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Transmissão de Tecnologias Socioambientais para as comunidades visando o Desenvolvimento Sustentável Resumo Desenvolvimento sustentável deve ser pensado em ações conjuntas entre pesquisadores e atores, transmitidas e divulgadas, para que cada localidade possa aplicar os conhecimentos de forma contextualizada. Sendo assim, a apropriação pelas comunidades de tecnologias que visem o DS é essencial, nesse processo de evolução conjunta. As Tecnologias Socioambientais são transdisciplinares e multidimensionais, promovendo uma interação entre as ciências sociais e naturais e entre o conhecimento científico e os outros diversos saberes. Este trabalho visou levar a diferentes comunidades da Paraíba, conhecimentos que lhes proporcionassem melhor qualidade de vida, através do desenvolvimento de TSA, baseadas em técnicas de Permacultura, com atividades de hortas agroecológicas, de reuso de resíduos sólidos e da gestão de efluentes residenciais com a implementação de fossas ecológicas, todas as ações realizadas e apreendidas pelos moradores locais. Palavras-chave: Biotecnologias; Desenvolvimento Sustentável; Permacultura; Saneamento Ecológico; Tecnologias Socioambientais. Abstract Social and Environmental Technologies transmission for communities to Sustainable Development Sustainable development must be thought as joint actions between researchers and actors, and transmitted so that each location can apply the knowledge in context. ,,lrpxThus, ownership by the communities of technologies aimed at DS is essential in this joint

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Page 1: Padrão (template) para submissão de trabalhos ao · Web viewTécnicas permaculturais são alternativas que vêm sendo desenvolvidas no intuito de produzir uma cultura permanente,

Transmissão de Tecnologias Socioambientais para as comunidades visando o Desenvolvimento Sustentável

ResumoDesenvolvimento sustentável deve ser pensado em ações conjuntas entre pesquisadores e

atores, transmitidas e divulgadas, para que cada localidade possa aplicar os conhecimentos

de forma contextualizada. Sendo assim, a apropriação pelas comunidades de tecnologias

que visem o DS é essencial, nesse processo de evolução conjunta. As Tecnologias

Socioambientais são transdisciplinares e multidimensionais, promovendo uma interação

entre as ciências sociais e naturais e entre o conhecimento científico e os outros diversos

saberes. Este trabalho visou levar a diferentes comunidades da Paraíba, conhecimentos que

lhes proporcionassem melhor qualidade de vida, através do desenvolvimento de TSA,

baseadas em técnicas de Permacultura, com atividades de hortas agroecológicas, de reuso

de resíduos sólidos e da gestão de efluentes residenciais com a implementação de fossas

ecológicas, todas as ações realizadas e apreendidas pelos moradores locais.

Palavras-chave: Biotecnologias; Desenvolvimento Sustentável; Permacultura; Saneamento

Ecológico; Tecnologias Socioambientais.

Abstract

Social and Environmental Technologies transmission for communities to Sustainable Development  Sustainable development must be thought as joint actions between researchers and

actors, and transmitted so that each location can apply the knowledge in context. ,,lrpxThus,

ownership by the communities of technologies aimed at DS is essential in this joint

development process. The Social and Environmental Technologies (TSA) are

transdisciplinary and multidimensional, fostering interaction between the social and natural

sciences and between scientific knowledge and other diverse knowledge. This work aimed to

bring social and environmental knowledge to different communities of Paraíba, offering them

better quality of life through the development of TSA, based on permaculture

techniques, with activities of agro-ecological gardens, reuse of solid waste and management

of residential waste with implementation of ecological pits, all actions taken and seized by

local residents. 

Key-words: Biotechnologies; Sustainable development; Permaculture; Socio-environmental

technologies; Ecological sanitation.

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1 Introdução

As comunidades humanas estão distanciando-se da relação e dos conhecimentos

que os antepassados tinham com o ambiente, em nome da “civilização e progresso”. Nos

grupos étnicos ou tradicionais, conhecimentos milenares vão sendo substituídos por atitudes

de desperdício, baseadas no consumo exacerbado, cada vez mais divulgados por uma

mídia alienante subsidiada pelo capitalismo inescrupuloso.

O desenvolvimento sustentável busca criar condições de associar o crescimento

econômico com a manutenção da qualidade ambiental, de forma a proporcionar uma melhor

qualidade da vida. Quando se pensa em desenvolvimento sustentável, tem-se de pensar em

ações conjuntas entre pesquisadores e atores, que possam ser transmitidas e divulgadas,

para que cada localidade, urbana ou rural, aplique tais conhecimentos de forma

contextualizada e as divulgue dentro das suas relações pessoais.

De acordo com Novaes e Dias (2009), as Tecnologias Sociais (TS) surgem como

uma crítica aos métodos da tecnologia convencional (TC) e um dos seus objetivos é

justamente transformar a tendência excludente imposta pela tecnologia capitalista,

apontando para uma produção coletiva e não mercadológica.

Furtado (2003, p.31), ressaltou que é imprescindível desenvolver tecnologias que

desempenhem um papel direto ou indireto no aprimoramento da qualidade ambiental,

portanto, que sejam ecoeficientes “com especial destaque para o uso de recursos (matérias

primas, água e energia)” além da minimização da geração de resíduos e efluentes, sendo

denominadas de Tecnologias Ambientais (TA).

As Tecnologias Socioambientais (TSA), estão na interface que labuta e abrange as

TS e TA, dessa forma, são transdisciplinares e multidimensionais, promovendo uma

interação entre as ciências sociais e naturais, assim como, entre o conhecimento científico

com outras diversas formas de sabedoria, como a tradicional e popular, a filosófica, a

artística, a espiritual, entre outras (ANDRADE, et al., 2012). Podem ser compreendidas

como um conjunto de técnicas ou metodologias transformadoras, desenvolvidas em

interação com as pessoas e comunidades e apropriadas por elas, voltados para as

resoluções de problemas das populações mais carentes em aspectos fundamentais, que

promovam a melhoria das condições de vida, bem como propiciem melhor qualidade

ambiental (RODRIGUES; BARBIERI, 2008).

Nesse sentido, “um passo importante e muito comum é aliar a pesquisa e a extensão

universitária com as práticas populares. Várias tecnologias, ao serem analisadas nesse

âmbito, passam a ter status de solução recomendada pela academia” (LASSANCE JR.;

PEDREIRA, 2004, p.74).

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Técnicas permaculturais são alternativas que vêm sendo desenvolvidas no intuito de

produzir uma cultura permanente, que reintegra o ser humano ao ambiente, levando em

consideração diversos fatores que estão auxiliando a degradar a vida e a natureza, com

métodos para o melhor aproveitamento da energia disponível, minimização dos

desperdícios, manutenção da fertilidade do solo, saneamento ecológico, entre outros

(MOLLISON; SLAY, 1994).

Este trabalho, visou aproximar a Universidade de comunidades rurais e periurbanas,

com o desenvolvimento de algumas TSA, baseadas em técnicas de Permacultura,

proporcionando aos moradores locais conhecimentos e métodos para alavancar melhor

qualidade de vida, através da Ecopedagogia e atividades de hortas agroecológicas, da

reutilização de resíduos sólidos e produção artística e da gestão dos efluentes domésticos

com implantação de fossas ecológicas. Os projetos foram desenvolvidos em diferentes

comunidades da região metropolitana de João Pessoa, na Paraíba.

2 Ecopedagogia e horta agroecológica

De acordo com Leff (2007), é na construção da racionalidade ambiental,

desconstrutora da racionalidade capitalista, que se forma o saber ambiental. Nesse sentido,

busca-se uma cultura emancipatória à hegemônica deturpação natural, formalizando, o que

Capra (2005) chama de Ecoalfabetização, um sistema de educação voltado para a vida

sustentável, que utiliza os princípios básicos da ecologia, propondo uma pedagogia centrada

na compreensão da vida, com uma experiência no mundo real, empregando o espírito de

participação e integração à natureza. Segundo o autor, a horta é um ambiente de

aprendizagem rico e multissensorial, perfeito para experimentar o pensamento sistêmico e

os princípios da ecologia em atuação. Pois, há nos vegetais a doação celestial à evolução

universal dos organismos vivos no planeta e isso inclui a espécie humana.

O projeto de Permacultura na Escola, realizou-se no primeiro semestre de 2011, com

dois grupos de estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental de Nova Vida –

EMEFNV, no Viveiro de mudas do Assentamento de Nova Vida, que é um assentamento de

reforma agrária do MST, pertencente ao município de Pitimbu, na Região Metropolitana de

João Pessoa na Paraíba. Os encontros aconteceram uma vez por semana no período

matutino, em horários distintos. Uma das turmas, com cerca de vinte educandos que

estudavam no 1° ano no período matutino, a maioria com 06 anos idade, foram

acompanhados pela professora durante as atividades. O outro grupo foi de estudantes que

frequentavam a escola no período vespertino, do 2° ao 5° ano, com idades entre 07 e 13

anos, com uma média de quinze discentes por aula.

Na perspectiva de “plantar a semente” no coração dessas crianças e jovens, para a

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preservação de seus ambientes, fomentando o desenvolvimento de uma sustentabilidade

socioambiental e instituindo o cuidado com a mãe Terra e suas vidas, desenvolveu-se um

trabalho cooperativo entre os participantes. Para isso foram empregadas técnicas

permaculturais, as quais visam à criação de sistemas ecologicamente corretos e

economicamente viáveis, que supram suas próprias necessidades e sejam sustentáveis no

longo prazo (MOLLISON; SLAY, 1994).

O trabalho em todos os encontros dividiu-se em duas etapas, uma expositiva de

sensibilização e aprendizagem no interior de uma das salas no Viveiro de mudas, valendo-

se de dinâmicas interativas e jogos pedagógicos. A segunda parte de atividades práticas,

relacionadas com o cultivo e manejo de espécimes vegetais, utilizadas como alimento

humano, e desenvolvidas na área externa do Viveiro de mudas.

Durante as atividades práticas, foram elaborados e construídos dois canteiros

circulares no formato de “buraco de fechadura” pelas crianças em Nova Vida. Depois de

demarcados os canteiros, um deles foi delimitado com cerca de 130 garrafas plásticas do

tipo Pet de 2 litros, recolhidas pelos estudantes, expostos na Figura 01a,b. A Figura 02,

apresenta o canteiro buraco de fechadura finalizado, com a cobertura vegetal e o

desenvolvimento de alguns espécimes vegetais transplantadas pelas crianças de Nova Vida

dentro das atividades permaculturais desenvolvidas no local.

Figura 01. a) Demarcação do canteiro agroecológico pelas crianças da escola; b) Trabalho cooperativo dos estudantes da EMEFNV no Viveiro de mudas do Assentamento Nova Vida em Pitimbu, PB.

a b

Fotos: Darcy Lima (2011).

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Figura 02. O canteiro buraco de fechadura confeccionado com garrafas plásticas pelos educandos da EMEFNV no Viveiro de mudas do Assentamento Nova Vida em Pitimbu, PB.

Foto: Darcy Lima (2011).

Considerou-se frente ao trabalho realizado com as crianças da escola e do relato de

alguns pais, a necessidade de atividades que pudessem inserir valores educacionais

diferenciados e complementares à educação formal, na perspectiva da Ecopedagogia, para

uma melhor percepção, interação e gestão de seus ambientes. Desta forma, desenvolver o

interesse e desenvoltura pela cultura de subsistência, no intuito de promover a

sensibilização para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental de suma importância na

atual conjuntura das sociedades humanas e prepará-las adequadamente para a vida que se

abre, resgatando o amor, a solidariedade e a criatividade na melhoria da qualidade das

vidas da comunidade, foi fundamental.

3 Reuso de materiais para a produção artística

A Comunidade Quilombola de Ipiranga situa-se no distrito de Gurugi, município do

Conde na Paraíba. O município do Conde está localizado na Mata Paraibana, 13 km ao sul

da capital e junto à Bayeux, Santa Rita e Cabedelo forma a Grande João Pessoa. O projeto

em Ipiranga ocorreu no segundo semestre de 2012, com cerca de sete pessoas de três

famílias na comunidade quilombola. Os encontros ocorreram uma vez por semana,

geralmente no período noturno, turno mais conveniente para as participantes devido às suas

atividades diárias. Devido à ineficiência do serviço de coleta de lixo municipal no distrito de

Gurugi, onde localiza-se a comunidade de Ipiranga, moradores locais costumam incinerar os

resíduos sólidos domésticos.

A incineração dos resíduos sólidos é uma prática tradicional e comum em

comunidades rurais modernas e em toda essa região da Paraíba. Porém, ao reunir os

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resíduos naturais dos quintais com o lixo doméstico, que não mais é composto apenas por

resíduos orgânicos, como no início das civilizações, contendo diversos tipos de materiais

agregados e que quando cremados liberam substâncias nocivas à saúde ambiental e

humana. Como exemplo temos a dioxina, que é uma das substâncias mais tóxicas

produzidas pela ação humana, sendo liberada para atmosfera com a combustão de todos os

tipos de plásticos, entre outros materiais componentes do lixo doméstico1.

Deste modo, apresentaram-se alternativas às pessoas da comunidade de Ipiranga

para que elas solucionassem essa questão dentro da comunidade, transformando

problemas em soluções. Com a reutilização dos materiais, promove-se o desenvolvimento

criativo, artístico e cognitivo, diminui a disposição dos resíduos no ambiente quilombola e,

ainda, pode-se incrementar a renda familiar com a minimização do consumo e a venda dos

produtos. Neste trabalho, visou-se a reutilização de alguns resíduos, no sentido de discutir e

experimentar as infinitas possibilidades artísticas para a transformação dos materiais,

proporcionando nova utilidade para os descartados e seu retorno ao ciclo produtivo.

Nesse sentido, foram promovidas rodas de conversa com as pessoas da

comunidade que participaram da ação, enfatizando o Repensar atitudes e valores, em que

os cidadãos passam a assumir efetivamente o seu papel na coletividade e na preservação

de seu ambiente, com a Redução na geração de resíduos, a Reciclagem e a Reutilização

dos materiais descartados, como medidas de minimizar os impactos ambientais, buscando a

formação de multiplicadores numa perspectiva da prática desses 4R’s.

Desenvolveram-se algumas oficinas para a reutilização dos resíduos sólidos da

comunidade e produção artística com essas pessoas, como a confecção de vassouras,

pufes e borboletas de garrafas plásticas descartadas e a produção de mandalas de fios Olho

de Deus, com reuso de palitos de madeira e outros resíduos, apresentados nas Figuras 03 e

04.

Figura 03. a) Uma das vassouras de garrafas Pet confeccionadas nas oficinas de arte com reuso de resíduos sólidos; b) O pufe construído e encapado por uma das participantes dos trabalhos na comunidade quilombola de Ipiranga no municipio do Conde, PB.

a b

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Fotos: Wellington Paes (2012).Figura 04. a) A produção de borboletas de Pet das oficinas; b) As Mandalas de Fios “Olho de Deus” produzidas nas oficinas de reuso de materiais realizadas no quilombo de Ipiranga em Conde na Paraíba.

a b

Fotos: Wellington Paes (2012).

A reutilização dos materiais é uma forma de redução de consumo e de descarte de

resíduos, pois consiste em utilizar o mesmo produto de outras maneiras, ao invés de

descartá-lo no ambiente, prolongando a sua vida útil e isto depende da criatividade do

gerador, podendo-se confeccionar diversos artigos numa perspectiva de economia criativa.

A Economia Criativa é uma abordagem holística e multidisciplinar, que labuta com as

interfaces entre a economia, a cultura e a tecnologia, resultantes de uma mudança gradual

de paradigma na promoção do desenvolvimento sustentável (DUISENBERG apud LIMA,

2012).

4 Saneamento ecológico em comunidades

O saneamento ecológico é uma abordagem sistêmica, que representa uma mudança

na forma de pensamento e de atuação das pessoas em relação aos esgotos domésticos,

reconhecendo a necessidade e os benefícios da promoção da saúde e o bem-estar humano

e ambiental. O saneamento proporciona a proteção e conservação das águas e solos, ao

mesmo tempo em que promove o fluxo circular, com a recuperação e reciclagem de

nutrientes para a produção de alimentos e ornamentação local (ESREY; ANDERSSON,

2001).

Segundo Alsén e Jensen (2004), o saneamento ecológico é fundamentado na

separação dos esgotos domésticos na fonte, divididos em águas cinzas (águas de pias,

chuveiros, lavanderia e limpezas em geral) e águas negras (águas com fezes e urina dos

banheiros), o que facilita soluções mais sustentáveis para os efluentes residenciais do que

os sistemas convencionais. A admissão do conceito de separação na fonte, permite o

tratamento adequado dos distintos tipos de esgotos domésticos, que necessitam de

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tratamentos diferenciados de acordo com suas características, “esta é a chave de soluções

técnicas para o reuso eficiente da água, energia e nutriente” dos efluentes (GALBIATI, 2009,

p. 02).

Neste sentido, de acordo com Diniz (2012), as alternativas tecnológicas da

Permacultura têm muito a contribuir, pois além da simplificação e eficiência no tratamento

dos efluentes domiciliares segregados, em seus princípios agregam-se os valores

ambientais e humanos, dessa forma, as águas são reutilizadas, os dejetos viram adubo e os

ambientes tornam-se mais belos e agradáveis com a produção de alimentos saudáveis e

nutritivos, como bananas e mamões, entre outros, além de evitar o aumento da eutrofização,

impedindo que esses nutrientes alcancem os corpos d’águas. Por outro lado, os sistemas de

saneamento ecológicos podem ser construídos em locais em que o saneamento básico

municipal não está presente, auxiliando na contenção da poluição difusa, grande

responsável pela contaminação de solos e águas.

De fácil construção e manejo, o Círculo de Bananeiras (CB) é um elemento

fundamental na habitação urbana ou rural, por cumprir mais de uma função importante:

tratar a água residual localmente; compostar os resíduos orgânicos dos quintais e os

materiais lenhosos, evitando a queimada desses; e a produção de alimentos, podendo ser

associado a várias outras espécies vegetais, tudo num círculo de dois metros de diâmetro

(CASTAGNA, s/d.).

O Tanque de Evapotranspiração (TEvap) é um sistema de tratamento de esgoto e

reaproveitamento dos nutrientes de águas negras, provenientes do vaso sanitário, para a

produção de flores e frutas. Consiste em um sistema de filtros e com plantas na superfície,

em seu interior ocorre decomposição anaeróbia da matéria orgânica, a mineralização e

absorção das águas e dos nutrientes pelas raízes, estes incorporando-se à biomassa das

plantas e a água sendo eliminada por evapotranspiração (PAULO; BERNARDES, 2009).

Este trabalho foi desenvolvido com os moradores nas comunidades do Vale do

Gramame e do Condomínio Amizade em João Pessoa na Paraíba, no decorrer do ano de

2013. Os trabalhos foram realizados em forma de mutirão, com o auxílio de voluntários,

jovens e crianças. Nessas localidades, desenvolveram-se oficinas práticas de técnicas

permaculturais de saneamento ambiental ecológico, com a construção de cinco CB

experimentais em três residências da região do Vale do Gramame, para o tratamento e

aproveitamento das águas residuárias das residências e dos resíduos orgânicos de lenta

decomposição dos quintais, para a produção de alimentos e composição paisagística local

(Figura 05). Essas, também, são as finalidades do TEvap, construído no Condomínio

Amizade para o tratamento e aproveitamento de efluentes domiciliares, no qual, ainda,

promoveu-se a reutilização de resíduos sólidos humanos dispersos no ambiente, como

pneus e entulhos da construção civil, apresentados na Figura 06.

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Figura 05. A eficiência da Tecnologia Socioambiental do Círculo de Bananeiras implementada em comunidades rurais de João Pessoa, Paraíba: a) Destino dos efluentes do banheiro em uma das residências trabalhadas no Vale do Gramame antes da implementação da TSA, as águas cinzas seguiam no buraco com balde; b) O Círculo de Bananeiras implantado, com o plantio das mudas ao redor da fossa repleta de matéria orgânica de lenta decomposição e a cobertura do canteiro, para o aproveitamento das águas cinzas deste local na propriedade;

a b

Fotos: Wellington Paes (2013).

Figura 06. A eficiência da Tecnologia Socioambiental do Tanque de Evapotranspiração: a) A situação do local no antes da implantação do TEvap com os esgotos correndo a céu aberto; b) Melhorias na composição da paisagem no local após a implantação do TEvap; c) Produção de melões com a água tratada do sistema ecológico no Condomínio Amizade em João Pessoa, PB.

a b

c

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Fotos: Wellington Paes (a 2013; b,c 2014).Com esses sistemas, os esgotos domiciliares, que na maioria do país contaminam

águas e solos, são tratados localmente e aproveitados para a produção de alimentos e

paisagismo, diminuindo o escoamento de esgotos para os rios. Assim, com a implantação

das TSA de saneamento ecológico nessas comunidades, minimizaram-se a contaminação

humana e ambiental cessando com a exposição de esgotos a céu aberto nesses ambientes,

dessa forma, contribuindo com a melhoria na qualidade de vida das pessoas na periferia da

capital paraibana. Outro resultado importante foi a reaplicação das técnicas apreendidas

pelos moradores locais em três das quatro localidades trabalhadas, com a construção de

mais dois CB no Vale do Gramame e outro TEvap no Condomínio Amizade.

5 Considerações Finais

Todas as TSA implementadas foram bem aceitas pelas comunidades e devem ser

divulgadas para outras comunidades, para que possam gerenciar melhor o saneamento

básico, tanto os resíduos sólidos, quanto os líquidos.

Para finalizar, pode-se considerar que com as ações desenvolvidas neste trabalho,

viu-se a possibilidade de melhorias socioambientais de comunidades a partir da efetivação

de atividades práticas conjuntas entre pesquisadores e sociedade, no intuito da capacitação

das pessoas para a promoção da qualidade da vida e salubridade ambiental. Isso foi

possível com a implementação de técnicas simples e eficazes de saneamento ambiental

ecológico, reuso de materiais e hortas agroecológicas, para a minimização da degradação e

contaminação do ambiente por atividades humanas, contribuindo para o desenvolvimento

sustentável regional.

Notas

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1 A HISTÓRIA DAS COISAS. Produção de Anne Leopard. 2007. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw> Acesso em: 15 ago. 2013.

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