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Parcerias e apoio tecnológico para empresas de software: o caso do Centro de
Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR).
Autor: Ricardo Furtado Rodrigues (assistente de pesquisa)
Co-autores: Renata Lèbre La Rovere (professora associada), Gabriela Calafate Brito
(bolsista CNPq/PIBIC)
Grupo de Economia da Inovação – Instituto de Economia
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Tema: Arranjos institucionais, governança e políticas públicas territoriais
Os autores agradecem ao projeto PEC B107 IDRC/FLACSO, à SOFTEX e ao CNPq pelo
apoio à realização da pesquisa.
1 – Introdução
Atualmente estamos vivenciando um período de transição entre paradigmas
técnico-econômicos, onde as empresas são estimuladas a buscar parcerias, visando à
aquisição de vantagens competitivas dentro de um ambiente de inovação e acumulação
de conhecimento. Geralmente esse ambiente promove a cooperação através de redes
e/ou associações, entre as empresas e as instituições científicas e tecnológicas,
promovendo efeitos positivos para o território onde estas se localizam.
Dentro desse contexto, este artigo tem como objetivo discutir de que forma as parcerias
entre empresas de software podem promover o desenvolvimento local, a partir do estudo
de caso do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR). A criação do
CESAR foi motivada pela missão de criar uma instituição cujo papel seria o de conectar a
sociedade com a universidade de uma forma inovadora. O CESAR, segundo um dos seus
fundadores, foi criado para subverter a orientação do desenvolvimento tecnológico
gerado na universidade, de technology push para demand pull. Este é um desafio
considerável, tendo em vista o porte reduzido das empresas de software nacionais e a
baixa taxa de inovação do setor no país.
Além de focar na história, parcerias, e perspectivas do CESAR, o artigo também detalha
os casos de empresas que já se envolveram com o CESAR através de parcerias, de
compartilhamento de pessoal qualificado ou do próprio processo de incubação. A
comparação entre o CESAR e as outras empresas visa a responder à seguinte questão:
a experiência do CESAR criou uma “cultura de parcerias” no território do Recife? A
resposta a esta questão permitirá indicar caminhos para a identificação de melhores
práticas no estabelecimento de parcerias.
A metodologia empregada na pesquisa na qual o artigo se baseia incluiu, além de revisão
da literatura, uma pesquisa de campo, onde foi definido um roteiro de entrevistas e
definição de um questionário semi-estruturado aplicado no CESAR e em 4 (quatro)
empresas de Recife que se envolveram ou tem relação com o CESAR.
O artigo sugere que aproveitar as diversas fontes de tecnologia externa às empresas
através de acordos de parcerias e cooperação entre empresas, instituições de fomento e
universidades pode ser um fator competitivo que além de estimular a capacidade de
inovação das empresas de software pode minimizar custos e maximizar os recursos
físicos existentes. Pois um dos fatores decisivos para a formalização e consolidação das
parcerias e apoio tecnológicos para empresas de software reside nas bases de confiança
e interesses comuns entre os empresários e suas estratégias de negócios.
2 – Desenvolvimento Local e Cooperação Interfirmas: algumas contribuições do
pensamento contemporâneo
Neste novo século as contribuições de vários autores ligados às ciências sociais têm
buscado agregar contribuições significativas para a política de desenvolvimento. No que
se refere a estudos econômicos, Meyer-Stamer (2001) identifica duas linhas principais: a
primeira seria representada pelos estudos do Institute for Development Studies (IDS) da
Universidade de Sussex, cujos trabalhos recorreram intensamente à discussão de casos
de sucesso de distritos industriais, e a segunda contribuição parte de Michael Porter e
sua empresa Monitor Consulting, que foi responsável por vários estudos e consultorias
sobre desenvolvimento de clusters. Para esse autor as duas linhas pecam, no entanto,
por reduzir o desenvolvimento econômico local e regional à simples promoção de
clusters.
Ainda segundo Meyer-Stamer (2001) a descentralização das atividades econômicas, a
política de tecnologia, e o apoio à criação de micro e pequenas empresas surgem como
tendências nos países em desenvolvimento, enquanto que nos países industrializados, a
promoção do desenvolvimento local é um fato consumado, cuja forma se modificou
consideravelmente nos últimos tempos. Para esse autor, mesmo sendo um fenômeno
onipresente também em países em desenvolvimento, o apoio a clusters não é o único
modelo estruturante de desenvolvimento local.
Um outro fator que tem contribuído de forma direta para o desenvolvimento local é a
introdução de inovações tecnológicas, que de acordo com Albuquerque (1997) cria
condições competitivas que influem diretamente no desenvolvimento das empresas de
determinado território. Quando a estrutura empresarial se compõe fundamentalmente de
micro, pequenas e médias empresas, a negociação estratégica entre os níveis local e
regional da administração pública, o setor privado empresarial e as entidades que
prestam serviços às empresas (consultorias tecnológicas; laboratórios de certificação,
normatização e homologação; pesquisa de mercados e outros) é decisiva para garantir o
acesso a estes serviços avançados de apoio à produção e facilitar a cooperação
interfirmas (Albuquerque, 1997).
Seguindo a lógica do pensamento de Albuquerque pode-se perceber a importância do
apoio político e administrativo, ou seja, o setor público tem um importante papel no
fomento às atividades econômicas locais. Nesse contexto, para que haja
desenvolvimento local, é fundamental o envolvimento de vários atores sócio-econômicos
locais (associações de empresários, entidades financeiras, universidades e institutos de
pesquisa e desenvolvimento), com o objetivo de incorporar inovações tecnológicas e
organizacionais na estrutura empresarial e produtiva local. Atitudes criativas e inovadoras
dentro desse ambiente são fundamentais para a promoção de inovações promovendo o
desenvolvimento econômico e social local. Em locais que exista escassez de empresários
inovadores, o Governo deve promover o desenvolvimento do empreendedorismo. As
políticas públicas de desenvolvimento local seriam assim essenciais para a transformação
do território de forma que o mesmo possa alcançar resultados econômicos, abrindo
espaço através de oportunidades no mercado global, de forma a preservar seus aspectos
locais e ao mesmo tempo enriquecer o território (Machado e Caldeira, 2007).
As experiências que formam a atividade inovadora local dependem de crenças, valores,
conhecimento e habilidades de cada indivíduo e organização. Para Albagli (2007) essas
experiências dependem da difusão de novas práticas pela interação das firmas locais; e
provêm também do aprender fazendo. A dimensão tácita do conhecimento reforça a
importância do ambiente local para a atividade inovadora. De acordo com Albagli e Maciel
(2007) entende-se que as aglomerações produtivas são ambientes que propiciam a
interação, a troca do conhecimento e a aprendizagem, com as relações formais e
informais. Isto aponta a relevância da noção da territorialidade, revelando as relações
entre as dimensões territoriais e sociais e culturais.
Para Pires (2007) o desenvolvimento local é o resultado de uma ação coletiva intencional
de caráter local e específica, portanto, uma ação associada a uma cultura, a um plano e
instituições locais, tendo em vista arranjos de regulação das práticas sociais. Dentro
dessa perspectiva as cidades e regiões tornam-se, cada vez mais, as fontes específicas
de vantagens competitivas na globalização. Portanto, as relações de cooperação entre
empresas e entre estas e demais instituições em aglomerados localizados assumem um
papel relevante no que tange aos ganhos de escala, aprendizagem, difusão de
conhecimentos, capacidade inovativa e competitividade.(Iacono e Nagano, 2007). Assim,
o conhecimento e processos inovadores, características específicas das firmas e das
indústrias, e o ambiente institucional e governamental, possuem um papel importante em
explicar a diversidade de clusters industriais e também suas trajetórias evolutivas.
De fato, vários estudos empíricos mostram que a proximidade geográfica facilita as
interações e a comunicação entre empresas, estimula a busca por novos conhecimentos
e melhora as possibilidades de ações coordenadas. Apontam também que, além da
proximidade de indústrias correlatas, a presença de instituições de ensino e pesquisa,
laboratórios, centros de P&D e prestadoras de serviços impulsionam o dinamismo
empresarial local (Suzigan et al. 2005).
No caso de Recife, o surgimento de um aglomerado de empresas de software deveu-se
não apenas à presença de uma instituição de ensino e pesquisa forte na área – a
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mas também à criação, por
empreendedores locais egressos desta universidade, do Centro de Estudos e Sistemas
Avançados do Recife (CESAR) e à presença de um escritório regional da Associação
para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX). A política pública teve o
papel de propiciar as condições de infra-estrutura necessárias para alavancar estas
empresas, num projeto denominado Porto Digital. A partir da instalação de uma moderna
infra-estrutura de telecomunicações, associada aos centros de ensino e pesquisa e aos
fundos de aval e de investimentos, houve a atração de novas empresas de tecnologia da
informação para o estado de Pernambuco. Estas novas empresas são responsáveis pela
atração de capital e recursos humanos que contribuirão para a consolidação da
competitividade das empresas de software locais e para a geração de externalidades
positivas para o restante da economia regional (La Rovere e Shehata, 2007).
3 – As relações de parceria entre empresas de software
O cenário atual de globalização e a rápida mudança tecnológica, como o do período
recente, fazem com que as empresas de softwares busquem parcerias, adquirindo
vantagens competitivas associadas ao novo paradigma científico - tecnológico.
Obviamente, esse ambiente suscita a colaboração entre as empresas e as instituições
científicas e tecnológicas, criando os meios mais favoráveis para isso em forma de redes
e associações. Por isso, as firmas cada vez mais contam com relações de parcerias com
fornecedores de fora da firma, que se transformaram em substitutas efetivas para a
geração interna de conhecimento e inovação.
A parceria pode se realizar tanto com empresas locais quanto com empresas situadas
fora do território. No caso do software, a importância das relações locais de parceria pode
ser entendida a partir da constatação que para as firmas cujo desenvolvimento é baseado
em conhecimento científico, estar próximo de centros de pesquisa acadêmica de alta
qualidade pode ser uma vantagem. No momento de criação de uma firma, a localização
em um ambiente científico dinâmico é essencial, mesmo que, com o crescimento da
mesma, a importância da proximidade geográfica diminua (Morgan, 2001 apud Amim,
2005). A proximidade geográfica, por proporcionar um maior contato entre as firmas,
significa fluência do conhecimento naquele local, circulação de idéias e de know-how,
além do aumento do último graças à especialização e à união dos trabalhadores (Morgan,
2001 apud Amim, 2005).
A parceria deve ser entendida como um conjunto de procedimentos e ações de respeito
mútuo e convergência de interesse entre instituições, ou entre unidades de uma mesma
instituição. As partes envolvidas não têm supremacia entre si. A parceria se caracteriza,
em conseqüência, por uma ação entre iguais. A igualdade independe do tamanho da
organização ou de sua posição financeira. Prevalece, nesse caso, o comprometimento
institucional com objetivos comuns e a flexibilidade para responder às demandas
apresentadas pelos parceiros. Há na parceria, a utilização compartilhada de recursos
humanos, financeiros e físicos (Rodrigues & Barbiero, 2002). Dentro destes recursos
compartilhados está o conhecimento codificado, que pode ser deslocado de seu ambiente
original e ser utilizado em qualquer outro lugar, e o conhecimento tácito, que é
“dependente do contexto e socialmente acessível apenas através de interação física
direta” (Morgan, 2001). Os processos de aprendizado ocorrem facilmente entre
empresários em um cluster, facilitados pela proximidade geográfica entre eles. Como
conseqüência, as firmas localizadas no mesmo ambiente têm a possibilidade de
monitorar, comparar, selecionar e imitar as soluções “do vizinho” para problemas
similares.
Portanto, aproveitar as diversas fontes de tecnologia externa às empresas através de
acordos de parcerias e cooperação entre empresas, instituições de fomento e
universidades pode ser um fator competitivo que além de estimular a capacidade de
inovação das empresas de software pode minimizar custos e maximizar os recursos
físicos existentes. Pois um dos fatores decisivos para a formalização e consolidação das
parcerias e apoio tecnológicos para empresas de software reside nas bases de confiança
e interesses comuns entre os empresários e suas estratégias de negócios.
Os governos vêm buscando desempenhar um papel de destaque na formação de
alianças, assumindo, freqüentemente, a tarefa de promover as atividades de cooperação.
Nos países em desenvolvimento vários gestores têm privilegiado a formação de
consórcios de pesquisa e desenvolvimento e a promoção de redes de inovação nas suas
políticas de suporte à pesquisa, desenvolvimento e inovação.
O caso de Recife é interessante para investigar de que forma políticas públicas voltadas
para o desenvolvimento de clusters contribuem para a dinamização das empresas locais
pois, como já observado, a política pública foi apenas um dos elementos do crescimento
da atividade de software. A constituição do CESAR e sua cultura de parcerias foram
também fundamentais para estimular a atividade inovadora das empresas locais.
4 – Um breve histórico do CESAR
O CESAR – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife – é um instituto privado
de inovação que cria produtos, processos, serviços e empresas usando tecnologias da
informação e comunicação (TIC). Foi criado em 1996 com a missão de realizar a
transferência auto-sustentada de conhecimento em tecnologias da informação entre a
sociedade e a universidade; seu objetivo inicial era fixar no município de Recife a mão de
obra egressa da universidade, que antes ia para São Paulo, Rio de Janeiro e até os
Estados Unidos. A instituição interliga centros de inovação numa rede de conhecimento
que realiza projetos de desenvolvimento conectados ao futuro, com qualidade e agilidade.
Para isso, agrega a capacidade local de formação, pesquisa e desenvolvimento à sua
competência de gerenciar e executar projetos, aliado a parceiros estratégicos de
tecnologia, serviços, negócios e investimentos, com visão e atuação de classe mundial.
Um dos entrevistados chama a atenção que apesar o CESAR ter sido responsável pela
criação de várias empresas de software desde a sua criação, seu foco não é criar
empresas e sim construir negócios de classe mundial. Para ele, a pequena empresa de
base tecnológica é um meio, e não um fim, como muitos jovens acreditam.
O Centro também faz parte do Porto Digital, ambiente de empreendedorismo, inovação e
negócios de tecnologias da informação e comunicação no Estado de Pernambuco que
surgiu, em 2000, com o objetivo de produzir conhecimento localmente e exportar serviços
de valor agregado para o mundo, e reúne mais de 100 empresas no local. Em cinco anos
de operação, o Porto Digital transferiu para Recife 3.000 postos de trabalho, atraindo 10
empresas de outras regiões do país e quatro multinacionais, abrigando, ainda, quatro
centros de tecnologia.
A sede do CESAR fica no Bairro do Recife, centro histórico da capital de Pernambuco. A
localização geográfica do Centro assume importante papel na ocupação urbana do local,
estimulada pelo Porto Digital. A presença do CESAR vem consolidar a região como local
para instalação de outras empresas afins que o têm como parceiro e referência. Outra
contribuição do CESAR tem sido a geração de novos empreendimentos, a partir de um
modelo de incubação que estrutura novas empresas de informática.
Desde sua inauguração, a instituição foi merecedora de uma série de reconhecimentos e
realizações que mudaram o ecossistema pernambucano e nacional das TIC’s – entre eles
o prêmio Info200 de melhor empresa de serviços de software (2005), o prêmio FINEP de
mais inovadora instituição de pesquisa do Brasil (2004), a escolha da instituição como
exemplo de criação de negócios pelo World Economic Fórum (2001) e uma menção
honrosa no Stockholm Challenge (2000).
O CESAR foi o primeiro centro a investir na tecnologia Java - que é a linguagem de
programação criada por uma equipe de pesquisadores da empresa Sun Microsyste, do
Vale do Silício, na Califórnia, e que tem como princípio gerar softwares multiuso -,
decisão que inseriu os integrantes do centro no contexto de classe mundial.
A estrutura física do CESAR é composta por cinco prédios no Bairro Recife Antigo e dois
escritórios, sendo um localizado em Brasília e outro em São Paulo. Hoje o centro soma
um número de 680 funcionários em toda sua estrutura, além de manter três empresas
incubadas no seu prédio principal na praça Tiradentes em Recife. Atualmente o centro
desenvolve projetos com a Motorola, Nokia e Dell.
Uma outra iniciativa do CESAR é o seu mestrado profissionalizante que foi criado em
agosto desse ano, e para tanto já está sendo montada uma biblioteca como uma das
exigências do MEC.
Em 11 anos de trabalho foram gerados mais de 900 empregos diretos, além da
participação na criação de mais de trinta empreendimentos e estabelecimento de
parcerias com clientes em todo o Brasil e no mundo, levando a um crescimento no
faturamento de R$ 12.000,00 em 1996 para R$. 48 milhões em 2006.
4.1 – Relação de parcerias, atributos de sucesso e perspectivas
O CESAR foi concebido pelos seus idealizadores como uma iniciativa visando aproximar
a universidade das empresas locais. O CESAR foi fundado com recursos bastante
limitados e durante muito tempo funcionou num andar do Centro de Informática da
Universidade Federal de Pernambuco até se mudar para o Porto Digital, onde está
atualmente. Sua primeira parceria foi com uma empresa chamada Tivoli (mas tarde
comprada pela IBM) com o propósito de desenvolver um serviço para a rede de
supermercados Bom Preço. Tratava-se de um portal, que era uma novidade na época.
Além do portal foi realizado um treinamento com o Bom Preço. Segundo um entrevistado,
esta parceria foi muito boa pois a Tivoli era uma grande empresa, o que proporcionou um
aprendizado de negócios bastante interessante.
Como mostrado por Prado et al. (2002), o foco inicial do CESAR foi o estabelecimento de
parcerias entre empresas locais e empresas internacionais, a partir de projetos
desenvolvidos pelo Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco
(Cin-UFPE). A primeira grande empresa internacional a se associar ao CESAR foi a
Motorola, que passou a ser mantenedora do CESAR após ter sido seu cliente. Esta
parceria trouxe benefícios significativos ao fortalecer a imagem da empresa.
A Lei de Informática foi fundamental para consolidar o CESAR, numa segunda etapa,
como uma organização sem fins lucrativos cujo negócio é o fomento a redes de inovação.
Hoje o CESAR tem várias parcerias em andamento com grandes empresas internacionais
de TI, tais como Sun, IBM, Microsoft e Oracle. Fazem parte da sua rede de negócios 26
empresas nacionais e internacionais de várias áreas, além da UNDP, da FAPESP e do
MCT.
Segundo nossas entrevistas, o CESAR busca integrar três aspectos básicos na formação
de parcerias: o primeiro deles é verificar se existe mercado que represente um conjunto
de oportunidades para o que os parceiros estão tentando fazer, segundo, se o apoio ao
desenvolvimento do produto/processo será do CESAR ou de outras
empresas/instituições, pois o negócio do CESAR não tem fins lucrativos, então o apoio de
uma instituição capitalista que entenda de mercado melhor que o CESAR é sempre
interessante, e por último se os parceiros da iniciativa privada possuem os mesmos
aspectos éticos e morais que o CESAR, pois este não tem interesse em parceiros sem
perspectivas e objetividade de negócio. A parceria deve explorar o mercado enquanto
oportunidade, e na maioria das vezes são os parceiros que sustentam o esforço no ponto
de vista do capital, até porque os recursos financeiros do CESAR são escassos. A
relação de parcerias com o CESAR sempre funcionou bem, apesar de não existir um
padrão.
O CESAR desenvolve sistemas, aplicativos, projetos, consultoria e serviços de produtos
(componentes e pacotes). Cria novos empreendimentos de TI a partir da realização de
projetos para o mercado, que são captados junto às empresas em todo o Brasil e no
exterior. As condições para o fomento a estes empreendimentos são: a) produto ou
serviço gerado com abrangência internacional; b) equipe multidisciplinar e complementar;
c) tecnologia desenvolvida com um diferencial competitivo; d) negócio desenvolvido em
Pernambuco (Prado et.al, 2002). No início dos projetos, o CESAR detém os processos
decisórios, de gestão e de desenho de soluções. No processo de incubação, o CESAR é
responsável pelos custos e pela personalidade jurídica, mas as unidades de negócios
funcionam como empresas independentes. Quando é concluído o spin-off, a empresa
obtém sua personalidade jurídica.
O CESAR desenvolve propriedade intelectual sob encomenda, e neste caso quando a
instituição é contratada e apoiada com 100% dos investimentos de capital, o direito de
propriedade intelectual é sem sombras de dúvida da empresa contratante. Neste caso o
CESAR é contratado pelo serviço, é remunerado, e consequentemente tem sua margem
de lucro no negócio.
No que se refere ao apoio externo, a relação do CESAR com a Universidade foi sendo
construída aos poucos. Segundo Prado et al. (2002), o capital humano da universidade
sempre foi altamente capacitado, mas muitas pesquisas que eram realizadas no
CIn-UFPE não eram direcionadas para o mercado. Através da parceria da universidade
com o centro, as pesquisas foram direcionadas, e o CIn-UFPE ampliou significativamente
seu orçamento. A partir daí, pôde investir em seus laboratórios, melhorando as condições
da sua infra-estrutura, aumentando sua capacitação e ganhando uma cultura corporativa.
Os alunos de engenharia não costumavam trabalhar em projetos coordenados com a
graduação, pois muitos deles trabalhavam em empresas e, por causa da inflexibilidade
dos empresários com relação a horários, não terminavam a graduação. Hoje os alunos
passaram a fazer projetos integrados com a universidade, com uma perspectiva
profissional e com currículos atualizados que visam às necessidades do mercado
mundial. Os grandes projetos do CIn foram negociados pelo CESAR. Há um grupo de
extensão do CIn que busca outras parcerias, mas em menor escala, até porque o CIn
tem uma certa dificuldade em organizar suas parcerias, o que não acontece com o
CESAR, que tem parceiros considerados estratégicos e fortes no mercado.
Hoje o CESAR mantém conexões estratégicas com uma rede de universidades e
institutos de pesquisa em todo o mundo. São eles: Centro de Informática da Universidade
Federal de Pernambuco (CIn/UFPE); Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), Brasil;
Universidade de São Paulo (USP), Brasil; Instituto de Automação Industrial e Engenharia
de Software (IAS), Alemanha; International Centre for Digital Content (ICDC), Reino
Unido; Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automação (INRIA), França;
Indian Institute of Technology (IIT), Índia; Centre de Recherche Public Henri Tudor,
Luxemburgo; Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Brasil. Apesar destas
conexões indicarem sucesso no esforço de estabelecimento de parcerias para a
inovação, nossas entrevistas apontaram que o CESAR vingou porque se constituiu num
momento muito particular. Os entrevistados não acreditam que hoje a história do CESAR
pode se repetir em outro local.
Os atributos considerados essenciais pelo CESAR para o sucesso das parcerias são,
além do compromisso entre os parceiros, a coordenação sem excessos, a
interdependência com liberdade, e a confiança no sucesso. Já a comunicação não
precisa ser com tanta qualidade, no entanto deve ser intensa. Deve sempre haver
resolução conjunta de problemas, e minimizar o domínio de um parceiro sobre o outro, e
para isso tem que existir liberdade numa parceria para qualquer situação. “Parceria bem
sucedida depende de uma amizade a longo prazo”.
De acordo com as entrevistas, se não houver confiança não tem parceria, que é um
compartilhamento de estratégia para execução de um conjunto de operações.
Argumentos sobre a confiança sugerem que estabelecer relações de longo prazo,
confiáveis e exclusivas com alguns fornecedores pode dar retornos acima da média, o
que pode também agir como um incentivo para fazer o outsourcing de algumas
atividades. É preciso confiar na empresa do outro lado. “Parceria é liberdade de
comunicação”.
Outro critério para que a parceria seja bem sucedida seria o foco no mercado, ou seja, as
empresas têm que ter objetivo de mercado, para melhorar a qualidade de educação da
empresa. Estabelecer metas na parceria é essencial e tem que estar presente no
planejamento estratégico, já que exigirá recursos, pessoal, estruturas das empresas.
Para um dos entrevistados, um outro caminho para a consolidação de parcerias no setor
de software seria o próprio movimento de fusões e aquisições. Segundo ele, das nove
mil empresas nacionais de software apenas 500 são relevantes para o desenvolvimento
de inovações. Uma alternativa seria aumentar o escopo, a estrutura, o peso, a força, e a
capacidade de resolver problemas, reduzindo as 8500 empresas a cerca de 4000. No
Brasil porém o setor de software se caracteriza por apresentar poucas fusões entre as
empresas, pois neste setor o número de parecerias e alianças é limitado.
Segundo as conclusões do entrevistado é necessário que as empresas olhem para o
mercado. Aliança é baseada no mercado, com objetivos e metas. A aliança e a parceria
têm que ser tratadas como uma estratégia e têm que estar presentes no projeto de cada
empresa. Além disso, as empresas têm que estar preparadas para fazer adaptações em
função da mudança no mercado.
5 – A experiência das empresas parceiras e possíveis parceiras do CESAR
5.1 Histórico das empresas
A empresa A é uma empresa de soluções de informática com experiência de 17 anos e
meio no setor de saúde. Seu principal produto é um software de gestão de hospitais. Ela
tem 140 funcionários, atua em 8 cidades brasileiras, sendo que 5 escritórios estão
localizados nas cidades de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e Curitiba. Já as
outras três cidades (Belo Horizonte, Maceió e Goiânia), têm representantes da empresa.
Existem no Brasil hoje três fornecedores no mercado de soluções para hospitais, sendo
duas empresas localizadas em Recife. A empresa A é a líder do mercado, sendo a
primeira empresa de gestão hospitalar na área privada. Hoje a empresa, apesar de ser
sediada em Recife, tem no mercado do Rio de Janeiro seu maior faturamento. Uma das
idéias discutidas pela empresa é atuar na área de consultoria, ou seja, migrar do software
para soluções.
A empresa B, uma empresa especializada em gestão de ativos físicos, foi fundada em
1993, quando a SOFTEX lançou seu primeiro edital em Recife. Constituiu-se com quatro
sócios, sendo três da área de informática, e o quarto da matemática. Tem atualmente 13
funcionários, 6 estagiários e vários bolsistas, constituindo um quadro de 33 pessoas. Seu
carro-chefe é um software de gestão de manutenção, e seus principais clientes são
grandes empresas do setor elétrico, nacionais e estrangeiras. Desde 2001 a empresa
exporta para uma empresa americana. Para o entrevistado o seu sucesso e todo seu
aprendizado só aconteceram em função da sua experiência no CESAR onde teve
oportunidade de trabalhar como cliente e fornecedor, e também ao bom relacionamento
que existia entre ele e os dois principais fundadores do CESAR.
A empresa C é especializada em segurança da informação, focada em prover soluções
que proporcionam o nível de proteção adequado à necessidade de cada negócio. As
soluções da empresa envolvem serviços de diagnóstico, projetos de consultoria e
CoAdmin – gestão contínua de proteção, além da certificação digital. A empresa surgiu
no ano de 2000 onde foi incubada pelo CESAR até o ano de 2003, e em julho deste ano
fez sua primeira fusão com outra empresa de São Paulo. Atualmente a matriz está
localizada no Porto Digital em Recife e a filial em São Paulo. E em função da sua forte
presença no mercado nacional e internacional, a empresa acumula experiência em
fornecer soluções reais para ambientes de missão crítica, com cases em clientes de
médio e grande porte dos setores financeiro, industrial, varejo, governo e de energia.
Depois da fusão a empresa passou a ter em torno de 60 funcionários, dos quais 25 estão
na filial em São Paulo e o restante no Recife. O escritório de São Paulo é mais comercial
do que técnico e o desenvolvimento de tecnologia e produtos são realizados na unidade
de Recife. De acordo com o gerente de tecnologia a tendência é que haja mais
investimentos em capital humano e contratações em Recife.
A empresa D é uma empresa brasileira pioneira no desenvolvimento e publishing de
jogos para celular na América Latina que está sediada em Recife. A empresa é composta
por uma equipe de 75 integrantes especializados, como programadores, artistas,
designers, produtores, profissionais de marketing, comunicação e gerenciamento. A
empresa surgiu em janeiro de 2001 no CESAR em Recife. Antes do surgimento do
CESAR, a empresa ainda não existia, teve início através de um projeto executado em
conjunto por uma outra empresa, de celulares, e o próprio CESAR com o objetivo de
realizar P&D de aplicativos para os novos celulares da empresa citada utilizando a
plataforma J2ME. Atualmente a empresa D está incubada pelo CESAR e segundo um de
seu empreendedores, esse processo começou em 2003 e desde então a empresa
passou a ter tradição em P&D desenvolvendo softwares para clientes internacionais.
5.2 Relação de parcerias, atributos de sucesso e perspectivas
A empresa A nunca se aproximou do CESAR, pois a direção não via oportunidades de
estabelecimento de parcerias. O CESAR, por sua vez, realizava parcerias dando
prioridade às empresas que ele incubava. Esta situação mudou com a ida do entrevistado
para a empresa A. A experiência dele de 9 anos no CESAR levou a uma aproximação
entre o CESAR e a empresa A, para realizar um projeto em parceria com outras
empresas. Uma destas empresas procurou a empresa A a partir da identificação de uma
oportunidade. Caso haja sucesso na parceria a empresa A seria a responsável pelo
produto, enquanto outra entraria com os equipamentos, outra com os chips e outra com a
tecnologia. O CESAR faria a parte de pesquisa e desenvolvimento do projeto, ficando
com os royalties gerados pela propriedade intelectual.
O CESAR é visto como um parceiro estratégico pela empresa A devido à sua capacidade
de realização de P&D. Quanto às outras empresas parceiras, estas já tinham participado
de outros projetos da empresa A. O entrevistado acredita que não haverá problemas de
segredo nesta parceria, uma vez que cada parceiro está numa posição específica da
cadeia de valor. A empresa realiza reuniões mensais com toda a sua equipe, a qual está
ciente do projeto e apóia sua realização na medida em que se trata de uma nova
oportunidade de negócio para a empresa.
Os atributos considerados mais importantes pela empresa A na realização de uma
aliança estratégica são qualidade, participação no planejamento, coordenação,
compromisso e resolução conjunta de problemas. Além destes, o entrevistado ressaltou
as competências de cada empresa, cujo caráter complementar levam ao sucesso da
parceria.
Enquanto a empresa A precisou de um catalisador para a parceria com o CESAR, na
figura de um técnico qualificado, a empresa B sempre foi parceira do CESAR, pois na
visão de um dos seus sócios, empresas pequenas só sobrevivem com parceiros: “vagões
precisam buscar locomotivas”. A empresa B é parceira do CESAR pois necessita do P&D
desenvolvido por ele, enquanto que o conhecimento específico do setor de energia fica
por conta dela. A empresa faz parceria com o CESAR desde 2001/2002, antes a parceria
não ocorreu porque seu foco da empresa é muito específico. A parceria foi evoluindo à
medida que o CESAR foi amadurecendo enquanto instituição. Na parceria, a propriedade
intelectual é quase sempre da empresa B. Não há, porém, compartilhamento de todas as
informações. O processo comercial do CESAR, na visão do entrevistado, é muito pesado
e não há clareza sobre diversas informações, principalmente no que se refere aos custos
de produção. Isso, para o entrevistado, não se constitui num obstáculo para a parceria,
pois segundo ele “transparência não garante sucesso, se houver regras bem definidas
não há necessidade de transparência”.
As principais vantagens que a empresa B vê na parceria com o CESAR são o nome forte,
a proximidade e a capacidade de execução deste. A iniciativa e a concepção da parceria
partiram da empresa B. O CESAR é visto como uma organização com cultura corporativa
muito forte, e que faria falta na aliança, sem porém ser indispensável. A parceria é
considerada bem-sucedida, dentro do esperado. O entrevistado afirma que no começo da
parceria faltava participação do CESAR no planejamento, mas este, com o tempo, vem
entrando cada vez mais nesta parte do projeto. Ele sempre conseguiu resolver conflitos
com o CESAR, considerados normais durante um processo de parceria, a partir de
discussões sobre cada projeto objeto da parceria. Um ponto freqüente de conflito é a
divisão dos resultados, que é meio a meio, mas fica prejudicada pela falta de clareza em
relação aos custos. Ao ser perguntado sobre o que faltava na parceria com o CESAR, o
entrevistado respondeu que ainda há pouco compartilhamento de informações
Os atributos para o sucesso de uma parceria considerados mais importantes pela
empresa B são: coordenação e relacionamento pessoal. Na visão do entrevistado, o
relacionamento legal não substitui o relacionamento pessoal, e este é o conselho que ele
teria a dar para quem está começando uma parceria. “O contrato foi feito para ser
quebrado, a palavra não”.
A empresa C foi incubada pelo CESAR e portanto carrega em si uma espécie de DNA do
CESAR, conforme ressaltado por um dos gerentes de tecnologia. A relação sempre foi
muito forte tanto com a instituição quanto com as pessoas. Sempre que o CESAR pensa
em desenvolver algum projeto na área de segurança a empresa C é convidada a
participar do projeto, até porque este é o foco central da empresa. A empresa aprendeu
ao longo de sua existência foi que a parceria não funciona apenas no papel, é preciso
que as coisas funcionem e para que isso aconteça é necessário que exista um negócio
por trás de qualquer parceria. De acordo com o entrevistado não é desenvolvida
nenhuma tecnologia junto com o CESAR. Caso o CESAR tenha um projeto que necessita
de tecnologia de segurança então a empresa C agrega sua tecnologia no projeto para
desenvolver um terceiro produto, mas não é desenvolvido tecnologia conjuntamente. O
CESAR não entende de segurança e nem a empresa C de engenharia de software, ou
seja, cada um atua de acordo com sua especialidade. Barney (1999) sugeriu que as
firmas não precisam possuir todas as habilidades relevantes, contanto que tenham
acesso suficiente a elas.
Na visão da empresa C são vários os atributos quem podem ser considerados
importantes para o sucesso da parceria. O compromisso é importante quando existe
disposição pra fazer o que foi acordado. A coordenação, porque a parceria trata várias
empresas, então alguém tem que está coordenando. Já interdependência é importante
porque ela afirma que uma empresa só vai adiante junto com a outra, neste caso o
entrevistado diz que a interdependência é muito mais que um atributo, na verdade seria
um motivo da parceria, e por fim viria a confiança no sucesso que poderia ser o menos
importante de todos. Uma parceria bem sucedida seria como um casamento de
interesses e para dar certo tem que existir o negócio e os recursos para o projeto. Uma
parceria é como uma amizade renovada a cada momento, segundo o entrevistado. Até
agora todas as parcerias que a empresa do entrevistado já fez corresponderam suas
expectativas, sendo que algumas chegaram a superá-las. Para quem está começando
agora seria interessante buscar parceiros com o mesmo tamanho, pois pode ser
prejudicial para uma empresa fazer uma parceria com outra muito maior do que ela.
Outro fator fundamental é a rede de relacionamentos pessoais, pois a liberdade de
comunicação é um fator crucial para seguir adiante.
A empresa D possui vários sócios-parceiros. O CESAR e uma empresa gestora de
fundos de capital empreendedor com cotistas como o BID, SEBRAE Nacional e
Sumitomo Corporation, são os sócios majoritários da empresa D. Segundo o entrevistado
da empresa D, uma parceria é um acordo feito entre empresas diferentes, então cada
uma tem suas informações. As únicas informações compartilhadas são aquelas
relevantes para alcançar o objetivo da parceria. O principal motivo da parceria e atuação
conjunta com o CESAR do ponto de vista comercial é atender as demandas dos
mercados nacional e internacional de uma forma mais completa. Quando a empresa D é
contratada para desenvolver determinada tecnologia que exige competências extras, ela
então busca parceiros no Porto Digital e às vezes o CESAR com o objetivo comercial,
para que juntas possam oferecer um produto com mais qualidade. Com relação à
parceria com o CESAR o que mais pesa é o negócio em si.
Dependendo do projeto, a empresa D desenvolve tecnologia sozinha, em parceria com o
CESAR ou em parceria com outras empresas. Um exemplo é o da parceria entre a
empresa D e a Intel para atender as exigências do edital da Finep. Atualmente existem
tecnologias que estão sendo desenvolvidas em parceria com o CESAR. O acordo de
propriedade intelectual é definido no início do projeto, sendo que às vezes a propriedade
intelectual é compartilhada.
Com relação aos principais atributos que contribuem para o sucesso numa parceria, foi
mencionado na entrevista que o compromisso dos empresários seria um dos mais
importantes. E para que se tenha uma comunicação eficiente é necessário que exista
entre os parceiros o compartilhamento de informações e com qualidade além da
participação efetiva das empresas no planejamento. E em caso de resolução de
conflitos, os principais atributos destacados foram a resolução conjunta de problemas, ou
seja, a participação de todos; e ainda tentar atenuar da melhor forma possível os conflitos
gerados.
A parceria entre a empresa D e o CESAR foi considerada bem sucedida. Todos os
objetivos desta parceria foram cumpridos: a empresa ficaria na incubadora até crescer e
depois iria para o mercado conquistar novos clientes. Como podemos perceber, a
parceria foi fundamental, pois viabilizou a criação e os primeiros passos da empresa.
Para que a parceria seja bem sucedida é necessário que todos os participantes cumpram
seus papéis de acordo com que foi planejado no início e que haja um bom
relacionamento e confiança entre os parceiros: “afinal, as empresas são compostas por
pessoas”.
6. Conclusões e Implicações de Política
A análise das entrevistas junto ao CESAR e às empresas que já foram parceiras,
incubadas ou ainda absorveram mão de obra egressa do CESAR permite estabelecer
algumas conclusões e implicações de política. Em primeiro lugar, o CESAR é
reconhecido pelas empresas como importante para o ambiente de negócios de software
de Recife, apesar de nem todas terem concretizado seus projetos de parceria com ele. A
imagem do CESAR e o seu nome forte no mercado têm trazido efeitos positivos para as
empresas locais.
Em segundo lugar, os atributos considerados mais importantes para o sucesso das
parcerias são atributos que estão relacionados com o próprio ambiente de negócios do
território, a saber: o compromisso dos empresários, o relacionamento pessoal dos
parceiros (que garante liberdade de comunicação e confiança entre eles) e a
coordenação do projeto. As competências complementares das empresas também foram
apontadas como um fator de sucesso das parcerias. A maior parte das empresas
considerou adequado o compartilhamento de informações e conhecimento no contexto
local.
Em terceiro lugar, constatamos que a relação de parceria do CESAR com as empresas
locais levou à adoção, por parte destas, de práticas de gestão também adotadas pelo
CESAR, tais como um plano de negócios para cada etapa do desenvolvimento do
negócio, a avaliação contínua de pessoal e a capacitação dos funcionários. Assim, a
experiência do CESAR parece ter contribuído positivamente para a construção de uma
cultura favorável às alianças e desenvolvimento econômico local em Recife,
principalmente em função da forte interação que existe entre os diferentes atores locais e
da disseminação de conhecimento que existe no Porto Digital.
Estas observações reforçam o argumento desenvolvido nas seções 1 e 2 de que as
características do ambiente local são fundamentais para o sucesso do estabelecimento
de relações de parceria, as quais são importantes para o desenvolvimento da atividade
inovadora. A política de promoção de desenvolvimento local deve assim levar em
consideração as características deste ambiente para obter sucesso. No caso de Recife, o
espírito empreendedor local que levou à criação do CESAR e de suas empresas
incubadas foi reconhecido e alavancado pela política pública, que cuidou da instalação da
infra-estrutura necessária para o desenvolvimento de uma indústria local de software.
Entretanto, não se deve considerar o CESAR como uma mera “empresa-âncora” do pólo
de software de Recife, uma vez que a replicabilidade da sua experiência, de acordo com
entrevistados que participaram da sua criação, é limitada. Portanto, o principal desafio
colocado à política pública é o reconhecimento das características locais que podem
promover as relações entre as firmas e assim contribuir para a construção de um
ambiente inovador.
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