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PABLO LEMOS CARLOS SANT'ANNA 1ª edição / 2014 A Busca pela Promessa Constitucional A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO E O PROJETO DO NOVO CPC

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PABLO LEMOS CARLOS SANT'ANNA 1ª edição / 2014

A Busca pela Promessa Constitucional

A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO E O

PROJETO DO NOVO CPC

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PABLO LEMOS CARLOS SANT'ANNA 1ª edição / 2014

A Busca pela Promessa Constitucional

A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO E O

PROJETO DO NOVO CPC

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Sumário

INTRODUÇÃO..................................................................................................07

CAPÍTULO 1.INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO......................................09

1.1. Jurisdição...........................................................................................101.1.1 Conceito...........................................................................................101.1.2 Características.................................................................................121.1.3 Escopos............................................................................................111.1.3.1 Jurídico..........................................................................................111.1.3.2 Social.............................................................................................121.1.3.3 Político..........................................................................................131.1.4 Uma visão contemporânea............................................................141.2. Ação...................................................................................................151.2.1 Ação e jurisdição.............................................................................151.2.2 Teorias.............................................................................................161.2.2.1 Civilista ou Imanentista.............................................................161.2.2.2 Concreta.......................................................................................171.2.2.3 Potestativa....................................................................................181.2.2.4 Abstrata.......................................................................................181.2.2.5 Eclética.........................................................................................191.2.3 Conceito..........................................................................................191.3. Processo.............................................................................................211.3.1 Conceito..........................................................................................211.3.2 Processo e Procedimento..............................................................221.3.3 Princípios........................................................................................241.3.3.1 Contraditório...............................................................................241.3.3.2 Isonomia.......................................................................................251.3.3.3 Juiz Natural..................................................................................261.3.3.4 Inafastabilidade do Controle Jurisdicional..............................261.3.3.5 Duração Razoável do Processo..................................................271.3.4 Origens.............................................................................................281.3.4.1. Período Clássico.........................................................................281.3.4.2. A Escuridão do Processo............................................................301.3.4.3. O Processo Civil Moderno........................................................301.4. O Atual Processo Civil Brasileiro....................................................311.4.1 O Código de Processo Civil de 1973............................................32

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CAPÍTULO 2.A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO PROCESSO CIVIL...............................35

2.1. Paradigmas e suas Consequências..................................................352.2. Breve Histórico do Projeto do Novo CPC....................................382.3 A Razoável Duração do Processo...................................................392.3.1 Conceito...........................................................................................392.3.2 A aplicação no projeto de lei adotado pela Câmara dos Deputados................................................................................432.3.1.1 Principais Inovações na Parte Geral.........................................442.3.1.1.1 Fim do Prazo em Quádruplo para a Fazenda Pública contestar .....................................................................442.3.1.1.2 Flexibilização do Procedimento.............................................462.3.1.1.3 Tutela de Evidência..................................................................482.3.1.2 Principais Inovações no Processo de Conhecimento..............492.3.1.2.1 A Reunião de toda Matéria de Defesa na Contestação.......492.3.1.2.2 O Fim da Nomeação à Autoria...............................................522.3.1.2.3 A Limitação de Remessa Necessária......................................532.3.1.3 Principais Inovações no Cumprimento de Sentença e no Processo de Execução.........................................................552.3.1.4 Principais Inovações nos Processos nos Tribunais e Meios de Impugnação das Decisões Judiciais......................572.3.1.4.1 Extinção dos Embargos Infringentes e Agravo Retido........572.3.1.4.2 Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas..............59

CAPÍTULO 3.A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO E O RESPEITOÀ DIGNIDADE HUMANA DAS PARTES......................................................61

3.1 O princípio da dignidade da pessoa humana................................613.2 A adoção de normas processuais garantidoras do preceito constitucional no projeto do novo CPC.........................633.2.1 O princípio da cooperação............................................................643.2.2 Os princípios da imparcialidade e da isonomia.........................663.2.3 O princípio da verdade real...........................................................673.3 A Harmonização dos princípios no Projeto do novo CPC..........68

CONCLUSÃO.....................................................................................................71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................73

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INTRODUÇÃO

É importante, primeiramente, destacar a relevância do presente estudo e contextualizá-lo. O tempo, na atualidade, é simétrico à angústia e esta parece ser indissociável do Poder Judiciário, bem como do sistema processual civil, haja vista que o processo se tornou tão moroso e oneroso que as partes tendem a não provocar o Estado para tutelar os seus direitos.Assim, o presente trabalho tem como objeto de estudo investigar se o Projeto do Novo Código de Processo Civil (Projeto de Lei 8046/10 e apensos) teve como preocupação a observância do princípio constitucional da razoável duração do processo em sua formulação.A metodologia empregada para o trabalho científico teve como base, eminentemente, o estudo de artigos científicos e o Próprio Projeto de Lei n° 8046/10, uma vez que as alterações legislativas são constantes e as emendas surgem substancialmente, motivo pelo qual os textos científicos da internet foram usados como referências bibliográficas. Igualmente, deve-se ressaltar que o estudo teve fundamentos doutrinários a partir de livros e periódicos só que foram utilizados, principalmente, no que se refere ao primeiro capítulo e as concepções clássicas do Direito Processual Civil.Para tanto, o trabalho partiu da análise, no primeiro capítulo, dos institutos fundamentais da ciência processual civil com suas respectivas concepções e caraterísticas inerentes.Passamos, depois, para a parte nuclear do estudo que é a enumeração

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dos motivos, ou melhor, das causas que ensejaram a elaboração de um projeto de lei para a reforma do atual sistema processual civil brasileiro. Enfrentamos, assim, a compreensão dos paradigmas causadores da principal problemática: a morosidade judicial.Ainda no segundo capítulo, realizamos um breve histórico das proposições legislativas quanto às modificações, no que toca ao Código de Processo Civil de 1973. Nesse sentido, pontuamos a primeira comissão destinada à elaboração de um novo CPC- que acabou culminando no Projeto de Lei 166/10, apresentado no Senado Federal- até as últimas alterações apresentadas pelo Deputado Federal Paulo Teixeira, ao Projeto de Lei 8046/10, na Câmara dos Deputados.Chegando ao ponto crucial do trabalho, conceituamos o princípio da razoável duração do processo, bem como suas principais implicações nas alterações recentes. Dessa forma, destacamos as principais modificações nas fases do processo sempre à luz da razoável duração do processo.Por derradeiro, mas não menos importante, relacionamos e desmitificamos o conflito dos princípios da razoável duração do processo e da dignidade da pessoa humana aplicados à sistemática processual atual, bem como à que está por vir. Enfim, no terceiro capítulo, analisamos as regras garantidoras da dignidade das partes, no Projeto do Novo CPC, e a harmonia possível em relação à razoável duração do processo.

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Sabe-se que o Direito Processual está fundado em três conceitos fundamentais para a compreensão da ciência, de tal sorte que os elementos básicos para o estudo são a jurisdição, a ação e o processo. Esses três conceitos receberam a denominação genérica de “trilogia estrutural do Direito Processual”, segundo o jurista argentino Podetti.

A referida trilogia deve ser estudada de forma sistemática - como ocorreu no presente trabalho - na medida em que os institutos são consequência um do outro, assim como são interdependentes, como posiciona o ilustre processualista Alexandre Freitas Câmara:

Ocorre que a jurisdição, conforme se verá com mais detalhes adiante, é inerte, só podendo o Estado exercer esta sua função se for provocado (salvo nas raríssimas exceções em que se admite o exercício de ofício da função jurisdicional). Tal provocação se dá através da propositura de uma demanda, ato de exercício do poder de ação, motivo que leva a considerar que este deve ser o segundo instituto fundamental da ciência processual a ser aqui examinado. Por fim, verifica-se que ao ser proposta uma demanda (e, pois, exercido o poder de ação), o que terá como consequência o dever estatal de prestar jurisdição, precisa o Estado de algum instrumento que lhe permita exercer aquela função, e tal instrumento é o processo. Assim, por ser o processo o instrumento que permite ao Estado, provocado pelo exercício da ação, exercer jurisdição, deve ser esse instrumento examinado por último.1

1 CÃMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil-Volume 1. 21ª edição.- Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,2011.

CAPÍTULO 1.

INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO

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Ora, vista a posição do doutrinador acima, inevitável é segui-la, com o estudo de cada instituto a partir de suas conceituações, de suas características, de seus objetivos, de seus princípios, e da evolução histórica do atual e do futuro sistema processual civil, a fim de obtermos êxito na compreensão da temática do presente trabalho em estudo.

1.1. Jurisdição

1.1.1. ConceitoAs relações humanas são complexas e imprevisíveis, uma vez

que os interesses intersubjetivos são divergentes e tendem à mera satisfação individual, não importando se o bem comum e a paz social serão prejudicados. O ser humano tem o individualismo como uma qualidade arraigada, à medida que busca atender tão somente a seus anseios físico e emocional. O individualismo refere-se à própria subsistência humana, isto é, à própria existência do ser, sendo certo que o ser humano usará de todos os meios possíveis, indiscriminadamente, para sobreviver e atender a seus desejos pessoais.

Ante tal situação, o Estado foi criado com a finalidade precípua de evitar ou compor conflitos de interesse entre os cidadãos, de modo imparcial e soberano, substituindo a vontade das partes, para aplicar o direito ao caso concreto. Uma das missões do Estado, portanto, é exercer a sua jurisdição, ou seja, aplicar o direito à situação fática.

Cumpre registrar os ensinamentos do mestre Humberto Theodoro Junior acerca da jurisdição:

...A terceira é a jurisdição, que incumbe ao Poder Judiciário, e que vem a ser a missão pacificadora do Estado, exercida diante das situações litigiosas.Através dela, o Estado dá solução às lides ou litígios, que são os conflitos de interesse, caracterizados por pretensões resistidas, tendo como objetivo imediato a aplicação da lei ao caso concreto, e como missão mediata restabelecer a paz entre os particulares e, com isso, manter a da sociedade.2

2 THEODORO J ÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil- Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento -Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2012.

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Nesse sentido, é mister a transcrição do conceito de jurisdição, formulado por Chiovenda, em sua brilhante obra:

...função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva 3

Ante tais explicações doutrinárias, pode-se inferir, de forma tranquila, que o Estado tem a função jurisdicional condicionada, tendo em vista que atua em razão da vontade concreta do direito objetivo e para declarar direitos preexistentes em situações fáticas. Ademais, outra teoria explicativa da jurisdição que cumpre ressaltar é a construída pelo doutrinador italiano Carnelutti, haja vista sua afirmação de que a jurisdição tem como fim a justa composição da lide “conflito de interesses qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro”3

Importante, ainda, é a posição do eminente desembargador Alexandre Freitas Câmara acerca da possibilidade de existir jurisdição sem lide, sendo este elemento acidental no exercício da função jurisdicional do Estado:

Ainda que assim não fosse, porém, haveria outro argumento capaz de demonstrar que a jurisdição não pode ser definida como uma função estatal de composição de lides. Esse argumento é o seguinte: a lide não é elemento essencial ao exercício da jurisdição, mas sim elemento acidental.O que se quer aqui afirmar é que pode haver exercício da jurisdição mesmo que não haja nenhuma lide a ser composta.Vários exemplos poderiam ser formulados, como a demanda de anulação de casamento proposta pelo Ministério Público em face de ambos os cônjuges em que estes reconhecem a nulidade alegada....4

3 CARNELUCCI, Francesco.Sistema di Diritto Processuale Civile. Volume 1-Padova, Commentario Breve al códice di procedura civile, 1988.4 CÃMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil.Volume 1. 21ª edição. Rio de Janeiro:Editora Lumen Juris,2011.

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1.1.2. CaracterísticasÉ certo que para que se consiga identificar e, consequentemente,

diferenciar um instituto de outro, resta evidente o necessário conhecimento de suas características elementares para então compreender o seu conteúdo.

No que tange à jurisdição, tem como qualidades precípuas a inércia, a substitutividade, e a natureza declaratória.

Quando nos referimos à jurisdição como inerte significa dizer que somente pode ser exercida pelo Estado quando for provocado por interessados, sendo certo que, dessa forma, o juiz, em regra, não pode atuar de ofício. Esta característica também é denominada como princípio da demanda, ou princípio da inércia, e está consubstanciada no artigo 2° do Código de Processo Civil, segundo o qual “nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais”

Tendo em vista que a autotutela é proibida no ordenamento jurídico brasileiro, salvo em casos específicos, tal como no caso de desforço imediato para tutela da posse de acordo com o artigo 1.210§ 1°, do Código Civil de 2002, é certo que o Estado passou a exercer a jurisdição de forma exclusiva. Nesse sentido, a característica da substitutividade é uma consequência natural de tal situação, uma vez que o Estado ao exercer a função jurisdicional substitui a vontade das partes, afastando a justiça privada.

Por fim, a terceira característica refere-se à natureza declaratória da jurisdição, na medida em que não cria direitos subjetivos, mas tão somente reconhece direitos preexistentes.

Para que não haja dúvida no que toca à terceira característica e às sentenças constitutivas, é oportuno destacar o trecho de Alexandre Freitas Câmara:

Há que se atentar, porém, para um detalhe. Existe um tipo de sentença, chamada sentença constitutiva, que se costuma definir como sentença capaz de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas (sendo exemplo clássico desse tipo de sentença a que decreta o divorcio). Tais sentenças, sem sombra de dúvida, possuem força criadora, mas, nem por isso, podem ser consideradas exceção à regra de que a

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jurisdição não cria direitos.A sentença constitutiva pode criar novas relações jurídicas, mas nunca pode criar direitos subjetivos. Estes são necessariamente preexistentes à atuação da função jurisdicional.5

1.1.3. Escopos

1.1.3.1. Escopo JurídicoDeve-se destacar que a atividade jurisdicional não possui um

fim em si mesma, pois busca a ideia de atuação da vontade concreta da lei, ou seja, tem em vista a aplicação do direito substancial, sendo certo que este revela os valores sociais e políticos de determinado contexto histórico. Segundo Luiz Guilherme Marinoni, deve-se atentar para a valoração da atividade jurisdicional:

Porém, o escopo de atuação da vontade concreta do direito deve ser interpretado de modo a permitir sua conciliação com o ideal de acesso à ordem jurídica justa. Como já dissemos, a sociedade contemporânea é uma sociedade de massa, onde eclodem conflitos de massa, a exigir um processo voltado a essa realidade. A necessidade de um sistema processual que se adapte à realidade social, portanto, impede que se interprete o fim de “atuação da vontade concreta do direito como algo dotado de marcas individuais6

Assim, devido à insuficiência do direito material para regular e compor os conflitos de interesse é que a jurisdição foi criada, segundo Carnelutti para a “justa composição da lide”. Explica, também, Candido Rangel Dinamarco que “pressupõe naturalmente que as normas jurídicas substanciais contidas na lei não tenham por si sós aptidão para compô-la (i.é:para qual a regra concreta, regular o conflito de interesses)”

5 Idem.6 MARINONI, Luis Guilherme. Novas Linhas do Processo Civil: O acesso à justiça e os institutos do direito processual- Volume 24. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1993.

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1.3.3.2. Escopo Social

A jurisdição através do processo não é meramente um instrumento técnico como posicionado anteriormente acima, mas também é um meio de realização dos fins do Estado e dos valores da sociedade, sendo assim um instrumento ético. Preceitua Luis Guilherme Marinoni que a jurisdição tem por finalidade o bem comum:

Não obstante, a noção de bem-comum é cambiante, devendo atenção ao momento cultural de um determinado povo. Aliás, nem poderia ser de forma diferente, pois todos os conceitos das ciências sociais constituem representação de uma dada visão cultural. Assim, a finalidade da jurisdição estaria na realização do bem comum que constitui a essência dos valores de um povo inserido em um determinado momento histórico.7

Outro aspecto de relevante significância, no que tange ao escopo social da jurisdição, é o compromisso desta com a educação para o pleno exercício dos direitos, sabendo-se que o cidadão será educado se tiver confiança no Poder Judiciário quanto a tutela de seus direitos, como bem argumenta Cândido Rangel Dinamarco:

Nessa dimensão, assume relevo o exemplo diuturno do Poder Judiciário. O funcionamento adequado das vias de pacificação social é que poderá levar o cidadão a retomar a confiança na administração da justiça, estimulando-o ao exercício dos seus direitos e ao respeito alheios8

7 MARINONI, Luis Guilherme. Novas Linhas do Processo Civil: O acesso à justiça e os institutos do direito processual. Volume 24. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1993.8 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1987.

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1.3.3.3. Escopo Político

A atividade jurisdicional tem como finalidades, também, a tutela e a garantia das liberdades públicas, ainda que estas estejam previstas na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. É certo que a jurisdição, nesse caso, é exercida mediante os remédios constitucionais garantidores das liberdades públicas face à violação das mesmas por parte do Poder Público. Nesse sentido, esclarece José Afonso da Silva:

Não deixam também de exercer um papel limitativo da atuação do Poder Público, quer, porque, existindo, este se comporta de maneira a evitar sofrer-lhes a impugnação, quer porque o exercício desses direitos-remédios pelos titulares dos direitos ou interesses violados ou ameaçados ou não satisfeitos nos termos da Constituição importa em impor correção a seus atos e atividades, o que é um modo de limitar. E mais, tais remédios atuam precisamente quando as limitações e vedações não foram bastantes para impedir a prática de atos legais e com excesso de poder ou abuso de autoridade9

Outrossim, ainda em relação ao fim político da jurisdição, deve-se atentar que esta tem a missão de realizar o ideal da democracia participativa, através de mecanismos jurídicos adequados, tais como ação popular, ações coletivas e ação de inconstitucionalidade, como bem adverte Luis Guilherme Marinoni:

A participação através da ação popular é deferida pela Constituição ao cidadão, entendido como o nacional no gozo de seus direitos políticos, que fica possibilitado, por intermédio dessa via, a influir na gestão da coisa pública. Não se entende, porém, a razão para a restrição da legitimidade ad causum ao cidadão tal como configurado quando o objetivo da ação é atacar a prática de atos lesivos ao patrimônio público para cuja composição concorrem todos os contribuintes. Não seria absurdo que estes- brasileiros ou não, eleitores ou não- tivessem igual legitimidade para agir em juízo.10

9 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1989.10 MARINONI, Luis Guilherme. Novas Linhas do Processo Civil: O acesso à justiça e os institutos do direito processual. Volume 24. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais, 1993.

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1.1.4. Uma visão contemporânea

Em que pesem os ensinamentos retro acerca do conceito de jurisdição, esta, no atual cenário contemporâneo, apenas será realizada de forma plena e justificada se o juiz, ao compor o conflito, respeitar os princípios constitucionais e os direitos fundamentais, bem como se estiver em conformidade com a realidade social, tal como destaca Luis Guilherme Marinoni:

Atualmente, para a aplicação da lei, diante do pluralismo que caracteriza a sociedade contemporânea, é imprescindível compreender o caso concreto. É preciso, antes de aplicar a lei, atribuir sentido e valor ao litígio. Ou seja, a jurisdição não mais se limita a tornar a lei abstrata quando da resolução do caso concreto, pois necessariamente deve atribuir sentido ao caso concreto para interpretar a lei e solucionar o litígio, exatamente por ser indiscutível que a sociedade e os casos concretos não podem ser regulados sem se considerarem as suas especificidades.11

Nesse mesmo sentido, discorre o autor sobre a incidência dos direitos fundamentais e princípios constitucionais na jurisdição:

Nenhuma lei pode contrariar os princípios constitucionais e os direitos fundamentais e, por isso mesmo, quando as normas ordinárias não podem ser interpretadas “de acordo”, têm a sua constitucionalidade controlada a partir deles. A lei deve ser compreendida e aplicada de acordo com a Constituição.Isso significa que o juiz, após encontrar mais de uma solução a partir dos critérios clássicos de interpretação da lei, deve obrigatoriamente escolher aquela que outorgue a maior efetividade à Constituição.Trata-se, desse modo, de uma forma de filtrar as interpretações possíveis da lei, deixando passar apenas a que melhor se ajuste às normas constitucionais.12

Ainda segundo o mesmo autor, deve-se pensar a jurisdição como instrumento para realização da democracia participativa e social, de forma a possibilitar a consecução dos anseios da sociedade:11 MARINONI, Luis Guilherme.Teoria Geral do Processo: Curso de Processo civil.Volume 1. 11ª Ed.São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,2011.12 Idem.

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A realização da democracia social e participativa constitui uma aspiração da sociedade contemporânea, embora seja possível afirmar que a democracia é meio para o encontro dos anseios da coletividade. Nessa dimensão, portanto, é claro que sempre dentro dos limites de suas funções- mesmo porque o próprio acesso à jurisdição é fruto da democracia social e participativa-, a jurisdição poderia ser pensada como destinada a realizar os objetivos desta aspiração social, ou seja, da democracia social e participativa.13

Diante de tais citações, percebe-se que o conceito de jurisdição se distancia do princípio da supremacia da lei à medida que o juiz não realiza apenas a subsunção da lei à situação fática, mas deve aplicar e ter como norte os direitos fundamentais no que tange à composição da lide, bem como sua destinação à democracia social e participativa.

1.2. Ação

1.2.1. Ação e JurisdiçãoSabe-se que a jurisdição não pode ser exercida pelo Estado

senão quando provocada, em respeito ao princípio da inércia, sendo certo que tal característica tem como fundamento a imparcialidade do juiz. Dessa forma, o interesse do autor faz com que a atividade jurisdicional do Estado seja iniciada, estando portanto, a ação e a jurisdição inevitavelmente vinculadas, isto é, a jurisdição carece de seu fim se não houver ação, haja vista que é tão somente com esta que a jurisdição alcança seus fins jurídicos, sociais e políticos.

Desse modo, é equivocado o entendimento da ação somente do ponto de vista do particular, quando, na verdade, a ação possibilita a realização dos fins da jurisdição, conforme assevera o ilustre processualista Luis Guilherme Marinoni:

Não obstante, numa perspectiva publicista, a ação visa possibilitar à jurisdição a realização dos seus fins. A ação não pode ser vista somente

13 MARINONI, Luis Guilherme. Novas Linhas do Processo Civil: O acesso à justiça e os institutos do direito processual- volume 24 São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1993.

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pelo prisma do particular interessado, pois importa a realização dos fins da jurisdição. A ação, portanto, está umbilicalmente ligada aos escopos da jurisdição.14

Daí, tem-se a conclusão de que a ação é um direito público subjetivo, de tal forma que, em harmonia com o princípio constitucional da inafastabilidade do controle jurisdicional, faz surgir para o Estado o dever de prestar tutela adequada ao plano do direito material, bem como às hipóteses conflitivas concretas.

1.2.2. Teorias da ação1.2.2.1. Teoria Civilista ou Imanentista da ação

Ao longo dos anos, teorias explicativas a respeito da natureza do direito de ação surgiram na tentativa de melhor compreender o instituto essencial para a ciência processual.

A primeira teoria, conhecida como civilista ou imanentista, influente até meados do século XIX, e formulada pelo alemão Friedrich Karl Von Savigny, compreendia a ação como o próprio direito substancial depois de violado, sendo certo que tal teoria é mero efeito na época a qual foi desenvolvida, na medida em que o Direito Processual não era visto como uma ciência autônoma e, sim, como acessório do Direito Civil, como leciona Alexandre Freitas Câmara:

Esta teoria é reflexo de uma época em que não se considerava ainda o Processo Civil como ciência autônoma, sendo o processo civil mero “apêndice” do Direito Civil. Por esta concepção, a ação era considerada o próprio direito material depois de violado.Tendo entre seus adeptos a figura magistral de Clóvis Beviláqua, a teoria civilista da ação via neste mero jus persequendi in judicio, ou seja, a ação era “ o mesmo direito em atitude de defesa”15

1.2.2.2. Teoria Concreta

14 Idem.15 CÃMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil-Volume 1. 21ª edição.Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,2011.

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Esta segunda teoria da ação, criada pelo processualista alemão Adolf Wach, consistia na autonomia do direito de ação, à medida que o diferenciava do direito material. Todavia, o direito de ação só existiria se houvesse correção com o direito substancial, sendo certo que o direito de ação apenas haveria naquelas situações em que o provimento final do processo fosse favorável ao autor da demanda.

Em suma, seus adeptos defendem que a ação seria o direito de se obter ,em juízo, uma sentença favorável, como bem ilustra Humberto Dalla Bernardina de Pinho:

Porém, segundo essa concepção, embora distinto do direito material, o direito de ação corresponderia a quem tivesse com razão, ou seja, só existiria quando a sentença fosse favorável. Se a sentença fosse de improcedência, o autor não teria o direito de ação desde o inicio. Só possuiria o direito de ação quem possuisse o direito material. Nesse sentido, a teoria defendia a existência do direito de ação somente quando houvesse uma proteção concreta voltada para um direito subjetivo.16

Em que pese a contribuição quanto à autonomia do direito de ação, em relação ao direito material, revelou-se tal teoria ultrapassada, haja vista que o acesso à justiça ficaria prejudicado.

1.2.2.3. Teoria Potestativa

A terceira teoria da ação - tendo como defensor principal Chiovenda- representa uma variante da Teoria Concreta, pois que também condiciona o direito de ação à obtenção de uma sentença favorável ao autor.

Ainda no que tange à presente teoria, o réu estaria submetido ao exercício do direito de ação do autor, sem possibilidade de apresentar 16 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de.Teoria Geral do Processo; Direito Processual Civil Contemporâneo.Volume 1. 5ª Ed, São Paulo: Editora Saraiva,2013

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qualquer óbice a tal direito. Assim, o direito de ação era visto com um direito potestativo, visto que os efeitos jurídicos pretendidos pelo autor deveriam ser impostos ao réu, sendo certo que, nesse caso, a ação ora direcionada tão somente em face do réu, afastando-se o Estado da relação.

1.2.2.4. Teoria Abstrata

Ao contrário das teorias anteriores, nesta, o direito de ação é exercido contra o Estado e o que obriga o réu a participar do processo é o próprio direito de agir, sendo que a existência do direito material é meramente acidental, conforme argumenta seu precursor, Degenkolb. Nesse sentido, aponta Humberto Dalla Bernardina de Pinho:

Assim, essa teoria teve o mérito de reconhecer a existência de um direito público, subjetivo, inquestionável, preexistente ao processo e desvinculado do direito material ao permitir que o autor, no exercício de seu direito de ação, fizesse apenas referência a um interesse seu, levando o Estado a proferir uma sentença por meio da atividade jurisdicional, ainda que contrária aos interesses autorais.17

1.2.2.5. Teoria Eclética

Fundada por Liebman, a presente teoria é a adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro no plano constitucional, de acordo com o artigo 5°, inciso XXXV, da CRFB/88, e que consiste na inafastabilidade do Poder Judiciário ante lesão ou ameaça a direito; também no plano infraconstitucional, já que consagrada nos artigos 3° e 267, inciso VI, ambos do Código de Processo Civil de 1973

Para Liebman, a ação é o “direito ao processo e ao julgamento do mérito”, o que não quer dizer a garantia de um resultado favorável ao demandante. Nota-se que, igual à teoria abstrata, teoria eclética trata a ação com um direito subjetivo, público e abstrato, só se diferenciando da primeira teoria, pois está sujeita a condições para a sua existência.

17 Idem.

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Para esta teoria, o direito de agir apenas existe se o autor preenche as condições da ação, sob pena de carência da ação e de julgamento sem resolução do mérito, conforme assevera Alexandre Freitas Câmara:

Difere, porém, a teoria eclética da abstrata por considerar a existência de uma categoria estranha ao mérito da causa, denominada condições da ação, as quais seriam requisitos de existência do direito de agir. Para a teoria que ora se examina, o direito de ação só existe se o autor preencher tais “condições”, devendo o processo ser extinto sem resolução do mérito se alguma delas estiver ausente(hipótese em que se tem o fenômeno que se costuma designar por “carência de ação”).18

1.2.3. Conceito

Ultrapassadas as teorias explicativas da natureza da ação, é mister, por agora, definir um conceito, ainda que se tenha inúmeros conceitos divergentes da presente temática.

É importante ressaltar que o direito de ação não é um direito exclusivo do autor, mas que também abrange a esfera do réu, configurando-se, portanto, um aspecto bifrontal do direito de ação, nas palavras de Humberto Theodoro Júnior:

Assim, como é lícito ao autor propor uma ação declaratória negativa, e isto reconhecidamente é exercício do direito de ação, que é autônomo e abstrato, o mesmo se passa quanto ao réu, que ao contestar o pedido do autor nada mais faz do que pretender uma sentença declaratória negativa. E é, justamente, isto que obtém quando o pedido do autor é declarado improcedente.19

Ante tal esclarecimento, pode-se delimitar o seguinte conceito de ação, ou melhor, do direito de ação a partir de Liebman, “A ação é,

18 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil-Volume 1. 21ª edição. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,2011.19 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil- Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento-Volume 1.Rio de Janeiro: Editora Forense, 2012.

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portanto, o direito subjetivo que consiste no poder de produzir o evento a que está condicionado o efetivo exercício da função jurisdicional”

Nesse mesmo sentido, assevera Hugo Alsina:

O exercício da ação colima, pois, um ato de jurisdição da parte do Estado; ao exigir o cumprimento de uma obrigação, aspira-se, em última análise, que o devedor entregue algo de seu patrimônio, preste um fato, ou que se esclareça uma situação incerta; mas, sob o ponto de vista processual, o que pretende é o restabelecimento da ordem jurídica, circunstância que caracteriza esta função de direito público.

Por fim, mas não menos importante, cumpre destacar a elucidação do doutrinador Rosemiro Pereira Leal acerca da ação:

Para nós, e é o que assinalamos neste livro, ação será sempre o mesmo que procedimento e o direito de ação será sempre instituto de direito constitucionalizado que enseja o exercício do direito de movimentar a jurisdição, seja de modo juridicamente adequado ou não, se misturando ao direito de agir que, para nós e perante várias legislações processuais, inclusive a brasileira, significa o direito de estar no procedimento... 20

1.3. Processo1.3.1. Conceito

Antes de tudo, deve-se ter em mente que o processo nada mais é que um instrumento ou mecanismo pelo qual o Estado exerce seu poder de forma legítima, garantindo o contraditório para as partes quanto aos atos processuais. Na visão de Luis Guilherme Marinoni, temos o seguinte conceito de processo:

A jurisdição, como vimos, constitui manifestação do poder do Estado. Tem, como era de se esperar, vários escopos. O processo

20 LEAL, Rosemiro Pereira.Teoria Geral do Processo; Primeiros Estudos. 10ª edição. Rio de Janeiro, Editora Forense,2011.

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jurisdicional, portanto, é o instrumento que permite à jurisdição a consecução de seus objetivos. Em outros termos, a jurisdição realiza o poder Estatal através do processo jurisdicional. O processo jurisdicional tende a um provimento, que configura ato de poder. Este ato de poder, para ser legítimo, deve ser fruto de um procedimento que realmente permita a participação em contraditório. É a participação das partes legitimando o ato de poder que se concretiza o provimento jurisdicional. A legitimação do exercício da jurisdição, pois, depende da efetividade do contraditório.21

Temos, portanto, que o processo só é legítimo e, consequentemente, o provimento jurisdicional também, quando houver efetiva participação das partes legitimadas, sendo necessário o respeito inevitável ao princípio constitucional do contraditório no processo. Nesse mesmo entendimento, preceitua Alexandre Freitas Câmara: “E este pode ser definido, a meu juízo, como o procedimento, realizado em contraditório, animado pela relação jurídica processual”22.

Corroborando, ainda, tal entendimento, ilustra Rosemiro Pereira Leal a respeito do instituto do processo:

Buscou Fazzalari, na lógica da estrutura do procedimento, o traço (a diferença especifica), não arquétipo ou cânone, que pudesse distinguir o processo e o procedimento, chegando a seguinte conceituação que, desmitificando a ideia de processo e cientificizando os estudos do Direito Processual, pode ser assim colocada: processo é a espécie de procedimento em contraditório, entre as partes, em simétrica paridade, na preparação do provimento jurisdicional.23

21 MARINONI, Luis Guilherme. Novas Linhas do Processo Civil: O acesso à justiça e os institutos do direito processual- Volume 24. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1993.22 CÃMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil-Volume 1.21ª edição. Rio de Janeiro.Editora: Lumen Juris,2011.23 LEAL, Rosemiro Pereira.Teoria Geral do Processo; Primeiros Estudos. 10ª edição. Rio de Janeiro, Editora Forense,2011.

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1.3.2. Processo e Procedimento

Importante salientar a diferença entre processo e procedimento uma vez que são diferentes e não podem se confundir, sob pena de prejudicarmos a técnica processual e, consequentemente, a própria ciência processual. Hodiernamente, não podemos conceber o processo como mero procedimento.

Para tanto, é mister a lição do renomado jurista Humberto Theodoro Junior:

O método, isto é, o sistema de compor a lide em juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito público, enquanto procedimento é a forma material com que o processo se realiza em cada caso concreto24

Nesse mesmo sentido, é o ensinamento do processualista Ernane Fidélis dos Santos:

Processo e procedimento são termos que não se confundem. O primeiro é a soma de atos que têm fim determinado, não importando a marcha que toma para atingi-lo. O segundo é o modo pelo qual o processo se forma e se movimenta, para atingir o respectivo fim25.

Sendo assim, é notória a diferença existente entre os dois conceitos, de tal forma que o primeiro é destinado a determinado fim, qual seja o da prestação jurisdicional enquanto que o segundo, procedimento, é a forma pela qual o processo se desenvolve. Ainda nessa seara, adverte Alexandre Freitas Câmara:

...o processo é uma entidade complexa, de que o procedimento é um dos elementos formadores.O procedimento, como visto, é o aspecto extrínseco do processo. O processo não é o procedimento, mas o resultado da soma de diversos fatores, um dos quais é

24 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil- Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento.Volume 1.Rio de Janeiro: Editora Forense, 2012.25 SANTOS, Ernane Fidélis dos- Manual de direito processual civil. 4ª edição. São Paulo, Editora Saraiva.4ª Ed, 1996.

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exatamente o procedimento (e os outros são o contraditório e a relação jurídica processual)26.

Nessa mesma linha, o processo nada mais é que uma espécie de procedimento que tem como qualidade acrescida o princípio constitucional do contraditório, sendo certo que é possível que haja procedimento sem processo, como bem assevera o doutrinador Rosemiro Pereira Leal:

Com efeito, o Processo define-se em Fazzalari por uma qualidade acrescida ao procedimento denominado contraditório. Quando o procedimento não se faz em contraditório, tem-se somente procedimento, não processo. Isso não quer dizer que os procedimentos, sem processo, sejam ilegais, porque há vários procedimentos (legislativos, executivos, administrativos, judiciais e jurisdicionais), que, embora legais, dispensam o contraditório, já que muitos procedimentos não se fazem sob o regime de contenciosidade ou de deliberação...27

Por derradeiro, resta definir precisamente o conceito de procedimento, em que pese já se ter elucidado que o processo tem como qualidade intrínseca o contraditório, este previsto como princípio constitucional em nossa Carta Magna. Assim, procedimento desvinculado do contraditório pode ser compreendido como uma manifestação resultante do complexo normativo do ordenamento jurídico vigente, conforme entendimento de Rosemiro Pereira Leal:

O Procedimento, distinguindo-se do processo, pela ausência da qualidade constitucional principiológica do contraditório, é que deve merecer estudo especial para defini-lo, não mais como a ritualística manifestação perceptível do processo, mas como uma estrutura técnica de atos jurídicos praticados por sujeitos de direito, que se configura pela sequência obediente à conexão de normas preexistentes

26 CÃMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil-Volume 1. 21ª edição.Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,2011.27 LEAL, Rosemiro Pereira.Teoria Geral do Processo: Primeiros Estudos. 10ª edição. Rio de Janeiro, Editora Forense,2011.

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no ordenamento jurídico indicativas do modelo procedimental. De conseguinte, o procedimento é manifestação estrutural resultante do complexo normativo da positividade jurídica.28

1.3.3 Princípios 1.3.3.1Princípio do Contraditório Sabe-se que o princípio do contraditório tem fundamento

constitucional previsto no artigo 5°, inciso LV, da CRFB/88, bem como é um dos princípios institutivos do processo haja vista que toca a própria existência do processo, e sem o qual não se faz possível a configuração do processo, em parâmetros modernos.

O princípio em estudo tem alcance tanto na esfera judicial como no âmbito administrativo, garantindo aos litigantes - e tão somente a estes - a informação a todos os atos processuais, como bem discorre o ilustre processualista Nelson Nery Junior:

Por contraditório deve entender-se, de um lado, a necessidade de dar conhecimento da existência da ação e de todos os atos do processo às partes, e de outro, a possibilidade de as partes reagirem aos atos que lhes sejam desfavoráveis. Garantir-se o contraditório significa, ainda, a realização da obrigação de noticiar (Mitteilungspflicht) e da obrigação de informar (Informationspflicht) que o órgão julgador tem, a fim de que o litigante possa exteriorizar suas manifestações. Os contendores têm direito de deduzir suas pretensões e defesas, de realizar provas que requereram para demonstrar a existência de seu direito, em suma, direito de serem ouvidos paritariamente no processo em todos os seus termos.29

É oportuno observarmos que o não respeito ao contraditório, poderá ter como efeito a anulação do processo ou procedimento, tendo como fundamento o cerceamento de defesa.

28 Idem.29 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo na Constituição Federal. 10ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

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1.3.3.2.Princípio da Isonomia

A amplitude do princípio constitucional da isonomia é de substancial aplicação no ordenamento jurídico pátrio, de forma que incide, no presente sistema processual, em inúmeras situações, tais como: beneficio de prazo quando uma das partes for a Fazenda Pública, ou se tratando de litisconsortes com procuradores diferentes, de remessa obrigatória em favor da Fazenda Pública, bem como nos casos de suspensão da execução liminar, ou de sentença dada contra o poder público.

Portanto, segundo os ensinamentos de Nelson Nery Júnior, pode-se entender que a isonomia tem aspecto substancial:

Por isso é que são constitucionais dispositivos legais discriminadores, quando desigualam corretamente os desiguais, dando-lhes tratamento distintos; e são inconstitucionais os dispositivos legais discriminadores, quando desigualam incorretamente os iguais, dando-lhes tratamentos distintos. Deve buscar-se na norma ou texto legal a razão da discriminação: se justa, o dispositivo é constitucional; se injusta, é inconstitucional.30

1.3.3.3. Princípio do Juiz Natural

O presente princípio nada mais é que um corolário do estado de direito, na medida em que presta a imparcialidade quanto à atividade jurisdicional, sendo certo que é, igualmente, um postulado constitucional, previsto nos incisos XXXVII e LIII da Carta Magna de 1988.

Segundo Nelson Nery Júnior, deve-se ter uma visão tridimensional deste preceito constitucional, qual seja:

A garantia do juiz natural é tridimensional. Significa que: 1) não haverá juízo ou tribunal ad hoc, isto é, tribunal de exceção; 2) todos têm o direito de se submeter a julgamento (civil ou penal)

30 Idem.

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por juiz competente, pré-constituído na forma da lei; 3) o juiz tem de ser imparcial.31

Tribunal de exceção é aquele criado posterior ao fato, bem como posiciona Nelson Nery Júnior “... para julgar num ou noutro sentido, com parcialidade, para prejudicar ou beneficiar alguém, tudo acertado previamente”32

1.3.3.4. Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional

Consagrado na CF/88,art. 5°, inciso XXXV, o princípio em análise revela que o Estado, ante uma lesão ou ameaça a direito, não poderá deixar de prestar tutela jurisdicional, devendo esta ser realizada de forma adequada a demanda individual ou metaindividual.

Para melhor ilustrar o presente princípio, importante é destacar o seguinte entendimento do mesmo renomado processualista:

Pelo princípio constitucional do direito de ação, além do direito ao processo justo, todos têm o direito de obter do Poder Judiciário a tutela jurisdicional adequada. Não é suficiente o direito à tutela jurisdicional. É preciso que essa tutela seja a adequada, sem o que estaria vazio de sentido o princípio. Quando a tutela adequada para o jurisdicionado for medida urgente, o juiz, preenchidos os requisitos legais, tem de concedê-la, independentemente de haver lei autorizando, ou, ainda, que haja lei proibindo a tutela urgente.33

1.3.3.5. Princípio da Duração Razoável do Processo

Elencado no rol de direitos fundamentais na Constituição da Republica Federativa de 1988 com a edição da Emenda Constitucional 54/04, o princípio em estudo - tema também nuclear do presente 31 Idem.32 Idem.33 Idem.

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trabalho - consiste no desdobramento do direito de ação à medida que a tutela jurisdicional deve ser prestada em consonância com o tempo necessário para cada processo em concreto. Nesse sentido, discorre Nelson Nery Junior:

O princípio da duração razoável duração do processo possui dupla função porque, de um lado, respeita ao tempo do processo em sentido estrito, vale dizer, considerando-se a duração que o processo tem desde seu inicio até o final com o trânsito em julgado judicial ou administrativo, e de, outro, tem a ver com a adoção de meios alternativos de solução de conflitos, de sorte a aliviar a carga de trabalho da justiça ordinária, o que, sem dúvida, viria a contribuir para abreviar a duração média do processo.34

Portanto, vê-se que o princípio tem seu alcance não somente no âmbito judicial, mas também na esfera administrativa, de forma a efetivar o direito de ação.Ainda, segundo o processualista Nelson Nery Júnior, a razoabilidade da duração do processo deve ser aferida por critérios objetivos, quais sejam:

Esses critérios objetivos são: a) a natureza do processo e complexidade da causa; b) o comportamento das partes e de seus procuradores; c) a atividade e o comportamento das autoridades judiciárias e administrativas competentes; d) a fixação legal de prazos para a prática de atos processuais que assegurem efetivamente o direito ao contraditório e à ampla defesa35

1.3.4. Origens

Para melhor compreensão do atual e do futuro sistema do processo civil brasileiro, faz-se necessário conhecer a história do mesmo, bem como os fundamentos pretéritos que o construíram.

34 Idem.35 Idem.

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1.3.4.1. Período Clássico

Como bem preceitua o ilustre processualista Humberto Theodoro Júnior:

Desde o momento em que, em antigas eras, se chegou à conclusão de que não deviam os particulares fazer justiça pelas próprias mãos e que seus conflitos deveriam ser submetidos a julgamento de autoridade pública, fez-se presente a necessidade de regulamentar a atividade da administração da Justiça.36

Nesse sentido, ainda em sua forma embrionária, o processo civil surgia no mundo clássico greco-romano, desvinculado da religiosidade e superstição, à medida que a lógica era o critério primordial para o desenvolvimento do processo.

Em que pese a característica positiva da antiga Grécia quanto à lógica como fundamento do processo, este se desenvolvia pelo princípio da oralidade, e havia restrições no que tange à apreciação de algumas provas, em especial a testemunhal uma vez que mulheres e crianças não poderiam ser testemunhas no processo.

No que toca ao direito processual civil romano, este sofreu substancial influência quanto ao modo de apreciação das provas, já que o Juiz era visto como um árbitro que compunha o conflito entre pessoas sempre que houvesse lacuna na lei. É de fundamental importância conhecermos as três fases que marcaram o processo civil romano.

A primeira compreendeu o período entre a fundação de Roma até o ano de 149 a.C, e que foi denominada legis actiones. Naquele momento, o procedimento era oral, de rigorosa solenidade, bastando um equívoco quanto ao gesto para que o processo fosse prejudicado, o que mostrava uma formalidade excessiva para a prática dos atos.

Outrossim, cumpre destacar que não havia a capacidade postulatória, ou seja, o legitimado tinha ao mesmo tempo capacidade de propor a ação pessoalmente, sem a intervenção de advogado. Também a sentença era proferida pelos cidadãos, e a tarefa do juiz se limitava a 36 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil- Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento-Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2012.

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dizer qual era o objeto da lide em questão, sendo certo que, no período, o legitimado apenas poderia propor cinco ações previstas à época.

Na segunda fase, denominada período formulário, o juiz concedia fórmulas de ações para a composição da lide, haja vista que, devido ao Império Romano conquistar novos territórios, as relações restaram mais complexas e imprevisíveis ante o magistrado.

Naquela época, era necessária a presença de advogado quanto ao processo, respeitada a pretensão do legitimado para a propositura da ação. Interessante característica é que, apesar de a sentença ser proferida por particulares, a sua execução era imposta pelo Estado.

Por último, o período conhecido como cognitio extra ordinem, que vigorou entre o ano 200 e o ano 565 da presente era, em que se constatavam indícios do moderno processo civil, uma vez que os atos processuais eram escritos e delimitados, assim como o processo era mais bem definido. Igualmente, a função de compor conflitos não pertencia mais aos árbitros privados, mas, agora, ao monopólio estatal de conhecer e executar o direito.

1.3.4.2. A Escuridão do Processo

Com a decadência do Império Romano, os povos germânicos impuseram seus costumes, e consequentemente, a observância de seu direito vigente. O direito então ficou fundamentado em práticas religiosas e consuetudinárias, o que, inevitavelmente, prejudicou o direito processual romano com o uso de preceitos rudimentares para a composição da lide.

O valor probatório não era mais o de livre convicção do julgador, pois que o direito positivo já determinava a valoração e a consequência para a situação fática, mediante práticas absurdas de “duelos judiciais” e as “ordálias”. Não se buscava, portanto, a verdade real, tendo em vista que os julgamentos eram baseados em premissas religiosas e místicas.

Outrossim, não havia distribuição do ônus da prova até porque cabia ao acusado somente fazer prova para desconstituir o direito daquele que o estava acusando.

Em meados do século XVI, com a criação das Universidades,

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houve uma fusão de institutos do direito romano com os do germânico. Dessa feita, a prova e a sentença voltaram a ter fundamentos precípuos no direito romano, em que pese perdurar a tortura como meio de obtenção da verdade no processo.

1.3.4.3. O Processo Civil Moderno

Com a Revolução Francesa no ano de 1789, até o início do século XX, o processo civil foi desvinculado das provas tarifadas, bem como o juiz começou a ter o livre convencimento acerca da apreciação das provas produzidas no processo, e também, lhe foi outorgado o poder para instruir provas de ofício, sem a provocação das partes, em busca sempre da verdade real ou material no processo.

Nesse período, o processo passou a ser concebido como meio fundamental de pacificação social e de atendimento ao fim do direito objetivo. Dessa forma, os princípios norteadores do processo civil começaram a surgir, tal como a relevância do interesse público no desenvolvimento do processo ante os próprios interesses privados das partes envolvidas no conflito.

Conforme bem preceitua Humberto Theodoro:“Essa concepção prevalece hoje na quase unanimidade dos

Códigos europeus e da América Latina, inclusive no atual e avançado Código de Processo Civil brasileiro ( de 1973)”37

1.4. O Atual Processo Civil Brasileiro

O início do processo civil brasileiro teve fundamento e origem, eminentemente, nas normas processuais provindas das Ordenações Filipinas de 1603, editadas por Felipe I. Eram marcadas por influências do direito romano e do direito canônico. Tinham como características inerentes: a forma escrita do processo; a movimentação como privilégio das partes em litígio; os recursos contra decisões interlocutórias tinham efeito suspensivo; e o processo 37 Idem.

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era impulsionado somente com a manifestação inequívoca das partes, não aparecendo, portanto, o princípio do impulso oficial do processo.

O regime jurídico das Ordenações do Reino fomentou a independência jurídica brasileira, à medida que, por decreto imperial, as leis portuguesas extravagantes posteriores, bem como as Ordenações Filipinas, foram mantidas em vigor, desde que estivessem em consonância com a soberania brasileira.

Em 1850, foi editado, no Brasil, o Regulamento n° 737, que revelou o primeiro Código Processual Nacional, só que era destinado a regular relações comerciais, advindas do Código Comercial do mesmo ano.

Ulteriormente, por força do Regulamento n° 763, de 1890, foram estendidas as normas processuais do Regulamento n° 737 às causas cíveis uma vez que, na era republicana, já se havia estabelecido a legislação formal civil, no ano de 1876.

Ocorre que, em 1891, com a promulgação da Constituição da República do Brasil, tivemos a edição de códigos de processo civil pelos estados, de forma que o constituinte estabeleceu uma dicotomia entre a Justiça Federal e a Estadual, na medida em que tínhamos um direito processual da União e um de cada Estado da Federação.

Assim, diante da edição de inúmeros códigos estaduais que em nada inovavam quanto ao código da União, fez-se necessária, com a Constituição de 1934, a instituição de um processo unitário, atribuindo somente à União a competência para legislar sobre processo. Apesar da previsão constitucional de um código unitário, somente em 1939 é que foi promulgado o Código Nacional de Processo Civil, tendo como um de seus colaboradores Pedro Batista Martins.

Embora unificado para todo o território nacional, o Código de 1939 apresentava sérios problemas, conforme destaca o doutrinador Sérgio Bermudes:

“... uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislações alemã, austríaca, portuguesa e nos trabalhos de revisão legislativa da Itália, e uma parte especial anacrônica, ora demasiadamente fiel ao velho processo lusitano, ora totalmente assistemática”38

38 BERMUDES, Sergio. Iniciação ao Estudo de Direito Processual Civil, 1ª Edição.Rio de Janeiro: 1973, Editora RT,1973.

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1.4.1. O Código de Processo Civil de 1973

A reforma do Código de 1939 somente se deu após anos de discussão e, finalmente, foi promulgado o Código de Processo Civil de 1973, sendo certo que o anteprojeto foi redigido pelo Ministro Alfredo Buzaid e, posteriormente, revisto pela Comissão de Juristas formada por José Frederico Marques, Luiz Machado Guimarães e Luís Antonio de Andrade.

O Código foi estruturado com base na tríplice divisão do processo civil, conforme as modalidades distintas de prestação jurisdicional por parte do Estado, a saber: Processo de conhecimento, Processo de execução e Processo cautelar, seguindo , assim, as tendências europeias de legislação processual.

Nesse sentido, cabe salientar a divisão sistemática do atual código, de forma a esclarecer eventuais dúvidas em relação ao seu conteúdo.

O primeiro livro, titulado como “Do Processo de Conhecimento”, disciplina a forma pela qual o direito será revelado, tratando das partes, da competência, dos ritos, das provas, dos recursos, da sentença, da coisa julgada, bem como da tramitação do processo nos tribunais.

Em seu segundo livro, denominado Do Processo de Execução, tem-se a premissa de que o direito já foi conhecido em vista do processo de conhecimento (título executivo judicial), ou presume-se que já seja legítimo, no que tange às ações de título extrajudicial embasadas, por exemplo, em documentos particulares dotados de força executória). Deve-se ressaltar que o Código resolveu a problemática acerca da distinção entre ação executiva e executória.

No mais, nos livros III e IV, o Código tratou, respectivamente, de assuntos que têm como objetivo assegurar a efetividade do processo principal com a disposição do processo cautelar a partir da discriminação de cautelares específicas e em caso de não previsibilidade, imputou ao magistrado o poder geral de cautela, previsto no artigo 798 do Código de Processo Civil de 1973. No que concerne ao livro IV, o legislador tratou de colocar procedimentos especiais que tutelam situações fáticas que precisam de um

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atendimento diferenciado. Assim, separou o referido livro em jurisdição contenciosa a jurisdição voluntária.

Conforme assevera Humberto Theodoro Junior no que tange ao livro em assunto que:

“... Conferiu ao juiz, outrossim , poderes para apreciar e decidir os pedidos não contenciosos, sem se ater à observância do critério da legalidade estrita” podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna”39

Por derradeiro, o último livro somente trata em 10 artigos sobre as disposições transitórias ao cuidar em especial acerca do direito intertemporal na mudança de diploma processual.

O atual código de processo civil veio com a função essencial de afastar o entendimento individualista do processo civil em que este é era visto como destinação tão somente às partes envolvidas nele. Os interesses da coletividade eram postos de lado e tudo se desenvolvia acerca da individualidade.

Atento ao cenário pós-guerra, os responsáveis pela elaboração do presente código nortearam suas ideias em que o processo deve cumprir sua função social e preservar a existência de direitos coletivos e difusos de determinada sociedade, sendo certo que novos institutos processuais foram criados para tal fim, a saber: ação civil pública, o mandado de segurança coletivo, os juizados especiais cíveis etc.

39 THEODORO JUNIOR, Humberto.Ibidem.

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2.1. Paradigmas e suas consequências

Sabe-se que a ciência jurídica é eminentemente empírica e que suas normas são elaboradas de acordo com a realidade social vigente, isto é, o direito tenta prever e regular as condutas a partir de determinado dado fático em certo espaço e tempo.

Nesse sentido, Código de Processo Civil de 1973 sofreu inúmeras alterações na medida em que a sociedade e seus anseios surgiam, o que, inevitavelmente, culminou na edição de diversas leis esparsas. A partir disso, várias inovações foram trazidas na legislação processual, podendo-se citar as leis 9494/97 (que generalizou a antecipação de tutela), 10352/01 (reforma do sistema recursal), 10358/01 (alterou o processo do conhecimento) e 10444/02 (que alterou substancialmente o processo de execução). Outrossim, podemos citar, ainda, outras medidas inovadoras, tais como: a nova sistemática do agravo de instrumento, a ampliação dos títulos executivos, a racionalização do procedimento sumário, a criação da ação monitória, o reforço da executividade das obrigações de fazer e não fazer, bem como a outorga de auto-exequibilidade a todas as sentenças condenatórias e súmula vinculante.

Tem-se, em tempos hodiernos, uma visão instrumentalista do direito processual à medida que este busca uma aproximação do direito substancial, afastando, assim, a rígida concepção de uma excessiva independência da ciência processual. Dessa forma, cumpre

CAPÍTULO 2. A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO PROCESSO CIVIL

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registar o entendimento do ilustre processualista Humberto Theodoro Junior no que tange à temática:

As reformas por que vem passando o direito processual civil, entre nós, refletem uma tomada de posição universal cujo propósito é abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas, para dedicar-se à busca de mecanismos destinados a conferir à tutela jurisdicional o grau de efetividade que dela se espera. Hoje, o que empolga o processualista comprometido com o seu tempo é o chamado “processo de resultado”. Tem-se plena consciência de que o processo, como instrumento estatal de solução de conflitos jurídicos, deve proporcionar, a quem se encontra em situação de vantagem no plano jurídico-substancial, a possibilidade de usufruir concretamente dos efeitos dessa proteção.40

Em que pese o esforço para que a tutela jurisdicional seja mais efetiva e o processo mais instrumental, o atual cenário jurídico-processual está longe de representar o ideal querido. É preciso, antes de tudo, superar os paradigmas que beneficiam a morosidade judicial e prejudicam a razoável duração do processo. Mas, tal tarefa só é possível com a compreensão dos paradigmas a partir de seus elementos históricos e sociais.

O primeiro paradigma consiste no excesso de formalismo, sendo certo que tal característica teve como origem no Iluminismo pois que devido ao autoritarismo do antigo regime, o Judiciário teve que se submeter a diversos atos processuais. No que tange ao referido assunto, é importante ressaltar o entendimento do processualista Luiz Fux:

“Trata-se do que Montesquieu preconizava; vale dizer: deverem os juízes ser apenas “la bouche de la loi”. Esse falso garantismo impregnou o processo de forma tão rígida de um excesso de etapas até o advento da solução judicial que as formas usuais de prestação

40 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil- Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento-volume 1- Rio de Janeiro, Editora Forense, 2012.

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de justiça alcançaram níveis alarmantes de insatisfação popular, arrastando nesse quadro, o descrédito do Poder Judiciário41

O segundo paradigma foi na verdade um reflexo de uma política jurídica afirmativa proposta pela Carta Magna de 1988 na medida em que esta teve como função a conscientização do povo brasileiro quanto aos seus direitos. Desta forma, tivemos uma litigiosidade desenfreada e em sentido oposto, diminuiu a capacidade estatal de expandir os serviços de administração da justiça de modo a criar uma oferta de justiça compatível com a procura verificada.

Por fim, o último paradigma diz respeito à prodigalidade do sistema recursal no atual Código de Processo Civil de 1973, sendo certo que inúmeros são os recursos que podem ser interpostos com vistas a modificar a decisão, o que, inevitavelmente, causa de modo substancial uma morosidade quanto à prestação da tutela jurisdicional.

Portanto, temos as causas, ou melhor, os paradigmas que fomentam a morosidade judicial, bem como a ineficácia da tutela jurisdicional e prejudicam a razoável duração do processo, como bem aponta o então ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux:

Ressoa evidente que as três causas importantes reclamavam ser enfrentadas: as excessivas solenidades processuais das quais o processo civil brasileiro encontrava-se prenhe; o excessivo número de demandas e a prodigalidade recursal na ótica antes apontada42

Ora, a superação de tais paradigmas tem como escopo a aproximação do processo civil ante a demanda social, isto é, a ciência processual deve estar em harmonia, de forma a atender as necessidades sociais, bem como se adequar a realidade social brasileira em todos os seus aspectos, conforme o trecho infra do relatório final do projeto de lei nº 6,025/05 e 8,046/10, tendo como relator- geral o deputado Paulo Teixeira:41 BARBOSA, Andrea Carla...[et al.]; coordenador Luiz Fux; O novo processo civil brasileiro( direito em expectativa) Rio de Janeiro, Editora Forense, 2011.

42 BARBOSA, Andrea Carla...[et al.]; coordenador Luiz Fux; O novo processo civil brasileiro (direito em expectativa) Rio de Janeiro, Editora Forense, 2011.

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Por outro lado, existem muitas causas, motivos e argumentos plausíveis a justificar a renovação do arcabouço processual civil brasileiro por uma nova lei, que, de fato, despertaram o interesse e permitiram o envolvimento de considerável gama de operadores do Direito em torno das discussões que se impuseram para o atingimento de tão nobre propósitoO CPC atual passou por muitas revisões (mais de sessenta leis o modificaram), tão substanciais algumas delas que terminaram por acarretar grande perda sistemática, o principal atributo que um código deve ter.Nas quatro décadas de vigência do CPC atual, o país e o mundo passaram por inúmeras transformações. Muitos paradigmas inspiradores desse diploma legal foram revistos ou superados em razão de mudanças nos planos normativo, científico, tecnológico e social.43

2.2. Breve Histórico do Projeto do Novo CPC

Visto que o Código de Processo Civil de 1973 se apresentava de forma assistemática e que, não mais refletia os anseios sociais, a Presidência do Senado federal, mediante os atos ns.379 e 411, de 2009, instituiu a Comissão de Juristas para a elaboração do Anteprojeto do Código de Processo Civil com vistas a resolver o problema da morosidade judicial e superar os paradigmas já apresentados , quais sejam: o excesso de formalidades, a prodigalidade recursal e a litigiosidade desenfreada.

A entrega do anteprojeto ao Presidente do Senado Federal, Senador José Sarney, se deu no dia 8 de junho de 2010, sendo certo que a exposição de motivos contempla o objeto nuclear dos estudos da Comissão, qual seja: cumprir a promessa constitucional da razoável duração do processo.

Com a apresentação do anteprojeto, este passou a tramitar como o Projeto de Lei 166/10 no Senado Federal e, posteriormente

43 TEIXEIRA, Paulo; Relator Geral da Comissão Especial Destinada a Proferir Parecer ao Projeto de Lei nº6025 de 2005, Ao projeto de lei n° 8046 de 2010, Ambos do Senado Federal, e outros que tratam do “Código de Processo Civil” (Revogam a Lei nº5.869 de 1973)

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encaminhado à Câmara dos Deputados, passou a ser numerado como Projeto de Lei n°8046/10, sendo certo que na Câmara foi instituída, na data 16/06/2011, uma Comissão Especial para estudar o referido projeto.

Desde setembro de 2011, a Câmara dos Deputados vem debatendo o Projetos de lei nº 8.046/10 e 6025/05, assim como as proposições correlatas (projetos de lei apensados, emendas à Comissão e emendas e subemendas dos Relatores-Parciais)

Ao longo do período, foram realizadas 15 audiências públicas na Câmara dos Deputados e 13 conferenciais Estaduais, sendo certo que foram ouvidos uma média de 140 palestrantes especialistas em processo civil, além dos participantes das mesas redondas.

Insta ressaltar, que foram apresentadas mais de 800 emendas pelos Deputados da Comissão Especial revisora do projeto de lei 8.046/10. Igualmente, foram apensados 146 projetos de lei que tramitavam na presente casa.

A versão do projeto aprovado pelo Senado Federal CPL n° 1566/10, foi disponibilizada no site da Câmara dos Deputados, possibilitando, assim, a discussão por parte da população. O Portal E-Democracia registrou 25.300 acessos, 282 sugestões, 143 comentários e 90 e-mails.

O projeto de lei do Novo CPC adotado pela Câmara dos Deputados pretende sistematizar o processo civil e aproxima-lo da realidade jurídica atual. Neste sentido, destacamos alguns pontos, relacionados à razoável duração do processo, mencionados no relatório final adotado pela comissão:

No Brasil praticamente não existia a arbitragem em 1973. Atualmente, o Brasil é o quarto país do mundo em número de arbitragens realizadas na Câmara de Comércio Internacional. O CPC de 1973 pressupôs a realidade da arbitragem daquela época. É preciso construir um código afinado à nova realidade, para se prever, por exemplo, o procedimento da carta arbitral e instituir a possibilidade de alegação autônoma de convenção de arbitragem;(...)f) afigura-se necessário criar uma disciplina jurídica minuciosa para a interpretação, aplicação e estabilização dos precedentes judiciais, estabelecendo regras que auxiliem na identificação, na interpretação e na superação de um precedente;

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g) o processo em autos eletrônicos é uma realidade inevitável, podendo-se afirmar que o Brasil é dos países mais avançados do mundo nesse tipo de tecnologia e que, em poucos anos, a documentação de toda tramitação processual no Brasil será eletrônica, devendo o CPC bem disciplinar essa realidade.44

2.3. A Razoável Duração do Processo

2.3.1. Conceito Para tudo existe um tempo. Tempo de nascer. Tempo de

começar a engatinhar. Tempo de andar. Tempo de fazer escolhas. Tempo para descansar. O que deve ser compreendido é que cada ser humano tem o seu tempo de desenvolvimento e deve ser respeitado para que consiga atingir seus objetivos.

Nesse sentido, o tempo processual não é diferente. Cada processo tem a sua duração diferenciada em virtude do objeto pretendido, caso o contrário teremos a supressão de outras garantias fundamentais constitucionais.

Atualmente, em razão do avanço das tecnologias de comunicação, as relações intersubjetivas estão cada vez dinâmicas e complexas, imprimindo, desta forma, uma maior cobrança dos jurisdicionados e administrados para que haja solução rápida dos processos judiciais.

É diante desse cenário que o projeto do novo Código de Processo Civil foi elaborado, isto é, atribuir uma possibilidade jurídica ao princípio da razoável duração do processo, sendo este acrescentado - com a emenda constitucional 45/04 ou também denominada “Reforma do Judiciário” - ao rol dos direitos fundamentais, de acordo com a inteligência do artigo 5º, inciso LXXXVIII de CRFB/88:

44 TEIXEIRA, Paulo; Relator Geral da Comissão Especial Destinada a Proferir Parecer ao Projeto de Lei nº6025 de 2005, Ao projeto de lei n° 8046 de 2010, Ambos do Senado Federal, e outros que tratam do “Código de Processo Civil” ( Revogam a Lei nº5.869 de 1973)

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A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Antes de estudar o conteúdo do referido princípio, é preciso compreender o que é um princípio. Segundo José Afonso da Silva é possível entender e limitar a conceituação de princípio a partir de sua finalidade:

Os princípios são ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas, são [como observam Gomes Canotilho e Vital Moreira] ‘núcleos de condensações’ nos quais confluem valores e bens constitucionais.45

Outrossim, importante é o entendimento de Robert Alexy quanto à definição de princípio:

Os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes. Assim, os princípios são mandamentos de otimização, caracterizados pelo fato de que podem ser cumpridos em diferentes graus, e de que seu cumprimento não somente depende das possibilidades reais, mas também das jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e regras postas.46

Nas lições do professor Luis Roberto Barroso, tem-se, contemporaneamente, uma dimensão normativa dos princípios:

Na trajetória que os conduziu ao centro do sistema, os princípios tiveram de conquistar o status de norma jurídica, superando a crença de que teriam uma dimensão puramente axiológica, ética, sem eficácia jurídica ou aplicabilidade direta e imediata. A dogmática moderna avaliza o entendimento de que as normas em geral, e as normas constitucionais em particular, enquadram-se em duas grandes categorias diversas: os princípios e as regras. Normalmente, as regras contêm relato mais objetivo, com incidências restrita às situações específicas às quais se dirigem. Já os princípios têm maior teor de

45 SILVA, Jose Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1989.46 JUNIOR, Nelson Nery. op.cit.

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abstração e uma finalidade mais destacada no sistema. Inexiste hierarquia da Constituição. Isto não impede que os princípios e regras desempenhem funções distintas dentro do ordenamento.47

Ora, diante do exposto, percebe-se que os princípios foram elevados ao status de norma jurídica e que sua observância é fundamental na medida em que tem por escopo harmonizar o ordenamento jurídico vigente. Ademais, deve-se atentar que a aplicação principiológica está condicionada às possibilidades jurídicas e fáticas, sendo que as primeiras são determinadas pelos princípios e regras opostas.

Superada a parte conceitual de princípio, faz-se necessário compreender o real sentido do princípio da razoável duração do processo, uma vez que é o objeto principal de estudo do presente trabalho.

Assim, nas palavras precisas e cristalinas do ilustre processualista Nelson Nery Junior acerca do tema, temos:

O princípio da razoável duração do processo possui dupla função porque, de um lado, respeita ao tempo do processo em sentido estrito, vale dizer, considerando-se a duração que o processo tem desde seu início até o final com o trânsito em julgado judicial ou administrativo, e, de outro, tem a ver com a adoção de meios alternativos de solução de conflitos, de sorte a aliviar a carga de trabalho da justiça ordinária, o que, sem dúvida, viria a contribuir para abreviar a duração média do processo.48

O princípio em exame nada mais que um reflexo do direito de ação, ou melhor, um desdobramento, haja vista que o acesso à justiça deve traduzir uma tutela jurisdicional tempestiva e adequada a todos que buscam.

O Pacto de San José da Costa Rica - conhecido como Convenção Interamericana de Direitos Humanos), aprovado pelo

47 BARROSO, Luis Roberto. A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. 3ª ed. Revista. Rio de Janeiro. Renovar,2008.48 JUNIOR, Nelson Nery. op.cit.

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Congresso Nacional por meio do DLeg 27/92 e mandado executar pelo D678/92, tem como um das garantias essenciais ao cidadão que estes devem ser ouvidos em prazo razoável. Todavia, pela dicção literal do dispositivo, a tramitação célere é aplicada nos casos em que o sujeito está preso e condicionado a um processo penal.

Em que pese a literalidade do disposto, merece ressaltar que a interpretação do mesmo deve ter como norte o princípio da dignidade da pessoa humana e, consequentemente, teremos uma interpretação extensiva do dispositivo, como bem destaca Nelson Nery Junior:

Entretanto, dada a circunstância de que as garantias judiciais da CIDH8º, além dos aspectos penais, têm, igualmente, situações aplicáveis aos processos civil e administrativo, e de que os direitos humanos e fundamentais devem merecer interpretação ampliativa, empregando-se esse método aliado ao da interpretação sistemática, chega-se ao resultado de que a garantia da duração razoável do processo incide no processo judicial (penal e civil lato sensu) e no processo administrativo49

Tem-se que a duração razoável do processo não se preocupa com processos instantâneos, bem como não tutela que o mesmo seja protelado indiscriminadamente, mas que, na verdade, não se pode ter, dilações desnecessárias nele. Nesse sentido, esclarece Alexandre Freitas Câmara:

Não se pode, pois, considerar que o princípio da tempestividade da tutela jurisdicional sirva de base para a construção de processos instantâneos. O que se assegura com esse princípio constitucional é a construção de um sistema processual em que não haja dilações indevidas. Em outros termos, o processo não deve demorar mais do que o estritamente necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados por força da garantia do devido processo. Deve, porém, o processo demorar todo o tempo necessário para que tal resultado possa ser alcançado.50

49 Idem.50 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, Volume 1, 21 Edição, Rio de Janeiro, Editora Lumen Júris, 2011.

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2.3.2. A aplicação no projeto de lei adotado pela Câmara dos Deputados

É cediço, a partir de uma leitura do primeiro capítulo dos projetos de leis nº8045 e 6025, que a ciência processual está cada vez mais em dialogo substancial com o direito constitucional, não restando dúvida acerca da influência da Constituição no que tange à interpretação das leis infraconstitucionais, em especial quanto do direito processual. Constata-se tal integração a partir da inteligência dos artigos 3°, 4°,6°,7°, 8° e 10° do projeto substitutivo na medida em que aqueles ratificam os princípios já então previstos na Carta Magna de 1988.

Ora, o legislador não poderia deixar de mencionar o princípio da razoável duração do processo pois que é a principal promessa constitucional que o projeto tem por escopo; conferir celeridade e por conseguinte, tempestividade às decisões judicias.

Insta salientar, que o atual código de processo civil, pelo menos de uma forma implícita, já prevê instrumentos jurídicos para que a tutela jurisdicional seja tempestiva, conforme as lições de Alexandre Freitas Câmara:

O princípio constitucional ora analisado, pois legitima a punição de todas as condutas (comissivas ou omissivas) que tenham por propósito protelar o resultado final do processo. Assim, por exemplo, decorre do princípio da tempestividade da tutela jurisdicional a possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela satisfativa como sanção contra o réu que abusa do direito de defesa (art.273, II do CPC). Assim, também, ficam constitucionalmente legitimadas as sanções contra a litigância de má-fé (art.17 do CPC) e a responsabilidade civil do juiz que injustificadamente retarda a prática de ato que deveria praticar (art.133, II, do CPC).51

Sabe-se que, em que pese a possibilidade de sanções devido a dilações desnecessárias, faz-se mister repensar a ciência processual à luz do princípio da razoável duração do processo. Nesse intuito, passaremos a estudar os principais instrumentos jurídicos que podem contribuir para a promessa constitucional almejada pelo novo CPC.

51 Idem.

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2.3.1.1. Principais Inovações na Parte Geral2.3.1.1.1. Fim do Prazo em Quadruplo para Fazenda Publica

contestar

O Código de Processo Civil de 1973 contempla, no artigo 188, que a Fazenda Pública terá prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer. É compreensível tal dispositivo tendo em vista o número infindável de ações em que a Fazenda está no polo passivo.

Ocorre que a presente situação não pode justificar a dilação substancial do processo e favorecer os interesses do Estado já que o demandante não pode ser prejudicado quanto ao seu direito de uma tutela jurisdicional tempestiva.

Na verdade, o que justifica o tratamento diferenciado é a tutela do interesse público defendido pela Fazenda Pública, nos termos do entendimento infra:

Os institutos processuais favoráveis à Fazenda Pública, denominados “prerrogativas”, decorrem da necessidade de estabelecer equilíbrio na relação processual em que o Poder Público figura como parte, com o objetivo precípuo de resguardar o interesse público, na medida da superioridade que representa em relação ao interesse privado.52

Portanto, atento a esse cenário jurídico, o projeto do novo CPC diminui o referido prazo fazendo constar que a Fazenda Pública terá prazo em dobro para contestar, conforme a dicção do artigo 184 do Substitutivo:

Art. 184. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.

Deve-se compreender que não houve uma supressão da prerrogativa da Fazenda uma vez que o prazo diferenciado persistiu. O que foi alterado tão somente foi o prazo da prerrogativa para contestar.52 MOURÃO, Luis Eduardo. O futuro do processo civil no Brasil: uma análise crítica ao projeto do Novo CPC, Belo Horizonte, Editora Fórum, 2011

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A partir de uma análise um pouco mais cautelosa, percebe-se que, novamente, a Fazenda será beneficiada, conquanto o prazo para contestar seja em dobro, pois que, para todos os atos terá, a Fazenda, prazo em dobro, bem como o inicio da contagem do prazo pela intimação pessoal será estendido as Fazendas estadual e municipal, conforme atenta os doutrinadores Mirna Cianci, Rita Quartieri e Liliane Ito Ishikawa.

O novo ordenamento mantém a prerrogativa de prazo diferenciado. Será, porém, em dobro e vigora para “todas as manifestações processuais” da Fazenda Pública(...)(...) Há ainda distinta regra quanto ao termo inicial do prazo, que no projeto tem fluência a partir da vista pessoal dos autos. Com isso os Procuradores Estaduais e Municipais passaram a ser beneficiados com a prerrogativa da intimação pessoal de seus procuradores, que hoje favorece apenas os representantes judiciais da União ( Advogados da União, Procuradores da Fazenda Nacional, e Procuradores Federai, que representam autarquias e fundações públicas federais, assim como Procuradores do Banco Central)53

2.3.1.1.2. Flexibilização do Procedimento

O projeto do Novo CPC tem o escopo de ampliar a participação das partes no processo, isto é, o processo tem que ser um diálogo entre o órgão julgador e as partes de forma a construir um procedimento democrático com vistas a prestação de uma tutela jurisdicional tempestiva.

Diante de tal preceito, é dever do juiz utilizar de meios jurídicos para conferir maior efetividade processual, conforme assinala Luiz R. Wambier:

O art. 139, que trata dos deveres do juiz (assim como o faz o atual art. 125) contém diversas novas disposições, muito mais abrangentes do que as que hoje constam do art. 125. Dentre elas, destaco a que

53 Idem.

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prevê a possibilidade de o juiz “VI – dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito”.Esse dispositivo, assim como proposto, me parece ser absolutamente harmônico com a necessidade de se dar ao procedimento maior flexibilidade, de modo a que desse se extraia melhor resultado. A dilação dos prazos deverá obedecer critérios de razoabilidade e ser determinada se e quando, em hipóteses específicas, se mostrar vantajosa para o efetivo alcance do objeto do processo.54

Ainda, registra o autor sobre a possibilidade das partes convencionarem no que toca às regras que serão utilizadas no procedimento:

O art. 191, de sua vez, vai ainda mais longe, ao permitir às partes a transação antes ou durante o processo, a respeito de regras de procedimento, desde que se trate de direitos que admitam autocomposição.O destaque que me permito fazer em relação ao art. 191 é para a possibilidade de disposição a respeito de ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, por via contratual, previamente à existência do processo, mesmo que se trate de contrato de adesão. Essa regra, no que diz respeito à prova, é ratificada, por assim dizer, no parágrafo quarto do art. 380, que prevê a possibilidade de se convencionar a respeito da distribuição do ônus da prova diferentemente do que dispõe a regra geral, antes ou durante o processo.Os riscos de eventuais abusos nessa negociação anterior ao processo foram previstos pelo legislador. De acordo com o parágrafo quarto, caberá ao juiz controlar a validade dessas convenções, que não deverão ser aplicadas se houver nulidade (por vício de vontade, por exemplo) ou se houver sua inserção de modo abusivo em contratos de adesão.55

54 WAMBIER, Luis Rodrigues. “Flexibilidade procedimental e efetividade do processo”; atualidadedodireito.com.br. Disponível em: http://atualidadesdodireito.com.br/luizrodrigueswambier/2013/08/19/flexibilidade-procedimental-e-efetividade-do-processo/=. Acesso em 1909/2013.55 Idem.

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A flexibilização do procedimento também influenciou no que tange à distribuição do ônus da prova. Esta será realizada de modo dinâmico em respeito a possibilidade fática da parte em produzir a prova necessária ao deslinde da causa. É a denominada distribuição dinâmica do ônus da prova.

Na verdade, trata-se de uma exceção a regra geral haja vista que, mediante uma interpretação sistemática do projeto do novo CPC, a distribuição dinâmica da prova está localizada no paragrafo primeiro do artigo que trata sobre o ônus da prova, conforme podemos ver a seguir:

Art. 380. O ônus da prova incumbe:I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa, relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada. Neste caso, o juiz deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Percebe-se que o projeto do novo CPC está realmente preocupado com a instrumentalidade do processo de tal sorte que este não é mais visto como um fim em si mesmo, mas, com a característica de ser um meio para a Jurisdição aplicar o direito substancial efetivamente. Destaca, ainda, o ilustre doutrinador Luiz R Wambier:

É intuitivo que a adequação do procedimento ao caso concreto tende a dar ao rito maior eficiência, com possíveis bons resultados em termos de obtenção de frutos do processo em tempo menor do que ocorreria se à hipótese levada a juízo fossem aplicadas as regras do procedimento comum. Embora a celeridade não possa ser considerada um valor preponderante, é verdade que há casos em que a efetividade que o sistema todo deseja anda lado a lado com o tempo do processo.56

56 Idem.

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2.3.1.1.3. Tutela de evidência

A tutela de evidencia é espécie da tutela antecipada que tem por finalidade antecipar os efeitos práticos da sentença diante da ocorrência de certos requisitos, como se observa no artigo a seguir:

Art. 306. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo da demora da prestação da tutela jurisdicional, quando:I – ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte;II – as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;III – se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa.Parágrafo único. A decisão baseada nos incisos II e III deste artigo pode ser proferida liminarmente

A partir de uma leitura sumária do artigo, infere-se que não é requisito essencial o perigo de demora quanto a prestação da tutela jurisdicional. Basta que o requerente demonstre a plausibilidade do direito material e a incidência de uma das hipóteses nos incisos supra.

Tal instituto merece destaque na medida em que vem sendo reconhecido pelos Tribunais, como bem destaca Eduardo José da Fonseca Costa:

É comum ver tutelar liminares sendo concedidas com a só presença de um fumus boni iuris extremado. Nelas, o juiz defronta-se com uma pretensão de direito material de existência quase certa, cuja procedência salta aos olhos simpliciter et de plano. Nesses casos, entende-se que há causa suficiente para a concessão da liminar, sem tomar-se em consideração a eventual presença de periculum in mora. Não raro decisões liminares em matéria tributária e previdenciária são proferidas com lastro exclusivo nas súmulas dos Tribunais Superiores, em jurisprudência uníssona dos Tribunais Inferiores, nas decisões do STF em controle abstrato de constitucionalidade, ou nos

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precedentes que se cunham em recursos especiais ou extraordinários. Daí já se nota que a tutela de evidencia não é novidade alguma na experiência quotidiana forense.57

O projeto do novo CPC, desta forma, resolveu positivar o referido instituto dada a sua relevância, com o escopo de abreviar atos desnecessários ao desenvolvimento regular do processo e consequentemente, prestar uma tutela jurisdicional tempestiva e adequada àquele que demonstra uma plausibilidade extremada quanto ao direito substancial pretendido.

2.3.1.2. Principais Inovações no Processo de Conhecimento

2.3.1.2.1. A Reunião de toda matéria de defesa na Contestação:

É cediço que, na atual sistemática processual, temos diversas modalidades de defesa, quais sejam: contestação, reconvenção, exceção, impugnação ao valor da causa, impugnação à gratuidade de justiça. A primeira é a principal resposta do réu e a segunda nada mais que uma ação, de forma que ao final, o juiz julgará simultaneamente a contestação e a reconvenção, proferindo uma sentença.

No que tange às outras formas de defesa, são consideradas incidentes processuais, sendo certo que a natureza decisória é a interlocutória. Ademais, cada incidente recebeu um tratamento diferente, conforme esclarece Alexandre Freitas Câmara acerca da exceção de incompetência relativa:

Trata o CPC da exceção de incompetência nos arts. 307 a 311. Esta exceção deve ser apresentada em petição autônoma, fundamentada e devidamente instruída, indicando o excipiente o juízo que considera competente. Tal petição, por fora do disposto no parágrafo único do art.305 (incluído no CPC pela Lei nº11.280/2006) pode ser oferecida no juízo que determinou a citação, caso em que caberá ao poder Judiciário cuidar da remessa da petição. Sendo “manifestamente

57 MOURÃO, Luis Eduardo. O futuro do processo civil no Brasil: uma análise crítica ao projeto do Novo CPC, Belo Horizonte, Editora Fórum, 2011.

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improcedente” a exceção, deverá a mesma ser rejeitada liminarmente. Caso contrário, sendo r4ecebida a exceção, deverá o juiz ouvir o excepto (ou seja, a parte contrária, que na hipótese será o demandante), no prazo de dez dias, e, após tal manifestação (ou decorrido o prazo decêndio sem que o excepto se manifeste), deverá o juiz decidir o incidente em igual prazo (dez dias). Havendo necessidade de produção de prova testemunhal, deverá o juiz designar audiência de instrução, para só após decidir. Julgada procedente a exceção de incompetência, serão os autos remetidos ao juízo competente. A decisão proferida na exceção de incompetência tem caráter interlocutório, sendo erro grosseiro confundi-la com uma sentença.58

Percebe-se, assim, um excesso de formalidades com vistas a apreciar uma questão incidente, que não resolverá o processo em si. E tal excesso, acarreta, indubitavelmente, uma prolongação do tempo razoável do processo.

Diante da situação, O projeto do novo CPC- em especial o Relatório final apresentado pelo Deputado Paulo Teixeira sobre o projeto 8046/10- vem para simplificar a resolução destas questões incidentes na medida em que as trata como preliminares, devendo ser arguidas no corpo da contestação, conforme se verifica no texto abaixo:

Art. 337. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.Art. 338. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:I – inexistência ou nulidade da citação;II – incompetência absoluta e relativa;III – incorreção do valor da causa;IV – inépcia da petição inicial;V – perempção;VI – litispendência;VII – coisa julgada;VIII – conexão; IX – incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;X – ausência de legitimidade ou de interesse processual;

58 CAMARA, Alexandre Freitas. op.cit.

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XI – falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;XII – indevida concessão do benefício da gratuidade de justiça.

Deve-se ressaltar, ainda, que o Projeto do novo CPC, dirimiu a controvérsia acerca da natureza da decisão acerca da gratuidade de justiça, em consonância com o artigo abaixo:

Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua revogação caberá agravo de instrumento, exceto quando a questão for resolvida na sentença, contra a qual caberá apelação.

A referida proposta tem pertinência, uma vez que aproxima o processo de uma visão instrumentalista do mesmo e, por conseguinte tenta respeitar o tempo razoável do processo, conforme explica o deputado relator Paulo Teixeira:

Somente se frustrada a composição amigável, é que o réu terá o prazo de 15 dias para apresentar contestação. Além disso, a contestação passará a concentrar toda a matéria de defesa, o que representa o fim do sistema atual de incidentes. Assim, na própria contestação, o réu poderá arguir incompetência relativa ou falsidade documental e impugnar o valor da causa ou pedido de justiça gratuita.59

2.3.1.2.2. O Fim da nomeação à autoria: A nomeação à autoria, modalidade de intervenção de terceiro,

foi suprimida no projeto do novo CPC, restando apenas as seguintes formas: denunciação da lide, assistência, chamamento ao processo. E novas modalidades foram introduzidas, quais sejam: incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art.133) e Amicus Curiae (art.138).59 TEIXEIRA, Paulo; Relator Geral da Comissão Especial Destinada a Proferir Parecer ao Projeto de Lei nº6025 de 2005, Ao projeto de lei n° 8046 de 2010, Ambos do Senado Federal, e outros que tratam do “Código de Processo Civil” (Revogam a Lei nº5.869 de 1973).

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Para melhor compreendermos a referida intervenção de terceiros, cumpre destacar o professor Haroldo Lourenço:

Ocorrerá nomeação à autoria quando uma demanda for oferecida em face de réu ilegítimo para a causa (porém, aparentemente legítimo), possibilitando-se a correção do polo passivo. Esse é o objetivo, em última análise, da nomeação à autoria: corrigir um vício na legitimidade passiva ad causam.Temos, a rigor, a consagração da teoria da aparência. Normalmente, o processo seria extinto por ilegitimidade passiva (art.267, VI, do CPC), porém, por economia processual, aproveitando-se o processo pendente, corrige-se o equívoco.60

Assim, infere-se que o escopo da nomeação à autoria é conferir economia processual ao evitar uma precoce extinção do processo por carecer de legitimidade passiva.

O que mudou o novo projeto é que houve a supressão do instituto no rol das intervenções de terceiros. Na verdade, o projeto do novo CPC apesar de ter extinguido o instituto, manteve a sua finalidade quando confere à parte autora a faculdade de aceitar a indicação realizada pelo demandado, evitando, desta forma, a extinção do processo.

A ilegitimidade deve ser arguida no momento da contestação e em forma de preliminar, pelo suposto réu, nos termos do artigo 339:

Art. 339. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em quinze dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu. Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8º.Art. 340. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta da indicação.

60 LOURENÇO, Haroldo; Manual de direito processual civil. Rio de Janeiro; Editora Forense, 2013;

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Nesse sentido, ressalta o deputado relator Paulo Teixeira no seu parecer sobre o projeto de lei 8046/10:

A nomeação à autoria prevista no sistema atual é extinta. Em sua substituição, institui-se a possibilidade de emenda a inicial para corrigir o pólo passivo quando o réu arguir a sua ilegitimidade passiva e o autor concordar com tal questionamento. Com isso, aproveita-se o processo que, depois da correção, passa a ser dirigido contra a parte correta.61

2.3.1.2.3. A Limitação da Remessa Necessária

A Remessa necessária, ou reexame necessário, é requisito de procedibilidade da sentença judicial, isto é, não se pode executar provisoriamente enquanto os autos não forem apreciados novamente pelo Tribunal, não produzindo, portanto, eficácia decisória. É importante mencionar a lição do ilustre professor Fredie Didier JR:

O reexame necessário condiciona a eficácia da sentença à sua reapreciação pelo tribunal ao qual está vinculado o juiz que a proferiu. Enquanto não for procedida à reanálise da sentença, esta não transita em julgado, não contendo plena eficácia.62

O projeto a fim de se adaptar a realidade brasileira à medida cresce exponencialmente o número de demandas em face da Fazenda Pública, resolveu aumentar o valor estabelecido no CPC DE 1973 - que fixa em no mínimo 60 salários mínimos - que enseja o reexame necessário. Segundo o projeto, a remessa será observada

61 TEIXEIRA, Paulo; Relator Geral da Comissão Especial Destinada a Proferir Parecer ao Projeto de Lei nº6025 de 2005, Ao projeto de lei n° 8046 de 2010, Ambos do Senado Federal, e outros que tratam do “Código de Processo Civil” (Revogam a Lei nº5.869 de 1973).62 JR, Fredie Didier; Curso de direito processual civil; meios de impugnação às decisões Judicias e Processo nos Tribunais, vol.3, 10ª edição, Bahia, Editora JusPodivm, 2012.

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contra a Fazenda Publica, nas causas de valor não inferior a 100 salários mínimos a depender do ente público:

§ 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que o valor da condenação, do proveito, do benefício ou da vantagem econômica em discussão for de valor certo inferior a:I – mil salários mínimos para União e as respectivas autarquias e fundações de direito público;II – quinhentos salários mínimos para os Estados, o Distrito Federal e as respectivas autarquias e fundações de direito público, bem assim para as capitais dos Estados;III – cem salários mínimos para todos os demais municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público.

Nesse mesmo sentido, o projeto 8046/10, vem, também, limitar as hipóteses de remessa necessária quando a sentença estiver justificada em precedentes judicias, súmulas e até em orientações administrativas do ente público sucumbente:

§ 3º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:I – súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;II – acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de casos repetitivos;III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;IV – entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.

Ora, diante dessa nova realidade jurídica, vamos ter um avanço substancial em direito à razoável duração do processo executivo, tendo em vista que houve um aumento quanto ao valor da causa que pode ser abrangido pela Requisição de Pequeno Valor e, por conseguinte, maior satisfação no que toca ao direito pretendido.

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2.3.1.3. Principais Inovações no Cumprimento de Sentença e Processo de Execução

Nessa parte do projeto, não se teve grandes modificações que contribuíram para a razoável duração do processo, sendo certo que é uma parte do projeto muito controvertida sem que haja, pelo menos, uma direção concreta do que se pode ter. Todavia, é mister destacar dois pontos positivos para o presente trabalho.

O primeiro é a possibilidade de o executado ser inscrito no cadastro de proteção de crédito enquanto resista ao inadimplemento do débito proveniente de uma execução definitiva:

§ 3º A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes.§ 4º A inscrição será cancelada imediatamente se for efetuado o pagamento, garantida a execução ou se a execução for extinta por qualquer outro motivo.§ 5º O disposto no § 3º se aplica à execução definitiva de título judicial.

Busca-se, dessa forma, o adimplemento da prestação, bem como a observância das decisões judicias. O instrumento jurídico acima é um meio coercitivo para garantir a efetividade do processo.

Outro instrumento de efetividade do processo neste relatório é a possibilidade de inscrição do executado em cadastros de proteção de crédito, prática consagrada em alguns tribunais do país, que precisa ser generalizada.63

O outro ponto diz respeito à eficácia imediata da sentença. Sabe-se que o Código de Processo Civil de 1973 tem como óbice à execução imediata da sentença, o recurso de apelação, sendo certo que, ao ser interposto, é recebido em seu duplo efeito: suspensivo e devolutivo, conforme dispõe o art.520 do CPC/73. Logo, é inegável que os efeitos da sentença fiquem prejudicados tendo em vista o efeito suspensivo do referido recurso atribuído pela lei.63 TEIXEIRA, Paulo; Relator Geral da Comissão Especial Destinada a Proferir Parecer ao Projeto de Lei nº6025 de 2005, Ao projeto de lei n° 8046 de 2010, Ambos do Senado Federal, e outros que tratam do “Código de Processo Civil” (Revogam a Lei nº5.869 de 1973)

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Na atual formulação de novo código de processo civil, neste ponto há extrema divergência, pois que o relatório apresentado, e reformulado por Sérgio Barradas tratou a apelação sem o efeito suspensivo. Todavia, este poderá ser dotado do efeito suspensivo se a parte requer ao tribunal, demonstrando que a decisão a quo produzirá efeitos lesivos e a probabilidade de provimento do recurso interposto.

Art. 1033. A apelação será protocolada perante o tribunal competente para julgá-la, interposta por via postal, por meio eletrônico ou por outra forma prevista em lei.Parágrafo único. Distribuída a apelação, o relator, se não for caso de rejeição liminar, declarará os efeitos em que a recebe e intimará o apelado para apresentar as suas contrarrazões; não sendo eletrônicos os autos, a intimação será acompanhada da contrafé da apelação.Art. 1034. A apelação será, em regra, recebida sem efeito suspensivo. Será, todavia, recebida com este efeito, a requerimento do apelante, se o relator considerar que da imediata produção de efeitos da sentença poderá resultar dano grave, de difícil ou impossível reparação, sendo provável o provimento do recurso.§ 1º Recebida a apelação sem efeito suspensivo, a sentença apelada começará a produzir os seus efeitos.

É incontestável a contribuição da sistemática dos efeitos do recurso de apelação, afastando, de plano, o efeito suspensivo opi legis, delegando tal função ao relator que receberá o referido recurso, de acordo com o entendimento de Bruno Bodart e Irapuã da Silva:

Pelo regime do relatório-geral, tão logo a sentença seja prolatada, poderá ser imediatamente cumprida, a despeito da interposição de recurso. Entendendo o relator que no caso dos autos não existe qualquer risco de prejuízo grave de difícil ou impossível reparação, não atribuirá o efeito suspensivo e o apelado poderá prosseguir provisoriamente com o cumprimento da sentença.64

64 CAMARGO, Luiz Henrique Volpe; Novas tendências do processo civil( estudos sobre o projeto do novo código de processo civil); Editora JusPodivm, Bahia, 2013.

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Em que pese o esforço a formulação para uma nova sistemática rumo a exequibilidade imediata da sentença, esta não prosperou com o último relatório apresentado pelo Deputado Paulo Teixeira, uma vez que o recurso de apelação voltou a ser recebido com o efeito suspensivo:

Art. 1.025. A apelação terá efeito suspensivo. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I – homologa divisão ou demarcação de terras; II – condena a pagar alimentos; III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V – confirma, concede ou revoga tutela antecipada; VI – decreta a interdição

Portanto, visto os artigos acima, podemos concluir que o recurso de apelação será de forma instrumental, sem o efeito suspensivo ou será mantida a mesma sistemática do atual Código de Processo Civil, de modo a suspender os efeitos da sentença. O novo rumo será dado quando o projeto retornar ao Senado Federal.

2.3.1.4. Principais Inovações no Cumprimento de Sentença e Processo de Execução

2.3.1.4.1. Extinção dos Embargos Infringentes e Agravo Retido

O último relatório adotou o que se já havia modicado anteriormente. Extinguiu-se os embargos infringentes e o agravo retido.

Em substituição ao agravo retido, quando houver decisão interlocutória não passível de agravo de instrumento, caberá à parte apresentar protesto para que se possa discutir - em sendo sucumbente – em sede de recurso de apelação, sob pena de preclusão:

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Art. 1.022. Da sentença cabe apelação.§ 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, têm de ser impugnadas em apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. Sendo suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em quinze dias, manifestar-se a respeito delas.§ 2º A impugnação prevista no § 1º pressupõe a prévia apresentação de protesto no primeiro momento que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão Frisa-se o entendimento de Gláucio Gonçalves e André

Valadares:

Cuida-se de novidade que pretende dar maior celeridade ao processo, sem atrapalhar o seu fluxo normal em primeiro grau. É certo, também, que tal regra não aniquila o princípio da segurança jurídica. Primeiro porque será mantido no novo CPC, o agravo de instrumento- e suas hipóteses de cabimento. Segundo, porque as questões não atacáveis por esse recurso poderão ser combatidas quando da apelação. A intenção é apenas tornar inexigível a interposição de um recurso (agravo retido), mantendo a possibilidade de discussão em momento posterior.65

No que tange aos embargos infringentes, foram, também, extintos da seara recursal, sobrevivendo apenas um procedimento no tribunal quando não houver unanimidade ao reforma sentença de mérito, conforme se observa:

Art. 955.Quando o resultado da apelação for, por decisão não unânime, no sentido de reformar sentença de mérito, o julgamento terá prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, a serem convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.

65 CAMARGO, Luiz Henrique Volpe; Novas tendências do processo civil (estudos sobre o projeto do novo código de processo civil); Editora JusPodivm, Bahia, 2013.

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É notório que o legislador teve por objetivo uma concentração maior dos atos processuais, de forma a proporcionar mais economia processual e, consequentemente, observar a razoável duração do processo.

2.3.1.4.2. Incidente de resolução de demandas repetitivas

Com vistas a reduzir o tempo de tramitação dos processos, bem como conferir e garantir mais isonomia e segurança jurídica às pretensões homogêneas, o projeto do novo CPC introduziu um instituto incidente de substancial importância, previsto no art.988:

Art. 988. É admissível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando, estando presente o risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica, houver efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito. Destacou, ainda, o jurista Luis Guilherme Marinoni quando

tratou da importância do instituto no cenário processual brasileiro:

É bem intencionada sua previsão, na medida em que visa a promover a segurança jurídica, a confiança legitima, a igualdade e a coerência da ordem jurídica mediante julgamento em bloco e fixação de tese a ser observada por todos os órgãos do Poder Judiciário na análise da questão apreciada.66

Assim, o incidente possibilita a suspensão de casos semelhantes que apontem sobre a mesma questão de direito e que, desse modo, têm o potencial de causar decisões conflitantes fundadas na mesma questão jurídica. Ademais, o pedido de instauração será dirigido ao Presidente do Tribunal, tendo como legitimados: a defensoria pública, ministério público, pelo relator de ofício ou juiz e, ainda, pela associação civil e pessoa jurídica de direito público, conforme reza o art.997, parágrafo 3º do relatório final apresentado pelo deputado Paulo Teixeira.

66 MARINONI, Luis Guilherme. O Projeto do CPC; críticas e propostas. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais,2010

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Quando julgado o incidente, a tese jurídica determinada será incidente a todos os processos que versem idêntica questão de direito:

Art. 1004. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada a todos os processos que versem idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal.§ 1º A tese jurídica será aplicada, também, aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no território de competência do respectivo tribunal, até que esse mesmo tribunal a revise.

Não há outra conclusão que não seja a preocupação do legislador com a efetividade do processo e, novamente, a instrumentalidade deste. É certo que precisamos de um instrumento jurídico capaz de resolver problemas de massa, observando sempre o devido processo legal e a segurança jurídica, em consonância com o entendimento de Gizele Mazzoni Welsh:

Conforme o esposado nas linhas anteriores, o instituto do incidente de resolução de demandas repetitivas, previsto nos art.895 a 906, do Projeto nº 166/10 do Novo CPC da redação original do Projeto de lei n°166/10 e arts.930 a 941, de acordo com as alterações apresentadas no relatório geral do Senador Valter Pereira, representa importante ferramenta de evolução e progresso para a tutela coletiva. Isso porque, além de tornar mais viável a efetivação de princípios constitucionais basilares, como a segurança jurídica e a duração razoável do processo, também significará avanço na seara da tutela coletiva, uma vez que serão possíveis ações coletivas relativas a variadas matérias, e não somente de acordo com o estabelecido na legislação atual, calcada na Lei de Ação Civil Pública, Ação Popular e Código de Defesa do Consumidor.67

67 MOURÃO, Luis Eduardo. O futuro do processo civil no Brasil: uma análise crítica ao projeto do Novo CPC, Belo Horizonte, Editora Fórum, 2011.

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A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO E O RESPEITO À DIGNIDADE HUMANA DAS PARTES

3.1. O princípio da dignidade da pessoa humana

O princípio da dignidade da pessoa humana está previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, sendo certo que é compreendido como fundamento essencial do Estado Democrático de Direito. Discorre, assim, José Afonso da Silva acerca da temática:

Portanto, a dignidade da pessoa humana não é uma criação constitucional, pois ela é um desses conceitos a priori, um dado preexistente a toda experiência especulativa, tal como a própria pessoa humana. A Constituição, reconhecendo sua existência e sua eminência, transformou-a num valor supremo da ordem jurídica, quando a declara como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil constituída em Estado Democrático de Direito.68

Ademais, segundo a teoria de Kant, a pessoa humana existe como fim em si mesmo, não sendo possível ser vista como meio para consecução de algum objetivo, bem como não está passível de valoração uma vez que tem como atributo a dignidade, provida de valor interno e não podendo ser substituída por outra coisa equivalente:

68 SILVA, Jose Afonso da. Comentários Contextual à Constituição, São Paulo, Editora Malheiros, 2007.

CAPÍTULO 3.

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Correlacionados assim os conceitos, vê-se que a dignidade é atributo intrínseco, da essência, da pessoa humana, único ser que compreende um valor interno, superior a qualquer preço, que não admite substituição equivalente. Assim, a dignidade entranha e se confunde com a própria natureza do ser humano.69

Em que pese o reconhecimento jurídico da dignidade da pessoa humana é preciso ir além. Faz-se mister a observância- pelas leis infraconstitucionais- do referido preceito constitucional, bem como sua devida proteção no ordenamento pátrio.

Nesse sentido, surge uma nova visão do direito processual civil, fundada em uma consideração humanista do mesmo. É evidente a preocupação do legislador com a aplicação da dignidade da pessoa humana quando da elaboração do Projeto º8.046/10, no artigo 6°:

O juiz, ao aplicar o ordenamento jurídico, atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.

Corroborando com o artigo citado, deve-se ressaltar o entendimento do processualista Erick Vidal acerca da incidência do princípio da dignidade da pessoa humana:

Há de registrar, por oportuno, que, no tocante ao princípio da dignidade da pessoa humana, a referida observância dos direitos fundamentais tutelados pela Constituição, de acordo com o projeto do Novo CPC, não está limitada a uma simples referência formal, na qual inicialmente é reconhecida a incidência de um determinado princípio para, em seguida, sob a alegação de uma necessária contraposição de princípios, aplicar a sempre invocada - mas nunca definida - segurança jurídica.

É cediço, diante do que foi exposto, que as partes não assumem tão somente uma relação processual. A positivação do princípio

69 Idem.

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da dignidade da pessoa humana - Pelo projeto do Novo CPC - ratifica uma posição substancial e humanística daqueles que estão envolvidos no processo, de tal forma que devem condicionar os seus atos processuais à luz das necessidades individuais e coletivas. Nessa seara, ensina o desembargador Elpídio Donizzeti Nunes:

Pode-se pensar não ser tarefa do legislador processual explicitar a existência do princípio da dignidade humana, por se tratar de direito próprio do plano material. No entanto, o processo é o instrumento encarregado de salvaguardar os interesses do cidadão, oferecendo-lhe condições para, na medida em que for atingido em qualquer dos seus direitos, peça auxilio ao Estado. Por essa razão, o processo deve ser estruturado, interpretado e aplicado de forma suficientemente capaz de garantir os direitos fundamentais decorrentes do princípio da dignidade humana (mesmo porque o caminho entre a norma e a realidade ainda é complexo).70

3.2. A adoção de regras processuais garantidoras do preceito constitucional no projeto do novo CPC:

Compreendido o conceito do princípio da dignidade da pessoa humana, vamos, analisar - ainda que de forma breve- alguns artigos que comungam para a aplicação do preceito em análise.

A dignidade da pessoa humana só será alcançada- pelo menos segundo o entendimento de Leonardo Greco - se houver regras que assegurem a participação dos interessados, adequada cognição do juiz e apuração da verdade objetiva:

O Direito Processual procura disciplinar o exercício da jurisdição através de princípios e regras que confiram ao processo a mais ampla efetividade, ou seja, o maior alcance prático e o menor custo possível na proteção dos direitos dos cidadãos.

70 NUNES, Elipídio Donizetti . Princípio da cooperação( ou colaboração)- art.5º e 10º do projeto do novo CPC.Em:< http://atualidadesdodireito.com.br/elpidionunes/2012/05/06/29/>. Acesso em 16/10/2013 às 17:20

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Isso não significa que os fins justifiquem os meios. Como relação jurídica plurissubjetiva, complexa e dinâmica, o processo em si mesmo deve formar-se e desenvolver-se com absoluto respeito à dignidade da pessoa humana de todos os cidadãos, especialmente das partes, de tal modo que a justiça do seu resultado esteja de antemão assegurada pela adoção das regras mais propícias à ampla e equilibrada participação dos interessados, à isenta e adequada cognição do juiz e à apuração da verdade objetiva: um meio justo para um fim justo. 71

Nesse sentido, também, observa o ilustre processualista acerca

da incidência do princípio da dignidade da pessoa humana no projeto do novo CPC:

Vale recordar que, caminhando numa postura de resguardo do Estado Democrático de Direito, o Projeto do nosso novo CPC realça a dignidade da pessoa humana, colocando-a como um dos pontos centrais do nosso ordenamento, alçada à condição de verdadeiro superprincípio. A dignidade da pessoa e o acesso à justiça são princípios que devem caminhar juntos, norteando o processo moderno. Logo, o processo cunhado em valores divorciado de ambos conflita com princípios constitucionalmente estabelecidos.72

3.2.1. O princípio da cooperação

Sabe-se que o processo se inicia com a provocação da parte para com o Estado-Juiz (princípio da demanda) e aquele se desenvolve por impulso oficial do juiz de modo a prestar o serviço jurisdicional.

Iniciado o processo, o magistrado deve impulsioná-lo. O juiz não deve apenas impulsionar o processo. Deve impulsionar e estabelecer um diálogo processual em relação às partes.

71 MOURÃO, Luis Eduardo. O futuro do processo civil no Brasil: uma análise crítica ao projeto do Novo CPC, Belo Horizonte, Editora Fórum, 2011.72 DUARTE, Antonio Aurelio Abi Ramia. Os princípios no projeto do novo Código de Processo Civil: visão panorâmica. Em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista61/revista61_47.pdf>. Acesso em 16/10/2013 às 18:00

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É nesse sentido que o princípio da cooperação nasce e é ratificado no projeto do novo CPC. O Estado-juiz não apenas deve respeitar o contraditório, como também se posicionar ativamente para a colaboração da solução da lide, conforme podemos observar:

A doutrina brasileira importou do Direito europeu o princípio da cooperação (ou da colaboração), segundo o qual o processo seria o produto da atividade cooperativa triangular (entre o juiz e as partes). A moderna concepção processual (no sentido de que o processo é um meio de interesse público na busca da justa aplicação do ordenamento jurídico no caso concreto) exige um juiz ativo no centro da controvérsia e a participação ativa das partes, por meio da efetivação do caráter isonômico entre os sujeitos do processo. Trata-se, como já dito, de uma evolução do princípio do contraditório.73

O dever de colaboração não diz respeito tão somente ao juiz. É mais abrangente. Alcança, igualmente, as partes no processo, criando desta forma, uma relação triangular de cooperação. O projeto do novo CPC destaca em alguns artigos o referido princípio em sua parte geral, tal como se observa:

Art. 8º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 9º. Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida.

Ainda, segundo a doutrina, em especial o processualista Elipídio Nunes, estabeleceu deveres fundamentais para a efetivação do princípio da cooperação, quais sejam: dever de esclarecimento, dever de consulta, dever de prevenção, dever de auxílio, dever de correção e urbanidade.

No que tange ao dever de consulta, o projeto do novo CPC veio concretizá-lo na medida em que o juiz antes de proferir qualquer decisão deverá, previamente, ouvir as partes sobre as questões de fato e de direito, ainda que a matéria seja apreciável e decidida de ofício:73 NUNES, Elipídio Donizetti . Princípio da cooperação ( ou colaboração) - art.5º e 10º do projeto do novo CPC.Em:< http://atualidadesdodireito.com.br/elpidionunes/2012/05/06/29/>. Acesso em 16/10/2013 às 17:20

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O dever de consulta, aliás, recebeu disposição própria no projeto do CPC, que estabelece não pode o juiz, “em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual tenha que decidir de ofício” (art. 10, caput).

3.2.2. O princípio da imparcialidade e isonomia

O princípio da cooperação deve ser entendido em atenção à imparcialidade do juiz. Um magistrado ativo para com a colaboração processual não quer dizer que esteja sendo parcial quanto às demandas das partes.

Na verdade a imparcialidade do juiz tem como escopo garantir a justiça do processo, de modo estabelecer a isonomia entre as partes a partir de paridade de instrumentos jurídicos, conforme se observa:

O juiz deve pautar-se pela isonomia e distância das partes, sendo um valor de absoluta relevância ao processo; logo, a medida denota alto comprometimento à imparcialidade do juiz e ao processo justo-isonômico.

Ademais, o projeto do novo CPC, no artigo 7°, discriminou a necessidade da observância do preceito constitucional da isonomia no âmbito processual:

Art. 7º. É assegurado às partes paridade de tratamento no curso do processo, competindo ao juiz velar pelo efetivo contraditório.

Ora o artigo em estudo está em consonância com a isonomia no espectro material uma vez que busca o tratamento das partes de acordo com a vulnerabilidade de cada um, registra o processualista Antonio Aurelio Abi Ramia Duarte:

A todos devem ser avalizadas as oportunidades de agir e defender-se em absoluta igualdade de condições, especialmente aos mais carentes, de modo que desfrutem concretamente das mesmas oportunidades de sucesso final.74

74 DUARTE, Antonio Aurelio Abi Ramia. Os princípios no projeto do novo Código de Processo Civil: visão panorâmica. Em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista61/revista61_47.pdf>. Acesso em 16/10/2013 às 18:00

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3.2.3. O princípio da verdade real

É cediço que o processo apenas é iniciado, em regra, por provocação das partes. Resta ao magistrado, desta forma, impulsionar o processo com a prática de atos processuais que contribuam para a efetiva prestação jurisdicional.

Como já foi visto, o juiz deve administrar o andamento processual de modo cooperativo, isonômico e imparcial para com os sujeitos processuais. Nesse sentido, deve buscar, na medida do possível, provas para corroborar com a verdade real. Não se pode mais contentar com a verdade formal, isto é, as provas trazidas pelas partes aos autos.

Em tempos hodiernos, o processo civil está pautado na verdade real das provas - pelo menos do ponto de vista teórico - e se aproximando dos conflitos de direitos disponíveis sob uma ótica substancial probatória. Insta salientar que a busca da verdade real já tem sua aplicação quanto aos direitos indisponíveis em se tratando de processo civil:

A busca da verdade não deve estar ligada à natureza do direito controvertido, mas sim à justa composição da lide, buscando-se alcançar ao cidadão a pacificação social. Independente de se estar a tratar de direitos disponíveis ou não (indisponíveis), o juiz não pode se contentar com a verdade apresentada pelas partes se não estiver absolutamente convencido dela. É dever seu, decorrente do texto constitucional, e ainda, da lei infraconstitucional, diligenciar na busca de provas de modo a atingir a verdade real, ou aproximar-se dela o máximo possível. Só assim estará prestando a jurisdição tal qual assegurada na Constituição Federal.75

O paradigma atual, portanto, é a aplicação da verdade real no que tange aos direitos disponíveis. Todavia, para compreender que a verdade substancial abrange grande parte do processo civil - direitos indisponíveis e os direitos disponíveis - é preciso termos em mente 75 BRIÃO, Roberta Fussieger. Os Poderes instrutórios do juiz e a busca da verdade real no processo civil moderno.Em:<http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/PODERES%20INSTRUTORIOS%20DO%20JUIZ%20E%20A%20BUSCA%20DA%20VERDADE%20REAL%20-%20Roberta%20Fussieger%20Bri%C3%A3o.pdf>. Acesso em 20/10/2013 às 22:00

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que tem como escopo o princípio da dignidade da pessoa humana, senão vejamos:

O julgador, que lida com a dignidade da pessoa humana, num Estado Democrático e Social de Direito, há de ser atuante no processo, com o objetivo maior de buscar a verdade real, igualando as condições das partes, tentando equilibrar as desigualdades sociais que, muitas vezes, se fazem refletir no processo. Tal poderá o juiz atingir, por exemplo, com a inversão do ônus da prova, dada a hipossuficiência de uma das partes, evidenciada, sobretudo, nas relações de consumo e em ações previdenciárias.76

O projeto do novo CPC parece que está preocupado com a verdade real na medida em que aponta que o juiz poderá de ofício determinar a produção de provas:

Art. 377. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito. Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias. Art. 378. O juiz apreciará livremente a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento.

Ora, assim, o princípio da dignidade da pessoa humana, no que toca ao espectro processual, só será alcançado quando houver a coexistência dos seguintes elementos processuais, quais sejam: cooperação dos sujeitos, isonomia processual, imparcialidade do magistrado e a busca pela verdade substancial.

3.3. A Harmonização dos princípios no projeto do novo CPC

Visto que o processo deve observar a dignidade humana das partes envolvidas nele, passamos para a seguinte questão. Será

76 Idem.

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possível um processo que respeita a dignidade das partes e, ao mesmo tempo, observa o tempo razoável do processo? Ou melhor, é possível a coexistência de ambos os princípios no sistema processual?

Antes de respondermos à referida indagação, é necessário lembrar que os princípios em estudo são de ordem constitucional e por isso devem ser vistos à luz do princípio da unidade da Constituição, como bem disserta Ana Paula de Barcellos:

Quando se trabalha com a Constituição, no entanto, não é possível simplesmente escolher uma norma em detrimento das demais: o princípio da unidade, pelo qual todas as disposições constitucionais têm hierarquia e devem ser interpretadas de forma harmônica, não admite essa solução. Situação semelhante ocorre com muitas normas infraconstitucionais que, refletindo os conflitos internos da Constituição, encontram suporte lógico e axiológico em algumas normas constitucionais mas parecem afrontar outras. Também aqui, a verificação da constitucionalidade dessas normas infraconstitucionais não poderá ser resolvida por uma mera subsunção. 77

Desta forma, não se pode sacrificar um princípio constitucional

em detrimento de outro para a solução do caso concreto. Deve-se ponderar os princípios e harmonizá-los.

É nesse sentido que o projeto do novo CPC tem como escopo: a conciliação dos princípios da razoável duração do processo e a dignidade da pessoa humana, como se infere a seguir:

Deve-se ter a noção de um processo garantístico, o que não importa, necessariamente, em um processo moroso e burocrático.Podemos ter um processo com absoluto respeito às garantias fundamentais, sendo ele célere e funcional. Vale recordar que a violação das garantias do processo apenas gera mais recursos e maior comprometimento da pacificação social, importando na negação estatal aos ditames da Constituição, processualmente documentado.A duração do processo deve estar umbilicalmente ligada ao processo justo, dignidade da pessoa humana, razoabilidade e proporcionalidade.

77 BARROSO, Luis Roberto. A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. 3ª ed. Revista. Rio de Janeiro. Renovar,2008.

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Colocar de lado estes valores para a busca da celeridade é retroceder ao passado e romper com valores democráticos basilares.78

Por derradeiro, é mister destacar o artigo que revela a

coexistência dos dois princípios em estudo, bem como sua aplicabilidade no projeto do novo CPC:

Art. 6º. Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.

Diante do exposto, o que o Projeto do novo CPC está se esforçando em realizar é uma releitura do processo uma vez que este deve atender as garantias fundamentais previstas de forma explícita e implícita na Carta Magna 1988 ao passo que não pode se afastar da razoável duração do processo.

78 DUARTE, Antonio Aurelio Abi Ramia. Os princípios no projeto do novo Código de Processo Civil: visão panorâmica. Em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista61/revista61_47.pdf>. Acesso em 16/10/2013 às 18:00

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CONCLUSÃOÉ notório o esforço dos legisladores do projeto do novo CPC em

atender ao preceito constitucional da razoável duração do processo. Os legisladores não só estão preocupados com o tempo razoável do processo como também em garantir o devido processo legal, a partir da preservação dos princípios fundamentais do processo como o contraditório, a isonomia, inafastabilidade do controle jurisdicional, juiz natural etc.

Na verdade o que se busca é a harmonização dos princípios na esfera processual conjugados com a razoável duração do processo, tendo sempre em vista a dignidade da pessoa humana das partes envolvidas.

Ao analisarmos o projeto do novo CPC percebemos que a razoável duração do processo está relacionada com conceitos e características do próprio processo. A visão instrumental deste é fundamental para conseguirmos alcançar - ou ao menos enxergar- uma possível mudança na ciência processual vigente com vistas à celeridade. O processo é um instrumento utilizado para a efetivação da tutela jurisdicional do direito substancial e não pode ser visto como um fim em si mesmo, sob pena de prejudicarmos o acesso à justiça.

Nesse sentido, observamos que uma das causas da morosidade judicial é a formalidade excessiva dos atos processuais, o que, está, evidentemente, distante da instrumentalidade do processo.

O que o projeto do novo CPC busca é a otimização da prestação jurisdicional a partir da redução de atos processuais- ou até mesmo a extinção como, por exemplo, o agravo retido- e a inovação de instrumentos jurídicos que possibilitem uma demanda tempestiva, como no caso do incidente de resolução repetitiva.

Realmente estamos necessitando de um novo código de

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processo civil que atenda às demandas sociais. E este é o motivo para o nascimento de um novo código de processo civil. Tutelar as demandas sociais de modo tempestivo e adequado.

Ocorre que a patologia da morosidade da tutela jurisdicional não vai ser superada apenas com alterações legislativas. É preciso mais que isso, conforme alerta o processualista Alexandre Freitas Câmara:

É preciso ter claro, porém, que a mera afirmação constitucional de que todos têm direito a um processo com duração razoável não resolve todos os problemas da morosidade processual, sendo necessário promover-se uma reforma estrutural no sistema judiciário brasileiro. Fique registrado meu entendimento segundo o qual a crise do processo não é a crise das leis do processo. Não é reformando leis processuais que serão resolvidos os problemas da morosidade do Poder Judiciário. É preciso, isto sim, promover-se uma reforma estrutural, que dê ao Poder Judiciário meios efetivos para bem prestar tutela jurisdicional, o que exige vontade política para mudar o atual estado das coisas.79

Tem-se, portanto, no momento, uma crise não só das leis processuais mas também da estrutura do Poder Judiciário. Com o projeto do novo CPC estamos dando um passo em busca da promessa constitucional da razoável duração do processo. Todavia, este passo só será em terra firme se houver investimento estruturante no sistema Judiciário presente.

79 CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, Volume 1, 21 Edição, Rio de Janeiro, Editora Lumen Júris, 2011.

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A Associação Teixeira de Freitas foi criada para promover a confraternização dos alunos do Curso de Direito da Universidade Federal Fluminense, através de atividades culturais, sociais e esportivas; realizar estudos, conferências, cursos e seminários ligados à cultura jurídica; colaborar com a coordenação do curso de especialização em Direito Privado, na realização de eventos; divulgar os trabalhos monográficos produzidos pelos pós-graduandos que tenham obtido o conceito máximo e instituir a medalha Teixeira de Freitas, destinada a agraciar às personalidades que, pelo seu saber jurídico, tenham contribuído, de forma notória, para o aperfeiçoamento cultural dos associados.

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