"para se ter uma vida de qualidade no campo, basta desenvolver estratégias de produção"

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1677 Junho/2014 Para se ter uma vida de qualidade no campo, basta desenvolver estratégias de produçãoNuma de cultivos de leguminosas, alternância pastos e frutíferas ao redor de casa e criação de animais, como galinha, capote, porco e gado, a família de Auriene Lopes da Silva vive de forma harmoniosa, na comunidade Água Fria, no município de Orós, na região Centro Sul do Ceará. Na pequena comunidade habita em torno de 400 famílias. A maioria vive da agricultura. O milho e o feijão são as culturas mais produzidas. Mas, embora raramente, há quem cultive o arroz. A batalha de Auriene sempre foi muito intensa, conforme evidencia. Separada do esposo há mais de vinte anos, ela travou uma luta árdua para poder alimentar e educar os três filhos, Anselmo Lopes Lima, Aubérica Lopes Lima e Agda Lopes Lima, que na época eram ainda crianças. Trabalhava como professora pela manhã, à tarde voltava para casa e começava a luta interna. “Eu saía cedo de casa, levava as crianças e deixava com uma amiga, na volta pegava e trazia para casa, e sentava com eles fazendo redes”, diz, ressaltando que esta é outra atividade desenvolvida pela família. Ela conta que a arte de tecer redes é uma herança familiar, que começou com os antepassados. “Minha mãe acordava quatro horas da manhã para tecer redes. Hoje a gente tece o cordão e apronta, mas ela tecia a rede mesmo. Naquela época a gente já ajudava. Agora somos nós. Tem dias que ficamos até meia noite trabalhando, eu e meus filhos”, conta mencionando a filha mais velha, Aubérica como auxiliar na atividade. O trabalho é visto como uma arte, e até uma forma de se divertir, além de ser também um adicional na renda da família. “É uma renda a mais, e sem patrão. Não temos que dividir com alguém, a única coisa que temos que fazer é comprar o tecido, que vem do Iguatu por um preço menor. Lá tem um rapaz que vende mais barato. A linha a gente compra separada”, diz Auriene, deixando escapar o desejo de conseguir recurso como incentivo do governo para confeccionar Orós Mãe e filha trabalham coletivamente Dona Auriene

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Numa alternância de cultivos de leguminosas, pastos e frutíferas ao redor de casa e criação de animais, como galinha, capote, porco e gado, a família de Auriene Lopes da Silva vive de forma harmoniosa, na comunidade Água Fria, no município de Orós, na região Centro Sul do Ceará.

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Page 1: "Para se ter uma vida de qualidade no campo, basta desenvolver estratégias de produção"

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1677

Junho/2014

“Para se ter uma vida de qualidade no campo, basta desenvolver estratégias de produção”Numa de cultivos de leguminosas, alternânciapastos e frutíferas ao redor de casa e criação de animais, como galinha, capote, porco e gado, a família de Auriene Lopes da Silva vive de forma harmoniosa, na comunidade Água Fria, no município de Orós, na região Centro Sul do Ceará.

Na pequena comunidade habita em torno de 400 famílias. A maioria vive da agricultura. O milho e o feijão são as culturas mais produzidas. Mas, embora raramente, há quem cultive o arroz.

A batalha de Auriene sempre foi muito intensa, conforme evidencia. Separada do esposo há mais de vinte anos, ela travou uma luta árdua para poder alimentar e educar os três filhos, Anselmo Lopes Lima, Aubérica Lopes Lima e Agda Lopes Lima, que na época eram ainda crianças. Trabalhava como professora pela manhã, à tarde voltava para casa e começava a luta interna. “Eu saía cedo de casa, levava as crianças e deixava com uma amiga, na volta pegava e trazia para

casa, e sentava com eles fazendo redes”, diz, ressaltando que esta é outra atividade desenvolvida pela família.

Ela conta que a arte de tecer redes é uma herança familiar, que começou com os antepassados. “Minha mãe acordava quatro horas da manhã para tecer redes. Hoje a gente tece o cordão e apronta, mas ela tecia a rede mesmo. Naquela época a gente já ajudava. Agora somos nós. Tem

dias que ficamos até meia noite trabalhando, eu e meus filhos”, conta mencionando a filha mais velha, Aubérica como auxiliar na atividade.

O trabalho é visto como uma arte, e até uma forma de se divertir, além de ser também um adicional na renda da família. “É uma renda a mais, e sem patrão. Não temos que dividir com alguém, a única coisa que temos que fazer é comprar o tecido, que vem do Iguatu por um preço menor. Lá tem um rapaz que vende mais barato. A linha a gente compra separada”, diz Auriene, deixando escapar o desejo de conseguir recurso como incentivo do governo para confeccionar

Orós

Mãe e filha trabalham coletivamente

Dona Auriene

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Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

mais redes e obter uma renda maior. “Se eu tivesse quatro mil reais já dava para comprar material para umas dez redes, e o ganho seria bem mais”, complementa.

As redes são comercializadas na própria comunidade e em localidades vizinhas. “A gente faz e sai vendendo de porta em porta. Às vezes a gente guarda, quando sente necessidade de dinheiro vai lá, pega umas redes e vende, e aí, num instante a gente arranja dinheiro para pagar as contas”, conta Aubérica.

Conforme menciona a jovem de 24 anos, e também estudante do curso de Serviço Social, para que se tenha uma vida de qualidade no campo, basta querer desenvolver estratégias de produção. E no caso de sua família, o caminho tem sido a produção de feijão, milho, pastos, frutíferas, a criação de animais e a tecelagem de redes.

Do quintal, tiram-se os frutos: laranja, goiaba, limão, acerola, ata, entre outros; com os animais têm uma carne mais saudável, a gordura para o tempero e ainda o leite, que além de ser rico em cálcio para a família, é também outra fonte de renda. Vendem em torno de 25 litros de leite por dia, a 80 centavos cada, chegando a ter uma renda mensal de aproximadamente 300 reais.

Com essa dinâmica toda de benefícios, a família de Auriene se considera agraciada. “Não somos ricos, mas também não nos falta nada. Temos várias coisas, além das frutas, um ovo, um porco, uma galinha... aqui, a gente quase não compra carne, porque temos no quintal”, conta Aubérica.

Outro sonho da família começa a se realizar. Com o Programa Uma Terra e Duas Águas, executado pelo Instituto Elo Amigo, da parceria da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Fundação Banco do Brasil (FBB), conquistaram uma cisterna-enxurrada, que deve ser implementada ainda este mês. Com a tecnologia, que acumulará até 52 mil litros de água, querem regar as plantas e aumentar a criação de animais.

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