p22 edicao 98 tecnologia

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NÚMERO 98 SET/OUT 2015 Entrevista As feições do novo ser humano História Vamos a Marte sem antes resolver a crise ecológica Impacto Como a técnica moldou a sociedade O que a economia verde e inclusiva pode esperar da revolução em curso TECNOLOGIA    1   9   8   2    1   6   7   0

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NUacuteMERO 98 SETOUT 2015

EntrevistaAs feiccedilotildees do

novo ser humano

HistoacuteriaVamos a Marte

sem antes resolvera crise ecoloacutegica

ImpactoComo a teacutecnicamoldou a sociedade

O que a economia verde e inclusiva

pode esperar da revoluccedilatildeo em curso

TECNOLOGIA

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Homo sapiens tecnoloacutegicoNatildeo raro a tecnologia desperta visotildees antagocircnicas De um lado

defensores acreditam que a ferramenta empregada pela

engenhosidade humana seraacute plenamente capaz de nos livrar

das ameaccedilas ambientais De outro ambientalistas chegam a

assumir uma posiccedilatildeo tecnofoacutebica ao entender o artifiacutecio teacutecnico

como forma de se desviar de mudanccedilas mais profundas de

comportamento valores consciecircncia e concepccedilatildeo de mundo

Nesta ediccedilatildeo aprendemos como a dissociaccedilatildeo entre o teacutecnico

e o humano se tornou impossiacutevel A histoacuteria da tecnologia eacute a

histoacuteria da civilizaccedilatildeo humana O Antropoceno vem solidificaressa fusatildeo ao constatar que jaacute vivemos sob uma era geoloacutegica

na qual o ambiente eacute um resultado da accedilatildeo antroacutepica

Ao puxar o fio das inovaccedilotildees que podem proporcionar maior

bem-estar agrave sociedade em respeito aos limites ambientais

a reportagem deparou-se com uma discussatildeo anterior de

cunho mais existencial Mergulhamos em uma reflexatildeo sobre

identidade sobre o que nos faz humanos e que tipo

de humanidade seraacute caracterizada por esse novo ser ndash cada

vez mais hiacutebrido entre o artificial e o natural entre o bioloacutegico

e o eletrocircnico

A aventura humana sobre a Terra e que jaacute se projeta para

aleacutem dela estaacute soacute comeccedilando Nesta ediccedilatildeo em que PAacuteGINA22

comemora 9 anos de vida desejamos a todos uma boa leitura

FSC

A REVISTA P22 FOIIMPRESSA EM PAPELCERTIFICADOPROVENIENTEDEREFLORESTAMENTOS CERTIFICADOS PELO FSCDE ACORDO COM RIGOROSOS

PADROtildeES SOCIAISAMBIENTAISECONOcircMICOSEDE OUTRAS FONTES CONTROLADAS

P22 NAS VERSOtildeES IMPRESSAEDIGITALADERIUAgrave LICENCcedilACREATIVECOMMONSASSIMEacuteLIVRE AREPRODUCcedilAtildeODO CONTEUacuteDO EXCETO

IMAGENS DESDEQUESEJAM CITADOS COMOFONTES APUBLICACcedilAtildeOE OAUTOR

ESCOLA DE ADMINISTRACcedilAtildeO DE EMPRESAS

DE SAtildeO PAULO DA FUNDACcedilAtildeO GETULIO VARGAS

DIRETOR Luiz Artur Brito

COORDENADOR Mario Monzoni

VICECOORDENADOR Paulo Durval Branco

COORDENADOR ACADEcircMICO Renato J Orsato

JORNALISTAS FUNDADORAS Amaacutelia Safatle e Flavia Pardini

EDITORA Amaacutelia Safatle

EDICcedilAtildeO DE ARTE Marco Antoniowwwmioloeditorialcombr

EDITOR DE FOTOGRAFIA Bruno Bernardi

REVISORPESQUISADOR DE TEXTO

Joseacute Genulino Moura Ribeiro

GESTORA DE PRODUCcedilAtildeO Bel BrunharoILUSTRACcedilOtildeES Flavio Castellan (seccedilotildees)

COLABORARAM NESTA EDICcedilAtildeO

Bruno Toledo Diego Viana Elaine Carvalho Fabio F Storino

Faacutebio Rodrigues Felipe Giasson Luccas Guto Ramos

Joatildeo Meirelles Filho Magali Cabral (textos e ediccedilatildeo )

Manoel Potiguar Moreno Cruz Osoacuterio Regina Scharf

Seacutergio Adeodato Tiago ChavesENSAIO FOTOGRAacuteFICO Felipe Gombossy

JORNALISTA RESPONSAacuteVEL

Amaacutelia Safatle (MTb 22790)

COMERCIAL E PUBLICIDADENominal Representaccedilotildees e Publicidade

Mauro Machadomauronominalrpcombr

(11) 30635677

REDACcedilAtildeO E ADMINISTRACcedilAtildeO

Rua Itarareacute 123 - CEP 01308-030 - Satildeo Paulo - SP

(11) 3284-0754 leitorpagina22combr

wwwfgvbrcespagina22

CONSELHO EDITORIAL

Ana Carla Fonseca Reis Aron Belinky

Joseacute Eli da Veiga Leeward Wang

Mario Monzoni Nataacutelia Garcia Pedro Telles

Roberto S Waack Rodolfo Guttilla

IMPRESSAtildeO HRosa Serviccedilos Graacuteficos e Editora

TIRAGEM DESTA EDICcedilAtildeO 5800 exemplares

Os artigos e textos de caraacuteter opinativo assinados por

colaboradores expressam a visatildeo de seus autores natildeo

representando necessariamente o ponto de vista de

P e do GVces

ANUNCIE

EDITORIAL

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

B R U N O B

E R N A R D I

[E E ]

Eu acredito que o encontro o diaacutelogoe a colaboraccedilatildeo para um mundo

melhor estatildeo no altruiacutesmo que eacute umaabordagem de todas as religiotildees Emoutras palavras depende do amor daempatia e da compaixatildeo sentimento

que predominam entre os quebuscam o autoconhecimento oexerciacutecio da colaboraccedilatildeo com o outro

e a coexistecircncia Susana Simotildees Leal

[O E ]

Augusto Uchoa fui apresentado ao

Leandro Karnal por vocecirc em umaaula em que exibiu a participaccedilatildeodele no Cafeacute Filosoacutefico da TV CulturaE lembro que disse se achar muito

burro numa comparaccedilatildeo com estehistoriador Lendo esta entrevistaa achei oacutetima e fiquei com a mesmasensaccedilatildeoThiago Etchatz

[E

E ]

Bem interessante mesmo

Precisamos mudar a referecircncia sobrequem estaacute no centro do universouma nova revoluccedilatildeo Marcia Regina

Ferreira

[E E]

Compartilho a Revista P22 queconsidero ser um trabalho exemplar

de jornalistas de primeira linha como

Amaacutelia Safatle e Seacutergio Adeodatoentre outros O tema dessa ediccedilatildeo eacutemuito interessante Vale a pena ler

Maria Inecircs Berloffa

OUTBOXE

Na reportagem ldquoA feacute estaacute na mesardquopaacutegina 47 da ediccedilatilde o 97 onde se lecircpalestra no TED leia-se palestra no

EAT A versatildeo digital estaacute correta

CAPA

Caixa de entradaCOMENTAacuteRIOS DE LEITORESRECEBIDOS POR EMAIL REDESSOCIAIS E NO SITE DE P22

Luz no tuacutenelNa busca de uma economia mais verde e socialmente inclusivao que se deve esperar (ou natildeo) das tecnologias emergentes

Economia Verde Iniciativas mostram como a Floresta Amazocircnicapode se transformar em um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicassimples relevantes e de baixo custo

Entrevista Luiz Alberto Oliveira curador do Museu do Amanhatildevislumbra as novas feiccedilotildees da humanidade cada vez mais um hiacutebrido entreo bioloacutegico e o eletrocircnico entre o natural e o artificial

Histoacuteria O Homo sapiens tecnoloacutegico logo mais chega a Marte masainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica que coloca em risco a suaproacutepria existecircncia

Impacto Cada nova onda tecnoloacutegica traz a necessidade de repensaro modo de vida humano Para o economista Otto Scharmer do MIT o impactoseraacute negativo ou positivo se reduz ou amplia nosso espectro de opccedilotildeespara agir e criar

10

14

34

44

SECcedilOtildeES6 Notas 9 Web 27 Coluna 28 Retrato 39 Farol 40 Artigo 42 Anaacutelise 43 Brasil Adentro 49 Antena 50 Uacuteltima

20

FOTODACAPABRUNOBERNARDI OBRA JULIANOPIE

AGRADECEMOSAgraveEXPOSICcedilAtildeOINVENTONAOCAQUEFOIOBJETODEFOTOSDAEDICcedilAtildeO

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

IacuteNDICEUse o QR Code para acessar P22 gratuitamente e ler esta e outras ediccedilotildees

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Mais emprego

Um balanccedilo feito no uacuteltimo seacuteculo e meio comprova o avanccedilotecnoloacutegico natildeo eacute um exterminador de empregos Pesquisa rea-lizada na Inglaterra e no Paiacutes de Gales pela empresa global de

consultoria e auditoria Deloitte mostra que ao contraacuterio a ascensatildeoda tecnologia vem criando grande quantidade de postos de trabalho aolongo dos uacuteltimos 144 anos

Para chegar a essa conclusatildeo reportagem publicada em 18 de

agosto no jornal britacircnico The Guardian conta que os economistas daDeloitte vasculharam dados dos censos dos dois paiacuteses desde 1871

Segundo os autores da pesquisa a exceccedilatildeo fica por conta dossetores agriacutecola e industrial que devido agrave automaccedilatildeo dos meios de

produccedilatildeo de fato reduziram drasticamente o nuacutemero de empregados

Se em 1871 66 da forccedila de trabalho da Inglaterra e do Paiacutes de G alestrabalhavam em fazendas hoje apenas 02 manteacutem um emprego nocampo Um decliacutenio de 95

Mas o crescimento dos setores de tecnologia da informaccedilatildeo e deserviccedilos (cabeleireiros bares e restaurantes educaccedilatildeo) por exem-plo teriam mais do que compensado essas perdas As maacutequinas as-sumiram tarefas mais repetitivas e trabalhosas mas natildeo chegaram

perto de eliminar a necessidade de trabalho humano que em qualquermomento nos uacuteltimos 150 anos escreveram os autores Ian StewartDebapratim De e Alex Cole indicados para o precircmio Society of Ryb-czynski de estudos na aacuterea de economia e negoacutecios Para saber mais

acesse bitly1EzgQI1 ndash Magali Cabral

MAIS TECNOLOGIA

EXTERNALIDADES

Quem paga a contaO custo da degradaccedilatildeo do planeta tem

recaiacutedo em toda a sociedade traduzidonos riscos agrave qualidade de vida e natildeo pro-priamente nas contas das empresas cau-

sadoras de danos ao meio ambiente Pelaprimeira vez um estudo mundial calculou

quanto ndash ou seja qual o peso financeiro des-sas ldquodespesasrdquo caso fossem pagas em vez

de remunerar acionistas De acordo com olevantamento da consultoria Trucost en-comendado pelo The Economics of Ecosys-tems and Biodiversit y (Teeb) as companhias

globais mais rentaacuteveis registrariam lucrobem inferior ao que reportam se os custosambientais tivessem sido incorporados aobalanccedilo financeiro Em alguns casos o ne-

goacutecio se tornaria inviaacutevelO estudo analisou as receitas das maio-

res induacutestrias no planeta e em seguidaas comparou com 100 diferentes tipos de

custos ambientais divididos em seis cate-gorias uso da aacutegua uso da terra emissotildeesde gases de efeito estufa resiacuteduos poluiccedilatildeodo solo e contaminaccedilatildeo hiacutedrica Os setores

RANKING

12345

Ranking dos 5 setoresregiotildees com o maior impacto no capital naturalSETOR

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoCriaccedilatildeo de gado

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoPlantaccedilatildeo de trigoPlantaccedilatildeo de arroz

REGIAtildeO

Leste AsiaacuteticoAmeacuterica do Sul

Ameacuterica do NorteSul da AacutesiaSul da Aacutesia

RECEITA US$ BI

4431166

2467318658

RELACcedilAtildeO

10188138436

CUSTO DO CAPITAL NATURAL US$ BI

45283538316826662356

FONTE TRUCOST

mais problemaacuteticos foram pecuaacuteria cultivoe processamento de gratildeos energia a carvatildeoe produccedilatildeo de cimento e accedilo

A criaccedilatildeo de gado na Ameacuterica do Sul

carrega custo ambiental 18 vezes maior doque as receitas da atividade principal res-ponsaacutevel pela destruiccedilatildeo da Floresta Ama-zocircnica O processamento de soja e a pro-

duccedilatildeo animal estatildeo no topo das atividadesque mais geram custos de externalidadesnas cadeias produtivas Mais detalhes emgoogl1nf3U8 ndash Seacutergio Adeodato

E R I K A R A Uacute J O

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

LANCcedilAMENTO II

Saques na Terra do MeioO receacutem-lanccedilado livro Rotas do Saque Ameaccedila

violaccedilotildees agrave integrid ade territorial da Terra do Meio (PA)

Instituto Socioambiental (ISA) faz um diagnoacutestico so

roubo de madeira grilagem e ameaccedilas a os povos indiacutenas e comunidades tradicionais que vivem no conjuntoaacutereas protegidas da Terra do Meio A regiatildeo localizadaBacia do Rio Xingu no Sudoeste do Paraacute entre os rios Xin

e Iriri eacute um corredor de 8 milhotildees de hectares de aacuterprotegidas no coraccedilatildeo da Amazocircnia entre terras indiacutenas e unidades de conservaccedilatildeo

Na deacutecada de 1990 a regiatildeo passou por um proce

intenso de grilagem e exploraccedilatildeo madeireira ilegal qdeixou tentaacuteculos sobre a floresta e seus povos Rotas

Saque mostra que uma deacutecada apoacutes a decretaccedilatildeo da maria das Unidades de Conservaccedilatildeo da regiatildeo o territoacuteri

as comunidades tradicionais da Terra do Meio seguem sum novo ciclo de pressotildees de grupos i nteressados na appriaccedilatildeo ilegal de terras puacuteblicas e no roubo de madeAcesse o pdf da publicaccedilatildeo em bitly1MzHwPs (MC)

Instrumento decisivo no combate agrave mudanccedila climaacuteticaa precificaccedilatildeo de carbono eacute o tema de estreia do P22_ON

um projeto digital temaacutetico que usa recursos multimiacutedialinguagem leve e formato dinacircmico para levar a um puacuteblicomais amplo temas estrateacutegicos para a sociedade Acesse osite p22oncombr e assista ao viacutedeo sobre precificaccedilatildeo em

youtubeseITk3hyunAO projeto lanccedilado em 6 de agosto usa como base con-

teuacutedos teacutecnicos produzidos pelos pesquisadores do Centroem Estudos em Sustentabilidade da Eaesp-FGV (GVces) O

intuito eacute contribui r para o debate puacuteblico e a tomada de deci-satildeo de empresas e governos Com textos acessiacuteveis viacutedeosgraacuteficos dicas de leitura etc oP22_ON vai ao ar a cada dois me-

ses intercalado com a ediccedilatildeo im-pressa da P22 Aguarde emoutubro o proacuteximo tema

LANCcedilAMENTO I

P22_ON estreia comprecificaccedilatildeo de carbono

Sinal vermelho enfim

Um ano e meio depois da crise hiacutedricainstalada o governo de Satildeo Pauloreconheceu oficialmente por meio

de uma portaria publicada em 19 de agostoque a situaccedilatildeo na Grande Satildeo Paulo eacute criacute-tica A portaria eacute um instrumento atraveacutesdo qual eacute possiacutevel suspender licenccedilas de

captaccedilatildeo particular para priorizar o abas-tecimento puacuteblico e acelerar a obtenccedilatildeo delicenccedilas ambientais

A medida poderaacute tambeacutem servir de

alerta aos que jaacute comeccedilam a deixar a tor-

neira mais tempo aberta Segundo le-vantamento da Lello administradora decondomiacutenios no Estado ndash feito com base

nas contas de aacutegua de 17 mil edifiacutecios resi-denciais da capital paulista ABC Campinase litoral do Estado ndash a adesatildeo dos mora-dores ao uso racional de aacutegua diminuiu jus-

tamente depois da estaccedilatildeo mais chuvosaEm junho apenas 76 dos condomiacutenioseconomizavam aacutegua em relaccedilatildeo aos seusconsumos meacutedios contra 82 em abril

Mesmo natildeo sendo uma reduccedilatildeo ex-pressiva na adesatildeo das campanhas de con-

CRISE HIacuteDRICA

passado empresas de saneamento indtrias agricultores e pecuaristas tiverde reduzir pela primeira vez na histoacuteria

captaccedilatildeo de aacutegua na Bacia do Rio Camandcaia na regiatildeo de Campinas Em meadosagosto segundo os oacutergatildeos reguladorapenas 1320 litros por segundo de aacuteg

passavam pelo rio quando o normal eacute psar de 2000 ls

A restriccedilatildeo agrave captaccedilatildeo atingiu dez mniciacutepios parcial ou totalmente Amparo

lambra Jaguariuacutena Monte Alegre do S

Pedra Bela Pedreira Pinhalzinho Santo Atocircnio de Posse Serra Negra e Socorro (M

sumo racional eacute o suficien te segundo aempresa para acender um sinal ldquoamarelordquoA esta altura a luz vermelha talvez fosse

mais apropriada jaacute que a amarela repre-senta a realidade dos uacuteltimos e dos proacutexi-mos anos Agosto foi o mecircs mais seco dahistoacuteria para o Sistema Alto Tietecirc respon-

saacutevel pelo abastecimento de 45 milhotildees depessoas No dia da publicaccedilatildeo da portariaesse sistema operava com apenas 15 desua capacidade

Embora a medida do governo se refira

apenas agrave Grande Satildeo Paulo a situaccedilatildeo nointerior do estado natildeo eacute melhor No mecircs

NOTAS

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ENERGIA

Mapa do sol

Com a energia solar ficando mais aces-siacutevel um grande nuacutemero de pessoas

estaacute tendo de se virar para descobrirse e quanto vale investir num sistema do-miciliar de paineacuteis solares E naturalmenteessa gente toda recorre ao Google Para

atender esse puacuteblico um grupo de enge-nheiros da empresa lanccedilou o Project Sun-roof (algo como Projeto Teto Solar)

O projeto aproveita dados que o Google

aacute coletava ndash como endereccedilos georreferen-ciados modelamento 3D e imagens de sa-teacutelites ndash para construir um mapa detalhado

sobre quanta luz solar cada telhado recebeO sistema olha inclusive para o histoacuterico cli-maacutetico da regiatildeo e o entorno de cada casaDessa forma identifica o nuacutemero de dias detempo ruim ou sombras de construccedilotilde es e

aacutervores vizinhas Com base nisso orientaquanta energia limpa eacute possiacutevel gerar a par-tir da energia solar e o quanto isso compen-

sa do ponto de vista financeiro comparandoos preccedilos dos equipamen tos e seu custo denstalaccedilatildeo na regiatildeo de cada usuaacuterio E ateacutemesmo qual a opccedilatildeo mais barata

O serviccedilo estaacute disponiacutevel apenas nascidades de Boston Fresno e da regiatildeo me-tropolitana de San Francisco Mas o viacutedeode lanccedilamento do projeto (googlpMrBlW)

fala que ldquoem breverdquo o mapeamento inclui-raacute todo o territoacuterio americano e possivel-mente o mundo ndash Faacutebio Rodrigues

CAPTACcedilAtildeO DE RECURSOS

Turismo

em RPPNsComeccedilaram a ser buscados no Brasil eno exterior os recursos para a primei-ra etapa do Programa de Desenvolvi-

mento de Turismo Sustentaacutevel em RPPNs Afase de Sensibilizaccedilatildeo teraacute duraccedilatildeo de 12 a18 meses e custo estimado em R$ 11 milhatildeoO programa tem como objetivo promover

atividades de turismo sustentaacutevel nas 1351RPPNs do Brasil Acesse a proposta em por-tuguecircs (migremer9Fk0) inglecircs (migremer9Fn2 ) ou espanhol (migremer9FlF)

F A B I O F S T O R I N ODoutor em Administraccedilatildeo

Puacuteblica e Governo

Em um saacutebado agrave noite haacute poucomais de dois seacuteculos trabalha-dores do setor tecircxtil reuniam-se

num pub na cidade inglesa de High-town Natildeo estavam celebrando o cli-ma econocircmico era sombrioe as condiccedilotildees naquela in-

duacutestria muito duras Quan-do chegou a hora largaramseus copos de cerveja e

pegaram nas armas mdash pi-caretas marretas riflesmdash e rumaram ateacute a plantade uma faacutebrica O alvo Asmaacutequinas introduzidas pela

Revoluccedilatildeo Industrial queameaccedilavam seus empre-gos Por dois anos os lud-

ditas repetiriam os ataques em vaacuteriasoutras cidades ateacute serem contidospelo Exeacutercito Britacircnico e pelo Parla-mento que tornou crime a quebra de

maacutequinas e permitiu que os responsaacute-veis fossem levados a julgamento

A tensatildeo entre os humanos e asmaacutequinas permaneceu a cada novo

avanccedilo tecnoloacutegico Mas se empregoseram destruiacutedos outros tantos eramcriados as maacutequinas liberavam as pes-soas dos trabalhos duros e repetitivos

da agricultura e da induacutestria e com oaumento da renda proporcionado porganhos de produtividade novas de-mandas eram geradas especialmente

no setor de serviccedilos por muito tempoum refuacutegio contra a ameaccedila roboacutetica

Mas isso estaacute mudando com oavanccedilo da inteligecircncia artificial robocircs

estatildeo aprendendo a desempenhar ta-refas que exigem muito mais neurocirc-nios que muacutesculos como mostra o oacuteti-mo Humans Need Not Apply [Humanos

natildeo precisam se candidatar] (youtube7Pq-S557XQU com legendas emportuguecircs disponiacuteveis) Robocircs que co-

zinham escrevem notiacutecias e dirigem jaacutesatildeo realidade E a progressatildeo tende aser geomeacutetrica Se taxistas do Brasil e

do mundo atacam motoristas e veiacutecu-los do Uber o que faratildeo quando dirigir

se tornar obsoletoNo Centro de Estudos

do Risco Existencial da Uni-versidade de Cambridge ainteligecircncia artificial eacute vista

com um dos riscos (googlfcZrwj) algoritmos capa-zes de aprender continua-mente e se adaptar de ma-neira autocircnoma precisam

de salvaguardas que os im-peccedilam de se voltar contraos humanos Carta aberta

assinada por grandes nomes da ciecircn-cia e tecnologia (googlEnc1Gc) comoStephen Hawking e Elon Musk alertacontra os riscos das armas autocircnomas

mdash falo sobre isso em ldquoO robocirc que natildeome amavardquo (ed 80 googl65eZaX)

Essas maacutequinas tampouco estatildeoa salvo da ameaccedila humana recente-

mente HitchBOT robocirc que cruzou oCanadaacute e Europa pegando carona foicompletamente destruiacutedo nos EUANo Japatildeo pesquisadores programam

robocircs para tentar evitar bullying h u-mano (conclusatildeo do algoritmo fuja decrianccedilas em grupo) Laacute eles tambeacutemoferecem companhia aos humanos

em especial aos idosos Filmes recen-tes como Ela e Ex-Machina apontampara um futuro no qual robocircs tambeacutemse tornaratildeo parceiros amorosos

Estamos introduzindo um novoator nas relaccedilotildees sociais sem termosresolvido a contento a maneira comotratamos nossos semelhantes de car-

ne e osso Seraacute que com o algoritmocerto isso eacute algo que os robocircs pode-ratildeo nos ensinar

Olha issoHumanos versus robocircs

O B R A J O S Eacute D A M A S C E N O F O T O B R U N O B E R N A R D I

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

por Elaine Carvalho WEB

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

No mundo inteiro as oficinas de engenho-

cas crescem em quantidade e puacuteblicoO aprender fazendo possibilita desen-

volver nas crianccedilas habilidades valorizadas noseacuteculo XXI capacidade de criar de ser propo-sitivo e de desenvolver soluccedilotildees compartilha-das usando a tecnologia

Por isso os Estados Unidos transforma-ram algumas de suas bibliotecas em maker-

spaces ndash espaccedilos para pocircr a matildeo na massa efazer experimentaccedilotildees transdisciplinares NoBrasil os 69 centros binacionais (institutosculturais de ensino do inglecircs e da cultura ame -ricana) estatildeo fazendo o mesmo

ldquoUma bancada no canto de uma escola oubiblioteca pode ser considerada um maker-

space se tiver ferramentas simples de cria-ccedilatildeordquo explica a especialista em tecnologiaeducacional Daniela Lyra da Casa Thomas

Cidadatildeos do seacuteculo XXIPRATA DA CASA

MUNDO AFORA

Madeira em 3DPesquisadores da Universidade de Tecnolo-

gia Chalmers na Sueacutecia encontraram uma ma-neira de usar madeira como mateacuteria-prima na

impressatildeo 3D originando produtos biodegradaacute-veis Para isso eles tiveram de mudar a consis-tecircncia da fibra de celulose tornando-a um liacutequi-do injetaacutevel A descoberta mostra que o futuro

dessa tecnologia pode ser mais amigaacutevel para omeio ambiente pois proporciona certa liberta-ccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave dependecircncia do plaacutestico e dometal no processo Leia mais em bitly1Lzs45w

VALE O CLICK

D I V U L G A Ccedil Atilde O

L I A M A R A M I L A N E L L I

Jefferson centro binacional de Brasiacutelia que

oferece atividades desse tipo Nas oficinasdadas pelo artista e professor Glauco Paivana rede Sesc ele fornece brinquedos velhossucatas e quinquilharias de R$ 199 para sere mdesmontadas e recriadas ldquoO efeito eacute viral Ameninada leva a referecircncia para casa e laacute con-tinua criando e ensina os amigos Tudo o queeles precisam eacute de um adulto que abra caminhopara esse autodidatismordquo diz ele

No computador esse empoderamento sedaacute quando se sabe programar um modo decriar ldquofluecircnciardquo nesta linguagem que estima--se seraacute universal em ateacute 50 anos Cinco milalunos de escolas puacuteblicas de cidades paulis-tas estatildeo aprendendo a criar os proacuteprios ga-mes por meio do didaacutetico Programaecirc da Fun-daccedilatildeo Lemann que reuacutene os melhores sitesautoexplicativos de programaccedilatildeo da internet

Leia a iacutentegra da reportagem no blog da revista em fgvbrcespagina22

ECODRONESO Projeto Ecodrones Brasil d

WWF-Brasil pretende viabi

o uso de drones no Brasil

para monitorar e proteger os

recursos naturais Um viacutedeo

2 minutos explica como essa

tecnologia beneficiou a Aacutefric

do Sul e como pode ajudar as

nossas florestas Veja em

bitly1htZJ5r

MAIS APPS MAIS AacuteGUACom o Level Up+ cidadatildeos

podem registrar vazamento

e desperdiacutecios de aacutegua que

encontram nas ruas O aplica

foi o vencedor do Hackathon

Mais Sustentabilidade que

premiou projetos criados po

jovens para amenizar a crise

hiacutedrica Da iniciativa tambeacutem

surgiram os apps Mizu jogo

eletrocircnico para crianccedilas e

Irriga-Accedilatildeo que calcula a

aacutegua necessaacuteria para irrigar

plantaccedilotildees

CIDADE TAGUEADAO site Viuclub eacute um mapa

colaborativo onde os usuaacuterio

compartilham fotos e

impressotildees sobre pontos

especiacuteficos das cidades Cria

por alunos da PUC Minas pro

a construccedilatildeo coletiva de um

banco de memoacuterias positiva

de denuacutencias

Tensatildeo monitoradaMuitos aplicativos informam os usuaacuterios so-

bre como respirar corretamente para manter acalma a concentraccedilatildeo e o foco O Spire diz exa-tamente quando fazer isso Com a ajuda de um

dispositivo que se prende ao corpo do usuaacuteriopor um grampo o aplicativo monitora zonas detensatildeo e avisa os momentos em que a melhorestrateacutegia eacute parar e respirar profundamente

para retomar o estado de relaxamento e con-trole A conexatildeo entre o dispositivo e o iPhoneeacute feita por Bluetooth O dispositivo custa US$14995 Veja o viacutedeo em bitly1TmpaHn

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Em busca da Amazocircnia 20Como a floresta pode se tornar um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildeestecnoloacutegicas relevantes e de baixo custoPOR SEacuteRGIO ADEODATO

Quem se depara pela primeira vez coma realidade do isolamento da FlorestaAmazocircnica se surpreende com a feli-cidade da vida ribeirinha O povo adora

uma celebraccedilatildeo as festas varam a noite ateacute o ra iardo dia no embalo de muita muacutesica comida e bebi-da Ao final a montanha de resiacuteduos gerados pelafarra chama atenccedilatildeo Em qualquer outro lugar do

Paiacutes a primeira providecircncia seria varrer o lixo oupelo menos escondecirc-lo Mas ali eacute diferente coposlatas plaacutesticos garrafas e demais objetos descar-taacuteveis tecircm valor para a autoestima De certa manei-ra simbolizam status riqueza e poder situaccedilatildeo per-feitamente compreensiacutevel para quem natildeo faz muitotempo dependia de produtos in natura conquistouacesso ao consumo e mudou de haacutebito

A ascensatildeo econocircmica e social eacute mais do quejusta Mas a enxurrada de produtos industrializadose suas embalagens acendeu o sinal de alerta na flo-resta E passou a exigir ideias inovadoras para queas mercadorias que entramna rotina diaacuteria natildeo prejudi-quem a qualidade de vida

A soluccedilatildeo surgiu nacomunidade Trecircs Unidoshabitada por iacutendios da et-nia Kambeba na Aacuterea deProteccedilatildeo Ambiental do RioNegro nos arredores deManaus (AM) No local foiinstalado um inusitado galpatildeo de triagem adaptadoagraves condiccedilotildees do lugar para recebimento do lixo re-ciclaacutevel recolhido pelos moradores em 16 povoadosribeirinhos A principal novidade estaacute na logiacutesticaque exigiu o projeto de recipientes customizadospara embarque nas lanchas do transporte escolarresponsaacuteveis por levar os materiais ateacute uma coope-rativa de catadores da capital amazonense De laacuteo papel por exemplo eacute vendido a um depoacutesito ata-cadista que junta maior quantidade para abasteceruma faacutebrica de papelatildeo em Pernambuco

Pela primeira vez a reciclagem chega a uma aacutereaprotegida como reserva ambiental ldquoNatildeo foi faacutecilconscientizar as famiacutelias e agora jaacute notamos que o

nuacutemero de casos de diarreia diminuiurdquo conta o pajeacuteValdemir Triukuxuri O haacutebito era queimar o lixo oujogaacute-lo no rio como al go que a natureza se encarre-garia de eliminar assim como faziam pais e avoacutes comas sobras de frutos peixes e outros itens orgacircnicosmais tradicionais do consumo na floresta

A rotina comeccedilou a mudar com a central de re-siacuteduos construiacuteda em lugar no bre da comunidade agrave

vista de todos ldquoA ideia neste momento natildeo eacute gerarescala mas sensibilizar os ribeirinhos para a ques-tatildeordquo explica Fernando von Zuben diretor de meioambiente da Tetra Pak fabricante de embalagenslonga vida que apoia o projeto em parceria com aFundaccedilatildeo Amazonas Sustentaacutevel (FAS)

A iniciativa ilustra o desafio da inovaccedilatildeo na Ama-zocircnia centro das atenccedilotildees globais devido agrave impor-tacircncia para o equiliacutebrio climaacutetico ldquoO esforccedilo natildeodeve estar na sofisticaccedilatildeo mas na relevacircncia dassoluccedilotildees muitas vezes simples e de baixo custocapazes de resolver entraves do desenvolvimento

sustentaacutevelrdquo diz Virgiacutelio Vianasuperintendente geral da FAS

Os avanccedilos vatildeo desde umtrepador mecacircnico para subirmais faacutecil e raacutepido na palmei-ra de accedilaiacute e coletar o fruto ateacuteum modelo inovador de sauacutedepuacuteblica com roteiro de visitasdomiciliares a matildees e crianccedilaspor entre rios e igarapeacutes

ldquoEm vaacuterios casos o pulo do gato estaacute em ven-cer o isolamentordquo ressalta Viana ao informar que odesafio inspirou a criaccedilatildeo da Rede de Soluccedilotildees parao Desenvolvimento Sustentaacutevel da Amazocircnia demodo que boas ideias sejam compartilhadas entreos sete paiacuteses do bioma A iniciativa integrante deum projeto global das Naccedilotildees Unidas lanccedilou nesteano um precircmio para reconhecer e replicar as me-lhores soluccedilotildees

ldquoTemos como negoacutecio o conviacutevio com o ladohumano da floresta onde haacute culturas tradicionaise modos peculiares de produccedilatildeo que precisam servalorizados para aleacutem das cobras e jacareacutes normal-mente mostrados aos visitantesrdquo diz Alexander Gui-

Empreendedorismocaboclo valorizao lado humano

do bioma

ECONOMIA VERDE

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A iniciativaselecionou 35empreendedoresociais quereceberatildeoinvestimento paa transformaccedilatildede seus projetoem negoacutecios cideles incubadossede da FAS

maratildees agrave frente da start-up Amazon Share voltadapara o turismo comunitaacuterio O projeto se destacouno desafio de inovaccedilatildeo ldquoThe Boat Challengerdquo pro-movido pela Coca-Cola para identificar ideias praacuteti-cas capazes de mudar a realidade socioambiental deManaus Nas vilas jovens nativos aprendem conta-bilidade e satildeo mobilizados a montar negoacutecios comomercearias e confecccedilatildeo de camisetas e artesanatono conceito de ldquoempreendedorismo cabocl ordquo

ENERGIA SOLAR PORTAacuteTIL O Rio Negro no Amazonas eacute rota de experi-

mentos com potencial de beneficiar toda a regiatildeocaso sejam i ntegrados a poliacuteticas puacuteblicas Longe

da rede eleacutetrica a comuni dade Tumbira onde haacute umnuacutecleo de educaccedilatildeo para o uso sustentaacutevel da flo-resta eacute abastecida por um sistema hiacutebrido partepaineacuteis solares e parte oacuteleo diesel em fase piloto detestes mediante parceria com a Schneider Electric

A inovaccedilatildeo garante o funcioname nto de uma mi-croagecircncia bancaacuteria do Bradesco que permite sa-ques depoacutesitos e transferecircncias Em vez de pagarcaro pelo transporte fluvial para receber salaacuteriosbenefiacutecios ou aposentadorias na capital os ribeiri-nhos tecircm acesso ao dinheiro na proacutepria comunida-de com o uso de cartatildeo magneacutetico e com ele mo-vimentam a economia local O ldquobancordquo eacute operadopor um ex-madeireiro ilegal Roberto Brito hoje

Saiacuteda estaacute em arranjos colaborativos unindo comunidades empresas e universidades

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D I V U L G A Ccedil Atilde O

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dedicado a mostrar para visitantes a floresta bemconservada e as novidades que chegam por laacute ndash in-clusive a internet

A questatildeo da energia eacute obstaacuteculo em grandeparte da Amazocircnia onde a mesma florest a que cap-tura e estoca carbono da atmosfera eacute dona de uma

matriz energeacutetica suja que emite gases de efeitoestufa agrave base de usinas termeleacutetricas e pequenosgeradores a oacuteleo diesel caros para os padrotildees daregiatildeo Para viabilizar a purificaccedilatildeo da aacutegua servida

aos iacutendios das etnias Deni e Kanamari no Rio Xeruatildeo pesquisador Roland Vetter do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazocircnia (Inpa) desenvolveu umequipamento solar portaacutetil que reduziu em 80 asdoenccedilas associadas agrave contaminaccedilatildeo hiacutedrica por es-goto ldquoA poluiccedilatildeo passa a ser um problema quandoas populaccedilotildees indiacutegenasdeixam de ser nocircmades e seconcentram em um uacutenicolocalrdquo explica o cientista

O meacutetodo trata a aacuteguamediante a incidecircncia deluz ultravioleta com bate-ria que garante o funciona-mento por cinco dias semsol Depois de patenteadaa tecnologia foi transferida para uma empresa doAmazonas que disseminaraacute os equipamentos nomercado com pagamento de royalties ao Inpa e aosinventores Pela primeira vez em sua histoacuteria a insti-tuiccedilatildeo criada haacute 62 anos como resposta agraves ameaccedilasde internacionalizaccedilatildeo da Floresta Amazocircnica seraacuteremunerada por uma inovaccedilatildeo Haacute outras 71 em car-teira jaacute com depoacutesito de patente agrave espera de inte-ressados A proacutexima novidade a chegar ao mercadodeveraacute ser a sopa de piranha desidratada de efeitoafrodisiacuteaco Aleacutem dela estatildeo em teste novos cos-meacuteticos e remeacutedios obtidos do gengibre amargo

Eacute chave saber quais espeacutecies vegetais existemna Amazocircnia onde estatildeo e qual a chance de seremcomercialmente aproveitadas Em Beleacutem o MuseuEmiacutelio Goeldi guarda coleccedilotildees cientiacuteficas centenaacute-rias fieacuteis depositaacuterias da flora e fauna Com 209 milamostras de plantas o acervo eacute estrateacutegico na defe-sa contra a biopirataria Mas metade dos pesquisado-res da instituiccedilatildeo estaacute apta a s e aposentar colocando

em risco a continuidade de trabalhos como os estu-dos com a ldquoterra pretardquo ndash tipo de solo milenar rico emmateacuteria-orgacircnica proveniente do lixo de populaccedilotildeesancestrais cobrindo 18 mil quilocircmetros quadradosda floresta Pesquisadores reproduziram o materialno laboratoacuterio imitando a natureza e patentearamo processo para aplicaacute-lo na produccedilatildeo agriacutecola ldquoN atildeoeacute por falta de pesquisa que haacute deficiecircncia de poliacuteticaspara o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo avalia IlmaVieira coordenadora de biodiversidade do Museu

fundado em 1866 por intelectuais que pretendiamdar ldquoaparato civilizatoacuteriordquo agrave capital paraense

ldquoApostamos no diferencial da regiatildeo para aces-so a novos suprimentos mas o desafio eacute tatildeo grandequanto o potencialrdquo avalia Iguatemi Costa gerentedo Nuacutecleo de Inovaccedilatildeo Amazocircnia (Nina) da Natura

em Manaus Desenvolvimen-to territorial e empreendedo-rismo satildeo panos de fundo nabusca por formas alternativasde capturar valor na sociobio-diversidade ldquoExiste massacriacutetica mas satildeo necessaacuteriaspoliacuteticas puacuteblicas para que hajaum ambiente favoraacutevel a maisiniciativas e investimentos de

longo prazo com desdobramento na economiaflorestalrdquo completa Costa

A estrateacutegia da empresa na regiatildeo eacute trabalharem rede mapeando competecircncias em frentes comoa formaccedilatildeo de lideranccedilas e a interface entre flore s-ta e agricultura para dar escala a ingredientesda biodiversidade O olhar nas cadeias produtivasprocura incluir tecnologias que as tornem mais efi-cientes com garantia de qualidade do insumo antesda chegada agraves faacutebricas Para Cost a a reforma da leibrasileira de acesso ao patrimocircnio geneacutetico tende aimpulsionar inciativas de bioprospecccedilatildeo apesar dea logiacutestica amazocircnica de pesquisa ser cara

Arranjos colaborativos satildeo a saiacuteda ldquoBuscamosagora novas essecircncias para perfumaria em coope-raccedilatildeo com universidades e comeccedilamos a prepararo campo para trabalhar pela primeira vez com co-munidade indiacutegenardquo Entender o conhecimento tra-dicional e a visatildeo de mundo ribeirinha eacute o primeiropasso para valorizaacute-lo

De todos osumos da

odiversidadensumidos pelatura 13 provecircmAmazocircnia A meta

aumentar para ateacute 2020

O extrato derumbona obtidoespeacutecie Zingiberrumbet compotildee

m gel utilizado comns resultados paratar ferimentos em

abeacuteticos

A produccedilatildeo daresta nativa na

mazocircnia gira emrno de R$ 9 bilhotildeesano segundo o

GE Os destaqueso madeira tropicalrrada e maiscentemente o accedilaiacute

Reforma de lei de acesso ao patrimocircnio geneacuteticotende a estimular iniciativas de bioprospecccedilatildeo

No Amazonas da energiaoveacutem dermeleacutetricas e 18

hidreleacutetricasase metade daergia distribuiacutedaurtada gerandorda de R$ 13hatildeo por ano agravempanhia eleacutetrica

Pela primeiravez o Inpa seraacute

remunerado poruma inovaccedilatildeo

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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Homo sapiens tecnoloacutegicoNatildeo raro a tecnologia desperta visotildees antagocircnicas De um lado

defensores acreditam que a ferramenta empregada pela

engenhosidade humana seraacute plenamente capaz de nos livrar

das ameaccedilas ambientais De outro ambientalistas chegam a

assumir uma posiccedilatildeo tecnofoacutebica ao entender o artifiacutecio teacutecnico

como forma de se desviar de mudanccedilas mais profundas de

comportamento valores consciecircncia e concepccedilatildeo de mundo

Nesta ediccedilatildeo aprendemos como a dissociaccedilatildeo entre o teacutecnico

e o humano se tornou impossiacutevel A histoacuteria da tecnologia eacute a

histoacuteria da civilizaccedilatildeo humana O Antropoceno vem solidificaressa fusatildeo ao constatar que jaacute vivemos sob uma era geoloacutegica

na qual o ambiente eacute um resultado da accedilatildeo antroacutepica

Ao puxar o fio das inovaccedilotildees que podem proporcionar maior

bem-estar agrave sociedade em respeito aos limites ambientais

a reportagem deparou-se com uma discussatildeo anterior de

cunho mais existencial Mergulhamos em uma reflexatildeo sobre

identidade sobre o que nos faz humanos e que tipo

de humanidade seraacute caracterizada por esse novo ser ndash cada

vez mais hiacutebrido entre o artificial e o natural entre o bioloacutegico

e o eletrocircnico

A aventura humana sobre a Terra e que jaacute se projeta para

aleacutem dela estaacute soacute comeccedilando Nesta ediccedilatildeo em que PAacuteGINA22

comemora 9 anos de vida desejamos a todos uma boa leitura

FSC

A REVISTA P22 FOIIMPRESSA EM PAPELCERTIFICADOPROVENIENTEDEREFLORESTAMENTOS CERTIFICADOS PELO FSCDE ACORDO COM RIGOROSOS

PADROtildeES SOCIAISAMBIENTAISECONOcircMICOSEDE OUTRAS FONTES CONTROLADAS

P22 NAS VERSOtildeES IMPRESSAEDIGITALADERIUAgrave LICENCcedilACREATIVECOMMONSASSIMEacuteLIVRE AREPRODUCcedilAtildeODO CONTEUacuteDO EXCETO

IMAGENS DESDEQUESEJAM CITADOS COMOFONTES APUBLICACcedilAtildeOE OAUTOR

ESCOLA DE ADMINISTRACcedilAtildeO DE EMPRESAS

DE SAtildeO PAULO DA FUNDACcedilAtildeO GETULIO VARGAS

DIRETOR Luiz Artur Brito

COORDENADOR Mario Monzoni

VICECOORDENADOR Paulo Durval Branco

COORDENADOR ACADEcircMICO Renato J Orsato

JORNALISTAS FUNDADORAS Amaacutelia Safatle e Flavia Pardini

EDITORA Amaacutelia Safatle

EDICcedilAtildeO DE ARTE Marco Antoniowwwmioloeditorialcombr

EDITOR DE FOTOGRAFIA Bruno Bernardi

REVISORPESQUISADOR DE TEXTO

Joseacute Genulino Moura Ribeiro

GESTORA DE PRODUCcedilAtildeO Bel BrunharoILUSTRACcedilOtildeES Flavio Castellan (seccedilotildees)

COLABORARAM NESTA EDICcedilAtildeO

Bruno Toledo Diego Viana Elaine Carvalho Fabio F Storino

Faacutebio Rodrigues Felipe Giasson Luccas Guto Ramos

Joatildeo Meirelles Filho Magali Cabral (textos e ediccedilatildeo )

Manoel Potiguar Moreno Cruz Osoacuterio Regina Scharf

Seacutergio Adeodato Tiago ChavesENSAIO FOTOGRAacuteFICO Felipe Gombossy

JORNALISTA RESPONSAacuteVEL

Amaacutelia Safatle (MTb 22790)

COMERCIAL E PUBLICIDADENominal Representaccedilotildees e Publicidade

Mauro Machadomauronominalrpcombr

(11) 30635677

REDACcedilAtildeO E ADMINISTRACcedilAtildeO

Rua Itarareacute 123 - CEP 01308-030 - Satildeo Paulo - SP

(11) 3284-0754 leitorpagina22combr

wwwfgvbrcespagina22

CONSELHO EDITORIAL

Ana Carla Fonseca Reis Aron Belinky

Joseacute Eli da Veiga Leeward Wang

Mario Monzoni Nataacutelia Garcia Pedro Telles

Roberto S Waack Rodolfo Guttilla

IMPRESSAtildeO HRosa Serviccedilos Graacuteficos e Editora

TIRAGEM DESTA EDICcedilAtildeO 5800 exemplares

Os artigos e textos de caraacuteter opinativo assinados por

colaboradores expressam a visatildeo de seus autores natildeo

representando necessariamente o ponto de vista de

P e do GVces

ANUNCIE

EDITORIAL

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

B R U N O B

E R N A R D I

[E E ]

Eu acredito que o encontro o diaacutelogoe a colaboraccedilatildeo para um mundo

melhor estatildeo no altruiacutesmo que eacute umaabordagem de todas as religiotildees Emoutras palavras depende do amor daempatia e da compaixatildeo sentimento

que predominam entre os quebuscam o autoconhecimento oexerciacutecio da colaboraccedilatildeo com o outro

e a coexistecircncia Susana Simotildees Leal

[O E ]

Augusto Uchoa fui apresentado ao

Leandro Karnal por vocecirc em umaaula em que exibiu a participaccedilatildeodele no Cafeacute Filosoacutefico da TV CulturaE lembro que disse se achar muito

burro numa comparaccedilatildeo com estehistoriador Lendo esta entrevistaa achei oacutetima e fiquei com a mesmasensaccedilatildeoThiago Etchatz

[E

E ]

Bem interessante mesmo

Precisamos mudar a referecircncia sobrequem estaacute no centro do universouma nova revoluccedilatildeo Marcia Regina

Ferreira

[E E]

Compartilho a Revista P22 queconsidero ser um trabalho exemplar

de jornalistas de primeira linha como

Amaacutelia Safatle e Seacutergio Adeodatoentre outros O tema dessa ediccedilatildeo eacutemuito interessante Vale a pena ler

Maria Inecircs Berloffa

OUTBOXE

Na reportagem ldquoA feacute estaacute na mesardquopaacutegina 47 da ediccedilatilde o 97 onde se lecircpalestra no TED leia-se palestra no

EAT A versatildeo digital estaacute correta

CAPA

Caixa de entradaCOMENTAacuteRIOS DE LEITORESRECEBIDOS POR EMAIL REDESSOCIAIS E NO SITE DE P22

Luz no tuacutenelNa busca de uma economia mais verde e socialmente inclusivao que se deve esperar (ou natildeo) das tecnologias emergentes

Economia Verde Iniciativas mostram como a Floresta Amazocircnicapode se transformar em um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicassimples relevantes e de baixo custo

Entrevista Luiz Alberto Oliveira curador do Museu do Amanhatildevislumbra as novas feiccedilotildees da humanidade cada vez mais um hiacutebrido entreo bioloacutegico e o eletrocircnico entre o natural e o artificial

Histoacuteria O Homo sapiens tecnoloacutegico logo mais chega a Marte masainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica que coloca em risco a suaproacutepria existecircncia

Impacto Cada nova onda tecnoloacutegica traz a necessidade de repensaro modo de vida humano Para o economista Otto Scharmer do MIT o impactoseraacute negativo ou positivo se reduz ou amplia nosso espectro de opccedilotildeespara agir e criar

10

14

34

44

SECcedilOtildeES6 Notas 9 Web 27 Coluna 28 Retrato 39 Farol 40 Artigo 42 Anaacutelise 43 Brasil Adentro 49 Antena 50 Uacuteltima

20

FOTODACAPABRUNOBERNARDI OBRA JULIANOPIE

AGRADECEMOSAgraveEXPOSICcedilAtildeOINVENTONAOCAQUEFOIOBJETODEFOTOSDAEDICcedilAtildeO

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

IacuteNDICEUse o QR Code para acessar P22 gratuitamente e ler esta e outras ediccedilotildees

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Mais emprego

Um balanccedilo feito no uacuteltimo seacuteculo e meio comprova o avanccedilotecnoloacutegico natildeo eacute um exterminador de empregos Pesquisa rea-lizada na Inglaterra e no Paiacutes de Gales pela empresa global de

consultoria e auditoria Deloitte mostra que ao contraacuterio a ascensatildeoda tecnologia vem criando grande quantidade de postos de trabalho aolongo dos uacuteltimos 144 anos

Para chegar a essa conclusatildeo reportagem publicada em 18 de

agosto no jornal britacircnico The Guardian conta que os economistas daDeloitte vasculharam dados dos censos dos dois paiacuteses desde 1871

Segundo os autores da pesquisa a exceccedilatildeo fica por conta dossetores agriacutecola e industrial que devido agrave automaccedilatildeo dos meios de

produccedilatildeo de fato reduziram drasticamente o nuacutemero de empregados

Se em 1871 66 da forccedila de trabalho da Inglaterra e do Paiacutes de G alestrabalhavam em fazendas hoje apenas 02 manteacutem um emprego nocampo Um decliacutenio de 95

Mas o crescimento dos setores de tecnologia da informaccedilatildeo e deserviccedilos (cabeleireiros bares e restaurantes educaccedilatildeo) por exem-plo teriam mais do que compensado essas perdas As maacutequinas as-sumiram tarefas mais repetitivas e trabalhosas mas natildeo chegaram

perto de eliminar a necessidade de trabalho humano que em qualquermomento nos uacuteltimos 150 anos escreveram os autores Ian StewartDebapratim De e Alex Cole indicados para o precircmio Society of Ryb-czynski de estudos na aacuterea de economia e negoacutecios Para saber mais

acesse bitly1EzgQI1 ndash Magali Cabral

MAIS TECNOLOGIA

EXTERNALIDADES

Quem paga a contaO custo da degradaccedilatildeo do planeta tem

recaiacutedo em toda a sociedade traduzidonos riscos agrave qualidade de vida e natildeo pro-priamente nas contas das empresas cau-

sadoras de danos ao meio ambiente Pelaprimeira vez um estudo mundial calculou

quanto ndash ou seja qual o peso financeiro des-sas ldquodespesasrdquo caso fossem pagas em vez

de remunerar acionistas De acordo com olevantamento da consultoria Trucost en-comendado pelo The Economics of Ecosys-tems and Biodiversit y (Teeb) as companhias

globais mais rentaacuteveis registrariam lucrobem inferior ao que reportam se os custosambientais tivessem sido incorporados aobalanccedilo financeiro Em alguns casos o ne-

goacutecio se tornaria inviaacutevelO estudo analisou as receitas das maio-

res induacutestrias no planeta e em seguidaas comparou com 100 diferentes tipos de

custos ambientais divididos em seis cate-gorias uso da aacutegua uso da terra emissotildeesde gases de efeito estufa resiacuteduos poluiccedilatildeodo solo e contaminaccedilatildeo hiacutedrica Os setores

RANKING

12345

Ranking dos 5 setoresregiotildees com o maior impacto no capital naturalSETOR

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoCriaccedilatildeo de gado

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoPlantaccedilatildeo de trigoPlantaccedilatildeo de arroz

REGIAtildeO

Leste AsiaacuteticoAmeacuterica do Sul

Ameacuterica do NorteSul da AacutesiaSul da Aacutesia

RECEITA US$ BI

4431166

2467318658

RELACcedilAtildeO

10188138436

CUSTO DO CAPITAL NATURAL US$ BI

45283538316826662356

FONTE TRUCOST

mais problemaacuteticos foram pecuaacuteria cultivoe processamento de gratildeos energia a carvatildeoe produccedilatildeo de cimento e accedilo

A criaccedilatildeo de gado na Ameacuterica do Sul

carrega custo ambiental 18 vezes maior doque as receitas da atividade principal res-ponsaacutevel pela destruiccedilatildeo da Floresta Ama-zocircnica O processamento de soja e a pro-

duccedilatildeo animal estatildeo no topo das atividadesque mais geram custos de externalidadesnas cadeias produtivas Mais detalhes emgoogl1nf3U8 ndash Seacutergio Adeodato

E R I K A R A Uacute J O

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

LANCcedilAMENTO II

Saques na Terra do MeioO receacutem-lanccedilado livro Rotas do Saque Ameaccedila

violaccedilotildees agrave integrid ade territorial da Terra do Meio (PA)

Instituto Socioambiental (ISA) faz um diagnoacutestico so

roubo de madeira grilagem e ameaccedilas a os povos indiacutenas e comunidades tradicionais que vivem no conjuntoaacutereas protegidas da Terra do Meio A regiatildeo localizadaBacia do Rio Xingu no Sudoeste do Paraacute entre os rios Xin

e Iriri eacute um corredor de 8 milhotildees de hectares de aacuterprotegidas no coraccedilatildeo da Amazocircnia entre terras indiacutenas e unidades de conservaccedilatildeo

Na deacutecada de 1990 a regiatildeo passou por um proce

intenso de grilagem e exploraccedilatildeo madeireira ilegal qdeixou tentaacuteculos sobre a floresta e seus povos Rotas

Saque mostra que uma deacutecada apoacutes a decretaccedilatildeo da maria das Unidades de Conservaccedilatildeo da regiatildeo o territoacuteri

as comunidades tradicionais da Terra do Meio seguem sum novo ciclo de pressotildees de grupos i nteressados na appriaccedilatildeo ilegal de terras puacuteblicas e no roubo de madeAcesse o pdf da publicaccedilatildeo em bitly1MzHwPs (MC)

Instrumento decisivo no combate agrave mudanccedila climaacuteticaa precificaccedilatildeo de carbono eacute o tema de estreia do P22_ON

um projeto digital temaacutetico que usa recursos multimiacutedialinguagem leve e formato dinacircmico para levar a um puacuteblicomais amplo temas estrateacutegicos para a sociedade Acesse osite p22oncombr e assista ao viacutedeo sobre precificaccedilatildeo em

youtubeseITk3hyunAO projeto lanccedilado em 6 de agosto usa como base con-

teuacutedos teacutecnicos produzidos pelos pesquisadores do Centroem Estudos em Sustentabilidade da Eaesp-FGV (GVces) O

intuito eacute contribui r para o debate puacuteblico e a tomada de deci-satildeo de empresas e governos Com textos acessiacuteveis viacutedeosgraacuteficos dicas de leitura etc oP22_ON vai ao ar a cada dois me-

ses intercalado com a ediccedilatildeo im-pressa da P22 Aguarde emoutubro o proacuteximo tema

LANCcedilAMENTO I

P22_ON estreia comprecificaccedilatildeo de carbono

Sinal vermelho enfim

Um ano e meio depois da crise hiacutedricainstalada o governo de Satildeo Pauloreconheceu oficialmente por meio

de uma portaria publicada em 19 de agostoque a situaccedilatildeo na Grande Satildeo Paulo eacute criacute-tica A portaria eacute um instrumento atraveacutesdo qual eacute possiacutevel suspender licenccedilas de

captaccedilatildeo particular para priorizar o abas-tecimento puacuteblico e acelerar a obtenccedilatildeo delicenccedilas ambientais

A medida poderaacute tambeacutem servir de

alerta aos que jaacute comeccedilam a deixar a tor-

neira mais tempo aberta Segundo le-vantamento da Lello administradora decondomiacutenios no Estado ndash feito com base

nas contas de aacutegua de 17 mil edifiacutecios resi-denciais da capital paulista ABC Campinase litoral do Estado ndash a adesatildeo dos mora-dores ao uso racional de aacutegua diminuiu jus-

tamente depois da estaccedilatildeo mais chuvosaEm junho apenas 76 dos condomiacutenioseconomizavam aacutegua em relaccedilatildeo aos seusconsumos meacutedios contra 82 em abril

Mesmo natildeo sendo uma reduccedilatildeo ex-pressiva na adesatildeo das campanhas de con-

CRISE HIacuteDRICA

passado empresas de saneamento indtrias agricultores e pecuaristas tiverde reduzir pela primeira vez na histoacuteria

captaccedilatildeo de aacutegua na Bacia do Rio Camandcaia na regiatildeo de Campinas Em meadosagosto segundo os oacutergatildeos reguladorapenas 1320 litros por segundo de aacuteg

passavam pelo rio quando o normal eacute psar de 2000 ls

A restriccedilatildeo agrave captaccedilatildeo atingiu dez mniciacutepios parcial ou totalmente Amparo

lambra Jaguariuacutena Monte Alegre do S

Pedra Bela Pedreira Pinhalzinho Santo Atocircnio de Posse Serra Negra e Socorro (M

sumo racional eacute o suficien te segundo aempresa para acender um sinal ldquoamarelordquoA esta altura a luz vermelha talvez fosse

mais apropriada jaacute que a amarela repre-senta a realidade dos uacuteltimos e dos proacutexi-mos anos Agosto foi o mecircs mais seco dahistoacuteria para o Sistema Alto Tietecirc respon-

saacutevel pelo abastecimento de 45 milhotildees depessoas No dia da publicaccedilatildeo da portariaesse sistema operava com apenas 15 desua capacidade

Embora a medida do governo se refira

apenas agrave Grande Satildeo Paulo a situaccedilatildeo nointerior do estado natildeo eacute melhor No mecircs

NOTAS

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ENERGIA

Mapa do sol

Com a energia solar ficando mais aces-siacutevel um grande nuacutemero de pessoas

estaacute tendo de se virar para descobrirse e quanto vale investir num sistema do-miciliar de paineacuteis solares E naturalmenteessa gente toda recorre ao Google Para

atender esse puacuteblico um grupo de enge-nheiros da empresa lanccedilou o Project Sun-roof (algo como Projeto Teto Solar)

O projeto aproveita dados que o Google

aacute coletava ndash como endereccedilos georreferen-ciados modelamento 3D e imagens de sa-teacutelites ndash para construir um mapa detalhado

sobre quanta luz solar cada telhado recebeO sistema olha inclusive para o histoacuterico cli-maacutetico da regiatildeo e o entorno de cada casaDessa forma identifica o nuacutemero de dias detempo ruim ou sombras de construccedilotilde es e

aacutervores vizinhas Com base nisso orientaquanta energia limpa eacute possiacutevel gerar a par-tir da energia solar e o quanto isso compen-

sa do ponto de vista financeiro comparandoos preccedilos dos equipamen tos e seu custo denstalaccedilatildeo na regiatildeo de cada usuaacuterio E ateacutemesmo qual a opccedilatildeo mais barata

O serviccedilo estaacute disponiacutevel apenas nascidades de Boston Fresno e da regiatildeo me-tropolitana de San Francisco Mas o viacutedeode lanccedilamento do projeto (googlpMrBlW)

fala que ldquoem breverdquo o mapeamento inclui-raacute todo o territoacuterio americano e possivel-mente o mundo ndash Faacutebio Rodrigues

CAPTACcedilAtildeO DE RECURSOS

Turismo

em RPPNsComeccedilaram a ser buscados no Brasil eno exterior os recursos para a primei-ra etapa do Programa de Desenvolvi-

mento de Turismo Sustentaacutevel em RPPNs Afase de Sensibilizaccedilatildeo teraacute duraccedilatildeo de 12 a18 meses e custo estimado em R$ 11 milhatildeoO programa tem como objetivo promover

atividades de turismo sustentaacutevel nas 1351RPPNs do Brasil Acesse a proposta em por-tuguecircs (migremer9Fk0) inglecircs (migremer9Fn2 ) ou espanhol (migremer9FlF)

F A B I O F S T O R I N ODoutor em Administraccedilatildeo

Puacuteblica e Governo

Em um saacutebado agrave noite haacute poucomais de dois seacuteculos trabalha-dores do setor tecircxtil reuniam-se

num pub na cidade inglesa de High-town Natildeo estavam celebrando o cli-ma econocircmico era sombrioe as condiccedilotildees naquela in-

duacutestria muito duras Quan-do chegou a hora largaramseus copos de cerveja e

pegaram nas armas mdash pi-caretas marretas riflesmdash e rumaram ateacute a plantade uma faacutebrica O alvo Asmaacutequinas introduzidas pela

Revoluccedilatildeo Industrial queameaccedilavam seus empre-gos Por dois anos os lud-

ditas repetiriam os ataques em vaacuteriasoutras cidades ateacute serem contidospelo Exeacutercito Britacircnico e pelo Parla-mento que tornou crime a quebra de

maacutequinas e permitiu que os responsaacute-veis fossem levados a julgamento

A tensatildeo entre os humanos e asmaacutequinas permaneceu a cada novo

avanccedilo tecnoloacutegico Mas se empregoseram destruiacutedos outros tantos eramcriados as maacutequinas liberavam as pes-soas dos trabalhos duros e repetitivos

da agricultura e da induacutestria e com oaumento da renda proporcionado porganhos de produtividade novas de-mandas eram geradas especialmente

no setor de serviccedilos por muito tempoum refuacutegio contra a ameaccedila roboacutetica

Mas isso estaacute mudando com oavanccedilo da inteligecircncia artificial robocircs

estatildeo aprendendo a desempenhar ta-refas que exigem muito mais neurocirc-nios que muacutesculos como mostra o oacuteti-mo Humans Need Not Apply [Humanos

natildeo precisam se candidatar] (youtube7Pq-S557XQU com legendas emportuguecircs disponiacuteveis) Robocircs que co-

zinham escrevem notiacutecias e dirigem jaacutesatildeo realidade E a progressatildeo tende aser geomeacutetrica Se taxistas do Brasil e

do mundo atacam motoristas e veiacutecu-los do Uber o que faratildeo quando dirigir

se tornar obsoletoNo Centro de Estudos

do Risco Existencial da Uni-versidade de Cambridge ainteligecircncia artificial eacute vista

com um dos riscos (googlfcZrwj) algoritmos capa-zes de aprender continua-mente e se adaptar de ma-neira autocircnoma precisam

de salvaguardas que os im-peccedilam de se voltar contraos humanos Carta aberta

assinada por grandes nomes da ciecircn-cia e tecnologia (googlEnc1Gc) comoStephen Hawking e Elon Musk alertacontra os riscos das armas autocircnomas

mdash falo sobre isso em ldquoO robocirc que natildeome amavardquo (ed 80 googl65eZaX)

Essas maacutequinas tampouco estatildeoa salvo da ameaccedila humana recente-

mente HitchBOT robocirc que cruzou oCanadaacute e Europa pegando carona foicompletamente destruiacutedo nos EUANo Japatildeo pesquisadores programam

robocircs para tentar evitar bullying h u-mano (conclusatildeo do algoritmo fuja decrianccedilas em grupo) Laacute eles tambeacutemoferecem companhia aos humanos

em especial aos idosos Filmes recen-tes como Ela e Ex-Machina apontampara um futuro no qual robocircs tambeacutemse tornaratildeo parceiros amorosos

Estamos introduzindo um novoator nas relaccedilotildees sociais sem termosresolvido a contento a maneira comotratamos nossos semelhantes de car-

ne e osso Seraacute que com o algoritmocerto isso eacute algo que os robocircs pode-ratildeo nos ensinar

Olha issoHumanos versus robocircs

O B R A J O S Eacute D A M A S C E N O F O T O B R U N O B E R N A R D I

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

por Elaine Carvalho WEB

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

No mundo inteiro as oficinas de engenho-

cas crescem em quantidade e puacuteblicoO aprender fazendo possibilita desen-

volver nas crianccedilas habilidades valorizadas noseacuteculo XXI capacidade de criar de ser propo-sitivo e de desenvolver soluccedilotildees compartilha-das usando a tecnologia

Por isso os Estados Unidos transforma-ram algumas de suas bibliotecas em maker-

spaces ndash espaccedilos para pocircr a matildeo na massa efazer experimentaccedilotildees transdisciplinares NoBrasil os 69 centros binacionais (institutosculturais de ensino do inglecircs e da cultura ame -ricana) estatildeo fazendo o mesmo

ldquoUma bancada no canto de uma escola oubiblioteca pode ser considerada um maker-

space se tiver ferramentas simples de cria-ccedilatildeordquo explica a especialista em tecnologiaeducacional Daniela Lyra da Casa Thomas

Cidadatildeos do seacuteculo XXIPRATA DA CASA

MUNDO AFORA

Madeira em 3DPesquisadores da Universidade de Tecnolo-

gia Chalmers na Sueacutecia encontraram uma ma-neira de usar madeira como mateacuteria-prima na

impressatildeo 3D originando produtos biodegradaacute-veis Para isso eles tiveram de mudar a consis-tecircncia da fibra de celulose tornando-a um liacutequi-do injetaacutevel A descoberta mostra que o futuro

dessa tecnologia pode ser mais amigaacutevel para omeio ambiente pois proporciona certa liberta-ccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave dependecircncia do plaacutestico e dometal no processo Leia mais em bitly1Lzs45w

VALE O CLICK

D I V U L G A Ccedil Atilde O

L I A M A R A M I L A N E L L I

Jefferson centro binacional de Brasiacutelia que

oferece atividades desse tipo Nas oficinasdadas pelo artista e professor Glauco Paivana rede Sesc ele fornece brinquedos velhossucatas e quinquilharias de R$ 199 para sere mdesmontadas e recriadas ldquoO efeito eacute viral Ameninada leva a referecircncia para casa e laacute con-tinua criando e ensina os amigos Tudo o queeles precisam eacute de um adulto que abra caminhopara esse autodidatismordquo diz ele

No computador esse empoderamento sedaacute quando se sabe programar um modo decriar ldquofluecircnciardquo nesta linguagem que estima--se seraacute universal em ateacute 50 anos Cinco milalunos de escolas puacuteblicas de cidades paulis-tas estatildeo aprendendo a criar os proacuteprios ga-mes por meio do didaacutetico Programaecirc da Fun-daccedilatildeo Lemann que reuacutene os melhores sitesautoexplicativos de programaccedilatildeo da internet

Leia a iacutentegra da reportagem no blog da revista em fgvbrcespagina22

ECODRONESO Projeto Ecodrones Brasil d

WWF-Brasil pretende viabi

o uso de drones no Brasil

para monitorar e proteger os

recursos naturais Um viacutedeo

2 minutos explica como essa

tecnologia beneficiou a Aacutefric

do Sul e como pode ajudar as

nossas florestas Veja em

bitly1htZJ5r

MAIS APPS MAIS AacuteGUACom o Level Up+ cidadatildeos

podem registrar vazamento

e desperdiacutecios de aacutegua que

encontram nas ruas O aplica

foi o vencedor do Hackathon

Mais Sustentabilidade que

premiou projetos criados po

jovens para amenizar a crise

hiacutedrica Da iniciativa tambeacutem

surgiram os apps Mizu jogo

eletrocircnico para crianccedilas e

Irriga-Accedilatildeo que calcula a

aacutegua necessaacuteria para irrigar

plantaccedilotildees

CIDADE TAGUEADAO site Viuclub eacute um mapa

colaborativo onde os usuaacuterio

compartilham fotos e

impressotildees sobre pontos

especiacuteficos das cidades Cria

por alunos da PUC Minas pro

a construccedilatildeo coletiva de um

banco de memoacuterias positiva

de denuacutencias

Tensatildeo monitoradaMuitos aplicativos informam os usuaacuterios so-

bre como respirar corretamente para manter acalma a concentraccedilatildeo e o foco O Spire diz exa-tamente quando fazer isso Com a ajuda de um

dispositivo que se prende ao corpo do usuaacuteriopor um grampo o aplicativo monitora zonas detensatildeo e avisa os momentos em que a melhorestrateacutegia eacute parar e respirar profundamente

para retomar o estado de relaxamento e con-trole A conexatildeo entre o dispositivo e o iPhoneeacute feita por Bluetooth O dispositivo custa US$14995 Veja o viacutedeo em bitly1TmpaHn

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Em busca da Amazocircnia 20Como a floresta pode se tornar um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildeestecnoloacutegicas relevantes e de baixo custoPOR SEacuteRGIO ADEODATO

Quem se depara pela primeira vez coma realidade do isolamento da FlorestaAmazocircnica se surpreende com a feli-cidade da vida ribeirinha O povo adora

uma celebraccedilatildeo as festas varam a noite ateacute o ra iardo dia no embalo de muita muacutesica comida e bebi-da Ao final a montanha de resiacuteduos gerados pelafarra chama atenccedilatildeo Em qualquer outro lugar do

Paiacutes a primeira providecircncia seria varrer o lixo oupelo menos escondecirc-lo Mas ali eacute diferente coposlatas plaacutesticos garrafas e demais objetos descar-taacuteveis tecircm valor para a autoestima De certa manei-ra simbolizam status riqueza e poder situaccedilatildeo per-feitamente compreensiacutevel para quem natildeo faz muitotempo dependia de produtos in natura conquistouacesso ao consumo e mudou de haacutebito

A ascensatildeo econocircmica e social eacute mais do quejusta Mas a enxurrada de produtos industrializadose suas embalagens acendeu o sinal de alerta na flo-resta E passou a exigir ideias inovadoras para queas mercadorias que entramna rotina diaacuteria natildeo prejudi-quem a qualidade de vida

A soluccedilatildeo surgiu nacomunidade Trecircs Unidoshabitada por iacutendios da et-nia Kambeba na Aacuterea deProteccedilatildeo Ambiental do RioNegro nos arredores deManaus (AM) No local foiinstalado um inusitado galpatildeo de triagem adaptadoagraves condiccedilotildees do lugar para recebimento do lixo re-ciclaacutevel recolhido pelos moradores em 16 povoadosribeirinhos A principal novidade estaacute na logiacutesticaque exigiu o projeto de recipientes customizadospara embarque nas lanchas do transporte escolarresponsaacuteveis por levar os materiais ateacute uma coope-rativa de catadores da capital amazonense De laacuteo papel por exemplo eacute vendido a um depoacutesito ata-cadista que junta maior quantidade para abasteceruma faacutebrica de papelatildeo em Pernambuco

Pela primeira vez a reciclagem chega a uma aacutereaprotegida como reserva ambiental ldquoNatildeo foi faacutecilconscientizar as famiacutelias e agora jaacute notamos que o

nuacutemero de casos de diarreia diminuiurdquo conta o pajeacuteValdemir Triukuxuri O haacutebito era queimar o lixo oujogaacute-lo no rio como al go que a natureza se encarre-garia de eliminar assim como faziam pais e avoacutes comas sobras de frutos peixes e outros itens orgacircnicosmais tradicionais do consumo na floresta

A rotina comeccedilou a mudar com a central de re-siacuteduos construiacuteda em lugar no bre da comunidade agrave

vista de todos ldquoA ideia neste momento natildeo eacute gerarescala mas sensibilizar os ribeirinhos para a ques-tatildeordquo explica Fernando von Zuben diretor de meioambiente da Tetra Pak fabricante de embalagenslonga vida que apoia o projeto em parceria com aFundaccedilatildeo Amazonas Sustentaacutevel (FAS)

A iniciativa ilustra o desafio da inovaccedilatildeo na Ama-zocircnia centro das atenccedilotildees globais devido agrave impor-tacircncia para o equiliacutebrio climaacutetico ldquoO esforccedilo natildeodeve estar na sofisticaccedilatildeo mas na relevacircncia dassoluccedilotildees muitas vezes simples e de baixo custocapazes de resolver entraves do desenvolvimento

sustentaacutevelrdquo diz Virgiacutelio Vianasuperintendente geral da FAS

Os avanccedilos vatildeo desde umtrepador mecacircnico para subirmais faacutecil e raacutepido na palmei-ra de accedilaiacute e coletar o fruto ateacuteum modelo inovador de sauacutedepuacuteblica com roteiro de visitasdomiciliares a matildees e crianccedilaspor entre rios e igarapeacutes

ldquoEm vaacuterios casos o pulo do gato estaacute em ven-cer o isolamentordquo ressalta Viana ao informar que odesafio inspirou a criaccedilatildeo da Rede de Soluccedilotildees parao Desenvolvimento Sustentaacutevel da Amazocircnia demodo que boas ideias sejam compartilhadas entreos sete paiacuteses do bioma A iniciativa integrante deum projeto global das Naccedilotildees Unidas lanccedilou nesteano um precircmio para reconhecer e replicar as me-lhores soluccedilotildees

ldquoTemos como negoacutecio o conviacutevio com o ladohumano da floresta onde haacute culturas tradicionaise modos peculiares de produccedilatildeo que precisam servalorizados para aleacutem das cobras e jacareacutes normal-mente mostrados aos visitantesrdquo diz Alexander Gui-

Empreendedorismocaboclo valorizao lado humano

do bioma

ECONOMIA VERDE

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A iniciativaselecionou 35empreendedoresociais quereceberatildeoinvestimento paa transformaccedilatildede seus projetoem negoacutecios cideles incubadossede da FAS

maratildees agrave frente da start-up Amazon Share voltadapara o turismo comunitaacuterio O projeto se destacouno desafio de inovaccedilatildeo ldquoThe Boat Challengerdquo pro-movido pela Coca-Cola para identificar ideias praacuteti-cas capazes de mudar a realidade socioambiental deManaus Nas vilas jovens nativos aprendem conta-bilidade e satildeo mobilizados a montar negoacutecios comomercearias e confecccedilatildeo de camisetas e artesanatono conceito de ldquoempreendedorismo cabocl ordquo

ENERGIA SOLAR PORTAacuteTIL O Rio Negro no Amazonas eacute rota de experi-

mentos com potencial de beneficiar toda a regiatildeocaso sejam i ntegrados a poliacuteticas puacuteblicas Longe

da rede eleacutetrica a comuni dade Tumbira onde haacute umnuacutecleo de educaccedilatildeo para o uso sustentaacutevel da flo-resta eacute abastecida por um sistema hiacutebrido partepaineacuteis solares e parte oacuteleo diesel em fase piloto detestes mediante parceria com a Schneider Electric

A inovaccedilatildeo garante o funcioname nto de uma mi-croagecircncia bancaacuteria do Bradesco que permite sa-ques depoacutesitos e transferecircncias Em vez de pagarcaro pelo transporte fluvial para receber salaacuteriosbenefiacutecios ou aposentadorias na capital os ribeiri-nhos tecircm acesso ao dinheiro na proacutepria comunida-de com o uso de cartatildeo magneacutetico e com ele mo-vimentam a economia local O ldquobancordquo eacute operadopor um ex-madeireiro ilegal Roberto Brito hoje

Saiacuteda estaacute em arranjos colaborativos unindo comunidades empresas e universidades

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D I V U L G A Ccedil Atilde O

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dedicado a mostrar para visitantes a floresta bemconservada e as novidades que chegam por laacute ndash in-clusive a internet

A questatildeo da energia eacute obstaacuteculo em grandeparte da Amazocircnia onde a mesma florest a que cap-tura e estoca carbono da atmosfera eacute dona de uma

matriz energeacutetica suja que emite gases de efeitoestufa agrave base de usinas termeleacutetricas e pequenosgeradores a oacuteleo diesel caros para os padrotildees daregiatildeo Para viabilizar a purificaccedilatildeo da aacutegua servida

aos iacutendios das etnias Deni e Kanamari no Rio Xeruatildeo pesquisador Roland Vetter do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazocircnia (Inpa) desenvolveu umequipamento solar portaacutetil que reduziu em 80 asdoenccedilas associadas agrave contaminaccedilatildeo hiacutedrica por es-goto ldquoA poluiccedilatildeo passa a ser um problema quandoas populaccedilotildees indiacutegenasdeixam de ser nocircmades e seconcentram em um uacutenicolocalrdquo explica o cientista

O meacutetodo trata a aacuteguamediante a incidecircncia deluz ultravioleta com bate-ria que garante o funciona-mento por cinco dias semsol Depois de patenteadaa tecnologia foi transferida para uma empresa doAmazonas que disseminaraacute os equipamentos nomercado com pagamento de royalties ao Inpa e aosinventores Pela primeira vez em sua histoacuteria a insti-tuiccedilatildeo criada haacute 62 anos como resposta agraves ameaccedilasde internacionalizaccedilatildeo da Floresta Amazocircnica seraacuteremunerada por uma inovaccedilatildeo Haacute outras 71 em car-teira jaacute com depoacutesito de patente agrave espera de inte-ressados A proacutexima novidade a chegar ao mercadodeveraacute ser a sopa de piranha desidratada de efeitoafrodisiacuteaco Aleacutem dela estatildeo em teste novos cos-meacuteticos e remeacutedios obtidos do gengibre amargo

Eacute chave saber quais espeacutecies vegetais existemna Amazocircnia onde estatildeo e qual a chance de seremcomercialmente aproveitadas Em Beleacutem o MuseuEmiacutelio Goeldi guarda coleccedilotildees cientiacuteficas centenaacute-rias fieacuteis depositaacuterias da flora e fauna Com 209 milamostras de plantas o acervo eacute estrateacutegico na defe-sa contra a biopirataria Mas metade dos pesquisado-res da instituiccedilatildeo estaacute apta a s e aposentar colocando

em risco a continuidade de trabalhos como os estu-dos com a ldquoterra pretardquo ndash tipo de solo milenar rico emmateacuteria-orgacircnica proveniente do lixo de populaccedilotildeesancestrais cobrindo 18 mil quilocircmetros quadradosda floresta Pesquisadores reproduziram o materialno laboratoacuterio imitando a natureza e patentearamo processo para aplicaacute-lo na produccedilatildeo agriacutecola ldquoN atildeoeacute por falta de pesquisa que haacute deficiecircncia de poliacuteticaspara o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo avalia IlmaVieira coordenadora de biodiversidade do Museu

fundado em 1866 por intelectuais que pretendiamdar ldquoaparato civilizatoacuteriordquo agrave capital paraense

ldquoApostamos no diferencial da regiatildeo para aces-so a novos suprimentos mas o desafio eacute tatildeo grandequanto o potencialrdquo avalia Iguatemi Costa gerentedo Nuacutecleo de Inovaccedilatildeo Amazocircnia (Nina) da Natura

em Manaus Desenvolvimen-to territorial e empreendedo-rismo satildeo panos de fundo nabusca por formas alternativasde capturar valor na sociobio-diversidade ldquoExiste massacriacutetica mas satildeo necessaacuteriaspoliacuteticas puacuteblicas para que hajaum ambiente favoraacutevel a maisiniciativas e investimentos de

longo prazo com desdobramento na economiaflorestalrdquo completa Costa

A estrateacutegia da empresa na regiatildeo eacute trabalharem rede mapeando competecircncias em frentes comoa formaccedilatildeo de lideranccedilas e a interface entre flore s-ta e agricultura para dar escala a ingredientesda biodiversidade O olhar nas cadeias produtivasprocura incluir tecnologias que as tornem mais efi-cientes com garantia de qualidade do insumo antesda chegada agraves faacutebricas Para Cost a a reforma da leibrasileira de acesso ao patrimocircnio geneacutetico tende aimpulsionar inciativas de bioprospecccedilatildeo apesar dea logiacutestica amazocircnica de pesquisa ser cara

Arranjos colaborativos satildeo a saiacuteda ldquoBuscamosagora novas essecircncias para perfumaria em coope-raccedilatildeo com universidades e comeccedilamos a prepararo campo para trabalhar pela primeira vez com co-munidade indiacutegenardquo Entender o conhecimento tra-dicional e a visatildeo de mundo ribeirinha eacute o primeiropasso para valorizaacute-lo

De todos osumos da

odiversidadensumidos pelatura 13 provecircmAmazocircnia A meta

aumentar para ateacute 2020

O extrato derumbona obtidoespeacutecie Zingiberrumbet compotildee

m gel utilizado comns resultados paratar ferimentos em

abeacuteticos

A produccedilatildeo daresta nativa na

mazocircnia gira emrno de R$ 9 bilhotildeesano segundo o

GE Os destaqueso madeira tropicalrrada e maiscentemente o accedilaiacute

Reforma de lei de acesso ao patrimocircnio geneacuteticotende a estimular iniciativas de bioprospecccedilatildeo

No Amazonas da energiaoveacutem dermeleacutetricas e 18

hidreleacutetricasase metade daergia distribuiacutedaurtada gerandorda de R$ 13hatildeo por ano agravempanhia eleacutetrica

Pela primeiravez o Inpa seraacute

remunerado poruma inovaccedilatildeo

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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Homo sapiens tecnoloacutegicoNatildeo raro a tecnologia desperta visotildees antagocircnicas De um lado

defensores acreditam que a ferramenta empregada pela

engenhosidade humana seraacute plenamente capaz de nos livrar

das ameaccedilas ambientais De outro ambientalistas chegam a

assumir uma posiccedilatildeo tecnofoacutebica ao entender o artifiacutecio teacutecnico

como forma de se desviar de mudanccedilas mais profundas de

comportamento valores consciecircncia e concepccedilatildeo de mundo

Nesta ediccedilatildeo aprendemos como a dissociaccedilatildeo entre o teacutecnico

e o humano se tornou impossiacutevel A histoacuteria da tecnologia eacute a

histoacuteria da civilizaccedilatildeo humana O Antropoceno vem solidificaressa fusatildeo ao constatar que jaacute vivemos sob uma era geoloacutegica

na qual o ambiente eacute um resultado da accedilatildeo antroacutepica

Ao puxar o fio das inovaccedilotildees que podem proporcionar maior

bem-estar agrave sociedade em respeito aos limites ambientais

a reportagem deparou-se com uma discussatildeo anterior de

cunho mais existencial Mergulhamos em uma reflexatildeo sobre

identidade sobre o que nos faz humanos e que tipo

de humanidade seraacute caracterizada por esse novo ser ndash cada

vez mais hiacutebrido entre o artificial e o natural entre o bioloacutegico

e o eletrocircnico

A aventura humana sobre a Terra e que jaacute se projeta para

aleacutem dela estaacute soacute comeccedilando Nesta ediccedilatildeo em que PAacuteGINA22

comemora 9 anos de vida desejamos a todos uma boa leitura

FSC

A REVISTA P22 FOIIMPRESSA EM PAPELCERTIFICADOPROVENIENTEDEREFLORESTAMENTOS CERTIFICADOS PELO FSCDE ACORDO COM RIGOROSOS

PADROtildeES SOCIAISAMBIENTAISECONOcircMICOSEDE OUTRAS FONTES CONTROLADAS

P22 NAS VERSOtildeES IMPRESSAEDIGITALADERIUAgrave LICENCcedilACREATIVECOMMONSASSIMEacuteLIVRE AREPRODUCcedilAtildeODO CONTEUacuteDO EXCETO

IMAGENS DESDEQUESEJAM CITADOS COMOFONTES APUBLICACcedilAtildeOE OAUTOR

ESCOLA DE ADMINISTRACcedilAtildeO DE EMPRESAS

DE SAtildeO PAULO DA FUNDACcedilAtildeO GETULIO VARGAS

DIRETOR Luiz Artur Brito

COORDENADOR Mario Monzoni

VICECOORDENADOR Paulo Durval Branco

COORDENADOR ACADEcircMICO Renato J Orsato

JORNALISTAS FUNDADORAS Amaacutelia Safatle e Flavia Pardini

EDITORA Amaacutelia Safatle

EDICcedilAtildeO DE ARTE Marco Antoniowwwmioloeditorialcombr

EDITOR DE FOTOGRAFIA Bruno Bernardi

REVISORPESQUISADOR DE TEXTO

Joseacute Genulino Moura Ribeiro

GESTORA DE PRODUCcedilAtildeO Bel BrunharoILUSTRACcedilOtildeES Flavio Castellan (seccedilotildees)

COLABORARAM NESTA EDICcedilAtildeO

Bruno Toledo Diego Viana Elaine Carvalho Fabio F Storino

Faacutebio Rodrigues Felipe Giasson Luccas Guto Ramos

Joatildeo Meirelles Filho Magali Cabral (textos e ediccedilatildeo )

Manoel Potiguar Moreno Cruz Osoacuterio Regina Scharf

Seacutergio Adeodato Tiago ChavesENSAIO FOTOGRAacuteFICO Felipe Gombossy

JORNALISTA RESPONSAacuteVEL

Amaacutelia Safatle (MTb 22790)

COMERCIAL E PUBLICIDADENominal Representaccedilotildees e Publicidade

Mauro Machadomauronominalrpcombr

(11) 30635677

REDACcedilAtildeO E ADMINISTRACcedilAtildeO

Rua Itarareacute 123 - CEP 01308-030 - Satildeo Paulo - SP

(11) 3284-0754 leitorpagina22combr

wwwfgvbrcespagina22

CONSELHO EDITORIAL

Ana Carla Fonseca Reis Aron Belinky

Joseacute Eli da Veiga Leeward Wang

Mario Monzoni Nataacutelia Garcia Pedro Telles

Roberto S Waack Rodolfo Guttilla

IMPRESSAtildeO HRosa Serviccedilos Graacuteficos e Editora

TIRAGEM DESTA EDICcedilAtildeO 5800 exemplares

Os artigos e textos de caraacuteter opinativo assinados por

colaboradores expressam a visatildeo de seus autores natildeo

representando necessariamente o ponto de vista de

P e do GVces

ANUNCIE

EDITORIAL

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

B R U N O B

E R N A R D I

[E E ]

Eu acredito que o encontro o diaacutelogoe a colaboraccedilatildeo para um mundo

melhor estatildeo no altruiacutesmo que eacute umaabordagem de todas as religiotildees Emoutras palavras depende do amor daempatia e da compaixatildeo sentimento

que predominam entre os quebuscam o autoconhecimento oexerciacutecio da colaboraccedilatildeo com o outro

e a coexistecircncia Susana Simotildees Leal

[O E ]

Augusto Uchoa fui apresentado ao

Leandro Karnal por vocecirc em umaaula em que exibiu a participaccedilatildeodele no Cafeacute Filosoacutefico da TV CulturaE lembro que disse se achar muito

burro numa comparaccedilatildeo com estehistoriador Lendo esta entrevistaa achei oacutetima e fiquei com a mesmasensaccedilatildeoThiago Etchatz

[E

E ]

Bem interessante mesmo

Precisamos mudar a referecircncia sobrequem estaacute no centro do universouma nova revoluccedilatildeo Marcia Regina

Ferreira

[E E]

Compartilho a Revista P22 queconsidero ser um trabalho exemplar

de jornalistas de primeira linha como

Amaacutelia Safatle e Seacutergio Adeodatoentre outros O tema dessa ediccedilatildeo eacutemuito interessante Vale a pena ler

Maria Inecircs Berloffa

OUTBOXE

Na reportagem ldquoA feacute estaacute na mesardquopaacutegina 47 da ediccedilatilde o 97 onde se lecircpalestra no TED leia-se palestra no

EAT A versatildeo digital estaacute correta

CAPA

Caixa de entradaCOMENTAacuteRIOS DE LEITORESRECEBIDOS POR EMAIL REDESSOCIAIS E NO SITE DE P22

Luz no tuacutenelNa busca de uma economia mais verde e socialmente inclusivao que se deve esperar (ou natildeo) das tecnologias emergentes

Economia Verde Iniciativas mostram como a Floresta Amazocircnicapode se transformar em um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicassimples relevantes e de baixo custo

Entrevista Luiz Alberto Oliveira curador do Museu do Amanhatildevislumbra as novas feiccedilotildees da humanidade cada vez mais um hiacutebrido entreo bioloacutegico e o eletrocircnico entre o natural e o artificial

Histoacuteria O Homo sapiens tecnoloacutegico logo mais chega a Marte masainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica que coloca em risco a suaproacutepria existecircncia

Impacto Cada nova onda tecnoloacutegica traz a necessidade de repensaro modo de vida humano Para o economista Otto Scharmer do MIT o impactoseraacute negativo ou positivo se reduz ou amplia nosso espectro de opccedilotildeespara agir e criar

10

14

34

44

SECcedilOtildeES6 Notas 9 Web 27 Coluna 28 Retrato 39 Farol 40 Artigo 42 Anaacutelise 43 Brasil Adentro 49 Antena 50 Uacuteltima

20

FOTODACAPABRUNOBERNARDI OBRA JULIANOPIE

AGRADECEMOSAgraveEXPOSICcedilAtildeOINVENTONAOCAQUEFOIOBJETODEFOTOSDAEDICcedilAtildeO

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

IacuteNDICEUse o QR Code para acessar P22 gratuitamente e ler esta e outras ediccedilotildees

8162019 P22 Edicao 98 Tecnologia

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Mais emprego

Um balanccedilo feito no uacuteltimo seacuteculo e meio comprova o avanccedilotecnoloacutegico natildeo eacute um exterminador de empregos Pesquisa rea-lizada na Inglaterra e no Paiacutes de Gales pela empresa global de

consultoria e auditoria Deloitte mostra que ao contraacuterio a ascensatildeoda tecnologia vem criando grande quantidade de postos de trabalho aolongo dos uacuteltimos 144 anos

Para chegar a essa conclusatildeo reportagem publicada em 18 de

agosto no jornal britacircnico The Guardian conta que os economistas daDeloitte vasculharam dados dos censos dos dois paiacuteses desde 1871

Segundo os autores da pesquisa a exceccedilatildeo fica por conta dossetores agriacutecola e industrial que devido agrave automaccedilatildeo dos meios de

produccedilatildeo de fato reduziram drasticamente o nuacutemero de empregados

Se em 1871 66 da forccedila de trabalho da Inglaterra e do Paiacutes de G alestrabalhavam em fazendas hoje apenas 02 manteacutem um emprego nocampo Um decliacutenio de 95

Mas o crescimento dos setores de tecnologia da informaccedilatildeo e deserviccedilos (cabeleireiros bares e restaurantes educaccedilatildeo) por exem-plo teriam mais do que compensado essas perdas As maacutequinas as-sumiram tarefas mais repetitivas e trabalhosas mas natildeo chegaram

perto de eliminar a necessidade de trabalho humano que em qualquermomento nos uacuteltimos 150 anos escreveram os autores Ian StewartDebapratim De e Alex Cole indicados para o precircmio Society of Ryb-czynski de estudos na aacuterea de economia e negoacutecios Para saber mais

acesse bitly1EzgQI1 ndash Magali Cabral

MAIS TECNOLOGIA

EXTERNALIDADES

Quem paga a contaO custo da degradaccedilatildeo do planeta tem

recaiacutedo em toda a sociedade traduzidonos riscos agrave qualidade de vida e natildeo pro-priamente nas contas das empresas cau-

sadoras de danos ao meio ambiente Pelaprimeira vez um estudo mundial calculou

quanto ndash ou seja qual o peso financeiro des-sas ldquodespesasrdquo caso fossem pagas em vez

de remunerar acionistas De acordo com olevantamento da consultoria Trucost en-comendado pelo The Economics of Ecosys-tems and Biodiversit y (Teeb) as companhias

globais mais rentaacuteveis registrariam lucrobem inferior ao que reportam se os custosambientais tivessem sido incorporados aobalanccedilo financeiro Em alguns casos o ne-

goacutecio se tornaria inviaacutevelO estudo analisou as receitas das maio-

res induacutestrias no planeta e em seguidaas comparou com 100 diferentes tipos de

custos ambientais divididos em seis cate-gorias uso da aacutegua uso da terra emissotildeesde gases de efeito estufa resiacuteduos poluiccedilatildeodo solo e contaminaccedilatildeo hiacutedrica Os setores

RANKING

12345

Ranking dos 5 setoresregiotildees com o maior impacto no capital naturalSETOR

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoCriaccedilatildeo de gado

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoPlantaccedilatildeo de trigoPlantaccedilatildeo de arroz

REGIAtildeO

Leste AsiaacuteticoAmeacuterica do Sul

Ameacuterica do NorteSul da AacutesiaSul da Aacutesia

RECEITA US$ BI

4431166

2467318658

RELACcedilAtildeO

10188138436

CUSTO DO CAPITAL NATURAL US$ BI

45283538316826662356

FONTE TRUCOST

mais problemaacuteticos foram pecuaacuteria cultivoe processamento de gratildeos energia a carvatildeoe produccedilatildeo de cimento e accedilo

A criaccedilatildeo de gado na Ameacuterica do Sul

carrega custo ambiental 18 vezes maior doque as receitas da atividade principal res-ponsaacutevel pela destruiccedilatildeo da Floresta Ama-zocircnica O processamento de soja e a pro-

duccedilatildeo animal estatildeo no topo das atividadesque mais geram custos de externalidadesnas cadeias produtivas Mais detalhes emgoogl1nf3U8 ndash Seacutergio Adeodato

E R I K A R A Uacute J O

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

LANCcedilAMENTO II

Saques na Terra do MeioO receacutem-lanccedilado livro Rotas do Saque Ameaccedila

violaccedilotildees agrave integrid ade territorial da Terra do Meio (PA)

Instituto Socioambiental (ISA) faz um diagnoacutestico so

roubo de madeira grilagem e ameaccedilas a os povos indiacutenas e comunidades tradicionais que vivem no conjuntoaacutereas protegidas da Terra do Meio A regiatildeo localizadaBacia do Rio Xingu no Sudoeste do Paraacute entre os rios Xin

e Iriri eacute um corredor de 8 milhotildees de hectares de aacuterprotegidas no coraccedilatildeo da Amazocircnia entre terras indiacutenas e unidades de conservaccedilatildeo

Na deacutecada de 1990 a regiatildeo passou por um proce

intenso de grilagem e exploraccedilatildeo madeireira ilegal qdeixou tentaacuteculos sobre a floresta e seus povos Rotas

Saque mostra que uma deacutecada apoacutes a decretaccedilatildeo da maria das Unidades de Conservaccedilatildeo da regiatildeo o territoacuteri

as comunidades tradicionais da Terra do Meio seguem sum novo ciclo de pressotildees de grupos i nteressados na appriaccedilatildeo ilegal de terras puacuteblicas e no roubo de madeAcesse o pdf da publicaccedilatildeo em bitly1MzHwPs (MC)

Instrumento decisivo no combate agrave mudanccedila climaacuteticaa precificaccedilatildeo de carbono eacute o tema de estreia do P22_ON

um projeto digital temaacutetico que usa recursos multimiacutedialinguagem leve e formato dinacircmico para levar a um puacuteblicomais amplo temas estrateacutegicos para a sociedade Acesse osite p22oncombr e assista ao viacutedeo sobre precificaccedilatildeo em

youtubeseITk3hyunAO projeto lanccedilado em 6 de agosto usa como base con-

teuacutedos teacutecnicos produzidos pelos pesquisadores do Centroem Estudos em Sustentabilidade da Eaesp-FGV (GVces) O

intuito eacute contribui r para o debate puacuteblico e a tomada de deci-satildeo de empresas e governos Com textos acessiacuteveis viacutedeosgraacuteficos dicas de leitura etc oP22_ON vai ao ar a cada dois me-

ses intercalado com a ediccedilatildeo im-pressa da P22 Aguarde emoutubro o proacuteximo tema

LANCcedilAMENTO I

P22_ON estreia comprecificaccedilatildeo de carbono

Sinal vermelho enfim

Um ano e meio depois da crise hiacutedricainstalada o governo de Satildeo Pauloreconheceu oficialmente por meio

de uma portaria publicada em 19 de agostoque a situaccedilatildeo na Grande Satildeo Paulo eacute criacute-tica A portaria eacute um instrumento atraveacutesdo qual eacute possiacutevel suspender licenccedilas de

captaccedilatildeo particular para priorizar o abas-tecimento puacuteblico e acelerar a obtenccedilatildeo delicenccedilas ambientais

A medida poderaacute tambeacutem servir de

alerta aos que jaacute comeccedilam a deixar a tor-

neira mais tempo aberta Segundo le-vantamento da Lello administradora decondomiacutenios no Estado ndash feito com base

nas contas de aacutegua de 17 mil edifiacutecios resi-denciais da capital paulista ABC Campinase litoral do Estado ndash a adesatildeo dos mora-dores ao uso racional de aacutegua diminuiu jus-

tamente depois da estaccedilatildeo mais chuvosaEm junho apenas 76 dos condomiacutenioseconomizavam aacutegua em relaccedilatildeo aos seusconsumos meacutedios contra 82 em abril

Mesmo natildeo sendo uma reduccedilatildeo ex-pressiva na adesatildeo das campanhas de con-

CRISE HIacuteDRICA

passado empresas de saneamento indtrias agricultores e pecuaristas tiverde reduzir pela primeira vez na histoacuteria

captaccedilatildeo de aacutegua na Bacia do Rio Camandcaia na regiatildeo de Campinas Em meadosagosto segundo os oacutergatildeos reguladorapenas 1320 litros por segundo de aacuteg

passavam pelo rio quando o normal eacute psar de 2000 ls

A restriccedilatildeo agrave captaccedilatildeo atingiu dez mniciacutepios parcial ou totalmente Amparo

lambra Jaguariuacutena Monte Alegre do S

Pedra Bela Pedreira Pinhalzinho Santo Atocircnio de Posse Serra Negra e Socorro (M

sumo racional eacute o suficien te segundo aempresa para acender um sinal ldquoamarelordquoA esta altura a luz vermelha talvez fosse

mais apropriada jaacute que a amarela repre-senta a realidade dos uacuteltimos e dos proacutexi-mos anos Agosto foi o mecircs mais seco dahistoacuteria para o Sistema Alto Tietecirc respon-

saacutevel pelo abastecimento de 45 milhotildees depessoas No dia da publicaccedilatildeo da portariaesse sistema operava com apenas 15 desua capacidade

Embora a medida do governo se refira

apenas agrave Grande Satildeo Paulo a situaccedilatildeo nointerior do estado natildeo eacute melhor No mecircs

NOTAS

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ENERGIA

Mapa do sol

Com a energia solar ficando mais aces-siacutevel um grande nuacutemero de pessoas

estaacute tendo de se virar para descobrirse e quanto vale investir num sistema do-miciliar de paineacuteis solares E naturalmenteessa gente toda recorre ao Google Para

atender esse puacuteblico um grupo de enge-nheiros da empresa lanccedilou o Project Sun-roof (algo como Projeto Teto Solar)

O projeto aproveita dados que o Google

aacute coletava ndash como endereccedilos georreferen-ciados modelamento 3D e imagens de sa-teacutelites ndash para construir um mapa detalhado

sobre quanta luz solar cada telhado recebeO sistema olha inclusive para o histoacuterico cli-maacutetico da regiatildeo e o entorno de cada casaDessa forma identifica o nuacutemero de dias detempo ruim ou sombras de construccedilotilde es e

aacutervores vizinhas Com base nisso orientaquanta energia limpa eacute possiacutevel gerar a par-tir da energia solar e o quanto isso compen-

sa do ponto de vista financeiro comparandoos preccedilos dos equipamen tos e seu custo denstalaccedilatildeo na regiatildeo de cada usuaacuterio E ateacutemesmo qual a opccedilatildeo mais barata

O serviccedilo estaacute disponiacutevel apenas nascidades de Boston Fresno e da regiatildeo me-tropolitana de San Francisco Mas o viacutedeode lanccedilamento do projeto (googlpMrBlW)

fala que ldquoem breverdquo o mapeamento inclui-raacute todo o territoacuterio americano e possivel-mente o mundo ndash Faacutebio Rodrigues

CAPTACcedilAtildeO DE RECURSOS

Turismo

em RPPNsComeccedilaram a ser buscados no Brasil eno exterior os recursos para a primei-ra etapa do Programa de Desenvolvi-

mento de Turismo Sustentaacutevel em RPPNs Afase de Sensibilizaccedilatildeo teraacute duraccedilatildeo de 12 a18 meses e custo estimado em R$ 11 milhatildeoO programa tem como objetivo promover

atividades de turismo sustentaacutevel nas 1351RPPNs do Brasil Acesse a proposta em por-tuguecircs (migremer9Fk0) inglecircs (migremer9Fn2 ) ou espanhol (migremer9FlF)

F A B I O F S T O R I N ODoutor em Administraccedilatildeo

Puacuteblica e Governo

Em um saacutebado agrave noite haacute poucomais de dois seacuteculos trabalha-dores do setor tecircxtil reuniam-se

num pub na cidade inglesa de High-town Natildeo estavam celebrando o cli-ma econocircmico era sombrioe as condiccedilotildees naquela in-

duacutestria muito duras Quan-do chegou a hora largaramseus copos de cerveja e

pegaram nas armas mdash pi-caretas marretas riflesmdash e rumaram ateacute a plantade uma faacutebrica O alvo Asmaacutequinas introduzidas pela

Revoluccedilatildeo Industrial queameaccedilavam seus empre-gos Por dois anos os lud-

ditas repetiriam os ataques em vaacuteriasoutras cidades ateacute serem contidospelo Exeacutercito Britacircnico e pelo Parla-mento que tornou crime a quebra de

maacutequinas e permitiu que os responsaacute-veis fossem levados a julgamento

A tensatildeo entre os humanos e asmaacutequinas permaneceu a cada novo

avanccedilo tecnoloacutegico Mas se empregoseram destruiacutedos outros tantos eramcriados as maacutequinas liberavam as pes-soas dos trabalhos duros e repetitivos

da agricultura e da induacutestria e com oaumento da renda proporcionado porganhos de produtividade novas de-mandas eram geradas especialmente

no setor de serviccedilos por muito tempoum refuacutegio contra a ameaccedila roboacutetica

Mas isso estaacute mudando com oavanccedilo da inteligecircncia artificial robocircs

estatildeo aprendendo a desempenhar ta-refas que exigem muito mais neurocirc-nios que muacutesculos como mostra o oacuteti-mo Humans Need Not Apply [Humanos

natildeo precisam se candidatar] (youtube7Pq-S557XQU com legendas emportuguecircs disponiacuteveis) Robocircs que co-

zinham escrevem notiacutecias e dirigem jaacutesatildeo realidade E a progressatildeo tende aser geomeacutetrica Se taxistas do Brasil e

do mundo atacam motoristas e veiacutecu-los do Uber o que faratildeo quando dirigir

se tornar obsoletoNo Centro de Estudos

do Risco Existencial da Uni-versidade de Cambridge ainteligecircncia artificial eacute vista

com um dos riscos (googlfcZrwj) algoritmos capa-zes de aprender continua-mente e se adaptar de ma-neira autocircnoma precisam

de salvaguardas que os im-peccedilam de se voltar contraos humanos Carta aberta

assinada por grandes nomes da ciecircn-cia e tecnologia (googlEnc1Gc) comoStephen Hawking e Elon Musk alertacontra os riscos das armas autocircnomas

mdash falo sobre isso em ldquoO robocirc que natildeome amavardquo (ed 80 googl65eZaX)

Essas maacutequinas tampouco estatildeoa salvo da ameaccedila humana recente-

mente HitchBOT robocirc que cruzou oCanadaacute e Europa pegando carona foicompletamente destruiacutedo nos EUANo Japatildeo pesquisadores programam

robocircs para tentar evitar bullying h u-mano (conclusatildeo do algoritmo fuja decrianccedilas em grupo) Laacute eles tambeacutemoferecem companhia aos humanos

em especial aos idosos Filmes recen-tes como Ela e Ex-Machina apontampara um futuro no qual robocircs tambeacutemse tornaratildeo parceiros amorosos

Estamos introduzindo um novoator nas relaccedilotildees sociais sem termosresolvido a contento a maneira comotratamos nossos semelhantes de car-

ne e osso Seraacute que com o algoritmocerto isso eacute algo que os robocircs pode-ratildeo nos ensinar

Olha issoHumanos versus robocircs

O B R A J O S Eacute D A M A S C E N O F O T O B R U N O B E R N A R D I

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

por Elaine Carvalho WEB

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

No mundo inteiro as oficinas de engenho-

cas crescem em quantidade e puacuteblicoO aprender fazendo possibilita desen-

volver nas crianccedilas habilidades valorizadas noseacuteculo XXI capacidade de criar de ser propo-sitivo e de desenvolver soluccedilotildees compartilha-das usando a tecnologia

Por isso os Estados Unidos transforma-ram algumas de suas bibliotecas em maker-

spaces ndash espaccedilos para pocircr a matildeo na massa efazer experimentaccedilotildees transdisciplinares NoBrasil os 69 centros binacionais (institutosculturais de ensino do inglecircs e da cultura ame -ricana) estatildeo fazendo o mesmo

ldquoUma bancada no canto de uma escola oubiblioteca pode ser considerada um maker-

space se tiver ferramentas simples de cria-ccedilatildeordquo explica a especialista em tecnologiaeducacional Daniela Lyra da Casa Thomas

Cidadatildeos do seacuteculo XXIPRATA DA CASA

MUNDO AFORA

Madeira em 3DPesquisadores da Universidade de Tecnolo-

gia Chalmers na Sueacutecia encontraram uma ma-neira de usar madeira como mateacuteria-prima na

impressatildeo 3D originando produtos biodegradaacute-veis Para isso eles tiveram de mudar a consis-tecircncia da fibra de celulose tornando-a um liacutequi-do injetaacutevel A descoberta mostra que o futuro

dessa tecnologia pode ser mais amigaacutevel para omeio ambiente pois proporciona certa liberta-ccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave dependecircncia do plaacutestico e dometal no processo Leia mais em bitly1Lzs45w

VALE O CLICK

D I V U L G A Ccedil Atilde O

L I A M A R A M I L A N E L L I

Jefferson centro binacional de Brasiacutelia que

oferece atividades desse tipo Nas oficinasdadas pelo artista e professor Glauco Paivana rede Sesc ele fornece brinquedos velhossucatas e quinquilharias de R$ 199 para sere mdesmontadas e recriadas ldquoO efeito eacute viral Ameninada leva a referecircncia para casa e laacute con-tinua criando e ensina os amigos Tudo o queeles precisam eacute de um adulto que abra caminhopara esse autodidatismordquo diz ele

No computador esse empoderamento sedaacute quando se sabe programar um modo decriar ldquofluecircnciardquo nesta linguagem que estima--se seraacute universal em ateacute 50 anos Cinco milalunos de escolas puacuteblicas de cidades paulis-tas estatildeo aprendendo a criar os proacuteprios ga-mes por meio do didaacutetico Programaecirc da Fun-daccedilatildeo Lemann que reuacutene os melhores sitesautoexplicativos de programaccedilatildeo da internet

Leia a iacutentegra da reportagem no blog da revista em fgvbrcespagina22

ECODRONESO Projeto Ecodrones Brasil d

WWF-Brasil pretende viabi

o uso de drones no Brasil

para monitorar e proteger os

recursos naturais Um viacutedeo

2 minutos explica como essa

tecnologia beneficiou a Aacutefric

do Sul e como pode ajudar as

nossas florestas Veja em

bitly1htZJ5r

MAIS APPS MAIS AacuteGUACom o Level Up+ cidadatildeos

podem registrar vazamento

e desperdiacutecios de aacutegua que

encontram nas ruas O aplica

foi o vencedor do Hackathon

Mais Sustentabilidade que

premiou projetos criados po

jovens para amenizar a crise

hiacutedrica Da iniciativa tambeacutem

surgiram os apps Mizu jogo

eletrocircnico para crianccedilas e

Irriga-Accedilatildeo que calcula a

aacutegua necessaacuteria para irrigar

plantaccedilotildees

CIDADE TAGUEADAO site Viuclub eacute um mapa

colaborativo onde os usuaacuterio

compartilham fotos e

impressotildees sobre pontos

especiacuteficos das cidades Cria

por alunos da PUC Minas pro

a construccedilatildeo coletiva de um

banco de memoacuterias positiva

de denuacutencias

Tensatildeo monitoradaMuitos aplicativos informam os usuaacuterios so-

bre como respirar corretamente para manter acalma a concentraccedilatildeo e o foco O Spire diz exa-tamente quando fazer isso Com a ajuda de um

dispositivo que se prende ao corpo do usuaacuteriopor um grampo o aplicativo monitora zonas detensatildeo e avisa os momentos em que a melhorestrateacutegia eacute parar e respirar profundamente

para retomar o estado de relaxamento e con-trole A conexatildeo entre o dispositivo e o iPhoneeacute feita por Bluetooth O dispositivo custa US$14995 Veja o viacutedeo em bitly1TmpaHn

8162019 P22 Edicao 98 Tecnologia

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Em busca da Amazocircnia 20Como a floresta pode se tornar um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildeestecnoloacutegicas relevantes e de baixo custoPOR SEacuteRGIO ADEODATO

Quem se depara pela primeira vez coma realidade do isolamento da FlorestaAmazocircnica se surpreende com a feli-cidade da vida ribeirinha O povo adora

uma celebraccedilatildeo as festas varam a noite ateacute o ra iardo dia no embalo de muita muacutesica comida e bebi-da Ao final a montanha de resiacuteduos gerados pelafarra chama atenccedilatildeo Em qualquer outro lugar do

Paiacutes a primeira providecircncia seria varrer o lixo oupelo menos escondecirc-lo Mas ali eacute diferente coposlatas plaacutesticos garrafas e demais objetos descar-taacuteveis tecircm valor para a autoestima De certa manei-ra simbolizam status riqueza e poder situaccedilatildeo per-feitamente compreensiacutevel para quem natildeo faz muitotempo dependia de produtos in natura conquistouacesso ao consumo e mudou de haacutebito

A ascensatildeo econocircmica e social eacute mais do quejusta Mas a enxurrada de produtos industrializadose suas embalagens acendeu o sinal de alerta na flo-resta E passou a exigir ideias inovadoras para queas mercadorias que entramna rotina diaacuteria natildeo prejudi-quem a qualidade de vida

A soluccedilatildeo surgiu nacomunidade Trecircs Unidoshabitada por iacutendios da et-nia Kambeba na Aacuterea deProteccedilatildeo Ambiental do RioNegro nos arredores deManaus (AM) No local foiinstalado um inusitado galpatildeo de triagem adaptadoagraves condiccedilotildees do lugar para recebimento do lixo re-ciclaacutevel recolhido pelos moradores em 16 povoadosribeirinhos A principal novidade estaacute na logiacutesticaque exigiu o projeto de recipientes customizadospara embarque nas lanchas do transporte escolarresponsaacuteveis por levar os materiais ateacute uma coope-rativa de catadores da capital amazonense De laacuteo papel por exemplo eacute vendido a um depoacutesito ata-cadista que junta maior quantidade para abasteceruma faacutebrica de papelatildeo em Pernambuco

Pela primeira vez a reciclagem chega a uma aacutereaprotegida como reserva ambiental ldquoNatildeo foi faacutecilconscientizar as famiacutelias e agora jaacute notamos que o

nuacutemero de casos de diarreia diminuiurdquo conta o pajeacuteValdemir Triukuxuri O haacutebito era queimar o lixo oujogaacute-lo no rio como al go que a natureza se encarre-garia de eliminar assim como faziam pais e avoacutes comas sobras de frutos peixes e outros itens orgacircnicosmais tradicionais do consumo na floresta

A rotina comeccedilou a mudar com a central de re-siacuteduos construiacuteda em lugar no bre da comunidade agrave

vista de todos ldquoA ideia neste momento natildeo eacute gerarescala mas sensibilizar os ribeirinhos para a ques-tatildeordquo explica Fernando von Zuben diretor de meioambiente da Tetra Pak fabricante de embalagenslonga vida que apoia o projeto em parceria com aFundaccedilatildeo Amazonas Sustentaacutevel (FAS)

A iniciativa ilustra o desafio da inovaccedilatildeo na Ama-zocircnia centro das atenccedilotildees globais devido agrave impor-tacircncia para o equiliacutebrio climaacutetico ldquoO esforccedilo natildeodeve estar na sofisticaccedilatildeo mas na relevacircncia dassoluccedilotildees muitas vezes simples e de baixo custocapazes de resolver entraves do desenvolvimento

sustentaacutevelrdquo diz Virgiacutelio Vianasuperintendente geral da FAS

Os avanccedilos vatildeo desde umtrepador mecacircnico para subirmais faacutecil e raacutepido na palmei-ra de accedilaiacute e coletar o fruto ateacuteum modelo inovador de sauacutedepuacuteblica com roteiro de visitasdomiciliares a matildees e crianccedilaspor entre rios e igarapeacutes

ldquoEm vaacuterios casos o pulo do gato estaacute em ven-cer o isolamentordquo ressalta Viana ao informar que odesafio inspirou a criaccedilatildeo da Rede de Soluccedilotildees parao Desenvolvimento Sustentaacutevel da Amazocircnia demodo que boas ideias sejam compartilhadas entreos sete paiacuteses do bioma A iniciativa integrante deum projeto global das Naccedilotildees Unidas lanccedilou nesteano um precircmio para reconhecer e replicar as me-lhores soluccedilotildees

ldquoTemos como negoacutecio o conviacutevio com o ladohumano da floresta onde haacute culturas tradicionaise modos peculiares de produccedilatildeo que precisam servalorizados para aleacutem das cobras e jacareacutes normal-mente mostrados aos visitantesrdquo diz Alexander Gui-

Empreendedorismocaboclo valorizao lado humano

do bioma

ECONOMIA VERDE

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A iniciativaselecionou 35empreendedoresociais quereceberatildeoinvestimento paa transformaccedilatildede seus projetoem negoacutecios cideles incubadossede da FAS

maratildees agrave frente da start-up Amazon Share voltadapara o turismo comunitaacuterio O projeto se destacouno desafio de inovaccedilatildeo ldquoThe Boat Challengerdquo pro-movido pela Coca-Cola para identificar ideias praacuteti-cas capazes de mudar a realidade socioambiental deManaus Nas vilas jovens nativos aprendem conta-bilidade e satildeo mobilizados a montar negoacutecios comomercearias e confecccedilatildeo de camisetas e artesanatono conceito de ldquoempreendedorismo cabocl ordquo

ENERGIA SOLAR PORTAacuteTIL O Rio Negro no Amazonas eacute rota de experi-

mentos com potencial de beneficiar toda a regiatildeocaso sejam i ntegrados a poliacuteticas puacuteblicas Longe

da rede eleacutetrica a comuni dade Tumbira onde haacute umnuacutecleo de educaccedilatildeo para o uso sustentaacutevel da flo-resta eacute abastecida por um sistema hiacutebrido partepaineacuteis solares e parte oacuteleo diesel em fase piloto detestes mediante parceria com a Schneider Electric

A inovaccedilatildeo garante o funcioname nto de uma mi-croagecircncia bancaacuteria do Bradesco que permite sa-ques depoacutesitos e transferecircncias Em vez de pagarcaro pelo transporte fluvial para receber salaacuteriosbenefiacutecios ou aposentadorias na capital os ribeiri-nhos tecircm acesso ao dinheiro na proacutepria comunida-de com o uso de cartatildeo magneacutetico e com ele mo-vimentam a economia local O ldquobancordquo eacute operadopor um ex-madeireiro ilegal Roberto Brito hoje

Saiacuteda estaacute em arranjos colaborativos unindo comunidades empresas e universidades

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D I V U L G A Ccedil Atilde O

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dedicado a mostrar para visitantes a floresta bemconservada e as novidades que chegam por laacute ndash in-clusive a internet

A questatildeo da energia eacute obstaacuteculo em grandeparte da Amazocircnia onde a mesma florest a que cap-tura e estoca carbono da atmosfera eacute dona de uma

matriz energeacutetica suja que emite gases de efeitoestufa agrave base de usinas termeleacutetricas e pequenosgeradores a oacuteleo diesel caros para os padrotildees daregiatildeo Para viabilizar a purificaccedilatildeo da aacutegua servida

aos iacutendios das etnias Deni e Kanamari no Rio Xeruatildeo pesquisador Roland Vetter do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazocircnia (Inpa) desenvolveu umequipamento solar portaacutetil que reduziu em 80 asdoenccedilas associadas agrave contaminaccedilatildeo hiacutedrica por es-goto ldquoA poluiccedilatildeo passa a ser um problema quandoas populaccedilotildees indiacutegenasdeixam de ser nocircmades e seconcentram em um uacutenicolocalrdquo explica o cientista

O meacutetodo trata a aacuteguamediante a incidecircncia deluz ultravioleta com bate-ria que garante o funciona-mento por cinco dias semsol Depois de patenteadaa tecnologia foi transferida para uma empresa doAmazonas que disseminaraacute os equipamentos nomercado com pagamento de royalties ao Inpa e aosinventores Pela primeira vez em sua histoacuteria a insti-tuiccedilatildeo criada haacute 62 anos como resposta agraves ameaccedilasde internacionalizaccedilatildeo da Floresta Amazocircnica seraacuteremunerada por uma inovaccedilatildeo Haacute outras 71 em car-teira jaacute com depoacutesito de patente agrave espera de inte-ressados A proacutexima novidade a chegar ao mercadodeveraacute ser a sopa de piranha desidratada de efeitoafrodisiacuteaco Aleacutem dela estatildeo em teste novos cos-meacuteticos e remeacutedios obtidos do gengibre amargo

Eacute chave saber quais espeacutecies vegetais existemna Amazocircnia onde estatildeo e qual a chance de seremcomercialmente aproveitadas Em Beleacutem o MuseuEmiacutelio Goeldi guarda coleccedilotildees cientiacuteficas centenaacute-rias fieacuteis depositaacuterias da flora e fauna Com 209 milamostras de plantas o acervo eacute estrateacutegico na defe-sa contra a biopirataria Mas metade dos pesquisado-res da instituiccedilatildeo estaacute apta a s e aposentar colocando

em risco a continuidade de trabalhos como os estu-dos com a ldquoterra pretardquo ndash tipo de solo milenar rico emmateacuteria-orgacircnica proveniente do lixo de populaccedilotildeesancestrais cobrindo 18 mil quilocircmetros quadradosda floresta Pesquisadores reproduziram o materialno laboratoacuterio imitando a natureza e patentearamo processo para aplicaacute-lo na produccedilatildeo agriacutecola ldquoN atildeoeacute por falta de pesquisa que haacute deficiecircncia de poliacuteticaspara o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo avalia IlmaVieira coordenadora de biodiversidade do Museu

fundado em 1866 por intelectuais que pretendiamdar ldquoaparato civilizatoacuteriordquo agrave capital paraense

ldquoApostamos no diferencial da regiatildeo para aces-so a novos suprimentos mas o desafio eacute tatildeo grandequanto o potencialrdquo avalia Iguatemi Costa gerentedo Nuacutecleo de Inovaccedilatildeo Amazocircnia (Nina) da Natura

em Manaus Desenvolvimen-to territorial e empreendedo-rismo satildeo panos de fundo nabusca por formas alternativasde capturar valor na sociobio-diversidade ldquoExiste massacriacutetica mas satildeo necessaacuteriaspoliacuteticas puacuteblicas para que hajaum ambiente favoraacutevel a maisiniciativas e investimentos de

longo prazo com desdobramento na economiaflorestalrdquo completa Costa

A estrateacutegia da empresa na regiatildeo eacute trabalharem rede mapeando competecircncias em frentes comoa formaccedilatildeo de lideranccedilas e a interface entre flore s-ta e agricultura para dar escala a ingredientesda biodiversidade O olhar nas cadeias produtivasprocura incluir tecnologias que as tornem mais efi-cientes com garantia de qualidade do insumo antesda chegada agraves faacutebricas Para Cost a a reforma da leibrasileira de acesso ao patrimocircnio geneacutetico tende aimpulsionar inciativas de bioprospecccedilatildeo apesar dea logiacutestica amazocircnica de pesquisa ser cara

Arranjos colaborativos satildeo a saiacuteda ldquoBuscamosagora novas essecircncias para perfumaria em coope-raccedilatildeo com universidades e comeccedilamos a prepararo campo para trabalhar pela primeira vez com co-munidade indiacutegenardquo Entender o conhecimento tra-dicional e a visatildeo de mundo ribeirinha eacute o primeiropasso para valorizaacute-lo

De todos osumos da

odiversidadensumidos pelatura 13 provecircmAmazocircnia A meta

aumentar para ateacute 2020

O extrato derumbona obtidoespeacutecie Zingiberrumbet compotildee

m gel utilizado comns resultados paratar ferimentos em

abeacuteticos

A produccedilatildeo daresta nativa na

mazocircnia gira emrno de R$ 9 bilhotildeesano segundo o

GE Os destaqueso madeira tropicalrrada e maiscentemente o accedilaiacute

Reforma de lei de acesso ao patrimocircnio geneacuteticotende a estimular iniciativas de bioprospecccedilatildeo

No Amazonas da energiaoveacutem dermeleacutetricas e 18

hidreleacutetricasase metade daergia distribuiacutedaurtada gerandorda de R$ 13hatildeo por ano agravempanhia eleacutetrica

Pela primeiravez o Inpa seraacute

remunerado poruma inovaccedilatildeo

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

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TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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Mais emprego

Um balanccedilo feito no uacuteltimo seacuteculo e meio comprova o avanccedilotecnoloacutegico natildeo eacute um exterminador de empregos Pesquisa rea-lizada na Inglaterra e no Paiacutes de Gales pela empresa global de

consultoria e auditoria Deloitte mostra que ao contraacuterio a ascensatildeoda tecnologia vem criando grande quantidade de postos de trabalho aolongo dos uacuteltimos 144 anos

Para chegar a essa conclusatildeo reportagem publicada em 18 de

agosto no jornal britacircnico The Guardian conta que os economistas daDeloitte vasculharam dados dos censos dos dois paiacuteses desde 1871

Segundo os autores da pesquisa a exceccedilatildeo fica por conta dossetores agriacutecola e industrial que devido agrave automaccedilatildeo dos meios de

produccedilatildeo de fato reduziram drasticamente o nuacutemero de empregados

Se em 1871 66 da forccedila de trabalho da Inglaterra e do Paiacutes de G alestrabalhavam em fazendas hoje apenas 02 manteacutem um emprego nocampo Um decliacutenio de 95

Mas o crescimento dos setores de tecnologia da informaccedilatildeo e deserviccedilos (cabeleireiros bares e restaurantes educaccedilatildeo) por exem-plo teriam mais do que compensado essas perdas As maacutequinas as-sumiram tarefas mais repetitivas e trabalhosas mas natildeo chegaram

perto de eliminar a necessidade de trabalho humano que em qualquermomento nos uacuteltimos 150 anos escreveram os autores Ian StewartDebapratim De e Alex Cole indicados para o precircmio Society of Ryb-czynski de estudos na aacuterea de economia e negoacutecios Para saber mais

acesse bitly1EzgQI1 ndash Magali Cabral

MAIS TECNOLOGIA

EXTERNALIDADES

Quem paga a contaO custo da degradaccedilatildeo do planeta tem

recaiacutedo em toda a sociedade traduzidonos riscos agrave qualidade de vida e natildeo pro-priamente nas contas das empresas cau-

sadoras de danos ao meio ambiente Pelaprimeira vez um estudo mundial calculou

quanto ndash ou seja qual o peso financeiro des-sas ldquodespesasrdquo caso fossem pagas em vez

de remunerar acionistas De acordo com olevantamento da consultoria Trucost en-comendado pelo The Economics of Ecosys-tems and Biodiversit y (Teeb) as companhias

globais mais rentaacuteveis registrariam lucrobem inferior ao que reportam se os custosambientais tivessem sido incorporados aobalanccedilo financeiro Em alguns casos o ne-

goacutecio se tornaria inviaacutevelO estudo analisou as receitas das maio-

res induacutestrias no planeta e em seguidaas comparou com 100 diferentes tipos de

custos ambientais divididos em seis cate-gorias uso da aacutegua uso da terra emissotildeesde gases de efeito estufa resiacuteduos poluiccedilatildeodo solo e contaminaccedilatildeo hiacutedrica Os setores

RANKING

12345

Ranking dos 5 setoresregiotildees com o maior impacto no capital naturalSETOR

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoCriaccedilatildeo de gado

Geraccedilatildeo de energia a carvatildeoPlantaccedilatildeo de trigoPlantaccedilatildeo de arroz

REGIAtildeO

Leste AsiaacuteticoAmeacuterica do Sul

Ameacuterica do NorteSul da AacutesiaSul da Aacutesia

RECEITA US$ BI

4431166

2467318658

RELACcedilAtildeO

10188138436

CUSTO DO CAPITAL NATURAL US$ BI

45283538316826662356

FONTE TRUCOST

mais problemaacuteticos foram pecuaacuteria cultivoe processamento de gratildeos energia a carvatildeoe produccedilatildeo de cimento e accedilo

A criaccedilatildeo de gado na Ameacuterica do Sul

carrega custo ambiental 18 vezes maior doque as receitas da atividade principal res-ponsaacutevel pela destruiccedilatildeo da Floresta Ama-zocircnica O processamento de soja e a pro-

duccedilatildeo animal estatildeo no topo das atividadesque mais geram custos de externalidadesnas cadeias produtivas Mais detalhes emgoogl1nf3U8 ndash Seacutergio Adeodato

E R I K A R A Uacute J O

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

LANCcedilAMENTO II

Saques na Terra do MeioO receacutem-lanccedilado livro Rotas do Saque Ameaccedila

violaccedilotildees agrave integrid ade territorial da Terra do Meio (PA)

Instituto Socioambiental (ISA) faz um diagnoacutestico so

roubo de madeira grilagem e ameaccedilas a os povos indiacutenas e comunidades tradicionais que vivem no conjuntoaacutereas protegidas da Terra do Meio A regiatildeo localizadaBacia do Rio Xingu no Sudoeste do Paraacute entre os rios Xin

e Iriri eacute um corredor de 8 milhotildees de hectares de aacuterprotegidas no coraccedilatildeo da Amazocircnia entre terras indiacutenas e unidades de conservaccedilatildeo

Na deacutecada de 1990 a regiatildeo passou por um proce

intenso de grilagem e exploraccedilatildeo madeireira ilegal qdeixou tentaacuteculos sobre a floresta e seus povos Rotas

Saque mostra que uma deacutecada apoacutes a decretaccedilatildeo da maria das Unidades de Conservaccedilatildeo da regiatildeo o territoacuteri

as comunidades tradicionais da Terra do Meio seguem sum novo ciclo de pressotildees de grupos i nteressados na appriaccedilatildeo ilegal de terras puacuteblicas e no roubo de madeAcesse o pdf da publicaccedilatildeo em bitly1MzHwPs (MC)

Instrumento decisivo no combate agrave mudanccedila climaacuteticaa precificaccedilatildeo de carbono eacute o tema de estreia do P22_ON

um projeto digital temaacutetico que usa recursos multimiacutedialinguagem leve e formato dinacircmico para levar a um puacuteblicomais amplo temas estrateacutegicos para a sociedade Acesse osite p22oncombr e assista ao viacutedeo sobre precificaccedilatildeo em

youtubeseITk3hyunAO projeto lanccedilado em 6 de agosto usa como base con-

teuacutedos teacutecnicos produzidos pelos pesquisadores do Centroem Estudos em Sustentabilidade da Eaesp-FGV (GVces) O

intuito eacute contribui r para o debate puacuteblico e a tomada de deci-satildeo de empresas e governos Com textos acessiacuteveis viacutedeosgraacuteficos dicas de leitura etc oP22_ON vai ao ar a cada dois me-

ses intercalado com a ediccedilatildeo im-pressa da P22 Aguarde emoutubro o proacuteximo tema

LANCcedilAMENTO I

P22_ON estreia comprecificaccedilatildeo de carbono

Sinal vermelho enfim

Um ano e meio depois da crise hiacutedricainstalada o governo de Satildeo Pauloreconheceu oficialmente por meio

de uma portaria publicada em 19 de agostoque a situaccedilatildeo na Grande Satildeo Paulo eacute criacute-tica A portaria eacute um instrumento atraveacutesdo qual eacute possiacutevel suspender licenccedilas de

captaccedilatildeo particular para priorizar o abas-tecimento puacuteblico e acelerar a obtenccedilatildeo delicenccedilas ambientais

A medida poderaacute tambeacutem servir de

alerta aos que jaacute comeccedilam a deixar a tor-

neira mais tempo aberta Segundo le-vantamento da Lello administradora decondomiacutenios no Estado ndash feito com base

nas contas de aacutegua de 17 mil edifiacutecios resi-denciais da capital paulista ABC Campinase litoral do Estado ndash a adesatildeo dos mora-dores ao uso racional de aacutegua diminuiu jus-

tamente depois da estaccedilatildeo mais chuvosaEm junho apenas 76 dos condomiacutenioseconomizavam aacutegua em relaccedilatildeo aos seusconsumos meacutedios contra 82 em abril

Mesmo natildeo sendo uma reduccedilatildeo ex-pressiva na adesatildeo das campanhas de con-

CRISE HIacuteDRICA

passado empresas de saneamento indtrias agricultores e pecuaristas tiverde reduzir pela primeira vez na histoacuteria

captaccedilatildeo de aacutegua na Bacia do Rio Camandcaia na regiatildeo de Campinas Em meadosagosto segundo os oacutergatildeos reguladorapenas 1320 litros por segundo de aacuteg

passavam pelo rio quando o normal eacute psar de 2000 ls

A restriccedilatildeo agrave captaccedilatildeo atingiu dez mniciacutepios parcial ou totalmente Amparo

lambra Jaguariuacutena Monte Alegre do S

Pedra Bela Pedreira Pinhalzinho Santo Atocircnio de Posse Serra Negra e Socorro (M

sumo racional eacute o suficien te segundo aempresa para acender um sinal ldquoamarelordquoA esta altura a luz vermelha talvez fosse

mais apropriada jaacute que a amarela repre-senta a realidade dos uacuteltimos e dos proacutexi-mos anos Agosto foi o mecircs mais seco dahistoacuteria para o Sistema Alto Tietecirc respon-

saacutevel pelo abastecimento de 45 milhotildees depessoas No dia da publicaccedilatildeo da portariaesse sistema operava com apenas 15 desua capacidade

Embora a medida do governo se refira

apenas agrave Grande Satildeo Paulo a situaccedilatildeo nointerior do estado natildeo eacute melhor No mecircs

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

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ENERGIA

Mapa do sol

Com a energia solar ficando mais aces-siacutevel um grande nuacutemero de pessoas

estaacute tendo de se virar para descobrirse e quanto vale investir num sistema do-miciliar de paineacuteis solares E naturalmenteessa gente toda recorre ao Google Para

atender esse puacuteblico um grupo de enge-nheiros da empresa lanccedilou o Project Sun-roof (algo como Projeto Teto Solar)

O projeto aproveita dados que o Google

aacute coletava ndash como endereccedilos georreferen-ciados modelamento 3D e imagens de sa-teacutelites ndash para construir um mapa detalhado

sobre quanta luz solar cada telhado recebeO sistema olha inclusive para o histoacuterico cli-maacutetico da regiatildeo e o entorno de cada casaDessa forma identifica o nuacutemero de dias detempo ruim ou sombras de construccedilotilde es e

aacutervores vizinhas Com base nisso orientaquanta energia limpa eacute possiacutevel gerar a par-tir da energia solar e o quanto isso compen-

sa do ponto de vista financeiro comparandoos preccedilos dos equipamen tos e seu custo denstalaccedilatildeo na regiatildeo de cada usuaacuterio E ateacutemesmo qual a opccedilatildeo mais barata

O serviccedilo estaacute disponiacutevel apenas nascidades de Boston Fresno e da regiatildeo me-tropolitana de San Francisco Mas o viacutedeode lanccedilamento do projeto (googlpMrBlW)

fala que ldquoem breverdquo o mapeamento inclui-raacute todo o territoacuterio americano e possivel-mente o mundo ndash Faacutebio Rodrigues

CAPTACcedilAtildeO DE RECURSOS

Turismo

em RPPNsComeccedilaram a ser buscados no Brasil eno exterior os recursos para a primei-ra etapa do Programa de Desenvolvi-

mento de Turismo Sustentaacutevel em RPPNs Afase de Sensibilizaccedilatildeo teraacute duraccedilatildeo de 12 a18 meses e custo estimado em R$ 11 milhatildeoO programa tem como objetivo promover

atividades de turismo sustentaacutevel nas 1351RPPNs do Brasil Acesse a proposta em por-tuguecircs (migremer9Fk0) inglecircs (migremer9Fn2 ) ou espanhol (migremer9FlF)

F A B I O F S T O R I N ODoutor em Administraccedilatildeo

Puacuteblica e Governo

Em um saacutebado agrave noite haacute poucomais de dois seacuteculos trabalha-dores do setor tecircxtil reuniam-se

num pub na cidade inglesa de High-town Natildeo estavam celebrando o cli-ma econocircmico era sombrioe as condiccedilotildees naquela in-

duacutestria muito duras Quan-do chegou a hora largaramseus copos de cerveja e

pegaram nas armas mdash pi-caretas marretas riflesmdash e rumaram ateacute a plantade uma faacutebrica O alvo Asmaacutequinas introduzidas pela

Revoluccedilatildeo Industrial queameaccedilavam seus empre-gos Por dois anos os lud-

ditas repetiriam os ataques em vaacuteriasoutras cidades ateacute serem contidospelo Exeacutercito Britacircnico e pelo Parla-mento que tornou crime a quebra de

maacutequinas e permitiu que os responsaacute-veis fossem levados a julgamento

A tensatildeo entre os humanos e asmaacutequinas permaneceu a cada novo

avanccedilo tecnoloacutegico Mas se empregoseram destruiacutedos outros tantos eramcriados as maacutequinas liberavam as pes-soas dos trabalhos duros e repetitivos

da agricultura e da induacutestria e com oaumento da renda proporcionado porganhos de produtividade novas de-mandas eram geradas especialmente

no setor de serviccedilos por muito tempoum refuacutegio contra a ameaccedila roboacutetica

Mas isso estaacute mudando com oavanccedilo da inteligecircncia artificial robocircs

estatildeo aprendendo a desempenhar ta-refas que exigem muito mais neurocirc-nios que muacutesculos como mostra o oacuteti-mo Humans Need Not Apply [Humanos

natildeo precisam se candidatar] (youtube7Pq-S557XQU com legendas emportuguecircs disponiacuteveis) Robocircs que co-

zinham escrevem notiacutecias e dirigem jaacutesatildeo realidade E a progressatildeo tende aser geomeacutetrica Se taxistas do Brasil e

do mundo atacam motoristas e veiacutecu-los do Uber o que faratildeo quando dirigir

se tornar obsoletoNo Centro de Estudos

do Risco Existencial da Uni-versidade de Cambridge ainteligecircncia artificial eacute vista

com um dos riscos (googlfcZrwj) algoritmos capa-zes de aprender continua-mente e se adaptar de ma-neira autocircnoma precisam

de salvaguardas que os im-peccedilam de se voltar contraos humanos Carta aberta

assinada por grandes nomes da ciecircn-cia e tecnologia (googlEnc1Gc) comoStephen Hawking e Elon Musk alertacontra os riscos das armas autocircnomas

mdash falo sobre isso em ldquoO robocirc que natildeome amavardquo (ed 80 googl65eZaX)

Essas maacutequinas tampouco estatildeoa salvo da ameaccedila humana recente-

mente HitchBOT robocirc que cruzou oCanadaacute e Europa pegando carona foicompletamente destruiacutedo nos EUANo Japatildeo pesquisadores programam

robocircs para tentar evitar bullying h u-mano (conclusatildeo do algoritmo fuja decrianccedilas em grupo) Laacute eles tambeacutemoferecem companhia aos humanos

em especial aos idosos Filmes recen-tes como Ela e Ex-Machina apontampara um futuro no qual robocircs tambeacutemse tornaratildeo parceiros amorosos

Estamos introduzindo um novoator nas relaccedilotildees sociais sem termosresolvido a contento a maneira comotratamos nossos semelhantes de car-

ne e osso Seraacute que com o algoritmocerto isso eacute algo que os robocircs pode-ratildeo nos ensinar

Olha issoHumanos versus robocircs

O B R A J O S Eacute D A M A S C E N O F O T O B R U N O B E R N A R D I

NOTAS

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por Elaine Carvalho WEB

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

No mundo inteiro as oficinas de engenho-

cas crescem em quantidade e puacuteblicoO aprender fazendo possibilita desen-

volver nas crianccedilas habilidades valorizadas noseacuteculo XXI capacidade de criar de ser propo-sitivo e de desenvolver soluccedilotildees compartilha-das usando a tecnologia

Por isso os Estados Unidos transforma-ram algumas de suas bibliotecas em maker-

spaces ndash espaccedilos para pocircr a matildeo na massa efazer experimentaccedilotildees transdisciplinares NoBrasil os 69 centros binacionais (institutosculturais de ensino do inglecircs e da cultura ame -ricana) estatildeo fazendo o mesmo

ldquoUma bancada no canto de uma escola oubiblioteca pode ser considerada um maker-

space se tiver ferramentas simples de cria-ccedilatildeordquo explica a especialista em tecnologiaeducacional Daniela Lyra da Casa Thomas

Cidadatildeos do seacuteculo XXIPRATA DA CASA

MUNDO AFORA

Madeira em 3DPesquisadores da Universidade de Tecnolo-

gia Chalmers na Sueacutecia encontraram uma ma-neira de usar madeira como mateacuteria-prima na

impressatildeo 3D originando produtos biodegradaacute-veis Para isso eles tiveram de mudar a consis-tecircncia da fibra de celulose tornando-a um liacutequi-do injetaacutevel A descoberta mostra que o futuro

dessa tecnologia pode ser mais amigaacutevel para omeio ambiente pois proporciona certa liberta-ccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave dependecircncia do plaacutestico e dometal no processo Leia mais em bitly1Lzs45w

VALE O CLICK

D I V U L G A Ccedil Atilde O

L I A M A R A M I L A N E L L I

Jefferson centro binacional de Brasiacutelia que

oferece atividades desse tipo Nas oficinasdadas pelo artista e professor Glauco Paivana rede Sesc ele fornece brinquedos velhossucatas e quinquilharias de R$ 199 para sere mdesmontadas e recriadas ldquoO efeito eacute viral Ameninada leva a referecircncia para casa e laacute con-tinua criando e ensina os amigos Tudo o queeles precisam eacute de um adulto que abra caminhopara esse autodidatismordquo diz ele

No computador esse empoderamento sedaacute quando se sabe programar um modo decriar ldquofluecircnciardquo nesta linguagem que estima--se seraacute universal em ateacute 50 anos Cinco milalunos de escolas puacuteblicas de cidades paulis-tas estatildeo aprendendo a criar os proacuteprios ga-mes por meio do didaacutetico Programaecirc da Fun-daccedilatildeo Lemann que reuacutene os melhores sitesautoexplicativos de programaccedilatildeo da internet

Leia a iacutentegra da reportagem no blog da revista em fgvbrcespagina22

ECODRONESO Projeto Ecodrones Brasil d

WWF-Brasil pretende viabi

o uso de drones no Brasil

para monitorar e proteger os

recursos naturais Um viacutedeo

2 minutos explica como essa

tecnologia beneficiou a Aacutefric

do Sul e como pode ajudar as

nossas florestas Veja em

bitly1htZJ5r

MAIS APPS MAIS AacuteGUACom o Level Up+ cidadatildeos

podem registrar vazamento

e desperdiacutecios de aacutegua que

encontram nas ruas O aplica

foi o vencedor do Hackathon

Mais Sustentabilidade que

premiou projetos criados po

jovens para amenizar a crise

hiacutedrica Da iniciativa tambeacutem

surgiram os apps Mizu jogo

eletrocircnico para crianccedilas e

Irriga-Accedilatildeo que calcula a

aacutegua necessaacuteria para irrigar

plantaccedilotildees

CIDADE TAGUEADAO site Viuclub eacute um mapa

colaborativo onde os usuaacuterio

compartilham fotos e

impressotildees sobre pontos

especiacuteficos das cidades Cria

por alunos da PUC Minas pro

a construccedilatildeo coletiva de um

banco de memoacuterias positiva

de denuacutencias

Tensatildeo monitoradaMuitos aplicativos informam os usuaacuterios so-

bre como respirar corretamente para manter acalma a concentraccedilatildeo e o foco O Spire diz exa-tamente quando fazer isso Com a ajuda de um

dispositivo que se prende ao corpo do usuaacuteriopor um grampo o aplicativo monitora zonas detensatildeo e avisa os momentos em que a melhorestrateacutegia eacute parar e respirar profundamente

para retomar o estado de relaxamento e con-trole A conexatildeo entre o dispositivo e o iPhoneeacute feita por Bluetooth O dispositivo custa US$14995 Veja o viacutedeo em bitly1TmpaHn

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Em busca da Amazocircnia 20Como a floresta pode se tornar um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildeestecnoloacutegicas relevantes e de baixo custoPOR SEacuteRGIO ADEODATO

Quem se depara pela primeira vez coma realidade do isolamento da FlorestaAmazocircnica se surpreende com a feli-cidade da vida ribeirinha O povo adora

uma celebraccedilatildeo as festas varam a noite ateacute o ra iardo dia no embalo de muita muacutesica comida e bebi-da Ao final a montanha de resiacuteduos gerados pelafarra chama atenccedilatildeo Em qualquer outro lugar do

Paiacutes a primeira providecircncia seria varrer o lixo oupelo menos escondecirc-lo Mas ali eacute diferente coposlatas plaacutesticos garrafas e demais objetos descar-taacuteveis tecircm valor para a autoestima De certa manei-ra simbolizam status riqueza e poder situaccedilatildeo per-feitamente compreensiacutevel para quem natildeo faz muitotempo dependia de produtos in natura conquistouacesso ao consumo e mudou de haacutebito

A ascensatildeo econocircmica e social eacute mais do quejusta Mas a enxurrada de produtos industrializadose suas embalagens acendeu o sinal de alerta na flo-resta E passou a exigir ideias inovadoras para queas mercadorias que entramna rotina diaacuteria natildeo prejudi-quem a qualidade de vida

A soluccedilatildeo surgiu nacomunidade Trecircs Unidoshabitada por iacutendios da et-nia Kambeba na Aacuterea deProteccedilatildeo Ambiental do RioNegro nos arredores deManaus (AM) No local foiinstalado um inusitado galpatildeo de triagem adaptadoagraves condiccedilotildees do lugar para recebimento do lixo re-ciclaacutevel recolhido pelos moradores em 16 povoadosribeirinhos A principal novidade estaacute na logiacutesticaque exigiu o projeto de recipientes customizadospara embarque nas lanchas do transporte escolarresponsaacuteveis por levar os materiais ateacute uma coope-rativa de catadores da capital amazonense De laacuteo papel por exemplo eacute vendido a um depoacutesito ata-cadista que junta maior quantidade para abasteceruma faacutebrica de papelatildeo em Pernambuco

Pela primeira vez a reciclagem chega a uma aacutereaprotegida como reserva ambiental ldquoNatildeo foi faacutecilconscientizar as famiacutelias e agora jaacute notamos que o

nuacutemero de casos de diarreia diminuiurdquo conta o pajeacuteValdemir Triukuxuri O haacutebito era queimar o lixo oujogaacute-lo no rio como al go que a natureza se encarre-garia de eliminar assim como faziam pais e avoacutes comas sobras de frutos peixes e outros itens orgacircnicosmais tradicionais do consumo na floresta

A rotina comeccedilou a mudar com a central de re-siacuteduos construiacuteda em lugar no bre da comunidade agrave

vista de todos ldquoA ideia neste momento natildeo eacute gerarescala mas sensibilizar os ribeirinhos para a ques-tatildeordquo explica Fernando von Zuben diretor de meioambiente da Tetra Pak fabricante de embalagenslonga vida que apoia o projeto em parceria com aFundaccedilatildeo Amazonas Sustentaacutevel (FAS)

A iniciativa ilustra o desafio da inovaccedilatildeo na Ama-zocircnia centro das atenccedilotildees globais devido agrave impor-tacircncia para o equiliacutebrio climaacutetico ldquoO esforccedilo natildeodeve estar na sofisticaccedilatildeo mas na relevacircncia dassoluccedilotildees muitas vezes simples e de baixo custocapazes de resolver entraves do desenvolvimento

sustentaacutevelrdquo diz Virgiacutelio Vianasuperintendente geral da FAS

Os avanccedilos vatildeo desde umtrepador mecacircnico para subirmais faacutecil e raacutepido na palmei-ra de accedilaiacute e coletar o fruto ateacuteum modelo inovador de sauacutedepuacuteblica com roteiro de visitasdomiciliares a matildees e crianccedilaspor entre rios e igarapeacutes

ldquoEm vaacuterios casos o pulo do gato estaacute em ven-cer o isolamentordquo ressalta Viana ao informar que odesafio inspirou a criaccedilatildeo da Rede de Soluccedilotildees parao Desenvolvimento Sustentaacutevel da Amazocircnia demodo que boas ideias sejam compartilhadas entreos sete paiacuteses do bioma A iniciativa integrante deum projeto global das Naccedilotildees Unidas lanccedilou nesteano um precircmio para reconhecer e replicar as me-lhores soluccedilotildees

ldquoTemos como negoacutecio o conviacutevio com o ladohumano da floresta onde haacute culturas tradicionaise modos peculiares de produccedilatildeo que precisam servalorizados para aleacutem das cobras e jacareacutes normal-mente mostrados aos visitantesrdquo diz Alexander Gui-

Empreendedorismocaboclo valorizao lado humano

do bioma

ECONOMIA VERDE

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A iniciativaselecionou 35empreendedoresociais quereceberatildeoinvestimento paa transformaccedilatildede seus projetoem negoacutecios cideles incubadossede da FAS

maratildees agrave frente da start-up Amazon Share voltadapara o turismo comunitaacuterio O projeto se destacouno desafio de inovaccedilatildeo ldquoThe Boat Challengerdquo pro-movido pela Coca-Cola para identificar ideias praacuteti-cas capazes de mudar a realidade socioambiental deManaus Nas vilas jovens nativos aprendem conta-bilidade e satildeo mobilizados a montar negoacutecios comomercearias e confecccedilatildeo de camisetas e artesanatono conceito de ldquoempreendedorismo cabocl ordquo

ENERGIA SOLAR PORTAacuteTIL O Rio Negro no Amazonas eacute rota de experi-

mentos com potencial de beneficiar toda a regiatildeocaso sejam i ntegrados a poliacuteticas puacuteblicas Longe

da rede eleacutetrica a comuni dade Tumbira onde haacute umnuacutecleo de educaccedilatildeo para o uso sustentaacutevel da flo-resta eacute abastecida por um sistema hiacutebrido partepaineacuteis solares e parte oacuteleo diesel em fase piloto detestes mediante parceria com a Schneider Electric

A inovaccedilatildeo garante o funcioname nto de uma mi-croagecircncia bancaacuteria do Bradesco que permite sa-ques depoacutesitos e transferecircncias Em vez de pagarcaro pelo transporte fluvial para receber salaacuteriosbenefiacutecios ou aposentadorias na capital os ribeiri-nhos tecircm acesso ao dinheiro na proacutepria comunida-de com o uso de cartatildeo magneacutetico e com ele mo-vimentam a economia local O ldquobancordquo eacute operadopor um ex-madeireiro ilegal Roberto Brito hoje

Saiacuteda estaacute em arranjos colaborativos unindo comunidades empresas e universidades

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D I V U L G A Ccedil Atilde O

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dedicado a mostrar para visitantes a floresta bemconservada e as novidades que chegam por laacute ndash in-clusive a internet

A questatildeo da energia eacute obstaacuteculo em grandeparte da Amazocircnia onde a mesma florest a que cap-tura e estoca carbono da atmosfera eacute dona de uma

matriz energeacutetica suja que emite gases de efeitoestufa agrave base de usinas termeleacutetricas e pequenosgeradores a oacuteleo diesel caros para os padrotildees daregiatildeo Para viabilizar a purificaccedilatildeo da aacutegua servida

aos iacutendios das etnias Deni e Kanamari no Rio Xeruatildeo pesquisador Roland Vetter do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazocircnia (Inpa) desenvolveu umequipamento solar portaacutetil que reduziu em 80 asdoenccedilas associadas agrave contaminaccedilatildeo hiacutedrica por es-goto ldquoA poluiccedilatildeo passa a ser um problema quandoas populaccedilotildees indiacutegenasdeixam de ser nocircmades e seconcentram em um uacutenicolocalrdquo explica o cientista

O meacutetodo trata a aacuteguamediante a incidecircncia deluz ultravioleta com bate-ria que garante o funciona-mento por cinco dias semsol Depois de patenteadaa tecnologia foi transferida para uma empresa doAmazonas que disseminaraacute os equipamentos nomercado com pagamento de royalties ao Inpa e aosinventores Pela primeira vez em sua histoacuteria a insti-tuiccedilatildeo criada haacute 62 anos como resposta agraves ameaccedilasde internacionalizaccedilatildeo da Floresta Amazocircnica seraacuteremunerada por uma inovaccedilatildeo Haacute outras 71 em car-teira jaacute com depoacutesito de patente agrave espera de inte-ressados A proacutexima novidade a chegar ao mercadodeveraacute ser a sopa de piranha desidratada de efeitoafrodisiacuteaco Aleacutem dela estatildeo em teste novos cos-meacuteticos e remeacutedios obtidos do gengibre amargo

Eacute chave saber quais espeacutecies vegetais existemna Amazocircnia onde estatildeo e qual a chance de seremcomercialmente aproveitadas Em Beleacutem o MuseuEmiacutelio Goeldi guarda coleccedilotildees cientiacuteficas centenaacute-rias fieacuteis depositaacuterias da flora e fauna Com 209 milamostras de plantas o acervo eacute estrateacutegico na defe-sa contra a biopirataria Mas metade dos pesquisado-res da instituiccedilatildeo estaacute apta a s e aposentar colocando

em risco a continuidade de trabalhos como os estu-dos com a ldquoterra pretardquo ndash tipo de solo milenar rico emmateacuteria-orgacircnica proveniente do lixo de populaccedilotildeesancestrais cobrindo 18 mil quilocircmetros quadradosda floresta Pesquisadores reproduziram o materialno laboratoacuterio imitando a natureza e patentearamo processo para aplicaacute-lo na produccedilatildeo agriacutecola ldquoN atildeoeacute por falta de pesquisa que haacute deficiecircncia de poliacuteticaspara o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo avalia IlmaVieira coordenadora de biodiversidade do Museu

fundado em 1866 por intelectuais que pretendiamdar ldquoaparato civilizatoacuteriordquo agrave capital paraense

ldquoApostamos no diferencial da regiatildeo para aces-so a novos suprimentos mas o desafio eacute tatildeo grandequanto o potencialrdquo avalia Iguatemi Costa gerentedo Nuacutecleo de Inovaccedilatildeo Amazocircnia (Nina) da Natura

em Manaus Desenvolvimen-to territorial e empreendedo-rismo satildeo panos de fundo nabusca por formas alternativasde capturar valor na sociobio-diversidade ldquoExiste massacriacutetica mas satildeo necessaacuteriaspoliacuteticas puacuteblicas para que hajaum ambiente favoraacutevel a maisiniciativas e investimentos de

longo prazo com desdobramento na economiaflorestalrdquo completa Costa

A estrateacutegia da empresa na regiatildeo eacute trabalharem rede mapeando competecircncias em frentes comoa formaccedilatildeo de lideranccedilas e a interface entre flore s-ta e agricultura para dar escala a ingredientesda biodiversidade O olhar nas cadeias produtivasprocura incluir tecnologias que as tornem mais efi-cientes com garantia de qualidade do insumo antesda chegada agraves faacutebricas Para Cost a a reforma da leibrasileira de acesso ao patrimocircnio geneacutetico tende aimpulsionar inciativas de bioprospecccedilatildeo apesar dea logiacutestica amazocircnica de pesquisa ser cara

Arranjos colaborativos satildeo a saiacuteda ldquoBuscamosagora novas essecircncias para perfumaria em coope-raccedilatildeo com universidades e comeccedilamos a prepararo campo para trabalhar pela primeira vez com co-munidade indiacutegenardquo Entender o conhecimento tra-dicional e a visatildeo de mundo ribeirinha eacute o primeiropasso para valorizaacute-lo

De todos osumos da

odiversidadensumidos pelatura 13 provecircmAmazocircnia A meta

aumentar para ateacute 2020

O extrato derumbona obtidoespeacutecie Zingiberrumbet compotildee

m gel utilizado comns resultados paratar ferimentos em

abeacuteticos

A produccedilatildeo daresta nativa na

mazocircnia gira emrno de R$ 9 bilhotildeesano segundo o

GE Os destaqueso madeira tropicalrrada e maiscentemente o accedilaiacute

Reforma de lei de acesso ao patrimocircnio geneacuteticotende a estimular iniciativas de bioprospecccedilatildeo

No Amazonas da energiaoveacutem dermeleacutetricas e 18

hidreleacutetricasase metade daergia distribuiacutedaurtada gerandorda de R$ 13hatildeo por ano agravempanhia eleacutetrica

Pela primeiravez o Inpa seraacute

remunerado poruma inovaccedilatildeo

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA farol

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

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PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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ENERGIA

Mapa do sol

Com a energia solar ficando mais aces-siacutevel um grande nuacutemero de pessoas

estaacute tendo de se virar para descobrirse e quanto vale investir num sistema do-miciliar de paineacuteis solares E naturalmenteessa gente toda recorre ao Google Para

atender esse puacuteblico um grupo de enge-nheiros da empresa lanccedilou o Project Sun-roof (algo como Projeto Teto Solar)

O projeto aproveita dados que o Google

aacute coletava ndash como endereccedilos georreferen-ciados modelamento 3D e imagens de sa-teacutelites ndash para construir um mapa detalhado

sobre quanta luz solar cada telhado recebeO sistema olha inclusive para o histoacuterico cli-maacutetico da regiatildeo e o entorno de cada casaDessa forma identifica o nuacutemero de dias detempo ruim ou sombras de construccedilotilde es e

aacutervores vizinhas Com base nisso orientaquanta energia limpa eacute possiacutevel gerar a par-tir da energia solar e o quanto isso compen-

sa do ponto de vista financeiro comparandoos preccedilos dos equipamen tos e seu custo denstalaccedilatildeo na regiatildeo de cada usuaacuterio E ateacutemesmo qual a opccedilatildeo mais barata

O serviccedilo estaacute disponiacutevel apenas nascidades de Boston Fresno e da regiatildeo me-tropolitana de San Francisco Mas o viacutedeode lanccedilamento do projeto (googlpMrBlW)

fala que ldquoem breverdquo o mapeamento inclui-raacute todo o territoacuterio americano e possivel-mente o mundo ndash Faacutebio Rodrigues

CAPTACcedilAtildeO DE RECURSOS

Turismo

em RPPNsComeccedilaram a ser buscados no Brasil eno exterior os recursos para a primei-ra etapa do Programa de Desenvolvi-

mento de Turismo Sustentaacutevel em RPPNs Afase de Sensibilizaccedilatildeo teraacute duraccedilatildeo de 12 a18 meses e custo estimado em R$ 11 milhatildeoO programa tem como objetivo promover

atividades de turismo sustentaacutevel nas 1351RPPNs do Brasil Acesse a proposta em por-tuguecircs (migremer9Fk0) inglecircs (migremer9Fn2 ) ou espanhol (migremer9FlF)

F A B I O F S T O R I N ODoutor em Administraccedilatildeo

Puacuteblica e Governo

Em um saacutebado agrave noite haacute poucomais de dois seacuteculos trabalha-dores do setor tecircxtil reuniam-se

num pub na cidade inglesa de High-town Natildeo estavam celebrando o cli-ma econocircmico era sombrioe as condiccedilotildees naquela in-

duacutestria muito duras Quan-do chegou a hora largaramseus copos de cerveja e

pegaram nas armas mdash pi-caretas marretas riflesmdash e rumaram ateacute a plantade uma faacutebrica O alvo Asmaacutequinas introduzidas pela

Revoluccedilatildeo Industrial queameaccedilavam seus empre-gos Por dois anos os lud-

ditas repetiriam os ataques em vaacuteriasoutras cidades ateacute serem contidospelo Exeacutercito Britacircnico e pelo Parla-mento que tornou crime a quebra de

maacutequinas e permitiu que os responsaacute-veis fossem levados a julgamento

A tensatildeo entre os humanos e asmaacutequinas permaneceu a cada novo

avanccedilo tecnoloacutegico Mas se empregoseram destruiacutedos outros tantos eramcriados as maacutequinas liberavam as pes-soas dos trabalhos duros e repetitivos

da agricultura e da induacutestria e com oaumento da renda proporcionado porganhos de produtividade novas de-mandas eram geradas especialmente

no setor de serviccedilos por muito tempoum refuacutegio contra a ameaccedila roboacutetica

Mas isso estaacute mudando com oavanccedilo da inteligecircncia artificial robocircs

estatildeo aprendendo a desempenhar ta-refas que exigem muito mais neurocirc-nios que muacutesculos como mostra o oacuteti-mo Humans Need Not Apply [Humanos

natildeo precisam se candidatar] (youtube7Pq-S557XQU com legendas emportuguecircs disponiacuteveis) Robocircs que co-

zinham escrevem notiacutecias e dirigem jaacutesatildeo realidade E a progressatildeo tende aser geomeacutetrica Se taxistas do Brasil e

do mundo atacam motoristas e veiacutecu-los do Uber o que faratildeo quando dirigir

se tornar obsoletoNo Centro de Estudos

do Risco Existencial da Uni-versidade de Cambridge ainteligecircncia artificial eacute vista

com um dos riscos (googlfcZrwj) algoritmos capa-zes de aprender continua-mente e se adaptar de ma-neira autocircnoma precisam

de salvaguardas que os im-peccedilam de se voltar contraos humanos Carta aberta

assinada por grandes nomes da ciecircn-cia e tecnologia (googlEnc1Gc) comoStephen Hawking e Elon Musk alertacontra os riscos das armas autocircnomas

mdash falo sobre isso em ldquoO robocirc que natildeome amavardquo (ed 80 googl65eZaX)

Essas maacutequinas tampouco estatildeoa salvo da ameaccedila humana recente-

mente HitchBOT robocirc que cruzou oCanadaacute e Europa pegando carona foicompletamente destruiacutedo nos EUANo Japatildeo pesquisadores programam

robocircs para tentar evitar bullying h u-mano (conclusatildeo do algoritmo fuja decrianccedilas em grupo) Laacute eles tambeacutemoferecem companhia aos humanos

em especial aos idosos Filmes recen-tes como Ela e Ex-Machina apontampara um futuro no qual robocircs tambeacutemse tornaratildeo parceiros amorosos

Estamos introduzindo um novoator nas relaccedilotildees sociais sem termosresolvido a contento a maneira comotratamos nossos semelhantes de car-

ne e osso Seraacute que com o algoritmocerto isso eacute algo que os robocircs pode-ratildeo nos ensinar

Olha issoHumanos versus robocircs

O B R A J O S Eacute D A M A S C E N O F O T O B R U N O B E R N A R D I

NOTAS

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

por Elaine Carvalho WEB

P AacuteG I NA22 SE TOUT 20

No mundo inteiro as oficinas de engenho-

cas crescem em quantidade e puacuteblicoO aprender fazendo possibilita desen-

volver nas crianccedilas habilidades valorizadas noseacuteculo XXI capacidade de criar de ser propo-sitivo e de desenvolver soluccedilotildees compartilha-das usando a tecnologia

Por isso os Estados Unidos transforma-ram algumas de suas bibliotecas em maker-

spaces ndash espaccedilos para pocircr a matildeo na massa efazer experimentaccedilotildees transdisciplinares NoBrasil os 69 centros binacionais (institutosculturais de ensino do inglecircs e da cultura ame -ricana) estatildeo fazendo o mesmo

ldquoUma bancada no canto de uma escola oubiblioteca pode ser considerada um maker-

space se tiver ferramentas simples de cria-ccedilatildeordquo explica a especialista em tecnologiaeducacional Daniela Lyra da Casa Thomas

Cidadatildeos do seacuteculo XXIPRATA DA CASA

MUNDO AFORA

Madeira em 3DPesquisadores da Universidade de Tecnolo-

gia Chalmers na Sueacutecia encontraram uma ma-neira de usar madeira como mateacuteria-prima na

impressatildeo 3D originando produtos biodegradaacute-veis Para isso eles tiveram de mudar a consis-tecircncia da fibra de celulose tornando-a um liacutequi-do injetaacutevel A descoberta mostra que o futuro

dessa tecnologia pode ser mais amigaacutevel para omeio ambiente pois proporciona certa liberta-ccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave dependecircncia do plaacutestico e dometal no processo Leia mais em bitly1Lzs45w

VALE O CLICK

D I V U L G A Ccedil Atilde O

L I A M A R A M I L A N E L L I

Jefferson centro binacional de Brasiacutelia que

oferece atividades desse tipo Nas oficinasdadas pelo artista e professor Glauco Paivana rede Sesc ele fornece brinquedos velhossucatas e quinquilharias de R$ 199 para sere mdesmontadas e recriadas ldquoO efeito eacute viral Ameninada leva a referecircncia para casa e laacute con-tinua criando e ensina os amigos Tudo o queeles precisam eacute de um adulto que abra caminhopara esse autodidatismordquo diz ele

No computador esse empoderamento sedaacute quando se sabe programar um modo decriar ldquofluecircnciardquo nesta linguagem que estima--se seraacute universal em ateacute 50 anos Cinco milalunos de escolas puacuteblicas de cidades paulis-tas estatildeo aprendendo a criar os proacuteprios ga-mes por meio do didaacutetico Programaecirc da Fun-daccedilatildeo Lemann que reuacutene os melhores sitesautoexplicativos de programaccedilatildeo da internet

Leia a iacutentegra da reportagem no blog da revista em fgvbrcespagina22

ECODRONESO Projeto Ecodrones Brasil d

WWF-Brasil pretende viabi

o uso de drones no Brasil

para monitorar e proteger os

recursos naturais Um viacutedeo

2 minutos explica como essa

tecnologia beneficiou a Aacutefric

do Sul e como pode ajudar as

nossas florestas Veja em

bitly1htZJ5r

MAIS APPS MAIS AacuteGUACom o Level Up+ cidadatildeos

podem registrar vazamento

e desperdiacutecios de aacutegua que

encontram nas ruas O aplica

foi o vencedor do Hackathon

Mais Sustentabilidade que

premiou projetos criados po

jovens para amenizar a crise

hiacutedrica Da iniciativa tambeacutem

surgiram os apps Mizu jogo

eletrocircnico para crianccedilas e

Irriga-Accedilatildeo que calcula a

aacutegua necessaacuteria para irrigar

plantaccedilotildees

CIDADE TAGUEADAO site Viuclub eacute um mapa

colaborativo onde os usuaacuterio

compartilham fotos e

impressotildees sobre pontos

especiacuteficos das cidades Cria

por alunos da PUC Minas pro

a construccedilatildeo coletiva de um

banco de memoacuterias positiva

de denuacutencias

Tensatildeo monitoradaMuitos aplicativos informam os usuaacuterios so-

bre como respirar corretamente para manter acalma a concentraccedilatildeo e o foco O Spire diz exa-tamente quando fazer isso Com a ajuda de um

dispositivo que se prende ao corpo do usuaacuteriopor um grampo o aplicativo monitora zonas detensatildeo e avisa os momentos em que a melhorestrateacutegia eacute parar e respirar profundamente

para retomar o estado de relaxamento e con-trole A conexatildeo entre o dispositivo e o iPhoneeacute feita por Bluetooth O dispositivo custa US$14995 Veja o viacutedeo em bitly1TmpaHn

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Em busca da Amazocircnia 20Como a floresta pode se tornar um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildeestecnoloacutegicas relevantes e de baixo custoPOR SEacuteRGIO ADEODATO

Quem se depara pela primeira vez coma realidade do isolamento da FlorestaAmazocircnica se surpreende com a feli-cidade da vida ribeirinha O povo adora

uma celebraccedilatildeo as festas varam a noite ateacute o ra iardo dia no embalo de muita muacutesica comida e bebi-da Ao final a montanha de resiacuteduos gerados pelafarra chama atenccedilatildeo Em qualquer outro lugar do

Paiacutes a primeira providecircncia seria varrer o lixo oupelo menos escondecirc-lo Mas ali eacute diferente coposlatas plaacutesticos garrafas e demais objetos descar-taacuteveis tecircm valor para a autoestima De certa manei-ra simbolizam status riqueza e poder situaccedilatildeo per-feitamente compreensiacutevel para quem natildeo faz muitotempo dependia de produtos in natura conquistouacesso ao consumo e mudou de haacutebito

A ascensatildeo econocircmica e social eacute mais do quejusta Mas a enxurrada de produtos industrializadose suas embalagens acendeu o sinal de alerta na flo-resta E passou a exigir ideias inovadoras para queas mercadorias que entramna rotina diaacuteria natildeo prejudi-quem a qualidade de vida

A soluccedilatildeo surgiu nacomunidade Trecircs Unidoshabitada por iacutendios da et-nia Kambeba na Aacuterea deProteccedilatildeo Ambiental do RioNegro nos arredores deManaus (AM) No local foiinstalado um inusitado galpatildeo de triagem adaptadoagraves condiccedilotildees do lugar para recebimento do lixo re-ciclaacutevel recolhido pelos moradores em 16 povoadosribeirinhos A principal novidade estaacute na logiacutesticaque exigiu o projeto de recipientes customizadospara embarque nas lanchas do transporte escolarresponsaacuteveis por levar os materiais ateacute uma coope-rativa de catadores da capital amazonense De laacuteo papel por exemplo eacute vendido a um depoacutesito ata-cadista que junta maior quantidade para abasteceruma faacutebrica de papelatildeo em Pernambuco

Pela primeira vez a reciclagem chega a uma aacutereaprotegida como reserva ambiental ldquoNatildeo foi faacutecilconscientizar as famiacutelias e agora jaacute notamos que o

nuacutemero de casos de diarreia diminuiurdquo conta o pajeacuteValdemir Triukuxuri O haacutebito era queimar o lixo oujogaacute-lo no rio como al go que a natureza se encarre-garia de eliminar assim como faziam pais e avoacutes comas sobras de frutos peixes e outros itens orgacircnicosmais tradicionais do consumo na floresta

A rotina comeccedilou a mudar com a central de re-siacuteduos construiacuteda em lugar no bre da comunidade agrave

vista de todos ldquoA ideia neste momento natildeo eacute gerarescala mas sensibilizar os ribeirinhos para a ques-tatildeordquo explica Fernando von Zuben diretor de meioambiente da Tetra Pak fabricante de embalagenslonga vida que apoia o projeto em parceria com aFundaccedilatildeo Amazonas Sustentaacutevel (FAS)

A iniciativa ilustra o desafio da inovaccedilatildeo na Ama-zocircnia centro das atenccedilotildees globais devido agrave impor-tacircncia para o equiliacutebrio climaacutetico ldquoO esforccedilo natildeodeve estar na sofisticaccedilatildeo mas na relevacircncia dassoluccedilotildees muitas vezes simples e de baixo custocapazes de resolver entraves do desenvolvimento

sustentaacutevelrdquo diz Virgiacutelio Vianasuperintendente geral da FAS

Os avanccedilos vatildeo desde umtrepador mecacircnico para subirmais faacutecil e raacutepido na palmei-ra de accedilaiacute e coletar o fruto ateacuteum modelo inovador de sauacutedepuacuteblica com roteiro de visitasdomiciliares a matildees e crianccedilaspor entre rios e igarapeacutes

ldquoEm vaacuterios casos o pulo do gato estaacute em ven-cer o isolamentordquo ressalta Viana ao informar que odesafio inspirou a criaccedilatildeo da Rede de Soluccedilotildees parao Desenvolvimento Sustentaacutevel da Amazocircnia demodo que boas ideias sejam compartilhadas entreos sete paiacuteses do bioma A iniciativa integrante deum projeto global das Naccedilotildees Unidas lanccedilou nesteano um precircmio para reconhecer e replicar as me-lhores soluccedilotildees

ldquoTemos como negoacutecio o conviacutevio com o ladohumano da floresta onde haacute culturas tradicionaise modos peculiares de produccedilatildeo que precisam servalorizados para aleacutem das cobras e jacareacutes normal-mente mostrados aos visitantesrdquo diz Alexander Gui-

Empreendedorismocaboclo valorizao lado humano

do bioma

ECONOMIA VERDE

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A iniciativaselecionou 35empreendedoresociais quereceberatildeoinvestimento paa transformaccedilatildede seus projetoem negoacutecios cideles incubadossede da FAS

maratildees agrave frente da start-up Amazon Share voltadapara o turismo comunitaacuterio O projeto se destacouno desafio de inovaccedilatildeo ldquoThe Boat Challengerdquo pro-movido pela Coca-Cola para identificar ideias praacuteti-cas capazes de mudar a realidade socioambiental deManaus Nas vilas jovens nativos aprendem conta-bilidade e satildeo mobilizados a montar negoacutecios comomercearias e confecccedilatildeo de camisetas e artesanatono conceito de ldquoempreendedorismo cabocl ordquo

ENERGIA SOLAR PORTAacuteTIL O Rio Negro no Amazonas eacute rota de experi-

mentos com potencial de beneficiar toda a regiatildeocaso sejam i ntegrados a poliacuteticas puacuteblicas Longe

da rede eleacutetrica a comuni dade Tumbira onde haacute umnuacutecleo de educaccedilatildeo para o uso sustentaacutevel da flo-resta eacute abastecida por um sistema hiacutebrido partepaineacuteis solares e parte oacuteleo diesel em fase piloto detestes mediante parceria com a Schneider Electric

A inovaccedilatildeo garante o funcioname nto de uma mi-croagecircncia bancaacuteria do Bradesco que permite sa-ques depoacutesitos e transferecircncias Em vez de pagarcaro pelo transporte fluvial para receber salaacuteriosbenefiacutecios ou aposentadorias na capital os ribeiri-nhos tecircm acesso ao dinheiro na proacutepria comunida-de com o uso de cartatildeo magneacutetico e com ele mo-vimentam a economia local O ldquobancordquo eacute operadopor um ex-madeireiro ilegal Roberto Brito hoje

Saiacuteda estaacute em arranjos colaborativos unindo comunidades empresas e universidades

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D I V U L G A Ccedil Atilde O

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dedicado a mostrar para visitantes a floresta bemconservada e as novidades que chegam por laacute ndash in-clusive a internet

A questatildeo da energia eacute obstaacuteculo em grandeparte da Amazocircnia onde a mesma florest a que cap-tura e estoca carbono da atmosfera eacute dona de uma

matriz energeacutetica suja que emite gases de efeitoestufa agrave base de usinas termeleacutetricas e pequenosgeradores a oacuteleo diesel caros para os padrotildees daregiatildeo Para viabilizar a purificaccedilatildeo da aacutegua servida

aos iacutendios das etnias Deni e Kanamari no Rio Xeruatildeo pesquisador Roland Vetter do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazocircnia (Inpa) desenvolveu umequipamento solar portaacutetil que reduziu em 80 asdoenccedilas associadas agrave contaminaccedilatildeo hiacutedrica por es-goto ldquoA poluiccedilatildeo passa a ser um problema quandoas populaccedilotildees indiacutegenasdeixam de ser nocircmades e seconcentram em um uacutenicolocalrdquo explica o cientista

O meacutetodo trata a aacuteguamediante a incidecircncia deluz ultravioleta com bate-ria que garante o funciona-mento por cinco dias semsol Depois de patenteadaa tecnologia foi transferida para uma empresa doAmazonas que disseminaraacute os equipamentos nomercado com pagamento de royalties ao Inpa e aosinventores Pela primeira vez em sua histoacuteria a insti-tuiccedilatildeo criada haacute 62 anos como resposta agraves ameaccedilasde internacionalizaccedilatildeo da Floresta Amazocircnica seraacuteremunerada por uma inovaccedilatildeo Haacute outras 71 em car-teira jaacute com depoacutesito de patente agrave espera de inte-ressados A proacutexima novidade a chegar ao mercadodeveraacute ser a sopa de piranha desidratada de efeitoafrodisiacuteaco Aleacutem dela estatildeo em teste novos cos-meacuteticos e remeacutedios obtidos do gengibre amargo

Eacute chave saber quais espeacutecies vegetais existemna Amazocircnia onde estatildeo e qual a chance de seremcomercialmente aproveitadas Em Beleacutem o MuseuEmiacutelio Goeldi guarda coleccedilotildees cientiacuteficas centenaacute-rias fieacuteis depositaacuterias da flora e fauna Com 209 milamostras de plantas o acervo eacute estrateacutegico na defe-sa contra a biopirataria Mas metade dos pesquisado-res da instituiccedilatildeo estaacute apta a s e aposentar colocando

em risco a continuidade de trabalhos como os estu-dos com a ldquoterra pretardquo ndash tipo de solo milenar rico emmateacuteria-orgacircnica proveniente do lixo de populaccedilotildeesancestrais cobrindo 18 mil quilocircmetros quadradosda floresta Pesquisadores reproduziram o materialno laboratoacuterio imitando a natureza e patentearamo processo para aplicaacute-lo na produccedilatildeo agriacutecola ldquoN atildeoeacute por falta de pesquisa que haacute deficiecircncia de poliacuteticaspara o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo avalia IlmaVieira coordenadora de biodiversidade do Museu

fundado em 1866 por intelectuais que pretendiamdar ldquoaparato civilizatoacuteriordquo agrave capital paraense

ldquoApostamos no diferencial da regiatildeo para aces-so a novos suprimentos mas o desafio eacute tatildeo grandequanto o potencialrdquo avalia Iguatemi Costa gerentedo Nuacutecleo de Inovaccedilatildeo Amazocircnia (Nina) da Natura

em Manaus Desenvolvimen-to territorial e empreendedo-rismo satildeo panos de fundo nabusca por formas alternativasde capturar valor na sociobio-diversidade ldquoExiste massacriacutetica mas satildeo necessaacuteriaspoliacuteticas puacuteblicas para que hajaum ambiente favoraacutevel a maisiniciativas e investimentos de

longo prazo com desdobramento na economiaflorestalrdquo completa Costa

A estrateacutegia da empresa na regiatildeo eacute trabalharem rede mapeando competecircncias em frentes comoa formaccedilatildeo de lideranccedilas e a interface entre flore s-ta e agricultura para dar escala a ingredientesda biodiversidade O olhar nas cadeias produtivasprocura incluir tecnologias que as tornem mais efi-cientes com garantia de qualidade do insumo antesda chegada agraves faacutebricas Para Cost a a reforma da leibrasileira de acesso ao patrimocircnio geneacutetico tende aimpulsionar inciativas de bioprospecccedilatildeo apesar dea logiacutestica amazocircnica de pesquisa ser cara

Arranjos colaborativos satildeo a saiacuteda ldquoBuscamosagora novas essecircncias para perfumaria em coope-raccedilatildeo com universidades e comeccedilamos a prepararo campo para trabalhar pela primeira vez com co-munidade indiacutegenardquo Entender o conhecimento tra-dicional e a visatildeo de mundo ribeirinha eacute o primeiropasso para valorizaacute-lo

De todos osumos da

odiversidadensumidos pelatura 13 provecircmAmazocircnia A meta

aumentar para ateacute 2020

O extrato derumbona obtidoespeacutecie Zingiberrumbet compotildee

m gel utilizado comns resultados paratar ferimentos em

abeacuteticos

A produccedilatildeo daresta nativa na

mazocircnia gira emrno de R$ 9 bilhotildeesano segundo o

GE Os destaqueso madeira tropicalrrada e maiscentemente o accedilaiacute

Reforma de lei de acesso ao patrimocircnio geneacuteticotende a estimular iniciativas de bioprospecccedilatildeo

No Amazonas da energiaoveacutem dermeleacutetricas e 18

hidreleacutetricasase metade daergia distribuiacutedaurtada gerandorda de R$ 13hatildeo por ano agravempanhia eleacutetrica

Pela primeiravez o Inpa seraacute

remunerado poruma inovaccedilatildeo

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

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TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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Em busca da Amazocircnia 20Como a floresta pode se tornar um laboratoacuterio vivo de inovaccedilotildeestecnoloacutegicas relevantes e de baixo custoPOR SEacuteRGIO ADEODATO

Quem se depara pela primeira vez coma realidade do isolamento da FlorestaAmazocircnica se surpreende com a feli-cidade da vida ribeirinha O povo adora

uma celebraccedilatildeo as festas varam a noite ateacute o ra iardo dia no embalo de muita muacutesica comida e bebi-da Ao final a montanha de resiacuteduos gerados pelafarra chama atenccedilatildeo Em qualquer outro lugar do

Paiacutes a primeira providecircncia seria varrer o lixo oupelo menos escondecirc-lo Mas ali eacute diferente coposlatas plaacutesticos garrafas e demais objetos descar-taacuteveis tecircm valor para a autoestima De certa manei-ra simbolizam status riqueza e poder situaccedilatildeo per-feitamente compreensiacutevel para quem natildeo faz muitotempo dependia de produtos in natura conquistouacesso ao consumo e mudou de haacutebito

A ascensatildeo econocircmica e social eacute mais do quejusta Mas a enxurrada de produtos industrializadose suas embalagens acendeu o sinal de alerta na flo-resta E passou a exigir ideias inovadoras para queas mercadorias que entramna rotina diaacuteria natildeo prejudi-quem a qualidade de vida

A soluccedilatildeo surgiu nacomunidade Trecircs Unidoshabitada por iacutendios da et-nia Kambeba na Aacuterea deProteccedilatildeo Ambiental do RioNegro nos arredores deManaus (AM) No local foiinstalado um inusitado galpatildeo de triagem adaptadoagraves condiccedilotildees do lugar para recebimento do lixo re-ciclaacutevel recolhido pelos moradores em 16 povoadosribeirinhos A principal novidade estaacute na logiacutesticaque exigiu o projeto de recipientes customizadospara embarque nas lanchas do transporte escolarresponsaacuteveis por levar os materiais ateacute uma coope-rativa de catadores da capital amazonense De laacuteo papel por exemplo eacute vendido a um depoacutesito ata-cadista que junta maior quantidade para abasteceruma faacutebrica de papelatildeo em Pernambuco

Pela primeira vez a reciclagem chega a uma aacutereaprotegida como reserva ambiental ldquoNatildeo foi faacutecilconscientizar as famiacutelias e agora jaacute notamos que o

nuacutemero de casos de diarreia diminuiurdquo conta o pajeacuteValdemir Triukuxuri O haacutebito era queimar o lixo oujogaacute-lo no rio como al go que a natureza se encarre-garia de eliminar assim como faziam pais e avoacutes comas sobras de frutos peixes e outros itens orgacircnicosmais tradicionais do consumo na floresta

A rotina comeccedilou a mudar com a central de re-siacuteduos construiacuteda em lugar no bre da comunidade agrave

vista de todos ldquoA ideia neste momento natildeo eacute gerarescala mas sensibilizar os ribeirinhos para a ques-tatildeordquo explica Fernando von Zuben diretor de meioambiente da Tetra Pak fabricante de embalagenslonga vida que apoia o projeto em parceria com aFundaccedilatildeo Amazonas Sustentaacutevel (FAS)

A iniciativa ilustra o desafio da inovaccedilatildeo na Ama-zocircnia centro das atenccedilotildees globais devido agrave impor-tacircncia para o equiliacutebrio climaacutetico ldquoO esforccedilo natildeodeve estar na sofisticaccedilatildeo mas na relevacircncia dassoluccedilotildees muitas vezes simples e de baixo custocapazes de resolver entraves do desenvolvimento

sustentaacutevelrdquo diz Virgiacutelio Vianasuperintendente geral da FAS

Os avanccedilos vatildeo desde umtrepador mecacircnico para subirmais faacutecil e raacutepido na palmei-ra de accedilaiacute e coletar o fruto ateacuteum modelo inovador de sauacutedepuacuteblica com roteiro de visitasdomiciliares a matildees e crianccedilaspor entre rios e igarapeacutes

ldquoEm vaacuterios casos o pulo do gato estaacute em ven-cer o isolamentordquo ressalta Viana ao informar que odesafio inspirou a criaccedilatildeo da Rede de Soluccedilotildees parao Desenvolvimento Sustentaacutevel da Amazocircnia demodo que boas ideias sejam compartilhadas entreos sete paiacuteses do bioma A iniciativa integrante deum projeto global das Naccedilotildees Unidas lanccedilou nesteano um precircmio para reconhecer e replicar as me-lhores soluccedilotildees

ldquoTemos como negoacutecio o conviacutevio com o ladohumano da floresta onde haacute culturas tradicionaise modos peculiares de produccedilatildeo que precisam servalorizados para aleacutem das cobras e jacareacutes normal-mente mostrados aos visitantesrdquo diz Alexander Gui-

Empreendedorismocaboclo valorizao lado humano

do bioma

ECONOMIA VERDE

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A iniciativaselecionou 35empreendedoresociais quereceberatildeoinvestimento paa transformaccedilatildede seus projetoem negoacutecios cideles incubadossede da FAS

maratildees agrave frente da start-up Amazon Share voltadapara o turismo comunitaacuterio O projeto se destacouno desafio de inovaccedilatildeo ldquoThe Boat Challengerdquo pro-movido pela Coca-Cola para identificar ideias praacuteti-cas capazes de mudar a realidade socioambiental deManaus Nas vilas jovens nativos aprendem conta-bilidade e satildeo mobilizados a montar negoacutecios comomercearias e confecccedilatildeo de camisetas e artesanatono conceito de ldquoempreendedorismo cabocl ordquo

ENERGIA SOLAR PORTAacuteTIL O Rio Negro no Amazonas eacute rota de experi-

mentos com potencial de beneficiar toda a regiatildeocaso sejam i ntegrados a poliacuteticas puacuteblicas Longe

da rede eleacutetrica a comuni dade Tumbira onde haacute umnuacutecleo de educaccedilatildeo para o uso sustentaacutevel da flo-resta eacute abastecida por um sistema hiacutebrido partepaineacuteis solares e parte oacuteleo diesel em fase piloto detestes mediante parceria com a Schneider Electric

A inovaccedilatildeo garante o funcioname nto de uma mi-croagecircncia bancaacuteria do Bradesco que permite sa-ques depoacutesitos e transferecircncias Em vez de pagarcaro pelo transporte fluvial para receber salaacuteriosbenefiacutecios ou aposentadorias na capital os ribeiri-nhos tecircm acesso ao dinheiro na proacutepria comunida-de com o uso de cartatildeo magneacutetico e com ele mo-vimentam a economia local O ldquobancordquo eacute operadopor um ex-madeireiro ilegal Roberto Brito hoje

Saiacuteda estaacute em arranjos colaborativos unindo comunidades empresas e universidades

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D I V U L G A Ccedil Atilde O

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dedicado a mostrar para visitantes a floresta bemconservada e as novidades que chegam por laacute ndash in-clusive a internet

A questatildeo da energia eacute obstaacuteculo em grandeparte da Amazocircnia onde a mesma florest a que cap-tura e estoca carbono da atmosfera eacute dona de uma

matriz energeacutetica suja que emite gases de efeitoestufa agrave base de usinas termeleacutetricas e pequenosgeradores a oacuteleo diesel caros para os padrotildees daregiatildeo Para viabilizar a purificaccedilatildeo da aacutegua servida

aos iacutendios das etnias Deni e Kanamari no Rio Xeruatildeo pesquisador Roland Vetter do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazocircnia (Inpa) desenvolveu umequipamento solar portaacutetil que reduziu em 80 asdoenccedilas associadas agrave contaminaccedilatildeo hiacutedrica por es-goto ldquoA poluiccedilatildeo passa a ser um problema quandoas populaccedilotildees indiacutegenasdeixam de ser nocircmades e seconcentram em um uacutenicolocalrdquo explica o cientista

O meacutetodo trata a aacuteguamediante a incidecircncia deluz ultravioleta com bate-ria que garante o funciona-mento por cinco dias semsol Depois de patenteadaa tecnologia foi transferida para uma empresa doAmazonas que disseminaraacute os equipamentos nomercado com pagamento de royalties ao Inpa e aosinventores Pela primeira vez em sua histoacuteria a insti-tuiccedilatildeo criada haacute 62 anos como resposta agraves ameaccedilasde internacionalizaccedilatildeo da Floresta Amazocircnica seraacuteremunerada por uma inovaccedilatildeo Haacute outras 71 em car-teira jaacute com depoacutesito de patente agrave espera de inte-ressados A proacutexima novidade a chegar ao mercadodeveraacute ser a sopa de piranha desidratada de efeitoafrodisiacuteaco Aleacutem dela estatildeo em teste novos cos-meacuteticos e remeacutedios obtidos do gengibre amargo

Eacute chave saber quais espeacutecies vegetais existemna Amazocircnia onde estatildeo e qual a chance de seremcomercialmente aproveitadas Em Beleacutem o MuseuEmiacutelio Goeldi guarda coleccedilotildees cientiacuteficas centenaacute-rias fieacuteis depositaacuterias da flora e fauna Com 209 milamostras de plantas o acervo eacute estrateacutegico na defe-sa contra a biopirataria Mas metade dos pesquisado-res da instituiccedilatildeo estaacute apta a s e aposentar colocando

em risco a continuidade de trabalhos como os estu-dos com a ldquoterra pretardquo ndash tipo de solo milenar rico emmateacuteria-orgacircnica proveniente do lixo de populaccedilotildeesancestrais cobrindo 18 mil quilocircmetros quadradosda floresta Pesquisadores reproduziram o materialno laboratoacuterio imitando a natureza e patentearamo processo para aplicaacute-lo na produccedilatildeo agriacutecola ldquoN atildeoeacute por falta de pesquisa que haacute deficiecircncia de poliacuteticaspara o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo avalia IlmaVieira coordenadora de biodiversidade do Museu

fundado em 1866 por intelectuais que pretendiamdar ldquoaparato civilizatoacuteriordquo agrave capital paraense

ldquoApostamos no diferencial da regiatildeo para aces-so a novos suprimentos mas o desafio eacute tatildeo grandequanto o potencialrdquo avalia Iguatemi Costa gerentedo Nuacutecleo de Inovaccedilatildeo Amazocircnia (Nina) da Natura

em Manaus Desenvolvimen-to territorial e empreendedo-rismo satildeo panos de fundo nabusca por formas alternativasde capturar valor na sociobio-diversidade ldquoExiste massacriacutetica mas satildeo necessaacuteriaspoliacuteticas puacuteblicas para que hajaum ambiente favoraacutevel a maisiniciativas e investimentos de

longo prazo com desdobramento na economiaflorestalrdquo completa Costa

A estrateacutegia da empresa na regiatildeo eacute trabalharem rede mapeando competecircncias em frentes comoa formaccedilatildeo de lideranccedilas e a interface entre flore s-ta e agricultura para dar escala a ingredientesda biodiversidade O olhar nas cadeias produtivasprocura incluir tecnologias que as tornem mais efi-cientes com garantia de qualidade do insumo antesda chegada agraves faacutebricas Para Cost a a reforma da leibrasileira de acesso ao patrimocircnio geneacutetico tende aimpulsionar inciativas de bioprospecccedilatildeo apesar dea logiacutestica amazocircnica de pesquisa ser cara

Arranjos colaborativos satildeo a saiacuteda ldquoBuscamosagora novas essecircncias para perfumaria em coope-raccedilatildeo com universidades e comeccedilamos a prepararo campo para trabalhar pela primeira vez com co-munidade indiacutegenardquo Entender o conhecimento tra-dicional e a visatildeo de mundo ribeirinha eacute o primeiropasso para valorizaacute-lo

De todos osumos da

odiversidadensumidos pelatura 13 provecircmAmazocircnia A meta

aumentar para ateacute 2020

O extrato derumbona obtidoespeacutecie Zingiberrumbet compotildee

m gel utilizado comns resultados paratar ferimentos em

abeacuteticos

A produccedilatildeo daresta nativa na

mazocircnia gira emrno de R$ 9 bilhotildeesano segundo o

GE Os destaqueso madeira tropicalrrada e maiscentemente o accedilaiacute

Reforma de lei de acesso ao patrimocircnio geneacuteticotende a estimular iniciativas de bioprospecccedilatildeo

No Amazonas da energiaoveacutem dermeleacutetricas e 18

hidreleacutetricasase metade daergia distribuiacutedaurtada gerandorda de R$ 13hatildeo por ano agravempanhia eleacutetrica

Pela primeiravez o Inpa seraacute

remunerado poruma inovaccedilatildeo

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

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TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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dedicado a mostrar para visitantes a floresta bemconservada e as novidades que chegam por laacute ndash in-clusive a internet

A questatildeo da energia eacute obstaacuteculo em grandeparte da Amazocircnia onde a mesma florest a que cap-tura e estoca carbono da atmosfera eacute dona de uma

matriz energeacutetica suja que emite gases de efeitoestufa agrave base de usinas termeleacutetricas e pequenosgeradores a oacuteleo diesel caros para os padrotildees daregiatildeo Para viabilizar a purificaccedilatildeo da aacutegua servida

aos iacutendios das etnias Deni e Kanamari no Rio Xeruatildeo pesquisador Roland Vetter do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazocircnia (Inpa) desenvolveu umequipamento solar portaacutetil que reduziu em 80 asdoenccedilas associadas agrave contaminaccedilatildeo hiacutedrica por es-goto ldquoA poluiccedilatildeo passa a ser um problema quandoas populaccedilotildees indiacutegenasdeixam de ser nocircmades e seconcentram em um uacutenicolocalrdquo explica o cientista

O meacutetodo trata a aacuteguamediante a incidecircncia deluz ultravioleta com bate-ria que garante o funciona-mento por cinco dias semsol Depois de patenteadaa tecnologia foi transferida para uma empresa doAmazonas que disseminaraacute os equipamentos nomercado com pagamento de royalties ao Inpa e aosinventores Pela primeira vez em sua histoacuteria a insti-tuiccedilatildeo criada haacute 62 anos como resposta agraves ameaccedilasde internacionalizaccedilatildeo da Floresta Amazocircnica seraacuteremunerada por uma inovaccedilatildeo Haacute outras 71 em car-teira jaacute com depoacutesito de patente agrave espera de inte-ressados A proacutexima novidade a chegar ao mercadodeveraacute ser a sopa de piranha desidratada de efeitoafrodisiacuteaco Aleacutem dela estatildeo em teste novos cos-meacuteticos e remeacutedios obtidos do gengibre amargo

Eacute chave saber quais espeacutecies vegetais existemna Amazocircnia onde estatildeo e qual a chance de seremcomercialmente aproveitadas Em Beleacutem o MuseuEmiacutelio Goeldi guarda coleccedilotildees cientiacuteficas centenaacute-rias fieacuteis depositaacuterias da flora e fauna Com 209 milamostras de plantas o acervo eacute estrateacutegico na defe-sa contra a biopirataria Mas metade dos pesquisado-res da instituiccedilatildeo estaacute apta a s e aposentar colocando

em risco a continuidade de trabalhos como os estu-dos com a ldquoterra pretardquo ndash tipo de solo milenar rico emmateacuteria-orgacircnica proveniente do lixo de populaccedilotildeesancestrais cobrindo 18 mil quilocircmetros quadradosda floresta Pesquisadores reproduziram o materialno laboratoacuterio imitando a natureza e patentearamo processo para aplicaacute-lo na produccedilatildeo agriacutecola ldquoN atildeoeacute por falta de pesquisa que haacute deficiecircncia de poliacuteticaspara o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo avalia IlmaVieira coordenadora de biodiversidade do Museu

fundado em 1866 por intelectuais que pretendiamdar ldquoaparato civilizatoacuteriordquo agrave capital paraense

ldquoApostamos no diferencial da regiatildeo para aces-so a novos suprimentos mas o desafio eacute tatildeo grandequanto o potencialrdquo avalia Iguatemi Costa gerentedo Nuacutecleo de Inovaccedilatildeo Amazocircnia (Nina) da Natura

em Manaus Desenvolvimen-to territorial e empreendedo-rismo satildeo panos de fundo nabusca por formas alternativasde capturar valor na sociobio-diversidade ldquoExiste massacriacutetica mas satildeo necessaacuteriaspoliacuteticas puacuteblicas para que hajaum ambiente favoraacutevel a maisiniciativas e investimentos de

longo prazo com desdobramento na economiaflorestalrdquo completa Costa

A estrateacutegia da empresa na regiatildeo eacute trabalharem rede mapeando competecircncias em frentes comoa formaccedilatildeo de lideranccedilas e a interface entre flore s-ta e agricultura para dar escala a ingredientesda biodiversidade O olhar nas cadeias produtivasprocura incluir tecnologias que as tornem mais efi-cientes com garantia de qualidade do insumo antesda chegada agraves faacutebricas Para Cost a a reforma da leibrasileira de acesso ao patrimocircnio geneacutetico tende aimpulsionar inciativas de bioprospecccedilatildeo apesar dea logiacutestica amazocircnica de pesquisa ser cara

Arranjos colaborativos satildeo a saiacuteda ldquoBuscamosagora novas essecircncias para perfumaria em coope-raccedilatildeo com universidades e comeccedilamos a prepararo campo para trabalhar pela primeira vez com co-munidade indiacutegenardquo Entender o conhecimento tra-dicional e a visatildeo de mundo ribeirinha eacute o primeiropasso para valorizaacute-lo

De todos osumos da

odiversidadensumidos pelatura 13 provecircmAmazocircnia A meta

aumentar para ateacute 2020

O extrato derumbona obtidoespeacutecie Zingiberrumbet compotildee

m gel utilizado comns resultados paratar ferimentos em

abeacuteticos

A produccedilatildeo daresta nativa na

mazocircnia gira emrno de R$ 9 bilhotildeesano segundo o

GE Os destaqueso madeira tropicalrrada e maiscentemente o accedilaiacute

Reforma de lei de acesso ao patrimocircnio geneacuteticotende a estimular iniciativas de bioprospecccedilatildeo

No Amazonas da energiaoveacutem dermeleacutetricas e 18

hidreleacutetricasase metade daergia distribuiacutedaurtada gerandorda de R$ 13hatildeo por ano agravempanhia eleacutetrica

Pela primeiravez o Inpa seraacute

remunerado poruma inovaccedilatildeo

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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O amanhatilde eacute hojePOR AMAacuteLIA SAFATLE E MAGALI CABRAL FOTO GUTO RAMOS

Fiacutesico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira foi pesquisador do Instituto de Cosmologia Relatividade e Astrofiacutesica do Centro Brasileiro dePesquisas Fiacutesicas (CBPFMCTI) onde tambeacutem atuou como professor de Histoacuteria e Filosofia da Ciecircncia Professor palestrante e consultor de diversasnstituiccedilotildees eacute atualmente o curador do Museu do Amanhatilde do Rio de Janeiro uma iniciativa da Prefeitura do Rio e da Fundaccedilatildeo Roberto Marinho(museudoamanhaorgbr) com inauguraccedilatildeo prevista para este semestre

Um museu de grandes novidades prometido para este semestre na cidade do Rio de Janeiro inspirou

esta conversa com seu curador o fiacutesico Luiz Alberto Oliveira Ele nos conta que os amanhatildes possiacuteveis

constituem o acervo natildeo soacute do Museu do Amanhatilde mas da humanidade como um todo que tem no agora

o poder de escolha dos seus horizontes Isso em um momento muito conturbado da civilizaccedilatildeo marcado

por imensas desigualdades e mudanccedilas ambientais acentuadas em meio agrave expansatildeo demograacutefica dos

mais despossuiacutedos

Natildeo bastasse isso o homem se olha no espelho e vecirc uma nova identidade Cada vez m ais somos um

ser hiacutebrido que mescla a teacutecnica e a natureza e dilui as fronteiras entre o artificial e o natural entre obioloacutegico e o eletrocircnico entre o dentro e o fora Esse poacutes-humano ultra-humano ou extra- humano bate

agrave porta quando nos propomos a colonizar outros planetas e levar o legado da vida na Terra para cada

vez mais longe Os questionamentos eacuteticos e poliacuteticos gerados por essa revoluccedilatildeo digital que opera em

bilioneacutesimos na escala micro e na escala macro definiratildeo as novas feiccedilotildees do se que chama humanidade

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

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TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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Por que a escolha do nome que guarda umacontradiccedilatildeo entre os termos ldquomuseurdquo eldquoamanhatilderdquo Qual o objetivo da iniciativa e quefunccedilatildeo pretende prestar na sociedade

O museu tem como fundamento conceitual queo amanhatilde natildeo eacute uma data no calendaacuterio natildeo eacute um lu-gar aonde vamos chegar o amanhatilde eacute uma constru-ccedilatildeo Dessa construccedilatildeo vamos participar enquantopessoas indiviacuteduos cidadatildeos membros da espeacuteciehumana E essa construccedilatildeo comeccedila hoje Se a gentefosse resumir em um uacutenico conceito a razatildeo de serdo Museu do Amanhatilde seria ldquoo amanhatilde eacute hojerdquo Natildeoapresenta apenas como a ciecircncia funciona comoa ciecircncia descobre as leis da natureza e o modode funcionamento das coisas Apresenta tambeacutemcomo a ciecircncia eacute aplicada para permitir ao visitante

uma jornada de exploraccedilatildeo na qual pode compreen-der que se certas accedilotildees forem empreendidas ho jecertos cenaacuterios de amanhatilde possiacuteveis seratildeo favore-cidos Se forem outras as accedilotildees escolhidas e reali-zadas as consequecircncias seratildeo outras Trata-se deuma experiecircncia de causa e efeito Ele se insere emuma tradiccedilatildeo de museus que satildeo os ldquoexpe rienciaisrdquocomo o da Liacutengua Portuguesa e o do Futebol Maisdo que contemplar certo acervo o visitante eacute leva-do a ter uma vivecircncia Ele vivencia com seus afetossua imaginaccedilatildeo os processos apresentados ali

Qual eacute o acervoEacute imaterial Satildeo os amanhatildes possiacuteveis Portan-

to mais que observar o visitante tem de colaboraratraveacutes da imaginaccedilatildeo O objetivo eacute oferecer aovisitante uma compreensatildeo do tempo de acentua-das mudanccedilas que estamos vivendo as quais vatildeose acelerar ainda mais daqui para a frente O museutem diretrizes eacuteticas valores que dizem respeitoaos modos de vida que vamos escolher para viver oresto da vida uns com os outros Os conteuacutedos pre-cisam se atualizar continuamente para natildeo virar Mu-seu do Ontem Ao contraacuterio de outros museus quesatildeo feitos para preservar se u acervo o do Amanhatildepensa sempre em um cenaacuterio daqui a 50 anos

O museu foi organizado em Cosmos TerraAntropoceno Amanhatilde e Agora ndash com base emque foi feita essa escolha e divisatildeo de temas

O conteuacutedo foi organizado de maneira natildeo disci-plinar Em vez ciecircncias da natureza ou ciecircncias huma-nas ciecircncias exatas ou ciecircncias histoacutericas o nossorecorte foi ciecircncias coacutesmicas ou da unidade e ter-restres ou da diversidade A visit accedilatildeo eacute organizada apartir das grandes questotildees de onde v iemos quem

somos onde estamos para onde vamos comoqueremos ir Essas perguntas encaram diferentesdimensotildees da nossa existecircncia em particular asdimensotildees temporais Viemos do Cosmos a tota-lidade que nos abrange e nos constitui o que estaacuteassociado ao sempre Somos terraacutequeos siacutentesesde mateacuteria de vida e de pensamento o que estaacute as-sociado ao ontem como chegamos a ser o que so-mos Estamos no momento em que a espeacutecie se daacuteconta de seu alcance planetaacuterio e de consequecircnciageoloacutegica o Antropoceno a era dos humanos Issocorresponde a este hoje O Amanhatilde satildeo tendecircnciassatildeo escolhas satildeo alternativas levando a diversoscenaacuterios passando a ideia de que o amanhatilde estaacute porconstruir E o uacuteltimo momento eacute aquele em que o vi-sitante eacute convidado a decantar todas essas informa -

ccedilotildees que ldquoexperienciourdquo e refletir o mundo em quequeremos viver O Agora eacute o lugar da escolha

Podemos dizer que a Revoluccedilatildeo Digital emcurso trouxe uma inovaccedilatildeo tatildeo radical quantoa da Revoluccedilatildeo Industrial

A Digital eacute muito mais ampla e profunda que aIndustrial Basta compreende r a escala em que a Re-voluccedilatildeo Industrial operava a escala terrestre quevai da fraccedilatildeo de segundo ateacute o dececircnio que vai dafraccedilatildeo do miliacutemetro ateacute o quilocircmetro Nessa escalaa Revoluccedilatildeo Industrial desenvolveu equipamentosque permitiram conectar cidades em pouco tempoAgora estamos falando da capacidade de intervir emanipular dimensotildees microscoacutepicas molecularesatocircmicas dos constituintes elementares de todosos corpos do funcionamento baacutesico de toda a vidaPodemos hoje intervir no niacutevel baacutesico de organiza-ccedilatildeo das formaccedilotildees materiais de todos os tipos deorganismo que conhecemos Ou seja nossa accedilatildeoteacutecnica eacute capaz de debater sobre os fundamentos denosso proacuteprio ser Nossa proacutepria humanidade en-quanto formaccedilotildees bioloacutegicas e enquanto seres cog-nitivos vecirc que essas frontei ras comeccedilam a deslizar

A Revoluccedilatildeo Digital portanto eacute a revoluccedilatildeonanoscoacutepica Eacute a tecnologia do bilionesimal que co-meccedilaraacute a operar Eacute a escala do nanocircmetro bilioneacute-simo de metro mil vezes menor que a escala dostransiacutestores A Revoluccedilatildeo Industrial mudou todosos nossos modos de cooperar e de viver mas natildeoa nossa proacutepria natureza Mas agora as tecnolog iasdo bilionesimal podem definitivamente reformataro que eacute ser vivo o que eacute ser humano

Iacuteamos justamente perguntar se a proacuteximarevoluccedilatildeo estaria no campo da nano e da

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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biotecnologia mas no seu entendimento adigital a nano e a bio estatildeo no mesmo pacote

O digital para mim estaacute incluiacutedo no bilionesimalNesse niacutevel vocecirc perde a distinccedilatildeo entre o natural e oartificial entre o que eacute bioloacuteg ico e o que eacute eletrocircnico

Isso vem trazer perguntas muito maisinstigantes sobre o que somos natildeo eacute

Exatamente A questatildeo vai derivar do que so-mos para o que poderemos ser O que eacute ser humanoquando os limites do humano satildeo suscetiacuteveis de al-

teraccedilatildeo teacutecnica Essa eacute uma das perguntas decisi-vas das proacuteximas deacutecadas

O museu tem alguma respostaO museu soacute tem perguntas

Existiria uma fronteira a evoluir no campo dashabilidades cognitivas como telepatia

A tendecircncia mais clara da tecnologia ao longo doseacuteculo XX foi a miniaturizaccedilatildeo dos componentes queleva agrave individualizaccedilatildeo do uso que leva agrave portabilida-de que leva agrave massificaccedilatildeo da pro duccedilatildeo Temos hojeobjetos teacutecnicos com componentes cada vez maisdiminutos e que incorporam mais e mais capacidadee funcionalidade A partir disso haacute dois horizontesprovaacuteveis O primeiro eacute a invisibilidade ou seja osobjetos teacutecnicos se fundirem com o ambiente Emvez de ter um ambiente opaco passivo em que vo cecirctem objetos com funcionalidade o proacuteprio ambientese torna funcional Em vez de ter um computado r nacasa vocecirc tem a casa computadorizada

E o outro horizonte eacute o da integraccedilatildeo de sses ar-tefatos cada vez mais sofisticados com nosso or-ganismo e nossa cogniccedilatildeo ndash a formaccedilatildeo de hiacutebrido sHiacutebridos de orgacircnicos e inorgacircnicos de bioquiacutemicose eletrocircnicos de neuronal e processual Esse eacute umdos horizontes de extensatildeo e de reformataccedilatildeo da-quilo que eacute humano aleacutem de suplementar funccedilotildeescognitivas e habilidades teacutecnicas atraveacutes de proacutete-ses sofisticadas e cada vez mais iacutentimas

Eacute como se estiveacutessemos humanizando ca da vezmais os artefatos tornando-os mais proacuteximos doque eacute ser humano com mais e mais habilidades eao mesmo tempo estariacuteamos nos inumanizandoao adquirir outras potencialidades que satildeo proacutepriasdos artefatos Entatildeo para dentro e para fora a tec-

nologia estaacute reformulando de modo fundamental oque eacute ser humano o que eacute estar no mundo

Vocecirc comeccedilaraacute a ter uma seacuterie de questotildees eacuteti-cas que vatildeo dizer respeito aos modos pelos quaisnoacutes vamos desejar ou tentar evitar que as tecnolo-gias reformulem o nosso modo de ser Exatamentea mesma tecnologia que evita o nascimento de crian-ccedilas sem ceacuterebro o que evidentemente eacute uma coisadesejaacutevel eacute a que poderia ser usada para se realiz aro pesadelo nazista de uma raccedila entre aspas supe-rior A tecnologia eacute a mesma Logo a escolha eacute eacutetica

e poliacutetica natildeo eacute teacutecnica Questionamentos na revi-satildeo de princiacutepios eacuteticos e de modos de accedilatildeo poliacuteticasatildeo marcas das proacuteximas deacutecadas Poderemos terum tipo de intervenccedilatildeo em nosso organismo ndash porexemplo um implante de chip em contato diretocom o sistema nervoso que nos permit a entrar emrede com outras subjetividades Em vez de transmi-tir a fala por meio de um aparelho para ser escutadavocecirc abrevia essa conexatildeo faz uma conexatildeo d iretade sistema nervoso para sistema nervoso Se issofor voluntaacuterio eacute uma coisa mas imagine sendo ob ri-gatoacuterio que problema poliacutetico surgiria aiacute Todo rede-senho da forma humana eacute o que estaraacute em questatildeo

A era do Antropoceno inclui o chamadoHomoconnectus A evoluccedilatildeo teacutecnica e tecnoloacutegica eacutemera extensatildeo da natureza huma na Homeme teacutecnica mesclaram-se em um soacute ser

O homem eacute constituiacutedo pela accedilatildeo teacutecnica e pelomanejo da linguagem e essas duas potecircncias se es-timularam mutuamente ao longo do que chamamosde civilizaccedilatildeo Natildeo se eacute humano se natildeo se manejauma segunda natureza a natureza simboacutelica daslinguagens que recobre a natureza fiacutesica e materialSoacute o corpo bioloacutegico natildeo define o que eacute humano Ohumano necessita dessa dimensatildeo que chamamosde cultural O horizonte disso eacute a intensificaccedilatildeo dosmodos de accedilatildeo teacutecnica e do manejo da linguagem Auacutenica certeza eacute de que os horizontes nos quais enten-diacuteamos o que era ser humano se estenderatildeo Haacute mui-tos modos de definir o que eacute estar no Antropoc eno

O mais claro de todos eacute a compreensatildeo de quevamos viver em outro planeta muito modificadopela nossa proacutepria accedilatildeo Eacute como se focircssemo s trans-plantados para outro luga r Essa modificaccedilatildeo se daacutenatildeo apenas em um ambiente fora mas tambeacutem nes-

O que eacute ser humano quando os limites do humanosatildeo suscetiacuteveis de alteraccedilatildeo teacutecnica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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sa reconstruccedilatildeo de noacutes mesmos no niacutevel bioloacutegicoorgacircnico cognitivo cultural

Com a teacutecnica fazendo parte da constituiccedilatildeohumana por que se vecirc contradiccedilatildeo entre ohomem e a tecnologia Os filmes de ficccedilatildeopor exemplo gostam de explorar a temaacuteticada dominaccedilatildeo do homem pela maacutequina

Todo artefato resulta de um diaacutelogo entre oque vou chamar de espiacuterito humano ndash vocecircs vatildeome perdoar essa expressatildeo ndash e o mundo Todo ar-tefato resulta dessa exportaccedilatildeo para o mundo dealgo que eacute essencialmente uma ideia um diagramaEsse diagrama comeccedila imaterial e depois quandose concretiza torna-se um artefato material Emum certo sentido a proacutepria linguagem pode ser pen-

sada como uma teacutecnica As nossas criaccedilotildees artiacutes-ticas literaacuterias extensotildees do pensamento podemser entendidas como artefatos Logo tudo isso querealizamos tambeacutem eacute humano eacute inseparaacutevel de noacute sNossas maacutequinas que muitas vezes nos tiranizamque tiranizam legiotildees de pessoas submetidas a ummaquinaacuterio nada disso eacute natildeo humano Nada disso eacutealheio a noacutes Ao contraacuterio o que eacute muito claro comas tecnologias plenamente potentes de que esta-mos comeccedilando a lanccedilar matildeo eacute que a accedilatildeo teacutecnicahoje se rebate sobre o proacuteprio agente

Se antes pensaacutevamos que teacutecnica seria umaaccedilatildeo unidirecional de dentro para fora de noacutes ago-ra eacute muito claro que essa accedilatildeo teacutecnica rebate- se domundo sobre noacutes A tecnologia bilionesimal faz comque nossa capacidade de manipular formas e arte-fatos tenha como objeto noacutes mesmos a noss a proacute-pria constituiccedilatildeo No meu entendimento o humanoabrange tudo isso O preccedilo a pagar eacute a perda do limit eclaro entre o que eacute humano e o que eacute natural Entreo que eacute interno e o que eacute externo Natildeo tem mais umademarcaccedilatildeo niacutetida Mas caramba jaacute satildeo 350 anosdepois de Descartes jaacute se pode comeccedilar a pensarum pouquinho diferente

O peacute atraacutes contra a tecnologia tem a ver como fato de que o lado humano eacute muitas vezessuplantado pela teacutecnica Por exemploteacutecnicas de geoengenharia tecircm avanccediladoalteram profundamente a Terra mas comzero de controle social Isso ajuda a explicaresse mal-estar com a tecnologia

Claro mas veja essas capacidades teacutecnicasmuito potentes tanto na direccedilatildeo microscoacutepicados componentes quanto na direccedilatildeo macroscoacutepi-ca sistecircmica satildeo profundamente perturbadoras

pois reformulam o mundo A questatildeo eacute que nossasestruturas de assimilaccedilatildeo dos avanccedilos do conheci-mento tecircm estado descompassadas da velocidadeextrema com que os avanccedilos teacutecnicos tecircm sucedi-do Nossos legisladores nossos planejadores nos-sos poliacuteticos estatildeo muito mal informados natildeo tecircmnoccedilatildeo remota do que estaacute acontecendo nas frontei-ras do conhecimento A questatildeo tal como a gentecompreende no Museu do Amanhatilde natildeo eacute teacutecnica esim eacutetica e poliacutetica Trata-se de escolhas e de em-preendimentos de accedilatildeo e isso tem de ser fomenta-do atraveacutes do dispositivo essencial de formaccedilatildeo degente que eacute a educaccedilatildeo A educaccedilatildeo eacute o principalpotencializador pelos quais recursos cognitivos eculturais e de pensamento de toda a civilizaccedilatildeo po-deratildeo ser arregimentados para que essas difiacuteceis

questotildees eacuteticas e poliacuteticas s ejam enfrentadas Paraque possamos construir de fato uma ponte entre oque veio antes de noacutes e o que viraacute depois de noacutes

Sem controle social e sem trazer bem-estarpara as pessoas a tecnologia serve paraquem e para quecirc

A gente deve ficar muito ressabiado quando vecircpropostas de se manter a matriz energeacutetica sujaporque haacute grupos interessados e remediar issofazendo arriscadiacutessimas experiecircncias de geoenge-nharia nos oceanos Quem natildeo ficar assustado comisso eacute porque natildeo entende o que estaacute acontecendo eo que pode acontecer Eacute necessaacuterio um longo proj etode pesquisas e extremo cuidado se deslancharmosuma interferecircncia nessa escala oceacircnica se m a claranoccedilatildeo do que pode vir a ocorrer

Outra questatildeo eacute como impedir que o usoda tecnologia reforce a desigualdade poiso avanccedilo teacutecnico costuma contemplarprimeiramente os mais favorecidos

Haacute duas questotildees essenciais para as proacuteximasdeacutecadas que deveratildeo ser enfrentadas se quisermosque a civilizaccedilatildeo humana prospere e ultrapasseesse momento difiacutecil de saiacuteda da infacircncia e entradana adolescecircncia Uma satildeo as transformaccedilotildees am-bientais a nossa interferecircncia nos fluxos do planetacomeccedila a se tornar manifesta e essas interferecircn-cias repercutiratildeo na nossa proacutepria operaccedilatildeo Outraeacute a questatildeo das desigualdades que torna inviaacutevel amanutenccedilatildeo das estruturas sociais e um conviacuteviominimamente harmocircnico entre setores e sociedadequando essa desigualdade se torna excessiva Hojesomos 7 bilhotildees em 2050 seremos 10 bilhotildees depessoas com 3 bilhotildees a mais principalmente em

LUIZ ALBERTO OLIVEIRA

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paiacuteses tropicais e pobres Ou sej a mais 3 bilhotildees depossuiacutedos A adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas ambientais ea reduccedilatildeo da desigualdade satildeo as questotildees caudaisque deveremos enfrentar

E natildeo eacute a tecnologia que resolveraacute isso certoEacute uma questatildeo de poliacutetica e educaccedilatildeo

A tecnologia eacute um meio que quando emprega-do tem consequecircncias Decisotildees satildeo de naturezahumana natildeo teacutecnica Que civilizaccedilatildeo queremosconstruir Que vida queremos ter Que planeta que-

remos habitar

A evoluccedilatildeo poliacutetica no campo das escolhascostuma ser mais lenta que a teacutecnica

Eacute A educaccedilatildeo me daacute a expectativa de que a gentepossa acelerar essa compreensatildeo reduzir a deca-lagem entre a capacidade teacutecnica e o entendimentodessa accedilatildeo teacutecnica

Domenico de Masi no livro O Futuro Chegou conta que os gregos natildeo evoluiacuteram tantona teacutecnica para se dedicar ao avanccedilo doconhecimento (mais agrave paacuteg 34 ) A buscaincessante da tecnologia empobrece aevoluccedilatildeo humaniacutestica a seu ver

Ela leva os limites do que eacute humano para novasfronteiras Se a gente for colonizar Marte tem duasmaneiras Uma eacute instalando colocircnias que reprodu-zam a ecologia terrestre Outra possibilidade eacute re-desenhar nosso organismo para que nos tornemosmarcianos Mas para ser um marciano eficaz e as-similar o pouco oxigecircnio da atmosfera eacute precis o terpulmotildees muito largos o que implica ter um tron-co na forma de tonel Isso pressupotildee pernas mui-to grossas aleacutem de narinas largas e peludas parafiltrar a poeira e uma pele espessa para diminuir orisco agrave radiaccedilatildeo E se possiacutevel peluda para ajudarna troca de calor Esse ser que seremos capazes deredesenhar vamos reconhecer como humano Noacutesque nos distinguimos por dobras nas paacutelpebra s portipo de cabelo O que eacute questionado nesse amanhatildeque estaacute por construir satildeo as nossas proacuteprias ilu-sotildees nosso desconhecimento sobre o que somosAchaacutevamos que os limites estavam estabelecidosentre o que era humano e o que natildeo era Agora o poacutes--humano o ultra-humano o extra-humano bate agrave

nossa porta e olhamos esse espelho e vemos quesomos noacutes mesmos que estamos laacute

Este ser que o senhor descreveu lembra ummacaco

Lembra um Ieti o Homem das Neves mas emsuma eu caricaturei para dar um exemplo do nossoreconhecimento social do que eacute o perte ncimento Opertencimento eacute imediato quando se eacute o membro deuma tribo ou de um clatilde Essas questotildee s vatildeo se acen-tuar em vista da desigualdade das transformaccedilotildees

ambientais dos avanccedilos teacutecnicos Tudo isso vai re-formular esse entendimento que noacutes tiacutenhamos En-tatildeo o humanismo teraacute de adquirir uma nova feiccedilatildeo

A evoluccedilatildeo da teacutecnica libera o corpo hum anopara chegar cada vez mais longe emmenos tempo Estamos a gora explorandoa colonizaccedilatildeo espacial Muita gente podepensar ldquoSe este planeta aqui natildeo deucerto para que vamos arrumaacute-lo se estatildeodescobrindo outros planetas habitaacuteveis poraiacuterdquo Que efeito didaacutetico isso pode ter sobre aconservaccedilatildeo da Terra

A ideia de que a gente natildeo deu certo neste planetaeacute absurda Noacutes natildeo somos out ra coisa que natildeo esteplaneta Natildeo haacute um aacutetomo do nosso corpo que natildeoseja um aacutetomo do planeta Ess a ideia ldquonatildeo deu certoaqui vamos para laacuterdquo eacute inteiramente del irante O quevamos fazer eacute levar a vida da Terra a outros lugarescomo bacteacuterias colonizando outros ambientes Natildeotem como deixar a Terra para traacutes

A ideia de ldquonatildeo deu certordquo seria no sentido deque mantidas as atuais formas de exploraccedilatildeoda Terra pelo homem natildeo teremos mais oplaneta habitaacutevel

Tem trecircs horizontes para o sistema materialque chamamos de civilizaccedilatildeo O primeiro eacute de esta-bilidade e continuidade do sistema O segundo eacute umcolapso reversiacutevel quando o sistema exaure seusrecursos mas se a capacidade de regeneraccedilatildeo natildeotiver sido ultrapassada o sistema retoma um terri-toacuterio estaacutevel O terceiro eacute um colapso irreversiacutevelquando a capacidade de regeneraccedilatildeo dos recursosse perde e a civilizaccedilatildeo entra em deacutebacirccle Satildeo os trecircshorizontes que se abrem para noacutes hoje

Nossos planejadores e poliacuteticos natildeo tecircm noccedilatildeodo que acontece na fronteira do conhecimento

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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REPORTAGEM TE CNOLOGIAREPORTAGEM TE CNOLOGIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

POR F Aacute B I O R O D R I G U E S F O TO B R U N O B E R N A R D I

OBRA C H R I S T I A N B O L T A N S K I

O horizonte estaacute coalhado de tecnologias

emergentes que prometem dar iniacutecio a

transformaccedilotildees iguais ou ateacute maiores

do que as vividas nas uacuteltimas deacutecadas

Revoluccedilotildeespor minuto

Ofuturo eacute nosso contemporacircneo Uma porccedilatildeo de coi sas que um d

foram assunto para histoacuterias de ficccedilatildeo cientiacutefica estaacute por aiacute haacute agum tempo Durante anos a famosa cena do videofone foi um dclichecircs favoritos de qualquer diretor que precisasse comunique sua histoacuteria se passava em algum futuro distante qualqu

Pois a esmagadora maioria dessas imagens soa ridiculamente desengonccedilda da mesma forma como nas datadas visotildees do futuro dos epi soacutedios de Jetsons Evidentemente nem todos os sonhos hi-tech se realizaram Maquando examinamos o hori zonte a paisagem que vemos se abrindo renoa promessa de que um dia chegaremos ao pacato idiacutelio tecnoloacutegico qvecircm nos prometendo desde que eacuteramos crianccedilas

Assista em googlSPHCiw

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

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TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

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TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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mais rentaacutevel do que no cassino financeiroTodas as induacutestrias poderiam estar inovandose o risco fosse reduzido por poliacuteticas con-vergente srdquo c ompleta

Com ou sem esse apoio haacute uma energiapotencial se acumulando Em parte porqueo iacutempeto da onda das tecnologias de infor-maccedilatildeo ainda natildeo passou ldquoA capacidade deprocessar dados continua avanccedilando e per-mitindo fa zer coisas que natildeo era m possiacutevei srdquo

opina o fundador da Litteris Consulting Ce-zar Taurion ldquoHoje por alguns milhares dedoacutelares pode-se acessar uma capacidadecomputacional que poucos anos atraacutes custa-ria mi lhotildeesrdquo pross egue

Com mais poder de fogo e a enxurrada dedados que passamos a gerar depois que nos-sas vidas se tornaram digitais vaacuterias empre-sas comeccedilaram a apostar no big data ldquoAoestudar o comportamento dos clientes consi-go identifi car padr otildees e fazer prev isotildeesrdquo sin-tetiza Varejistas tecircm usado isso para refinarestrateacutegias de vendas o que natildeo chega a serparticularmente estimulante mas daacute parafazer bem mais coisas ldquoA GE utiliza-se de da-dos para melhorar a manutenccedilatildeo nos aviotildeesque usam suas tu rbinasrdquo exempli fica

MAIS INTELIGEcircNCIAAgregar inteligecircncia a produtos pode mu-

dar praticamente tudo Os automoacuteveis porexemplo estatildeo na iminecircncia de saiacuterem so-zinhos por aiacute ldquoOs carros de hoje tecircm maislinhas de coacutedigo do que um aviatildeo e alg uns jaacuteestacionam de forma autocircnoma Natildeo achoque meu neto vai precis ar aprender a dir igirrdquoarrisca Taurion

Eacute possiacutevel que nem demore tanto O pro-fessor do Instituto de Ciecircncias Matemaacuteticas ede Computaccedilatildeo da USP Denis Fernando Wolfconta que jaacute faz dois anos que a equipe do Pro- jeto Carro Roboacutetico Inteligente para Navega-ccedilatildeo Autocircnoma (Carina) teve sucesso em fazerum veiacuteculo rodar completamente sozinhopelas ruas de Satildeo Carlos (SP) ldquoFoi o primeiroteste do tip o na Ameacuterica Lat inardquo comemora

A economista venezuelana radicada naInglaterra Carlota Peacuterez dedicou sua carrei-ra ao estudo dos impactos que a emergecircnciade novas tecnologias teve sobre a economiae acredita que a revoluccedilatildeo iniciada com a ele-trocircnica a partir da metade do seacuteculo XX temboas chances de nos conduzir a tempos maissuaves Estudando saltos tecnoloacutegicos an-teriores ela percebeu um ciclo comum Emsuas primeiras deacutecadas todas levaram a eco-

nomia a bolhas financeiras e mais tarde acrises agudas Ateacute aiacute nenhuma surpresa paraquem passou pelo crash das pontocom noano 2000 O interessante eacute o que vem depoisconforme essas tecnologias deixam seu ni-cho original e se difundem pela economiacomo um todo elas criam ldquoeras de ourordquo nasquais o crescimento econocircmico eacute muito maisharmonioso e duradouro

ldquoA Era Vitoriana na Inglaterra a Bel-le Eacutepoque francesa e o Poacutes-Guerra nos EUAtrouxeram tempos melhores para seus paiacutesesao aproveitar a forccedila de suas respectivas re-voluccedilotildees tecnoloacutegicas Podemos estar diantede um quadro par ecidordquo afirm a a economistaEm sua opiniatildeo a turbulecircncia atual seria umponto de virada que poderia nos levar ao tatildeoesperado ldquocrescimento verderdquo

Natildeo que Peacuterez acredite que possamossimplesmente relaxar e curtir o passeio en-quanto as coisas se resolvem sozinhas Paraela a era de ouro natildeo eacute um destino mas umpotencial que depende de poliacuteticas apropria-das Coisa que tem faltado nos uacuteltimos tem-pos ldquoNo momento vivemos uma lsquoera ba-nhada a ourorsquo uma camada de prosperidadesobre um mundo muito fe iordquo ironi za

O medo dela eacute que mantidas as atuais po-liacuteticas de austeridade fiscal os investidorescontinuem olhando com desconfianccedila paraas tecnologias disruptivas (entenda a diferen-ccedila entre inovaccedilatildeo disruptiva incremental e ra-dical no quadro ldquoCamadas de i novaccedilatildeordquo) ldquoIn-vestir na economia real precisa voltar a ser

Para economista esta era eacute banhada a ouro uma

Nome que vemndo dado agravetrateacutegia de usarandes bases dedos para orientarmadas de decisatildeo

Expressatildeoancesa quegnifica ldquobelaocardquo que vai doimo quarto doculo XIX ateacute omeccedilo da Primeiraerra Mundial em14

Corresponde aonado da Rainha

toacuteria (de 1837 a01) que marcou oogeu do Impeacuterioitacircnico

Episoacutedioracterizado pelaeda abrupta nolor das accedilotildeess empresas dameira geraccedilatildeointernet ndashtatildeo apelidadaspontocom ndash

vando muitaslas agrave falecircncia

Saiba mais em googliuSXia

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

Hoje natildeo seria possiacutevel ter carros autocircno-mos rodando porque o Coacutedigo Brasileiro deTracircnsito ainda natildeo os prevecirc Mas operaccedilotildeescomerciais de grande porte como minas oufazendas poderiam empregar essa tecnolo-gia Tanto que a Scania procurou a equipe doCarina para juntos desenvolverem um sis-tema adaptado a caminhotildees cujo protoacutetipo foiapresentado em julho

As vantagens de colocar um computador

atraacutes do volante satildeo inuacutemeras A comeccedilarpela reduccedilatildeo dos acidentes e melhoria da mo-bilidade para idosos e deficientes ldquoO compu-tador tambeacutem eacute mais eficiente para frear eacelerar o que reduz bastante o consumo [decombustiacutevel]rdquo descr eve Wolf pa ra quem a novatecnologia poderaacute subverter a loacutegica da in-duacutestria automobiliacutestica ldquoTer um carro podenatildeo fazer mais sentido se vocecirc puder chamarum quando precisar Pessoalmente acho quetrans porte tende a vira r um serviccedil ordquo opina

Uma multidatildeo de outros produtos estaacutena fila para ganhar mais inteligecircncia ParaCezar Taurion chegaraacute o dia em que nossoseletrodomeacutesticos se comunicaratildeo com a dis-tribuidora de energia para decidir uma esca-la de trabalho mais eficiente Isso diminuiriaos horaacuterios de pico e de quebra economiza-ria na conta de luz

Os proacuteprios computadores estatildeo pertode um salto similar De certo modo eacute essa aaposta da IBM com o Watson um sistema decomputaccedilatildeo cognitiva ldquoA maior diferenccedilaeacute que o sistema foi projetado para entenderlingu agem natura lrdquo explic a o liacuteder da IBMWatson para o Brasil e Ameacuterica Latina FaacutebioScopeta acrescentando que isso permite queele revise grandes volumes de informaccedilatildeoaprenda e formule hipoacuteteses emulando a ca-pacidade de raciociacutenio

O Watson ficou famoso em 2011 quandoparticipou ndash e venceu ndash de uma ediccedilatildeo espe-cial do Jeopardy um popular jogo de pergun-tas e respostas da TV americana Segundo

Scopeta do ponto de vista computacional ofeito foi tatildeo impressionante quanto a vitoacuteriado Deep Blue sobre Kasparov no xadrez nadeacutecada de 1990 Nos anos seguintes a IBMfoi levando a tecnologia para novas aacutereasda anaacutelise de imagens agrave criaccedilatildeo de receitasculinaacuterias originais (eacute seacuterio) No momen-to a IBM estaacute particularmente animada como potencial na aacuterea meacutedica ldquoO impacto dacomputaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede seraacute grande nas

financcedila srdquo ent usiasma-se

NOVOS MATERIAISInovaccedilotildees radicais natildeo satildeo exclusividade

da computaccedilatildeo Ao longo dos uacuteltimos anosidentificar tendecircncias nessa aacuterea tem sido otrabalho do vice-coordenador do Centro deEstudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp(GVces) Paulo Durval Branco Ele estaacute par ti-cularmente empolgado com a emergecircncia da

quiacutemica verde que se propotildee a substituirprodutos oriundos do petroacuteleo ldquoA induacutestriaquiacutemica estaacute em um momento de destruiccedilatildeocriat ivardquo anima-se

Ainda de acordo com Branco outro cam-po bastante promissor eacute o dos ldquonovos mate-riaisrdquo produtos da nanotecnologia com ca-racteriacutesticas raras na natureza

O caso mais famoso eacute o do grafeno quepossui uma longa lista de predicados ele eacutemelhor condutor que o cobre mais resistenteque o accedilo e mais ainda leve flexiacutevel e trans-parente ldquoComparado a outros materiais ografeno tem proprie dades superl ativasrdquo elo-gia o fiacutesico Thoroh de Souza coordenador doMackGraphe centro fundado haacute dois anospara trabalhar com esse material

Ainda natildeo haacute muita coisa que se possafazer com o grafeno mas quando essa tec-nologia estiver devidamente controlada osimpactos seratildeo amplos A comeccedilar por seuuso na induacutestria automobiliacutestica e de avia-ccedilatildeo em que viabilizaratildeo equipamentos maisleves e portanto mais econocircmicos A maior

camada de prosperidade sobre um mundo feio

Veja reportagem da revista The Economist sobre o tema em googlrbRXZ6 Conheccedila o projeto em ibmchefwatsoncom

Em 1997 o DBlue fez histoacuterse tornar o primcomputador avencer o campmundial de xadGarry Kasparovuma seacuterie de separtidas seguinregras oficiais

Formabidimensionalda grafite Eacute umfolha compostaaacutetomos de carbpuro organizadem uma tramahexagonal cujaespessura eacute deapenas um aacuteto

Conceito queencoraja a induacutequiacutemica a subso uso de insumperigosos e natildeorenovaacuteveis porfontes renovaacutevem geral derivde biomassa

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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xar em ateacute 80 os custos com a alvenaria daconstruccedilatildeo civil

E se imprimir casas mais baratas natildeo forimpressionante o bastante tem gente impri-mindo partes do corpo humano Eacute nisso queos cientistas do Biofabris vecircm tr abalhandonos uacuteltimos tempos Inicialmente eles estatildeofazendo proacuteteses de titacircnio para pacientes queperderam parte dos ossos do cracircnio ou da face

De acordo com o pesquisador secircnior An-

dreacute Luiz Jardini a teacutecnica convencional exigeque esse tipo de proacutetese seja moldado de for-ma semiartesanal durante a proacutepria cirurgiacom resultados nem sempre tatildeo bons Jaacute coma impressatildeo 3D eacute possiacutevel criar um modelovirtual da lesatildeo para construir uma proacutetesesob medida ldquoJaacute temos sete cirurgias realiza-das com tot al suces sordquo informa

Como proacuteximo passo a equipe do Biofa-bris vem pesquisando a chamada medicinaregenerativa que no limite busca cultivartecidos e ateacute oacutergatildeos inteiros em laboratoacuterioldquoAinda estamos na pesquisa baacutesica Produziroacutergatildeos como nos filmes de ficccedilatildeo cientiacutefica eacuteuma utopiardquo relativ iza o pesquisador as so-

ciado do centro e professor do curso deMedicina da Unicamp Paulo Khar-

mandayanEle explica que as ceacutelulas de

qualquer oacutergatildeo satildeo sustentadaspor uma estrutura baacutesica com tex-tura esponjosa formada por fibras

Hoje jaacute eacute possiacutevel imprimir uma es-trutura dessas usando materiais bio-

compatiacuteveis e entatildeo semeaacute-la com ceacutelu-las-tronco tiradas do proacuteprio paciente o queem tese levaria a um oacutergatildeo 100 compatiacutevelO noacute eacute sustentar o crescimento para chegara um resultado viaacutevel ldquoNatildeo se pode aindafazer uma vascularizaccedilatildeo efetiva que consigalevar oxigecircnio e nutrientes ateacute as ceacutelulas queestatildeo na pa rte inter nardquo pondera

GEOENGENHARIACom tanta coisa acontecendo ao mesmo

tempo natildeo eacute de estranhar que surja a ten-

promessa no entanto eacute que ele permitauma nova geraccedilatildeo de engenhocas eletrocircni-cas com telas flexiacuteveis e sensiacuteveis ao toqueque estaratildeo na base da computaccedilatildeo vestiacutevelldquoEle eacute o mais seacuterio candidato para incorpora rfunccedilotildees inteligentes diretamente nas rou-pas Eacute um aspecto futurista mas realista edesej aacutevelrdquo afirm a

PROCESSOS DE PRODUCcedilAtildeO

Os processos de produccedilatildeo tambeacutemestatildeo mudando Eacute o que sinaliza AnielleGuedes que no comeccedilo deste ano fundoua Urban3D start-up voltada para levar opotencial da impressatildeo 3D agrave construccedilatildeocivil ldquoEstamos saindo de um momentoem que a impressatildeo 3D soacute permitia fazerprotoacutetipos simples para um no qual elapermitir aacute manufatur ardquo pontifi ca

A empresa ainda estaacute aprimorando a tec-nologia ldquoNossa maior dificuldade eacute o con-creto Se secar muito raacutepido natildeo consigo im-primir se demora r perde a form ardquo constataTanto que o maior esforccedilo tem sido no desen-volvimento ndash juntamente com um parceiroeuropeu da aacuterea quiacutemica ndash de um aditi-vo para chegar ao produto ideal Vemdando certo ldquo[O concreto] jaacute eacute ex-trusaacutevel e tem a resistecircncia estru-tural que precisamos Ainda faltaterminar o desenvolvimento etrabalhar a regulaccedilatildeo para garan-tir que o p roduto eacute seg urordquo expli ca

Para Guedes essa eacute uma etapaintermediaacuteria ateacute que seu produto tenhaboa aceitaccedilatildeo no mercado A meta final eacute evo-luir para um material natildeo ldquocimentiacuteciordquo ndash aproduccedilatildeo de cimento responde por mais oumenos um terccedilo das emissotildees de gaacutes carbocirc-nico da induacutestria brasileira

Mas sobre isso ela faz misteacuterio ldquoEsseproduto estaacute sob sigilo industrial Soacute possogarantir que vai acontecerrdquo asseg ura Sain-do tudo como o planejado seria possiacutevel bai-

taccedilatildeo de achar que a tecnologia seja capaz dedar conta de absolutamente tudo Inclusivede salvar a vida no planeta Esta eacute a propos-ta dos defensores da chamada geoengenha-ria Eles acreditam que podemos controlar amudanccedila climaacutetica desenvolvendo sistemaspara remover o gaacutes carbocircnico da atmosferaem escala planetaacuteria ou em uma abordagemmais mirabolante desviando parte da radia-ccedilatildeo solar

O problema eacute que dos esquemas propos-tos ateacute agora nenhum funcionaria conformeanunciado e sem causar efeitos colateraisseriiacutessimos A pesquisadora do Centro Na-cional de Pesquisa Atmosfeacuterica dos EstadosUnidos Simone Tilmes explica que uma daspropostas mais populares da geoengenhariaseria despejar partiacuteculas de sulfato na es-tratosfera para formar uma camada que re-fletiria parte dos raios de sol de volta para oespaccedilo ldquoIsso mudaria toda a quiacutemica atmos-

feacuterica e ningueacutem sabe quais seriam os efei-tos Tambeacutem afetaria todo o ciclo hidroloacutegicodo planeta com menos sol teriacuteamos menoschuvasrdquo a lert a

Clive Hamilton professor do Centro deFilosofia Aplicada e Eacutetica Puacuteblica e autor deEarthmasters (livro ainda sem traduccedilatildeo parao portuguecircs) considera essa uma saiacuteda arr is-cada embora natildeo condene completamente ageoengenharia ndash muitos de seus proponentes

satildeo cientistas bem-intencionados que achammelhor ter um plano B na manga ldquoMeu medoeacute que isso apele a um sentimento de lsquoutopis-mo tecnoloacutegicorsquo que foi muito importante nacultura dos Estados Unidos durante o Poacutes--Guerra Eu consigo imaginar p erfeitamenteum futuro presidente republicano dizendoque precisamos mobilizar a lsquoengenhosidadeamericanarsquo para resolver a mudanccedila climaacute-ticardquo desaba fa

A tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil tambeacutem

Tambeacutem chamadamanufaturativa permitear objetos poreio da deposiccedilatildeo

camadascessivas deaterial umasbre as outras

Um institutocional de CampT

m biofabricaccedilatildeocaraacuteter

ultidisciplinar

A impressatildeo de partes do corpo e a geoengenharia alimentam a polecircmica e a visatildeo utoacutepica

Segundo oprofessor Thoroh

de Souza o mercadopotencial para as

aplicaccedilotildees do grafenoeacute capaz de atingir a faixa

da centena de bilhotildeesde doacutelares

Saiba mais em googlzI2hed

Leia em googlmOy8c9

CAMADAS DE INOVACcedilAtildeONem todas as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas tecircm o mesmo peso Haacute avanccedilos ndash uns poucos ndash que tecircm capacidade de

mudar o mundo A imensa maioria no entanto teraacute reflexos muito mais limitados Ainda assim para encurtar ocaminho rumo a uma economia mais verde e inclusiva precisamos de cada uma delas

Em 2009 um grupo de pesquisadores da Universidade de Sussex no Reino Unido publicou o estudoTransformative Innovation no qual mostra os trecircs niacuteveis de inovaccedilotildees de acordo com seu objetivo e impacto

INCREMENTAL 991251 seu intuito eacute melhorar tecnologias e processos existentes em geral para aumentar suaeficiecircncia em termos de consumo energeacutetico eou de materiais mas sem modificaacute-las fundamentalmente

DISRUPTIVA 991251 altera a forma como as coisas satildeo feitas ou as funccedilotildees tecnoloacutegicas especiacuteficas semnecessariamente modificar o regime tecnoloacutegico subjacente

RADICAL 991251 envolve uma mudanccedila no regime tecnoloacutegico de um setor da economia o que pode gerar mudanccedilasem outras tecnologias acessoacuterias Esse tipo de inovaccedilatildeo tende a levar a mudanccedilas que vatildeo aleacutem da tecnologia eafetam diversos atores obrigando a uma reconfiguraccedilatildeo dos proacuteprios produtos e serviccedilos que afetam

PAacuteGINA22 SETOUT 2015 PAacuteGINA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

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TECNOLOGIA coluna

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R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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preocupa o diretor do Insti-tuto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS)Ronaldo Lemos ldquoAlgumassoluccedilotildees de geoengenhariasatildeo muito baratas se com-

paradas a outras medi-das de enfrentamento da

mudanccedila climaacutetica Cria orisco de um paiacutes agir isolada-

menterdquo pont uaMesmo natildeo sendo a bala de pra-

ta que gostariacuteamos a tecnologia seraacuteparte da soluccedilatildeo Mas o que impediria

O problema eacute a tentaccedilatildeo da saiacuteda raacutepida e faacutecil

de irmos de armadilha em armadilha ateacute umtriste fim Afinal de contas na eacutepoca em quecomeccedilamos a alimentar com carvatildeo as maacute-quinas da Revoluccedilatildeo Industrial ningueacutem ti-nha condiccedilotildees de antecipar a enrascada cli-

maacutetica em que estaacutevamos nosmetendo ldquoEu diria que es-

tamos menos ignorantessobre as consequecircnciasde nossos atos Mas eacute

exatamente por isso quea accedilatildeo poliacutetica eacute neces-saacuteriardquo ref lete a econo-

mista Carlota Peacuterez

A outra eacute o chamadogerenciamento de radiaccedilatildeosolar (SRM) cujo objetivo eacute

diminuir a quantidade de raios

solares incidentes sobre a TerraSeus defensores jaacute propuseramespelhos em oacuterbita uso de

balotildees refletivos e a coberturade parte do planeta com

uma manta

O B R A G U T O L

A C A Z F O T O B R U N O B

E R N A R D I

Grosso modo as pesquisas sobre

geoengenharia se dividemem duas grandes linhas

Uma eacute a remoccedilatildeo de dioacutexido decarbono (CDR na sigla em inglecircs)

que pretende desenvolvertecnologias capazes de filtrarparte dos gases responsaacuteveis

pelo efeito estufa daatmosfera

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

TECNOLOGIA coluna

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

R E G I N A S C H A R FJornalista especializada em meio ambiente escrevepara o blog da revista (fgvbrcespagina22)

Comida embalada em comidaQuando essas embalagens adquirem valor nutritivo o problema do descarte de lixo eacuteresolvido e elas passam a contribuir para a seguranccedila alimentar Mas ainda haacute resistecircncia

Em uma cena do antoloacutegico A

Fantaacutestica Faacutebrica de Choco-

late Willy WonkaGene Wil-der toma chocolate quente

no seu jardim de deliacutecias accedilucaradasAo final daacute uma mordida n a xiacutecara emforma de flor para inveja da audiecircncia Arede americana de fast-food KFC resol-veu materializar essa fantasia Passou aservir cafeacute em xiacutecaras feitas de biscoitoe embrulhadas em um papel agrave base de

accediluacutecar nas suas lojas na Gratilde-BretanhaMas o pulo do gato eacute o forro do copo umacamada de chocolate branco resistenteao calor que manteacutem o cafeacute quente e obiscoito seco Eacute uma oferta por tempolimitado mas que serve de marco doprogresso da induacutestria de embalagenscomestiacuteveis e biodegradaacuteveis

Plaacutestico filme garrafas PET e ou-tras embalagens plaacutesticas protegem osalimentos e garantem sua higiene Maseles perdem sua razatildeo de ser logo apoacutesa compra e acabam quase sempre ematerros lixotildees ou no ventre de animaisQuando essas embalagens adquiremvalor nutritivo o problema do descartefica resolvido e elas passam a contribuirpara a seguranccedila alimentar O conceitoabriu o apetite de muitas empresas aoredor do mundo

Uma delas eacute a WikiFoods criada porDavid Edwards professor de Bioen-genharia na Universidade Harvard Eledesenvolveu o WikiPearl um envoltoacuteriocomposto de micropartiacuteculas digeriacuteveisque imita a casca de frutas com possi-bilidades quase ilimitadas de aplicaccedilatildeoEle pode proteger produtos tatildeo diacutespa-res quanto queijos e bebidas alcooacutelicase jaacute embala uma marca de frozen yogurt

distribuiacuteda no mercado americanoOutro exemplo interessante vem

da Inglaterra A Pepceuticals eacute uma dasempresas envolvidas em um projetocolaborativo europeu que estaacute inves-tindo 16 milhatildeo de euros no desenvolvi-mento de uma embalagem comestiacutevel

que proteja cortes de carne e aumenteo seu prazo de validade Pense na co-modidade de envoltoacuterios temperadoscom sal pimenta ou alecrim Tambeacutemsatildeo dignos de nota os empreendimen-tos da americana Loliware (copos devidro agrave base de aacutegar um tipo de alga)da belga Do Eat (pratos descartaacuteveisfeitos de batata) e da australiana Plan-tic (bandejas feitas com biopoliacutemerode milho ndash quem provou disse que temgosto de patildeo amanhecido)

Mas um dos conceitos mais fasci-nantes vem da Espanha Os designers

Rodrigo Garciacutea Gonzaacutelez GuillaumeCouche e Pierre Yves criaram a pre-miada Ooho uma esfera com jeitatildeo deproacutetese mamaacuteria de silicone capaz deconter o volume de um copo drsquoaacutegua Elaeacute confeccionada com material extraiacutedode algas marinhas e pode ser produzidaem casa na linha faccedila-vocecirc-mesmoseguindo teacutecnica divulgada pelos cria-dores do conceito (assista a viacutedeo em

googlTNBpRu)No Brasil uma das primeiras a ex-

plorar as possibilidades comestiacuteveisdas embalagens foi a rede de lanchone-tes Bobrsquos Em 2012 o grupo promoveu acampanha-relacircmpago ldquoNatildeo daacute pra con-trolarrdquo em que vendeu hambuacutergueresenvoltos em um papel de arroz comoo usado na culinaacuteria vietnamita (veja em

vimeocom49877826)

Embora tais iniciativas tenham gnhado visibilidade apenas nos uacuteltimcinco anos elas se sustentam em dcadas de pesquisas acadecircmicas Pasde mandioca e amido de milho tecircm simanipulados e prensados nos mais direntes formatos haacute deacutecadas inclusnas universidades brasileiras Embagens comestiacuteveis foram tema de estuem todas as latitudes do Paiacutes da Uversidade Catoacutelica de Campo Grand

Universidade Estadual de Londrina eInstituto de Pesquisas TecnoloacutegicasIPT em Satildeo Paulo

Mas pesquisadores e empreenddores esbarram em dois desafios correntes O primeiro eacute a dificuldade competir com as embalagens covencionais Tome-se o caso da carioCBPak Tecnologia que fabrica mensmente cerca de 2 milhotildees de bandejacopos feitos de um substituto de isopagrave base de amido de mandioca Eles nsatildeo comestiacuteveis por ter uma camaimpermeabilizante mas satildeo composveis Hoje a empresa comercializa secopos por um valor 10 vezes maior que o dos equivalentes de plaacutestico Apsar dessa disparidade de preccedilos a epresa tem conseguido prosperar gccedilas ao crescente nicho ecoconsciente

O segundo problema eacute a resistecircndos consumidores que consideram embalagens comestiacuteveis anti-higiecirccas ou pouco confiaacuteveis O frozen yog

embalado pela peliacutecula WikiPearl teque ser distribuiacutedo em caixas de papelconvencionais para atrair o consumidmeacutedio Natildeo precisava ser assim Emblagens comestiacuteveis fazem parte da cunaacuteria tradicional de inuacutemeras cultura

Eacute o caso do beiju de tapioca braleiro do taco mexicano da casquinde sorvete e das salsichas e linguiccedilFazer a conexatildeo mental entre essas sluccedilotildees e as novas embalagens comesveis demandaraacute um grande esforccedilo marketing e aculturaccedilatildeo

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

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PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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RETRATO

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Confusion SP

Um lugar freneacutetico como Satildeo Paulo eacute mais bretratado em movimento Foi o que fez FeliGombossy nessa releitura dos cartotildees-postpaulistanos A vida na velocidade como ela eacute d

tom do ensaio que ainda estaacute em produccedilatildeo E ganamostra representativa nestas paacuteginas e no sgalerizecom ldquoEstamos sempre indo e voltanNatildeo focamos em nada Eacute como se mesmo pados a cidade andasse sozinhardquo anota GombossCamadas se sobrepotildeem e se fundem A tecnoloque nos permite estar em muitos espaccedilos e tepos simultaneamente mistura a mateacuteria urbacom a abstraccedilatildeo do ritmo O resultado ele batizde Confusion SP

F O T O S F E L I P E G O M B O S S Y

T E X T O A M Aacute L I A S A F A T L E

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

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PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

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O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA farol

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

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PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA farol

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

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PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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REPORTAGEM HISTOacuteRIA

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

O Homo sapiens tecnoloacutegico logo vai a Marte mas

ainda natildeo aprendeu a como driblar a crise ecoloacutegica

que potildee em risco a sua proacutepria existecircncia

POR M A G A L I C A B R A L F O TO B R U N O B E R N A R D I OBRA D A N I E L A R S H A N

Arqueologia da teacutecnica

Acena em que um hominiacutedeo descobre diante de um monolitoque podia usar um pedaccedilo de osso como arma para se defender depredadores do claacutessico de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisseia noEspaccedilo ilustra o que pode ter sido o primeiro encontro entre o serhumano ainda que primitivo e a teacutecnica O ldquohomem das caver-

nasrdquo natildeo tinha como saber mas naquele momento estava viabilizando aespeacutecie humana na Terra A ped ra lascada o domiacutenio do fogo a invenccedilatildeo daroda a pintura rupestre a oralidade entre tantas outras coisas s atildeo acervosda arqueologia do ldquoHomo sapiens tecnoloacutegicordquo ndash expressatildeo que intitula livrode 2008 do filoacutesofo francecircs Michel Puech no qual diz que a cultura teacutecnicaeacute indissociaacutevel da natureza humana Portanto a aventura tecnoloacutegica quecomeccedila com um pedaccedilo de osso preacute-histoacuterico e chega aos carr os autodiri-gidos do Google eacute a proacutepria histoacuteria da civilizaccedilatildeo

E o que isso tem a ver com sustentabilidade Tem a ver que o ser humanoprincipalmente depois de transitar do analoacutegico para o digital alcanccedilouum avanccedilo tecnoloacutegico tatildeo surpreendente que jaacute estaacute em seus planos levarsementes de plantas para Marte construir robocircs bioloacutegicos com habili-dades muito superiores agraves dos humanos e ateacute se comunicar por telepatiaEnquanto isso no contrafluxo desse progresso a Terra ou Gaia o uacutenicoplaneta que reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias agrave sobrevivecircncia da espeacutecie se-

ldquoO homem natildeo tem a teacutecnica na matildeo Ele eacute o jogueterdquoMartin Heidegger

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA farol

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

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PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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linguagem oral para a linguagem escritacomo um dos grandes marcos do atual mo-delo da relaccedilatildeo do ser humano com a nature-za ldquoQuando se produz a teacutecnica da escrita aspessoas comeccedilam a construir cidades que sefecham em si mesmas do mesmo modo comoo paraacutegrafo ou o capiacutetulo de um texto fechamum argumentordquo reflete Di Fel ice inspir adono filoacutesofo canadense Marshall McLuhan

O grande teoacuterico da comunicaccedilatildeo escreveuque os povos na cultura oral habitavam em-baixo das estrelas olhando para o CosmosldquoDepois da escrita e da construccedilatildeo das c ida-des a relaccedilatildeo com a natureza comeccedila a ser dedomiacutenio e e xploraccedilatildeordquo

Ainda de acordo com as pesquisas histoacuteri-cas feitas por Domenico De Masi depois dassurpreendentes e incontaacuteveis proezas meso-potacircmicas a criatividade tecnoloacutegica entrouem um periacuteodo letaacutergico do qual soacute sairiamilhares de anos depois na Renascenccedila deGalileu Galilei (1564-1642) e das grandes na-vegaccedilotildees (seacutec XV)

Antes disso seg undo o autor os gregos e osromanos desencorajaram as carreiras cientiacute-ficas construindo uma mitologia na qual osldquoengenheirosrdquo Iacutecaro Ulisses Prometeu eVulcano eram rigorosamente punidos Poroutro lado eles natildeo impuseram limites agrave cria-

tividade humaniacutestica filosofia e poesiaestrateacutegias de guerra burocracia ju-

risprudecircncia etc ldquoAteacute o fim do seacute-culo XI dC o patrimocircnio tecno-loacutegico eacute enriquecido com poucosinstrumentos a polia a estradapavimentada a engrenagem o

parafuso de Arquimedes a pren-sa o guindaste o compasso a ca-

neta de pena o moinho de vento epouco ma isrdquo relat a De Mas i

Justiccedila seja feita aos gregos e romanos Oprofessor titular de Histoacuteria da Ciecircncia e daTecnologia da USP Shozo Motoyama lembraque os gregos tiveram um papel importanteno desenvolvimento da Matemaacutetica em es-

gue em um ritmo tatildeo alucinante de exaustatildeoque parece anular as medidas que vatildeo sendotomadas para reverter os efeitos da aventurahumana Seraacute que existe alguma chance desurgir uma tecnologia milagrosa em um fu-turo breve capaz de consertar o estrago comomuitos querem crer

Em 6 de agosto fez 70 anos que os EstadosUnidos lanccedilaram uma bomba atocircmica sobre

Hiroshima matando cerca de 70 mil pessoase ferindo outras 70 mil Logo depois da Se-gunda Guerra Martin Heidegger escreveuque toda vez que o homem tentava dominar ateacutecnica acabava dominado por ela

ldquoO problema estava no fato de que o Oci-dente natildeo desenvolvera ateacute entatildeo um pensa-mento idocircneo par a entender a teacutecn icardquo afir-ma o socioacutelogo italiano Massimo Di Feliceprofessor da Escola de Comunicaccedilotildees e Artes(ECA) da USP explicando o filoacutesofo alematildeo

A Histoacuteria sempre pensou a teacutecnica comoalgo distinto e separado do humano e sobre-tudo como algo apenas instrumental (parauso com uma finalidade) ndash no caso da bombaatocircmica um artefato de alta tecnologia a ser-viccedilo da destruiccedilatildeo de inimigos

DA ORAL PARA A ESCRITAPassados milecircnios da Preacute-Histoacuteria o

Homo sapiens jaacute bem mais criativo queseus ancestrais encontrou na regiatildeoque vai do Egito agrave Mesopotacircmiaincluindo Palestina Siacuteria e Liacuteba-no condiccedilotildees para o seu primeirogrande salto tecnoloacutegico

Eacute o que relata o socioacutelogo ita-liano Domenico De Masi em seuuacuteltimo livro O Futuro Chegou (2014)Por ali surgiu o barco (7500 aC) a ce-racircmica (7000 aC) os implementos agriacuteco-las os tijolos e a cerveja (6000 aC) a escrita(4000 aC) o papiro e a tinta (entre 3500 e3200 aC) e tantas outras coisas sem as quaisnatildeo nos imaginamos hoje

Di Felice vecirc o momento da passagem da

O primeiro grande salto tecnoloacutegico dahumanidade deu-se entre o Egito e a Mesopotacircmia

A cidadede Uruk na

Sumeacuteria (hoje o

Iraque) foi fundada em3400 aC praticamente aomesmo tempo em que se

desenvolvia a escrita e erarodeada por uma muralha

com 9 quilocircmetros deextensatildeo

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HISTOacuteRIA

pecial a Geometria E na Medicina tinhamuma percepccedilatildeo muito avanccedilada do ponto devista da necessidade de uma harmonia do cor-po para se ter s auacutede ldquoCreio que por mais quetenhamos avanccedilado nesse aspecto a Medi-cina do seacuteculo XX com seus excessos de es-pecializaccedilatildeo e de uso exagerado de remeacutediosperdeu essa percepccedilatildeo holiacutestica dos gregosrdquo

Quantos aos romanos bem menos teoacuteri-cos que os gregos Motoyama diz que de fatosuas teacutecnicas natildeo foram tatildeo revolucionaacuteriasquanto a dos egiacutepcios e mesopotacircmicos maseles desenvolveram um aperfeiccediloamentodaquilo que jaacute estava posto ldquoQualquer teacutec-nica que eacute criada ndash desde a roda o barco aalavanca etc ndash vai precisar de um

desenvolvimento incrementale os romanos tiveram grandedestaque nessa atividaderdquo

A TECHNE

O papel da Greacutecia comonatildeo poderia deixar de ser foio de pensar a teacutecnica Aris-toacuteteles segundo Di Felice feza distinccedilatildeo entre o teacutecnico e oepistecircmico Havia para o filoacutesofogrego duas grandes atividades a techneque servia para construir coisas e o epistecircmi-co o saber pelo saber aquele que natildeo requernenhum tipo de aplicaccedilatildeo Para o grego eacute aepistemologia que distingue os humanos dosoutros animais jaacute que a techne era um atri-buto de todas as espeacutecies Afinal paacutessarosconstroem ninhos macacos utilizam pedrase outros objetos como ferramentas etc Essadistinccedilatildeo marca a construccedilatildeo da Histoacuteria oci-dental e molda a forma como ainda hoje nosrelacionamos com a teacutecnica

No periacuteodo medieval a mensagem cristatildetratou de perpetuar essa dicotomia ndash o queeacute humano natildeo eacute tecnoloacutegico e o que eacute tec-noloacutegico natildeo eacute humano Como os gregos jaacutehaviam feito tambeacutem uma distinccedilatildeo entre omundo sensiacutevel e o metafiacutesico ndash par a Platatildeoo conhecimento maior era o abstrato e tudo oque fosse material incluiacuteda aiacute a proacutepria na-tureza era inferior ndash os cristatildeos separam ocorpo da alma A vida na Terra passou a sermera transiccedilatildeo para a vida eterna ldquoAleacutemdisso o mito da Gecircnese apresenta a ideia deque o uacutenico ser vivo agrave imagem de Deus eacute o

humano E a Adatildeo e Eva eacute dito que poderiamutilizar toda a Terra em s eu benefiacutecio excetoa aacutervore da vida A natureza consolidou-sefonte de mateacuteria-primardquo

O MEIO Eacute O MARSegunfo o professor de estudos da Co-

municaccedilatildeo da Universidade de Iowa JohnDurham Peters a natureza nem sequer e xistemais E isso natildeo eacute de hoje No livro The Marve-lous Clouds (As Maravilhosas Nuvens em tra-duccedilatildeo livre) o mar por exemplo desde o tem-po dos sumeacuterios dos assiacuterios e dos babilocircnioseacute entendido como uma miacutedia quer dizer umgrande veiacuteculo de trocas de informaccedilatildeo entre

civilizaccedilotildees como eacute hoje a internet Por

via mariacutetima primeiro pelo Medi-terracircneo e depois pelo Atlacircntico

navegaram os idiomas a muacutesi-ca a cultura a fi losofia os mo-dos de vida O ar tambeacutem eacute ummeio de comunicaccedilatildeo tendoem vista que transmite ondassonoras eletromagneacuteticas e si-

nais wi-fiAssim como Peters outros au-

tores contemporacircneos de vaacuterias aacutereasdo conhecimento jaacute discutem a tecnologia

para aleacutem de uma concepccedilatildeo meramente ins-trumental e de antiacutetese ao que eacute natural ouhumano Michel Puech por exemplo mos-tra em seu livro que a relaccedilatildeo do ser humanocom a teacutecnica eacute ontoloacutegica isto eacute o humanosem a teacutecnica nem sequer seriaAo nos denominar Homo sa-piens technologicus Puechestaacute dizendo que o mundotecnoloacutegico eacute o mundonatural para o humano(leia Entrevista agrave paacuteg 14)

ldquoDirigir um carro eacutetatildeo natural quanto andara peacute Uma incursatildeo a umamontanha elevada natildeo seconcebe hoje sem equipamen-tos de alta tecnologiardquo afir ma o coordenadorde Comunicaccedilatildeo do GVces Ricardo Barrettoem uma abordagem sobre Michel Puech ldquoEacutetatildeo difiacutecil pensar no ser humano sem a re-laccedilatildeo com a tecnologia que ela se torna es-sencial para a compreensatildeo da existecircncia daespeacutec ierdquo compleme nta Barr etto

ldquoA Idade Meacutedia instituiua universidade adotou o

calendaacuterio cristatildeo difundiu ozero e os algarismos araacutebicos

Tambeacutem devemos a esse periacuteodoos oacuteculos os reloacutegios de precisatildeo

os bototildees a escala musical osvidros o garfo as cartas de

baralho o carnaval as formasrudimentares de anestesiardquo

Domenico De Masi

A Chinadominava as teacutecnicasnaacuteuticas e militares

jaacute durante a Idade MeacutediaSabiam das propriedades domagnetismo e tinham vasto

conhecimento do ceacuteu Mas por

decisotildees poliacuteticas o paiacutes fechou-se em si mesmo e no seacuteculoXI sucumbiu ao domiacutenio

dos mongoacuteis

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

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HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

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F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

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PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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tour um antropoacutelogo francecircs para endossara impossibilidade de separar uma coisa daoutra ldquoEle diz que a teacutecnica jaacute estaacute incorpo-rada ao nosso modo de agir e ao nosso corpordquo

Para explicar o pensamento de LatourStangl usa a metaacutefora de um drible no futebolldquoExiste um elemento no drible de um Ney-mar situado entre o limite do que eacute teacutecnico edo que eacute criativo O jogador com um gestual

faz a bola lsquoatravessarrsquo o adversaacuteriordquo Ou seja ateacutecnica surge no momento em que solucionaruma situaccedilatildeo se torna inevitaacutevel seja no dr i-

ble que poderaacute fazer c om que a bola atinja ofundo da rede seja no osso-arma com

o qual o hominiacutedeo-personagemdo filme 2001 conseguiraacute afas-

tar aqueles que impedem o seuacesso ao poccedilo drsquoaacutegua ldquoAssimvai ficando claro que a questatildeotoda natildeo estaacute na teacutecnica em simas na nossa relaccedilatildeo com elardquo

Mas como e onde encontrarum entendimento que ponha as

atividades humanas nos eixos emtermos ecoloacutegicos O fato de ateacute hoje

existirem aldeias indiacutegenas no Brasil quenatildeo foram tocadas pela cultura ocidentaltem atraiacutedo vaacuterios intelectuais ao Paiacutes entreos quais Di Felice De Masi e Latour Os indiacute-genas brasileiros assim como alguns povosafricanos mantecircm um outro conceito sobre ateacutecnica que natildeo eacute o aristoteacutelico

ldquoComo intelectuais que pensam a susten-tabilidade temos a obrigaccedilatildeo de tentar nosbenefic iar desses sabe resrdquo enfatiza Di FelicePara ele se entendermos o xamanismo comoteacutecnica podemos acreditar que os segredospara a construccedilatildeo de um modelo de civiliza-ccedilatildeo capaz de driblar a crise ecoloacutegica possamestar guardados natildeo entre os esc ritos de ex-poentes como o socioacutelogo Theodor Adornomas no jeito como os Homo sapiens tecnoloacute-gicos que habitam as florestas brasileiras en-tendem o mundo

TECNOLOGIA HUMANAO fato de sermos talvez a espeacutecie mais

despreparada para a proacutepria sobrevivecircnciaao nascer explica ateacute certo ponto o porquecircde termos nos tornado Homo sapiens tecnoloacute-gicos O psicoacutelogo Vicente Lourenccedilo de Goacuteesprofessor colaborador da disciplina eletivada FGV-Eaesp Formaccedilatildeo Integrada para aSustentabilidade (FIS) afirma que esse des-

preparo para a sobrevivecircncia ao contraacuteriode outras espeacutecies que nascem com muitomais autonomia aumentou a nossa disp oni-bilidade energeacutetica para o aprendizadoem geral ldquoUm bebecirc nasce com umceacuterebro quase em branco comoum barro fresco a ser moldadoPor isso a sua capacidade deadaptaccedilatildeo a um ambiente lo-cal especiacutefico eacute praticamen-te ilimitadardquo

No entanto como precisade pelo menos de cinco a seisanos para andar e se comuni-car com destreza uma ldquoalta tec-nologia humanardquo providenciou umaespeacutecie de trade-off ldquoA gente gasta maisenergia do que as outras espeacutecies mas ganhauma coletividade mais bem preparada para asobrev ivecircnciardquo afirm a Goacutees

Durante o desenvolvimento do humanoemergem processos cognitivos sofisticadoscomo empatia generosidade inventividadetoleracircncia paciecircncia E outros natildeo tatildeo al-truiacutestas como indiferenccedila individualismointoleracircncia e ansiedade ldquoTodos esses satildeolegiacutetimos produtos da tecnologia humanaque apoia a nossa adaptaccedilatildeo aos vaacuterios am-bientesrdquo atest a o ps icoacutelogo

Eacute no miacutenimo contraditoacuterio colocar umabarreira entre as pessoas e a teacutecnica quandoos proacuteprios nascimentos se datildeo atraveacutes departos altamente tecnologizados O filoacutesofobrasileiro Andreacute Stangl que estuda relaccedilotildeesentre humano e natildeo humano cita Bruno La-

O mar foi a miacutedia da Antiguidade Atravessaramo Mediterracircneo idiomas filosofias estilos de vida

Ateacute a primeira metadedo seacuteculo XX as ciecircncias

fiacutesicas foram a grande estrelada tecnologia A partir da Segunda

Guerra Mundial a biologia molecularrouba a cena ldquoComo ao niacutevel da

moleacutecula o que funciona satildeo as leisda mecacircnica quacircntica os fiacutesicosentatildeo migraram para a aacuterea de

biologia molecularrdquo explicaShozo Motoyama

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

HISTOacuteRIA farol

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M O R E N O C R U Z O S Oacute R I OJornalista e soacutecio fundador do Farol Jornalismo

Precisamos falar sobre algoritmosPor que eacute importante adotar uma postura criacutetica quanto ao uso datecnologia no jornalismo e problematizar suas implicaccedilotildees na sociedade

Em 17 marccedilo de 2014 o jor-nalista do LA Times Ken Sch-wencke foi um dos primeirosa noticiar o terremoto de 44

graus que atingiu Los Angeles no iniacutecioda manhatilde daquele dia Isso porque doisminutos apoacutes o fenocircmeno ele recebeuum email informando que um textosobre o tremor estava no sistema depublicaccedilatildeo do jornal pronto para ir aoar Mas quem apurou as informaccedilotildees

redigiu a notiacutecia e avisou Schwencke Eem apenas dois minutos Um algoritmodesenvolvido por ele proacuteprio chamadoQuakebot Quando o USGS a autoridadegeoloacutegica nos EUA disponibilizou os da-dos do terremoto em seu site o coacutedigoos transformou em um texto noticiosoe informou seu autor que soacute teve o tra-balho de publicar ndash apoacutes revisar eacute claro

O caso do Quakebot eacute paradigmaacuteticopara pensarmos sobre a atuaccedilatildeo de al-goritmos na profissatildeo Quem escreveua notiacutecia do terremoto Schwencke ou oQuakebot Independentemente da res-posta se considerarmos a natureza dosegundo talvez a pergunta precisasseser alterada para ldquoquemrdquo ou o ldquoquerdquo foi oresponsaacutevel pela redaccedilatildeo pois a inclu-satildeo de um ator natildeo humano impotildee a ne-cessidade de adequarmos a construccedilatildeofrasal para contemplaacute-lo

Aliaacutes ldquoo lsquoquersquo e lsquoquemrsquo fazem jorna-lismordquo eacute o que perguntam Alex Primo eGabriela Zago em artigo sobre a atuaccedilatildeodo natildeo humano no jornalismo Para ex-plorar a questatildeo os pesquisadores gauacute-chos adotam a perspectiva do socioacutelo-go Bruno Latour que defende a simetriaentre humanos e natildeo humanos na com-posiccedilatildeo do social A perspectiva de La-tour oferece possibilidades atraentespara pensar a sociedade atual Por outrolado exige problematizaccedilatildeo agrave alturapois implica mudanccedilas de paradigmasna maneira de enxergar o mundo

A necessidade de tal problemati-zaccedilatildeo talvez natildeo seja tatildeo evidente noexemplo do Quakebot Afinal o coacutedigode Schwencke apenas o livrou do ldquotraba-lho sujordquo de redigir uma nota simples so-bre um terremoto algo banal para quematua em Los Angeles Mas a questatildeo jaacute eacutebem mais saliente quando o assunto eacutea atuaccedilatildeo dos algoritmos do FacebookO Facebook faz jornalismo quando oscoacutedigos por traacutes do News Feed esco-lhem as notiacutecias que as pessoas veemou deixam de ver Zuckerberg e seuscomandados dizem que natildeo Mas aindaeacute possiacutevel encarar o assunto de maneiratatildeo simplista Como considerar o coacutedi-go neutro quando ele atua como editor

Diante dessas questotildees natildeo se deveencarar como natural a aceitaccedilatildeo dosalgoritmos (e da tecnologia como umtodo) pelo jornalismo mas ter em vistaque os coacutedigos satildeo capazes de produzirefeitos natildeo previstos Porque parecenatildeo haver maacute-feacute quando empresas detecnologia dizem querer apenas melho-rar a experiecircncia para o usuaacuterio O quehaacute eacute uma incapacidade de compreensatildeo(ou negaccedilatildeo) de implicaccedilotildees inerentes aessa suposta melhora Por isso a neces-sidade de desvelar aspectos natildeo vi siacuteveisde determinadas tendecircncias

A perspectiva de Latour pode ser in-

teressante para pensar a relaccedilatildeo entjornalismo e tecnologia Nivelar o podde accedilatildeo de atores humanos e natildeo humnos possibilitaria se natildeo antever ao mnos estar mais atento agrave capacidade qalgoritmos tecircm de transcender sufunccedilotildees originais E assim manter os hmanos no controle princiacutepio fundametal para a sobrevivecircncia do caraacuteter hmanista do jornalismo (e da sociedade

Adotar uma postura como essa n

eacute um processo natural Exige que o jonalista vaacute ldquocontra os fatosrdquo como dicolega e professora Sylvia MoretzsohOu seja que o jornalismo desconstrfatos que muitas vezes jaacute vecircm carregdos de determinados vieses da sociedde Para isso permitam-me a exempdo texto da ediccedilatildeo anterior nuacutemero 9fazer referecircncia agrave jornalista Emily Be

Um ano atraacutes Bell fez um impotante discurso no Reuters Institute fJournalism em Londres Na sua faladiretora do Tow Center for Digital Jonalism da Universidade Columbia sulinhou a necessidade de o jornalismestreitar relaccedilotildees com a tecnologPara isso sugeriu trecircs esforccedilos crferramentas que coloquem software

serviccedilo do jornalismo e natildeo o contraacuterdiscutir regulaccedilatildeo e enfrentar monoplios e mudar a abordagem a assuntrelacionados agrave tecnologia minimizado a cobertura festiva ao estilo ldquofila iPhonerdquo e adotando uma postura macriacutetica procurando explicar esses nvos sistemas de poder ao mundo

Os trecircs aspectos sugeridos por Bchamam atenccedilatildeo para a necessidade o jornalismo abraccedilar a tecnologsem aceitaacute-la como algo fora de quetionamento Eacute imperativo estar atenagrave capacidade dos algoritmos de amplo rol de atores capazes de produzir jonalismo Ir contra os fatos se for preso para manter os coacutedigos a serviccedilo sociedade como o Quakebotde Ken SchwenckeAcesse o artigo (pago) em googlQL9M3B

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artigo

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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artigo

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

F E L I P E G I A S S O N L U C C A SPesquisador do Programa de Consumo e Produccedilatildeo Sustentaacuteveis do GVces

Quem tem medo da ACVComo e por que a Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida tem gerado receios ao levantarquantitativamente os impactos ambientais de produtos

Nem soacute de aplicativos praacuteti-cos e maquinaacuterios revolu-cionaacuterios vive a tecnologiamas tambeacutem de algo tatildeo

simples como o pensamento e a infor-maccedilatildeo que ajudam a desmistificar ldquofol-cloresrdquo e a esclarecer visotildees precon-cebidas sobre o real impacto de nossasatividades no meio ambiente

Conhecer as mateacuterias-primas ou leros roacutetulos atuais dificilmente levaraacute agrave

compreensatildeo dos impactos causados Eacuteaiacute que se deve utilizar o senso criacutetico alia-do a novos modelos de comunicaccedilatildeo etecnologias A Avaliaccedilatildeo de Ciclo de Vida(ACV) eacute uma ferramenta de mensuraccedilatildeode impactos ambientais que se propotildee aolhar muito aleacutem do que estamos acos-tumados provocando uma reflexatildeo an-terior agrave aquisiccedilatildeo do bem

Cada produto que se consome passapor diversas etapas desde a retirada doprimeiro material da natureza ateacute o mo-mento em que eacute destinado a um aterrosanitaacuterio ndash no melhor dos casos Ao longodesse processo vaacuterias intervenccedilotildees an-tropogecircnicas ocorrem Para isso temosde conhecer o produto saber do que eacute fei-to como eacute produzido que efluentes podegerar ao ser produzido qual o consumoenergeacutetico durante a utilizaccedilatildeo e quais assuas opccedilotildees de destinaccedilatildeo final

Esse processo todo sem que neces-sariamente seja objeto de uma anaacutelisenumeacuterica (por meio da ACV) eacute contem-plado pelo chamado ldquopensamento dociclo de vidardquo um exerciacutecio uacutetil par a a to-mada de decisotildees em busca de um me-nor impacto ambiental negativo

Todavia em situaccedilotildees mais com-plexas como grandes compras ou in-vestimentos eacute necessaacuterio que essesmpactos sejam mensurados de forma aquantificar o impacto ambiental de cadapequena parcela dentro do ciclo de vidados produtos

Nesse caso o pensamento do ciclode vida pode mostrar-se insuficiente

tornando-se necessaacuteria a elaboraccedilatildeo deuma ACV Com o uso atual de computa-dores toda essa modelagem e milharesde caacutelculos tornaram possiacutevel a obten-ccedilatildeo de um nuacutemero uacutenico dizendo qual oimpacto de um determinado produto

Com esse nuacutemero dentro das pre-missas do estudo teacutecnico eacute possiacutevelrealizar comparaccedilotildees objetivas entreprodutos semelhantes E como em todacomparaccedilatildeo algueacutem sairaacute perdendo

Ter por resultado um nuacutemero afir-mando categoricamente a superiorida-de de um produto dentro de suas premis-sas de anaacutelise gera muito desconfortoPrimeiramente por ter a capacidadede acabar com greenwashing quandoprodutos clamam virtudes ambientaisinfundadas

MITOS AMBIENTAISOutro desconforto eacute gerado por des-

mistificar os folclores ambientais utili-zados na tomada de decisatildeo que mui-tas vezes guia-se mais pela intuiccedilatildeo doque por meio de informaccedilotildees teacutecnicas eaprofundadas podendo gerar erros outrade-offs

Estudos de ACV podem nos trazerrespostas contraacuterias agraves ideias precon-cebidas Em estudo da Fundaccedilatildeo EspaccediloEco por exemplo concluiu-se que para

banhos quentes em trecircs dos quatro ce-naacuterios analisados um chuveiro eleacutetricoapresenta melhor ecoeficiecircncia do queseus equivalentes de energia solar oua gaacutes Os investidores em energia so-lar por medo de que o puacuteblico generali-ze esse caso especiacutefico abordado ndash umbanho quente durando oito minutos naRegiatildeo Metropolitana de Satildeo Paulo ndashtambeacutem podem entender que alterna-tivas eleacutetricas satildeo sempre superiores agrave

energia solar ou a gaacutesNa atual crise hiacutedrica vemos tam-

beacutem decisotildees baseadas nesse folcloreque por natildeo serem sempre teacutecnicasignoram trade-offs ao longo do ciclo devida Ao substituirmos copos de vidropor descartaacuteveis para reduzir o consu-mo de aacutegua nas lavagens ignoramosque haacute necessidade de aacutegua para se pro-duzir o copo de plaacutestico Aleacutem disso s eraacutegerado no seu final de vida mais res iacuteduosoacutelido ocupando mais espaccedilo em ater-ros Ao deixarmos de olhar para o ciclode vida dos produtos podemos realizarescolhas equivocadas ainda que acredi-temos estar no melhor caminho E essaanaacutelise tende a incomodar por exemploa cadeia do plaacutestico que poderia utilizara crise hiacutedrica como oportunidade

A ACV traz informaccedilotildees relevantespara a tomada de decisatildeo mas eacute impor-tante lembrar que os estudos apenassatildeo vaacutelidos dentro de determinadas pre-missas adotadas Fazer generalizaccedilotildeesdesses resultados para outros cenaacuteriospode criar um novo folclore ambiental egerar novos equiacutevocos

Portanto eacute importante que o exerciacute-cio do pensamento do ciclo de vida e senecessaacuteria a realizaccedilatildeo de uma Avalia-ccedilatildeo de Ciclo de Vida sejam incorporadosno cotidiano das tomadas de decisatildeoEssa evoluccedilatildeo criacutetica do conhecimento eacuteum passo fundamental para um consu-mo mais sustentaacutevel

Quando se prioriza uma escolha e em decorrecircncia disso geram-se consequecircncias negativas em outros aspectosSaiba mais em googlNdVODK

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anaacutelise

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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anaacutelise

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J O Atilde O M E I R E L L E S F I L H OEmpreendedor social e escritor dirige o Instituto Peabiru em Beleacutem ndash wwwpeabiruorgbr

Quem sabe do lugar eacute quem vive neleAfuaacute e outros municiacutepios da Amazocircnia ribeirinha padecem com os ineficientes resultados dedeacutecadas de poliacuteticas generalistas imaginadas em um distante gabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem

I magine os Brasis com alguns dospiores indicadores sociais Imagi-ne a maioria de seus moradoresvivendo em comunidades isola-

das nas quais crianccedilas passam horasremando em canoas para chegar agraves es-colas instaladas em palafitas precaacuteriasem que alunos de diferentes seacuteries com-partilham um mesmo professor e umamesma sala de aula sem paredes semlivros separadas da sala seguinte por

um mero quadro negro Agora imaginese houvesse poliacuteticas puacuteblicas abran-gentes capazes de alcanccedilar todas as lo-calidades com por exemplo doaccedilotildees deocircnibus escolares Fantaacutestico natildeo seria

Seria de fato transformador contarcom ocircnibus escolar se a doaccedilatildeo natildeo fos-se para um municiacutepio que natildeo tem umauacutenica rua ou estrada Trata-se de Afuaacuteno Marajoacute o maior arquipeacutelago fluvio-marinho do planeta nos deltas dos riosAmazonas e Tocantins Nessa cidaderibeirinha inteiramente sobre palafitase pontes as passarelas satildeo tatildeo estrei-tas que eacute proibido o traacutefego de veiacuteculosautomotores inclusive de motocicletasSe natildeo fossem traacutegicos os indicadoreseducacionais da regiatildeo seria cocircmica achegada de um ocircnibus escolar a Afuaacute

Afuaacute e outros municiacutepios da Amazocirc-nia ribeirinha padecem com os ineficien-tes resultados de deacutecadas de poliacuteticasgeneralistas imaginadas em um distantegabinete em Brasiacutelia ou Beleacutem Entre es-tes resultados estaacute o inchaccedilo dos gran-des centros urbanos a inadequaccedilatildeode indicadores superficiais para tratarquestotildees regionais e a marginalizaccedilatildeocrescente no acesso a poliacuteticas puacuteblicasndash que deveriam responder aos direitoscivis baacutesicos como aacutegua sauacutede educa-ccedilatildeo e seguranccedila

Por outro lado no mesmo Marajoacute nomuniciacutepio de Curralinho o fortalecimen-to da organizaccedilatildeo social requer poliacuteticaspuacuteblicas compatiacuteveis com seus anseiose necessidades A reaccedilatildeo local comeccedila

com exigecircncia de maior cuidado por par-te do IBGE e de outros oacutergatildeos de estatiacutes -tica pois a populaccedilatildeo natildeo aceita o indi-cador oficial de menor renda per capita entre os 5570 municiacutepios brasileiros

Pois nesse municiacutepio o persisten-te exerciacutecio de organizaccedilatildeo social das1500 famiacutelias de ribeirinhos do Rio Ca-naticu vem dando resultado Recente-mente esse grupo decidiu se organizarpara enfrentar a crescente escassez depescado Juntamente com a academia aColocircnia de Pesca a prefeitura e entida-des da sociedade civil como o Lupa Ma-rajoacute e o Instituto Peabiru realizaram oProjeto Marajoacute Viva Pesca patrocinadopela Petrobras e o governo federal

Parece simples mas chegar a acor-dos voluntaacuterios que satisfaccedilam 1500famiacutelias distribuiacutedas em 29 localidadese de forma participativa exige algumesforccedilo Assim ao longo de 24 mesese apoacutes 35 reuniotildees e respeitando-se ascaracteriacutesticas naturais culturais e eco-nocircmicas de cada uma das trecircs regiotildee s dorio ndash a cabeceira o Meacutedio Canaticu e o Bai-xo Canaticu ndash formaram-se oito polosque resultaram em acordos de pescapara todo o rio e afluentes E o Canaticu eacuteapenas um dos milhares de rios da Ama-

zocircnia que dificilmente seraacute localizadoem um mapa sem um esforccedilo E as 29localidades satildeo uma fraccedilatildeo diante das30 mil microlocalidades da Amazocircnia

A questatildeo central sobre as poliacuteticaspuacuteblicas eacute quem sabe do que o lugar pre-cisa eacute quem mora e vive nele Eacute possiacute velimaginar que mais de 4 milhotildees de pes-soas tecircm no pescado a sua seguranccedila ali-mentar na Amazocircnia ou que os milhotildeesde pescadores destes Brasis dos rios

litorais e oceanos possam receber por-tarias elucubradas por saacutetrapas que natildeodistinguem acaraacute de aracu Que pensaque acari e uacari satildeo a mesma coisa

E por que as escolas dos Brasis Ru-rais acostumadas ao peixe-com-fari-nha ao accedilaiacute ou a frutas e outras comidasprecisam refestelar as suas crianccedilascom salsicha em lata macarratildeo bola-cha e suco artificial como merenda Porque este mesmo peixe natildeo pode est ar namerenda escolar e manter-se na base daeconomia local

Os moradores do Rio Canaticu con-seguiram mais atraiacuteram projetos cul-turais econocircmicos centros de inclusatildeodigital quadras esportivas iluminadascom energia solar foram mateacuteria daimprensa de Satildeo Paulo Alemanha e suadeterminaccedilatildeo de verticalizar a produ-ccedilatildeo do accedilaiacute resultou na criaccedilatildeo da Coo-perativa de Ribeirinhos ExtrativistasAgroindustrial do Marajoacute ndash Sementes doMarajoacute cujo desafio atual eacute mobilizar re-cursos e parcerias para uma faacutebrica deprocessamento de polpa de frutos

Mais que ocircnibus escolares distri-buiacutedos como cartelas de bingo os Bra-sis querem ter participaccedilatildeo de formademocraacutetica nas poliacuteticas puacuteblicasque afetam diretamente as suas vidasespecialmente aquelas relacionadas adireitos cidadatildeos Colaboraram Manoel

Potiguar e Tiago Chaves respectivamente

pesquisador e jornalista do Instituto Peabiru

Acaraacute aracu e acari satildeo espeacutecies de peixe e o uacari eacute uma espeacutecie de macaco

brasil adentroS Eacute R G I O A D E O D A T OJornalista

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Memoacuterias do caacutercereSem chuvas a rota dos accediludes nordestinos traz agrave tona as lembranccedilas dos ldquocurrais da secardquo

Haacute exatos 100 anos o sertatildeodo Cearaacute foi palco de um epi-soacutedio da Histoacuteria do Brasilque muitos preferem esque-

cer Laacute foram construiacutedos ldquocampos deconcentraccedilatildeordquo com o intuito de confinarflagelados e assim evitar a migraccedilatildeo dapobreza e doenccedilas para as capitais Nomuniciacutepio de Senador Pompeu no Cearaacuteonde funcionou um dos maiores ldquocurraisda secardquo vestiacutegios da antiga casa de poacutel-vora da cadeia do hospital e da farmaacuteciaresistem ao tempo ao lado dos trilhos e

da velha estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde chega-vam as doaccedilotildees para os sertanejos

A paisagem aacuterida expotildee o que so-brou dos casarotildees onde impiedososvigilantes pegavam a melhor parte dacarne e davam os ossos aos retirantestratados como prisioneiros Com cabe-ccedila raspada e vestes de saco e estopahomens mulheres e crianccedilas dormiamao relento estavam proibidos de sair agravesruas para pedir esmola e muito s que natildeoresistiam e morriam eram jogados emvalas comuns porque natildeo havia espaccedilono cemiteacuterio

Na seca de 1932 tatildeo severa quantoa de 1915 o local chegou a receber 3 milflagelados A uacuteltima sobrevivente LuizaLo falecida haacute cinco anos contava ldquoNamadrugada ouviacuteamos um barulho gran-de de choro e cantorias de lamento pelamorte de velhos e crianccedilasrdquo

Atualmente todos os anos no Diade Finados a populaccedilatildeo da cidade fazromaria em memoacuteria das pessoas quemorreram por falta de comida e aacuteguanaquele caacutercere A estrutura foi erguidaoriginalmente para abrigar os engenhei-ros ingleses e os operaacuterios que iriamconstruir o Accedilude Patu ndash uma obra queparou por falta de verba e acabou con-cluiacuteda deacutecadas depois

Hoje o accedilude fornece aacutegua para amaior parte da cidade mas em agostoregistrava apenas 116 da capacidadeDe litro em litro reacende-se na memoacute-ria o velho estigma que marcou a his-toacuteria nordestina apesar de agora com

os avanccedilos sociais ao longo das uacuteltimasdeacutecadas pouca gente morrer de fome esede Na zona rural o sertanejo convi-ve com a aridez por meio das cisternasque guardam aacutegua da chuva para bebere cozinhar mas natildeo satildeo suficientes paraa manutenccedilatildeo da roccedila e dos animais decriaccedilatildeo Assim os grandes reservatoacute-rios continuam sendo a salvaccedilatildeo tam-beacutem para o abastecimento das cidadesque inflam devido ao ecircxodo do campo

Mas a seca expotildee a fragilidade dagestatildeo hiacutedrica Em agosto 26 accediludesdo Cearaacute jaacute estavam completamentesecos de acordo com dados da AgecircnciaNacional de Aacuteguas (ANA)

Ao longo de um seacuteculo foram cons-truiacutedos quase 400 reservatoacuterios degrande porte no Nordeste Tamanha es-trutura somada aos accediludes menorespode acumular 30 bilhotildees de metroscuacutebicos o equivalente ao consumo hiacute-drico do municiacutepio de Satildeo Paulo durante50 anos Na praacutetica o be nefiacutecio eacute menorporque nem sempre a aacutegua chega a quemprecisa por defeito do bombeamento oufalta de adutoras para distribuiccedilatildeo

O Brasil tem o maior programa deaccediludagem do mundo ndash no passado ob-jeto de uso poliacutetico pela chamada ldquoin-duacutestria da secardquo O reservatoacuterio maisantigo o Accedilude do Cedro em Quixadaacute(CE) foi construiacutedo por ordem de dom

Pedro II apoacutes a calamidade da seca etre 1877 e 1879 Em agosto seu volumestava reduzido a 15 da capacidadeque mudou a paisagem ao peacute da PedraGalinha cartatildeo-postal da cidade Do ada cordilheira famosa pelas histoacuteriasassombraccedilatildeo praticantes de asa-desaltam em sobrevoo pelo sertatildeo ateacutedivisa do Cearaacute com o Piauiacute

O Rio Jaguaribe com 633 quilocircmtros compotildee a principal rota dos accediludcearenses Em Oroacutes (CE) chaacutecarasmansotildees na beira da aacutegua indicam sta

e poder Longe dali moradores pobrtecircm na parede um pocircster do Padre cero e outro do cantor Fagner filho terra e dono de uma ilha no accedilude Madiante no Jaguaribe localiza-se o gigate Castanhatildeo o maior accedilude do Braduas vezes e meia o tamanho da Baiacutea Guanabara

Ao custo de R$ 600 milhotildees o servatoacuterio foi projetado para abastecprioritariamente induacutestrias e populaccedilda Regiatildeo Metropolitana de Fortalepor meio dos 55 quilocircmetros do CanalIntegraccedilatildeo O local tornou-se um vigroso polo de piscicultura que atrai stanejos antes dependentes da roccedila Ma aacutegua na atual se ca reduzida a 178volume total eacute vigiada por seguranccedilarmados e natildeo chega a comunidades rais ateacute hoje condenadas agrave pobreza

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

8162019 P22 Edicao 98 Tecnologia

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

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logia de Massachusetts (MIT) em entrevistapor telefone agrave PAacuteGINA22 ldquoEacute isso que define seo impacto de uma tecnologia vai ser negativoou positivo se reduz ou amplia nosso espec-tro de opccedilotildees p ara agir e c riarrdquo completa

Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

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FGV-SP O desafio proposto

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envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

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SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

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Em seu laboratoacuterio do MIT Scharmere sua equipe desenvolvem teacutecnicas de em-preendedorismo social voltadas para a cria-ccedilatildeo de uma tecnologia que natildeo se constituiem aparelhos dispositivos e engenhocasmas na definiccedilatildeo do economista ldquoeacute umacaixa de ferramentas metodoloacutegica que per-

mite aos grupos ampliar sua capacidade decolaborar e cri ar em conjuntordquo

CONSCIEcircNCIA PLENASeria um engano associar diretamente a

tecnologia a um vasto maquinaacuterio tambeacutemsatildeo do campo da teacutecnica os exerciacutecios as dis-ciplinas as instituiccedilotildees Uma das recomen-daccedilotildees de Scharmer consiste em exerciacuteciosdiaacuterios de mindfulness (consciecircncia plena)ldquocapazes de alterar a estrutura epigeneacuteticado ceacuterebrordquo Satildeo exerciacutecios que exigem silecircn-cio e trabalham a concentraccedilatildeo agrave maneira dameditaccedilatildeo oriental e de diversas formas deoraccedilatildeo do misticismo ocidental ldquoCada cul-tura criou sua variante da mindfulnessrdquo dizScharmer ldquoEacute uma ferramenta para cultivar oindiviacuteduo e sua condiccedilatildeo interior que eacute usadaem diversas aacutereas como sauacutede educaccedilatildeo enas empresasrdquo

A passagem desses exerciacutecios individuaispara algo semelhante no plano coletivo eacutesegundo Scharmer ldquoo ponto central de toda[sua] pesquisardquo ldquoEacute nesse niacutevel que desenvol-vemos tecnologias sociais Satildeo jornadas deaprendizado buscando olhar para o sistemaem que estamos inseridos pelos olhos de ou-tra pess oa envolvidardquo afirm a ldquoSatildeo praacuteticasde construir sentidos para encontrar novasformas de visualizar as dinacircmicas mais pro-fundas de uma situaccedilatildeordquo

Mesmo aceitando que todas as teacutecnicasmodificam o modo como o humano estaacute nomundo resta a pergunta sobre as tecnologias

modernas elas introduzem um novo pata-mar de transformaccedilatildeo dos corpos ceacuterebros esociedades As miacutedias digitais por exemplotecircm um poder transformador mais profundoque a prensa de Gutenberg (1398-1468) o raacute-dio ou a televisatildeo

A neurocientista britacircnica Susan Green-field autora do livro Mind Change (MudanccedilaMental em traduccedilatildeo livre) acredita que simAutores da primeira metade do seacuteculo XXcomo Walter Benjamin e Theodor Adorno dis-cutem o viacutenculo entre governos autoritaacuterios

do periacuteodo e a disseminaccedilatildeo dos aparelhos deraacutedio nas casas facilitando a difusatildeo de men-sagens poliacuteticas superficiais e simplistas

O historiador da miacutedia Jean-Noeumll Jean-neney atribui as agitaccedilotildees poliacuteticas que con-duziram agrave Revoluccedilatildeo Francesa em parte aobarateamento das prensas permitindo ainuacutemeros grupos poliacuteticos publicar panfletoscontra o Antigo Regime Marshall McLuhanvecirc na perda do Egito origem dos papiros usa-dos pela administraccedilatildeo puacuteblica uma das cau-sas da derrocada do Impeacuterio Romano

TELAS E MENTESNenhum desses autores menciona mu-

danccedilas na estrutura do ceacuterebro ndash eles natildeodispunham das ferramentas necessaacuteriasMas Greenfield diz que certamente essasmudanccedilas ocorreram ldquoUma das coisas maisfascinantes sobre o ceacuterebro eacute sua extremaplasticidade Ele se adapta a tudo e muito ra-pidamente o que o torna ao mesmo tempo tatildeopoderos o e tatildeo fraacutegilrdquo afirma a cienti sta

Ainda assim as miacutedias dig itais envolvemuma transformaccedilatildeo mais radical pela pri-meira vez a vida como um todo eacute modificadapelos aparelhos que as crianccedilas usam desdepequenas e que passamos o dia todo manu-seando Os modos de interaccedilatildeo se transfor-mam bem como os tipos de relacionamentoas atividades cotidianas a formaccedilatildeo da me-moacuteria e das ideias

Na imprensa britacircnica Greenfield eacute re-presentada como uma ldquodisseminadora demedordquo por sua pesqui sa sobre a asso ciaccedilatildeoentre o uso continuado de tecnologias digi-

Para neurocientista miacutedias digitais tiveram maior

Acesse em presencingcom

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

Criptomoedasatildeo unidadesde coacutedigo queverificadas pora rede para eviduplo pagamene transacionadpor softwaresespeciacuteficos secomo meios depagamento entinternautas quanocircnimos

tais e formas leves de autismo Greenfieldresponde que sua intenccedilatildeo natildeo eacute amedrontarmas lanccedilar o alerta sobretudo para se con-trapor ao otimismo tecnoloacutegico excessivoEla compara seus esforccedilos aos primeiros ati-vistas da ecologia nos anos 1970

No Brasil o estudo dos efeitos da tecnolo-gia sobre o comportamento tem sido condu-zido por entidades como o Grupo de Estudossobre Adiccedilotildees Tecnoloacutegicas Segundo o psi-quiatra Daniel Spritzer membro do grupo adependecircncia de tecnologias eacute um fenocircmeno

parecido com outras formas de viacutec io como oaacutelcool e os jogos de azar

Uma particularidade interessante eacute queno caso da tecnologia natildeo eacute possiacutevel tratar oproblema com a abstinecircncia absoluta ldquoNatildeosoacute eacute impossiacutevel hoje deixar algueacutem comple-tamente sem usar tecnologia isso pode ateacuteser pior p ara o pac ienterdquo afir ma

Para aleacutem da dependecircncia Spritzer citafenocircmenos como ocyberbullying e a exposiccedilatildeode menores a sites pornograacuteficos como exem-plos do descompasso entre as possibilidadesda tecnologia e o controle que temos sobreela Afinal o bullying ldquotradicionalrdquo aconteceentre pessoas que se conhecem e exige umapresenccedila fiacutesica na internet algueacutem pode serperseguido por pessoas do mundo todo e ano-nimamente ldquoE nem adianta mudar de escolaou de ci daderdquo acre scenta

Jaacute o acesso faacutecil agrave pornografia diz Spritzerldquoacaba influenciando o jeito como as pessoasse relacionam afetivamente tendo relacio-namentos mais superficiais e estereotipa-dos baseados na repeticcedilatildeo de modelosrdquo Maso psiquiatra assinala tambeacutem que o proble-ma natildeo estaacute soacute na internet e eacute potencializadoem um paiacutes como o Brasil com deficiecircnciasno ensino na proteccedilatildeo social e na seguranccedilapuacuteblica ldquoNatildeo daacute para sugerir que algueacutem saiada rede social e vaacute brincar na rua Quem podebrinca r na rua hoje em diardquo lamenta

HORIZONTALIDADE E PODERSe os alertas contra efeitos nefastos das

tecnologias agraves vezes soam apocaliacutepticos adescriccedilatildeo de seus potenciais tem um toqueutoacutepico Segundo o administrador GabrielAleixo do Instituto de Tecnologia amp Socie-dade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) o universoda cultura digital envolve um var iado movi-mento de horizontalizaccedilatildeo das estruturas deaccedilatildeo e comando Mas diante desse empuxoemancipatoacuterio ergue-se a contra-tendecircnciada captura por governos (como no caso da es-pionagem exposta por Edward Snowden) ecorporaccedilotildees como as que formam o acroacutestico

GAFA Google Apple Facebook AmazonOtimista Aleixo crava a horizontalidadevenceraacute ainda que tarde

Aleixo eacute pesquisador da bitcoin a mais co-nhecida das criptomoedas cuja pedra detoque eacute a automatizaccedilatildeo do processo de c ria-ccedilatildeo monetaacuteria tornando-a independentetanto dos governos quanto do sistema finan-ceiro Essa caracteriacutestica anti-establishment atrai usuaacuterios heterogecircneos dos chamadosanarcocapitalistas ateacute a esquerda radical

ldquoEssas pessoas concordam que tem algoerrado O poder de emissatildeo do dinheiro estaacutemuito concentr adordquo diz A leixo ldquoO designdes-sas tecnologias dificulta o controle centralElas satildeo distribuiacutedas Mas a disputa entre opotencial emancipatoacuterio e o esforccedilo de con-trole das forccedilas hegemocircnicas eacute constante Eacuteum grande pecircndulordquo

Haacute outras tentativas de horizontalizar aeconomia e a poliacutetica atraveacutes das tecnologiasdigitais A recente disputa entre taxistas emotoristas do aplicativo Uber em vaacuterias ci-dades do mundo eacute um exemplo Ainda assimo Uber e aplicativos semelhantes satildeo critica-dos por substituiacuterem uma forma de controlehieraacuterquico por outra trata-se de uma em-presa que lucra com o trabalho dos motoris-tas sem que eles tenham garantias em casode acidente ou doenccedila ldquoNo final o que vaiprevalecer eacute algo ainda mais descentralizadoque o Uber como por exemplo o LarsquoZooz deIsraelrdquo estim a Alei xo

Para levar a c abo o potencial emancipatoacute-rio dos dispositivos teacutecnicos modernos seraacutepreciso entender como funcionam e o queVeja em dependenciadetecnologiaorg

poder transformador que prensa raacutedio ou tevecirc

O diferencialLaZooz eacute o usode tecnologias

peer-to-peer qindependem deuma organizaccedilcentralizada ceacute a empresa qucontrola o UberMais em lazooz

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

Smart cities signam onciacutepio de aplicar

cnologias daormaccedilatildeo ao

mbiente urbano recolher

andes volumesdados sobreuncionamentouma cidade

possiacutevelministraacute-la comais eficiecircncia

Na teacutecnica residem o perigo e a salvaccedilatildeo

O que eacute o jogode xadrez para

o computador Umasequecircncia de coacutedigo e de

comandos E para o humano

Um exerciacutecio um passatempoA receita para o computador eacuteuma combinaccedilatildeo de qualidades

quiacutemicas Para o humano eacuteum objeto cultural e um

prazer

PAacuteG INA22 SETOUT 2015

SOCIEDADE

P AacuteG I NA22 SE TOUT 201 5

ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

Para reunir toda essa trajetoacuteria a BMampFBovespa e o GVces lanccedilaram em agosto mais umproduto comemorativo dos 10 anos do ISE a Wiki Linha do Tempo uma plataforma on-line que

relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

10anosisebvmfcombr

Y A N T R A G V C E S

POR UM NOVO MODELO

DE EDUCACcedilAtildeO

Neste semestre comeccedilam

as aulas da deacutecima primeira

turma da disciplina eletiva

Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

as atividades da turma em

eletivafiscombr

SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

disponiacutevel em

bitlySCEEPC2014

Empresas apresentaminventaacuterios de emissotildeesEmpresas apresentaminventaacuterios de emissotildees

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

mas essencialmente humano Saiba mais na paacutegina da Platen Press Print Shop no Facebook ndash por Amaacutelia Safatle

UacuteLTIMA Impressatildeo tipograacutefica

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pode ser feito com eles O e xemplo de Aleixoeacute o aplicativo Waze que torna o tracircnsito maiseficiente porque os usuaacuterios compartilhamos dados sobre o fluxo da cidade graccedilas aoserviccedilo de geolocalizaccedilatildeo

Mas a dependecircncia de dispositivos tecno-loacutegicos como este exemplar daquilo que eacuteconhecido como smart cities tam-beacutem cria fragilidades um hac-ker que manipule o sistema doWaze pode causar um engarra-famento gigantesco ldquoNatildeo se

trata de ter um aplicativo des-ses funcionando mas vaacuteriosIsso tambeacutem eacute horizontalidadee torna o s istema m enos fraacuteg ilrdquodiz o pesquisador

ARTE E GESTOOs algoritmos que comandam o mundo

digital ndash e a sociedade digitalizada ndash satildeo cri-ticados tambeacutem por ser um modo de deter-minaccedilatildeo de atividades e escolhas que antescabiam ao humano (mais em Farol agrave paacuteg 39)

Na filosofia da teacutecnica de Gilbert Simon-don autor de Du Mode DrsquoExistence des ObjetsTechniques (Do Modo de Existecircncia dos Ob- jetos Teacutecnicos a ser publicado no Brasil esteano) um ponto de ancoragem da humanidadecom sua atividade teacutecnica eacute a radical indeter-minaccedilatildeo da vida humana A criaccedilatildeo de objetosteacutecnicos introduz mediaccedilotildees que organizampontualmente a atividade das pessoas En-tendida assim a teacutecnica eacute maleaacutevel e evoluide acordo com as possibilidades que o huma-no vai criando para si proacuteprio

Mas o que acontece quando a tecnologia eacuteusada para estreitar essa mesma indetermi-naccedilatildeo Essa pergunta eacute aberta por fenocircmenoscomo o do algoritmo usado pelo Facebook oupelo Spotify para escolher o que seraacute mostradona linha do tempo de cada usuaacuteri o Baseado emcomportamentos passados esses algoritmossupotildeem o que agradaraacute ao usuaacuterio daiacute por dian-te ldquoReceber informaccedilotildees que desmentem oque acreditamos eacute indispensaacutevel para qualquerforma de cri atividaderdquo diz Scharmer ldquoE eacute issoque natildeo estaacute acontecendordquo

A ambiguidade da tecnologia apare-ce tambeacutem no exemplo citado por Aleixodo robocirc que serve chope com perfeiccedilatildeo ndash aogosto do cliente O robocirc pode ser visto comomaacutequina que tira o emprego de algueacutem oudispositivo que liberta uma pessoa do traba-lho mal pago e cansativo

Haacute ainda outra maneira de enca-rar a novidade servir um copo de

cerveja natildeo eacute soacute um ato mecacirc-nico mas um gesto fiacutesico e fi-sioloacutegico uma teacutecnica com um

componente de arte com efeitoa palavra teacutecnica em sua ori-

gem grega estaacute vinculada agrave artecomo sublinha Scharmer Abdi-

cando de inscrever no proacuteprio corpoa arte e a teacutec nica de um gesto o humano

corre o risco de tornar-se o apecircndice do robocircque deveria ser seu ajudante

Um exemplo mais claro estaacute em algorit-mos que compotildeem muacutesica jogam xadrez einventam receitas A muacutesica estrutura emque ressoam campos harmocircnicos matema-ticamente calculaacuteveis eacute tambeacutem heranccedila deum povo ou criaccedilatildeo de um artista genial Emcada equaccedilatildeo dessas um dos lados nunca eacuteredutiacutevel ao outro

A tecnologia exige humildade diz o pen-sador francecircs Paul Virilio Esse eacute o sentidode sua afirmaccedilatildeo segundo a qual inventar onavio eacute tambeacutem inventar o naufraacutegio Natildeo setrata de condenar o navio porque ele trou-xe consigo o naufraacutegio mas de evitar a in-genuidade oposta de ver nessas invenccedilotildees apanaceia que a humanidade esperava paraser livre e feliz

Assim se a teacutecnica da era industrial in-cluindo tecnologias sociais como o modernosistema financeiro tem grande responsabi-lidade pelo desastre climaacutetico em curso natildeose pode esquecer que o combate ao aqueci-mento global tambeacutem deve levar em consi-deraccedilatildeo a mesma faculdade inventiva e cria-tiva ndash em suma teacutecnica ndash que estaacute no cerne dahumanidade A esse respeito Scharmer cita opoeta Houmllderlin que diz ldquoAli onde estaacute o pe-rigo tambeacutem estaacute a sa lvaccedilatildeordquo

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prazer

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SOCIEDADE

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ANTENA

As empresas satildeo parte da soluccedilatildeo paraconter a crise climaacutetica Esta eacute a con-clusatildeo apresentada pelo Programa

Brasileiro GHG Protocol em seu evento anualrealizado em 11 de agosto no Teatro Vivo emSatildeo Paulo ldquoMuitos liacutederes empresariais en-tendem que se quiser sucesso nos negoacutecioshoje eacute preciso ter a perspectiva da mudanccedilaclimaacutetica em sua estrateacutegia global na gestatildeoda sua cadeia de valor e de riscordquo afirma Pree-ti Srivatav diretora de estrateacutegia da coalizatildeoempresarial We Mean Business

Os resultados dos membros do programaem 2014 refletem esse engajamento cres-cente das empresas brasileiras no esforccedilo demensurar relatar e verificar suas emissotildees degases de efeito estufa (GEE)

Neste ciclo 313 inventaacuterios foram publica-dos um aumento de 15 se compa rado com onuacutemero de inventaacuterios divulgados no ano pas-sado pelo GHG Protocol Desde sua criaccedilatildeo em2008 o nuacutemero de membros saltou 492 de27 para 133 organizaccedilotildees das quais fazem

SINTONIZANDO

por Bruno Toledo

parte empresas instituiccedilotildees financeiras ins-tituiccedilotildees de ensino e poder puacuteblico

Entre os principais nuacutemeros apresentadosdestaca-se o conjunto das emissotildees diretasdas organizaccedilotildees-membro do programa em2014 mais de 71 milhotildees de toneladas de dioacute-xido de carbono equivalente (tCO2eq) que re-presentam 7 das emissotildees nacionais (combase nos dados do Sistema de Estimativa deEmissotildees de Gases de Efeito Estufa (SEEG) doObservatoacuterio do Clima)

ldquoConsiderando o nuacutemero de organizaccedilotildeesque estatildeo no programa e sua representativida-de no quadro nacional de emissotildees podemosver que esse grupo de empresas eacute expressivoe tem potencial para mudar o cenaacuterio das emis-sotildees nacionaisrdquo diz George Magalhatildees coor-denador do Programa Brasileiro GHG Protocol

Os inventaacuterios estatildeo disponiacuteveis no Regis-tro Puacuteblico de Emissotildees (bitlyGHG-RPE)

Mais destaques do Evento Anual podem serconferidos no site do Programa Brasileiro GHGProtocol (bitlyGHG-Br)

Linha do tempo relembra 10 anos do ISEEm uma deacutecada de existecircncia o Iacutendice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) acumulou mui-

ta histoacuteria para contar fatos aprendizados desafios e sucessos na promoccedilatildeo dos temas dasustentabilidade juntamente com as empresas brasileiras

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relembra os principais marcos e destaques da primeira deacutecada de atividades do ISEA linha tambeacutem estaacute aberta para sugestotildees e contribuiccedilotildees do puacuteblico Saiba mais em

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POR UM NOVO MODELO

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Neste semestre comeccedilam

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Formaccedilatildeo Integrada para

a Sustentabilidade (FIS)

oferecida pelo GVces aos

alunos da graduaccedilatildeo da

FGV-SP O desafio proposto

aos alunos eacute o de promover

vivecircncias que mobilizem

convidem e inspirem os

envolvidos com educaccedilatildeo

superior a explorar a

aplicaccedilatildeo de novos modelosprinciacutepios e perspectivas de

formaccedilatildeo para escolas de

administraccedilatildeo Acompanhe

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SISTEMA DE COMEacuteRCIO

DE EMISSOtildeES

A Plataforma Empresas

pelo Clima (EPC) apresentou

em agosto um relatoacuterio que

sistematiza os desafios

resultados e anaacutelises aleacutem

de trazer um balanccedilo do

primeiro ciclo operacional

(marccedilo-novembro2014)

do Sistema de Comeacutercio

de Emissotildees Trata-se de

uma iniciativa pela qual

as empresas brasileiras

podem experimentar um

instrumento de mercado

para precificaccedilatildeo de carbon

adaptado agraves condiccedilotildees

nacionais O relatoacuterio estaacute

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

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O coraccedilatildeo do homem de lataA vizinhanccedila deve ter desacreditado quando viu chegar de caminhatildeo uma monto eira de ferro que mais parecia sucata que es tavamesmo fadada ao ferro-vel ho natildeo fosse a iniciativa de umdesigner graacutefico Sim o editor de arte que monta estas paacuteginas em umMacintosh diversif icou a clientela abre em outubro uma tipograacutefica ao melhor estilo Gutenberg Marco Canccedilado foi encontrar emvelhos galpotildees e com famiacutelias que trabalhavam no ramo esses que satildeo belos espeacutecimes da tipografia datados entre 1930 e 1970Buscou especialistas como esse senhor grisalho que ainda guarda o segredo das maacutequinas e ajudou a reformaacute-las

Canccedilado iniciou a carreira como ilustrador mexendo com papeacuteis e colagens mas ultimamente via no trabalho digital umarotina automaacutetica Daiacute o desejo de retomar o lado sensorial da arte graacutefica Na sua nova ativid ade comeccedila por movimentar o cor-po a linotipia e suas engrenagens parr udas exigem muacutesculo e grax a Despertam o olfato e o tato ao explorar ti ntas e texturas Odesigner explica que daacute para inovar em cima do passado desenvo lvendo novos papeacuteis e tintas sem abdicar do digital As maacutequinasmprimem em espessuras diversas em metais e em madeira e de um jeito uacutenico ateacute porque nascem do gesto humano Teacutecnico

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