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Produção de roteiro e adaptação Sequência didática Eixo: Escrever em torno do literário literatura

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Produção de roteiro e adaptação

SequênciadidáticaEixo: Escrever em torno do literário

literatura

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Produção de roteiro e adaptação

Eixo: Escrever em torno do literário8º e 9º anos

Apresentação das obras

Alberto Caeiro – Poemas completosFernando Pessoa Editora: Saraiva Número de páginas: 200

”A obra de Caeiro representa a reconstrução integral de paga-nismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos nem os romanos, que viveram nele e por isso o não pensaram, o puderam fazer. A obra, porém, e o seu paganismo, não foram nem pensados nem até sentidos: foram vividos com o que quer que seja que é em nós mais profundo que o sentimen-to ou a razão.” Assim Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, descreve a obra de Alberto Caeiro, outro heterônimo e mestre de todas as facetas do poeta português que extrapo-lou o Modernismo e as fronteiras da península para nos encan-tar e nos fazer refletir.

Fernando Pessoa e outros PessoasDavi FazzolariIlustrador: Eloar GuazzelliEditora: SaraivaNúmero de páginas: 80

Ao adotar a cidade de Lisboa como um dos personagens, a obra é repleta de ruas e avenidas que se revelam a cada nova página, a cada novo encontro do olhar com o traço do pre-miado Guazzelli. Se Lisboa pode ser um tabuleiro para Pessoa e para seus leitores, a partir dos versos e da prosa de seus he-terônimos principais (os outros Pessoas – Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Bernardo Soares), a linguagem das HQs pode gerar ainda outros espaços. Inéditas viagens para viajantes no-vatos ou para velhos marinheiros saudosos dos atracadouros do Tejo, sedentos por revisitar a capital portuguesa.

ALBERTO CAEIROFERNANDO PESSOA

Os textos dos CLÁSSICOS SARAIVA são versões integrais que oferecem ao jovem leitor e ao público em geral um amplo panorama de leituras fundamentais.

Cada livro traz como leitura de apoio várias seções, no final:

Diários de um Clássico – informações sobre o autor, sua obra, a linguagem e o estilo que o marcaram, além de referências sobre a sociedade em que viveu e muito mais;

Contextualização Histórica – um painel de textos de outros autores da mesma época;

Entrevista Imaginária – uma conversa fictícia com o autor.

Além disso, os volumes dos Clássicos Saraiva contêm um Suplemento de Atividades para o aluno.

Primeiro heterônimo criado por Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é poeta simples e bucólico, mas também cheio de sabedoria, considerado o mestre do próprio Pessoa e dos demais heterônimos. Seus Poemas completos representam um marco na história do Modernismo português e uma referência na literatura mundial.

Obras clássicas da literatura brasileira, portuguesa e universal. FERNANDO PESSOA

ALBERTO CAEIROPOEMAS COMPLETOS

CAPA Caieiro - Aluno.ai 1 05/11/10 09:31

FERNANDO PESSOAE OUTROS PESSOAS

Guazzelli roteiroDavi Fazzolari

FERN

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DO

PESSO

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ESSOA

SGuazzelli

Davi Fazzolari

Por volta de 1925, Fernando Pessoa escreveu, em inglês, um guia para estrangeiros deslocarem-se de modo prático pela cidade de Lisboa. A publicação, contudo, chamou a atenção mais pela aparente falta de linguagem literária do que pela apresentação da cidade em si. Dessa forma, foi a ele reservado apenas as prateleiras de viagens das livrarias, apesar de seu sedutor diferencial: a assinatura de Fernando Pessoa.

Nesse guia, o escritor, que entendia Lisboa como seu lar, apresenta caminhos para a leitura de sua obra. Um guia para viajantes, sim, porém uma espécie de ritual de iniciação para a futura leitura poética. Indicações de itinerários que bem podem ser anúncios dos percursos da heteronímia e também de seus próprios passos por Lisboa, estabelecida assim como uma cidade literária.

Fernando Pessoa e outros pessoas talvez tenha, guardadas as devidas dimensões, essa mesma pretensão: a de conduzir o jovem leitor de Pessoa à obra intrincada e complexa desse escritor maior da língua portuguesa. Obra repleta de ruas e avenidas que se estabelecem a cada nova leitura, a cada novo encontro do olhar. Se Lisboa pode ser um tabuleiro para Pessoa e para seus leitores, a partir dos versos e da prosa de seus heterônimos principais (os outros pessoas – Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernardo Soares), a linguagem das HQs pode gerar ainda outros espaços. Novas viagens para novos viajantes ou para velhos marinheiros saudosos dos atracadouros do Tejo, sedentos por revisitar Lisboa.

FERNANDO PESSOAE OUTROS PESSOAS

A LISBOA DE PESSOA REVISITADA EM QUADRINHOS

ISBN 978-85-02-10566-9

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Produção de roteiro e adaptação

IntroduçãoÉ comum os alunos imaginarem que o ta-

lento para a escrita já nasce com poetas e ficcio-nistas, e que isso não é algo que possa ser esti-mulado. Então é função da escola mostrar que a escrita, inclusive a poética, é consequência da leitura: quanto mais lemos, mais temos coisas a partilhar. E, por isso, escrever literatura é algo a ser incentivado.

Assim, ler e escrever se complementam quando, a partir de uma leitura, somos instigados a sensações e reflexões e esse atiçamento tem urgência de se fazer entender. É claro que po-demos expressar tudo isso oralmente, mas a fala não será capaz de fixar a processualidade dessa experiência estética devido ao caráter imediato de sua manifestação. Apenas por meio da escrita podemos fixar no papel aquilo que, em nós, é da ordem das sensações e ideias.

Nos anos finais do Ensino Fundamental, o desejo e a necessidade de socialização tornam a atividade de escrita ainda mais preponderante. Já não basta o conhecimento das letras e a deci-fração do sistema linguístico, os alunos querem se expressar e se comunicar. Então, como passar para o outro aquilo que acontece comigo? Como transmitir ao outro o meu modo particular de ver e entender o mundo?

Esta sequência didática busca, além de apresentar aos alunos a obra de um dos maio-res poetas da Língua Portuguesa, Fernando Pes-soa e seus heterônimos, habilitá-los à produção de textos que, em última instância, traduzam o modo como esses poemas aparecem na forma de imagens mentais para os estudantes. É uma proposta que estimula a escrita como meio ao qual se comunica uma tradução de palavras em imagens, ou seja, como ponte entre uma criação artística e outra.

Para isso, serão apresentados e analisados poemas escritos por Fernando Pessoa tendo em vista as especificidades do gênero poesia e es-pecialmente o que caracteriza a poética de seu heterônimo Alberto Caeiro. A leitura desses poe- mas será atravessada pela adaptação para os quadrinhos, de Davi Fazzolari e Eloar Guazzelli, a fim de analisar como uma experiência de lei-tura verbal pode ser traduzida para ao. Para concluir a atividade, os alunos serão incentiva-dos a criar sequências fotográficas para poe-mas de Alberto Caeiro e a escrever um roteiro a essas produções.

Com esta sequência didática, espera-se pro-porcionar aos alunos a oportunidade de:

— entender algumas especificidades do gê-nero poesia ligadas ao verso, como o rit-mo e as rimas;

— conhecer o poeta Fernando Pessoa e alguns de seus heterônimos, prioritaria-mente Alberto Caeiro;

— analisar o processo de adaptação do gê-nero poesia para o gênero história em quadrinhos (HQ);

— elaborar um roteiro de adaptação da lin-guagem verbal para a verbo-visual;

— desenvolver a imaginação, a sensibilidade e a criatividade;

— planejar, textualizar, revisar e editar os textos produzidos;

— produzir séries fotográficas que compo-nham um livro adaptado para a lingua-gem verbo-visual de poemas de Alberto Caeiro;

— atuar como autor das próprias leituras, considerando-as novos objetos artísticos.

BNCCA proposta desta sequência didática é estimular o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades específicas previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC):

COMPETENCIA ESPECIFICA 6

Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas carac-terísticas locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protago-nismo de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas.

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Produção de roteiro e adaptação

HABILIDADES

(EF69LP48) Interpretar, em poemas, efeitos produzidos pelo uso de recursos expressivos sonoros (estrofação, rimas, aliterações etc.), semânticos (figuras de linguagem, por exemplo), gráfico- espa-cial (distribuição da mancha gráfica no papel), imagens e sua relação com o texto verbal.

(EF69LP49) Mostrar-se interessado e envolvido pela leitura de livros de literatura e por outras pro-duções culturais do campo e receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativas, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências ante-riores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor.

(EF69LP51) Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização, revisão/edição e reescrita, tendo em vista as restrições temáticas, composicionais e estilísticas dos textos preten-didos e as configurações da situação de produção – o leitor pretendido, o suporte, o contexto de circulação do texto, as finalidades etc. – e considerando a imaginação, a estesia e a verossimilhança próprias ao texto literário.

(EF89LP33) Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos, fábulas contemporâneas, romances juvenis, bio-grafias romanceadas, novelas, crônicas visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de forma livre e fixa (como haicai), poema concreto, ciberpoema, dentre outros, expressan-do avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

Encaminhamento da leitura

1– Apresentação da proposta, conversa sobre o gênero poesia e apresentação do livro Alberto Caeiro – Poemas completos. Refle-xão sobre heterônimos e imaginação

> Organização do espaço: Sala de aula, em círculo, utilizando as próprias cadeiras da classe.

> Duração: 50 minutos.

> Material: O livro Alberto Caeiro – Poemas completos.

Antes de iniciar esta sequência didática, é importante que você já tenha lido os livros e feito uma pesquisa relativa aos gêneros poesia e HQ. A sua proximidade com a obra e seus conhecimen-tos são importantes estímulos aos estudantes.

Para começar, abra uma roda de conver-sa com os alunos sobre quais tipos de livros eles costumam ler. Fale sobre poesia, pergunte se eles conhecem, se já escreveram. Questione também o que sabem ou deduzem ser poesia. Nesse momento, é importante escutá-los e bus-car compreender o que eles já dominam. Ano-te, na lousa, algumas palavras centrais do que

dizem e organize o raciocínio com eles, compon-do conceitos ligados aos poemas, tais como a presença de versos. Reflita com os estudantes que a poesia também está associada a um modo de sentir e de lançar um certo olhar ao mundo. Um olhar poético e inventivo, atento aos deta-lhes, capaz de criar imagens e de fazer associa-ções inusitadas.

Em seguida, apresente o livro Alberto Caei-ro – Poemas completos, de Fernando Pessoa. Pergunte se eles conhecem a obra e/ou o autor. Mostre a capa e, na sequência, instigue os estu-dantes perguntando se, afinal, os poemas são de Fernando Pessoa ou de Alberto Caeiro. Para dar seguimento a essa discussão, leia aos alunos o seguinte trecho da página 165 da referida obra.

“Ortônimos, heterônimos e pseudôni-mos

Muitas vezes, os escritores não querem assinar seus trabalhos com o próprio nome. Isso pode acontecer por motivos políticos, para que eles não sejam perse-guidos por suas ideias. Assim, quando o autor se 'esconde' atrás de um nome, dizemos que ele está usando um pseu-dônimo, um nome fictício.

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Já os heterônimos são diferentes: são autores fictícios, criados por um escri-tor. Ao contrário dos pseudônimos, os heterônimos possuem personalidade própria e até opiniões próprias. Os hete-rônimos de Fernando Pessoa, por exem-plo, não poupam críticas àquele que lhes deu vida. O criador dos heterônimos, por sua vez, é chamado de ortônimo.”

Lido esse trecho, pergunte aos estudantes o que eles entenderam e se eles já se imaginaram sendo outra pessoa, com outras características, outro cabelo, outra voz. Explique que o autor que iremos estudar, o poeta português Fernan-do Pessoa, fez isso. Imaginou outros indivíduos e, de modo inventivo, deu voz e expressão a eles, ou seja, criou heterônimos. Um deles é Alberto Caeiro, que iremos estudar nesta sequência di-dática de aulas. Assim, no livro Alberto Caeiro – Poemas completos, Fernando Pessoa é o autor que escreveu diversos poemas e os atribuiu a Al-berto Caeiro, seu heterônimo. É interessante res-saltar para os alunos que as poesias de Alberto Caeiro são apenas uma parte da obra do escritor português, que é vasta e inclui também os hete-rônimos Álvaro de Campos e Ricardo Reis.

Exponha ainda que Fernando Pessoa foi tão inventivo que o prefácio do livro foi escrito pelo heterônimo Ricardo Reis. Aproveite esse momento para fazer a leitura desse prefácio para que eles entrem em contato com a linguagem desse heterônimo.

Em seguida, combine com os estudantes que, nesta sequência didática de aulas, a propos-ta é estudar os livros Alberto Caeiro – Poemas completos, de Fernando Pessoa, e a HQ Fernan-do Pessoa e outros Pessoas, de Davi Fazzolari e de Eloar Guazzelli, e vivenciar atividades de cria-ção que estimulem a escrita, a inventividade e a combinação entre poesia e imagem, tão presen-te nesses livros.

Por fim, proponha aos alunos um exercício divertido, pedindo que peguem caneta e papel, façam silêncio, fechem os olhos e imaginem ser outra pessoa. Depois, peça que escrevam, no papel, características dessa pessoa que imagi-naram. É homem, mulher, adulto, criança, alto, baixo, grande, pequeno, agitado, calmo, alegre, triste? Estuda algum curso? Tem alguma profis-são? Onde mora? E qual é o nome? Oriente-os para que aprofundem esse exercício em casa e levem para ler na próxima aula.

2– Leituras do exercício de imaginação e des-crição de pessoas. Leitura compartilhada do livro Alberto Caeiro – Poemas comple-tos. Diálogo sobre a estrutura dos poemas e sua capacidade de criar imagens

> Organização do espaço: Biblioteca da escola, sentados no chão, se possível com almofadas (pedir que levem anteci-padamente, caso a biblioteca ou sala de leitura não disponha).

> Duração: Aproximadamente 50 minutos.

> Material: O livro Alberto Caeiro – Poemas completos.

A intenção nessa aula é conversar com os alunos sobre alguns elementos estruturantes dos poemas, como os versos, e refletir sobre a potência e a inventividade das imagens que os poemas costumam criar, mexendo com sensibi-lidades e emoções. Para isso, comece pedindo que leiam as descrições que levaram das pes-soas que imaginaram, como Fernando Pessoa fez com seus heterônimos. Esse momento será divertido, e é possível que surjam descrições inusitadas. Para finalizar a atividade, pergunte aos estudantes de qual pessoa descrita eles se lembram mais, e o que chamou mais atenção nessa descrição. Conseguiram criar uma imagem nítida da pessoa que estava sendo descrita? Re-flita com os alunos que, como veremos durante as leituras, os poemas de Caeiro têm essa força, de nos fazer criar imagens vívidas, e que, quando isso acontece, tendemos a ser tocados pelo tex-to e a nos recordar mais dele.

Então, retome o livro Alberto Caeiro – Poe-mas completos e leia para os alunos o poema “X”, na página 29.

Questione os estudantes sobre o que acha-ram do texto, o que lhes chamou mais atenção. Notaram que se trata de um diálogo? Comente com os alunos que o guardador de rebanhos é Alberto Caeiro e que é assim que esse heterôni-mo se apresenta. Com isso em mente, pergunte a eles como imaginam Alberto Caeiro. Alguém jovem, velho, sábio, bobo? Por quê? E o que eles acham do que fala Caeiro? Para eles, o ven-to só diz que é vento e passa, ou será que diz mais coisas? Eles já ouviram o vento? E quem será que é essa pessoa que vem falar com Al-berto Caeiro? Nessa conversa, mais importante do que procurar uma resposta certa é estimular os alunos a refletirem sobre o texto que leram e

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as perguntas que estão sendo feitas, de modo que eles comecem a adentrar o imaginário e os questionamentos que Caeiro faz ao longo de diversos poemas.

Além disso é fundamental que você ques-tione o que faz esse texto ser um poema, isto é, como os alunos sabem que estão diante de um poema e não de outro tipo de texto. O que o tor-na diferente? Durante a conversa, ressalte aspec-tos estruturais dos poemas, como o fato de nor-malmente serem escritos em versos. Pergunte aos alunos se sabem o que são versos (cada linha de um poema), e comente com eles que, se re-pararem, os versos não costumam ocupar toda a linha da página, como normalmente ocorre com os textos em prosa. Assim, visualmente, esses textos costumam ser bem diferentes.

Para dar seguimento à leitura compartilha-da, leia com os alunos o poema “II”, na página 14.

Pergunte aos estudantes o que acharam do texto, o que os chamou mais atenção. Há alguma imagem interessante, que fica na cabeça? O que eles pensam desse girassol, que aparece logo no início do poema? Ele se conecta com o restante do texto? E com o fato de Alberto Caeiro ser um guardador de rebanhos? Os alunos perceberam que aparece outra planta, um malmequer, no verso “Creio no mundo como num malmequer”. E repararam na palavra Natureza, escrita em maiúscula? O que isso parece indicar? A nature-za é importante para Caeiro?

Nesse diálogo, reflita com os alunos que essas imagens associadas à natureza parecem bem colocadas, já que Caeiro e o poema nos remetem a esse cenário, de andar por estra-das e espaços abertos à natureza. Além disso, é importante frisar a eles que muitas vezes os textos poéticos trabalham imagens inusitadas e expressivas, e elas são importantes por ativarem nossa sensibilidade e imaginação. Afinal, um olhar não é um olhar qualquer se o imaginarmos nítido como um girassol.

Nesse ponto acrescente mais uma informa-ção relevante sobre a estrutura do verso: em geral contém uma ou duas imagens fortes, que vão se somando a outras do segundo verso e, assim, su-cessivamente. Exemplifique:

O meu olhar é nítido como um girassol.Tenho o costume de andar pelas estradasOlhando para a direita e para a esquerda,E de vez em quando olhando para trás…

E o que vejo a cada momentoÉ aquilo que nunca antes eu tinha visto,E eu sei dar por isso muito bem…Sei ter o pasmo essencialQue tem uma criança se, ao nascer,Reparasse que nascera deveras…Sinto-me nascido a cada momentoPara a eterna novidade do mundo…

Essas imagens é que vão se acumulando e criando uma rede de sentidos para o leitor. No entanto, nem sempre elas são as mesmas para todos os leitores: às vezes, uma imagem nos pro-voca mais do que outras e, por isso, um poema admite várias interpretações a depender do per-curso que realizamos na leitura.

Depois, pergunte o que eles estão achan-do dessa proposta de Caeiro sobre como levar a vida. É importante pensar sobre o mundo e a na-tureza, ou é mais certo senti-los, como nos acon-selha o poeta? Razão ou emoção? É possível en-tender o amor, e saber por que amamos quem amamos? Durante essa conversa, reflita com os estudantes que, provavelmente, um modo inte-ressante de encarar a vida seja buscar um equi-líbrio entre esses dois polos: a razão (pensar) e a emoção (sentir).

Por fim, peça para continuarem em casa a leitura individual e autônoma do livro Alberto Caeiro – Poemas completos, que permanece-rá sendo trabalhado na próxima aula. Para isso, peça que leiam os poemas “V” (p. 18) e “VI” (p. 21).

Saiba mais:

Caso deseje se aprofundar no sistema he-teronímico construído por Fernando Pes-soa, recomendamos o artigo de Fabrício César de Aguiar e Larissa Walter Tavares de Aguiar, no qual eles trazem escritos do pró-prio Fernando Pessoa sobre esse procedi-mento: “Para uma melhor compreensão do complexo sistema literário criado por Fer-nando Pessoa, são de suma importância alguns escritos deixados por ele, nos quais orienta para caminhos possíveis a serem percorridos nas leituras interpretativas dos textos literários assinados tanto pelo poeta ortônimo quanto pelos seus mais variados heterônimos. Em relação aos textos hete-ronímicos, Pessoa destaca que o leitor “não há que buscar neles quaisquer ideias ou

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De todos os filósofos e de todos os [poetas.

A luz do sol não sabe o que fazE por isso não erra e é comum e boa. (…)

Em seguida, pergunte aos estudantes como imaginam Deus? Estimule-os a refletirem e a fala-rem sobre isso, tomando o cuidado para que di-ferentes opiniões e pontos de vista sejam respei-tados. Para ampliar o diálogo, retome com eles o seguinte trecho do poema “V”, na página 19:

(…) Não acredito em Deus porque nunca o vi.Se ele quisesse que eu acreditasse nele,Sem dúvida que viria falar comigoE entraria pela minha porta dentroDizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidosDe quem, por não saber o que é olhar

[para as cousas,Não compreende quem fala delasCom o modo de falar que reparar para

[elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvoresE os montes e o sol e o luar,Então acredito nele,Então acredito nele a toda a hora,E a minha vida é toda uma oração e

[uma missa,E uma comunhão com os olhos e pelos

[ouvidos.Mas se Deus é as árvores e as floresE os montes e o luar e o sol,Para que lhe chamo eu Deus?Chamo-lhe flores e árvores e montes e

[sol e luar;Porque, se ele se fez, para eu o ver,Sol e luar e flores e árvores e montes,Se ele me aparece como sendo árvores e

[montesE luar e sol e flores,É que ele quer que eu o conheçaComo árvores e montes e flores e luar e

[sol. (…)

Converse sobre esse trecho do poema e ouça as colocações dos alunos. Reflita com eles sobre a beleza do desenvolvimento desse poe-ma, uma vez que Caeiro inicia dizendo que não acredita em Deus, para depois dizer que acredita

sentimentos meus, pois muitos deles ex-primem ideias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é aliás como se deve ler”.

Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/cader nosdoil/article/viewFile/67502/46173>. (Acesso em: 4 nov. 2018).

3– Leitura compartilhada. Sistematização de elementos do gênero literário poesia. Sen-sibilização para rima, ritmo e repetição nos poemas

> Organização do espaço: Biblioteca da escola, sentados no chão, se possível com almofadas (pedir que levem ante-cipadamente, caso a biblioteca não dis-ponha).

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: O livro Alberto Caeiro – Poe-mas completos, cartolina e canetas.

A ideia, nessa aula, é aprofundar o contato dos estudantes com a obra Alberto Caeiro – Poe-mas completos, e sistematizar elementos ligados aos poemas, como rima e ritmo. Para isso, inicie a aula conversando com os estudantes sobre a lei-tura dos poemas que fizeram em casa. Pergunte o que estão achando do livro, e o que lhes cha-mou a atenção nos textos. Reflita com eles sobre o fato de que Alberto Caeiro é um heterônimo que à primeira vista pode parecer simples, como um guardador de rebanhos que canta a nature-za, mas que ao mesmo tempo vai mostrando a sua complexidade ao tratar de temas como Deus e a verdade. E o que os alunos entendem dis-so? Será que quando ficamos pensando sobre as coisas, deixamos de enxergá-las e senti-las pelo que são, como o poeta nos diz no trecho do po-ema “V”, na página 18? Leia com eles:

(…) O mistério das cousas? Sei lá o que

[é mistério!O único mistério é haver quem pense no

[mistério.Quem está ao sol e fecha os olhos,Começa a não saber o que é o solE a pensar muitas cousas cheias de calor.Mas abre os olhos e vê o sol,E já não pode pensar em nada,Porque a luz do sol vale mais que os

[pensamentos

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nele a toda hora, e que sua vida é toda uma ora-ção e uma missa. E isso desde que Deus seja algo que ele possa ver e sentir, como as árvores, o sol e os montes, e não algo abstrato, sobre o qual ele teria que refletir sobre em vez de sentir. Assim, é interessante mostrar aos alunos a grande capa-cidade de, utilizando uma linguagem simples e que evoca elementos e imagens conhecidas por todos, como o luar, Caeiro nos faz pensar sobre questões profundas, como a própria fé.

Não deixe de salientar que a materialização da ideia de Deus, ou seja, da abstração é feita por meio de imagens muito concretas e que há ver-sos em que essas imagens se multiplicam como se nossos olhos fossem passando por elas: “Cha-mo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar”.

Feito isso, é importante sistematizar com os alunos alguns elementos estruturantes dos po-emas. Em primeiro lugar pergunte a eles nova-mente como sabem que esse trecho que acabou de ser lido é um poema, e o esperado é que eles comentem sobre a presença de versos. Além dis-so, explique aos estudantes que os poemas, des-de a sua origem, estão associados ao ritmo e à musicalidade, e era comum na Grécia Antiga, por exemplo, que os poemas fossem declamados acompanhados de instrumentos musicais, como a lira, um instrumento de cordas.

Na sequência, pergunte aos estudantes se eles sabem o que é rima, e se Alberto Caei-ro usa as rimas. Nessa conversa, é fundamen-tal mostrar aos alunos o trecho lido e salientar os chamados versos soltos (ou brancos), isto é, versos sem rima utilizados por Caeiro na maioria das vezes. Reflita com os alunos que a rima, por ser uma repetição, nas palavras, de sons iguais ou parecidos, ajuda no ritmo e na musicalidade do texto. Diante disso, pergunte a eles: e nes-se caso? Há ritmo e musicalidade na poesia de Caeiro? Como?

Explique aos estudantes que há diferentes modos de imprimirmos ritmo e musicalidade em um poema. No caso do trecho acima, Caeiro con-segue esse efeito utilizando a repetição de pala-vras, frases e principalmente de imagens ao longo do poema. É o que acontece, por exemplo, em: ”Então acredito nele,/ Então acredito nele a toda a hora (…)”; ou ainda em: ”Mas se Deus é as árvores e as flores/ E os montes e o luar e o sol,/ Para que lhe chamo eu Deus?/ Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar (…)”, trecho no qual se repetem as imagens das flores, árvores, montes, luar e sol.

Aliás, mostre aos alunos que o próprio Caei-ro se posiciona sobre a utilização de rimas.

Leia para eles o poema “XIV”, na página 33:

Não me importo com as rimas. Raras [vezes

Há duas árvores iguais, uma ao lado da [outra.

Penso e escrevo como as flores têm corMas com menos perfeição no meu

[modo de exprimir-mePorque me falta a simplicidade naturalDe ser todo só o meu exterior.Olho e comovo-me,Comovo-me como a água corre quando

[o chão é inclinadoE a minha poesia é natural como o

[levantar-se vento…

Então, sistematize em uma cartolina grande, com os alunos, algumas características que apa-recem em muitos poemas, sobretudo nos mais clássicos:

1. poema: composição originalmente escrita em versos;

2. verso: cada uma das linhas do poema;

3. estrofe: cada agrupamento de versos;

4. ritmo: recurso poético obtido pelo uso da sonoridade das palavras e pela alternância entre sílabas fortes e fracas;

5. rima: repetição, nas palavras, de sons idênticos ou semelhantes;

6. versos brancos ou soltos: são versos sem rima;

7. repetição: recurso textual que influencia o sentido e a ênfase do texto e que influencia tam-bém elementos como o ritmo.

Finalmente, peça aos estudantes que con-tinuem, em casa, a leitura autônoma do livro Al-berto Caeiro – Poemas completos, incluindo os poemas “III” “(p. 73), “IV” (p. 74) e “V” (p. 75), todos da sequência “O pastor amoroso”.

Saiba mais:

Caro Professor, seguem abaixo algumas considerações de Octávio Paz (PAZ, 1976, p. 11-12) acerca do conceito de ritmo na poesia:

“O ritmo não só é o elemento mais antigo e permanente da linguagem, como ainda não é difícil que seja

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Produção de roteiro e adaptação

4– Reflexão sobre o heterônimo e o olhar poéti-co. Apresentação do livro Fernando Pessoa e outros Pessoas. Conversa sobre o gênero HQ

> Organização do espaço: Se possível, al-gum local aberto da escola, com grama ou jardim.

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: Os livros Alberto Caeiro – Poe- mas completos e Fernando Pessoa e ou-tros Pessoas.

Essa aula terá como foco apresentar aos alunos mais uma obra, a HQ Fernando Pessoa e outros Pessoas, falar sobre o procedimen-to de adaptação e discutir sobre o gênero HQ. Inicie a aula conversando sobre os poemas que os estudantes leram em casa, da sequência “O pastor amoroso”. Mais uma vez, pergunte o que estão achando da obra, quais textos cha-maram mais atenção. Comente com eles que, nesses poemas, Caeiro parece mais agitado e inquieto, ansiando por sua amada, observan-

do os efeitos do amor em seu corpo e vivendo a expectativa de encontrá-la. Reflita com os alu-nos que o fato desse heterônimo ser alguém in-ventado por Fernando Pessoa, que escreve de modo simples e ao mesmo complexo, e que vai mudando de tom e de humor ao longo dos poe-mas que escreve, torna-o uma criação fascinan-te. Para aprofundar essa reflexão, leia com os eles o poema “V”, na página 75, e comente sobre a imagem que aparece nos versos finais:

V(…) Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Pergunte aos estudantes se gostam dessa ideia. Proponha a eles que fechem os olhos por alguns segundos e imaginar um girassol com a cara da amada ou do amado no meio. Brinque e pergunte se gostaram da imagem que viram. Em seguida, mostre aos alunos que, nesse poema, Caeiro retoma o girassol, já visto no poema “II” (p. 14), cujo início é: “O meu olhar é nítido como um girassol”.

Resgatada essa lembrança, pergunte se eles acham que houve alguma modificação no modo de Caeiro enxergar o mundo, depois de encon-trar o amor. Reflita com eles que há sempre um olhar poético, inusitado. Antes era Caeiro que, sozinho, olhava o mundo de modo nítido como um girassol. Mas agora, é a realidade que olha para ele, e com a cara da amada no meio de um girassol. Assim, parece que, com o amor, Caei-ro já não está só. Ele agora olha, mas também é olhado. Para finalizar, se estiver com os alunos em um espaço aberto da escola, proponha a eles uma brincadeira divertida. Peça que fiquem em silêncio e olhem em volta, reparando no cenário, por cerca de quinze segundos. Marque o tempo no relógio e, quando terminar, pergunte o que eles viram, no que repararam. Depois de ouvi-los, pergunte se são diferentes as coisas que vemos quando estamos amando ou não. E por quê?

Feita essa conversa, apresente a eles o li-vro Fernando Pessoa e outros Pessoas. Mostre a capa, a contracapa, e exponha que se trata de um livro do gênero HQ (História em quadrinhos). Questione se conhecem outras HQs e pergunte também como sabemos quando estamos diante de uma HQ? O que esse gênero tem de diferen-te da poesia? Durante essa conversa, peçaa eles para abrirem o livro Fernando Pessoa e outros

anterior à própria fala. Em certo sentido pode-se dizer que a lingua-gem nasce do ritmo ou, pelo menos, que todo ritmo implica ou prefigu-ra uma linguagem. Assim, todas as expressões verbais são ritmo, sem ex-clusão das formas mais abstratas ou didáticas da prosa. Como distinguir, então prosa e poema? Deste modo: o ritmo se dá espontaneamente em toda forma verbal, mas só no poema se manifesta. Sem ritmo não há poe-ma; só com o mesmo, não há prosa. O ritmo é condição do poema, en-quanto é inessencial para a prosa”.

Além disso, sobre o que são poemas, há vasto material disponível para consulta na internet, como: <https://definicao.net/poe-mas/>.

Especificamente sobre o recurso da repe-tição nos poemas, há o interessante artigo Repetição e significado poético (o desdo-bramento como fator constitutivo na po-esia de F. Gullar), de Guaraciaba Micheletti, disponível em: <www.revistas.usp.br/flp/article/view/59650/62746>. (Acesso em: 15 dez. 2020).

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Produção de roteiro e adaptação

Pessoas na página 5, Interlúdio lisboeta I, e per-gunte o que eles veem.

Exponha que as HQs têm por característi-ca principal serem apresentadas em quadrinhos, como podemos ver no fragmento acima, e usa-rem elementos visuais e gráficos, como as ilustra-ções que observamos em cada quadro: uma jane-la fechada, uma porta aberta. Pergunte o que eles imaginam vendo essas ilustrações. Para finalizar, proponha um exercício para abrir o olhar poético, como o de Alberto Caeiro. Para isso, peça que se organizem em grupos. Cada grupo deverá esco-lher um quadrinho da página 5 do livro Fernando Pessoa e outros Pessoas e, para a próxima aula, levar um pequeno poema, de até três versos, dia-logando com esse quadrinho. A ideia é que eles se divirtam e se sintam à vontade para criarem os próprios versos. Mostre aos alunos o seguinte exemplo, usando o quadrinho da luminária:

e nesse domingo/ a luz nunca/ se acen-deu.

5– Apresentação dos poemas dos estudantes. Conversa sobre adaptações de obras lite-rárias para HQs. Leitura compartilhada do livro Fernando Pessoa e outros Pessoas

> Organização do espaço: Biblioteca da escola, sentados no chão, se possível com almofadas (pedir que levem antecipada-mente, caso a biblioteca não disponha).

> Duração: Aproximadamente 50 minutos.

> Materiais: O livro Fernando Pessoa e ou-tros Pessoas. Projetor, fotos do escritor Fernando Pessoa, o poema “Lisboa com suas casas”, de Álvaro de Campos (he-terônimo). Se não for possível projetar, mostre impresso.

Essa aula tem como objetivo conversar com os estudantes sobre as adaptações de obras lite-rárias para HQs, como ocorre no livro Fernando Pessoa e outros Pessoas. Esse movimento tem se tornado cada vez mais comum, e é importante por propiciar aos leitores novas possibilidades de contato com as obras adaptadas, como a de Fer-nando Pessoa. Além disso, trata-se também de um modo de difundir o gênero HQ e apresentar seus autores e ilustradores. Para iniciar, peça aos alunos que leiam seus poemas de três versos, criados em grupo. Durante a leitura, comente sobre os recursos que eles usaram nos poemas, como repetição ou rima, e também sobre a co-

nexão entre o poema e a imagem que o inspirou, isto é, o quadrinho da página 5 do livro Fernando Pessoa e outros Pessoas, que o grupo escolheu.

Feitos esses comentários, reflita com os alunos que, nessa atividade, eles fizeram uma adaptação, no sentido de que partiram de uma obra pronta (o quadrinho escolhido na página 5, do livro Fernando Pessoa e outros Pessoas) e, dialogando com ela e adaptando-a, criaram um poema. Explique para eles que, no livro Fernan-do Pessoa e outros Pessoas, o trabalho dos auto-res (o roteirista Davi Fazzolari e o ilustrador Eloar Guazzelli), é bastante parecido, uma vez que eles partiram dos poemas de Fernando Pessoa e fize-ram os diálogos e adaptações necessárias para criarem uma HQ. Feitas essas considerações, mostre aos estudantes a capa do livro Fernando Pessoa e outros Pessoas e pergunte a eles o que acham que o título desse livro quer dizer.

Reflita com eles que esse “outros Pessoas” do título parecem ser uma brincadeira com os he-terônimos do escritor Fernando Pessoa, como Al-berto Caeiro, que já foi estudado. E também uma brincadeira com os próprios autores Davi Fazzolari e Eloar Guazzelli que, ao adaptarem poemas de Fernando Pessoa para a HQ, acabam também se tornando “outros Pessoas”. Além disso, pergunte aos estudantes se eles sabem quem é esse ho-mem que aparece sozinho na ilustração da capa, de costas e olhando o mar. Mostre a eles uma foto de Fernando Pessoa, projetada ou impressa, como a disponível no artigo “7 livros inesquecíveis de Fernando Pessoa”, do blog da Estante virtual. Disponível em: <https://blog.estantevirtual.com.br/2018/06/13/7-livros-inesqueciveis-de-fernan do-pessoa/>. (Acesso em: 4 nov. 2020).

Comente com os estudantes que é mui-to comum encontrar fotos do autor de chapéu, usando roupas escuras, o que parece confirmar que o personagem ilustrado na capa é o escri-tor Fernando Pessoa. Pergunte aos alunos o que imaginam que ele está fazendo ali, olhando o mar. Pergunte também se eles repararam em outros detalhes da ilustração da capa. Viram que parece que há várias folhas de papel desenha-das, voando no ar? Folhas de papel têm bastante ligação com um escritor, não é? E esse barco, que talvez se parece uma caravela portuguesa, voan-do no ar? Será a imaginação do escritor? Assim, é importante analisar com os alunos que as ima-gens que aparecem nas HQs vão nos sugerindo uma série de impressões e leituras, compondo

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Produção de roteiro e adaptação

dessa forma uma narrativa, que combina com o texto. Dando seguimento, abra o livro Fernando Pessoa e outros Pessoas, e leia com os estudan-tes o interlúdio lisboeta (p. 5-7). Pergunte o que os alunos acharam da página 6, quando começa a aparecer mais texto. Que sensação esses tex-tos e essas imagens lhes causam? Que impres-são eles têm de Lisboa? Explique aos alunos que essa parte da HQ é uma adaptação do poema “Lisboa com suas casas”, de Álvaro de Campos, outro heterônimo do autor Fernando Pessoa. Depois, procure em livros ou na internet o poe-ma “Lisboa com suas casas”, e leia-o aos alunos. A fim de que eles visualizem o texto, use o projetor ou entregue impresso.

Depois, pergunte aos alunos o que acharam do poema, e se a sensação é diferente da causada pela HQ. Eles perceberam que no trecho lido da HQ há apenas uma parte inicial do poema? Refli-ta com eles que, nessa adaptação feita para HQ, como há inúmeros elementos novos, como a uti-lização de imagens e o corte dos poemas adap-tados, ela é uma obra nova, e não apenas uma reprodução dos poemas de Pessoa e seus hete-rônimos. Para terminar, proponha uma atividade de imaginação de quadrinho aos alunos, como fi-zeram os autores quando criaram o livro Fernando Pessoa e outros Pessoas. Para isso, peça que se organizem em grupos e, em casa, leiam o poema “I” (p. 71) do livro Alberto Caeiro – Poemas comple-tos. Feita a leitura, cada grupo deverá conversar e imaginar como fariam uma HQ em diálogo com o poema lido. Como pensam a imagem desse qua-drinho? Em seguida, o grupo deverá elaborar um pequeno texto descrevendo a cena, o quadrinho imaginado. Mostre o seguinte exemplo:

o quadrinho que imaginamos é quase todo azul claro. Percebemos que se trata de um rio si-nuoso, que ocupa a imagem de cima a baixo. As partes que não são azuis, são amarronzadas, e remetem à terra.

Combine com os estudantes que esses tex-tos, que irão elaborar em grupos, serão apresen-tados na próxima aula.

6- Apresentação dos textos de descrição de cena, elaborados pelos alunos. Conversa sobre relações entre texto e imagem

> Organização do espaço: Algum espaço confortável ao ar livre.

> Duração: Aproximadamente 50 minutos.

> Materiais: Papel cartão A4, canetas ou lá-pis, música instrumental.

Essa aula busca estimular os estudantes a conversar sobre HQ e as diferentes relações que podem se estabelecer entre texto e imagem. Co-mece pedindo a eles que leiam seus textos descri-tivos de cenas. Ao final da leitura de cada grupo, comente com eles sobre a vivacidade dos textos, isto é, se como está descrito realmente consegui-mos imaginar a imagem que o grupo pensou para o quadrinho. Além disso, pergunte o motivo pelo qual escolheram a imagem que descreveram, e com qual elemento ou trecho do poema “I”, da seção “O pastor amoroso”, estão dialogando.

Feita essa conversa, peça aos alunos que abram o livro Fernando Pessoa e outros Pessoas, na página 55. Explique aos estudantes que os diferentes capítulos da HQ dialogam com dife-rentes heterônimos de Pessoa, e que nesse mo-mento leremos O pastor de almas, que é uma adaptação dos poemas do heterônimo Alberto Caeiro. Faça uma leitura compartilhada das pá-ginas 55 a 60 e, em seguida, questione sobre as impressões que tiveram das imagens que apa-recem nesses quadrinhos. Elas dialogam com o poema? Como? Alguém imaginou que o poema “I”, da seção “O pastor amoroso”, de Caeiro, po-deria gerar a imagem de um muro? O que será que isso quer dizer? De algum modo Caeiro se-gue preso a si e distante da amada? Pergunte também, aos alunos, se eles observaram que há trechos do poema que não estão na HQ, como as seguintes estrofes:

Vejo melhor os rios quando vou [contigo

Pelos campos até à beira dos rios;Sentado a teu lado reparando nas

[nuvensReparo nelas melhor…

Saiba mais:

Sobre as adaptações de obras literárias para HQs, há a interessante tese A arte dos quadrinhos e o literário, de Maria Cristina Xavier, disponível em:

<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/ 8156/tde-30012009-154912/publico/MA RIA_CRISTINA_XAVIER_DE_OLIVEIRA.pdf.> (Acesso em: 4 nov. 2020).

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Produção de roteiro e adaptação

Feitas essas considerações, pergunte o que acharam da adaptação, se repararam que na pá-gina 60 da HQ já se inicia a adaptação de outro poema de Caeiro, o “II”, da seção “O pastor amo-roso”. Assim, na HQ, é como se esses dois poe-mas fossem um texto só, contínuo. Desse modo, reflita com os alunos que a adaptação traz mui-tas diferenças e novidades, inclusive de sentidos, em relação à obra original de Caeiro. Afinal, quan-do escreveu o poema, provavelmente Fernando Pessoa não imaginou os prédios e o muro que temos retratados na HQ. Por isso, a adaptação é uma obra nova, diferente da original de Pessoa (Caeiro), mas em diálogo com ela.

Em seguida, peça aos alunos que observem as ilustrações dos dois primeiros quadrinhos da página 60 e reparem na relação entre o texto e a imagem:

VAI ALTA NO CÉU A LUA DA PRIMAVERA. PENSO EM TI E DENTRO DE MIM ESTOU COMPLETO.

CORRE PELOS VAGOS CAMPOS ATÉ MIM UMA BRISA LIGEIRA.

PENSO EM TI, MURMURO O TEU NOME; NÃO SOU EU: SOU FELIZ.

AMANHÃ VIRÁS, ANDARÁS COMIGO A COLHER FLORES PELOS CAMPOS,

E EU ANDAREI CONTIGO PELOS CAMPOS VER-TE COLHER FLORES.

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Primeiro, ressalte que, apesar de terem o mesmo fundo azul, eles são dois quadrinhos dife-rentes, porque têm enquadramentos diferentes. No quadrinho 1, vemos uma imagem aberta, de longe. Podemos identificar a lua e uma parte da cidade. No quadrinho 2, vemos uma imagem fechada, de perto. É um elemento que, na se-quência, percebemos que é um bonde. Além disso, pergunte aos alunos se notam alguma di-ferença entre a ligação do texto com a imagem do quadrinho 1, e do texto com a imagem do quadrinho 2. Reflita com eles que, no quadrinho 1, o texto diz “Vai alta no céu a lua da primavera”. E na ilustração, o que mais chama a atenção é a figura da lua. Assim, no caso do quadrinho 1, o desenho converge para o que é dito no texto, isto é, ilustra o que está sendo dito. No quadri-nho 2, por outro lado, não há a palavra bonde. Assim, o bonde que aparece na imagem des-via do que está escrito no texto. O bonde é um elemento novo, que traz novos significados.

Pergunte aos alunos a que eles acham que o bonde está relacionado. Será à ideia de correr pelos vagos campos? A palavra vago até lembra vagão, trem. Assim, ressalte aos alunos que há modos diferentes de relacionar a imagem com o texto e que normalmente, quando a ilustração não procura manifestar somente o que o texto diz, ela é capaz de ampliar seus sentidos. Per-gunte também se as imagens que eles criaram e apresentaram em grupo eram algo que o poe-ma já dizia, ou se traziam algum elemento novo. Para finalizar, combine com os estudantes que, na próxima aula, será feita uma oficina de adap-tação, na qual eles aprofundarão a experiência de transformar poemas verbais em poemas ver-bo-visuais. Para isso, peça que se organizem em grupos e escolham, para a próxima aula, um po-ema do livro Alberto Caeiro – Poemas comple-tos que irão adaptar.

Saiba mais:

Sobre a relação entre texto e imagem, há o interessante artigo “A relação entre imagem e texto na ilustração de poesia infantil”, de Luís Camargo, disponível em: <www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/poesiainfantilport.htm>. (Acesso em: 4 nov. 2020).

7– Oficina de adaptação 1

> Organização do espaço: Sala de aula.

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: Folhas de sulfite, canetas ou lápis, os livros Alberto Caeiro – poemas completos; e Fernando Pessoa e outros Pessoas.

Nessa aula, os alunos irão roteirizar o proces-so de adaptação de um poema verbal de Alberto Caeiro para o formato verbo-visual. Então, propo-nha que cada grupo apresente o poema que será trabalhado e diga que eles deverão pensar em qual será a técnica que usarão para adaptá-lo para imagens. Como alternativa, eles poderão utilizar desenho, colagem, fotografias ou qualquer forma que esteja relacionada à experiência que tiveram como o poema.

É importante que o grupo pense na forma com a qual tenham mais intimidade para se ex-pressarem, e que você incentive a diversidade dos materiais utilizados. Isso porque as adapta-

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Produção de roteiro e adaptação

ções dos alunos irão compor um livro em home-nagem ao poeta Alberto Caeiro cujo original fica-rá exposto na biblioteca da escola e será vertido para o formato PDF para que possa circular entre todos os alunos da escola.

Conscientize os alunos da necessidade de se escrever um roteiro, ou seja, uma descrição minuciosa do que deve conter cada quadro uti-lizado na adaptação do poema, o porquê das escolhas feitas e como elas dialogam com os trechos do poema aos quais se referem. Esses roteiros deverão compor o livro aparecendo na sequência da adaptação verbo-visual.

Oriente-os que iniciem o processo de divi-são dos versos em quadros: a força da imagem é que vai orientar essa divisão de modo que é possível que se produza um quadro para expres-sar apenas um verso ou para uma estrofe inteira.

PARTE 2

— Seleção e/ou produção das séries de

imagens tomando como modelo qua-

dros dispostos sobre uma folha de pa-

pel sulfite A4.

PARTE 3

— Produção do livro de adaptação dos poe-

mas.

Poema: II - O meu olhar é nítido como um girassol (Alberto Caeiro)Equipe de criação: (nomes dos alunos)

Técnica:fotografia e colagem

Versos Descrição das imagens

Relação palavra e imagem

Efeito no leitor

Quadro 1 “o meu olhar é nítido como um girassol”

A fotografia do sol brilhando muito forte cercado de recortes de páginas aleatórias de revistas

A ideia aqui é sugerir a relação entre o olho redondo como o sol e amarelo como o girassol cercado de tudo que há no mundo e ele é capaz de ver, mesmo que não aparente sentido.

Nossa proposta é que o leitor se surpreenda com a quantidade de coisas que os olhos podem abarcar.

Quadro 2

Quadro 3

Quadro 4

Alerte-os que precisam estar atentos nessa feitu-ra, pois estão criando um objeto artístico.

Projete na lousa ou entregue a eles o passo a passo para a criação do roteiro:

PARTE 1

1. Definição da técnica a ser utilizada na adaptação dos poemas verbais para ver-bo-visuais.

2. Fragmentação do poema em quadros imagéticos.

3. Descrição minuciosa das imagens que irão compor cada quadro.

4. Análise da relação entre o quadro imagé-tico e os versos selecionados.

5. Relato do efeito que pretendem causar no leitor.

Exemplo:

Para que haja unidade mesmo na diversidade de técnicas utilizadas no livro, todos os grupos devem seguir esse modelo de roteiro que deverá acompanhar as produções. Assim, é importante que eles se debrucem sobre a Parte 1 e tragam o roteiro pronto para receber os retoques do pro-fessor na próxima aula.

Como tarefa, eles devem preparar as ima-gens dos dois primeiros quadros e trazê-las para, com base nos ajustes do roteiro, receberem orien-tações do professor.

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Produção de roteiro e adaptação

Saiba mais:

Há um artigo interessante que traz vários processos pormenorizados de adaptação de poemas para os quadrinhos. “Poemas em forma de quadrinhos”, de Daniel Abrão e Nataniel dos Santos Gomes. O texto co-menta inclusive uma adaptação feita por Laerte sobre o poema “Tabacaria”, de Fer-nando Pessoa. Os autores argumentam que “associando, portanto, a imagem ao texto, as HQs poéticas estão em pleno de-senvolvimento estético, aliando experiên-cias abertas para um grande número de possibilidades”. Vale a pena conferir! Dispo-nível em: <www.filologia.org.br/xviii_cnlf/completo/Poemas%20em%20forma%20de%20hist%C3%B3rias%20-%20DANIEL.pdf>. (Acesso em: 4 nov. 2020).

8– Oficina de adaptação 2: revisão do roteiro e orientação para produção das imagens

> Organização do espaço: sala de aula.

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: computadores, materiais para a produção das imagens, os roteiros e os livros Alberto Caeiro – Poemas comple-tos e Fernando Pessoa e outros Pessoas.

Nessa aula os grupos deverão apresentar e fazer a correção dos seus roteiros bem como receberem a orientação com relação à produção iconográfica.

Então, junte dois grupos para que um apre-sente ao outro seu roteiro e os dois primeiros quadros produzidos e recebam sugestões, além da primeira correção do roteiro. Oriente-os para que o grupo ao qual está sendo apresentado dê o feedback ao grupo apresentador se o roteiro está compreensível, ou se precisa de reformu-lação no texto escrito para que as informações cheguem de modo eficiente.

Enquanto os grupos trabalham nessa corre-ção colaborativa, você deve dividir o tempo para que possa orientar cada grupo individualmente. Nessa orientação, é importante que você faça a correção final do roteiro porque ele estará ane-xado junto à produção no livro, por isso é fun-damental que receba uma revisão cuidadosa. Além dos aspectos gramaticais, observe se estão contempladas habilidades específicas de com-

preensão, competência leitora e interpretativa. Observe que esse é um momento especial para a relação aluno-professor e para a própria ideia de orientação e sua implicação na vida escolar e pessoal do adolescente. Então, estimule-os a re-fazerem o roteiro caso seja necessário, pois isso desenvolve a capacidade de se deslocar critica-mente frente ao pronto e acabado.

No mesmo momento em que você aten-de aos grupos, aqueles que já passaram pela primeira correção colaborativa e aguardam sua orientação podem dar continuidade no proces-so de adaptação das imagens. Os grupos que trabalham com desenho, podem desenhar; os que trabalham com colagens podem recortar e colar imagens; os que trabalham com fotografias podem sair para fotografar ou imprimir as fotos tiradas em local adequado da escola.

Para o próximo encontro, eles devem levar suas histórias prontas já coladas no papel cartão, cuidando para deixarem dois centímetros de dis-tância da margem esquerda, para não compro-meter a leitura, já que essa margem será colada no momento de juntá-las no livro. Os poemas podem ser dispostos sobre a página tanto na posição vertical quanto na horizontal.

Saiba mais:

Sugerimos a leitura de dois artigos que discorrem sobre projetos de adaptação de literatura para multimeios. Num deles, que apresenta a adaptação fotográfica de músicas de Chico Buarque, a autora Geru-za Zelnys de Almeida comenta que: “Nas orientações é que se concentra a parte mais importante e fundamental do traba-lho, ou seja, são nelas que se apre(e)nde a especificidade poética e as diretrizes do processo tradutório e transcriador. […] O aluno analisa a canção, depois a letra, verso a verso, relacionando com o sentido e a at-mosfera geral da música, levando em con-ta o ritmo, a interpretação do cantor e tudo que possa servir de referência à tradução imagética. Nesse trabalho analítico se dá o encontro com a literariedade, a desco-berta do processo de construção poética, possível apenas nos exercícios de releitura do texto literário. Essa etapa, portanto, é que dará os subsídios para a seleção e/ou

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Produção de roteiro e adaptação

9– Oficina de montagem do livro de adapta-ção verbo-visual

> Organização do espaço: Refeitório da escola, ou outro local no qual haja mesas grandes para a montagem do livro.

> Duração: 50 minutos.

> Materiais: Materiais necessários à mon-tagem do livro: papel cartão A4 para a capa, tesoura, cola, estilete, barbante, celular com programa de conversão de fotografia para PDF final do livro.

Essa é uma aula bastante especial porque nela se dará a concretização do livro. É importante que, juntos, vocês possam criar a capa e pensarem num título para ele, como: Poemas adaptados de Alberto Caeiro, além de escolherem a sequência dos poemas. Oriente-os a criarem também uma folha de rosto contendo: o título da obra, o nome dos autores (que pode ser substituído pela turma e escola), do responsável pelo projeto (professor), local e ano, além de uma página com o sumário.

Antes de finalizarem a produção do livro, bai-xe no celular algum programa gratuito de conver-são de fotografia em PDF, como o Tap Scanner, tire as fotografias na sequência em que elas de-vem aparecer no livro e converta para o PDF.

A montagem do livro pode ser bem simples: encadernação em espiral, ou mesmo utilizando um furador e fitas coloridas para juntar as pági-nas. No entanto, é possível também fazer algo bem elaborado, com capa dura, fixando as pági-nas com cola e barbante. Para isso, vocês podem se basear no vídeo explicativo “Como fazer enca-dernação capa dura de folhas soltas impressas”, disponível em: <www.youtube.com/watch?v=h2 -pJwCjbY8>, ou ainda, pedir auxílio ao professor de Artes.

O livro físico deverá ficar exposto na bibliote-ca para leitura dos alunos da escola, e o livro vir-tual poderá ser enviado para seus grupos de ami-gos, ou postado em alguma rede social da escola.

10– Avaliação

> Organização do espaço: Biblioteca ou sala de tecnologia.

> Duração: 50 minutos.

> Material: Os livros Alberto Caeiro – Poe-mas completos e Fernando Pessoa e ou-tros Pessoas.

Essa aula final é reservada à avaliação do processo. Para isso, é importante retomar os objetivos desta sequência didática cujo foco foi escrever em torno do literário por meio da pro-dução de roteiros para adaptação do gênero poesia verbal para poesia verbo-visual. Sendo assim, abra uma roda de conversa com os alunos e aborde os temas centrais desta sequência di-dática, a saber:

— entender algumas especificidades do gênero poesia ligadas ao verso, como o ritmo e as rimas;

— conhecer o poeta Fernando Pessoa e alguns de seus heterônimos, prioritaria-mente Alberto Caeiro;

— analisar o processo de adaptação do gê-nero poesia para o gênero HQ;

— elaborar um roteiro de adaptação da lin-guagem verbal para a verbo-visual;

— desenvolver a imaginação, a sensibilidade e a criatividade;

— planejar, textualizar, revisar e editar os textos produzidos;

— produzir séries fotográficas que compo-nham um livro adaptado para a lingua-gem verbo-visual de poemas de Alberto Caeiro;

produção das imagens que acompanharão a música e que precisam, também, apre-sentar qualidade artística, ou ainda, uma certa poeticidade nas imagens. É impor-tante que o aluno compreenda que uma imagem visual também é um texto e, por isso, tem autonomia. Portanto, não se deve esperar que a imagem represente fielmen-te a palavra, mas sim que dialogue com ela, ampliando, sugerindo ou mesmo questio-nando o sentido contido na letra”.

Disponíveis em:

Literatura e multimeios: Uma proposta pe-dagógica:

<http://periodicos.uefs.br/index.php/acor dasletras/article/view/1537/pdf>

Literatura e outras artes na escola:

<www.ufjf.br/darandina/files/2010/01/ artigo24.pdf>(Acesso em: 4 nov. 2020).

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Produção de roteiro e adaptação

— atuar como autor das próprias leituras, considerando-as novos objetos artísticos.

Inicie o processo com o livro físico em mãos, mas também acessando-o em PDF pelo com-putador. Peça que comentem a respeito do livro como um todo com liberdade e que o grupo ava-lie as produções dos outros grupos: pontos for-tes, pontos frágeis, relação entre palavra e ima-

gem etc. Retome o processo, perguntando sobre suas aprendizagens e atuações. Socializando seu processo, os alunos terão a oportunidade de se postarem criticamente acerca do próprio apren-dizado. Depois faça sua avaliação, discutindo o processo e cuidando para ter uma palavra de in-centivo à continuidade da construção da autoria e da subjetividade poética.

Referências Bibliográficas:

AGUIAR. Larissa Walter Tavares; AGUIAR, Fabrício César de. Aspectos do sistema heteronímico de Fernando Pessoa. In: Cadernos do IL, Porto Alegre, nº 55, dez. de 2017. p. 164-182. Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/cadernosdoil/article/view/67502>.

ALMEIDA, Geruza Zelnys de. Literatura e multimeios: Uma proposta pedagógica. In: A cor das letras, Bahia: UFBA. Disponível em: <http://periodicos.uefs.br/index.php/acordasletras/article/view/1537/pdf >

_____. Literatura e outras artes na escola. In: Revista Darandina. Juiz de Fora: UFJF. Disponível em: <www.ufjf.br/darandina/files/2010/01/artigo24.pdf>

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/Consed/ Undime, 2018.

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GOMES, Nataniel dos Santos; ABRAÃO Daniel. Poemas em forma de quadrinhos. In: Revista de Filo-logia. Disponível em: <www.filologia.org.br/xviii_cnlf/completo/Poemas%20em%20forma%20de%20hist%C3%B3rias%20-%20DANIEL.pdf>.

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