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PARA A MISSÃO CONVOCADOS A Igreja suscita, faz o discernimento da vocação divina e confere a missão.

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para a

MissãoConvoCados

A Igreja suscita, faz o discernimento da vocação divina e confere a missão.

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A Igreja vive animada pelo Espírito e pro-cura ser fiel à missão que o Senhor lhe confiou: fazer discípulos de todos os povos (Cf. Mt. 28, 19). Para cumprir a sua missão, a Igreja conta de entre os

seus fiéis com alguns que se percebem mais de-dicados a esta missão, são os agentes de pastoral. Mas o verdadeiro agente de evangelização é a co-munidade cristã, que por vezes parece estar despro-vida dos agentes pastorais que precisa para realizar a sua missão. Esta realidade leva-nos a reafirmar a nossa fé na Igreja de Jesus Cristo e a tomar cada vez mais consciência de que a Igreja tem os recursos ne-cessários para realizar a missão que lhe é confiada. A dificuldade está, pelo que temos verificado, na incapacidade de encontrar novas vocações laicais, que se dediquem ao serviço voluntário em Igeja. O documento que se segue é uma proposta realizada em estilo sinodal, onde vários cristãos se reuniram para rezar, reflectir e apresentar este instrumento de trabalho. É isso, um instrumento que, refletido e im-plementado, poderá mudar o modo como as comuni-dades se sentem desprovidas de agentes de pastoral.

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A Igreja suscita,faz o discernimento da vocação divina

e confere a missão.

O convocado é alguém, com um nome que vive num lugar e tem uma história.

O convocado é alguém a quem Deus fala constantemente, chama-o a ser pessoa,

a ser santo.O convocado é alguém que se deixa

interpelar pela voz de Deus;Alguém que desafiado, se questiona!

Da escuta, emerge uma resposta: Eis-me aqui, Senhor!

O educador na fé é, intrinsecamente, um media-dor que facilita a comunicação entre as pessoas e o mistério de Deus, dos sujeitos entre si e com a comu-nidade. Deus chama interiormente, a igreja – sacra-mento universal de salvação – suscita, faz o discerni-mento da vocação divina e confere a missão.

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1. SUSCITAR

Elias “deitou-se por terra e adormeceu à som-bra do junípero. Eis, porém, que um anjo o tocou, dizendo: «Levanta-te e come.» Olhou, e viu à sua cabeceira um pão cozido sob a cinza e um copo de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. Mais uma vez o tocou o anjo do Senhor, dizendo-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer.» Elias levantou-se, comeu e bebeu; reconfortado com aquela comida, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus.”1

1 1 Rs 19, 5-8.

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A comunidade cristã é a origem, o lugar e a meta da ação pastoral. É sempre da comunidade cristã que nasce o anúncio do Evangelho, que convida os ho-mens e as mulheres à conversão e a seguir Cristo. E é esta mesma comunidade que acolhe aqueles que de-sejam conhecer o Senhor e a comprometer-se numa vida nova. Ela acompanha e, com materna solicitude, chama a participar na sua própria experiência de fé e integra os novos membros no seu seio.2

É missão da comunidade cristã suscitar no seu seio e ajudar a discernir vocações. Mas como e a quem convocar?

2 cf DGC 254.

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“É missão de todos, sem exceção, suscitar voca-ções mediante um testemunho coerente de vida, onde a alegria e a gratuidade da missão sejam o ros-to visível da vida cristã: “sacerdotes, famílias, cate-quistas, animadores e movimentos, todos deverão ser capazes de “cultivar” nas crianças, jovens e adul-tos o espírito de entrega e serviço à Igreja, através de um “testemunho alegre e cheio de Deus”.3

O testemunho continua a ser fundamental para suscitar (do latim suscitare, «levantar»), ou seja, fa-zer nascer algo, provocar o aparecimento, originar, despertar para a vida com Cristo e em Cristo.

Bento XVI realça a importância do testemunho ao referir que “para tornar mais forte e eficaz o anún-cio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio “sim” a Deus e ao proje-to de vida que Ele tem para cada um. O testemunho pessoal, feito de escolhas concretas e de vida, enco-rajará os jovens a tomar decisões responsáveis, por sua vez, investindo o próprio futuro”.4 E ainda que “a fé cresce quando é vivida como uma experiência de amor recebido e quando é comunicada como uma

3 D. Jorge Ortiga, durante a eucaristia de ordenação de cinco novos diáconos, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, a16 de Maio de 2011, citado por agência (Ecclesia).

4 Mensagem do Santo Padre para o 47º dia mundial de oração pelas vocações (25 de abril de 2010 - IV domingo de Páscoa).

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experiência de graça e de alegria. Faz-nos frutíferos, porque expande os nossos corações de esperança e nos permite suportar a vida, dando testemunho: na verdade, ela abre os corações e mentes daqueles que ouvem a responder ao convite do Senhor, para cumprir a sua palavra e tornar-se seus discípulos”.5

Pelo testemunho, o crente cristão demonstra que a sua vida foi transformada, tornando-se numa nova criatura, como refere S. Paulo na segunda carta aos coríntios “Se estais em Cristo sois novas criaturas: passaram as coisas velhas; eis que tudo se fez novo”.6 É ainda o mesmo apóstolo que nos diz que o cristão, através do seu testemunho pessoal, pela sua vida, anuncia, com eficácia, o poder do Evangelho que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. “Com efeito eu não me envergonho do Evange-lho, porque é a virtude de Deus para dar a salvação a todo o crente.” 7

A importância do testemunho é tão premente que o próprio Jesus a apresenta como um desejo profundo do seu coração, para a sua Igreja: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai,

5 Bento XVI, Carta ap. Porta Fidei, n.7. 6 cf. 2 Cor 5, 17.7 cf. Rm 1,16.

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que está nos céus.”8 “Os cristãos são chamados a fa-zer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Pala-vra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou.”9

O testemunho de vida, baseado na coerência e na vivência da Fé, é primordial, mas para suscitar vocações para a missão evangelizadora da Igreja, é necessário transformar esse testemunho em ação. Não podemos apenas ficar à espera que reparem, que reconheçam, é fundamental uma atitude, “ir ao encontro”, convidar, desafiar a experimentar.10

Este convidar (e mesmo desafiar) exige do outro também uma atitude ativa: aceitar o desafio, levan-tar-se e pôr-se a caminho, atitude que encontramos em muitas passagens da Sagrada Escritura, as quais podem servir como motor para o nosso suscitar de vocações para a evangelização.

No livro do Génesis o Senhor diz a Abraão: “Le-vanta-te, percorre esta terra em todas as direções,

8 Mt 5,16.9 Bento XVI, Carta ap. Porta Fidei, n.6.10 Importa recorrer à pedagogia de Jesus “Mestre, onde mo-

ras? Vinde ver” (cf Jo 1, 38-39) e também imitar os primeiros após-tolos, como podemos descobrir no desafio de Filipe a Natanael, quando questionado por este sobre a proveniência de Jesus “Vem e vê”(cf. Jo 1, 46).

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porque Eu ta darei.“11 O livro dos Reis apresenta-nos a atitude de Samuel que se levanta, durante a noite, ao ouvir chamar pelo seu nome.12 Também ao profe-ta Elias, Deus fala dizendo «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer.»13

Levantar-se implica ação, resposta à interpelação de Deus; é o passar de um estado imóvel e de fra-queza, para um estado de movimento e confiança, é caminhar ao encontro do Senhor da vida.

1.1. O perfil do convocado

Neste âmbito entende-se o convocado como uma pessoa interpelada por Deus, que, em Igreja, faz o discernimento da sua vocação.

Para ajudar a encontrar na comunidade vocações para o apostolado apresentamos algumas caracterís-ticas a observar:

• Adulto – com maturidade humana e cristã;• Confirmado na fé;

11 Gn 13, 17.12 cf 1Sm 3, 6-7.13 1Rs 19, 7.

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• Integrado na vida da comunidade – celebra a eucaristia na comunidade e vive em comu-nhão eclesial;

• Sólida espiritualidade;• Transparente testemunho de vida.

1.2. O chamamento de Deus pressupõe

• Um local – pode ser a comunidade, um gru-po ou movimento em que esteja integrado, a exemplo de Maria, «O Anjo entrou em casa dela»14;

• Um acontecimento provocador, que é um ele-mento que desconcerta e levanta a questão: «Senhor que queres que eu faça?»;

• O reconhecer de uma necessidade na comu-nidade;

• A vontade inicial de querer pôr-se a caminho.

Consciente de que Deus chama em qualquer lu-gar e em qualquer situação, é responsabilidade da comunidade cristã educar os seus membros para a escuta atenta do Senhor. O testemunho de vida da própria comunidade torna-se o primeiro meio para PROVOCAR. Além deste, podemos fomentar o “PRO-

14 cf Lc 1, 28.

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VOCAR”, através de ações pontuais com toda a co-munidade, com pequenos grupos ou com pessoas concretas.

2. DISCERNIR

No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, no-tando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde mora-va e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou

Passagem da sagrada escritura de referência para o SUSCITAR: • Gn 13, 14b-17• 1Sm 3, 6-7• 1Rs 19, 5-8• Lc 1, 26-38

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primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrá-mos o Messias!» – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» – que significa Pedra. No dia seguinte, Jesus resol-veu sair para a Galileia. Encontrou Filipe, e disse-lhe: «Segue-me!» Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro. Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos aquele sobre quem escre-veram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respon-deu-lhe: «Vem e verás!»15

15 Jo 1, 35-46.

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Neste contexto, discernir, significa perceber cla-ramente, conhecer, descobrir, apreciar e compre-ender. Pelo que é fundamental ouvir, ver, vivenciar, escolher, ensinar, aprender e experimentar.

Pretende-se aqui, dar resposta ao desafio lança-do, àquele que é suscitado para a missão: “ Vem e verás”.16 Surge, assim, a questão: como é que a igreja faz o discernimento desta vocação divina?

Ao longo da Sagrada Escritura, encontramos algu-mas referências à palavra discernimento, que nos po-dem ajudar a responder a esta questão: “… para dar aos simples o discernimento e ao jovem, o conhecimento e reflexão17; “Já que me pediste isso e não uma longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sim o discernimento para governar com rectidão…”18; “é por isto que eu rezo: para que o vosso amor aumente ainda mais e mais em sabedoria e toda a espécie de discernimento, para vos poderdes decidir pelo que mais convém, e assim sejais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo.”19; O discernimento passará sempre pela escuta da Palavra, pela oração e pela resposta.20

16 cf Jo 1, 46.17 Pr 1,4.18 1 Rs 3, 11.19 Fl 1, 9-10.20 cf 1Tm 4, 4 e Tg 1, 22-25.

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Nesta etapa, deveria ser dado a conhecer à pessoa que foi chamada, o que realmente é a missão e quais os instrumentos para se pôr ao caminho. Quanto mais conhecimento, melhor fará o discernimento da vocação. O mesmo se passa com a comunidade que escolhe os “trabalhadores para a sua vinha”; quanto mais conhecimento e intimidade existir no seio da comunidade, maior compromisso existirá entre os seus membros. Esta fase, de descoberta e compre-ensão mútua, deve ser acompanhada de uma pro-funda vivência da Palavra, que se manifesta no teste-munho. Bento XVI afirma que “o testemunho cristão comunica a Palavra atestada na escritura. Por sua vez a escritura explica o testemunho que os cristãos são chamados a dar com a própria vida.”21 Consideramos por isso que o testemunho está presente em todas as etapas que nos propomos refletir. É um tempo de fazer perguntas, de ouvir, de participar na eucaristia e de ser testemunha da revelação divina.

Em relação à importância da catequese para a Igreja, João Paulo II, afirmou que “a catequese, para a Igreja, foi sempre um dever sagrado e um direito imprescritível.”22

21 Bento XVI, Exor. Ap. Pós-Sinodal Verbum Domini, 30 de se-tembro de 2010, n.97.

22 João Paulo II, Exor. Ap. Catechesi Tradendae, 16 de Outubro de 1979, n.14.

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Os sacramentos foram instituídos por Jesus e “to-cam em todas as etapas e momentos importantes da nossa vida: outorgam nascimento e crescimento, cura e missão à vida de fé dos cristãos.” O sacramen-to da Eucaristia é o «Sacramento dos sacramentos», porque “todos os outros estão ordenados para este, como para o seu fim.”23 A Eucaristia torna-se, assim, uma redescoberta constante e um pressuposto es-sencial para podermos “embarcar em missão”, mas não o único pressuposto.

Discernir implica conhecer profundamente a mis-são, desde os aspetos mais gerais às questões práti-cas; fazer uma reflexão e avaliação para tentar perce-ber se os conhecimentos e competências do convo-cado correspondem ao que é exigido para a missão; adquirir formação adicional e específica (se necessá-rio); um período de experimentação e de contacto mais direto com a missão, onde possa ser vivenciada e sentida a experiencia de educador da fé e, por fim, uma tomada de decisão do convocado.

Levanta-se a importante questão: quem deve fa-zer ou acompanhar o convocado nesta etapa de dis-cernimento?

23 CCE 1210-1211.

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É a comunidade, por meio dos membros do grupo no qual o convocado realizará a missão, que deverá destacar um dos seus membros, com a responsabilida-de de integrar, aconselhar e acompanhar o convocado à missão, desde esta etapa, até ao conferir a missão. Este cristão mais experiente será um amigo importan-te que possibilitará ao convocado os instrumentos ne-cessárias ao discernimento da vocação divina.

2.1. Preparar para a Missão

O itinerário do educador na fé seguirá de perto o dos discípulos de Jesus. Ora, estes foram antes de mais, chamados: “Vem” e “Segue-me”; depois longa-mente preparados no contacto íntimo com o Senhor e, só no fim, enviados.

O convocado deve ser preparado para viver a unida-de com a qual está marcado o seu próprio ser de mem-bro da igreja. O seu ser e atuar dependem, inseparavel-mente, do ser e atuar de Cristo. A unidade e harmonia do educador na fé devem ser lidas a partir desta pers-petiva cristocêntrica e construir-se numa base de fami-liaridade profunda com Cristo e com o Pai, no Espírito.24

24 cf GCM 20.

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2.1.1. Formação

O objetivo da formação é capacitar para anun-ciar continuamente o evangelho, sendo composta pela formação catequética orgânica e sistemática, de carácter básico e fundamental e pela formação permanente.

Dentre os diversos caminhos para a formação permanente, emerge, antes de mais, a própria co-munidade cristã. É nela que os cristãos fazem a expe-riência da sua vocação e alimentam constantemente a sua sensibilidade apostólica. A figura do sacerdote é fundamental na tarefa de assegurar um progressi-vo amadurecimento como crentes e como testemu-nhas.

A comunidade cristã pode organizar várias moda-lidades de ações formativas para os seus agentes:

• Uma delas consiste em alimentar constante-mente a vocação eclesial, mantendo sempre viva a consciência de serem mandatados pela própria Igreja.

• Também é muito importante procurar um amadurecimento da fé, através da via ordiná-ria, mediante a qual a comunidade cristã edu-ca na fé os seus agentes pastorais e os leigos mais comprometidos.

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• A preparação imediata de cada ação apostóli-ca é um excelente meio de formação, sobre-tudo se for acompanhada pela avaliação de tudo aquilo que foi experimentado.

• No âmbito da comunidade também podem ser realizadas outras atividades formativas: retiros e convívios nos tempos fortes do ano litúrgico; cursos monográficos sobre temas mais necessários ou urgentes; uma formação doutrinal mais sistemática.25

Para a formação orgânica e sistemática, recorra-se à oferta existente na arquidiocese.

Recomenda-se que, na fase de preparação para a missão, o convocado realize a formação orgânica e sis-temática mais adequada e participe na formação per-manente proporcionada pela comunidade eclesial.

25 cf DGC 246-247.

Passagem da sagrada escritura de referência para o DISCERNIR: • Pr, 1, 2-6• Pr 13, 16• 1Rs 3, 10-12• Fl 1, 9 – 11• Act 1, 21-26• Act 6, 2-7• Jo 1, 35-51• Lc 24, 13-35

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3. CONFERIR A MISSÃO

Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convos-co até ao fim dos tempos.» 26

Por esses dias, como o número de discípulos ia aumentando, houve queixas dos helenistas contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário. Os Doze convocaram, então, a assem-bleia dos discípulos e disseram: «Não convém dei-xarmos a palavra de Deus, para servirmos às mesas.

3Irmãos, é melhor procurardes entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria; confiar-lhes-emos essa tarefa. Quanto a nós, entre-gar-nos-emos assiduamente à oração e ao serviço da Palavra.» A proposta agradou a toda a assembleia e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócuro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Foram apresentados aos Apóstolos que, depois de orarem, lhes impuse-ram as mãos. A palavra de Deus ia-se espalhando

26 Mt 28, 18-20.

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cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém, e grande número de sacerdotes obedeciam à Fé.27

Na Sagrada Escritura há passagens que nos aju-dam a entender como é conferida a missão aos anunciadores da Boa Nova: Aarão fará a imposição das mãos sobre os levitas e eles passarão a exer-cer o culto do Senhor28; “Josué, filho de Nun, ficou cheio do espírito de sabedoria, porque Moisés lhe

27 Act 6, 2-7.28 Nm 8,10-11.

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tinha imposto as mãos”29; Jesus, no início da prega-ção, refere: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos po-bres…”30; Jesus enviou os Doze depois de lhes dar as seguintes instruções: “Não sigais pelo caminho dos gentios, não entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel”31; outros conselhos: “envio-vos… sede prudentes… e simples…”32; ao enviar os Apóstolos disse: “ foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os…, ensi-nando-os a cumprir tudo quanto vos tenho manda-do. E sabei que Eu estarei convosco até ao fim dos tempos”33; Paulo, aos Coríntios, escreveu: “Aquele que nos confirma juntamente convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, Ele que nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito”34.

Aos crentes das suas comunidades, Pedro anun-cia que também eles, como pedras vivas, entram na construção de um edifício espiritual, em função de

29 Dt 34, 9.30 Lc 4, 18.31 Mt 10,5.32 Mt 10,16.33 Mt 28, 18-19.34 2 Cor 1, 21-22.

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um sacerdócio santo e acrescentou: ”Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação san-ta… a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável (…)”35.

Alguns conselhos de Paulo aos Efésios: “Exorto-vos a que procedais de modo digno do chamamento que recebestes com humildade, mansidão, paciên-cia, amor.”36

Filipe comunicou a Natanael “ com alegria”37 a sua grande descoberta: Encontramos Jesus, o Filho de José, de Nazaré…

3.1. A IGREJA

Pertence à Igreja “conferir a missão”. A Igreja, “sacramento universal de salvação”, conduzida pelo Espírito Santo, transmite a Revelação por meio da evangelização38.

O mandato missionário de Jesus comporta vários aspetos intimamente conexos entre si: “proclamai”,39

35 1 Pe 2, 9.36 Ef 4, 16.37 Cf Mensagem do Santo Padre para o 47º dia mundial de ora-

ção pelas vocações (25 de abril de 2010 - IV domingo de Páscoa).38 DGC 45.39 Mc 16, 15.

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“fazei discípulos e ensinai”40, “baptizai”41, “sereis mi- nhas testemunhas”42, “fazei isto em minha memó-ria”43, «amai-vos uns aos outros»44.

O batizado, feito membro da Igreja pelo Batismo, é um ungido de Deus, marcado com o selo do Espírito Santo, um chamado a servir os outros na comunhão da Igreja. O Batismo confere, portanto, a participa-ção no sacerdócio comum dos fiéis.

A missão do evangelizador é fazer discípulos de Jesus Cristo e ensinar tudo quanto Ele mandou. O que anuncia deve obedecer a requisitos essenciais: conhecer com profundidade a Boa Nova que vai pro-clamar, fazê-lo à maneira de Jesus com uma sábia pedagogia divina.

O testemunho de vida, a oração, a vivência de uma fé esclarecida e comprometida e a alegria cristã do anúncio são elementos fundamentais do enviado em missão.

O convocado para a missão, tendo atingido os objetivos essenciais no que respeita às etapas de

40 Mc 16, 31.41 Mc 16, 33.42 Mc 16,32.43 Lc 22, 19.44 Jo 15, 12.

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crescimento e maturação da vocação, dos saberes e da fé, manifesta perante a comunidade a sua dispo-nibilidade e aceitação do compromisso, recebendo da mesma a legitimidade do envio em missão. Cada comunidade estabelece a forma concreta de o fazer.

A convocação de agentes de pastoral é um pro-cesso moroso, por isso deve ser preparado com an-tecedência. Planificar a longo prazo, rezar a planifica-ção e envolver a comunidade na resolução das suas necessidades são etapas a percorrer com vista ao sucesso da evangelização.

Passagem da sagrada escritura de referência para o CONFERIR A MISSÃO: • Dt 34, 9• Nm 27,18• Mt 28, 19-20• Mc 16, 15-17• Lc 24, 50• Jo 21, 15-23• Act 5, 20• Act 6, 6• Act 9, 12• Act 13, 3.

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4. CONCRETIZANDO

Escassez de educadores na fé: quase nunca são os suficientes!

A juntar a esta dificuldade está a suposta prática sa-cramental deficitária de muitos agentes da Pastoral.

Estes problemas são reais e dolorosos, tanto mais porque afetam o núcleo identitário da transmissão da fé.

A missão de evangelizar compete a toda a co-munidade, logo todos devem ser implicados no pro-cesso: párocos, agentes de pastoral e todos aqueles batizados que querem viver como tal. Caberá aos grupo de agentes da Pastoral, porque foi a eles que a comunidade confiou a animação de processos de educação para a fé, implementar estratégias para ul-trapassar estas dificuldades.

Sugere-se o seguinte itinerário. Que se comece, logo após o Natal (mas os prazos não são nada rígi-dos), a fazer o levantamento das necessidades. Este levantamento faz-se na oração pessoal e comunitá-ria e na leitura da realidade em que nos inserimos. É necessário saber quantos educadores na fé existem, quantos são precisos para o próximo ano pastoral, para assegurar um bom serviço de evangelização. Não esquecer de somar àqueles que faltam agora o número daqueles que, por qualquer motivo, não

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podem prestar esse serviço no próximo ano pastoral. Fica-se, então, a saber quantos agentes de pastoral é necessário ‘encontrar’ de novo. Mais, não interessa um fiel qualquer, precisa-se ponderar as suas qua-lidades humanas e espirituais, sempre em clima de oração e discernimento evangélico.

No passo seguinte, o grupo vê na comunidade aquelas pessoas que, não estando comprometidas em nenhum trabalho pastoral, podem ter condições para vir a ser educadores na fé. Antes da Quaresma, procure-se alguém que faça a ponte entre o grupo e cada um dos possíveis candidatos para, com amizade cristã, lhe propor que se dedique ao ministério es-pecífico de educação para a fé. Como é óbvio, uma responsabilidade desta envergadura não pode ter uma resposta imediata, pelo que o tempo quaresmal pode e deve ser um bom tempo para que o inter-pelado e a comunidade rezem esta situação, sendo que aquele que fez de ponte deve acompanhar de perto, prestando todos os esclarecimentos e apoios necessários.

No início do Tempo Pascal faz-se a recolha das de-cisões e fica-se a saber quem aceitou ou não integrar o grupo de novo. Porque pode haver sempre algu-ma recusa, convém procurar interpelar mais alguns do que aqueles que pareceram necessários. Aqueles que se vão dedicar a um serviço específico de edu-

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cação para a fé têm agora uma oportunidade para se encontrarem com o grupo que os acolhe. Seria bom que se organizasse, numa das reuniões men-sais da Primavera, um bom acolhimento aos novos membros, que já passariam a participar nas reuniões periódicas, para se irem introduzindo paulatinamen-te no grupo e na missão. Havendo oportunidade, se-ria bom que participassem na formação inicial, pelo menos em alguma, antes do início do próximo ano pastoral.

Os novos membros já participam na programa-ção do ano seguinte, que se realiza até Junho, sen-sivelmente.

No novo ano, e com o devido acompanhamento, o convocado faz a experiência da missão que o ajuda-rá a integrar-se no grupo e a discernir a sua vocação. Neste período dá-se especial atenção à formação do novo membro.

Após um ano de preparação e discernimento, o convocado terá condições para confirmar o seu com-promisso com a missão, se assim o desejar.

Se este processo passar a ser hábito em cada pa-róquia não tardará que as dificuldades enunciadas no início estejam superadas.

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