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  • 8/7/2019 Padres de Desenvolvimento e Oportunidade Social na Amrica Latina e no Leste Asitico - Luis Estenssoro

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    Padres de Desenvolvimento e de OportunidadeSocial na Amrica Latina e no Leste Asitico

    Sedi Hirano eLuis Estenssoro*

    Resumo:Este artigo procura aprofundar a reflexo em torno dos padres de desenvolvimentoe de oportunidade social existentes no Leste Asitico e na Amrica Latina. Sustentamos aqui que aestrutura de poder mundial funda-se em modos de desenvolvimentodiferenciados nas diversas regiesdo planeta, que se reportam a diversos padres de acumulao e insero internacional das economiasnacionais, empiricamente verificveis em cada regio geo-econmica. Partimos do pressuposto de que omodo de desenvolvimento anglo-americanoproduz estruturalmente mais pobreza e desigualdade socialdo que o modo de desenvolvimento japons-asitico. Este regime de acumulao diferenciado permitiuao conjunto de pases capitaneados pelo Estado desenvolvimentista da sia construir um sistema deoportunidades sociais e econmicas que torna estas naes estruturalmente mais igualitrias, poisapresentam menores nveis de desigualdade social e pobreza.

    Palavras-chave: Modos de Desenvolvimento, Sistema de Oportunidades Sociais, AmricaLatina, Leste Asitico, Desigualdade Social.

    Abstract: This article intends to deepen our knowledge about the development and socialopportunity patterns present in East Asia and Latin America. We argue that the world power structureis based in different modes of developmentthat exist in the planets regions, which report themselvesto different capital accumulation patterns and several enrollment ways of the national economies inthe international economy. These patterns can be empirically verified in each geo-economic region. Weadmit that the British Americanmode of developmentproduces structurally more poverty and more

    social inequality than theJapanese-Asian mode of development. This Asian countries particular regimeof accumulation allows the nations under the Asias development stateto offer an economic andsocialopportunities system that makes they structurally more equalitarian, with less social inequality and lesspoverty.

    Keywords: Modes of Development, Social Opportunities System, Latin America, East Asia, SocialInequality.

    *Sedi Hirano: Professor Doutor de Sociologia (FFLCH-USP) e Pr-Reitor de Cultura e Extenso da Universidade de So

    Paulo (USP), E-mail: [email protected]. Luis Estenssoro: Administrador Pblico (EAESP-FGV) e Doutor em Sociologia pela

    Universidade de So Paulo (USP). E-mail: [email protected]. Recebido em 26/10/06 e aceito em 27/11/06.

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    Introduo

    Este artigo procura aproundar a refexo em torno dos padres dedesenvolvimento e de oportunidade social existentes no Leste Asitico e

    na Amrica Latina, tema j abordado em trabalho anterior (HIRANO;ESENSSORO, 2004). rata-se de modalidades de desenvolvimentoeconmico-social que acontecem nas diversas regies do planeta e querenem tipos semelhantes deormaes sociaisem cada regio.

    Sustentamos que a estrutura de poder mundial unda-se em modos dedesenvolvimento dierenciados nas diversas regies do planeta, que se reportama padres de acumulao e insero internacionaldas economias nacionais,e que podem ser empiricamente vericados em cada regio como sendoestruturalmente dierentes dos existentes nas outras regies. Assim, podemoster diversos modelos de crescimento econmico nacionais, isto , modelosde poltica econmica e de polticas pblicas, dentro de um conjunto deeconomias de uma regio que tm, por sua vez, um padro de acumulaodierenciado em relao a outras economias regionais existentes dentro domesmo modo de produo capitalista hoje hegemnico.

    Partimos do pressuposto de que o modo de desenvolvimento anglo-

    americano produz estruturalmente mais pobreza e desigualdade do que omodo de desenvolvimento japons-asitico. CompreendemosaAmrica Latinacomo inserida no modo de desenvolvimento capitalista anglo-americano, pois odesenvolvimento capitalista dependentelatino-americano est contido na eserade infuncia inglesa e posteriormente norte-americana.

    Johnson (1995) denomina o modo de desenvolvimento japons-asitico depadro Meiji-Bismarckiano, onde o mercado metodicamente orientado aosinteresses sociais por um Estado desenvolvimentista. Desta orma, o mercado

    utilizado para alcanar objetivos coletivos. Constitui-se ento um capitalismoregulado, onde o Estado tem uma presena orte como planejador econmico.rata-se de um capitalismo social ou de uma economia mista (SURU,1994), enquanto padro de acumulao tecnologicamente sosticado noqual o mercado regulado em conormidade com as aspiraes dos grupossociais que compe a sociedade. De ato, nota-se uma nase no grupo e nono indivduo, o que privilegia os laos de solidariedade comunitria dentrodas bricas, onde tomou orma o toyotismo, isto , o relacionamento dentro

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    de uma estrutura de poder descentralizada e com trabalho em equipe.Amartya Sen (2000) arma que o exemplo pioneiro de intensicao do

    desenvolvimento econmico por meio da oportunidade socialespecicamente

    na rea de educao bsica, obviamente o Japo. Segundo ele, este pas,s vezes se esquece, apresentava taxas de alabetizao mais elevadas doque a Europa mesmo na poca da restaurao Meiji, nas ltimas dcadasdo sculo XIX. Sen entende que o desenvolvimento econmico do Japooi impulsionado pela progresso dos recursos humanos relacionada com asoportunidades sociaisque oram geradas. O denominado milagre do LesteAsitico, envolvendo outros pases desta regio, baseou-se em grande medida,em relaes causais semelhantes. E entre esses pases esto a Coria, a China,

    aiwan e Cingapura (SEN, 2000).Nesse sentido, a construo de um sistema de oportunidades sociais

    potencializa o desenvolvimento humano atravs do processo de expansoda educao, dos servios de sade e de outras condies de vida humana.Para Sen (2000), provavelmente o resultado mais importante alcanadopelas economias do Leste Asitico, comeando pelo Japo, oi ter solapadototalmente o preconceito tcito de que a montagem do sistema de oportunidadessociaisseja realmente um tipo de luxo que apenas os pases ricos podem sedar.

    As economias do Leste Asitico buscaram comparativamente mais cedoa expanso em massa da educao e mais tarde, tambm dos servios desade, e o zeram, em muitos casos, antes de romper os grilhes da pobrezageneralizada. E colheram o que semearam (SEN, 2000, p. 58). Nestes pases,e particularmente na Coria e no Japo, houve crescimento econmico comdistribuio de renda de maneira relativamente igualitria, o que tem sido

    amplamente e acertadamente reconhecido (SEN, 2000, p. 218). H,no modo japons-asitico de desenvolvimento capitalista, inquestionavelmente,um sistema planejado de ampliao das oportunidades sociaise, portanto, dealargamento da cidadania.

    No modo de desenvolvimento anglo-americano, ao contrrio, o mercado primordial, tornando-se o espao predominante das atividades econmicas,alm de ser ormalmente autnomo em relao s eseras social, poltica ecultural. Neste modo de desenvolvimento, que inclui o regime de acumulao

    dependente latino-americano, o Estado se distancia ormalmente do mercado,

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    cabendo-lhe apenas a planicao das polticas pblicas. No h no modode desenvolvimento capitalista anglo-americano, aparentemente, umaespcie de nacionalismo empresarial como encontrado no capitalismo

    desenvolvimentista de Estado japons-asitico, no qual se valoriza muito aempresa enquanto ptria e lar comunitrio. al concepo, associada a umaproduo de qualidade voltada para a exportao de manuaturados e comgrande investimento em pesquisa e inovao tecnolgica, torna-se altamentecompetitiva no mercado internacional. Foi este modo de desenvolvimentoasitico o criador do toyotismo, que aparece para superar oordismo dopadroanglo-americano de desenvolvimento. Como veremos, em decorrncia destascaractersticas no desenvolvimento das relaes econmicas, os resultados

    sociais mais igualitrios so evidentes nas economias do Leste Asitico.Crise sistmica e modos de desenvolvimentoEntretanto, h indcios que denotam que a crise social relacionada

    com a pobreza e com a desigualdade, que assola o erceiro Mundo, nose resume apenas aos padres de insero internacional, em particular crisedopadro de acumulao dependente latino-americano, amplamente estudada(CARDOSO, FALEO, 1969; CASANOVA, 2002; ESENSSORO,

    2003; FERNANDES, 1973; FURADO, 1987; GONALVES, 1999;GUNDER-FRANK, 1971; HIRANO, 1998; IANNI, 1988; KOWARICK,1985; MARINI, 1992 e 2000; QUIJANO, 1998; REYNA, 1994; ROUQUI,1991; SALAMA, 1999; SALAMA, VALIER, 1997; OMASSINI, 1984;OURAINE, 1989). Na verdade, a crise do capitalismo, enquanto modo deproduo dominanteque no consegue sustentar adequadamente a populaomundial, congura-se como uma questo sistmica. Como tal, no pode serresolvida apenas por polticas de estabilizao e crescimento econmico das

    naes periricas. O ato de, por exemplo, o enmeno da concentraode renda e do aumento da desigualdade ocorrer tambm nos pasesdesenvolvidos2 contribui para reorar o argumento de que a crise econmica

    1 Sobre toyotismoe fordismoler Antunes (1999, p. 29-60).2 NosEUA, o ndice de Gini, que mede a desigualdade na sociedade, aumentou 22,4% entre 1968 e 1994. No mesmoperodo a renda mdia do quintil mais rico cresceu 44%, enquanto que a renda mdia do quintil mais pobre cresceusomente 8%. Outro estudo mostra que, entre 1967 e 1998, todos os quintis perderam participao na renda, exceto oquintil superior, que aumentou de 43,8% para 49,2% sua participao. Nesse mesmo perodo, no qual o ndice de Giniaumenta de 0,399 (1967) para 0,456 (1998), os 5% mais ricos aumentam sua participao na renda de 17,5% para 21,4%.

    As tendncias da renda domiciliar dos perodos 1967-80 e 1980-92 so opostas: no primeiro perodo, os 20% mais pobres

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    do capitalismo um problema global. Assim, alm da crise do padro de acumulao dependente latino-

    americano, podemos visualizar uma crise econmica capitalista que atravessa

    a segunda metade do sculo XX, como resultado da queda das taxas delucro que se comea a vericar nos anos 1960, e que se traduz nas taxasbaixas de investimento, poupana e crescimento. Por exemplo, o indicadorde crescimento do produto mundial por habitante, que era de 4% entre1960 e 1973, caiu para 2,4% entre 1973 e 1980, e 1,2% entre 1980 e 1993(CHESNAIS, 1998). Ou seja, alm das crises nanceiras cada vez maisreqentes e das recessesque se vericaram em 1948-49, 1952-53, 1957-58, 1960-61, 1966-67, 1970-71, 1974-75, 1980-82 e 1990-94, agora h um

    agravante estrutural que evidencia a diculdade que o capitalismo tem de setornar um sistema que propicie condies de vida aceitveis para todos.

    Pela abela 1 vemos que o novo padro de acumulao sob hegemoniananceira, isto , com os ganhos de produtividade sendo apropriados pelocapital nanceiro, revela-se, nos EUA e Europa (no modo de desenvolvimentoanglo-americano), como um regime com menor crescimento do PIB,emprego, produtividade e acumulao, apesar destas regies estarem no topoda hierarquia econmica mundial e apesar do seu imenso desenvolvimento

    tecnolgico.Tabela 1 - Taxas mdias anuais de crescimento dos EUA e UE (1960-1999)

    Pas 1960-1973 1980-1999*

    Estados Unidos

    PIB 3,9 2,5Emprego 1,8 1,5

    Produtividade** 2,6 0,9

    Acumulao 4,5 2,9

    Unio Europia

    PIB 4,7 2,1

    Emprego 0,3 0,3Produtividade** 5,1 1,9

    Acumulao 5,6 1,9

    FONTE: A partir de dados da OECD. Economic Outlook (MATTOSO, 1999)* Dados estimados e projetados para 1998 e 1999;

    ** Re. perodo 1979-1997.

    ganham 7,5% e os mais ricos perdem 9,7%; no perodo seguinte a tendncia se inverte, os mais pobres perdem 11,6% e os20% mais ricos ganham 17,7% (WEINBERG, 1996; WEINBERG, JONES JR., 2000).

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    Porm, esta crise mundial docapitalismo globalizado repercute de maneiradierente nas diversas regies do globo devido aos dierentes modos dedesenvolvimento regionais. As disparidades que encontramos na tabela a

    seguir nos do um indicativo das diversas aces da situao scio-econmicano capitalismo internacional hoje. So exatamente estas dierenas quepermitem que se ale de capitalismos regionais (modos de desenvolvimento)de acordo com ospadres de acumulaojapons-asitico e anglo-americano. Assim, excetuando-se o centro dinmico da economia mundial (EstadosUnidos), podemos vericar, por exemplo, que o tamanho das economiasasiticas maior e tende a crescer mais rapidamente do que as economiaslatino-americanas. O destaque certamente a China. No entanto, devido

    sua grande populao, esta no acompanha a perormance do PIBper capitada Coria e do Japo, que apresentam indicadores bem acima da mdialatino-americana.

    Tabela 2 Dados econmicos de pases selecionados

    ECONOMIA

    Populao

    (milhes de hab.)

    PIB, PPP*(bilhes

    US$ intern.correntes)

    PIB per capita, PPPUS$ internacionais

    correntes

    Crescimento mdio anual(%)

    Produto

    Interno Bruto(PIB)

    Investimentointerno bruto

    PAS 2000 1980 2000 1980 2000 EUA=100 80-90 90-00 90-99EUA 281 2.879 9.612 12.673 34.100 100,00 3,5 3,5 7,0China 1.262 414 5.019 422 3.920 11,50 10,1 10,3 12,8

    Japo 127 1.161 3.394 9.944 26.755 78,49 4,1 1,3 1,1

    Coria 47 116 822 3.037 17.380 50,97 8,9 5,7 ..Brasil 170 475 1.299 3.916 7.300 24,41 2,7 2,9 3,1

    Mxico 97 286 883 4.241 8.790 25,78 1,1 3,1 3,9

    Argentina 37 180 458 6.428 12.050 35,34 -0,7 4,3 10,9**

    FONTE: Banco Mundial, 2000* Dados expressos em termos de Paridade de Poder de Compra (PPC ou PPP em Ingls)

    ** Dados At 1998

    Como sabemos, a Amrica Latina tem uma populao pobre que vivecom menos recursos do que a populao do mesmo estrato de renda segundouma mdia mundial, e uma elite regional que recebe mais do que a mdia dos

    20% mais ricos no mundo, em termos proporcionais. No entanto, na Unio

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    Europia e na Amrica do Norte, os 20% mais ricos recebem muito maisdevido ao tamanho do PIB naqueles pases. A sia do Sul e sia Orientalso regies mais igualitrias porm mais pobres do que a Amrica Latina

    e do que a mdia mundial, enquanto que a sia do Sudeste e o Paccocombinam maior eqidade com menos pobreza.Assim, a base econmica e social dierenciada de acordo com a regio.

    Ou seja, parte-se de patamares dierentes na Amrica Latina e na siapara enrentar o mesmo tipo de problema internacional, a saber, as crisese transormaes econmicas da era da globalizao. Desta orma, estamosalando de realidades scio-econmicas dspares quando nos reerimos, porexemplo, ao Brasil comparado com a China, apesar das suas caractersticas

    comuns enquanto naes em desenvolvimento.

    Padres de insero e desenvolvimento: Amrica Latina

    Para Salama e Valier (1997), ospadres de insero na economia mundialdas regies periricas (basicamente, no caso latino-americano: a economiaprimrio-exportadora e a industrializao por substituio de importaes)oram os responsveis pela distribuio de renda vertical que deu origem

    dinamizao do crescimento. Isto , instaurou-se um regime de acumulaoque harmonizava o perl da distribuio de renda com o da produo: umadistribuio de renda que avorecia as classes mdias, excluindo ainda mais osde renda menor; uma produo dinamizada pela expanso do setor de bensde consumo durveis destinados principalmente a essas classes mdias [...] es camadas superiores, bem como pela demanda induzida dirigida ao setorde bens de capital.Ou seja, trata-se de um regime de acumulaoexcludente,onde a situao dos excludos dos benecios da acumulao agravou-se coma infao, as crises econmicas e a expanso do domnio nanceiro.

    Mais ainda, conorme armam estes autores (SALAMA; VALIER,1997, p. 123-128), na Amrica Latina os sistemas de proteo social so,simultaneamente, economicamente inecientese socialmente injustos. Primeiroporque tm um grau de universalizao muito raco: muitas pessoas camde ora, principalmente os da economia inormal. Segundo porque noso sistemas uniormes: os benecios so extremamente dierenciados

    de acordo com o grupo social ou a regio. Esta realidade az com que o

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    discurso antiestatal do liberalismo, que se quer social, traduza-se em polticassociais com as seguintes caractersticas: so polticas sociais orientadas aosextremamente pobres, assistencialistas, privatizantes, descentralizadas, e

    com apelo mobilizao solidria da populao. O resultado econmico que, apesar de uma diminuio provisria do empobrecimento, ocorre umaconsolidao e aproundamento da desigualdade social, e nenhuma reduo da pobreza absoluta (embora em alguns casos consiga-se uma diminuio daproporo de pobres sobre o total da populao, o que pode ser creditado aocrescimento populacional).

    Na verdade, a ineccia do sistema de oportunidades sociais, na AmricaLatina, deve-se em grande parte gesto neoliberal da crise econmica, que

    gerou desemprego, excluso social e mais desigualdade e pobreza. Para seter uma idia, o nmero de pobres saltou de 135,9 milhes, em 1980, para224 milhes, em 2004, e o nmero de indigentes de 62,4 milhes para 98milhes, no mesmo perodo. A isto se soma o nvel da desigualdade nospases latino-americanos, que tem se mantido quase imutvel ou at pioradoao longo dos anos: na virada do sculo, o ndice de Gini era de 0,542 naArgentina, 0,640 no Brasil e 0,539 no Mxico; para 0,501, 0,627 e 0,536,

    respectivamente, dez anos antes (CEPAL, 2004).Segundo Ianni (1988, p. 191, p. 200-201), as sociedades latino-americanas so sociedades organizadas com base no capitalismo dependente,ou seja, as suas relaes com os pases centrais esto determinadas pelosprocessos econmicos e polticos que operam no centro do sistemacapitalista mundial. Depois do racasso da hiptese do capitalismo nacionale da hiptese do capitalismo associado, as experincias latino-americanasconrmaram o modelo de capitalismo dependente, onde as perspectivas dos

    sistemas poltico-econmicos do capitalismo peririco esto determinadaspelo seu centro de irradiao, que so os EUA. Percebemos que, nestesistema, a prpria reproduo ampliada do capital em escala mundialque exige a apropriao privada do produto do trabalho dos trabalhadores,pois, ao se internacionalizarem o capital, a tecnologia, a ora de trabalhoe a diviso social do trabalho, internacionalizam-se tambm as relaes,processos e estruturas de dominao poltica e apropriao econmica, acompreendidas as relaes e contradies entre as classes. Cria-se, ento, uma

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    contradio entre sociedade nacionale economia dependente, da qual o poderpoltico no consegue libertar-se, da a instabilidade dos sistemas polticosna Amrica Latina.

    Para Ianni (1988, p. 26, p. 186), a anlise da dependncia estruturaltorna-se procua a partir da obra de Paul Baran, que possibilita a incorporao daabordagem da dependncia linha clssica de interpretao do imperialismo,o que signica que a anlise da dependncia corresponde ao aproundamentoda anlise do imperialismo, visto da perspectiva do subordinado. Anal,as relaes imperialistas implicam na criao ou reormulao das relaesinternas nos pases dependentes. Mais ainda, as determinaes imperialistaspodem provocar rearranjos institucionais na sociedade e no Estado dos pases

    subdesenvolvidos. A proposta terico-metodolgica de Ianni manter a linhaclssica de anlise do imperialismo, enquanto processo poltico-econmico,mas incorporando-lhe as anlises do colonialismo interno, existente nasreas metropolitanas, e da dependncia estrutural, existente na perieria docapitalismo.

    Neste sentido, Ianni combina os conceitos de mais-valia e de excedenteeconmico ao analisar as estruturas de dominao poltica e apropriao

    econmica do imperialismo norte-americano na Amrica Latina. Sorelaes carregadas de ambigidade, controvrsia e contradies, nasquais as classes dominantes (burguesia hegemnica e burguesia subalterna)disputam a apropriao do excedente econmico. Entretanto, quando se passaa considerar os interesses das classes assalariadas, a disputa ocorre em tornoda apropriao do lucro, ou mais-valia. Assim, a dependncia estruturalconceito que corresponde modicao e mesmo reverso de perspectivarelativamente abordagem clssica das relaes do tipo imperialista diz

    respeito exportao de excedente econmico eetivo e exportao de mais-valia tambm.

    Na verdade, a dependncia estruturalatinge, alm das estruturas de podere estruturas de apropriao econmica, tambm as instituies e relaes decomunicao, tecnolgicas, educacionais, militares, culturais e religiosas. Ouseja, a infuncia tal que o processo de desenvolvimento se v condicionadonos seus principais aspectos. Neste contexto, a dependncia estruturalcorresponde maniestao concreta, no interior da sociedade subordinada,

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    das relaes polticas e econmicas de tipo imperialista (IANNI, 1988, p.199-200). Ianni avana na anlise e chega concluso que: 1) a dependnciaestruturalno se circunscreve ao mbito econmico, mas pode ser notada

    tambm nas relaes e instituies polticas; e que 2) a reormulao dasrelaes e estruturas de dependncia no um problema econmico, mas umproblema poltico. O poder poltico o elemento essencial da dependnciaestrutural, pois esta surge nas relaes econmicas externas, mas s seconsolida e desenvolve quando adquire congurao poltica.

    Florestan Fernandes (1973) analisa o atual padro de dominao externana Amrica Latina como herdeiro do sistema colonial, do neocolonialismo edo imperialismo (padres anteriores). Recentemente, o padro de dominao

    seria ruto da expanso das grandes empresas corporativas na regio,representando o capitalismo monopolista. rata-se de um imperialismototalque exerce um controle externo como no sistema colonial, mas com ascondies do moderno mercado capitalista, da tecnologia avanada e com adominao externa compartilhada por diversas naes. Segundo Fernandes,o trao especco do imperialismo totalconsiste no ato de que ele organiza adominao externa a partir de dentro e em todos os nveis da ordem social.

    Caracterstica que prova que uma economia satlite ou dependente nopossui as condies estruturais e dinmicas para sobrepujar nacionalmente,pelos esoros da burguesia, o subdesenvolvimento e suas conseqncias.

    Est ento descartada a iluso de uma revoluo industrial liderada pelaburguesia nacional, e est tambm consolidado o quadro de dominao externaque transorma as naes em ontes de excedente econmico e acumulao decapital para as naes capitalistas avanadas. Mesmo porqu, na explicaosociolgica do subdesenvolvimento econmico de Florestan Fernandes

    (LIMOEIRO-CARDOSO, 1997), que se baseia no sistema de classes sociaise no modo como estas agem para ortalecer ou extinguir o regime socialde produo econmica, o capitalismo dependente latino-americano implicarelaes de dominao que conjugam a dominao externa com a dominaointerna. Isto , a acumulao de capital institucionaliza-se para promovera expanso concomitante dos ncleos hegemnicos interno e externo. Sea economia capitalista dependenteno consegue monopolizar a apropriaodo seu excedente econmico, signica que os assalariados e os destitudos

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    so submetidos a mecanismos de sobre-apropriao e sobre-expropriaocapitalistas. rata-se de um padro de acumulao de capital cuja ormaFernandes designa como sobre-apropriao repartida do excedente econmico.

    Assim, a situao redenida pela ao recproca de atores estruturais,dinmicos, externos e internos: Os setores sociais que possuem o controledas sociedades latino-americanas so to interessados e responsveis por essasituao quanto os grupos externos, que dela tiram proveito. Dependncia esubdesenvolvimento so um bom negcio para os dois lados (FERNANDES,1973, p. 26).

    Desta orma, Fernandes nega a explicao do subdesenvolvimento enquantoatraso e a proposta decorrente: superao do subdesenvolvimento por meio

    da acelerao do crescimento econmico. Uma vez que Fernandes nega apossibilidade de superao dos desaos do desenvolvimento pelo capitalismoprivado, uma alternativa para esta situao da Amrica Latina seria em tornode um novo tipo de capitalismo de Estado ou ento a rebelio popular eradical de orientao socialista. Arevoluo seria a alternativa histrica parao capitalismo dependente, da mesma orma que o capitalismo de Estado poderepresentar uma alternativa para o desenvolvimento da regio.

    Para Marini (2000), houve uma tentativa da burguesia industrial deensaiar um projeto de capitalismo autnomo na Amrica Latina, comcooptao das massas urbanas, proposio de reorma agrria, enm, um projeto desenvolvimentista e populista de capitalismo nacional. Porm, estaburguesia industrial no conseguiu pressionar a burguesia agro-mercantil(latiundirios), por um lado, e os grandes monoplios internacionais(empresas transnacionais), por outro, e acabou desistindo de seus projetos.Desta orma, a burguesia agro-mercantil atrelada ao comrcio internacional

    e submetida ao intercmbio desigual, alia-se burguesia industrial, detentorade mercados pequenos e protegidos, e que ainda divide lucros com o capitalestrangeiro, para por em prtica uma explorao ainda maior da ora detrabalho urbana e rural, como mecanismo deensivo para garantir seuslucros. rata-se da superexplorao do trabalho.

    Desta orma, a superexplorao do trabalho arma-se como o princpioundamental do sistema subdesenvolvido. Alm disso, esta se intensica coma associao da burguesia local ao capital estrangeiro, o que resulta numa

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    explorao da perieria pelo centro (isto , o desenvolvimento capitalistaintegrado assentado na superexplorao do trabalho) que inviabiliza os regimesliberais democrticos do ps-guerra e abre caminho para as ditaduras

    tecnocrtico-militares dos anos 1960 e 1970. A redemocratizao, sob abatuta neoliberal, nos anos 1980 e 1990, continua e aprounda ainda maisa dependncia e a vulnerabilidadeexterna das economias da regio, devido abertura dos mercados ao comrcio internacional, desregulamentao domercado de trabalho, e s privatizaes.

    Para azer rente a esta situao acima descrita podem ser consideradasduas hipteses: revoluo ou capitalismo de Estado, como bem indica FlorestanFernandes. Para haver uma revoluo so necessrias condies objetivas

    que no parecem evidentes, hoje em dia, nos pases latino-americanos,principalmente diante do refuxo poltico que o movimento socialistapassa desde a queda do muro de Berlim e o m da URSS. H, sem dvida,condies sociais para indignao, mas da a acontecer uma revoluo poltica improvvel. Resta, portanto, o caminho da reorma socialpara produzir astransormaes necessrias, que podero ou no levar a uma revoluo socialno sentido amplo, isto , um desenvolvimento que altere a atual correlao

    de oras da estrutura de classes. Este caminho da reorma socialna AmricaLatina passa, necessariamente, pelo Estado. Se os projetos de capitalismoautnomo e capitalismo associado aliram, ao capitalismo dependente aindapode-se contrapor uma alternativa de um capitalismo desenvolvimentista deEstado, nos moldes de um sistema deoportunidades sociaisque se cristalizouno Leste Asitico. Parece ser essa a via passvel de ser ensaiada pelos atuaisgovernos de centro-esquerda na Amrica Latina.

    Padres de insero e desenvolvimento: Leste Asitico

    No Japo, com o m da era okugawa, em 1868, tem incio a restauraoMeiji, que promoveu a centralizao poltica nas mos do Imperador e suacorte. O novo governo levou a cabo uma reorma social que enraqueceuprincipalmente os samurais, ao extinguirem-se todos os seus privilgios. Asterras dos senhores eudais tambm oram concentradas pelo Imperadorem 1870, transormando-se em preeituras. A educao oi reormulada de

    acordo com os modelos europeus e oi instituda a educao compulsria. O

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    setor militar oi ortalecido com a modernizao do exrcito e da marinha.Indstria e transportes receberam incentivos e investimentos. Reormou-seo sistema nanceiro e instituiu-se o Banco do Japo. A primeira constituio

    ao estilo europeu data de 1889. Com as vitrias nas guerras Sino-Japonesa(1884-85) e Russo-Japonesa (1904-05), o Japo anexou territrios, inclusivetoda a Coria em 1910, atrelando-os, a partir de ento, ao desenvolvimentoeconmico japons. Em 1912 morre o Imperador Meiji e a era de reormasacaba, deixando como legado um Estado moderno e unicado, alm dopoderio militar mais orte da sia.

    Na Primeira Grande Guerra, o Japo luta ao lado dos Aliados, respeitandoos tratados rmados com a Inglaterra. Mas com o terremoto de quio, em

    1923, e com a crise econmica de 1929, boa parte da populao japonesa que dobrara em menos de um sculo enrentou ome e misria. Diantedessa situao, ganhou ora o ultranacionalismo que deendia a expansoterritorial. Assim, o Japo, seguindo os passos das potncias ocidentais,obriga a China a assinar tratados econmicos e polticos injustos e, em 1931,invade a Mandchria. Em 1937 explode a Segunda Guerra Sino-Japonesa,que dura at 1945. Antes, em 1940, o Japo havia rmado pactos com os

    regimes ascistas da Alemanha e daItlia, alm de invadir o Vietn. Em 1941atacou os EUA no Hava (Pearl Harbour), azendo com que esta potnciaentrasse na Segunda Guerra Mundial. Depois de perder gradualmente todosos territrios conquistados (a totalidade do Sudeste Asitico e o Pacco,que constitua a Esera de Co-Prosperidade Asitica), o Japo capitulasob o poder das bombas atmicas de Hiroshima e Nagasaki. Permaneceuento ocupado pelos Aliados por sete anos seguidos aps sua rendioincondicional.

    Durante o governo de transio, sob a gide norte-americana, oram oszaibatsu holdings industriais e nanceiras, que cresceram com as guerras japonesas os principais benecirios da transerncia, estimada em 10bilhes de dlares em ativos, promovida para incentivar os negcios eretribuir o apoio ao regime (VADNEY, 1992, p. 77). Mais ainda, graas aoinstinto de autopreservao da elite japonesa, que controlava os zaibatsu,estes preeriram cooperar com o inimigo para no sorer represlias. Comocorolrio, as oras de ocupao, representadas pelo General McArthur,

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    proclamaram uma nova constituio que, entre outras reormas polticas,:manteve a monarquia, mas sob a orma de um regime monrquicoconstitucional parlamentarista, e negou a possibilidade do pas reconstruir

    seu poderio militar. Asoras de ocupao decidiram, portanto, manter aordem, preservando a classe dominante do pas, se necessrio usando at oprprio exrcito norte-americano para reprimir greves desestabilizadoras.Evitou-se assim uma ruptura maior com a antiga ordem socialna sociedadejaponesa. Desta orma, a introduo do surgio universal e das leis de reormaagrria oram mudanas que se comprovaram importantes, mas circunscritasa um contexto que no mudou substancialmente. Os expurgos aetaramindivduos, principalmente militares, mas a burocracia, o sistema poltico e

    o setor empresarial permaneceram intactos, apesar da sua responsabilidadena implementao da guerra e das suas atrocidades. Foram exatamenteestessetores que conduziram o desenvolvimento notvel da economia japonesa nops-guerra, quando, por exemplo, a populao camponesa oi reduzida de52,4% para 9%, entre 1947 e 1985 (HOBSBAWM, 1995, p. 285).

    emos, ento, um conjunto de reormas modernizadoras que resguardama classe dominante quase na sua totalidade. A reorma agrria eita sob

    ocupao norte-americana, depois da Segunda Grande Guerra, umareorma em bases capitalistas, semelhante reorma agrria da Coria do Sul,realizada entre 1953 e 1956, depois da guerra da Coria, igualmente pelosnorte-americanos. Alis, com a Guerra da Coria (1950-53), o Japo teve aoportunidade de reconstruir sua economia nacional. Contando ainda como apoio de acordos comerciais com as potncias econmicas, a economia japonesa tornou-se, ela mesma, uma potncia. Durante a Guerra Fria, apresena militar norte-americana aumentounas suas 50 bases existentes no

    Japo, e estimulou-se o anticomunismo como orma de conteno da ChinaPopular e da URSS. O Japo restabeleceu relaes diplomticas normais coma China somente aps a aproximao sino-norte-americana, em 1972.

    O rpido desmantelamento das restries mobilidade dos atores,entre outras transormaes radicais que se seguiram imediatamente apsa Segunda Guerra Mundial, ressalta o papel da interveno do Estado naindustrializao, enmeno que ocorre tanto no Japo como em todo o LesteAsitico. Na verdade, hoje em dia, todas as economias desses pases tm um

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    padro de desenvolvimento comum, que une uma estratgia de integrao coma economia mundial baseada no rpido crescimento e na eciente alocaode recursos, ambos capitaneados pelo Estado.

    Analisando esta experincia da regio com relao acumulao de capitalno processo de industrializao acelerada, Akyz, Chang e Kozul-Wright(1999, p. 4-36) introduzem os conceitos de nexo lucro-investimentoe nexo exportao-investimento para apontar a interdependncia deelementos-chave no processo de desenvolvimento do Leste Asitico.

    A importncia do nexo lucro-investimento deriva do ato de que todamelhoria das condies de vida ao longo do tempo somente pode ser conseguidapor meio do aumento sustentado da produtividade, o que pressupe aumento

    dos investimentos em plantas, equipamentos, inra-estrutura, educao, ePesquisa e Desenvolvimento (P&D). Para este aumento de produtividade,os autores vm a liberalizao domstica acelerada e a total integrao com aeconomia mundial como atores importantes, que garantiram um ambientemacroeconmico pr-investimento, no qual se sacrica o consumo mas noo investimento.

    Alm disso, os incentivos concedidos pelo Estado para encorajar os

    investimentos so considerados essenciais. Um leque de incentivos scais usado para suplementar os lucros das corporaes e promover a acumulaode capital. O comrcio e aspolticas nanceiras e de mercado tambm sousadas para criar rendimentos e aumentar os lucros corporativos. Entre estasesto: protees, controles sobre juros e crdito, concorrncia administrada,encorajamento de uses, restries a indstrias estrangeiras, aquisio detecnologia, e promoo de cartis com o objetivo de especializao, deexportao e decriao de standards. Assim, a poupana corporativa tem um

    importante papel no aumento da acumulao de capital. Mais ainda: paragarantir os investimentos produtivos, restringiu-se o consumo de produtosde luxo e a uga de capitais nos estgios iniciais do desenvolvimento.Esse conjunto de aes criou uma dinmica econmica com nexo lucro-investimento.

    J o nexo exportao-investimento presente nessas economias direcionoutoda essa quantidade de recursos acumulada deormaa promover estratgiasde mercado orientadas hacia auera, ou seja, com o objetivo de exportar.

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    Com isso, puderam ser superados os constrangimentos do balano depagamentos em economias sem um signicativo parque de bens industriais.Como os recursos das crescentes exportaes eram encaminhados para o

    aumento da poupana domstica, garantiu-se que a expanso da produolocal se traduzisse em maiores investimentos de maneira sustentada, o queno ocorreu no caso latino-americano. Desta orma, houve um aumentocontinuado das exportaes, da poupana domstica e do investimento,em termos absolutos e com relao ao PIB. Vejamos o exemplo da Coria:3,3 de poupana; 10,0 de investimento; e 2,0 de exportaes (todos comoporcentagem do PIB) no perodo que vai de 1951 a 1960, e 34,7; 37,1; e28,6 respectivamente, no perodo de 1991 a 1994.

    preciso sublinhar, porm, que este desenvolvimento se construiu combase nas indstrias tradicionais com mo-de-obra barata e sem treinamento.Da a importncia desses pases terem promovido o investimento ligado aoestabelecimento do capital domstico e de indstrias de bens intermedirios,buscando o upgrade tecnolgico. Aqui, outra vez, a presena estatal undamental para a construo da capacidade tecnolgica nacional,industrial e at empresarial, o que se conseguiu com polticas orientadas para

    a P&D local, incluindo subsdios nanceiros, restries e crditos. precisodizer tambm que a integrao com a economia mundial deu-se de maneiraprogressiva, pois oi pensadaestrategicamente, na medida das necessidadessetoriais especcas. Esta integrao estratgica no oi connada ao comrcio,mas incluiu tambm a transerncia de tecnologia.

    Mais ainda, atrs da administrao bem sucedida dos rendimentos noLeste Asitico, est um processo proundo e amplo de construo de umarede de instituies governamentais e privadas consistente com a estratgia

    de desenvolvimento, que incluem uma administrao pblica meritocrtica eligaes ormais e inormais com a classe empresarial (EVANS, 1993, p. 107-156). Desta orma, o processo de desenvolvimento resultou na organizaoe evoluo de uma burguesia empresarial local e de grandes e diversicadascorporaes (keiretsusno Japo e chaebolsna Coria). As ligaes institucionaisdestas corporaes com o setor nanceiro permitiram a socializao dos riscospor meio dos emprstimos bancrios.

    O ambiente propcio para investimentos muito se beneciou tambm

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    de uma distribuio de renda avorvel e mais eqitativa, conseguida emgrande parte pelas reormas agrrias. You (1999, p. 37-65) arma que a baixadesigualdade e os grandes lucros coexistem, no Leste Asitico, basicamente

    devido incomum distribuio da riqueza igualitria. Neste particular, trsatores so destacados:

    1.Em primeiro lugar,a excepcional distribuio igualitria inicial da riquezaresultante das reormas do perodo ps-guerra. A reorma agrria e aacelerada expanso do emprego no setor moderno da economia(indstriasde exportao intensivas no ator trabalho) so explicaes plausveis paraessas condies iniciais avorveis;

    2.Em segundo lugar,a dinmica keynesiana do processo de acumulao,na qual os lucros tm um papel crucial como onte de poupana e incentivoao investimento; e

    3.Por ltimo,o ato de uma alta desigualdade na distribuio uncional da renda(entrecapitale trabalho) andar, lado a lado, com uma baixa desigualdade na

    distribuio pessoalda renda (medidapelondice de Gini), ato este atribudo distribuio inicial igualitria da riqueza e propenso a poupar dosdomiclios de baixa renda.

    Houve certamente, ao lado de uma estratgia de livre comrcio buscandovantagens comparativas para as exportaes intensivas em trabalho, umapreocupao com o rpido crescimento do emprego assalariado e com oaumento dos salrios. You deende quea expanso sustentada do emprego

    e da produtividade oi undamental na manuteno do modelo de crescimentocom igualdade, num processo que envolveu muito mais atores do que o livrecomrcio. O trade-ofdo modelo decrescimento com igualdadepode sercreditado, portanto, reorma agrria e s medidas para assegurar que oslucros sejam poupados e reinvestidos. A acelerada acumulao de capital e arpida expanso dos empregos possibilitaram um tambm rpido crescimentoda renda, mais eqitativamente distribuda do que em outras regies.

    Evans (1999, p. 66-86) acrescenta que o modelo amigvel com o mercado

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    (market-riendly) (Banco Mundial), o modelo da poltica industrial(JOHNSON, 1992) e o modelo de nexo lucro-investimento (AKYZ,1998), tm em comum um centro robusto de pr-requisitos institucionais

    envolvido, o que diz respeito a um aparato burocrtico excepcionalmentecapaz e relativamente independente para que estes modelos uncionem,alm de laos dinmicos entre governo e o mundo dos negcios. Evanschama essa aparente contradio da combinao de ligaes estreitas com oempresariado com a independncia requerida de embeddedautonomy (algocomo autonomia embutida). Na verdade, para haver uma coerente aopblica, as polticas estatais requerem uma estrutura que tenha a capacidadede coordenar e que resolva questes de jurisdio, o que pode ser encontrado

    em torno de uma agncia piloto que burile iniciativas de desenvolvimento,como o caso do MII no Japo e do Escritrio de Planejamento Econmicona Coria.

    Acreditamos que estas estruturas organizativas, permanentemente emconstruo, devem muito ao passado histrico e organizao social nestespases. No possvel entender o Estado, no Leste Asitico (ou em qualquerparte), descolado da realidade social existente em cada Nao. No se trata aqui

    de azer a apologia de valores asiticos, o que Sen (1998) tambm critica,mas de compreender que a cultura social avoreceu o desenvolvimento daestrutura de poder da orma como ele se deu, infuenciando as organizaesque surgiram nesse processo, alm de determinar a criao do sistema deoportunidades sociais. Anal, cultura organizacional das empresas tem aver com cultura propriamente dita. Isto signica dizer que as burocraciasso ruto de processos sociais que se dierenciam de nao para nao. Odesenvolvimento tambm. O ato que, para ns, as experincias do Leste

    Asitico merecem ateno pela capacidade que tiveram de implantar omodo de desenvolvimento japons-asitico, com a dinamizao do capitalismodesenvolvimentista de Estado na consecuo de conquistas nacionais, tais comoo crescimento com igualdade social. Isto deve ser considerado, no contextolatino-americano, como opo histrica com mais justia social, no caso dese considerar somente alternativas dentro do modo de produo capitalista.

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    Peculiaridades da China

    Vamos analisar agora ao caso especial da China (ESENSSORO, 2003).Em 1949, os comunistas estabeleceram a Repblica Popular da China e

    promoveram tambm uma reorma agrria, assim como na Coria do Norte,em 1956. Estas reormas caracterizaram-se pelo combate aos latiundiriose nobreza rural, enquanto nas cidades houve um perodo de cooptao daburguesia nacional com a promoo do capitalismo nacional, pelo menosat 1953, ano do primeiro plano qinqenal,

    A expropriao da burguesia ocorreria a partir de 1953, at completar-seem 1956. No campo, contudo, desde a Lei da Reorma Agrria de 1950, a

    nobreza rural proprietria e os camponeses ricos (6% do total) ocos desubverso anticomunista oram os alvos prioritrios a serem combatidos.Fazendas coletivas oram estruturadas como o objetivo de aumentar aprodutividade, embora, nesse meio tempo, o governo tenha redistribudo117 milhes de hectares de terra arvel para aproximadamente 300 milhesde camponeses, isto , uma mdia de um tero de acre para cada um. Foiuma reorma agrria com mais ganhos polticos do que econmicos, j queas pequenas unidades econmicas no tinham capacidade para adquirir

    maquinaria, por exemplo. ratou-se, portanto, da criao em massa depequenos proprietrios, em consonncia com a ase de capitalismo nacionalnas cidades.

    A transio para o socialismo oi anunciada em 1953, com o primeiro planoqinqenal, e teve incio a coletivizao da agricultura. A cooperativizaodos agricultores espalhou-se rapidamente por todo o campo, ortalecendoMao s-tung e sua aco diante dos modernizadores (Li Shaoqi e DengXiaoping), que detinham um orte apoio entre os burocratas dos programasde industrializao urbana. A cooperativizao parecia ter o apoio de todoo campo, base socio-poltica de Mao s-tung, e, por volta de 1956, 90%da populao rural estava organizada em 485.000 cooperativas ou azendascoletivas.

    No Grande Salto para Frente tentou-se aumentar a produtividade nocampo onde vivia 80% da populao at a dcada de 1980 criandopequenas indstrias nas 24.000 comunasrurais (que em mdia tinham 30.000

    pessoas). Foi a orma encontrada para promover o desenvolvimento utilizando

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    intensivamente o abundante ator trabalho e diminuindo a necessidade deinvestimentos de capital (inclusive a ajuda sovitica, que retraiu-se depois daciso sino-sovitica aps o XX Congresso do PC da URSS). Desta orma, o

    planejamento oi encorajado a adequar-se ao tamanho das comunas, que eraa instituio mais identicada com o Grande Salto para Frente.No perodo seguinte, apesar da grande eervescncia poltica da Revoluo

    Cultural, pode-se dizer que esta no alterou signicativamente a distribuioda riqueza nem a posio social dos dierentes grupos da populao. Coma morte de Mao s-tung, em 1976, Deng Xiaoping conseguiu supremacianas instncias polticas chinesas, abrindo caminho para as reormasmodernizadoras que se seguiram, incluindo o desmantelamento completo

    do sistema de comunasno campo, a possibilidade de abrir negcios privados(que saltam de 100.000, em 1978, para 17 milhes, em 1985), e a aberturapara o Japo e o Ocidente como meio de aumentar o comrcio e adquirirtecnologia (VADNEY, 1992, p. 164-181, p. 343-359).

    Como vemos na abela 3, a pobreza aumentou entre 1987 e 1998 emtodo o mundo de maneira agregada, porm diminuiu na China no mesmoperodo, onde 90 milhes de pessoas superaram a linha de pobreza de um

    dlar por dia por pessoa. Calcula-se que o nmero de chineses que deixou deser pobre segundo esse critrio ultrapasse os 200 milhes desde o comeodas reormas econmicas, em 19783. Atribuir este decrscimo da pobrezaapenas expanso do capitalismo naquele pas continental seria certamenteindevido, principalmente se considerarmos que, com o desmantelamentodo comunismo burocrtico4 no Leste Europeu e na Rssia, a penetrao dosistema capitalista tem promovido at agora o eeito inverso naquela regio

    (CORNIA, 1994, p. 569-607).

    3 As reformas na China se iniciaram com a substituio da agricultura coletiva pelo acesso do campons ao uso da terra

    e continuaram com as reformas institucionais, econmicas, etc. que permitiram, entre outras coisas, a entrada de capitais

    estrangeiros na China em quantidade excepcional. Shicheng sustenta que as reformas na China vm para aperfeioar o

    sistema socialista chins e desenvolver a economia mercantil planificada socialista ou socialismo de mercadona verso

    chinesa (SHICHENG, 1992).4 Usamos comunismo burocrticocomo sinnimo de socialismo real. Max Weber utilizava a expresso socialismo de

    Estadoou socialismo burocrtico. Tragtenberg usa coletivismo burocrticopara caracterizar a formao econmico-social

    da URSS, do Bloco Oriental, China atual e Cuba. O capitalismo de Estado, ou melhor, o processo de modernizao

    levado a efeito por uma elite industrializante sob a direo de um partido nico, implica nos seus incios, j a burocracia.

    [...] Esta burocracia possui o Estado como propriedade privada (TRAGTENBERG, 1992, p. 40-41, p. 86).

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    Tabela 3 - Pobreza por regio, anos selecionados, 1987-1998

    Pessoas vivendo com menos de US$1 por dia (milhes)Regio 1987 1990 1993 1996 1998

    leste Asitico e Pacfco 417,5 452,4 431,9 265,1 278,3

    Europa e sia Central 1,1 7,1 18,3 23,8 24,0Amrica Latina e Caribe 63,7 73,8 70,8 76,0 78,2

    Oriente Mdio e Norte da rica 9,3 5,7 5,0 5,0 5,5

    Sul da sia 474,4 495,1 505,1 531,7 522,0rica Sub-Sahariana 217,2 242,3 273,3 289,0 290,9

    Total Excluindo China 879,8 915,9 955,9 980,5 985,7

    China 303,4 360,4 348,4 210,0 213,2Total 1.183,2 1.276,4 1.304,3 1.190,6 1.198,9

    FONTE: Banco Mundial, 2001.

    Na verdade, o crescimento econmico invejvel da China5 pode seratribudo, em grande parte, ao Estado e s empresas coletivas de vilas ecomunidades (township and village enterprises, VEs), nascidas a partir dareorma de 1978. Estas ltimas compem um setor pblico no-estatalqueintegra o sistema econmico misto do pas. Este compreende, alm das VEs,as grandes empresas e bancos estatais(state-owned enterprises, SOEs) e o setor

    privado, incluindo as corporaes transnacionais (Empresas ransnacionais,ENs). Para entender a importncia desses setores podemos dizer que, aolongo dos anos 1980, 80% do investimento bruto, que se situava acimade 35% do PIB, era eito pelo setor pblico VEs (15%) e SOEs (65%)(MEDEIROS, 1999, p. 96).

    Uma das razes da diminuio da pobreza na China que basicamenteuma pobreza rural certamente o crescimento espetacular, principalmenteo agrcola (7,4% entre 1978-84; comparado com 2,5% no perodo 1952-78)(ZHANG, 1993), aliado ao desenvolvimento destas empresas rurais (VEs),que criaram milhes de empregos. Hoje essas empresas empregam mais de da ora de trabalho rural e contribuem em 40% da rendaper capita rural

    5 O crescimento mdio anual do PIB, na dcada de 1980, foi de 10,1% e, nos anos 1990, de 10,7% (Banco Mundial). Dado

    impressionante principalmente se levarmos em conta que, antes das reformas, de 1952-1978, o crescimento mdio anual foi

    de 4,4% (Maddison). Da mesma forma, entre 1978 e 1998, o PIBper capita cresceu a uma mdia anual de 8,8%. Tambm

    depois das reformas, as exportaes de bens e servios cresceram anualmente 21,1% e, entre 1988 e 1998, cresceram 14,5%

    ao ano. Esta performance no tem paralelo nas economias dos pases com um peso econmico comparvel China

    (BANCO MUNDIAL, 2000; Maddison citado em MEDEIROS, 1999).

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    Sedi Hirano e Luis Estenssoro - Cadernos PROLAM/USP(ano 5 - vol. 2 - 2006), p. 105 - 146.

    (YAO, 1999, p. 104-130).Cabe assinalar, no entanto, que a desigualdade tem aumentado6 no pas,

    em grande parte pela dinmica da economia das cidades em detrimento do

    campo (desigualdade urbano-rural) e pela pujana econmica de algumasregies, principalmente as costeiras Zonas Econmicas Especiais (ZEEs)(desigualdade regional)7. Esta desigualdade brota de uma sociedade comuma base de igualdade prvia muito grande (socializao da educao e dasade, reorma agrria, etc.) que enrentou um boom de produtividade8 apartir de reormas que transormaram a economia e as instituies chinesas,num esoro para inserir a economia do pas no mercado mundial.

    No est demais acrescentar que esta integrao ao mercado mundial

    simbolizada pela entrada da China na OMC, em 2001 est sendo conduzidana tentativa de preservar certos interesses nacionais, dos quais um deles pareceser a determinao em erradicar a pobreza no pas, revertendo grande partedo crescimento econmico para esse m, por meio de economias de escalae polticas pblicas. alvez seja possvel, com um crescimento sustentado de10% ao ano, retirar os restantes 213,2 milhes de chineses da misria (abaixoda linha de pobreza de um dlar por dia por pessoa) em algumas dcadas,

    apesar da desigualdade e do desemprego crescentes. Porm, no certo queesse crescimento econmico seja sustentvel, uma vez que grande parte desseprocesso se d pelo enxugamento do Estado, tanto da sua regulamentaoinstitucional quanto da sua base econmica (SOEs), causando inclusivedesemprego e misria nas cidades.

    Assim, at mesmo o processo de melhoria do desenvolvimento humano

    6 O ndice de Gini da China passou de 21,2, em 1978, para 32,0, em 1994 (Yao). Chen e Wang afirmam, aps verificar

    diversos estudos, que: There is a consensus among these studies that, even though about 270 million people were liftedout of poverty since the reforms started in 1978, the benefits of growth are unevenly distributed. Inequalities in income

    and consumption have been worsening, especially in the recent years. The Gini coefficient, a low 28.8 in 1981, reached 41.5

    in 1995, a level similar to that of the United States. The rural-urban divide is increasing, regional disparities are widening

    and access to opportunities is becoming less equal (YAO, 1999; CHEN, WANG, 2001).7 To fully understand poverty in China, three important factors need to be examined: income inequality for the whole

    country, especially for the rural population (including those working in the cities but classified as rural people [by the

    Government]; rural-urban income inequality; and regional income inequality (YAO, 2000, p. 447-474).8 A sharp, sustained increase in productivity (that is, increased worker efficiency) was the driving force behind the

    economic boom. (HU; KAHN, 1997). Maddison estima que a taxa de crescimento anual da produtividade agrcola

    passou de 0,17, no perodo 1952-78, para 4,27, no perodo 1978-95 (MEDEIROS,1999; HU, KHAN, 1997, p. 1-10).

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    Padres de Desenvolvimento e de Oportunidade Social na Amrica Latina e no Leste Asitico

    posto em xeque pelo crescimento das desigualdades9, alm da alta dedemocracia poltica10. Na verdade, as melhorias scio-econmicas nooram acompanhadas por uma democratizao do aparato burocrtico. De

    maneira pessimista, podemos vislumbrar, no desenvolvimento da sociedadechinesa, um regime de Estado autocrtico combinado com uma economiahegemonizada pelo processo de globalizao comandado pelas corporaestransnacionais.

    Enm, a verso chinesa para socialismo de mercado e a participao pblicano-estatal das VEs, ltimas grandes promessas do socialismo real, podemno se rmar como alternativa real ao capitalismo monopolista, dependnciae burocratizao. Mesmo porqu os desaos ainda so considerveis: o

    nmero de pessoas em torno da linha de pobreza na China muito grande,como mostram os nmeros da populao abaixo de US$ 2 por dia por pessoa.Esta populao de pobres representa uma dvida socialde uma magnitudecinco vezes maior do que a brecha de pobreza da populao abaixo de US$ 1por dia por pessoa, isto , uma parcela cinco vezes maior da renda nacionalseria necessria para retirar os pobres da misria, se considerarmos uma linhade pobreza de dois dlares por dia por pessoa..

    Este problema social pode ser considerado superado nos EUA, na Coriae no Japo, enquanto que na Amrica Latina ainda uma questo que nosqualica como subdesenvolvidos. Entretanto, a quantidade de pessoas abaixoda linha de pobreza de US$ 2 na China distinta de pases como Brasil eMxico, azendo com que o patamar da brecha de pobreza (poverty gap) sejamenor nestes ltimos.

    Como vemos na abela 4 a seguir, a desigualdade (ou distribuio derenda) na Amrica Latina e nos EUA maior do que na sia. No caso latino-

    americano, supera o ndice de Gini de 48, chegando a 60 no caso brasileiro.Reparemos tambm que so os paises latino-americanos (Brasil e Mxico)

    9 Embora reconhea que as reformas na China quadruplicaram o PIB per capita de 1/5 da humanidade em 20 anos, Khan

    afirma que a preocupao do governo com a taxa de acumulao impede que se d a devida ateno ao desperdcio de

    recursos, crescente desigualdade e ao correto combate da pobreza, que deveria inclusive tratar de problemas como o dos

    72 milhes de migrantes internos existentes em 1995 (KHAN, 1998).10 Apesar do sistema experimental de eleies de chefes de vilas, a partir de 1987, Lew (1999) afirma que le socialisme

    rel chinois repose sur une structure autoritaire, aujourdhui plutt dcentralise, o la tutelle de lEtat (ou de lEtat

    dans ses formes locales et regionales) sexerce encore de faon arbitraire, souvent sans considration pour les besoins et

    exigences des habitants.

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    que tm os 10% mais ricos com mais de 40% da renda nacional. Os pasesasiticos, portanto, caracterizam-se por serem mais igualitrios. Notemos, porexemplo, o paralelismo da distribuio de renda entre EUA e China. Apesar

    do imenso desenvolvimento do primeiro, os 20% mais pobres na Chinatm uma parcela da renda um pouco maior do que os 20% mais pobres dosEUA, sendo que o ndice de Gini e a parcela que cabe aos 20% mais ricosso semelhantes nos dois pases. Ora, China um pas do erceiro Mundo,os Estados Unidos so o centro da economia mundial. Este pas deveria terum desenvolvimento social, em termos de distribuio de renda, semelhanteao japons, cujos indicadores de desigualdade so muito melhores do que osnorte-americanos.

    Tabela 4 - Distribuio da renda

    Pas Ano Gini 10% 20%2

    20%3

    20%4

    20%20% 10%

    EUA 1993 a,b 40,8 1,8 5,2 10,5 15,6 22,4 46,4 30,5

    China 1998 c,d 40,3 2,4 5,9 10,2 15,1 22,2 46,6 30,4

    Japo 1993 c,d 24,9 4,8 10,6 14,2 17,6 22,0 35,7 21,7

    Coria 1993 a,b 31,6 2,9 7,5 12,9 17,4 22,9 39,3 24,3

    Brasil 1996 c,d 60,0 0,9 2,5 5,5 10,0 18,3 63,8 47,6

    Mxico 1995 c,d 53,7 1,4 3,6 7,2 11,8 19,2 58,2 42,8

    Argentina* 1996 c,d,e 48,0 1,5 4,3 8,6 13,2 20,8 52,9 35,9

    FONTE: Banco Mundial, 2000.* BID (1998, p. 25)

    a. Reere-se a partes de consumo por percentual da populao.b. Ordenado pelo consumo per capita.

    c. Reere-se a partes de renda por percentual da populao.d. Ordenado por renda per capita.e. Reere-se apenas Grande Buenos Aires.

    De ato, o modo de desenvolvimento japons-asitico apresenta um sistemade oportunidades sociais e econmicas que o torna estruturalmente maisigualitrio, produzindo menores desigualdades sociais e menos pobreza. Estemodelo carrega, mesmo dentro do contexto da crise nanceira mundial,

    elementos estruturalmente eqitativos, onde as metas sociais e coletivas

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    tm preeminncia e dominncia, como uma marca histrica das sociedadesdo Leste Asitico. D-se assim ao capitalismo desenvolvimentista de Estadoum potencial de dinamismo qualitativamente dierenciado. Este elemento

    estrutural qualitativamente singular, por razes histricas, est na construode instituies de oportunidades sociaise econmicas, que do nase educaobsica e assistncia elementar sade, para no alar da implantao dereormas agrrias ecazes. Estas instituies sociais ampliam e acilitam aparticipao econmica da maioria da populao do Leste Asitico.

    Anlise dos indicadores

    Esta seo procura evidncias estatsticas do sistema de oportunidades sociaisdo Leste Asitico, bem como caractersticas do seu capitalismo desenvolvimentistade Estado, comparado com o modo de desenvolvimento anglo-americano. Osdados ociaisdivulgadospelas instituies internacionais revelam claramenteas tendncias divergentes dos modos de desenvolvimento japons-asitico eanglo-americano, com a Amrica Latina includa neste ltimo. Resumimosaqui as tendncias bsicas apontadas para o desenvolvimento econmico esocial dos pases selecionados pelos dados existentes na publicaoWorld

    Development Indicators, do Banco Mundial. J os grcos apresentadosa seguir oram eitos a partir de dados extrados da publicaoEconomicOutlook 76 Database,da OCDE.

    Pelos nmeros produzidos pelo Banco Mundial,aexpectativa de vida eramaior nos EUA, mas oi ultrapassada pela existentenoJapo. Estes pasespartem de 70 e 68 anos, em 1960, e chegam a 77 e 81 anos, respectivamente,em 2000. anto Coria como a China, que largam de patamares inerioresaos latino-americanos (54 Coria e 36 China), chegam ao ano 2000 comexpectativa de vida igual ou superior da Amrica Latina. Como resultado,temos um destaque para a existncia, nos EUA (12,3%) e principalmenteno Japo (17,2%), de uma populao considervel acima dos 65 anos,bem acima dos outros pases, onde essa aixa etria no chega a 10%. Amortalidade inantil, por outro lado, sempre oi menor tambm nos EUA eno Japo, que atingem impressionantes 9 e 5 mortes por 1000 nascimentosem 2000, respectivamente. J a China, que parte de um ndice altssimo de

    209 mortes, chega ao ano 2000 com uma taxa igual ao do Brasil (39). Com

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    esses dois processos paralelos (menos mortalidade e maior expectativa devida), no de se estranhar que a China, apesar das polticas de controle denatalidade (em especial a do lho nico), tenha ainda assim um aumento

    demogrco imenso que quase dobrou sua populao entre 1960 e 2000.O desenvolvimento econmico tambm possibilitou aos pases asiticosdiminuir a taxa de trabalho inantil, principalmente na China, onde estapassou de 43,17%, em 1960, para 7,86%, em 2000. Nos EUA, Coria eJapo este problema pode ser considerado superado, enquanto que o Brasilapresenta agora a taxa mais alta entre os pases da amostra (14,43%). NoMxico (4,88%) e na Argentina (2,40%) o problema menor, mas persiste.

    Ainda sobre a ora de trabalho, pode-se apontar uma outra questo

    como sendo mais problemtica na Amrica Latina que na sia: odesemprego. Apesar das taxas baixas do Mxico (2,9%, em 2000) ondetalvez o desemprego existente esteja sendo encoberto pelo trabalho precrio o Brasil (9,0%) e a Argentina (12,8%) apresentam taxas bem maiores doque as asiticas (3,1%, 4,1% e 6,8%). Como podemos observar no Grco1, entre as economias desenvolvidas, o Japo tambm apresenta menorestaxas histricas de desemprego do que as economias dos EUA e da Europa,

    incluindo a Alemanha.

    0%

    2%

    4%

    6%

    8 %

    10%

    12%

    11 12 13 14 15 16 17 18 1 2000 2001 2002 2003 2004

    Anos

    Porcentagemda Fora deTrabalho

    Alemanha

    JapoEstados Unidosrea do Euro

    Grfco 1 - Taxas de desemprego

    Em educao, notrio o maior investimento por estudante, como

    porcentagem do PIBper capita, existente na Coria (17,38%, nos anos 1990)

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    e no Japo (18,97%), emcontraste com a Amrica Latina (10,98% no Brasile 8,98% na Argentina). Apesar da imensa legio de estudantes na China, estataxa (6,47%) chega a ser maior que a do Mxico (6,42%). Como resultado,

    temos que o analabetismo adulto chins que era de 48,74%, em 1960, entrano ano 2000 com nveis compatveis com os do Brasil (em torno de 15%).Coria e Argentina esto no patamar de 3%, enquanto que nos EUA e noJapo o problema desaparece.

    Os investimentos em sade como porcentagem do PIB so maioresnos EUA (12,89% em 1998) do que nos outros pases (entre 5% e 8%).Este ato deve ser creditado ao alto investimento privado norte-americanoem sade, que chega a ser, em 1998, de US$ 4.095 por pessoa (embora

    a parte pblica do gasto em sade bem maior no Japo e na Europa doque nos EUA). No Japo, os gastos em sade por pessoa (US$ 2.243) sobem maiores do que na China (US$ 37), onde os gastos so diludos nasua imensa populao. O destaque ca para os investimentos decrescentesem sade, como porcentagem do PIB, da Argentina, embora ainda sejamos mais altos da Amrica Latina. Como resultado, temos muito mais leitoshospitalaresper capita no Japo (16,20) do que nos outros pases (inclusive

    os EUA, com 4,00), sendo que a China (2,34) tem mais do que o Mxico(1,20), e a Coria (4,60) mais do que o Brasil (3,11). Em saneamento bsicoe acesso a gua potvel os nmeros avorecem a Amrica Latina em relao China. Nos EUA a cobertura de 100% em ambos.

    Os caminhos do desenvolvimento social no Leste Asitico e nos EUA soabertos pelo crescimento do PIB e do PIBper capita. Seno vejamos: em 1980,o PIB da China (US$ 455 milhes) e da Coria (US$ 115 milhes) erammenores do que o PIB do Brasil (US$ 491 milhes) e da Argentina (US$ 194

    milhes), e terminam por ser mais que o dobro, respectivamente, em 2000:aChina com US$ 5.019 milhes e aCoria com US$ 821 milhes, contraUS$ 1.299 milhes doBrasile US$ 458 milhesdaArgentina. Ou seja,trata-se de um crescimento impressionante nestes pases do Leste Asitico,que alcanaram o desenvolvimento do Japo, que j era grande. Este paschega, ao ano 2000, como terceira potncia em termos de PIB PPP (US$3.394 milhes), atrs da China, que teve um crescimento da sua economiaem torno de 10% ao longo de 20 anos, e dos EUA (US$ 9.612 milhes),

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    que conservou o primeiro lugar. Os EUA tambm mantiveram a dianteiraem termos de PIBper capita, seguidos pelo Japo e Coria. O PIBper capitaArgentino era o dobro do coreano, em 1980, mas depois perde a corrida e,

    apesar de ser o mais alto da Amrica Latina, representa, em 2000, menos dametade do PIBper capitajapons. A China, apesar do acelerado crescimento,ainda tem o menor PIBper capita entre os pases da amostra, outra vez porcausa da grande populao.

    Podemos vericar que a economia norte-americana tem possibilidadessuperiores mesmo em relao Europa e ao Japo. O Grco 2 mostraos ndices de crescimento do PIB real, onde vemos que os EUA tm umcrescimento maior. Mesmo assim, de 1980 at a Crise Asitica de 1997, o

    Japo esteve rente nas taxas de crescimento.

    Grfco 2 - ndices do PIB real

    O crescimento econmico dos EUA e do Leste Asitico decorrente deum conjunto de atores econmicos que se somam, alguns dos quais listamosa seguir:

    1) A ormao bruta de capital xo em relao ao PIB tem sido, ao longo

    do tempo, bem maior no Leste Asitico (36,1% da China; 26,2% do Japo;

    99,6

    99,8

    100,0

    100,2

    100,4

    100,6

    100,8

    101,0

    1980* 1983* 1986* 1989* 1992 1995 1998 2001 2004

    Anos (*) Valores mdios

    Alemanha

    Japo

    Estados Unidos

    rea do Euro

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    e 28,7% da Coria, em 2000) do que na Amrica Latina (20,3% do Brasil;20,9% do Mxico; e 15,9% da Argentina) e nos EUA (20,2%). Porm,esta vantagem dos pases asiticos em relao ao seu PIB nacional e no

    consegue superar o volume absoluto de ormao real bruta de capital xototal da economia norte-americana;

    2) A poupana domstica bruta em relao ao PIB tambm tem sido,historicamente, consideravelmente maior na China (39,9% em 2000), Japo(27,6%) e Coria (31,1%) do que no Brasil (19,2%), Mxico (21,5%),Argentina (15,3%) e EUA (17,9%), o destaque ca para a Coria que tinhaapenas 2% em 1960;

    3) Alm disso, as exportaes de bens e servios em relao ao PIB so muitograndes na China (25,9% em 2000) e na Coria (45,0%), nmeros salcanados pelo Mxico ps-NAFA (31,4%). No Brasil, Argentina, EUA eJapo esta taxa est em torno a 10%.

    Apesar deste esoro exportador, o Mxico se equipara ao Brasil e Argentina

    no balano decitrio em conta corrente em relao ao PIB, ato que contrastacom os supervits do Leste Asitico. Este ltimo indicador aponta o extremoendividamento dos pases latino-americanos, que vm pagando o dobro ouo triplo de juros da dvida externa, em relao ao PIB, em comparao coma China e a Coria. J nos EUA este indicador equivale a 4,5%doPIBem 2000, o que representa um dcit muito grande em nmeros absolutos,revelandoo poder de compra desta potncia no comrcio internacional.

    Na verdade, o problema latino-americano com sua dvida externa est

    longe de terminar. A dvida externa total tem crescido, na Argentina eno Brasil, at atingir 40,0% e 51,3% do PIB, em 2000, respectivamente,sendo que na China de apenas 13,9%. O decrscimo da dvida mexicana,ultimamente, ez com que esta se igualasse proporo da Coria, em tornode 29%. A boa administrao da dvida no Mxico tambm conseguiu queo servio de sua dvida sobre as exportaes decrescesse, at chegar a 30,2%,em 2000, o que indica, igualmente, o esoro exportador daquele pas.Porm, no Brasil e na Argentina, esse esoro oiem vo, pois o servio total

    da dvida em relao s exportaes atingiu, em 2000, incrveis 90,7% e

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    71,3%, respectivamente, sendo que na Coria este indicadorera de 10,9% ena China 7,4%. Japo e EUA no pontuam nesta classe de quesitos.

    Por outro lado, o consumo de eletricidadeper capita , indicador econmico

    que pode revelar o nvel da atividade econmica, inclusive a atividade inormal,bem como o indicador de posse de computadores pessoais (indicador deincluso social em termos tecnolgicos), bem menor na Amrica Latina doque nos EUA, Japo e Coria, embora seja maior do que na China (sabemosestes indicadores so distorcidos pela imensa populao chinesa). J quantoaos gastos em ecnologia da Inormao (I) e comunicaes, em relao aoPIB, o Mxico (3,2%) e a Argentina (4,1%) caram atrs da China (5,4%) eCoria (6,6%), em 2000. O Brasil (8,4%), est rente at dos EUA (8,1%)

    e Japo (8,3%), revelando o seuengajamento nos processos de globalizao,preocupao constantedos ltimos governos brasileiros. Porm, em termosabsolutos, a dierena dos recursos brasileiros em comparao com os japoneses e norte-americanos pode ser deduzida pelo tamanho do PIB decada pas.

    Quanto proporo de exportaes de manuaturados sobre o total deexportaes, podemos vericar que este nmero bem maior na China(88%, em 2000), na Coria (91%) e no Japo (94%), do que no Brasil(59%) e na Argentina (32%). O Mxico e os EUA, ambos com 83%, perdempara a China. Entendemos ento a lgica exportadora da economia do LesteAsitico. Por outro lado, em termos de investimento diretoexterno (IDE)bruto, em relao ao PIB, compreendemos que Brasil, Estados Unidos, Argentina e China, nessa ordem, esto recebendo grande quantidade derecursos externos, ato que, pelo grande PIB chins e, principalmente, norte-americano, representa um imenso volume de investimentos nesses pases.

    Diversos indicadores demonstram que a sociedade japonesa maisigualitria do que as sociedades europias e norte-americana. A evoluo docoeciente de Gini, que indica o grau de desigualdade entre os estratos derenda, um claro exemplo disto. Quanto mais este ndice se aproxima dezero, melhor distribuio de renda em uma determinada sociedade. O Japoapresenta, historicamente, o coeciente de Gini em torno de 0,25, o quesignica que uma das sociedades mais igualitrias do planeta. Vericamostambm que h uma dierena crescente entre Japo e EUA neste quesito: em

    1993, o coeciente de Gini dos EUA era de 40,8, sendo que a desigualdade

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    neste pas crescente desde os anos 1980.No Brasil, a mdia histrica do coeciente de Gini de 0,60, muito

    acima da mdia destes pases desenvolvidos, o que revela a nossa extrema

    desigualdade social. No Grco 3, possvel perceber a dierena dedistribuio de renda segundo os estratos sociais (quintis, representando cadaum 20% da populao). Estes dados revelam que os estratos mais pobres doBrasil recebem menores parcelas de renda do que os estratos mais pobresdos EUA e do Japo, enquanto que os 20% mais ricos recebem muito mais,proporcionalmente, no Brasil do que nos outros pases. O inverso ocorre noJapo. Assim, os EUA tm uma sociedade mais igualitria que a brasileira emenos igualitria que a japonesa.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    < 20% 2 20% 3 20% 4 20% > 20%

    Quintis (es tratos de renda)

    Porcentage

    md

    aRenda

    EUA

    JAPO

    BRASIL

    Grfco 3 - Distribuio de renda, anos 1990

    possvel comprovar que, tanto na incidncia de trabalhos com baixossalrios, quanto na disperso dos rendimentos,o Japo se mostra uma sociedadecommaiseqidade social do que a norte-americana e as sociedades europias:a relao entre o decil nmero 9, mais rico, sobre o decil nmero um, maispobre, revela uma dierena de 15 vezes no Japo, enquanto que nos EUA de aproximadamente 25 vezes. Podemos encontrar as razes desta maior

    eqidade na prpria economia japonesa: alm de haver maior investimento

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    em educao e sade do que na Amrica Latina, no h problemas como oda dvida externa latino-americana. Ocorre tambm um grande crescimentodo PIB e do PIBper capita, comparativamente com as outras economias da

    amostra, em uno das maiores taxas histricas de crescimento da ormaobruta de capital xo em relao ao PIB, de poupana domstica bruta emrelao ao PIB, e de exportaes de bens e servios em relao ao PIB.Alm disso, h menores taxas histricas de desemprego, menores taxas deinfao e, conorme observamos no grco abaixo, maior produtividade dotrabalho do que nos pases europeus e nos EUA. Destacamos, novamente, aimportncia do crescimento sustentado da produtividade para o sucessodo regime de acumulao japons-asitico, e igualmente para o crescimento

    econmico excepcional existente no socialismo de mercado chins.

    Grfco 4 - ndices de produtividade do trabalho no setor privado

    emos, ento, uma economia em expansono Leste Asitico, puxada peloalto desenvolvimento japons e pelo acelerado crescimento chins, eque sedestaca claramente nos seus indicadores sociais e conjunturais ao longo dotempo, na sua comparao com o modo de desenvolvimento anglo-americano.Isto resulta num maior desenvolvimento humano e social naquela regio.Apesar dos EUA terem um desenvolvimento econmico ainda maior, estese caracteriza por ser menos igualitrio, pois as potencialidades de promovero desenvolvimento humano naquele pas so superiores, embora sejam

    subutilizadas. H, portanto, um melhoraproveitamento das possibilidades

    99,7

    99,8

    99,9

    100,0

    100,1

    100,2

    100,3

    100,4

    100,5

    100,6

    100,7

    1977* 1980* 1983* 1986* 1989 1992 1995 1998 2001 2004

    Anos (*) Valores mdios

    Alemanha

    Japo

    Estados Unidos

    rea do Euro

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    Padres de Desenvolvimento e de Oportunidade Social na Amrica Latina e no Leste Asitico

    econmicas nos pases do Leste Asitico: a boa perormance econmicacombina-se com a melhor utilizao dos recursos, para promoverem,conjuntamente, uma arquitetura socialmais democrtica, no sentido de uma

    maior democracia econmica, isto , maior igualdade social, como observamosno Grco 5.

    BRASIL

    MXICO

    ARGENTINACHINA

    EUAINDONSIA

    JAPO

    CORIA

    30

    35

    40

    45

    50

    55

    60

    65

    70

    20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

    ndice de Gini

    %d

    arendados2

    0%m

    aisricos

    CHINA

    EUA

    INDONSIA

    BRASILJAPO

    MXICO

    CORIA

    ARGENTINA

    Grfco 5 - Desigualdade nos anos 1990ndice de Gini, 20% mais ricos e 10% mais pobres (tamanho da bolha)

    FONTE: Banco Mundial, 2000; BID, 1998

    Concluso

    O conjunto dos atores aqui arrolados demonstra o sucesso daseconomias do Leste Asitico e do modo de desenvolvimento japons-asitico

    em relao ao modo de desenvolvimento anglo-americano, e em relao aopadro de desenvolvimento dependente latino-americano. Estas conquistas socertamente conquistas polticas, na medida em que representam decisese opes tomadas ao longo do processo de desenvolvimento de maneirasucientemente coerente, constituindo-se emuma reormulao das relaese estruturas da dependncia demaneira a avorecer as condies e necessidadesdas sociedades do Leste Asitico. Assim, um conjunto de reormas radicais,eitas num momento crucial da histria destas naes, esteve acompanhado e

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    monitorado ao longo do tempo por polticas implementadas por instituiesorganizativas da sociedade e da economia, que revelam uma boa dose devontade poltica bem aproveitada em relao aos objetivos do desenvolvimento

    scio-econmico coletivo, ou seja, do modelo de crescimento com igualdade.Mais ainda, apesar de enrentarem os mesmos constrangimentos daeconomia internacional e do capitalismo globalizado, Japo, China e Coriaregistram aspectos scio-econmicos que revelam acertos no somente depolticas econmicas e de polticas pblicas (modelos de crescimento nacionais),mas de um padro de acumulao e de insero internacionalque evidenciadinmicas e sinergias econmicas mais adequadas e capazes de progredire beneciar as sociedades em questo.Ou seja, o modo de desenvolvimento

    japons-asitico aparece de maneira generalizada como mais igualitrio emais pujante que os eventuais e pontuais acertos existentes no padro dedesenvolvimento dependente das economias latino-americanas. Comparadocom o desenvolvimento dos Estados Unidos, ainda assim ele se apresentamais igualitrio. Dito de outra orma, o capitalismo desenvolvimentista deEstadodo Leste Asitico revela uma estrutura de poder e uma congurao declasses sociais dominantes que, com suciente vontade poltica, direcionou

    as economias destas naes de modo a consolidar melhorias nas condiesde vida daquelas sociedades. O socialismo de mercado chinsapresenta umprocesso scio-econmico com resultados semelhantes.

    Concluindo, podemos dizer que, de um modo geral, os indicadoreseconmicos avorecem a anlise positiva do desenvolvimento do LesteAsitico e o seu sistema de oportunidades sociais e econmicas. Estas condiesevidenciam que aquela regio econmica socialmente mais igualitria doque a regio contida dentro do modo de desenvolvimento anglo-americano.

    Em outras palavras, possvel compreender o regime de acumulao eo padro de insero das economias do Leste Asitico como um modelo decrescimento com igualdade(com menos desigualdade social) que se constituiem uma alternativamelhor, com relao justia social e ao bem estar dapopulao sempre dentro do modo de produo capitalista , do que oregime de acumulao dependente latino-americano e at mesmo do modo dedesenvolvimento concentradoranglo-americano.

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