; as controvérsias sobre as teorias evolucionistas do homem, na última metade do século, apresentaram uma visão drasticamente nova da possibilidade de expansão da atividade científica ao comportamen-to humano. Antes das últimas décadas do século dezenove não havia muitas pessoas de-dicadas a observar e medir o comportamento humano ou realizar experimentos nesse campo. O primeiro laboratório psicológico só foi instalado em 1879.

2 Por exemplo, ao mesmo tempo que Lewin estabeleceu o Research Center for Group Dynmics at M.I.T.,

o Congresso Judeu-Americano criou uma organização correlata, conhecida como a Community Interre-lations, para realizar “pesquisa em ação”.de problemas de relações intergrupais. E houve grande apoio financeiro, para pesquisa, do National Institute of Mental Health, da marinha e.aeronáutica dos E.U.A., assim como de diversas grandes organizações comerciais.

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É quase impossível imaginar como poderia surgir a dinâmica de grupo antes de se firmar a crença quanto à possibilidade de realizar pesquisas empíricas com grupos de pessoas, de medir fenômenos sociais importantes, de manejar, para fins experimentais, as variáveis de grupo e de descobrir as leis que governam a vida do grupo. Só recentemente essas crenças tiveram aceitação, embora desde o século XVII tenham sido defendidas ocasionalmente por alguns autores; ainda hoje, não são universalmente aceitas. Ainda existem os que afirmam que o comportamento humano não obedece a leis, que os fenô-menos sociais importantes não podem ser quantificados e que a experimentação com gru-pos é impossível ou imoral, ou ambas as coisas. William H. Whyte Jr. (52), em seu ata-que ao “homem da organização”, justificou, com a maior eloqüência, os que se conser-vam céticos quanto à possibilidade de aplicação de métodos científicos ao estudo do ho-mem. Define cientismo como “a promessa de criar, finalmente, com as mesmas técnicas que obtiveram êxito nas ciências físicas, uma ciência exata do homem”. Identifica o cien-tismo a um componente importante da Ética Social que, em sua opinião, está enfraque-cendo a sociedade americana. A tragédia do cientismo, afirma ele, é basear-se numa ilu-são, pois “uma ciência do homem não pode atuar de acordo com o que dela [21] esperam os seres crentes”. Se predominasse esse ponto de vista, seria impossível o desenvolvi-mento da dinâmica de grupo.

A realidade dos grupos. Uma parte importante do progresso inicial na ciência so-cial consistiu no esclarecimento de determinadas suposições fundamentais a respeito da realidade dos fenômenos sociais. As primeiras expansões do método científico ao com-portamento humano ocorreram em estreita ligação com a biologia. As técnicas de expe-rimentação e mensuração foram aplicadas inicialmente a pesquisas das reações dos orga-nismos, a estimulação dos órgãos sensoriais e a modificações dessas reações pela estimu-lação repetida. Nunca houve muita dúvida quanto à “existência” de organismos indivi-duais. Contudo, quando a atenção se voltou para grupos de pessoas e instituições sociais, houve uma grande confusão. A discussão dessas questões apresentou expressões tais co-mo “mentalidade coletiva”, “representações coletivas”, “inconsciente coletivo” e “cultu-ra”. E as pessoas discutiam acaloradamente se tais expressões se referiam a algum fenô-meno real ou se eram simples “abstrações” ou “analogias”. De maneira geral, as discipli-nas dedicadas a instituições (antropologia, economia, ciência política e sociologia) atri-buíram livremente uma realidade concreta a entidades supra-individuais, enquanto a psi-cologia, com seu interesse pelos fundamentos fisiológicos do comportamento, relutou em admitir a existência de alguma coisa além do comportamento dos organismos. Mas em todas essas disciplinas houve conflitos entre “institucionalistas” e “comportamentistas”.

A cisão mais marcante ocorreu, naturalmente, nos primeiros dias da psicologia social, pois esta lida diretamente com as relações entre o indivíduo e a sociedade. Nesta disciplina, o grande debate sobre a “'mentalidade coletiva” atingiu seu clímax na década de 1930. Embora muitos tomassem parte, os nomes de William McDougall e Floyd All-port são os mais estreitamente ligados a essa controvérsia. Num extremo sustentava-se que grupos, instituições e cultura têm uma realidade independente dos indivíduos compo-nentes. Sustentava-se que um grupo pode continuar a existir, mesmo depois de ter havido uma completa mudança dos seus participantes; que apresenta características, tais como divisão de trabalho, sistema de valores e estrutura de papéis, que não podem ser concebi-das como características individuais, e que as leis que [22] governam essas características de nível coletivo devem ser apresentadas em nível coletivo. Um slogan que reflete essa perspectiva é a afirmação, atribuída a Durkheim, segundo a qual “toda vez que um fenô-meno social é explicado diretamente por um fenômeno psicológico, podemos estar certos

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do erro dessa explicação.” Em direta oposição a tudo isso, encontra-se a opinião apresen-tada de maneira mais eficiente por Allport, segundo a qual unicamente os indivíduos são reais, enquanto grupos e instituições são “conjuntos de ideais, pensamentos e hábitos, repetidos em cada mente individual, e existentes unicamente nessas mentes” (1, 9). Por-tanto, os grupos são abstrações. a partir de reuniões de organismos individuais. A “mente coletiva” refere-se apenas a semelhanças entre mentes individuais, e os indivíduos não podem ser partes de grupos, pois os grupos existem apenas na mente dos homens.

Pode parecer estranho que cientistas sociais se tenham envolvido em considera-ções filosóficas sobre a natureza da realidade. Contudo, a visão que o cientista social tem da realidade exerce muita influência em seu comportamento científico. Em primeiro lu-gar, determina o que pretende submeter à pesquisa empírica. Lewin indicou sucintamente esse tato, na seguinte afirmação (22, 190):

Rotular uma coisa de “inexistente” equivale a declará-la “fora dos limites” para o cientista. Atribuir “existência” a um item, automaticamente faz com que o cientista tenha o dever de considerá-lo como objeto de pesquisa; inclui a necessidade de considerar suas características como “fatos” que não podem ser desprezados no sistema total de teorias; finalmente, implica que os termos com que se refere ao item são aceitáveis como “concei-tos” científicos (e não como “simples palavras”).

Em segundo lugar, a história da ciência mostra uma estreita interação entre as téc-

nicas de pesquisa, disponíveis em determinado momento, e as predominantes quanto à realidade. A insistência quanto à existência de fenômenos que, em determinado momen-to, não podem ser objetivamente observados, medidos ou experimentalmente controlados, tem pouco valor científico, se não permite a invenção de técnicas adequadas de pesquisa empírica. Na prática, o cientista pode eliminar entidades supostamente reais, mas cuja investigação empírica parece impossível. Apesar disso, logo que uma nova técnica possi-bilita o tratamento empírico de alguma nova entidade, [23] para o cientista, essa entidade adquire, imediatamente, uma “realidade”. Como observou Lewin (22, 193): “É provável que a maneira mais eficiente de destruir o tabu, quanto à crença na existência de uma entidade social, seja lidar experimentalmente com ela.”

A história da controvérsia da “mentalidade coletiva” exemplifica muito bem esses aspectos. A insistência inicial na realidade da “mentalidade coletiva”, antes do desenvol-vimento de técnicas de pesquisa desses fenômenos, pouco contribuiu para seu estudo científico. Allport, ao negar a realidade do grupo, exerceu, na verdade, uma grande in-fluência libertadora para os psicólogos sociais, pois dizia: “Não nos imobilizemos ao in-sistir na realidade de coisas com que não podemos lidar, através das técnicas de pesquisa atualmente existentes.” Allport e os psicólogos dessa tendência conseguiram empreender um programa de pesquisa extremamente produtivo quanto às atitudes dos indivíduos diante das instituições e quanto ao comportamento dos indivíduos nos contextos sociais. Embora essa visão da realidade fosse demasiadamente limitada para encorajar o estudo empírico das características dos grupos, estimulou o desenvolvimento das técnicas de pesquisa que, posteriormente, proporcionaram uma visão mais ampla da realidade cienti-ficamente analisável. Até o aparecimento dessas técnicas, aqueles que continuavam a atribuir realidade aos grupos e instituições eram obrigados a apoiar-se em estudos pura-mente descritivos ou especulações de gabinete, a partir de experiência pessoal, e esse trabalho foi legitimamente criticado como “subjetivo”, pois raramente as técnicas objeti-vas da ciência eram aplicadas a tais fenômenos.

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O desenvolvimento de técnicas de pesquisa. Portanto, a organização de técnicas de pesquisa extensíveis à pesquisa de grupo teve a máxima importância para o apareci-mento da dinâmica de grupo. Naturalmente, foi um processo demorado. Começou na última metade do século dezenove, com o aparecimento da psicologia experimental. Nos anos seguintes, um número cada vez maior de aspectos da experiência e do comporta-mento humanos foi submetido a técnicas de mensuração e experimentação. Durante o primeiro terço deste século, por exemplo, fizeram-se progressos notáveis na mensuração das atitudes. Entre eles destaca-se a escala de “distancia social”, criada por Bogardus (8), o tratamento compreensivo dos problemas das escalas, por Thurstone (47) e Thurstone e Chave [24] (48), e a técnica de escala, muito mais simples, criada por Likert (24). Parale-lamente a esses trabalhos, e em interação com eles, houve desenvolvimentos básicos na estatística. No fim da década de 1930, tinham sido formulados importantes métodos esta-tísticos que possibilitaram eficientes planejamentos experimentais e a avaliação da signi-ficação dos resultados quantitativos. Naturalmente, esses progressos tiveram importância não só para o aparecimento da dinâmica de grupo, como também para o desenvolvimento de todas as ciências do comportamento.

Nesse desenvolvimento geral, podemos observar três progressos metodológicos, que contribuíram especificamente para o aparecimento da dinâmica de grupo.

1. Experimentos de comportamento individual nos grupos. Como observamos

acima, a pesquisa de dinâmica de grupo tem uma grande dívida para com a psicologia experimental, pela invenção de técnicas para realizar experimentos sobre as condições que influenciam o comportamento humano. Todavia, a psicologia experimental não se interessou, de início, pelas variáveis sociais; apenas no início deste século alguns pesqui-sadores se empenharam em pesquisa experimental, planejada para pesquisar a influência das variáveis sociais no comportamento de indivíduos. G. W. Allport (2, 46) assim des-creveu a natureza desses primórdios da psicologia social experimental:

Formulou-se o primeiro problema experimental – na realidade o único, nas primeiras três décadas de pesquisa experimental – da seguinte maneira: Que mudança ocorre na ação isolada de um indivíduo normal quando outras pessoas estão presentes? E, segundo Allport, a primeira resposta de laboratório a essa questão foi dada por

Triplett (49), que comparou a atividade de crianças ao enrolar a linha de pescar, sozinha ou junto a outras crianças. A partir desse experimento, Triplett concluiu que a situação coletiva tende a provocar um aumento no gasto de energia e na realização.

O trabalho de Moede (28), iniciado em Leipzig, em 1913, teve maior significação para o desenvolvimento da psicologia social experimental. Procedeu a uma pesquisa sis-temática das conseqüências da participação simultânea de várias pessoas nos diversos experimentos psicológicos então padronizados. Esse [25] trabalho teve influência no de-senvolvimento da psicologia social sobretudo porque Münsterberg chamou a atenção de F. H. Allport, estimulando-o a repeti-lo e ampliá-lo. Allport (1) não só realizou diversos experimentos admiráveis, mas também criou um quadro de referência teórico para a in-terpretação de seus resultados. Por volta de 1935, Dashiell (12) conseguiu escrever um longo resumo do trabalho, comparando o comportamento provocado quando o sujeito trabalha isolado e quando trabalha na presença de outros. Outro estudo importante dessa época foi o realizado por Moore (29), no qual demonstrou experimentalmente a influên-cia, nos julgamentos morais e estéticos, da opinião do “especialista” e da “maioria”. Es-ses experimentos iniciais não só demonstraram a possibilidade de realizar experimentos

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sobre a influência dos grupos no comportamento individual, mas também desenvolveram técnicas usadas até hoje.

Uma tendência de pesquisa um pouco diferente, mas estreitamente ligada à pri-meira, tentou comparar a realização dos indivíduos e dos grupos. Nesses estudos, como o exemplificam as obras de Gordon (16), Watson (50) e Shaw (41), empregaram-se tarefas que poderiam ser realizadas por indivíduos ou por grupos de pessoas, e procurava-se sa-ber se o melhor trabalho seria realizado por indivíduos ou pelos grupos. Segundo se veri-ficou, a pergunta era irrespondível, a menos que as condições fossem mais especificadas; apesar disso, essa pesquisa forneceu muitos ensinamentos.

Todo esse trabalho, ao trazer os grupos para o laboratório, tornou muito mais pro-vável a possibilidade de desenvolvimento da dinâmica de grupo. Embora, a rigor, esses experimentos iniciais não tratassem das características dos grupos, tornaram evidente que a influência dos grupos sobre os indivíduos pode ser estudada experimentalmente e facili-taram a concepção de variações experimentais, no laboratório, das características do grupo.

2. Observação controlada da interação social. Poder-se-ia pensar que o recurso

mais óbvio para conhecer a natureza do funcionamento do grupo seria apenas observar os grupos em ação. Na verdade, em toda a História, esse processo tem sido empregado por cronistas e jornalistas, e continua a ser uma fonte de dados, sobretudo quando empregada pelos antropólogos sociais em suas descrições do comportamento, da [26] cultura e da estrutura social das sociedades primitivas. O principal inconveniente do processo, como técnica científica é que as descrições (dados científicos) apresentadas por observadores dependem diretamente da capacidade e da sensibilidade do observador, assim como de suas interpretações prediletas. (Essa dificuldade pode ser facilmente demonstrada pela comparação de descrições feitas por diversas pessoas, que observaram independentemen-te alguma interação social, ainda que pouco complexa. As primeiras tentativas sérias para aperfeiçoar métodos de observação, a fim de obter dados objetivos e quantitativos, ocor-reram por volta de 1930, no campo da psicologia infantil. Despendeu-se grande esforço para a construção de categorias de observação que permitissem a um observador indicar apenas a presença ou a ausência, durante o período de observação, de um tipo específico de comportamento ou interação social. De modo geral, aumentou-se a precisão, limitan-do-se a observação a interações muito evidentes, cujo “sentido” poderia ser revelado num curto limite de tempo e cuja classificação exigisse pouca interpretação do observador. Desenvolveram-se, também, métodos de amostragem das interações de um grande grupo de pessoas, durante um longo tempo, a fim de que fossem possíveis estimativas eficientes da interação total, a partir de observações mais limitadas. Conseguiu-se uma alta precisão dos dados quantitativos, através da utilização desses processos e de um treino cuidadoso dos observadores. Os principais pesquisadores responsáveis por esses melhoramentos foram Goodenough (15), Jack (19), Olson (34), Parten (35) e Thomas (44).

A observação controlada da interação social, desenvolvida inicialmente para,a ob-tenção de dados objetivos e quantitativos sobre o comportamento de crianças em seu am-biente natural, difundiu-se, posteriormente, na pesquisa de dinâmica de grupo. Um aper-feiçoamento importante foi a combinação das técnicas de observação com processos ex-perimentais, a fim de obter avaliações quantitativas dos resultados, sobre a interação nos grupos, das diversas condições experimentais. Nos Capítulos 7, 22, 26, 28 e 33 encon-tram-se exemplos do emprego da observação controlada.

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3. Sociometria. Uma outra maneira de estudar os grupos é fazer perguntas aos par-ticipantes. Naturalmente, os dados obtidos desta maneira refletem unicamente o que o indivíduo é capaz de relatar e deseja dizer. Apesar disso, esses relatórios subjetivos dos membros de um grupo podem acrescentar [27] informações valiosas a observações mais objetivas de comportamento. Dentre os muitos recursos para obter informações dos parti-cipantes do grupo, um dos primeiros e mais usados é o teste sociométrico inventado por Moreno (30). Durante a Primeira Grande Guerra, Moreno foi o administrador responsável por um campo de tiroleses deslocados de guerra e observou que era melhor o ajustamento das pessoas quando se permitia que formassem seus grupos no interior do campo. Mais tarde, nos Estados Unidos, empreendeu a verificação de sua idéia, com uma pesquisa mais sistemática com grupos de pessoas em instituições tais como escolas e reformató-rios. Construiu, para isso, um questionário simples, onde a pessoa indicava aquelas com quem preferiria trabalhar em alguma atividade específica. Logo se tornou evidente que esse recurso e suas modificações poderiam fornecer informações valiosas sobre atrações e rejeições interpessoais no interior de um grupo. A publicação do principal livro de Mo-reno (30), em 1934, baseado na experiência obtida com o teste, e a fundação, em 1937, da revista Sociometria, provocaram uma quantidade prodigiosa de pesquisas que empregam o teste sociométrico e suas numerosas variações.

A significação da sociometria para a dinâmica de grupo está na provisão de uma técnica útil de pesquisa de grupos, assim como na atenção que dirigiu para alguns aspec-tos dos grupos, tais como: posição social, padrões de amizade, formação de subgrupos e, de maneira mais ampla, estrutura informal.

Origens da dinâmica de grupo Em meados da década de 1930, as ciências sociais estavam maduras para um rá-

pido desenvolvimento da pesquisa empírica com grupos. E, de fato, ocorreu nos Estados Unidos uma grande explosão dessa atividade, pouco antes de sua entrada na Segunda Grande Guerra. Essa pesquisa, além disso, passou a apresentar, nitidamente, as caracterís-ticas hoje associadas ao trabalho em dinâmica de grupo. Num período de aproximada-mente cinco anos, empreenderam-se vários e importantes projetos de pesquisa, mais ou menos independentes um do outro, mas todos apresentando esses aspectos distintivos. Examinaremos, agora, resumidamente, quatro dentre os mais influentes. [28]

Criação experimental de normas sociais Em 1936, Sherif (42) publicou um livro contendo uma análise sistemática e teóri-

ca do conceito de norma social e uma engenhosa pesquisa experimental sobre a origem das normas sociais entre grupos de pessoas. Provavelmente o aspecto mais importante do livro foi a reunião de idéias e observações da sociologia e antropologia às técnicas da psicologia para a experimentação de laboratório. Sherif começou por aceitar a existência de costumes, tradições, padrões, regras, valores, modas e outros critérios de conduta (que subordinou ao título geral de norma social). Concordou, também, com Durkheim, supon-do que essas “representações coletivas” tenham, do ponto de vista do indivíduo, caracte-rísticas de exterioridade e coerção. Ao mesmo tempo, concordou com F. H. Allport, su-pondo que as normas sociais tenham sido freqüentemente tratadas como uma coisa místi-

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ca, e que o progresso científico só possa ser atingido sujeitando-se os fenômenos a técni-cas aceitáveis de pesquisa empírica. Propôs o exame das normas sociais, realizado simul-taneamente de duas maneiras: (a) como o produto de interação social e (b) como estímu-los sociais que atingem todos os indivíduos, membros de um grupo com essas normas. Assim concebidas, seria possível estudar experimentalmente a origem das normas sociais e de sua influência sobre os indivíduos.

Ao formular o seu problema de pesquisa, Sherif apoiou-se nitidamente nos resul-tados obtidos, no campo da percepção, pela psicologia gestaltista. Observou que esse trabalho estabelecia não haver necessariamente uma correlação fixa, ponto-por-ponto, entre o estímulo físico e a experiência e o comportamento que provoca. O quadro de refe-rência que a pessoa leva para a situação tem influência significativa na sua maneira de ver. Sherif propôs que, do ponto de vista psicológico, uma norma social funciona como esse quadro de referência. Portanto, se duas pessoas com normas diferentes enfrentam a mesma situação (por exemplo, um muçulmano e um cristão diante de uma refeição de costeletas de porco), verão e reagirão de maneiras totalmente diferentes. Para ambas, con-tudo, a norma serve para dar um sentido e apresentar uma maneira estável de reagir ao ambiente.

Depois de ligar as normas sociais à psicologia da percepção, Sherif procurou sa-ber como surgem as normas. Ocorreu-lhe que poderia apreender esse problema se colo-casse as [29] pessoas numa situação sem estrutura nítida, onde não se poderiam valer de qualquer quadro de referência ou norma social previamente adquiridos. Sherif assim apresentou o objetivo geral de sua pesquisa (42, 90, 91):

... Que fará um indivíduo quando colocado numa situação objetivamente instável,

em que falta qualquer base de comparação, no que se refere ao campo externo de estimu-lação? Em outras palavras, que fará ele quando se eliminar o quadro de referência exter-no, quanto ao aspecto em que estamos interessados? Apresentará uma miscelânea de jul-gamentos insólitos? Ou estabelecerá seu próprio ponto de referência? Os resultados con-sistentes nessa situação podem ser tomados como índices de um quadro de referência subjetivamente desenvolvido...

No nível social, podemos ampliar o problema. Que fará um grupo de pessoas na mesma situação instável? Os diferentes indivíduos do grupo apresentarão uma miscelânea de julgamentos? Ou se estabelecerá uma norma comum, peculiar à situação específica do grupo e dependente da presença desses indivíduos reunidos e de sua influência mútua? Se percebem, a tempo, a incerteza e a instabilidade da situação que enfrentam em comum, de maneira a conferir-lhe algum tipo de ordem, percebendo-a como ordenada por um quadro de referência desenvolvido entre eles no decorrer do experimento, e se esse quadro de re-ferência é peculiar ao grupo, podemos dizer que temos, pelo menos, o protótipo do pro-cesso psicológico existente na formação de uma norma num grupo.

A fim de submeter essas questões à análise experimental, Sherif empregou o que,

em psicologia, se conhece como o efeito autocinético. Já se demonstrara antes, na pesqui-sa de percepção, que, se um sujeito, numa sala totalmente escura, olhar para um ponto de luz parado, logo depois verá o ponto em movimento. Além disso, existem consideráveis diferenças individuais na amplitude do movimento percebido. O experimento de Sherif consistiu em colocar os sujeitos isolados na sala escura e obter os julgamentos sobre os limites do movimento aparente. Verificou que, com a repetição do teste, o sujeito estabe-lece limites para seus julgamentos e que esses limites são específicos para cada pessoa. Sherif repetiu o experimento, mas, desta vez, grupos de sujeitos observavam a luz e apre-sentam o julgamento em voz alta. Verificou que os limites individuais de julgamento

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convergiam para um limite coletivo, específico do grupo. Em novas variações, Sherif conseguiu demonstrar que “quando o indivíduo, que estabeleceu antes, individualmente, limites e uma norma entre os limites, é posto numa situação de grupo, com outros indiví-duos, que:também vêm para a situação com seus limites e normas, estabelecidos em ses-sões [30] individuais, os limites e as normas tendem a convergir” (42, 104). Além disso, “quando um membro de um grupo, posteriormente, enfrenta sozinho a mesma situação – depois do estabelecimento dos limites da norma de seu grupo – percebe a situação em função dos limites e da norma que trouxe da situação coletiva” (42, 105).

O estudo de Sherif muito contribuiu para demonstrar a possibilidade da pesquisa experimental de fenômenos coletivos. Deve-se observar que não procurou estudar as normas sociais existentes em qualquer grupo natural. Ao contrário, formou novos grupos no laboratório e observou o desenvolvimento de uma norma social inteiramente nova. Embora, para o antropólogo e o sociólogo a situação experimental de Sherif possa pare-cer artificial, e mesmo trivial, exatamente esse artificialismo deu aos resultados uma ge-neralidade que não se obtém comumente, com a pesquisa naturalista. Ao submeter à aná-lise psicológica um conceito de nível coletivo, como a norma social, Sherif contribuiu para suprimir o que considerava uma infeliz separação categórica entre o indivíduo e o grupo. E sua pesquisa permitiu estabelecer, entre os psicólogos, a idéia da realidade de determinadas características dos grupos, pois, como concluiu, “o fato de a norma, assim estabelecida, ser específica do grupo, sugere a existência de uma base, nos fatos psicoló-gicos, para os argumentos dos psicólogos sociais e dos sociólogos, segundo os quais, nas situações coletivas, surgem qualidades novas e supra-individuais.” (42, 105).

O alicerce social das atitudes Nos anos de 1935-39, Newcomb (32) dirigiu uma pesquisa intensiva, referente ao

mesmo tipo geral de problema que interessou a Sherif, mas com métodos muito diferen-tes. Newcomb escolheu um ambiente “natural” em vez do “laboratório”, a fim de estudar o funcionamento das normas sociais e dos processos de influência social; para a obtenção dos dados, apoiou-se, principalmente, em técnicas de medida de atitudes, sociometria e em entrevistas. O local do estudo foi o Bennington College; os sujeitos eram o corpo dis-cente, e o conteúdo das normas sociais era constituído pelas atitudes diante de questões políticas. [31]

Inicialmente, estabeleceu-se que a atmosfera política dominante da Universidade era “liberal” e que os estudantes, ao ingressar, vindos de lares predominantemente “con-servadores”, traziam atitudes diversas das aceitas na cultura da escola Demonstrou-se o poder da comunidade universitária para mudar as atitudes dos alunos pelo fato de que, em cada ano, os da última série eram mais liberais que os calouros Todavia, o aspecto mais significativo desse estudo foi a cuidadosa documentação das maneiras pelas quais fun-cionam essas influências Newcomb demonstrou, por exemplo, como a comunidade “re-compensa” os alunos, quando adotam as atitudes aprovadas Um teste do tipo sociométri-co – onde os alunos escolhem “os mais capazes de representar a Escola numa reunião intercolegial” – revelou que os alunos escolhidos em cada classe eram nitidamente, me-nos conservadores que os não escolhidos E os alunos conhecidos como mais identificados com a Escola, como “bons cidadãos”, eram também relativamente mais liberais, em suas atitudes políticas Através de diversos recursos engenhosos, Newcomb conseguiu desco-brir o “papel subjetivo” do aluno, ou a sua auto-impressão quanto à relação com a comu-

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nidade estudantil. A análise desses dados revelou várias e diferentes maneiras pelas quais os alunos se acomodavam às pressões sociais da comunidade. Nessa análise, apresentam um interesse específico as provas de conflito entre lealdades coletivas quanto à participa-ção na comunidade escolar e à participação no grupo familial, assim como algumas das condições que determinavam a relativa influência de ambas.

O estudo de Newcomb demonstrou que as atitudes dos indivíduos estão fortemen-te arraigadas nos grupos de que fazem parte, que a influência de um grupo sobre as atitu-des de um indivíduo depende da natureza da relação entre o indivíduo e o grupo, e que, pelo menos em parte, os grupos avaliam os membros segundo seu conformismo às nor-mas do grupo. Embora quase todas essas questões tenham sido formuladas, de uma ou de outra forma, por autores da fase especulativa da ciência social, esse estudo foi especial-mente significativo porque apresentou provas minuciosas, objetivas e quantitativas. De-monstrou assim – tal como já o fizera, de outra maneira, o estudo de Sherif – a possibili-dade de realização de pesquisa científica sobre aspectos significativos da vida do grupo. [32]

Grupos na sociedade de esquina Os fundamentos sociológicos e antropológicos da dinâmica de grupo estão ainda

mais evidentes no terceiro estudo importante dessa fase. Em 1937 Whyte mudou-se para uma das áreas superpovoadas e decadentes de Boston e iniciou um estudo de três anos e meio dos clubes sociais, organizações políticas e negócios ilícitos. Seu método foi o de “observador participante”, que teve o maior desenvolvimento na pesquisa antropológica. Apoiou-se, mais especificamente, na experiência de Warner e Arensberg, derivada dos estudos de “Yankee City”. Conseguiu, de diversas maneiras, ser admitido na vida social e política da comunidade e anotou fielmente os vários acontecimentos que observou ou de que teve conhecimento. No livro que escreveu, Whyte (51) descreve, viva e minuciosa-mente, a estrutura, a cultura e o funcionamento da “gang” de Norton Street e do Clube Italiano. Documentou extensivamente a importância desses grupos sociais na vida dos participantes e na estrutura política da sociedade mais ampla.

Na interpretação e na sistematização dos resultados, Whyte foi muito influenciado pelo ponto de vista “interacionista”, que estava sendo desenvolvido por Arensberg e Chapple e, posteriormente, apresentado por vários autores, entre os quais Chapple (10), Bales (4) e Homans (18). A orientação – derivada por Mayo e colaboradores dos estudos da Western Electric – encontra-se, também, evidente na análise que Whyte faz dos seus dados. Embora não tenha feito qualquer esforço para quantificar as interações que obser-vou, o grande cuidado com minúcias deu muita objetividade à apresentação das intera-ções entre as pessoas observadas. Seus conceitos de “ordem mais elevada” – como estru-tura social, coesão, liderança e status – ligam-se nitidamente a interações mais diretamen-te observáveis entre pessoas, fornecendo-lhes um estreito elo com a realidade empírica.

Para o trabalho posterior em dinâmica de grupo, esse estudo apresenta três aspec-tos importantes: (a) dramatizou e descreveu, meticulosamente, a grande significação dos grupos, tanto para a vida dos indivíduos, quanto para o funcionamento dos sistemas so-ciais mais amplos; (b) estimulou a interpretação de características e processos coletivos, em função de interações entre indivíduos; (c) formulou uma série de hipóteses [33] sobre as relações entre variáveis, tais como iniciativas da interação, liderança, status, obriga-

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ções mútuas e coesão coletiva. Essas hipóteses orientaram muitos dos trabalhos posterio-res que Whyte realizou sobre grupos, assim como as pesquisas de muitos outros cientistas.

Controle experimental da atmosfera do grupo O trabalho de maior influência, nos primórdios da dinâmica de grupo foi o de Le-

win, Lippitt e White (23, 25, Cap. 28). Realizadas na lowa Child Welfare Research Stati-on, entre 1937 e 1940, essas pesquisas sobre a atmosfera de grupo e estilos de liderança conseguiram uma síntese criadora das diversas tendências e dos vários desenvolvimentos acima considerados. Ao descrever o histórico dessa pesquisa, Lippitt observou que a dis-cussão quanto à “boa” liderança surgiu entre especialistas em educação, serviço social e administração; observou que, com exceção dos estudos da Western Electric, poucas fo-ram as pesquisas realizadas para orientar a ação nessas profissões. Ao propor o problema teórico, Lippitt partiu explicitamente do trabalho anterior de psicologia social, psicologia clínica e infantil, de sociologia, antropologia cultural e ciência política. E, ao planejar a pesquisa, empregou, com grandes modificações, as técnicas existentes de psicologia ex-perimental, observação controlada e sociometria. Esse trabalho, portanto, apoiou-se mui-to nos progressos anteriores das ciências sociais e das aplicações práticas, mas teve uma originalidade e uma significação que, imediatamente, provocaram um impacto marcante em todos esses campos.

O objetivo básico dessa pesquisa foi estudar as influências no grupo como um to-do, e em cada um dos participantes, de determinadas “atmosferas de grupo” ou “estilos de liderança”, experimentalmente provocados. Organizaram-se grupos de crianças de dez e onze anos de idade, que deviam reunir-se regularmente, durante um período de várias semanas, sob a liderança de um adulto, que provocaria as diferentes atmosferas de grupo. Ao criar esses grupos, procurou-se assegurar sua comparabilidade inicial; na medida do possível as características dos vários grupos foram equiparadas, através da utilização do teste sociométrico de observações no recreio e de entrevistas [34] com professores; a for-mação e as características individuais dos participantes foram igualadas para todos os grupos, através dos boletins escolares e de entrevistas com as crianças; utilizaram-se as mesmas atividades coletivas e o mesmo ambiente físico para todos os grupos.

O controle experimental consistiu em fazer com que cada um dos líderes adultos se comportasse, em cada tratamento experimental, de maneira preestabelecida; a fim de isolar as influências diferenciais das personalidades dos líderes, cada um orientou um grupo em uma das condições experimentais. Pesquisaram-se três tipos de liderança ou atmosfera coletiva: a democrática, a autocrática e a permissiva [“laissez-faire”].

À luz do conhecimento atual está claro que, em cada estilo de liderança, combina-ram-se muitas variáveis independentes. Todavia, talvez exatamente por essa razão os efeitos produzidos no comportamento do grupo tenham sido grandes e dramáticos. Nos grupos autocráticos, por exemplo, ocorreram formas muito graves de aparecimento de bodes expiatórios; no final do experimento, as.crianças em alguns dos grupos autocráti-cos resolviam destruir o que tinham construído. Além disso, cada grupo desenvolveu um nível característico de agressividade e ficou demonstrado que, quando um participante era transferido de um grupo para outro, mudava a sua agressividade, a fim de aproximá-la do nível existente no grupo. Permitiu-se uma interessante apreensão da dinâmica da agres-são, através de uma “explosão” emocional bastante violenta, provocada quando alguns

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grupos, que reagiam com grande submissão à liderança autocrática, receberam um novo líder, mais liberal.

Como se poderia esperar – sabendo-se que essa pesquisa era original e se referia a questões emocionalmente carregadas de ideologia política – foi imediatamente submetida a críticas, algumas justas, outras injustas. Todavia, o principal resultado, para as ciências sociais e para as aplicações especializadas, foi desvendar novos horizontes e elevar o ní-vel de aspiração. A criação, no laboratório, de “sistemas políticos em miniatura” e a de-monstração de sua influência no comportamento e nas relações sociais das pessoas de-monstraram que é possível submeter ao método experimental os problemas práticos de direção dos grupos e que os cientistas sociais poderiam empregar os métodos da ciência para resolver problemas de significação vital para a sociedade. [35]

Para as pesquisas posteriores de dinâmica de grupo, teve importância básica a maneira de Lewin formular o objetivo essencial desses experimentos. Selecionou-se, para pesquisa, o problema de liderança, em parte por sua importância prática na educação, no serviço social, na administração e nas questões políticas. Apesar disso, ao criar no labora-tório os diferentes tipos de liderança, a intenção não foi copiar ou simular um “tipo puro”, que possa existir na sociedade. Ao contrário, o objetivo foi descobrir algumas das mais importantes variações de comportamento do líder e verificar como os vários estilos de liderança influenciam as características dos grupos e o comportamento dos participantes. De acordo com Lewin (21, 74), o objetivo não era repetir uma autocracia ou uma demo-cracia determinada, ou estudar uma autocracia ou uma democracia “ideal”, mas criar am-bientes para apreender a subjacente dinâmica de grupo. Essa afirmação, publicada em 1939, parece ter sido a primeira em que Lewin empregou a expressão “dinâmica de gru-po”.

É importante observar, cuidadosamente, como Lewin generalizou o problema da pesquisa. Poderia considerar essa pesquisa, em primeiro lugar, como uma contribuição à tecnologia da direção do grupo no serviço social ou na educação. Ou poderia colocá-la no contexto da pesquisa de liderança. Todavia, na realidade, propôs o problema da maneira mais abstrata, como conhecimento da dinâmica subjacente à vida do grupo. Acreditou ser possível construir um conjunto coerente de conhecimento empírico a respeito da natureza da vida do grupo, que seria significativo quando especificado para qualquer tipo determi-nado de grupo. Imaginou, dessa maneira, uma teoria geral dos grupos, capaz de abranger questões aparentemente muito diversas, tais como a vida familiar, equipes de trabalho, salas de aula, comissões, unidades militares e comunidade. Além disso, compreendia, como parte do problema geral de compreensão da natureza da dinâmica de grupo, pro-blemas específicos tais como liderança, status, comunicação, normas sociais, atmosfera coletiva e relações intergrupais. Quase imediatamente Lewin e seus colaboradores inicia-ram vários projetos de pesquisa, planejados para contribuir com informações significati-vas para uma teoria geral da dinâmica de grupo. French dirigiu um experimento de labo-ratório planejado para comparar os efeitos do medo e da frustração em grupos organiza-dos e em [36] grupos desorganizados. Bavelas (6) realizou um experimento a fim de de-terminar se o treino poderia modificar significativamente o comportamento real dos líde-res de grupos juvenis. Mais tarde, Bavelas sugeriu a Lewin um conjunto de idéias que vieram a ser conhecidas como “decisão do grupo”. Com a entrada dos Estados Unidos na guerra, ele, French e Marrorv (26) analisaram, a decisão do grupo e técnicas semelhantes, vistas como meios para aperfeiçoar a produção industrial; Margaret Mead interessou Le-win no estudo de problemas ligados ao racionamento de alimento durante a guerra e, as-

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sim, Radke e outros (20, 36) realizaram experimentos de decisão coletiva, como um meio de modificar hábitos alimentares.

Sumário A dinâmica de grupo é um campo de pesquisa dedicado ao desenvolvimento de

conhecimento sobre a natureza dos grupos, as leis de seu desenvolvimento e suas inter-relações com indivíduos, outros grupos e instituições mais amplas. Esse campo de estudo pode ser identificado através de: dependência da pesquisa empírica, a fim de obter dados com significação teórica, ênfase na pesquisa e teoria dos aspectos dinâmicos da vida cole-tiva, sua grande importância para todas as ciências sociais e possibilidade potencial de aplicação dos resultados, para o aperfeiçoamento da prática social.

Tornou-se um campo identificável, pelos fins da década de 1930, nos Estados Unidos; passou, a partir de então, por um rápido desenvolvimento, estimulado por deter-minadas condições particularmente favoráveis nos Estados Unidos, pouco antes do início da Segunda Grande Guerra. Essas mesmas condições facilitaram seu desenvolvimento, desde esse período, tanto nos Estados Unidos quanto em alguns outros países. Entre tais condições teve uma importância específica a aceitação, em setores significativos da so-ciedade, da crença na possibilidade de realizar e, finalmente, utilizar pesquisas com gru-pos. Essa crença foi, inicialmente, encorajada por um grande interesse pelos grupos, entre especialistas em serviço social, psicoterapia de grupo, educação e administração. Tornou-se possível porque as ciências sociais tinham atingido suficiente progresso através do esclarecimento de hipóteses básicas sobre [37] a realidade dos grupos e através do plane-jamento de técnicas de pesquisa para o estudo de grupos, de forma que podiam realizar pesquisas empíricas sobre o funcionamento dos grupos.

Por volta do fim da década de 1930, deu-se a convergência de diversas tendências, e com isso tomou forma um novo campo da dinâmica de grupo. Então já estava do-cumentada empiricamente a importância prática e teórica dos grupos. A possibilidade de realizar pesquisas objetivas e quantitativas sobre a dinâmica da vida do grupo já era in-discutível. E a realidade dos grupos foi afastada do domínio do misticismo e solidamente colocada no domínio da ciência social empírica. Era possível medir objetivamente as normas do grupo e até criá-las experimentalmente no laboratório; tinham sido verificados alguns dos processos pelos quais as normas influenciam o comportamento e as atitudes dos indivíduos. Verificou-se que determinados estados emocionais dos indivíduos depen-dem da atmosfera predominante no grupo. Criaram-se experimentalmente, diferentes estilos de liderança e foram verificadas as suas conseqüências marcantes no funciona-mento dos grupos. Depois de uma interrupção imposta pela Segunda Guerra Mundial, foi possível realizar rápidos progressos na construção de um conjunto de conhecimentos sis-temáticos e empiricamente fundamentados, referentes à dinâmica da vida do grupo.

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Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Questões e suposições básicas 25

[40]

2 Questões e suposições básicas Uma compreensão adequada do trabalho de dinâmica de grupo exige uma ampla

perspectiva. É preciso ter em mente, sobretudo, três fatos. Primeiro, que só nos últimos anos a dinâmica de grupo tornou-se um campo especializado de pesquisa. Sua história é curta e, embora tenha sido rápido o seu desenvolvimento, não atingiu ainda a completa maturidade. Segundo, a dinâmica de grupo interessa-se por problemas intelectuais que perturbaram o homem desde sua história mais longínqua. As discussões contemporâneas de grupo tendem a despertar, consciente ou inconscientemente, algumas das soluções clássicas desses problemas. Além disso, constituem a matéria das ideologias sociais e políticas, e poucos reagem a elas com indiferença. Terceiro, a dinâmica de grupo tem raízes em grande amplitude de campos de estudo, tradicionalmente isolados. As contri-buições para a literatura de dinâmica de grupo provêm de pessoas com formação e prepa-ro muito diferentes. Cada autor traz consigo determinados valores, que dão colorido à sua atitude para com os grupos, determinadas concepções quanto às variáveis mais importan-tes, determinadas crenças sobre os métodos adequados de pesquisa, um vocabulário espe-cífico para descrever os grupos e explicar o que neles ocorre.

Como esse campo de estudo é recente e tem origens heterogêneas, precisamos es-tar preparados para nele encontrar uma grande diversidade de valores, orientações teóri-cas, suposições básicas, conceitos e métodos. Num certo sentido, a dinâmica de grupo está na adolescência e, como muitos adolescentes, está experimentando suas capacidades e suas aptidões recém-adquiridas, mas, principalmente, procurando uma noção coerente de auto-identidade. Neste capítulo, examinaremos algumas das questões básicas que os especialistas enfrentam, quando procuram chegar a um conjunto sistemático de conheci-mentos sobre os grupos. [41]

Preconceitos sobre grupos

Nas discussões clássicas de filosofia social e política, predominam duas opiniões opostas sabre a relação entre o homem e a sociedade. Numa, o indivíduo é imperfeito ou mesmo mau e a organização social é necessária para fazer o que ele não consegue fazer sozinho ou para controlar suas tendências agressivas, egoístas e exploradoras. Sem coo-peração, organização social e grupos de vários tipos, o homem não sobreviveria biologi-camente; sem padrões coletivos, valores sociais e leis, ou outros meios para controlar o comportamento, a civilização seria impossível.

Na opinião oposta, o homem é intrinsecamente bom, no que se denomina sua con-dição “natural”, e a organização social de todos os tipos é má. O estado, a organização ou o grupo apenas inibem e corrompem o indivíduo. Os grupos exigem um conformismo cego, estimulam a mediocridade, criam uma dependência regressiva e se apegam teimosa e irracionalmente ao status quo. O tom emocional dessa opinião extremada pode ser

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Cartwright e Zander • Dinâmica de grupo | Questões e suposições básicas 26

exemplificado pela afirmação de C. G. Jung: “quando cem cabeças inteligentes se reúnem num grupo, o resultado é um grande parvo, porque cada indivíduo se perturba com a di-versidade dos outros” (24, 80).

As discussões contemporâneas da sociedade moderna apresentam essas duas ava-liações opostas do homem e dos grupos. Infelizmente, em alguns trabalhos de divulgação a expressão “dinâmica de grupo” ficou associada à primeira. Por exemplo, em sua crítica do “homem da organização”, William H. Whyte, Jr. (43) afirma que essa odiosa criatura foi estimulada pelos especialistas em dinâmica de grupo, que teriam endeusado o grupo. Segundo esses críticos, tais especialistas acreditam que tudo deve ser feito pelo grupo e no grupo: a responsabilidade individual é sempre má, a supervisão pessoal é má, e o mesmo ocorre até com a terapia individual; as únicas coisas boas são reuniões de comi-tês, decisões de grupo, terapia de grupo, pensamento coletivo e reunião. Em resumo, atri-bui-se aos especialistas em dinâmica de grupo uma opinião clássica, segundo a qual o indivíduo é imperfeito e impotente, enquanto o grupo é bom. Embora essa posição ex-tremada tenha sido, sem dúvida, defendida por algumas pessoas que se intitulam especia-listas em dinâmica de grupo, não reflete cor-retamente [42] os pontos de vista da maioria das pessoas que trabalham nesse campo.

Todo responsável pela direção da vida de grupos precisa formular algumas hipó-teses de trabalho sobre os valores que serão ganhos ou perdidos com qualquer tipo espe-cífico de atividade coletiva. Todavia, a essência da tarefa do pesquisador consiste em tentar verificar, empiricamente, quais são, na realidade, esses resultados. O especialista em dinâmica de grupo, dedicado à pesquisa, recusa-se a supor que, ao iniciar suas inves-tigações, já conheça as respostas. Naturalmente, não pode evitar, em seu trabalho, a for-mulação de vários tipos de suposições básicas, mas estas devem unicamente orientar a pesquisa, a fim de que possa descobrir mais facilmente a verdadeira natureza da vida do grupo. As suposições básicas da maioria dos especialistas em dinâmica de grupo podem ser resumidas através das quatro proposições seguintes:

1. Os grupos são inevitáveis e onipresentes. Isto não significa que os grupos pre-cisem conservar as características que os distinguem num determinado período, numa sociedade específica, nem que todos os grupos atualmente existentes devam perpetuar-se; no entanto, é difícil imaginar um conjunto de seres humanos que vivam em proximidade geográfica e em condições tais que se pudesse afirmar, corretamente, a inexistência de grupos e participação no grupo. Mesmo os individualistas mais extremados, como os Be-atniks, formam grupos com sua linguagem, seus heróis, seus pontos de reunião e suas roupas características. Na realidade, segundo os cientistas sociais, o conformismo é tão extremado entre esses grupos de não-conformistas quanto em qualquer outro grupo da sociedade.

2. Os grupos mobilizam poderosas forças que têm influência decisiva nos indiví-duos. Até a noção de identidade da pessoa é formada pelos grupos significativos para ela – a sua família, a sua igreja, a sua profissão ou a sua ocupação. Além disso, a posição de uma pessoa num grupo pode influir na maneira pela qual as pessoas se comportam diante dela, assim também em qualidades pessoais, tais como seu nível de aspiração e sua alto-estima. A participação no grupo pode ser um bem apreciado ou uma carga opressiva; a exclusão ou a participação forçada já produziram tragédias de grandes proporções.

3. Os grupos pode ter conseqüências boas e más. A opinião de que os grupos são exclusivamente bons e a opinião de que [43] são exclusivamente maus baseiam-se em provas convincentes. Seu único defeito é a sua parcialidade. Uma focalização exclusiva

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nas patologias ou nos aspectos construtivos apresenta um quadro muito deformado da realidade.

4. Uma compreensão correta da dinâmica de grupo (obtida na pesquisa) permite intensificar deliberadamente as conseqüências desejáveis dos grupos. Através do conhe-cimento da dinâmica de grupo, é possível fazer com que os grupos sirvam a melhores objetivos, pois o conhecimento permite modificar o comportamento humano e as institui-ções sociais.

O especialista em dinâmica de grupo, ao partir dessas suposições, admite, como o individualista, que os grupos exercem poderosas influências sobre as pessoas e que essas influências podem ser prejudiciais para os indivíduos, para o grupo e para a sociedade em geral. Mas, sustenta que a ação cooperativa é essencial para a realização de objetivos im-portantes e que os grupos podem beneficiar os indivíduos e a sociedade. Em vez de con-centrar-se exclusivamente nos aspectos restritivos e inibidores dos grupos, os especialis-tas em dinâmica de grupo advogam o estudo científico do grupo e das relações dos indi-víduos com os grupos, na crença de que melhor compreensão da sua natureza permitirá planejar grupos e processos mais capazes de atingir os objetivos legítimos dos grupos, intensificar os melhores valores da sociedade e enriquecer os recursos pessoais dos indi-víduos.

Problemas da limitação do campo

O acordo entre os especialistas em dinâmica de grupo, quanto a essas suposições básicas, ainda deixa abertas muitas questões sobre as melhores maneiras de continuar a pesquisa e a organização dos resultados num conjunto coerente de conhecimento. Um determinado estudo precisa fazer observações específicas, classificá-las de certas formas, empregar um conjunto definido de termos para descrever os resultados e propor alguns princípios gerais para explicar as relações entre as variáveis. A escolha entre estas reflete a orientação teórica de cada pesquisador. O estudioso de dinâmica de grupo logo verifi-cará que, até agora, existe pouco acordo geral quanto a essas questões e que, feliz ou infe-lizmente, a dinâmica de [44] grupo conta com grande quantidade de conceitos, teorias e propostas para ligar a teoria da dinâmica de grupo a teorias mais gerais de comportamen-to humano.

Os que se perturbaram com essa variedade, às vezes desnorteante, de maneiras de estudar e com a grande amplitude da dinâmica de grupo, desejaram alguma forma de li-mitação do campo de estudo. Foram defendidos três principais critérios para tal limitação. Tipos de grupos

Os sociólogos logo se preocuparam com o problema da classificação dos grupos.

Esperava-se, com isso, conseguir uma maneira de localizar qualquer grupo específico numa categoria diferente, a fim de que as generalizações sobre a categoria se aplicassem, automaticamente, a esse grupo específico. Através dos anos propuseram-se muitos es-quemas diferentes de classificação. Um processo comum consistiu em selecionar algumas características e definir “tipos” de grupos através da verificação da presença ou da ausên-cia dessas características. Entre as características empregadas mais freqüentemente estão as seguintes: extensão (número de participantes), quantidade de interação física entre os

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membros, grau de intimidade, nível de solidariedade, fonte de controle das atividades do grupo, extensão da formalização das regras que governam as relações entre os participan-tes e sua tendência para reagir como indivíduos ou como ocupantes de papéis. Embora seja possível construir um grande número de tipos de grupos através de diferentes combi-nações dessas características, geralmente só se constroem dicotomias: formal – informal; primário – secundário; pequeno – grande; comunidade – sociedade; autônomo – depen-dente; temporário – permanente; consensual – simbiótico. Um processo muito diferente foi ocasionalmente proposto, no qual os grupos seriam classificados segundo seus objeti-vos ou os ambientes sociais. De acordo com essa classificação, diz-se que há grupos de trabalho, grupos de terapia, grupos sociais, comitês, clubes, “gangs”, times, grupos de coordenação, grupos religiosos e outros.

Parece-nos infeliz a identificação da dinâmica de grupo com o estudo de um ou de apenas alguns desses tipos de grupos. [45] Essa relutância em restringir o campo dessa maneira não surge do desejo de reduzir a importância de alguns aspectos, tais como a extensão do grupo, a oportunidade para interação física, o grau de intimidade, e assim por diante, como determinantes do que acontece nos grupos. Na realidade, precisamente por-que são importantes, tais aspectos não devem ser utilizados para definir os limites de um campo de pesquisa. Essas variáveis importantes devem ser o centro da atenção.

Para exemplificar esse ponto de vista, podemos refletir sobre a questão da exten-são do grupo. Podemos perguntar se seria produtivo construir um ramo distinto do conhe-cimento referente ao grupo de duas pessoas. Os problemas de pesquisa, possíveis nesses grupos, são quase ilimitados, e um determinado pesquisador poderia desejar estudá-los intensivamente e, talvez, especializar-se neste assunto durante toda a vida. Contudo, uma teoria aplicável apenas a grupos de duas pessoas seria insatisfatória. Os princípios gerais dessa teoria seriam também aplicáveis a grupos de três pessoas? Nesse caso, por que res-tringir tão arbitrariamente a teoria? Caso contrário, essa concentração exclusiva no grupo de duas pessoas estaria desprezando alguma coisa muito importante dos grupos. E se se admitir que não se deve fazer uma distinção arbitrária entre grupos de duas e de três pes-soas, que tamanho deve ser escolhido como menos arbitrário? Essa questão só pode ser respondida com segurança a partir de dados reais. Somente se fosse verificado empirica-mente que um conjunto de leis vale para os grupos até certo tamanho crítico e que um outro conjunto vale para grupos maiores, haveria justificação para estabelecer um limite nesse ponto crítico.

É surpreendente que, a partir dos resultados existentes, haja mais razão para traçar um limite entre grupos de dois e grupos de três que em qualquer outro tamanho crítico. Anos atrás, Simmel (38) indicou alguns aspectos característicos de grupos de três, mas não de duas pessoas (por exemplo, a possibilidade de formar alianças) e muitos trabalhos empíricos referiram-se às características distintivas das tríades (ver, por exemplo, Caplow (7) e Cap. 40). Apesar disso, a partir dessa pesquisa e de outros estudos de díades – tais como os de Kelley e Thibaut (26) e de Foa (15) – ficou claro que tanto as díades quanto as tríades podem ser analisadas, eficientemente, [46] através da teoria desenvolvida nas pesquisas de grupo maiores. Além disso, como o demonstram Converse e Cambell no Capítulo 17, as concepções de dinâmica de grupo derivadas do exame de grupos muito pequenos podem ser corretamente aplicadas a grupos com milhões de componentes. En-quanto não existirem melhores provas empíricas para estabelecer uma descontinuidade fundamental na dimensão do tamanho, seria inconveniente empregá-lo para definir o campo da dinâmica de grupo.

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A mesma forma de argumento vale para todos os outros critérios propostos. Não se deve supor, sem boas provas, que um conjunto de leis se aplique a grupos informais, enquanto outro se aplique aos grupos formais, ou que um único sistema teórico não possa abranger grupos face a face e grandes grupos. Da mesma forma, não se deve supor, sem discussão, a necessidade de um campo especial de conhecimento para grupos com algum objetivo específico.

Uma das suposições básicas da dinâmica de grupo é a possibilidade de descobrir leis gerais referentes à vida do grupo, e que serão válidas para grupos aparentemente dife-rentes, tais como “gangs” juvenis, comissão executiva da Associação Cristã de Maços, um júri, e a turma de manutenção de ferrovia. O aspecto essencial desse ponto de vista é sua insistência em que os diversos critérios empregados para identificar “tipos” de grupos sejam considerados como variáveis, que podem ser incluídas numa única teoria de gru-pos. De acordo com essa maneira de estudar o campo da dinâmica de grupo, far-se-ão pesquisas para descobrir como essas variáveis influem na vida do grupo. Por exemplo, de que forma a extensão de um grupo influi em sua coesão, no grau de especialização de suas atividades, na formalidade de sua organização, ou na natureza de sua liderança? Como o objetivo de um grupo influencia a motivação de seus membros e a natureza de suas interações? Na investigação dessas variáveis, o pesquisador se interessa igualmente pela variança e pela invariança: é importante saber tanto as coisas que mudam quanto as que continuam iguais, quando ocorrem variações na extensão dos grupos ou nos seus objetivos.

Essa concepção do campo de dinâmica de grupos é evidentemente ampla, e a tare-fa de construir uma teoria geral, com base empírica, pode parecer quase inatingível. Des-necessário [47] dizer, só se deram, para isso, os primeiros passos; é grande o número de variáveis a serem estudadas, e o de suas combinações é imenso. Dada a magnitude da tarefa, a pesquisa até agora realizada concentrou-se mais em alguns aspectos que em ou-tros. Por essa razão, é preciso distinguir entre o domínio do conhecimento desejado e a natureza da pesquisa realizada. A afirmação de que a dinâmica de grupo se interessa pe-los grupos pequenos, informais, primários ou face a face só é adequada como descrição das tendências predominantes nas pesquisas realizadas até hoje, e mesmo assim seria incorreta, se subentendesse que o trabalho foi realizado exclusivamente nesses grupos. Os estudos apresentados neste livro referem-se a uma grande amplitude de grupos. Sistemas conceituais

Outra maneira de limitar o campo consistiria em considerar emprego de um siste-

ma conceitual específico. Considerando a importância de Kurt Lewin para o aparecimen-to da dinâmica de grupo, já se propôs, às vezes, que a aceitação de sua perspectiva teórica seja considerada como a característica definidora do campo. Todavia, essa proposta pode ser prontamente rejeitada, porque excluiria arbitrariamente muitas das contribuições mais importantes para a compreensão da vida do grupo. A perspectiva geral de Dewin e seus conceitos específicos exerceram grande influência no estudo da dinâmica de grupo, e pode-se esperar que continuem a fazê-lo, mas a natureza do empreendimento científico não permite a imposição, a um campo de pesquisa, de um conjunto específico de concei-tos ou teorias. Se a dinâmica de grupo fosse definida dessa maneira, seriam criados nu-merosos campos de estudo, todos referentes aos grupos, mas através de diferentes concei-tos. E, o que é pior, seria desestimulada a inovação conceitual em cada campo, pois qual-

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quer mudança importante do tratamento teórico que o define significaria abandoná-lo e estabelecer outra área de especialização. Em princípio, um campo de pesquisa deve ser definido através dos problemas substantivos que procura resolver, e não através das solu-ções parciais já obtidas ou dos conceitos empregados em determinado momento. [48] Métodos de pesquisa

Um dos aspectos mais dramáticos do aparecimento da dinâmica de grupo foi a

demonstração de que aspectos importantes da vida do grupo podem ser trazidos para o laboratório e submetidos à experimentação controlada. Reconheceram-se rapidamente a originalidade e o poder de alguns desses primeiros experimentos de laboratório com gru-pos “artificiais”, e muitos pesquisadores começaram a empregar técnicas semelhantes. A popularidade do experimento de laboratório levou algumas pessoas a identificar a dinâ-mica de grupo com essa pesquisa. Contudo, esse critério de limitação do campo também deve ser rejeitado. Os métodos de pesquisa são recursos para atingir algum objetivo cien-tífico; cada método ajusta-se especificamente à revelação de alguns aspectos da natureza. Se um campo de pesquisa fosse definido através do emprego de um método limitado, apareceria uma visão extremamente parcial do objeto específico de um campo de estudo. Na realidade, é muito bom que os especialistas em dinâmica de grupo tenham empregado uma grande variedade de métodos e que, constantemente, inventem outros.

Devemos concluir que nenhuma dessas maneiras de limitar campo é satisfatória. Os especialistas em dinâmica de grupo devem ser identificados pelo desejo de obter uma compreensão da natureza da vida do grupo. Em vez de tentar limitar o campo de alguma forma arbitrária, seria melhor concentrar a atenção nos problemas teóricos e empíricos centrais, incluídos na criação dessa compreensão.

Orientações teóricas

O estudante da dinâmica de grupo deve estar preparado para encontrar e empre-gar, construtivamente, uma grande variedade de tratamentos teóricos. Não é possível re-sumir, aqui, todas as numerosas orientações teóricas encontradas nesse campo de estudo. Tais orientações são obtidas em todas as ciências sociais e refletem as numerosas escolas de pensamento de cada uma delas. A fim de ajudar a identificação de pontos de vista e a “localização” de estudos específicos, enumeraremos algumas das principais orientações que mais influenciaram o trabalho em [49] dinâmica de grupo. Discutiremos, depois, al-gumas das razões para a grande diversidade de orientações e conceitos; finalmente, tenta-remos identificar as questões teóricas mais importantes, que fundamentam as diferentes orientações. Ao ler a enumeração que se segue, deve-se compreender que não indica es-colas de pensamento a que pertencem os indivíduos; um pesquisador pode ser influencia-do, mesmo num único projeto de pesquisa, por diversas orientações. Lista de orientações

1. Teoria de campo é o nome dado à teoria criada por Lewin (29). Seu nome deri-

va da tese básica segundo a qual comportamento é o produto de um campo de determi-

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nantes interdependentes (conhecidos como “espaço de vida” ou “espaço social”). As ca-racterísticas estruturais desse campo são representadas por conceitos da topologia e da teoria de conjuntos, e as características dinâmicas são representadas através de conceitos de forças psicológicas e sociais. Para uma visão de conjunto dessa forma de estudo, con-vém utilizar os artigos de Cartwright (8, 9) e Deutsch (11). Os capítulos de introdução a cada uma das partes deste livro refletem o ponto de vista da teoria de campo.

2. Teoria da interação, desenvolvida especialmente por Bales (3. Cap. 33), Ho-mans (23) e Whyte (42), concebe o grupo como um sistema de indivíduos em interação. Os conceitos básicos dessa teoria são os seguintes: atividade, interação e sentimento; ten-ta-se construir, a partir destes termos, todos os conceitos de ordem mais elevada.

3. A opinião de que um grupo é um sistema, adotada pelos teóricos da interação, encontra-se, também, sob muitas formas, em outros trabalhos. Podem ser denominadas teorias de sistemas. Os “sistemas de orientação” e os “sistemas de encadeamento de posi-ções e papéis” são concepções centrais no trabalho estimulado por Newcomb (35, Cap. 5); a noção do “sistema de comunicação” foi muito empregada na pesquisa que seguiu a orientação da engenharia das comunicações (Caps. 35 e 36); a concepção de um grupo como “sistema aberto”, derivada da biologia, pode ser encontrada nos trabalhos de Miller (33) e Stogdill (41). As teorias de sistemas acentuam [50] principalmente os vários tipos de “entrada” e “saída” do sistema e, como a teoria de campo, têm um interesse funda-mental pelos processos de equilíbrio.

4. A orientação sociométrica, criada por Moreno (34) e elaborada por Jennings (25), interessa-se, fundamentalmente, pelas escolhas interpessoais que ligam grupos de pessoas. Lindzey e Borgatta (31) resumiram adequadamente as numerosas pesquisas rea-lizadas sob essa orientação e indicaram que, até agora, tais pesquisas não chegaram a grande sistematização teórica.

5. Teoria psicanalítica, que acentua alguns processos motivadores e defensivos do indivíduo, foi inicialmente ampliada, por Freud (17), para a vida coletiva. Nos últimos anos, sobretudo a partir de um interesse cada vez maior pela psicoterapia de grupo, foi elaborada de diversas maneiras por vários autores, entre os quais Bach (2), Bion (4,5), Ezriel (12), Scheidlinger (37) e Stock e Thelen (40). Apresentam especial interesse para a dinâmica de grupo seus conceitos de identificação, regressão, mecanismos de defesa e o inconsciente. Embora esta orientação tenha criado um número relativamente pequeno de pesquisas experimentais ou quantitativas sobre grupos, os conceitos e as hipóteses da teoria psicanalítica impregnaram grande parte do trabalho de dinâmica de grupo.

6. Como os grupos consistem de indivíduos, deve-se esperar que as concepções de comportamento humano, desenvolvidas pela psicologia geral, sejam encontradas no tra-balho de dinâmica de grupo. E, de fato, pode-se encontrar a influência de cada uma das principais teorias de motivação, aprendizagem e percepção. Talvez a mais influente entre elas seja, até agora, uma concepção ampla, conhecida como teoria cognitiva. Estritamen-te falando, não é uma teoria, mas um ponto de vista que insiste na importância de com-preender como os indivíduos recebem e integram as informações sobre o mundo social e como essa informação influi em seu comportamento. Nessa orientação, houve importan-tes contribuições para o estudo dos grupos, realizadas por Asch (1, Cap. 10), Festinger (13, Cap. 12), Heider (21) e Krech e Crutchfield (27). Uma boa resenha da teoria cogniti-va é apresentada por Scheerer (36).

7. A orientação empírico-estatística sustenta que os conceitos de dinâmica de gru-po devem ser descobertos por processos estatísticos, tais como a análise fatorial, em vez de ser construídos [51] a priori por um teórico. Os que trabalham com esta orientação

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fazem grande emprego dos processos desenvolvidos no campo dos testes de personalida-de. Encontram-se bons exemplos desse tratamento nos trabalhos de Cattell (10), Borgatta, Cottrell e Meyer (6) e Hemphill (22), que se concentraram, até agora, na afirmação das dimensões ortogonais, através das quais os grupos podem ser caracterizados.

8. Em contraste acentuado com esta última orientação, está o trabalho de autores que tentaram construir modelos formais, com o auxílio da matemática, a fim de lidar rigo-rosamente com alguns aspectos muito limitados dos grupos. Embora esses modelos con-tenham comumente algumas suposições tiradas de uma das ciências sociais, acentua-se mais o rigor formal que a teoria substantiva e compreensiva. Encontram-se exemplos desse tratamento nas publicações de Hays e Bush (20), Simon (39), French (Cap. 38) e Harary (19, Cap. 37). Algumas fontes de diversidade

São estas, pois, algumas das principais formas de estudo dos grupos, e muitas ou-

tras poderiam ser enumeradas. Embora muitas delas pareçam competir com outras, um estudo cuidadoso revelará que as diferentes teorias e explicações, na realidade, não se contradizem, mas, ao contrário, aumentam e ampliam umas às outras. É preciso conhecer as razões da existência de tantas orientações teóricas, a fim de compreender melhor essas várias maneiras de estudo.

Diversidade dos grupos e ambientes sociais pesquisados. Não e pode dizer que os especialistas em dinâmica de grupo se tenham restringido a uma pequena esfera de gru-pos ou a um segmento limitado da sociedade. Embora seja verdade que realizaram muitos estudos com universitários, trabalharam, também, com muitos outros ambientes sociais. Realizaram estudos sobre crianças nas salas de aula e nos acampamentos de verão, sobre unidades militares, comitês e comissões de todos os níveis de negócios e governo, grupos de vizinhança, grupos voluntários muito diferentes, tais como os sindicatos e a League of Women Voters, quadros de atletismo, grupos de terapia, equipes de pesquisa, conferên-cias internacionais e turmas de trabalho na indústria. Diante dessa grande diversidade, só se poderia esperar [52] que diferentes pesquisadores em suas teorias acentuassem diferen-tes fenômenos e diferentes princípios de explicação.

Diferenças nos problemas sociais motivadores da pesquisa. Um projeto estimula-do pelo interesse em algum problema social tende a concentrar-se em situações e fenô-menos sociais específicos. Um pesquisador que procura encontrar meios de aumentar a eficiência do grupo, pode limitar sua atenção às equipes de trabalho e interessar-se, prin-cipalmente, pela divisão das responsabilidades entre os participantes, sua aceitação dos objetivos coletivos e a adequação de sua comunicação. Uma pessoa que deseja reduzir os conflitos intergrupais pode concentrar-se nas fontes de frustração, na hostilidade autística e na transmissão de estereótipos entre os componentes do grupo. E o pesquisador que procura tornar os grupos mais eficientes, para transformar atitudes, comportamento ou ajustamento pessoal, pode prestar especial atenção à coesão coletiva, à pressão social que produz conformismo e à atmosfera emocional criada pelos treinadores ou terapistas.

Número de disciplinas que contribuem para o campo. As pessoas que, de diferen-tes disciplinas, vêm para o estudo de grupos, trazem consigo vocabulários especiais des-sas disciplinas e determinadas suposições a respeito da relativa importância dos vários aspectos da vida do grupo. Um especialista em política pode interessar-se, particularmen-te, pelo poder social e desejar explicar, através dessa variável, o maior número possível

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de fatos. Um economista pode acreditar que os determinantes mais significativos são os recursos econômicos e aptidões tecnológicas. Um sociólogo pode acentuar o lugar do grupo numa sociedade organizada. Um antropólogo pode salientar a importância da cul-tura. Um psicanalista pode sustentar que os processos inconscientes e as defesas do ego dos componentes do grupo são mais importantes. Um psicólogo pode sustentar que os fatos nos grupos dependem, basicamente, da maneira pela qual os componentes encaram o grupo e as relações entre os seus componentes.

As diversas circunstâncias que envolvem a direção de uma pesquisa criam diver-sidade de terminologia e de concepções quanto aos determinantes importantes da vida do grupo. Muitas das disparidades mais óbvias de terminologia, derivadas de certos vocabu-lários específicos, trazidos para o estudo dos grupos, serão, sem dúvida, eliminadas à medida que mais se padronizem as técnicas de pesquisa e os autores de diferentes disci-plinas se [53] habituem a comunicar-se a respeito do mesmo material de pesquisa. E grande parte do desacordo, quanto às variáveis mais importantes, desaparecerá quando se compreender que os diferentes autores se referem a tipos diferentes de grupos e de am-bientes sociais.

Outra fonte de confusão é a tendência compreensível de um pesquisador para ge-neralizar para os “grupos em geral” os resultados obtidos em um ambiente específico. Um objetivo legítimo dos especialistas em dinâmica de grupo é construir uma teoria geral aplicável a todos os tipos de grupos, mas isso não significa que todo resultado específico seja aplicável a todos os grupos e em todos os ambientes concebíveis. A tarefa de chegar a princípios gerais, a partir de resultados diversos, é das mais difíceis. É inerente à natu-reza de uma lei geral: a especificação das conseqüências que, sob condições específicas, podem ser antecipadas. A obtenção de uma lei desse tipo exige, portanto, que se tome grande cuidado na especificação das condições que provocam um resultado determinado. A menos que se tome cuidado para estabelecer quais os limites que devem ser impostos aos resultados de um determinado tipo de pesquisa, a um determinado tipo de grupo, só poderá haver confusão. Esses resultados diferentes, quando concebidos de maneira ade-quada, podem completar-se numa teoria compreensiva. Algumas questões teóricas fundamentais

No entanto, não é possível eliminar todos os pontos de vista divergentes, apenas

pela extinção de mal-entendidos terminológicos ou apenas pelo afastamento da excessiva pressa na generalização dos estudos específicos. Continuam sem resposta algumas ques-tões fundamentais referentes às melhores maneiras te continuar a pesquisa e a teoria. Muitas diferenças autênticas, entre as várias tendências, decorrem das diversas respostas apresentadas a essas questões. Quatro são da maior importância: (a) Qual é a relação adequada entre a coleta de dados e a construção da teoria? (b) Quais são as técnicas de observação e os objetos adequados de estudo? (c) Quais as variáveis fundamentais que determinam o que acontece nos grupos? (d) Como é possível combinar, num sistema conceitual compreensivo, os vários fatores que influem na vida do grupo? [54]

O desenvolvimento histórico de toda ciência parece caminhar progressivamente para uma resposta satisfatória à maneira de ligar a coleta de dados à construção teórica. Parece que todas as ciências surgiram, inicialmente, da especulação de gabinete; quase todas surgiram numa tradição definida de filosofia. Pode-se dizer que, em determinado ponto da história de cada uma das ciências, algumas pessoas ficaram insatisfeitas com a

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especulação e empreenderam a observação cuidadosa e objetiva dos fenômenos de um campo de estudo. Freqüentemente, a revolta contra a especulação criou uma posição ex-tremada, que ignorava a teoria e deixava que os dados “falassem por si mesmos”. Final-mente, quando um ramo da ciência amadurecia, a construção teórica e a coleta de dados tornavam se mais interdependentes. Em seu estádio mais avançado, o empreendimento científico consiste no desenvolvimento de hipóteses e teorias, a partir das observações; na verificação dessas formulações teóricas através de novas observações e experimentos; na revisão das hipóteses; na verificação das novas hipóteses em novas investigações, e assim por diante, muitas e muitas vezes. Nesse processo, surgem sistemas teóricos cada vez mais compreensivos, cujas partes têm uma firme base empírica.

Como vimos no Capítulo 1, a pesquisa e a teoria de dinâmica de grupo exemplifi-cam muito bem essa tendência. Até o início deste século, o estudo dos grupos estava na fase especulativa. Nessa época, a rebelião empírica tomou o poder e dedicou a maior par-te de sua energia a “procurar fatos” e a aperfeiçoar técnicas de pesquisa. Finalmente, aproximadamente nas últimas duas décadas, a dinâmica de grupo ingressou progressiva-mente numa terceira fase de desenvolvimento, em que sua pesquisa é cada vez mais mo-tivada pelo interesse em tentar hipóteses “derivadas” de uma teoria mais ampla. Todavia, existem ainda autênticos desacordos entre os que trabalham nessa terceira fase quanto à maneira exata de construir hipóteses verificáveis.

Alguns pesquisadores acreditam que os problemas metodológicos – entre os quais desenvolver os instrumentos de mensuração e demonstrar sua precisão – devem vir antes de muita teorização. Sustentam que a fase empírica não deve ser deixada muito rapida-mente, pois temem que uma teorização prematura conduza a pesquisa a caminhos sem saída. Os que trabalham com a orientação empírico-estatística, por exemplo, sustentam que é necessário revelar as dimensões básicas dos grupos, [55] através de processos como a análise fatorial, em que se analisa uma grande amostra de medidas precisas de fenôme-nos de grupo, a fim de determinar os fatores homogêneos. Também os especialistas em sociometria tendem a concentrar-se no desenvolvimento dos testes sociométricos antes de construir uma elaborada teoria da estrutura do grupo. E os interacionista concentraram sua energia na criação de sistemas padronizados de registro e classificação dos vários tipos de interação supondo que, depois do estabelecimento de um conjunto de “fatos” padronizados, a teorização se desenvolverá mais rapidamente.

Em nítido contraste, estão os que sentem que no passado a coleta de dados foi ine-ficaz por haver tão poucos resultados a acrescentar a uma formulação compreensiva. Pre-ferem deixar a teoria exercer maior influência orientadora no planejamento da pesquisa. Segundo este ponto de vista, não deve haver preocupação com a escolha de recursos para registrar e medir, antes de se saber o que precisa ser estudado. Até definir as variáveis necessárias para desenvolver determinada teoria ou comprovar uma hipótese – sustentam esses pesquisadores – não se tem um fundamento real para resolver se se deve usar um, cronógrafo de interação, um teste sociométrico, um teste de personalidade, um determi-nado questionário ou algum outro recurso.

Se aceitamos a opinião de que a dinâmica de grupo está pronta para ingressar na terceira fase do desenvolvimento científico – em que a teorização e a coleta de dados, por processo de aproximação, contribuem, mutuamente para a nossa compreensão – os con-flitos entre as duas perspectivas não parecem irreconciliáveis. A coleta de dados padroni-zados pode ajudar a formulação da teoria, desde que os dados não sejam coligidos uni-camente porque existe o instrumento padronizado. Da mesma forma, cada nova formula-ção de uma hipótese pode exigir um refinamento, ou revisão, dos instrumentos de coleta

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de dados. E espera-se, sem dúvida, que os pesquisadores não inventem novos processos quando os existentes são satisfatórios, porque essa inovação serve apenas para dificultar a comparação dos resultados entre um estudo e outro.

Aparentemente, portanto, a maneira pela qual uma pessoa tenta resolver o pro-blema de coleta de dados e de construção teórica terá grande influência em sua escolha de fenômenos [56] específicos de investigação e em seus métodos de pesquisa. Por exemplo, o pesquisador que acredita ser perigosa, no estágio atual de desenvolvimento, uma teori-zação rigorosa, pode preferir grandes estudos exploratórios de campo, a fim de obter uma apreensão mais intuitiva das variáveis com que deverá lidar na teorização subseqüente. De outro lado, um pesquisador que deseja comprovar alguma hipótese restrita, derivada de uma teoria ou de um modelo conceitual, pode realizar um experimento rigidamente controlado, em que um número limitado de variáveis é sistematicamente modificado. O mesmo pesquisador pode, num estudo, escolher um método e, em outro, um método mui-to diferente, de acordo com sua avaliação do desenvolvimento de uma determinada área teórica.

Dada a formação heterogênea da dinâmica de grupo e o fato de sua história recen-te estar na fase empírica, são muito diversos os fenômenos escolhidos para observação e mensuração. Por isso, diferentes pesquisadores podem, por exemplo, observar a mesma discussão de grupo e chegar a descrições inteiramente diferentes do que aconteceu. Um, pertencente à orientação interacionista, apresentará uma distribuição da freqüência das interações das várias categorias de interação. Outro, interessado principalmente em so-ciometria e estrutura do grupo, ligará suas observações à estrutura sociométrica do grupo. Outro, ligado à orientação psicanalítica, tentará revelar, de várias maneiras, as principais determinantes emocionais e inconscientes. Outro, que adota o ponto de vista dos teóricos cognitivos, – segundo os quais as percepções e cognições determinam os fatos coletivos – descrevera o conteúdo da comunicação e das crenças dos vários participantes do grupo. Se, como ocorre freqüentemente, se verificasse que todas essas diferentes descrições in-dicam, de fato, fenômenos diferentes, não haveria uma dificuldade insuperável. A tarefa fundamental seria, então, determinar como cada um desses aspectos se liga aos outros, tanto conceitual quanto empiricamente. Mas, infelizmente, nem sempre se esclarece até que ponto essas descrições diferentes podem ser maneiras diferentes de falar a respeito das mesmas coisas. Antes de resolver esse problema, resta ainda muito trabalho a fazer, e muito se ganhará com o aumento da amplitude dos dados coligidos nos mesmos grupos. Não surgiriam muitas confusões inúteis se se empregassem, digamos, registros [57] de interação, testes sociométricos, entrevistas e testes projetivos num mesmo projeto de pes-quisa. Ficaria evidente que todos esses métodos apresentam contribuições importantes à compreensão de um determinado grupo, mas seria possível descobrir, também, como esses vários tipos de dados se relacionam empiricamente.

A tarefa mais importante para a dinâmica de grupo, na terceira fase do desenvol-vimento científico, é estabelecer um conjunto geralmente aceito de variáveis e conceitos básicos, com um claro sentido empírico e conceitual. O problema fundamental pode ser proposto da seguinte maneira. As leis fundamentais da dinâmica de grupo, que todos os pesquisadores procuram descobrir, devem ser apresentadas através de relações funcionais do tipo: x = f (y); x é uma certa função de y. Como selecionar e indicar os x e os y em nossa pesquisa? Ao trabalhar para a solução desse problema, é conveniente manter isola-dos dois aspectos muito diferentes. Uma parte do problema é isolar as variáveis e dimen-sões unitárias reais que provocam diferenças discerníveis. A outra parte consiste em dar nomes adequados e características conceituais a essas variáveis.

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Só é possível determinar variáveis unitárias através do trabalho empírico, que des-cobre as regularidades encontradas, invariavelmente, entre as medidas e as observações. Pode-se recorrer, aqui, à análise fatorial e a outros métodos, para descobrir associações empíricas invariáveis. É mais difícil chegar a um vocabulário comum de conceitos, que permita a classificação de variáveis num sistema conceitual coerente. Para que as variá-veis sejam empregadas num sistema conceitual, de maneira a permitir a derivação de no-vos dados e novas relações empíricas, suas características conceituais precisam estar cla-ramente especificadas. Essas características indicam o lugar de cada variável no sistema conceitual e os tipos de operações lógicas ou matemáticas que permitem.

Apesar da importância dos sistemas e modelos conceituais, não existe, até hoje, uma linguagem única, com que concordem todos os teóricos. Além disso, existem poucos indícios de que tal linguagem esteja para aparecer. Felizmente, contudo, os sistemas con-ceituais atualmente usados não são completamente incompatíveis entre si. Num sentido geral, os autores que empregam um conjunto de termos podem “compreender” os que empregam outro, embora não exista um dicionário de traduções. [58] Essa possibilidade de sentir quando dois teóricos com orientação diferente estão falando essencialmente sobre a mesma coisa indica como se poderia chegar a um conjunto de termos aceitos por todos. Quando dois teóricos concordam que estão falando sobre coisas suficientemente semelhantes, de forma que seja possível dar a mesma definição operacional dos termos diferentes, pode-se fazer uma tradução rigorosa dos dois vocabulários e, finalmente, estes se reunirão em um único vocabulário.

Atualmente, a maioria das pesquisas com orientação teórica consiste de investiga-ções específicas sobre a relação entre duas ou três variáveis. Dessa forma, um estudo po-de investigar como as variações da coesão de um grupo influem na força de pressões para a homogeneidade de opiniões entre os participantes do grupo. Outro procura verificar como as variações na coesão influem na expressão de hostilidade dos participantes do grupo. Outro pode examinar como o grau de semelhança de opiniões influi na coesão do grupo. Até agora, houve poucos esforços para reunir essas variáveis num sistema teórico coerente. Uma iniciativa promissora, contudo, foi a de March e Simon (32), que fizeram diversos “mapas”, indicando a maneira de combinar as relações entre as variáveis apre-sentadas pelos diferentes pesquisadores. Esses mapas deixam claro que uma compreensão inteiramente adequada dos determinantes da vida coletiva incluirá uma especificação de uma “rede”' de relações causais. Um de seus mapas indica, por exemplo, que o grau em que os objetivos são vistos como comuns e o número de necessidades individuais satisfei-tas no grupo determinam a freqüência de interação no grupo, que influencia a força de identificação com o grupo, que, por sua vez, influi sobre o grau em que os objetivos são vistos como comuns e o número de necessidades individuais satisfeitas no grupo. Em outras palavras, existe uma corrente circular de interações causais.

Na construção desses mapas, o campo da dinâmica de grupo parece estar pronto para um rápido progresso. À medida que a atenção passa de relações causais isoladas entre as variáveis, consideradas duas a duas, para configurações, logo aparece uma com-preensão mais penetrante da natureza da vida do grupo. Conseqüentemente, aumentará muito o valor prático da teoria da dinâmica de grupo, pois os especialistas precisam inte-ressar-se, não por relações isoladas, mas por ramificações totais, que surgem da modifi-cação de uma determinada variável. [59]

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Tipos de métodos empregados Ao se resenhar a literatura de dinâmica do grupo, chama a atenção a grande capa-

cidade inventiva empregada no planejamento de pesquisas. Os fenômenos da vida do grupo têm sido estudados através de muitas técnicas diferentes e cada nova publicação apresenta alguma inovação metodológica. Pode ser útil, portanto, classificar os diversos métodos mais empregados, e descrever as relativas vantagens e desvantagens de cada um. Como veremos, nenhum método isolado pode ser considerado “o melhor”, pois a escolha de método precisa ser orientada pelos objetivos especiais de cada pesquisa. A única ques-tão autêntica, no caso dos métodos, é verificar se um método específico é o mais adequa-do aos objetivos da pesquisa. Para resolver essa questão, é preciso fazer uma análise mi-nuciosa de cada objetivo de cada método. Estudo de campo

Recebem essa denominação as pesquisas que estudam alguns grupos existentes,

sem tentar influenciá-los de uma forma ou de outra. De fato, freqüentemente se procura garantir que a presença do pesquisador tenha a menor influência possível no funciona-mento do grupo. Duas das primeiras investigações de dinâmica de grupo – o estudo da “Sociedade de Esquina”, de Whyte, e o do Bennington College, de Newcomb – represen-tam o estudo de campo e exemplificam algumas das variações que podem aparecer nesse método geral. Enquanto o principal objetivo de Whyte foi registrar cuidadosamente os acontecimentos observados e apresentá-los fielmente, Newcomb procurou obter dados quantitativos de diversas variáveis e descobrir, por métodos estatísticos, qual a relação entre essas diferentes variáveis. O resultado do estudo de Whyte foi uma viva apresenta-ção da natureza da “sociedade de esquina” – um belo estudo de caso para o aluno de di-nâmica de grupo. O relatório de Newcomb, embora apresente uma descrição de alguns aspectos da vida estudantil em Bennington, concentrou-se mais na demonstração de rela-ções entre variáveis (como a popularidade, por exemplo, está associada com a tendência a mudar as atitudes). [60]

No Capítulo 14, há um outro exemplo de estudo de campo, em que Festinger, Schachter e Back apresentam os resultados de seu estudo do funcionamento das normas de grupo num conjunto residencial. Verificou-se, nesse estudo, que algumas atitudes e alguns comportamentos tendiam a ser homogêneos entre os habitantes da mesma quadra, que eram tanto mais homogêneos quanto mais os residentes declaravam que os amigos viviam na mesma quadra e que os indivíduos que dissentiam dos outros tendiam a não ser por estes escolhidos como amigos. A partir desses resultados, os autores apresentam as seguintes hipóteses: a existência, em cada quadra, de padrões de grupo; a força de cada padrão depende da coesão coletiva das pessoas da quadra; a rejeição é o preço do desvio do padrão.

Nesses exemplos, é possível verificar as principais vantagens e desvantagens do estudo de campo. No lado positivo estão: o seu emprego com pouca perturbação do grupo e a possibilidade de fornecer uma grande variedade de dados. Se estes são coligidos sem viés, pode haver poucas dúvidas quanto à aplicabilidade dos resultados na “vida real”. A informação assim obtida é especialmente valiosa na sugestão de generalizações sobre a natureza da vida do grupo. Uma desvantagem importante do estudo de campo aparece quando se pergunta se o grupo estudado é típico ou não. Por exemplo, será possível su-

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por, com segurança, a partir de um estudo de conjunto residencial, que os padrões de gru-po funcionarão da mesma maneira em grupos diferentes, tais como comissões, famílias, quadros atléticos, ou sequer em todos os conjuntos residenciais? O problema do típico pode ser superado sempre que seja possível estudar uma amostra representativa dos gru-pos, extraída do universo de grupos para o qual serão feitas as generalizações. Mas esses processos são caros e raramente foram utilizados.

Uma limitação mais séria do estudo de campo é a dificuldade para interpretar, a partir das correlações, a direção da causalidade. Acaso a correlação, entre o grau de ho-mogeneidade de atitude numa quadra residencial e o número de amigos de residentes indica que as pessoas que se estimam tenham tendência para influenciar umas às outras, a fim de que apresentem semelhança? Ou indicará que as pessoas semelhantes tendem a ser amigas? Ou ambas as coisas? A fim de responder a essa questão, Festinger, Schachter e Back (V., por exemplo, Cap. 14) posteriormente submeteram suas hipóteses a uma expe-rimentação [61] mais controlada, em que a atração interpessoal variava experimentalmen-te, de forma a possibilitar a verificação de seus efeitos sobre os processos de influência. Embora freqüentemente possamos – a partir de determinadas configurações de correla-ções e da informação sobre seqüências – fazer inferências sobre a direção da causalidade, é preciso haver um estudo mais direto dos resultados provocados por variáveis controla-das experimentalmente, a fim de estabelecer uma interpretação segura de qualquer corre-lação obtida num estudo de campo. Experimento natural

Dadas as limitações inerentes aos processos de correlação, todas as ciências ten-

tam, sempre que possível, submeter suas generalizações a testes experimentais. Embora as mesmas considerações se apliquem à pesquisa de grupos, existem algumas dificulda-des na modificação de variáveis, para fins experimentais, pois isso pode perturbar a vida do grupo. Felizmente, às vezes, é possível, apesar disso, aproveitar mudanças que não são provocadas pelo pesquisador, mas que ocorrem no curso normal dos acontecimentos. Quando se introduz uma nova política ou um novo processo, ou quando ocorre algum acontecimento crítico no ambiente do grupo, o pesquisador tem uma oportunidade para descobrir quais as outras coisas que mudam, como resultado desse “experimento da natu-reza”.

O valor potencial dos experimentos naturais pode ser verificado no estudo de Lie-berman (30). Utilizaram-se dados de um estudo de campo como ponto de partida para avaliar as mudanças ocasionadas por um experimento natural numa fábrica de utensílios. No estudo de campo original pediu-se aos operários que respondessem a questionários de atitude sobre a administração e o sindicato. No ano seguinte, 23 dos operários foram promovidos a mestres e 35 foram eleitos ecônomos sindicais. Cerca de 15 meses depois do estudo original, os questionários foram respondidos novamente pelos operários que tinham mudado de posição e por um grupo comparável de controle, constituído por ope-rários que não tinham mudado de posição. Foi possível verificar as mudanças de atitude entre os sujeitos “experimentais” e os de “controle”, através da comparação dos [62] re-sultados da mudança para os cargos de mestre e de ecônomo. Essas comparações de-monstraram que aqueles cujas posições mudaram apresentaram modificações sistemáticas nas atitudes, enquanto que os que não tinham mudado de posição apresentaram pouca ou nenhuma modificação. Os que se tinham transformado em mestres tendiam a ser mais

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favoráveis à administração, enquanto que os transformados em ecônomos tendiam a ser mais favoráveis ao sindicato. As mudanças eram mais marcantes entre os mestres que entre os ecônomos. A correlação entre a posição na organização e as atitudes diante da companhia e do sindicato, encontrada na segunda mensuração, pode ser interpretada co-mo indicativa da influência da posição social sobre as atitudes, e não como uma demons-tração de que as pessoas foram escolhidas para as posições por causa de suas atitudes. Essa interpretação é ainda reforçada pelo fato de os dados provirem de um experimento natural, e não apenas de um estudo de campo.

As principais vantagens do experimento natural são: o pesquisador não impõe modificações perturbadoras no grupo estudado; é possível estudar as mudanças de signi-ficação; a direção da causalidade pode ser inferida com uma segurança considerável. Uma desvantagem é o fato de o pesquisador só poder estudar as mudanças que ocorrem naturalmente. Outras limitações decorrem das dificuldades habitualmente encontradas para o estabelecimento do controle experimental adequado. No estudo que descrevemos, o controle foi muito bem estabelecido, mas na maior parte das vezes isso não pode ser feito prontamente. Um problema geral está no fato de que as mudanças introduzidas pela natureza são freqüentemente resultantes de outros fatores que, sozinhos, podem influir no curso subseqüente de acontecimentos. Especificamente, quando qualquer mudança intro-duzida depende da vontade de algum indivíduo ou de um grupo de pessoas, é preciso tomar um grande cuidado na interpretação das conseqüências provocadas por essa mu-dança.

As exigências fundamentais para o êxito de um experimento natural são: coligir os dados apropriados antes e depois da mudança a ser avaliada; fazer comparações adequa-das das condições experimentais e de controle. Como constantemente ocorrem mudanças nos grupos, é claro que muito se pode aprender sobre o funcionamento dos grupos se se providenciar uma coleta sistemática de dados importantes. Dadas as grandes [63] possibi-lidades desse tipo de pesquisa, é surpreendentes que tenha sido tão pouco utilizado até agora. À medida que os especialistas em dinâmica de grupo estabelecerem relações mais duradouras com os vários grupos da sociedade, poderemos esperar uma utilização maior de experimentos naturais. Experimentos de campo

Os pesquisadores sociais desenvolveram uma técnica conhecida como experimen-

to de campo, a fim de conseguir maior controle das variáveis estudadas. Distingue-se do experimento natural principalmente pelo fato de introduzir modificações no grupo, com a finalidade explícita de comprovar algumas hipóteses ou avaliar a eficiência de alguma inovação nos métodos de administração do grupo. A modificação é planejada cuidadosa-mente, a fim de corresponder às exigências do problema pesquisado e é posta em prática em condições que permitam controle e comparações com grupos adequadamente compa-ráveis. Evidentemente, é preciso haver cooperação do grupo pesquisado para que o pes-quisador introduza essas modificações.

Os experimentos apresentados por Coch e French, e por Siegel e Siegel, nos Capí-tulos 18 e 13, são exemplos de experimentos de campo. No de Coch e French, o proble-ma pesquisado foi estimulado pelas dificuldades bastante comuns sentidas na indústria, quando se introduzem mudanças técnicas. O método geralmente empregado, na manufa-tura de roupas onde foi realizado esse experimento, consistia em introduzir uma nova

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técnica, explicá-la aos empregados, dar um “pagamento moderado” por tarefa e treinar os empregados na nova técnica. A reação habitual dos empregados era de suspeita, resistên-cia e hostilidade.

Os pesquisadores formularam a hipótese de que a introdução de novas técnicas tornavam os empregados inseguros, preocupados com a justiça das novas remunerações e ressentidos com a interferência da administração. Esses elementos, por sua vez, estabele-ciam padrões coletivos e informais de restrição da produção. Os pesquisadores supunham também que, se os trabalhadores pudessem participar do planejamento das novas técni-cas, apresentariam menor resistência a estas. [64]

Escolheram-se diversos grupos para participar do experimento. Os grupos foram organizados segundo o nível de realização anterior ao experimento e a magnitude da mo-dificação a ser introduzida. Estabeleceram-se três condições experimentais. A primeira, sem representação, consistia na técnica habitual empregada pela companhia. Na segunda, com participação por representação, os empregados eram reunidos, recebiam explicações sobre a necessidade da modificação e deviam escolher representantes do grupo para tra-balhar com o engenheiro no planejamento de novas técnicas. Na terceira, com integral participação, todos os membros do grupo eram convidados a trabalhar com o engenheiro, para planejar as novas técnicas.

Antes do tratamento experimental, todos os grupos apresentavam um rendimento médio de produção de aproximadamente 60 unidades por hora. Depois da introdução da nova técnica, o grupo sem participação caiu em produtividade a pouco menos de 50 uni-dades e conservou-se nesse nível durante seis semanas, sem qualquer melhoria significa-tiva. O grupo que teve participação por representação caiu para cerca de 45 unidades, mas voltou a 60 ao fim de três semanas e manteve-se daí em diante ao redor de 65 unidades. O grupo com inteira participação apresentou uma queda inicial para 55 unidades, e ao fim de três semanas atingira um nível ligeiramente acima de 70 unidades, que conservou in-definidamente. Posteriormente, os componentes do grupo sem participação mudaram para outra técnica, através do processo de inteira participação. Desta vez, apresentaram o mesmo rápido crescimento da produção dos que, no primeiro experimento, faziam parte do grupo de inteira participação.

Como as modificações experimentais tinham sido planejadas para comprovar a hipótese da participação , e como as verificações impediam influências espúrias, pode-mos concluir, com razoável confiança, que os tratamentos experimentais determinaram de fato as mudanças observadas na produção.

Em princípio, o experimento de campo tem poucos inconvenientes; combina todas as vantagens do método experimental e do estudo de campo. Mas, na realidade, existem muitos problemas na realização de experimentos de campo. Uma coisa é falar, de modo abstrato, da “manipulação de variáveis” e outra, bem diferente, é pôr em prática as modi-ficações exigidas. Em primeiro lugar, não se pode simplesmente tomar [65] um, grupo e introduzir modificações experimenteis; é preciso ter licença para fazer a pesquisa. Como as condições que levam a dar essa licença não são igualmente distribuídas em todos os tipos de grupos, é preciso tomar muito cuidado na – generalização dos resultados de ex-perimentos de campo. Mas, mesmo depois de ter licença para dirigir um experimento de campo, o pesquisador enfrenta outro problema sério. Como fazer as modificações exigi-das pelo objetivo da pesquisa? Às vezes, como no experimento de campo de Siegel e Sie-gel, as modificações podem ser provocadas por ligeiras mudanças nos processos comuns de administração. Todavia, as modificações exigem, freqüentemente, alterações no com-portamento habitual de pessoas-chave. Por exemplo, pode-se esperar que se altere o estilo

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de liderança de um grupo, simplesmente por dizer ao líder para se comportar de outra maneira? É nesse ponto que o cientista social mais precisa da colaboração de profissio-nais especializados e de pessoas treinadas nas profissões ligadas ao problema estudado. Infelizmente, o desenvolvimento de uma tecnologia social eficiente depende, em grande parte, da acumulação do conhecimento obtido na pesquisa. Dessa maneira, os experimen-tos de campo, no melhor dos casos, terão de ser realizados com, manipulação e controle imperfeitos das variáveis em que o conhecimento de dinâmica de grupo tenha avançado mais. A exeqüibilidade da experimentação de campo deve aumentar à medida que, na dinâmica de grupo, for progredindo o trabalho de todos os tipos. Grupos naturais no laboratório

Uma modificação do experimento de campo consiste em retirar os grupos naturais

de seu ambiente habitual e colocá-los em condições muito mais controladas, ou artifi-ciais, do que as possíveis no usual experimento de campo. Para exemplificar esse método, descreveremos resumidamente um estudo dirigido por French e Snyrder (16), na tripula-ção de Intendência da Força Aérea.

O objetivo amplo deste estudo era verificar alguns dos fatores que atuam na in-fluência real que um oficial exerce sobre a realização de seus comandados. O fator de interesse é [66] aqui o grau em que o oficial e apreciado pelos homens. Aos membros de diversas tripulações de uma base da Força Aérea foram apresentados questionários em que deviam indicar os sentimentos pessoais diante do oficial. As respostas davam infor-mação do grau em que o oficial era apreciado na vida diária e normal. Pouco depois, cada oficial e três dos subordinados participaram de um experimento em que trabalharam jun-tos em duas tarefas, realizadas sob condições controladas.

A primeira tarefa foi planejada a fim de que o oficial, inicialmente, discordasse de seus homens quanto à solução que o grupo deveria dar a um problema. Através do regis-tro cuidadoso das interações e da mensuração das mudanças provocadas pela discussão, foi possível determinar o grau de influência que o oficial tentava exercer, assim como o êxito obtido. Os resultados demonstraram que os oficiais apreciados, em comparação com os menos apreciados, fizeram mais esforços para exercer influência e obtiveram maior êxito.

A segunda tarefa foi organizada de maneira a tornar possível manter constante, em todos os grupos, a proporção de influência tentada pelo oficial. Desejava-se saber se o oficial mais apreciado teria mais êxito em sua influência, mesmo se fizesse precisamente o mesmo número e o mesmo tipo de tentativas que o menos apreciado. A fim de respon-der a essa questão, todos os oficiais deixaram a sala e passaram a comunicar-se com os soldados através de bilhetes, pedindo-lhes que modificassem seu comportamento de de-terminadas maneiras. Embora os soldados não o percebessem, os bilhetes enviados pelo oficial eram idênticos em todos os grupos. Os resultados desta parte do experimento reve-laram que uma tentativa padronizada de influência, vinda de um oficial mais apreciado, obtinha uma influência maior que a exercida por um oficial menos apreciado.

Seria praticamente impossível determinar a influência real exercida por tentativas rigorosamente equivalentes, sem introduzir os tipos de controle possíveis apenas em con-dições de laboratório. Apesar disso, utilizando grupos naturais, foi possível permitir que a natureza criasse maiores diferenças nas relações interpessoais do que as habitualmente possíveis em grupos artificiais. Uma vantagem fundamental deste método é permitir a

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pesquisa de variáveis dificilmente criados no laboratório. Como as suas outras vantagens são essencialmente as [67] mesmas das outras variações do método experimental, não iremos repeti-las aqui. Contudo, é preciso observar um problema. A mensuração do grau de estima de cada soldado por seu oficial não dá, indubitavelmente, a idéia completa das relações entre dois homens. Assim, aqueles grupos com forte atração pelo oficial podem, sob outros aspectos, ser também diferentes dos que sentem pouca atração. Portanto, tal-vez, a correlação entre apreciação e influência reflita a atuação de alguns desses aspectos diferentes, e não a apreciação. Sempre que se permite que a “natureza” produza variáveis independentes, surge esse problema de interpretação. Grupos artificiais no laboratório

O desejo de isolar variáveis e modificá-las sob condições tão controladas quanto

possível levou os pesquisadores sociais criar grupos no laboratório e a fazê-los funcionar nas condições criadas pelo experimentador. Lembremos que os trabalhos pioneiros de Sherif e de Lewin, Lippitt e White utilizaram grupos criados para pesquisa. Além disso, esses pesquisadores procuraram submeter os grupos às condições estabelecidas. Nos anos seguintes, fizeram-se muitas ampliações e elaborações desse método básico. Como os esforços se concentraram no controle, cada vez maior, das variáveis, as condições dos grupos no laboratório se tornaram cada vez mais “artificiais”, distanciando-se das condi-ções da “vida real”. A fim de excluir efeitos incontroláveis de relações anteriores entre os participantes, os grupos têm sido formados por estranhos. E, a fim de estudar os vários efeitos da comunicação entre os participantes, restringiram-se as comunicações a bilhetes escritos, a fim de poder interceptá-los subrepticiamente e substituí-los por outros, pre-viamente preparados. Talvez o maior controle tenha sido exercido nos experimentos em que os sujeitos eram levados a acreditar que eram componentes de um grupo, com o qual podiam comunicar-se apenas pelo sistema de intercomunicação eletrônica, mas onde, na realidade, ouviam a gravação de uma interação preparada. (Ver, por exemplo, Cap. 4). Em todos esses experimentos, a intenção não é criar uma réplica exata de algum tipo de circunstância encontrada na sociedade, mas, ao contrário, descobrir os efeitos produzidos por variações em variáveis abstratamente definidas. [68]

As principais vantagens dos experimentos com grupos artificiais, em condições de laboratório, provêm das possibilidades de controle das variáveis. Se, depois de pesquisa de campo ou de grupos naturais, existem dúvidas quanto à direção da causalidade ou quanto à relativa interferência, nos efeitos observados, de diversas condições que variam simultaneamente, a pesquisa com grupos artificiais em condições de laboratório pode apresentar respostas mais claras. Apenas as deficiências na aptidão do experimentador ou as limitações éticas impedem a manipulação de alguma variável significativa para a vida dos grupos, e as limitações do método estão nessas considerações. A crítica, freqüente-mente apresentada, de que os experimentos de laboratório são “artificiais” não é aceita como válida pelos que dirigem esse tipo de pesquisa, porque unicamente através dessa artificialidade as variáveis, habitualmente associadas, podem ser estudadas isoladamente. Para refutar as críticas de artificialismo, os proponentes desse método indicam que, nesse sentido, os experimentos nas ciências físicas são pelo menos, tão artificiais quanto os realizados em dinâmica de grupo.

Apesar disso, continua a existir uma dificuldade fundamental para a generaliza-ção, para os grupos sociais, a partir dos resultados de laboratório. No experimento de

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laboratório, só se manipulam algumas variáveis, num determinado momento, enquanto todas as outras permanecem constantes em certo nível. Enquanto não houver um grande número de pesquisas, não será possível conhecer os efeitos produzidos por todas as pos-síveis combinações de variáveis. Por essa razão, é preciso cautela ao generalizar os resul-tados para situações onde existem condições ainda não investigadas. Para citar um exem-plo evidente, quase todos os experimentos de laboratório foram realizados com grupos que têm uma história extremamente curta. Se a “idade” do grupo influencia os efeitos de outras variáveis, a generalização, a partir de experimentos de laboratório, só é segura para grupos “jovens”.

A fim de superar essa dificuldade, em alguns experimentos de laboratório introdu-ziu-se uma técnica conhecida como simulação. O seu objetivo é simular condições reais ou potencialmente reais, que podem ocorrer em grupos reais. Assim, é possível criar con-dições semelhantes a abrigos antiaéreos ou a naves espaciais. E possível formar grupos e localizá-los num edifício planejado para simular as possibilidades de um interceptor de aviões. Cada equipe experimental [69] disporá de todo o equipamento eletrônico de que dispõem as equipes reais. Depois, criam-se vários programas de comunicações, a fim de imitar diversas circunstâncias que as equipes reais poderiam enfrentar. Dessa maneira é possível verificar, por exemplo, as dificuldades que, em condições reais, essas equipes podem enfrentar e comprovar diversos métodos para superá-las. As possibilidades da simulação são quase infinitas, mas – como observou Guetzkow (18) ao descrever a utili-zação possível da simulação no estudo de relações internacionais – ainda é pequena a utilização feita, a não ser em alguns ambientes militares e de negócios. A simulação é mais adequada para a “pesquisa de desenvolvimento”, em que o objetivo é verificar os efeitos que podem ser esperados da combinação, numa única situação, de um grande nú-mero de variáveis. Ainda não se verificou até que ponto as características de “jogo” des-sas situações influem na possibilidade de generalizar para a vida real.

Conclusões

Seria um erro sustentar que um desses diferentes tipos de métodos é o melhor. As hipóteses e os resultados derivados de um estudo que utiliza um método deveriam servir para orientar os estudos subseqüentes, utilizando um dos outros métodos. Os estudos de campo e os experimentos naturais contribuem com conclusões provisórias, que podem ser submetidas a comprovações mais rigorosas, através de experimentos mais controlados. Ao mesmo tempo, os estudos e experimentos de campo são necessários para verificar se as generalizações obtidas em situações e em grupos artificiais podem ser aplicadas, com segurança, a ambientes naturais. As autênticas questões de metodologia tratam, essen-cialmente, de táticas: Qual é o melhor método para um determinado objetivo? Dada uma determinada fase de desenvolvimento, quanto esforço deve ser dedicado a estudos explo-ratórios gerais, e quanto para o controle de variáveis e de quantificação precisa? Essas questões são discutíveis e apenas a experiência pode determinar quais as melhores solu-ções.

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Dinâmica de grupo e sociedade

No mundo moderno, todos os ramos da ciência estão intimamente ligados à socie-dade – como, de forma tão dramática, [70] a construção da bomba atômica demonstrou aos físicos –, mas a dinâmica de grupo mantém uma relação particularmente íntima. Co-mo ocorre com as ciências naturais, os seus resultados podem ser aplicados para objetivos bons ou maus. A diferença é que a dinâmica de grupo tem, como material de pesquisa, seres humanos e grupos sociais. Essa diferença tem conseqüências técnicas e éticas. Por exemplo, os especialistas em dinâmica de grupo não podem manter grupos de pessoas “disponíveis”, como um químico conserva seu suprimento de reagentes na prateleira ou um biólogo conserva uma colônia de animais experimentais. Nem pode usar um grupo de pessoas para submetê-lo a todas as condições, unicamente para descobrir o que acontece. E o resultado prático da pesquisa de dinâmica de grupo não é uma peça de utensílio, que possa ser instalada, através da leitura do manual; ao contrário, é um conjunto de princí-pios referentes à maneira pela qual as pessoas devem dispor os processos coletivos, se desejarem obter determinados resultados. Em resumo, os métodos e os produtos dos es-pecialistas em dinâmica de grupo, quer queiram, quer não, os envolvem, constante e ine-vitavelmente na sociedade.

Desse fato provém alguns problemas perturbadores. Consideraremos, agora, re-sumidamente, três aspectos do trabalho de dinâmica de grupo que dependem, especifica-mente, de suas relações com a sociedade: (a) formulação de problemas de pesquisa, (b) realização da pesquisa e (c) transformação do conhecimento em aplicação. Formulação de problemas de pesquisa

Muitos fatores influem na escolha do problema de pesquisa e na sua formulação.

Como já vimos, a formação especializada e a orientação teórica geral do pesquisador in-fluem em sua opinião quanto à relativa importância das variáveis, quanto aos tipos de dados que devem ser coligidos, quanto aos métodos mais adequados e quanto aos concei-tos que devem ser utilizados em suas formulações teóricas. Todavia, além disso, é preciso reconhecer que realiza a pesquisa em uma sociedade específica e é influenciado por sua participação nessa sociedade. Por exemplo, aceita determinados valores e é improvável que. Planeje uma pesquisa cujo principal objetivo seja uma melhor compreensão das ma-neiras de destruir esses valores. Como uma [71] pesquisa custa dinheiro, o pesquisador depende das opiniões dos mantenedores financeiros da sociedade, quanto aos problemas que merecem ser estudados. Finalmente, como sua pesquisa precisa ser realizada com grupos de pessoas, só pode estudar os problemas permitidos por esses grupos. Está claro, portanto, que o especialista em dinâmica de grupo não pode formular seus problemas de pesquisa num vácuo social e que os tópicos escolhidos muito dependem da sociedade em que trabalha. E, como descobrimos no Capítulo 1, o campo da dinâmica de grupo flores-ceu apenas em alguns países.

Essas influências podem ser verificadas, nitidamente, no conjunto de pesquisas de dinâmica de grupo. É difícil imaginar que fosse casual o grande número de pesquisas sobre o problema do conformismo nos Estados Unidos, na época das controvérsias de McCarthy. Nem é por acaso que, nas sociedades democráticas, se acentua tanto o pro-blema da liderança. É possível identificar influências semelhantes na grande proporção de

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trabalhos sobre a eficiência do grupo, sobre o grupo como fonte de resistência à mudança e as conseqüências dos grupos na saúde mental.

Todavia, não devemos supor que o especialista em dinâmica de grupo não exerça influência sobre a maneira de a sociedade encarar o papel que nela têm os grupos. O ge-neroso apoio financeiro dado à pesquisa de dinâmica de grupo, por organizações militares e industriais, assim como por agências governamentais interessadas na saúde mental, é, em grande parte, um resultado da demonstração, feita pelos especialistas em dinâmica de grupo, de que os grupos exercem influências profundas nas questões ligadas a essas agências e de que a pesquisa de grupos pode ser produtiva. Além disso, como esses espe-cialistas trabalharam com profissionais e especialistas de vários ramos, ajudaram-nos a perceber novas maneiras pelas quais a pesquisa sobre grupos poderá, finalmente, ser be-néfica.

Dada a íntima interação entre o pesquisador de dinâmica de grupo e os setores da sociedade preocupados com o aperfeiçoamento da ação social, é importante haver uma clara compreensão da natureza da contribuição do pesquisador. Para que a pesquisa de dinâmica de grupo seja uma autêntica contribuição para o aperfeiçoamento da ação so-cial, precisa ser conduzida de maneira a criar uma compreensão significativamente [72] nova da natureza da vida do grupo. Para chegar a esse tipo de compreensão, o especialista em dinâmica de grupo deve analisar os fenômenos sociais de uma forma absolutamente diferente da utilizada pelo homem de ação, e concentrar-se num problema, enfrentando-o de muitos ângulos diferentes, até compreendê-lo – não simplesmente até que tenha pas-sado a necessidade de uma ação administrativa especifica. Uma preocupação excessiva ou uma excessiva impaciência com os frutos práticos da pesquisa só conseguirá reduzir as possibilidades da colheita.

Ao examinar as relações entre o pesquisador e o prático, encontra-se um paradoxo desconcertante: exatamente o que dá ao pesquisador social o seu incomparável valor, cria as maiores dificuldades para conseguir, das pessoas práticas, o tipo de apoio necessário para que seja valioso. O pesquisador competente difere do prático competente, sobretudo pela maneira de formular os problemas e de conceituar os fenômenos sociais. Nessa pe-culiar falta de convencionalismo exclusivo reside o valor prático do especialista em di-nâmica de grupo. Mas é também ai que surgem as suas dificuldades.

Lewin (28) exemplificou essa condição ao sugerir que, a fim de chegar a uma compreensão fundamental dos problemas da minoria, seria necessário pesquisar questões aparentemente diferentes, tais como as inter-relações entre cegos e pessoas que enxer-gam, entre adultos e crianças, bem como entre negros e brancos ou católicos e protestan-tes. Os problemas das minorias, afirmou, devem ser vistos apenas como um exemplo da influência do status na vida do grupo. Se Lewin está certo, os que procuram melhorar o destino dos negros, dos cegos, ou das crianças, têm interesse num programa coordenado de pesquisa sobre o problema abstrato do status, juntamente com os que se preocupam com o bem-estar da mulher que trabalha em serviços especializados, com o departamento de pessoal ou a equipe de pesquisa de uma organização comercial, os psicólogos clínicos numa clínica de saúde mental ou o cientista social no mundo da ciência.

É por essas razões que o especialista em dinâmica de grupo pretende construir uma teoria geral dos grupos e resiste a qualquer tentativa de definir a dinâmica de grupo através de algum tipo determinado de grupo ou problema social. A dinâmica de grupo atingirá essa visão fundamental da vida do grupo e dará sua principal contribuição prática à sociedade, na medida em que [73] seus problemas de pesquisa forem formulados de acordo com os ditames dos próprios fenômenos e em conformidade com as exigências da

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construção teórica. Todavia, esse programa significa que um especialista em dinâmica de grupo terá de pesquisar, de maneira integrada, fenômenos e problemas que, para o práti-co, podem parecer desconexos. Além disso, o valor final de sua pesquisa irá referir-se a domínios práticos que, habitualmente, são vistos como inteiramente separados. Realização da pesquisa

Na efetiva realização da pesquisa, o especialista em dinâmica de grupo é obrigado

a exercer um ou outro tipo de influência sobre os grupos que estuda. Mesmo no estudo de campo, onde tenta reduzir sua influência, o pesquisador estabelece relações que, inevita-velmente, interferem no grupo. Por exemplo, se entrevista ou faz perguntas, chama a atenção para determinados fenômenos e, dificilmente, as pessoas reagirão da mesma ma-neira depois da pesquisa. Contudo, a questão mais importante refere-se à utilização dos resultados. Se descobrir alguma coisa de vital importância quanto ao grupo, os seus membros terão um interesse legítimo em saber como deve ser utilizada essa informação. Como essa questão não pode ser evitada, o pesquisador precisa deixar clara, desde o iní-cio, a compreensão existente, implícita ou explicitamente, do papel de sua pesquisa na administração do grupo.

Quando o plano de pesquisa exige a manipulação experimental de variáveis, o pesquisador faz exigências muito grandes ao grupo. Suponhamos, por exemplo, que dese-je investigar os efeitos de diferentes graus de participação dos componentes nas decisões de importância para o grupo e que deseje fazê-lo através de experimentos de campo nos grupos locais de um sindicato. Por que um sindicato daria permissão para introduzir va-riações na sua maneira de tomar decisões? Se, habitualmente, suas decisões são tomadas por todos os componentes e o experimento exige uma centralização de decisão, o experi-mentador estará pedindo ao sindicato para contrariar uma forte ideologia democrática. Se a prática dominante é a decisão de alguns, em nome do grupo, e o experimento exige a participação total nas decisões, o experimentador pode ameaçar o [74] poder político dos detentores do domínio. Em quaisquer dos casos, se as modificações experimentais são significativas, o experimento tende a ser perturbador ou até ameaçador. Para justificar esses efeitos, a pesquisa precisaria oferecer, aos componentes do grupo, alguma recom-pensa vantajosa. Ao tentar conseguir a cooperação dos grupos, o pesquisador parece ter duas coisas a oferecer. Para conseguir o consentimento, pode tentar persuadir o grupo, ou os detentores do poder, de que eles se beneficiarão com o conhecimento resultante do experimento, ou pode prometer que as modificações introduzidas pelo experimento pro-duzirão conseqüências de valor imediato. Embora ambas as considerações possam, em certas circunstâncias, ser justificadas e convincentes, está claro que os experimentos só podem ser realizados com grupos onde as condições favoreçam a cooperação com o ex-perimentador.

O problema do acesso aos fenômenos que deseja estudar cria determinados pro-blemas éticos para o especialista em dinâmica de grupo. Quase todos admitiriam que os experimentos, seja no laboratório, seja no campo, não devem ser realizados quando existe possibilidade de algum dano aos sujeitos. Mas quem deve resolver o que é “dano”? E quem pode, legitimamente, dar o consentimento para a realização de experimentos com grupos de pessoas? Embora poucos se recusem à realização de uma pesquisa aprovada por todos os componentes do grupo, a partir do conhecimento completo dos possíveis resultados, às vezes, a obtenção dessa aprovação tornará impossível o tipo necessário de

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pesquisa. Será correto que os dirigentes do grupo concedam permissão para a pesquisa? Alguns responderiam pela afirmativa, pois os dirigentes constantemente tomam decisões e instituem processos que se refletem em todos os membros; outros diriam que ninguém tem o direito de autorizar a experimentação ou a coleta de dados sobre outras pessoas. Alguns anos atrás, surgiu uma controvérsia que serve como exemplo da complexidade desta questão: revelou-se a gravação das deliberações do júri, sem o conhecimento dos jurados, mas com o consentimento do juiz. Embora advogados responsáveis acreditassem que essa pesquisa contribuiria, em seus resultados finais, para o fortalecimento do sistema de júri, permanecem sérias dúvidas quanto à justificativa para a gravação dissimulada dos dados.

O problema correlato da utilização de disfarce surge em muitas pesquisas. Esse problema é muito difícil, pois existem, [75] boas razões para acreditar que, se as pessoas sabem o que o pesquisador tenta descobrir, esse conhecimento pode influir nos resultados da pesquisa. O problema pode ser exemplificado pela Pesquisa de Festinger, Riecken e Schachter (14), que desejavam estudar as várias conseqüências de uma negação dramáti-ca de crenças aceitas por um grupo de pessoas. Descobriram um pequeno grupo que pro-porcionava oportunidade rara para estudar essas conseqüências, pois os membros profeti-zavam o fim do mundo. Os pesquisadores não queriam exercer qualquer influência sobre o grupo e sentiram que não poderiam, revelar, ingenuamente seus interesses aos compo-nentes do grupo. Resolveram, portanto, aderir ao grupo como se fossem crentes. Dessa forma, conseguiram chegar aos fenômenos que desejavam observar. A questão ética é saber se tinham o direito de usar esse disfarce, ainda que, ao apresentar os resultados, tomassem todos os cuidados para ocultar a identidade do grupo e de seus componentes. De uma forma mais geral, a mesma questão surge em muitos experimentos de laboratório (V. por exemplo, Caps. 10 e 15), onde os sujeitos são levados a crer que os outros discor-dam deles quanto a alguma coisa ou opinião. Aqui a mentira é utilizada como um meio para manipular a variável. Será justificável essa mentira, ainda que, logo depois, as pes-soas recebam explicações sobre a verdadeira natureza do experimento?

Evidentemente, não se pode atingir um consenso universal em questões como es-sa, mas o pesquisador precisa tomar consciência desses problemas éticos e estar prepara-do para desistir da pesquisa, sempre que depare com questões sérias de ética. É claro que uma pesquisa sobre variáveis importantes para pessoas e para a sociedade exige aptidão, diplomacia e padrões éticos elevados. A habilidade intelectual e uma capacidade para o pensamento abstrato, necessárias em todas as ciências, não são suficientes. Transformação do conhecimento em aplicação

A dinâmica de grupo procura aumentar uma compreensão básica da vida do gru-

po. Como se observou acima, para obter êxito nesse esforço, seus problemas de pesquisa precisam ser formulados segundo as exigências da teoria abstrata, e não das necessidades imediatas e práticas. Apesar das diferentes [76] maneiras através das quais o pesquisador e o homem de ação encaram os grupos, o conhecimento acumulado de dinâmica de grupo deve fornecer um manancial de informações úteis para a administração da vida do grupo. Todavia, muito será necessário aprender sobre as maneiras mais eficientes para converter conhecimentos básicos em prática aperfeiçoada.

O especialista em dinâmica de grupo pode, naturalmente, influenciar a ação social de diversas maneiras. Pode por exemplo, indicar fatos de valor aos encarregados da ação

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social. Suas técnicas para coligir dados, tais como o teste sociométrico, o registro da inte-ração, a entrevista, podem ser utilizadas produtivamente, como um instrumento para me-lhorar a eficiência do funcionamento do grupo. E seus conceitos, tais como coesão, estru-tura e papel, podem ajudar o homem de ação a pensar sobre os acontecimentos que ocor-rem nos grupos com que trabalha. O ensino da dinâmica de grupo a pessoas não interes-sadas em pesquisa, mas, na prática, baseia-se na suposição de que o conhecimento dos resultados da pesquisa ajudará a solução das questões práticas dos grupos. E existe pouca dúvida quanto aos benefícios, para a ação social, do número cada vez maior de pessoas que conhecem os resultados de pesquisas com grupos.

Ainda assim, há razões para crer na necessidade de novas técnicas, antes de se atingir uma utilização ótima do conhecimento da dinâmica de grupo. À medida que, nos últimos anos, acumulou-se o conhecimento básico, tornou-se cada vez mais evidente que os resultados de pesquisa básica não podem ser simplesmente retirados do depósito e utilizados. Os princípios precisam transformar-se em práticas e processos. Existe uma grande necessidade, na esfera social, de uma atenção explícita para os processos de in-venção de pesquisa em desenvolvimento. O problema da transformação do conhecimento básico em prática social não decorre tanto de timidez ou conservantismo das pessoas que trabalham com grupos quanto do emprego de novos métodos de administração. O pro-blema é que nem os pesquisadores e nem os práticos reconheceram, suficientemente, a grande quantidade de trabalho árduo necessário para a utilização de conhecimento básico. Se a experiência de ciência natural e da engenharia pode servir de orientação, é preciso um longo período de pesquisa experimental – projeto-piloto, avaliação e replanejamento – antes de se obter um produto seguro. Com demasiada freqüência, no mundo da [77] administração social, utilizamos, sem comprovações ou avaliações dos resultados, qual-quer prática nova e plausível. É de se esperar que, nos próximos anos, testemunhemos o aparecimento de uma nova especialidade, diretamente interessada nos desafios da inven-ção – a partir de sólidos princípios gerais – de novas técnicas de vida coletiva e da avalia-ção de suas conseqüências reais, antes que sejam geralmente aceitas na prática.

Sumário

A dinâmica de grupo é um campo relativamente novo e apresenta as característi-cas da juventude. Desenvolve-se rapidamente e procura um sentido de identidade. Quan-do vistos através dessa perspectiva tornam-se mais compreensíveis os problemas desse campo de estudo.

As principais questões de dinâmica de grupo referem-se aos seguintes assuntos: (a) preconceitos sobre os valores ganhos ou perdidos através de atividades de grupos, (b) maneiras pelas quais o campo da dinâmica de grupo deve ser diferenciado de outras espe-cializações de ciência social, (c) a melhor orientação teórica para o estudo de grupos, (d) o emprego de métodos mais adequados aos objetivos da pesquisa e (e) as relações que devem existir entre a dinâmica de grupo e a sociedade.

O estudioso da dinâmica de grupo, sugerimos, não deve trazer para sua indagação nenhum preconceito, isto é, admitir que os grupos são “bons” ou “maus”. A suposição mais adequada é pensar que os grupos podem facilitar ou inibir a realização de objetivos sociais desejáveis e que a tarefa de pesquisa é obter uma compreensão da natureza da vida de grupo, de forma que os objetivos desejáveis possam ser procurados mais racio-nalmente, através do conhecimento proporcionado pela pesquisa.

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Embora a pesquisa rotulada adequadamente de “dinâmica de grupo” tenda a con-centrar-se em grupos pequenos, informais ou primários, não seria correto definir o campo como o estudo de determinado “tipo” específico de grupo. Da mesma forma, não seria correto limitar o campo segundo a utilização de um tipo específico de método de pesquisa ou a aceitação de uma única orientação teórica. Ainda não se estabeleceram critérios sa-tisfatórios para limitar o campo de estudo e [78] a dinâmica de grupo pode ser identifica-da unicamente por seu objetivo central, isto é, conseguir uma compreensão da natureza da vida do grupo.

O estudo da dinâmica de grupo foi orientado por uma grande diversidade de ori-entações teóricas. Embora essa diversidade de formas de estudo e de esquemas concei-tuais possa, às vezes, parecer confusa, reflete a juventude e o vigor do campo. Os esfor-ços para chegar a um conjunto coerente de conhecimento sobre grupos devem obter res-postas satisfatórias para quatro questões: (a) Qual é a relação adequada entre a coleta de dados e a construção da teoria? (b) Quais são as técnicas de observação e quais os objetos adequados de estudo? (c) Quais são as variáveis básicas que determinam o que acontece nos grupos? (d) Como combinar os muitos fatores que afetam a vida do grupo num sis-tema conceitual compreensivo? À medida que continua o trabalho em dinâmica de grupo, é possível esperar resposta cada vez mais satisfatórias para essas questões.

Os estudiosos de dinâmica de grupo demonstraram grande capacidade inventiva no planejamento de métodos de pesquisa. Seria um erro supor que um deles é o “melhor”. Cada um tem vantagens e limitações, e o problema básico é selecionar o método mais adequado à pesquisa objetiva e à fase de desenvolvimento teórico em cada área de pro-blemas.

Os métodos e os resultados do especialista em dinâmica de grupo colocam-no, constante e inevitavelmente, na sociedade, quer ele queira, quer não. A íntima relação entre dinâmica de grupo e sociedade reflete-se na formulação dos problemas de pesquisa, na realização da pesquisa e na transformação do conhecimento básico em ação. No que se refere a cada uma dessas questões, a sociedade influencia o especialista e este, por sua vez, influencia a sociedade. Ao fazer o seu trabalho, portanto, precisa não só de habilida-de intelectual e capacidade para o pensamento abstrato, como também de aptidão social, sensibilidade e princípios éticos elevados.

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