pablo - ocupação itaparica 1647.pdf

20
O Recôncavo baiano em xeque: A ocupação neerlandesa de Itaparica (1647) Pablo Iglesias Magalhães 1 Resumo: O presente artigo busca demonstrar que a ocupação em 1647 da ilha de Itaparica, na baía de Todos os Santos, pela esquadra neerlandesa comandada por Sigsmund Von Schkoppe foi a mais eficiente investida militar contra a Capitania da Bahia. A inexistência de estudos historiográfico acerca desse episódio justifica a pesquisa em arquivos portugueses e neerlandeses para registrar com maior precisão e detalhes a História da operação militar que conseguiu colocar em xeque o funcionamento do Recôncavo baiano. Palavras-Chave: Itaparica; Recôncavo baiano; guerras neerlandesas; Companhia das Índias Ocidentais. O Recôncavo baiano e a baía de Todos os Santos estão integrados em um sistema geo-histórico que contempla a vida humana no seu relacionamento com o ambiente natural e com o espaço concebido geograficamente. Antes da chegada das embarcações europeias no início do século XVI, os índios tupinambás ocupavam toda a região, com suas aldeias dispostas ao longo do percurso entre a Barra da Bahia e a ponta do Garcez, bem como na ilha de Itaparica. Tais aldeias eram ligadas por caminhos terrestres, fluviais e marítimos, sustentando-se da pesca, da caça e do plantio da mandioca para a produção de farinha. 2 A colonização europeia no Recôncavo, com estabelecimento do sistema produtor de açúcar na primeira metade do século XVI e a fundação da cidade do Salvador (1549), ligaram aquela região ao sistema político-econômico Atlântico. 3 Assim, na medida em que a Capitania da Bahia foi criada para atender às demandas mercantilistas de Portugal, o Recôncavo e sua baía também desenvolveram outro sistema possibilitado pelo frágil equilíbrio de tensões entre indígenas e colonos, bem como pela resistência às intervenções militares por parte de nações europeias, notadamente França, Inglaterra e as Provícias Unidas. 1 Professor de História do Brasil e História da Bahia na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). 2 Agradeço a minha querida amiga Lucia Werneck Furquim Xavier pela gentileza de traduzir, a meu pedido, os manuscritos e impressos neerlandeses indicados nesse artigo. 3 ARAÚJO, Ubiratan Castro de. A baía de Todos os Santos: um sistema geo-histórico resistente. In: CAROSO, Carlos; TAVARES, Fátima, PEREIRA, Claúdio (Orgs.). Baía de Todos os Santos: aspectos humanos. Salvador. EDUFBA, 2011. p. 49-54.

Upload: thiago-krause

Post on 17-Aug-2015

249 views

Category:

Documents


8 download

TRANSCRIPT

O Recncavo baiano em xeque: A ocupao neerlandesa de Itaparica (1647) PabloIglesias Magalhes1 Resumo: O presente artigo busca demonstrar que a ocupao em 1647 da ilha de Itaparica, nabaadeTodososSantos,pelaesquadraneerlandesacomandadaporSigsmundVon Schkoppe foi a mais eficiente investida militar contra a Capitania da Bahia.A inexistncia deestudoshistoriogrficoacercadesseepisdiojustificaapesquisaemarquivos portugueseseneerlandesespararegistrarcommaiorprecisoedetalhesaHistriada operao militar que conseguiu colocar em xeque o funcionamento do Recncavo baiano. Palavras-Chave: Itaparica; Recncavo baiano; guerras neerlandesas; Companhia das ndias Ocidentais. ORecncavobaianoeabaadeTodososSantosestointegradosemumsistema geo-histrico que contempla a vida humana no seu relacionamento com o ambiente natural e com o espaoconcebido geograficamente. Antes da chegada dasembarcaes europeias noinciodosculoXVI,osndiostupinambsocupavamtodaaregio,comsuasaldeias dispostas ao longo do percursoentreaBarra daBahiae a ponta doGarcez, bem como na ilhadeItaparica.Taisaldeiaseramligadasporcaminhosterrestres,fluviaisemartimos, sustentando-se da pesca, da caa e do plantio da mandioca para a produo de farinha.2

A colonizao europeia no Recncavo, com estabelecimento do sistema produtor de acarnaprimeirametadedosculoXVIeafundaodacidadedoSalvador(1549), ligaram aquela regio ao sistema poltico-econmico Atlntico.3 Assim, na medida em que aCapitaniadaBahiafoicriadaparaatendersdemandasmercantilistasdePortugal,o Recncavoesuabaatambmdesenvolveramoutrosistemapossibilitadopelofrgil equilbrio de tenses entre indgenas e colonos, bem como pela resistncia s intervenes militaresporpartedenaeseuropeias,notadamenteFrana,InglaterraeasProvcias Unidas. 1 Professor de Histria do Brasil e Histria da Bahia na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). 2 Agradeo a minha querida amiga Lucia Werneck Furquim Xavier pela gentileza de traduzir, a meu pedido, os manuscritos e impressos neerlandeses indicados nesse artigo. 3 ARAJO,UbiratanCastrode.AbaadeTodososSantos:umsistemageo-histricoresistente.In: CAROSO,Carlos;TAVARES,Ftima,PEREIRA,Cladio(Orgs.).BaadeTodososSantos:aspectos humanos. Salvador. EDUFBA, 2011. p. 49-54. Aintegraogeo-histricadoRecncavopodeserpercebidaemtrseventosque provocaramarupturadesseequilbrio,demonstrandocomoentreossculosXVIeXIX Salvadoreseuporto,ligadosaosistemamercantilmoderno,tornavam-sevulnerveis quando a capital colonial era isolada das vilas do Recncavo e impedida de acessar a sada paraomardabaa.AsforaspolticasquedominavamSalvadornuncaconseguiram interromper o funcionamento do sistema ou progredir quando dele se isolava militarmente. NaprimeiraInvasoneerlandesa(1624-25)ossoldadosdaCompanhiadasndiasficaram sitiadosporterraeimpossibilitadosdesereabastecer,capitulandoem1625dianteda armadacatlica,queoscercoupormar.Alis,aarmadachefiadaporD.Fradiquede Toledoapressouofimdaguerra,masofatoqueosneerlandesesjnoconseguiam colocarospsforadosmurosdacidade.NaGuerradeIndependncia(1823-1824),as tropasbrasileirasconseguiramisolaracapitaldoseuRecncavoeosseismilsoldados portuguesesdeMadeiradeMello,tambmsemtercomosereabastecer,tiveramquese retirarparaoReino,coroandocomxitoaslutaspelaindependncia.Oisolamentoda capital foi tambm um erro cometido pelos rebeldes na Sabinada em (1837-1838), sitiados em Salvador pelos latifundirios das vilas interioranas, que impediram que Itaparica ficasse sobpoderdopartidoseparatista.Naquelestrsmomentos,osistemadoRecncavo funcionoumesmoapartadodesuaurbe,masdeve-seconsiderarquenosepisdios supracitadosailhadeItaparicaficousobocontroledosgruposvitoriosos.Odomnio sobreItaparica,maisdoquesobreacapital,eraessencialparaofuncionamentodo Recncavo. AilhadeItaparicatemumaposioestratgica,porseramaiordas56ilhas existentes na Baa de Todos os Santos, com 115,922 km e 36 km de comprimento, situa-se a13kmdedistnciadeSalvadorefuncionacomoumanteparoquedivideooceano Atlnticodomarinternoformadopelabaa.AocupaoeuropeiadeItaparicadeu-sea partir de um pequeno ncleo de povoamento fundado por jesutas na contra-costa em 1560, chamada de vila do Senhor da Vera Cruz, atual vila de Baiacu. Ao longo dos sculos XVII e XVIII, a principal atividade econmica da ilha foi a pesca baleeira, atribuindo-se o nome daPontadasBaleiasparaaextremidadenorte.JohannesdeLaet,umdosdiretoresda CompanhiadasndiasOcidentais,registrouqueItaparicaeraailhamaior(...)queesta umtempodianteedentrodaBahia,percebendo-acomoumacabea-de-pontepara conquistar militarmente o Recncavo.4 AinvasodeItaparicaem1647pelaesquadraneerlandesacomandadapor SigsmundvonSchkoppe,SimonvanBeaumontepeloalmiranteJoostvanTrappen (Banckert),foiamaiseficienteoperaomilitarcontraaCapitaniadaBahia.Foianica que teve sucesso em obstruir o funcionamento do Recncavo baiano e da Baa de Todos os Santos.OobjetivodesteestudodemonstrarcomoaocupaodailhadeItaparicapso Recncavo em xeque. Em 1647, Itaparica fora transformada na nieuw Duinkerken ou nova Dunquerque, numarefernciaaofamosocercoqueocorreunaquelacidadeporturiafrancesanoano anterior.Apesardasingularidadedoepisdio,nohnahistoriografiabaianaqualquer estudosobreainvasoaItaparica.Nahistoriografiabrasileiraessaoperaosurgecomo um mero movimento diversionista da mquina militar da Companhia das ndias Ocidentais (WIC),interessadaemarrefeceraspressesqueaGuerradeRestauraoPernambucana (1645-1654)impssobreosneerlandeses,entositiadosnoRecife. 5 Aocupaode Itaparicafoimaisdoqueumameramanobradiversionistaeadocumentaoconsultada revela o projeto de conquistar a ilha e utiliza-l como base de operaes da Companhia das ndias.Itaparica revela-se o Calcanhar de Aquiles da Capitania da Bahia. Ocupar acapital colonial e arrestar sua rede de fortificaes, bem como seu aparato blico, antes de ser uma vantagemmilitar,eraumerroestratgico,comoosprpriosneerlandesesexperimentaram em1624.AcapitalnoseabasteciaisoldadadoRecncavobaianooudosportosque interligavam a Baa. A Estrada das Boiadas, que permitia a entrada do gado procedente do serto ou de Sergipe de El-Rei, era interditada a partir do interior. A farinha de mandioca, basedaalimentaocolonialjuntocomacarne,deixavadefluirdasvilasdeJaguaripe, Cair,BoipebaeCamamuparaSalvador.Construiu-se,assim,nogovernodeDiogoLuiz de Oliveira (1627-35), o conchavo da farinha entre as cmaras das referidas vilas e a de Salvador,atravsdoqualosprodutoresdessasvilaseramobrigadosafornecerfarinhade 4 LAET,Johannesde.HistorieOfteJaerlijckVerhaelvandeVerrichtinghenderGeoctropeerdeWest-Indische Compagnie. Leiden: Bonaventuer ende Abraham Elsevier, 1644, p.11. 5 MELLO,EvaldoCabralde.OlindaRestaurada:GuerraeacarnonordestedoBrasil.RiodeJaneiro: Topbooks, 1998,p. 71. mandiocaapreosfixosaSalvador,sendoseufuncionamentofiscalizadopeloprprio governo-geral. 6 Naprtica,acidademorriadefomesemoRecncavo,noqualItaparica, tambm importante produtora de farinha de mandioca, tem uma localizao central, situada entre a capital e as demais vilas. Desdeaprimeirainvasoneerlandesaem1624,Itaparicajeraalvodas embarcaesneerlandesasenaqueleanooEngenhodoFlamengofoiatacadoquandoos invasores se foram ao engenho de Gaspar de Azevedo, que est na praia uma lgua atrs da ponta (de Itaparica).7 No entanto, naquela ocasio, no tiverem xito em ocupar a ilha, apenas tentando reabastecer os famintos sitiados dentros dos muros de Salvador.ApsainvasoaPernambucoem1630eaocupaodascapitaniasdonorte,a ameaasobreolitoraldaBahiaagravou-se.Naquelaconjuntura,adocumentaorevela queasautoridadescoloniaisreconheciamItaparicacomoumlocalestgicoparaaguerra defensivaquetevelugarnoRecncavo.Emmarode1635obispoD.PedrodaSilvade Sampaio escreveu uma carta ao Rei Felipe IVde Espanha pedindo que fosse enviada uma armadaparaadefesadaSalvador.8 Emseguida,alertou,maisumavez,El-Reyqueos neerlandeses planejavam reconquistar a Bahia:Dizem,colhidodosOlandezesqandetomaraPontadaTaparica,efazeralyfortalezaa cuja sombra encorrem muitos nauios, e que daly ande Reconhecer, os donos dos Engenhos com seus trebutos, e seno que lhes ande abrazar fica lhe daquy fail tomar tudo at o Rio deJan.ro, eAngola,enfestar a nauegao das Indias dePortugal, e Castella,seno atalho tantos males breuem.te demandado de VMg.de, com poderoso socorro, e Armada.9

UmabasemilitarneerlandesaemItaparicanoameaavasomenteaBahia,mas toda navegao no Atlntico sul. A informao enviada por D. Pedro da Silvade Sampaio atingiucomforaosdirigentesdoReino,inclusiveporqueumdosgovernadoresde Portugal,oquintoCondedaCastanheira,D.AntoniodeAtade,estavaligadoilhade Itaparica.OprimeiroGovernadorGeral,TomdeSouza,doaraailhaemsesmariaao 6 PUNTONI,Pedro.OConchavodaFarinha:especializaodosistemaeconmicoeogoverno-geralna BahiadosculoXVII.In:OEstadodoBrasil:poderepolticanaBahiacolonial,1548-1700.SoPaulo: Alameda, 2014.7 SALVADOR, Fr. Vicente do.Histria do Brasil. So Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 527. 5. ed. 8 ArquivoHistricoUltramarino(AHU),Bahia.Luis.Fons.Cx.6.Doc.680[Lisboa,1635].Minutado Conselho da Fazenda sobre duas cartas de D. Pedro da Silva eSampaio. No localizamos a carta, cpia ou original, mas a minuta afirma que a mesma data de 21 de julho de 1634.9 AHU,Bahia.Luis.Fons.Cx.6.Doc.681[Bahia,26.03.1635].CartadoBispodoBrasilparaFelipeIV (Cpia Mutilada). primeiro Conde da Castanheira, em 1552. 10 A minuta elaborada pelo Conselho da Fazenda demonstra a reao imediata, observando que satisfazendo os pontos mais substanciais das ditascartasPareceoqueportodososrespeitosconvinhamuitohaverempartirlogoas armadasparaobraziljndoemdireituraaBahia.Aminutaaindaespecificouqueera Necessarioacudirselogoaforteficaonapontadetaparicaantesqueoinimigosefaa senhordestesitioesefortifique(...)quesenopossacobrar(...)procurandocomtoda brevidade que o forte que se ouver de fazer neste sitio seja de maneira que possa impedir o dezenhodoinimigo.AinformaoenviadapelobisposurtiuefeitoeoConselhoda Fazenda deliberou, em pouco tempo, que o envio de navios para a Bahia pudesse servir de grande remedio para sua defenso 11 ApresenanaBahiadeumaesquadraem1636edaarmadadoCondedaTorre entre 1638 e 1639 afastou temporariamente as embarcaes hostis.Em 1640, entretanto, a expediodeJanCorneliszoonLichthardtincendiouvinteeseteengenhosnaBahia, inclundoosdeSantaCruzedoFlamengo,jatrsreferido,nailhadeItaparica,como objetivodedestruirosistemaprodutordeacarnoRecncavo.Naquelemesmoano,era notrio que Itaparica estava desguarnecida e por informao do Marqus de Montalvo, D. JorgeMascarenhas,sabemosqueoaparatoblicodasfortificaesperifricasforam desviadosparaOsdozefortesqueseespalhavampelasquasetrslguasdopermetro urbanoecareciamdereparos,quedeviamserprovidoscomaartilhariarecolhidados fortesentodesmanteladosdapontadeItaparica,barradoParaguau,Paranamerim.12 ApesardeItaparicaestarsemcondiesdesedefender,ogovernocolonialreconheciada sua importncia estratgica: A barra tem trez leguas de largo, por onde o inimigo pode entrar e estar sem impedimento. Pde-se-lhe difficultar fazendo-se uma fortaleza nas Paranas, fronteira & de Santo Antonio, com que cruzam ambasabarracomsuaartilharia,impossibilitamafacilidadedaentradaedefendemailhade Itaparica, onde o inimigo pode estar ancorado, senhorear-se della, e sustentar o sitio cidade.13 10 IGLESIASMAGALHES,P.A.AJornadadosVassalosporD.JernimodeAtadeem1625.In:2 EncontrodeNovosPesquisadoresemHistria,2010,Salvador.AnaisEletrnicosdo2 EncontrodeNovos Pesquisadores em Histria, 2010. p. 112-127. 11 AHU, Bahia.Luis. Fons. Cx. 6. Doc. 681 [Bahia, 26.03.1635]. Cartado Bispo do Brasil paraFelipeIV (Cpia Mutilada). AGS. Secretarias Provinciales. Livro 1478 fl. 98-98v. [Madrid, 03.08.1635] Sobre lo que escrive lo bispo do Brasil acerca de cinqenta mil caxas de assucar que alli se hallan y el riesgo que corren.12 MASCARENHAS, D. Jorge. Sobre a convenincia de se fortificar a cidade da Bahia capital do Brazil. In: RevistadoInstitutoArqueolgico,HistricoeGeogrficodePernambuco(RIAP),Tomo56,1parte,pp. 102- ss. Recife: 1893.Atual Paranama, localizada em Loreto, na contra-costa da Ilha dos frades e tendo viso para Madre de Deus, entrada para Santo Amaro. 13 Idem. Itaparica,entocomduasfreguesias,adeVeraCruzedeSantoAmaro,erauma praaaberta.Alis,acriaodasegundatevelugarduranteoepiscopadodeD.Pedroda SilvadeSampaio,em1643,possivelmentecomoobjetivodepovoararegioinsulanae impedir o desembarque de inimigos, em caso de uma invaso demenor monta. Segundo o cronista frei Agostinho de Santa Maria, O primeyro Vigayro que teve esta paroquia foy o PadreValeriodeFreytas,clerigodebsprocedimentos,quedeixoualgumasobras manuscritas,infelizmentedesparecidas.OrdenadojuntocomojesutaAntonioVieiraem 1634, sua carta de apresentao para a vigrio de Santo Amaro de Itaparica, na Chancelaria daOrdemdeCristo,datade4deagostode1643.14 AfreguesiadeVeraCruzera administradapelopadreRomoPalmeiro,nomeadoporcartadeapresentaode30de agostode1646.15 Porvoltade1645,Itaparicacontavacomcercade2milhabitantes, enquantoSalvadorseaproximavade20mil,quepoderiamresistirapequenasincurses, mas no a uma invaso em grande escala. 16 A8defevereirode1647aesquadradeSigsmundvonSchkoppe,Simonvan BeaumontedoalmiranteJoostvanTrappen,composta26velaseconduzindo,2400 homens,entresoldados,marinheiroseindgenas,invadiuaBaadeTodososSantos.17 O comandanteemchefedaoperaoeraBeaumont,amarinhaficandosobresponsabilidade de Banckert e a infantaria a cargo de Schkoppe, que concebeu o plano de invaso e foi um 14 ArquivoNacionaldaTorredoTombo(ANTT),ChancelariadaOrdemdeCristo,Livro25,fl.239. ValeriodefreitasCartadeapresentasodaigradestoamarodoreConcauobpdodaBahia;SANTA MARIA,Agostinho.SanturioMarianoeHistriadasImagensMilagrosasdeNossaSenhora.Lisboa:na Officina de Antonio Pedrozo Galrao, 1722, Vol. 9, pp. 121-122. 15 ANTT, Chancelaria da Ordem de Cristo, Livro 35, fl . 260. 16 Aquicabeumaobservao.Essenmerode2000habitantesemItaparicafoiinferidoapartirdeuma afirmao na obra de Pierre Moreau, autor de Histoire des derniers troubles du Brsil entre les Hollandais et les Portugais, Paris, 1651, onde, na pgina 145, diz que "Os soldados no pouparam a uma s vida, mataram atmulheresecrianas,saquearamtudoquantoquiseram,esoincendiarlhesfoiproibido;demodoque duasmilpessoas,quecontavaestailha,pereceram,umaspeloferro,outrasafogadasnosbarcos,emquea tropelselanavam,afimdepassaremcidadedaBahia,quandochegaramosholandeses".FoiVarnhagen quemverteuessetrechodofrancsparaoportugusdefinindo-ode"narraoinsuspeita".VARNHAGEN, Francisco.HistriadasLutascomosHollandezesnoBrazildesde1624a1654.Lisboa:Typographiade CastroeIrmo,1872,p.321.PodehaveralgumexageronasafirmaesdeMoreau,poisoextermniode 2000pessoasnaocupaodeItaparicarepesentariaummassacredegrandesproporesparaapoca.Ademais,nohoutrafontedocumentalqueassevereisso.Contudo,pareceindicaronmerodeseus moradores poca. 17 CartaGeraldoPresidenteedoConselhodoBrasilparaaCmaradaZeelandia,de26defevereirode 1647.ArquivoNacionaldosPasesBaixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[VelhaCompanhiadas ndiasOcidentais],nmerodechamada1.05.01.01,inventrio63,documento15,fol.8r.LuciaWerneck Xavier me indicou esse documento, desconhecido at ento. dosmaiscompetentesoficiaisaserviodaCompanhiadasndiasOcidentaisnoBrasil. Schkoppesabiaqueasforasnavaisdisponveiseramlimitadasparaempreenderuma invaso direta a Salvador. Seu plano, ento, consistiu em estacionar a esquadra na ponta das Baleias, na ilha de Itaparica, fechando o eixo da principal rota martima no Atlntico sul, a entradadaBaadeTodososSantos.Schkoppecumpriuoqueprometeranogovernode DiogoLusdeOliveira,quesehaviafazersenhordaBahia,semlhecustarumcopode sangue,impedindoosmantimentoscomosseusnavios.18 AtomadadeItaparicapor SchkoppepsemriscoabaadeTodososSantosetambmameaouacomunicaoeo comrcio entre a Bahia e Portugal.Em de 26 de fevereiro de 1647, o Conselho Poltico da Nova Holanda escreveu aos DiretoresdaCompanhiadasndiasOcidentaisneerlandesa(WIC)queapsmuitas deliberaes, resolvemos atacar o inimigo no seu corao para assim prejudic-lo muito () decidimosentoatac-lopertodaBahiacomaintenodeocuparefortificarailhade Itaparica e outras ilhotas da regio ().19 Posteriormente em carta de 27 de maro de 1647, escrevemparaoscomandantesdaexpedio,SimonvanBeaumonteSigsmundvon Schokppe, que gostaramos muito de ver, e nessa conjuntura dos tempos, nada mais til paraessaconquistaeTerra()doqueamanutenodareferidailha[Itaparica]porns agora ocupada ()20 Essa mesma carta segue discutindo o quo importante para a WIC a ocupaodeItaparicaera,pois,entreoutrascoisas,quandochegassemmaisreforosdas Provncias Unidas, poderiam facilmente atacar a Bahia. A perspectiva de ocupar a ilha por longo tempo levou Cornelis Theunissen, mestre de equipagem em Itaparica, por carta de 4 de julho de 1647, a solicitar ao Conselho Poltico que sua esposa fosse enviada para aquela ilha.21Segundo o cronista Johannes Nieuhof (1618-1672), Schkoppe ainda determinou que 18 VIEIRA, Antonio.Cartas (ed. Joo Lucio de Azevedo). Coimbra: Imprensa da Universidade, 1928, Vol. 3, p.577. 19 CartaGeraldoPresidenteedoConselhodoBrasilparaaCmaradaZeelandia,de26defevereirode 1647.ArquivoNacionaldosPasesBaixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[VelhaCompanhiadas ndias Ocidentais], nmero de chamada 1.05.01.01, inventrio 63, documento 15, fol. 7v e 8r. 20 Carta do Presidenteeconselho aos comandantes Beaumont,SchoppeeBankert,nailhade Itaparica, de 27demarode1647.ArquivoNacionaldosPasesBaixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[Velha Companhia das ndias Ocidentais], nmero de chamada 1.05.01.01, inventrio 63, documento 35, fol. 2r. 21 Notas Dirias do Alto e Secreto Conselho do Brasil de 04 de julho de 1647, Arquivo Nacional dos Pases Baixos,fundoOudeWestIndischeCompagnie[VelhaCompanhiadasndiasOcidentais],nmerode chamada 1.05.01.01, inventrio 71. ocoronelHindersonabandonasseafozdorioSoFranciscoefosseseajuntaraeleem Itaparica.22 O governador Antonio Telles da Silva escreveu ao rei afirmando que Senhores do mar,empoucosdiaspem(osneerlandeses)oseupoderondequerem.23 Apresenada esquadradeSigsmundvonSchkoppeinterrompeutodaacirculaocomercialdaregio atravsdobloqueiodaentradadabaa,queresultounacapturademaisdevintenavios mercantesqueseaproximavamdeSalvador.Asituaotornou-semaiscrticaporquea maiorpartedasembarcaesapreendidaseradegrandecaladoe,porisso,transportavam grande quantidade de provimentos. At mesmo o navio que transportava Francisco Barreto deMenezes,designadopelamonarquiaparacomandaraGuerradeRestaurao Pernambuco, foi interceptado a 30 lguas da Bahia e seu ilustre passageiro remetido preso para o Recife. Escapavamapenasasembarcaespequenasquepoderiamcostearolitorale passaremdespercebidasasentinelasneerlandesasnaPontadasBaleias.Atfarinha produzidanasvilasdoRecncavocomeouafaltarnacidade. 24 Paradiminuiracarestia entreosmoradoresdacapital,osjesutasdoColgiodoRiodeJaneiroenviaramparaa Bahiaumnaviocarregadodemantimentos,quezarpoudaGuanabaraa11demaioe aportouemSalvadorapsvinteesetediasdeviagem,conduzidoporumpadreda Companhiacomexperincianomarquedriblouocercoinimigoeentregouacargaao GovernadorAntonioTelesdaSilva.25 HtambmabundantedocumentaonasAtasda Cmara de So Paulo em que o Governador solicitou o envio de farinha dali para a Bahia. A presso sobre a capital e seu circuito comercial impeliuos oficiais portugueses a duasmalsucedidastentativasderetomarailha.Aprimeiratentativadebateros neerlandesesocorreua24defevereiro,comumatropaluso-braslicacompostaporoito companhiascom500soldados,reforadoscomaparticipaodemoradores, desembarcarams17horas,prximodastrincheirasinimigas.Asdefesasneerlandesas 22 NIEUHOF,Johannes. Memorvel viagem martima e terrestre ao Brasil (1682). So Paulo: Martins, 1942,p. 288. 23 Cartasedel-reiD.JoaoIVaoCondedaVidigueira(MarquesdeNiza)embaixadoremFranca/publ.e pref. por P.M. Laranjo Coelho. Lisboa : Academia Portuguesa da Historia. 1940.Vol. II, pp. 90-91 24 BOXER,Charles.TheDutchinBrazil1624-1654.Oxford:ClaredonPress,1957,pp.280-290.AHU, Bahia. Catlogo Eduardo Castro, Cx.1. [1648] Rellao dos navios que se perdero hindo e vindo do Estado do Brasil, desde o anno de 1647 athe o fim do anno de 1648.25 VASCONCELLOS,Simode.Vida doPadreJoamDAlmeidadaCompanhiadeIESV,na Provnciado Brazil. Lisboa: Officina Craesbeckiana, 1658, pp. 243-245. funcionarammuitobemeestestiveramapenas10mortose18feridos.Osluso-braslicos tiveram que recuar, deixando 125 mortos. 26 A10deagosto,diadeSoLoureno,esperandocontarcomaajudadosanto, Antonio Teles da Silva ordenou o segundo assalto contra as foras de Schkoppe. Para este fim,encarregouoMestredeCampoFranciscoRebello,apelidadodeRebelinho,almde JoodeArajo,omajorAscensodaSilva,JooPaesdeMeloeDiederickHooghstraten (Teodoro Estrada). Juntos, levaram trs regimentos formados por vinte e nove companhias, numtotalde1700soldados,200marinheiros,10ndiose60negros,somando2060 homens.27 O momento era propcio em vista de trs navios de guerra neerlandeses haverem deixado a Bahia. Chegaram por volta de 3 horas da manh e passaram despercebidos pelas trincheirasexternas,emdireoaoquarteldeSchkoppe,atirandograndequantidadede granadasdemodentrodaspaliadas.Osneerlandesesreagiramcomcercade400 soldados e batalha durou at s 5 da manh. O segundo ataque a Itaparica foi, contudo, um desastreaindamaiorqueoprimeiroeastropasluso-braslicasforamrepelidasdailha, contandocercadequatrocentosmortos.ORebelinhoacaboumortoeteveocorpo resgatadoporfreiDomingos(oRuivo),quecommaistrsfranciscanosassistia espiritualmenteaquelecontingente.28 OcronistaDiogoLopesSantiagoconfrmaquenas duas batalhas por Itaparica "nos mataram na Bahia 500 ou 600 homens".29 26 Ware Vertooninge van het Eylandt Taparica Alzoo het zelve aldaer naer het leven is geteykent: midtsgaders zynegelegenthey,indeBahiadeTodoslosSantos,endedistantievandeStadtStSalvador.Amsterdam: Solomom Savrij, 1648. 27 Idem. 28 JABOATAM, Antonio de Santa Maria. Novo Orbe Serfico Braslico. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense de Maximiliano Gomes Ribeiro, 1858, Tomo I, Livro II, pp. 93 e 94. 29 SANTIAGO,DiogoLopes.HistriadaguerradePernambucoefeitosmemorveisdomestredecampo JooFernandesVieira,heridignodeeternamemria,primeiroaclamadordaguerra..Recif:Fundarte, 1984, p. 449. Imagem : Detalhe mostrando a localizao das seis trincheiras em Itaparica. Ware Vertooninge van het Eylandt Taparica. Solomom Savry, 1648. Biblioteca da Universidade de Leiden. Igncio Accioli de Cerqueira e Silva afirmou, em 1837, que concorreo a persuaso geral que o ataque precipitado a Itaparica decorreu do Bispo D. Pedro da Silva de Sampaio pressionar o governador Antonio Teles da Silva para que reagisse aos neerlandeses. 30 Braz doAmaral,seguindoAccioli,afirmaqueatribuiuavozpblicaaresponsabilidadedo desastreaobispoD.PedrodaSilvadeSampaio,quehaviaaconselhadooataqueao Governador e o havia feito teimar contra a opinio dos oficiais mais competentes, inclusive doprprioRabelinho.31 Noh,contudo,documentoqueconfirmeoudesaboneas afirmaesanteriores,maspossvelqueobispofossefavorvelaoataqueaItaparica, considerando-seseuposicionamentoeatitudesanteosataquesneerlandesesque ameaaram a Bahia anteriormente. Como bem observou Varnhagen, a segunda batalha por 30 SILVA,IgnacioAcciolideCerqueirae.MemoriasHistricas,ePolticasdeProvinciadaBahia.Bahia: Typ. do Correio Mercantil de M. L. Velloso e C., 1837, Vol. 4, p. 18. 31 AMARAL,Brazdo.GovernadoreseBispos.In:AnaisdoArquivoPblicodoEstadodaBahia,Vol.27,Salvador: 1941.Vol. p. 214-217. Itaparica resultou na perda mais desigual que houve entre os luso-braslicos nos trinta anos de guerra com os neerlandeses. 32 Semresistncia,aesquadrainvasoraincendiouoRecncavobaiano.Opadre FranciscoGonalvesdaCompanhiadeJesus,autordaRelaodaProvnciadoBrasilde 1647,narrandoaocupaodeItaparica,revelouqueem1647osneerlandesesqueimaram vinte e um engenhos em todo o Recncavo, incluindo um dos jesutas.33 A principal fonte geradora de riquezas na Bahia ficou comprometida.NohregistrosimpressosemportugussobreaguerraporItaparicaem1647. Possivelmenteosilnciodaimprensaportuguesadapocafoiresultadodasduasderrotas fragorosas na tentativa de retomar a ilha. Nenhum relato da guerra foi publicado, at porque seriaexporaindamaisnaEuropaospontosfracosdoRecncavobaiano.Nalngua portuguesa,osilnciodoscontemporneossobreoepisdiofoitorepresentativoqueo baianoSebastiodaRochaPitta,autordaHistriadaAmricaPortuguesa,impressaem 1730, errou at o mesmo o ano da invaso a Itaparica, afirmando que ocorrera em 1646.34

Poroutrolado,osneerlandesesproduziramtrsrelatosimpressos,umdelescom ilustraocartogrficaqueenalteceseuvalordocumental.Omaisimportante,contendoo mapa de Itaparica, mas com um erro ao indicar como ilha a foz do rio Paragua (Terra de Garassou),foi publicado em Amsterd por Solomom Savry em 1648 sob o ttulo deWare VertooningevanhetEylandtTaparicaAlzoohetzelvealdaernaerhetlevenisgeteykent: midtsgaders zyne gelegenthey, in de Bahia de Todos los Santos, ende distantievan de Stadt StSalvador(VerdadeiraRepresentaodaIlhadeTaparica,desenhadadonatural,bem assim sua situao, na Bahia de Todos os Santos, e distncia da cidade de So Salvador), do qualexistenicoexemplarnaBibliotecaUniversitriadeLeiden.Omapa,apesardo equvocosupracitado,indicacomalgumaprecisoospontosondeosneerlandeses levantaramseistrincheiras,indicandoocomandantedecadauma. 35 Osoutrosdois 32 VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. Histria geral do Brazil. Madrid: 1857, Vol. 2, p. 18. 33 LEITE,Serafim.HistriadaCompanhiadeJesusnoBrasil.Vol.V.RiodeJaneiro:ImprensaNacional, 1945, p. 65. Gonalves nasceu em 1597 na Ilha de So Miguel, nos Aores, entrou na Companhia no Rio de janeiro em 1613 e fez a profisso solene em 1636, na Bahia, onde lutou contra Nassau em 1638.34 PITTA,SebastiodaRocha.HistoriadaAmericaPortugueza,desdeoannodemilequinhentosdoseu descobrimento, at o de mil e setecentos e vinte e quatro. Lisboa Occidental : na Officina de Joseph Antonio da Sylva, impressor da Academia Real, 1730., p. 316. 35 Ware Vertooninge van het Eylandt Taparica Alzoo het zelve aldaer naer het leven is geteykent: midtsgaders zynegelegenthey,indeBahiadeTodoslosSantos,endedistantievandeStadtStSalvador.Amsterdam: Solomom Savrij, 1648 impressossofolhasvolantes,sendoaindade1647oOprechtVerhaelvandeTreffelijke Victoria, vercreghen op het eylandt Taparica, teghen de Portegysen (Relao da vitria dos holandesesnaIlhadeItaparica,contraosPortugueses)eExtraordinarieadvijsenuyt diverscheQuartieren,1647.CopyevaneenMissiveuythetEylandtTapparikaindeBay TodoslosSanctos:geschrevenuytdenBriefvanNiclaesClaesz,Capiteyn,impressoem Gedruckt,tambmem1647,cujonicoexemplarencontra-senaKoninklijkeBibliotheek, emAmsterd.JohannesNieuhofePierreMoreau,doiscronistasqueserviramaWIC, tambm citam os acontecimentos em Itaparica. Alm disso, houve copiosa correspondncia manuscrita,vistoqueosneerlandesesconseguiramestabelecerumalinhadecomunicao contnuaentreItaparicaeRecife,sendoquegrandepartedessespapisestonoArquivo Nacional dos Pases Baixos, fundo Oude West Indische Compagnie. 36 Nas Atas Dirias h referncias a pelo menos dois dirios de Schkoppe e Beaumont, mas que no chegaram at os dias de hoje. Houvecomooreligiosanatentativaderecuperarailha.Apsasegundapeleja, afirma Pierre Moreau, os neerlandeses encontraram nos cadveres dos soldados catlicosgrandesfolhasdepapelnasquaisestavampintadosmosquetes,fuzis,lanas,alabardas,chuos, espadas,setaseflechasqueosbrasileiroscarregamsemprecomoarmas(...)encontrando-seentre outros,diversascruzespequenasegrandesentremeadascomaletraH;eembaixodessasfolhasde papel estavam escritas frases em latim contra as armas holandesas, que chamavam armas herticas, e cujasfiguramnoeramalirepresentadas,paranoofenderossoldadosqueascarregavamcomf sobre eles.37 Osescapulriosusadospelossoldadostransformaram-seemmotivodepiadaparaos neerlandesesqueconsideraramaquelaprticacomoinvenodatolasuperstio.As autoridadesemItaparicaaindaordenaramquepartedosobjetosfossedevolvidaaos soldados poltres, enquanto outra parte foi enviada para o Recife e para a Holanda, sendo entregue aos Estados Gerais, como objetos curiosos.38 36 Arquivo Nacional dos Pases Baixos, fundo Oude West Indische Compagnie [Velha Companhia das ndias Ocidentais], nmero de chamada 1.05.01.01, inventrio 63, documento 33 Carta de Bartholomeus Cornelis, no navio Loanda, na baia Ponta das Baleias, para o Presidente e Conselho, de 18 de abril de 1647. -fundoOudeWestIndischeCompagnie,nmerodechamada1.05.01.01,inventrio63,documento34 Cartadodr.JoostvanTrappen,aliasBanckers,nonavioMiddelburghnabaiaPuntadasBaleias,parao Presidente e Conselho, de 18 de abril de 1647. -FundoOudeWestIndischeCompagnie,Nmerodechamada1.05.01.01,inventrio63,documento35 Carta do Presidente e Conselho para os comandantes Beaumont, Schoppe e Bankert na Ilha de Itaparica, de 27 de maro de 1647. 37 MOREAU, Pierre. Histria das ltimas Lutas Entre Holandeses e Portugueses (1651). Belo Horizonte/So Paulo: Itatiaia/Edusp, 1979, p. 72.38 Idem.Significativo nmero de religiosos atuaram nas duas tentativas de retomar Itaparica.O beneditino frei Manuel da Silveira, que esteve no Brasil entre fevereiro de 1647 e julho de1651,serviuaprincipiodeCapellomorde ServintianamesmaIlha[deItaparica],e de Capello de Comp.as que foro de socorro a Pern.co (...) E assy na Bahia como em Pern.co se achou em m.tas occasies de peleja em que (...) animou aos soldados,E os confessou E fezconfessaramt.osExortandoosaquepelejass,EfazendoElletob.39 Outro sacerdote que participou do ataque aItaparica foi o padre Manoel Rodrigues, que j havia auxiliado o bispo D. Marcos Teixeira no Arraial do Rio Vermelho em 1624 e foi capturado nailha em 1647. Rodrigues no delatou a localizao dos soldados luso-braslicos, nem a disposiodastropasouoscaminhosporondeosneerlandesespoderiamacometerestes contingentes. Em decorrncia de se negar a colaborar com Schkoppe, o Padre Rodrigues foi torturado e lhe dero quatro tratos, que soportou com grande animo, e sofrimento, por no descobrirosegredodaguerra,doultimodosquaes,ficouquazemorto.40 DeItaparica, Rodrigues foi enviado preso para o Recife e, depois, remetido para a Holanda, onde chegou doente e com risco de perder a vida. Por intermdio do embaixador portugus em Amsterd, FranciscodeSouzaCoutinhoedojesutaAntonioVieira,queestavanasuasegunda missodiplomticanaHolanda,osacerdoteseguiulivreparaLisboaedepoisretornoua Bahia. 41 Alm da morte de cerca de 600 luso-braslicos nas duas tentativas de retomar a ilha, a invaso deItaparicaem 1647 tambm respresentou uma expressiva mudana na Arte da GuerraBraslica.PelaprimeiravezasaesmilitaresdosportuguesesnoBrasilno puderamcontarcomumasignificativaforadeguerreirosindgenas,comoocorreuna invaso de 1624 e nas lutas para expulsar os franceses do Maranho em 1612.42 OstupinambsprovenientesdealdeiasjesuticasdoRecncavoqueparticiparam dasbatalhasemItaparica,segundoofolhetoimpressoporSolomomSavry,no ultrapassavamonmerodecemindivduos,contingente75%inferioraonmerode 39 AHU,Bahia.NoCatalogado.Cx.1,Doc.82.[Lisboa,Posteriora1651];ArquivoPblicodoEstadoda Bahia, Seo Colonial/Provincial, Livro n o 330 (Patentes), fl. 120v. [Bahia, 14.06.1650] Patente de Capelo Maior do tero do Mestre de Campo Andr Vidal na Pessoa do Padre Fr. Manoel da Sylveira.40 AHU,Bahia.Luis.Fons.Cx11.Docs.1311.[Lisboa,24.07.1648]PetiodoPadreManoelRoiz [Anexo].41 Idem. 42 PARASO, Maria Hilda Baqueiro ; IGLESIAS MAGALHES, P. A. . Muros do Recncavo: transferncia daCapitaldaAmricaPortuguesaparaosaldeamentosjesuticos(1624-1625)-DssieHistriaIndgena. Clio. Srie Histria do Nordeste (UFPE), v. 25-2, p. 9-38, 2007. guerreirosndigenasqueparticiparamdasbatalhasnainvasoaSalvadorem1624.A Companhia de Jesus assistiu, ao longo da dcada de 1640, ocontnuo despovoamento das aldeiassobsuaadministraonolitoralnortedaBahia.Emfinsdaqueladcada,osdois principaisdoaldeamentodoEspritoSanto,quejhaviasidoqueimadoporNassauem 163843,chefiaramumarebeliocontraaadministraodosjesutas,sendoqueoslderes indgenasforampunidoseremetidosparaoRiodeJaneiro.Em1655,Simode VasconcellosconfirmouquenaBahiaosndioseram,ento,menosemnmerodoque nas dcadas anteriores. 44 TABELA : Nmero de ndios recrutados em aldeamentos jesuticos no Recncavo: Ano 1587 162416381647 Total6000 400 (No computados os 60 ndios de Afonso da Cachoeira) 200 (No computados os 513 do Tero do Camaro e cerca de 80 de Afonso da Cachoeira) 100 Fontes:SOUSA,GabrielSoaresde.TratadoDescritivodoBrasilem1587.GUERREIRO, Bartolomeu.J ornada dos Vassalos da Coroa de Portugal Lisboa,1625,p.32.Ojesutaapontaa participaode250ndios,aindaemjunho,arregimentadosapenasnasaldeiasdoEspritoSantoe SoJoo.OnmerodesoldadosdoCamaroem1638foiextradodaquantidadederaes entregues ao seu tero. VILHASANTI, Pedro Cadena.Relao Diria do Cerco da Bahia.Lisboa: 1941, p. 133. Para o numro de ndios que participaram do assaltoa Itaparica: WARE Vertooninge van het Eylandt Taparica Alzoo het zelve aldaer naer het leven is geteykent: midtsgaders zyne gelegenthey, in de Bahia de Todos los Santos, ende distantievan de Stadt St Salvador. Amsterdam: Solomom Savrij, 1648. Por outro lado, em 1647 os neerlandeses contavamcom o triplo de ndios, trazidos donorte,paradefendersuasbasesemItaparica.JohnPrice(JohannesApricius),jovem predicanteinglsquemissionavanaParaba,acompanhouSchkoppenaPontadeBaleias, conduzindo 297 potiguares da Paraba.45 ComofracassoduastentativasdereconquistarailhadeItaparicaesempoder contarcomoapoiodeguerreirostupinambs,oshabitantesdaBahiaspoderiamcontar 43 GALINDO,Marcos;TEENSMA,Benjamin;IGLESIASMAGALHES,Pablo.EpisdiosBaianos: Documentos para a Histria do Perodo Holands na Bahia.Recife: NECTAR, 2010, p. 253. 44 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Manuscritos. 7, 1, 31. Doc. 27. Ofcio do conde de Castelo Melhor aogovernadordoRiodeJaneiro,remetendodoisndiosprincipaisdaAldeiadoEspritoSanto,por desobedincia aos religiosos da Companhia de Jesus, para que ficassem a ordem do padre provincial. [Bahia, 28.03.1650]. VASCONCELLOS. Vida do Padre Joam DAlmeida, 1658, fl. 3. 45 IGLESIASMAGALHES,P.A.Apalavraeoimprio:aartedalinguabrasilicaeaconquistado Maranho. Revista de Historia (USP), v. 165, p. 367-401, 2011, p. 397. com uma fora naval externa capaz de expulsar a esquadra neerlandesa. Assim, as notcias datomadadeItaparicaforamenviadasaLisboaporviadojesutaFelipeFranco,que zarpoupossivelmenteporItapu,alertandoaogovernoportugusqueSchkoppeestava fortificado na ilha e ameaava Salvador.46 O Governo-Geral e a monarquia portuguesa, em conjunto,deliberaramasresoluesfinanceirasnecessriasparaorganizarumaarmada capazdesocorreraBahiaeexpulsarosneerlandesesdeItaparica.Paraamonarquia portuguesa, como observou Evaldo Cabral de Mello, Pernambuco poderia ser sacrificado, mas o caso da Bahia era diferente, pois punha em risco todo o Brasil. 47

EmLisboa,ojesutaAntonioVieira,educadonoColgiodeSalvador,jhavia prevenidoaomonarcaquecomatomadadeDunquerquepelosexrcitosdoCardeal Mazzarinoemoutubrode1646,seusaliadosneerlandesespoderiamvoltaraconcentrar suasforasnavaisnolitoraldoBrasil,sendoaBahiaumpotencialalvo.Vieiraento retomaraaideiadeutilizarosrecursosfinanceirosdoscomerciantescristosnovospara impulsionaraentopoucoeficientemarinhaportuguesaedefenderoBrasildeataques neerlandeses, plano que j havia sido apresentado pelo jesuta numa proposta elaborada em 3dejulhode1643.OjesutaAndrdeBarrosafirmouque,antesdefazerestaproposta, VieiraconsultouSebastioCesardeMenezes,DeputadodoConselhoGeraldoSanto Ofcio, acerca do seu contedo, que compreendeu a fora das razes e lhe respondeu que fizesseaproposta,oquefezcomletradiferenteesemnomeeentregouaoprprio SebastioCesar,quelevouaomonarca.VieiraafirmouqueoBrasileraosustentodo comrcio e da alfndega portuguesa, mas que a perda de Angola e a ruptura comercial com aBaciadoPrataameaavaacontinuidadedaproduonoBrasil,tornandodeficitriaa economiadoReino.PortugaleoBrasilnopoderiamficarsortedasarmasdaFrana contra Castela e das fingidas promessas e embaixadas arranjadas pelos neerlandeses para assegurarsuasrecentesconquistas.Parafazervalerseuplanodeangariarasfortunasde cristonovosejudaizantes,concluuqueseodinheirodoshomensdenaoest sustentandoasarmasdoshereges,paraquesemeiemeestendamasseitasdeLuteroe 46 VIEIRA, Cartas, Vol. 3,p. 578. 47 MELLO, Evaldo Cabral de. O Brasil Holands. So Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2010, cap. 18. Calvinopelomundo,nomaiorserviodeDeusedaIgrejaquesirvaestemesmo dinheiro s armas de rei mais catlico? 48

OplanodeVieiraparacaptarrecursoseorganizarumaarmadareveladonuma carta destinada ao Conde de Ericeira que em Amsterdo se oferecia por meio de Jernimo Nunesumholandsmuitopoderosoadarquinzefragatasdetrintapeas,fornecidasde todonecessrio,epostasemLisboaatmaroavintemilcruzadoscadauma(...)etudo vinhaaimportnciadetrezentosmilcruzados. 49 Vieiraaindasugeriuaoreiparaformar duasesquadras,umaparaficarestacionadaemPortugaleaoutraparaenviarBahia.O dinheiro para essa empresa seria despendido de um tributo de um tosto ou seis vintns por arroba de acar sobre um carregamento de quarenta mil caixas do produto. Estas caixas de acar foram adquiridas a baixo custo e haviam chegado do Brasil poucos dias antes, sendo vendidasnoReinoporaltssimospreos.OmonarcamandouqueVieirapusessesuas ideiasemumpapelparaemseguidaapresent-loaseusministros,quelogoretrucaram que aquele negcio estava muito cru. Em pouco tempo as notcias da tomada de Itaparica chegaram a Lisboa via o Padre Felipe Franco e o rei novamente foi consultar o jesuta, que ironicamente lhe respondeu: O remdio senhor muito fcil. No disseram os ministros a V.M.queaquelenegcioeramuitocru?Poisosqueentooacharamcruquecosam-no agora. 50 D.JooIVconvocouoConselhodeEstadopararepresentarnovamentea importnciadesocorreraBahia,masarespostaacercadaformaodeumaarmada continuounegativa.Omonarcavoltounamanhseguinteaprocurarojesutaquelhe respondera: Senhor, que a um Rei de Portugal ho-de dizer seus ministros que no h meio para haver trezentos mil cruzados com que acudir o Brasil, que tudo quanto temos! Ora, eucomestaroupetaremendadaesperoemDeusquehojehei-dedaraV.M.todaesta quantia.51 Emseguida,oreligiosocolocouemprticaaestratgiaparaangariaros recursosnecessriosparamontarumaesquadracapazderechaaropoderionaval neerlands posto diante da Bahia e redigiu (...) um escrito a Duarte da Silva, a quem tinha 48 VIEIRAAntonio.PropostafeitaaEl-ReiD.JooIVemqueselherepresentavaomiservelestadodo reino e a necessidade que tinha de admitir os judeus mercadores que andavam por diversas partes da Europa. In: Obras Inditas. Lisboa: J.M.C. Seabra, 1854,Vol. 2, pp. 34 e 44.49 VIEIRA, Cartas, Vol. 3, pp. 578-581. 50 Idem. 51 VIEIRA, Cartas, Vol. 3 p. 576 a 579. conhecido mercador na Bahia, representei-lhe a perda do reino e do comrcio, o aperto e a necessidadedaFazendaReal,equanto[suamajestade]estimariaqueseusvassaloso socorressem nessa ocasio com trezentos mil cruzados, que eram necessrios , dos quais se embolsariam com um tributo de tosto ou seis vintns em cada arroba de acar do mesmo Brasil.52 Assim,paracolocarapropostaemprtica,AntonioVieiratevequeconvencero abastado cristo-novo Duarte da Silva de que a conservao doBrasil era interessanteaos seusnegciosnoReino.Ocomerciante,noentanto,julgousermuitoonerosoparaele sozinhoarranjaraquantiasolicitadaparaaarmadadesocorroaItaparica,mas comprometeu-seemobterumparceiroparaaempresa.Namesmatarde,ocristo-novo DuartedaSilvaapresentouAntonioRodriguesMarquesaVieira,acertandooemprstimo assegurado pelo tributo imputado sobre o acar produzido no Brasil. 53

Aps esse emprstimo, o governo considerou no deixar o financiamento da armada apenassobosencargosdoscomerciantescristos-novoslisboetas.D.JooIVtransferiu partedoscustosparaoshomensdenegciodascidadesdeVianaeAveiro,pedindo-lhes que contribussem e ajudassem por sua parte, com o que puderem a respeito do cabedal de cadaum(...)paraempresatantodoservioehonradeDeus.Omonarcaordenouque governadordoPorto,FernoTelesdeMeneses,fosseaonortedoReinocomprarseisou maisnaviosdequatrocentasoumaistoneladas.AarmadaseriacomandadaporAntonio Teles de Menezes, Conde de Vila Pouca de Aguiar, sendo providos e equipados em sigilo para que as novas deste apresto no cheguem na Holanda.54

AaparelhagemdaarmadadeVilaPouca,embriodoqueviriaaseraCompanhia de Comrcio do Brasil (1649), no resultou da iniciativa de um nico gnio, como indica a cartadeAntonioVieiraaoCondedeEriceirae,tambm,nofoiunilateralmente 52 Idem. 53 Idem. Biblioteca Nacional de Lisboa, Coleco Pombalina.n.o 647. Miscellanea, legislao e papis vrios (1552-1754).fl.73-82.[Lisboa,1647]AssentodosAssentistasparacobraremoemprstimofeitoaS.M. para mandar a armada ao Brasil.54 Carta de D. Joo IV ao governador do Porto em 14 de junho de 1647. In: Cartas de El-Rei D. Joo IV para diversasautoridadesdoreino/publ.epref.P.M.LaranjoCoelho.Lisboa:AcademiaPortuguesada Histria, 1940, pp.184-185. Sobre os esforos no Reino para aprestar a armada de Vila Pouca de Aguiar ver GUEDES, Max Justo.Histria Naval Brasileira. II Vol, Tomo IA. Rio de Janeiro: Servio de Documentao Geral da Marinha, 1993,p. 183-198. organizadaapenascomodinheirodecomerciantesportugueses.55 Ahistoriografiadas guerrasneerlandesasdesconheceuofatodequeem21demarode1647,desteladodo Atlntico,oGovernadorAntonioTelesdaSilvaofereceu200milcruzadosaoRei portugus para financiaro socorro naval necessrio defesa daBahia. Esse dinheiro seria alcanadojuntoaosmoradoresdoRecncavobaianoeentregueaFazendaRealem Portugal. O pagamento dessa quantia seria dividido em quatro parcelas, pagas em aucares nas primeiras quatro safras que Deos nos der, o que compreendia o quadrinio entre 1648 e1651.56 Apartirde1648,acidadeseriamobilizadaparasaldaradvidafeitaFazenda Real. A Cmara deu incio aos lanamentos pblicos, pelos quais a capital foi dividida em quatro reas que se completavam com as vilas do Recncavo mais Sergipe del Rey, onde os lanadoresmunicipaisforam,deportaemporta,arrecadandoodinheirodeacordocoma profisso e recurso financeiro de cada contribuinte. A organizao da esquadra para libertar ItaparicacustoucaroaoshabitantesdaBahiaedeSergipe.Maisoneroso,todavia,seria permitir uma esquadra inimiga continuar dentro da baa de Todos os Santos. NofoisPortugalquecorreuparacolocarseusnaviosnasguasdaBahia.Os Estados Gerais e a WIC tambm, aprestando uma armada sob comando do almirante Witte Corneliszoon de Witt que poderia desferir um ataque definitivo sobre o Recncavo baiano. AarmadadeWittedeWittpartiuemdireoaoBrasil,masencontrounocabodeFinis TerrumatempestadequedestroouanauAmsterdam.Atormentaobrigouasoutras embarcaes a aportarem em La Rochele, inclusive a nau de guerra Rotterdam. Esta ltima foiobrigadaaretrocedertantopelomautempocomopelarebeliodossoldadosque transportava.57 CharlesBoxerafirmouqueoinvernoexcepcionalmenterigorosode1647-1648 garantiu a salvao de Portugal, de Angola e do Brasil Catlico. O prprio Antonio 55 BOXER, Charles Ralph.PadreAntonio Vieira, S.J and the Institution of theBrazil Company in 1649.In: TheHispanicAmericanHistoricalReview.Vol.29,No4(Novembrode1949),p.474-494;SMITH,David Grant. Old Christian Merchants and the Foundation of the Brazil Company, 1649. In: The Hispanic American Historical Review. Vol. 54, No 2 (Maio de 1974), p. 256.56ArquivoMunicipaldeSalvador(FundaoGregriodeMattos).ProvisesdoGovernoeSenado,Vol.1 (Livrono125.1).Fls.296V-298V.RegistodoaccentoquesetomousobreofferctaquesefezaSua Magestade pedindo armada para desallojar o inimigo desta Praa feito pelos eleitos abaixo nomeados. [Bahia, 21.03.1647].57 VIEIRA, Cartas, Vol. 1, p. 165.VieiraescreveuaumministrodaCortedeLisboaasseverandoquetudosearmacontra esta gente, e em tudo peleja Deus ns.58 A armada de Vila Pouca de Aguiar entrou na Baa de Todos os Santos no Natal de 1647. As dezoito embarcaes da esquadra de Schkoppe retornara a 13 do mesmo ms para oRecifeparaaplacardissensesinternas,oqueevitouoconfrontoentreasduasforas navais. Jos de Mirales afirma que Schkoppe recebeu um aviso do Alto Conselho do Recife sobre a expedio da armada portuguesa para a Bahia e recuou para evitar o confronto. A marinhaneerlandesanoBrasildecertojnopossuamaiscondiesdesustentarduas frentesdeguerra,comoreconheciaumpanfletoannimopublicadonaHolanda.59 Estava livre o trnsito na baa de Todos os Santos e no principal porto do Atlntico sul. A notcia de que Sckhoppe abandonou Itaparica chegou em Haia no ms de fevereiro seguinte.60

Aps a retirada dos invasores, o governador Telles da Silva visitou as trincheiras em Itaparica, que descreve como de paos de limitada grossura com um pequeno foo que no dava hum homem pella sentura e que em nossas terras com mais confiana podemos estar dequenotornemaTaparicacomofortequeselhefazconstardequatrobaluartes. Noutra carta de janeiro de 1648 revela que trabalharo [no forte] cento e tantos holandeses e perto de cincoenta negros, concluindo que Schkoppe promete mandar infestar esta barra com naos da companhia e mais piratas que andam nestes mares. 61 Isso no tardou. Em maro de 1648 a esquadra portuguesa de Vila Pouca se bateria nas guas daBaa de Todos os Santoscom umafrota doalmirante Witte Corneliszoon de Witt.SobseucomandoestavamosnaviosGysseling,HuysvanNassau,Utrechte Overyssel.OsgaleesUtrechteHuysvanNassauflanquearamanauNossaSenhorado Rosrio,sobcomandodefreiPedroCarneirodeAlcaovas,daOrdemMilitardeMalta, quedecidiubotarfogonopaioldeplvorasacrificandosuatripulao,masdestruindo completamenteoUtrechtefazendoencalharoHuysvanNassaurestandoapenasvintee seissobreviventes,naufragadosnaalturadapraiadeCaixaPregos,emItaparica. 62 Foio 58 Idem.BOXER, Charles Ralph.Salvador de S e a Luta pelo Brasile Angola, 1602-1686. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1973, p. 263.59 Oprecht Verhael van de Treffelijke Victoria, vercreghen op het eylandt Taparica, teghen de Portegysen. s/l: 1647.60 VIEIRA, Cartas,p. 165.61 Cartas de D. Joo IV ao Marquez de Niza, 1940, Vol. II, p. 240. 62 InstitutoHistricoeGeogrficoBrasileiro.ColeoDocumentosHolandeses,TomoIV,Fls.134-135v.. Carta de Witte de With em 1 de Abril de 1648; SANTA TERESA, Joo Jos, O.C. Istoria delle guerre del penltimoatode25anosdeguerrascontraosneerlandesesemguasdaBaa,vistoque ainda em 1648 van de Branden atacaria mais um vez o Recncavo baiano. AocupaodeItaparicaporSchkoppereveloumuitosobreofuncionamentodo RecncavobaianoedabaadeTodososSantos.Historicamentefoionicoepisdioem queaCapitaniadaBahiadependeudasforasmetropolitanasparacontinuarexistindo. Aquelaoperaomilitardemonstrouqueinterromperocircuitomartimodaregio comprometiaasobrevivnciadosseushabitantesedasinstituiesaliimplantadas. Salvadorerao"corao"doBrasil,comobemobservouacartadoAltoConselhoacima traduzida.EraoRecncavoalimentavaessecorao.Interromperseufuncionamento representaria o fim do corpo poltico do Estado do Brasil.

regnodelBrasile:accadutetralacoronadiPortogallo,elaRepublicadiOlanda.NellaStamperiadegl Eredi del Corbelleti. 1698, Vol. 2, p. 130.