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Turismo de Base Comunitária na Amazônia brasileira: a experiência de Curuçá (PA) e Silves (AM) Planejamento, Gestão e Governança em Diferentes Escalas Resumo Este estudo teve como objetivo analisar as experiências de Turismo de Base Comunitária (TBC) pelo Instituto Tapiaim em Curuçá no Estado do Pará e da Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC) no município de Silves no Amazonas, levando-se em conta a gestão, o planejamento das atividades e as transformações ocorridas, assim como, a inserção das comunidades nas atividades turísticas e sua influência sobre o modo de vida econômico, social, cultural e ambiental. Os questionamentos que norteiam este trabalho levam em conta a forma de como essa atividade é gerida e a inserção das comunidades no planejamento e autogestão. Como procedimentos metodológicos consistiu em revisão bibliográfica, observações de campo, entrevistas com os gestores do Instituto Tapiaim no município de Curuçá-PA, representantes da Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC) e as comunidades São João, Santa Luzia do Sanabani e Nossa Senhora do Bom Parto em Silves (AM). Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária; gestão; Curuçá (PA); Silves (AM). Introdução O turismo é uma atividade econômica de elevado crescimento com grande relevância no mercado global. Atualmente é considerado como mercantilização do tempo livre, pois, vem sofrendo transformação constante influenciada pelo mercado altamente competitivo pela demanda ou outros agentes. Segundo Cammarata (2006), essa prática social dialética posto que a relação ativa com o mundo, lugares e paisagens do território com outros indivíduos possibilita a transformação da natureza, e também do próprio fenômeno, gerando múltiplas inter-relações. E em contraposição ao turismo de massa, surge o Turismo de Base Comunitária (TBC) trazendo em seu bojo premissas que permitirão o 1

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Turismo de Base Comunitária na Amazônia brasileira: a experiência de Curuçá (PA) e Silves (AM)

Planejamento, Gestão e Governança em Diferentes Escalas

Resumo

Este estudo teve como objetivo analisar as experiências de Turismo de Base Comunitária (TBC) pelo Instituto Tapiaim em Curuçá no Estado do Pará e da Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC) no município de Silves no Amazonas, levando-se em conta a gestão, o planejamento das atividades e as transformações ocorridas, assim como, a inserção das comunidades nas atividades turísticas e sua influência sobre o modo de vida econômico, social, cultural e ambiental. Os questionamentos que norteiam este trabalho levam em conta a forma de como essa atividade é gerida e a inserção das comunidades no planejamento e autogestão. Como procedimentos metodológicos consistiu em revisão bibliográfica, observações de campo, entrevistas com os gestores do Instituto Tapiaim no município de Curuçá-PA, representantes da Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC) e as comunidades São João, Santa Luzia do Sanabani e Nossa Senhora do Bom Parto em Silves (AM).

Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária; gestão; Curuçá (PA); Silves (AM).

Introdução

O turismo é uma atividade econômica de elevado crescimento com grande

relevância no mercado global. Atualmente é considerado como mercantilização do tempo

livre, pois, vem sofrendo transformação constante influenciada pelo mercado altamente

competitivo pela demanda ou outros agentes.

Segundo Cammarata (2006), essa prática social dialética posto que a relação ativa

com o mundo, lugares e paisagens do território com outros indivíduos possibilita a

transformação da natureza, e também do próprio fenômeno, gerando múltiplas inter-

relações.

E em contraposição ao turismo de massa, surge o Turismo de Base Comunitária

(TBC) trazendo em seu bojo premissas que permitirão o envolvimento da comunidade no

processo da atividade turística, não apenas como expectadores, mas, protagonistas, desde

o processo de planejamento até a execução e monitoramento da atividade em seu território.

Este turismo requer menor densidade de infraestrutura e serviços, buscando

valorizar uma vinculação situada nos ambientes naturais e na cultura de cada lugar. Trata-

se de outro modo de visita e hospitalidade diferenciado em relação ao turismo massificado,

ainda que porventura se dirija a um mesmo destino (BURSZTYN; BARTHOLO;

DELAMARO, 2009).

Sansolo; Bursztyn (2009) afirmam que o TBC constrói os espaços de encontro ou

convivências onde os comunitários compartilham em seu cotidiano o lazer, a religiosidade, o

1

ócio, a política e o esporte, dentre outras atividades as quais favorecem as relações

interpessoais.

O Turismo de Base Comunitária quando bem planejado é capaz de gerar

desenvolvimento não apenas econômico, mas, também social e político, visto, portanto,

como um processo de transformação ampla, sendo a elevação de padrão de vida do

conjunto de toda a sociedade.

Desta forma o turismo desempenha um papel estratégico na implantação do modelo

de desenvolvimento que pretende alterar a modalidade regional, como uma alternativa que

possibilite a compatibilização do crescimento econômico com a conservação ambiental, sob

a ótica do desenvolvimento sustentado. (SUDAM/PNUD, 1992, p. 14).

1 Turismo em Comunidades Tradicionais da Amazônia

As discursões sobre Turismo de Base Comunitária (TBC) e desenvolvimento local,

se pensadas de um modo transversal por diversas áreas do saber, configuram uma

abordagem complexa capaz de contribuir para promoção da inclusão social e justiça

ambiental.

Esse novo modelo pautado na conservação ambiental pode ser entendido como local

e endógeno, território (espaço vivenciado e construído historicamente por específicos

grupos sociais em determinadas condições naturais, econômicas, socioculturais, jurídico-

políticas e, até mesmo, psicológicas) (HAESBERT, 2004 apud MIRANDA, 2008).

Nesta linha interpretativa, Leff (2001), também discursa sobre o novo conhecimento

que deve conduzir às ciências na atualidade, chamando-o de saber ambiental e diz que as

transformações induzidas por este têm efeitos epistemológicos (mudanças nos objetos de

conhecimento), teóricos (mudanças nos paradigmas de conhecimento) e metodológicos

(inter/transdisciplinaridade, sistemas complexos). Este saber parte-se um diálogo entre a

ciência e os saberes tradicionais, onde são colocados os interesses coletivos.

Diante desse entendimento, o turismo também considerado como uma prática social

e que vem se fortalecendo e ganhando espaço enquanto atividade econômica surge como

uma alternativa para promover o desenvolvimento econômico de regiões com grande

potencial turístico, como é o caso da Amazônia brasileira que vem sofrendo transformações

socioespaciais, mas, precisamente a partir da década de 1960, após a abertura de rodovias,

e vem sendo vista também como a “última fronteira”, onde parece existir uma natureza

intocada, não restando dúvida que essa imagem perpassa o imaginário de muitos, às vezes

estimulada, principalmente pelo turismo que se apoia na venda de imagens idealizadas

(GONÇALVES, 2008).

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Assim sendo, o TBC se configura como possíveis alternativas para contribuir no

desenvolvimento dessas áreas naturais protegidas, sendo o Poder Público o principal

incentivador para desenvolver estas atividades.

Nos últimos anos, na Amazônia, busca-se um modelo de desenvolvimento que

concilie crescimento e equidade social, que não esteja centrado no viés econômico e, o

turismo de base comunitária é uma alternativa viável para as comunidades tradicionais

amazônicas, pois, além, de permitir o contato com a natureza é uma atividade considerada

de baixo impacto e ainda desperta o interesse pela cultura local.

A região do Salgado no nordeste paraense onde está localizado o município de

Curuçá passou a ter um aumento significativo da atividade turística devido às áreas naturais

de mangues, rios, praias, floresta tropical e a Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá, a

Área de Proteção Ambiental (APA) de Algodoal (estadual) e a Resex de Maracanã.

Já em Silves no Amazonas onde acontece a prática do TBC também apresenta um

elevado crescimento devido as diversas áreas naturais, tais como, a floresta de terra firme,

floresta de várzea, igapós, e entre as espécies de vegetação aquática destacam-se a

Vitória-Régia - Victoria amazônica, Mureru – Nymphae a amazonum, Membeca –

Andropogon virginicus, a Canarana - Canarana ereta e a Aninga – Arum leniferum,

Jatobaseiro (ALMEIDA, 1965 apud SOUSA, 2011). Além da fauna representada por um

número variado de mamíferos, como por exemplo: macaco coatá, acari, macaco de cheiro,

prego, barrigudo, guariba, preguiça, dentre outros descoberto pelo cientista Walter Bates

(1985).

Destacando-se ainda, o artesanato de cipó, palha, caroços, raízes e sementes

fabricação de sabonetes, óleos, perfumes, com essências regionais confeccionados pela a

Associação de Mulheres ‘’Viva Verde da Amazônia’’. Assim como, sítios arqueológicos e

prédios antigos de grande valor histórico e as manifestações populares religiosas.

Apesar do TBC ser praticado de forma sustentável, ele gera transformações em

várias esferas como, econômica por meio da geração de renda, empregos. Na esfera social

com as mudanças nos modos de vida tradicional e na esfera cultural possibilita a

valorização da cultura local, mas, também, pode modificar os padrões de vida. E por fim, na

esfera ambiental com a poluição visual (lixo) e esgotamento dos atrativos naturais.

Contudo, a formulação de políticas públicas voltadas para o planejamento do turismo

a fim de, mitigar os impactos negativos, mesmo que sejam em baixa proporção é de suma

importância para o sucesso da atividade turística e qualidade de vida da população

ribeirinha.

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Desenvolvimento local e Sustentabilidade no TBC

O desenvolvimento local é um processo complexo de mudanças e transformações de

ordem econômica, política, humana e social, isto é, a referida comunidade buscará nesse

processo a qualidade de vida em detrimento das transformações relativas, a inclusão social,

a participação, o capital social e na gestão do bem comum, sendo esses os requisitos

básicos desse desenvolvimento (MIRANDA, 2008, p. 3).

Segundo Irving; Mendonça (2004, p. 112):

[...] aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que mediante o aproveitamento dos recursos endógenos existentes em uma determinada zona ou espaço físico é capaz de estimular e fomentar o seu crescimento, criar emprego, renda, riqueza e, sobretudo melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social da comunidade local.

Pensar o desenvolvimento local que não seja na lógica da economia clássica,

coloca-se em cheque a acumulação do capital, por centrar no homem a produtividade,

competitividade e o consumo partilhado, respeitando sempre os ciclos da natureza.

Milton Santos (2000, p.14) apontou a tendência para essas transformações ao

afirmar que a mudança provirá de um movimento de baixo para cima, tendo os países

subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e

outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem

acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único.

A inclusão social como um dos requisitos desse processo visa a inserção da

comunidade no processo de transformação, no qual “o envolvimento comunitário, se alicerça

em relações horizontais e na noção de empoderamento das comunidades” (MATTOS, 2009,

p. 305).

Em se tratando do turismo, o desenvolvimento é voltado para a territorialidade, lugar,

pessoas, grupos sociais, culturais e promoção da atividade - o chamado eco-

sociodesenvolvimento, segundo os pesquisadores Sachs (1986), e Sampaio (2005), Morin

(1999), de Coriolano (2003).

Para Coriolano (2003) voltar o desenvolvimento para a escala humana e o turismo

para beneficio de comunidades, ou do desenvolvimento local, significa adotar políticas que

criem oportunidades de trabalho e renda para a maioria, sem deixar de dar a proteção social

requerida, colocando o homem no centro do poder, promovendo sua realização.

A ideia de desenvolvimento com sustentabilidade surgiu no ano de 1987 proposto

pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (Comissão Brundtland) da

ONU pautado nos princípios de equidade social, direito de cada cidadão de se inserir no

processo de desenvolvimento, eficiência econômica, gestão dos recursos econômicos e

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financeiros para a garantia e eficiência do funcionalismo da sociedade e definição de regras

para a proteção ambiental.

Zauoal (2009) define o Turismo de Base Comunitária (TBC) como uma modalidade

de turismo a qual a comunidade é protagonista, ou seja, é sujeito de seu próprio avanço

podendo participar do planejamento e gestão, considerando a complexidade, a diversidade

e as realidades locais. Assim sendo, diante desse novo modelo de desenvolvimento, a

comunidade tem que sentir parte do processo, pois, através do sítio de pertencimento no

qual fazem parte, os membros sentiram donos e detentores de seus patrimônios.

Nessa linha do desenvolvimento sustentável, a geração de renda e emprego para a

população residente e o planejamento das atividades é prioridade, assim como, a

participação comunitária por impulsionar a economia local.

A sustentabilidade do TBC requer planejamento em prol da minimização dos

impactos ao meio ambiente e as populações locais, assim, como pautar o desenvolvimento

não só no mercado, mas, também na valorização da mão-de-obra local, nos recursos

naturais e culturais para evitar descaracterizações, impactos e assegurar o bem-estar das

comunidades (PORTUGUEZ, 2010).

Zaoual e Heidegger, afirmam que as relações de proximidades, “o lugar da

proximidade’’ é o encontro face a face, um acontecimento que habita dimensões meta-

espaço-temporais” (BARTHOLO; BURSZTYN; SANSOLO, 2009, p. 87).

Portanto, o TBC está atrelado ao desenvolvimento local em que:

O protagonismo das comunidades locais pode se efetivar sob uma grande variedade de formas de livres associações — por cooperativas, associações, joint ventures, empreendimentos comunitários ou micros, pequenos e médios empresários locais. (BARTHOLO; BURSZTYN; SANSOLO, 2009, p. 87).

Esse modelo de turismo se diferencia de outros por estabelecer novos parâmetros de

desenvolvimento, onde há uma autogestão por parte da comunidade, gerando assim

benefícios para o local, que antes não eram visto por eles, ou seja, “a comunidade,

consciente de seus direitos, tem na luta pela posse da terra uma questão de sobrevivência”

(IRVING; MENDONÇA, 2004, p. 18).

Bordenave (1994, p.12), considera a participação da comunidade fundamental no

desenvolvimento local, pois, a inclusão da localidade no planejamento desse novo modelo é

parte importante no decorrer desse processo, onde na visão progressista “a participação

facilita o crescimento da consciência crítica da população, fortalece seu poder de

reivindicação e a prepara para adquirir mais poder na sociedade”.

Confirmando os conceitos de participação como uma das premissas do

desenvolvimento local, surge logo após a ideia de capital social como fator condicionante no

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desenvolvimento de uma dada comunidade (GHON, 2003 apud IRVING; MENDONÇA,

2004, p. 17) afirma que:

[...] que participar significa dividir as responsabilidades na construção coletiva de um processo, que objetiva fortalecer a sociedade civil para a construção de caminhos que apontem para uma nova realidade social, sem injustiças, exclusões, desigualdades, discriminações.

Diante da afirmativa acima sobre o a importância da participação das comunidades

nas atividades turísticas, onde requer o envolvimento de todos nesse processo por meio do

saber fazer, para que os protagonistas locais se tornem parte do seu negócio em prol do

bem comum.

Conciliar sustentabilidade e capitalismo é um desafio por estarem sempre em

contradição, porém, o surgimento de um paradigma para o desenvolvimento que repense as

práticas do consumo e sensibilize a população sobre a preservação ecológica tornará a

sociedade mais justa.

2 Uma experiência de Turismo de Base Comunitária (TBC) na Amazônia brasileira

2.1 Curuçá (PA)

O município de Curuçá fica localizado na microrregião do Salgado no nordeste do

estado do Pará, limitando-se, ao norte com o Oceano Atlântico; a leste, com Marapanim; ao

sul, com Terra Alta; e a oeste, com São Caetano de Odivelas e São João da Ponta.

Figura 1 - Mapa de localização do município de Curuçá (PA)

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Fonte: Elaborado pelo autor Pablo Pereira, 2013.Figueiredo, Furtado e Castro (2009, p. 237) em seus estudos sobre o município de

Curuçá no estado do Pará, apontou que uma das estratégias que governo tem adotado é a

criação de Unidades de Conservação como a Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá

como categoria de “uso sustentável, cujo objetivo é conciliar a manutenção dos meios de

vida da população tradicional que vive na sua área à conservação dos recursos naturais

renováveis locais” para combater a exploração intensa e desordenada do pescado por

barcos industriais vindos de outras regiões e Estados. Além, da Área de Proteção Ambiental

(APA) de Algodoal (estadual) e a Resex de Maracanã.

A experiência de TBC em Curuçá surgiu da iniciativa do Instituto Tapiaim que é uma

organização sem fins lucrativos, concretizada por vias legais no ano de 2009, com o objetivo

de pensar o desenvolvimento local por meio do resgate e valorização da cultura,

preservação e conservação dos recursos naturais e do Turismo de Base Comunitária (TBC).

Para tal, foi elaborado um roteiro turístico pontuando os seguintes atrativos:

Figura 2 - Praia da Romana em Curuçá (PA)

Fonte: Acervo do Instituto Tapiaim, 2013.

2.2 Silves (AM)

O município de Silves está localizado na região do Médio Amazonas, distante da

cidade de Manaus cerca de 250 km por via fluvial, na época de cheia, e terrestre percorre-se

pela a estrada AM 010 (Manaus – Itacoatiara) e 127 km da BR-363.

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Figura 3 – Mapa das comunidades de Silves (AM)

Fonte: http://www.estadao.com.br/ext/ciencia/silves,acessoem 10 de setembro de 2012.

Em Silves no estado do Amazonas, o Projeto de Ecoturismo de base Comunitária

criado no ano de 1993 é gerido pela Associação de Silves pela Preservação Ambiental e

Cultural – ASPAC que é uma ONG brasileira sem fins lucrativos e pelas das comunidades

tradicionais residentes e a Pousada Aldeia dos Lagos. Teve por finalidade viabilizar o

primeiro empreendimento comunitário de Ecoturismo da Amazônia em prol da melhoria da

qualidade de vida dos ribeirinhos e preservação dos lagos de pesca da região que estavam

sendo ameaçados com a pesca predatória.

O projeto contou com o financeiro do Governo da Áustria, Fundo Mundial para a

Natureza World Wild Foundation (WWF), poder público municipal e dos comunitários.

Dias (2003) comenta ainda que a participação comunitária esteja relacionada ao bem-estar

da comunidade envolvida em projetos e programas voltados para a melhoria da qualidade

de vida dos residentes. Como exemplo de programas, podemos citar o Prodetur/NE que tem

como objetivo desenvolver um planejamento turístico capaz de alcançar, de maneira

favorável, as comunidades locais da região Nordeste, que são marcadas por um quadro de

carência econômica.

A ASPAC viabilizou cursos de capacitação como: aperfeiçoamento do artesanato,

organização das atividades de turismo para os comunitários, culinária regional, dentre

outros, a fim de, que eles possam ser protagonistas do seu próprio negócio e elaborar os

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roteiros turísticos de visitação que são eles: caminhada na floresta, visita às casas dos

moradores, pomares, roçados, casa de farinha, pesca artesanal e observação de pássaros

(SOUSA, 2011). E atualmente são trinta e duas comunidades que dependem da pesca e

onze trabalham com turismo.

3 Procedimentos

Adotou-se a pesquisa bibliográfica e de campo, com a utilização do método

exploratório e abordagens descritiva e qualitativa a partir de um estudo de caso nos dois

municípios com entrevistas tendo como sujeitos os gestores do Instituto Tapiaim em Curuçá

na microrregião do Salgado no nordeste do estado do Pará e em Silves (AM) com as

comunidades tradicionais São João, Santa Luzia do Sanabani e Nossa Senhora do Bom

Parto, durante os meses de julho a dezembro de 2013, totalizando 75 entrevistas.

Pretendeu-se no primeiro momento apresentar algumas considerações sobre o

planejamento turístico, analisando-o sob a ótica das políticas públicas nesses dois estados.

Em seguida esses dados foram tabulados e analisados mediante estatística descritiva.

4 Resultado das evidências empíricas indicadas pela pesquisa de campo

4.1 Participação das comunidades ribeirinhas nos projetos de Turismo de Base Comunitária em Curuçá (PA) e Silves (AM)

Curuçá (PA) possui um dos maiores manguezais do planeta, apresentando uma rica

biodiversidade, onde as comunidades desenvolvem atividades extrativistas como a pesca e

o turismo o qual surge como uma alternativa sustentável para preservação do patrimônio

cultural e ambiental e ao mesmo tempo geração de renda e emprego, proponente a ONG

Peabiru com a missão de “gerar valores para a conservação da biosociodiversidade da

Amazônia”, no qual fundou o Museu do mangue e desenvolveu projetos de turismo, biojóias

e criação de abelhas nativas gerando emprego para população local. E ano depois surgiu o

Instituto Tapiaim criado pelos filhos e filhas de pescadores, agricultores e professores.

Fotografia 1 - Reunião com os integrantes do Instituto Tapiaim, Curuçá (PA).

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Fonte: Pablo Pereira, 2013.

Mas, apesar da participação das comunidades, as fragilidades existentes eram

devido à falta de parcerias principalmente com o poder público. E como afirma Maldonado

(2009, p. 34) o sucesso de um empreendimento turístico comunitário está diretamente

associado às parcerias construídas por atores externos, como ONGs, Instituições

acadêmicas, governo central ou local e cooperação internacional (2009, p. 34).

Enquanto que, em Silves (AM) no que tange a uma relação recíproca voltada ao

planejamento turístico, destacamos a Associação de Silves pela Preservação Ambiental e

Cultural (ASPAC) como responsável pela viabilidade do turismo no município e fator

importante e benéfico foi à viabilização dos projetos tais como: de Conservação dos

recursos naturais por meio do manejo dos lagos devido à ameaça ao estoque pesqueiro

provocado pela pesca comercial, permacultura, artesanato e de educação ambiental

desenvolvendo alternativas eco sustentáveis, promovendo o reflorestamento de espécies

em extinção e cultivos de produtos orgânicos sem uso de agrotóxicos, dando a oportunidade

de inclusão às comunidades. Foram realizados também, treinamentos, cursos, palestras,

oficinas, entre os consultores do Programa Pró-Várzea da Amazônia e os comunitários, a

fim de ensiná-los a transformar o lixo orgânico em adubos para produção de legumes e

frutos para o seu sustento.

Fotografia 2 - Oficina para capacitação de lideranças Comunitárias em Silves (AM)

Fonte: Roberta Sousa, 2013.

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4.2 Benefícios gerados com a atividade turística em Curuçá (PA) e Silves (AM)

Em relação à percepção dos entrevistados no município de Curuçá (PA), a cerca da

atividade turística não houve desenvolvimento local, pois, há pouca visitação de turistas.

Assim sendo, o turismo surge como uma complementação de renda, dessa forma o capital

social é gerido pelos comunitários inseridos no projeto de TBC, assim sendo, todos têm a

responsabilidade e comprometimento com a gestão da sua localidade.

Já em Silves (AM), ocorreu de forma diferente, pois, com a construção da Pousada

Ecológica Aldeia dos Lagos, proporcionou-se inúmeros empregos a população local,

melhorou também a infraestrutura, além, do fortalecer as relações comunitárias e firmar e

parcerias com a WWF - Brasil, Governo da Áustria, Instituto de Cooperação Econômica da

Itália (Icei), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Secretaria Municipal e

Desenvolvimento Ambiental e Turismo nasceu o Projeto ‘’Caravana Mergulhão’’, que

despertara uma consciência ambiental nas populações locais e do SEBRAE com cursos

para os artesãos.

Fotografia 3 - Pousada Ecológica Aldeia dos Lagos

Fonte: Roberta Sousa,

2013 Fonte: Roberta Sousa, 2013.

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Fotografia 4 – Artesanato feito commadeira Reflorestada

Conclusões

O Turismo de Base Comunitária é uma modalidade que vem aos poucos se

consolidando no cenário mundial, estimulando discussões no campo científico que o

identificam como uma possibilidade de inclusão social e desenvolvimento local sustentável

de comunidades até então relegadas por outras práticas turísticas excludentes como é o

caso do de massa.

De acordo com os resultados obtidos, percebeu-se que, Silves (AM), apresenta uma

modalidade de organização sociocultural particular baseada em estratégias de ajuda mútua

entre as famílias, considerando o fortalecimento das comunidades importantes para se

discutir uma política mais igualitária no que se refere à capacidade de gerir os processos

burocráticos e financeiros da atividade turística.

A distribuição do lucro da Pousada Ecológica Aldeia dos Lagos é feito de forma

equitativa entre os seus funcionários, de acordo com a função exercida por cada um, isso

proporciona uma renda extra para quem está inserido na atividade. Diferente da realidade

de Curuçá (PA), onde a pesquisa apontou que o Instituto Tapiaim apesar de exercer um

importante papel como facilitador nas ações de planejamento, não há um fortalecimento de

parcerias para captação de recursos financeiros, de modo que múltiplos objetivos de

conservação e desenvolvimento equitativo possam ser alcançados.

Por outro lado, a capacitação e integração dos protagonistas por meio de reuniões,

oficinas e cursos de interpretação ambiental foram de grande importância para o

desenvolvimento da atividade turística local em prol de um objetivo comum que é conservar

o ambiente natural da região e beneficiar-se dele de forma sustentável, buscando sempre

estar de acordo com as diretrizes que regem o espaço territorial protegido.

Conclui-se, portanto, ser necessário o comprometimento das instituições públicas, o

envolvimento das comunidades em todas as fases do processo, tanto na prestação de

serviços como no planejamento. Pois, as percepções sobre turismo tanto em Curuçá (PA),

quanto em Silves (AM), revelam uma cadeia produtiva excludente devido a falta de inserção

de diversos atores públicos e privados, o modelo observado mostrou-se limitado à uma

visão econômica desconectada da abordagem ecológica e social.

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