para compreender a ciencia - introducao[1]

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Catalogac;ao nu Fonte Sindicato Nacional des Editores de Livros Para COl11preender a ciencia: uma perspectiva historica I Maria Amalia Pie AbibAndery ... et (11. - Rio de Janeiro: Garamond, 2007. 436 p.; 21 cm. Bibliografia. ISBN: 85-86435-98-8 I. Clencia - Metodologia. 2. Ciencia· Filo50fia. 3. Ciencia- Hist6ria.I. Andery, Maria Amalia. CDD500.\ 501 509 Pl'Odllr(JO Editoria! Eveline Bouteiller Kavakama MariaElizaMazzilli Pereira IlIIpressiio SI:It!\IOr.llJ\I:. :\1t'lT-"i Cl(,\ 11<;'\,\ F. Em rol{,\ I.Tlli\. Revislio Sonia Montone Berenice HaddadAguerre Capa Garamond Sobre os qlladros, do esqllerdo para 0 di· reila:"Retralo deNicolull '~ratzer"(1528), de Hans Holbein; "0 35l,onomo" (1668), de Vermeer de Delf:; "Relrulo de Erosl11ode Rolcrdam" (152(,). de Hans Holbein: "0 ge6grafo" (1669), (I,. Vermeer de Delt'l Editora(:iio EletreJllica Elaine Cristine Fernandes da Silva Mauricio Fernandes da Silva Edltora Garamond Ltd t Rua da Estrela, 79/3° andal' 20251-021 - Rio de Janeiro - RJ Fonefax: (21) 2504-92\1 E-mail: editora@garomond.com.br INTRODU(AO OLHAR PARA A mSTORIA: CAMINHO PARA A COMPREENSAO DA ClENCIA HOJE o homem e urn ser natural, iSlO e, ele e urn serque faz parte integrante :a natureza; nao se poderia conceber 0 conjunto da naturezasem ncla inserir ~ especie humana. AD mesmo tempo em que se constitui em ser natural, 0 'omem diferencia-se da natureza, que e, como diz Marx (1984), "0 corpo : orgilnico do homem" (p. Ill); para sobreviver eleprecisa com ela se re- :2cionar jaque dela provem as condi<;6es que the permitem perpetuar-seen- iuanto especie. Nao se pode, portanto, conceber 0 homem sem a natureza e ~ :.ema natureza sem 0 homem. Na busca dascondil;6~~<:: para suasobrevivenl:ia, 0 ser humano -assim 'orno outrosanimais -alue. .~:obre anatureza e, por meio dessa jnte.ra~~o, salisfaz suas necessidades; no entClnto, a rela~ao homem-natureza diferencia- se da intera~ao animal-natureza. A atividade dos animais, em rela<;aoa natureza, e biologicamente de- :erminada. A sobrevivencia da especie se da com base em sua adaptas;ao ao .J1eio. 0animal limita-se a imediaticidade das situa<;oes,atuandode forma 3. permitira sobrevivencia desipr6prio e a de suaprole; isso se repete, com .J1inimas alteras;5es,em cada nova gera<;ao. POT maissof1sticadas que possam seras atividades animais -por exem- . 0, acasa feila pelo joao-de-barro ou aorganiza<;ao de um formigueiro -, '" as ocorrem compequenas modificayoes na especie, ja queatransmissao ia "experiencia" 6 feita quase exclusivamente pelo c6digo genetico; 0 mesmo .ode-se dizer emrelas;ao as modifica~5es que provocamna natureza, por .J1aiselaboradas que possam parecer. Assim, se a atua<;aodo animal sobrea alureza permiteasobrevivenciada especie, isso se da em funyaode carac-

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Para Compreender a Ciencia - Introducao[1]

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Page 1: Para Compreender a Ciencia - Introducao[1]

Catalogac;ao nu FonteSindicato Nacional des Editores de Livros

Para COl11preender a ciencia: uma perspectiva historica I Maria Amalia Pie Abib Andery ...et (11. - Rio de Janeiro: Garamond, 2007.436 p.; 21 cm.Bibliografia.

ISBN: 85-86435-98-8

I. Clencia - Metodologia. 2. Ciencia· Filo50fia. 3. Ciencia - Hist6ria. I. Andery, MariaAmalia.

CDD500.\501509

Pl'Odllr(JO Editoria!Eveline Bouteiller KavakamaMaria Eliza Mazzilli Pereira

IlIIpressiioSI:It!\IOr.llJ\I:. :\1t'lT-"i Cl(,\ 11<;'\,\ F. Em rol{,\ I.Tlli\.

RevislioSonia MontoneBerenice Haddad Aguerre

CapaGaramondSobre os qlladros, do esqllerdo para 0 di·reila: "Retralo de Nicolull '~ratzer" (1528),de Hans Holbein; "0 35l,onomo" (1668), deVermeer de Del f:; "Relrulo de Erosl11odeRolcrdam" (152(,). de Hans Holbein: "0ge6grafo" (1669), (I,. Vermeer de Delt'l

Editora(:iio EletreJllicaElaine Cristine Fernandes da SilvaMauricio Fernandes da Silva

Edltora Garamond Ltd t

Rua da Estrela, 79/3° andal'20251-021 - Rio de Janeiro - RJ

Fonefax: (21) 2504-92\1E-mail: [email protected]

INTRODU(AO

OLHAR PARA A mSTORIA: CAMINHOPARA A COMPREENSAO DA ClENCIA HOJE

o homem e urn ser natural, iSlOe, ele e urn ser que faz parte integrante:a natureza; nao se poderia conceber 0 conjunto da natureza sem ncla inserir~ especie humana. AD mesmo tempo em que se constitui em ser natural, 0'omem diferencia-se da natureza, que e, como diz Marx (1984), "0 corpo: orgilnico do homem" (p. Ill); para sobreviver ele precisa com ela se re-:2cionar ja que dela provem as condi<;6esque the permitem perpetuar-se en-iuanto especie. Nao se pode, portanto, conceber 0 homem sem a natureza e ~:.em a natureza sem 0 homem.

Na busca das condil;6~~<::para sua sobrevivenl:ia, 0 ser humano - assim'orno outros animais - alue. .~:obrea natureza e, por meio dessa jnte.ra~~o,salisfaz suas necessidades; no entClnto,a rela~ao homem-natureza diferencia-se da intera~ao animal-natureza.

A atividade dos animais, em rela<;aoa natureza, e biologicamente de-:erminada. A sobrevivencia da especie se da com base em sua adaptas;ao ao.J1eio. 0 animal limita-se a imediaticidade das situa<;oes, atuando de forma3. permitir a sobrevivencia de si pr6prio e a de sua prole; isso se repete, com.J1inimas alteras;5es, em cada nova gera<;ao.

POT mais sof1sticadas que possam ser as atividades animais - por exem-. 0, a casa feila pelo joao-de-barro ou a organiza<;aode um formigueiro -,'"as ocorrem com pequenas modificayoes na especie, ja que a transmissaoia "experiencia" 6 feita quase exclusivamente pelo c6digo genetico; 0 mesmo. ode-se dizer em relas;ao as modifica~5es que provocam na natureza, por.J1aiselaboradas que possam parecer. Assim, se a atua<;aodo animal sobre aalureza permite a sobrevivencia da especie, isso se da em funyao de carac-

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terislicas biol6gicas, 0 que estabelece os limiles da possibilidade de modifi-cal(6es que a atual(ao do animal provoca seja na natureza, seja em si pr6prio.

o hamemtambem alua sabre a nalureza em fun<;ao de suas necessi-dades e 0 faz para sobreviver enquanlo especie. No entanto, difercntementede oulras animais, 0 homem nao se limila it imedialicidade das situa<;6escom que se depara; ultrapassa limiles, ja que produz universalmentc (paraalem de sua sobrevivencia pessoal e de sua prole), nao sc restringindo itsnecessiclades que se revelam no aqui e agora.

A al(ao humana nao e apenas biologicamente determinada, mas se daprincipalmente pela incorporac;ao das experiencias e conhecimentos produzi-dos e lransmilidos de gera<;ao a gcra<;ao; a transmissao dessas expcricnciase conhecimenlos - por meio da educal(ao e da cultura - permite que a novagerac;ao nao volle ao ponto de pan Ida da que a prccedeu.

A alua<;ao do homem diferencia-se cia do animal porque, ao alterara nalureza, por meio de sua ac;ao, torna-a humanizada; em outras pala-vras, a natureza adquire a marca da at ividade humana. Ao mesmo tempo, 0

homem allera a si pr6prio por intermcdio dessa intera<;ao; ele vai se cons-truindo, vai se diferenciando cad a vez mais das oulr,t$ espccies anima is. Ainleral(aO homem-natureza c um processo permanenle de mutua trans[orma-<;ao: esse e 0 processo de produl(ao da cx istencia humana.

12 0 processo de produc;ao da cxistencia human a porque 0 ser humanovai se moclificando, alterando aquilo que e necessario it sua sobrevivcncia.Velhas necessidades adquirem caraclerislicas diferentes; atc mesmo as neces-sidades consideraclas basicas - por exemplo, a alimenlac;ao - refletem asmudan<;as ocorridas no homem; os h,lbilos e necessidades alimenlares saohoje muito diferentes do que foram em outros momentos. A alteral(ao, noenlanto, nao se limita it transforma<;ao de velhas necessidades: 0 homem crianovas necessidades que passam a ser tao fundamentais quanto as chamadasnecessidades basicas it sua sobreviv0ncia.

E 0 processo de produyao da exist0ncia humana porque 0 homel11 n~tos6 cria artefatos, instrumenlos, como lamhcm desenvolve ideias (eonheci-mentos, valores, crenc;as) e mecanismos para sua elaborar,:ao (desenvolvimen- ,to do raciocinio, planejamenlo ...). A criac;ao de instrumentos, a formula<;aode ideias e formas especificas de elabora-Ios - caract crist icas ident ificadascomo eminentemente humanas - sao [ruto da inlera<;ao homem-natureza. Parmais sofisticaclas que possam parecer, as ideias sao produtos de e exprimemas relayoes que 0 homem cstabclece com a nalureza na qual se inscre.

12 0 processo da produ<;ao da ex iSlencia humana porque cada nova in-terayao rellete uma natureza ll1oclificada, po is nela se ineorporam criar,:6esanles inexistentes, e renete, tambem, um homem ja modificado, pois suas

necessidadcs, condi<;6es e caminhos para satisfaze-las sao outros que Coramsendo construidos pelo pr6prio homem. 12 nesse processo que 0 homem ad-quire conscicncia de que esta lransformando a natureza para adapta-la a s:IaSnecessidades, caracterislica que vai diferencia-lo: a ar,:aohumana, ao contranoda de outros animais, e intencional e planejada; em oulras palavras, 0 homemsabe que sabe.

o processo cle produ<;ao da existcncia humana e um processo so.ci~l;o ser humano nao vive isoladamente, ao contr{trio, depende de outros parasobreviver. ]-]{tinterdependencia dos seres humanos em tOdCL';as [onna..,; daatividade humana; quaisquer que sejam suas necessidades - da proclu<;ao debens it elaboral(ao de conhecimentos, costumes, valores ... -, elas sao criadas,atendidas e transfonnadas a partir da organizal(ao e do eSlabelecimento derelar,:6es enlre os homens.

Na base de todas as relay6es humanas, delerminanclo e condieionandoa vida, esla 0 trabalho - uma atividade humana intencional que envolve for-mas cle organiza<;ao, ohjetivando a produc;ao dos hens necessarios it vidahumana. Essa organizayao implica uma dada maneira de dividir 0 trabalhonecessario it sociedade e e delerminada pelo nivel teenieo e pelos melosexistentes pam 0 tTahalho, ao mesmo tempo em que os eondiciona; a formade organizar 0 lrabalho determina tambem a relayao entre os homens, lI1clu-sive quanto it propriedade dos instrumenlos e maleriais utilizados e it apro-prial(ao do produto do trabalho.

As rcla<;oes de trabalho - a forma de divicli-Io. organiza-Io -, ao ladodo nivel tecnieo dos instrumentos cle lrabalho, dos meios disponiveis para aproclm;50 de bens materiais, compoem' a hase economica de uma clada socic-dade.

I~ essa base economica que determina as fonnas politicas, juridicas eo conjunto clas icl6ias que existem em cada sociedade. E a transformac;~tOdessa' base economica, a pa11ir das contradi<;6es que cia mesma engendra,que leva it lransfonna<;ao de toda a sociedadc, implicando um novo modode produr,:ao e uma nova fonna de organizac;ao politica c socIal. Por exemplo,nas soci~dacles lribais (comunais) 0 grupo social organizava-se. por sexoe idade para produzir os bens necess,lrios it sua sobrevivcncia. As mulhe-res c crianl(as cabiam determinadas tarefas c aos homens, outras. Essa pn-meira divisao clo tTabalho, alem de garantir a sobrevivcncia do grupo, gerouum conjunto de ins[rumentos, tecnicas, valorcs, COSlLUllCS,crcnyas, conheci-mentos, organiza<;ao familiar, etc. A propriedadc dos instrument os de lraba-Iho, bem como a propriedade do produl.o do lrahalho (a ca<;a, 0 peixe, etc.),era de toda a comunidade. A transmissao das tccnicas, valores, conhCClll1el1-tos, elC. era reila, basicamcnlc, por meio da comunica<;ao oral e clo contato

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pessoal, diferentemente do que ocorre atualmentc. la, na Grecia Antiga, porvolta de 800 a.C., 0 comercio, fundado na exportac,;ao e importac,;ao agricolase artesanais, e a base da atividade econ6mica, e ha um nivel tecnico deprodw;;ao desenvoivido ao lado de wna organizac;ao polltica na forma decidades-Estado. Nessa sociedade, alem da divisao do trabalho cidade-campo,ocorre uma divisao entre os produtores de bens e os donos da produc,;ao; osprodutores nao deWm a propriedade da terra, nem os instrwllentos de trabalho,nem·o proprio produto de seu trabalho; sao, em sua maioria, eles mesmos,propriedade de outros homens. Nessa sociedade, as relac,;5es estabelecidasentre os homens saD desiguais: alguns vivem do produto do trabalho de ou-tros, e a produc;ao de conhecimento e desenvolvida por aqueles que nao exe-cutam 0 trabalho manual.

As ideias, como um dos produtos da existencia humana, sofrem asmesmas detenninac,;5es historicas. As idcias saD a expressao das relay5es eatividades reais do homem, estabelecidas no processo de produyao de suaexistencia. Elas saD a representayao daquilo que 0 homem faz, da sua maneirade viver, da forma como se relaciona com outros homens, do mundo que 0

circunda e das suas proprias necessidades. Marx e Engels (1980) afinnam:

A produyao de icteias, de representayoes e da consciencia esta. em primeiroJugar direta e intirnamente ligada a atividade material e ao cOllHf:rciomaterialdos homens; e a Iinguagemda vida real (",), Nao e a cOllsciellciaque determinaa vida, mas sim a vida que detennina a consciellcia. (pp, 25-26)

Isso nao significa que 0 homem crie suas representayoes mecanicamente:aquilo que 0 homem faz, acredita, conhece e pensa sofre interferencia tambemdas ideias (representac,;oes) anteriormente elaboradas; ao mesmo tempo, asnovas representac;oes geram transfonnayoes na produc,;ao de sua existencia.

o desenvolvimento do homem e de sua historia nao depende de umtinieo fator. Seu desenvolvimento ocorre a partir das necessidades materiais;estas, bem como a forma de satisfaze-Ias, a forma de se reJacionar para tal,as proprias ideias, 0 proprio homem e a natureza que 0 circunda, saD inter-dependentes, formando uma rede de interferencias reciprocas. Dai decorreser esse um processo de transformac,;ao infinito, em que 0 proprio homem seproduz. Nesse processo do desenvolvimento humano multideterminado, queenvolve inter-relac,;5es e interferencias rccfprocas entre ideias e condic,;oes ma-teriais, a base econ6mica sera 0 determinante fundamental. Tais condic,;oesecon6micas em sociedades baseadas na propriedade privada resultam em gru-pos com interesses conflitantes, com possibilidades diferentes no interior dasociedade, ou seja, resultam num conflito entre classes. Em qualquer socie-dade onde existam relac,;5es que envolvam interesses antag6nicos, as ideiasrefletem essas diferenc;as. E, embora acabem por predominar aquelas que

~ representam os interesses do grupo dominante, a possibilidade mesma de se~ produzir id6ias que representam a realidade do ponto de vista de ~utro gru~or

t, l'eflete a possibilidade de transforma<;ao que esta presente na p~opna socle-

dade. Portanto, e de se esperar que, num dado momento, eXlstam repre-sentayoes difel'entes e antag6nicas do mundo. P~r ex~mplo, hOJe, ta~:o a~

·1:.., ideias politicas que pretendem conservar as cO,ndlc,;oeseXlstent~,squall~o as, ~ue. pl'etendem transforma-Ias correspondem a II1teresses especlficos as vallas

g' classes sociais. . .[1',,:':.. Dentre as ideias que 0 homem produz, parte delas constltul ~ conhe-

cimento referente ao mundo. 0 conhecimento humano, ~I~ sua~ dlferentesfol'mas (senso comum, cientifico, teologico, Ji,lo~ofico, estctlco, etc.), expnme

~ condic,;oesmateriais de urn dado momento lustonco. ,,: Como ullla das formas de conhecimento produzldo ~elo homem. n,o

I d d h'sto'r'la a ciencia e detenninada pelas necessldades matenalsecorrer e sua I , . .do homem em cada momenta histol'ico, ao mesmo tempo. em que nelas \D-

, tel'fere. A produ<;;ao de conhecimento cientiJico nao e, pOlS, prerro~at1Va .do~. homem contemporaneo. Quer nas primeiras formas de orgalllzac,;aoSOCIal,i . d· des atuais e possive! identificar a constante tentattva doI quer nas SOClea, . "fii homem para compreender 0 mundo e a si mesmo; e posslvel Identr Icar,

to. tambem, como marca comum aos diferentes mom:ntos do proces~o de, construyao do conhecimento cientifico, a inter-relac,;ao entre as necesslda-! des human as e 0 conhecimento produzido: ao mesn~o tempo em que ~tuam[ como geradoras de id6ias e explicac;oes, as necessld~des humanas .vao se

transfonnando a partir, entre outros fatQrcs, do conhecll11ento produzldo.A ciencia caracteriza-se por ser a tentativa do homem ente~ld~r e ,ex-

plical' racionalmente a natureza, buscando fOffilUlar leis que, em ultima II1S-tancia, pel'mitam a atuac,;ao hwnana. . .

Tanto 0 processo de constru<;ao de conhecimen~o Clentlfic.o quanto seui.. pl'oduto refletem 0 desenvolvimento e a ruptura ocorndos nos ,diferentes mo-r mentos da histol'ia. Em outras palavras, os antagolllsmOS presente~ em cada! modo de produc;ao e as transformayoes de wn modo de produ<;:ao a outroI serao transpostos para as ideias cientificas elaboradas pelo. homel~l.l . Serlo transpostos para a forma como 0 homem exphca .raclonalmente~ 0 mundo buscando superar a ilusao, 0 desconhecido, 0 imedtato; b~scandoi compree~der de forma fundamentada as leis gera.is q~e regem os fe~omenos.f Essas tentativas de propor explicac,;oes raClOnalStornam 0 propno co-I nhecer 0 mundo numa questao sobre a qual 0 homem renete: Nov~mente,I aqui 0 carater historico da ciencia se revela: mu~a 0 que e con~ld~rado

cien~ia e muda 0 que e considerado explicac,;ao raclOnal em decorrencIa dealterayoes nas condic,;oes materiais da vida humana.

Page 4: Para Compreender a Ciencia - Introducao[1]

, ,\• d modo como se da a inlerferencia do

Enquanto tentativa de e~plicar a realidade, a ciencia caracteriza-se pOl' dades de ac;ao humana, alteran 0 0

ser uma atividade metodica. E uma atividade que, ao se propor conhecer a l homem sobre a realidade, " d I' l'lnada e s6 !)ode ser com-, l ' 'fi 'I Istoncamenle e ernrealidade, busca atingir essa meta POl' meio de ac;oes passiveis de serem rc- I, 0 metodO Clenll ICOe ,1 , fl- d nossas necessidades e pos-produzidas, 0 metodo cienlificoe W11conjunto de concepc;5es sobre 0 hQ~I preendido dessa forma, 0 metodo e 0 re exo aSnelas interfere, Os mctodosmem, a natureza e 0 pr6prio conhecimento, q.ue sustentam um conjunto de, sibilidadcs maleriais, ao mcsmo tempo e~" ~UCt6r1a No cntanto, num dadoregras de ac;ao, de procedimentos, prescritos para se construir conhecimento, cientificos transformam-sc no ?ecou,rrcr a tiS 'sse~ e neccssidades' em tais

, , ' ' It' '. podem eXlsllr d ercnles 111ere 'clentlfico. '. momento liS onco, 'r' I lCe!)/oes de homem de natu-I i'tem lambem dl elen es COI y' ,o metoda nao e unico nem permanecc exatamcntc 0 mesmo, porque f' momenlos, cocx s' d'f Ie' 11lC'IOdosASSlm as diferenc;as, t h t port'lnto 1 eren S ' ,reflete as condic;5es hist6ricas concretas (as necessidades, a organizac;ao social t reza e de con eCllnen 0, _ ' " I oralmcnte mas lambem num mesmo

'''' ~I 'I d d I ' " 'ct" I" t dolo'g'IC'lSocorrem nao al)ellaS emp ,para satlsfaze- as, 0 I1lve e' esenvo Vlmento tCCI1lCO,as lelas, os con leC;I- f me 0 ' ,

mentos ja produzidos) do momento hist6rico em que 0 conhecimento foi ~ momento e numa tnesm~ socledade: d' . 'te livro se fundamentam na eom-I A' l' ses que scrao apresent<l as neselaborado, I'r s ana I . d 'd'" roduzidas I)elo homem para sa-" - d cienci'l comO palte as I ems p " IA observac;ao ea experimentcH;ao, pOI' exemplo, procedimentos meto- I preensao a " ,. . _" rtanto pOl' elas determinadas e ne as

dologicos que passam a ser considerados, a partir de Galileu (seculo XVI),! tisfazer suas necessldtldes matednal~, po dll"a~ do conhecimento cientifIco -, . h' "fi - d' 'I' d " '1.D 'ndo So sC pode enlen er a pro ycomo leste para, con eCllnento clentl ICO,nao eram proce nnentos uti lza os ~," ,111eren ' " ,. ~' h' t' ria conslruida peto ser. humano - se

para esse fim na Grecia e na Jdade Media, Nestellltimo periodo, a observa<;:ao 'que leve e lem 11lIelferen~:a>n~ I~r~las que condicionaram e condicioname a experimentac;ao nao eram criterios de aceitac;ao das proposic;oes, ja que, :(orem anal:sadas as conC!I:o;s con~e an{llise nao signiflca negar a existeneiaa autoddade de cerlos pensadores e a concordancia com as afim1ac;oes reli- t sua produc;ao, ASS~1I11lress,a o:ma, ""ncia Descobertas e explicac;Ges cien-giosas emm 0, criterio maior. 1\ divergencia com relac;ao a que procedimentos I' qe utna dinamlca I11ternaa p:opn,~ cd~erm;n~n[cs da produc;ao de novo,s co-

, '- " -" t'f" 1'1nbem 'ltuam como Jatores ' , 'fi !,levam a produc;ao de conheCIl11Cnloesta suslentada pelas concepc;oes que OS;i I lcas ,I , " 1 t' '1 aUlonomia da atividade elentl Ica egeram; ao se alterar a concepC;ao que 0 homem [em sobre si, sobre 0 mundo, r nhecimentos, Descons .•derar essa re ~ 1~:'1cia relar7"loque ci6ncia e sociedade

,. I', I' ,7"' l1\)I1St'le mecanlC, 'y'sobre 0 conhecimento (0 papel que se atribui a cicncia, 0 objeto ascI' inves- I, fazer uma ava layao Sll' ,tigado, etc.); todo 0 empreendimento cientifico .se aHera, 0 pcnsamento mc- I: guardam entrc. Sl. d ,', '-es historicas 0 me todo adquire

, i - N t t t' a de recuperar as etel mll1<lyO , ,dieval que concebeu 0 mundo como hierarquicamenle ordenado, segundo , a cn alv - ,,' ' do 0 metodo sujeito as mesmasqualidades determinadas par naturezas dadas c estaticas, e concebeu 0 homem I: papel fundamenlal e pnv:leglado, ~fOl~,s:~ s a que a ciencia como um todo

. , d" d D b d 'd d 'bT' f ~ , determll1ac;oes e trans ormayoe , "como sUJelto aos eSlgnlOS e, eus - ase e sua VI a e e suas POSSI I 1- mtererenclas,'," , d· [ do de sua relac;ao com 0 propnodades - gerou uma concepC;ao de conhecimento que, em relaC;ao indissolllVel esla sujeita, ele tambem depende t<1nto ItOes,~ -s e interfer6ncias que sofre e

, " , '(I d) 'b'" - 'I que surge quanto das a erayoe. be reclproca com as pnmelras 10mem e mun 0 , atn UIUa ClcnCla um pape momento em· I' " ' Assim neste livro serao a or-, , , , 'd'~ entes momentos 11stoncos, . ,contemplatlvo dlflgldo para fundamental' e afirmar as verdades da fe, Dessas provoca em I er _ . ",., vi 'oraram em diferenles modos deconcepC;5es decorrcu a desvalorizac;ao da observac;ao dos fenomenos como dadas as concepyoes m?lod,olo~lca~ lq~;e_ ~'Slllnindo 0 o\har para a hist6riavia para a produc;ao de conhecimento cientifico; sob as condic;6es feudais prodw;ao - escravlsta, leud'll, capita IS ,: "lS ,

" , ' _ ,_, 'I "coml)reensao da ClenW1 hOJe,lomou-se Imposslvel e desnecessana a construc;ao de expl1cac;oes quc VleSSel11 como camm10 para .a par em duvidaas proposiC;5es da 19reja, cujas ideias eram apresentadascomo inquestionaveis, ja que reveladas pOI'Deus. As A uloras

Assim, a possibiIidade de propor delcnninadas tcorias, os criterios deaceitac;ab, bem como a proposiC;ao ou nao de determinados procedimenlosna produc;ao cientffica, rcfletem aspectos mais gerais e fundamenlais do pro-prio metodo. A inudanc;a das conccpc;5es implica neGeSS~r.iamcnteuma nqyaforma.de yer -il'real idadc; (J1b"novo modo de atuac;ao para obtenc;ao do co-nl~eci;11ento,~;;~~t~~nsformac;ao no pr6prio conhecimento, Tais mudanc;as noprocesso de construc;ao da ciencia e no seu produto geram novas possibili-