para cultivar é preciso respeitar

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Se metade dos agricultores do mundo tivesse a consciência ecológica de Seu Antônio Alves Pereira, de 66 anos, o planeta agradeceria. Esse agricultor, conhecido como Antônio Zifirino, morador da comunidade Cabral em Pedro II, mesmo não tendo freqüentado muito a sala de aula é um mestre quando o assunto é preservar o meio ambiente. Casado com Dona Francisca Francinete de Sousa Pereira, de 55 anos e pai de 11 filhos, ele aprendeu a produzir em suas terras sem prejudicar o meu ambiente e tenta passar para os filhos e netos essa consciência ecológica. Em seu quintal Seu Antônio Zifirino planta de tudo, desde frutíferas às plantas que servem de ração para os animais. Lá podemos encontrar a macaxeira, manga, goiaba, graviola, limão, ingazeira, caju, babaçu, laranja, ata, milho, feijão, além da faveira, da palmeira, do capim e do sorgo que servem para fazer ração para as galinhas e para os caprinos, lá ainda tem algumas plantas medicinais como a chanana, que ele explica ser um ótimo remédio para a próstata. Seu Antônio afirma que só não planta mais no seu quintal devido a dificuldade em obter água. Para beber a família utiliza a água da cisterna de 16 mil litros do programa Um milhão de Cisternas Rurais (P1MC) desenvolvido pela Articulação no Semiárido Brasileiro – Asa Brasil. Na comunidade também tem um poço tubular e um olho d”água, mas que fica distante. Algumas plantas como a laranjeira, ele disse que nem precisa aguar, a noite bate a umidade e a cobertura morta que ele coloca nos troncos das plantas ajuda a reter essa umidade. Seu Antônio explica que as próprias folhas das plantas servem de cobertura, mas ele também faz um barramento com galhos e madeira que retém a água e com o tempo serve de adubo, ele explica ainda que esse barramento é uma arma contra os cupins, “alem de servir para reter a água e de adubo, os cupins que antes iam para minha casa comer a madeira de lá, agora não precisam mais, tem alimento para eles ali”, explica. Seu Antônio nem sempre teve essa consciência ecológica, ele conta que assim como Seu pai queimava a terra, brocava, usava agrotóxico, mas foi através do Projeto Social da Piauí Ano 4 | nº 72 | Julho| 2010 Pedro II- Piauí Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Para cultivar é preciso respeitar A História de Seu Antônio Zifirino defensor e incentivador da agricultura orgânica. 1 Seu Antônio Zifirino, exemplo de amor e respeito à natureza. Preparo da cobertura morta para segurar a água por mais tempo no solo.

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Page 1: Para cultivar é preciso respeitar

Se metade dos agricultores do mundo tivesse a consciência ecológica de Seu Antônio Alves Pereira, de 66 anos, o planeta agradeceria. Esse agricultor, conhecido como Antônio Zifirino, morador da comunidade Cabral em Pedro II, mesmo não tendo freqüentado muito a sala de aula é um mestre quando o assunto é preservar o meio ambiente. Casado com Dona Francisca Francinete de Sousa Pereira, de 55 anos e pai de 11 filhos, ele aprendeu a produzir em suas terras sem prejudicar o meu ambiente e tenta passar para os filhos e netos essa consciência ecológica.

Em seu quintal Seu Antônio Zifirino planta de tudo, desde frutíferas às plantas que servem de ração para os animais. Lá podemos encontrar a macaxeira, manga, goiaba, graviola, limão, ingazeira, caju, babaçu, laranja, ata, milho, feijão, além da faveira, da palmeira, do capim e do sorgo que servem para fazer ração para as galinhas e para os caprinos, lá ainda tem algumas plantas medicinais como a chanana, que ele explica ser um ótimo remédio para a próstata. Seu Antônio afirma que só não planta mais no seu quintal devido a dificuldade em obter água. Para beber a família utiliza a água da cisterna de 16 mil litros do programa Um milhão de Cisternas Rurais (P1MC) desenvolvido pela Articulação no Semiárido Brasileiro – Asa

Brasil. Na comunidade também tem um poço tubular e um olho d”água, mas que fica distante.

Algumas plantas como a laranjeira, ele disse que nem precisa aguar, a noite bate a umidade e a cobertura morta que ele coloca nos troncos das plantas ajuda a reter essa umidade. Seu Antônio explica que as próprias folhas das plantas servem de cobertura, mas ele também faz um barramento com galhos e madeira que retém a água e com o tempo serve de adubo, ele explica ainda que esse barramento é uma arma contra os cupins, “alem de servir para reter a água e de adubo, os cupins que antes iam para minha casa comer a madeira de lá, agora não precisam mais, tem alimento para eles ali”, explica.

Seu Antônio nem sempre teve essa consciência ecológica, ele conta que assim como Seu pai queimava a terra, brocava, usava agrotóxico, mas foi através do Projeto Social da

Piauí

Ano 4 | nº 72 | Julho| 2010Pedro II- Piauí

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Para cultivar é preciso respeitarA História de Seu Antônio Zifirino defensor e

incentivador da agricultura orgânica.

1

Seu Antônio Zifirino, exemplo de amor e respeito à natureza.

Preparo da cobertura morta para segurar a água por mais tempo no solo.

Este é o espaço para o texto

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Para um texto único sem intertítulo, clique no texto ao lado e tecle control +A, o texto será todo selecionado e você poderá digitar o seu. A fonte do texto deve ser Arial 12

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Fonte Casablanca Antique corpo 37

largura tarja superior 1ª página 4cm

altura da marca 3,8cm

Page 2: Para cultivar é preciso respeitar

Diocese de Parnaíba que atuava na região de Pedro II na década de 80, que ele começou a ter contato com uma forma diferente de se fazer agricultura, depois foi aprendendo através de intercâmbios, encontros, ouvindo e lendo sobre Agroecologia. Hoje ele é um dos maiores incentivadores dessa prática e com seu jeito simples, mas sábio de ensinar, ele transmite para quem quiser ouvir o que aprendeu, “o homem ainda não despertou para ver que a própria natureza lhes dá a solução, as folhagens secas que cai das plantas é um vestuário da terra que elas oferecem, é a mesma coisa das nossas camisas, que a gente veste para não ressecar a pele, o homem mau fica queimando as restos de leguminosas, as folhas, fica descobrindo a terra para dá o câncer na terra”, diz.

Agora que a família começou a criar caprinos, o esterco dos animais, assim como os da galinha também serve de adubo para o terreno que antes, segundo Seu Antônio, se plantava e nada nascia. Adubação química, o agricultor não quer nem ouvir falar, quando aparece alguma praga nas plantas e elas precisam de auxilio, ele usa defensivo natural como película da castanha do caju, macerado do fumo, o querobão (feito com querosene e sabão), o macerado do alho, além de outros que o agricultor vai testando nas plantas.

Mesmo tendo freqüentado pouco a sala de aula, Seu Antônio diz que aprendeu a ler, escrever e fazer conta sozinho, o pai preocupado com mão de obra para colheita, tirava ele da escola para ir para roça, já ele faz o contrário, em primeiro lugar vem os estudos dos filhos, dos 11 apenas três ainda moram com o casal, mas todos tiveram a oportunidade de estudar e em casa, eles aprendem com Seu Zifirino como cultivar a terra sem prejudicar a natureza. Dona Francisca afirma que mesmo alguns dos filhos não tendo terminado os estudos, todos aprenderam com o pai o respeito a natureza, alguns deles já não moram com o casal, mas o que ficaram ajudam a cuidar do quintal produtivo da família.

Seu Antônio também já trabalhou com a apicultura, mas hoje com a idade afirma que não tem mais força e incentiva os filhos, que agora através de um Projeto da Kolping estão produzindo mel.

A filha do casal, Maria Alzinete, além de vender o mel, também o utiliza na fabricação de sabonetes caseiros, o ofício ela aprendeu através da Pastoral da Criança e hoje a venda dos produtos representa uma renda a mais no orçamento da família. Feito a base de ameixa, da casca do melão de São Caetano, da babosa, do sabão de coco, aroeira, hortelã, que são misturados ao mel, os sabonetes são ótimos para higiene intima das mulheres. Seu Antônio Zifirino também é poeta, vive escrevendo poemas, a maioria deles voltado para o amor a natureza. O agricultor se diz feliz em poder repassar o que aprendeu “neste mundo não devemos ser como uma luz debaixo de um sexto que não clareia para os outros, nós devemos ser uma luz divina em que tudo que aprendemos, passar adiante as coisas boas e bonitas da vida”, diz

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Piauí

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www.asabrasil.org.br

O esterco dos caprinos ajudam a enriquecer o solo do quintal.

O casal com dois de seus filhos e netos.