exemplo de parecer da visa sobre defesa dos

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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DO CONTROLE DE DOENÇAS CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA-GVS XVI BOTUCATU Avenida Santana, 353 Centro Botucatu CEP: 18603710. Fone/Fax: (14)3811 4630 e-mail: [email protected] EXEMPLO DE PARECER DA VISA SOBRE DEFESA DOS ESTABELECIMENTOS - ALEGAÇÃO INCOMPETÊNCIA DO SUS - Em relação alegação da empresa autuada sobre a eventual incompetência das autoridades sanitárias fiscalizadoras para inspeção em ambiente do trabalho discorremos. A Constituição Federal é o mais importante instrumento jurídico e de máxima eficácia jurídica que ampara a saúde do trabalhador no SUS. Antes da edição da carta constitucional a saúde do trabalhador era competência exclusiva do direito do trabalho e fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho, cujas normas de segurança e medicina do trabalho se encontram compiladas na CLT Consolidação das Leis do Trabalho (Brasil, 1943), Ao analisarmos a Constituição Federal no que se refere ao tema central que é a competência, vemos que cuidar da saúde traz em seu bojo a competência comum, ou seja, concorrente para legislar nas três esferas do governo União, Estados/DF e municípios, artigos 23, II, 24, XII e 30, II. (BRASIL, 1988) Agora explicitamente no capitulo da norma constitucional que trata da saúde atribui competência ao SUS o artigo 200: “Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei (...) II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador”. Importante o entendimento desta questão legal, vez que, inúmeras vezes as equipes que executam ações de vigilância em saúde do trabalhador tem se deparado com estes questionamentos, discussão da competência da saúde nas atribuições legais, conflitando saúde, previdência, meio ambiente e enfaticamente com o Ministério do Trabalho. Da Lei 8080/90 citamos o art. 6º: “Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde SUS: I- a execução de ações: a) vigilância sanitária; b) vigilância epidemiológica; c) de saúde do trabalhador: e

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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DO CONTROLE DE DOENÇAS CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA-GVS – XVI – BOTUCATU Avenida Santana, 353 – Centro – Botucatu – CEP: 18603710. Fone/Fax: (14)3811 4630 – e-mail: [email protected]

EXEMPLO DE PARECER DA VISA SOBRE DEFESA DOS ESTABELECIMENTOS

- ALEGAÇÃO INCOMPETÊNCIA DO SUS -

Em relação alegação da empresa autuada sobre a eventual incompetência das autoridades sanitárias fiscalizadoras para

inspeção em ambiente do trabalho discorremos. A Constituição Federal é o mais importante instrumento

jurídico e de máxima eficácia jurídica que ampara a saúde do trabalhador no SUS. Antes da edição da carta constitucional a saúde do trabalhador era competência exclusiva do direito do trabalho e

fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho, cujas normas de segurança e medicina do trabalho se encontram compiladas na CLT – Consolidação

das Leis do Trabalho (Brasil, 1943),

Ao analisarmos a Constituição Federal no que se refere ao tema central que é a competência, vemos que cuidar da saúde traz em

seu bojo a competência comum, ou seja, concorrente para legislar nas três esferas do governo União, Estados/DF e municípios, artigos 23, II,

24, XII e 30, II. (BRASIL, 1988)

Agora explicitamente no capitulo da norma constitucional que trata da saúde atribui competência ao SUS o artigo 200:

“Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras

atribuições, nos termos da lei (...)

II - executar as ações de vigilância sanitária e

epidemiológica, bem como as de saúde do

trabalhador”.

Importante o entendimento desta questão legal, vez que, inúmeras vezes as equipes que executam ações de vigilância em saúde

do trabalhador tem se deparado com estes questionamentos, discussão da competência da saúde nas atribuições legais, conflitando saúde, previdência, meio ambiente e enfaticamente com o Ministério do

Trabalho. Da Lei 8080/90 citamos o art. 6º:

“Estão incluídas ainda no campo de atuação do

Sistema Único de Saúde – SUS:

I- a execução de ações:

a) vigilância sanitária;

b) vigilância epidemiológica;

c) de saúde do trabalhador: e

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DO CONTROLE DE DOENÇAS CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA-GVS – XVI – BOTUCATU Avenida Santana, 353 – Centro – Botucatu – CEP: 18603710. Fone/Fax: (14)3811 4630 – e-mail: [email protected]

d) de assistência terapêutica integral,

inclusive farmacêutica.

(...)

E no mesmo dispositivo legal define o entendimento sobre saúde do trabalhador.

“ § 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins

desta lei, um conjunto de atividades que se destina,

através das ações de vigilância epidemiológica e

vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde

dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e

reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de

trabalho:

I - assistência ao trabalhador vitima de

acidente de trabalho ou portador de doença

profissional e do trabalho;

II - participação, no âmbito de

competência do Sistema Único de Saúde – SUS, em

estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e

agravos potenciais à saúde existentes no processo de

trabalho;

III – participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde – SUS, da

normatização, fiscalização e controle das condições

de produção, extração, armazenamento, transporte,

distribuição e manuseio de substâncias, de produtos,

de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;

IV – avaliação do impacto que as

tecnologias provocam à saúde;

V – informação ao trabalhador e sua

respectiva entidade sindical e a empresas sobre os

riscos de acidente de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados das

fiscalizações, avaliações ambientais e exames de

saúde, de admissão, periódicos e de demissão,

respeitados os preceitos da ética profissional;

VI – participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do

trabalhador nas instituições e empresas públicas e

privadas;

VII – revisão periódica da listagem

oficial de doenças originadas no processo de

trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e

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VIII – a garantia ao sindicato dos

trabalhadores de requerer ao órgão competente a

interdição de máquina de setor de serviço ou de todo

o ambiente de trabalho, quando houver exposição a

risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores”. (BRASIL, 1990)

Enfim, é a partir destas duas leis que o mandamento constitucional de direito à saúde passa a ser disciplinado e

regulamentado.

Ainda no tocante a saúde do trabalhador a Lei Federal

nº.8.080/90 ainda fez menção a criação da Comissão intersetorial de saúde do trabalhador – CIST, com a finalidade de articular políticas e programas voltados para a área.

Avançando para os dispositivos legais de forma hierarquizada, apresentamos agora de forma especial duas portarias de importância fundamental para a área, são elas:

- Portaria MS nº. 3.908 de 30 de setembro de 1998 – Norma Operacional de Saúde do Trabalhador (NOST) a qual estabelece

procedimentos que orientam e instrumentalizam as ações e serviços de saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde,

- Portaria MS nº. 3120, de 01 de julho de 1998, que

aprovou a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS. Referida portaria é de suma importância pela dimensão dada ao conceito de vigilância em saúde do trabalhador, partindo do

pressuposto que o sistema de saúde, embora deva ser preservado nas suas particularidades regionais, deve ter linhas mestres de atuação,

“especialmente pela necessidade de se compatibilizarem instrumentos, bancos de informações e intercâmbio de experiências”.

Visando dar sustentação legal aos argumentos

contextualizaram desenvolvendo o tema sobre a compreensão e análise das competências em saúde do trabalhador no SUS, trazendo a baila

farto arcabouço jurídico que transcrevemos a seguir:

“A saúde e segurança de todos, inclusive dos trabalhadores, urbanos e rurais, estão inseridos como direitos sociais (art. 6º), que se

desdobram, dentre outros, no direito à “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por normas de saúde, higiene e segurança” (art. 7º, inciso XXII, CF). No artigo 23, inciso II, a Constituição Federal atribui

competência comum à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para “cuidar da saúde e assistência pública (...)”. No título

VIII (“Da Ordem Social”), Seção II (“Da Saúde”), a Constituição Federal,

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no artigo 196, explicita que a “saúde é direito de todos e dever do

Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação”. (BRASIL, 1988)

Assim, para cumprimento do dever de proteção e defesa da

saúde, a Constituição Federal, em seu artigo 24, inciso XII, prescreve como competência da União, dos Estados e do Distrito Federal, legislar concorrentemente sobre: “previdência social, proteção e defesa da

saúde”.

A competência para legislar, fiscalizar e controlar o direito a saúde é explicitada no artigo 197 da Constituição Federal, como do

Poder Público, entendido como todos os entes da Federação, não apenas da União Federal, quando assim estabelece: “São de relevância pública

as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e,

também, por pessoa física ou jurídica de direito privado”. (BRASIL, 1988)

“A competência dos entes federados é comum, porque o artigo 198 da Constituição Federal estabelece que as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada,

constituindo um sistema único (o Sistema Único de Saúde (SUS) – financiado com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras

fontes – organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II –

atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade.”

Assim é que, aos entes federados, como integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS), a Constituição Federal, no artigo 200, atribui dentre outras as de executar ações de saúde do trabalhador.

A Lei federal nº 8.080/90, denominada Lei Orgânica da Saúde (LOS), veio regulamentar os dispositivos constitucionais citados.

Destaca a saúde como direito fundamental do ser humano e dever do Estado em prover as condições necessárias ao seu pleno exercício (art. 2º). O dever do Estado de garantir a saúde “consiste na formulação e

execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de

condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos

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serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.” (art. 2º, par.

1º).

No seu artigo 4º, a Lei federal nº 8.080/90 estabelece que o “conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e

instituições públicas federais, estaduais e municipais da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui

o Sistema Único de Saúde (SUS)”. Discrimina, ainda, no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS), no artigo 6º, as seguintes ações:

“Art. 6º- Estão incluídas ainda no campo de

atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):

I – a execução de ações:

a) de vigilância sanitária;

b) de vigilância epidemiológica;

c) de saúde do trabalhador; e

(...)

V – a colaboração na proteção do meio ambiente,

nele compreendido o do trabalho;

(...)

Os dispositivos constitucionais e infraconstitucionais citados é que devem servir de delineamento jurídico para a solução da

questão.

Para tanto, cabe ressaltar que os direitos sociais, tal como o direito à saúde, identificados em tradicional classificação doutrinária,

como direitos fundamentais de segunda geração, de regra impõem ao Estado a obrigação de realizar prestações positivas no sentido de sua

concretização. Esses direitos são reflexos do princípio fundamental da dignidade humana, tão importante que a própria Constituição Federal o coloca como um dos fundamentos da República (art. 1º, inciso III).

(BRASIL, 1988)

Configuram-se, portanto, como direitos sociais o direito a saúde e o direito ao meio ambiente do trabalho ecologicamente

equilibrado, como essencial à sadia qualidade de vida, tendo como corolário o princípio fundamental da dignidade humana, cujas funções

levam à conclusão de que sua disciplina constitucional e infraconstitucional é outra, diversa da que rege as relações trabalhistas, o direito do trabalho.

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Percebe-se, pois, que a questão em debate envolve tanto o

direito à saúde como o direito ao meio ambiente do trabalho. Não tem qualquer relação com o direito do trabalho que disciplina as relações trabalhistas entre empregado e empregador, sobre o qual a competência

para legislar, fiscalizar e realizar autuações é de competência exclusiva da União Federal.

Foi, assim, amparado pelos diversos dispositivos constitucionais citados, pela Lei federal nº 8.080/90, e pela própria Constituição Estadual (arts. 191 e 229, par. 2º), que a Vigilância

Sanitária, para cumprir seu dever como integrante do Sistema Único de Saúde, amparou-se na Lei Estadual nº. 10.083, de 23 de setembro de 1998 - Código Sanitário do Estado de São Paulo( SÃO PAULO, 1998)

que em seu artigo 2º, deixa claro os princípios e os seus objetivos:

“Os princípios expressos neste Código disporão sobre

proteção, promoção e preservação da saúde, no que

se refere às atividades de interesse à saúde e meio

ambiente, nele incluído o do trabalho, e têm os seguintes objetivos”:

I – assegurar condições adequadas à saúde, à

educação, à moradia, ao transporte, ao lazer e ao

trabalho;

II – promover a melhoria da qualidade do meio

ambiente, nele incluído o do trabalho, garantindo condições de saúde, segurança e bem-estar público;

(grifo nosso)

III – assegurar condições adequadas de qualidade na

produção, comercialização e consumo de bens e

serviços de interesse à saúde, incluídos

procedimentos, métodos e técnicas que as afetem;

IV – assegurar condições adequadas para prestação de

serviços de saúde;

V – promover ações adequadas para prestação de

serviços de saúde;

VI – assegurar e promover a participação da comunidade nas ações de saúde. (BRASIL, 1998)

No artigo 11, a Lei Estadual assinala que constitui:

“finalidade das ações de vigilância sanitária sobre

o meio ambiente o enfrentamento dos problemas

ambientais e ecológicos de modo a serem sanados ou minimizados a fim de não representarem risco á

vida, levando em consideração aspectos da

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economia, da política, da cultura e da ciência e

tecnologia, com vistas ao desenvolvimento

sustentado, como forma de garantir a qualidade de

vida e a proteção do meio ambiente.”(BRASIL,1998)

A competência dos profissionais de Vigilância Sanitária e Epidemiológica está outorgada no artigo 92 da citada lei estadual:

“Os profissionais das equipes de Vigilância Sanitária

e Epidemiológica, investidos das suas funções

fiscalizadoras, serão competentes para fazer cumprir

as leis e regulamentos sanitários, expedindo termos,

autos de infração e de imposição de penalidades, referentes á prevenção e controle de tudo quanto

possa comprometer a saúde”. (BRASIL, 1998)

No título IV (artigos 110 a 122) dispõe sobre as infrações sanitárias e respectivas penalidades. Já no título V (artigos 123 a 138)

dispõe sobre os procedimentos administrativos das infrações de natureza sanitária. (BRASIL, 1998)

Fica, assim, demonstrada a competência constitucional e legal das autoridades sanitárias fiscalizadoras para as ações

questionadas pelo autuado. Entendimento contrário colocará por terra todo o Sistema Único de Saúde no tocante à defesa da saúde do trabalhador e do meio ambiente do trabalho ecologicamente equilibrado.

Especificamente sobre o meio ambiente do trabalho:

Obviamente, o direito à saúde do trabalhador pressupõe

também o direito ao meio ambiente laboral ecologicamente equilibrado por ser essencial à sua sadia qualidade de vida, que também está erigido como um direito social arts. 200, inciso VII, e 225, caput e

incisos IV e VI, e par. 3º, CF.

Mesmo que a questão pudesse ser circunscrita ao meio

ambiente do trabalho, não se poderia concluir pela competência exclusiva da União federal ou pela mera colaboração dos demais entes federados.

A Constituição Federal de 1988 dedica um capítulo específico ao tema meio ambiente, contemplando diversos de seus

aspectos. Sua interpretação, como regra básica, não pode ser isolada, mas sistemática, não se podendo olvidar de todos os princípios e normas contidas na própria Constituição e nos Tratados Internacionais.

O conceito fundamental de meio ambiente deve ser extraído do artigo 225 da Constituição Federal, que assim dispõe:

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“Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do

povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-

se ao Poder Público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Esse conceito de meio ambiente está repercutido no artigo

3º, inciso I, da Lei nº 6.938/81, como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, obriga e rege a vida em todas as suas formas.” (BRASIL, 1981).

Trata-se de um conceito jurídico indeterminado, para sua concretização, a doutrina classifica-o em meio ambiente natural, meio ambiente artificial, meio ambiente cultural e meio ambiente do

trabalho.

A concepção moderna, portanto, do meio ambiente do

trabalho deve ser fruto de uma interpretação sistemática dos princípios e normas constitucionais e dos Tratados Internacionais pertinentes.

Esse é o caminho percorrido por Carlos Henrique Bezerra leite, para apresentar uma moderna concepção de meio ambiente do

trabalho:

“Visando à operacionalização do direito ao meio

ambiente do trabalho, parece-nos que o intérprete

deverá valer-se das seguintes normas e princípios:

a) da Constituição Federal: arts. 1º, III e IV, 6º, 7º,

XXII, XXIII, XXVIII, XXXIII, 200, VIII, 225 (a saúde

como bem ambiental):

b) dos Tratados Internacional: Convenções da

Organização Internacional do Trabalho nºs 148, 155, 161, e 170;

As normas relativas à segurança e medicina do

trabalho, previstas na CLT, Título II, Capítulo V (arts.

154 a 223), na Lei n. 6.514/77 e Portaria n. 3.214/78

e respectivas Normas regulamentares, devem ser

adaptadas aos princípios e normas constitucionais, bem como aos tratados internacionais acima

referidos.

A concepção moderna de meio ambiente do trabalho,

portanto, está relacionada com os direitos humanos,

notadamente o direito à vida, à segurança e à saúde. Esses direitos, na verdade, constituem corolários dos

princípios fundamentais da dignidade da pessoa

humana e da cidadania.

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Supera-se, assim, a concepção tradicional da

doutrina juslaboralista pátria, calcada apenas nas

normas técnicas da CLT e das Normas

Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e

Emprego, que preconizam o meio ambiente do trabalho tão-somente sob a perspectiva da medicina,

higiene e segurança do trabalho.

O novo conceito de meio ambiente do trabalho é

extraído da interpretação sistemática das referidas

normas em cotejo com as previstas nos artigos 200, VII, 7º XXII e XXVIII, da CF, in verbis:

“Art. 200 – Ao sistema único de saúde

compete, além de outras atribuições, nos termos da

lei:

(...)

VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.”

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores

urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social:

(...)

XXII – redução dos riscos inerentes ao

trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e

segurança;

XXVIII – seguro contra acidentes do

trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a

indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

Feita essa operação, chega-se ao conceito de meio

ambiente do trabalho, que passa a ser, segundo

Sidnei Machado, o “conjunto das condições internas

e externas do local de trabalho e sua relação com a saúde dos trabalhadores”.

Para o mundo do trabalho prossegue o citado autor

“essa aproximação do meio ambiente com a saúde do

trabalhador, numa perspectiva antropocêntrica,

coloca a ecologia dentro da política. O produtivismo

é a lógica do modo de produção, capitalista, cuja irracionalidade dilapida a natureza para sua

reprodução. Essa é a verdadeira fonte da crise

ecológica, que também gera a exploração desenfreada

da força do trabalho que coloca em perigo a vida, a

saúde ou o equilíbrio psíquico dos trabalhadores.” “(in “Meio Ambiente do Trabalho na perspectiva dos

Direitos Humanos”, Revista do Ministério Público do

Trabalho na Paraíba, nº 1, fevereiro 2005, pp.22/24).

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Assim é forçoso concluir que o meio ambiente do trabalho,

desde a edição da atual Constituição Federal, não é matéria objeto de disciplina do direito do trabalho.

A competência para a defesa do meio ambiente, seja ele do meio ambiente natural, do meio ambiente artificial, do meio ambiente

cultural ou do meio ambiente do trabalho, é comum entre a União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Segue anexo, parte do Parecer Jurídico1 da Promotoria de

Justiça intitulado SUS: Competência nas Ações de Saúde do

Trabalhador1 tem como autores a Dra. Lenir Santos, advogada,

especialista em Direito Sanitário, Dra. Leila Maria Reschke, Procuradora do Município de Porto Alegre o Dr. Antônio Lopes Monteiro,

Promotor de Justiça de Acidentes do Trabalho do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Foram extraídos parágrafos desse documento e, quando

pertinente, comentários foram feitos.

1. PARECER JURÍDICO:

1.1. Introdução

“Alegam muitos que a Saúde do Trabalhador é competência exclusiva do Ministério do Trabalho, cabendo ao Ministério da Saúde e às secretarias estaduais e municipais de saúde, tão somente, o papel de colaboradores do Ministério do Trabalho, mediante convênio.”

“O Ministério do Trabalho afirma que as ações e os serviços de vigilância em Saúde do Trabalhador, executadas pelos órgãos competentes do Sistema Único de Saúde nas três esferas de governo invadem a competência privativa da União.”

“A discussão conduz a um aparente conflito positivo de competência para fiscalizar os ambientes de trabalho, no que tange à Saúde do Trabalhador: de um lado, os órgãos do Sistema Único de Saúde, nas suas três esferas de governo e, de outro, a exclusividade da União através do Ministério do Trabalho (MTb).”

1.2 Contextualizando

“Até o advento da Constituição de 1988, a Saúde no Brasil limitava-se a um direito do trabalhador, que consistia em assistência sanitária,

1Legislação em Saúde. Caderno de Legislação em Saúde do Trabalhador. 2ª edição revista e ampliada.

Editora MS. Brasília – DF. 2005.

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hospitalar e médico-preventiva (art. 165, XV da Constituição de 1967/69), com contraprestação do Estado àqueles trabalhadores contribuintes da Previdência Social.

O anterior Sistema Nacional de Saúde, organizado de acordo com a Lei nº. 6.229/75 (revogada expressamente pela Lei nº. 8080/90) incluía as ações e os serviços executados pelos Ministérios da Saúde, da Previdência e Assistência Social, do Trabalho, do Interior e da Educação e Cultura. A Saúde do

Trabalhador estava no âmbito do Ministério do Trabalho.

Esta lei definia o Sistema Nacional de Saúde da seguinte forma:

“ o complexo de serviços do setor público e do setor privado, voltados para as ações de interesse da saúde, constitui o Sistema Nacional de Saúde, organizado e disciplinado nos termos da lei, abrangendo as atividades que visem à promoção, proteção e recuperação da saúde, nos seguintes campos...”

e distribuía competência para a execução dos serviços de saúde entre os Ministérios acima mencionados, conferindo ao Ministério do Trabalho competência para “ cuidar da higiene e segurança do trabalho, prevenção de acidentes, de doenças profissionais e desenvolver programas de preparação de mão-de-obra para o setor saúde.”

Na atual Constituição, todas as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e constituem um sistema único, organizado de forma descentralizada, com direção única em cada esfera de governo (art. 198).

1.3. A Saúde do Trabalhador

“...quando a Constituição Federal estabelece o regramento

de direito da saúde, visando precipuamente à redução do risco de doença e de outros agravos (art.196) e prevê como diretriz básica o atendimento integral, priorizando as ações preventivas (art. 198, II) reconhece ao Sistema Único de Saúde a competência para atuar preventivamente no ambiente de trabalho.” (GRIFO NOSSO)

(...)

“ Convém ressaltar que, como as doenças profissionais e do trabalho invariavelmente são irreversíveis, e os acidentes de trabalho deixam seqüelas em regra permanentes, a medicina curativa ou assistencial pouco ou nada resolve nesta área. Portanto, a prevenção no próprio ambiente de trabalho ainda é o meio mais eficaz no combate à doença e acidente de trabalho.”

(...)

“ Desse modo, negar a competência do Sistema Único de

Saúde de inspecionar os ambientes de trabalho e processos de trabalho, além de contrariar as prioridades estabelecidas na Constituição de 1988 ( no caso, a atuação preventiva no cuidado à saúde), parece-nos ensejar responsabilidade por omissão do poder público competente, em razão do poder-dever conferido ao SUS pela Lei Orgânica da Saúde (LOS)...”

“Assim, a fim de realmente efetivar os princípios e regras constitucionais que amparam a Saúde do Trabalhador, necessariamente há que se reconhecer a competência do SUS para fiscalizar ou inspecionar os ambientes de trabalho. Entendimento diverso, implicaria em restringir a competência do Sistema Único

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de Saúde tão-só à espera impotente do trabalhador já doente ou acidentado pra dele cuidar no estabelecimento de saúde.”

1.4. A Inspeção do Trabalho

“Inspeção do trabalho, competência privativa da União (art. 21, XXIV), exercida nos termos da organização administrativa federal, pelo Ministério do Trabalho, não pode mais compreender ações e serviços de Saúde do Trabalhador, sob pena de tal entendimento gerar um conflito de competência dentro do próprio Texto Constitucional, o que não é possível admitir, já que a Constituição não pode conter disposições contraditórias.”

“Inspeção do trabalho deve ser entendida, pois, como o conjunto de todas as ações e serviços que digam respeito às relações de trabalho, isto é, à verificação do cumprimento da legislação trabalhista (CLT), como registro do trabalho em carteira, trabalho do menor, cumprimento de carga horária, horas extras, trabalho noturno etc. abrangendo apenas a fiscalização nas empresas privadas, excluídas as entidades públicas, Essas atividades são típicas do Ministério do Trabalho, entretanto, não podem compreender ações ligadas à saúde, por serem próprias do Ministério da Saúde, no âmbito federal. E por imperar o princípio constitucional (art. 198, I) da direção única em cada esfera de governo, não há que se falar em dois setores da mesma esfera governamental cuidando de saúde, sob pena de se ferir o princípio constitucional inscrito no artigo 198, I.”

“Tendo a Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde) definido o que seja Saúde do Trabalhador, não há como confundi-la como inspeção do trabalho, uma vez que a própria Constituição inseriu a inspeção do trabalho na competência privativa da União, enquanto conferiu às três esferas de governo competência para cuidar da saúde e assistência pública, tendo, coerentemente com os demais artigos, incluído no campo de incidência do SUS, a Saúde do Trabalhador (arts. 23, II e 200, II,

da CF).”

“Por conclusivo, podemos afirmar que a expressão inspeção do trabalho, constante no inciso XXIV, art. 21, da Constituição Federal, não

compreende a Saúde do Trabalhador.”

“De sorte que, depois da Constituição atual, inspecionar

o trabalho (art. 21, XXIV) engloba tão-só a relação empregador-empregado, ou seja, tudo que for objeto de contrato de trabalho, excetuadas as ações em Saúde do Trabalhador e ambiente de trabalho.” (GRIFO NOSSO).

1.5. Sobre Competências

“Sendo a inspeção do trabalho competência material privativa da União (art. 21, XXIIV) por sorte não se pode admitir que dentro deste

conceito resida expressão Saúde do Trabalhador.”

“Ora, Saúde do Trabalhador está no campo de incidência do SUS e o SUS é um sistema de saúde de âmbito nacional, cuja competência material é comum das três esferas do governo: União, estados e municípios.”

“Assim, é competência comum das três esferas de governo (União, estados e municípios) de acordo com o que dispõe o artigo 23, II da Constituição Federal, cuidar da saúde da população.”

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(...)

Citando novamente LENIR SANTOS,

“Além de todos os problemas que são causados, dentro do SUS, na execução dessa atividade, este assunto é agravado com a interferência de outros Ministérios, no caso, o Ministério do Trabalho e também da autarquia federal, o INSS.

Por já ter tratado desse assunto em outra obra, “ Comentários à Lei Orgânica da Saúde”, em co-autoria com Guido Ivan de Carvalho, transcrevo aqui, o seguinte:...note-se que determinadas ações referentes à Saúde do Trabalhador estavam em alçada do Ministério do Trabalho, porque este abrangia a Previdência Social (Ministério do Trabalho e Previdência Social) e o sistema de

previdência social era responsável anteriormente não só pela assistência à Saúde do Trabalhador urbano e rural como também pelos benefícios, auxílios, pensões, aposentadorias, acidentes de trabalho e a reabilitação profissional.

A legislação infraconstitucional anterior que esteja em conflito com a Constituição de 86 (que inovou o sentido e o conteúdo da seguridade social, deixando a saúde de ser um aspecto da Previdência Social) não pode subsistir, por inconstitucionalidade ou, como entende o STF, por revogação.

Nessa conformidade, deve ser revista toda a legislação referente à inspeção do trabalho (Decreto nº 55.841, de 15.3.65, com as alterações dos Decretos 57.819, de 15.2.66 e 65.557, de 21.10.69 – Regulamento da Inspeção do Trabalho) e à Segurança e Saúde do Trabalhador (arts. 154 e seguintes da CLT e correspondentes Normas Regulamentares, expedidas anteriormente à Constituição de 88 e à Lei Orgânica da Saúde, bem como a recente legislação de estruturação do Ministério do Trabalho e redefinição de funções de seus órgãos, e do Ministério da Previdência e entidades vinculadas (INSS), a qual não observou a competência

constitucional do SUS, uma vez que: previdência social não compreende mais saúde; a Saúde do Trabalhador está no âmbito do SUS e todas as ações e serviços públicos de saúde são executados pelo SUS.

As atividades ligadas à Saúde do Trabalhador devem ser praticadas pela vigilância sanitária e vigilância epidemiológica. Nesse sentido, a atribuição dada a cada gestor do SUS para a execução de ações e serviços compreendidos no âmbito da vigilância sanitária há de se coadunar com a competência no campo da Saúde do Trabalhador. ”(grifo nosso)

Neste diapasão, a Procuradora Raquel Elias Ferreira Dodge muito bem definiu que:

“O Ministério do Trabalho realiza ações de fiscalização e vigilância do trabalho (art. 21, XXIV), justificada por diversas situações diretamente envolvidas nas relações de trabalho, como o trabalho escravo, ou de menores, o trabalho ilícito, a duração de trabalho, e que só indiretamente interessam à saúde.

O Ministério da Previdência Social realiza ações tendentes a verificar o direito a benefícios previdenciários, tais como a atividade de perícia médica,

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inclusive para verificação de capacidade laborativa residual ou das profissões compatíveis com a reabilitação profissional, ou que caracterizem concessão de benefício.

Neste sentido, as ações compreendidas no âmbito de atribuições do Ministério do Trabalho e da Previdência Social só indiretamente interessam ao Sistema Único de Saúde.

Este é, portanto, o critério atribuidor ou diferenciador das diferentes atribuições de cada Ministério”

“Em suma, as ações de Saúde do Trabalhador no ambiente de trabalho competem exclusivamente aos órgãos que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), cuja competência está distribuída entre as três esferas de governo, na forma dos artigos 16, 17 e 18 da Lei Orgânica da Saúde.”

2. LEGISLAÇÃO

a) A Constituição da República Federativa do Brasil

promulgada em 5 de outubro de 1988, Título VII - Da Ordem Social, Capítulo II –

Da Seguridade Social, Seção II – Da Saúde, dispõe em seu artigo 200 que:

“Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

(...)

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica bem como as de saúde do trabalhador;

(...)

VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho” (grifos nossos).

Já o artigo 6º do Título II – Dos Direitos e

Garantias Fundamentais, Capítulo II, Dos Direitos Sociais, dispõe que:

“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, etc., na forma desta Constituição.”

b) Da Lei Orgânica da Saúde, Lei Federal nº. 8.080 de

19 de setembro de 1990, que:

“dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes e dá outras providências” cabe destacar o que se segue:

Art. 2º “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.

(...)

Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e

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serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. (grifo nosso)

Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. (grifo nosso)

Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:

I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;

(...)

III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.

Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do

Sistema Único de Saúde (SUS):

I - a execução de ações:

a) de vigilância sanitária;

b) de vigilância epidemiológica;

c) de saúde do trabalhador; (grifo nosso)

(...)

V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;

(...)

§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, (...).

(...)

§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou

coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.

§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo:

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I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de

trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho;

II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho;

III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador; (GRIFO NOSSO).

IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;

V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional;

VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e

VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de

requerer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores.

c)A Constituição do Estado de São Paulo (1989), em seu Título VII, Da Ordem Social, Capítulo II, Da Seguridade Social, Seção II, dispõe o

seguinte:

Artigo 220 - As ações e os serviços de saúde são de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle.

§ 1º - As ações e os serviços de preservação da saúde abrangem o ambiente natural, os locais públicos e de trabalho. (grifo nosso)

(...)

Artigo 223 - Compete ao Sistema Único de Saúde, nos termos da lei, além de outras atribuições:

(...)

II - a identificação e o controle dos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, mediante, especialmente, ações referentes à:

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a ) vigilância sanitária;

b ) vigilância epidemiológica;

c ) saúde do trabalhador; (...)

VI - a colaboração na proteção do meio ambiente, incluindo do trabalho, atuando em relação ao processo produtivo para garantir: (grifo nosso)

a) o acesso dos trabalhadores às informações referentes a atividades que comportem riscos à saúde e a métodos de controle, bem como aos resultados das avaliações realizadas;

b) adoção de medidas preventivas de acidentes e de

doenças do trabalho;

VII - a participação no controle e fiscalização da produção, armazenamento, transporte, guarda e utilização de substâncias de produtos psicoativos, tóxicos e teratogênicos;

d) Do Código de Saúde do Estado de São Paulo - Lei

Complementar Estadual Nº. 791 de 9 de março de 1995, que dispõe sobre a organização, a regulamentação, a fiscalização e o controle das ações e dos serviços de

saúde nas esferas estadual e municipal, cabe destacar:

Artigo 3º - O estado de saúde, expresso em qualidade de vida, pressupõe:

1.Condições dignas de trabalho, de renda, de alimentação e nutrição, de educação, de moradia, de saneamento, de transporte e de lazer, assim como o acesso a esses bens e serviços essenciais; (...) (grifo nosso)

Seção III, Da Competência do Município, Artigo 18:

Compete à direção municipal do SUS, além da observância do disposto nos artigos 2º e 12 deste Código:

(...)

3. Executar ações e serviços de:

(...)

6. saúde do trabalhador; e (...) (grifo nosso)

Já na Seção IV, dos Locais de Trabalho,

Artigo 34º - Compete à autoridade sanitária, de ofício ou mediante denúncia de risco à saúde, proceder à avaliação das fontes de risco no meio ambiente, nele incluídos o local e os processos de trabalho, e determinar a adoção das providências para que cessem os motivos que lhe deram causa.

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Artigo 35º - Ao sindicato de trabalhadores, ou

representante que designar, é garantido requerer a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo o ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou a saúde dos empregados.

(...)

§ 2º - O Estado e os Municípios atuarão para garantir a saúde e a segurança dos empregados nos ambientes de trabalho. (grifo nosso)

As ações referentes à saúde do trabalhador também estão

dispostas no Código Sanitário do Estado de São Paulo, Lei 10.083, de 23 de

Setembro de 1988. Este exímio diploma legal, dedica o Título II às disposições sobre

Saúde e Trabalho.

Para finalizar, o Estado de São de Paulo dispõe ainda da

Lei da Saúde dos Trabalhadores, Lei Nº. 9.505, de 11 de Março de 1997, que

disciplina as ações e os serviços de saúde dos trabalhadores no Sistema Único de

Saúde. Deste importante diploma legal cabe destacar o artigo 7º:

“Compete ainda à autoridade local do SUS fiscalizar regularmente de ofício, por critério epidemiológico, ou mediante denúncia de risco à saúde física ou mental, proceder à avaliação das fontes de risco no ambiente de trabalho e determinar a adoção das devidas providências para que cessem os motivos que lhe deram causa, conforme expresso no artigo 34 da Lei Complementar n° 791/95.” (SÃO PAULO, 1997).