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.227 COM CLIMA ÁRIDO E PAISAGENS EXUBERANTES, ANDALUZIA DESPONTA COMO A PRODUTORA DOS MAIS PREMIADOS AZEITES DO MUNDO E INVESTE NO OLEOTURISMO texto e fotos: Arnaldo Comin, de Jaén, Córdoba e Almeria (Espanha) OURO DO DESERTO impossível ficar indiferen- te ao mar de oliveiras que se espalha por todos os la- dos até onde a vista alcan- ça. Dos arredores de Cór- doba e Granada, as duas joias da antiga Al-Andalus dos árabes, nas praças dos pequenos pueblos, quintais, acostamentos, morros e encostas, a árvore símbolo do Mediterrâneo ocupa cada cen- tímetro da Andaluzia. No Brasil, tamanha onipresença só tem paralelo com a vasti- dão dos campos de soja do Mato Grosso. Segunda Comunidade Autônoma mais extensa da Espanha, depois de Castela e Leão, a Andaluzia é a maior produtora e exportadora de azeite de oliva do planeta, respondendo por 80% de toda indústria espanhola. No epicentro deste enorme oli- val está a próspera província de Jaén, com mais 60 milhões de oliveiras plantadas, nada menos que 520 árvores para cada um de seus 115 mil habitantes. Quantidade, porém, nem sempre foi sinôni- mo de qualidade. Historicamente, o azeite espanhol – e Andaluz, portanto – sofreu com a pecha de produto inferior, fruto de uma indústria de volume. Grandes cooperativas se acostumaram a iniciar a colheita no auge do inverno, em dezembro e janeiro, quando É

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Com Clima árido E paisagEns ExubErantEs, andaluzia

dEsponta Como a produtora dos mais prEmiados azEitEs

do mundo E invEstE no olEoturismo

texto e fotos: Arnaldo Comin, de Jaén, Córdoba e Almeria (Espanha)

OurO dO desertO

impossível ficar indiferen-te ao mar de oliveiras que se espalha por todos os la-dos até onde a vista alcan-ça. Dos arredores de Cór-doba e Granada, as duas

joias da antiga Al-Andalus dos árabes, nas praças dos pequenos pueblos, quintais, acostamentos, morros e encostas, a árvore símbolo do Mediterrâneo ocupa cada cen-tímetro da Andaluzia. No Brasil, tamanha onipresença só tem paralelo com a vasti-dão dos campos de soja do Mato Grosso.Segunda Comunidade Autônoma mais extensa da Espanha, depois de Castela e

Leão, a Andaluzia é a maior produtora e exportadora de azeite de oliva do planeta, respondendo por 80% de toda indústria espanhola. No epicentro deste enorme oli-val está a próspera província de Jaén, com mais 60 milhões de oliveiras plantadas, nada menos que 520 árvores para cada um de seus 115 mil habitantes.Quantidade, porém, nem sempre foi sinôni-mo de qualidade. Historicamente, o azeite espanhol – e Andaluz, portanto – sofreu com a pecha de produto inferior, fruto de uma indústria de volume. Grandes cooperativas se acostumaram a iniciar a colheita no auge do inverno, em dezembro e janeiro, quando

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texto e fotos: Arnaldo Comin, de Jaén, Córdoba e Almeria (Espanha)

Andaluzia: comunidade responde por 80% da produção de azeite de toda a Espanha

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experiências

as azeitonas já estão muito maduras, resul-tando em azeites de pouco sabor e, muitas vezes, com defeitos que os impedem de ser classificados como extravirgem, rebaixados a categorias inferiores, como virgem ou sendo diretamente refinados. Ainda hoje, a maior parte das exportações espanholas é feita a granel e absorvida por seus grandes rivais no mercado internacio-nal, os italianos. Assim como faz com o café brasileiro, a Itália se aperfeiçoou em adqui-rir commodities a bom preço e valorizá-las com boas estratégias de marca e postura comercial agressiva. Se os portugueses do-minam o mercado brasileiro de azeites, os italianos são referência absoluta na maior clientela do planeta, os Estados Unidos. Mas este jogo está prestes a mudar.

Mais preMiadOs

“Somente há dez anos nós começamos a vi-venciar uma mudança importante nos pro-cessos de produção e criação de marcas de excelência mundial. O resultado é que a Es-panha hoje ocupa uma posição de liderança nas principais premiações internacionais”, explica Brígida Jimenez, diretora do centro de pesquisas agronômicas Ifapa, em Cabra (Córdoba), considerada uma das maiores especialistas em olivicultura da Espanha e jurada frequente nos concursos mais im-portantes de azeite do mundo. Os prêmios falam por si. Na safra 2015/16, nove azeites espanhóis entraram na lista 10 Best Olive Oils, que reúne a pontuação de todas as grandes premiações interna-cionais. Só sobrou espaço para um italia-no. Em abril deste ano, o celebrado Festi-val de Nova York deus seis títulos Best in Class e 83 medalhas de ouro para rótulos da Espanha, que dominou a competição de ponta a ponta.Em comum, as marcas mais celebradas da Espanha são feitas bem no começo da colheita, em meados de outubro, quando o rendimento para o produtor cai pela meta-de, mas gera azeites de grande intensidade e complexidade de sabor, com aromas fru-tados muito marcantes, aroma e picor que fazem a sensação entre chefs de cozinha e a comunidade de apreciadores, tão apaixo-nada quanto no mundo do vinho. A variedade mais plantada na Andaluzia é a picual, que corresponde a 50% do total e apresenta azeites de cor verde intensa e picantes. Mas há espaço também para a hojiblanca, com seus azeites de frutado marcante e sabor complexo, que fazem su-cesso nos concursos internacionais. Por último está a sempre presente Arbequina, mais suave e com frutado agradável, co-

OurO dO desertO

olival do azeite Espírito santo:

produção 100% orgânica

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nhecida como a oliveira do Novo Mundo e muito apreciada pelos produtores brasi-leiros. Além do trio, há dezenas de micro-variedades regionais que compõem o com-plexo mundo do azeite, com mais de 1200 tipos de azeitonas.

desertO OrgânicO

A província de Almeria, no extremo oes-te da Andaluzia, reside no imaginário dos apaixonados por westerns dos anos 60. Conhecida como o “Deserto da Europa”, a região ficou famosa como locação de spa-ghetti italianos e diversos filmes de ficção

científica. Sua paisagem árida foi palco das filmagens do clássico “Era uma vez no oes-te”, de Sergio Leone, e no primeiro “Guer-ra nas Estrelas” de George Lucas. Não por acaso é comum encontrar nas pequenas ci-dades ranchos temáticos de faroeste para turistas que desejam se sentir em um pe-dacinho de Hollywood. Terra de contrastes – no caminho de carro o visitante passa pela deslumbrante Sierra Nevada, com seus picos brancos em plena planície de vegetação seca – a Almeria ofe-rece algo a mais que cenário de cinema: as condições ideais para a produção de azei-

Priego de Córdoba: na pequena cidade

são feitos alguns dos azeites mais

premiados do mundo

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tes espetaculares. “O clima por aqui é tão seco que não temos a incidência de pragas como em outras regiões da Espanha e da Itália. Por isso, decidimos que desde o iní-cio da nossa produção, em 1999, faríamos azeites orgânicos”, explica Rafael Alon-so Barrau, produtor de Oro Del Desierto, eleito como o melhor orgânico do mundo na safra 2015. A marca já passa dos 180 prêmios internacionais, tendo arrematado mais alguns este ano na Espanha, Itália, Grécia e Estados Unidos.Depois de conquistar grandes prêmios, as marcas espanholas de ponta estão apos-

tando alto no mercado orgânico, cuja de-manda cresce exponencialmente em países escandinavos e na Alemanha, assim como nos EUA e Canadá. Além da importância como marketing, os azeites ecológicos ou biológicos, como são conhecidos na Eu-ropa, tem preço 20% maior em relação ao convencional, no mínimo. Alguns produtores estão indo além com o desenvolvimento de biodinâmicos, um conceito complexo de agricultura que en-volve a integração do meio ambiente do entorno, desde plantas a animais, passan-do pelos ciclos da lua e técnicas tradicio-

prensa e moinhos de pedra se tornaram peça

de museu na almeria

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Venta Del Barón*Ptos. Flos Olei: 97Há três anos eleito o Melhor Azeite do MundoOrigem: DOP Priego de Córdoba (Córdoba)Variedades: Hojiblanca e PicudoSabor: Frutado IntensoPróximo à cidade histórica de PriegoContato: www.mueoliva.es

*À venda no Brasil pelo site e loja Rua do Alecrim Azeites e Gastronomia(www.ruadoalecrim.com.br)

**Previsão de lançamento no Brasil em novembro de 2017 pela Rua do Alecrim

Oro del Desierto Orgânico**Ptos. Flos Olei: 96Eleito Melhor Orgânico do Mundo (2015)Origem: Tabernas (Almeria)Variedades: Picual, Hojiblanca e ArbequinaSabor: Frutado MédioPossui estrutura de loja e restaurante-museu, com belas paisagens desérticas da AlmeriaContato: www.orodeldesierto.com Finca La Torre Biodinâmico

Ptos. Flos Olei: 98 (Máximo)Origem: Bobadilla (Málaga)Variedade: HojiblancaSabor: Frutado IntensoVisita a belíssima fazenda biodinâmica e área de extração Contato: www.fincalatorre.com

Oro BailénPtos. Flos Olei: 98 (Máximo)1º Prêmio Alimentos de España (2016)Origem: Villanueva de La Reina (Jaén)Variedade: PicualSabor: Frutado MédioFinca possui loja temática e oferece tour pela plantação e área de extraçãoContato: www.orobailen.com

Castillo de Canena BiodinâmicoPtos. Flos Olei: 98 (Máximo)Origem: Úbeda (Jaén)Variedade: PicualSabor: Frutado IntensoLocalizado em um castelo histórico de Úbeda, cidade Patrimônio da Humanidade pela UnescoContato: www.castillodecanena.com

TesOurOAnDALuzUma seleção de azeites com as mais altas pontuações no prestigiado guia italiano Flos Olei 2017, que permitem visitação à finca do produtor durante todo o ano.

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nais de manejo do solo. “As pessoas às vezes pensam que isso (biodinâmica) tem algo de magia, mas no fundo é uma manei-ra de observar os processos que funcionam e seguir aperfeiçoando”, diverte-se Víctor Perez, engenheiro agrônomo responsável pela produção de Finca La Torre, 4 meda-lhas de Ouro este ano em Nova York. Mesmo enfrentando a concorrência pesa-da dos italianos nos EUA, a indústria es-panhola está tentando romper a timidez

comercial não só nas Américas, onde atua mais no segmento de grandes volumes, mas também nos mercados mais sofisti-cados, como a Escandinávia e Japão. A próxima fronteira é a China, onde o jogo continua aberto. Em qualquer cenário, é um problema bom: a demanda mundial por azeite hoje é 13% maior que a oferta, e ninguém consegue atendê-la com a maior relação de quantidade e qualidade do que os espanhóis.

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Graça Machel, a viúva deNelson Mandela, inspira líderes no mundo todo com sua luta em defesa da educação na África

R$ 14,90Nº 17 | 2ºSEM. 2017

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