panorama dos estudos sobre interseccionalidade no …€¦ · importante destacar que este trabalho...
TRANSCRIPT
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
1 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
PANORAMA DOS ESTUDOS SOBRE
INTERSECCIONALIDADE NO BRASIL (2008 – 2018): notas gerais e especificidades dos objetos empíricos
comunicacionais 1 AN OVERVIEW OF THE STUDIES ABOUT
INTERSECTIONALITY IN BRAZIL (2008 – 2018): general notes and specificities of the empirical communication
objects Guilherme Libardi2
Resumo: Este estudo tem como objetivo traçar um panorama dos estudos sobre interseccionalidade
no Brasil publicados no Banco de Teses e Dissertações da CAPES entre 2008 e 2018. Foi realizada
uma pesquisa bibliográfica através dos termos "interseccionalidade" e "interseccional",
convencionando-se que estes termos aparecessem no título e/ou nas palavras-chaves. Foram
encontrados 26 estudos. A maioria é produzida no Nordeste e os marcadores sociais mais citados
e articulados entre si são gênero e raça. Quatro estudos compõem o corpus dedicado a objetos
comunicacionais, sendo que apenas um deles foi produzido em um PPG do campo da comunicação.
Apesar do pioneirismo ao enfrentar a questão, a maioria acaba vinculando-se de modo superficial
à proposta da interseccionalidade, não estabelecendo uma relação articuladora do conceito com
seus objetos empíricos. É sugerido que a perspectiva seja empregada de um ponto de vista
epistemológico.
Palavras-Chave: Estado da arte. Interseccionalidade. Estudos de comunicação.
Abstract: This study has as main purpose to trace an overview of the studies about intersectionality
in Brazil published at the CAPES' Thesis and Dissertation database between 2008 and 2018. A
bibliographic research with the terms "intersectionality" and "intersectional" was made, agreeing
that these terms had to appear in the title and/or in the keywords. 26 studies were found. The
majority is produced in the Northeast and the social markers most cited and articulated among
each other were gender and race. Four studies compose the corpus dedicated to communication
objects, and only one was produced in a postgraduate degree of the communication field. Besides
its pioneerism by addressing the issue, the majority of these studies end up positioning to the
intersectional proposal in a superficial way, not establishing an articulator relation of the concept
with its empirical objects. It is suggested that the perspective has to be used from an epistemological
point of view.
Keywords: State of the art. Intersectionality. Communication Studies.
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação, Gêneros e Sexualidades do XXVIII Encontro Anual
da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2018. 2 Guilherme Libardi: Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação na UFRGS,
Mestre pelo mesmo programa e Bacharel em Publicidade e Propaganda pela ESPM-Sul, [email protected].
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
2 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
1. Introdução: a interseccionalidade entra em cena
A atenção ao estado do discurso científico3 sobre determinado tema é relevante para que
se possa empreender uma crítica epistemológica, reconstituindo a historicidade do objeto. É
uma forma de tatear como vem sendo produzido um saber sobre determinado assunto. Neste
texto, o objetivo é traçar um panorama do estado da arte dos estudos que recorrem à
interseccionalidade enquanto objeto teórico, dando maior enfoque aos estudos interessados em
questões comunicacionais4. Aqui, filio-me à perspectiva de Lopes (2014) ao compreender
“objeto teórico” como reflexo do quadro de conceitos que advêm do problema de pesquisa,
agindo de modo a delimitá-lo teoricamente.
Um estudo desta natureza diz respeito a um movimento de parar, olhar para trás e ir ao
encontro das discussões inerentes ao que está sendo estudado. De acordo com Luna (1999), o
objetivo de um estado da arte pode ser resumido em identificar “o que já se sabe, quais as
principais lacunas, onde se encontram os principais entraves teóricos e/ou metodológicos”
(LUNA, 1999, p.82). Este movimento, imprescindível para o avanço da ciência, é reconhecido
como escasso no campo das Ciências Sociais e Humanas e, principalmente, ao campo da
Comunicação, “onde inexiste a reflexão desse campo de conhecimento sobre si mesmo”
(LOPES, 2014, p.91).
Importante destacar que este trabalho não trata de uma desconstrução metodológica
interessada em avaliar a qualidade epistemológica das pesquisas aqui apresentadas5. A proposta
é desenhar um mapa, uma cartografia (JACKS, 2018) sobre os usos do conceito de
interseccionalidade, conferindo um olhar panorâmico e, após, um enfoque específico ao seu
uso nos estudos que articulam o seu conceito a um objeto empírico comunicacional.
A definição de “interseccionalidade” encontra eco em uma ampla gama de perspectivas
epistemológicas e em diferentes abordagens do pensamento feminista estadunidense e europeu.
Primeiramente, recorro à sua conceituação através da “fundadora” do termo, a estadunidense
Kimberlé Crenshaw. Em suas palavras, “[a] interseccionalidade é uma conceituação do
problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois
3 Filio-me à perspectiva de Bourdieu, compreendendo discurso científico como aquilo que se produz como saber
legítimo em um determinado campo científico, “[...] um lugar histórico onde se produzem verdades trans-
históricas” (BOURDIEU, 2004, p. 97). 4 Para definir “comunicação”, filio-me à perspectiva da Teoria da Mídia em Johnson (2014, p. 44), compreendendo
comunicação “[...] como um tipo distintivo de atividade social que envolve a produção, a transmissão e a recepção
de formas simbólicas e implica a utilização de recursos de vários tipos”. Esta noção mais ampla pode ser
complementada por Morley (2005), que enfatiza a presença de algum tipo de canal técnico midiático. 5 Cenário “ideal”, conforme defendido por Lopes (2014).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
3 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
ou mais eixos da subordinação” (2002, p. 177). A autora é uma intelectual da área do Direito e
está pensando este conceito sob o prisma dos Direitos Humanos, dando destaque às injustiças
que mulheres negras sofrem pelo sistema jurídico. Por isso, Crenshaw está mais interessada
em pensar a interseccionalidade como uma sobreposição de eixos de opressão.
Gostaria de preservar a ideia dos “eixos”, porém identifica-los como “marcadores sociais
da diferença”. Também, prefiro pensar que para além de “subordinação”, possa haver
“articulação”. Explico: a perspectiva de Crenshaw, como dito anteriormente, está desenvolvida
para pensar um problema de injustiças cometidas no momento de julgamento em cortes dos
Estados Unidos. Acredito que, para uma maior capilaridade do seu conceito, podemos nos
associar à ideia de “marcadores sociais da diferença” pois é um termo mais amplo para discutir
“[...] como diferenças são socialmente instituídas e podem conter implicações em termos de
hierarquia [...].” (ALMEIDA et al., 2018, p. 19). Estes marcadores são classificações sociais
de cor, raça, etnia, gênero, sexualidade, território, entre outros; e agem produzindo diferença6.
Esta diferença, entretanto, também pode servir como veículo de agência, não se esgotando,
necessariamente, somente na ideia de subordinação; como se um marcador sempre fosse pesar
mais ou esmagar um outro. Por isso me vinculo à ideia de “articulação” a partir da autora
indiana Avtar Brah (2006), que desenvolve o seu pensamento sobre interseccionalidade desde
os Estudos Culturais, dialogando com as ideias de Stuart Hall7. Para a autora, é pensando os
marcadores como relacionados entre si (e não exclusivamente subordinados uns aos outros),
que “[...] podemos focalizar um dado contexto e diferenciar entre a demarcação de uma
categoria como objeto de discurso social, como categoria analítica e como tema de mobilização
política” (BRAH, 2006, p. 353). Portanto, é apoiado nestes dois conceitos: “marcadores
sociais” e “articulação” que defino brevemente a perspectiva da interseccionalidade.
A discussão sobre esse conceito merece uma atenção privilegiada por parte do campo da
Comunicação. Desde a consolidação dos Estudos Culturais, compreendemos a íntima relação
entre processos de comunicação e a manutenção de diferentes posicionamentos ideológicos:
“Nas sociedades modernas, diferentes tipos de mídia são lugares especialmente importantes
6 No âmbito dos estudos sobre identidades a partir dos Estudos Culturais, entende-se que a diferença é elemento
constitutivo da identidade e está baseada na percepção sobre o outro. Sendo assim, ela é baseada na ideia de
exclusão (WOODWARD, 2000). Um exemplo da questão em jogo seria o seguinte raciocínio: se você é
homem, você não pode usar batom. A crítica reside no fato de que algumas diferenças são consideradas mais
importantes que outras. 7 Uma discussão mais detalhada sobre estes diferentes modos de tratar a “interseccionalidade” pode ser encontrada
em Piscitelli (2008).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
4 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
para a produção, reprodução e transformações de ideologias” (HALL, 2015, p. 105, tradução
nossa). Podemos falar de diversos tipos de ideologias que estruturam diferentes naturezas de
representações e de processos comunicacionais. Dentre elas, dou destaque àquelas baseadas
em concepções hegemônicas de gênero, sexualidade, classe, raça, geração, entre outros
marcadores.
Rádio, televisão, filme, música popular, Internet, redes sociais e outros formatos e
produtos da cultura midiática proporcionam materiais dos quais nós forjamos nossas
próprias identidades, incluindo nosso senso de individualidade; nossa noção de o que
significa ser homem ou mulher; nossa concepção de classe, etnicidade, raça,
nacionalidade, sexualidade; e de divisão do mundo em categorias de “nós” e “eles”
(KELLNER, 2015, p. 7, tradução nossa).
Por sua vez, a interseccionalidade pode servir como uma ferramenta analítica útil para o
desvelamento e análise dos códigos que estabilizam as noções de gênero, sexualidade, classe e
raça na mídia; bem como para explicar os diferentes sentidos produzidos pelas audiências no
processo de recepção8. Articulada aos estudos de mídia, uma lente interseccional tem como
potencialidade a descrição e análise complexa do objeto empírico a partir do quadro dos
marcadores sociais da diferença. Concordando com Gill (2007, p. 28, tradução nossa), a
interseccionalidade permite “[...] pensar sobre o entrelaçamento de discursos de raça, gênero,
sexualidade, classe e por aí vai, rastreando diferentes padrões de desejo, desprezo, medo e
exotização” no discurso da e sobre a mídia. A partir desta contextualização introdutória,
delineio os percursos metodológicos envolvidos para a coleta e o tratamento dos dados.
2. Procedimentos metodológicos: percursos para um estado da arte
Na constituição do estado da arte, a técnica adotada foi a pesquisa bibliográfica. Stumpf
(2008) fornece contribuições pertinentes ao explicar os passos desta técnica de pesquisa que se
apresenta como preferencial para a constituição de um estado da arte. São eles: a) identificação
do tema e assuntos, etapa na qual o pesquisador define, com precisão, o tema a ser estudado,
partindo para o desenvolvimento de um rol de palavras-chaves e subtemas que deverão ser
buscados; b) seleção das fontes representativas para fornecer o suporte à pesquisa pretendida
(bibliografias especializadas, portais, catálogo de editoras, etc.); c) localização e obtenção do
8 Nas duas últimas obras da série Meios e Audiências, que reúnem o estado da arte dos estudos de recepção no
Brasil entre 2000 e 2015, a carência da perspectiva que articule o gênero a demais marcadores já vem sendo
apontada (JOHN; COSTA, 2014; TOMAZETTI; CORUJA, 2017).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
5 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
material e d) leitura e transcrição dos dados, realizando fichamentos e registros do conteúdo
relevante dos trabalhos obtidos.
O tema, como já fora exposto, é a “interseccionalidade” enquanto objeto teórico. A busca
pelos trabalhos foi feita no Banco de Teses e Dissertações da CAPES no dia 10 de outubro de
2018. O intervalo de tempo designado para a coleta foi 10 anos, de 2008 a 2018 e abrigando
todos os PPGs do Brasil. As palavras-chaves buscadas foram “interseccionalidade” e
“interseccional”, sendo convencionado que este termo aparecesse no título e/ou nas palavras-
chaves, denotando, assim, a importância e o “peso” do termo para o trabalho. Portanto, os
estudos dos quais trato incluem o conceito de “interseccionalidade” como aspecto teórico
(supostamente) central. A qualidade do emprego do conceito de interseccionalidade é
verificada somente nos trabalhos dedicados a objetos comunicacionais. A referência para
realizar esta avaliação é a perspectiva de Lopes (2014) sobre os níveis da pesquisa. Para ser
considerado um estudo interseccional, é importante que a sua teoria balize o trabalho
epistemologicamente, articulando a metodologia e perpassando a construção do objeto de
estudo. Delineados os preâmbulos introdutórios e a metodologia empregada, apresento as
descrições e análises dos resultados do estudo.
3. Apresentação do corpus: contextos geográfico, institucional e teórico
Ao todo, foram selecionados 269 trabalhos (19 dissertações e 7 teses), defendidos entre
2008 e 2018. Abaixo, é possível visualizar a constituição do corpus, organizado da publicação
mais recente até a mais antiga.
TABELA 1
Corpus total
Título Autoria Universidade PPG Ano
Ser mulher: cotidianos, representações e
interseccionalidades da mulher popular
(Porto Alegre 1889 – 1900)
Almaleh,
Priscilla Unisinos
PPG em
História 2018
9 Originariamente, 28 trabalhos haviam sido encontrados. No entanto, dois foram descartados. A tese de Costa
(2016), do PPG em Direito Processual Civil/PUC-SP trata da articulação entre direito processual, economia e
psicologia. Ou seja, a noção de “interseccional” reside no diálogo entre três campos de conhecimento, e não na
articulação mútua de marcadores sociais produtores de diferença, que agem sobre o corpo e a experiência vivida.
A tese de Cúnico (2018), do PPG em Psicologia/PUCRS, também foi desconsiderada porque encontra-se sob
sigilo. Apesar do persistente contato com a biblioteca da universidade e com a própria autora, não tive acesso
cedido a nenhuma parte da pesquisa.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
6 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
Think Olga: interseccionalidade,
comunicação midiática no facebook e a
apropriação da identificação de gênero
no sujeito do feminismo
Bezerra,
Mariana
Lemos de
Morais
UFRN
PPG em
Estudos de
Mídia
2018
Donas de rua, vidas lixadas:
interseccionalidades e marcadores sociais
nas experiências de travestis com o crime
e o castigo
Ferreira,
Guilherme
Gomes
PUCRS PPG em
Serviço Social 2018
Transição capilar: cabelos, consumo e
interseccionalidade no ciberespaço
Matos, Lídia
de Oliveira UFS
PPG em
Antropologia 2017
Da esterilização ao Zika:
interseccionalidade e transnacionalismo
nas políticas de saúde para as mulheres
Carvalho,
Layla
Daniele
Pedreira de
USP PPG em
Ciência Política 2017
Trajetórias educacionais de mulheres:
uma leitura interseccional da deficiência
Farias,
Adenize
Queiroz de
UFPB PPG em
Educação 2017
Escrevivências sobre mulheres negras
acompanhadas pela Proteção Social
Básica : uma perspectiva interseccional
Soares,
Lissandra
Vieira
UFRGS
PPG em
Psicologia
Social e
Institucional
2017
A defesa transnacional dos direitos
humanos das mulheres latinoamericanas
por redes feministas regionais: um estudo
à luz da interseccionalidade
Arcoverde,
Mariana
Torreão
Brito
UFPE
PPG em
Direitos
Humanos
2017
Mulheres da paz : histórias de vida,
interseccionalidades e processos de
subjetivação
D'Ávila,
Michele
Nunes
UFRGS
PPG em
Psicologia
Social e
Institucional
2016
As interseccionalidades entre gênero,
raça/etnia, classe e geração nos livros
didáticos de sociologia
Silva, Samira
do Prado UEL
PPG em
Ciências
Sociais
2016
Raça/cor da pele, gênero e Transtornos
Mentais Comuns na perspectiva da
interseccionalidade
Smolen,
Jenny Rose UEFS
PPG em Saúde
Coletiva 2016
Juventude, sexualidade e relações
afetivo-sexuais: uma análise
interseccional de jovens rurais e
urbanos/as
Nascimento-
Gomes,
Fernanda
Sardelich
UFPE PPG em
Psicologia 2016
Juventude e projeto de vida: um estudo
interseccional dos modos de subjetivação
de universitários/as de origem popular
Gomes,
Vanessa
Benevides
Martins
UFPE PPG em
Psicologia 2016
Luz, câmera, limpando:
interseccionalidades e representações
sociais em Domésticas, o filme (2001) e
Doméstica (2012)
Bernardino,
Jéssyca
Lorena Alves
UnB PPG em
História 2016
“Tá dentro, não tá fora”: subjetividade,
interseccionalidade e experiências de
adoecimento de mulheres negras com
doença falciforme
Xavier,
Eliana Costa PUCRS
PPG em
Psicologia 2015
“Quando não tem bebida, morga logo!”:
um estudo interseccional sobre juventude
e consumo de álcool
Souza,
Leyllyanne
Bezerra de
UFPE PPG em
Psicologia 2015
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
7 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
Rés negras, judiciário branco: uma
análise da interseccionalidade de gênero,
raça e classe na produção da punição em
uma prisão paulistana
Alves,
Enedina do
Amparo
PUC-SP
PPG em
Ciências
Sociais
2015
A vivência de mulheres em cargos em
cargos executivos em grandes empresas:
uma análise interseccional das
desigualdades de gênero e de Raça
Pereira,
Edilene
Machado
UNESP
PPG em
Ciências
Sociais
2015
A interseccionalidade de gênero, raça e
classe no Programa Ciência sem
Fronteiras: um estudo sobre estudantes
brasileiros com destino aos EUA
Borges,
Rovênia
Amorim
UnB PPG em
Educação 2015
Resistindo à tempestade: a
interseccionalidade de opressões nas
obras de Carolina Maria e Maya Angelou
Santos,
Marcela
Ernesto dos
UNESP PPG em Letras 2014
Os significados do uso de álcool entre
os/as jovens quilombolas de
Garanhuns/PE: uma perspectiva
interseccional
Silva,
Roseane
Amorim da
UFPE PPG em
Psicologia 2014
Interseccionalidade gênero/raça e etnia e
a Lei Maria da Penha: discursos jurídicos
brasileiros e espanhóis e a produção de
subjetividade
Silveira,
Raquel da
Silva
UFRGS
PPG em
Psicologia
Social e
Institucional
2013
Interseccionalidade entre raça e surdez: a
situação de surdos (as) negros (as) em
São Luís – MA
Buzar,
Francisco
José Roma
UnB PPG em
Educação 2012
A construção social da “saúde
reprodutiva” no Brasil. Um olhar na
perspectiva da interseccionalidade de
gênero e raça
Duarte,
Heloísa
Helena da
Silva
Unisinos PPG em Saúde
Coletiva 2012
Mulheres negras soropositivas e as
interseccionalidades entre gênero, classe
e raça/etnia
Toledo,
Angelita
Alves de
UFSC PPG em
Serviço Social 2012
Na trama das interseccionalidades:
mulheres chefes de família em Salvador
Macêdo,
Márcia dos
Santos
UFBA
PPG em
Ciências
Sociais
2008
FONTE – O AUTOR
A partir desta lista de trabalhos, é possível extrair uma variada gama de considerações.
Primeiramente, dou atenção à evolução do número de pesquisas que tratam sobre o tema da
interseccionalidade no intervalo considerado entre 2008 e 2018:
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
8 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
GRÁFICO 1
Evolução do número de teses e dissertações
FONTE – O AUTOR
No interstício de três anos, compreendidos entre 2015 e 2018, houve um crescimento
significativo no número de pesquisas sobre o tema. O período acumula 19 estudos, o que
equivale a 73% do total produzido nos dez anos. Este fator sinaliza para uma curva de interesse
sobre o assunto que, apesar da queda em 2018, aparenta ser crescente. Esta informação
corrobora para a necessidade de começarmos a verificar quais os principais aspectos que estas
pesquisas estão levando em conta ao tratar sobre interseccionalidade.
Nas próximas seções, serão apresentadas as principais características que ajudam a
fornecer um panorama geral destes estudos. Divido esta descrição em três dimensões: contexto
geográfico, que mostra as regiões do país onde as produções estão aderindo à perspectiva em
questão; contexto institucional, que diz respeito às universidades e PPGs; e contexto teórico,
que descreve panoramicamente como a interseccionalidade vem sendo discutida em termos
teóricos.
3.1 Contexto geográfico e institucional
Além da questão temporal, também dou destaque ao contexto geográfico no qual estes
estudos estão inseridos. A maioria advém de teses e dissertações produzidas em PPGs do Rio
Grande do Sul, conforme mostra o gráfico a seguir:
1
3
12
5
65
3
2008 2010 2012 2014 2016 2018
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
9 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
GRÁFICO 2
Distribuição geográfica de teses e dissertações
FONTE – O AUTOR
Embora o Rio Grande do Sul seja o Estado onde mais se publique teses e dissertações
com o termo interseccionalidade em seu título ou palavra-chave (7), é na região Nordeste onde
as discussões sobre o tema são mais presentes, somando dez estudos publicados. Este dado é
bastante positivo se levarmos em conta que o Nordeste é uma das regiões do Brasil com as
condições de desenvolvimento de pesquisas mais recentes. Lá, concentram-se somente 16%
dos PPGs do país, enquanto as regiões Sul e Sudeste, juntas, somam 72% dos cursos de pós-
graduação (CAPES, 2010). O contexto institucional no qual estas pesquisas são produzidas
pode ser verificado nos gráficos que ilustram as universidades em que são realizados os estudos
e em quais PPGs:
GRÁFICO 3
Distribuição institucional de teses e dissertações – Universidades
FONTE – O AUTOR
7
5
4
3
2
1 1 1 1 1
RS PE SP DF BA PB SC SE PA RN
5
3 3
2 2 2
1 1 1 1 1 1 1 1 1
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
10 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
Apesar de Pernambuco não ser o Estado onde mais são publicados estudos sobre
interseccionalidade, a UFPE é a universidade que mais concentra pesquisas desta natureza. No
que tange ao Rio Grande do Sul, estado que mais publica acerca do assunto, as teses e
dissertações produzidas estão distribuídas entre três universidades: UFRGS (3), Unisinos (2) e
PUCRS (2). Neste gráfico, também cabe ressaltar a prevalência da produção científica sobre
interseccionalidade em universidades públicas: 12, enquanto há somente três em privadas. A
seguir, verificamos em quais PPGs os 26 estudos foram elaborados:
GRÁFICO 4
Distribuição institucional de teses e dissertações – PPGs
FONTE – O AUTOR
De forma geral, podemos afirmar que a área das Ciências Sociais e Humanas é
hegemônica no que diz respeito ao interesse em tratar sobre o objeto teórico em questão. A
Psicologia se destaca como campo em que mais são produzidos estudos sobre
interseccionalidade (8)10. Também chama atenção que duas pesquisas foram produzidas na área
da Saúde11, ou seja, fora das “humanidades”. A pluralidade de áreas em que a questão da
interseccionalidade encontra terreno revela a natureza versátil do conceito, bem como a
possibilidade que ele tem de navegar em diferentes disciplinas. Ainda que, como é visto mais
adiante, alguns destes estudos tratem de objetos comunicacionais, destaco a presença de
10 Considerando o PPG em Psicologia (5) e o PPG em Psicologia Social e Institucional (3). 11 Duarte (2012); Smolen, (2016).
1
1
1
1
1
2
2
2
3
3
4
5
PPG em Estudos de Mídia
PPG em Direitos Humanos
PPG em Antropologia
PPG em Letras
PPG em Ciência Política
PPG em História
PPG em Saúde Coletiva
PPG em Serviço Social
PPG em Educação
PPG em Psicologia Social e Institucional
PPG em Ciências Sociais
PPG em Psicologia
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
11 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
somente um estudo produzido no campo da comunicação12, o que sinaliza a pouca relevância
destinada ao conceito pela área.
Delineados o contexto geográfico e institucional, cabe adentrar no contexto teórico,
verificando de que modo este conceito é apropriado nas teses e dissertações.
3.2 Contexto teórico
Como vimos na definição do termo, a ideia de interseccionalidade é forjada no
pensamento da intersecção entre marcadores sociais que produzem diferença. Por isso, além
de um panorama contextual, considero essencial para a reconstrução do discurso sobre
interseccionalidade, verificar quais os marcadores sociais são mais considerados para fins de
articulação:
GRÁFICO 5
Marcadores sociais mais citados
FONTE – O AUTOR
O gênero é o marcador social mais presente nas pesquisas que versam sobre
interseccionalidade. Do total de 26 trabalhos, ele está ausente em somente um estudo13.
12 Bezerra (2018). 13 Buzar (2012).
1
1
2
5
6
15
24
25
Religião
Sexualidade
Território
Condição de saúde
Geração
Classe
Raça, etnia ou cor da pele
Gênero
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
12 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
Discussões sobre raça, etnia ou cor da pele14 só não aparecem em dois15. Portanto, a principal
leitura é a grande relevância dada a estes dois marcadores sociais. Tal fenômeno não surpreende
se levarmos em conta as origens do pensamento interseccional. O feminismo negro teve um
importante papel na sedimentação da interseccionalidade privilegiando as características de
gênero e raça para pensar a experiência da mulher negra. Antes que o termo fosse cunhado por
Crenshaw (2002), outras autoras feministas negras16 que ocupavam espaços na política e na
academia já estavam publicando sobre a importância de considerar gênero e raça em
articulação.
Como o objetivo do artigo é investigar os modos de apropriação da perspectiva da
interseccionalidade, cabe verificar, para além da quantificação acima, quais marcadores sociais
se articulam com quais nestes estudos. A tríade dos três marcadores mais citados (gênero,
raça/etnia/cor da pele e classe) interseccionam-se da seguinte forma:
14 O uso dos três termos aparece de modo difuso nos estudos do corpus. Alguns consideram somente a categoria
“raça” ou “etnia”; outros, as díades “raça/cor da pele” ou “raça/etnia”. Poucos se dedicam a estabelecer um critério
para o uso de um ou outro termo, ou um conjunto deles. Observo que não há consenso sobre um trato teórico e
operacionalização analítica dos conceitos. Uma das autoras que apresentou uma criteriosa argumentação histórica
e teórica do porquê do uso de raça junto à etnia (“raça/etnia”) foi Silveira (2013, p. 55), concluindo: “Assim sendo,
pode-se dizer que etnia tem mais a ver com a construção das identidades e raça com a instalação das relações de
dominação”. Em outra perspectiva, Smolen (2016) argumenta que o termo “cor da pele” junto à “raça” é
necessário pois a categorização racial ocorre com base na cor da pele. Concordo com Silveira (2013) quando
afirma que é de sumária importância não ignorar as diferenças conceituais entre os termos, inclusive por motivos
políticos. Entretanto, a decisão foi considerar os três termos agrupados no mesmo conjunto pois, de acordo com
seus respectivos usos nos estudos em questão, os percebemos como intimamente relacionados. 15 Souza (2015); Farias (2017). 16 Alguns nomes das pioneiras no cenário estadunidense: Audre Lorde (1934 – 1992), Angela Davis (1944 –) e
bell hooks (1952 –). No contexto brasileiro: Lélia Gonzalez (1935 – 1994) e Sueli Carneiro (1950 –).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
13 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
FIGURA 1
Representação quantitativa da intersecção entre os marcadores mais citados
FONTE – O AUTOR
A representação gráfica acima demonstra, em termos quantitativos, quantas vezes cada
marcador se articula aos demais, considerando os três mais citados. Podemos visualizar que
dos 25 trabalhos que tratam de gênero, 23 interseccionam-se com raça, etnia ou cor da pele e
15 com classe. Também é possível observar que todos os estudos que consideram classe como
um marcador o articulam a gênero e a raça, etnia ou cor da pele. Esta articulação majoritária
entre gênero e raça reflete o que foi mencionado anteriormente sobre a herança do feminismo
negro em considerar estes dois marcadores sociais como centrais em suas questões de
mobilização política e teórica. É importante mencionar que o marcador de classe é relevante
aos estudos interseccionais por funcionar como um pano de fundo histórico que contextualiza
os embates entre diferentes agentes no sistema capitalista. Como argumento da relevância da
categoria, cabe resgatar um trecho da obra de Angela Davis intitulada Mulheres, raça e classe,
quando ela descreve as relações institucionalizadas na época do sufrágio no início do século
XX:
[...] o inimigo real – o inimigo comum – era o patrão, o capitalista ou quem quer que
fosse responsável pelos salários miseráveis, pelas insuportáveis condições de trabalho
e pela discriminação racista e sexista no trabalho. [...] O sufrágio feminino poderia
servir como uma arma poderosa na luta de classes. [...] As mulheres da classe
trabalhadora reivindicavam o direito ao sufrágio como um braço para ajuda-las na
luta de classes em andamento (DAVIS, 2016, p. 148).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
14 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
Um maior interesse pela incorporação do marcador de classe poderia ser um potente
operador analítico para contextualizar o lugar dos sujeitos na lógica produtiva capitalista,
ajudando no desvelamento de desigualdades17. Cabe ainda verificar quais autoras e autores
mais foram apropriados para tratar do conceito de interseccionalidade:
GRÁFICO 6
Autoras mais citadas
FONTE – O AUTOR
Um fator interessante ao olhar para as três autoras mais citadas é as suas origens: Estados
Unidos, Índia e Brasil, respectivamente. Este fator indica que o conceito de interseccionalidade,
embora tenha sido cunhado por Crenshaw nos Estados Unidos, foi capaz de alçar voo para
vários lugares do globo, demarcando a sua internacionalização. Dou destaque à presença da
autora brasileira Adriana Piscitelli, que contribuiu imensamente ao pensamento interseccional
brasileiro através do seu texto Interseccionalidade, categorias de articulação e experiências
de migrantes brasileiras (PISCITELLI, 2008). É um texto muito utilizado por seu caráter
didático para apresentar as duas principais correntes de pesquisa na perspectiva da
interseccionalidade: o modelo mais sistêmico de Crenshaw e o construcionista de Brah.
17 No contexto dos estudos sobre recepção midiática, a classe é um marcador bastante presente nas teses e
dissertações. Contudo, seu uso acaba funcionando mais como um demarcador sociodemográfico do que como
uma categoria para analisar conflitos e contradições atravessadas pela questão de classe (JACKS; SIFUENTES;
LIBARDI, 2017).
2
2
2
2
2
2
2
2
3
3
3
10
10
18
Geise Pinto
Cristiano Rodrigues
Sueli Carneiro
Ann Phoenix
Cláudia Mayorga
Lélia Gonzalez
bell hooks
María Lugones
Heleieth Saffioti
Patrícia Hill Collins
Patrícia Mattos
Adriana Piscitelli
Avtar Brah
Kimberlé Crenshaw
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
15 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
Este é o panorama geral dos estudos de interseccionalidade no Brasil entre 2008 e 2018.
No capítulo seguinte, é apresentado um debate específico sobre os trabalhos que se interessam
em articular este conceito para analisar um objeto empírico comunicacional.
4. Pesquisas sobre objetos comunicacionais: um encontro ainda tímido com a
interseccionalidade
Dos 26 trabalhos que compõem o corpus geral, somente quatro endereçam a discussão
sobre interseccionalidade para investigar um fenômeno comunicacional, todas dissertações.
Por se tratar de um corpus menor, exploro com mais detalhes os procedimentos e conclusões
de cada pesquisa18, dando maior enfoque aos usos do conceito de interseccionalidade. As
dissertações são:
TABELA 2
Parte do corpus com objetos comunicacionais
Título Autoria Universidade PPG Ano
Think Olga: interseccionalidade, comunicação
midiática no facebook e a apropriação da
identificação de gênero no sujeito do feminismo
Bezerra, Mariana
Lemos de Morais UFRN
PPG em
Estudos da
Mídia
2018
Transição capilar: cabelos, consumo e
interseccionalidade no ciberespaço
Matos, Lídia de
Oliveira UFS
PPG em
Antropologia 2017
Luz, câmera, limpando: interseccionalidades e
representações sociais em Domésticas, o filme
(2001) e Doméstica (2012)
Bernardino,
Jéssyca Lorena
Alves
UnB PPG em
História 2016
A construção social da “saúde reprodutiva” no
Brasil. Um olhar na perspectiva da
interseccionalidade de gênero e raça
Duarte, Heloísa
Helena da Silva Unisinos
PPG em Saúde
Coletiva 2012
FONTE – O AUTOR
O estudo de Bezerra (2018), intitulado Think Olga: interseccionalidade, comunicação
midiática no facebook e a apropriação da identificação de gênero no sujeito do feminismo, é
o único que se vincula ao paradigma dos Estudos Culturais, desbravando a Teoria Feminista a
18 A decomposição dos trabalhos foi feita com base no protocolo de fichamento elaborado por Nilda Jacks com
o apoio de integrantes do Núcleo de Pesquisa Cultura e Recepção Midiática (PPGCOM-UFRGS), disponível em
Meios e Audiências II (JACKS, 2014).
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
16 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
partir desta perspectiva. Tem como objetivo “analisar se os conteúdos presentes na fanpage do
Facebook da Think Olga propagam o conceito de identificação de gênero defendido pelo
feminismo interseccional” (p. 43). Em sua dissertação, a autora se propõe a pensar a categoria
“mulher” a partir da articulação com os marcadores de raça, classe e gênero. Para analisar os
dados, a autora coloca a análise de conteúdo de Bardin em diálogo com Brah e sua perspectiva
construcionista da interseccionalidade. Para compreender de que forma os múltiplos
marcadores eram tratados no conteúdo, a autora analisou dez postagens evidenciando, entre
outros elementos, o que ela denominou de “expressões interseccionais”, ilustrado estas
intersecções em ilustrações gráficas. O critério para a escolha dos marcadores com os quais
trabalhou é que “as categorias escolhidas são eixos estruturantes na matriz de desigualdade e
diferenças no Brasil, que, por sua vez, se encontra na permanência e reprodução das situações
de pobreza e exclusão social” (p. 55). Bezerra conclui que “os sentidos de identidades
prioritários acionados pela Olga possuem relação direta com o feminismo interseccional
construcionista, por dar voz e visibilidade a uma pluralidade de mulheres através das
publicações realizadas em sua fanpage no Facebook” (2018, p. 178).
Matos (2017), em sua pesquisa de Mestrado chamada Transição capilar: cabelos,
consumo e interseccionalidade no ciberespaço, exibe uma vinculação paradigmática próxima
ao Feminismo, embora não deixe isso explícito no texto. Tem como proposta realizar uma
“análise dos sentidos atribuídos à transição capilar e aos cabelos crespos/cacheados partindo
dos conteúdos produzidos por mulheres e postados na internet” (p. 19), verificando quais
termos mais circulam em vídeos dos canais do YouTube Rayza e Mari Morena. Para tanto, a
autora se propõe a realizar uma “etnografia no ciberespaço” (p. 12), porém dando ênfase aos
dois canais citados. Entre seus resultados, Matos salienta que foi percebido um movimento de
busca pela autonomia da mulher negra através dos usos conferidos ao seu cabelo.
A dissertação de Bernardino (2016), Luz, câmera, limpando: interseccionalidades e
representações sociais em Domésticas, o filme (2001) e Doméstica (2012), não apresenta um
paradigma teórico ao qual se vincula. Tem como objetivo “[...] analisar as representações das
trabalhadoras domésticas nas películas Domésticas, o filme de Fernando Meirelles e Nando
Olival, de 2001 e Doméstica, de Gabriel Mascaro, de 2012” (p. 10). Para a leitura fílmica,
apoia-se na proposta metodológica da Análise de Discurso de Orlandi. A interseccionalidade
entra em cena inscrita em uma discussão sobre feminismo e cinema. Bernardino justifica a
relevância do termo para o seu estudo a partir do corpo que as domésticas encarnam nos filmes.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
17 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
“Aqui reside um aspecto fundamental para a presente pesquisa: trabalhar a interseccionalidade
entre gênero, raça e classe nos filmes selecionados, já que as domésticas são majoritariamente
negras e pobres” (p. 19). A autora ainda dedica à interseccionalidade uma indagação específica:
“como as reflexões interseccionais entre gênero, raça e classe social aprofundariam a
historicização das representações sociais das domésticas nas películas?” (p. 118). Bernardino
conclui que:
Ambos filmes são exceções no quadro geral da história do cinema nacional ao
trazerem como protagonistas uma categoria que geralmente não é o centro das tramas.
Contudo, o fato de serem produções masculinas, brancas e de classe média alta
apresentam as domésticas submissas aos olhares dos diretores. Analogicamente, as
domésticas foram representadas pelos olhos dos patrões, por isso, em termos de
conquista de representatividade, os filmes não construíram rupturas às convenções
hegemônicas de representações. Domésticas, o filme (2001) e Doméstica (2012) são,
assim, representações do imaginário social dominante sobre o trabalho doméstico e
trabalhadoras domésticas.
Em sua dissertação A construção social da “saúde reprodutiva” no Brasil. Um olhar na
perspectiva da interseccionalidade de gênero e raça, Duarte (2012) também não apresenta um
referencial amparado por uma perspectiva teórica específica para guiar suas discussões.
Propõe-se a “[...] analisar a produção contemporânea de discursos sociais em torno da ‘saúde
reprodutiva’ no Brasil” (p. 52). Para isso, a autora utiliza como ferramenta a análise do discurso
e, como corpus, os discursos veiculados na mídia online sobre “saúde reprodutiva”. A
interseccionalidade é útil para a autora pois o seu conceito ajuda no desenvolvimento de uma
perspectiva crítica das condições da mulher negra no quadro da saúde reprodutiva: “Nesse
sentido, a interseccionalidade permite-nos analisar a produção de discursos sociais em torno
da saúde reprodutiva como fenômeno social complexo que diz respeito às relações de poder e
aos jogos de forças sociais em determinados contextos” (DUARTE, 2012, p. 61). Entre seus
achados, a autora considera que as mulheres negras não são plenamente contempladas tendo
em vista um passado de políticas eugênicas e seus reflexos nas políticas atuais.
Este corpus trata a respeito de quatro dissertações que se distinguem em relação à
natureza dos dados analisados de duas formas. Uma delas por tratarem de discursos produzidos
por receptores. São estudos que se interessam pelo conteúdo produzido por pessoas
desvinculadas das lógicas de produção da mídia hegemônica. Entre elas, o de Bezerra (2018)
e o de Matos (2017). Ambas as autoras estão interessadas em articular a interseccionalidade
para analisar elementos produzidos por agentes de fora das lógicas de produção do sistema de
mídia comercial convencional. A respeito desse fenômeno, é importante pensar a
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
18 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
interseccionalidade no contexto contemporâneo de usos criativos da Internet por parte dos
usuários, alimentando o debate sobre o “empoderamento” da audiência. Em outro polo, há os
estudos de Bernardino (2016) e o de Duarte (2012), interessadas nos discursos elaborados nas
lógicas de produção da gramática dos meios de comunicação tradicionais: cinema e revista.
Em última instância de análise, interessa reconstituir o percurso teórico das autoras a fim
de observar as formas com que o conceito de interseccionalidade é apropriado. Para isso, foi
realizada a leitura de seus capítulos teóricos sobre o tema.
Na pesquisa de Bezerra (2018), a autora dedica dois capítulos ao tratamento conceitual e
histórico do tema “interseccionalidade”. No primeiro deles, é desenvolvida uma genealogia
crítica do seu conceito, salientando, de início, para o fato de que muito do que há publicado
hoje sobre o assunto provém dos EUA ou Europa. Em seguida, adentra no conceito
propriamente dito desde Kimberlé Crenshaw, mas também resgatando antecessoras que já
propunham um pensamento interseccional, só que sem dar este referido nome. Bezerra (2018)
recorre à Adriana Piscitelli para abordar o caráter sistêmico – vinculado à Crenshaw – e o
construcionista – vinculado à Avtar Brah e à Anne McClintock – da interseccionalidade. Por
fim, a autora se posiciona, vinculando-se à abordagem construcionista, “já que [esta
abordagem] destaca especialmente os aspectos dinâmicos e relacionais da identidade social”
(BEZERRA, 2018, p. 47). A preocupação com a questão da identidade está como pano de
fundo na problemática da interseccionalidade em sua pesquisa. Por isso, articula discussões
entre estes dois conceitos em um outro capítulo teórico. Preocupada com a racialização do
gênero e suas implicações para construções da identidade, realiza um extenso debate junto a
autoras feministas negras sobre pensamento diaspórico, translocal e pós-colonial. Alguns dos
nomes citados são Lélia Gonzalez e Sonia Alvarez. Bezerra realiza este percurso para
argumentar que a interseccionalidade, em sua abordagem construcionista, seria uma alternativa
para pensarmos sobre a conformação de identidades não-fixas, marcadas em sujeitos que,
apesar das identidades coletivas, vivem processos de individualização.
Em Matos (2017), não há capítulo específico para destrinchar o conceito de
interseccionalidade. Ela o apresenta brevemente em dois subcapítulos. Primeiramente, o termo
aparece inserido dentro de uma discussão sobre aspectos históricos e teóricos do feminismo,
junto a uma conceituação de gênero através de John Scott: “[a] autora conclui que, a intersecção
entre raça, classe e gênero como categorias analíticas que ‘reformariam’ essa forma de narrar
a história, composta pela fala dos oprimidos e as desigualdades de poder, levaria a uma
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
19 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
mudança radical [...]” (MATOS, 2017, p. 73). A segunda vez em que há um esforço de teorizar
sobre interseccionalidade surge no subcapítulo subsequente, que trata sobre raça e racismos. A
autora se apoia em María Lugones, afirmando que a relação entre colonizado e colonizador é
atravessada por marcadores sociais da diferença; e em Lélia Gonzalez para dizer que o
pensamento interseccional é relevante para se debater raça.
No estudo de Bernardino (2016), o debate sobre interseccionalidade é apresentado na
introdução e inscrito no subcapítulo sobre feminismo e cinema. Neste, é apresentado o que é
gênero e, em seguida, o conceito de interseccionalidade. Ele surge introdutoriamente a partir
de Guacira Lopes Louro que atesta para a necessidade de estarmos atentos às várias diferenças
que habitam o interior da categoria “gênero”. A autora reforça este conceito a partir do texto
clássico de Kimberlé Crenshaw. Em seguida, visibiliza mulheres negras que também tratam do
assunto “interseccionalidade”, mesmo sem se referir a este nome especificamente em seus
estudos, como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro.
Em sua dissertação, Duarte (2012) realiza um preâmbulo sobre interseccionalidade em
um capítulo sobre a construção social da saúde reprodutiva. Destaca a invisibilização das
mulheres negras nestas políticas e coloca em pauta as formas com que o movimento do
feminismo negro vem tentando alterar esse cenário, tornando-o mais inclusivo. É com base
nesse contexto que a autora apresenta o termo “interseccionalidade” no capítulo seguinte, cujo
foco é explicar o seu conceito. Amparada por Crenshaw e Kia Caldwell, resume que “[e]sta
abordagem permite um entendimento dos problemas sociais capturando as consequências
estruturais e dinâmicas das interseccções complexas entre dois ou mais eixos de opressão que
se entrecruzam e potencializam” (BERNARDINO, 2012, p. 57). Como a autora está
preocupada com questões voltadas à área da saúde, dá ênfase ao olhar interseccional articulado
pelas feministas negras, que apontam a uma outra dimensão: “a da biopolítica baseada nas
desigualdades de raça e classe” (BERNARDINO, 2012, p. 59). Para se debruçar sobre esta
questão, faz referência principalmente à Sueli Carneiro.
Destes quatro trabalhos que têm a mídia como objeto empírico, considero que somente
o de Bezerra (2018) podemos definir como, de fato, um estudo interseccional. A autora, ao se
propor analisar as “expressões interseccionais” que surgem nos conteúdos da página da Think
Olga, usa o conceito como uma ferramenta teórico-metodológica. Ou seja, para além de
desbravar as diversas facetas conceituais de interseccionalidade e posicionar-se filiada a uma
específica (a construcionista), a autora demonstra em tabelas e imagens a operacionalização do
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
20 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
seu uso. Ao longo do estudo, a interseccionalidade é abordada coerentemente desde as suas
decisões teóricas às análises, vinculando-se aos Estudos Culturais e tratando a Teoria Feminista
desde esse campo de estudos. Os estudos de Matos (2017), Bernardino (2016) e Duarte (2012)
parecem não articular o conceito de interseccionalidade de forma abrangente ao longo do
estudo. Fornecem descrições sucintas do conceito, sem recorrer a importantes intelectuais do
campo. Na maioria dos casos, as autoras a trataram mais como um referencial teórico para dizer
que a articulação entre gênero, raça e classe é importante para desvelar as opressões e analisar
eixos de poder; do que como uma ferramenta analítica operacionalizada junto aos dados. Como
consequência, os achados em relação aos objetos de análise à luz do conceito acabaram sendo
uma redundância de sua própria definição.
Como ponto semelhante entre todos os trabalhos, destaco o positivo reconhecimento que
todos as suas autoras deram ao feminismo negro como movimento político-teórico que
desenvolveu as primeiras discussões em torno do que seria chamado de “interseccionalidade”
por mulheres de outras gerações.
Considerações finais
Ao longo do artigo busquei apresentar um panorama geral do estado da arte das teses e
dissertações sobre interseccionalidade no Brasil produzidas entre 2008 e 2018. Em linhas
gerais, dou destaque à evolução quantitativa dos estudos que se dedicam ao tema enquanto
objeto teórico central. Esses trabalhos são produzidos, majoritariamente, nas regiões Nordeste
e Sul e vinculados a PPGs da área da Psicologia, seguido por Ciências Sociais e Educação. Os
marcadores sociais mais articulados são gênero e raça e a autora mais citada para explicar o
conceito de interseccionalidade é Kimberlé Crenshaw. O guarda-chuva teórico do feminismo
negro foi apropriado pela maior parte dos estudos, fosse para contextualizar o objeto de
pesquisa ou para articular teoricamente a questão da interseccionalidade, incluindo outras
autoras do movimento. Dessa forma, o conceito de interseccionalidade surge nos trabalhos
permeada por uma potência política.
No entanto, essa potencialidade foi pouco explorada nos trabalhos dedicados a objetos
comunicacionais. Foi encontrado somente uma dissertação dedicada à perspectiva
interseccional produzida por um PPG do campo da Comunicação. Outros três estudos também
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
21 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
tratam de objetos comunicacionais, porém foram produzidos em PPGs de outras áreas19. Além
do baixo número de estudos tratando de comunicação, verifico que os mesmos, em sua maioria,
são rasos ao abordarem a interseccionalidade de um ponto de vista epistemológico, ou seja,
permeando toda a pesquisa, à exceção do estudo de Bezerra (2018). A presença hegemônica
de Crenshaw sem propor um diálogo com outras autoras que já avançaram teórica e
metodologicamente para tratar a interseccionalidade demonstra pouca imersão no objeto
teórico. Apesar disso, é relevante destacar que o esforço de autores e autoras em tratar da
interseccionalidade, mesmo que às vezes de modo limitado, demonstra o interesse pelo seu
potencial teórico e político na pesquisa.
Por fim, defendo que a perspectiva da interseccionalidade possui vasta potência
epistemológica e política aos estudos sobre objetos comunicacionais – e sobretudo ao campo
da comunicação. Douglas Kellner sumariza que os estudos de mídia podem ser divididos em
três grandes áreas: economia política, análise textual e estudos de audiência. Para cada uma
destas áreas, a interseccionalidade é um terreno fértil. Para a economia política, olhar a
sociedade – que por sua vez é marcada por categorias de classe, gênero, raça, etc. – em uma
lente interseccional proporciona uma outra forma para compreender os modos com que os
interesses pelo lucro afetam o modo como os discursos midiáticos são produzidos. As análises
textuais podem enriquecer o entendimento dos códigos hegemônicos uma vez que estes
sugerem convenções dos modos de ser e estar no mundo através de representações na mídia.
Finalmente, os estudos de audiência, por se dirigirem a pessoas e seus discursos sobre a mídia,
pode apropriar-se da perspectiva interseccional na tentativa de acessar os modos com que os
marcadores atravessam as experiências de recepção. Ainda, o desenvolvimento de uma
perspectiva interseccional dos marcadores sociais no campo da Comunicação poderia,
certamente, atualizar proposições políticas que pesquisadores e pesquisadoras de outras
gerações deixaram como legado.
Referências
ALMALEH, Priscilla. Ser mulher: cotidianos, representações e interseccionalidade da mulher popular
(Porto Alegre 1889 – 1900). Dissertação (Mestrado em História) – Unisinos, 2018.
ALMEIDA, Heloísa Buarque de; SIMÕES, Júlio Assis; MOUTINHO, Laura; SCHWARTZ, Lília Moritz.
Numas, 10 anos: um exercício de memória coletiva. In: SAGGESE, Gustavo Santa Roza [et al.] (orgs.).
19 O que, aliás, demonstra a capacidade de trânsito dos objetos da comunicação em outros campos.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
22 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
Marcadores sociais da diferença: gênero, sexualidade, raça e classe em perspectiva antropológica. São
Paulo: Terceiro Nome, 2018.
ALVES, Enedina do Amparo. Rés negras, judiciário branco: uma análise da interseccionalidade de gênero,
raça e classe na produção da punição em uma prisão paulistana. Dissertação (Mestrado em Ciências
Sociais) – PUC-SP, 2015.
ARCOVERDE, Mariana Torreão Brito. A defesa transnacional dos direitos humanos das mulheres
latinoamericanas por redes feministas regionais: um estudo à luz da interseccionalidade. Dissertação
(Mestrado em Direitos Humanos) – UFPE, 2017.
BERNARDINO, Jéssyca Lorena Alves. Luz, câmera, limpando: interseccionalidades e representações
sociais em Domésticas, o filme (2001) e Doméstica (2012). Dissertação (Mestrado em História) – UnB, 2016.
BEZERRA, Mariana Lemos de Morais. Think Olga: interseccionalidade, comunicação midiática no
facebook e a apropriação da identificação de gênero no sujeito do feminismo. Dissertação (Mestrado em
Estudos de Mídia) – UFRN, 2018.
BORGES, Rovênia Amorim. A interseccionalidade de gênero, raça e classe no Programa Ciência sem
Fronteiras: um estudo sobre estudantes brasileiros com destino aos EUA. Dissertação (Mestrado em
Educação) – UnB, 2015.
BOURDIEU, Pierre. Para uma sociologia da ciência. Lisboa: Edições 70, 2004.
BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. In: Cadernos Pagu (26), jan-jun, 2006.
BUZAR, Francisco José Roma. Interseccionalidade entre raça e surdez : a situação de surdos (as) negros
(as) em São Luís – MA. Dissertação (Mestrado em Educação) – UnB, 2012.
CAPES. Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2011 – 2020. Disponível em:
https://www.capes.gov.br/images/stories/download/PNPG_Miolo_V2.pdf. Acesso em 8 fev. 2019
CARVALHO, Layla Danele Pedreira de. Da esterilização ao Zika: interseccionalidade e transnacionalismo
nas políticas de saúde para as mulheres. Tese (Doutorado em Ciência Política) – USP, 2017.
CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial
relativos ao gênero. In: Revista Estudos Feministas. vol.10 no.1 Florianópolis. Jan. 2002
D’ÁVILA, Michele Nunes. Mulheres da paz: histórias de vida, interseccionalidades e processos de
subjetivação. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social e Institucional) – UFRGS, 2016.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
DUARTE, Heloísa Helena da Silva. A construção social da “saúde reprodutiva” no Brasil. Um olhar na
perspectiva da interseccionalidade de gênero e raça. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Unisinos,
2012.
FARIAS, Adenize Queiroz de. Trajetórias educacionais de mulheres: uma leitura interseccional da
deficiência. Tese (Doutorado em Educação) – UFPB, 2017.
FERREIRA, Guilherme Gomes. Donas de rua, vidas lixadas: interseccionalidades e marcadores sociais nas
experiências de travestis com o crime e o castigo. Tese (Doutorado em Serviço Social) – PUCRS,
2018.GOMES, Vanessa Benevides Martins. Juventude e projeto de vida: um estudo interseccional dos
modos de subjetivação de universitários/as de origem popular. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –
UFPE, 2016.
GILL, Rosalind. Gender and the media. Cambridge: Polity Press, 2007.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
23 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
HALL, Stuart. The White of their eyes: racista ideologies and the media. In: DINES, Gail; HUMEZ, Jean M
(eds.) Gender, race, and class in media: a critical reader. London: Sage Publications, 2015.
JOHN, Valquíria Michela; COSTA, Felipe da. Mulheres, identidade de gênero e sexualidade: problemáticas e
desafios a partir do recorte por sexo. In: JACKS, Nilda (org.). Meios e Audiências II: a consolidação dos
estudos de recepção no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2014.
JACKS, Nilda. Reflexividade à vista! (Prefácio). In: MATTOS, Maria Ângela; BARROS, Ellen Joyce Marques;
OLIVEIRA, Max Emiliano. Metapesquisa em comunicação: o interacional e seu capital teórico nos textos
da Compós. Porto Alegre: Editora Sulina, 2018.
JACKS, Nilda; SIFUENTE, Lirian; LIBARDI, Guilherme. Classe social: elemento estrutural (des)considerado
nas pesquisas de recepção e consumo midiático. In: Meios e Audiências III. Porto Alegre: Sulina, 2017.
KELLNER, Douglas. Cultural Studies, multiculturalism, and media culture. In: DINES, Gail; HUMEZ, Jean M
(eds.) Gender, race, and class in media: a critical reader. London: Sage Publications, 2015.
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa em comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
LUNA, Sergio Vasconcelos. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1999.
MACÊDO, Márcia dos Santos. Na trama das interseccionalidade: mulheres chefes de família em Salvador.
Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – UFBA, 2008.
MATOS, Lídia de Oliveira. Transição capilar: cabelos, consumo e interseccionalidade no ciberespaço.
Dissertação (Mestrado em Antropologia) – UFS, 2017.
MORLEY, David. Media. In: BENNET, Tony; GROSSBERG, Lawrence; MORRIS, Meaghan. New
keywords: a revised vocabulary of culture and society. Malden: Blackwell Publishing, 2005.
NASCIMENTO-GOMES, Fernanda Sardelich. Juventude, sexualidade e relações afetivo-sexuais: uma
análise interseccional de jovens rurais e urbanos/as. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – UFPE, 2016.
PEREIRA, Edilene Machado. A vivência de mulheres em cargos em cargos executivos em grandes
empresas: uma análise interseccional das desigualdades de gênero e de Raça. Tese (Doutorado
PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras.
In: Sociedade e Cultura, v.11 n.2 jul/dez 2008.
SANTOS, Marcela Ernesto dos. Resistindo à tempestade: a interseccionalidade de opressões nas obras de
Carolina Maria e Maya Angelou. Tese (Doutorado em Letras) – UNESP, 2014.
SILVA, Roseane Amorim da. Os significados do uso de álcool entre os/as jovens quilombolas de
Garanhuns/PE: uma perspectiva interseccional. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – UFPE, 2014.
SILVA, Samira do Prado. As interseccionalidades entre gênero, raça/etnia, classe e geração nos livros
didáticos de sociologia. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – UEL, 2016.
SILVEIRA, Raquel da Silva. Interseccionalidade gênero/raça e etnia e a Lei Maria da Penha : discursos
jurídicos brasileiros e espanhóis e a produção de subjetividade. Tese (Doutorado em Psicologia
Institucional) – UFRGS, 2013.
SMOLEN, Jenny Rose. Raça/cor da pele, gênero e Transtornos Mentais Comuns na perspectiva da
interseccionalidade. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – UEFS, 2016.
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019
24 www.compos.org.br
www.compos.org.br/anais_encontros.php
SOARES, Lissandra Vieira. Escrevivências sobre mulheres negras acompanhadas pela Proteção Social
Básica: uma perspectiva interseccional. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social e Institucional) –
UFRGS, 2017.
SOUZA, Leyllyanne Bezerra de. “Quando não tem bebida, morga logo!”: um estudo interseccional sobre
juventude e consumo de álcool. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – UFPE, 2015.
STUMPF, Ida Regina C. Pesquisa bibliográfica. In: DUARTE, J.; BARROS, A. (orgs.). Métodos e técnicas de
pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2006.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade. Petrópolis: Vozes, 2014.
TOLEDO, Angelita Alves de. Mulheres negras soropositivas e as interseccionalidades entre gênero, classe e
raça/etnia. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – UFSC, 2012.
TOMAZETTI, Tainan Pauli; CORUJA, Paula. Relações de gênero: os desafios para além das binariedades,
identidades e representações. In: JACKS, Nilda (coord.). Meios e Audiências III: reconfigurações dos estudos
de recepção e consumo midiático no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2017.
XAVIER, Eliana Costa. “Tá dentro, não tá fora”: subjetividade, interseccionalidade e experiências de
adoecimento de mulheres negras com doença falciforme. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – PUCRS,
2015.
WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu
da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.