papel da escola na reprodução social trabalho

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Page 1: Papel da escola na reprodução social   trabalho

Universidade do Minho- Instituto de

Educação| 2013Mestrado em Ensino de Música

1º Semestre

Papel da Escola na Reprodução Social

Universidade do Minho- Instituto de

Educação| 2013Mestrado em Ensino de Música

1º Semestre

Papel da Escola na Reprodução Social

Universidade do Minho- Instituto de

Educação| 2013Mestrado em Ensino de Música

1º Semestre

Papel da Escola na Reprodução Social

Page 2: Papel da escola na reprodução social   trabalho

Universidade do Minho- Instituto de

Educação| 2013Mestrado em Ensino de Música

1º Semestre

Papel da Escola na Reprodução Social

por

Vânia Fontão

Realizado no âmbito da disciplina de

Sociologia da Educação e Profissão Docente.

Leccionada pelo Professor Doutor

Manuel António Ferreira da Silva.

Guimarães, Fevereiro 2013

Universidade do Minho- Instituto de

Educação| 2013Mestrado em Ensino de Música

1º Semestre

Papel da Escola na Reprodução Social

por

Vânia Fontão

Realizado no âmbito da disciplina de

Sociologia da Educação e Profissão Docente.

Leccionada pelo Professor Doutor

Manuel António Ferreira da Silva.

Guimarães, Fevereiro 2013

Universidade do Minho- Instituto de

Educação| 2013Mestrado em Ensino de Música

1º Semestre

Papel da Escola na Reprodução Social

por

Vânia Fontão

Realizado no âmbito da disciplina de

Sociologia da Educação e Profissão Docente.

Leccionada pelo Professor Doutor

Manuel António Ferreira da Silva.

Guimarães, Fevereiro 2013

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Papel da Escola na Reprodução Social

A sociologia da educação é um capítulo, e não dos menores, dasociologia do conhecimento e também da sociologia do poder -sem falar da sociologia das filosofias do poder. (Bourdieu 1991,p. 117)

Bourdieu e Passeron, no livro A Reprodução: Elementos para uma teoria do

sistema de ensino”, deram grande enfase ao sistema educacional francês e referem que

este, ao invés de permitir a ascensão social e renovar a sociedade, o corrobora e é gerador

de desigualdades.“Todo o sistema de ensino institucionalizado produz e reproduz um arbítrio cultural de

que ele não é o produtor e cuja reprodução contribui para a reprodução das relaçõesentre grupos ou classes.” (Rosendo, 2009, p. 12).

Nos estudos de Bourdieu destacam-se as diferenças culturais que surgem numa

sociedade estratificada, como por exemplo, as suas normas de falar e os seus valores.

Porém, a escola ignora estes fatores e privilegia a classe dominante, favorecendo as

crianças que já controlam este aparato cultural. Assim, a escola, para as classes

dominantes, é vista como uma continuidade das suas práticas sociais.

Os autores Bourdieu e Passeron, na sua obra, desenvolvem a “teoria da

reprodução” fundamentada na noção de “violência simbólica”. Aqui, segundo os autores

acima mencionados, toda a atividade pedagógica é considerada uma “violência

simbólica” como medida de coação de um “poder arbitrário”. Este poder é sustentado

pela estratificação de classes e esta actividade pedagógica tende, concomitantemente, à

reprodução cultural e social.“[...] o sistema escolar cumpre uma função de legitimação cada vez mais necessária à

perpetuação da “ordem social” uma vez que a evolução das relações de força entre asclasses tende a excluir de modo mais completo a imposição de uma hierarquia fundadana afirmação bruta e brutal das relações de força”. (Bourdieu, 2001, p.311).

Na reprodução social há uma aquisição de valores e costumes sem, contudo,

executarmos transformações.“Aceita-se geralmente que há século e meio atrás, no princípio do desenvolvimento do

capitalismo industrial havia maiores diferenças entre as classes (…) Desde então, tem sidoafirmado, as desigualdades materiais têm diminuído em larga medida nos paísesindustrializados. Mais ainda, com o desenvolvimento da educação pública, os que tiverem otalento necessário podem encontrar uma via para os níveis superiores do sistema social eeconómico. Infelizmente, esta imagem está longe de ser correta (…), existem poucas esferasda vida social que não sejam tocadas pelas diferenças de classe.” (Giddens, 1997, pp. 272-273)

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Assim sendo, esta reprodução não assenta apenas na repetição da erudição, mas na

gerência da própria estrutura social e do sistema de estatutos e papéis sociais presentes.“A função da escola concebida como instituição especificamente configuradapara desenvolver o processo de socialização das novas gerações, aparecepuramente conservadora; garantir a reprodução social e cultural comorequisito para a sobrevivência da mesma sociedade”. (Gómez, 2000, p. 14)

A escola não ensina o capital cultural dominante, ela apenas aumenta o

conhecimento. O papel da escola é praticar uma função de socialização refletida que se

exprime a dois níveis: Socialização formal, que adopta a forma de aprendizagem de

conteúdos e Socialização informal, onde, através de procedimentos informais (contactos

com os colegas e professores), são passados valores, tais como: ordem, disciplina, boa

educação, etc.“ A socialização formal tende a produzir respostas custodiais, enquanto ainformal tem o potencial de produzir respostas mais fortes, tanto custodiaiscomo inovadoras, dependendo do agente socializador.” (Gilberto Shinyashikicit. In Fleury, 2002, p. 179).

Segundo Bourdier e Passeron a organização da escola é vista como uma

oportunidade de ascensão social, ou um meio para esse fim. Esta reflexão verifica-se com

a democratização do ensino e com o aumento de indivíduos formados, o que permite que

a escola substitua as disparidades de ingresso pelas disparidades de currículos de forma a

preservar a sua função de reprodução social.

“Eis porque a estrutura das oportunidades objetivas da ascensão pelaEscola, condiciona as disposições relativamente à Escola e à ascensão pelaEscola, disposições que contribuem por sua vez de uma maneiradeterminante para definir as oportunidades de ter acesso à Escola, de aderiràs suas normas e de nela ter êxito, e, por conseguinte as oportunidades deascensão social”. (Bourdieu & Passeron, 1970 p. 190)

Para além disso, começou a considerar-se que o acesso à escola das massas

auxiliaria a erigir uma sociedade livre, igual e fraterna. Porém, o objectivo não foi

alcançado devido ao elevado número de pessoas com instrução, desvalorizando-se os

diplomas e intensificando as desigualdades sociais.

Assim, na actualidade qual será a verdadeira função da escola como meio de reprodução

social? Segundo Dürkheim (1974):“…quando se estuda historicamente a maneira de se formarem e desenvolverem

os sistemas de educação, percebe-se que eles dependem da religião, daorganização política, do grau de desenvolvimento das ciências, do Estado, dasindústrias etc. Separados de todos essas causas históricas, tornam-seincompreensíveis”.(Durkheim, 1974, p.40).

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As ações culturais como ouvir certas músicas, ir ao teatro, museu, entre outros,

distinguem as pessoas. São ações para gerações que tenham pretensões e meios para

chegarem até essa cultura dominante.

A educação está ligada a essas culturas, por exemplo, quem lê é quem tem estudos

para ler. Assim como a frequência à cultura está ligada ao nível de educação, está

também a herança familiar em contacto com a cultura. Essa herança faz com que o apego

inicial pela arte aumente com a instrução. Ao mesmo tempo a “ação pedagógica” está

mais ligada à classe dominante e próxima à família.

Nos Escritos de Educação de Bourdieu é relatada a sua experiência com alunos

que se julgam rejeitados no sistema educacional escolar. O autor refere-se a:“um mal-estar dos subúrbios, resultado do aflorar das contradições sociais:

[…] no funcionamento de uma instituição escolar que, sem dúvida, nuncaexerceu um papel tão importante e para uma parcela tão importante dasociedade como hoje, essa contradição tem a ver com uma ordem social quetende cada vez mais a dar tudo a todo mundo, especialmente em matéria deconsumo de bens materiais ou simbólicas, ou mesmo políticas, mas sob asespécies fictícias da aparência do simulacro ou da imitação, como se fosseesse o único meio de reserva para uns a posse real e legítima desses bensexclusivos.” (Bourdieu, 1998, p.225)

Segundo Durkheim a educação pode ser observada como um processo de

metamorfosear e compreender o cosmos.“A educação tem variado infinitamente com o tempo e com o meio. Nas cidades gregas e

latinas a educação conduzia o indivíduo a subordinar-se cegamente à coletividade [...].Hoje esforça-se em fazer dele uma personalidade autônoma. Em Atenas, procurava-seformar espíritos delicados, prudentes, sutis [...], capazes de gozar o belo e os prazeres dapura especulação; em Roma, desejava-se especialmente que as crianças se tornassemhomens de ação, apaixonados pela glória militar, [...]; na Idade Média a educação eracristã, antes de tudo; na Renascença toma caráter mais leigo, mais literário; nos dias dehoje, a ciência tende a ocupar o lugar que a arte outrora preenchia. Na verdade, [...]cada sociedade considerada em momento histórico determinado do seu desenvolvimento,possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos[...]. (Durkheim, 1972, p.35-36)

A educação passa para cada um apenas o que ele está predisposto a receber. Os

métodos de trabalho e os valores a serem dados aos estudantes também são separados

pelo sistema de ensino: quem tem estudos e trabalha com a mente é superior a quem não

tem estudos e trabalha com o corpo. A herança também designa as pessoas para certos

trabalhos, quem tem uma família que trabalha com a mente tem os pré-requisitos para

entrar e progredir na escola de um modo superior e assim para o trabalho com a mente,

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fazendo com que a cultura não passe das mãos da classe dominante e por esse motivo

essa educação fica cada vez melhor, pois se a classe dominante sabe que a cultura está na

mão dela e não vai sair, ela investe mais na educação, deixando a educação dos

dominados cada vez pior.“…o sistema de ensino é relativamente autónomo e consegue manter sempre asua autonomia face às reivindicações externas. A dissimulação da selecçãosocial sob a forma de selecção técnica, conduz a que as classes sociais maisdesfavorecidas tendam a auto-eliminarem-se e a auto-excluírem-se devido aosbaixos níveis de esperança.” (Rosendo,2009, p. 21)

Contudo, a escola como mecanismo ideológico, colabora para a revelação da

ideologia da classe dominante, validando a ordem estabelecida, dado que os estudantes

são levados a aceitar a hierarquia social.“…os docentes do ensino superior são recrutados nas classes médiasletradas, assim como nos filhos intelectuais da alta burguesia. Os quadrossubalternos ou médios do ensino devem tudo à escola e consideram-na comoo princípio supremo de toda a hierarquia económica e social. A meritocraciaé o reconhecimento de todos os institucionalizados que tenham valor para ainstituição. Segundo os autores [Bourdieu e Passeron], a pretensãoaristocrática tem uma ambição pedagocrática de magistério moral, sendoum substituto da ideia de “governo dos sábios” de Platão.” (Rosendo, 2009,p.21)

As atividades culturais não são as mesmas em toda a classe dominante, elas

também diferenciam de acordo com as áreas de atuação das pessoas. Outro fator que

influencia na atividade cultural é ter capital económico e poder. Quanto maior o capital

cultural mais se investe em educação e cultura, por isso são diferentes as classes

dominantes das classes trabalhadoras.

Na área económica o Diploma tem mais valor para quem já tem herança nessa

área, quase não tendo valor para alguém que não tem família com capital económico.

Quem tem capital económico tem mais facilidade de ter também o capital cultural.“Há cada vez mais indivíduos qualificados e aptos para satisfazerem as

exigências da economia e a relação entre escola e economia é tida comoartificial. As classes que detêm o monopólio de uma relação com a culturaestão dispostas a tirarem pleno proveito da certificação. Considerarem-nacomo adquirida de modo legítimo, com base na ideologia do desinteresse e dameritocracia ou “ideologia do dom.” (Rosendo, 2009, p. 22)

Neste contexto, o que se pode perceber é que a escola, o professor e o sistema

educativo como um todo, não se colocam mais no centro como agência socializadora. E,

finalmente, a própria cultura escolar é vista como mais uma forma de conhecimento,

concorrendo com outros meios e tecnologias de produção e de transmissão do saber.

“A escola tem uma função técnica de produção e atestação das capacidades,a par de uma função social de conservação do poder e dos privilégios. Asclasses privilegiadas parecem delegar completamente o poder de seleccionar,

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entregando-o a uma instituição aparentemente neutra. Mesmo nas sociedadesdemocráticas as escolas continuam a contribuir para a reprodução social,através da dissimulação das suas funções. A ideologia escolar da escolalibertadora é o que move a acreditar na ascensão social por esta via. Contudo,a escola é, segundo os autores [Bourdier e Paseeron], uma merareprodutora.” (Rosendo 2009, p.22)

.

Será a escola uma instituição que quer cumprir a missão de reprodução das

desigualdades sociais? Apesar de não raras vezes a escola reproduzir as desigualdades

sociais não deveria ser essa a sua função. Deveria, portanto, contrariar esse aspeto.

“Não é diretamente a escola que realiza as grandes operações de distribuiçãodos alunos, são as desigualdades sociais que comandam diretamente o acessoàs diversas formas de ensino. Uma das consequências desse sistema é que aescola aparece justa e “neutra” no seu funcionamento, enquanto as injustiçaseas desigualdades sociais é que são diretamente a causa das desigualdadesescolares.” (Durkheim, 1974, p. 32)

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Referências Bibliográficas

BOURDIEU, P. (2001). A Economia das Trocas Simbólicas. 5ª ed. São Paulo:Perspectiva.

BOURDIEU, P. (1998) A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e àcultura. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. (orgs). Escritos de educação. Petrópolis,Vozes,

BOURDIEU, P. (1991). Language and Symbolic Power. United States of America:Harvard University Press.

BOURDIEU, P. & PASSERON, J.-C. (1982). A reprodução: Elementos para uma teoriado sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves.

DURKHEIM, É. (Julho de 1974). Sociology and Philosophy. Free Press.

GIDDENS, A. (1997) Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

GÓMEZ, A. I. P. (2000). As funções sociais da escola: da reprodução à reconstruçãocrítica do conhecimento e da experiência. In: SACRISTÁN, J. G.; GÓMEZ, A. I. P.Compreender e transformar o ensino (13-26). Porto Alegre: Artmed.

ROSENDO, A. P. (2009). A Reprodução: Elementos para uma Teoria do Sistema deEnsino, de Pierre BOURDIEU e Jean-Claude PASSERON. Colecção: RecensõesLUSOSOFIA. Covilhã: UBI

SHINYASHIKI, G. (2002). O processo de socialização organizacional. In: FLEURY, M.T. L. As pessoas na organização. São Paulo: Editora Gente Liv e Edit Ldt.