parecer sobre jornada

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Parecer do Escritório Zupirolli & Associados sobre a jornada de trabalho dos jornalistas no serviço público.

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P A R E C E R

Ementa. Carga horária dos servidores públicos e jornada especial dos jornalistas do Senado Federal.

Chega às mãos deste profissional a consulta acerca da jornada de trabalho aplicável aos jornalistas integrantes dos quadros de servidores do Senado Federal, à luz do ordenamento jurídico pátrio.

O que doravante se demonstrará é que, a despeito de a Lei nº 8.112/90 dispor, como norma geral, que a jornada dos servidores públicos é de 08 horas diárias, ao contrário, a carga horária dos jornalistas no serviço público é de 05 horas diárias, tal como dispõe o Decreto-lei nº 972/69, regulamentado pelo Decreto nº 83.284/79, pelo Decreto-lei nº 5.452/43; na forma como foi interpretado e aplicado pela Resolução nº 2.343/96, do então Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado-MARE, substituída pela Portaria nº 1.100/2006, da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento e Gestão e acrescida pela Portaria nº 222/2008, da mesma Secretaria, conforme se demonstrará adiante.

Antes de prosseguir, entretanto, para que não paire dúvidas sobre um dos principais fundamentos legais que será utilizado doravante neste parecer, em face da recente polêmica gerada quando do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do Recurso Extraordinário nº 511.961, na Ação Civil Pública nº 2001.61.00.025946-3, é necessário uma palavra sobre a vigência do Decreto-lei nº 972/69, regulamentado pelo Decreto nº 83.284/79, que regulamentam a profissão de jornalista. O dispositivo da sentença que julgou procedente a ACP nº 2001.61.00.025946-3, que declarou não recepcionado o inciso V, do art. 4º do Decreto-lei nº 972/69 (Art 4º O exercício da profissão de jornalista requer prévio registro no órgão regional competente do Ministério do Trabalho e Previdência Social que se fará mediante a apresentação de: ....V - diploma de curso superior de jornalismo, oficial ou reconhecido registrado no Ministério da Educação e Cultura ou em instituição por este credenciada, para as funções relacionadas de " a " a " g " no

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artigo 6º), que exige o diploma de curso superior em jornalismo como condição para a obtenção do registro profissional, restou assim redigido:

Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO formulado na inicial para:

a) determinar que a ré União Federal, em todo o país, não mais exija o diploma de curso superior em Jornalismo para o registro no Ministério do Trabalho para o exercício da profissão de jornalista, informando aos interessados a desnecessidade de apresentação de tal diploma para tanto, bem assim que não mais execute fiscalização sobre o exercício da profissão de jornalista por profissionais desprovidos de grau universitário de Jornalismo, assim como deixe de exarar os autos de infração correspondentes;

b) declarar a nulidade de todos os autos de infração pendentes de execução lavrados por Auditores-Fiscais do Trabalho contra indivíduos em razão da prática do jornalismo sem o correspondente diploma;

c) que sejam remetidos ofícios aos Tribunais de Justiça dos Estados da Federação, de forma a que se aprecie a pertinência de trancamento de eventuais inquéritos policiais ou ações penais em trâmite, tendo por objeto a apuração de prática de delito de exercício ilegal da profissão de jornalista;

d) fixar multa de RS$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser revertida em favor do Fundo Federal de Direitos Difusos, nos termos dos arts. 11 e 13 da Lei nº 7347/85, para cada auto de infração lavrado em descumprimento das obrigações impostas neste decisum.

Esta sentença foi cassada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região pelo Acórdão assim ementado, naquilo que ora interessa:

EMENTA (....) 5. A vigente Constituição Federal garante a todos, indistintamente e sem quaisquer restrições, o direito à livre manifestação do pensamento (art. 5º, IV) e à liberdade de expressão, independentemente de censura ou licença (art. 5º, IX). São direitos difusos, assegurados a cada um e a todos, ao mesmo tempo, sem qualquer barreira de ordem social, econômica, religiosa, política, profissional ou cultural.

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Contudo, a questão que se coloca de forma específica diz respeito à liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, ou, simplesmente, liberdade de profissão. Não se pode confundir liberdade de manifestação do pensamento ou de expressão com liberdade de profissão. Quanto a esta, a Constituição assegurou o seu livre exercício, desde que atendidas as qualificações profissionais estabelecidas em lei (art. 5º, XIII). O texto constitucional não deixa dúvidas, portanto, de que a lei ordinária pode estabelecer as qualificações profissionais necessárias para o livre exercício de determinada profissão. 6. O Decreto-Lei n. 972/69, com suas sucessivas alterações e regulamentos, foi recepcionado pela nova ordem constitucional. Inexistência de ofensa às garantias constitucionais de liberdade de trabalho, liberdade de expressão e manifestação de pensamento. Liberdade de informação garantida, bem como garantido o acesso à informação. Inexistência de ofensa ou incompatibilidade com a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. 7. O inciso XIII do art. 5º da Constituição Federal de 1988 atribui ao legislador ordinário a regulamentação de exigência de qualificação para o exercício de determinadas profissões de interesse e relevância pública e social, dentre as quais, notoriamente, se enquadra a de jornalista, ante os reflexos que seu exercício traz à Nação, ao indivíduo e à coletividade. 8. A legislação recepcionada prevê as figuras do provisionado e do colaborador, afastando as alegadas ofensas ao acesso à informação e manifestação de profissionais especializados em áreas diversas. (São Paulo, 26 de outubro de 2005)

Contudo, o c. Supremo Tribunal Federal deu provimento ao Recurso Extraordinário nº 511.961, interposto contra o Acórdão do TRF3, mantendo a declaração de não recepção pela Constituição Federal de 1988 do inciso V, do art. 4º do Decreto-lei nº 972/69 que exige a graduação superior como condição para o registro profissional perante o Ministério do Trabalho (1): 1 Como é sabido, o registro profissional, condição para o exercício da profissão de jornalistas, instituído pelo Decreto-lei nº 910/38, é feito perante o Ministério do Trabalho, por intermédio de suas Delegacias Regionais, em razão da inexistência de Conselho Profissional de Jornalismo,

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Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, Ministro Gilmar Mendes (Presidente), conheceu e deu provimento aos recursos extraordinários, declarando a não-recepção do artigo 4º, inciso V, do Decreto-lei nº 972/1969, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Ausentes, licenciados, os Senhores Ministros Joaquim Barbosa e Menezes Direito. Plenário, 17.06.2009.(2).

A leitura do dispositivo da sentença, bem como do acórdão regional e da ementa da decisão do STF leva à conclusão inexorável de que o único dispositivo declarado não recepcionado pela Constituição Federal foi o inciso V, do art. 4º do Decreto-lei nº 972/69, de modo que sobre o restante do mencionado diploma legal não recai nenhuma decisão limitadora de sua vigência (3).

Do mesmo modo, também preliminarmente, se faz necessário citar o artigo 2º do mesmo Decreto-lei nº 972/69 para efeito de explicitar as atividades privativas da profissão de jornalistas:

Art 2º A profissão de jornalista compreende, privativamente, o exercício habitual e remunerado de qualquer das seguintes atividades: a) redação, condensação, titulação, interpretação, correção ou coordenação de matéria a ser divulgada, contenha ou não comentário; b) comentário ou crônica, pelo rádio ou pela televisão; c) entrevista, inquérito ou reportagem, escrita ou falada; d) planejamento, organização, direção e eventual execução de serviços técnicos de jornalismo, como os de arquivo, ilustração ou distribuição gráfica de matéria a ser divulgada; e) planejamento, organização e administração técnica dos serviços de que trata a alínea " a "; f) ensino de técnicas de jornalismo; g) coleta de notícias ou informações e seu preparo para divulgação;

2 Acórdão ainda não publicado. 3 Esta advertência inicial é importante, haja vista a existência de declarações públicas posteriores à decisão do STF, segundo as quais a regulamentação profissional como um todo teria sido fulminada,o que efetivamente não corresponde à verdade.

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h) revisão de originais de matéria jornalística, com vistas à correção redacional e a adequação da linguagem; i) organização e conservação de arquivo jornalístico, e pesquisa dos respectivos dados para a elaboração de notícias; j) execução da distribuição gráfica de texto, fotografia ou ilustração de caráter jornalístico, para fins de divulgação; l) execução de desenhos artísticos ou técnicos de caráter jornalístico.

Prosseguindo, já adentrando ao tema central do presente parecer, lembra-se que historicamente a jornada de trabalho diferenciada para os jornalistas profissionais foi fixada originalmente pelo Decreto-lei nº 910, de 30 de novembro de 1938, tornando norma legal uma prática de mercado até então vigente (4), e consolidada pelo art. 303 do Decreto-lei nº 5.452/43 (Consolidação das Leis do Trabalho-CLT), nos seguintes termos:

"Art. 303. A duração normal do trabalho dos empregados compreendidos nesta seção não deverá exceder a cinco horas, tanto de dia como à noite."

Posteriormente, a legislação especial que regulamentou a profissão de jornalista voltou ao tema, remarcando a jornada nos mesmos termos. Assim, o caput do artigo 9º do Decreto-lei nº 972/69, repetido pelo artigo 15 do Decreto nº 83.284/79, também estabelece que a jornada normal dos jornalistas é de cinco horas diárias. Eis:

Art. 9º O salário de jornalista não poderá ser ajustado nos contratos individuais de trabalho, para a jornada normal de cinco horas, em base inferior à do salário estipulado, para a respectiva função em acordo ou convenção coletiva de trabalho, ou sentença normativa da Justiça do Trabalho. Art. 15. O salário de jornalista não poderá ser ajustado nos contratos individuais de trabalho, para a jornada normal de cinco horas, em base inferior à do salário estipulado, para a respectiva função em acordo ou convenção coletiva de trabalho, ou sentença normativa da Justiça do Trabalho.

Tais disposições legais são aplicáveis no âmbito do serviço público em razão do parágrafo segundo do art. 3º do mesmo Decreto nº 83.284/79:

4 FILHO, Luiz Maranhão. Legislação e Comunicação, Direito da Comunicação, Editora LTR, 1995, pág. 35.

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Art. 3º Considera-se empresa jornalística, para os efeitos deste decreto, aquela que tenha como atividade a edição de jornal ou revista, ou a distribuição de noticiário, com funcionamento efetivo, idoneidade financeira e registro legal. § 2º A entidade pública ou privada não jornalística sob cuja responsabilidade se editar publicação destinada a circulação externa está obrigada ao cumprimento deste decreto, relativamente aos jornalistas que contratar.

É certo, entretanto, que o Estatuto dos Servidores Civis da União (Lei nº 8.112/90) fixa a jornada normal dos trabalhadores no serviço público federal em, no máximo, oito horas diárias e quarenta horas semanais. Do mesmo modo, a Resolução nº 9/89, do Senado Federal também fixa, como regra geral, a jornada de seus servidores em 08 horas diárias. Contudo, ambos os normativos excepcionam as jornada fixadas em leis especiais ou específicas.

Como é expresso na Lei de Introdução ao Código Civil, “lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior” (5). Assim, ao ressalvar a aplicabilidade das “leis especiais” ou “leis específicas”, tanto a Lei nº 8.112/90, quanto a Resolução nº 9/89 do Senado Federal e suas alterações posteriores, não revogaram os dispositivos especiais existentes em leis anteriores, incluindo aqueles que fixaram a jornada especial aos jornalistas, ao contrário, os recepcionaram.

A propósito, eis o que estabelece o artigo 19 da Lei nº 8.112/90:

"Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal em quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias, respectivamente. (...) § 2º O disposto neste artigo não se aplica à duração de trabalho estabelecida em leis especiais."

Regulamentando este dispositivo, o art. 1º, I do Decreto nº 1.590, de 10 de agosto de 1995, estabeleceu:

5 Art. 2º, § 1º do Decreto-lei nº 4.657/1942 – Lei de Introdução ao Código Civil.

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“Art. 1º A Jornada de trabalho dos servidores da Administração Pública Federal direta, das autarquias e das fundações públicas federais, será de oito horas diárias e: I – carga horária de quarenta horas semanais, exceto nos casos previstos em lei específica, para os ocupantes de cargos de provimento efetivo;”

Comentando esta norma, escreveram Paulo de Matos Ferreira Diniz e Ivan Barbosa Rigolin:

"A lei excepciona desta forma a duração de trabalho estabelecida em leis especiais, são exemplos desta exceção: trabalhos médicos e professores. Os professores poderão optar pela carga horária de 20 (vinte) ou 40 (quarenta) horas semanais. As categorias de Médico de Saúde Pública, Médico do Trabalho e Médicos Veterinários cumprirão jornada de trabalho de 20 (vinte) horas semanais, e terão seus vencimentos majorados em 50% (cinqüenta por cento) quando cumprirem jornada diária de 6 (seis) horas diárias." (....)

"Obriga-se pelo art. 19 cada servidor efetivo a prestar até quarenta horas semanais de trabalho, o que significa cinco dias de oito horas cada, bem conforme a tradição do serviço público brasileiro, encampada até mesmo pela Constituição Federal, art. 7º, XIII. Outras leis, entretanto, podem estabelecer duração diversa do trabalho, como seguramente o farão, e como já tem feito quando referentemente a profissões regulamentadas para as quais as leis federais prevêem outras cargas horárias normais. É o caso dos Médicos, dos Professores, dos Mecanógrafos, dos Ascensoristas e de outros profissionais." (6)

Como se pode comprovar, todas as profissões expressamente citadas de forma exemplificativa no comentário antes citado, exceto os médicos, possuem jornadas de trabalho fixadas pelo Decreto-lei nº 5.452/43 (CLT).

Portanto, não existe conflito entre as normas relativas à jornada de trabalho dos servidores públicos e a especial, aplicável à categoria profissional dos

6 RIGOLIN, Ivan Barbosa. COMENTÁRIOS AO REGIME JURÍDICO ÚNICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS. Editora Saraiva, 3ª edição, pág. 60).

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jornalistas. Os jornalistas profissionais, quando empregados no serviço público federal, em face do que dispõe o art. 19, § 2º da Lei nº 8.112/90, combinado com os artigos 9º, do decreto-lei nº 972/69, 15 do Decreto nº 83.284/79 e art. 303, do Decreto-lei nº 5.452/43, fazem jus à jornada especial de cinco horas diárias.

Tal entendimento já foi consolidado no âmbito da Administração Direta Federal pela Portaria nº 2.343/96, do Ministro de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado, e pela atual Portaria nº 1.100/2006, do Secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento e Gestão em vigor, para os cargos de Técnico em Comunicação Social:

PORTARIA Nº 2.343, DE 31 DE JULHO DE 1996. O MINISTRO DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL E REFORMA DO ESTADO, no uso de suas atribuições, resolve: Art. 1º Alterar o Anexo III da Portaria nº 2.561, de 16.08.95, com a finalidade de incluir a categoria funcional de Técnico em Comunicação Social - Área de Jornalismo, na relação dos cargos cuja carga horária seja inferior a quarenta horas semanais, na forma abaixo especificada:

Denominação do cargo Jornada Legislação Técnico em Comunicação Social (Área de Jornalismo-Especialidade em Redação, Revisão e Reportagem)

25h Decreto-Lei nº 972, de 17 de outubro de 1969.

Art. 2º Para efeito do disposto no artigo anterior, os ocupantes da categoria funcional de Técnico de Comunicação Social deverão apresentar o registro de jornalista expedido pelo Ministério do Trabalho, conforme preceitua o artigo 4º do Decreto-Lei nº 972, de 17 de outubro de 1969. Art. 3º Estabelecer que esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA

PORTARIA Nº 1.100, DE 6 DE JULHO DE 2006

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O SECRETÁRIO DE RECURSOS HUMANOS DO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, no uso das atribuições que lhe confere o art. 33 do anexo I do Decreto nº 5719. de 13 de março de 2006. e considerando o disposto no art. 10 do Decreto nº 590, de 10 de agosto do 1995, resolve: Art. 1º. Publicar a relação dos cargos cuja jornada de trabalho é inferior a quarenta horas semanais. Art. 2º Os casos omissos serão tratados pela Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejanonio, Orçamerno e Gestão.

DENOMINAÇÃO DO CARGO JORNADA LEGISLAÇÃO

TÉCNICO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL (ÁREA DE JORNALISMO) ESPECIALIDADE ERM REDAÇÃO, REVISÃO E REPORTAGEM)

25 HORAS Decreto-Lei Nº 972/69, ART. 9º

Posteriormente, a mesma autoridade editou a Portaria nº 222/2008, alterando a Portaria nº 1.100/2006, para incluir a expressão “jornalista” na lista da ‘denominação de cargo’:

PORTARIA Nº 222, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2008 O SECRETÁRIO DE RECURSOS HUMANOS DO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, no uso das atribuições que lhe confere o inciso I do art. 34, do Anexo I, do Decreto nº 6.081, de 12 de abril de 2007, e considerando o disposto no art.10 do Decreto nº 1.590, de 10 de agosto de 1995, resolve: Art. 1º O Anexo à Portaria SRH/MP nº 1.100, de 6 de julho de 2006, publicada no DOU de 10 de julho de 2006, passa a vigorar na forma do Anexo a esta Portaria. Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação. DUVANIER PAIVA FERREIRA ANEXO

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Denominação do cargo Jornada Legislação ..... ...... .....

JORNALISTA

25 horas Decreto-Lei nº 972/69, art. 9º

D.O.U., 08/02/2008 - Seção 1, pág. 45

Com isso, ficou definitivamente esclarecida que a jornada especial para os jornalistas do serviço público da administração federal é de cinco horas diárias.

O fundamento utilizado pela autoridade federal para editar as normas citadas acima, assegurando a jornada especial aos jornalistas, foi o art. 9º do Decreto-lei nº 972/69, conforme se pode comprovar pela leitura do art. 2º da Portaria nº 2.343/96.

Tal disciplina se aplicaria ao Senado Federal? Eis a pergunta fundamental e inafastável neste estudo. A resposta é positiva. A começar pelo que dispõe o artigo 1º da Resolução nº 9/1989, do Senado Federal, antes citada:

Art. 1º O art. 358 do Regulamento Administrativo do Senado Federal passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 358. Os Servidores do Senado Federal estão sujeitos à jornada de quarenta horas semanais de trabalho, ressalvados os que têm jornada de trabalho específica, estabelecida em lei. § 1º Para os fins deste artigo não são considerados dias úteis os sábados e domingos, além dos feriados, e outros em que não haja expediente. § 2º Cada dia útil terá oito horas de trabalho, divididas em dois turnos, o primeiro das oito horas e trinta minutos às doze horas, e o segundo das quatorze horas as dezoito horas e trinta minutos. § 3º Para os servidores que têm jornada de trabalho específica, estabelecida em lei, o horário será fixado pelo Diretor respectivo. § 4º Para os servidores de Gabinetes, o horário será fixado pelos respectivos titulares, obedecida a carga horária semanal a que está sujeito cada servidor, por força de lei.

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§ 5º Para os servidores encarregados da limpeza e manutenção dos edifícios, o horário será fixado pelo Diretor da Secretaria de Serviços Especiais, ouvido o Diretor da Subsecretaria de Engenharia. § 6º Para os motoristas o horário será fixado pelo Diretor da Subsecretaria de Serviços Gerais, ouvido o Chefe do Serviço de Transportes, ressalvados os casos dos que estejam lotados em Gabinetes. § 7º O horário fixado em decorrência do disposto nos parágrafos anteriores será registrado em ponto diariamente.

Tal como o faz o art. 19, § 2º da Lei nº 8.112/90, a norma acima transcrita também excepciona da jornada geral de 08 horas diárias as jornadas fixadas em leis específicas, de modo que a jornada estabelecida no art. 9º do Decreto-lei nº 972/69 e no art. 303 do Decreto-Lei nº 5.452/43.

Não por outra razão, certamente, o art. 68 da proposta do novo Regulamento ora em discussão no Senado Federal, repete a mesma disciplina, excepcionando da jornada de oito horas as jornadas fixadas em leis específicas:

Art. 1. Os servidores do Senado Federal estão sujeitos à jornada de quarenta horas semanais de trabalho, ressalvados os que têm jornada de trabalho específica, estabelecida em lei e os referidos no § 9º. § 1º Para os fins deste artigo não são considerados dias úteis os sábados e domingos, além dos feriados e outros em que não haja expediente. § 2º Cada dia útil terá oito horas de trabalho, divididas em dois períodos, o primeiro das oito horas e trinta minutos às doze horas, e o segundo das quatorze horas às dezoito horas e trinta minutos. § 3º Para os servidores que têm jornada de trabalho específica, estabelecida em lei, o horário será fixado pelo diretor respectivo. § 4º Para os servidores de gabinete, o horário será fixado pelos respectivos titulares, obedecida a carga horária semanal a que está sujeito cada servidor, por força de lei.

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§ 5º Para os servidores encarregados da limpeza e manutenção dos edifícios, o horário será fixado pelo Chefe do Departamento de Material e Patrimônio, ouvidos a Coordenação de Patrimônio e outros órgãos nos quais esses servidores sejam necessários. § 6º Para os motoristas, o horário será fixado pelo Chefe de Departamento de Material e Patrimônio, ouvida a Coordenação de Transportes, ressalvados os casos dos que estejam lotados em gabinete. § 7º O horário fixado em decorrência do disposto nos parágrafos anteriores será registrado em ponto diariamente. § 8º O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança submete-se a regime de integral dedicação ao serviço, podendo ser convocado sempre que houver interesse da Administração, sem prejuízo das gratificações que lhe forem devidas por força de lei. § 9º Os órgãos que, a critério da Comissão Diretora, devam ter funcionamento ininterrupto, poderão ter a jornada de seus servidores organizada em turnos de revezamento, obedecidos os seguintes parâmetros: I – a jornada de trabalho diária deverá ser de no mínimo seis horas, e trinta horas semanais, devendo, nessa hipótese, ser cumprida sem intervalos; II – a jornada organizada em turnos só se aplicará aos servidores diretamente envolvidos com as necessidades de funcionamento ininterrupto do órgão; III – os quantitativos de pessoal, assim como o número de turnos e as demais condições aplicáveis a cada órgão deverão ser fixadas em ato da Comissão Diretora. § 10. O pagamento de adicional por serviço extraordinário, qualquer que seja a duração da jornada, somente se dará após a 8ª hora diária, até o limite de 50 horas trabalhadas na semana e observado o limite financeiro definido pela Comissão Diretora.

Também no âmbito do Judiciário, o tema já foi objeto de muitas decisões, todas no sentido de reconhecer a jornada especial. É exemplo a sentença do em. Juiz

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da 1ª Vara Federal de Aracaju-Sergipe, Ricardo César Mandarmo Barretto, de cuja fundamentação, por oportuno, se transcreve os seguintes excertos:

“No particular, a portaria 2.343/96, ao alterar a 2.561/95, foi explícita ao disciplinar no art. 1° "... com a finalidade de incluir a categoria funcional de Técnico em Comunicação Social. Área de Jornalismo, na relação dos cargos cuja carga horária seja inferior a quarenta horas semanais.”.

Ora, ninguém tem dúvida de que a portaria abrangeu os jornalistas, tanto que foi específica para os Técnicos em Comunicação Social, a fim de que não houvesse dúvidas em relação a esses. Os jornalistas, na verdade, compõem o núcleo da disposição legal, pois o órgão emissor da portaria fez questão de deixar claro que os Técnicos em Comunicação Social estavam ali incluídos, porque são da área de jornalismo.

Desse modo, difícil é compreender que a portaria alcance aqueles Técnicos, porque são da área de jornalismo, mas tenha deixado de fora os próprios jornalistas. Uma contradição, que o intérprete da norma não pode admitir.

Não se diga que, pelo fato de ter sido retirada a previsão constitucional acerca do regime jurídico único, a diferenciação, nos moldes identificados, seria possível. Se a diferenciação, hipoteticamente instrumentalizada pelo Decreto 94.664/87, foi proibida pela Constituição, mesmo que suprimida, posteriormente, a proibição expressa, o Decreto não volta a ter validade jurídica nesse aspecto, isto é, não ocorre a repristinação da diferenciação. Além disso, há o princípio genérico da igualdade, previsto no art. 5° da CF, o que já seria suficiente para que não se admitisse uma situação como a que sustenta a demandada, confessadamente discriminatória.

Posto isso, creio que deva ser observada, no caso, a aludida portaria, mais especificamente em suas disposições acerca do cargo de Técnico em Comunicação Social.

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Por oportuno, reitera-se a seguir uma série expressiva de precedentes jurisprudenciais trabalhistas, em cuja Justiça há muito se consolidou o entendimento de aplicar a jornada especial aos jornalistas que exercem quaisquer das atividades previstas no art. 2º do Decreto-lei nº 972/69, independentemente da natureza do órgão ou da empresa em que estão contratados ou lotados. Eis:

EMENTA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 302, 303 E 304 DA CLT. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. DA FUNÇÃO DE JORNALISTA DO RECLAMANTE. O exame da pretensão recursal exigiria investigação do contexto fático-probatório, de modo a se verificar o exercício ou não da profissão de jornalista por parte do autor. Tal procedimento, contudo, não é possível em recurso de natureza extraordinária, nos moldes do Enunciado nº 126 do TST. Demais disso, o Regional concluiu, do quadro fático delineado, que as atividades desempenhadas pelo reclamante repórter-fotográfico - correspondiam às atribuições típicas do cargo de jornalista, descritas no art. 2° do Decreto n° 83.284/79, que regula a profissão. Por outro lado, tal como registrado no acórdão regional, o reclamado, MESMO COM ATIVIDADE PRINCIPAL DIVERSA, PROMOVIA PUBLICAÇÃO EXTERNA DE SUAS PUBLICAÇÕES, de conformidade com o Decreto-Lei nº 972/69, EQUIPARANDO-SE, DESTA FORMA, ÀS EMPRESAS JORNALÍSTICAS, para efeito de assegurar a jornada especial prevista no artigo 303 da CLT. Por conseguinte, prescindível a indicação de ofensa a preceitos legais e constitucionais e de divergência jurisprudencial (Enunciado nº 126 do TST), o que torna o aresto colacionado inespecífico em relação à tese adotada pelo Regional, aplicando-se, nesta última hipótese, o En. 296/TST para a não admissibilidade da revista. Portanto, não há violação aos artigos 302, 303 e 304 da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não provido. AIRR - 1905/2001-011-02-40 Relator – Juiz Convocado Cláucio Couce de Menezes DJ - 15/10/2004. EMENTA

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“(...) II - RECURSO DE REVISTA DA TRANSBRAÇAL. JORNADA DE CINCO HORAS. - Fixado pelo Regional que as atividades exercidas pela reclamante se equiparavam às de jornalista (art. 302, §2º, CLT), pois escrevia matérias para a Secretaria de Transporte e cobria as viagens do Secretário, bem como salientado o registro no Ministério do Trabalho como jornalista profissional, correta a aplicação da jornada especial, ainda que a empresa não seja empresa jornalística. Isso porque o artigo 3º do Decreto-Lei 972, de 17/10/1969, estabelece que se equipara à empresa jornalística, com a finalidade de assegurar jornada reduzida de cinco horas para o jornalista profissional, a empresa responsável por edição de publicação destinada à circulação externa. (AIRRRR - 35225-2002-900-02-00, TST 4ª Turma, Rel. Min. Antônio José de Barros Levenhagen, DJ de 15-08-2003) EMENTA RECURSO DE REVISTA. JORNADA DE JORNALISTA EM EMPRESA NÃO JORNALÍSTICA. - Do quadro fático delineado, tendo concluído o Colegiado de origem que, a despeito do cargo de "Comunicador Social", as atividades desempenhadas pela demandante não correspondiam às atribuições típicas de tal cargo descritas no plano de cargos e salários, evidenciando um desvio de função, mas sim às de jornalistas, descritas no art. 2° do Decreto n° 83.284/79, que regula a profissão, consistentes na busca de informação para redação de notícias e artigos, organização, orientação e direção de trabalhos jornalísticos, objetivando a veiculação de comunicação de circulação interna e externa, afigura-se incensurável a conclusão recorrida de ser irrelevante o fato de se tratar de empresa de informática, ou seja empresa não jornalística. (TST, RR - 9677-2002-900-09-00, TST 4ª Turma, Rel. Min. Antônio José de Barros Levenhagen, DJ de 13-02-2004) EMENTA

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. JORNALISTA. ENQUADRAMENTO. EMPRESA NÃO-JORNALÍSTICA. - Partindo do pressuposto de que o Decreto-Lei nº 972 de 17.10.69 - que dispõe sobre o exercício da profissão de jornalista - sofreu nova regulamentação pelo Decreto nº 83.284 de 13.03.79, o qual em seu art. 3º, § 2º c/c o art. 15, recepcionaram a jornada de cinco horas aos jornalistas que trabalham em empresas não-jornalísticas, escorreito, nos presentes autos, o deferimento das horas extras excedentes daquela. (TST AIRR nº 767035/2001, 5ª Turma, Rel. Juiz convocado André Luiz Moreira de Oliveira; Reclamada Companhia Estadual de Energia Elétrica – CEEE-RS). EMENTA JORNALISTA - EMPRESA NÃO-JORNALÍSTICA - JORNADA REDUZIDA - APLICAÇÃO DO DECRETO-LEI Nº 972/69. - A discussão está centrada na aplicação da jornada dos jornalistas ao reclamante, empregado de empresa não-jornalística. Estabelece o Decreto-Lei nº 972/69, que: "Equipara-se à empresa jornalística a seção ou serviço de empresa de radiodifusão, televisão ou divulgação cinematográfica, ou de agência de publicidade, onde sejam exercidas as atividades previstas no artigo 2º" (art. 3º, § 1º). O art. 2º, por sua vez, dispõe que a profissão de jornalista compreende a coleta de notícias ou informações e seu preparo para divulgação ("g"). Consignado pelo Regional que o reclamante, jornalista, exerceu funções relacionadas com a sua atividade profissional e que "dentre as atividades desenvolvidas para a Ré, preparava material para imprensa em geral, escrita e falada e visual, folhetos, textos para filmes, colhia e redigia notícias, entrevistas, reportagens em geral para o Boletim Informativo de Furnas, audiovisuais e outras atividades correlatas com a formação do Reclamante", certamente que a reclamada se equipara a empresa jornalística, razão pela qual é assegurado ao reclamante o direito à jornada de trabalho reduzida de cinco horas. (TST, RR nº 666560/2000, 4ª Turma, Rel. Min. Milton de Moura

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França, DJ de 14/11/2004, Recorrente Furnas Centrais Elétricas). “JORNALISTA. ENQUADRAMENTO. EMPRESA NÃO JORNALÍSTICA. 1. Equipara-se à empresa jornalística, para efeito de assegurar a jornada especial de cinco horas ao jornalista (CLT, art. 303), a empresa cuja atividade seja diversa, mas promova a publicação de periódico destinado à circulação externa, de conformidade com o Decreto-lei nº 972/69. Assim, empregado de empresa não jornalística pode beneficiar-se da aludida jornada reduzida. (...)” RR - 749398/2001 Relator – JOD DJ - 23/05/2003. “JORNALISTA - JORNADA ESPECIAL. Ao contratar empregado cuja profissão encontra-se regulamentada, obriga-se o empregador a respeitar e cumprir as normas próprias da categoria. São extras as horas trabalhadas a partir da quinta diária. Aplicação do Decreto-lei novecentos e setenta e dois de sessenta e nove, independentemente do ramo de atividade do empreendimento reclamado. (...)” Decisão: 21 05 1997 RR 222069/1995.

Da regulamentação e dessa jurisprudência citada se pode extrair pelo menos três certezas fundamentais:

- a primeira é que a de que os jornalistas do serviço público federal, incluindo suas autarquias e empresas públicas, já gozam do direito à jornada especial de cinco horas;

- a segunda é que se encontra superada definitivamente a compreensão de que a jornada especial seria restrita às empresas jornalísticas, tal como uma leitura desatenta do art. 303 do Decreto-lei nº 5.452/43 poderia sugerir; e

- a terceira é a de que é a natureza da atividade desenvolvida pelo profissional que assegura o direito à jornada especial e não a natureza do órgão ou da empresa onde presta o serviço.

A propósito, em recentíssima decisão sobre o tema, o Tribunal Superior do Trabalho, julgando o Recurso de Revista nº 2.708/2000-008-05-00.7, relatado pelo Ministro Brito Pereira, decidiu que "o jornalista, mesmo trabalhando em empresa não

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jornalística, tem direito à jornada reduzida prevista no art. 303 da CLT, tendo em vista que o que norteia as obrigações é a atividade desenvolvida pelo profissional, sendo irrelevante o ramo da empresa". E que "se equipara a empresa jornalística, aquela cuja atividade seja diversa, mas promova a publicação de periódico destinado à circulação externa, em conformidade ao Decreto-Lei 972/69".

No mesmo sentido, decidiu a 7ª Turma do mesmo TST no julgamento do Agravo de Instrumento no Recurso de Revista nº 110133/2003-900-04-00.7:

O Regional, soberano na análise da prova dos autos, consignou que a reclamante trabalhava como jornalista em empresa não jornalística, e que as suas atividades eram de edições para publicações destinadas apenas a circulação interna. Tal premissa fática afasta a possibilidade de deferir à reclamante as horas extras laboradas após a 5ª hora diária, a teor do artigo 3º, § 2º, do Decreto nº 83.284/79, segundo o qual a entidade pública ou privada não jornalística, sob cuja responsabilidade se editar publicação destinada a circulação externa, está obrigada ao cumprimento deste decreto, relativamente aos jornalistas que contratar. Assim, diante desse quadro fático traçado pelas instâncias ordinárias, é inviável concluir de modo diverso, sem adentrar o conjunto probatório dos autos, o que é vedado, a teor da Súmula nº 126 do TST. Desse modo, não se há de falar em ofensa aos dispositivos apontados, tampouco em divergência jurisprudencial, em torno da questão da prova. Ressalte-se que o 1º aresto colacionado à fl. 1.001, oriundo do TRT da 1ª Região, firma a tese de que o jornalista que trabalha em empresa que edita boletim interno, em grande escala, faz jus à jornada de 5 horas. Ora, tal assertiva é distinta da presente hipótese, porquanto o Regional não consignou a premissa de que a edição dos informativos se dava em grande escala. Incidência da Súmula nº 296, I, do TST. Não conheço, no particular. (Processo: RR - 110133/2003-900-04-00.7, Data de Julgamento: 30/09/2009, Relator Ministro: Pedro Paulo Manus, 7ª Turma, Data de Divulgação: DEJT 09/10/2009).

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Apesar de o TST nestas recentes decisões ter utilizado o critério da circulação externa para efeito de se aplicar a jornada especial aos jornalistas, é certo que tal exigência não é condição para se reconhecer o direito aos servidores públicos que ocupam cargos, independentemente de sua denominação, cuja condição para o exercício seja a formação em jornalismo e em cuja descrição de funções constam as atividades privativas de jornalistas constantes do art. 2º do Decreto-lei nº 972/69 e cujo Edital do Concurso tenha explicitado as mesmas exigências de formação superior e de preparo profissional para desempenho das mesmas atividades. Aliás, foi o que fizeram as Portarias nº 2.343/96, nº 1.100/2006 e nº 222/2008, respectivamente do Ministério da Reforma do Estado e do Ministério do Planejamento e Gestão.

No caso do Senado Federal, mesmo que se considerasse essencial a demonstração da natureza externa da circulação da produção jornalística dos seus profissionais, também se imporia a obrigação de assegurar a jornada especial a uma, porque, não há dúvida que a produção jornalística do Senado Federal se destina à veiculação externa tanto por suas emissoras de rádio e TV, quanto por meio dos seus veículos impressos e pelos sítios na internet; e, a duas, porque a descrição dos cargos ocupados pelos profissionais também faz menção às atividades privativas de jornalistas previstas no art. 2º do Decreto-lei nº 972/69 e à mesma natureza da circulação externa:

“ao Analista Legislativo, Área de Comunicação Social, Especialidade Comunicação Social, incumbe atividades de supervisão, coordenação ou execução especializadas, em graus variados de complexidade, referentes a trabalhos de relações públicas, propaganda e marketing, opinião pública, jornalismo e produção de conteúdos para serem divulgados por meios impressos e eletrônicos; e executar outras atividades correlatas”.

“ao Técnico Legislativo, Área de Comunicação Social, Especialidade Comunicação Social, incumbe atividades de coordenação ou execução especializada, sob supervisão e orientação, referentes aos trabalhos desenvolvidos no âmbito da comunicação social, em especial nas áreas de relações públicas, propaganda e marketing, opinião pública, jornalismo e produção de conteúdos para serem divulgados por meios impressos e eletrônicos; e executar outras atividades correlatas."

Posto isso, impõe-se a conclusão de que é de cinco horas diárias a jornada dos jornalistas do Senado Federal, independentemente da denominação dos

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cargos que ocupam, tal como previsto no caput do artigo 9º do Decreto-lei nº 972/69, repetido pelo artigo 15 do Decreto nº 83.284/79, em linha com o art. 302 do Decreto-lei nº 5.452/43, haja vista que esta legislação atende ao caráter de leis “especiais” ou “específica” exigidas pelo art. 19 da Lei nº 8.112/90 e pela Resolução nº 09/89 do Senado Federal e suas modificações posteriores.

E, por derradeiro, a propósito do que dispõe o § 10 da minuta de Regulamento ora em debate no Senado Federal, alhures citado, e em decorrência da conclusão contida no parágrafo anterior, há que se concluir, também, que a jornada excedente a cinco horas diárias deverá ser remunerada como serviço extraordinário, sob pena de se incorrer na tomada de serviço gratuito, o que é vedado pelo ordenamento jurídico pátrio, e, em consequência, no enriquecimento ilícito da Administração.

É o parecer.

Brasília, 30 de setembro de 2009.

Claudismar Zupiroli

OAB-DF nº 12.250 (7)

7 Advogado militante nos tribunais superiores e especialista na regulamentação profissional dos jornalistas. Foi consultor jurídico do Governo do Distrito Federal; consultor jurídico (Procurador-Geral) da Câmara Legislativa do Distrito Federal; assessor jurídico da Presidência da Câmara dos Deputados; chefe da assessoria jurídica da Procuradoria-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Distrito Federal; chefe de Assessoria Jurídica na Câmara Federal e assessor parlamentar na Assembléia Legislativa do Paraná e Câmara Legislativa do Distrito Federal; é assessor jurídico dos jornalistas desde 1996.