parecer pgfn 492 de 2011

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DESPACHOS DO MINISTRO Em 24 de maio de 2011 Assunto: Relao Jurdica Tributria Continuativa. Modificao dos Suportes Ftico Ou Jurdico. Limites Objetivos da Coisa Julgada. Jurisprudncia do Pleno do STF. Cessao Automtica da Eficcia Vinculante da Deciso Tributria Transitada Em Julgado. Os precedentes objetivos e definitivos do STF constituem circunstncia jurdica nova, apta a fazer cessar, prospectivamente, e de forma automtica, a eficcia vinculante das anteriores decises transitadas em julgado, relativas a relaes jurdicas tributrias de trato sucessivo, que lhes forem contrrias. Aprovo o PARECER PGFN/CRJ/N 492/2011, 30 de maro de 2011, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, que concluiu que: i) quando sobrevier precedente objetivo e definitivo do STF em sentido favorvel ao Fisco, este pode voltar a cobrar o tributo, tido por inconstitucional em anterior deciso tributria transitada em julgado, em relao aos fatos geradores praticados dali para frente, sem que necessite de prvia autorizao judicial nesse sentido; (ii) quando sobrevier precedente objetivo e definitivo do STF em sentido favorvel ao contribuinte-autor, este pode deixar de recolher o tributo, tido por constitucional em anterior deciso tributria transitada em julgado, em relao aos fatos geradores praticados dali para frente, sem que necessite de prvia autorizao judicial nesse sentido. Publique-se o presente Despacho e o Parecer PGFN/CRJ/N 492/2011 no Dirio Oficial da Unio (DOU). ANEXO PARECER PGFN/CRJ/N 492/2011 Deciso Transitada Em Julgado Que Disciplina Relao Jurdica Tributria Continuativa. Modificao dos Suportes Ftico/Jurdico. Limites Objetivos da Coisa Julgada. Supervenincia de Precedente Objetivo/Definitivo do STF. Cessao Automtica da Eficcia Vinculante da Deciso Tributria Transitada Em Julgado. Possibilidade de Voltar a Cobrar O Trbuto, Ou de Deixar de Pag-lo, em Relao a Fatos Geradores Futuros. 1.A alterao das circunstncias fticas ou jurdicas existentes ao tempo da prolao de deciso judicial voltada disciplina de uma dada relao jurdica tributria de trato sucessivo faz surgir uma relao jurdica tributria nova, que, por isso, no alcanada pelos limites objetivos que balizam a eficcia vinculante da referida deciso judicial. Da por que se diz que, alteradas as circunstncias fticas ou jurdicas existentes poca da prolao da deciso,

esta naturalmente deixa de produzir efeitos vinculantes, dali para frente, dada a sua natural inaptido de alcanar a nova relao jurdica tributria. 2.Possuem fora para, com o seu advento, impactar ou alterar o sistema jurdico vigente, por serem dotados dos atributos da definitividade e objetividade, os seguintes precedentes do STF: (i) todos os formados em controle concentrado de constitucionalidade, independentemente da poca em que prolatados; (ii) quando posteriores a 3 de maio de 2007, aqueles formados em sede de controle difuso de constitucionalidade, seguidos, ou no, de Resoluo Senatorial, desde que, nesse ltimo caso, tenham resultado de julgamento realizado nos moldes do art. 543-B do CPC; (iii) quando anteriores a 3 de maio de 2007, aqueles formados em sede de controle difuso de constitucionalidade, seguidos, ou no, de Resoluo Senatorial, desde que, nesse ltimo caso, tenham sido oriundos do Plenrio do STF e confirmados em julgados posteriores da Suprema Corte. 3.Os precedentes objetivos e definitivos do STF constituem circunstncia jurdica nova, apta a fazer cessar, prospectivamente, eficcia vinculante das anteriores decises tributrias transitadas em julgado que lhes forem contrrias. 4.A cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado opera-se automaticamente, de modo que: (i) quando se der a favor do Fisco, este pode voltar a cobrar o tributo, tido por inconstitucional na anterior deciso, em relao aos fatos geradores praticados dali para frente, sem que necessite de prvia autorizao judicial nesse sentido; (ii) quando se der a favor do contribuinte-autor, este pode deixar de recolher o tributo, tido por constitucional na deciso anterior, em relao aos fatos geradores praticados dali para frente, sem que necessite de prvia autorizao judicial nesse sentido. 5.Face aos princpios da segurana jurdica, da no surpresa e da proteo confiana, bem como por fora do art. 146 do CTN, nas hipteses em que o advento do precedente objetivo e definitivo do STF e a conseqente cessao da eficcia da deciso tributria transitada em julgado sejam pretritos ao presente Parecer, a publicao deste configura o marco inicial a partir do qual o Fisco retoma o direito de cobrar o tributo em relao aos fatos geradores praticados pelo contribuinte-autor. I Definio do objeto do presente Parecer e registros preliminares O presente Parecer tem por escopo enfrentar questo cujo pano de fundo o intrigante e atual tema dos "reflexos gerados pela alterao da jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal (STF) em relao coisa julgada em matria tributria". Mais especificamente, e indo direto ao ponto, o questionamento que se pretende responder ao longo deste Parecer o seguinte: em que medida a eficcia da deciso transitada em julgado que se volta para uma relao jurdica tributria sucessiva, considerando-a existente ou inexistente, impactada, em relao aos seus desdobramentos futuros, pela supervenincia de jurisprudncia do STF em sentido contrrio ao sufragado pela referida deciso? 2.Na prtica, a questo acima referida tem se apresentado Fazenda Nacional nos seguintes termos: a sentena transitada em julgado em que, por exemplo, se reconhece empresaautora o direito de no pagar determinado tributo face inconstitucionalidade da lei que o instituiu, possui o condo de eximir essa empresa do pagamento de tal tributo eternamente, mesmo em relao a fatos geradores ocorridos aps a consolidao da jurisprudncia do STF no sentido da total constitucionalidade da referida lei tributria? Ou, a mesma questo, agora

apresentada sob outra perspectiva: a sentena transitada em julgado em que se reconhece ser devido o tributo, face constitucionalidade da respectiva lei de incidncia, permite que o Fisco continue cobrando tal tributo da empresa-autora mesmo em relao a fatos geradores ocorridos aps a consolidao da jurisprudncia do STF no sentido da total inconstitucionalidade da mencionada lei? 3. essa a questo que se pretende enfrentar no presente Parecer. Antes disso, todavia, vale fazer dois registros iniciais ou preliminares. 4.Pelo primeiro registro, pretende-se dar os devidos crditos a todos os que contriburam, de forma mais direta, com a elaborao deste Parecer. Nessa linha, cumpre desde logo referir que as consideraes e concluses adiante expostas tomaram como ponto de partida, bem como inspirao constante, os estudos capitaneados - brilhantemente, frise-se - pelo Procurador da Fazenda Nacional Dr. PAULO MENDES DE OLIVEIRA, especialmente ao tempo de sua atuao nesta Coordenao-Geral de Representao Judicial (CRJ); desses estudos, alis, resultou minuta de Parecer da qual foram extrados muitos dos conceitos e das idias a seguir apresentadas. 5.E mais: este Parecer fruto, ainda, dos longos e profcuos debates instaurados no mbito desta Coordenao de Consultoria Judicial (COJUD), da Coordenao-Geral de Representao Judicial (CRJ), acerca do tema nele tratado, bem como dos debates travados na Audincia Pblica promovida, a seu respeito, pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional em junho de 2010. Por fim, ainda neste contexto, tambm no poderia deixar de ser registrado que alguns dos temas que sero analisados no presente Parecer j foram abordados no mbito da PGFN, embora de forma um pouco diversa da que ser desenvolvida a seguir, em duas valiosas manifestaes: no Parecer PGFN/CRJ n. 1.277/94, elaborado pelo Procurador da Fazenda Nacional Dr. OSWALDO OTHON DE PONTES SARAIVA FILHO, e na anlise sobre o cabimento de ao rescisria, elaborada pelo Procurador da Fazenda Nacional Dr. ARTHUR ALVES DA MOTA em 30 de janeiro de 2004, posteriormente corroborada pela Nota PGFN/CRJ 410/2004. Essas duas manifestaes tambm inspiraram o presente trabalho. 6.J pelo segundo registro preliminar, pretende-se, j neste momento inicial, espancar eventuais dvidas quanto ao objeto que ser realmente enfrentado no presente Parecer. Com esse escopo, vale esclarecer que no se pretende tratar, a seguir, da conhecida questo da "relativizao da coisa julgada inconstitucional", embora seja certo que esta - quando trazida para o campo do Direito Tributrio-, assim como a que ser especificamente enfrentada neste Parecer, possuem o mesmo tema como "pano de fundo", qual seja, o j referido tema dos "reflexos gerados pela alterao da jurisprudncia do STF em relao coisa julgada em matria tributria". Apesar de tal semelhana, essas duas questes so, na essncia, bastante diferentes, conforme restar melhor detalhado e explicado em momento oportuno; por ora, basta ter-se em mente que, enquanto a questo objeto do presente Parecer volta-se a apreciar o impacto que a nova jurisprudncia do STF produz em relao aos desdobramentos futuros da coisa julgada que disciplina relao jurdica tributria de trato continuado, a "relativizao da coisa julgada inconstitucional", por outro lado, volta-se para o passado, permitindo a reviso dos efeitos pretritos da deciso tributria transitada em julgado contrria posterior jurisprudncia do STF. E essa diferena possui grande repercusso prtica, conforme ser adiante demonstrado.

7.Feitos esses registros preliminares, passa-se, finalmente, ao enfrentamento do objeto do presente Parecer. II O impacto causado pela jurisprudncia do STF em relao eficcia vinculante de deciso judicial transitada em julgado voltada disciplina de relao jurdica tributria sucessiva a) A alterao nos suportes ftico ou jurdico da deciso tributria transitada em julgado faz cessar, prospectivamente, a sua eficcia vinculante 8.Como se sabe, o juzo de certeza contido nas sentenas judiciais proferidas nos autos de processos de conhecimento recai, primordialmente, sobre a incidncia, ou no, de determinada norma sobre um dado suporte ftico nela previsto; ocorridos os fatos previstos em lei ("suporte ftico") como aptos a fazer incidir a norma geral e abstrata (suporte jurdico), esta incide, nascendo, da, a relao jurdica de direito material. , precisamente, essa relao jurdica de direito material que ser declarada como existente ou inexistente na sentena, e esse juzo de certeza (sobre a existncia ou inexistncia da relao, com as conseqncias jurdicas da decorrentes) que se torna imutvel e vinculante quando acobertado pela coisa julgada. 9.Quando a deciso transitada em julgado se volta a disciplinar as chamadas relaes jurdicas de direito material sucessivas, ou de trato continuado - assim entendidas como sendo aquelas que nascem, ou podem nascer, de fatos geradores que se repetem no tempo de maneira uniforme e continuada (e que, ao se repetirem, fazem-se repetir o fenmeno da incidncia) -, declarando-as existentes ou inexistentes, a imutabilidade e a eficcia vinculante que dela decorre recair, tambm, sobre os desdobramentos futuros da declarao de existncia ou inexistncia dessas relaes jurdicas. De fato, conforme esclarece o Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, " sabido que tal situao, por seu carter duradouro, est apta a perdurar no tempo, podendo persistir quando, no futuro, houver repetio de outros fatos geradores instantneos, semelhantes ao examinado na sentena. Nesses casos, admite-se a eficcia vinculante da sentena tambm em relao aos eventos recorrentes. Isso porque o juzo de certeza desenvolvido pela sentena sobre determinada relao jurdica concreta decorre, na verdade, de juzo de certeza sobre situao jurdica mais ampla, de carter duradouro, componente, ainda que mediata, do fenmeno da incidncia". (Grifou-se). 10.Ocorre que a imutabilidade e a eficcia vinculante da deciso transitada em julgado apenas recair sobre os desdobramentos futuros da declarao, nela contida, de existncia ou inexistncia da relao jurdica de direito material sucessiva deduzida em juzo, se e enquanto permanecerem inalterados os suportes ftico e jurdico existentes ao tempo da sua prolao, ou seja, se e enquanto continuarem ocorrendo aqueles mesmos fatos e continuar a incidir (ou a no incidir) aquela mesma norma sob os quais o juzo de certeza se formou. Alteradas as circunstncias fticas ou jurdicas existentes poca da prolao da deciso, o que se faz possvel em face da natureza conhecidamente dinmica dos fatos e do direito, essa deciso naturalmente deixa de produzir efeitos vinculantes, dali para frente; trata-se da clusula rebus sic stantibus subjacente s sentenas em geral, com especial destaque quelas que se voltam disciplina de relaes jurdicas de trato continuado. 11.Veja-se que isto se d - e eis aqui ponto essencial compreenso de tudo o que ser dito a seguir -, por razes ligadas aos limites objetivos da coisa julgada, que determinam que a eficcia vinculante que emana das decises transitadas em julgado recaia, apenas, sobre a

especfica relao jurdica de direito material deduzida em juzo (apontada como existente ou inexistente) e nela apreciada, e no sobre qualquer outra. Assim, modificados os fatos existentes ao tempo da prolao da deciso, ou alterado o direito ento aplicvel espcie, estar-se- diante de nova relao jurdica de direito material, que, justamente por ser diferente daquela nela declarada, de modo definitivo em razo do seu posterior trnsito em julgado, como existente ou inexistente, no poder ser alcanada pelos efeitos vinculantes da referida deciso. Tanto assim que essa nova relao jurdica material poder ser objeto de debate e deciso em nova demanda, sem que isso encontre bice na coisa julgada anterior. 12.Vistos esses conceitos basilares, impende traz-los integralmente ao campo do Direito Tributrio, para nele permanecer at o final deste Parecer. Como se sabe, as relaes jurdicas desenvolvidas nesse campo, travadas entre Fisco e sujeitos passivos tributrios, assumem, frequentemente, uma feio continuada, eis que se repetem no tempo de forma sucessiva e homognea, nascendo todas as vezes que ocorre, no mundo dos fatos, a hiptese de incidncia prevista na lei tributria; dessa repetio de relaes jurdicas tributrias no tempo, resulta, de forma tambm contnua e homognea, a obrigao de pagar o correspondente tributo. 13.Pode-se afirmar, ento, luz dos conceitos acima expostos, que a deciso transitada em julgado que disciplina determinada relao jurdica tributria sucessiva (daqui para frente chamada, apenas, de "deciso tributria transitada em julgado"), julgando- a, por exemplo, inexistente por considerar que a respectiva norma de incidncia incapaz de efetivamente incidir (o que tem como conseqncia jurdica imediata a impossibilidade de que o Fisco exija, do autor da ao, o tributo ali discutido), deixar de produzir efeitos vinculantes a partir do momento em que se verificar que as circunstncias de direito existentes ao tempo da sua prolao se alteraram (os fatos continuam ocorrendo, mas o direito mudou). 14.Conseqncia disso, e j antecipando o que ser melhor desenvolvido mais adiante, que, no exemplo acima, os fatos geradores praticados pelo contribuinte-autor aps a alterao das circunstncias jurdicas - e a conseqente cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado - podero naturalmente sofrer a incidncia da lei tributria (ou nova, ou alterada), surgindo da, de um lado, a obrigao de recolher o tributo, e, de outro, o direito de cobr-lo, sem que represente bice a tanto a existncia de coisa julgada anterior. O mesmo ocorrer caso a alterao recaia sobre o suporte ftico existente ao tempo da prolao da deciso tributria transitada em julgado: a sua eficcia vinculante deixar de operar a partir dessa modificao ftica. 15.Deixando de lado as possibilidades de alteraes nos suportes fticos capazes de fazer cessar a eficcia vinculante da deciso tributria passada em julgado, que so inmeras, tantas quantas permite a liberdade humana, passa-se a centrar o foco no aspecto que verdadeiramente interessa ao presente Parecer, donde vem a pergunta: quais so as alteraes nas circunstncias jurdicas existentes ao tempo da prolao da deciso tributria posteriormente transitada em julgado que so capazes de fazer cessar a sua eficcia vinculante? 16.Para que se responda a essa pergunta, h que se manter em mente, como verdadeira premissa, o seguinte: as modificaes nas circunstncias jurdicas existentes ao tempo da prolao da deciso tributria posteriormente transitada em julgado capazes de fazer cessar a sua eficcia vinculante so aquelas que, quando ocorridas, fazem surgir uma relao jurdica tributria nova, diversa da deduzida inicialmente na demanda e, por isso mesmo, no

alcanada pelos limites objetivos da coisa julgada ali formada. Portanto, so aquelas que impactam ou alteram o prprio sistema jurdico vigente - assim entendido como o conjunto de normas (regras e princpios) predestinadas a disciplinar o convvio social -, representando, de certa forma e sob algum aspecto relevante, "direito novo". 17.Fixada essa premissa, faz-se possvel identificar, como um primeiro e mais bvio exemplo desse tipo de circunstncia jurdica, as alteraes da legislao tributria, cujo advento acarreta o surgimento de uma relao jurdica tributria nova e, por isso mesmo, capaz de fazer cessar a eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado formada com base na legislao anterior: o que se tem, por exemplo, quando uma empresa considerada, em sentena transitada em julgado, isenta do pagamento de determinado tributo e, posteriormente, a lei que lhe confere tal iseno revogada; ora, a referida sentena foi proferida quando vigente uma determinada ordem jurdica em que existia norma conferindo a iseno reconhecida; com a revogao dessa norma, a anterior sentena transitada em julgado deixa de produzir efeitos para o futuro, o que permite que o Fisco passe a cobrar, do contribuinte-autor, o tributo em relao aos fatos geradores por ele praticados dali para frente. 18.Registre-se, alis, que a doutrina e a jurisprudncia ptrias j h algum tempo vm reconhecendo, sem maiores controvrsias, que a deciso transitada em julgado sob a gide de uma dada ordem normativa perde seus efeitos vinculantes, para o futuro, com o advento de uma nova legislao, no sendo apta a disciplinar atos praticados com base na ordem normativa sobrevinda; nesse sentido, vale conferir elucidativo acrdo recentemente proferido pela Corte Especial do STJ: "CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO. GRATIFICAO ASSEGURADA POR DECISO JUDICIAL. SUPERVENINCIA DE LEI FIXANDO NOVOS VENCIMENTOS. ABSORO DAS VANTAGENS ANTERIORES, ASSEGURADA A IRREDUTIBILIDADE DOS VENCIMENTOS. LEGITIMIDADE. EFICCIA TEMPORAL DA COISA JULGADA, OBSERVADA A CLUSULA REBUS SIC STANTIBUS. PRECEDENTES (MS 11.145, CE, MIN. JOO OTVIO, DJE 03/11/08). 1. Ao pronunciar juzos de certeza sobre a existncia, a inexistncia ou o modo de ser das relaes jurdicas, a sentena leva em considerao as circunstncias de fato e de direito que se apresentam no momento da sua prolao. Tratando-se de relao jurdica de trato continuado, a eficcia temporal da sentena permanece enquanto se mantiverem inalterados esses pressupostos fticos e jurdicos que lhe serviram de suporte (clusula rebus sic stantibus). Assim, no atenta contra a coisa julgada a superveniente alterao do estado de direito, em que a nova norma jurdica tem eficcia ex nunc, sem efeitos retroativos. Precedentes da CE e de Turmas do STJ. 2. No caso, a superveniente Lei 10.475/02, dispondo sobre os vencimentos de servidores pblicos, operou a absoro dos valores anteriores, inclusive o das vantagens asseguradas por sentena, mas preservou a irredutibilidade mediante o pagamento de eventuais diferenas como direito individual (art. 6). Legitimidade da norma, conforme deciso do STF, adotada como

fundamento do ato atacado. 3. Mandado de segurana denegado". (Grifou-se). (STJ, MS n. 11045, Corte Especial, Relator Min. Teori Albino Zavascki, DJE 25/02/2010). 19.Mas a alterao legislativa no a nica mudana no suporte jurdico existente ao tempo da prolao da deciso tributria passada em julgado que, por fazer surgir uma relao jurdica tributria diversa da nela apreciada, mostra-se capaz de fazer cessar a sua eficcia vinculante, para o futuro: conforme restar demonstrado no tpico a seguir, a consolidao da jurisprudncia do STF em sentido diverso daquele sufragado na deciso tributria transitada em julgado tambm representa, em determinadas hipteses, significativa alterao do suporte jurdico sob o qual o juzo de certeza nela contido se formou, e, assim, revela-se capaz de fazer cessar a eficcia vinculante dele emanada. b) O advento de precedente objetivo e definitivo do STF em sentido diverso do sufragado em anterior deciso tributria transitada em julgado representa circunstncia jurdica nova e faz cessar a sua eficcia vinculante b.1 - A jurisprudncia do Plenrio do STF, em controle concentrado ou, em algumas hipteses, difuso de constitucionalidade, possui fora para impactar ou alterar o sistema jurdico vigente 20.Sabe-se que a ordem constitucional vigente imputou Suprema Corte a funo institucional precpua de exercer a guarda da Constituio Federal, atribuindo-lhe, para tanto, o monoplio para proferir a ltima palavra no que pertine anlise da compatibilidade das leis em face da Constituio, bem como interpretao do prprio texto constitucional. De fato, quando o STF, no exerccio desse mister constitucional, profere deciso reconhecendo, em carter final, a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de um determinado dispositivo legal, o que da resulta a resoluo definitiva acerca da capacidade, ou no, de incidncia dessa norma, o que no pode deixar de surtir reflexos, num primeiro momento, no prprio sistema jurdico vigente e, num segundo momento, e por conseqncia, nas relaes jurdicas que possuem - ou possuiriam- como suporte jurdico o dispositivo legal apreciado. 21.Com efeito, dada a fora de que se revestem alguns dos precedentes oriundos do STF, explicada, dentre outros fatores, justamente pela mencionada funo institucional atualmente atribuda Suprema Corte, no h como negar que o advento desses precedentes possui o condo de conferir norma (constitucional ou legal) por eles apreciada um atributo novo: a condio de norma definitivamente interpretada ou analisada pelo rgo responsvel por dar a palavra final sobre o tema. Assim, se antes de proferido o pronunciamento definitivo da Suprema Corte ainda podia pairar alguma dvida sobre, por exemplo, a compatibilidade ou no de um dado dispositivo legal com a Constituio Federal, ou, ainda, sobre qual a correta interpretao a ser dada a um determinado dispositivo constitucional, com o seu advento todas as eventuais dvidas so substitudas por um juzo de certeza final acerca do tema. Conforme ensina TEORI ALBINO ZAVASCKY, o "STF o guardio da Constituio. Ele o rgo autorizado pela prpria Constituio a dar a palavra final em temas constitucionais. A Constituio, destarte, o que o STF diz que ela . Eventuais controvrsias interpretativas perante outros tribunais perdem, institucionalmente, toda e qualquer relevncia frente ao pronunciamento da Suprema Corte". 22.Da que, diante da roupagem e das funes institucionais conferidas, pela ordem constitucional positiva, Suprema Corte, certo que as suas decises definitivas, uma vez

proferidas, incorporam- se ao sistema jurdico vigente - assim entendido, repita-se, como o conjunto de normas (regras e princpios) predestinadas a disciplinar o convvio social -, agregando-lhe um elemento at ento inexistente, e que consiste, justamente, no j mencionado juzo de certeza acerca da constitucionalidade, ou no, de uma determinada lei, ou acerca da correta interpretao de uma dada norma constitucional. Esse juzo de certeza termina por se prender ou se incorporar prpria lei analisada, cuja aplicao, ou, conforme o caso, cuja no aplicao, dever, dali por diante, estar nele pautada. Assim, sob essa tica, pode-se afirmar que alguns dos precedentes oriundos do STF impactam ou alteram o sistema jurdico vigente, que passa a ser integrado por um novo elemento. 23.Importa ressaltar, entretanto, que para que um precedente do STF seja capaz de efetivamente alterar ou impactar o sistema jurdico vigente, agregando-lhe um elemento novo, faz-se necessrio que nele se possa identificar duas caractersticas essenciais: primeira - que se trate de deciso que enfrenta uma dada questo constitucional de forma objetiva, resolvendo-a em tese, sem qualquer apego a dados subjetivos da demanda concreta; segunda que essa deciso, alm de objetiva, seja definitiva, ou seja, esteja vocacionada a representar a palavra final da Suprema Corte acerca da questo constitucional apreciada. Essas caractersticas, quando conjuntamente presentes em um determinando precedente, permite que se considere que o comando nele contido veicula a resoluo definitiva da Suprema Corte acerca da questo constitucional apreciada, dando-lhe soluo estvel, apta a se aplicar generalidade das situaes que, eventualmente, apresentem questo idntica. 24.E essas duas caractersticas, segundo aqui se entende, fazem-se presentes, ao menos atualmente (mais precisamente, aps 3 de maio de 2007, conforme restar demonstrado mais adiante), nos precedentes do STF formados: (i) em sede de controle concentrado de constitucionalidade das leis ou; (ii) em sede de controle difuso de constitucionalidade, seguidos, ou no, da Resoluo de que trata o art. 52, inc. X da CF/88, desde que, nesse ltimo caso, o precedente tenha resultado de julgamento realizado nos moldes previstos no art. 543-B do Cdigo de Processo Civil (CPC). Ou seja, nos dias atuais, so objetivos e definitivos e, portanto, alteram/impactam o sistema jurdico vigente, agregando-lhe um elemento novo, tanto os precedentes oriundos do Plenrio do STF formados em controle concentrado de constitucionalidade, quanto alguns dos seus precedentes formados em controle difuso, independentemente, nesse ltimo caso, de posterior edio, pelo Senado Federal, da Resoluo prevista no art. 52, inc. X da CF/88. 25.Para que bem se compreenda as razes que embasam tal assertiva, faz-se mister tecer algumas brevssimas consideraes especificamente acerca do perfil assumido, na realidade jurdica atual, pelas modalidades de controle de constitucionalidade - concentrado e difuso existentes na ordem constitucional positiva, quando exercidas pela Suprema Corte, o que, no entanto, ser feito tomando-se como ponto de partida a concepo tradicional acerca do tema. 26.E, nesse embalo, inicia-se com o registro de que, tradicionalmente, identificavam-se duas diferenas primordiais a apartar as decises proferidas pela Suprema Corte em sede de controle concentrado daquelas proferidas em controle difuso de constitucionalidade: 1 - a prpria natureza das decises - enquanto as proferidas em controle concentrado resolveriam as questes jurdicas em tese e a priori, de forma objetiva e geral, como o pedido principal de uma ao originria (principaliter tantum), as proferidas em controle difuso, opostamente, enfrentariam a questo jurdica a posteriori, luz das peculiaridades do especfico caso concreto submetido a julgamento e de acordo com os interesses subjetivos das partes, sempre de forma incidental (incidenter tantum); 2 - a extenso dos efeitos vinculantes - enquanto as

proferidas em controle concentrado possuiriam eficcia vinculante geral (ou seja: fora para vincular os demais rgos jurisdicionais e a Administrao Pblica Direta e Indireta), as proferidas em controle difuso possuiriam, opostamente, eficcia vinculante inter partes (fora para vincular somente as partes das especficas demandas judiciais nas quais so proferidas), que somente passaria a se estender a terceiros caso a lei reconhecida como inconstitucional tivesse a sua eficcia suspensa por Resoluo editada pelo Senado Federal, nos termos do art. 52, inc. X da CF/88. 27.Acontece que essa concepo tradicional acerca das duas modalidades de controle de constitucionalidade tem sido gradualmente relativizada por uma tendncia, verificvel no sistema jurdico ptrio e que j se espraia no mbito da Suprema Corte, de aproximar a natureza e - at mesmo, em algumas situaes, a extenso da eficcia vinculante - das decises proferidas pelo STF nas duas modalidades de controle de constitucionalidade das leis, naquilo que, na feliz expresso de GILMAR FERREIRA MENDES, revela-se como uma tendncia de "dessubjetivao das formas processuais, especialmente daquelas aplicveis ao modelo de controle incidental, antes dotadas de ampla feio subjetiva, com simples eficcia inter partes." 28.Tal tendncia de "dessubjetivao" do controle de constitucionalidade exercido na modalidade difusa, aproximando-o do exercido na modalidade concentrada, pode ser identificada nos seguintes exemplos, escolhidos citao por parecerem revelar uma verdadeira mudana de paradigma, ou, ao menos, um processo de transio nesse sentido: (i) entendimento, manifestado pelo STF no julgamento da ADIN n. 4071, no sentido de que a existncia de prvia deciso do seu Plenrio considerando constitucional determinada norma jurdica, ainda que em sede de Recurso Extraordinrio (em controle difuso, portanto), torna manifestamente improcedente ADIN posteriormente ajuizada contra essa mesma norma. Tal entendimento evidencia que a natureza e a extenso dos efeitos oriundos das decises dadas, pelo STF, em controle concentrado e em controle difuso de constitucionalidade no diferem substancialmente; do contrrio, caso as decises proferidas pelo STF em sede de controle difuso de constitucionalidade apenas vinculassem as partes da demanda concreta, a ADIN antes referida deveria ter sido conhecida e julgada improcedente, justamente a fim de conferir eficcia vinculante erga omnes ao juzo de constitucionalidade da lei analisada; (ii) aplicao do art. 27 da Lei n. 9.868/99 (que, tradicionalmente, servia como instrumento de manejo restrito ao mbito do controle concentrado de constitucionalidade) s decises proferidas pelo STF em sede de controle difuso, de forma a lhes modular os efeitos temporais por razes atinentes "segurana jurdica ou de excepcional interesse social", o que apenas parece fazer algum sentido caso se admita que a fora dessas decises extrapola o mbito exclusivo das demandas concretas por elas especificamente disciplinadas, estendendo-se, tambm, a todas as outras demandas em que se discuta a mesma questo jurdica nela debatida; (iii) criao do instituto da repercusso geral e a sua previso como requisito de admissibilidade dos recursos extraordinrios (ex vi do art. 102, 3 da CF/88, includo pela Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004), de modo a permitir que apenas aqueles recursos que tratem de questes constitucionais relevantes do ponto de vista econmico, poltico, social ou jurdico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa, cheguem apreciao da Suprema Corte;

(iv) j h manifestao monocrtica, oriunda do STF, da lavra do Ministro GILMAR FERREIRA MENDES e acompanhada pelo Min. EROS GRAU, considerando cabvel - e procedente Reclamao Constitucional ajuizada em face da desobedincia, por juiz singular, de deciso proferida pela Suprema Corte nos autos do HC n. 82959/SP (em controle difuso, portanto), sob o fundamento de que as decises proferidas pelo STF em sede de controle difuso de constitucionalidade ostentam eficcia vinculante erga omnes, independentemente da posterior edio de Resoluo pelo Senado Federal, elaborada na forma do art. 52, X da CF/88, a qual teria apenas, hodiernamente, o condo de imprimir publicidade a tais decises. Trata-se de deciso monocrtica proferida nos autos da Reclamao Constitucional n. 4.335/AC, cujo julgamento se encontra, atualmente, sobrestado em razo do pedido de vista feito pelo Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, em 19/04/2007. (v) em outro relevante julgamento, proferido nos autos das ADIN n. 3345 e 3365, restou definido que os "motivos determinantes" subjacentes s decises proferidas pela Suprema Corte em sede de controle difuso de constitucionalidade ostentam "efeitos vinculantes transcendentes", de modo que a sua eficcia vinculante extrapola a esfera restrita e especfica das demandas individuais nas quais tais decises so proferidas, vinculando o destino das demais que enfrentem questo jurdica semelhante. 29.Todos esses exemplos apontam, inequivocamente, para uma mesma direo, ou para uma mesma verdade que j se mostra irrecusvel: as decises proferidas pelo STF em sede de controle difuso de constitucionalidade, quando oriundas do seu rgo Plenrio, independentemente de posterior edio de Resoluo Senatorial, tm assumido um carter objetivo, j que desprendido do caso concreto e de suas vicissitudes. O controle difuso de constitucionalidade, nesse passo, quando exercido pelo Pleno da Suprema Corte, abandona a marca que tradicionalmente o vinculava ao chamado "controle concreto" (posto que feito luz das peculiaridades do caso concreto), passando a ligar-se, tanto quanto o exercido na modalidade concentrada, ao "controle abstrato", em que a questo jurdica levada apreciao analisada em tese, ainda que de forma incidental (incidenter tantum). Mais uma vez, nas palavras de GILMAR FERREIRA MENDES, citadas por FREDIE DIDIER JR.,"o recurso extraordinrio deixa de ter carter meramente subjetivo ou de defesa de interesses das partes, para assumir, de forma decisiva, a funo de defesa da ordem constitucional objetiva. (...) A funo do Supremo nos recursos extraordinrio - ao menos de modo imediato - no a de resolver litgios de fulano ou beltrano, nem a de revisar todos os pronunciamentos das Cortes inferiores. O processo entre as partes, trazido Corte via recurso extraordinrio, deve ser visto apenas como pressuposto para uma atividade jurisdicional que transcende os interesses subjetivos". 30.Esse carter objetivo dos acrdos proferidos, pelo Plenrio do STF, em sede de controle difuso de constitucionalidade talvez tenha atingido o seu ponto mximo com a insero, no sistema processual civil positivo, da sistemtica de julgamento por amostragem dos recursos extraordinrios repetitivos, que, tal qual delineada pelo art. 543-B do CPC (introduzido pela Lei n. 11.418, de 19 de dezembro de 2006), permite que a repercusso geral de questes constitucionais repetitivas seja reconhecida ou negada, de uma s vez, pelo STF, por meio da anlise do recurso extraordinrio "paradigma", escolhido por amostragem; e que, uma vez reconhecida a repercusso geral da questo constitucional repetitiva, o STF passe sua resoluo, por meio do julgamento do mrito do recurso extraordinrio escolhido como paradigma.

31.E mais: parece lcito se afirmar que a sistemtica prevista no art. 543-B do CPC, alm de ter reforado a feio objetiva assumida pelos julgamentos proferidos sob as suas vestes, tambm terminou por conferir a esses julgamentos a vocao de representarem a palavra final e definitiva da Suprema Corte acerca da questo constitucional neles apreciada. que, por resultarem de um procedimento especial e legitimador, os precedentes formados nos termos do art. 543-B do CPC revestem-se de um nvel de definitividade e certeza diferenciado quando comparado quele ostentado pelos precedentes oriundos de julgamentos, ainda que da Suprema Corte, no submetidos nova sistemtica. Isso significa que a alterao, pelo STF, do entendimento contido em precedente judicial formado nos moldes da nova sistemtica, embora possvel, presume-se pouco provvel, e, ao que tudo indica, apenas ocorrer em casos excepcionais e extremos, quando, por exemplo, novos dados possam ser agregados questo constitucional tratada no precedente de modo a demonstrar que a definio nele contida j no mais se apresenta como a melhor tecnicamente, ou, ento, como a mais justa. 32.Assim, os precedentes oriundos do Plenrio do STF, formados em controle difuso de constitucionalidade, nos moldes do art. 543-B do CPC, ostentam carter objetivo e definitivo. No h dvidas, portanto, que, diante da realidade jurdica que atualmente se impe, aquela primeira diferena tradicionalmente apontada, conforme mais acima registrado, como apta a apartar as decises proferidas pela Suprema Corte em sede de controle concentrado de constitucionalidade das proferidas em sede de controle difuso, qual seja, a natureza - objetiva ou subjetiva - de cada uma delas, j no existe mais. Resta saber, todavia, se aquela segunda diferena apontada como existente entre essas duas decises, qual seja, a extenso erga omnes ou inter partes - da eficcia vinculante delas emanada, ainda persiste, ou no, nos dias duais. 33.Quanto a essa especfica questo, abre-se um breve parnteses para registrar - sem qualquer pretenso de aprofundar a anlise -, que, segundo aqui se entende, a feio objetiva e definitiva assumida pelas decises proferidas pelo STF nos moldes do art. 543-B do CPC, em sede de controle difuso de constitucionalidade, que em nada difere daquela que marca as decises proferidas em controle concentrado, j seria suficiente para que se pudesse conferir sua eficcia o carter vinculante erga omnes. 34.De fato, a objetividade que tem caracterizado as decises proferidas pelo Plenrio do STF em controle difuso de constitucionalidade, somada definitividade alcanada quando essas decises resultam de julgamentos formados nos moldes do art. 543-B do CPC, tornam as definies nelas contidas perfeitamente aplicveis, tanto quanto as proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade, a todas as demandas judiciais que, eventualmente, tratem da mesma questo jurdica nelas enfrentadas, sendo aptas, ainda, a reger a atuao da Administrao Pblica Direta e Indireta. Tanto uma (a proferida em controle difuso, nos termos do art. 543-B do CPC) quanto a outra (a proferida em controle concentrado) so oriundas do mesmo rgo (Pleno do STF) e resolvem, de forma igualmente final e estvel, as questes constitucionais que lhes so submetidas, fazendo-o sempre luz da ordem objetiva, sem qualquer apego a eventuais dados subjetivos da causa. 35.Se assim, ento a simples circunstncia de as decises proferidas pelo STF em controle difuso resolverem questes jurdicas de forma incidental, por ocasio do julgamento de recursos, e no de forma principal, por ocasio do julgamento de pedido formulado em ao originria, no parece configurar razo suficientemente relevante para lhes negar a fora de vincular os demais rgos jurisdicionais na resoluo de demandas judiciais que tratem de questes jurdicas idnticas s nelas tratadas, bem como a atuao da Administrao Publica

Direta e Indireta. Note-se que pretender justificar, apenas em tal circunstncia, a diferenciao entre a extenso da eficcia vinculante emanada das decises proferidas pelo Plenrio do STF em controle concentrado e aquela emanada das proferidas, nos moldes do art. 543-B do CPC, pelo mesmo Plenrio, em controle difuso, acaba conduzindo a uma distino absolutamente artificial entre essas duas decises, j que escorada em critrios cuja relevncia, se um dia j se fez presente, certamente inexiste na realidade jurdica atual. 36.E os prprios exemplos mais acima trazidos colao j parecem respaldar tal entendimento: basta conferir, com ateno, o que restou decidido em um deles, mais especificamente no julgamento das ADIN n. 3345 e 3365, antes referido. Neste julgamento, a Suprema Corte definiu, e com fora inequivocamente vinculante erga omnes (posto que em ADIN), que os motivos que fundamentam as suas decises proferidas em controle difuso de constitucionalidade devem ser observados, obrigatoriamente, por todos os demais rgos jurisdicionais, bem como pelos entes da Administrao Pblica Direta e Indireta, quando eventualmente se depararem com questes constitucionais idnticas s definidas em tais decises. Diante de uma manifestao de clareza solar como essa, e de tantas outras semelhantes, cabe a seguinte pergunta, a um s tempo retrica e provocativa: ser que realmente ainda h espao, diante da realidade jurdica que atualmente se impe, para se negar carter vinculante erga omnes eficcia das decises proferidas pelo Plenrio do STF em sede de controle difuso de constitucionalidade (mormente quando formadas nos moldes do art. 543-B do CPC)? 37.O entendimento defendido neste Parecer acerca do tema, alm de, segundo aqui se entende, encontrar respaldo nos exemplos acima elencados, tambm encontra apoio na lio de diversos doutrinadores, dentre os quais se destaca GILMAR FERREIRA MENDES, uma das vozes mais autorizadas no pas sobre o tema: "Como se v, as decises proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle incidental acabam por ter eficcia que transcende o mbito da deciso, o que indica que a prpria Corte vem fazendo uma releitura do texto constante do art. 52, X, da Constituio de 1988, que, como j observado, reproduz disposio estabelecida, inicialmente, na Constituio de 1934 (art. 91, IV) e repetida nos textos de 1946 (art. 64) e de 1967/1969 (art. 42, VIII). Ao se entender que a eficcia ampliada da deciso est ligada ao papel especial da jurisdio constitucional e, especialmente, se considerarmos que o texto constitucional de 1988 alterou substancialmente o papel desta Corte, que passou a ter uma funo preeminente na guarda da Constituio a partir do controle direto exercido na ADIn, na ADC e na ADPF, no h como deixar de reconhecer a necessidade de uma nova compreenso do tema. (...). De qualquer sorte, a natureza idntica do controle de constitucionalidade, quanto s suas finalidades e aos procedimentos comuns dominantes para os modelos difuso e concentrado, no parece mais legitimar a distino quanto aos efeitos das decises proferidas no controle direto e no controle incidental. Somente essa nova compreenso parece apta a explicar o fato de o Tribunal ter passado a reconhecer efeitos gerais deciso proferida em sede de controle incidental, independentemente de interveno do Senado. O mesmo h de se dizer das vrias decises legislativas que reconhecem 'efeito transcendente s decises do STF tomadas em sede de controle difuso. Esse conjunto de decises judiciais e legislativas revela, em verdade, uma nova compreenso do texto constitucional no mbito da Constituio de 1988. possvel, sem qualquer exagero, falar-se aqui de uma autentica mutao constitucional."(Grifou-se).

38.E o mesmo autor, em passagem do voto que proferiu nos autos da ADIN n. 3345, registra que: "De fato, difcil admitir que a deciso proferida na ADIn ou ADC ou ADPF possa ser dotada de eficcia geral e a deciso proferida no mbito do controle incidental - esta muito mais morosa porque em geral tomada aps tramitao da questo por todas as instncias continue a ter eficcia restrita entre as partes." 39.D-se destaque, ainda, enftica lio de DIRLEY DA CUNHA JNIOR: "De fato, se no passado se justificava a distino, hodiernamente ela intolervel, diante da posio de Guardio da Constituio da qual se reveste a Corte. Ora, no contexto atual, absolutamente sem sentido, chegando a soar como teratolgica a explicao de que, no controle difuso, o Supremo decide inter partes, enquanto que no controle concentrado decide erga omnes. Tudo isso s porque o STF, na primeira hiptese, declara a inconstitucionalidade resolvendo uma questo incidental, e, na segunda, declara a mesma inconstitucionalidade solucionando a prpria questo principal. Onde est a lgica disso, j que - seja decidindo incidenter tantum ou principaliter tantum - o rgo prolator da deciso o mesmo?" 40.No mbito da jurisprudncia, vale transcrever, no mesmo sentido ora defendido, trecho de elucidativo voto proferido pelo Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI como Relator do Recurso Especial n. 828.106/SP: "(...). Sob esse enfoque, h idntica fora de autoridade nas decises do STF em ao direta quanto nas proferidas em via recursal. Merece aplausos essa aproximao, cada vez mais evidente, do sistema de controle difuso de constitucionalidade ao do concentrado, que se generaliza tambm em outros pases (SOTELO, Jos Luiz Vasquez. "A jurisprudncia vinculante na 'common law' e na 'civil law'", in Temas Atuais de Direito Processual IberoAmericano, Rio de Janeiro, Forense, 1998, p. 374; SEGADO, Francisco Fernandez. La obsolescncia de la bipolaridad 'modelo americano-modelo europeo kelseniano' como critrio nalitico del control de constitucionalidad y la bsqueda de una nueva tipologa explicativa", apud Parlamento y Constitucin, Universida de Castilla-La Mancha, Anuario (separata), n 6, p. 1-53). No atual estgio de nossa legislao, de que so exemplos esclarecedores os dispositivos acima transcritos, inevitvel que se passe a atribuir simples efeito de publicidade s resolues do Senado previstas no art. 52, X, da Constituio. o que defende, em doutrina, o Ministro Gilmar Ferreira Mendes, para quem "no parece haver dvida de que todas as construes que se vm fazendo em torno do efeito transcendente das decises tomadas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Congresso Nacional, com o apoio, em muitos casos, da jurisprudncia da Corte, esto a indicar a necessidade de reviso da orientao dominante antes do advento da Constituio de 1988" (MENDES, Gilmar Ferreira "O papel do Senado Federal no controle de constitucionalidade: um caso clssico de mutao constitucional", Revista de Informao Legislativa, n. 162, p. 165)." (DJU 15/05/2006). (Grifou-se). 41.Entretanto - e aqui se fecham os parnteses abertos mais acima-, em que pesem todos os argumentos acima aventados, certo que - especialmente luz de uma interpretao literal da CF/88 e do CPC, bem como diante de dogmas tradicionais incorporados no sistema jurdico brasileiro e at o momento no integralmente superados -, ainda no possvel se afirmar, com os ares peremptrios que uma afirmao assume, que as decises proferidas pela Suprema Corte, em sede de controle difuso de constitucionalidade das leis, ainda que formadas nos moldes do art. 543-B do CPC, quando no seguidas por Resoluo editada com fulcro no art. 52, inc. X da CF/88, ostentam eficcia vinculante erga omnes. O entendimento que ainda parece predominar, mormente em setores mais conservadores da doutrina e da jurisprudncia dos Tribunais, o de que a extenso da eficcia vinculante ainda fator de

distino entre as decises proferidas pelo STF em controle difuso e concentrado de constitucionalidade, sendo certo, ademais, que o art. 543-B do CPC, apesar de conferir aos precedentes formados sob as suas vestes uma fora persuasiva especial e diferenciada, no lhes imprimiu, propriamente, fora vinculante erga omnes. 42.Mas, apesar disso, o simples fato - este sim irrecusvel -, de as decises proferidas pelo Pleno do STF nos moldes do art. 543-B do CPC ostentarem, atualmente, carter objetivo, geral e definitivo, sendo aptas a reger, com elevado grau de estabilidade, todos os casos idnticos, j suficiente a lhes atribuir fora para alterar ou impactar o sistema jurdico vigente, agregando-lhe um elemento novo. 43. que a ausncia de eficcia vinculante erga omnes, explicada mais em funo da literalidade do texto constitucional e do Diploma Processual Civil do que por qualquer razo de ndole verdadeiramente ontolgica, no retira das decises proferidas pelo STF nos moldes do art. 543-B do CPC a vocao de representarem, tanto quanto as proferidas em controle concentrado, a "palavra final e definitiva" da Suprema Corte acerca da questo jurdica nelas objetivamente decididas. E, conforme se explicitou mais ao incio deste tpico do presente Parecer, exatamente isso, ou seja, a especial qualidade de representarem o juzo objetivo, definitivo e final da Suprema Corte acerca de uma dada questo constitucional - e no a sua eventual eficcia vinculante erga omnes-, que configura o fator responsvel por conferir s decises proferidas pelo Pleno do STF (seja em controle concentrado, seja em controle difuso de constitucionalidade, seguidas ou no de Resoluo Senatorial, neste ltimo caso, desde que nos moldes do art. 543-B do CPC) fora para alterar/impactar o sistema jurdico vigente, agregando-lhe um relevante elemento novo, a saber, o juzo de certeza final acerca da constitucionalidade/ inconstitucionalidade de uma determinada lei, ou acerca da correta interpretao do texto constitucional. 44.Por fim, ainda sobre o tema, h que se fazer uma ltima e importante considerao. 45.Como se sabe, a Lei n. 11.418, de 19 de dezembro de 2006, que introduziu os arts. 543-A e 543-B no CPC, entrou em vigor em 19 de fevereiro de 2007, aps uma vacatio legis de 60 dias. Entretanto, conforme restou definido pelo STF em Questo de Ordem havida no julgamento do Agravo de Instrumento n. 664567/RS, apenas aps o advento da Emenda Regimental n. 21, publicada no Dirio Oficial em 3 de maio de 2007, que alterou o Regimento Interno do STF de modo a adapt-lo Lei n. 11.418/2006, que a Suprema Corte passou a, de fato, poder fazer uso dos institutos forjados pela nova legislao, passando, ento, a submeter alguns dos seus julgados sistemtica prevista no art. 543-B do CPC. 46.Diante disso, parece correto se afirmar que, do dia 3 de maio de 2007 em diante, apenas os julgamentos do Plenrio do STF submetidos ao art. 543-B do CPC que podem ser considerados como, alm de objetivos, vocacionados a representar a palavra final e definitiva da Suprema Corte acerca da questo constitucional apreciada, e, conseqentemente, podem ser tidos como capazes de efetivamente alterar/impactar o sistema jurdico vigente, nos termos acima assinalados. Entende-se que, a partir do momento em que a Suprema Corte passou a ter sua disposio o instrumental previsto no art. 543-B do CPC, o seu eventual no uso para a resoluo de um determinado caso um indicativo de que essa resoluo no ostenta ou, pelo menos, pode no ostentar, os atributos da objetividade e definitividade.

47.Mas a pergunta que, neste ponto, merece ser feita e respondida a seguinte: e o que dizer daqueles julgamentos, anteriores a 3 de maio de 2007, realizados pela Suprema Corte em sede de controle difuso de constitucionalidade (sem posterior Resoluo Senatorial)? Esses julgamentos podem ser tidos como objetivos e definitivos, nos termos assinalados e para os fins pretendidos por este Parecer ou, ao revs, como no foram submetidos sistemtica do art. 543-B do CPC (mesmo que por razes bvias), nunca podero ser considerados como dotados desses atributos? 48.Ora, a resposta no poderia ser outra: em algumas hipteses as decises proferidas pelo STF, em momento anterior ao marco acima fixado, podero, sim, ser consideradas como objetivas e vocacionadas definitividade. Indo direto ao ponto, isso ocorrer sempre que (i) se tratar de deciso proferida, sobre uma dada questo constitucional, pelo Plenrio da Suprema Corte, e que (ii) o entendimento nela contido tenha sido reafirmado pela Suprema Corte em diversos julgados posteriores. 49.Com efeito, mesmo antes do advento do art. 543-B do CPC, as decises proferidas pelo Plenrio do STF em controle difuso, embaladas pela mencionada tendncia de "dessubjetivao" das formas de controle de constitucionalidade, j ostentavam um carter objetivo e geral, depreendido das vicissitudes do caso concreto; da que o atributo da objetividade certamente j marcava essas decises proferidas pelo STF. 50.De outra ponta, no que pertine ao atributo da definitividade, pode-se afirmar que, enquanto as decises proferidas pelo STF nos termos do art. 543-B do CPC ostentam tal atributo naturalmente, quase que de forma presumida, aquelas formadas sem a observncia nova sistemtica, por terem sido proferidas em momento anterior sua entrada em vigor, obviamente no contam com qualquer presuno no que atine definitividade. Antes, para que sejam consideras como definitivas, o entendimento nelas contido deve ser reiterado pelo STF em julgados posteriores; essa reiterao indica que o entendimento plasmado na deciso do Pleno do STF espelha, de fato, a sua palavra final sobre a questo constitucional apreciada. 51.Assim, as razes expostas ao longo deste tpico indicam que, por serem objetivas e definitivas, possuem fora para, com o seu advento, impactar ou alterar o sistema jurdico vigente, os seguintes precedentes do STF: (i) todos os formados em controle concentrado de constitucionalidade, independentemente da poca em que prolatados; (ii) quando posteriores a 3 de maio de 2007, aqueles formados em sede de controle difuso de constitucionalidade, seguidos, ou no, de Resoluo Senatorial, desde que, nesse ltimo caso, tenham resultado de julgamento realizado nos moldes do art. 543-B do CPC; (iii) quando anteriores a 3 de maio de 2007, aqueles formados em sede de controle difuso de constitucionalidade, seguidos, ou no, de Resoluo Senatorial, desde que, nesse ltimo caso, tenham sido oriundos do Plenrio do STF e sejam confirmados em julgados posteriores da Suprema Corte. b.2 - O advento de precedente objetivo e definitivo do STF, por alterar o sistema jurdico vigente, faz cessar a eficcia vinculante das decises tributrias transitadas em julgado que lhe forem contrrias 52.Uma vez fixado que os precedentes da Suprema Corte elencados no tpico anterior deste Parecer (mais especificamente no pargrafo 51), por serem objetivos e definitivos, possuem fora para alterar o sistema jurdico vigente, j se pode concluir que o advento de qualquer

um deles representa circunstncia jurdica nova, capaz de fazer cessar a eficcia vinculante de anterior deciso tributria transitada em julgado que lhe seja contrria. 53.Com efeito, quando uma determinada deciso transitada em julgado declara, por exemplo, inexistente uma dada relao jurdica tributria de trato continuado, sob o fundamento de que a respectiva lei tributaria inconstitucional, o que essa deciso est, de fato, declarando que a lei apreciada incapaz de incidir sobre os fatos geradores praticados pelo contribuinteautor, e, conseqentemente, de fazer nascer a relao da qual surgiria a obrigao tributria. Considere-se, ainda, que, quando esse rgo julgador proferiu sua deciso, pairava dvida quanto constitucionalidade, ou no, da lei tributria em foco, precisamente porque o rgo jurisdicional responsvel por proferir a palavra final e definitiva no que tange compatibilidade das normas com o texto constitucional, no caso, o STF, ainda no havia se pronunciado especificamente acerca da mencionada lei. Assim, pode-se dizer que, nesse exemplo, o suporte jurdico sob o qual o juzo de certeza se formou era integrado por uma lei que, no entender do rgo julgador, no possua capacidade para a incidncia. 54. Entretanto, caso o STF venha, posteriormente, reconhecer, em carter definitivo, a plena constitucionalidade da lei tida por inconstitucional pela sentena transitada em julgado, o suporte jurdico sob o qual o juzo de certeza nela contido se formou imediatamente se altera: deixa de ser integrado por uma lei at ento tida como incapaz de incidir, e passa a ser integrado por uma lei j considerada, definitivamente, como apta incidncia. 55.Note-se que, ainda no exemplo acima dado, o reconhecimento da constitucionalidade da lei pelo STF faz nascer uma relao jurdica tributria nova entre Fisco e o contribuinte-autor, composta por um suporte ftico idntico (mesmos fatos geradores) quele considerado pela coisa julgada anterior, mas por um suporte jurdico alterado ou diferente (que passar a ser a norma definitivamente interpretada pelo STF em face da Constituio e que, por ter sido considerada constitucional, possui aptido para incidir); e, por configurar uma relao nova, a eficcia vinculante da anterior deciso tributria transitada em julgado, dada a sua natural limitao objetiva, no capaz de alcan-la. 56.Por bvio, esse mesmo raciocnio se aplica caso se esteja diante de hiptese em que, diferentemente da acima analisada, a consolidao da jurisprudncia do STF venha a favorecer o contribuinte, e no o Fisco. Tambm em hipteses desse jaez, a eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado desfavorvel ao contribuinte - em que, por exemplo, se reconheceu existente uma dada relao jurdica tributria face constitucionalidade da correspondente lei de incidncia -, cessa a partir do momento em que a jurisprudncia do STF, formada nos termos acima assinalados, se consolidar no sentido da inconstitucionalidade da lei tributria. 57.Nesse sentido, considerando que a jurisprudncia do STF configura "direito novo", capaz de, conforme o caso, fazer cessar a eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado que discipline relao jurdica tributria sucessiva, confira-se a lio de HUGO DE BRITO MACHADO: "Em outras palavras, o efeito da coisa julgada na relao jurdica continuativa faz imodificvel a relao jurdica enquanto permanecerem inalterados os seus elementos formadores, a saber, a lei e o fato. No impede, todavia, mudana do elemento normativo formador da relao jurdica continuativa. Mudana que

pode decorrer de alteraes legislativas ou da declarao definitiva da constitucionalidade da lei antes tida por inconstitucional. Ou da declarao definitiva da inconstitucionalidade da lei antes tida como constitucional. (...). A manifestao do Supremo Tribunal Federal que decide definitivamente uma questo constitucional, em sentido oposto ao entendimento albergado na deciso que se fizera coisa julgada configura direito novo." (Grifou-se). 58. No mbito do Superior Tribunal de Justia, j h precedentes importantes considerando que a jurisprudncia do STF apta a fazer cessar a eficcia das decises tributrias transitadas em julgado que lhes so contrrias, dentre os quais se destaca e transcreve, pela clareza e didtica, o seguinte: "PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTRIO. AO DECLARATRIA CUMULADA COM REPETIO DE INDBITO. PIS. DECRETOS-LEIS Ns 2.445/88 E 2.449/88. IMPETRAO PRVIA DE MANDADO DE SEGURANA. COISA JULGADA. RELAO JURDICA DE TRATO SUCESSIVO. SUPERVENIENTE DECLARAO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. As sentenas proferidas em relaes jurdicas de trato sucessivo transitam em julgado e fazem coisa julgada material, ainda que possam ter a sua eficcia limitada no tempo, quanto aos fatos supervenientes que alterem os dados da equao jurdica nelas traduzida. 2. A contribuio ao PIS relao jurdica de trato sucessivo, porquanto de fatos geradores instantneos, mas com repetio continuada e uniforme. 3. In casu, a sentena do primeiro mandado de segurana, que fez coisa julgada, entendeu pela constitucionalidade dos Decretos-Leis ns. 2.445, de 29/06/88, e 2.449, de 21/07/88. 4. Deveras, referidos diplomas normativos tiveram a sua inconstitucionalidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal. 5. A declarao de inconstitucionalidade estabelece uma nova situao jurdica, submetida ao superveniente estado de direito, que faz cessar, prospectivamente, os efeitos da constitucionalidade emitidos na sentena proferida em sentido contrrio. 6. Destarte, deve-se observar que h retroao da declarao de inconstitucionalidade, mas a deciso transitada em julgado perpetua-se at a declarao de inconstitucionalidade da norma pela Suprema Corte, respeitando a coisa julgada material naquele lapso temporal. 7. Na hiptese dos autos, fica reconhecida, relativamente ao perodo anterior ao advento da Resoluo 46/95 do Senado, a eficcia da sentena anterior transitada em julgado, que reconheceu a constitucionalidade do DL 2445/88 e 2449/88; todavia, com a modificao do estado de direito decorrente da publicao dessa Resoluo, suspendendo a execuo dos Decretos-lei declarados inconstitucionais pelo STF, cessou a eficcia temporal da sentena anterior, em sentido contrrio. (...)"

Grifou-se. (RESP n. 1103584, Rel. Min. LUIZ FUX, DJU 10/09/2010). 59.E as conseqncias que decorrem, diretamente, da cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado em face do advento de precedente objetivo e definitivo do STF em sentido contrrio ao nela sufragado - so, no que mais de perto interessa Fazenda Nacional, as seguintes: (i) se o precedente do STF for favorvel ao Fisco, no sentido, por exemplo, da constitucionalidade de uma dada norma de incidncia tributria, tida, por sua vez, como inconstitucional em deciso tributria pretrita, a partir do seu advento a Fazenda Nacional retoma o direito de exigir o correspondente tributo, em relao aos fatos geradores praticados pelo contribuinte-autor dali para frente; (ii) diversamente, se o precedente do STF for desfavorvel ao Fisco, no sentido, por exemplo, da inconstitucionalidade de uma dada norma de incidncia tributria, tida, por sua vez, como constitucional em deciso tributria pretrita, a partir do seu advento o contribuinte-autor deixa de estar compelido ao pagamento do correspondente tributo, em relao aos fatos geradores ocorridos dali para frente. No demais repetir, aqui, que os precedentes do STF capazes de fazer cessar a eficcia vinculante de anteriores decises tributrias transitadas em julgados so, apenas, aqueles referidos no pargrafo 51 do presente Parecer, eis que apenas esses podem ser considerados objetivos e definitivos. 60.A questo que se pretende enfrentar no tpico seguinte, por sua vez, se a cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado, com as conseqncias dela decorrentes, opera-se de forma automtica ou se, ao revs, somente pode ser considerada ocorrida se assim reconhecida em prvio pronunciamento judicial; caso esta ltima opo seja adotada, parece claro que as conseqncias elencadas no pargrafo anterior somente podero se operar mediante prvio pronunciamento judicial reconhecendo a cessao da eficcia vinculante da anterior deciso tributria transitada em julgado. c) A cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado automtica, independe de prvio reconhecimento judicial 61.A resposta questo ora analisada - ou seja: saber se a cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado, pelas razes acima expostas, opera-se automaticamente ou, ao revs, se depende de prvio pronunciamento judicial - no exige muito esforo para ser encontrada, at porque resulta diretamente dos conceitos e das concluses j expostas mais acima. que, conforme exaustivamente demonstrado ao longo deste Parecer, o precedente objetivo e definitivo do STF em sentido diverso do sufragado na anterior deciso tributria transitada em julgado faz surgir uma relao jurdica de direito material - sob algum aspecto - nova, que, no tendo sido deduzida pelo autor da demanda e, assim, apreciada na correspondente coisa julgada, no se encontra compreendida em seus limites objetivos. Conseqncia natural disso que a eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado simplesmente no alcana a nova relao jurdica (assim como, pelo mesmo raciocnio, no alcana todas as outras relaes jurdicas, de que eventualmente faa parte o autor da correspondente demanda judicial, que no tenham sido deduzidas nessa demanda); da porque se diz que essa eficcia vinculante deixa de operar dali para frente. 62.Parece certo, portanto, que a cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado anterior, ou, dito de outra forma, a sua incapacidade de alcanar a nova relao jurdica de direito material surgida a partir do advento do precedente do STF (ou nascida em razo de qualquer outra circunstncia jurdica ou ftica nova), no precisa ser

objeto de pronunciamento judicial para que se considere verificada, eis que mera decorrncia lgica dos limites objetivos que balizam o alcance da eficcia das decises judiciais, operando-se, assim, de forma natural e automtica. 63.Exatamente na linha ora exposta, confira-se lio de JUVNCIO VASCONCELOS VIANA: "(...) diante do silncio da lei, a relevante alterao fticojurdica pode j diretamente trazer mudana no trato da relao continuativa, passando a ser considerada de logo pelas partes. A modificao dar-se-ia independente de ao de reviso. Tratandose de fato novo, e sem que este necessariamente imponha a reviso do quanto se decidiu, possvel supor que a eficcia da sentena (e a autoridade da coisa julgada) simplesmente no atinge o fato superveniente (ou a relao jurdica que a partir dele se constitua) por que se limita a regular a situao posta na demanda, o objeto do processo e, assim, objeto do julgamento. Cuida-se muito mais de operao mental de verificao precisa dos limites da autoridade da coisa julgada, ante a supervenincia do elemento ftico-jurdico relevante." 64. certo, todavia, que a desnecessidade de prvio ajuizamento de ao judicial a fim de que se tenha como cessada, nos termos acima assinalados, a eficcia de deciso tributria transitada em julgado, poderia, numa anlise apressada, parecer ofender o disposto no art. 471, inc. I do CPC, que exige o ajuizamento da chamada "ao revisional" para que se possa "rever" o estatudo nas decises transitadas em julgado reguladoras de relaes jurdicas de direito material continuadas, quando alterados os fatos ou o direito existentes poca da sua prolao. Essa ofensa, todavia, e segundo aqui se entende, no vai alm das aparncias. 65. que, na linha do ensinamento do Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI sobre o tema ao qual se adere plenamente, razo por que ser de certo modo reproduzido a seguir -, o art. 471, inc. I do CPC somente aplicvel em situaes especficas e excepcionais, quando, por expressa previso legal, haja a exigncia de que a eventual alterao no suporte jurdico ou ftico existente ao tempo da prolao de deciso (reguladora de relao jurdica de direito material de trato sucessivo) seja reconhecida mediante especfico pronunciamento judicial, para que, s ento, possa produzir uma das conseqncias que lhe so prprias, a saber, a cessao da eficcia vinculante da anterior deciso transitada em julgado. Nesses casos especficos e excepcionais, por uma opo legislativa cuja racionalidade no cabe aqui perquirir, o beneficiado ou prejudicado pela alterao nas circunstncias fticas ou jurdicas possui o direito - potestativo, no caso - de requerer e obter, junto ao Poder Judicirio, a reviso do que estatudo na sentena, que, enquanto no revista, continuar produzindo efeitos. 66. o que se tem, por exemplo, em relao s sentenas transitadas em julgado que fixem o valor a ser pago mensalmente a ttulo de alimentos, ou de aluguel decorrente de contrato de locao; tanto em um quanto no outro caso, alteradas as circunstncias fticas ou jurdicas existentes poca da prolao da deciso transitada em julgado, cumpre ao interessado promover a correspondente ao revisional, nos termos, respectivamente, dos artigos 1.699 do Cdigo Civil e 19 da Lei n. 8.245/91, caso pretenda obter o ajuste dos valores nela fixados na nova realidade de fato ou de direito advinda. Salta aos olhos que, nesses dois casos, a

cessao da eficcia da deciso transitada em julgado em razo da nova situao de direito ou de fato no poder ser tida como automtica, de modo que no dado ao devedor de alimentos ou de aluguel, por conta prpria, luz da nova realidade, simplesmente deixar de pagar o valor que lhe foi imposto na sentena, ou decidir pag-lo a menor; para tanto, dever recorrer ao Poder Judicirio. 67.O que de fato importa que se tenha em mente, todavia, que a necessidade de prvio pronunciamento judicial para que se tenha reconhecida a cessao da eficcia da deciso transitada em julgado em face da alterao das circunstncias fticas ou jurdicas sob as quais o juzo de certeza nela contido se formou excepcional, apenas se impondo quando expressamente exigida por lei especfica. Ainda na lio de TEORI ALBINO ZAVASCKI, "a ao de reviso indispensvel apenas quando a relao jurdica material de trato continuado comportar, por disposio normativa, o direito potestativo antes referido.(...). Afora casos dessa natureza, a modificao do estado de fato ou de direito produz imediata e automaticamente a alterao da relao jurdica mesmo quando esta tiver sido certificada por sentena, conforme anteriormente assinalado." 68.Assim, inexistindo especfica previso legal a exigir o prvio ajuizamento de ao revisional, a cessao da eficcia vinculante da deciso transitada em julgado em razo do advento de nova circunstncia ftica ou jurdica se opera automaticamente, como mera e natural decorrncia lgica do que se entende por limites objetivos da coisa julgada. Aplicando-se esses conceitos ao universo do Direito Tributrio, tem-se que, ante a inexistncia de lei especfica prevendo o oposto, a cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado face ao advento de nova circunstncia jurdica - mais precisamente, face ao advento de precedente definitivo e objetivo do STF em sentido diverso do nela sufragado -, opera-se de modo automtico, independentemente do prvio ajuizamento de qualquer ao, muito menos da revisional de que trata o art. 471, inc. I do CPC. 69.Da que as conseqncias mais acima elencadas (no pargrafo 59 deste Parecer) como sendo decorrentes da cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado em face do advento de precedente objetivo e definitivo contrrio do STF, operam-se, tambm, independentemente de prvio pronunciamento judicial nesse sentido. Assim: (i) se o precedente do STF for favorvel ao Fisco, a partir do seu advento a Fazenda Nacional simplesmente pode voltar a cobrar o correspondente tributo, em relao aos fatos geradores praticados pelo contribuinte-autor dali para frente, sem que, para tanto, seja necessrio obter prvio pronunciamento judicial; (ii) diversamente, se o precedente do STF for desfavorvel ao Fisco, a partir do seu advento o contribuinte-autor simplesmente pode deixar de recolher o correspondente tributo, em relao aos fatos geradores ocorridos dali para frente, sem que, para tanto, seja necessrio obter prvio pronunciamento judicial. 70.Note-se que, na situao posta na alnea "ii" acima, o no pagamento, pelo contribuinteautor, da exigncia tributria considerada inconstitucional pelo Plenrio do STF, no dever ser, de qualquer forma, obstaculizado pelo Fisco, tampouco dever gerar procedimentos voltados atuao e cobrana do que deixar de ser pago; e isso, por bvio, desde que o no pagamento seja relativo a fatos geradores ocorridos aps o advento do precedente definitivo e objetivo da Suprema Corte no sentido da inconstitucionalidade da exigncia tributria em questo, eis que, antes disso, a obrigao de recolher o tributo se impunha em face da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado, at ento operativa.

71.J no que pertine situao posta na alnea "i" acima, impende esclarecer que a exigncia do tributo pelo Fisco, mediante lanamento e a sua posterior cobrana em execuo fiscal, em relao aos fatos geradores praticados pelo contribuinte-autor aps o advento do precedente definitivo e objetivo do STF, sem que, para tanto, seja necessrio o ajuizamento de ao judicial, no representa ofensa ao princpio do acesso justia, ou, tampouco, aos princpios do contraditrio e da ampla defesa, todos de estatura constitucional. 72.De fato, a preservao do primeiro princpio - o do acesso justia -, d-se mediante a ampla possibilidade, sempre aberta ao contribuinte-autor, de ajuizar a correspondente e adequada ao judicial a fim de impedir a exigncia do referido tributo pelo Fisco (tutela preventiva), ou de afastar a exigncia eventualmente j efetuada (tutela repressiva), o que poder ser alcanado, inclusive, antecipadamente, mediante medida processual de urgncia; j a preservao dos segundos princpios, - os da ampla defesa e do contraditrio -, garantida ao se assegurar o seu pleno exerccio, ainda que de forma diferida, nos autos do processo administrativo fiscal tendente a constituir o correspondente crdito tributrio, regulado pelo Decreto n. 70.235/72 (com possibilidade de suspenso da exigibilidade do crdito em decorrncia da apresentao de impugnao pelo sujeito passivo - art. 151 inc. III do CTN), assim como em eventuais autos judiciais, na - provvel - hiptese de o contribuinteautor ajuizar ao visando impugnar a cobrana. d) O advento de precedente definitivo e objetivo do STF considera-se ocorrido na data do trnsito em julgado da respectiva deciso. As situaes pretritas devem ser excepcionadas 73.Como a cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado contrria ao posterior entendimento sufragado pela Suprema Corte, conforme demonstrado no item anterior, d-se de forma automtica, vale dizer, independentemente de prvio pronunciamento judicial nesse sentido, pode-se afirmar que o direito de que dispe o Fisco de voltar a exigir o tributo (tido por inconstitucional pela coisa julgada), ou de que dispe o contribuinteautor de deixar de pagar o tributo (tido por constitucional pela coisa julgada), surge com o advento do precedente objetivo e definitivo do STF, o que, por sua vez, somente pode-se considerar ocorrido com o seu trnsito em julgado; que, antes disso, por bvio, o entendimento firmado no acrdo do STF ainda pode ser alterado, de modo que esse entendimento ainda no pode ser tido como realmente definitivo. 74. legtimo se afirmar, portanto, que a data do trnsito em julgado do acrdo do STF configura, ao menos como regra, o termo a quo para o exerccio dos direitos acima referidos. Entretanto, essa regra comporta exceo no que tange, especificamente, ao direito de que dispe o Fisco de voltar a exigir, do contribuinte-autor, o tributo antes tido por inexigvel pela coisa julgada que lhe favorecia. Assim, em algumas situaes especficas adiante expostas, por razes ligadas ao relevante princpio da segurana jurdica, com os seus corolrios em matria tributria, a saber, os princpios da no surpresa e da proteo da confiana, no h como considerar que a data do trnsito em julgado do acrdo proferido pelo STF configura o marco a partir do qual o Fisco possui o direito de efetuar a cobrana do correspondente tributo, relativo a todos os fatos geradores praticados pelo contribuinte-autor desde ento. 75.Para que bem se compreenda quais so essas situaes especficas, e o porqu da necessidade de se excepcion-las, basta pensar na hiptese, que bem as exemplifica, em que um dado contribuinte tenha deixado de efetuar o pagamento de determinado tributo por reputar que assim estava autorizado em razo de coisa julgada formada, a seu favor, considerando inexistente a correspondente relao jurdica tributria, apesar de esse no pagamento ter se dado quando j existia precedente objetivo e definitivo do STF em sentido

contrrio ao sufragado na coisa julgada, proferido e transitado em julgado em momento anterior aprovao e publicao do presente Parecer. E mais: mesmo com o advento desse precedente da Suprema Corte, favorvel Fazenda Nacional - que, segundo aqui se entende, fez cessar a eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado e, portanto, legitimaria a cobrana do tributo relativo aos fatos geradores ocorridos a partir de ento -, o Fisco quedou-se inerte durante anos, no efetuando as correspondentes exigncias tributrias. 76. Note-se que, na hiptese acima aventada, o contribuinteautor deixou de pagar o tributo por considerar que assim estava respaldado por coisa julgada, e o Fisco, mesmo diante do precedente do STF, no efetuou as correspondentes exigncias tributrias, numa postura omissiva que, de certo modo, demonstrou a sua adeso ao comportamento do contribuinte. Em hipteses desse jaez - em que (i) a cessao da eficcia da deciso tributria transitada em julgado, face ao advento de precedente objetivo e definitivo do STF, ocorreu em momento anterior publicao deste Parecer e (ii) no houve lanamento em relao aos fatos geradores ocorridos aps o advento do precedente do STF -, no h como legitimamente pretender que, agora, com o entendimento esposado neste Parecer, possa o Fisco exigir, do contribuinte-autor, o tributo relativo a todos esses fatos geradores passados (por bvio, desde que ocorridos h menos de 5 anos). 77. Essa nova exigncia, relativa aos fatos geradores anteriores ao presente Parecer, tendo como marco inicial a data, no passado, do advento da deciso do STF, alm de causar ao contribuinte-autor surpresa que no parece compatvel com a segurana jurdica e a confiana que devem iluminar as relaes travadas entre o Fisco e os contribuintes, tambm representaria ofensa direta ao disposto no art. 146 do CTN, segundo o qual "a modificao introduzida, de ofcio ou em conseqncia de deciso administrativa ou judicial, nos critrios jurdicos adotados pela autoridade administrativa no exerccio do lanamento somente pode ser efetivada, em relao a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente sua introduo". Esse dispositivo legal, cuja essncia claramente se inspira nos j invocados princpios da no surpresa e da proteo da confiana, veda que novos critrios jurdicos introduzidos pela Administrao Pblica Tributria em sua atividade de lanar atinja fatos geradores ocorridos em momento anterior sua introduo, o que parece impedir que o entendimento contido no presente Parecer - que, inequivocamente, configura um novo critrio jurdico relativo a lanamento tributrio - aplique-se s situaes que lhe so pretritas. 78.Assim, tendo em conta o princpio da segurana jurdica e os seus consectrios princpios da no surpresa e da proteo confiana, bem como por fora do que prev o art. 146 do CTN, entende-se, aqui, que naquelas especficas hipteses em que a cessao da eficcia da deciso tributria transitada em julgado, em face do advento de precedente objetivo e definitivo do STF em sentido contrrio ao nela sufragado, tenha ocorrido em momento anterior publicao deste Parecer, e tendo havido inrcia dos agentes fazendrios, o termo a quo para o exerccio, pelo Fisco, do direito de voltar a exigir, do contribuinte-autor, o tributo em questo a data da publicao deste Parecer, o que significa dizer que apenas os fatos geradores praticados a partir desse instante podero ser objeto de lanamento. 79.Em outras palavras: este parecer no retroage para alcanar aqueles fatos geradores pretritos, que, mesmo sendo capazes, luz do entendimento ora defendido, de fazer nascer obrigaes tributrias, no foram, at o presente momento, objeto de lanamento. Por bvio, se nas situaes pretritas o Fisco j tiver adotado o entendimento ora defendido, efetuando a cobrana relativa aos fatos geradores ocorridos desde a cessao da eficcia da deciso

tributria transitada em julgado, em relao a essas situaes pretritas o critrio jurdico contido no presente Parecer no poder ser considerado "novo", o que afasta a aplicao do princpio da no surpresa e do art. 146 do CTN; esses lanamentos, portanto, devero ser mantidos. 80.Afora essas situaes especficas, que se caracterizam, primordialmente, por serem pretritas a este Parecer, em todas as demais deve incidir a regra referida mais acima, segundo o qual o termo a quo para o exerccio do direito conferido ao Fisco de voltar a exigir, do contribuinte-autor, o tributo antes tido como inexigvel pela coisa julgada que lhe favorecia a data do trnsito em julgado do acrdo proferido pelo STF. 81.Assim, os precedentes objetivos e definitivos da Suprema Corte, advindos aps a publicao deste Parecer, no sentido, por exemplo, da constitucionalidade de determinado tributo, fazem cessar, automaticamente, a eficcia das decises tributrias transitadas em julgado que lhes forem contrrias, de modo que, assim que os respectivos acrdos transitarem em julgado, o Fisco poder voltar a cobrar os tributos relativos aos fatos geradores praticados pelos contribuintes-autores a partir de ento. III Outras questes pertinentes ao tema a) A cessao da eficcia vinculante de deciso transitada em julgado em face de posterior precedente objetivo e definitivo do STF no se confunde com a "relativizao" dessa coisa julgada 82.Neste ponto, importa esclarece que, conforme j sucintamente salientado logo no incio deste Parecer, a cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado contrria a posterior precedente objetivo e definitivo do STF, nos termos ora defendidos, no se confunde com a "relativizao da coisa julgada inconstitucional". que "relativizar a coisa julgada" contrria posterior jurisprudncia do STF (da a denominao "coisa julgada inconstitucional") significa rever, desconstituir, desconsiderar ou desfazer os efeitos pretritos, j produzidos pela respectiva deciso transitada em julgado, em momento anterior ao advento do precedente da Suprema Corte: seria, por exemplo, permitir que, face ao advento de julgado do STF no sentido da constitucionalidade de determinada lei tributria, o Fisco pudesse cobrar tudo aquilo que deixou de ser pago, no passado, a ttulo de tributo, por contribuinte beneficirio de coisa julgada que havia reconhecido a inexistncia da relao jurdica tributria face inconstitucionalidade dessa lei. 83.Registre-se - sem, no entanto, qualquer pretenso de aprofundar e, menos ainda, de esgotar o tema, que no se insere no objeto deste Parecer -, que essa relativizao da coisa julgada inconstitucional, ao menos em princpio, e luz do sistema jurdico positivo, somente pode ser alcanada mediante o manejo de um dos seguintes mecanismos processuais (nos quais a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma dada lei, declarada pelo STF, ser utilizada como fundamento para desconstituir anterior coisa julgada): (i) da ao rescisria (art. 485 do CPC), que, desde que ajuizada no prazo decadencial apropriado, tem sido admitida como capaz de desconstituir coisas julgadas contrrias posterior jurisprudncia do STF, seja em controle difuso, seja em controle concentrado, suplantando-se o bice previsto na Smula n. 343 da Suprema Corte; (ii) da impugnao sentena (art. 475-L, inc. II, 1 do CPC) ou dos embargos execuo de sentena contra a Fazenda Pblica (art. 741, pargrafo

nico do CPC), respaldados na alegao de "inexigibilidade do ttulo judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicao ou interpretao da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatveis com a Constituio Federal", independentemente de se tratar de deciso do STF proferida em sede de controle difuso ou concentrado de constitucionalidade, desde que, por bvio, trate-se de sentena que comporta execuo. Diz-se que esses dois mecanismos processuais so aptos a relativizar a coisa julgada, ou melhor, as decises judiciais transitadas em julgado, precisamente porque o seu manejo capaz de, de certo modo, desconstitu-las, atingindo-lhes ou desfazendo-lhes os efeitos pretritos, ou seja, aqueles efeitos j produzidos em momento anterior ao advento do precedente do STF. 84.Diversamente, defende-se neste Parecer, apenas, que, pelas razes acima aventadas, a consolidao da jurisprudncia do STF em sentido diverso daquele sufragado em anterior deciso tributria transitada em julgado faz cessar, prospectivamente, a eficcia vinculante desta, o que legitima, por exemplo, a cobrana do tributo (antes tido por inconstitucional) em relao aos fatos geradores futuros, ocorridos aps a consolidao jurisprudencial, e no em relao aos fatos geradores passados. A tese ora defendida, portanto, no se volta para os efeitos pretritos da deciso tributria transitada em julgado inconstitucional, dirigindo-se, to-somente, para os seus efeitos futuros. 85.Com isso, a coisa julgada no relativizada ou desconsiderada, e sim, preservada e prestigiada em grau mximo, mediante o respeito aos seus limites objetivos, nos quais no h como se considerar compreendida a nova relao jurdica formada em razo da superveniente deciso do STF. b) A cessao da eficcia vinculante da deciso tributria transitada em julgado prestigia, indiretamente, o princpio constitucional da livre concorrncia 86.No se poderia deixar de registrar, ainda, que o entendimento defendido neste Parecer, alm de diretamente prestigiar a coisa julgada mediante a preservao dos seus limites objetivos, produz, tambm, como relevante efeito jurdico indireto, a preservao do princpio da livre concorrncia, que, luz do art. 170, inc. IV da CF/88, constitui, a um s tempo, fundamento e objetivo da ordem econmica constitucional vigente. 87.De fato, o princpio constitucional da livre concorrncia funda-se, se no exclusivamente, ao menos primordialmente, na idia de isonomia, na medida em que a sua consecuo pressupe que os diversos agentes econmicos possam atuar no mercado em igualdade de condies (por bvio, desde que inexista razo suficientemente relevante a justificar um eventual tratamento diferenciado). Nas bem lanadas palavras de FERNANDO FACURY SCAFF, pelo princpio da livre concorrncia, "busca-se criar as condies para que se realize um sistema de concorrncia perfeita, dentro dos objetivos propostos pela Constituio da Repblica em seu art. 3, e respeitando os princpios da ordem econmica. Para que se possa existir livre concorrncia imperioso que haja isonomia entre os contendores nas arenas no mercado." (Grifou-se). 88.Trazendo o tema para o campo do Direito Tributrio, pode-se afirmar que o princpio da isonomia, num primeiro momento, e o princpio constitucional da livre concorrncia, num momento imediatamente subseqente, manifestam-se pela necessidade de se assegurar, ainda nas palavras de FERNANDO FACURY SCAFF, que "os tributos sejam economicamente neutros, para que no venham a distorcer os preos praticados pelas empresas dentro de um

mesmo mercado relevante. Trata-se do princpio da neutralidade econmica dos tributos, que impede que este tipo de "interveno econmica" do Estado cause desequilbrios concorrncias" (Grifou-se). Assim, o denominado princpio da neutralidade econmica dos tributos integra, no universo do Direito Tributrio, o instrumental necessrio a assegurar a consecuo dos princpios da isonomia e da livre concorrncia. 89.Nesse contexto, percebe-se que uma deciso judicial transitada em julgado que, eventualmente, desonere determinada empresa do pagamento de um dado tributo, quando inexistir deciso similar a beneficiar as demais empresas que atuam no mesmo segmento, possui o condo de impactar de forma direta o desempenho da empresa autora no mercado, tornando-a, ao menos em tese, mais competitiva do que as demais; da que decises judiciais desse jaez configuram fatores capazes de abalar a desejada "neutralidade econmica dos tributos", e, portanto, potencialmente interferem no equilbrio concorrencial que se espera existente no mercado, especialmente tendo-se em conta a relevncia que a carga tributria assume para a existncia e sobrevivncia dos agentes econmicos. 90.Uma vez compreendida a capacidade que esse tipo de deciso judicial possui de impactar as relaes econmicas entre as empresas que atuam num mesmo mercado relevante, j se faz possvel apreender, ainda que no em sua totalidade, a magnitude da ofensa aos princpios da isonomia e da livre concorrncia que seria infligida caso prevalecesse o entendimento de que a deciso tributria transitada em julgado (voltada disciplina de relao jurdica tributria de trato sucessivo), proferida em descompasso com posterior posio assumida definitivamente pelo STF, possui o condo de continuar irradiando a sua eficcia vinculante eternamente, inclusive em relao a fatos geradores praticados pela empresa autora aps a definio do tema pela Suprema Corte. Aqui, faz-se essencial ter-se em mente, para que bem se entenda a gravidade da situao que exsurgiria desse entendimento, que todas as demais empresas no beneficirias da mencionada coisa julgada tributria no teriam chances de tambm obter, junto ao Poder Judicirio, tutela jurisdicional idntica obtida pela empresa autora, precisamente porque - e eis aqui aspecto bastante relevante - o direito que foi reconhecido a esta ltima empresa pela coisa julgada j foi considerado inexistente pela Suprema Corte, responsvel, repita-se, por interpretar as leis em face da Constituio em carter definitivo e final. 91.Assim, conferir essa sobrevida aos efeitos vinculantes emanados da deciso tributria transitada em julgado, admitindo a sua continuidade mesmo aps o advento do precedente objetivo e definitivo do STF em sentido contrrio ao nela sufragado, permitiria, na prtica, por exemplo, que empresas beneficirias de coisas julgadas tributrias estivessem eximidas, para todo o sempre, do pagamento de um determinado tributo, enquanto todas as demais, que atuassem no mesmo segmento econmico, continuariam compelidas ao seu pagamento, - e de forma definitiva, dada a impossibilidade de, com xito, recorrerem ao Poder Judicirio no intuito de obterem idntica tutela. 92.Nessa hiptese, a desonerao tributria eterna conferida empresa autora certamente aniquilaria, ou, pelo menos, prejudicaria sensivelmente, a existncia de uma verdadeira relao concorrencial no segmento de mercado de que faz parte tal empresa. Note-se que, no caso, a carga tributria deixaria de ser economicamente neutra, passando a interferir nas relaes econmicas de modo a desequilibrar - ou mesmo eliminar - a concorrncia, ferindo fatalmente a isonomia.

93.Atento a essa circunstncia, assim se manifestou o Ministro TEORI ALBINO ZAVASKI a respeito do tema: "Ofenderia o mais elementar senso de justia invocar a fora da coisa julgada do caso concreto para, por exemplo, impor a determinada pessoa uma carga tributria que o Supremo Tribunal Federal declarou inexistente ou nula ou inexigvel para todas as demais; ou, por exemplo, para assegurar a um cidado o privilegio de receber determinado beneficio remuneratrio ou gozar de favor fiscal que negado, com fora vinculante, a todos os demais cidados as mesmas condies." 94. por isso que se disse, ao incio deste tpico, que a tese defendida no presente Parecer produz o efeito jurdico indireto de preservar o princpio constitucional da livre concorrncia, impedindo que eventuais coisas julgadas contrrias ao entendimento posteriormente firmado, com ares de definitividade, pela Suprema Corte se tornem fatores de desequilbrio ou, mesmo, de eliminao, da concorrncia que deve existir entre os agentes econmicos que atuam num mesmo mercado relevante. IV Consideraes finais: aplicao prtica do entendimento firmado neste Parecer 95. Aps todo o exposto, cabe, aqui, fazer algumas consideraes de ordem prtica, voltadas, num primeiro momento, para aquele Procurador da Fazenda Nacional que, eventualmente, deparasse com uma coisa julgada tributria desfavorvel Fazenda Nacional, na qual se reconheceu, por exemplo, a inexistncia de uma dada relao jurdica tributria de trato continuado face inconstitucionalidade da respectiva lei tributria de incidncia. Nessas hipteses, caso constate que tal lei tributria j foi reconhecida como cons