palestra 70 anos embarque feb versÃo cephimex

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PALESTRA INICIAL 70 ANOS EMBRAQUE DA FEB

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UMA ABORDAGEM DA PESQUISA HISTRICA MILITAR: O QUE LEVOU A FEB PARA A ITLIA.Os nmeros relativos ao aumento dos crimes de estupro no Brasil, e tambm no mundo, so alarmantes, chocantes, mas isso apenas uma parte desta triste e vergonhosa realidade. Embora seu nome e descrio no figurem nas estatsticas oficiais, aquela que recordista em quantidade e barbarismo, aquela que mais abusada e seviciada, o por nossos atos falhos e omisses: Clio, ou Kleio (a Proclamadora), a musa da Histria.

Todo e qualquer historiador e pesquisador deve ter em mente a certeza de que fatos so fatos, a verdade histrica cada um constri a sua a partir das verses e das adequaes que d ao seu objeto de estudo, quilo que se propem a divulgar. Vivi essa experincia como estudante universitrio, na primeira metade da dcada de 1980, na turbulncia acadmica da passagem do Regime Militar para a Nova Repblica, no perodo da abertura democrtica de Geisel e Figueiredo.

Alguns dos grandes aprendizados daquele perodo, convivendo com Professores e colegas dos mais diferentes e diametralmente plos opostos, podem ser resumidos em duas frases do grande Millr Fernandes. Democracia quando eu mando em voc, ditadura quando voc manda em mim, coisa que eu julgava um ultraje, quase que uma blasfmia, mas que quando me dei conta do policiamento ideolgico do politicamente correto e das mazelas do revisionismo placebo e sem as necessrias fundamentaes cientficas, vi que aquilo que se rotulava de progresso e de libertao nada mais era do que retrocesso e grilhes, uma tentativa de justificativa pseudo-acadmica para uma vendeta a muito acalentada. Outra a que afirma que O comunismo uma espcie de alfaiate que quando a roupa no fica boa faz alteraes no cliente, completando a frase e as ilaes anteriores, pois tentar transformar o Historiador em arengador poltico e criar uma Histria Utpica, travestida e degenerada, para atender aos interesses ideolgicos de um sistema de partido nico a pior das perverses e dos rebaixamentos a que qualquer um que queira ser um pesquisador minimamente srio pode se submeter.

Por exemplo, lembro-me como se fosse hoje dos debates acalorados acerca da tese que defendida a efetiva e decisiva participao de submarinos norte-americanos no torpedeamento de navios brasileiros para forar a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, era o assunto da moda e todos que quisessem ser considerados safos, crebros ou progressistas tinham de simplesmente concordar sem questionamentos com tal teoria, a qual sempre careceu de dois pilares elementares dos estudos histricos: fontes (documentao) e fatos concretos para uma argumentao minimamente cientfica tese, anttese e sntese. O mais comum era ouvir dizer eu acho que..., eu ouvi dizer que ..., fulano acha ou disse que ..., e o bom disso era que a minoria que contestou, que se insurgiu contra tal dogma modernista teve que se fundamentar com larga pesquisa e extrema competncia na sua contra-argumentao, elaborando referenciais qualificados, pois os que no tem como se defender de forma competente e devidamente fundamentada grita, acusa e aponta seus detratores, j que lhes falta argumentao e fundamentao para um debate civilizado.

Absolutamente no se devem descartar quaisquer possibilidades histricas, por mais absurdas e descabidas que se mostrem a princpio, uma vez que nosso ofcio de conferir a credibilidade das fontes, de instigar o debate, de aprender com opinies e posies opostas, de entender que a nossa falibilidade a nossa maior virtude e o nosso natural ponto de equilbrio. Ningum dono da verdade, documentos podem ser forjados, fatos de uma nica fonte so temerrios, verses conflitantes devem ser mediadas, enfim devemos estar sempre abertos a revisitar nossas convices, quer seja para fortalec-las, quer seja para revis-las.

Existe uma frase que diz que A mente humana como pra-quedas: funciona melhor aberta, de Charles Chaplin, e muito usada pelo personagem Charlie Chan criado por Earl Derr Biggers em 1923 para um romance publicado em 1925, sendo que As Aventuras de Charlie Chan (The Amazing Chan and the Chan Clan), um desenho com produo Hanna-Barbera, que estreou em 1972 e teve 16 episdios , e por isso que acredito firmemente que o verdadeiro Historiador jamais ter sucesso como doutrinador, pois a verdade dos fatos apartidria e no admite molduras ou roupagens ideolgicas. A pesquisa um desafio de se reinventar a cada dia, mas sobre bases slidas, de no temer descobrir erros e falhas nas suas convices e opinies, mas sim de compreender que, conforme afirmava So Toms de Aquino, Temo o homem de um livro s. Ainda aproveitando a demonizada figura de So Tomas de Aquino, por aqueles que imputam ao pensamento teolgico uma viso errtica de esterilidade, h uma citao sua que repito exausto: D-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, mtodo e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graa e abundncia para falar. D-me, Senhor, acerto ao comear, direo ao progredir e perfeio ao concluir; traduzindo para uma linguagem mais coloquial, isso dialtica pura que juntamente com a Gramtica e a Retrica formavam o Trivium medieval.

O que sempre me apaixonou na Histria Militar que ela escrita por pessoas que se dedicam a conservao da memria tanto das instituies como dos seus quadros, no tentando reescrev-la de acordo com o contexto sciopoltico ou cultural e civilizatrio, mas sim focando seus esforos na busca pelas suas razes e sobre a verdade dos fatos, mesmo que tenham que ferir sua prpria carne, pois buscam identidade e no afirmao ou satisfao. tpico da mentalidade aguerrida estar sempre pronta a se confrontar com o impondervel, a enfrentar seus fantasmas, a revisitar seus medos e erros, como ensinado por Sun Tzu, em A Arte da Guerra: Se voc conhece o inimigo e conhece a si mesmo, no precisa temer o resultado de cem batalhas. Se voc se conhece, mas no conhece o inimigo, para cada vitria ganha sofrer tambm uma derrota. Se voc no conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perder todas as batalhas.

Ainda dentro desta mentalidade prtica de buscar se conhecer, e se confrontar, atravs da viso do outro, tambm lhe pertinente uma das mximas de Voltaire: Posso no concordar com nenhuma das palavras que voc disser, mas defenderei at a morte o direito de voc diz-las. Espera a, auto l, militar pensa e age assim? Por mais estranho que possa parecer, pois nos ensinaram que os militares so trogloditas, dotados apenas de instintos blicos e de terem uma postura autoritria e antidemocrtica, assim que a pesquisa em Histria Militar normalmente encarada e realizada, logicamente que a nossa falibilidade humana provoca episdicos desvios de conduta de pseudo-estudiosos, pois quem forjado pelos princpios da disciplina e da hierarquia e pelos ditames da retido de conduta e de responsabilidade com a instituio e com a nao no age diferente.

Para melhor poder conduzir a temtica, e para no ficar enfadonha ou grande demais, me isento de tentar descrever os 70 anos do embarque da FEB para os campos de batalha da Itlia, j que outras pessoas mais competentes o faro, mas sim traar uma viso do Brasil e do mundo que nos levaram Segunda Guerra Mundial. So trs enfoques: poltica e economia; a dana das relaes internacionais; e que brasileiros (Febianos) foram para a guerra.CONTEXTO POLTICO E ECONMICOA dcada de 1930 um perodo de importantes transformaes e ajustes no cenrio geopoltico e geoestratgico brasileiro, entendimento pacfico dentro das correntes historiogrficas, porm sua anlise fica incompleta sem que sejam apreciadas algumas nuances e ingerncias que ocorrem a partir da metade dos anos 1920, e mesmo desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Erro bastante comum buscar compreender as mudanas do primeiro perodo Vargas (1930-1945) dentro de, apenas, duas perspectivas mais imediatas: os efeitos da Crise de 1929 e da Grande Depresso at meados dos anos trinta; e da disputa poltico-ideolgica entre o comunismo e o nazifascismo.

Esse tipo de reducionismo na pesquisa histrica desconsidera toda uma fenomenologia, demonstrando uma atitude de reflexo do fenmeno que se mostra para ns, na relao que estabelecemos com os outros, no mundo, e, neste caso, calcada na escolha, no seletiva, daquilo que se pretende expor e pormenorizar. Antes de tudo, e indo contra a corrente de uma viso desdenhosa da importncia do Brasil no cenrio mundial ps-Primeira Guerra Mundial, h que se destacar, conforme exposto por Rodrigues e Mialhe (2003, p. 3), o Brasil fez parte do Conselho da Liga como membro no permanente desde a sua criao,presidindo vrias vezes suas reunies, e teve destaque nos principais assuntos tratados em seu mbito: a) o Tratado de Assistncia Mtua, elaborado por Domcio da Gama; b) a Questo das Minorias,surgida principalmente pelo esfacelamento do Imprio Austro-hngaro, que tinha em Afrnio de Melo Franco um especialista; c) a reforma do Conselho da Liga das Naes. Interessante notar (ibidem) o papel de relevo exercido pelo Brasil nos primeiros anos da Liga levou o representante chileno,em 1921, a defender que a cadeira brasileira no Conselho se tornasse permanente, uma vez que o congresso americano no ratificara o Tratado de Versalhes e, por conseguinte, o Pacto da Liga das Naes.A melhora nas relaes internacionais entre as potncias europias signatrias do Tratado de Versalhes (1919) foi fruto tanto de mudanas e rearranjos diplomticos como da compreenso de que no haveria reequilibrio do capitalismo sem que a Alemanha Repblica de Weinar retomasse sua posio de ascendncia no cenrio internacional. Boa parte deste processo de neutralizao de antagonismos, principalmente o francs, foi financiado pelos Estados Unidos (Planos Dawes 1924 e Young 1929), tirando a Alemanha de uma grave crise de hiperinflao (1922-1923) e propiciando a retomada do seu crescimento econmico (Stresemann, Schacht), bem como conquistando igualdade de direitos atravs do Tratado de Locarno (1925) e do ingresso do pas na Liga das Naes (1926). E neste momento que a diplomacia brasileira sofre um duro golpe quando sua tentativa de uma cadeira permanente na Liga das Naes, mas (RODRIGUES, MIALHE, 2003, p. 5), apesar da pretenso brasileira e espanhola, alm da polonesa j serem conhecidas de longa data, as grandes potncias no consideravam concretamente a hiptese de um pas com assento temporrio no Conselho pudesse vetar a entrada da Alemanha; frise-se que na Liga no havia, sob o prisma jurdico,

distino quanto aos direitos e obrigaes entre membros permanentes e temporrios, ou seja, uma vez no Conselho, todos tinham poder de veto. Para intrincar ainda mais a complexa situao que se formou, a China se apresentou tambm como candidata.

Derrotado nas suas pretenses, o Brasil tentou impor o seu direito de veto, contudo tal linha de ao temerria teve desdobramentos funestos (RODRIGUES, MIALHE, 2003, p. 7): o veto brasileiro acabou salvando as aparncias, pois, ainda haviam divergncias entre as grandes potncias no tocante aos acordos recm firmados em Locarno; o adiamento do ingresso da Alemanha ocorrido em setembro do mesmo ano teria sido providencial,embora tenha sido o Brasil responsabilizado por isso; por outro lado, criou-se um ambiente solidrio Alemanha que contribuiu para consolidar Locarno s custas da despropositada deciso brasileira. Fora da Liga, a imagem de pas participativo e de cooperao que gozava o Brasil, alm de sua diplomacia, aristocrtica e elitista, foram fortemente abaladas. Essa queda da relevncia brasileira no campo diplomtico internacional desta poca, relembrando que (ibidem, p. 2) o Brasil dispunha de uma diplomacia prestigiada, com uma imagem marcada pelo respeito ao direito internacional e cooperao entre os povos, todavia, contava pouco mais de trinta anos da proclamao da Repblica e vivia um momento poltico interno de insegurana, falta de legitimidade e ameaa s instituies estabelecidas, o que indubitavelmente foi refletido em sua poltica externa, ter consequncias determinantes para os demais governos brasileiros no perodo Entre Guerras (1918-1939).

Outro aspecto importante, afora o militar e estratgico, era o de como as correntes polticas internas se desenvolviam imediatamente aps o colapso da Repblica Velha e a institucionalizao da Revoluo de 1930. Passado a fase do Governo Revolucionrio (1930-1934), a constitucionalizao permitiu que dois grupos extremistas se destacassem no conjunto de foras poltico-partidrio nacional: o comunismo e o integralismo. Tanto nas suas razes locais como na sua configurao e ao eram, como bem assinala Peixoto (1960, p. 216), como gmeos, onde, por falta de imaginao, usavam uma camisa do mesmo feitio, mas, por implicncia, de outra cor, um erguia o brao direito e a mo aberta, o outro o esquerda e a mo fechada, um murmurava anau e o outro camarada, e como a maioria dos gmeos, no se davam bem, se hostilizavam, tentando um sobrepujar o outro, mas intrinsecamente eram iguais, originrios do mesmo vulo, apenas educados em climas diferentes. A grande falha da estratgia de ambos era o teatro de operaes onde pretendiam se degladiar, pois (ibidem, p. 220), nenhum dos gmeos era melhor ou pior do que o outro, eram, isso sim, inadequados para um pas sem problemas territoriais, raciais, religiosos, sociais ou polticos que os justificassem, alm do que a nossa estrutura econmica de ento no era afeita a tais turbulncias e se encontrava alinhada a um determinismo estatal aglutinador.

O comunismo no encontrava guarida, no Brasil, pela presena de uma classe operria no politizada e de pequena monta e expresso poltica, e que, com as benesses da Legislao Trabalhista da Constituio de 1934, entrava, de vez, na rbita do paternalismo populista de um governo central forte e vigilante. Ademais, a Secretaria do Partido Comunista no Brasil, criada em 1922, e erroneamente chamada de Partido Comunista Brasileiro (PCB), possua deficincias gritantes, segundo Waack (1999, p. 60), sendo que as causas da sua ineficincia e insignificncia polticas eram demonstradas pelo seu despreparo, uma vez que no apresentava forma ideolgica e consistncia organizacional, bem como estava repleta, nos seus quadros, de inimigos de classe, um foco, segundo os analistas soviticos do Comintern (Komintern) Internacional Comunista ou III Internacional, reunio internacional dos Partidos Comunistas de diversos pases, que funcionou de 1919 at 1943 , ou seja, seus quadros dirigentes eram formados por elementos pequeno-burgueses que mantinham contato com as cliques de oligarcas e representantes das classes dominantes, aprofundando sua debilidade e fazendo com que sua debilidade congnita fizesse com que muitos setores do partido no se desenvolvessem ou fossem completamente ausentes; resultando em contatos insuficientes com os crculos amplos de trabalhadores no campo e nas cidades, sem proletarizar os quadros de direo e caindo na armadilha de um mtodo de proletarizar mecanicamente comits de trabalhadores. Tais condicionantes so refletidas na frustrada Intentona Comunista de 1935, onde, dentre outros fatores, a prtica de elaborar relatrios fantasiosos (ibidem, pp. 72, 73), onde a Aliana Nacional Libertadora (ANL), de Lus Carlos Prestes, em consonncia com os demais PCs da Amrica Latina, falavam em apoio das Foras Armadas em torno de 70% na eminncia de levantes comunistas, e o no reconhecimento tcito tanto da sua organizao precria como da vulnerabilidade das suas estruturas clandestinas; o que, alis, no constituam novidade para os especialistas soviticos.

Quanto ao Integralismo, a atuao da Ao Integralista Brasileira (AIB), de Plnio Salgado, como seu irmo gmeo o comunismo , acabou persistindo nos mesmos erros de avaliao, nas mesmas condutas toscas e linhas de ao frgeis. Em primeiro lugar, nenhuma das bases que tornou possvel o boom nazifascista europeu possua um congnere brasileiro, pois no tnhamos um inimigo imediato de quem nos vingarmos e nenhum Tratado de Versalhes para combater e rasgar teoria do revanchismo , inexistia a figura do sabotador interno/traidor oculto Punhalada pelas Costas , nenhuma sustentao para um projeto de projeo de poder ou de contenda territorial fronteiria Lebensraum (Espao Vital) , alm do que nos abstemos da mcula de desagregadores problemas tnicos racismo, sub-raas (Unter Rennen) e j tnhamos algo parecido com um Fhrer tirando o poder que deveria se centrar em Plnio Salgado na figura caudilhesca de Getlio Vargas. Complementando essa conjugao de fatores, apesar da aproximao da doutrina integralista com setores e figuras capitais das Foras Armadas Brasileiras daquele momento histrico, o que no se converteu, frise-se, em suporte macio ou irrestrito, as quais demonstravam simpatia pela alternativa nacionalista e pelo fortalecimento dos Estados alemo e italiano, h que se reforar a noo de que o contexto brasileiro era diferente do alemo e do italiano (BERTONHA, 2003, p. 71): faltava aqui uma situao de desesperana generalizada que sasse dos limites das classes mdias e favorecesse a propagao do movimento; isso determinou que sua base popular permanecesse relativamente fraca; tal condio, aliada falta de apoio mais seguro nos setores militares e burgueses, implicou a fragilidade poltica e a falncia do integralismo; condicionantes que explicam, em grande parte, o fracasso do Golpe (Levante, Intentona) Integralista, de 1938.

Em ambos os casos, o do comunismo e o do integralismo, esses movimentos acabaram sendo adotados/absorvidos como mais um modernismo, mais um estrangeirismo abraado por segmentos de uma elite local pretensamente intelectualizada e progressista que buscava adaptaes e verses nacionais daquilo que consideravam paradigmas dogmticos internacionais. O choque de realidade sofrido por ambas correntes ideolgicas, nos seus fracassos retumbantes de amealhar condies de tomada do poder e de apoio popular significante, deixa patente que a leitura de contextos histricos e civilizatrios quando deturpados por enfoques no pragmticos e racionalizados oferece uma leitura equivocada que se traduz em decises sem qualquer embasamento lgico/funcional e resulta em retumbantes derrotas ou reviravoltas picas.

Indo na direo contrria da mar keynesianista, que estava comeando a tirar o mundo capitalista da Grande Depresso, como os estimulantes resultados das polticas liberais e de assistencialismo/intervencionismo estatais moderados do New Deal, nos Estados Unidos da Amrica do Norte, nos trs primeiros governos Vargas (1930-1934, 1934-1937, 1937-1945) adotou-se uma poltica econmica mais centralizada e mais dependente das aes, determinaes, ingerncias e posturas governamentais. Segundo uma das muitas perspectivas e vises que se tem sobre este perodo (PEIXOTO, 1960, p. 385): de 1930 a 1934 o Brasil foi uma democracia exercida por um ditador, colocado e mantida no poder pela vontade do povo; em 1934 e at 1937, tornou-se uma democracia constitucional, exercida por um Presidente eleito pelo Congresso, presumidamente a aristocracia do pas; de 1937 A 1945 seria, na pior das hipteses, uma timocracia dirigida democraticamente por um dspota esclarecido, por intermdio de uma constituio outorgada. Neste cenrio polarizado na figura de Vargas, afastando-se progressivamente do liberalismo econmico, o Estado passou a atuar cada vez mais como regulador das diferentes atividades, e se esforou para definir um planejamento econmico global (MOREIRA, s.d., p. 1), e com a implantao do Estado Novo, a 10 de novembro de 1937, aprofundou a estruturao do Estado e acentuou o intervencionismo; inclusive visando para promover o reaparelhamento das Foras Armadas e a implementao de um vasto programa de obras pblicas, a siderurgia tornava-se um fator central e indispensvel.A construo da Companhia Siderrgica Nacional (CSN), devido as grandes presses internacionais dos interessados em ganhar a sua concorrncia, ir ser o ponto de convergncia que determinar o desenlace final do namoro poltico e estratgico dbio e incestuoso do Brasil hora com as democracias liberais, hora com os governos nazifascistas. A briga titnica entre a gigante Krupp (alem) e a United State Steel Coporation (estadunidense) tem incio quando (MOREIRA, s.d., p. 1), o Major Edmundo Macedo Soares e Silva sugeriu a Vargas a criao de uma comisso, o que aconteceu a 5 de agosto de 1939, sendo foi criada ento a Comisso Preparatria do Plano Siderrgico Nacional; presidida pelo prprio Macedo Soares, era integrada ainda por Joaquim Arrojado Lisboa, Joo da Costa Pinto e por Plnio Cantanhede. crucial deixar claro que foi decidido que a empresa U. S. Steel enviaria ao Brasil um grupo de tcnicos para avaliar a viabilidade da construo de uma usina a coque, tendo por base uma empresa de capital misto, o que j demonstra a guinada pr-democracias liberais, e posteriormente o engajamento brasileiro no esforo de guerra Aliado, os estudos da Comisso Mista vieram a comprovar a possibilidade de o Brasil construir uma grande usina siderrgica (ibidem, p. 2), alm de aprovar idias que vinham sendo defendidas por tcnicos brasileiros havia algum tempo, serviram tambm para dar continuidade aos trabalhos da Comisso Preparatria, que no incio de maro de 1940 apresentou relatrio com o plano de ao para o setor siderrgico e a estratgia ideal para conciliar os interesses nacionais com a proposta da U. S. Steel; mas com a evoluo da Segunda Guerra, no entanto, levou a empresa norte-americana a abandonar o empreendimento, retomado em 1946. Dessa forma, a CSN foi criada durante o por decreto do presidente Getlio Vargas, como parte dos Acordos de Washington (1941), feito entre os governos brasileiro e estadunidense, que previa a construo de uma usina siderrgica que pudesse fornecer ao para os aliados durante a Segunda Guerra Mundial e, na paz, ajudasse no desenvolvimento do Brasil.Sem abandonar a relevncia da CSN neste contexto, mas como finalizao desta breve anlise, faz-se mister ressaltar mais alguns aspectos desta importante fase decisria. Dois momentos se sobressaem.

No primeiro deles (MOREIRA, s.d., p. 2): as dificuldades levaram Vargas a desistir da associao com empresas estrangeiras; mas, decidido a dar um encaminhamento definitivo para a questo, optou pela constituio de uma empresa nacional, onde o capital estrangeiro entraria sob a forma de emprstimo: assim, em 4 de maro, assinou o Decreto-Lei n. 2.054, criando a Comisso Executiva do Plano Siderrgico Nacional, diretamente subordinada Presidncia da Repblica, e integrada, entre outros, por Guilherme Guinle e o prprio Macedo Soares. Ao mesmo tempo, Vargas iniciava os entendimentos com o governo dos EUA e com o Eximbank para a obteno do emprstimo necessrio, de 20 milhes de dlares. O que se percebe no o encaminhamento de uma postura subserviente ou de bases frgeis, mas sim a ao de um estadista consciente daquilo que pode oferecer e pedir, e no um fantoche ou um ttere do imperialismo como querem os mais ortodoxos, de modo que (ibidem) as negociaes se prolongaram por todo o ano, com vrios impasses, pois embora estivesse interessado em montar bases areas no Nordeste brasileiro, em nome da segurana continental, e tambm concordasse em vender material blico para o reaparelhamento das foras armadas brasileiras, o governo norte-americano ainda resistia idia de financiar a construo de uma grande usina siderrgica aqui, pois isto, na prtica, representaria a quebra do monoplio da produo de ao, at ento controlada pelos prprios Estados Unidos e Europa, ou seja, em outras palavras, significaria ajudar a industrializao do Brasil.Perseverando nesta linha analtica, observa-se um segundo momento bipartido. Na sua fase primria, o governo brasileiro, muito mais do que metaforicamente, jogou pquer (MOREIRA, s.d., p. 2): a mudana radical ocorreu em junho de 1940, com o discurso pronunciado por Vargas a bordo do encouraado Minas Gerais, interpretado como o anncio da adeso do Brasil aos pases do Eixo; o efeito deste pronunciamento foi imediato! Vargas, com uma manobra consciente, conseguiu pr um fim s interminveis negociaes, forando a definio dos Estados Unidos; o emprstimo junto ao Eximbank foi obtido em final de setembro, a nova etapa seria a organizao da nova companhia e a implementao das obras; O local escolhido? A pacata localidade de Santo Antnio da Volta Redonda, um local que atendia s exigncias tcnicas (terreno plano, grandes reservas de gua, estrada de ferro), e tambm a alguns fatores de ordem poltica, pois se situava no estado do Rio de Janeiro, ento governado por Ernani do Amaral Peixoto, genro do presidente Vargas. Os descaminhos da guerra (Segunda Guerra Mundial) e da poltica deram um desfecho to grande empreendimento (ibidem): em 9 de abril de 1941 realizou-se a assemblia geral de criao da Companhia Siderrgica Nacional, e foi escolhida sua primeira diretoria: Ari Torres (vice-presidente), Macedo Soares (diretor-tcnico) e Oscar Weinschenck (diretor-comercial), seu presidente, Guilherme Guinle, foi nomeado diretamente por Vargas; a usina de Volta Redonda foi inaugurada no dia 12 de outubro de 1946, na presena, entre outros, do presidente Eurico Dutra e de seu ministro da Viao e Obras Pblicas, Edmundo de Macedo Soares e Silva; Getlio Vargas, o grande incentivador da usina siderrgica, estava ausente, deposto com o final do Estado Novo.MOTIVAES BRASILEIRAS PARA DECIDIR PELA GUERRANada em uma guerra possui carter definitivo ou possui uma preponderncia monopolizadora, e, dentre elas, a deciso de qualquer Estado ou governo de tomar parte de uma ao beligerante, de apoiar um dos lados contendores e de mensurar todos os aspectos e variantes que envolvem implementar um esforo de guerra e uma mobilizao nacional, so aspectos por demais complexos e letais, que no fcil, imediatista ou simples de ser tomada. Neste caldeiro de consideraes geopolticas, geoestratgicas, diplomticas, econmicas e socioculturais, o que define tudo o fator humano falibilidade, influncias e vontade que incide sobre aqueles a quem cabe o voto de minerva.

Propostas de engajamentos econmicos e de vantagens de comrcio bilateral, ofertadas tanto pelos pases Aliados como pelos do Eixo, e opes de alianas militares e estratgicas, tambm postas na mesa de negociao por ambos os lados, buscavam direcionar o Brasil a um determinado canto da sereia. Logicamente que haviam questes mais imediatas a serem satisfeitas, e os fatores que mais pesaram na deciso brasileira de com que lado ombrear foram dois: a consolidao de relaes comerciais/econmicas que promovessem o crescimento tanto da pauta de exportaes como a manuteno de importaes essenciais e de uma lucratividade que permitisse significativo crescimento interno e expanso/diversificao do modelo produtivo; garantir o reaparelhamento das Foras Armadas com materiais modernos, bem como obter tratados bilaterais que mantivessem o status de potncia regional e que contivessem a ameaa argentina absolutamente real e inegavelmente onipresente na ocasio. Botelho e Lacerda (2012, p. 30) esclarecem que os EUA no queriam a amizade do Brasil apenas por bases e danas exticas nem pagaram com papagaios: como parte dos acordos com o governo Vargas, os EUA financiaram a construo da Usina Siderrgica Nacional de Volta Redonda - que custou 200 milhes de dlares da poca (hoje cerca de 2,6 bilhes de dlares), pois, do Brasil, os EUA queriam matrias-primas importantes ao esforo de guerra, e a principal era a borracha, usada em tanques, jipes, avies, uniformes e armamentos. Assim, a indstria da borracha estava praticamente morta no Brasil desde o incio do sculo 20, nativa da Amaznia, a seringueira foi plantada pelos ingleses em suas colnias do Sudeste Asitico e essas plantaes tinham uma produo muito maior que as brasileiras, pois estavam livres de pragas nativas; mas os japoneses ocuparam a regio e bloquearam o acesso s plantaes. Alm disso (ibidem, p. 31), o Brasil era fonte de materiais que iam desde minrios simples, como ferro e mangans, at diamantes industriais, leos vegetais e carne em conserva, e tambm era o nico produtor disponvel de cristais incolores de alta qualidade, o quartzo, utilizados em aparelhos de comunicao, detectores de som e de localizao usados contra submarinos e avies. A cera de carnaba, palmeira nativa do Brasil, tem vrias aplicaes industriais: era usada na produo de vernizes prova dgua pela indstria blica, os bichos da seda, cultivados por pequenos produtores japoneses em So Paulo, eram essenciais na fabricao de pra-quedas, e a hortel-pimenta dava origem ao mentol, que aumentava a potncia da nitroglicerina.Outro problema a ser contornado era romper com a idia de que os produtos alemes eram preferveis pela sua excelncia, ao invs dos substitutos norte-americanos. Tal fato muito bem segmentado pelo relato do veterano da Aeronutica Osias Machado (BOTELHO, LACERDA, 2012, p. 31): "Cresci ouvindo dizer que os alemes eram o povo mais inteligente e avanado da Terra. J os EUA no tinham grande expresso antes de 1939. Essa admirao pelos americanos s veio depois dos afundamentos dos nossos navios". A ttulo de exemplo, e de reforo, h que se relembrar o esforo norte-americano para substituir a indstria farmacutica alem na Amrica Latina e se assenhorear dos mercados, recursos e empresas locais (QUINTANEIRO, 2002, pp. 141-142): durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos despenderam um considervel esforo para desalojar, do lucrativo mercado farmacutico do Brasil e de outros pases da Amrica Latina, a indstria alem e muito especialmente a Bayer, tratando de promover sua substituio pelo capital privado norte-americano ou por interesses aliados locais; esse objetivo era parte de uma poltica expansionista mais ampla, formulada e posta em prtica pelo Departamento de Estado atravs de uma complexa trama de agncias especializadas; sua implementao exigiu um mapeamento preciso e sofisticado das necessidades, hbitos e preferncias dos potenciais consumidores - tarefa atribuda a uma burocracia de alta capacitao; o alvo imediato eram remdios populares e de grande consumo nesse perodo, especialmente os analgsicos base de cido acetil saliclico (a.a.s.) fabricados pela Bayer, e a Atebrina, medicamento da mesma empresa usado no combate malria. Por volta de 1937, os EUA j ocupavam o segundo lugar na produo mundial de drogas (ibidem, p. 142), desse modo, praticamente toda a demanda interna passou a ser atendida, e ainda se tornou possvel exportar para 78 pases (U. S. Department of Commerce, 1 937), e a Segunda Guerra foi crucial para alavancar essa expanso e fortalecer a tentativa de substituir, tanto na indstria farmacutica quanto em outras reas da produo, a liderana mundial do capital alemo, o que promove a conexo com o fato de que o esforo realizado para penetrar no mercado brasileiro foi parte desse plano.A correlao que se fazia era entre obter as melhores ofertas para exportar matrias-primas para o esforo de guerra de quem quer que fosse e a contrapartida em produtos industrializados, investimentos e modernizao dos equipamentos militares. Um dos pontos que puxou o governo brasileiro para a parceria mais estreita com a Alemanha Nazista foi o fato que (JATAI, s.d., p. 1), diferente dos Estados Unidos, cujo comrcio com o Brasil estava centrado no caf, a Alemanha disps-se a negociar diferentes tipos de produtos, a diversificao da pauta exportadora era importante para o Brasil, uma vez que sua economia no poderia mais basear-se na predominncia quase totalitria de apenas um produto, no caso o caf, que sofria constantemente com pesadas desvalorizaes no mercado internacional, prejudicando a j onerada balana comercial do pas. Soma-se a este cenrio mais alguns pontos determinantes (ibidem, p. 2): sem colnias para onde escoar sua produo e de onde extrair as matrias-primas necessrias para as suas indstrias, a Alemanha viu em acordos comerciais junto aos pases latino-americanos e do leste europeu a soluo para o equilbrio; Sendo assim, criou-se em setembro de 1934 o Neuen Plan, buscando assim unir as importaes alems a uma elevao das exportaes. Para que isso acontecesse, foi elaborado um conjunto de diretrizes e modalidades de comrcio compensado e de reciprocidade. Como a Alemanha no dispunha de reservas cambiais para a aquisio de matrias-primas em bases monetrias, criou-se o sistema de marcos compensados (tambm conhecida por marcos bloqueados); este sistema no envolvia dinheiro, mas sim valores atribudos aos produtos negociados, onde cada uma das partes se comprometia a importar um valor X de determinado produto em troca da exportao do mesmo valor de outro produto; O Brasil, por seu lado, tambm tinha seus interesses, notadamente o de escoar os excedentes da produo local e na compra de produtos tecnolgicos, maquinrio industrial e equipamento blico, vendo na Alemanha uma grande oportunidade comercial. Ao aceitar os termos da poltica de compensao alem, o Brasil firma comrcio com um novo mercado, mas ao mesmo tempo se v obrigado a adquiri os produtos produzidos por este.Os mais afoitos podem se esforar em querer perceber, e apontar, neste comrcio bilateral um dependncia colonialista/imperialista do Brasil frente a Alemanha, mas no bem assim. Trata-se mais, guardando as devidas propores entre as diversidades e particularidades das duas economias, que foi mais uma forma de interligao e de satisfao de interesses recprocos, uma vez que (JATAI, s.d., p.3) este sistema comercial tornava quase uma condio sine qua non que os possveis parceiros comerciais da Alemanha tivessem uma economia, em grande medida complementar economia alem, onde o comrcio entre o dois pases seria relativamente equilibrado, beneficiando ambas balanas comerciais e evitando possveis conflitos. Sem deixar de considerar que (JATAI, s.d. p. 5), comercializar com a Alemanha era muito mais seguro, estvel e vantajoso para o Brasil do que o comrcio com os EUA. Os Estados Unidos eram praticamente autossuficientes em gneros agrcolas e minerais, a principal pauta de exportao brasileira, enquanto que Alemanha a importava do Brasil couros, cacau, carnes, borracha, arroz, tabaco e outros tipos de gneros alimentcios e matrias-primas, alm do que (ibidem, pp. 5-6) o comrcio com a Alemanha, embora impulsionasse o crescimento brasileiro, influenciando positivamente no crescimento da produo local tendo em vista a exportao para o mercado alemo, gerava uma situao bastante peculiar ao Brasil. J em junho de 1938, o Banco do Brasil possua uma vultosa quantia em marcos compensados, o que tornava o Brasil um credor da Alemanha. Esse excedente de moeda alem decorria de um aumento significativo no volume de importaes de matria-prima por parte de uma Alemanha pr-beligerante.Uma das facetas deste afinamento comercial entre o Brasil e a Alemanha tem um ntido vis militar. A situao militar era, no mnimo, crtica e emergencial (JATAI, s.d., pp. 7-8): no final da dcada de 1930 o Ministrio da Guerra encontrava enormes barreiras geogrficas e de infraestrutura que o impediam de possuir um maior controle sobre suas unidades espalhadas pelo vasto territrio brasileiro; as dificuldades de transporte e comunicao existentes na poca dificultavam, por exemplo, que houvesse um inventariado preciso sobre a quantidade e estado de manuteno dos equipamentos militares, os quais se compunham de uma miscelnea de armamentos e viaturas de diferentes procedncias, pocas e, no caso das armas, diferentes calibres, o que tornava o suprimento dos mesmos um verdadeiro pesadelo logstico; tanto o General Ges Monteiro como o ministro da guerra, Eurico Gaspar Dutra, escreveram diversas cartas e relatrios endereados ao presidente Getlio Vargas relatando os problemas referentes ao armamento e treinamento das tropas do exrcito nacional. Dutra relata as deficincias e necessidades de material voltado defesa do pas, enquanto Ges Monteiro concentra-se na valorizao de uma nova estruturao militar, expondo as fragilidades do exrcito frente ao inimigo provvel. Desde a Misso Militar Francesa, de 1919, tudo estava parado, por exemplo (ibidem, p. 10), No havia ainda uma doutrina para o uso da recente arma blindada. Os j defasados tanks franceses Renault FT-17, adquiridos em 1921, j estavam quase todos sem condies operacionais. Os recm-adquiridos Fiat Ansaldo CV3-35, assim como os seus antecessores franceses (JATAI, s.d., p. 10), estavam concentrados todos na capital federal, e no na regio de fronteira. Sendo assim, toda a arma blindada do exrcito era muito mais um utenslio de intimidao e represso do estado do que uma arma para a guerra em si. Bastos (s.d., p. 2) explica que os 23 blindados adquiridos quando chegaram ao Brasil, foram recolhidos ao Depsito de Material Blico, em Deodoro e, em 25 de maio de 1938, pelo Aviso n. 400, foi criado o Esquadro de Auto-Metralhadoras do Centro de Instruo de Motorizao e Mecanizao, integrado recm criada Subunidade-Escola de Moto-Mecanizao, e o seu aquartelamento foi em Deodoro, ocupando parte de um edifcio inacabado, e destinado Escola de Engenharia (atual Escola de Material Blico EsMB), ressaltando que eles foram oficialmente apresentados s autoridades brasileiras na parada de 07 de setembro de 1938, formando assim a primeira subunidade mecanizada da Cavalaria brasileira o Esquadro de Auto-Metralhadoras, convivendo muito bem com a Cavalaria a cavalo (unidades hipomovis). Alguns deles foram enviados para Recife (ibidem, p. 3), em 1942, como integrantes do Esquadro de Reconhecimento da Ala Motomecanizada do 7 Regimento de Cavalaria Divisionrio, sob o comando do 1 Tenente Plnio Pitaluga, futuro comandante do 1 Esquadro de Reconhecimento da FEB, nica unidade de Cavalaria do Exrcito Brasileiro a lutar no teatro-de-operaes da Europa, reforando as tropas do General Mascarenhas de Moraes, comandante da FEB; alm do que, a seguir, retornaram ao Rio de Janeiro, ento Distrito Federal, sendo usados at o final da Segunda Guerra Mundial em 1945. Posteriormente, foram recolhidos a um depsito do Exrcito, e alguns foram para Polcia Militar do Distrito Federal, onde operaram at os anos 50.Uma Comisso de Reaparelhamento das Foras Armadas di criada em 1936, com a liberao dos valores para a compra de material num total de um milho e quinhentos mil contos de ris, os quais deveriam ser investidos ao longo de 10 anos. No foi difcil escolher o fornecedor, se de um lado (JATAI, s.d., p. 10) o governo americano se preocupava em reequipar as suas foras armadas com o que havia de mais moderno na indstria local sem ter que esconder isso de ningum, o governo alemo precisava colocar suas indstrias para trabalhar em ritmo de guerra, camuflando a rpida expanso do parque blico com as exportaes deste tipo de equipamento para outros pases. A proposta alem atendia satisfatoriamente as exigncias brasileiras, como a possibilidade do pagamento de parte do valor total atravs de marcos compensados cerca de 75% do valor do contrato e o grande contrato com a Krupp saiu epois de muitas negociaes e reajustes de quantidade e preo (JATAI, s.d., p. 11), em maro de 1938 foi assinado o contrato com a empresa alem Fried Krupp, que previa a entrega de 1180 peas de artilharia (canhes e obuses) de diversos calibres, alm de viaturas hipomveis para trao, transporte de munio e da guarnio das respectivas peas, munio para combate e treinamento, direitos de produo e o maquinrio necessrio para a produo da munio. No geral (ibidem, p. 12), do total de 1180 peas de artilharia encomendadas, cerca de 64 foram entregues e 11 viaturas automotoras, do total de 646, foram recebidas at 1941, data do recebimento da ltima remessa de material adquirido junto Alemanha, pois com a declarao de guerra ao Eixo, em 1942, os equipamentos adquiridos pelo Brasil, que se encontravam em depsitos, foram incorporados s foras alems, ficando sua reposio para quando a guerra acabasse, o que nunca aconteceu. Um aspecto bastante sui generis destas negociaes foi que (ibidem, pp. 10-11) o Brasil adquiriu modernas peas de artilharia de campanha e antiarea da empresa alem Fried Krupp e, ao mesmo tempo, adquiriu junto ao governo americano, material de segunda-mo para a sua artilharia de costa (137 canhes); ambos os contratos, tanto o alemo quanto o americano, previam a auto-suficincia brasileira na produo das munies para os canhes, uma vez que se tornaria praticamente impossvel para o Brasil a aquisio deste material junto aos pases.Somam-se, a tudo isto, mais trs fatos episdicos de realce.

A entrega de trs submarinos, encomendados na Itlia para a nossa Marinha de Guerra (PEIXOTO, 1960, p. 376), o Tupi, Tamoio e Timbira, em 1938, alm da compra de unidades do modelo Fiat Ansaldo CV-3 35II blindado de reconhecimento leve, de lagartas. Com relao ao poderio areo houve um acordo/contrato com a fabricante alem Focke-Wulf (CARNEIRO, 2011, p. 94), e que tambm que previa a cesso de tcnicos, projetos e gabaritos para a construo de aeronaves no Brasil, para a fabricao dos modelos FW-44 Stieglitz (1 FG Pintassilgo) biplano de treinamento, monomotor de dois lugares, estrutura de madeira, cobertura de tela e contraplacado , foi a primeira aeronave construda pela Fbrica do Galeo em 1938, originria da Comisso de Estudos para Instalao de uma Fbrica de Avies (CEIFA, 1930), e do modelo Focke Wulf 58 Weihe (2 FG, Consagrar) - um bimotor destinado ao treinamento de pilotos militares e misses de bombardeio e reconhecimento. A expedio alem no Rio Jar, entre 1935 e 1937, o Esquadro de Pesquisas Schulz-Kampfhenkel, a idia era (FLLGRAF, 2013, p. 5) mapear as cabeceiras do Jari, a pouca distncia da Guiana Francesa (Operao Guiana), uma vez que mapa da fronteira era a chave de ouro para fechar seu plano da colonizao do territrio francs por grandes contingentes alemes, apoiados numa forte coluna indgena, mas como a Frana estava sendo ocupada e a Guiana Francesa seria alem por tabelinha, expedio que contou, desde o seu comeo, com o importante apoio das Foras Armadas brasileiras, que em 1935 ainda no estavam divididas em faces pr-Alemanha (germanfilos) e pr-EUA (americanfilos).O Alto-Comando do Exrcito, nas figuras do Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, e do Chefe do Estado-Maior do Exrcito, General Ges Monteiro, no final da dcada de 1930, estava convencido, pelas informaes coletadas por diversas fontes, que a grande ameaa a soberania nacional residia no nossa vizinhana. Assim (JATAI, s.d., p. 7), para a realidade em que se encontravam Monteiro e Dutra, o inimigo em potencial no estava do outro lado do Atlntico, mas sim do outro lado do da trplice fronteira, ou seja, a Argentina, Uruguai e Paraguai so tidos como os principais inimigos em potencial, porm, os argentinos, devido a sua grande influncia sobre os dois outros pases citados, seriam o maior perigo contra as pretenses brasileiras no sul do continente americano. Duas outras discrepncias em relao aos portenhos contriburam ainda mais para o fundamentado alarmismo (ibidem, p. 8): a situao de atraso e despreparo do Exrcito Brasileiro eram marcantes, o inimigo em potencial, a Argentina, possua um exrcito maior, melhor equipado e treinado que o brasileiro; enquanto a indstria blica argentina buscava desenvolver e produzir os seus primeiros tanks, o defasado parque fabril brasileiro no conseguia nem mesmo suprir as necessidades de munio da fora terrestre local, o que tornava os estoques de munio insuficientes e precrios.Apesar da postura de neutralidade assumida pela Argentina diante da situao internacional, em especial no que se refere ao expansionismo nazifascista e as tentativas de fortalecimento da unidade pan-americana pelos Estados Unidos durante o governo de Roosevelt (dcada de 1930), havia uma grande diferena entre o discurso oficial e a movimentao e o colaboracionismo de certos setores internos, principlamente militares, com o III Reich. antes Gonalves (2003, p. 2) afirma que mesmo de chegar ao poder, o ento coronel Pern, num manifesto do Grupo de Oficiais Unidos (GOU), que precedeu de poucas semanas a derrubada do governo civil em 4 de junho de 1943, j havia proclamado aos seus camaradas que a luta de Hitler, na paz e na guerra, nos servir de guia. Na mesma poca, tambm em manifesto do GOU, dizia que uma vez cado o Brasil, o continente sul-americano ser nosso. E quando no poder (ibidem), Pern levou at as ltimas conseqncias seus planos expansionistas que dependiam umbilicalmente da vitria dos pases do Eixo. Seus acordos com o governo alemo previam imunidade priso para os agentes nazistas na Argentina, falsa identidade como membros do servio secreto argentino, uso das malas diplomticas argentinas para o transporte de material secreto entre Berlim e Buenos Aires e um sistema de alerta imediato de crise que pusesse em perigo os agentes alemes. Em troca, entre outras facilidades, haveria apoio alemo formao de um bloco de naes sul-americanas liderado pela Argentina, ou seja, uma nova Argentina, que pretendia avanar nos estados do Sul do Brasil de forte colonizao alem.A situao por demais grave que (MEDEIROS, 2012, p. 1) documentos secretos do Conselho de Segurana Nacional mostram que o governo brasileiro sabia que seria impossvel impedir um ataque argentino pelo sul do Pas, tamanha era a fragilidade das tropas nacionais no local. Alm disso, a precariedade do sistema ferrovirio fazia com que o governo brasileiro tivesse a conscincia de que tampouco seria possvel organizar a tempo um contra-ataque contra os argentinos. Em documento datado de 11 de janeiro de 1938 (ibidem), classificado como secreto, trata dessa situao. Nele proposta a construo de uma segunda via frrea at a regio para garantir a mobilidade de transportes e, principalmente, das tropas brasileiras. O Estado-Maior do Exrcito insiste pela realizao desses empreendimentos, que solicita h vrios anos, como imperiosamente necessrios defesa nacional.Os planejadores do Exrcito Brasileiro definiram a situao em dois momentos. Em relao ao primeiro estgio das operaes (MEDEIROS, 2012, p. 1): o Conselho de Segurana Nacional simula nesse trabalho a eventual evoluo das tropas argentinas, caso houvesse a deciso de ataque pelo Sul; em cerca de 40 dias, a contar da declarao de guerra, a totalidade do exrcito ativo argentino estar concentrado em Corrientes e poder invadir o Rio Grande do Sul, diz o texto; Em face de tais possibilidades, quais so as do Brasil?, questiona o conselho. Como valor, o Exrcito de campanha brasileiro muito inferior ao argentino, define categoricamente o documento. Outro ponto-chave a resposta brasileira dada s condies em que o Exrcito se encontrava na ocasio (ibidem): a partir da, descreve em tom de angstia a incapacidade do Brasil em deslocar seus efetivos em tempo hbil para reagir invaso dos vizinhos; Em 270 dias, depois de declarada a guerra, a Argentina poder ter no Rio Grande do Sul 12 divises do exrcito, 4 de cavalaria e outros elementos; e o Brasil s poder ter 7 a 8 divises de infantaria e 3 de cavalaria. Quer isso dizer que dificilmente se poder impedir a invaso do territrio brasileiro, diz o estudo. A situao extremamente angustiante! Metade do Estado do Rio Grande do Sul ter sido perdido.

Em 07 de julho de 1937, outro documento secreto, anterior ao acima analisado, j tratava do problema. Neste importante documento (MEDEIROS, 2012, p. 2), no qual a recusa da proposta argentina de fazer parceria com Brasil e Uruguai para a construo de uma usina hidreltrica no Rio Uruguai, percebida, pelo Conselho de Segurana, como uma obra que s beneficiaria os argentinos e ainda ampliaria a superioridade estratgica do vizinho, e sua anlise sob o ponto de vista militar se debrua sobre dois aspectos mais imediatos e crticos: Sob esse aspecto, o empreendimento de todo desfavorvel ao Brasil. Primeiramente, a Argentina possui organizao militar e meios blicos superiores aos do Brasil, descreve; No caso de guerra Brasil-Argentina, o Brasil no poder utilizar a via martima para levar tropas ao Rio Grande do Sul. A esquadra argentina, por ser mais forte que a nossa, barrar essa via. Igualmente importante foi a atuao vigilante e a minimalista percepo do cenrio geopoltico e geoestratgico argentino levada cabo pelo Embaixador Jos de Paula Rodrigues Alves, titular brasileiro na representao argentina entre os anos de 1938-1944. Indo mais alm do que as protocolares relaes diplomticas com o Ministro do Exterior Jos Maria Cantilo e com o Presidente Roberto M. Ortiz, inclusive em uma carta enviada ao Presidente Vargas, datada de 22 de junho de 1940, menciona de forma detalhada, uma reunio que o Presidente Ortiz, junto aos militares mais graduados, trataram a respeito das foras armadas e do "material de que necessitava para corresponder amplamente sua nobre misso" (JNIOR, 2011, p. 2). Este acompanhamento minucioso o permitiu tecer importantes consideraes ao governo brasileiro e ao Comando das Foras Armadas (ibidem): o Governo estaria disposto a no medir sacrifcios, enviando ao Congresso os necessrios projetos de lei, acompanhados de crditos capazes de satisfazer amplamente as urgentes necessidades de defesa nacional; seriam invertidos mais de duzentos milhes de pesos na compra de avies de artilharia ante-area, contemplando-se, ao que parece, quatrocentos milhes de pesos para a Marinha e para outros misteres do Exrcito; a mobilizao militar na Argentina, segundo Rodrigues Alves, envolvia a criao de uma indstria blica para fabricao de munies, de ao, de avies e de comunicao, inclusive, encampando empresas privadas para essa finalidade; para o Embaixador, seria irremedivel seguir o exemplo do pas vizinho, uma vez que tornaria "real e efetiva a nossa defesa". Ferviam as "intrigas e boatos" acerca da posio do Exrcito da Argentina, principalmente devido a um forte contingente simpatizante do III Reich.Na aguada percepo do diplomata brasileiro (JNIOR, 2011, p. 2), o principal objetivo do nazismo no seria tanto o de instituir o seu regime nos pases americanos, mas sim de manter um regime permanente de perturbao e de confuso nos negcios internos de cada um deles, fomentando tudo quanto possa perturbar a ordem e inquietar os espritos. Nos seus comunicados sobre as questes militares, sobre a dinmica econmica, sobre as crises polticas, sobre a influncia nazista na regio, enfim, sobre a poltica interna e externa do pas platino, Rodrigues Alves foi testemunha (ibidem, p. 5) da fracassada tentativa do Departamento de Estado norte-americano da Argentina e do Chile declararem guerra Alemanha, tomaram caminho oposto posio dos Estados Unidos durante a II Reunio de Consulta de Chanceleres Americanos, realizada no Rio de Janeiro em 1942, acompanhou in loco, em 1943, um golpe militar na Argentina deflagrado por uma ala nacionalista das foras armadas. Dentro deste cenrio turbulento (JNIOR, 2011, p. 5), em vista desse grupo que tomou o poder (Grupo Obra e Unificao), e que era simpatizante do totalitarismo nazifascista, a questo que levou os Estados Unidos a cogitarem, junto ao General Pedro Aurlio de Ges Monteiro, um plano de invaso conjunta a Argentina. Tal conjuntura, e a alegao dos Estados Unidos era de que o Brasil poderia ser invadido pela fronteira do Rio Grande do Sul, o que tornaria inevitvel um combate entre os dois pases, no foi suficiente para a conflagrao do estado de beligerncia, pois, entretanto, os interesses brasileiros na regio fizeram com que o Itamaraty e o prprio Vargas dissuadisse o Governo dos Estados Unidos em relao a um possvel enfrentamento militar com a Argentina; porm, di decisivo para o alinhamento definitivo do Brasil com os Estados Unidos e os Aliados.O governo argentino, ps-golpe de 1943, se mostrou cada vez mais simptico ao III Reich, e com o Brasil j tendo declarado guerra ao Eixo, a situao era ainda mais tensa. Outros pases da regio tambm levantavam suspeitas. Era o caso do Uruguai, com pronunciada colnia germnica alemes, austracos e que era um dos alvos potenciais dos beligerantes, pois (ERDSTEIN, BEAN, 1977, p. 25),tanto ingleses como alemes perceberam a importncia da Amrica do Sul, com suas valiosas exportaes de carne, folha-de-flandres, petrleo, trigo e outras matrias-primas, alm de (ibidem, p. 34) se os nazistas tivessem oportunidade, o Uruguai iria integrar a Alemanha Antrtica, uma colnia agrcola do Reich. Alguns motivos so apontados para o esforo alemo nesta empreitada uruguaia (ibidem): atividades de grupos como a Juventude Hltlerista e a Frente de Trabalho Alemo; donativos em dinheiro e a assistncia prestada pelos homens de negcios alemes no Uruguai; os planos de Hitler em relao Amrica do Sul; os uruguaios comeavam a gostar do poderio alemo, o qual era bem mais eficiente do que a sua democracia catica e corrupta. Alm de tudo isso (ibidem), instigavam uma revolta popular, solicitando que Hitler se tornasse o seu Fhrer, inclusive com boatos sobre tropas locais das SA Adolph Frhrmann, fotgrafo na cidade de Salto, seria o chefe da Gestapo num Estado fantoche uruguaio que recebiam treinamento em sigilo, para dominar as comunicaes e as instalaes policiais, e uma quantia descomunal gasta em propaganda; emblemtico o caso das armas (metralhadoras, pistolas) e munies encontradas em caixes dos marinheiros mortos do Graf Spee (1940), enterrados em Montevidu (15 de dezembro de 1939).

Tais descobertas levaram a formao, em maio de 1940, de uma Comisso Especial do Senado para Atividades Antinacionalistas, autorizada pelo Congresso do Uruguai (ERDSTEIN, BEAN, 1977, p. 33), visando desenvolver uma profunda investigao sobre as atividades da quinta-coluna, e com o apoio do servio secreto britnico. Os Estados Unidos e a Alemanha se mostravam interessados na aquisio de rami, uma fibra necessria fabricao de pra-quedas (ibidem, p. 38), no Paraguai, com seus representantes locais tentando convencer o governo paraguaio a ficar do lado do vencedor da guerra, alm do fato de que Assuno era (ibidem, p. 39), j em 1941/1942, o centro da espionagem na Amrica do Sul cheia de agentes polticos ingleses, alemes, norte-americanos e sul-americanos, devido sua localizao prxima ao centro do continente tendo o Brasil a nordeste, a Argentina a sudeste, a Bolvia a noroeste, e o Chile, no muito longe, a oeste. Apesar de manter-se neutro, e de qualquer atividade poltica exercida por estrangeiros ser considerada ilegal (ibidem), todos ignoravam a legislao e continuavam com suas atividades clandestinas, no Paraguai.

E, no olho do furaco, o Brasil era a pedra de toque do equilbrio geopoltico e geoestratgico da regio. Sua atuao seria decisiva e impositiva. INDIGNAO E MOVIMENTAO A FEB CAMINHOHavia uma briga surda nos bastidores do poder entre americanfilos e germanfilos, no Estado Novo (1937-1945), a qual era alimentada e monitorada, de muito bem de perto, por Getlio Vargas. Este tipo de conduta de confronto mediado entre os colaboradores mais prximos, entre os funcionrios de alto e de mdio escalo governamental, fazia parte de um jogo poltico que se baseava em foras de ao parcial e de repulso no total de proposies para um engajamento definitivo ou com os Aliados ou com o Eixo.Nesta pera bufa, um verdadeiro teatro burlesco, onde prima-donas se desdobravam para serem o centro das atenes do governante, alguns nomes se destacam.

Simpatizando com o Eixo Fillinto Mller e Lourival Fontes. O primeiro deles era o temido chefe de Polcia do Distrito Federal, permanecendo nesse cargo por quase uma dcada, acusado de promover prises arbitrrias e utilizar-se da tortura no trato aos prisioneiros, e que ganhou repercusso internacional o caso da judia alem Olga Benrio, militante comunista e mulher de Lus Carlos Prestes, que por sua ordem foi deportada para um campo de concentrao nazista na Alemanha, onde foi executada em 1942. Sua orientao nazifascista, que o aproximou dos integralistas, tambm pode ser detectada por outras facetas e atos (Dicionrio Histrico Biogrfico Brasileiro ps 1930, pp. 1-2, 2001): ainda no final de 1937, logo aps a instalao da ditadura do Estado Novo, Filinto havia visitado a Alemanha em carter oficial, e l se encontrara com Heinrich Himmler, chefe da polcia poltica nazista, a Gestapo; em 1938, dirigiu o aparelho repressivo do governo contra os membros da Ao Integralista Brasileira (AIB), organizao poltica de inspirao fascista, que haviam promovido uma frustrada tentativa de depor Vargas; Simptico aproximao entre o Brasil e as potncias do Eixo, comeou a perder espao dentro do governo quando Vargas passou a sinalizar no sentido do apoio aos Aliados, na II Guerra Mundial. J com o Brasil em estado de guerra contra o Eixo, em julho de 1942, tentou proibir uma manifestao pr-Aliados promovida pela Unio Nacional dos Estudantes (UNE). Autorizada por Vasco Leito da Cunha, que respondia interinamente pelo Ministrio da Justia, a manifestao acabou se realizando, com enorme repercusso. O fato abriu grave crise no governo, resultando no afastamento de Filinto da chefia de polcia do Distrito Federal. Foi designado, ento, oficial-de-gabinete do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra.O segundo era o do Chefe do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) (NEGREIROS, 1979, p. 1), quase que com dimenso de Ministrio, e controlado por um terico do fascismo, chamado Lourival Fontes. Homem fabulosamente inteligente, cultssimo, mas fascista, desde 1924/25, quando foi diretor de uma revista chamada "Hierarquia", de orientao fascista, inclusive subvencionada pela embaixada italiana; isso tambm ficou provado.Entre os americanfilos, desataca-se Oswaldo Aranha. Apesar de ser o construtor-mor da aliana Brasil-Estados Unidos, processo iniciado quando embaixador brasileiro em Washington (1943-1938), no se caracterizou por uma coerncia plena na sua linha de ao. Sua atuao pr-Aliados alcanou seu auge na Conferncia do Rio, em janeiro do 1942, presidida por Osvaldo Aranha, o Brasil, e todos os pases americanos decidem por romper as relaes com os pases do Eixo menos Argentina e Chile, que o fariam posteriormente entre 1944 e 1945 ; a deciso foi uma vitria das convices pan-americanas de Aranha. Em maro de 1938 (Dicionrio Histrico Biogrfico Brasileiro ps 1930, p. 3, 2001), foi nomeado ministro das Relaes Exteriores. Nesse posto, promoveu uma poltica gradual, mas contnua e sistemtica, de aproximao do governo brasileiro com Estados Unidos. Essa aproximao, iniciada com a assinatura de importantes acordos comerciais, acabou levando colaborao entre os dois pases na rea militar e, por fim, ao prprio alinhamento brasileiro ao governo americano durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1943, foram assinados os Acordos de Washington, que concretizava os rumos da poltica externa brasileira ao determinar a venda de matrias-primas aos Estados Unidos em troca de apoio tcnico norte-americano em diversas reas, principalmente a militar. Como ponto mais negativo da sua atuao, ele fez circular nas embaixadas brasileiras situadas na Europa, em 1943, ofcios onde restringia a concesso de vistos brasileiros em passaportes de judeus, o que fez com que milhares de hebraicos perdessem suas vidas em campos de concentrao, na poca, Aranha era Ministro das Relaes Exteriores, sendo que ele foi to incisivo nesta deciso que demitiu sumariamente o cnsul brasileiro em Marselha (Frana) Luiz Martins de Souza Dantas, o qual havia concedido diversos vistos a judeus para que fugissem do horror nazista.

De todas as figuras deste perodo, a mais dbia, mas, sem dvidas, uma das mais decisivas, foi o General Ges Monteiro, Chefe do Estado-Maior do Exrcito. Segundo Negreiros (1979, p. 1), quando o Getlio deu o golpe do Estado Novo (1937), com o apoio das Foras Armadas, recebeu apoio do general Dutra, do general Ges Monteiro e do general Milton Cavalcanti, que era integralista, destacando que o general Dutra e general Ges Monteiro eram simpatizantes do nazismo, e de que o general Ges Monteiro inclusive foi condecorado por Hitler. Inclusive (ibidem), Ges Monteiro no perdia uma recepo na embaixada alem, foi condecorado pelo embaixador, e foi ele que, num dos primeiros atos, baixou a censura total e absoluta imprensa. Foi publicado no Legionrio, n. 343, 9 de abril de 1939 (OLIVEIRA, s.d., p. 1): O Sr. General Ges Monteiro foi designado pelo Sr. Presidente da Repblica para, atendendo a convite da Alemanha, ir estudar os mais modernos processos blicos naquele pas. Aquela alta patente militar, por este motivo, recebeu, em Porto Alegre, uma homenagem de uma associao de ex-combatentes alemes, presidida pelo cnsul da Alemanha no Rio Grande do Sul. Nessa ocasio, o cnsul alemo proferiu um discurso em sua prpria lngua natal, depois do que revelou ao Sr. Gen. Ges Monteiro a existncia de diversos ncleos de ex-combatentes no Rio Grande e no Rio de Janeiro. No disse entretanto se havia ncleos em outras localidades, o que, alis, importaria sobremodo saber. Podemos facilmente imaginar o embarao em que o Sr. Gen. Ges Monteiro se deve ter sentido. Enquanto o governo federal promulga leis destinadas, em boa hora, a reprimir as infiltraes alems que tantos dissabores vem causando na Argentina; enquanto o embaixador alemo no Rio permanece indefinidamente na Europa, o cnsul da Alemanha tem a sem-cerimnia de anunciar que seus patrcios continuam violando as leis brasileiras, e esta declarao feita na presena de um dos mais notrios representantes do Exrcito Nacional!.

Por outro lado, foi designado para promover a aproximao das Foras Armadas Brasileira com os militares estadunidenses. Latfalla (2011, p. 40) ressalta que, a partir de 1939, e com mais nitidez, as relaes militares Brasil- Estados Unidos se desenvolveram no contexto da poltica de segurana continental, os primeiros passos para um entendimento entre as duas naes foram dados atravs de uma srie de visitas ocorridas entre altas autoridades militares dos dois pases: o chefe do Estado-Maior do Exrcito dos Estados Unidos, general George Marshall, visitou o Brasil em maio, e o chefe do EME, general Ges Monteiro, os EUA em junho, criando uma boa aproximao entre os dois militares. Parte da Misso Aranha, esses contatos militares comearam marcados por um grave erro de interpretao dos planejadores norte-americanos (ibidem), uma vez que sustentavam a opinio de que apenas suprindo o Brasil com munio, j seria suficiente para que os outros objetivos americanos fossem facilmente atingidos. Ges Monteiro apresentou-lhes uma perspectiva mais ampla (ibidem, pp. 42-43): em fins de 1939, o EME apresentou um relatrio geral a respeito do mesmo ano, em que ressalta que o principal problema militar do Brasil, alm da falta de material blico moderno, estava localizado na regio Sul, colocando esta rea como a mais sensvel quanto s possibilidades de uma invaso, por sua riqueza econmica, pela presena de colnias estrangeiras e pela deficincia de transportes e comunicaes com o centro de gravidade do pas; quanto poltica externa, o documento diz que o EME no traava uma poltica exterior, mas a seu ver, esta tinha dois caminhos simultneos: um de captao de foras, e o outro de preparao de posies vantajosas para o desenvolvimento da guerra: o primeiro, a ntima cooperao com os EUA, o segundo, a penetrao econmica nos pequenos pases de nossas fronteiras, principalmente, Paraguai, Uruguai e Bolvia.

O relatrio do EME brasileiro afirmava ainda (LATFALLA, 2011, p. 43), com relao ao primeiro caminho, o documento diz que os EUA representavam na seqncia da histria e dos interesses brasileiros, o termo mais constante para a constituio de nosso primado de foras no continente, asseverando, de forma enftica, que, entre os pases americanos, Brasil e EUA eram as duas nicas naes no espanholas e que, ao contrrio das outras, no se fracionaram. Continuando com a sua explanao (ibidem), colocava tambm que pela identidade de fisionomia geogrfica, pela crescente dos objetivos polticos, como pelo desenvolvimento de uma permuta comercial que nos transforme em indispensveis e recprocos fatores de prosperidade, o Brasil encontrava nos EUA, o seu indefectvel companheiro de eixo para uma poltica exterior. Ressaltava que, para os EUA, o Brasil era a chave da defesa continental e a base do equilbrio e da paz das

Amricas e da defesa comum. Uma leitura mais acurada do momento, e da conjuntura, em que e este relatrio apresentado, mostra a posio do Exrcito Brasileiro e o caminho da cooperao junto aos EUA em caso de uma agresso ao continente, com especial destaque para o fato (ibidem) de que no existe neste relatrio nenhuma indicao de uma futura aliana com a Alemanha, em caso de uma guerra.Tais conversaes retroagem ao comeo deste dilogo, iniciado durante a visita do General Marshall, em maio de 1939 (LATFALLA, 2011, p. 41), quando ele participou as autoridades militares brasileiras da grande preocupao americana com as defesas da regio Nordeste, explicou que os EUA desejavam construir bases areas completas nesta regio e que as mesmas ajudariam na defesa do continente contra uma ameaa de invaso. Diante desta manifestao (ibidem), o general Ges Monteiro, em resposta, disse a comitiva americana que a preocupao do EME, naquele momento, era com a defesa da regio Sul contra a ameaa de invaso de outros pases, e tambm por causa da presena incmoda de uma grande colnia de origem germnica. De sorte que (ibidem) as discusses continuaram com a visita de Ges Monteiro aos Estados Unidos, logo aps o retorno de Marshall, com o mesmo insistindo na preocupao brasileira com a regio Sul e, apresentou uma relao de material blico a ser adquirido junto aos EUA a relao de armamentos colocada como prioridade inicial por Ges Monteiro inclua 156 peas pesadas de artilharia, 196 canhes antiareos, 102 avies de combate, 41 carros de combate, 252 viaturas blindadas e 722 armas automticas variadas, o total solicitado era o equivalente a trs vezes o citado nesta listagem , oferecendo como forma de pagamento, o fornecimento de matrias-primas, ou seja, de maneira semelhante ao que ocorria com o acordo j acertado, e em pleno vigor, com a Alemanha; os norte-americanos, que no careciam, e nem tinham urgncia, da maioria destas matrias-primas, preferiam o pagamento em dinheiro. Essa amarrao de uma poltica pan-americanista plena tomou maior vigor a partir da VII Conferncia Pan-americana, em Montevidu (1933) - adotou a Conveno sobre os Direitos e Deveres dos Estados, que reafirmou o princpio de que "os Estados so juridicamente iguais, desfrutam iguais direitos e possuem capacidade igual para exerc-los", reiterou o princpio de que nenhum Estado tem o direito de intervir (proibio de interveno) em assuntos internos ou externos de outro e sublinhou a obrigao de todos os Estados no sentido de que "as divergncias de qualquer espcie que entre eles se levantem devero resolver-se pelos meios pacficos reconhecidos" , reforada na Conferncia interamericana de Consolidao da Paz, ocorrida em Buenos Aires (1936), com a presena do Presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt. O ponto de convergncia deu-se na VIII Conferncia Pan-Americana, realizada em Lima (1938), os pases participantes decidiram que qualquer ameaa paz, segurana ou integridade territorial de qualquer repblica americana princpio da segurana coletiva, solidariedade/concerto continental dizia respeito s demais repblicas. Outras reunies, igualmente importantes e decisivas, foram realizadas no Panam (1939) declarada a neutralidade das repblicas americanas diante da guerra na Europa em Cuba (1940) e no Rio de Janeiro (1942). Santos (2005, p. 93) aponta para a perspectiva de que essa solidariedade com os Estados Unidos refletiu-se no apoio dado proposta estadunidense de um pacto de segurana continental apresentada na Conferncia Interamericana para a Consolidao da Paz, realizada em Buenos Aires, em 1936, oportunidade na qual os Estados Unidos propuseram a obrigao de consulta entre os Estados americanos no caso de conflitos interamericanos ou de ameaas externas ao continente. Frisando que (ibidem), essa proposio foi rechaada pela Argentina e foi necessria a suavizao do texto proposto (tornando as consultas facultativas) para ganhar a adeso de Buenos Aires resoluo. O apoio dado aos Estados Unidos nessa tarefa de convencimento da Argentina foi rememorado por Macedo Soares: Foi, sem dvida, a poltica de perfeita inteligncia entre os Estados Unidos e o Brasil, que tornou possvel o xito da Conferncia de Buenos Aires.

Indubitavelmente, foi o ataque japons a Pearl Harbor (07/12/1941) que amalgamou esse pacto pan-americano, porm, outros aspectos e situaes, no que concerne a relevncia brasileira neste contexto, devem ser apreciados (SANTOS, 2005, p. 94): essa orientao pr-americana foi seguida e aprofundada por Oswaldo Aranha a partir de 1938; j na Conferncia de Lima, no mesmo ano, o Brasil apoiou a proposta de ampliao do sistema de consultas criado em Buenos Aires e, no ano seguinte, no Panam, as repblicas americanas reuniram-se para decidir por sua neutralidade frente ao conflito na Europa; tendo em vista a ocupao alem da Frana e da Holanda ambos pases com domnios coloniais no continente americano , na Conferncia de Havana, em 1940, determinou-se que qualquer tentativa contra a integridade ou inviolabilidade do territrio de um Estado americano por uma potncia extracontinental seria tomada como uma agresso aos demais Declarao de Cooperao Mtua e de Defesa das Naes das Amricas. Os laos estavam comeando a se tornarem to fortes e confiveis que (ibidem) a despeito dos sinais contraditrios emitidos por Vargas como o discurso proferido a bordo do encouraado Minas Gerais em 11 de junho de 1940 , a diplomacia brasileira seguia dando suporte s propostas estadunidenses no mbito das diversas conferncias interamericanas. O que demonstra que, apesar do Presidente de ter elogiado o nacionalismo das "naes fortes", numa referncia indireta, mas ferina e sutil, s ditaduras direitistas da poca, e sendo um discurso proferido para a cpula das Foras Armadas Brasileiras, existe uma grande diferena entre manter boas relaes comerciais com os pases do Eixo, e mesmo externar, dentro de uma manobra/provocao tanto diplomtica como geopoltica e geoestratgica, uma certa admirao por esses pases, e, na prtica, aliar-se com eles numa guerra.Por detrs desta aparente calmaria na superfcie, a tempestade era certa.

Anterior a movimentao pan-americana, que iria deflagrar todo um processo de alinhamento e de validao de compromissos continentais, se no de decretao de estados de beligerncia ou de formao de alianas militares explcitas, mas, por sua vez, na maioria dos casos, de estabelecimento de acordos bilaterais e de manuteno de uma conduta oficial de neutralidade, uma imediata resposta nazista se fez sentir entre a costa atlntica dos Estados Unidos e o Atlntico Sul. Um passo frente dos novos inimigos (DUARTE, 1968, p. 54), o Almirante Denitz, no seu QG, em Paris, recebeu a informao, em 09 de dezembro de 1941 dois dias aps o ataque japons a Pearl Harbor que o Comando-Geral de Submarinos considerasse suspensas todas as restries da Zona de Segurana Pan-Americana, por ordens expressas do Fhrer. A blitz naval do hemisfrio ocidental (ibidem), programada pelo Almirantado Alemo, iniciou-se em janeiro de 1942, e devido a carncia de meios de defesa norte-americana, provocando srios problemas nas numerosas rotas martimas, pois desde de 1941 a Inglaterra era favorecida por uma lei norte-americana votada pelo congresso, a lei de emprstimo-arrendamento, que permitiu o envio de material para a Europa, imediatamente colocado ao servio do seu esforo de guerra em 14 de setembro de 1941, negociada na Conferncia do Atlntico (codinome Riviera) pelo primeiro-ministro britnico Winston Churchill e pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, a bordo do HMS Prince of Wales em Argentia, na Terra Nova, foi assinada a Carta do Atlntico, entre a Inglaterra e os Estados Unidos da Amrica, um documento onde eram propostos os objetivos da guerra e do ps-guerra por parte dos Aliados.

A resposta do governo dos Estados Unidos s ocorre em 10 de dezembro de 1941, na Comunicao Unio Pan-Americana (Junta Interamericana de Defesa, s.d., p. 1), informando a Unio Pan-Americana o memorando apresentado aos ministros das Relaes Exteriores das Repblicas Americanas em um sentido similar proposta chilena: "Nesta situao, que constitui uma ameaa paz, segurana e da futura independncia do Hemisfrio Ocidental, parece muito conveniente consultas urgentes entre os Ministros dos Negcios Estrangeiros. Importante frisar que (ibidem) tal comunicado inclua uma proposta de tal reunio ocorreu no Rio de Janeiro na primeira semana de janeiro e um anexo com uma Ordem do Dia a Comisso Especial se preparar para a Terceira Reunio de Ministros dos Negcios Estrangeiros de referncias americanas Repblicas estudou as propostas e sugestes feitas pelos governos do Chile, Bolvia, Colmbia, Peru, Equador e Venezuela. Em 17 de dezembro de 1941, aps a segunda reunio do consulta, ficou decidido que (ibidem): I.Proteo do Hemisfrio Ocidental e; II.Economia Solidria. Isto , quando a proposta vem da criao da Junta Interamericana de Defesa americana, o Departamento de Estado dos Estados Unidos e estava na agenda da delegao da Repblica da Terceira Reunio de Consulta dos Ministros das Relaes Exteriores realizada no Rio de Janeiro em 1942.

Seguiram-se outras decises cruciais.Em 27 de dezembro de 1941 (Junta Interamericana de Defesa, s.d., p. 1) o Departamento de Estado fez saber ao Exrcito uma cpia desse projeto. Em resumo continha: Assistncia Primeira, a invocao da declarao adoptada na Conferncia de Havana em julho de 1940, intitulado Cooperao Mtua e de Defesa das Naes das Amricas, segundo, a criao de um Conselho Interamericano de Defesa, consistindo representantes das Foras Armadas de cada da reunio Repblicas Americanas, em Washington, a fim de definir e coordenar medidas de proteo e defesa essencial, e terceiro, a criao de Juntas regional, semelhante ao Conselho de Defesa existente U. S. Mista. UU. e Canad, e da Comisso Mista de Defesa projetada EUA. UU. e no Mxico. J em 03 de janeiro de 1942 (ibidem), por sua vez, o Exrcito e a Marinha por meio General Marshall e Almirante Stark sabia que o Senhor Sumner Welles, subsecretrio de Estado e chefe da delegao dos EUA para a reunio no Rio de Janeiro, os objetivos dos seus respectivos departamentos. Neste sentido, a ordem do Chefe de Gabinete foi: a) Declarao de guerra por todas as repblicas americanas para todos os membros do Eixo; b) No possvel ruptura das relaes diplomticas com as potncias do Eixo; c) Conformidade para permitir o movimento da U. S. Air Force atravs do territrio de cada uma das Repblicas Americanas com aviso prvio para que seja possvel, mas sem a exigncia era obrigatria; d) O cumprimento por cada uma das Repblicas Americanas, que j no tivesse concordado em permitir a entrada ou atravs do seu territrio e estacionamento dentro do ncleo dos destacamentos de base, manuteno, comunicaes e meteorologia com seu prprio equipamento e local elementos de segurana essenciais para o apoio logstico da operao da aeronave; e) O cumprimento de cada uma das Repblicas Americanas ceder a foras dos EUA. Estados para entrar ou de trnsito de seus territrios, de acordo com as conformidades acima, e durante o curso de e em defesa deste hemisfrio, o uso de todas as instalaes necessrias por essas foras.

Para o Brasil, o que mais importava foi a resoluo da Marinha (US Navy) (Junta Interamericana de Defesa, s.d., p. 1), por outro lado, alm de chegar a acordo sobre os dois primeiros pontos, pediu em relao s suas prprias necessidades, entre outras coisas: definido naval trabalhado pelos pases latino-americanos para proteger suas prprias guas; uso irrestrito de instalaes porturias para operaes navais dos EUA. Lembrando que (ibidem), os Departamentos de Guerra e da Marinha, dos Estados Unidos, opuseram criao do Conselho Interamericano de Defesa e das respectivas Secretarias (Stimson e Knox), e o Departamento de Guerra tambm se ops criao das Comisses Regionais, sendo que, por outro lado, o Exrcito queria invocar o acordo do Estado-Maior de 1940, revista e ampliada, se necessrio em negociaes bilaterais. Entende-se, na poca, bilateral, realizada pelo general Marshall e seus assessores o melhor meio de obter a cooperao que ainda no est em vigor, uma vez que acordos bilaterais que j existem so razoavelmente bom, se feito as medidas necessrias para pr em prtica sem demora em caso de necessidade.

Os planejadores estadunidenses, durante a segunda metade da dcada de 1930, e mediante ao dinamismo e a incerteza da situao internacional frente ao expansionismo e ao intervencionismo do Eixo, j haviam estipulado cenrios e linhas de conduta e de ao como e quando sua poltica de neutralidade se tornasse insustentvel e descartvel. Visando a preservao dos seus interesses e da sua soberania, alm de buscar estabelecer um anel defensivo coeso (LATFALLA, 2011, pp. 40-41), a Marinha e o Exrcito dos EUA, em conjunto, antes da entrada do pas na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941, elaboraram os chamados planos Rainbow, no total de cinco, ao final do conflito, sendo o nmero 1 considerado bsico, pois, proporcionava a defesa do hemisfrio ocidental, do Nordeste do Brasil a Groenlndia, at o Hava, no Oceano Pacfico, e, mais tarde, em 1941, foi elaborado o plano Rainbow 4, que era similar ao 1, mas que determinava a proteo de todo o hemisfrio ocidental. Puxando a sardinha para a nossa brasa (ibidem, p. 41): de acordo com esses planos, estava previsto o envio de tropas americanas para a regio Nordeste do Brasil com um efetivo de milhares de soldados; conforme nosso estudo mostrar, isto nunca foi aceito pelos militares brasileiros; nesta poca a regio nordestina no era motivo de preocupaes para o EME, que via na regio Sul, fronteira com a Argentina, a verdadeira rea com a qual o Brasil devia olhar com mais ateno.

A realidade da guerra no demoraria a se impor ao Brasil. Nos trs primeiros meses de 1942 (DUARTE, 1968, p. 62), os desastres ocorreram nesta seqncia: janeiro 33 afundamentos, fevereiro 59 e maro 64; ao todo 156 navios torpedeados, entre os quais cinco de bandeira brasileira, o Cabedelo, o Buarque, o Olinda, o Arabutan e o Cairu. De fato, a campanha irrestrita contra a frota mercante brasileira e marinha de guerra de todas as naes sul-americanas, excetuando-se navios de bandeiras argentina e chilena, determinada, pelo Almirantado Alemo, em 16 de maio de 1942, sendo que at ento j haviam sido afundados sete navios mercantes brasileiros acima de 10 graus de latitude norte , ataques que (ibidem, p. 108) justificam-se sob a alegao de que seus capites (Kriegsmarine) no foram capazes de reconhecer a identidade neutral de tais barcos, alm do que os navios navegavam em ziguezague, muitos j armados, pintados vrios de cinza e sem bandeira ou outro sinal da respectiva nacionalidade, o que de resto era uma deslavada mentira. Percebe-se uma pfia tentativa alem de reatar relaes com o Brasil, rompidas na Conferncia Pan-Americana do Rio de Janeiro janeiro de 1942 , e apesar do ataque de avies brasileiros a um submarino do Eixo, em maio de 1942, manobra abandonada em 04 de julho de 1942 (ibidem), quando, depois de uma conferencia entre Hitler e o Almirante Raeder havida no fim de junho, foi decretada a sentena, dando-se permisso para que fossem atacados os navios brasileiros.

Outro fator que contribuiu de forma decisiva para a campanha submarina alem em guas territoriais brasileiras foi a cesso da base rea de Paramirim (Natal, RN), em meados de 1941. Porm a base remonta ao ano de 1925 (PARANAMIRIM, s.d., p. 1), quando a empresa de correio areo francesa Latcore manda ao Brasil, via navio, uma srie de avies, pilotos e mecnicos, para explorar a viabilidade de implantar no Pas o servio de correio areo. No incio, sem aerdromos, os pilotos exploradores eram obrigados a pousar em descampados, principalmente praias, consolidando o trajeto Rio de Janeiro-Recife, e em 1927, j com autorizao do Governo Federal os franceses implantaram a linha regular Recife-Buenos Aires (Argentina). Nesse mesmo ano, tendo em vista a futura unio aeropostal entre Paris e Buenos Aires, a Latcore envia a Natal o piloto Paul Vachet com a misso de encontrar uma rea para construir um aerdromo potiguar; pista terminada em 15 de outubro de 1927.

Sobre a presena norte-americana na base, h que se considera que com a queda da Frana para a Alemanha na Segunda Guerra, o governo dos Estados Unidos preocupado com o estabelecimento de bases do Eixo em territrios franceses nas Amricas, passa a ocup-los, e como o Brasil era um pas soberano aqui no puderam faz-lo, portanto, em 1941, a alternativa foi um acordo com o governo brasileiro no qual uma empresa americana Pan Am atravs de sua subsidiria Airport Development Program (ADP) ocuparia esses aeroportos com o intuito de desenvolv-los (PARANAMIRIM, s.d., pp. 1-2): a obra comea em Parnamirim em julho de 1941, mas na realidade todo o dinheiro empregado pela ADP vinha do governo norte-americano que tinha interesse em ter pistas de pouso na rota da frica para exportao de avies destinados aos ingleses, que j combatiam os italianos e alemes no norte daquele continente desde 1940; a mesma situao vivida pelos franceses e italianos, entre maio e junho de 1940, inimigos e vizinhos, voltou a se repetir quando chegam os americanos em 1941 para desenvolver Parnamirim sob a administrao do ADP. Embora no inimigos declarados, na realidade os EUA estavam totalmente do lado ingls contra o Eixo, do qual a Itlia fazia parte. No desenrolar, os americanos comeam a construir as pistas novas e so regularmente espionados pelos italianos que sobrevoavam a obra para fotografar. Comeou o embate diplomtico afim da expulso da LATI pelo governo brasileiro sob o pretexto de espionagem, mas antes disso, em dezembro de 1941, os Estados Unidos entram na guerra e cortam totalmente os suprimentos de combustvel dos italianos, agora inimigos declarados que sem alternativa fogem deixando para trs aeronaves, edifcios, enfim tudo.Mas no foram apenas tropas norte-americanas que se beneficiaram dos confiscos de guerra. Adotando uma poltica de cautela e de amizade monitorada (PARANAMIRIM, s.d., p. 2), j o hangar da LATI, que estava vago e ainda equipado inclusive com um avio, foi ocupado pelo Exrcito Brasileiro, pois a misso era a de espionar o movimento dos americanos, e essa situao no se estendeu por muito tempo por dois fatores: o primeiro que todas as instalaes existentes (LATI e Air France) com a pista, passaram a ser a Base Area de Natal (Bant) criada em maro de 1942; e o segundo que os primeiros prdios da base americana conhecida como Parnamirim Field j haviam sido completados. A complexidade da situao era maior do que aparentava (ibidem): vale ressaltar que o Brasil, nesta poca, ainda no estava em guerra, contudo, permitiu a operao dos americanos devido ao Tratado de Havana, assinado em julho de 1940; tal acordo, previa que qualquer nao do continente americano que fosse atacada por um pas no-americano, todas as outras se aliariam contra o atacante; aps 8 de dezembro de 1941, quando os EUA entram oficialmente em guerra, era de se esperar que o Brasil tambm o fizesse, mas opta em apoiar o americano sem declarar guerra; o fato criou um mal estar com os alemes, que diplomaticamente assim como os Estados Unidos, passaram cobrar uma posio dos brasileiros, quando em janeiro de 1942 o governo do Brasil rompe relaes diplomticas, entretanto, a decretao do estado de guerra viria a ocorrer oito meses depois.Retomando as consequncias e desdobramentos provocados pelo afundamento dos navios brasileiros, um inequvoco ataque soberania nacional, ao direito internacional e as leis de guerra, a situao interna se desenvolveu com relativa rapidez, mas com razovel perspiccia e garantias. De acordo com Alves (2012, p. 103), de janeiro a agosto de 1942, diversos navios mercantes nacionais foram afundados por submarinos alemes e italianos, inclusive na costa brasileira, em virtude da escala de envolvimento do pas no esforo de guerra norte-americano, no era sensato ao Eixo poupar navios do Brasil na guerra submarina total desferida no Atlntico. Os ataques mais graves aconteceram em agosto, na costa da Bahia e de Sergipe, e custaram a vida de mais de 600 brasileiros, inclusive mulheres e crianas. A destruio dos navios, e o clamor popular decorrente, levaram Vargas a decretar o estado de guerra com a Alemanha e Itlia.O resultado da somatria de todos estes fatores se traduz em claros e incontestveis desdobramentos geopolticos, geoestratgicos e militares.

Dessa forma (ALMEIDA DE OLIVEIRA, 2011, pp. 10-11), no Nordeste brasileiro, ponto estratgico devido a sua proximidade com a frica do Norte, e na defesa do Canal do Panam, foram instaladas, conjuntamente com unidades militares locais, instalaes norte-americanas para assegurar a defesa do Atlntico Sul, e como base de operaes para incurses contra posies do Eixo durante a Operao Torch (Tocha) Norte da frica. Formou-se assim o U.S.A.F.S.A. (United States Armed Forces South Atlantic), com Quartel-General no Recife, grupamento que tambm dispunha de unidades areas e navais de outros pases, chefiado pelo Vice-Almirante Jonas Howard Ingram (Comandante das USAFSA) e o General Robert L. Walsh (Comandante da Ala Sul dos Transportes Areos). Bases areas como a de Parnamirim, em Natal (O Trampolim da Vitria), e a de Ibura, em Recife, alm de aeroportos em Salvador e na regio Norte (borracha), e portos utilizados na campanha anti-submarina, foram decisivas para o esforo de guerra Aliado. Tais operaes de busca e de destruio da ameaa ao comrcio martimo aliado representado pelos sorrateiros U-Boat (submarinos) alemes, e de defesa de pontos estratgicos do litoral brasileiro, e da subrea do Atlntico Sul, compreendida entre Dacar na frica do Norte e Natal no Brasil, mesmo at Salvador, eram de responsabilidade, desde 1942, da 4 Esquadra Norte-Americana/Fora-Tarefa 3.Para evitar interpretaes equivocadas, ou tendenciosas, deixando bem claro que (ALMEIDA DE OLIVEIRA, 2011, p. 11) a ao conjunta de foras brasileiras e norte-americanas era coordenada pela Comisso Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos (Joint Brazil-United States Defense Comission), de 30 de dezembro de 1942, resultante do Acordo de 23 de maio de 1942, regulando no apenas aspectos militares e econmicos das relaes entre os dois pases, como tambm encarregada de zelar pela defesa do continente americano. No xadrez das relaes, e salvaguardas, bilaterais (ibidem, p. 12): cesso de instalaes areas e navais necessrias defesa conjunta e ao esforo de guerra comum, entre outras franquias, como trnsito de tropas norte-americanas e construo de depsitos para material e alojamento para pessoal, complementavam o acordo; porm, importante reforar que tropas dos Estados Unidos somente poderiam atuar e se estabelecer em territrio nacional em caso de sofrermos ataque de foras extracontinentais, e na constatao de ameaa de ataque; sendo que, em ambos os casos, mediante solicitao do governo brasileiro e com subordinao ao Comando local; em casos especiais, previa-se o deslocamento de foras militares para a defesa de outros pontos do continente, desde que no comprometessem a defesa militar brasileira.Relembrando que, conforme Latfalla (2011, p. 42), nos EUA, a Resoluo Pittman, que autorizava o envio de armas para os pases latino-americanos, estava paralisada no Congresso e somente seria aprovada aps a terrvel derrota dos franceses em junho de 1940, frente aos alemes, uma vez que os americanos contavam que a Inglaterra e a Frana conseguiriam impedir o avano nazista no continente europeu, como na Primeira Guerra Mundial; assim, os EUA, no precisariam se preocupar com a guerra europia, era tudo o que os isolacionistas sonhavam. Para lidar com a nova situao de aberta beligerncia, dos dois paises com as potencias do Eixo, foi montada a Comisso Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos, originado do acordo de 23 de maio de 1942 (SILVA, 1974, p. 172), destinado a traar normas e condies para regular o concurso de foras militares e econmicas dos dois pases, visando a defesa do continente, em especial, de acordo com a Recomendao n. 11, aprovada em abril de 1943, de defesa da subrea do Atlntico Sul, adjacente Costa do Brasil, de forma cooperativa e sem ingerncias norte-americanas nas Foras Armadas Brasileira e na soberania nacional, apenas com cooperao e co-participao acordadas entre as partes. A figura de destaque era o Comandante da 4 Esquadra Norte-Americana, Vice-Almirante Jonas Howard Ingram o qual chegou a ser sondado por Vargas para assumir o comando da Marinha Brasileira. Alguns aspectos sobre a Comisso Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos se destacavam (SILVA, 1974, pp. 105-106): tambm se reafirmava a resoluo, aprovada na Terceira Reunio de Ministros das Relaes Exteriores das Repblicas Americanas, de que a cooperao, para a proteo de ambos os pases e do continente, deveria continuar at que desaparecessem os efeitos do conflito; para a execuo de do Acordo seriam constitudas duas comisses mistas brasileiro-americanas, uma com sede nos Estados Unidos e outra no Brasil, compostas de representantes do Exrcito, da Marinha e das Foras Areas dos dois paises; cabia a essas comisses elaborar planos minuciosos e estabelecer, entre os estados-maiores, acordos destinados defesa mtua; constariam desses planos, alm de outros assuntos, as atribuies do comando das operaes e, de um modo geral, as responsabilidades de cada parte contratante nos teatros de operaes que se viessem a criar; a elas caberia, no caso de se modificar a situao estratgica, recomendar aos dois governos as alteraes a introduzir nos planos aprovados e as medidas a executar, para garantir-lhes o xito.Adendo curioso o fato de que, em 1940, o navio brasileiro Almirante Alexandrino (DUARTE, 1968, p, 45) recebeu ordem para ir a Itlia, a fim de receber parte da encomenda de material blico, deita pelo governo brasileiro na Alemanha, isso porque os portos alemes estavam bloqueados pelos Aliados e os mares europeus j infestados por submarinos dos beligerantes. Em junho, aps receber o material de guerra n