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OTIMIZAÇÃO DO DESÁGUE DE BAGAÇO DE LARANJA PARA PRODUÇÃO DE RAÇÃO: INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DA REAÇÃO DE CALAGEMl José Maurício de AGUIRRP, Alfredo de Almeida VITALP, Katumi YOTSUYANAGI4 RESUMO Estudou-se a influência da concentração de cal e tempo de reação, na calagem do bagaço resultante da extração de suco de laranja, com o objetivo de otimizar o seu deságue por prensagem, visando aumentar o rendimento de secagem na linha de fabricação de ração, sem, entretanto, comprometer a qualidade do bagaço seco. Os ensaios foram delineados em superfícies de resposta. As análises de variância mostraram um ajuste significativo para os modelos matemáticos que expressam a relação entre os parâmetros da reação de calagem ea umidade do bagaço prensado e sua capacidade de reabsorção de água após a secagem. O estudo mostrou que o tratamento do bagaço com 0,5% (p/p) de cal durante 8 minutos, condições ótimas estimadas no trabalho, resultou em bagaço prensado com umidade de 59,2% (BD), valor menor que a média normalmente conseguida em escala industrial (63,4% BD), o que indica um potencial de economia de energia térmica na sua secagem da ordem de 18%, apenas com o ajuste das condições de calagem. O bagaço seco apresentou índice de absorção de água de 4,38, superior ao índice mínimo requerido para ração (4,0) e com cerca de 30% de pectina remanescente. PALAVRAS-CHAVE: Bagaço de laranja; Calagem; Otimização do deságue; Ração animal. SUMMARY OPTIMIZATION OF THE DEWATERING PROCESS OF ORANGE JUICE EXTRACTION WASTE, lN THE PRODUCTION OF CATTLE FEED: INFLUENCE OF LIMING PARAMETERS The influence of the parameters: lime concentration and time, in the liming process of orange juice extraction waste, for the optimization of dewatering by pressing, was studied. The aim was to increase drying yield in the production of cattle feed, without reducing quality. The experiments were designed using Response Surface Methodology. The analy- sis of variance indicated that the mathematical models expressing the relation between the liming reaction parameters and moisture leveI in the pressed waste and its water adsorption capacity after drying, were well adjusted. The present study showed that the best conditions for the waste liming reaction were 0.5% (w /w) of lime for 8 minutes. This treatment was sufficient to redu ce the moisture of the pressed waste to 59.2%, avalue smaller than the average value found industrially (63.4%). This represents an economy of thermal energy to the order of 18% in the drying operation, due only to the adjustment of the liming reaction conditions. The water absorption index of the dried waste was 4.38, which was superior to the average value of 4.0, which is the minimum value required for the cattle feed with 30% of the pectin remaining. KEY WüRDS: Orange waste; Liming; Dewatering optimization; Cattle feed. 1 Recebido para publicação em 18/09/1998. Aprovado para publicação em 21/12/1998. Parte da Tese apresentada pelo 10 autor ao Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica - USP, para obtenção do título de Doutor. 2,3,4 Pesquisadores do !TAL. Braz. . Food Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, janldez.1998 ....._---------- 59

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OTIMIZAÇÃO DO DESÁGUE DE BAGAÇO DE LARANJAPARA PRODUÇÃO DE RAÇÃO: INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS

DA REAÇÃO DE CALAGEMl

José Maurício de AGUIRRP, Alfredo de Almeida VITALP, Katumi YOTSUYANAGI4

RESUMO

Estudou-se a influência da concentração de cal e tempo de reação, na calagem do bagaço resultante da extração desuco de laranja, com o objetivo de otimizar o seu deságue por prensagem, visando aumentar o rendimento de secagemna linha de fabricação de ração, sem, entretanto, comprometer a qualidade do bagaço seco. Os ensaios foram delineadosem superfícies de resposta. As análises de variância mostraram um ajuste significativo para os modelos matemáticos queexpressam a relação entre os parâmetros da reação de calagem e a umidade do bagaço prensado e sua capacidade dereabsorção de água após a secagem. O estudo mostrou que o tratamento do bagaço com 0,5% (p/p) de cal durante 8minutos, condições ótimas estimadas no trabalho, resultou em bagaço prensado com umidade de 59,2% (BD), valormenor que a média normalmente conseguida em escala industrial (63,4% BD), o que indica um potencial de economia deenergia térmica na sua secagem da ordem de 18%, apenas com o ajuste das condições de calagem. O bagaço secoapresentou índice de absorção de água de 4,38, superior ao índice mínimo requerido para ração (4,0) e com cerca de 30%de pectina remanescente.

PALAVRAS-CHAVE: Bagaço de laranja; Calagem; Otimização do deságue; Ração animal.

SUMMARY

OPTIMIZATION OF THE DEWATERING PROCESS OF ORANGE JUICE EXTRACTION WASTE, lNTHE PRODUCTION OF CATTLE FEED: INFLUENCE OF LIMING PARAMETERS

The influence of the parameters: lime concentration and time, in the liming process of orange juice extraction waste,for the optimization of dewatering by pressing, was studied. The aim was to increase drying yield in the production ofcattle feed, without reducing quality. The experiments were designed using Response Surface Methodology. The analy­sis of variance indicated that the mathematical models expressing the relation between the liming reaction parametersand moisture leveI in the pressed waste and its water adsorption capacity after drying, were well adjusted. The presentstudy showed that the best conditions for the waste liming reaction were 0.5% (w /w) of lime for 8 minutes. Thistreatment was sufficient to reduce the moisture of the pressed waste to 59.2%, avalue smaller than the average valuefound industrially (63.4%). This represents an economy of thermal energy to the order of 18% in the drying operation,due only to the adjustment of the liming reaction conditions. The water absorption index of the dried waste was 4.38,which was superior to the average value of 4.0, which is the minimum value required for the cattle feed with 30% of thepectin remaining.

KEY WüRDS: Orange waste; Liming; Dewatering optimization; Cattle feed.

1 Recebido para publicação em 18/09/1998. Aprovado para publicação em 21/12/1998.Parte da Tese apresentada pelo 10 autor ao Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica - USP,para obtenção do título de Doutor.2,3,4 Pesquisadores do !TAL.

Braz. . Food Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, janldez.1998....._---------- 59

1. INTRODUÇÃO

Na fabricação de suco de laranja concentrado e con­gelado-SLCC para cada 100kg de laranja são produzi­dos 55kg de suco simples e os 45 kg restantes são osresíduos do processo (KESTERSON, BRADDOCK,1979), que neste trabalho serão denominados, generica­mente, ''bagaço'', material que se destina à produção deração para alimentação animal.

O consumo de energia térmica na fábrica de ração éalto, principalmente para secagem do bagaço prensa­do. O levantamento, efetuado por GASPARINO FILHOet aI. (1984), sobre o consumo e conservação de energiaem uma unidade industrial produtora de SLCC no Es­tado de São Paulo, concluiu que a demanda de energia·térmica para produzir uma tonelada de ração é equiva­lente ou superior à quantidade consumida para produ­zir uma tonelada de SLCe. Sabe-se ainda que o preço deexportação do suco é cerca de 10 vezes maior. Em vistadisto e da expectativa de aumento da produção de SLCC,o que implica na necessidade de investimentos na ca­pacidade instalada das fábricas de ração, toma-se evi­dente a importância de otimizar técnica e economica­mente esse processo.

A calagem é uma operação unitária fundamental nafabricação de ração, pois tem influência direta no seudeságue por prensagem e capacidade de reabsorção deágua e, por isso, deve ser otimizada e melhor entendi­da. A bibliografia disponível, mesmo a especializadaem tecnologia de sucos cítricos, aborda a fabricação deração de maneira superficial e mostra avanço poucosignificativo no aprimoramento tecnológico e no desen­volvimento de equipamentos para o aproveitamento dosresíduos da extração de sucos cítricos.

VINCENT (1970) patenteou processo para produçãode ração a partir de resíduo da extração de suco de la­ranja, com reincorporação do licor concentrado ao resí-

duo prensado, submetendo-o a uma segunda prensa­gem antes da secagem. De acordo com o autor, o proce­dimento é para incrementar o teor de sólidos do resíduoprensado e conseqüentemente reduzir o custo de seca­gem

REBECK, COüK (1977), em publicação sobre tecno­logia de sucos cítricos, descreveram, sucintamente, asetapas do processo de fabricação de ração animal a par­tir dos resíduos resultantes da extração de sucos e osequipamentos da linha de produção.

AGUIRRE, VITAL! (1997) estudaram a cinética dodeságue do bagaço de laranja com o objetivo de encon­trar a concentração de cal e o tempo de reação de cala­gem que propiciam deságue mais eficiente do bagaçopor prensagem. Os autores verificaram que uma cala­gem com 0,4% de cal por 4 minutos foi suficiente paraelevar o pH do bagaço de 3,85 para 5,45. Nestas condi­ções, a umidade do bagaço foi reduzida de 81% para71% (BU).

O objetivo deste trabalho foi estudar a influência dosparâmetros, concentração de cal e tempo de reação, nacalagem do bagaço resultante da extração de suco delaranja, visando à otimização do seu deságue por pren­sagem, com a finalidade de aumentar o rendimento desecagem na linha de fabricação de ração, sem, entretan­to, comprometer a capacidade de reabsorção de águado bagaço seco.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Material

O bagaço, licor e melaço utilizados nos experimentosforam coletados em quatro épocas durante o período desafra (Tabela I), na fábrica de ração da FRUTESP SIA,Bebedouro-SP, resfriados e estocados a O°e.

TABELA 1. Períodos de coleta de material e identificação das laranjas processadas.

Época de safra Período de caleta de Laranjas processadasmaterial

Variedade (%)

Pêra Rio 901" Agosto/setembro

Hamlin 10

Pêra Rio 802" Setembr%utubro

Natal Valência 20

Pêra Rio 203" Outubro/novembro

Natal Valência 80

Pêra Rio"" 204" Novembro/dezembro

Natal Valência 80

(OBrix: acidez)"

do suco

12,0

14,0

16,5

14,5

60

(0) Ralio

(00) Temporona

Braz. J. Food Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, janidez.1998~~----------~--_..

o bagaço é o subproduto da linha de produção deSLCC constituído dos descartes da seleção das frutase resíduos da extração e clarificação do suco e do pro­cessamento do óleo essencial. O licor é o líquido re­sultante da segunda prensagem do bagaço, com con­centração de 28°Brix, e o melaço é obtido da concen­tração do licor de primeira prensagem até 45°Brix,em evaporador do tipo Waste Heat Evaporator (WHE).

A cal virgem utilizada é de origem calcítica, com86,5% de óxido de cálcio disponível.

2.2 Processamento

O processo adotado foi descontínuo, simulando asetapas de fabricação da ração cítrica, conforme pro­cedimento descrito por AGUIRRE, VITAL! (1997), com

as seguintes modificações:As concentrações de cal utilizadas variaram de 0,2

a 0,8% (em relação ao peso de bagaço) e os tempos dereação variaram de 1 a 12 minutos. Esses limites fo­ram definidos com base em dados de REBECK, COOK(1977) e informações obtidas junto às indústrias. Aprensagem do bagaço após a calagem foi feita comrecirculação de licor e melaço (Figura I), para recu­perar parte dos sólidos lixiviados durante a prensa­gem. A incorporação do licor e do melaço, pré-aqueci­dos a 40°C, foi feita em misturador do tipo planetá­rio, marca KITCHENAID, modelo K5-A, com capaci­dade para 2kg de material e dotado de controlador develocidade para trabalhar na faixa de O a 800rpm,funcionando a velocidade de 400rpm, durante 1 mi­nuto.

LICOR2a PRENSAGEM MELAÇO

la PRENSAGEM 2a PRENSAGEM

BAGAÇOFASE I FASE II FASE I FASE II

BAGAÇO

CALEADO PRENSADO

I ILICOR - la PRENSAGEM LICOR - 2a PRENSAGEM

FIGURA 1. Esquema para a prensagem do bagaço com recirculação de licor e melaço.

A secagem do bagaço prensado, até umidade de 10%(BU), foi feita em secador de bandejas estáticas com cir­culação tangencial de ar aquecido a 80°C e velocidadede 1m/s. O bagaço foi distribuído nas bandejas forman­do uma camada de aproximadamente 10mm. A moa­gem do bagaço seco foi feita em moinho granulador demartelos móveis marca TREU, acionado por motor de7,5HP e 1730rpm, utilizando peneira com furos de1,25mm de diâmetro.

2.3. Métodos analíticos

• Umidade do bagaço e do bagaço prensado, pormétodo indireto em estufa a vácuo (pressão de 25mmHg,a 98°Cpor5horas), conformedescrito porHORWITZ (1975).

• pH do bagaço determinado em potenciômetro, emsuspensão a 25% em peso de bagaço em água destilada.

• Sólidos solúveis do licor e melaço determinadosem refratômetro e as medidas expressas em °Brix, corri­gidas para a temperatura de 20°C.

• Índice de absorção de água (IAA) do bagaço seco emoído, determinado conforme método de BEUCHAT(1977).

• Pectina do bagaço seco e moído, determinada con­forme metodologia de OWENS et ai. (1952), que utiliza oprocesso de extração alcoólica com etanol.

2.4. Planejamento experimental

Aplicou-se a Metodologia de Superfície de Resposta(MSR) para estudar o efeito combinado da concentra­ção de cal e tempo de reação na eficiência do desá­gue, quantificada pela umidade do bagaço prensado,e na qualidade do bagaço seco, avaliada pelo índicede absorção de água. O delineamento experimentalescolhido foi o Rotacional Composto de segunda

Bfaz. J. Foo Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, jan/dez.1998L..- _ 61

Ordem (BOX, HUNTER, 1957, MYERS, 1971), com 16pontos experimentais, sendo 8 pontos na região cen­tral (Tabela 2), para cada época de safra. A ordem dosensaios foi aleatorizada sem restrições. Os valores ex-

perimentais para os níveis das variáveis da reaçãode calagem estão na Tabela 3.

Os resultados foram submetidos à análise de re­gressão múltipla.

TABELA 2. Delineamento experimental para duas variáveis independentes a cin­co níveis.

Ensaios

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

c = concentração de calt =tempo de reação

Variáveis codificadas

c

-1 -1

+1 ·1

-1 +1

+1 +1

+1,4142 O

-1,4142 O

O +1,4142

O -1,4142

O O

O O

O O

O O

O O

O O

O O

O O

TABELA 3. Codificação das variáveis da reação de calagem e respectivos valores expe­rimentais.

Variáveis da reação de Níveis de variação

calagem -1,4142 -1 O +1 +1,4142

Concentração de cal (%) 0,20 0,29 0,50 0,71 0,80

Tempo de reação (min) 1,00 2,61 6,50 10,39 12,00

O modelo de regressão escolhido é uma equaçãopolinomial de segunda ordem expressa por:

onde:

Y é a função-resposta ou equação de superfície de

resposta; b o é a constante; ble b

2correspondem aos co­

eficientes dos efeitos lineares; bll' bu e bu correspon­dem aos coeficientes dos efeitos de segunda ordem; ~ ex

2representam os valores das variáveis independentes;

e o resíduo que mede o erro experimental.Os coeficientes da equação foram determinados com

a ajuda do pacote estatístico STATGRAPHICS (1986),pelo método dos mínimos quadrados.

62 Braz. J. Food Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, jarildez.1998~--------------'

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Caracterização do bagaço

As variações observadas na umidade e pH do baga-

ço e teor de pectina e IAA do bagaço seco (Tabela 4)estão relacionadas às características das laranjas pro­cessadas, principalmente variedade e estádio de matu­ração, e os resultados e interpretações referem-se aosmateriais e condições utilizados nestes experimentos.

TABELA 4. Umidade e pH do bagaço, teor de pectina e índice de absorção de água(IAA) do bagaço seco.

Época de Bagaço Bagaço seco·

safra Umidade pH Pectina I.A.A.

(%BU) (g AG**/100g) (g água/g mato seca)

1a 80,65 3,85 4,53 5,51

2a 81,63 3,80 4,82 5,43

3a 78,81 3,90 7,00 5,83

4a 81,71 3,75 9,25 5,72

Média de três determinações• Umidade 10% (SUl•• AG =ácido Qalaclurônico

As curvas de titulação (Figura 2) mostram a quanti­dade de cal consumida em reação com a acidez naturaldo bagaço, devido principalmente ao ácido cítrico, em

função das características das laranjas processadas nasépocas de safra estudadas.

18-r--------------------------,fl h epoca

 2a tpeca

, O 3a tpoca

I 4a tpoca

8

7

,

5

.. c~l/llig ...&CO

FIGURA 2. Curvas de titulação do bagaço com solução 0,1 % de cal.

Braz. . Foo Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, jan/dez.1998L- _ 63

3.2 Efeito das variáveis da reação de calagem na umi­dade do bagaço prensado e no índice de absorçãode água do bagaço seco (IAA)

Os resultados da umidade do bagaço prensado

e do IAA do bagaço seco, em função das variáveisda reação de calagem estudadas, estão nas Tabe­las 5 e 6, respectivamente.

TABELA 5. Umidade do bagaço prensado em função das variá-veis da reação de calagem.

Variáveis da Umidade (% BU)*

Ensaio reação de calagem Época de safra

c (%) I (min) 1" 2" 3" 4"

1 0,29 2,61 63,88 62,38 60,80 62,33

2 0,29 10,39 63,20 60,73 60,24 62,83

3 0,71 2,61 58,49 57,75 55,93 60,78

4 0,71 10,39 59,08 56,25 55,47 60,88

5 0,50 12,00 60,15 57,38 57,61 61,45

6 0,50 1,00 60,85 60,10 58,14 61,58

7 0,80 6,50 59,42 56,62 55,26 59,53

8 0,20 6,50 66,60 62,64 61,73 63,94

9 0,50 6,50 61,83 57,82 57,39 59,72

10 0,50 6,50 59,68 58,71 56,55 60,85

11 0,50 6,50 59,91 59,80 57,12 60,81

12 0,50 6,50 59,87 58,32 56,78 62,16

13 0,50 6,50 58,53 60,53 55,78 60,72

14 0,50 6,50 61,84 60,12 56,98 60,00

15 0,50 6,50 59,28 59,04 58,46 61,57

16 0,50 6,50 59,24 59,38 57,44 59,65

c = concentração de calt = tem po de reação(*) BU = base úmida

TABELA 6. Índice de absorção de água (IAA) do bagaço seco emfunção das variáveis da reação de calagem.

Variáveis da IAA* (g água/g mal. seca)

Ensaio reação de calagem Época de safra

c (%) I (min) 1" 2" 3" 4"

1 0,29 2,61 4,83 4,78 4,48 4,72

2 0,29 10,39 4,82 4,62 4,60 4,67

3 0,71 2,61 4,12 4,16 3,44 4,30

4 0,71 10,39 4,06 3,95 3,61 4,27

5 0,50 12,00 4,57 4,24 3,81 4,70

6 0,50 1,00 4,84 4,50 4,12 4,78

7 0,80 6,50 3,88 3,68 3,41 4,07

8 0,20 6,50 5,07 4,88 4,76 4,73

9 0,50 6,50 4,46 4,44 3,98 4,76

10 0,50 6,50 4,52 4,32 3,80 4,81

11 0,50 6,50 4,47 4,51 3,92 4,80

12 0,50 6,50 4,62 4,43 3,77 4,84

13 0,50 6,50 4,43 4,37 3,72 4,72

14 0,50 6,50 4,54 4,43 3,84 4,68

15 0,50 6,50 4,51 4,35 4,02 4,82

16 0,50 6,50 4,59 4,55 3,77 4,75

c = concentração de calt = tempo de reação('") Mêdia de 3 determinações

64 Braz. J. Food Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, jan aez.1998

A análise de regressão dos resultados das Tabelas5 e 6 possibilitou definir modelos matemáticos paraumidade do bagaço prensádo (Tabela 7) e IAA do ba-

gaço seco (Tabela 8), em função das variáveis da rea-ção de calagem. .

TABELA 7. Modelos matemáticos e análise de variância das regressões para umidade do bagaço prensado nasépocas de safra.

2" Y = 66,55 - 15,51 c - O,04t +5,13c2- O,014f (Eq. 3.2)

3" Y = 67,93 - 26,57c· 0,391 +15,5oc2 + O,025f (Eq.3.3)

4- Y = 67,80 - 17,85c -O,37t + 12,11c2 + O,023f (Eq.3.4)

Época

de

safra

l'

Modelo

Y = 74,58 - 43,96c - 0,191 + 29,88c2 + O,38c.t (Eq. 3.1)

Coeficiente de Valor F

determinaçãoModelo Falta de ajuste

(R2) do modelo

85,03 14,66" 0,150'.

88,27 13,45" 0,040.'.

92,11 20,67" 0,020'.

70,58 6,71" 0,280.0

Y = umidade do bagaço prensado (%BU)

c =concentração de cal (%)

t = tempo de reação (minutos)

" = significativo ao nível de 5% de probabilidade

n.s. = não significativo ao nível de 5% de probabilidade

TABELA 8. Modelos matemáticos e análise de variância das regressões para índice de absorção de água dobagaço seco nas épocas de safra.

Época Coeficiente de Valor F

de Modelo determinação Modelo Falta de ajuste

safra (A2) do modelo

1- Y = 5,41 - O,65c - O,07t -1,21c2 +o,OO4f (Eq.3,5) 94,08 78,64" 3,190.0

2- Y = 5,12 - O,44c - 0,021 -1,32c2 (Eq.3.6) 94,44 66,20" 0,930.'.

3- Y = 5,83 - 4,95c - O,05t +2,63c2 +o,o04f (Eq.3.7) 93,08 58,71" 1,21 0.0

.

4" Y = 4,08 +3,55c +O,02t - 4,58c2- o,o02f (Eq. 3.8) 95,41 61,67* 1,230

.0

.

Y = IAA do bagaço seco (g águalg matéria seca)

c = concentração de cal (%)

t = tempo de reação (minutos)

" = significativo ao nível de 5% de probabilidade

n.s. = não $ignificativo ao nível de 5% de probabilidade

A análise de variância das regressões nas Tabelas7 e 8 mostra que os coeficientes de determinação (R2),que comparam os resultados experimentais com asrespostas estimadas pelos modelos, foram altos. Asvariações explicadas pelos modelos foram superio­res a 70%, limite mínimo aceitável estipulado para

este trabalho. As regressões são significativas ao ní­vel de 5% de probabilidade e a falta de ajuste dosmodelos não-significativa ao nível de 5% de probabi­lidade. Os valores críticos da distribuição F foramobtidos em OWEN (1962). Assim, as equações pro­postas podem ser consideradas modelos satisfatóri-

echnol., Campinas, 1(1,2):59-69, jan/dez.1998 65

os e representam adequadamente a umidade do ba­gaço prensado e o IAA do bagaço seco, em função daconcentração de cal e tempo de reação, no intervaloconsiderado.

As Figuras 3 e 4 ilustram o efeito simultâneo da con­centração de cal e o tempo de reação de calagem, res­pectivamente, na umidade do bagaço prensado e IAAdo bagaço seco, nas quatro épocas de safra estudadas.

As superfícies da Figura 3 mostram uma reduçãogradativa da umidade do bagaço prensado com oaumento da concentração de cal. A partir das con­centrações intermediárias, a redução de umidade foiperdendo intensidade como conseqüência do aumen­to pouco significativo do deságue, provavelmente

devido à saturação das moléculas de pectina com Ca++. Otempo de reação teve pouca influência na umidade dobagaço prensado, evidenciando que a insolubilizaçãode pectina, e a conseqüente liberação de água ligadaocorreu rapidamente após a interação bagaço-cal. Estecomportamento também foi constatado por AGUIRRE,VITAL! (1997), quando estudaram a cinética do desá­gue do bagaço submetido à calagem.

As superfícies da Figura 4 mostram que o IAA di­minuiu com o aumento da concentração de cal, comoconseqüência da redução da capacidade de reabsor­ção de água do bagaço seco, devido às alterações nasmoléculas de pectina causadas pela calagem; o tem­po de reação teve menor influência sobre o IAA.

11 12

A

~64•~"!Q~A

12 61

L7 ...lll(z)

iª época de safra

...lllaJ

LI '.aClI. (Z)

22 época de safra

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3ª ~poca de safra 4! época de safra

FIGURA 3. Superfícies de resposta para umidade do bagaço prensado, em função daconcentração de cal e tempo de reação de calagem, nas épocas de safra estudadas.

66 Braz. J. Food Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, jan aez.1998,;".,,-------------------'

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FIGURA 4. Superfícies de resposta para índice de absorção de água do bagaço seco, emfunção da concentração de cal e tempo de reação de calagem, nas épocas de safra estudadas.

As variações observadas nos resultados experi­mentais, considerando-se as épocas de safra, apesarde estatisticamente se enquadrarem nos limites esti­pulados para o trabalho, podem ser explicadas pelofato do "bagaço" ser material biológico complexo su­jeito a grandes variações na sua composição, decor­rentes da variedade e estádio de maturação de laran­ja processada, local de plantio, clima, adubação dosolo, irrigação, etc., e também a heterogeneidade dosseus componentes (descartes da seleção das frutas eresíduos da extração e clarificação do suco e do pro­cessamento do óleo essencial e outros), que é bastan­te dependente do momento em que a amostra de ba-

gaço é coletada. Esses fatores influenciam decisiva­mente na umidade e pH do bagaço, como foi visto noitem 3.1.

3.3 Parâmetros ótimos da reação de calagem dobagaço

Os parâmetros ótimos da reação de calagem dobagaço foram estimados pela superposição dos gráfi­cos de contorno das quatro épocas de safra estuda­das, para umidade do bagaço prensado (Figura 5) eIAA do bagaço seco (Figura 6).

A confrontação das Figuras 5 e 6 permite visuali-

raz. J. Food Technol., Campinas, 1(1,2): 59-69, jan/dez.19981.- _ 67

Braz. J. Faad Technal., Campinas, 1(1,2): 59-69, janlâez.1998-"-----------------_.........

FIGURA 5. Superposição dos gráficos de contornopara umidade do bagaço prensado.

.87.6.5

Cal (%)

.4,3.2

O

Epocade Unidade 1M Peclina

safra (%BU)* (g água/g mal. seca) (gAG/100g)

1a 60,07 4,48 1,45

~ 58,85 4,41 1,39

':f' 57,01 3,92 2,12

4a 60,86 4,74 2,10

Média 59,20 4,38 1,77

(') 8U = ba'se tírida

M3 = á:ido gala:turôoioo

TABELA 9. Umidade e índice de absorção de água(IAA) do bagaço tratado com 0,5% de cal durante 8minutos, calculados para as épocas de safra e teorde pectina.

4. CONCLUSÕES

FIGURA 6. Superposição dos gráficos de contornopara IAA do bagaço seco.

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Foi possível otimizar o deságue do bagaço de la­ranja por prensagem, para produção de ração ani­mal, por meio de ajuste dos parâmetros de calagem,concentração de cal e tempo de reação, utilizandoMetodologia de Superfície de Respostas, no sentidode obter máxima redução da umidade do bagaço pren­sado, sem, entretanto, comprometer a sua capacida­de de reabsorção de água após secagem.

É possível expressar, por meio de modelos mate­máticos, o efeito dos parâmetros da reação de cala­gem, concentração de cal e tempo de reação, na umi-

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zar uma combinação de concentração de cal e tempode reação, válida para todas as épocas de safra estu­dadas, que possibilita redução máxima da umidadedo bagaço prensado sem comprometimento da suacapacidade de reabsorção de água após a secagem:0,5% de cal e 8 minutos de reação. Este tempo estima­do deve-se principalmente à heterogeneidade do ta­manho das partículas do bagaço e ao mecanismo demistura da cal, uma vez que os dados experimentaisindicam uma reação muito rápida.

Na Tabela 9 estão as médias da umidade do baga­ço prensado e IAA do bagaço seco, para os parâme­tros ótimos estimados, obtidas dos valores calcula­dos a partir dos modelos matemáticos estabelecidos.para cada época de safra (Eq. 3.1 a 3.8) e o respectivoteor de pectina.

Uma calagem nas condições ótimas estimadas foisuficiente para reduzir a umidade média do bagaçoprensado para 59,2% (BU), valor menor que a umida­de média obtida em escala industrial (63,4% BU), oque indica um potencial de economia no consumo deenergia térmica na secagem da ordem de 18%. O IAAdo bagaço seco resultante foi 4,38, índice médio su­perior a 4,0, que, segundo VINCENT (1970), é o míni­mo requerido para ração, e com cerca de 30% de pec­tina remanescente.

Esses valores obtidos indicam que a calagem ade­quada do bagaço possibilita a racionalização do con­sumo de energia na fabricação de ração.

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dade do bagaço prensado e no índice de absorçãode água do bagaço seco. As análises de variânciamostraram que os ajustes foram significativos.

A concentração de cal afetou significativamenteo deságue do bagaço e a qualidade do bagaço seco.O tempo de reação teve pouca influência.

Os parâmetros ótimos da reação de deságue dobagaço, estimados no trabalho, foram 0,5% de cal e8 minutos de reação.

Nestas condições, a umidade do bagaço prensa­do foi de 59,2% (BU), valor menor que a umidademédia obtida em escala industrial (63,4% BU), oque indica um potencial de economia de energiatérmica na secagem da ordem de 18%. O IAA dobagaço seco resultante foi 4,38, e com cerca de 30%de pectina remanescente.

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