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MELODRAMA FANTASIA FOLCLÓRICO CORDÃO DO JAPIIM PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA FLÁVIO DE BRITO

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MELODRAMA FANTASIA FOLCLÓRICO

CORDÃO DO JAPIIM

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA

FLÁVIO DE BRITO

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Sobre a digitalização desta obra Esta obra foi digitalizada para proporcionar de maneira totalmente gratuita o beneficio de sua leitura àqueles que não podem comprá-la ou àqueles que necessitam de meios eletrônicos para leitura. Dessa forma, a venda deste E-book ou mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é totalmente condenável em qualquer circunstância. Obras disponíveis do autor

Cinco segundos de Poesia Auto do Boi Estrela (Teatro Popular) Caboclo (Homem & Natureza) P O E M A S Auto do Fidalgo Português (Teatro Popular) Paixão e Morte na Mata Encantada (Teatro Popular ) A viagem do Curupira Extraterrestre (Teatro infantil) Poemas do Meio Dia Poemas da Meia Noite Poemas para Curumins Poemas de Coveiros

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PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

O povo Amazônico ... Riqueza de minha personalidade cultural.

Os costumes Paraenses... “Tesouros de minha infância.”

A vida Castanhalense... Honraria por ter nascido em teu leito.

Flavio de Brito

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

MELODRAMA FANTASIA FOLCLÓRICO

CORDÃO DO JAPIIM

“PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA” PERSONAGENS Menestrel Pássaro Japiim Barão Antônio de Souza Senhorinha Thereza Feiticeira Matinta Perera Fada Mãe D’água Caçador Francisco Matuto Macaxeira Matuta Raimunda Tuxaua Cunha Aracy Figurantes

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

APRESENTAÇÃO

Esta obra tem o desígnio de resgatar a manifestação de melodramas de Cordões de Pássaros com suas comédias de fantasias que em outrora entusiasmavam o calendário das Festas Juninas de nosso estado. Hoje, entretanto, devido os vários sentidos dos meios de comunicação e informações de nossa região, conseguiram direcionar o esquecimento de uma de nossas mais aguerridas manifestações culturais. O estado do Pará concebe em todo o seu território, riquíssimos caracteres de tradições folclóricas com muitas características influenciadas pelas culturas indígenas, africanas e européias. Neste ínterim, surge em sua história os “Cordões de Pássaros” instituídos através das mostras de operetas, circos e burletas das Companhias Européias que por aqui abordaram nos primórdios do desenvolvimento social da Amazônia. Neste argumento, tais companhias abrilhantavam as noites de gala em nossa grande Belém com apresentações de grande luxo e de impecáveis aspectos pautados na vida habitual da Europa. Com a vivencia das companhias européias em nossa capital, muitos espectadores da coletividade paraoara, seguiram uma nova característica de encenar a reprodução destas Companhias dentro de uma realidade social cabocla. Neste contexto, os dramaturgos da época, reverenciavam as suas tradições através do teatro, onde eram encenadas em logradouros, praças e eventos públicos. Os melodramas captavam a cultura indígena, destacado por suas lendas, alimentação, bem como, os rituais de cura com o conhecimento de ervas e plantas de nossa região. O branco, com a sua posição de suprema força, trouxe para os textos dos dramaturgos, as vestimentas, a etiqueta, os Santos e o poder político e social nos campos e cidades. Já o negro distante de sua terra natal direcionou a sua representatividade nos melodramas através de seus cultos religiosos, batuques e danças. O teatro popular em especial aos “Cordões de Pássaros” segundo alguns estudiosos, talvez seja o único no país com toda esta bagagem de tradições culturais juntas. Conhecendo a importância de preservar as nossas tradições esta obra vem atender os objetivos propostos no estudo da cultura da Amazônia no sentido de apoiar outras culturas esquecidas na Amazônia que visem o fortalecimento da nossa cultura para o mundo.

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito DESENVOLVIMENTO O Melodrama Fantasia Folclórico “Paixão e Morte na Floresta Encantada, sucede nas matas da Amazônia nos meados do século passado, com a promessa da morte do pássaro Japiim pelo Barão Antônio Souza. A Senhorinha, apaixonada pelo pássaro encantado, tenta com todas as suas forças para que não ocorra este fato. O fato começa quando o Barão Antônio Souza, aspirando pelo deleite dos amores da dama Thereza, soube que a mesma estaria apaixonada pelo Mancebo Pedro, assim, contrata os serviços da feiticeira Matinta Perera, para transformar o mancebo em bicho. Neste argumento de círculos amorosos, o Barão , contrata o caçador Francisco para assassinar o pássaro Japiim (mancebo Pedro enfeitiçado). O caçador como recompensa, iria ganhar do barão muito dinheiro. Neste enredo de contos de fada amazônicos , o melodrama adota os protetores sendo as entidades espirituais destes locais, onde a Mãe D’água, intervém para que não se consuma o homicídio. O matuto Macaxeira e sua esposa Raimunda, célebres personagens de nossas reminiscências são as figuras dramáticas que estão praticamente em todos os atos. Muitas de suas participações são com interpretações de gestuais, dando ao enredo a sabedoria especifica de nossos “sumanos” O melodrama em si, adotará novas adaptações em seu desenvolvimento de acordo com as necessidades do enredo , porém não desrespeitará as tradições dos cordões de nossa região. No desenrolar do drama, o matuto dará o seu ar de herói na sua própria terra, valorizando assim as experiências e conhecimentos de nossos ribeirinhos.

Uma boa estória para todos

Flávio de Brito

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA

( Canto I )

MARCHA DE RUA

Cortejo ordenado para a entrada do espetáculo, todos cantam, na seqüência rojões para a apresentação ao público.

OBS.: Os rojões só poderão ser queimados dependendo do local de apresentação. Nesta rua, nesta rua da alegria Vem chegando, vem chegando este cordão (Bis) Corram meninos e meninas para a praça Que o pássaro japiim já vai chegar. Venham todos conhecer esta história A beleza, a beleza do amor Venham todos conhecer este cordão Que a Amazônia e o Folclore aqui nos dão. Encenado a marcha de rua, o cordão dispõe-se no palco, entrando todos os personagens. Todos deverão neste momento, iniciar a marcha de apresentação já direcionado ao público presente. O Marcador marcará com um apito para cada início de toada. Os brincantes deverão estar em semicírculo (meia – lua ) enquanto o pássaro se colocará ao centro do “palco” (bate as asas sem parar )

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

COMPOSIÇÃO DE MARCAÇÃO DOS BRINCANTES

Centro (cabeça da meia lua) : Menestrel Centro ( à frente da meia – lua) : Pássaro Japiim Para a esquerda: Antonio de Souza Senhorinha Thereza Feiticeira Matinta Perera Fada Mãe D’ água Para direita: Caçador Matuto Macaxeira Matuta Raimunda Tuxaua Cunhã Aracy

( Canto I ) MARCHA DE APRESENTAÇÃO

Ei senhor dono da casa! Dê licença que aqui vamos contar A historia do japiim Salve a todos deste lugar (bis) Deus salve esta bela casa! E a todos que aqui estão. Este é o pássaro mais querido De toda esta grande região. (bis) (Menestrel apita )

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

I ACTO

Entrada do menestrel ( proclama alto o texto ) Menestrel Nhá senhorinha, formosa criatura Flor eterna da meninice pura De certo, o barão ao peito suspira por ela, Nhá senhorinha, não deseja esta jura. ( O pássaro japiim neste momento, começa a dançar , utiliza uma coreografia em vôos rasantes, em sincronia com a entrada da senhorinha na dança, realizando um encontro.) Senhorinha Thereza : Pensei muito em ti, meu pássaro querido Bendito sejas! Pois não há em teu leito as minhas dores de amores... Pássaro Japiim: Estamos em pleno verão minha amada, Brinquemos como as borboletas ao vento do norte E é deste vento ruidoso e saboroso Que tiro a saudade de teu beijo e de tuas mãos. Senhorinha Tereza: Vamos meu amado, Leve-me por estes ventos que tanto desejo... Mostre-me este céu azul e todos os cantos desta terra. Pássaro Japiim: Um mistério noturno paira por estes campos do norte Invoco diariamente a esperança de dias melhores Bem sabes o feitiço que guardo por todos estes anos. Senhorinha Thereza Meu grande amor tenha paciência, Apenas um breve tempo nos separa deste infortúnio, Logo, hei de beijar-te e amar-te como nos tempos de outrora. Tenho que ir, E esta dor que não cessa pela inveja que nos rodeia. (A senhorinha sai enquanto o pássaro retorna a ponto de marcação)

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Menestrel O casal enamorado, Sofrem pelo feitiço realizado pela danada Matinta Eis a triste história que nos cerca Nestas terras da Amazônia hospitaleira. Entrada do Barão ( entra em cena irado ) Barão Antônio de Souza Mas o que pensa esta dona Thereza Em almejar um estúpido pássaro Lanço neste exato momento á todos os presentes A morte deste mancebo emplumado Ferve neste peito ferido a ira de consumar este fato. Sabendo que nunca poderei tê-la em meus braços Mandarei matar este pássaro á bala. Neste momento irei atrás do caçador Francisco Para sanar esta dor que tanto maltrata. (Sai de cena)

FIM DO I ACTO

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

II ACTO Menestrel: Eis agora para os vossos conhecimentos a mulher da mata, a feiticeira, ela a Matinta Perera. Entrada da feiticeira Matinta, a personagem entrará calma, no decorrer da cena a mesma realizará coreografias de acordo com o ponto de candomblé cantado seguido à coreografia Feiticeira Matinta Avante energia dos tempos! Avante o universo destas matas! Banham-me as águas da noite... (Coreografia) Eu, feiticeira das matas! Nas noites frias, assobio nos terreiros! “As veis” vou montada nos “bicho que passa”. Boto, Boiúna e Mapinguari... Dormem nestes braços de raça. (Gargalhadas) Meu destino é indeciso, Como a chuva que cai na noite de trovoada, Sou arteira, de vez em quando ganho um bocado de tabaco E realizo os desejos de quem me presenteia Eu a rainha deste lugar que mora nas brenhas escuras das matas. Realizarei o desejo do barão Matando o pássaro encantado Serei os olhos do caçador da mata Para finalizar este ato. (Sai dando risada ) [(entrada do caçador )]

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Menestrel: Eis o caçador destas matas! Aí vem o Senhor Francisco! (Entrada do caçador procurando o pássaro Japiim) Caçador Francisco Sou Francisco o caçador Cá estou para matar o japiim Pobre coitado, já foi um bonito mancebo destes campos Deus tenha pena de mim. Fui contratado pelo velho barão Por mil réis farei o homicídio Já ouvi a Matinta, não tarda chegar, Trouxe comigo muito tabaco para lhe ofertar. (continua procurando o pássaro)

FINAL DO II ATO

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

III ACTO Menestrel: Agora, conheceremos a mãe de todas estes pássaros, peixes e animais é ela a nossa Mãe D’água, vem triste já sabendo do iria acontecer. ( Entrada da Mãe D’água com coreografia) Mãe D’água Hei de ser a incansável esperança Meus bichos, minhas matas Outrora por toda à parte No momento só a morte que nos arrasa. Matas cobertas por chamas Vibram os sons da maldade humana Olhai meu Deus por todos nós Temo o futuro além destas chamas. Protegerei o mancebo japiim Sua sina é a morte certeira Desce do céu a ira de Tupã Vem com a força da pororoca estradeira Tenho que ser rápida, pois já chega à hora de tudo começar. (Ouve-se cantos de pássaros, a personagem anda pelo centro do palco tentando ouvir o que os pássaros estão tentando informá-la) (Sai de cena)

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Entrada dos Matutos Apesar dos personagens ainda não terem realizado narrações, os matutos Macaxeira e Raimunda até o momento somente mostraram gestuais de acordo com a fala de seus companheiros de palco. Neste momento os personagens se apresentarão ao público com trejeitos caboclos. Logo após as suas narrações o melodrama entrará em novo ritmo no palco. ( Sonoplastia: Carimbó ou ritmos regionais) Matuto Macaxeira Histúria empanzinada! Caçado mais seu duto enrabixado pela bicha senhora! Homi, sumano, tudu issu é friscura Barata cabeluda tem em tudu lugar. Matuta Raimunda E mermo abestado esse barão, Eita velho que só veve suado Já devi até di ta de macaxera mole Isso é mermo friscura desse emancebado. Macaxeira Cúm tanta bicha cabeluda por ai Num acridito que essa é de úro Humm se essa bicha subesse Que a macaxeira do homi tá é com cheiro de bisôro. Raimunda Olha macaxeira, vâmo si aquieta na mata! Vâmo homi, temo qui vê o qui vai acantecer Num demora o caçadú vai mata o bicho Vâmo logo que já vai anuitecê. Macaxeira Eu só quero vê a briga Da matinta com a mãe da água! Égua! Essa mata vai tremer Vixe Maria! Meu buracu já tá apirtado Vâmo vê o qui vai acontece. ( Saem de cena dançando carimbó, entrada dos índios com ritmo de marcha )

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

(Sonoplastia para a entrada dos índios) Tuxaua Cunha Aracy, caapora do mato Trouxe a notícia pelo vento Que caraíba destas terras brancas Deseja fazer... Escutem o baralho dos papagaios Irmão Japiim esta em perigo Tempestade vêm chegando, Pororoca está estralando, Vamos! Temos que partir! Cunhã Aracy Meu guerreiro Tuxaua O caraíba se perdeu no amor de maneira errada A vingança cruel daquele senhor, está para suceder Escute! O Caité! A mata ficou muda! Vamos! Temos que ajudar através do Macaxeira e da Raimunda. Tuxaua Piracema tá saindo com cheiro de morte Revelarei aos matutos os segredos de nosso pajé Ibarapé trará as nuvens brancas ao caraíba infernizado pelo catimbó da Matinta.. Vamos! O Abaeté não poderá morrer, pois é caraíba honrado. (Saída dos índios)

Fim do III ACTO

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

IV ACTO

Menestrel: Teremos agora o encontro do barão com a senhorinha, vamos ver a seqüência desta cena de pedidos frenéticos de ambas as partes. Senhorinha Thereza Soube o que vossa senhoria mandou realizar, Pois cá estou para pedir por obséquio que não faças o prometido. Oh! Meu senhor, tenha piedade, Cesse esta dor que por muito tempo arrasa-me. Barão Minha jovem , bem sabes o amor que sinto por ti É este destino que trago em meu peito Não me censure por este ato covarde Perdoe-me senhorinha, não haverá outro jeito. Senhorinha Tereza: ( Expressões corporais de desespero ) Não sei ao certo o que sentes por mim Todavia, preferes que este corpo também encontre à morte? Barão Vejo que será impossível tirar-lhe esta paixão doentia Pois de certo desistirei de almejar a tua companhia Porém, não abandonarei este desejo de sangria. Senhorinha Tereza ( Continua desesperada) Não ostentas o respeito por Deus? Então como podeis tirar a vida de um ser tão dócil?

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Barão É tarde para lamentos minha jovem, Pois o caçador tem muita sede de dinheiro. Vá! Corra aos braços de teu mancebo encantado! E se o encontrares com vida, Terás quebrado o feitiço que mandei fazer Para Pedro. (Senhorinha Tereza corre então desesperada pelo palco, enquanto o barão sai de cena cabisbaixo ) (Encontro dos matutos com os índios) Macaxeira Vem dipressa remunda, Oia, num é os índio lá chegando debaxo da jaquera? E num é que são os diabo! O qui sirá que os dois vem arrumar aqui? Raimunda Vixe Maria, esti tar de índio é muito valente, Vai vê qui tá caçando onça pra cumer! Macaxeira Tu só fala bestera meismo Num vê qui estes zinhos tão é vindo com nóis? Raimunda Vai vê que ele vem atrás do macaco que eli te deu... Coitado, se souber que tu matou o bicho pra cumer! Matuto Bem que tu gostou do macaco não é abestada! Chegue mais seu índio tuchaua O que trás o senhor por estas banda onde o diabo perdeu as bota!

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Tuxaua Anhangá está solto em forma de caraíba caçador! Vim tentar de não acontecer a vinda de Jurupari o espírito do mal Raimundo Credo, que a Virge Maria nos tome nos braço! Cunha Aracy Tememos pelo morte do pássaro encantado, E mais ainda pela ira de Tupã em nossas ocas. Tuxaua Vim ensinar pra tu um feitiço do pajé curador... (Começam a falar com gestuais e saem de cena os quatro)

Fim do IV ACTO

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

V ACTO Menestrel: E lá na mata encontraremos o caçador a procura do japiim encantado , e nas entrelinhas desta historia veremos o encontro da Matinta com a Mãe D água. Caçador: Despede destes galhos oh! pássaro fujam! Venha que a minha mira já se acha sedenta Vós o mancebo Pedro, coitado de ti sumano! Tu hei de dar-me muito dinheiro. Venha! Vamos acabar com esta cena! Mãe D´água: -Meu filho! (Caçador surpreso) Por que tu não trabalhas em um ofício honroso? Vamos, desista deste homicídio culposo, Não vês que o pássaro em bondoso? Não temes aos olhos do Todo Poderoso? ( Entrada da Matinta triunfante, dando gargalhadas ) Matinta: Não dê mole oh! Poderoso caçador! Não vez que esta zinha é mentirosa? Vá, encontre o japiim rapidamente! E não te esqueça dos mil réis, quando acabar esta história! Mãe D´água Não ter envergonhas por atiçar estes homens? Vá embora para a treva que te espera! Não escute as ordens desta louca meu senhor, Pois a vida deve ser preservada nesta terra. (O caçador olha assustado para as duas, onde tenta esconder-se em algum lugar)

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Caçador Não posso desapontar o barão Pois neste oficio nunca adiei uma encomenda Vão embora, deixe-me em paz Pois selarei esta morte ciumenta. ( Foge em disparada, enquanto as duas se olham e saem também) Menestrel: Enquanto o caçador mais próximo de seu objetivo, a senhorinha perdida na mata, lava o seu rosto de choro no rio. Senhorinha Oh! Deus destas matas Valei-me os seus olhos para eu encontrar o tal caçador Me vista meu Deus de coragem e força! Para tudo isso logo acabar, meu santo senhor! ( Neste exato momento a senhorinha escuta o canto do seu amor) - É ele! É Pedro, o meu amor ainda está vivo! ( Corre em direção do canto ) Menestrel: A Jovem embriagada pelo amor, não se importa em pisar nos espinhos, neste momento o medo já não existe mais , seu coração cada vez mais forte, adentra nas entranhas da mata selvagem, onde veremos na seqüência as cenas de grande dor. ( Ao chegar no local o caçador esta apontado a sua arma para o japiim) Caçador Eis o mancebo que me deu muito trabalho Vamos, feche os olhos para eu te acertar Preferes um balaço ao peito? Ou preferes que eu te acerte no teu voar? Senhorinha Não, deixe-o em paz, meu senhor caçador Dar-te-ei em dobro o preço oferecido pelo barão!

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Caçador Não sou homem de duas palavras minha senhora Pois mil reis já agrada muito para a minha serventia. Japiim Minha Thereza, já não achas que o tempo Já nos roubou a felicidade? Deixe que o caçador faça o prometido Melhor para nós, selaremos aqui, Este nosso amor impossível, Não chores por esse ato de covardia, Pois, cansei-me de vagar por estas matas de Deus... Venha senhorinha, dê-me o ultimo abraço, Pois meu destino chegou e quero morrer tranqüilo em teus braços... ( Caçador atira e foge ) Senhorinha Não! (desesperada chorando) Japiim ( Já em voz baixa e soluçando) Não chores, Pois em algum lugar Há de estar a nossa felicidade.

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Senhorinha Prometo-te que vingarei este ato de covardia! Japiim Não alimentes a morte nestes Homens que maltratam a natureza Há de ter outros caminhos para acabar a maldade destes filhos de Deus. (soluços) - Adeus minha amada.... ( Morre o pássarro) Senhorinha ( Mais desesperada) Não ! por favor, não vá Cante para mim... Cante meu amor... Não me deixe, leve-me contigo! A tua presença já satisfaz o meu sofrimento, Vamos cante para mim... ( Entrada da Mãe D’ água ) Mãe D´água - Minha filha, Já não há mais nada a fazer nesta hora Deixe-o, cuidaremos do seu corpo Que ainda chora. ( Risadas ao fundo com a entrada da Matinta ) Matinta Terei hoje muitos rolos de tabaco! (Entrada da casal matuto, logo depois entram os índios para ajudar no feitiço) Macaxeira Ulha eu nunca tinha churado tanto! Fui muita maufadeza o que fizeru com este Zinho. Raimunda É, ondi iremu chegar cum tanta maldade? Há se Deus pudesse acabar cum todas essa gente ruim.

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Macaxeira ( Direcionando a palavra para a Senhorinha) Num chure sinhorinha Que ainda chanci di muda essa estúria Dexe eu fazer um fetiço Pra trazer o Pedro de volta. Faz puco tempo atrás qui aprendi um fitiço Um índio Tuxaua mi ensino a fazê a volta depois de uma morte. Agora, só pode fazer uma veis o fitiço! Raimunda Vixe Maria! Remundo Será que vai da certo homi? Veja Macaxeira os índio vieram ajudar! Ai meu Deus isso vai dar em coco... Macaxeira Quieta mulher abestada! Num temo tempo a perder, venham tuxaua e Aracy... Nhá senhorinha, saia agura de perto! Qui esse chão vai começar a tremer. ( O personagem começa a fazer trejeitos de entrar em transe, o mesmo irá começar a narrar as palavras do feitiço) IBOCU LÚ DINÁ PU QUI IPELÔ IBOCÚ DO TI TI ITÚ PUPUNHA DO POPÓ BOM CUM PIMENTA É SIRI ( Na seqüência (3 espirros) Tuxaua espirra, depois Cunhã Aracy e por último macaxeira no “caroço” do Japiim, repetindo três vezes, no último espirro, o mesmo cai para trás estremecendo todo o corpo, logo depois continua ao chão, porém, sem tremer, enquanto o japiim passar a se mexer. Neste momento do retorno do pássaro os índios direcionaram um manto para cobrir o pássaro, para o mesmo retornar já na figura de Pedro)

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Mancebo Pedro O que aconteceu? Ai, que dor no meu peito! Raimunda Vixe Maria! Desconjuro! ( Faz o sinal da cruz) Senhorinha Meu amor, Retornastes da morte fria e veja já estas curado... (Entrada do Barão) Barão Voltei para pedir perdão pela loucura cometida! Justo e abotoado Pedro, dei 100 Kilos de tabaco para a feiticeira desmanchar o feitiço. Caçador Senhor Japiim, peço também perdão pelo crime que cometi! Japiim Perdôo-te se doares o dinheiro ofertado pelo barão, dando tudo a este casal abençoado. Macaxeira ( Macaxeira dá um salto) Ooppaa! Falou em dinheiro já tu aqui ! É Tuxaua vamo cumer muito macaco hoje! Ops... Brincadeirinha viu homi da mata! Senhorinha: Bendito seja Deus Onde transformou o infortúnio em harmonia...

PAIXÃO E MORTE NA MATA ENCANTADA/ Flavio de Brito

Mãe D’ água: ( Entra trazendo a Matinta no punho ) Esta aqui a feiticeira, Vamos prometa que nunca mais fará este tipo de feitiço! Pois o teu preço já foi pago pelo barão. Matinta Diabo de gente que não sabe o quer! Eu não sou má! Eu só faço o que me pedem! Que assim seja... Di agora em dianti não farei este feitiço novamente. E para ti Pedro, T i coloco este cordão feito de cipó e sementes Para poderes seguir com muita sorte o teu novo destino... Mancebo Pedro: Enfim, posso tocar-te como outrora minha senhora! Agradeço a todos por esta graça alcançada ... Vem minha senhora, recomeçamos a nossa vida a partir de agora... ( O casal começa a dançar ao som de uma valsa, enquanto os outros se abraçam e se confraternizam ) Menestrel E assim, termina a nossa história, agradecemos a presença de todos... E que esta historia possa ser contada por muitos e muitos anos. ( Em arco, todos se despedem com mesuras e saída dos atores em festa)

FIM