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Parcerias e apoio tecnológico para empresas de software: o caso do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR). Autor: Ricardo Furtado Rodrigues (assistente de pesquisa) Co-autores: Renata Lèbre La Rovere (professora associada), Gabriela Calafate Brito (bolsista CNPq/PIBIC) Grupo de Economia da Inovação – Instituto de Economia Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Tema: Arranjos institucionais, governança e políticas públicas territoriais Os autores agradecem ao projeto PEC B107 IDRC/FLACSO, à SOFTEX e ao CNPq pelo apoio à realização da pesquisa. 1 – Introdução Atualmente estamos vivenciando um período de transição entre paradigmas técnico-econômicos, onde as empresas são estimuladas a buscar parcerias, visando à aquisição de vantagens competitivas dentro de um ambiente de inovação e acumulação de conhecimento. Geralmente esse ambiente promove a cooperação através de redes e/ou associações, entre as empresas e as instituições científicas e tecnológicas, promovendo efeitos positivos para o território onde estas se localizam. Dentro desse contexto, este artigo tem como objetivo discutir de que forma as parcerias entre empresas de software podem promover o desenvolvimento local, a partir do estudo de caso do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR). A criação do CESAR foi motivada pela missão de criar uma instituição cujo papel seria o de conectar a sociedade com a universidade de uma forma inovadora. O CESAR, segundo um dos seus fundadores, foi criado para subverter a orientação do desenvolvimento tecnológico gerado na universidade, de technology push para demand pull. Este é um desafio considerável, tendo em vista o porte reduzido das empresas de software nacionais e a baixa taxa de inovação do setor no país.

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Parcerias e apoio tecnológico para empresas de software: o caso do Centro de

Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR).

Autor: Ricardo Furtado Rodrigues (assistente de pesquisa)

Co-autores: Renata Lèbre La Rovere (professora associada), Gabriela Calafate Brito

(bolsista CNPq/PIBIC)

Grupo de Economia da Inovação – Instituto de Economia

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Tema: Arranjos institucionais, governança e políticas públicas territoriais

Os autores agradecem ao projeto PEC B107 IDRC/FLACSO, à SOFTEX e ao CNPq pelo

apoio à realização da pesquisa.

1 – Introdução

Atualmente estamos vivenciando um período de transição entre paradigmas

técnico-econômicos, onde as empresas são estimuladas a buscar parcerias, visando à

aquisição de vantagens competitivas dentro de um ambiente de inovação e acumulação

de conhecimento. Geralmente esse ambiente promove a cooperação através de redes

e/ou associações, entre as empresas e as instituições científicas e tecnológicas,

promovendo efeitos positivos para o território onde estas se localizam.

Dentro desse contexto, este artigo tem como objetivo discutir de que forma as parcerias

entre empresas de software podem promover o desenvolvimento local, a partir do estudo

de caso do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR). A criação do

CESAR foi motivada pela missão de criar uma instituição cujo papel seria o de conectar a

sociedade com a universidade de uma forma inovadora. O CESAR, segundo um dos seus

fundadores, foi criado para subverter a orientação do desenvolvimento tecnológico

gerado na universidade, de technology push para demand pull. Este é um desafio

considerável, tendo em vista o porte reduzido das empresas de software nacionais e a

baixa taxa de inovação do setor no país.

Além de focar na história, parcerias, e perspectivas do CESAR, o artigo também detalha

os casos de empresas que já se envolveram com o CESAR através de parcerias, de

compartilhamento de pessoal qualificado ou do próprio processo de incubação. A

comparação entre o CESAR e as outras empresas visa a responder à seguinte questão:

a experiência do CESAR criou uma “cultura de parcerias” no território do Recife? A

resposta a esta questão permitirá indicar caminhos para a identificação de melhores

práticas no estabelecimento de parcerias.

A metodologia empregada na pesquisa na qual o artigo se baseia incluiu, além de revisão

da literatura, uma pesquisa de campo, onde foi definido um roteiro de entrevistas e

definição de um questionário semi-estruturado aplicado no CESAR e em 4 (quatro)

empresas de Recife que se envolveram ou tem relação com o CESAR.

O artigo sugere que aproveitar as diversas fontes de tecnologia externa às empresas

através de acordos de parcerias e cooperação entre empresas, instituições de fomento e

universidades pode ser um fator competitivo que além de estimular a capacidade de

inovação das empresas de software pode minimizar custos e maximizar os recursos

físicos existentes. Pois um dos fatores decisivos para a formalização e consolidação das

parcerias e apoio tecnológicos para empresas de software reside nas bases de confiança

e interesses comuns entre os empresários e suas estratégias de negócios.

2 – Desenvolvimento Local e Cooperação Interfirmas: algumas contribuições do

pensamento contemporâneo

Neste novo século as contribuições de vários autores ligados às ciências sociais têm

buscado agregar contribuições significativas para a política de desenvolvimento. No que

se refere a estudos econômicos, Meyer-Stamer (2001) identifica duas linhas principais: a

primeira seria representada pelos estudos do Institute for Development Studies (IDS) da

Universidade de Sussex, cujos trabalhos recorreram intensamente à discussão de casos

de sucesso de distritos industriais, e a segunda contribuição parte de Michael Porter e

sua empresa Monitor Consulting, que foi responsável por vários estudos e consultorias

sobre desenvolvimento de clusters. Para esse autor as duas linhas pecam, no entanto,

por reduzir o desenvolvimento econômico local e regional à simples promoção de

clusters.

Ainda segundo Meyer-Stamer (2001) a descentralização das atividades econômicas, a

política de tecnologia, e o apoio à criação de micro e pequenas empresas surgem como

tendências nos países em desenvolvimento, enquanto que nos países industrializados, a

promoção do desenvolvimento local é um fato consumado, cuja forma se modificou

consideravelmente nos últimos tempos. Para esse autor, mesmo sendo um fenômeno

onipresente também em países em desenvolvimento, o apoio a clusters não é o único

modelo estruturante de desenvolvimento local.

Um outro fator que tem contribuído de forma direta para o desenvolvimento local é a

introdução de inovações tecnológicas, que de acordo com Albuquerque (1997) cria

condições competitivas que influem diretamente no desenvolvimento das empresas de

determinado território. Quando a estrutura empresarial se compõe fundamentalmente de

micro, pequenas e médias empresas, a negociação estratégica entre os níveis local e

regional da administração pública, o setor privado empresarial e as entidades que

prestam serviços às empresas (consultorias tecnológicas; laboratórios de certificação,

normatização e homologação; pesquisa de mercados e outros) é decisiva para garantir o

acesso a estes serviços avançados de apoio à produção e facilitar a cooperação

interfirmas (Albuquerque, 1997).

Seguindo a lógica do pensamento de Albuquerque pode-se perceber a importância do

apoio político e administrativo, ou seja, o setor público tem um importante papel no

fomento às atividades econômicas locais. Nesse contexto, para que haja

desenvolvimento local, é fundamental o envolvimento de vários atores sócio-econômicos

locais (associações de empresários, entidades financeiras, universidades e institutos de

pesquisa e desenvolvimento), com o objetivo de incorporar inovações tecnológicas e

organizacionais na estrutura empresarial e produtiva local. Atitudes criativas e inovadoras

dentro desse ambiente são fundamentais para a promoção de inovações promovendo o

desenvolvimento econômico e social local. Em locais que exista escassez de empresários

inovadores, o Governo deve promover o desenvolvimento do empreendedorismo. As

políticas públicas de desenvolvimento local seriam assim essenciais para a transformação

do território de forma que o mesmo possa alcançar resultados econômicos, abrindo

espaço através de oportunidades no mercado global, de forma a preservar seus aspectos

locais e ao mesmo tempo enriquecer o território (Machado e Caldeira, 2007).

As experiências que formam a atividade inovadora local dependem de crenças, valores,

conhecimento e habilidades de cada indivíduo e organização. Para Albagli (2007) essas

experiências dependem da difusão de novas práticas pela interação das firmas locais; e

provêm também do aprender fazendo. A dimensão tácita do conhecimento reforça a

importância do ambiente local para a atividade inovadora. De acordo com Albagli e Maciel

(2007) entende-se que as aglomerações produtivas são ambientes que propiciam a

interação, a troca do conhecimento e a aprendizagem, com as relações formais e

informais. Isto aponta a relevância da noção da territorialidade, revelando as relações

entre as dimensões territoriais e sociais e culturais.

Para Pires (2007) o desenvolvimento local é o resultado de uma ação coletiva intencional

de caráter local e específica, portanto, uma ação associada a uma cultura, a um plano e

instituições locais, tendo em vista arranjos de regulação das práticas sociais. Dentro

dessa perspectiva as cidades e regiões tornam-se, cada vez mais, as fontes específicas

de vantagens competitivas na globalização. Portanto, as relações de cooperação entre

empresas e entre estas e demais instituições em aglomerados localizados assumem um

papel relevante no que tange aos ganhos de escala, aprendizagem, difusão de

conhecimentos, capacidade inovativa e competitividade.(Iacono e Nagano, 2007). Assim,

o conhecimento e processos inovadores, características específicas das firmas e das

indústrias, e o ambiente institucional e governamental, possuem um papel importante em

explicar a diversidade de clusters industriais e também suas trajetórias evolutivas.

De fato, vários estudos empíricos mostram que a proximidade geográfica facilita as

interações e a comunicação entre empresas, estimula a busca por novos conhecimentos

e melhora as possibilidades de ações coordenadas. Apontam também que, além da

proximidade de indústrias correlatas, a presença de instituições de ensino e pesquisa,

laboratórios, centros de P&D e prestadoras de serviços impulsionam o dinamismo

empresarial local (Suzigan et al. 2005).

No caso de Recife, o surgimento de um aglomerado de empresas de software deveu-se

não apenas à presença de uma instituição de ensino e pesquisa forte na área – a

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mas também à criação, por

empreendedores locais egressos desta universidade, do Centro de Estudos e Sistemas

Avançados do Recife (CESAR) e à presença de um escritório regional da Associação

para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX). A política pública teve o

papel de propiciar as condições de infra-estrutura necessárias para alavancar estas

empresas, num projeto denominado Porto Digital. A partir da instalação de uma moderna

infra-estrutura de telecomunicações, associada aos centros de ensino e pesquisa e aos

fundos de aval e de investimentos, houve a atração de novas empresas de tecnologia da

informação para o estado de Pernambuco. Estas novas empresas são responsáveis pela

atração de capital e recursos humanos que contribuirão para a consolidação da

competitividade das empresas de software locais e para a geração de externalidades

positivas para o restante da economia regional (La Rovere e Shehata, 2007).

3 – As relações de parceria entre empresas de software

O cenário atual de globalização e a rápida mudança tecnológica, como o do período

recente, fazem com que as empresas de softwares busquem parcerias, adquirindo

vantagens competitivas associadas ao novo paradigma científico - tecnológico.

Obviamente, esse ambiente suscita a colaboração entre as empresas e as instituições

científicas e tecnológicas, criando os meios mais favoráveis para isso em forma de redes

e associações. Por isso, as firmas cada vez mais contam com relações de parcerias com

fornecedores de fora da firma, que se transformaram em substitutas efetivas para a

geração interna de conhecimento e inovação.

A parceria pode se realizar tanto com empresas locais quanto com empresas situadas

fora do território. No caso do software, a importância das relações locais de parceria pode

ser entendida a partir da constatação que para as firmas cujo desenvolvimento é baseado

em conhecimento científico, estar próximo de centros de pesquisa acadêmica de alta

qualidade pode ser uma vantagem. No momento de criação de uma firma, a localização

em um ambiente científico dinâmico é essencial, mesmo que, com o crescimento da

mesma, a importância da proximidade geográfica diminua (Morgan, 2001 apud Amim,

2005). A proximidade geográfica, por proporcionar um maior contato entre as firmas,

significa fluência do conhecimento naquele local, circulação de idéias e de know-how,

além do aumento do último graças à especialização e à união dos trabalhadores (Morgan,

2001 apud Amim, 2005).

A parceria deve ser entendida como um conjunto de procedimentos e ações de respeito

mútuo e convergência de interesse entre instituições, ou entre unidades de uma mesma

instituição. As partes envolvidas não têm supremacia entre si. A parceria se caracteriza,

em conseqüência, por uma ação entre iguais. A igualdade independe do tamanho da

organização ou de sua posição financeira. Prevalece, nesse caso, o comprometimento

institucional com objetivos comuns e a flexibilidade para responder às demandas

apresentadas pelos parceiros. Há na parceria, a utilização compartilhada de recursos

humanos, financeiros e físicos (Rodrigues & Barbiero, 2002). Dentro destes recursos

compartilhados está o conhecimento codificado, que pode ser deslocado de seu ambiente

original e ser utilizado em qualquer outro lugar, e o conhecimento tácito, que é

“dependente do contexto e socialmente acessível apenas através de interação física

direta” (Morgan, 2001). Os processos de aprendizado ocorrem facilmente entre

empresários em um cluster, facilitados pela proximidade geográfica entre eles. Como

conseqüência, as firmas localizadas no mesmo ambiente têm a possibilidade de

monitorar, comparar, selecionar e imitar as soluções “do vizinho” para problemas

similares.

Portanto, aproveitar as diversas fontes de tecnologia externa às empresas através de

acordos de parcerias e cooperação entre empresas, instituições de fomento e

universidades pode ser um fator competitivo que além de estimular a capacidade de

inovação das empresas de software pode minimizar custos e maximizar os recursos

físicos existentes. Pois um dos fatores decisivos para a formalização e consolidação das

parcerias e apoio tecnológicos para empresas de software reside nas bases de confiança

e interesses comuns entre os empresários e suas estratégias de negócios.

Os governos vêm buscando desempenhar um papel de destaque na formação de

alianças, assumindo, freqüentemente, a tarefa de promover as atividades de cooperação.

Nos países em desenvolvimento vários gestores têm privilegiado a formação de

consórcios de pesquisa e desenvolvimento e a promoção de redes de inovação nas suas

políticas de suporte à pesquisa, desenvolvimento e inovação.

O caso de Recife é interessante para investigar de que forma políticas públicas voltadas

para o desenvolvimento de clusters contribuem para a dinamização das empresas locais

pois, como já observado, a política pública foi apenas um dos elementos do crescimento

da atividade de software. A constituição do CESAR e sua cultura de parcerias foram

também fundamentais para estimular a atividade inovadora das empresas locais.

4 – Um breve histórico do CESAR

O CESAR – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife – é um instituto privado

de inovação que cria produtos, processos, serviços e empresas usando tecnologias da

informação e comunicação (TIC). Foi criado em 1996 com a missão de realizar a

transferência auto-sustentada de conhecimento em tecnologias da informação entre a

sociedade e a universidade; seu objetivo inicial era fixar no município de Recife a mão de

obra egressa da universidade, que antes ia para São Paulo, Rio de Janeiro e até os

Estados Unidos. A instituição interliga centros de inovação numa rede de conhecimento

que realiza projetos de desenvolvimento conectados ao futuro, com qualidade e agilidade.

Para isso, agrega a capacidade local de formação, pesquisa e desenvolvimento à sua

competência de gerenciar e executar projetos, aliado a parceiros estratégicos de

tecnologia, serviços, negócios e investimentos, com visão e atuação de classe mundial.

Um dos entrevistados chama a atenção que apesar o CESAR ter sido responsável pela

criação de várias empresas de software desde a sua criação, seu foco não é criar

empresas e sim construir negócios de classe mundial. Para ele, a pequena empresa de

base tecnológica é um meio, e não um fim, como muitos jovens acreditam.

O Centro também faz parte do Porto Digital, ambiente de empreendedorismo, inovação e

negócios de tecnologias da informação e comunicação no Estado de Pernambuco que

surgiu, em 2000, com o objetivo de produzir conhecimento localmente e exportar serviços

de valor agregado para o mundo, e reúne mais de 100 empresas no local. Em cinco anos

de operação, o Porto Digital transferiu para Recife 3.000 postos de trabalho, atraindo 10

empresas de outras regiões do país e quatro multinacionais, abrigando, ainda, quatro

centros de tecnologia.

A sede do CESAR fica no Bairro do Recife, centro histórico da capital de Pernambuco. A

localização geográfica do Centro assume importante papel na ocupação urbana do local,

estimulada pelo Porto Digital. A presença do CESAR vem consolidar a região como local

para instalação de outras empresas afins que o têm como parceiro e referência. Outra

contribuição do CESAR tem sido a geração de novos empreendimentos, a partir de um

modelo de incubação que estrutura novas empresas de informática.

Desde sua inauguração, a instituição foi merecedora de uma série de reconhecimentos e

realizações que mudaram o ecossistema pernambucano e nacional das TIC’s – entre eles

o prêmio Info200 de melhor empresa de serviços de software (2005), o prêmio FINEP de

mais inovadora instituição de pesquisa do Brasil (2004), a escolha da instituição como

exemplo de criação de negócios pelo World Economic Fórum (2001) e uma menção

honrosa no Stockholm Challenge (2000).

O CESAR foi o primeiro centro a investir na tecnologia Java - que é a linguagem de

programação criada por uma equipe de pesquisadores da empresa Sun Microsyste, do

Vale do Silício, na Califórnia, e que tem como princípio gerar softwares multiuso -,

decisão que inseriu os integrantes do centro no contexto de classe mundial.

A estrutura física do CESAR é composta por cinco prédios no Bairro Recife Antigo e dois

escritórios, sendo um localizado em Brasília e outro em São Paulo. Hoje o centro soma

um número de 680 funcionários em toda sua estrutura, além de manter três empresas

incubadas no seu prédio principal na praça Tiradentes em Recife. Atualmente o centro

desenvolve projetos com a Motorola, Nokia e Dell.

Uma outra iniciativa do CESAR é o seu mestrado profissionalizante que foi criado em

agosto desse ano, e para tanto já está sendo montada uma biblioteca como uma das

exigências do MEC.

Em 11 anos de trabalho foram gerados mais de 900 empregos diretos, além da

participação na criação de mais de trinta empreendimentos e estabelecimento de

parcerias com clientes em todo o Brasil e no mundo, levando a um crescimento no

faturamento de R$ 12.000,00 em 1996 para R$. 48 milhões em 2006.

4.1 – Relação de parcerias, atributos de sucesso e perspectivas

O CESAR foi concebido pelos seus idealizadores como uma iniciativa visando aproximar

a universidade das empresas locais. O CESAR foi fundado com recursos bastante

limitados e durante muito tempo funcionou num andar do Centro de Informática da

Universidade Federal de Pernambuco até se mudar para o Porto Digital, onde está

atualmente. Sua primeira parceria foi com uma empresa chamada Tivoli (mas tarde

comprada pela IBM) com o propósito de desenvolver um serviço para a rede de

supermercados Bom Preço. Tratava-se de um portal, que era uma novidade na época.

Além do portal foi realizado um treinamento com o Bom Preço. Segundo um entrevistado,

esta parceria foi muito boa pois a Tivoli era uma grande empresa, o que proporcionou um

aprendizado de negócios bastante interessante.

Como mostrado por Prado et al. (2002), o foco inicial do CESAR foi o estabelecimento de

parcerias entre empresas locais e empresas internacionais, a partir de projetos

desenvolvidos pelo Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco

(Cin-UFPE). A primeira grande empresa internacional a se associar ao CESAR foi a

Motorola, que passou a ser mantenedora do CESAR após ter sido seu cliente. Esta

parceria trouxe benefícios significativos ao fortalecer a imagem da empresa.

A Lei de Informática foi fundamental para consolidar o CESAR, numa segunda etapa,

como uma organização sem fins lucrativos cujo negócio é o fomento a redes de inovação.

Hoje o CESAR tem várias parcerias em andamento com grandes empresas internacionais

de TI, tais como Sun, IBM, Microsoft e Oracle. Fazem parte da sua rede de negócios 26

empresas nacionais e internacionais de várias áreas, além da UNDP, da FAPESP e do

MCT.

Segundo nossas entrevistas, o CESAR busca integrar três aspectos básicos na formação

de parcerias: o primeiro deles é verificar se existe mercado que represente um conjunto

de oportunidades para o que os parceiros estão tentando fazer, segundo, se o apoio ao

desenvolvimento do produto/processo será do CESAR ou de outras

empresas/instituições, pois o negócio do CESAR não tem fins lucrativos, então o apoio de

uma instituição capitalista que entenda de mercado melhor que o CESAR é sempre

interessante, e por último se os parceiros da iniciativa privada possuem os mesmos

aspectos éticos e morais que o CESAR, pois este não tem interesse em parceiros sem

perspectivas e objetividade de negócio. A parceria deve explorar o mercado enquanto

oportunidade, e na maioria das vezes são os parceiros que sustentam o esforço no ponto

de vista do capital, até porque os recursos financeiros do CESAR são escassos. A

relação de parcerias com o CESAR sempre funcionou bem, apesar de não existir um

padrão.

O CESAR desenvolve sistemas, aplicativos, projetos, consultoria e serviços de produtos

(componentes e pacotes). Cria novos empreendimentos de TI a partir da realização de

projetos para o mercado, que são captados junto às empresas em todo o Brasil e no

exterior. As condições para o fomento a estes empreendimentos são: a) produto ou

serviço gerado com abrangência internacional; b) equipe multidisciplinar e complementar;

c) tecnologia desenvolvida com um diferencial competitivo; d) negócio desenvolvido em

Pernambuco (Prado et.al, 2002). No início dos projetos, o CESAR detém os processos

decisórios, de gestão e de desenho de soluções. No processo de incubação, o CESAR é

responsável pelos custos e pela personalidade jurídica, mas as unidades de negócios

funcionam como empresas independentes. Quando é concluído o spin-off, a empresa

obtém sua personalidade jurídica.

O CESAR desenvolve propriedade intelectual sob encomenda, e neste caso quando a

instituição é contratada e apoiada com 100% dos investimentos de capital, o direito de

propriedade intelectual é sem sombras de dúvida da empresa contratante. Neste caso o

CESAR é contratado pelo serviço, é remunerado, e consequentemente tem sua margem

de lucro no negócio.

No que se refere ao apoio externo, a relação do CESAR com a Universidade foi sendo

construída aos poucos. Segundo Prado et al. (2002), o capital humano da universidade

sempre foi altamente capacitado, mas muitas pesquisas que eram realizadas no

CIn-UFPE não eram direcionadas para o mercado. Através da parceria da universidade

com o centro, as pesquisas foram direcionadas, e o CIn-UFPE ampliou significativamente

seu orçamento. A partir daí, pôde investir em seus laboratórios, melhorando as condições

da sua infra-estrutura, aumentando sua capacitação e ganhando uma cultura corporativa.

Os alunos de engenharia não costumavam trabalhar em projetos coordenados com a

graduação, pois muitos deles trabalhavam em empresas e, por causa da inflexibilidade

dos empresários com relação a horários, não terminavam a graduação. Hoje os alunos

passaram a fazer projetos integrados com a universidade, com uma perspectiva

profissional e com currículos atualizados que visam às necessidades do mercado

mundial. Os grandes projetos do CIn foram negociados pelo CESAR. Há um grupo de

extensão do CIn que busca outras parcerias, mas em menor escala, até porque o CIn

tem uma certa dificuldade em organizar suas parcerias, o que não acontece com o

CESAR, que tem parceiros considerados estratégicos e fortes no mercado.

Hoje o CESAR mantém conexões estratégicas com uma rede de universidades e

institutos de pesquisa em todo o mundo. São eles: Centro de Informática da Universidade

Federal de Pernambuco (CIn/UFPE); Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), Brasil;

Universidade de São Paulo (USP), Brasil; Instituto de Automação Industrial e Engenharia

de Software (IAS), Alemanha; International Centre for Digital Content (ICDC), Reino

Unido; Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automação (INRIA), França;

Indian Institute of Technology (IIT), Índia; Centre de Recherche Public Henri Tudor,

Luxemburgo; Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Brasil. Apesar destas

conexões indicarem sucesso no esforço de estabelecimento de parcerias para a

inovação, nossas entrevistas apontaram que o CESAR vingou porque se constituiu num

momento muito particular. Os entrevistados não acreditam que hoje a história do CESAR

pode se repetir em outro local.

Os atributos considerados essenciais pelo CESAR para o sucesso das parcerias são,

além do compromisso entre os parceiros, a coordenação sem excessos, a

interdependência com liberdade, e a confiança no sucesso. Já a comunicação não

precisa ser com tanta qualidade, no entanto deve ser intensa. Deve sempre haver

resolução conjunta de problemas, e minimizar o domínio de um parceiro sobre o outro, e

para isso tem que existir liberdade numa parceria para qualquer situação. “Parceria bem

sucedida depende de uma amizade a longo prazo”.

De acordo com as entrevistas, se não houver confiança não tem parceria, que é um

compartilhamento de estratégia para execução de um conjunto de operações.

Argumentos sobre a confiança sugerem que estabelecer relações de longo prazo,

confiáveis e exclusivas com alguns fornecedores pode dar retornos acima da média, o

que pode também agir como um incentivo para fazer o outsourcing de algumas

atividades. É preciso confiar na empresa do outro lado. “Parceria é liberdade de

comunicação”.

Outro critério para que a parceria seja bem sucedida seria o foco no mercado, ou seja, as

empresas têm que ter objetivo de mercado, para melhorar a qualidade de educação da

empresa. Estabelecer metas na parceria é essencial e tem que estar presente no

planejamento estratégico, já que exigirá recursos, pessoal, estruturas das empresas.

Para um dos entrevistados, um outro caminho para a consolidação de parcerias no setor

de software seria o próprio movimento de fusões e aquisições. Segundo ele, das nove

mil empresas nacionais de software apenas 500 são relevantes para o desenvolvimento

de inovações. Uma alternativa seria aumentar o escopo, a estrutura, o peso, a força, e a

capacidade de resolver problemas, reduzindo as 8500 empresas a cerca de 4000. No

Brasil porém o setor de software se caracteriza por apresentar poucas fusões entre as

empresas, pois neste setor o número de parecerias e alianças é limitado.

Segundo as conclusões do entrevistado é necessário que as empresas olhem para o

mercado. Aliança é baseada no mercado, com objetivos e metas. A aliança e a parceria

têm que ser tratadas como uma estratégia e têm que estar presentes no projeto de cada

empresa. Além disso, as empresas têm que estar preparadas para fazer adaptações em

função da mudança no mercado.

5 – A experiência das empresas parceiras e possíveis parceiras do CESAR

5.1 Histórico das empresas

A empresa A é uma empresa de soluções de informática com experiência de 17 anos e

meio no setor de saúde. Seu principal produto é um software de gestão de hospitais. Ela

tem 140 funcionários, atua em 8 cidades brasileiras, sendo que 5 escritórios estão

localizados nas cidades de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e Curitiba. Já as

outras três cidades (Belo Horizonte, Maceió e Goiânia), têm representantes da empresa.

Existem no Brasil hoje três fornecedores no mercado de soluções para hospitais, sendo

duas empresas localizadas em Recife. A empresa A é a líder do mercado, sendo a

primeira empresa de gestão hospitalar na área privada. Hoje a empresa, apesar de ser

sediada em Recife, tem no mercado do Rio de Janeiro seu maior faturamento. Uma das

idéias discutidas pela empresa é atuar na área de consultoria, ou seja, migrar do software

para soluções.

A empresa B, uma empresa especializada em gestão de ativos físicos, foi fundada em

1993, quando a SOFTEX lançou seu primeiro edital em Recife. Constituiu-se com quatro

sócios, sendo três da área de informática, e o quarto da matemática. Tem atualmente 13

funcionários, 6 estagiários e vários bolsistas, constituindo um quadro de 33 pessoas. Seu

carro-chefe é um software de gestão de manutenção, e seus principais clientes são

grandes empresas do setor elétrico, nacionais e estrangeiras. Desde 2001 a empresa

exporta para uma empresa americana. Para o entrevistado o seu sucesso e todo seu

aprendizado só aconteceram em função da sua experiência no CESAR onde teve

oportunidade de trabalhar como cliente e fornecedor, e também ao bom relacionamento

que existia entre ele e os dois principais fundadores do CESAR.

A empresa C é especializada em segurança da informação, focada em prover soluções

que proporcionam o nível de proteção adequado à necessidade de cada negócio. As

soluções da empresa envolvem serviços de diagnóstico, projetos de consultoria e

CoAdmin – gestão contínua de proteção, além da certificação digital. A empresa surgiu

no ano de 2000 onde foi incubada pelo CESAR até o ano de 2003, e em julho deste ano

fez sua primeira fusão com outra empresa de São Paulo. Atualmente a matriz está

localizada no Porto Digital em Recife e a filial em São Paulo. E em função da sua forte

presença no mercado nacional e internacional, a empresa acumula experiência em

fornecer soluções reais para ambientes de missão crítica, com cases em clientes de

médio e grande porte dos setores financeiro, industrial, varejo, governo e de energia.

Depois da fusão a empresa passou a ter em torno de 60 funcionários, dos quais 25 estão

na filial em São Paulo e o restante no Recife. O escritório de São Paulo é mais comercial

do que técnico e o desenvolvimento de tecnologia e produtos são realizados na unidade

de Recife. De acordo com o gerente de tecnologia a tendência é que haja mais

investimentos em capital humano e contratações em Recife.

A empresa D é uma empresa brasileira pioneira no desenvolvimento e publishing de

jogos para celular na América Latina que está sediada em Recife. A empresa é composta

por uma equipe de 75 integrantes especializados, como programadores, artistas,

designers, produtores, profissionais de marketing, comunicação e gerenciamento. A

empresa surgiu em janeiro de 2001 no CESAR em Recife. Antes do surgimento do

CESAR, a empresa ainda não existia, teve início através de um projeto executado em

conjunto por uma outra empresa, de celulares, e o próprio CESAR com o objetivo de

realizar P&D de aplicativos para os novos celulares da empresa citada utilizando a

plataforma J2ME. Atualmente a empresa D está incubada pelo CESAR e segundo um de

seu empreendedores, esse processo começou em 2003 e desde então a empresa

passou a ter tradição em P&D desenvolvendo softwares para clientes internacionais.

5.2 Relação de parcerias, atributos de sucesso e perspectivas

A empresa A nunca se aproximou do CESAR, pois a direção não via oportunidades de

estabelecimento de parcerias. O CESAR, por sua vez, realizava parcerias dando

prioridade às empresas que ele incubava. Esta situação mudou com a ida do entrevistado

para a empresa A. A experiência dele de 9 anos no CESAR levou a uma aproximação

entre o CESAR e a empresa A, para realizar um projeto em parceria com outras

empresas. Uma destas empresas procurou a empresa A a partir da identificação de uma

oportunidade. Caso haja sucesso na parceria a empresa A seria a responsável pelo

produto, enquanto outra entraria com os equipamentos, outra com os chips e outra com a

tecnologia. O CESAR faria a parte de pesquisa e desenvolvimento do projeto, ficando

com os royalties gerados pela propriedade intelectual.

O CESAR é visto como um parceiro estratégico pela empresa A devido à sua capacidade

de realização de P&D. Quanto às outras empresas parceiras, estas já tinham participado

de outros projetos da empresa A. O entrevistado acredita que não haverá problemas de

segredo nesta parceria, uma vez que cada parceiro está numa posição específica da

cadeia de valor. A empresa realiza reuniões mensais com toda a sua equipe, a qual está

ciente do projeto e apóia sua realização na medida em que se trata de uma nova

oportunidade de negócio para a empresa.

Os atributos considerados mais importantes pela empresa A na realização de uma

aliança estratégica são qualidade, participação no planejamento, coordenação,

compromisso e resolução conjunta de problemas. Além destes, o entrevistado ressaltou

as competências de cada empresa, cujo caráter complementar levam ao sucesso da

parceria.

Enquanto a empresa A precisou de um catalisador para a parceria com o CESAR, na

figura de um técnico qualificado, a empresa B sempre foi parceira do CESAR, pois na

visão de um dos seus sócios, empresas pequenas só sobrevivem com parceiros: “vagões

precisam buscar locomotivas”. A empresa B é parceira do CESAR pois necessita do P&D

desenvolvido por ele, enquanto que o conhecimento específico do setor de energia fica

por conta dela. A empresa faz parceria com o CESAR desde 2001/2002, antes a parceria

não ocorreu porque seu foco da empresa é muito específico. A parceria foi evoluindo à

medida que o CESAR foi amadurecendo enquanto instituição. Na parceria, a propriedade

intelectual é quase sempre da empresa B. Não há, porém, compartilhamento de todas as

informações. O processo comercial do CESAR, na visão do entrevistado, é muito pesado

e não há clareza sobre diversas informações, principalmente no que se refere aos custos

de produção. Isso, para o entrevistado, não se constitui num obstáculo para a parceria,

pois segundo ele “transparência não garante sucesso, se houver regras bem definidas

não há necessidade de transparência”.

As principais vantagens que a empresa B vê na parceria com o CESAR são o nome forte,

a proximidade e a capacidade de execução deste. A iniciativa e a concepção da parceria

partiram da empresa B. O CESAR é visto como uma organização com cultura corporativa

muito forte, e que faria falta na aliança, sem porém ser indispensável. A parceria é

considerada bem-sucedida, dentro do esperado. O entrevistado afirma que no começo da

parceria faltava participação do CESAR no planejamento, mas este, com o tempo, vem

entrando cada vez mais nesta parte do projeto. Ele sempre conseguiu resolver conflitos

com o CESAR, considerados normais durante um processo de parceria, a partir de

discussões sobre cada projeto objeto da parceria. Um ponto freqüente de conflito é a

divisão dos resultados, que é meio a meio, mas fica prejudicada pela falta de clareza em

relação aos custos. Ao ser perguntado sobre o que faltava na parceria com o CESAR, o

entrevistado respondeu que ainda há pouco compartilhamento de informações

Os atributos para o sucesso de uma parceria considerados mais importantes pela

empresa B são: coordenação e relacionamento pessoal. Na visão do entrevistado, o

relacionamento legal não substitui o relacionamento pessoal, e este é o conselho que ele

teria a dar para quem está começando uma parceria. “O contrato foi feito para ser

quebrado, a palavra não”.

A empresa C foi incubada pelo CESAR e portanto carrega em si uma espécie de DNA do

CESAR, conforme ressaltado por um dos gerentes de tecnologia. A relação sempre foi

muito forte tanto com a instituição quanto com as pessoas. Sempre que o CESAR pensa

em desenvolver algum projeto na área de segurança a empresa C é convidada a

participar do projeto, até porque este é o foco central da empresa. A empresa aprendeu

ao longo de sua existência foi que a parceria não funciona apenas no papel, é preciso

que as coisas funcionem e para que isso aconteça é necessário que exista um negócio

por trás de qualquer parceria. De acordo com o entrevistado não é desenvolvida

nenhuma tecnologia junto com o CESAR. Caso o CESAR tenha um projeto que necessita

de tecnologia de segurança então a empresa C agrega sua tecnologia no projeto para

desenvolver um terceiro produto, mas não é desenvolvido tecnologia conjuntamente. O

CESAR não entende de segurança e nem a empresa C de engenharia de software, ou

seja, cada um atua de acordo com sua especialidade. Barney (1999) sugeriu que as

firmas não precisam possuir todas as habilidades relevantes, contanto que tenham

acesso suficiente a elas.

Na visão da empresa C são vários os atributos quem podem ser considerados

importantes para o sucesso da parceria. O compromisso é importante quando existe

disposição pra fazer o que foi acordado. A coordenação, porque a parceria trata várias

empresas, então alguém tem que está coordenando. Já interdependência é importante

porque ela afirma que uma empresa só vai adiante junto com a outra, neste caso o

entrevistado diz que a interdependência é muito mais que um atributo, na verdade seria

um motivo da parceria, e por fim viria a confiança no sucesso que poderia ser o menos

importante de todos. Uma parceria bem sucedida seria como um casamento de

interesses e para dar certo tem que existir o negócio e os recursos para o projeto. Uma

parceria é como uma amizade renovada a cada momento, segundo o entrevistado. Até

agora todas as parcerias que a empresa do entrevistado já fez corresponderam suas

expectativas, sendo que algumas chegaram a superá-las. Para quem está começando

agora seria interessante buscar parceiros com o mesmo tamanho, pois pode ser

prejudicial para uma empresa fazer uma parceria com outra muito maior do que ela.

Outro fator fundamental é a rede de relacionamentos pessoais, pois a liberdade de

comunicação é um fator crucial para seguir adiante.

A empresa D possui vários sócios-parceiros. O CESAR e uma empresa gestora de

fundos de capital empreendedor com cotistas como o BID, SEBRAE Nacional e

Sumitomo Corporation, são os sócios majoritários da empresa D. Segundo o entrevistado

da empresa D, uma parceria é um acordo feito entre empresas diferentes, então cada

uma tem suas informações. As únicas informações compartilhadas são aquelas

relevantes para alcançar o objetivo da parceria. O principal motivo da parceria e atuação

conjunta com o CESAR do ponto de vista comercial é atender as demandas dos

mercados nacional e internacional de uma forma mais completa. Quando a empresa D é

contratada para desenvolver determinada tecnologia que exige competências extras, ela

então busca parceiros no Porto Digital e às vezes o CESAR com o objetivo comercial,

para que juntas possam oferecer um produto com mais qualidade. Com relação à

parceria com o CESAR o que mais pesa é o negócio em si.

Dependendo do projeto, a empresa D desenvolve tecnologia sozinha, em parceria com o

CESAR ou em parceria com outras empresas. Um exemplo é o da parceria entre a

empresa D e a Intel para atender as exigências do edital da Finep. Atualmente existem

tecnologias que estão sendo desenvolvidas em parceria com o CESAR. O acordo de

propriedade intelectual é definido no início do projeto, sendo que às vezes a propriedade

intelectual é compartilhada.

Com relação aos principais atributos que contribuem para o sucesso numa parceria, foi

mencionado na entrevista que o compromisso dos empresários seria um dos mais

importantes. E para que se tenha uma comunicação eficiente é necessário que exista

entre os parceiros o compartilhamento de informações e com qualidade além da

participação efetiva das empresas no planejamento. E em caso de resolução de

conflitos, os principais atributos destacados foram a resolução conjunta de problemas, ou

seja, a participação de todos; e ainda tentar atenuar da melhor forma possível os conflitos

gerados.

A parceria entre a empresa D e o CESAR foi considerada bem sucedida. Todos os

objetivos desta parceria foram cumpridos: a empresa ficaria na incubadora até crescer e

depois iria para o mercado conquistar novos clientes. Como podemos perceber, a

parceria foi fundamental, pois viabilizou a criação e os primeiros passos da empresa.

Para que a parceria seja bem sucedida é necessário que todos os participantes cumpram

seus papéis de acordo com que foi planejado no início e que haja um bom

relacionamento e confiança entre os parceiros: “afinal, as empresas são compostas por

pessoas”.

6. Conclusões e Implicações de Política

A análise das entrevistas junto ao CESAR e às empresas que já foram parceiras,

incubadas ou ainda absorveram mão de obra egressa do CESAR permite estabelecer

algumas conclusões e implicações de política. Em primeiro lugar, o CESAR é

reconhecido pelas empresas como importante para o ambiente de negócios de software

de Recife, apesar de nem todas terem concretizado seus projetos de parceria com ele. A

imagem do CESAR e o seu nome forte no mercado têm trazido efeitos positivos para as

empresas locais.

Em segundo lugar, os atributos considerados mais importantes para o sucesso das

parcerias são atributos que estão relacionados com o próprio ambiente de negócios do

território, a saber: o compromisso dos empresários, o relacionamento pessoal dos

parceiros (que garante liberdade de comunicação e confiança entre eles) e a

coordenação do projeto. As competências complementares das empresas também foram

apontadas como um fator de sucesso das parcerias. A maior parte das empresas

considerou adequado o compartilhamento de informações e conhecimento no contexto

local.

Em terceiro lugar, constatamos que a relação de parceria do CESAR com as empresas

locais levou à adoção, por parte destas, de práticas de gestão também adotadas pelo

CESAR, tais como um plano de negócios para cada etapa do desenvolvimento do

negócio, a avaliação contínua de pessoal e a capacitação dos funcionários. Assim, a

experiência do CESAR parece ter contribuído positivamente para a construção de uma

cultura favorável às alianças e desenvolvimento econômico local em Recife,

principalmente em função da forte interação que existe entre os diferentes atores locais e

da disseminação de conhecimento que existe no Porto Digital.

Estas observações reforçam o argumento desenvolvido nas seções 1 e 2 de que as

características do ambiente local são fundamentais para o sucesso do estabelecimento

de relações de parceria, as quais são importantes para o desenvolvimento da atividade

inovadora. A política de promoção de desenvolvimento local deve assim levar em

consideração as características deste ambiente para obter sucesso. No caso de Recife, o

espírito empreendedor local que levou à criação do CESAR e de suas empresas

incubadas foi reconhecido e alavancado pela política pública, que cuidou da instalação da

infra-estrutura necessária para o desenvolvimento de uma indústria local de software.

Entretanto, não se deve considerar o CESAR como uma mera “empresa-âncora” do pólo

de software de Recife, uma vez que a replicabilidade da sua experiência, de acordo com

entrevistados que participaram da sua criação, é limitada. Portanto, o principal desafio

colocado à política pública é o reconhecimento das características locais que podem

promover as relações entre as firmas e assim contribuir para a construção de um

ambiente inovador.

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