o papel das organizações militares na mobilidade social

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1 MARCOS DE ARAÚJO O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES MILITARES NA MOBILIDADE SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientadora: TC Denise Pellegrini Maia Rovina Rio de Janeiro 2013

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Page 1: o papel das organizações militares na mobilidade social

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MARCOS DE ARAÚJO

O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES MILITARES NA MOBILIDADE SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientadora: TC Denise Pellegrini Maia Rovina

Rio de Janeiro 2013

Page 2: o papel das organizações militares na mobilidade social

2

C2013 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. _________________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Araújo, Marcos de. O papel das organizações militares na mobilidade social / Coronel

PMDF Marcos de Araújo. - Rio de Janeiro: ESG, 2013.

67 f.: il.

Orientadora: TC R1 Denise Pellegrini Maia Rovina Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013. 1. Mobilidade social. 2. Classe e estratificação. 3. Evasão nas Forças Armadas. 4. Instituições militares. 5. Oficiais. I. O papel das organizações militares na mobilidade social.

Page 3: o papel das organizações militares na mobilidade social

1

A minha filha e minha esposa por me

acompanharem neste desafio dando

suporte em todos os momentos,

inclusive durante minhas ausências

devido a dedicação às atividades da

ESG.

Page 4: o papel das organizações militares na mobilidade social

2

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Moacyr Pinheiro de Araújo (in memorian) e Dircéa Francisca

Rosa de Araújo por terem sido responsáveis por parte considerável de meu caráter e

formação.

Ao Comando-Geral da PMDF por ter confiado tão nobre tarefa de

representar a Instituição em uma Organização de tanta tradição e prestígio.

Aos estagiários da Turma Força Brasil do CAEPE pelo convívio harmonioso e

colaboração com a pesquisa.

Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos, orientações e apoio ao

trabalho, de forma especial à Diretoria de Telemática.

A orientadora TC Denise Maia pelo cuidado e atenção.

Ao Departamento de Pessoal das Forças Armadas, e a Escola Naval,

Academia das Agulhas Negras e Academia da Força Aérea, pelo fornecimento de

dados indispensáveis à investigação.

Ao Senhor Deus de quem sou e sirvo pelo dom da vida, toda honra e glória

pelos séculos dos séculos....

Page 6: o papel das organizações militares na mobilidade social

4

RESUMO

Esta monografia aborda o papel das Instituições Militares na Mobilidade Social no Brasil

nos últimos 30 anos. O objetivo deste estudo de métodos mistos concomitantes é

examinar as realidades sociais de mulheres e homens nos diferentes postos,

procurando identificar quais camadas da sociedade, nos últimos 30 (trinta) anos, foram

atraídas para ingressar nos cursos de formação de oficiais das Forças Militares, em

especial nas Forças Armadas, e se estes militares experimentaram mudanças de

classes sociais. A metodologia comporta pesquisa bibliográfica e documental com

procedimentos comparativos. Há investigação de campo com entrevistas e

questionários aplicados aos Estagiários do Curso de Altos Estudos de Política e

Estratégia – CAEPE 2013, ao Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra – ESG,

no Campus do Rio de Janeiro e a alguns de seus respectivos palestrantes. O campo de

estudo delimita-se a investigar os oficiais das instituições militares, em especial as

Forças Armadas, nos últimos 30 anos. Fundamenta-se no pensamento de Max e

Weber quando aborda os conceitos de classe e estratificação. Faz comparações dos

estamentos sociais dos Oficiais de 30 anos com o atual, a fim de aquilatar se há

diferenças sensíveis. Analisa o fenômeno da evasão dos Oficiais das fileiras das Forças

Armadas e a presença cada vez maior das classes “C” e “D” no oficialato. Discute até

que ponto esse acontecimento pode ser encarado como democratização do ingresso

nas FA. Sopesa a mobilidade social intrageracional e intergeracional. Por fim, verifica

qual o papel que as Instituições militares têm tido na mobilidade social para os oficiais

nos últimos 30 (trinta) anos. Os principais tópicos são: Classe e Estratificação; Classe

Social do Militar no Ingresso e no Final da Carreira; O Fenômeno da Evasão dos

Oficiais e A Mobilidade Social do Oficial. A conclusão indica que, por motivos

conjunturais, a carreira de Oficial das Forças Armadas não atrai parcela considerada da

população pertencente às classes “A” e “B”, e que as Forças apresentam altas taxas de

evasão de jovens em formação e de oficiais modernos. Por outro lado, com expressiva

presença das classes “C” e “D” no oficialato, as FA potencializam o papel de

instrumento de mobilidade social na sociedade brasileira.

Palavras chave: Mobilidade social. Classe e estratificação. Evasão nas Forças

Armadas. Instituições militares. Oficiais.

Page 7: o papel das organizações militares na mobilidade social

5

ABSTRACT

This monograph discusses the role of Military Institutions in Brazilian Social Mobility

over the past 30 years. The purpose of this study is to examine the social realities of

men and women in different positions, trying to identify which sections of society

were attracted to join the officers training courses of the Military Forces, particularly in

the Armed Forces and, if these soldiers experienced any changes to their social

classes. The methodology adapted used research from bibliographies and

documents with comparative procedures. The study included field research with

interviews and questionnaires given to student in Advanced Strategic Policy Studies

Course - CAEPE 2013 and the instructors and staff of the Escola Superior de Guerra

- ESG, Campus of Rio de Janeiro; as well as some of their speakers. The study was

limited to investigating military officers particularly of the Armed Forces in the last 30

years. The study compares the social status of officers in the last 30 years with those

of today, in order to assess whether there exist significant differences. It analyzes the

avoidance phenomenon of officers from the rank and file of the Armed Forces and

the increasing presence of class "c " and "d" person in the officer corps subsequently,

the study discusses the extent to which this event can be seen as the

democratization of the armed forces. Weighing both the intragenerational and

intergenerational social mobility. The main topics are: Class and Stratification, Social

Class in the Military Entrance and late career, The Phenomenon of Evasion Officers

and Social Mobility Officer. The conclusion demonstrates that, for reasons related to

the careers of Armed Forces Officers draws little to no portion of the population

belonging to the classes " a" and " b ", and that the forces have high rates of

avoidance by young people in training to become officers. On the other hand, with a

significant presence of class “c" and "d" in the officer corps, the armed forces

leverage the role of an instrument of social mobility in Brazilian society.

Keywords: Social mobility. Stratification class. Evasion in the Armed Forces. Military

institutions. Officers.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 1 Mudança de classe social com base na realidade pessoal .............17 GRÁFICO 2 Influência do ingresso na instituição militar na mobilidade social

do oficial ..........................................................................................18 GRÁFICO 3 Outra atividade remunerada para complementar a renda familiar ...22 GRÁFICO 4 O Fenômeno da evasão das Instituições Militares ...........................23 GRÁFICO 5 Razão do ingresso na Instituição .....................................................24 GRÁFICO 6 Procedência escolar cadetes da AMAN/2012 ..................................37

Page 9: o papel das organizações militares na mobilidade social

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Percentual, anual, de evasão dos Oficiais nos últimos 10 anos. .............. 27 Tabela 2 Percentual, anual, de evasão de oficiais nos últimos 10 (dez) anos. ....... 30 Tabela 3 Principais motivos da evasão no EB ........................................................ 31 Tabela 4 Procedência escolar dos cadetes da FAB/2013. ...................................... 36 Tabela 5 Procedência escolar dos aspirantes da EN/2013.. ................................... 36 Tabela 6 Classes sociais. ........................................................................................ 40 Tabela 7 Renda Familiar ano de 2005. ................................................................... 40 Tabela 8 Renda Familiar ano de 2013. ................................................................... 40 Tabela 9 Faixas de Renda Oficiais da Marinha.. ..................................................... 42 Tabela 10 Procedência Socioeconômica ................................................................. 42 Tabela 11 Rendimento Familiar mensal dos cadetes matriculado no 1º ano ............ 43 Tabela 12 Rendimento familiar mensal dos cadetes do 1º ano. ................................ 44 Tabela 13 Pai ou mãe militar. 2005 MB. ................................................................... 47 Tabela 14 Pai ou mãe militar. 2013 MB. ................................................................... 48

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFA Academia da Força Aérea

AMAN Academia Militar das Agulhas Negras

C Alte Contra Almirante

CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia

Cel Coronel

CMG Capitão de Mar e Guerra

CPAN Concurso para Ingresso na Escola Naval

DCTA Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial

DEPENS Departamento de Ensino da Aeronáutica

EB Exército Brasileiro

EN Escola Naval

EGN Escola de Guerra Naval

Eng Engenheiro

EsFCEx Escola de Formação Complementar do Exército

ESG Escola Superior de Guerra

FAB Força Aérea Brasileira

FA Forças Armadas

FN Fuzileiro Naval

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IME Instituto Militar de Engenharia

IPqM Instituto de Pesquisa da Marinha

ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica

MB Marinha do Brasil

PSAEN Processo Seletivo de Admissão à Escola Naval

QCO Quadro Complementar de Oficiais

QEM Quadro de Engenheiros Militares

SOEP Serviço de Orientação Educacional e Psicológica.

Ten Tenente

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10

1.1 PROCEDIMENTO DE PESQUISA................................................................ 10

2 CLASSE E ESTRATIFICAÇÃO ................................................................... 13

2.1 CLASSE SOCIAL DO OFICIAL AO LONGO DA CARREIRA....................... 17

2.2 O FENÔMENO DA EVASÃO DOS OFICIAIS .............................................. 22

2.3 AS INSTITUIÇÕES MILITARES E A MOBILIDADE SOCIAL DO OFICIAL. 33

2.3.1 Perfil socioeconômico e classe social do novo oficial das FA............... 39

2.3.2 Mobilidade social intrageracional e intergeracional ................................ 44

3 CONCLUSÃO............................................................................................... 49

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 52

GLOSSÁRIO ................................................................................................ 54

APÊNDICE(S) ............................................................................................. 56

ANEXO(S) ................................................................................................... 65

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1. INTRODUÇÃO

As Organizações Militares possuem um papel social relevante na sociedade

brasileira. Sua origem guarda relação íntima com a história do Brasil. Sua

capilaridade no território nacional proporciona oportunidades diversas, de maneira

que se ouve falar com frequência, e com certa “romantização”, das presumíveis

melhores condições humanas abertas nas carreiras militares às diversas classes

sociais menos favorecidas em termos de oportunidade concreta de ascensão social.

O problema da investigação consiste em verificar se as organizações militares têm

sido instrumento de mobilidade social para as classes mais baixas. Utiliza-se como

plataforma a pesquisa desenvolvida durante 2 (dois) anos por este estagiário na Polícia

Militar do Distrito Federal, segundo a qual constatou-se que a PMDF funciona como

instrumento de mobilidade social, a fim de se verificar se há similitude dos resultados.

Araujo, (2008).

O trabalho se inicia explicitando detalhadamente o procedimento de pesquisa.

Em seguida se introduz aspectos teóricos sobre classe e estratificação, com

fundamentos balizados nos estudos de Anthony Giddens sobre Karl Marx e Max Weber.

O módulo seguinte discute a classe social do oficial ao longo de sua estada

na Força, contrastando a situação social no início e no final da carreira. O fenômeno

da evasão do oficial é o tema que se estuda na sequência.

Seguindo, a pesquisa investiga as Instituições Militares e a Mobilidade Social

dos seus respectivos Oficiais. Nesta fase se estuda Renda Familiar e Classe Social

do Novo oficial das FA e a Mobilidade Social Intrageracional e Intergeracional.

A investigação finaliza com uma rápida e objetiva conclusão.

1.1 PROCEDIMENTO DE PESQUISA

O objetivo deste estudo de métodos mistos concomitantes é examinar as

realidades sociais de mulheres e homens nos diferentes postos, procurando identificar

quais camadas da sociedade, nos últimos 30 (trinta) anos, foram atraídas para

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11

ingressar nos cursos de formação de oficiais das Forças Militares, em especial nas

Forças Armadas e, se estes militares experimentaram mudanças de classes sociais.

As possíveis respostas para o problema foram formuladas na hipótese de

que as Organizações Militares têm sido instrumento de mobilidade social, mas com

peculiaridades relacionadas ao seu aspecto hierarquizado que, por um lado,

impossibilita que a instituições militares sejam consideradas discriminadoras,

contudo, por outro, não é suficiente para impedir a reprodução dos preconceitos

decorrentes da carga cultural trazida para a instituição por alguns de seus membros.

A investigação está delimitada a estudar os oficiais de carreira no período entre

1983 a 2013.

A escolha do tema se deu primeiro pelo anseio de se pesquisar um assunto

nos quais os enfoques político, jurídico e sociológico estivessem estritamente

entrelaçados em torno dos “Direitos Humanos” de modo que a abordagem não

pudesse ser feita dissociada das questões pertinentes ao curso. Segundo, pelo nível

de cognição a ele relacionado, que se encontra em estágio embrionário nas

instituições militares, com inexistência de investigação específica, sendo, pois,

instigante desenvolvê-la.

Em pesquisa bibliográfica realizada na Biblioteca da Escola Superior de

Guerra, objetivando conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis

sobre o tema, foram encontradas duas conferências proferidas na ESG, e um

Trabalho Especial.

A primeira foi a conferência realizada no dia 26 de maio de 1980, com o

título “Mobilidade Social no Brasil”, com 17 (dezessete) páginas, pelo Professor

Manoel Niederauer Tavares Cavalcanti. O objeto de estudo foi a sociedade

considerada como sistema vivenciado de relações humanas.

A segunda foi a conferência pronunciada em 05 de julho de 1988, pelo

Professor Speridião Faissol do Departamento de Geografia do Instituto de

Geociências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, com o título “A

mobilidade social no Brasil”. O objetivo foi analisar a questão da mobilidade social no

Brasil.

O Trabalho Especial é de 1979, do Contra Almirante Fuzileiro Naval José

Antonio Martins Alves, com 38 páginas e título “A mobilidade social nas Forças

Armadas”.

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O conjunto de doutrinas tomadas como base para o avanço da pesquisa

baseia-se principalmente na literatura brasileira, italiana, inglesa e francesa no

campo da Sociologia e do Direito Constitucional.

No que concerne à metodologia, o conjunto filosófico e político de caminhos

definidores do presente trabalho tem uma abordagem sociológica com

procedimentos comparativos (RUIZ, 1985)1, pois busca compreender a realidade

através de comparações entre os grupos pesquisados (homens e mulheres), os

fenômenos relacionados a eles, e os tempos históricos diferentes.

Para a coleta de dados foram realizadas pesquisas de campo, usando

instrumentos quantitativos (questionários) para avaliar a relação entre a classe social

(variável independente) e as matrículas nos cursos de formação de oficiais (variável

dependente). Ao mesmo tempo, a possível mobilidade social é explorada por meio

de entrevistas qualitativas com os estagiários do Curso de Altos Estudos de Política

e Estratégia – CAEPE 2013, e com o Corpo Permanente da Escola Superior de

Guerra – ESG, no Campus do Rio de Janeiro.

Visando compreender como os oficiais experimentam e interpretam

determinadas situações existentes em suas instituições, após o levantamento de

dados quantitativos, foram preparados roteiros de entrevistas para a aplicação da

metodologia de história oral.

Aproveitando-se da situação de oficial estagiário, o pesquisador no

desenrolar da investigação, utiliza a observação participante. Também, por meio do

Comando da ESG, foram consultados os departamentos de pessoal das três Forças

com cinco questionamentos relacionados ao tema, Anexo A – Pesquisa junto ao

Departamento de Pessoal.

A razão de se combinar dados quantitativos e qualitativos é entender melhor o

problema de pesquisa, convergindo os dados quantitativos - tendências numéricas, e

os dados qualitativos - concepções detalhadas (CRESWELL, 2010, p. 155).

Os dados foram coletados durante o CAEPE, nos intervalos, nas viagens de

estudos e nos tempos destinados à pesquisa.

1 De acordo com Ruiz (1985) Em uma pesquisa existem métodos de abordagem e métodos de

procedimento. A abordagem são concepções teóricas usadas pelo pesquisador. Ex.: psicanálise, antropologia, fenomenologia, estruturalista. Procedimentos relacionam-se à maneira específica pela qual o objeto será trabalhado durante o processo de pesquisa. São eles: histórico, estatístico, comparativo, observação, monográfico, econométrico e experimental.

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13

2 CLASSE E ESTRATIFICAÇÃO

As ideias desenvolvidas por Karl Marx e Max Weber formam a base da

maioria das análises sociológicas de classes e estratificação (GIDDENS, 2005).

A obra que Karl Marx trabalhava na ocasião de sua morte, posteriormente

publicada como parte do O Capital, foi interrompida exatamente quando indagava “o

que constitui uma classe”? (GIDDENS, 2005, p. 234). Dessa forma o conceito de

Marx para classe deve ser analisado a partir do conjunto de seus escritos. Segundo

esta análise, para ele, uma classe é um grupo de pessoas que se encontram em

uma relação comum com os meios de produção – os meios pelos quais elas

extraem seu sustento.

Esses meios de produção inicialmente consistiram na posse da terra e dos

instrumentos e animais necessários para seu cultivo. Portanto, havia duas classes

principais no período pré-industrial: a primeira, composta pela pequena nobreza, os

aristocratas e os donos de escravos; e a segunda, os servos, os escravos e os

camponeses livres que representavam o grupo que se envolviam diretamente no

trabalho da terra.

Na sociedade moderna as duas classes são formadas por aqueles que

detêm os meios de produção – os industrialistas ou capitalistas e aqueles que

ganham a vida vendendo seu trabalho para eles – a classe operária. Para Marx,

existe em toda sociedade caracterizada por um capitalismo desenvolvido, a classe

dominante e a classe dominada. Ou seja, existe entre as classes uma relação de

exploração.

Para Giddens (2005) a teoria de Max Weber para a estratificação foi

construída sobre a análise desenvolvida por Marx, contudo ele a transformou e

aprimorou. Para Weber, a estratificação social não é uma questão de classe pura e

simples, mas é amalgamada em mais dois outros aspectos: status e partido. Weber

apresenta um contraponto ao modelo bipolar de Marx.

Segundo o sociólogo alemão, as divisões de classes não se baseiam

somente nos meios de produção, mas em diferenças econômicas dissociadas da

propriedade. O autor acredita que a posição de mercado exerce influência sobre as

oportunidades de vida do indivíduo. “Aqueles que desenvolvem ocupações

Page 16: o papel das organizações militares na mobilidade social

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gerenciais ganham mais, e dispõem de condições favoráveis de trabalho, do que,

por exemplo, os operários” (GIDDENS, 2005, p. 236).

Ainda que Marx acreditasse que as diferenças de status se originavam das

divisões de classes em uma mesma sociedade, Weber era contrário a esta ideia.

Nem sempre a posse de riquezas é indicadora de um status elevado.

Na visão de Weber a formação do partido pode influenciar a estratificação,

independentemente da classe e do status, sendo um aspecto importante do poder. O

partido define um conjunto de indivíduos que trabalham juntos por terem formações,

objetivos e interesses em comuns. Um marxista pode tentar explicar os “conflitos”

entre praças e oficiais nas Forças militarizadas em termos de classe, já que as praças

são originárias das classes mais pobres. Já um seguidor de Weber qualificaria esse

raciocínio como ineficaz, pois muitos oficiais também vêm de uma classe pobre.

Na visão de Giddens, Marx caminhou na tentativa de reduzir a estratificação

social exclusivamente no eixo das divisões de classe, por outro lado, Weber apontou

para a complexa influência que a classe, status e partido guardam entre si.

Complementa afirmando que “o esquema de Weber fornece uma base mais flexível

e sofisticada para a análise da estratificação do que aquela oferecida por Marx”

(GIDDENS, 2005, p. 233).

O sociólogo britânico afirma que as classes diferem das antigas formas de

estratificação em muitos sentidos:

Ao contrário de outros tipos de estratos, as classes não são estabelecidas por providência legais ou religiosas; a condição de membro não se baseia em uma posição herdada especificada legalmente ou por costume. Os sistemas de classes são normalmente mais mutáveis dos que os outros tipos de estratificação, e as fronteiras entre as classes nunca são claras. Não existe nenhuma restrição formal quanto ao casamento entre pessoas de diferentes classes. A classe de um indivíduo é, pelo menos de alguma forma, conquistada, e não simplesmente “determinada” no nascimento, como é comum em outro tipo de sistema de estratificação. A mobilidade social – movimento ascendente e descendente na estrutura de classes – é muito mais comum do que nos outros tipos. (nos sistemas de castas, a mobilidade individual de uma casta para a outra é impossível). As classes dependem de diferenças econômicas entre agrupamento de indivíduos – desigualdades na posse e no controle de recursos materiais. Nos outros tipos de sistema de estratificação, os fatores não econômicos (como influência da religião no sistema indiano de casta) são geralmente os mais importantes. Nos demais tipos de estratificação, as desigualdades são expressas primeiramente nas relações pessoais de dever ou de obrigação – entre servo e o senhor, o escravo e o amo, ou entre os indivíduos de castas mais baixas e os de castas mais altas. Os sistemas de classes, em contraste funcionam principalmente por meio de conexões de larga escala com caráter impessoal. Por exemplo, o ingrediente principal das diferenças de

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classe encontra-se nas desigualdades de condições de pagamento e de trabalho; estas afetam todas as pessoas em categorias ocupacionais específicas, como resultado de circunstâncias econômicas que prevalecem em toda a economia. (GIDDENS, 2005, p. 233).

O movimento que vai dos extremos desiguais às sutilezas da mescla entre

eles é observável nas diversos agrupamentos humanos. Naturalmente, as ideologias

predominantes quer sejam políticas, culturais ou religiosas, poderão agravar ou

minimizar o impacto da desigualdade.

Ainda que diferentes na forma de estratificação é possível observar algumas

similitudes valorativas e comportamentos desejáveis nas classes mais altas na

sociedade indiana e nas sociedades ocidentais, como o sacrifício e dedicação em

prol do bem comum. No ocidente, pelo menos em tese:

Quanto mais alta a casta, maiores as restrições. [...] Ao atingir a casta mais elevada, a do brâmane, que é a do sacerdócio hereditário da Índia, suas vidas, como já foi dito, são cada vez mais restritas. Em comparação com os costumes ocidentais, suas vidas são de ininterrupto ascetismo. (VIVEKANANDA, 2004, p.331).

Embora o sistema de castas, cuja característica principal era a

impossibilidade de mobilidade, tenha sido abolido oficialmente na Índia em 1950,

ainda se observa na sociedade indiana moderna os vícios da imobilidade e exclusão

que se aproxima das desigualdades do sistema de classes ocidental, com a

mobilidade rápida da classe média. Naturalmente, os sacrifícios variam em cada

sociedade, mas em cada uma delas é perceptível a crença no sacrifício proporcional

ao valor atribuído por seus integrantes e seguidores. Classes mais elevadas exigem

maiores atribuições e responsabilidades.

Neste sentido considera-se “que a razão de ser de toda estruturação social é a

obtenção de uma ordem que se afeiçoe aos ditames do bem comum.” (CAVALCANTI,

1980, p. 5). “Apenas por vício um cidadão daria mais importância à vida privada que aos

interesses do coletivo.” (HOLLANDA, 2011, p.7). Não se deve, portanto, descuidar dos

aspectos que envolvem a Segurança da Nação, sendo imperioso destinar-lhes

consideráveis parcelas de seus esforços e recursos. Isto porque o ideal do bem comum,

perseguido pelo desenvolvimento, não poderá ser atingido, em condições satisfatórias,

sem a garantia proporcionada pela Segurança, obtida pelas medidas e ações de

Defesa. (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2013, p. 127).

Page 18: o papel das organizações militares na mobilidade social

16

Recorrendo à filosofia política platônica, onde a premissa para a harmonia

social é o reconhecimento das desigualdades naturais entre os homens

(HOLLANDA, 2011, p.8), vê-se que o problema da mobilidade, em sua fórmula

simplista, pode mascarar realidades desiguais e entorpecer iniciativas genuínas de

mudança no status quo:

Utilizar apenas a mobilidade para falar sobre a ascensão social acaba por focar o estudo em fatores limitados, existiriam então outras forças operando no processo de ascensão social? Nas metodologias dos estudos clássicos sobre o tema foram utilizadas critérios sobre ocupação e renda, ainda pode estar embutido nestes estudos o entendimento de que o movimento é mecânico, que escolaridade representa ascensão social, e na simplicidade da fórmula bastaria o investimento em educação, pessoal e governamental, como garantia de melhoria do status social. [...] (PASTORE; HALLER, 1993, p. 25).

Bourdieu (2007) contrapondo-se à mobilidade esclarece:

A representação obtida, assim, não seria tão difícil de conquistar se não pressupusesse duas rupturas: uma com a representação espontânea do mundo social, resumida na metáfora da "escala social" e evocada por toda a linguagem comum da "mobilidade" com suas "ascensões" e "declínios": e outra, não menos radical, com toda a tradição sociológica que, ao não se contentar em retomar, tacitamente e por sua conta, a representação unidimensional do espaço social - à semelhança do que fazem, por exemplo, as pesquisas sobre a "mobilidade social" -, acaba por submetê-Ia a uma elaboração falsamente erudita, reduzindo o universo social a um continuum de estratos abstratos (upper midle class, lower midle class, etc.), obtidos pela agregação de espécies diferentes de capital em decorrência da construção de índices - instrumentos, por excelência, da destruição das estruturas. A projeção sobre um único eixo pressuposto na construção da série contínua, linear, homogênea e unidimensional à qual, habitualmente, é identificada a hierarquia social, implica uma operação extremamente difícil - e arriscada, em particular, quando é inconsciente -, consistindo em reduzir as diferentes espécies de capital a um padrão único e em avaliar, por exemplo, com a mesma bitola, a oposição entre empresários da indústria e professores do secundário (ou artesãos e professores primários) e a oposição entre empresários e operários (ou quadros superiores e empregados). Esta operação abstrata encontra um fundamento objetivo na possibilidade, continuamente oferecida, de converter uma espécie de capital em uma outra a taxas variáveis de conversão, segundo os momentos, ou seja, segundo o estado da relação de força entre os detentores das diferentes espécies. Ao exigir a formulação do postulado relativo à convertibilidade das diferentes espécies de capital que é a condição da redução do espaço à unidimensionalidade, a construção de um espaço com duas dimensões permite, de fato, perceber que a taxa de conversão das diferentes espécies de capital é um dos pretextos fundamentais das lutas entre as diferentes frações de classe, cujo poder e privilégios estão relacionados com uma ou outra dessas espécies e, em particular, da luta sobre o princípio dominante de dominação - capital econômico, capital cultural ou capital social, sabendo que este último está estreitamente associado à antiguidade na classe por intermédio da notoriedade do nome, assim como da extensão e da qualidade da rede de relações - que, em todos os momentos, estabelece a oposição entre as diferentes frações da classe dominante. (BOURDIEU, 2007, p.115).

Page 19: o papel das organizações militares na mobilidade social

17

2.1 CLASSE SOCIAL DO OFICIAL AO LONGO DA CARREIRA

Objetivando comparar a classe social do militar no ingresso com a que se

encontra no final da carreira, foi elaborada a questão de número 7 (sete): “Ao

ingressar na Instituição você experimentou mudança de classe social? Considere

somente a sua realidade pessoal”. As respostas, consolidadas no Gráfico 1,

demonstram que: 53% (cinquenta e três por cento) dos militares afirmaram que sim.

Gráfico 1 – Mudança de classe social com base na realidade pessoal Fonte: O autor (2013)

Também foi questionado, no item 9, se “o ingresso na instituição influenciou

a mobilidade social” - Gráfico 2. O objetivo é avaliar a intensidade dessa influência,

quando ela ocorre, bem com identificar o percentual da mobilidade social

ascendente e descendente. Apurou-se que para 49% (quarenta e nove por cento)

dos oficiais melhorou; para 41% (quarenta e um por cento) não houve influência

alguma e 10% (dez por cento) pioraram sua situação da classe social.

Pergunta idêntica foi elaborada em pesquisa aos estagiários civis do

CAEPE/2013, Apêndice A – Questionário para Civis, e 52% (cinquenta e dois por

cento) responderam que sim. Fato relevante a ser destacado é que a pesquisa

identificou que 91% (noventa e um por cento) dos civis têm contato com alguma

instituição militar.

Não 32 47%

Um pouco 30 44%

Muito 6 9%

Page 20: o papel das organizações militares na mobilidade social

18

Gráfico 2 – Influência do ingresso na instituição militar na mobilidade social do oficial Fonte: O autor (2013)

Metade dos oficiais experimentou mudança ascendente em sua classe

social. Considerando este percentual, os resultados vão ao encontro das respostas

de alguns estagiários entrevistados no âmbito da ESG/CAEPE. Esta mobilidade

pode ser explicada pelo fato de que a maior parte dos que ingressam nas

Academias são jovens em seu primeiro emprego2. A exceção se dá para os

concursos que exigem curso superior.3 Ainda assim, as atividades deixadas pelo/a

aprovado/a para o ingresso na carreira possuem remuneração inferior ao que

receberá no início da carreira de oficial.

O impacto social na vida do jovem oficial, em virtude de seu ingresso na

carreira militar, é maior, em termos de mobilidade social, do que a progressão que

experimenta ao longo da carreira. Este impacto não se refere somente à mudança

de situação de dependente econômico para economicamente ativo, mas

principalmente na forma de “ritos de passagem de uma fase da vida para outra, ou

seja, no término de certas etapas (escolarização) e início da seguinte (trabalho) na

saída do indivíduo de sua família original e entrada em outra, ou preparação de nova

família”. (PASTORE, 1979, p. 83).

O status da família original pode influenciar a decisão pela escolha da

carreira. Esta influência manifesta-se diferenciadamente ao longo das gerações,

condicionada ao contexto histórico, político e cultural. O impacto da realidade

socioeconômica do país atua diretamente nas interações familiares, formação

educacional e na perspectiva profissional de seus jovens membros, interferindo nos

valores e escolhas. Assim percebe-se a dinâmica social, os elementos motivadores,

os recursos individuais que capacitarão os aspirantes e as oportunidades oferecidas

pelas instituições, atreladas às políticas institucionais da época. Por meio dessas

2 O ingresso nas Academias se dá, em média, entre 18 e 20 anos, e entre 22 e 24 anos de idade o

candidato é declarado aspirante. 3 São exemplos alguns Quadros Complementares nas FFAA, e em algumas Forças Auxiliares que

exigem nível superior para matrícula. Nestes casos o ingresso ocorre, em média aos 28 anos de idade.

Melhorou 33 49%

Permaneceu 28 41%

Piorou 7 10%

Page 21: o papel das organizações militares na mobilidade social

19

políticas, plano de carreira e oportunidades, evidencia-se também a importância e o

poder atribuídos às instituições militares.

Ao ingressar na academia militar o jovem começa a confrontar seus ideais

com a experimentação de nova realidade. Tal realidade emerge no jovem sentimentos

contraditórios, exigindo soluções práticas na dimensão do possível e não mais do

imaginário. Dependendo da escolha profissional e quanto idealismo tenha associado,

terá que lidar com o comprometimento que a profissão exige. O que por si só inicia-o

no mundo das responsabilidades do adulto e começa a ter noção do impacto de suas

escolhas sobre o futuro, um devir que não é só pessoal, mas coletivo.

Dos 18 aos 21 anos o púbere lida com “as necessidades, os gostos e os

interesses com as oportunidades que oferece a realidade” (BOHOSLAVSKY, 1998,

p.44-45).

Ainda sobre o tema Pastore se posiciona da seguinte forma:

A escala de status utilizada combina ocupação, educação e renda. Essas três variáveis formam os status sociais dos indivíduos e de seus pais. (PASTORE; HALLER, 1993, p.28) O estudo da mobilidade social baseia-se na comparação de status ocupacionais dos indivíduos com o de seus pais (mobilidade intergeracional) e também entre os status final e inicial do próprio indivíduo ao longo de sua carreira (mobilidade intrageracional). (PASTORE; HALLER,1993, p.28)

Esses anos dourados passaram, e a realidade atual é bastante diferente. A mobilidade ascendente é mais difícil por três motivos. Em primeiro lugar, porque o ponto de partida é mais alto. Em segundo lugar, porque as oportunidades de trabalho são menores. Em terceiro lugar, porque para uma pessoa subir começa a ser necessário que outra desça, morra ou se aposente. É o início da era da mobilidade circular, que começa a tomar o lugar da mobilidade estrutural. (PASTORE; HALLER, 1993, p.41)

A constatação deve ser avaliada juntamente ao já citado aumento de políticas públicas na busca de igualdade de acesso à educação, o que existe então é uma modificação do patamar mínimo, por assim dizer, esperado quando há algum desenvolvimento no Estado. Mas algum tipo de ascensão existe, o aumento da educação do pai aumenta também às chances de um início, um ponto de partida melhor, rompendo não as barreiras de diversos estratos, mas possibilita algumas mudanças, como a garantia de trabalho não-manual à filhos de pais com mais anos de escolarização (PASTORE; SILVA, 2000, p.44 apud VAUTERO, 2010).

A mobilidade social pode ser ratificada nos depoimentos colhidos de vários

oficiais. Esses foram enfáticos ao afirmarem que melhoraram sua condição social ao

ingressar na Força Militar.

Page 22: o papel das organizações militares na mobilidade social

20

Eu acredito sim, que houve mobilidade social. Vou tecer um rápido histórico. Meu pai foi oriundo do Estado do Rio Grande do Sul, e ingressou no EB prestando o serviço militar, no ano de 1957, entrou como soldado e fez os cursos regulares para praças, Soldado, Cabo e Sargento. Minha mãe é filha de pessoas da classe baixa. Minha avó, eu me lembro de que ela fornecia alimentação para fora, para casas, restaurantes. Tinha muitos filhos, seis ou sete, e com uma renda bem baixa para subsistência, na realidade [...] Acessei a Academia Militar das Agulhas Negras por processo seletivo, onde aqueles que obtivessem as melhores notas ingressavam. O início foi dessa forma, mas eu lembro bem de que no inicio da minha vida, o meu pai se dedicava as atividades do EB e minha mãe lavava roupa e fazia bolo, para reforçar as finanças, pois éramos e ainda somos seis filhos. Necessitava de um complemento de renda. Não as coisas não foram fáceis, mas a minha ascensão foi basicamente em cima do ensino [...] (Informação verbal)

4.

Nas diversas entrevistas realizadas durante a pesquisa, pode-se constatar

que os oficiais criticam a ausência de um plano de carreira que compatibilize as

distorções existentes entre as responsabilidades crescentes da profissão, com os

ganhos salariais proporcionalmente decrescentes. “Esta situação obriga-nos a fazer

comparações com a função de motorista de certas autoridades que ganham mais do

que um coronel com mais de 30 anos de carreira”. (Informação verbal).5

O fato de terminar a carreira na mesma classe que iniciou apresenta aspectos

negativos, pois os gastos tendem a aumentar de forma desproporcional em relação às

reposições financeiras decorrentes, sejam das correções salariais, seja da progressão

na carreira. Este fenômeno foi destacado por vários oficiais entrevistados.

Dentro das Forças Armadas, você tem muito pouca mobilidade, dentro daquela pirâmide econômica, a própria estrutura de salário das FA, não te permite isso. Um coronel tem muito mais encargos familiares do que um tenente e ele ganha aproximadamente 50 a 60% a mais que o tenente. Este não tem muitos gastos, é ele e o carro dele. Um coronel que tem família, filho e está pensando em ir para a reserva não recebe um salário proporcionalmente diferenciado em relação ao tenente. Não há uma proporção adequada. Isso não te permite mudança de classe social no exercício da profissão [...]. (Informação verbal).

6

O aumento de responsabilidades com as respectivas despesas sem a

devida compensação salarial pode ser uma forma de desvalorização profissional e

institucional realizada pelo Estado, por meio de seus governos, principalmente

quando comparadas as Forças Militares a outras categorias profissionais.

A pesquisa indica que as Forças Militares têm sido instrumento de

mobilidade social para, praticamente, a metade do efetivo pesquisado. O Gráfico 2

4 Entrevista concedida ao autor pelo Coronel do EB Augusto, Rio de Janeiro: ESG, jun, 2013.

5 Entrevista concedida ao autor pelo Coronel da FAB, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013. Não

autorizado divulgar nome do entrevistado. 6 Entrevista concedida ao autor pelo Coronel do EB Silva Junior, Rio de Janeiro: ESG, 2013.

Page 23: o papel das organizações militares na mobilidade social

21

apresenta, no entanto expressivo percentual de oficiais que não experimentam

alguma mobilidade social, 41% (quarenta e um por cento). Este evento pode ser

explicado pelo fato de essa parcela considerada de oficiais já pertencer, no

momento do ingresso na caserna, a uma classe social privilegiada, em relação

àquela que representa a metade dos entrevistados.

Por intermédio da metodologia da história oral7 pode-se averiguar que é na

Marinha que se encontra o maior percentual de oficiais que não experimentam

mudanças em sua condição social.

Particularmente para estes oficiais a Marinha não é um local em que há a

instrumentalização da mobilidade social. Eles ingressaram na instituição em um

estamento social e hoje se julgam pertencentes ao mesmo estamento. Há relatos de

situações que houve inclusive descenso. No Gráfico 2, se observa que 10% (dez por

cento) dos oficiais enquadram-se nesse caso.

De minha parte não houve nenhuma mudança. Hoje em dia julgo que pelo contrário, a gente regrediu um pouco mais. A vida militar hoje, para os últimos postos, financeiramente falando, está bem aquém do que eu acho que poderíamos receber. Mas, a minha origem é da classe média, durante a minha vida nunca faltou nada em minha casa, mas também não fomos tão abastados, mas não tivemos dificuldades, graças a Deus. “Quando você ingressou na Marinha você pertencia a uma determinada classe a qual você se mantém até hoje, é isso?” Sim, não houve modificação, na minha vida não. (Informação verbal).

8

Para suprir o déficit salarial, muitos militares desempenham outras atividades

remuneradas ou equilibram a diferença compondo com o cônjuge, como se pode notar

pela análise do Gráfico 3: 21% (vinte e um por cento) dos entrevistados confirmaram que

desempenham outra atividade remunerada. 26% (vinte e seis por cento) declararam que

não desempenham outra atividade porque compõem a renda com o cônjuge. 37% (trinta

e sete por cento) disseram que não desempenham, mas sentem necessidade. 1%

declarou desempenhar esporadicamente outra atividade remunerada. Somados, tem-se

um resultado de 85% (oitenta e cinco por cento) que direta ou indiretamente atestam a

necessidade da complementação da renda. 15% (quinze por cento) totalizam os que

deram outras respostas. Destaca-se que não se identificam quais são esses “os outros”,

até porque não houve um quesito que dissesse NÃO, porque não preciso.

7 A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com

pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. 8 Entrevista concedida ao autor pelo CMG da MB, Dair, Rio de Janeiro: ESG, 2013.

Page 24: o papel das organizações militares na mobilidade social

22

Gráfico 3 - Outra atividade remunerada para complementar a renda familiar Fonte: O autor (2013)

Tal dinâmica se relaciona com os motivos de evasão crescente que as

instituições militares têm enfrentado nos últimos anos. Interessante notar que

fenômeno semelhante ocorre nas forças auxiliares, em que os profissionais exercem

atividades laborais extras, ou “bicos”. Segundo BONFANTI (2009), embora o

fenômeno tenha divulgação na mídia, pouco tem sido estudado. Principalmente em

se tratando de questões de segurança, qualidade de vida, autoimagem do

profissional e o fato de estar à disposição, ainda que em horário de descanso.

A evasão de cérebros das Forças Armadas cresce nos últimos anos, esta

perda de capital humano com a migração de militares para a iniciativa privada tem

preocupado e influenciado negativamente o pensamento estratégico das Forças

Armadas, assunto que se passa a tratar no próximo módulo.

2.2 O FENÔMENO DA EVASÃO DOS OFICIAIS

Neste módulo se investiga a existência de evasão na Marinha, no Exército e

na Aeronáutica, e em que grau esse fato ocorre. A elite dos oficiais formados nas

escolas das Forças está optando cada vez mais por deixar a vida militar em busca

de melhores salários e oportunidades de crescimento profissional na iniciativa

privada e no funcionalismo público civil. Segundo dados colhidos no Departamento

Geral de Pessoal de cada Força, só em 2012, cerca de 250 oficiais militares

deixaram as instituições.

Dados obtidos através de pesquisas de avaliação diagnóstica, preenchida

voluntariamente pelos demissionários desde janeiro de 2012, no EB9; informações

9 Departamento-Geral do Pessoal do Exército Brasileiro, em resposta a pesquisa formulada pelo autor.

sim 14 21%

Esporadicamente 1 1%

não, mas sinto necessidade 25 37%

não, porque componho renda com meu cônjuge 18 26%

Outros 10 15%

Page 25: o papel das organizações militares na mobilidade social

23

consolidadas pela Diretoria de Assistência Social da Marinha (DASM) de

Desligamento Prematuro/201110 e subsídios fornecidos pelo DEPENS11 da FAB,

indicam que os principais motivos para saída dos oficiais das FA são: melhor

remuneração, dificuldade para estudar; desmotivação com a carreira militar; dispor

de mais tempo com a família; movimentações; plano de carreira; falta de

reconhecimento profissional; oportunidade mais atrativa no setor público e privado;

acúmulo de atividades12; fazer carreira em outra Força, falta de identificação com a

vida militar; insatisfação com o relacionamento interpessoal; princípios de

hierarquia/disciplina.

O Gráfico 4 representa a resposta da questão 13, aplicada aos oficiais

superiores estagiários do CAEPE/2013, e oficiais do Corpo permanente da ESG.

Indaga se houve aumento de evasão de oficiais na instituição por razão econômico-

financeira, nos últimos 30 anos. A percepção de 78% dos oficiais entrevistados é

que atividades melhor remuneradas tem sido a razão da evasão.

Gráfico 4 – O Fenômeno da Evasão das Instituições Militares Fonte: O autor (2013)

Destaca-se que para 54% (cinquenta e quatro por cento) dos estagiários

civis entrevistados Apêndice – A, há evasão de militares para atividades melhor

remuneradas.

A pesquisa identificou, ainda, que questões salariais, apesar de serem

componentes importantes, não representam as principais causas da evasão. Fatores

outros, endógenos e exógenos, foram elencados, e, em seu conjunto têm

contribuído efetivamente para o evento. Nas entrevistas um dos fatores fortemente

10

Divisão de Estatística do Departamento de Planejamento da Diretoria do Pessoal Militar da Marinha. 11

O Departamento de Ensino da Aeronáutica - DEPENS - Órgão responsável pela área de ensino - administra e coordena as atividades de todas as escolas da Força Aérea Brasileira, com exceção do ITA, que é vinculado ao CTA. 12 O acumulo de atividades se refere à: serviços de escala, sindicância, comissões diversas, etc. Departamento-Geral do Pessoal do Exército Brasileiro, em resposta a pesquisa formulada pelo autor.

Sim, para atividades melhor remuneradas 52 78%

Não 4 6%

Outros 11 16%

Page 26: o papel das organizações militares na mobilidade social

24

destacados tem sido o relacionamento familiar. As constantes mudanças durante a

carreira; “já me mudei dezoito vezes durante 28 anos de serviço. Sabe o que isso

representa para a família...?”. Relata oficial estagiário do CAEPE. Reafirma que

seus filhos quando estavam na faculdade tiveram dificuldades, pois o local para

onde fora transferido não possuía ensino de qualidade compatível com as metas

estabelecidas. A solução foi deixar os filhos em um Estado e morar em outro. Às

vezes a mãe viajava e passava dias com os filhos, tudo é mais dificultoso quando os

ganhos não comportam os constantes deslocamentos. “Viver isso uma vez ou outra

é uma coisa, mas fazer disso rotina em sua vida é sofrível”; finaliza o oficial.

Percebe-se que há um sentimento, nos oficiais, que reclama pela

valorização da atividade militar, que perpassa por todas as expressões do Poder,

mas principalmente pelo econômico e psicossocial.

Esse diagnóstico se conforma quando se examina o Gráfico 5, que investiga

a razão do ingresso na instituição.

Gráfico 5 Razão do ingresso na instituição Fonte: O autor (2013)

Pela análise do gráfico 5 percebe-se que a vocação foi a principal razão

para o ingresso de 43%, (quarenta e três por cento) dos oficiais entrevistados. Dado

importante da pesquisa é que 87% (oitenta e sete por cento) dos oficiais

respondentes possuem acima de 50 anos de idade, Apêndice B.

Para a oficialidade mais jovem, componentes das últimas turmas das

Academias, a estabilidade, atualmente é a principal razão do ingresso nas Forças

Armadas seguido da segurança e influência familiar, porém estes fatores têm sido

confrontados com vantagens e possibilidade de projeção em outras carreiras com

maiores salários. Detalhe interessante é que somente 7% (sete por cento) dos

oficiais ingressaram em suas instituições por razões salariais. Isso demonstra que a

carreira não tem tradição de ser foco de atração financeira, mas pelas entrevistas de

Vocação 29 43%

Falta de opção 1 1%

Salário e/ou benefícios 5 7%

Possibilidade de ascensão social/status 2 3%

Estabilidade 17 25%

Influência familiar/amigos 11 16%

Outros 3 4%

Page 27: o papel das organizações militares na mobilidade social

25

diversos oficiais fica patente que há uma defasagem salarial sem precedentes para

os militares, principalmente das Forças Armadas.

Há uma nítida perda do valor aquisitivo nos salários pagos no passado em

comparação do que se paga atualmente. É o que confirma o entrevistado:

Na Marinha sim, acho que nas Forças Armadas como um todo. Quando a gente entrou em 1982 na Marinha, nós tínhamos um futuro bem mais promissor do que quem ingressa hoje. Nós tínhamos interesse pelo país, mas se tinha uma perspectiva financeira melhor à época. Hoje a gente ficou um pouco parado no tempo em relação a isso. Permanece o interesse em trabalhar pelo país, de ajudar o Brasil a crescer, dentro da área militar, mas o retorno financeiro acho que está aquém do que a gente poderia ter hoje. (Informação verbal)

13.

É importante reconhecer que a resposta dos militares a estímulos

econômicos, para mudar de atividade, tem sido extremamente elevada.

Segundo o Almirante de Esquadra Leal Ferreira, (Informação verbal),

Comandante da ESG14, a evasão é maior nas carreiras técnicas nas quais os futuros

oficiais já vêm com uma profissão, como os engenheiros, por exemplo. Na Escola

Naval o índice de evasão é menor, pois “o ideal forjado durante a formação revela a

vocação do marinheiro”.

Na realidade, os dados colhidos durante a pesquisa revelam que essa

evasão realmente é maior entre oficiais formados fora da Escola Naval. Em visita ao

Instituto de Pesquisa da Marinha15 – IPqM, na Ilha do Governador no RJ, em julho

de 2013, o seu Comandante, o CMG Engenheiro Guilherme da Silva Sineiro

(Informação verbal)16, declarou que no que se refere à tecnologia, o mercado é

extremamente aquecido. Isso tem levado muitos militares para outras carreiras.

O fato é que por novas perspectivas de trabalho e por questões salariais,

detectou-se que no IPqM há uma grande evasão de engenheiros, tanto civis quanto

militares. Segundo o Tenente Engenheiro militar Fadanelli, (Informação verbal)17,

durante seu curso de adaptação, ocorrido em 2010, de uma turma de 90 (noventa)

oficiais, 30 (trinta) se desligaram. Uma boa parte deles para trabalhar na Petrobrás.

No ano seguinte mais 15 (quinze) outros se desligaram da Marinha. Isso representa

50% da turma em espaço de pouco mais de um ano.

13

Entrevista concedida ao autor pelo CMG Dair, da MB, Rio de Janeiro: ESG, 2013 14

Entrevista concedida ao autor, Rio de Janeiro: ESG, 2013 15

Visita de estudo do CAEPE, realizada em julho de 2013. 16

Entrevista concedida ao autor, Rio de Janeiro: ESG, 2013. 17

Entrevista concedida ao autor, Ilha do Governador, RJ: IPqM, 2013.

Page 28: o papel das organizações militares na mobilidade social

26

Esse percentual chama atenção, pois demonstra que para profissões onde o

mercado está aquecido, as FA, no caso a Marinha, não consegue ser atrativa para

muitos profissionais.

Um desconforto citado por engenheiros militares do IPqM, é a diferença

existente entre salários de engenheiros militares e engenheiros civis. Tendo a

mesma formação e função, as diferenças salariais incomodam:

O engenheiro civil ganha mais do que o engenheiro militar. Há, inclusive, evasão de militares para a engenharia civil, aqui no IPqM, Há ainda, a vantagem de não tirar serviço. No início o salário é o mesmo, mas ao longo da carreira o civil ganha mais. (Informação verbal)

18.

Em reportagem intitulada “Fuga de Talentos na Elite Militar19, Anexo - B, há

enfoque que os oficiais das Forças Armadas, por demora na ascensão na carreira e

sedução dos salários da iniciativa privada, têm deixado suas respectivas Forças.

“Esta perda de capital humano ocorre em momento que o País necessita reforçar

áreas estratégicas em razão do aumento do protagonismo internacional”.

Os dados apresentados na reportagem, que estão bem próximos dos

colhidos nas três Forças, contêm informações referentes às três instituições com

Gráficos de 2006 a 2012, representando a evasão de oficiais, sem, contudo

especificar qual a origem desses oficiais, se de Academias ou não.

Em relação a Marinha, a série anual da evasão oscila entre 61 a 69 oficiais. A

exceção identificada foi no ano de 2006, com a taxa de 75 (setenta e cinco) oficiais e o

ano de 2011, quando 52 (cinquenta e dois) oficiais se desligaram, representando a

maior e a menor taxa de evasão respectivamente, ambas fora da média de evasão

anual da série histórica que é de 64,29 (sessenta e quatro vírgula vinte e nove) oficiais.

Oficiais entrevistados na ESG são unânimes em afirmar que muitos saem da

vida militar pela melhoria salarial e pela possibilidade de se fixar em um mesmo

lugar com a família.

Um problema que enfrentamos é a incerteza do futuro. Apesar de existir uma boa chance de permanecermos no Rio de Janeiro, na verdade podemos servir em qualquer parte do Brasil e nossa família sofre com isso, pois há mudanças de colégios dos filhos, emprego da esposa e quebra dos vínculos de amizades. (Informação verbal)

20.

18

Entrevista concedida ao autor pelo Tenente Engenheiro Militar Fadaneli, Ilha do Governador, RJ: IPqM , 2013. 19

Correio Braziliense de 7 de abril de 2013, Brasília – DF. 20

Entrevista concedida ao autor por CMG da MB, Rio de Janeiro: ESG, 2013. Não foi autorizado identificar o declarante.

Page 29: o papel das organizações militares na mobilidade social

27

[...] Conheço muitos marinheiros que prestaram concurso para ser “Prático”

21 e hoje ganham perto de 200 (duzentos) mil reais por mês. Eles

mandam seus filhos para estudar nas melhores escolas do mundo. Possuem qualidade de vida bem diferente e melhor de quando estavam nas Forças Armadas. (Informação verbal)

22.

CMG estagiário do CAEPE, com larga experiência em Departamento de

Pessoal, relata que especificamente sobre os oficiais de Escola na Marinha há três

situações: O Fuzileiro Naval, o Intendente e o oficial da Armada. “Desses, a taxa de

evasão tem sido maior entre os intendentes, que normalmente são os Ordenadores

de Despesa e que possuem conhecimentos contábeis e de Administração Pública

que são bastante requisitados pela iniciativa privada”.

A Tabela 1 demonstra que as taxas de evasão na MB, têm experimentado

um viés de alta nos últimos 10 (dez) anos.

ANO %

2002 7%

2003 7%

2004 5%

2005 7%

2006 11%

2007 10%

2008 11%

2009 10%

2010 10%

2011 10%

2012 12% Tabela 1 - Percentual, anual, de evasão dos Oficiais nos últimos 10 anos. Fonte: Sistema de Banco de Dados da Diretoria de Pessoal Militar da Marinha (DPMM).

No tocante a evasão na Força Aérea – FAB, ela tem seguido uma tendência

crescente, mas não uniforme como se verifica na Marinha. A série histórica anual de

evasão de oficiais da FAB no ano de 2006 é de 34 (trinta e quatro) oficiais e no ano

de 2007, 24 (vinte e quatro) oficiais. Há um decréscimo da ordem de 30% (trinta por

21

[...] profissional habilitado pela Marinha do Brasil e que possui o conhecimento das águas em que atua, com especial habilidade na condução de embarcações, devendo estar perfeitamente atualizado com dados sobre profundidade e geografia do local, o clima e as informações do tráfego de embarcações. É também o responsável pelo controle e direcionamento dos rumos de uma embarcação próxima à costa, ou em águas interiores desconhecidas do seu comandante. 22

Entrevista concedida ao autor por CMB da MB, Rio de Janeiro: ESG, 2013. Não foi autorizado divulgar o declarante.

Page 30: o papel das organizações militares na mobilidade social

28

cento) na evasão, que não representa melhorias salariais ou atrativos outros

oferecidos pela Força para frear a saída de oficiais.

A evasão no ano de 2008 foi de 42 (quarenta e dois) oficiais, o que

representa um aumento de 75% (setenta e cinco por cento) em relação ao ano

anterior. A pesquisa não conseguiu identificar a razão objetiva desse aumento, nem

a causa da redução de 36% (trinta e seis por cento) na saída de oficiais da Força, no

ano de 2009.

A série histórica de evasão anual aumenta e se mantém constante entre

2010 e 2012. Em 2010 a evasão de oficiais atingiu crescimento da ordem de 103%

(cento e três por cento), saltando de 27 (vinte e sete) oficiais em 2009 para 55

(cinquenta e cinco) em 2010, que deixaram a instituição.

Em 2011 a evasão permaneceu constante. Em 2012 saltou de 52 (cinquenta

e dois) para 68 (sessenta e oito) oficiais, representando um aumento de mais de

23% (vinte e três por cento) em uma série que já se apresenta alta.

Em resumo, a média anual de evasão da FAB na série histórica entre 2006 e

2012 é de 40,29 (quarenta vírgula vinte e nove) oficiais.

O Diretor-Geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA),

Tenente Brigadeiro Ailton dos Santos Pohlmann, em palestra proferida em junho de 2013,

para o CAEPE, enfatizou que de 120 (cento e vinte) formados no último ano no Instituto

Tecnológico Aeroespacial – ITA, permaneceram somente 39, “os outros foram cooptados

por empresas que pagam mais”. Isto representa uma evasão de 67,5% (sessenta e sete

vírgula cinco por cento). O Brigadeiro demonstrou sua preocupação com as altas taxas

de evasão de oficiais da FAB em geral e do ITA em particular.

Os Coronéis da FAB entrevistados na ESG apontaram que a vocação e o

idealismo não têm sido suficientes para segurar os novos oficiais.

O que tem acontecido é que o nível de especialização de nossos oficiais é muito alto, especialmente se for aviador. Sou piloto de caça e poderia ganhar mais se estivesse em outra atividade. O que me prendeu na Força foi meu idealismo e a esperança de que as coisas poderiam melhorar. Isso tem sido difícil encontrar nos novos. Creio que há um equívoco na política salarial adotada para as FA. Veja, o governo anuncia a implantação do Programa “Mais médicos para o Brasil”. Esses médicos, muitos em início de carreira, e que poderão ser estrangeiros, além de salário de R$ 10 mil/mês, se atuarem no interior do país e nas regiões metropolitanas vão receber auxílio para deslocamento, que no Nordeste será de R$ 20 mil. Observem que iniciam ganhando mais e com mais vantagens que um coronel em final de carreira na FAB. Como querer manter um contingente qualificado como o nosso pagando tão pouco? (Informação verbal)

23.

23

Entrevista concedida ao autor, Rio de Janeiro: ESG, 2013. Não autorizada a divulgação do declarante.

Page 31: o papel das organizações militares na mobilidade social

29

Foi perguntado ao Brigadeiro Diretor do DCTA o quanto custava para formar

um engenheiro no ITA, ou um aviador da Força. A resposta, por questões

estratégicas, não pôde ser dada, mas cálculos extraordinários estimam que a

formação de um piloto da Força Aérea custa em torno de R$1,2 milhão de reais24.

Caso o militar pretenda se desligar do serviço ativo da Força, seja para

reserva remunerada, seja para se transferir para outra atividade, a Administração

Militar, caso não tenha decorrido o tempo estipulado na norma, condiciona o

desligamento ao pagamento de indenização correspondente a cursos, estágios e

estudos realizados pelo militar. O fundamento legal para esta cobrança encontra

amparo na Lei nº 6.880 de 09 de Dezembro de 1980, Estatuto dos Militares:

Art. 115. A demissão das Forças Armadas, aplicada exclusivamente aos oficiais, se efetua: I - a pedido; e II - ex officio. Art. 116 A demissão a pedido será concedida mediante requerimento do interessado: I - sem indenização aos cofres públicos, quando contar mais de 5 (cinco) anos de oficialato, ressalvado o disposto no § 1º deste artigo; e II - com indenização das despesas feitas pela União, com a sua preparação e formação, quando contar menos de 5 (cinco) anos de oficialato. § 1º A demissão a pedido só será concedida mediante a indenização de todas as despesas correspondentes, acrescidas, se for o caso, das previstas no item II, quando o oficial tiver realizado qualquer curso ou estágio, no País ou no exterior, e não tenham decorrido os seguintes prazos: a) 2 (dois) anos, para curso ou estágio de duração igual ou superior a 2 (dois) meses e inferior a 6 (seis) meses; b) 3 (três) anos, para curso ou estágio de duração igual ou superior a 6 (seis) meses e igual ou inferior a 18 (dezoito) meses; c) 5 (cinco) anos, para curso ou estágio de duração superior a 18 (dezoito) meses. [...]

As decisões jurisprudenciais não têm sido pacíficas a respeito da

legitimidade da cobrança. Há decisões que mandam aplicar a lei de regência25. Há

outras que mandam aplicar o princípio da proporcionalidade26. E há entendimento

que militar aprovado em concurso não pode ter demissão condicionada ao

pagamento de indenização por despesas com sua formação27.

O interesse de determinadas empresas pelos especialistas do ITA, AFA,

Instituto Militar de Engenharia – IME e IPqM é tão grande que, em entrevista, os

24

Correio Braziliense de 7 de abril de 2013, Brasília – DF. 25

STJ - AC 346390 RJ 2001.51.01.001482-4. Quinta Turma Especializa. DJU – 31 mai. 2007 – p.387 26

STJ - REsp 1198879 RJ 2010/0108919-0. T1 - Primeira Turma. DJe 10 fev. 2011 27

8ª Turma Especializada do TRF-2ª Região. Processo: 1999.02.01.036039-9.

Page 32: o papel das organizações militares na mobilidade social

30

oficiais superiores das três Forças, estagiários da ESG/CAEPE, afirmam que elas

têm assumido o valor da indenização, pois é compensador ter mão de obra tão

qualificada.

A análise do caso da evasão no Exército é baseada no documento enviado

pelo Departamento-Geral do Pessoal - Departamento Barão de Suruhy, Tabela 2. A

evasão do Exército se mostra maior do que na Marinha e Força Aérea. Uma das

justificativas plausíveis é o seu maior efetivo.

ANO 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

DEMISSÕES 59 53 53 96 68 96 88 105 69 109

Tabela 2 – Percentual, anual, de evasão de oficiais nos últimos 10 (dez) anos Fonte: Departamento-Geral do Pessoal do Exército Brasileiro.

Nota: A Diretoria do Serviço Militar (DSM) não dispõe do efetivo de oficiais de carreira do Exército

Brasileiro, de anos anteriores, para o cálculo da evasão percentual.

Pela análise da Tabela 2, verifica-se que em 2006, 96 (noventa e seis)

oficiais deixaram a Força. Em 2007 reduziu para 68 oficiais e em 2008 voltou a ser

96 oficiais que saíram da instituição, representando um aumento de mais de 26%

(vinte e seis por cento). No ano de 2009, 88 oficiais se desligaram da Força, em

2010 subiu para 105 oficiais, um aumento de mais de 19% (dezenove por cento). No

ano seguinte a evasão caiu para 69 oficiais, experimentando uma redução de 34%

(trinta e quatro por cento).

Novamente a pesquisa não conseguiu identificar a razão objetiva dessa

redução, pois não há indicação de ações preventivas que visaram à retenção de

talentos na Força. A evasão no ano de 2012 chegou a 109 oficiais, a mais alta da

série. Esse aumento representou um aumento de 58% (cinquenta e oito por cento)

na evasão. A média da série anual histórica de 2006 a 2012 é de 91, 29 (noventa e

um vírgula nove) oficiais.

Objetivando conhecer dados estatísticos da evasão no EB foi perguntado ao

Departamento-Geral do Pessoal do Exército quais os principais motivos que levam o

oficial do EB a se desligar da Força. As respostas foram consubstanciadas na

Tabela que se segue.

Page 33: o papel das organizações militares na mobilidade social

31

MOTIVOS

ARMA / QUADRO / SERVIÇO

AMAN QEM QCO SAÚDE EB

Melhor remuneração 29,0% 36,5% 57,1% 24,6% 33,2%

Desmotivação com a carreira militar 35,5% 30,6% 14,3% 22,8% 27,8%

Movimentações 16,1% 12,9% 14,3% 15,8% 14,4%

Falta de reconhecimento profissional 9,7% 11,8% 7,1% 19,3% 13,4%

Acumulo de Atividades 9,7% 8,2% 7,1% 17,5% 11,2%

EB 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Tabela 3 - Principais motivos da evasão no EB Fonte: Departamento-Geral do Pessoal do Exército – Jul. 2013.

Pela análise da Tabela 3, o maior percentual de evasão por razões salariais,

57,1% (cinquenta e sete vírgula um por cento), encontra-se no Quadro

Complementar de Oficiais (QCO) que é composto por oficiais com curso superior,

realizado em universidades civis, em diferentes áreas do conhecimento. O oficial do

QCO é formado na Escola de Formação Complementar do Exército (EsFCEx), em

Salvador, Bahia. São administradores; estatísticos; professores; profissionais de

informática; comunicadores sociais e ainda advogados, psicólogos, contadores

dentre outros. Para estes profissionais a desmotivação é a responsável pelo

desligamento de 14,3% (quatorze vírgula três por cento), bem como as

movimentações durante a carreira.

Segue-se, com taxa anual de evasão por questões salariais de 36,5% (trinta

e cinco vírgula cinco por cento), os Engenheiros Militares (QEM) que são compostos

pelos oficiais que cursaram o Instituto Militar de Engenharia. A desmotivação com a

carreira representa a razão da saída de 30,6% (trinta vírgula seis por cento) dos

oficiais engenheiros. “A Força não valoriza o Engenheiro, mesmo que tenha

investido em sua formação. Qualquer um da minha turma teria mais chances de

conquistar boas posições fora do Exército”. (ALBUQUERQUE, 2013, p. 3).

Dos profissionais do Quadro de saúde que se desligam do EB, 24,6% (vinte

e quatro vírgula seis por cento) se relacionam com motivos salariais, e 22,8 (vinte e

dois vírgula oito por cento) com desmotivação pela carreira militar.

Para os oriundos da Academia Militar das Agulhas Negras - AMAM; a

desmotivação com a carreira militar representa razão de evasão para 35,5% (trinta e

cinco vírgula cinco) por cento dos desligados e as razões salariais respondem pela

saída de 29% (vinte e nove por cento). Somados, a busca de melhores

Page 34: o papel das organizações militares na mobilidade social

32

remunerações e a desmotivação com a carreira militar representam a razão para a

saída de 64% (sessenta e quatro por cento) de oficiais oriundos da AMAM. É um alto

percentual para um grupo que representa a tradição do oficialato. A AMAN é o

estabelecimento de ensino que forma ao longo dos quatro anos o Aspirante-a-Oficial

das Armas, do Serviço de Intendência e do Quadro de Material Bélico, habilitando-os

para os cargos de Tenente e Capitão não aperfeiçoado. O consultor Legislativo e

Coronel da Reserva do EB Fernando Rocha declara que “Deixei o coração no

Exército, mas a Pátria não começa no Quartel, ela começa na família, e quando a

família sofre, já sabe, não tem vocação militar que aguente”. (ALBUQUERQUE,

2013, p. 3).

A evasão nas FA não é um evento novo, o C Alte (FN) José Antonio Martins

Alves, em 1979, já apontava o problema de evasão nas três Forças.

Existe, (CIC) nas mais variadas atividades de formação e especialização dos oficiais uma verdadeira “evasão”, saída dos mesmos para atividades civis onde principalmente galgarão mais rapidamente um “status econômico” compensador. [...] No Instituto Militar de Engenharia (IME) boa parte dos militares nele formados são também chamados pela indústria e não raro esta se encarrega de indenizar a Fazenda Nacional, face a legislação em vigor, da quantia necessária a liberar o oficial dos compromissos com a Força.[...] A Força Aérea tem sido um grande celeiro de pilotos “prontos” e com experiência para as nossas companhias de aviação civil e acreditamos para algumas companhias Internacionais. A remuneração que lhes é oferecida para comandar e pilotar os grandes aviões comerciais tem sido um poderoso atrativo para muitos oficiais já em meio da carreira peçam transferência para a Reserva, outros peçam cota compulsória e alguns até demissão do Serviço Ativo com até indenização a fazer face aos cursos realizados. (MARTINS ALVES,1979).

Pontuou o Fuzileiro Naval que a variedade de opções com melhores níveis

salariais era a principal causa de evasão das FA. Este mesmo fator era o motivo que

afastava os jovens de classes sociais de níveis mais elevados “só se encaminhando

para as mesmas, aqueles raros casos de uma ‘vocação irresistível’ ou dos que tendo

financeiramente liberdade de opção, podem sem dificuldades materiais se

dedicarem à carreira das armas”.

Os dados coletados permitem inferir que, se por um lado as evasões

apresentam constante aumento, por outro, o ingresso cada vez maior de jovens

oriundos das classes de condições mais humildes potencializa nas FA o seu papel

instrumental de mobilidade social, assunto que se passa a analisar.

Page 35: o papel das organizações militares na mobilidade social

33

2.3 AS INSTITUIÇÕES MILITARES E A MOBILIDADE SOCIAL DO OFICIAL

O Exército Brasileiro é a Escola dos pobres Luiz Gonzaga (o cantor)

Neste ponto da pesquisa se analisam os dados objetivando verificar qual o

papel que as instituições militares têm tido na mobilidade social para os oficiais nos

últimos 30 (trinta) anos.

“As instituições militares em geral, e o Exército de forma especial, possuem

a premissa de possibilidade de ascensão social porque valorizam a meritocracia” 28.

Nas entrevistas e informações colhidas durante a Observação Participante se nota

que houve vários exemplos, como regra, de mobilidade social positiva,

principalmente no Exército Brasileiro.

Um raro relato revela uma interessante trajetória ascendente que mais

parece conto saído de um livro de ficção. Oriundo de família pobre e numerosa,

abandonado pelo pai, e com sérias dificuldades financeiras há aproximadamente 50

(cinquenta) anos chegava ao Rio de Janeiro, vindo do Nordeste um jovem de 6

(seis) anos de idade que encontrou na profissão de engraxate na Brigada

Paraquedista, localizada na Vila Militar no Rio de Janeiro, uma forma de ajudar a

sobrevivência da família. A contra partida que lhe foi imposta pelos oficiais e praças

paraquedistas era estudar. O jovem teria que apresentar periodicamente seu boletim

para atestar suas notas e presenças. Assim durante seis anos esse jovem concluiu o

ensino básico, antigo primário e ginásio. Saiu de lá para cursar a Escola de Cadetes

do Exército, a Academia Militar das Agulhas Negras e se tornar oficial do Exército

Brasileiro.

E agora o entrevistado Expedido Alves de Lima, como General de Brigada

ainda se emociona em lembrar sua trajetória de superação e destaca o papel

fundamental da família em sua trajetória.

Veja que um acontecimento que poderíamos encarar como motivo de desajuste para piorar a situação, graças a Deus não aconteceu. Todos os irmãos e irmãs são pessoas dignas [...]. A participação de nossa mãe foi fundamental na disseminação daquilo que ela acreditava. Graças a Deus essa foi a maior vitória que nós conseguimos. (Informação verbal)

29.

28

Assessor econômico do Banco Central, em palestra proferida em 05 de julho de 2013, na Escola de Guerra Naval – EGN, para estagiários do CAEPE e alunos EGN. 29

Entrevista concedida ao autor pelo General do EB, Expedido, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013.

Page 36: o papel das organizações militares na mobilidade social

34

O General destaca que experimentou uma mobilidade social positiva, mas

mais que seu esforço pessoal faz questão de sublimar a participação de outras

pessoas que foram decisivas em sua vida.

Quando fui promovido a oficial general, aqueles mais antigos, hoje pessoas com seus cabelos brancos, já envelhecidos, eles se sentem parte dessa vitória, e eu nunca escondi isso de ninguém, tenho orgulho de dizer que os sargentos os cabos e os soldados da Brigada paraquedista é que são responsáveis pela minha carreira, porque nos momentos em que eu, talvez mais tivesse a mercê de um ambiente desfavorável, eu tinha neles bons exemplos. Eu via lá, ele é sargento e está estudando, então ele tem alguma coisa a mais que ele quer ser. Por que eu que sou engraxate não vou estudar para não passar o resto de minha vida como engraxate? Eles para mim foram um farol. Quando chegava o início do ano e tinha aquelas despesas de matéria escolar, eles se cotizavam, faziam uma listinha lá e contribuíam da forma que podiam também, pois eles também tinham suas dificuldades, famílias com suas demandas, né? Mas o que podiam fazer faziam, e assim eu tinha material escolar, eu tinha roupa, eu tinha tudo aquilo que poderia precisar. Até quando entrei na escola preparatória e comecei a usar óculos, foram eles que me deram. Então De Araújo, a minha história é uma história que me envaidece. E sempre que tenho uma oportunidade como essa eu fico feliz de poder fazer chegar, principalmente para os jovens, que é possível conseguir as coisas que a gente mais imagina inatingível.

30 (Informação verbal).

Várias conversas foram mantidas com os Estagiários do CAEPE, com

perguntas específicas sobre a mobilidade social e a opinião unânime é que as

Forças Armadas possuem papel fundamental na vida social de seus membros, pois

é um ambiente, que devido a sua estrutura militarizada mitiga as discriminações

institucionais permitindo a mobilidade social ascendente.

“Você considera que dentro do EB existe mobilidade social? Como foi o seu

ingresso, que estamento social você pertencia antes de ingressar nas Forças

Armadas e qual que você considera pertencer hoje?” Esta pergunta foi feita a 32,

oficiais, incluindo as três Forças Armadas, e as Forças Auxiliares, e as respostas

convergiram para um mesmo ponto. As instituições militares funcionam como

instrumento de mobilidade social. A pesquisa identifica diferentes razões para

justificar essa mobilidade

Eu acredito sim que houve mobilidade social. Vou tecer um rápido histórico. Meu pai foi oriundo do Estado do Rio Grande do Sul, e ingressou no EB prestando o serviço militar, no ano de 1957, entrou como soldado e fez os cursos regulares para praças, Soldado, Cabo e Sargento. Minha mãe é filha de pessoas da classe baixa. Minha avó, eu me lembro de que ela fornecia alimentação para fora, para casas, restaurantes. Tinha muitos filhos, seis ou sete, e com uma renda bem baixa para subsistência, na realidade [...]

30

Entrevista concedida ao autor pelo General do EB, Expedido, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013.

Page 37: o papel das organizações militares na mobilidade social

35

O início foi dessa forma, mas eu lembro bem de que no inicio da minha vida, o meu pai se dedicava as atividades do EB e minha mãe lavava roupa e fazia bolo, para reforçar as finanças, pois éramos ainda somos seis filhos. Necessitava de um complemento de renda

31. (Informação verbal).

Os oficiais da Força Aérea indicam que a instituição funciona como

instrumento de mobilidade social para os oficiais, mas pontuam que no passado a

carreira era mais estável, não apenas pelo salário que era melhor, mas também pelo

prestígio que a carreira gozava na sociedade.

O exemplo que dou para você é a situação do oficial temporário na Força Aérea. As pessoas que vem para este curso são atraídas, em sua maioria, pelo salário pago pela Força que é muito interessante. Nós pagamos o salário pelo curso, e não pela especialidade da pessoa. Então, para um bibliotecário, um arquivologista, um professor, um profissional de educação física, normalmente a Força Aérea paga o dobro ou o triplo que o mercado de trabalho paga e o que a gente vê é que normalmente essas pessoas escolhem estas profissões porque é o que eles conseguem fazer, não é especificamente vocação. Nesse sentido sim, um curso como este é um curso de mobilidade social. Quando você pega uma pessoa que vem de uma classe social muito baixa, que conseguiu com esforço muito grande fazer um curso de letras, com habilitação em sânscrito, porque ninguém se candidatou àquela vaga e ele consegue ganhar um bom salário, isso dá uma ascensão social para ele

32. (Informação verbal).

Hoje já não gozamos do mesmo prestígio que existia quando entrei na FAB. Ainda que houvesse convite para trabalhar em outras empresas de aviação para ganhar mais, não era comum ocorrer a evasão que presenciamos hoje. Veja que as escolas tradicionais de segundo grau, reconhecidamente elitista e de alto nível não incentivam seus alunos a serem oficiais das Forças Armadas, como faziam no passado

33. (Informação verbal).

Essa opinião, destacada por alguns oficiais da FAB e da Marinha, representa

um dado importante, uma vez que foi espontânea, não houve perguntas diretas

sobre esse fato. Por este motivo mereceu investigação mais detalhada. A

descoberta foi interessante, pois para alguns oficiais há hoje maior democratização,

uma vez que as pessoas pertencentes às classes menos favorecidas podem

ingressar nas instituições militares, diferentemente do passado quando este evento

era excepcional.

31

Entrevista concedida ao autor pelo Coronel do EB Augusto, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013 32

Entrevista concedida ao autor pelo Coronel da FAB Lei, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013. 33

Entrevista concedida ao autor pelo Coronel da FAB, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013. Não autorizado a divulgação do declarante.

Page 38: o papel das organizações militares na mobilidade social

36

O C Alte (FN) Martins Alves, de forma peculiar, apontou em 1979, que as

facilidades educacionais do país, favoreciam o ingresso de outras classes nas FA.

Quanto ao nível dos oficiais, na formação tem sido notada a “invasão” de indivíduos de classes mais baixas, que desfrutando das facilidades educacionais do País e tendo capacidade e condições psicofísicas para tanto, ingressam nas Escolas. (MARTINS ALVES, 1979).

Subsídios fornecidos pelo Departamento de Ensino da Aeronáutica, Tabela

04, identificam que 37,65% (trinta e sete vírgula sessenta e cinco por cento) dos

oficiais aviadores, intendentes e infantes que ingressaram na Força em 2013 foram

provenientes de escola privada. Os outros 62 35% (sessenta e dois vírgula trinta e

cinco por cento) são oriundos de escola pública, principalmente estadual.

Procedência Escolar

Escola Privada 37,65 %

Escola Pública Municipal 5,07 %

Escola Pública Estadual 47,99 %

Escola Pública Federal 9,29 %

Tabela 04 – Procedência escolar dos cadetes da FAB/2013. Fonte DEPENS

Os dados da EN, presentes na Tabela 05 indicam que 69,38% (sessenta e

nove vírgula trinta e oito por cento) dos Aspirantes que ingressaram na Escola Naval

no ano de 2013 foram oriundos do Colégio Naval, ensino fundamental público,

porém de rara qualidade. Outros 28,16% (vinte e oito vírgula dezesseis por cento)

são provenientes do concurso externo, não sendo possível identificar qual

percentual é oriundo do ensino particular.

Origem Escolar Total %

CN 170 69,38

CPAEN 69 28,16

Estrangeiros 6 2,44

Total 245 100

Tabela 05 – Procedência escolar dos aspirantes da EN/2013. Fonte: Perfil Socioeconômico dos Aspirantes do 1º ano – Escola Naval/SOEP

Page 39: o papel das organizações militares na mobilidade social

37

Informações da AMAN constantes do Gráfico 06 informam que 24,6% (vinte

e quatro vírgula seis por cento) dos Cadetes que ingressaram em 2013, cursaram o

Colégio Militar, ensino público fundamental e médio de rara qualidade, e 75, 4%

(setenta e cinco vírgula quatro por cento) são originários de outros estabelecimentos

de ensino, não sendo possível identificar qual percentual veio de escolas

particulares.

Gráfico 06 – Procedência escolar cadetes da AMAN/2012 Fonte: Anuário Estatístico da AMAN/ Base de Dados ano 2012

Elementos integrantes da "Síntese de indicadores sociais: uma análise das

condições de vida da população brasileira 2012", do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE) mostram que 8,6% dos estudantes do ensino médio

matriculados nas escolas da rede pública pertencem a famílias com renda per capita

na faixa dos 20% mais ricos do país. O índice é maior que o dobro da situação

inversa: só 3,8% dos estudantes de famílias pobres estudam em escolas

particulares. Na rede privada, 52,3% dos estudantes pertencem à faixa de renda

mais rica.

Segundo o levantamento do Programa Internacional de Avaliação de Alunos

(Pisa), as diferenças na condição socioeconômica dos alunos são os principais

determinantes da variação de desempenho.

De acordo com dados do Programa, o Brasil é um dos 26 países analisados

com maior desigualdade de desempenho entre o ensino público e o privado, ficando

atrás apenas do Catar, Quirguistão e Panamá.

A desigualdade entre os alunos, dependendo da rede de ensino cursada,

aparece também nos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

(IDEB) 2011. O IDEB, para as redes pública e particular, respectivamente, teve as

seguintes notas: 4,7 e 6,5 nos anos iniciais do ensino fundamental; 3,9 e 6,0 nos

anos finais do ensino fundamental; e 3,4 e 5,7 no ensino médio.

Page 40: o papel das organizações militares na mobilidade social

38

Nesta linha, os dados da pesquisa permitem levantar a hipótese de uma

democratização aparente, pois pode não representar igualdade entre os

pretendentes, mas um desinteresse de uma classe que agora não mais enxerga

atrativos na carreira de oficial, abrindo espaço para o ingresso de outras classes,

que por esse motivo, experimentam mobilidade social, talvez maior que a dos

oficiais que ingressaram no passado.

Foi na Marinha que a pesquisa encontrou uma variação interessante, pois

quando indagada a mesma situação sobre a instrumentalização da mobilidade

social, as respostas apesar de constatarem sua existência na Força, indicam que ela

se faz presente com maior intensidade para os oficiais mais modernos.

Diversamente do constatado, principalmente no EB, os oficiais na Marinha advertem

que em muitos casos experimentaram mobilidade social negativa.

Especificamente no meu caso não experimentei mudança de classe social, porque quando ingressei na Marinha minha família já possuía uma razoável condição financeira, mas tive vários colegas de turma que encontraram na Força possibilidades de estudar, de conhecer outros países e viver situações que dificilmente viveriam em outra profissão. Incluo-me também. Acho que mudança de classe social não é somente ganhar um salário um pouco melhor, mas é um conjunto de coisas. Nesse caso a Marinha realmente fez diferença em minha vida, mas financeiramente hoje nós que estamos no último posto do oficialato superior não progredimos, financeiramente falando, pelo contrário, hoje enfrento dificuldades maiores que um Capitão de Mar e Guerra enfrentava há vinte anos

34. (Informação verbal)

Umas das bases de argumentação utilizadas pelos oficiais são que as

dificuldades que um oficial superior do último posto enfrentava no passado eram

menores do que um oficial do mesmo posto enfrenta hoje. Outro argumento é que a

Marinha atraía pessoas de estamentos diferenciados dos de hoje. Indagados se

melhoraram ou regrediram em termos de mobilidade social alguns foram enfáticos:

Regrediu, regrediu um pouco, tanto que a formação hoje, (conto como experiência), eu tive uma fase em minha vida na qual eu tive contato com oficias mais antigos, e, a maioria deles morava na Zona Sul. Já na minha época a gente conseguia chegar até a Tijuca. Hoje o pessoal está morando bem mais afastado, nível Marinha tá? Porque a gente tem se fixado mais na área Rio de Janeiro. Os jovens oficiais, os mais modernos, fisicamente moram em locais bem mais afastados das principais áreas do RJ. [...] Nós tínhamos assim, vamos colocar em percentuais, tínhamos uns 10% de uma classe rica, 80% de uma classe média e 10% de uma classe mais pobre, vamos botar assim. Hoje não existe um chamativo muito grande para os jovens nas FA. O retorno financeiro está fora das perspectivas dos jovens de hoje. Pois agora há mais informações, você começa

34

Entrevista concedida ao autor pelo CMG da MB Dair, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013.

Page 41: o papel das organizações militares na mobilidade social

39

relativamente bem para quem está no início de carreira, mas a progressão independente do tempo é pequena

35. (Informação verbal)

Sobre o tema é oportuno analisar a pesquisa socioeconômica que a Divisão

de Avaliação da Escola Naval da Marinha do Brasil desenvolveu com os Aspirantes

do primeiro ano. Pretendeu-se coletar informações relativas à procedência e núcleo

familiar, entre outras, dos aspirantes matriculados no primeiro ano do Curso de

Graduação para Oficias da Escola Naval, oriundos do Colégio Naval e Processo

Seletivo de Admissão à Escola Naval (PSAEN). A pesquisa fornece dados

importantes para o presente estudo, uma vez que aplica as mesmas variáveis

investigadas de 2005 a 2013, possibilitando efetuar comparações entre os anos.

Os dados revelam que, no período considerado, a média dos primeiranistas

residentes no Rio de Janeiro é de 82,49%. A presença de moradores da Zona Sul

carioca é reduzida, onde, segundo dados do IBGE, se encontra o m² mais caro, e, a

maior concentração de renda per capita da cidade. A média de moradores dessa

região, no período é de 2,16%, (dois vírgula dezesseis por cento) com variações

pouco expressivas, que oscila de 6,5% no ano de 2007 e 0% em 2008. A presença

de moradores das Zonas Norte e Oeste lideram a série anual com média de 88%.

2.3.1 Perfil socioeconômico e classe social do novo oficial das FA

Outro dado relevante a analisar é o cruzamento entre a renda familiar dos

militares que ingressaram nas escolas de formação há aproximadamente 10 (dez)

anos, com os que ingressaram em 2013. Será adotada por parâmetro a Tabela 06

do IBGE, que divide a renda familiar em cinco faixas ou classes sociais: classes A

(renda acima de 20 salários mínimos), B (renda entre 10 e 20 salários mínimos),

classe C (renda entre 4 e 10 salários mínimos) e as classes D e E (entre 2 e 4

salários mínimos).

35

Entrevista concedida ao autor pelo CMG da MB Dair, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013

Page 42: o papel das organizações militares na mobilidade social

40

Classe Salários

Mínimos (SM) Renda (R$)

A Acima 20 SM R$ 13.560,00 ou

mais

B 10 a 20 SM De R$ 6.780,00 a R$ 13.560,00

C 4 a 10 SM De R$ 2.712,00 a R$ 6.780,00

D 2 a 4 SM De R$ 1.356,00 a R$ 2.712,00

E Até 2 SM Até R$ 1.356,00

Tabela 06 – Classes sociais36

Fonte: IBGE

Faz-se a comparação dos que ingressaram inicialmente na Escola Naval em

2005 com a dos que ingressaram em 2013. Essas informações se encontram nas

Tabelas 07 e 08.

Renda Familiar Total %

Menos de 3,33 salários 18 8,5

De 3,33 a 6,66 salários 45 21,2

Acima de 6,66 até 10 salários 64 30,2

Acima de 10 salários 85 40,1

TOTAL 212 100

Tabela 07 - Renda Familiar ano de 2005 (adaptada pelo autor) Fonte: Perfil Socioeconômico dos Aspirantes do 1º ano/2005 – Escola Naval/SOEP Nota: considerar o valor do salário mínimo de R$300,00 em 2005.

Renda Familiar Total %

De 4 a 7 salários 84 35,51

De 8 a 10 salários 70 21,22

Acima de 10 salários 53 20,23

Até 3 salários 26 11,83

Sem resposta 5 1,63

Total 238 100

Tabela 08 - Renda Familiar ano de 2013 Fonte: Perfil Socioeconômico dos Aspirantes do 1º ano/2013 – Escola Naval/SOEP Nota: Considerando o valor de R$ 678,00 em 2013.

36

Segundo o IBGE, a tabela está dividida em cinco faixas de renda ou classes sociais. Para o ano de 2013 (salário mínimo de R$678,00).

Page 43: o papel das organizações militares na mobilidade social

41

Os dados da Tabela 07 demonstram que 40,1% (quarenta vírgula um por

cento) dos militares que ingressaram no primeiro ano da Escola Naval em 2005,

possuíam renda familiar acima de dez salários mínimos, podendo pertencer as

classes “A” ou “B”. Os de renda familiar acima de 6,66 até 10 salários mínimos

representam 30,2% (trinta vírgula dois por cento), são os pertencentes da classe “C”.

Os que recebem entre 3,33 e 6,66 salários mínimos podem pertencer às Classes “C”

ou “D” representam 21,21% (vinte e um vírgula vinte e um por cento) e 8,5% (oito

vírgula cinco por cento) representam a classe “D” ou “E”, uma vez que alcançam

menos de 3,33 salários mínimos de renda familiar.

Ou seja, 59,9% (cinquenta e nove vírgula nove por cento) dos novos Oficiais

da EN em 2005 pertenciam às classes “C”, “D” ou “E”.

Já em 2013, se percebe uma formatação diferenciada, pois 56,73%

(cinqüenta e seis vírgula setenta e três por cento) dos militares do primeiro ano,

(35,51% renda familiar entre 4 e 7 + 21,22% renda entre 8 e 10 salários mínimos)

pertencem a classe “C”. Os integrantes da classe “D” representam 11, 83% (onze

vírgula oitenta e três por cento). Dessa forma 68,56% (sessenta e oito vírgula seis

por cento) dos oficiais são oriundos das classes “C” ou “D”.

Com renda familiar acima de dez salários mínimos há somente 20, 23%

(vinte vírgula vinte e três por cento) dos militares no primeiro ano em 2013, enquanto

em 2005 comportavam 40,1%, o dobro. Conclui-se que mais pessoas das classes

sociais menos privilegiadas têm ingressado na instituição, ao mesmo tempo em que

a Força atrai cada vez menos pessoas da classe social mais elevada.

Essas tendências se espraiam no ingresso dos oficiais na Marinha de

maneira geral, conforme se verifica pela Tabela 09.

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42

Curso

Faixas de renda segundo classificação do IBGE

Renda dos Alunos que vivam sozinhos Renda familiar (alunos casados ou que

residem com pais)

A B C D E A B C D E

Quadro Técnico 0 0 3 0 0 6 34 7 0 0

Corpo de Saúde da Marinha

1 5 22 0 0 19 29 2 0 0

Quadro Complementar 0 0 70 0 0 12 33 30 0 0

Quadro de Capelães Navais

0 0 1 0 0 0 0 1 0 0

Corpo de Engenharia 0 7 17 0 0 19 36 6 0 0

Quadro Auxilar da Armada e de Fuzileiros Navais

0 0 5 0 0 0 27 43 0 0

Total 1 12 118 0 0 56 159 89 0 0

Tabela 09 – Faixas de Renda Oficiais da Marinha. Fonte: Centro de Instrução Almirante Wandenkolk.

Ocorrência idêntica se constata na AFA, Tabela 10. Somente 19%

(dezenove por cento) dos cadetes que ingressaram na instituição em 2013, têm

procedência socioeconômica acima de R$3.500,00 (três mil e quinhentos mil reais),

ou seja, podem pertencer as classes “A”, “B” ou mesmo “C”. O expressivo percentual

de 47,70 (quarenta e sete vírgula setenta por cento) dos novos cadetes é oriundo da

classe “E”, pois possui rendimentos familiares abaixo de 2,21 (dois vírgula vinte e

um) salários mínimos, e, 33,37% (trinta e três vírgula trinta e sete por cento) situam-

se entre 2,21 (dois vírgula vinte e um) e 5,16 (cinco vírgula dezesseis) salários

mínimos, sendo, pois, originários das classes “D” ou “E”.

Procedência Sócio-Econômica

Mais de R$3.500,00 18,99 %

Entre R$1.500,00 e R$3.500,00 33,31 %

Menos de R$ 1.500,00 47,70 %

Tabela 10- Procedência Socioeconômica. Fonte: DEPENS Considerar o salário mínimo de R$678,00

Page 45: o papel das organizações militares na mobilidade social

43

Por carência de dados na FAB, não é possível afirmar quais tendências

socioeconômicas existem na Força em relação ao ingresso de novos oficiais, mas os

dados revelam que existe uma concentração de 81% (oitenta e um por cento) dos

ingressantes pertencem a classe “C”, uma vez que possuem renda abaixo de 5

(cinco) salários mínimos.

Examinando a situação dos Cadetes da AMAN, os resultados que se chega

quando se comparam os rendimentos familiares mensais dos matriculados no

primeiro ano em 2003, Tabela 11, com os de 2012, Tabela 12, constantes do

Anuário Estatístico da AMAN, é que o rendimento familiar dos cadetes sofreu

diminuição ao longo dos anos.

Salário

Mínimo37

Quantidade de Cadetes

00 a 05 56

06 a 10 126

11 a 15 89

16 a 20 67

21 a 25 28

26 a 30 16

31 a 35 02

36 a 40 08

41 a 45 06

46 a 50 05

Acima de 50 01

Não declarado 32

Total 436

Tabela 11 – Rendimento Familiar mensal dos cadetes do 1º ano em 2003. Fonte: Anuário Estatístico da AMAN/ Base de Dados 2003

37

Valor do salário mínimo em 2003 = R$240,00, decretado pela Lei 10.699 de 9 jul 2003. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.699.htm. Acesso em 21 out 2013.

Page 46: o papel das organizações militares na mobilidade social

44

Tabela 12 – Rendimento familiar mensal dos cadetes do 1º ano em 2012. Gráfico 7 – Renda Familiar Fontes: SIASMAN/ Ass. TI – Anuário Estatístico da AMAN/ Base de Dados 2012

Ao se analisar a Tabela 11 (2003) verifica-se que 41,7% (quarenta e um

vírgula sete por cento) dos Cadetes que ingressaram em 2003 possuem

rendimentos mensais menores que 10 (dez) salários mínimos, podendo pertencer as

classes “C”, “D” ou “E”. Este percentual sobe para 61% (sessenta e um por cento),

Tabela 12 em 2013.

Esses dados estatísticos38 vêm ao encontro dos relatos dos oficiais

entrevistados e permite inferir que as classes menos privilegiadas são

predominantes no ingresso atual das Forças Armadas, em geral. A pesquisa não

reúne condições para afirmar que este fato significa democratização intencional no

ingresso nessas instituições, mas permite identificar a ocorrência do alargamento do

acesso de classes sociais que outrora não transitavam no oficialato com tanta

expressão numérica.

2.3.2 Mobilidade social intrageracional e intergeracional

O estudo da mobilidade social pode se basear na comparação de status

ocupacionais dos militares com o de seus pais (mobilidade intergeracional) e

38

Não se levou em consideração as variáveis: número de dependentes que vivem com a renda familiar, percentual do soldo que integra a renda familiar.

Page 47: o papel das organizações militares na mobilidade social

45

também entre status final e inicial do próprio militar ao longo de sua carreira

(mobilidade intrageracional).

Estudos sinalizam há décadas que “o desejável é o máximo de eficiência

social com o mínimo de desigualdade.” (PASTORE, 1979, p. 3). Como também

destacam a importância da mobilidade vertical. A mobilidade social vertical está

relacionada à dinâmica social, onde um indivíduo ou um grupo transita de um nível

para outro, modificando assim o seu padrão.

O estudo da mobilidade vertical relaciona a posição social presente com a do passado, procurando identificar de que modo os indivíduos vão se distribuindo nos vários níveis da estrutura social através do tempo, qual o peso da herança social, dos recursos individuais e das oportunidades econômico-sociais proporcionadas pela sociedade naquele período de tempo. Além disso, o estudo da mobilidade procura examinar os impactos dos movimentos individuais e grupais sobre a própria estrutura social, dedicando especial atenção à questão da diminuição ou expansão das diversas camadas sociais. A mobilidade social, portanto, refere-se a mudanças de status social. (PASTORE, 1979, p. 3 - 4).

Essa mobilidade social vertical pode ser ascendente ou descendente,

que coexistindo nas sociedades dinâmicas, produzem impacto sobre o

desenvolvimento social. A mobilidade ascendente atenua as tensões sociais e

diminui a desigualdade. (PASTORE, 1979).

A possibilidade de subir na estrutura social tem sido considerada como um importante redutor de tensões sociais. A sociedade que oferece oportunidades concretas de ascensão social tende a distribuir esperanças. Ao subir na escala social, os indivíduos costumam se sentir realizados quando comparados com a posição de seus pais. Nesse sentido, a ascensão social funciona como uma espécie de anestésico numa sociedade desigual. (PASTORE; HALLER, 1993, p.25).

Diversas entrevistas realizadas com Oficiais do CAEPE ratificam a

mobilidade intergeracional. Quando a pesquisa se ocupou em comparar as

condições de vida e de estudo entre gerações, as respostas demonstram a forte

mobilidade social vertical ascendente experimentada pelos Oficiais mais antigos. É o

que se conclui ao analisarmos as respostas a seguinte pergunta: “O fato de você

estar na Força lhe permitiu dar melhores condições de vida, de estudo aos seus

filhos do que as que seus pais tiveram condições de lhe dar?”

Sim, eu posso dizer que houve uma progressividade. Meu pai conseguiu chegar a uma posição de graduação no mais alto nível para a praça, até aquele momento da vida dele, quando passou para a reserva. E posso dizer

Page 48: o papel das organizações militares na mobilidade social

46

que os filhos tiveram condições de ingressar em um degrau acima, e chegar a um posicionamento bem maior. Só para mencionar, o meu avô, ele prestou serviço militar por mais de trinta anos. Terminou como meu pai, encerrou sua carreira militar como praça. Se fossemos fazer uma comparação, meu pai teve uma vida melhor que a do meu avô, com certeza, isso foi proporcionado até pela condição dele, mas em termos de ascensão social os dois estavam num mesmo nível

39. (Informação verbal).

[...] venho de uma família mediana e meus pais tinham bastante dinheiro, mas meu pai faliu em torno de cinco anos antes de eu nascer. Quando eu nasci nós passávamos por bastante dificuldades e hoje eu possuo um patamar muito superior ao que eu convivi na infância

40. (Informação verbal).

Uso como parâmetro a situação de meus avôs. Raciocinando em termos de célula familiar, faço comparação entre as chances que os filhos tiveram. Então as possibilidades que meus avôs puderam proporcionar aos meus pais e as oportunidades que meus pais puderam proporcionar para mim e meus irmão, e as que eu posso proporcionar aos meus filhos houve uma progressão sensível neste aspecto. Em termos de qualidade de vida são situações bem diferentes. Meus avôs vieram do interior. Era pequeno agricultor, comia o que plantava e criava em casa. É uma realidade muito diferente que a gente vive hoje. Como eu disse, acho que o parâmetro mais útil para você aquilatar o grau de mobilidade social são as oportunidades que as crianças têm que é o ensino de qualidade, de aprender uma segunda língua, conhecer outros países, então isso aí tem uma importância absurda em relação a geração de meus avós até chegar a geração de meus filhos. (Informação verbal)

41.

Sou exceção na minha turma, pois venho de uma família humilde e de um lugar pobre, diferentemente da maioria de meus colegas que moravam na Zona Sul ou em bairros nobres de seus Estados. Para mim a mobilidade social foi maior por este fato. Com certeza eles não experimentaram a mesma mobilidade social que eu experimentei. (Informação verbal)

42.

Fator destacado na mobilidade intergeracional identificada pela pesquisa é a

importância pontuada dos estudos em tempo integral, ou seja, situação que não é

compartilhada com o trabalho, formal ou informal. O fato de poderem completar os

ciclos fundamental e básico dessa forma foi destacado como fator primordial para a

ascensão vertical ascendente:

Dentro da minha família foi a geração de meus pais que fez a transição do mundo rural para o urbano. Foram eles que tiveram, ou melhor puderam estudar para terem acesso a empregos com melhores pagamentos. Poder pagar uma casa, ter uma casa que foram realidade que não existiam até então. Sobre este aspecto meu pai veio do extrato mais baixo da sociedade, ele não era, não estava a margem da sociedade, ele fazia parte dela, mas vinha da camada mais baixa dela. Ele não tinha nenhuma benesse que a sociedade daquela época possuía. Essa saída dele de uma classe social para a próxima foi fruto de um esforço muito duro. Com seis sete anos ele já

39

Entrevista concedida ao autor pelo Coronel do EB Augusto, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013. 40

Entrevista concedida ao autor pelo Coronel Lei da FAB, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013. 41

Entrevista concedida ao autor pelo Coronel Silva Junior do EB, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013. 42

Entrevista concedida ao autor pelo CMG Hower da MB, Rio de Janeiro: ESG, mai, 2013.

Page 49: o papel das organizações militares na mobilidade social

47

tinha uma jornada de 14 a 16 horas.[...] Ele foi militar e aí justamente que começou toda a mudança. Ele desde pequeno teve que trabalhar para pagar seus próprios estudos, ele teve oportunidade de fazer o concurso para ingressar na carreira militar. Ele fez escola de sargentos. Então, eu e meus irmãos tivemos a oportunidade de entrar em escola sem ter que trabalhar. Foi a primeira vez em nossa família que isso aconteceu. Eu e meus irmãos pudemos nos dedicar a só estudar, sem preocupar com mais nada. Tinha comida quando chegava a casa, tinha um teto. Este eu considero o momento de transição maior. [...] Uma característica muito interessante nesse período é que nenhum dos filhos, nenhum de meus irmãos necessitou trabalhar até concluir os seus estudos (até o ensino médio). Meus pais fizeram de tudo para que nós priorizássemos o estudo. Eu sei que isso não é uma realidade, ainda hoje, na sociedade brasileira, principalmente para aqueles que vêm de uma classe baixa. Meus pais nunca receberam bens, produto de herança, por que nunca tiveram. Tudo que ele conquistou foi através de trabalho. (Informação verbal)

43.

Outro detalhe que merece ser destacado e que permite inferir sobre o

alargamento do acesso de classes sociais que outrora não transitavam no oficialato

com tanta expressão numérica é o fato de que a presença dos filhos das praças, nos

últimos concursos, tende a superar o número dos filhos dos Oficiais nas Academias

Militares. O confronto das Tabelas 13 e 14, que representam o ingresso de filhos de

militares nos anos de 2005 e 2013, respectivamente na Escola Naval, demonstra o

evento. No último concurso os filhos das Praças foram 64,44% (sessenta e quatro

vírgula quarenta e quatro por cento), contra 28,88% (vinte e oito vírgula oitenta e oito

por cento) dos filhos dos Oficiais.

43

Entrevista concedida ao autor pelo Coronel Silva Junior do EB, Rio de Janeiro: ESG, jun, 2013.

Page 50: o papel das organizações militares na mobilidade social

48

Profissão Resposta %

Administrador 7 3,3

Advogado 11 5,2

Autônomo 12 5,6

Bancário 2 1

Comerciante 19 9

Dentista 2 1

Engenheiro 27 12,7

Funcionário Público 9 4,2

Oficial das Forças Armadas 27 12,7

Professor 9 4,2

Praça das Forças Armadas 23 10,8

Médico 4 1,8

Outras 52 25

Não respondentes 8 4

Total 212 100

Tabela 13 – Pai ou mãe militar. 2005 Marinha Fonte: Centro de Instrução Almirante Wandenkolk

Posto/Graduação Total %

Praça 29 64,44

Oficial 13 28,88

Total 42 100

Tabela 14 – Pai ou mãe militar. 2013 Marinha Fonte: Centro de Instrução Almirante Wandenkolk

A pesquisa não identificou, entre os oficiais mais antigos, a mobilidade social vertical

descendente. Este fenômeno se faz presente, com maior frequência, nas entrevistas

realizadas com os oficiais da Marinha do Brasil. Diversos fatores foram elencados para justificar

tal evento, mas o principal foi que no passado os Oficiais que ingressaram na Marinha vinham

de classes sociais privilegiadas e que as conjunturas econômicas, aliadas ao desprestígio

experimentado pelas FA, fizeram com que muitos conhecessem a mobilidade descendente.

A Marinha tinha a tradição de família, vinha de pai para filho. Eu mesmo nunca tive ninguém na família como militar, para mim foi, entre aspas, um acaso entrar na Marinha, mas eu conheço vários casos que passaram de pai para filho. Para você ter idéia eu tinha muitos colegas que tinham parentes oficiais, quando entraram na Escola Naval. Hoje os filhos dos oficiais, poucos vão para a Escola Naval. Hoje há ascensão social porque os que vão para a Escola Naval são os filhos dos Suboficiais, filhos de sargentos e de cabos. Acho até interessante, eu tenho contato na Escola Naval e eles têm relatório anual de entrada de candidatos, por classe social, origem dos pais, isso de repente vai te interessar para sua pesquisa, por que o órgão da Marinha que recebe os oficiais é a Escola Naval. (Informação verbal)

44.

44

Entrevista concedida ao autor pelo CMG Dair da MB, Rio de Janeiro: ESG, jun, 2013.

Page 51: o papel das organizações militares na mobilidade social

49

3 CONCLUSÃO

Após exame das realidades sociais de oficiais nos diferentes postos, a

pesquisa pôde identificar quais camadas da sociedade, nos últimos 30 (trinta) anos,

foram atraídas para ingressar nos cursos de formação de oficiais das Instituições

Militares, em especial nas Forças Armadas. Atualmente as classes “C” e “D” são

majoritárias nas diversas Academias Militares, mesmo na Marinha do Brasil que

tinha a tradição de atrair camadas mais elitizadas da sociedade.

Houve confirmação parcial das hipóteses de que as Organizações Militares

têm sido instrumento de mobilidade social, uma vez que esses militares

experimentaram mudanças de classes sociais ascendentes, de forma geral, mas

houve registros de mobilidade social descendente, por diferentes motivos.

Consoante as interpretações dos resultados colhidos no trabalho de

pesquisa, conclui-se que, ao se confrontar a classe social do militar na ocasião do

seu ingresso com a do final da carreira, há relativa mobilidade social ascendente

para 53% do pesquisados. Neste caso, mesmo considerando que a maior parte dos

que ingressam nas Academias são jovens em seu primeiro emprego, os oficiais nas

entrevistas confirmaram que as organizações militares representaram instrumento

para a sua mobilidade social durante toda a carreira.

Por outro lado, 41% dos pesquisados terminaram a carreira na mesma

classe que iniciaram. Esse fato apresenta aspectos negativos, pois os gastos

tendem a aumentar de forma desproporcional em relação às reposições financeiras

decorrentes das correções, sejam salariais, seja da progressão na carreira.

Esta aparente contradição poder ser entendida quando se compara as

classes sociais dos ingressantes no passado com os atuais aprovados para o

primeiro ano das Academias Militares. Se no passado os componentes das classes

“A” e “B”, com maior presença dessa última, possuíam hegemonia nos ingressos, a

pesquisa identificou que há atualmente maior acesso das classes “C”, “D” e “E”.

Esse fato requereu um minudente trabalho na pesquisa que possibilitou identificar

subsídios que explicam a alta taxa de evasão experimentada atualmente pelas

Forças Armadas, bem como a expressiva mobilidade social identificada.

Page 52: o papel das organizações militares na mobilidade social

50

Em relação à evasão houve fortes motivos identificados, tais como a

desmotivação com a carreira, fruto da ausência de reconhecimento profissional

aliado a questões salariais. A percepção de 78% dos oficiais entrevistados é que

atividades melhor remuneradas têm sido a razão da evasão, no entanto, a pesquisa

identificou outros fatores motivadores. Um deles, fortemente destacado nas

entrevistas, foi a sobrecarga suportada pelas famílias decorrente das constantes

mudanças de domicílio e com a perda de valor aquisitivo do salário. Os oficiais

criticam também a ausência de um plano de carreira que compatibilize as distorções

existentes entre as responsabilidades crescentes da profissão com os ganhos

salariais proporcionalmente decrescentes.

Já sobre a expressiva mobilidade social existente nas Instituições Militares a

pesquisa identificou diversas causas. Uma delas confirma a hipótese levantada de

que a formatação militarizada das Instituições Militares dificulta as discriminações

inibindo os obstáculos para a ascensão das classes menos privilegiadas. Nesse

sentido, verifica-se que há similitude dos resultados da pesquisa desenvolvida

durante 2 (dois) anos por este estagiário na Polícia Militar do Distrito Federal que foi

utilizada como plataforma para o atual trabalho de que as Instituições Militares são

ambientes democráticos para ascensão das classes menos favorecidas.

Com a análise do perfil socioeconômico do novo ingressante no oficialato

das FA foi possível identificar diversos oficiais oriundos dos mais humildes

estamentos da sociedade que encontraram na Instituição Militar a possibilidade de

ascensão social, chegando ao topo da carreira. O fenômeno da mobilidade social

ascendente pôde ser identificado de forma intensa nas três Forças.

Por derradeiro, o estudo conclui que há mobilidade social, tanto a

intrageracional como a intergeracional, nas Instituições Militares, sendo que esta

última se apresenta com maior intensidade e em movimento crescente. Um dos

fatores identificados como justificativa é a presença, cada vez maior, dos filhos das

praças militares no oficialato, posição anteriormente ocupada pelos filhos dos

oficiais.

A mobilidade social descendente foi identificada em algumas entrevistas dos

oficiais da Marinha do Brasil. Diversos fatores foram elencados pelos entrevistados

para justificar tal evento, mas o principal foi que no passado os oficiais que

ingressaram na MB vinham de classes sociais privilegiadas, e que as conjunturas

econômicas, aliadas ao desprestígio experimentado pelas FA junto ao governo

Page 53: o papel das organizações militares na mobilidade social

51

fizeram com que esses militares ou permanecessem ou decaíssem dos seus

respectivos estamentos sociais.

De maneira geral a pesquisa conclui que, se por um lado há nas FA

mobilidade social descendente para parte dos oficiais mais antigos, e, atrativos

menos interessantes na Instituição que no passado, por outro lado as FA, possuem

um papel fundamental na mobilidade social, oportunizando que componentes das

camadas mais humildes da sociedade possam chegar ao oficialato, ocupando

posição na carreira militar, de presença majoritária de camadas privilegiadas da

sociedade.

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52

REFERÊNCIAS

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53

http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultadoBrasil.seam?cid=452713. Acesso em 06 mai 2013. CAVALCANTI, Manoel Niederauer Tavares. Mobilidade social no Brasil. Rio de Janeiro: ESG, 1980. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; Bookman, 2010. ENGELS, F; MARX, K. Manifesto do partido comunista. Petrópolis: Vozes, 1990. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual para elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso: monografia. Rio de Janeiro, 2013. _______. Manual básico. Ed. rev e atual. Rio de Janeiro, 2013. GIDDENS, Anthony. Sociologia, 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. HASENBALG, C; SILVA, N. D. Valle. Estrutura social, mobilidade e raça. Rio de Janeiro: IUPERJ; Vértice, 1988. HOLLANDA, Cristina Buarque de. Teoria das elites. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2011. MARTINS ALVES, José Antonio. Mobilidade social nas Forças Armadas. Rio de Janeiro: ESG, 1979. PASTORE, José. Desigualdade e mobilidade social no Brasil. São Paulo: EDUSP, 1979. PASTORE, José; HALLER, A. O. O que está acontecendo com a mobilidade social no Brasil? In VELOSO, J.P.R.; ALBUQUERQUE., R.C.A. (Org.) Pobreza e mobilidade social. São Paulo: Nobel, 1993. p. 25-49. VAUTERO, Jaisso Rodrigues. Identidade psicossocial, inserção social e saúde. o acesso de adolescentes à vida universitária visto por estagiários de psicologia. Dissertação (Mestrado em psicologia) - UFSM, Santa Maria, 2010. Disponível em: http://200.18.45.28/sites/ppgp/images/documentos/texto%206.pdf. Acesso em: 23 jul. 2013. VIVEKANANDA, Swami. O que é religião. Rio de Janeiro: Lótus do Saber, 2004. WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva, Brasília, DF: UnB, 1999.

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GLOSSÁRIO

COLÉGIO NAVAL – Instituição de Ensino Fundamental da Marinha localizada em Angra dos Reis/RJ. CAEPE – Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia, em funcionamento na Escola Superior de Guerra, destina-se a preparar civis e militares do Brasil e das Nações Amigas para o exercício de funções de direção e assessoramento de alto nível na administração pública, em especial na área de Defesa Nacional, desenvolvendo planejamentos estratégicos nas expressões do Poder Nacional. DEPENS - O Departamento de Ensino da Aeronáutica é Órgão responsável pela área de ensino - administra e coordena as atividades de todas as escolas da Força Aérea Brasileira, com exceção do ITA, que é vinculado ao CTA. HISTÓRIA ORAL - é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado o Programa de História Oral do CPDOC. A partir dos anos 1990, o movimento em torno da história oral cresceu muito. Em 1994, foi criada a Associação Brasileira de História Oral, que congrega membros de todas as regiões do país, reúne-se periodicamente em encontros regionais e nacionais, e edita uma revista e um boletim. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral> Acesso: em 11 jul. 2013. ITA - é um Instituto de ensino e pesquisa responsável pela formação de recursos Humanos, em nível de graduação e de pós-graduação nas áreas de interesse do Ministério da Defesa. Faz parte do CTA e iniciou suas atividades em 1950 com participação de professores do MIT, com um sistema educacional inovador induzindo uma série de modificações no sistema universitário, como a criação de cursos pioneiros, o sistema de pós-graduação, enfim um modelo que veio a ser adotado pelo sistema universitário brasileiro. Motivou o desenvolvimento industrial e tecnológico do Vale do Paraíba, tornando-se o centro da indústria aeroespacial brasileira. http://www.fab.mil.br/portal/capa/?page=ita OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE - é uma técnica de coleta de dados com origem na Antropologia e Sociologia. Esta observação pode se dar no ambiente natural de vida dos “observados”, confundindo-se com a Pesquisa-Ação ou acompanhando as técnicas de entrevista ou de grupo focal. Interessa-nos aqui a Observação Participante como técnica auxiliar de coleta de dados. Neste caso, o observador tem um papel formal, revelado. Esta técnica de coleta de dados pode ser definida como “... um processo no qual a presença do observador, em uma situação social, é mantida para fins de investigação científica...”(CICOUREL, apud HAGUETTE, 1982, p.62) focalizando o comportamento e as relações em situações naturalmente determinadas. PRÁTICO – [...] profissional habilitado pela Marinha do Brasil e que possui o conhecimento das águas em que atua, com especial habilidade na condução de

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embarcações, devendo estar perfeitamente atualizado com dados sobre profundidade e geografia do local, o clima e as informações do tráfego de embarcações. É também o responsável pelo controle e direcionamento dos rumos de uma embarcação próxima à costa, ou em águas interiores desconhecidas do seu comandante. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Praticagem> Acesso em: 17 jul. 2013. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE - Modalidade indicadora de que a severidade da sanção deve corresponder a maior ou menor gravidade da infração penal. Quanto mais grave o ilícito, mais severa deve ser a pena. A ideia foi defendida por Beccaria em seu livro Dos Delitos e das Penas e é aceita pelos sectários das teorias relativas quanto aos fins e fundamentos da pena. O princípio da proporcionalidade tem o objetivo de coibir excessos desarrazoados, por meio da aferição da compatibilidade entre os meios e os fins da atuação administrativa, para evitar restrições desnecessárias ou abusivas. Por força deste princípio, não é lícito à Administração Pública valer-se de medidas restritivas ou formular exigências aos particulares além daquilo que for estritamente necessário para a realização da finalidade pública almejada. Visa-se, com isso, a adequação entre os meios e os fins, vedando-se a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/292978/principio-da-proporcionalidade> Acesso em: 20 out. 2013. PROGRAMA INTERNACIONAL DE AVALIAÇÃO DE ALUNOS (as) – PISA. Avaliação internacional aplicada a cada três anos que abrange uma amostra de estudantes de 15 anos de idade de diversos países. As provas avaliam o desempenho dos estudantes nos domínios de Matemática, Leitura e Ciências e têm como finalidade detectar não só os conhecimentos adquiridos pelos jovens, mas, principalmente, as habilidades e competências que vão permitir a esses jovens uma participação efetiva na sociedade. O Brasil participa do Programa, coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE –, desde a primeira edição, em 2000.

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APÊNDICE A - Questionário para Civis

Resumo

1. Qual seu sexo?

Feminino 8 33%

Masculino 16 67%

2. Qual a sua idade?

Mais de 50 anos 12 50%

Entre 41 e 50 anos 10 42%

Entre 30 e 40 anos 2 8%

Menos de 30 anos 0 0%

3. Qual a sua Instituição?

PM 0 0%

BM 0 0%

Marinha 5 21%

Exército 2 8%

Aeronáutica 5 21%

Outros 12 50%

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4. Há quanto tempo o/a senhor/a conhece ou tem contato com uma instituição Militar?

Menos de 5 anos 1 4%

De 5 a de 10anos 1 4%

Mais de 10 anos 19 79%

Outros 3 13%

5. De acordo com as categorias de raça/etnia/cor adotadas pelo IBGE, como você se classifica?

amarelo 0 0%

branco 22 92%

índio 0 0%

pardo 1 4%

preto 0 0%

Outros 1 4%

6. Você considera que o militar (oficial) ao ingressar na Instituição experimenta mudança de classe social? Considere somente a realidade pessoal.

Não 5 21%

Um pouco 11 46%

Muito 3 13%

Outros 5 21%

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7. Em relação aos (as) atuais candidatos (as) que ingressam nas academias militares (futuros oficiais), você observa que:

Pertencem a classe social superior dos que ingressaram nos últimos 30 anos 3 13%

Pertencem a classe social inferior daqueles que ingressaram nos últimos 30 anos 11 46%

Pertencem a mesma classe social daqueles que ingressaram nos últimos 30 anos 2 8%

Não tenho certeza 8 33%

8. Ao longo do tempo, você considera que ingressar na Instituição possibilitou, ou possibilita mudança de classe social (positiva ou negativa) para o cadete (aluno a oficial)?

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado. Atualmente essa situação se mantém.

0 0%

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado. Atualmente a classe social continua alta, mas o salário não é atrativo em relação ao mercado.

5 21%

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado. Atualmente a classe social abaixou, mas o salário continua atrativo em relação ao mercado.

1 4%

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado. Atualmente tanto a classe social quanto o salário (em relação ao mercado), baixaram.

9 38%

Não. Não havia mudança alguma na classe social no passado, por que os salários da força eram idênticos aos que eram praticados no mercado. Atualmente esta situação se mantém.

1 4%

Não. No passado essa mudança era negativa, porque apesar da classe social do candidato ser elevada, os salários eram baixos em relação ao mercado. Atualmente a classe social continua alta, mas o salário não é atrativo em relação ao mercado.

0 0%

Outros 8 33%

9. Considerando o aspecto econômico/ financeiro você indicaria a um familiar ou amigo ser oficial em instituição militar?

Sim 15 63%

Não 7 29%

Outros 2 8%

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10. Houve aumento de evasão de oficiais em sua instituição por razão econômico-financeira, nos últimos 30 anos?

Sim, para atividades melhores remuneradas 13 54%

Não 1 4%

Não estou vinculado a uma instituição militar 9 38%

Outros 1 4%

11. Há algum outro questionamento sobre o assunto que o senhor/a gostaria de abordar e que não foi perguntado?

como as instituições podem evitar que os oficiais migrem para instituições que tem melhor remuneração? Sugiro, além do salário, incluir oportunidades de cursos e de conviver com pessoas de outras regiões, devido às movimentações. Cel Lacerda Sim, apesar dos salários baixos o militar de forma geral é um profissional de bom nível técnico, intelectual e familiar. São oferecidas oportunidades na carreira que o profissional da iniciativa privada não teria. Sou favorável a equiparação salarial com a iniciativa privada ou mesmo com a de outras carreiras publicas. Não Apesar dos baixos salários, a estabilidade no emprego e a aposentadoria integral recomendam o ingresso na carreira militar. Não. O Status do militar decresceu após o término da ditadura militar, atualmente está havendo uma melhora. Outro ponto é o entendimento por parte da população em geral de que não temos guerra a quase 200 anos, portanto não precisamos de forças armadas. Não, o Status do militar decresceu após o término da ditadura militar, atualmente esta havendo uma melhora. A ditadura não Interessante abordar a motivação profissional, que muitas vezes sofre perdas em virtude do sucateamento das FA, e tarefas diárias muito administrativas, relegando a instrução e treinamento a um segundo plano, como por exemplo: cortar grama e pintar meio-fio x patrulha.

Número de respostas diárias

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APÊNDICE B - Questionário para Militares

Resumo - 70 respostas

1. Qual seu sexo?

Feminino 13 19%

Masculino 57 81%

2. Qual a sua idade?

Mais de 50 anos 25 36%

Entre 41 e 50 anos 36 51%

Entre 30 e 40 anos 8 11%

Menos de 30 anos 1 1%

3. Qual a sua Instituição?

PM 3 4%

BM 2 3%

Marinha 27 39%

Exército 24 34%

Aeronáutica 14 20%

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4. Há quanto tempo o/a senhor/a é Militar?

até 10 anos 3 5%

entre 11 e 20 anos 1 2%

mais de 20 anos 61 94%

5. De acordo com as categorias de raça/etnia/cor adotadas pelo IBGE, como você se classifica?

amarelo 1 1%

branco 49 70%

índio 0 0%

pardo 15 21%

preto 4 6%

Outros 1 1%

7. Ao ingressar na Instituição você experimentou mudança de classe social? Considere somente a sua realidade pessoal.

Não 32 46%

Um pouco 31 44%

Muito 7 10%

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6. Por qual razão ingressou na vida Militar?

Vocação 29 41%

Falta de opção 1 1%

Salário e/ou benefícios 5 7%

Possibilidade de ascensão social/status 3 4%

Estabilidade 18 26%

Influência familiar/amigos 11 16%

Outros 3 4%

8. Você desempenha outra atividade remunerada para complementar sua renda familiar?

sim 15 21%

esporadicamente 1 1%

não, mas sinto necessidade 26 37%

não, porque componho renda com meu cônjuge 18 26%

Outros 10 14%

9. Em relação a sua classe social, ao ingressar na instituição você pode afirmar que:

Melhorou 34 49%

Permaneceu 29 41%

Piorou 7 10%

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10. Em relação aos (as) atuais candidatos (as) que ingressam na academia militar de sua instituição (Cadetes), você observa que:

Pertencem a classe social superior dos que ingressaram nos últimos 30 anos 4 6%

Pertencem a classe social inferior daqueles que ingressaram nos últimos 30 anos 33 47%

Pertencem a mesma classe social daqueles que ingressaram nos últimos 30 anos 10 14%

Não tenho certeza 23 33%

11. Ao longo do tempo, você considera que ingressar na Instituição possibilitou, ou possibilita mudança de classe social (positiva ou negativa) para o cadete (aluno a oficial)?

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do

candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado.

Atualmente essa situação se mantém.

1 1%

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do

candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado.

Atualmente a classe social continua alta, mas o salário não é atrativo em

relação ao mercado.

3 4%

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do

candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado.

Atualmente a classe social abaixou, mas o salário continua atrativo em relação

ao mercado.

4 6%

Sim. No passado essa mudança era positiva, porque apesar da classe social do

candidato ser elevada, os salários eram altos em relação ao mercado.

Atualmente tanto a classe social quanto o salário (em relação ao mercado),

baixaram.

34 49%

Não. Não havia mudança alguma na classe social no passado, por que os

salários da força eram idênticos aos que eram praticados no mercado.

Atualmente esta situação se mantém.

4 6%

Não. No passado essa mudança era negativa, porque apesar da classe social do

candidato ser elevada, os salários eram baixos em relação ao mercado.

Atualmente a classe social continua alta, mas o salário não é atrativo em

relação ao mercado.

8 11%

Outros 16 23%

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12. Considerando o aspecto econômico/ financeiro você indicaria a um familiar ou amigo ser oficial em sua instituição?

Sim 28 40%

Não 33 47%

Outros 9 13%

13. Houve aumento de evasão de oficiais em sua instituição por razão econômico-financeira, nos últimos 30 anos?

Sim, para atividades melhores remuneradas 54 77%

Não 4 6%

Outros 12 17%

14. Há algum outro questionamento sobre o assunto que o senhor/a gostaria de abordar e que não foi perguntado?

Nao considero a classe militar elevada (questão 11). Tive dificuldade em responder aquela questão.. não. Não com a exigência de curso superior para ingresso na PMDF o nível dos candidatos subiu. Interstício menor para chegar a oficial superior, atualmente são 14 anos em média. não Não. Aspectos como movimentações, uso de PNR, cursos, numero de filhos ou vários casamentos acabam contribuindo positivamente ou negativamente nas questões econômicas e financeiras dos militares, assuntos não abordados pela pesquisa. Nao jt quais são os motivos/razões para o ingresso na carreira militar plano de carreira As perguntas parecem tendenciosas, querendo valorizar o valor financeiro da profissão A evasão de oficiais está relacionada a vários fatores e não somente o salarial. NADA A RELATAR Quais as causas da pergunta 11

Número de respostas diárias

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ANEXO A – Questionário para o Departamento de Pessoal das FA

MINISTÉRIO DA DEFESA

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

Fortaleza de São João - Av. João Luiz Alves, s/nº - Urca - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22291-090

Tel.: (21) 3545 9889 / Fax (21) 3545 9971

QUESTIONÁRIO ABERTO DESENVOLVIDO COMO SUPORTE AO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO A SER APRESENTADO À ESCOLA SUPERIOR

DE GUERRA NO CURSO DE ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA (CAEPE) - 2013 A Escola Superior de Guerra (ESG) é um Instituto de Altos Estudos de

Política, Estratégia e Defesa, integrante da estrutura do Ministério da Defesa, e destina-se a desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de direção e assessoramento superior para o planejamento da Defesa Nacional, nela incluídos os aspectos fundamentais da Segurança e do Desenvolvimento.

A ESG funciona como centro de estudos e pesquisas. Seus trabalhos são de natureza exclusivamente acadêmica, sendo um foro democrático e aberto ao livre debate. A fim de estimular o sentido crítico, a criatividade, o hábito da pesquisa, o espírito de análise e o poder de síntese, a Escola exige de seus discentes, como condição para a conclusão de seus cursos, a apresentação de um trabalho monográfico.

Um de nossos Estagiários visualizou a necessidade de confecção e aplicação de um questionário de pesquisa que levantasse, em sua Instituição aspectos acerca da temática supracitada.

Pedimos sua prestimosa colaboração no sentido de ajudá-lo nesta tarefa, respondendo ao questionário seguinte para as análises e tabulações destinadas ao Curso de Altos Estudos e Política Estratégica do corrente ano.

Tema do Trabalho: O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES MILITARES COMO INSTRUMENTO DE MOBILIDADE SOCIAL, NOS ÚLTIMOS 30 (TRINTA) ANOS

Estagiário: MARCOS DE ARAÚJO (Coronel Policial Militar do Distrito Federal, Aluno do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra)

Orientadora: TC QFO Aer – R1 Denise Maia Psicóloga e Adjunta da Assessoria de Seleção e Avaliação da Escola Superior de Guerra.

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O objetivo é analisar o nível de conhecimento e interesse acerca de assuntos relacionados com a temática da Defesa Nacional bem como a indicação de meios para incrementar os índices levantados.

Os contatos pessoais para elucidação de eventuais dúvidas e outros esclarecimentos poderão ser realizados pelos seguintes meios:

Coronel De Araújo: Telefone: (21) 8324-1428 e (61)9984-

0298 e-mail: [email protected] ou [email protected]

Questionário

1. Quais os aspectos sociais dos matriculados nas Academias das três Forças (Nível

de escolaridade, área de formação, faixas salariais dos candidatos (caso vivam sozinhos) ou de

sua família (caso contrário), domínio de outras línguas etc.) Objetiva-se comparar dados dos

últimos 10 (dez) anos para avaliar se houve variações da classe social dos matriculados nas

Academias de Formação de Oficiais;

2. Qual o percentual, anual, de evasão dos oficiais (saída da Força para exercer outras

atividades), nos últimos 10 (dez) anos?

3. Quais os principais motivos pelos quais se ingressa na Força: Vocação, estabilidade,

salário, ascensão social, influência familiar etc.?

4. Quais os principais motivos da evasão da Força: Salário, ascensão social, outros

etc.?

5. A carreira é semelhante a dos homens (chega ao último posto, pode assumir

comando etc)? Qual o percentual de oficial - mulher na Força?

6. Outras informações que o Sr(a) julgue pertinente ao tema.

Agradecemos sua colaboração.

O Sr(a) está ajudando a pensar e construir um Brasil mais FORTE.

Muito Obrigado!!

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ANEXO B - Taxa de Evasão de Oficiais das FA.

Fonte: Correio Braziliense de 7 de abril de 2013, Brasília – DF.