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OTAN OTAN DEPOT ANTWERPEN X Notícias da VERÃO-OUTONO 2000 Construir a estabilidade nos Balcãs Embaixador de Franchis sobre o papel da Itália Chris Patten sobre uma visão europeia General Reinhardt sobre o comando da KFOR

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Notícias da

VERÃO-OUTONO 2000

Construir a estabilidadenos Balcãs

Embaixador de Franchis sobre o papel da ItáliaChris Patten sobre uma visão europeiaGeneral Reinhardt sobre o comando da KFOR

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Editor: Director of Information and Press - OTAN, 1110 Bruxelas, BélgicaExecução gráfica em Portugal por Mirandela, S.A. - Rua Rodrigues Faria, 103 - 1300-501 Lisboa - Depósito Legal n.º 12101/86

Director: António Borges de CarvalhoMaqueta: Estúdio Gráfico da OTANRedacção, Propriedade e Edição:Bureau de l’Information et de la Presse de l’OTAN,1100 Bruxelas, Bélgica - Fax: (32-2) 707.4579E-Mail: DISTRIBUTION @ HQ.NATO.INTWWW em HTTP://WWW.NATO.INT/Publicada sob a autoridade do Secretário-Geral da OTAN,esta revista tem por finalidade contribuir para uma dis-cussão construtiva dos problemas atlânticos. Portanto, osartigos nela publicados não representam necessaria-mente a opinião oficial ou da política dos governos mem-bros da Organização.

Os artigos podem ser reproduzidos depois de ter sido obti-da autorização da Redacção e desde que se mencione asua origem. A reprodução dos artigos assinados devereferir o nome do autor.

Os pedidos referentes a esta Revista devem ser dirigidosao Bureau de l’Information et de la Press de l’OTAN1110 Bruxelas - Bélgicaou àComissão Portuguesa do AtlânticoAv. Infante Santo, 42-6.º1300 LisboaFax: 21 397 84 93 Tel: 21 390 59 57

Publicações da OTAN:O Bureau de l’Information e de la Presse da OTAN pub-lica igualmente livros, brochuras e folhetos sobre assun-tos referentes à OTAN. Abrangem entre outros:

Referências e documentação sobre a OTAN;Publicações económicas e científicas.Estas publicações existem todas em inglês e francês e algu-mas delas em outras línguas.

A Notícias da OTAN é publicada periodicamente em por-tuguês, bem como em alemão (NATO Brief), checo, dina-marquês (NATO Nyt), espanhol (Revista de la OTAN),françês (Revue de l’OTAN), grego (Deltio NATO), holandês(NAVO Kroniek), húngaro (NATO Tükor), inglês (NATOReview), italiano (Rivista della NATO), norueguês (NATONytt), polaco (Przeglad NATO), e turco (NATO Dergisi). Épublicado um número por ano em islandês (NATO Fréttir)e ocasionalmente são também publicados números em russoe ucraniano.

A Notícias da OTAN também é publicada na World WideWeb juntamente com outras publicações da OTAN emhttp://www.nato.int.

Tiragem: 5000 exemplaresISSN 0255-3813

OTAN

3 Carta do Secretário-Geral

4 Actualidades da OTAN

Especial

6 A Itália nos BalcãsPara assinalar a visita do Presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi à OTAN, o Embaixador Amedeo de Franchis examina a política da Itália em relação aos Balcãs.

Croácia

8 Recuperar o tempo perdidoIvica Racan descreve a revolução que teve lugar este ano na política croata e as suas ambições para o futuro.

10 Preparar os militares croatas para a democraciaKristan J. Wheaton descreve como os países da OTAN ajudaram a preparar os militarescroatas para a transição dum regime autoritário para um regime democrático.

Sueste Europeu

13 Uma visão europeia para os BalcãsChris Patten analisa os desafios que se apresentam à União Europeia no Sueste Europeu e analisa as políticas em curso para os enfrentar.

16 Comandar a KFORO General Klaus Reinhardt recorda a contribuição da KFOR para o processo de paz do Kosovo e realça as dificuldades que nos esperam.

20 Mudança nos BalcãsChristopher Bennett avalia as perspectivas de mudança democrática e de paz eestabilidade autónomas na ex-Jugoslávia.

23 Reflexões sobre a RoméniaRadu Bogdan analisa o desejo veemente da Roménia de aderir à União Europeia e à OTAN e o programa de reformas actualmente em curso no seu país.

26 Ajudar a Albânia a controlar as muniçõesRichard Williams descreve como uma equipa dirigida pela OTAN está a ajudar a Albâniaa controlar as munições e explosivos por explodir, que mataram dezenas de pessoas.

Assuntos militares

28 Preparar soldados para o século XXI Chris Donnelly analisa as dificuldades de todas as forças armadas europeias paraenfrentar o desafio do século XXI, centrando-se nos exércitos da Europa Central eOriental, em que a necessidade de reforma é mais urgente.

32 Explorar a tecnologia nas guerras em coligaçãoJoseph J. Eash III esclarece como a rápida integração das tecnologias avançadas nossistemas de combate ajudou os Aliados durante a campanha do Kosovo.

SUMÁRIONotícias da Verão/Outono 2000 - Ano XXXI

Documentação on-line

Os comunicados da OTAN são publicadosno web site da OTAN quase a seguir aserem acordados e em todas as línguasda Aliança bem como em russo e ucra-niano. Assim, deixarão de aparecer na Notícias da OTAN.

Quem costumava receber oscomunicados da OTAN através daNotícias da OTAN e não pode receberesta informação através da Internet ou de outras fontes pode continuar arecebê-los por correio escrevendo para a redacção:

NATO Office of Information and Press

1110 Bruxelas, Bélgica

Foto da capa: Lord Robertson (à esq.), o Presidenteitaliano Ciampi e o Embaixador de Franchis (à dir.)na OTAN a 5 de Maio.

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Carta do Secretário-Geral

Construir a estabilidade nos BalcãsO nosso desafio nos Balcãs, como comunidade

internacional, é simples: construir um novo SuesteEuropeu, em que todos os países usufruam de paz edemocracia e desempenhem um papel nas instituiçõeseuro-atlânticas. Dada a história recente, isto podeparecer realmente um desafio tremendo – mas, desdeque assumi o cargo de Secretário-Geral, há quase umano, tenho assistido a grandes progressos. Atransformação que teve lugar este ano na Croácia, ofirme avanço do processo de paz na Bósnia-Herzegovina, a estabilização do Kosovo e o renovadoempenhamento internacional na região justificam ooptimismo.

Para que a nossa esperança se torne realidade,temos que continuar a promover a integração. A liçãomais evidente da história do último meio século da Europa é que a integração é fonte de confiança, estabilidade eprosperidade. É preciso, portanto, que seja dada possibilidade a todo o Sueste Europeu de aderir às estruturaseuro-atlânticas e fazer parte do grande conjunto europeu. Por outras palavras, a integração é o caminho porexcelência para evitar novos conflitos e construir a estabilidade. Portanto, em conjunto com os países da região,temos que procurar soluções abrangentes para os problemas do Sueste Europeu.

A prestar serviço em conjunto nas forças dirigidas pela OTAN na Bósnia e no Kosovo há soldados de paísesque durante a Guerra Fria – há apenas dez anos – se preparavam para combater uns com os outros.Actualmente, estes antigos antagonistas estão a procurar atingir em conjunto objectivos comuns. A entrada daCroácia para a Parceria para a Paz é mais uma prova da mudança. Este novo espírito de cooperação demonstraque o progresso é possível; que os antigos inimigos se podem reconciliar; e que os benefícios da liberdade e dademocracia podem ser partilhados.

O Pacto de Estabilidade da União Europeia para o Sueste Europeu e a própria Iniciativa do SuesteEuropeu da OTAN visam conjuntamente criar condições para o desenvolvimento económico, o governo democráticoe a segurança nos Balcãs em geral. A ideia subjacente a estes programas é idêntica à que inspirou, nos anos 40,tanto o Plano Marshall como a Organização do Tratado do Atlântico Norte, que conjuntamente ajudaram aEuropa Ocidental a pôr-se de novo de pé e a tornar-se uma área de estabilidade e prosperidade.

Ninguém deverá ter quaisquer ilusões de que a reconciliação entre grupos étnicos ou a prosperidadeeconómica podem ser conseguidas dum dia para o outro nos Balcãs. Mas devemos lembrar-nos que tanto o PlanoMarshall como a OTAN foram projectos a longo prazo cujo êxito só se manifestou com o passar dos anos. Oessencial é mantermos o rumo, consagrarmos ao Sueste Europeu o tempo e os recursos que a região merece egarantirmos o quadro de segurança necessário para os vários processos de paz se tornarem autónomos e ademocracia se poder enraizar. Caberá então a uma novageração de dirigentes locais fazer avançar com convicção osseus países para o século XXI.

Lord Robertson

3Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

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4Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

Visita do CAN aos BalcãsO Conselho do Atlântico Norte(CAN), o mais alto órgão de toma-da de decisões da OTAN, constituí-do pelos 19 embaixadores naOTAN, pelo Secretário-Geral LordRobertson e pelo Almirante GuidoVenturoni, presidente do ComitéMilitar da OTAN, fez uma visita deinformação aos Balcãs de 17 a 19de Julho para analisar o estadodos processos de paz no Kosovo ena Bósnia.

O Presidente croata Stipe Mesicvisitou a OTAN a 17 de Julho edebateu com Lord Robertson asmudanças políticas no seu paísdesde que assumiu o poder.

Lord Robertson visitou a ÁsiaCentral de 3 a 7 de Julho e reuniu-secom o Presidente do CazaquistãoNursultan Nazarbayev, o Primeiro--ministro do Usbequistão UtkurSultanov e o Presidente daRepública da Quirguízia AskarAkaev. O Presidente Nazarbayevvisitou a OTAN a 27 de Junho.

Lord Robertson visitou a Alemanhaa 29 de Junho para se reunir como Chanceler Gerhard Schröder, oMinistro dos EstrangeirosJoschka Fischer e o Ministro daDefesa Rudolf Scharping paradebater a Identidade Europeia deSegurança e Defesa à luz dasreformas militares da Alemanha.

Novo embaixadorespanhol

O embaixador Juan Prat y Collsubstituiu o Embaixador JavierConde de Saro como Represen-tante Permanente da Espanha noConselho do Atlântico Norte a 10de Julho. Diplomata de carreiranatural de Barcelona, oEmbaixador Prat, (58 anos) foi,entre 1996 e 2000, embaixadorem Itália, Albânia, Malta e SãoMarinho . Antes disso, foi direc-tor-geral na Comissão Europeia,para as relações externas (1995--96) e para as relações Norte-Sul,política mediterrânica e relaçõescom a América Latina e a Ásia(1990-95).

Captura dum suspeitode crimes de guerraDusko Sikirica, suspeito de crimesde guerra, foi capturado na Bósniapelos capacetes azuis da SFOR a25 de Junho e transferido para oTribunal Internacional de Crimes deGuerra em Haia. Sikirica, um antigocomandante do campo de prisio-neiros de Keraterm, é acusado degenocídio, violação das leis e cos-tumes de guerra e de graves infrac-ções às Convenções de Genebra.

Os dirigentes da UE estabelece-ram os princípios para as consul-tas com a OTAN sobre questõesmilitares e as maneiras de desen-volver as relações UE-OTAN nasua cimeira de dois dias na Feira,Portugal, a 19 e 20 de Junho.

Cinco países da OTAN e novepaíses Parceiros prepararam-separa operações de apoio da pazem Tirana, de 21 de Junho a 1 deJulho, num exercício chamadoCooperative Dragon 2000.

Lord Robertson visitou os EstadosUnidos, de 21 a 23 de Junho, paraconversações com o Secretário daDefesa William Cohen, o Sub--Secretário de Estado Strobe Talbotte vários senadores e dirigentes doCongresso e para participar noseminário anual do ComandanteSupremo Aliado do Atlântico.

No Kosovo, os capacetes azuis daKFOR descobriram um depósitoclandestino de armas a 16 de Junhoe apreenderam todo o armamento,que incluía metralhadoras pesadas,morteiros, detonadores, mísseisantitanque, cunhetes de muniçõese grande quantidade de TNT.

Dez países da OTAN e seis paísesParceiros participaram, de 19 deJunho a 1 de Julho na região deOdessa, no mar Negro, na Ucrânia,no Cooperative Partner 2000, umexercício militar destinado a ajudaras forças multinacionais a trabalharem conjunto em operações deapoio da paz.

A Bolsa de Estudo Manfred Wörnerdeste ano, no valor de 800 000 BEF,foi para Alexander Yuschenko daUniversidade Politécnica do Estadode Carcóvia na Ucrânia pelo seu pro-jecto intitulado Intellectual Modellingof Information Management ofPolitical Mentality Dynamics of SocialUkrainian Strata Towards NATO.

Cerca de 400 especialistas desalvamento no mar de 16 paísesOTAN e Parceiros participaramno Cooperative Safeguard 2000,um exercício da Parceria para aPaz, realizado na Islândia de 7 a12 de Junho, sobre operaçõeshumanitárias marítimas.

Reconhecimento dosMinistros da DefesaOs Ministros da Defesa da OTAN,reunidos em Bruxelas, Bélgica, a 8de Junho, reconheceram a necessi-dade dum esforço maior para me-lhorar as capacidades de defesa afim de atingir os objectivos fixadosna Cimeira de Washington do anopassado e estar preparados parauma futura crise como a do Kosovo.

Dezasseis países da OTAN eParceiros participaram noCooperative Banners 2000, umexercício militar visando o treino deforças navais, terrestres e aéreas emoperações de apoio da paz fora daárea, de 29 de Maio a 10 de Junho,na Dinamarca e Sul da Noruega.

De 5 a 9 e de 13 a 16 de Junho, noNorte de França, treze países daOTAN participaram no CleanHunter 2000, um exercício de avi-ação visando treinar os partici-pantes em operações aéreas tácti-cas e ajudar a avaliar e praticarnormas e procedimentos comuns.

A 31 de Maio, Lord Robertson vi-sitou o Kosovo, pela terceira vezdesde que tomou posse emOutubro passado, para conver-sações com o administrador daONU Bernard Kouchner, coman-dantes militares e responsáveislocais. Antes disso, tinha falado naAssembleia Parlamentar da OTANna Hungria e tinha-se reunido como Primeiro-ministro húngaroViktor Orbán a 30 de Maio.

O Comité Permanente daAssembleia Parlamentar da OTANdisse que desejava reatar o diálogocom a Duma russa numa reuniãoem Budapeste, Hungria, a 29 deMaio. As relações foram interrom-pidas em resultado da campanhaaérea da OTAN contra a Jugoslávia.

De 20 de Maio a 10 de Junho, aItália, a Grécia e a Turquia acolhe-ram o Dynamic Mix 2000, umexercício envolvendo cerca de 15 000 militares, 65 navios e 290aviões de 14 países da OTAN. Osparticipantes treinaram inter-venção humanitária, destacamen-to, transferência e operações com-binadas terrestres, navais e aéreas.

Desanuviamento emFlorençaO Ministro dos Estrangeiros russoIgor Ivanov participou na reuniãodo Conselho Conjunto PermanenteOTAN-Rússia em Florença, Itália,a 24 de Maio, pela primeira vezdesde a campanha aérea da OTANcontra a Jugoslávia.

A Croácia tornou-se o 46º membrodo Conselho de Parceria Euro--Atlântico depois de ter aderido àParceria para a Paz a 25 de Maio.

A 22 de Maio, abriu na OTAN umCentro das Armas de DestruiçãoMaciça para melhorar a coorde-nação das actividades relacionadascom as ADM, reforçar as consultassobre a não proliferação, a limitaçãodos armamentos e o desarmamen-to e melhorar a aptidão da OTANpara responder à ameaça das ADM.

Lord Robertson visitou Helsínquia,Tallin e Vilnius a 17, 18 e 19 deMaio reunindo-se com os Chefesde Estado e de governo e os minis-tros dos estrangeiros e da defesada Finlândia, Estónia e Lituânia.

Declaração de VilniusOs ministros dos estrangeiros dosnove países que desejam aderir àOTAN – Albânia, Bulgária, Estónia,Letónia, Lituânia, Roménia, Eslo-váquia, Eslovénia e ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia(1) –assumiram, a 19 de Março emVilnius, o compromisso conjuntode se prepararem e candidataremà adesão simultaneamente.

O Primeiro-ministro ucranianoViktor Yuschenko visitou a OTAN a22 de Maio e o Almirante GuidoVenturoni, presidente do ComitéMilitar da OTAN, visitou a Ucrâniade 17 a 19 de Maio.

Convites para a adesãona cimeira da OTAN de2002Lord Robertson disse, duranteuma visita à Eslováquia e àEslovénia a 10 e 11 de Maio, que aas decisões sobre os próximosconvites para a adesão à OTAN

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A Turquia reconhece aRepública da Macedóniacom o seu nome consti-tucional.

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seriam tomadas na próxima cimeirada Aliança em 2002.

O primeiro exercício da Parceriapara a Paz organizado pela França,o Cooperative Lantern 2000, tevelugar de 14 a 27 de Maio e envolveucerca de 600 militares de 22 países,que praticaram a cooperação emduas brigadas multinacionais emFréjus, no Sul de França.

A Rússia reata a suaparticipaçãoA Rússia reatou a sua participação namais alta instância militar da OTAN, areunião do Comité Militar emsessão dos chefes de estado-maior,a 9 e 10 de Maio, a primeira vezdesde a campanha aérea da OTANcontra a Jugoslávia do ano passado.

O Primeiro-ministro croata IvicaRacan visitou a OTAN a 9 de Maiopara debater as relações do seu paíscom a Bósnia, o apoio aos Acordosde Paz de Dayton, o regresso dosrefugiados, a cooperação com oTribunal Internacional de Crimes deGuerra para a ex-Jugoslávia emHaia e a reforma política interna.

A Itália nos BalcãsO Presidente italiano Carlo AzeglioCiampi visitou a OTAN a 5 de Maioe Lord Robertson visitou a Itália a8 de Maio para debateremquestões de segurança actuais e acontribuição da Itália para a con-solidação da paz nos Balcãs.

Mais de 2 000 militares de 11 paí-ses da OTAN participaram noArdent Ground, um exercício anualde reacção rápida na Hungria, de29 de Abril a 13 de Maio, organiza-do pela Força Móvel do ACE(Terrestre). A AMF(L) é uma forçade reacção rápida treinada para serdestacada dentro de 72 horas.

O Linked Seas 2000, um exercíciocombinado de manutenção da pazenvolvendo participantes de 17

países, teve lugar de 2 a 15 deMaio numa área estendo-se doGolfo da Biscaia à ilha da Madeira.O exercício simulava a resposta aum conflito de fronteira entre doispaíses não membros da OTAN.

Mudança no SHAPEO General Wesley Clark entregou ocomando do Quartel-GeneralSupremo das Potências Aliadas naEuropa ao General Joseph Ralstona 3 de Maio. O General Ralston, umpiloto de combate com mais de 2 500 horas de voo, incluindo mis-sões sobre o Laos e o Vietname doNorte, é também o comandante--em-chefe das forças dos EstadosUnidos na Europa e foi, anterior-mente, vice-presidente da Junta deChefes de Estado-Maior, o segundolugar na hierarquia militar dosEstados Unidos.

Os capacetes azuis da KFOR pren-deram o suspeito de crimes de guer-ra Dragan Nikolic a 21 de Abril etransferiram-no para o TribunalInternacional de Crimes de Guerraem Haia. Nikolic foi comandante docampo de detenção de Susica e éacusado de crimes contra ahumanidade, violações das leis ecostumes de guerra e graves infrac-ções às Convenções de Genebra.

O Centro Euro-Atlântico de Coor-denação da Ajuda a Catástrofes daOTAN ajudou a coordenar a ajudainternacional às vítimas das inun-dações na Hungria e na Roméniaem Abril, ajudando Budapeste eBucareste a obter rapidamentesacos de areia e combustíveis.

Comando europeu daKFORO Eurocorpo, força militar europeiade cinco países, chefiado pelo gene-ral espanhol Juan Ortuño, assumiuo comando por seis meses daForça do Kosovo, a 18 de Abril. O

Eurocorpo substitui o LANDCENT,que era chefiado pelo generalalemão Klaus Reinhardt.

Lord Robertson visitou o TribunalInternacional de Crimes de Guerraem Haia a 13 de Abril, onde reiteroua determinação da OTAN em pro-ceder à detenção dos suspeitos decrimes de guerra ainda em liber-dade. Também se reuniu com oPrimeiro-ministro holandês WimKok, o ministro dos estrangeirosJozias van Aartsen e o ministro dadefesa Frank de Grave.

Lord Robertson visitou os EstadosUnidos de 3 a 7 de Abril para se reunircom o Vice-Presidente Al Gore, aSecretária de Estado MadeleineAlbright e personalidades doSenado, e para fazer uma série depalestras para grupos de reflexãoe universidades em todo o país.

A 3 de Abril na Bósnia, os capacetesazuis da KFOR detiveram MomciloKrajisnik, o suspeito de crimes deguerra de mais alto nível detido atéagora. Confidente de RadovanKaradzic, dirigente sérvio bósnio dotempo da guerra acusado de crimesde guerra, Krajisnik foi acusado peloTribunal Internacional de Crimesde Guerra de Haia de genocídio emuitos outros crimes de guerra,incluindo assassínio, homicídio vo-luntário, extermínio, deportação eactos desumanos.

Lord Robertson visitou a Letóniae a Suécia de 29 a 31 de Março.

Lord Robertson visitou o Kosovo a24 de Março para assinalar oprimeiro aniversário da campanhaaérea da OTAN contra a Jugoslávia,reunindo-se com o então coman-dante da KFOR, General KlausReinhardt, o administrador da ONU,Bernard Kouchner, e três membrosalbaneses do Conselho de Adminis-tração Transitório da província.

O Primeiro-ministro estonianoMart Laar visitou a OTAN a 22 deMarço para se reunir com LordRobertson e debater o envolvi-mento da Estónia no Plano deAcção para a Adesão da OTAN.

Dez países da OTAN participaramno Ample Train 2000, um exercí-cio logístico aéreo, realizado emFrança de 27 a 31 de Março, paraanalisar o grau de compatibilidadeentre as forças de reacção rápidados participantes.

O Kosovo um ano depoisUm ano depois de a OTAN ter lança-do a Operação Allied Force contra aJugoslávia, Lord Robertson publi-cou as suas reflexões sobre osresultados e desafios no Kosovonum relatório intitulado KosovoOne Year On: Achievement andChallenge. Esclarece que a comu-nidade internacional continuaempenhada na paz e na estabilidadena província, mas realça que oslocais tinham um papel fundamentala desempenhar na coabitação pacífi-ca dos diversos grupos étnicos.

Lord Robertson visitou a Croáciae a Hungria a 16 e 17 de Março,reunindo-se com os dirigentesdestes dois países e participandodepois numa sessão de trabalhode dois dias com os primeiros--ministros do sueste Europeu.

O Primeiro-ministro albanês IlirMeta visitou a OTAN a 20 de Marçopara debater com Lord Robertsona situação no Montenegro, o Pactode Estabilidade para o SuesteEuropeu e a reforma da defesa naAlbânia.

Forças de Reserva Estratégica par-ticiparam no exercício DynamicResponse 2000, de 19 de Março a10 de Abril no Kosovo, para pôr àprova a sua aptidão para seremdestacadas rapidamente, a suainteroperacionalidade e prontidãooperacional, e para demonstrar acapacidade da OTAN para reforçar aKFOR.

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6Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

Itália é um dos membros fundadores da Aliança doAtlântico e da União Europeia. Nos anos decisivos –difíceis mas empolgantes – entre 1950 e 1955, houve

um intenso debate em Itália a todos os níveis, desde o par-lamento até às massas populares, sobre o futuro interna-cional do país. Deste debate resultou a adesão da Itália àsduas entidades, que influenciaram e transformaram tãoprofundamente os acontecimentos das décadas subse-quentes e a face do Velho Continente: a Aliança doAtlântico e o que na altura se chamava a ComunidadeEuropeia. Estas duas organizações tornaram-se e man-tiveram-se os guias da políticaexterna da Itália: o seu empen-hamento atlântico e a sua vocaçãoeuropeia.

Foi com este espírito e com ofirme apoio da opinião pública ita-liana e das forças políticas italianasque o Presidente italiano CarloAzeglio Ciampi se dirigiu aoConselho do Atlântico Norte em 5de Maio. Vendo a Aliança doAtlântico do ano 2000 como umaponte entre o passado e o futuro,prestou-lhe homenagem por terpreservado durante 50 anos os valo-res fundamentais da liberdade e dademocracia e manifestou o apreçoda Itália pela forma eficaz como aAliança do Atlântico “se adaptou e transformou, consoli-dando a coesão entre os seus membros”.

A “nova OTAN” – como é actualmente chamadamuitas vezes – que saiu da Cimeira de Washington, écapaz e está pronta a assumir um papel central na segu-rança da área euro-atlântica, em complemento das suasantigas e ainda válidas funções de defesa colectiva. OsBalcãs constituem uma prova evidente da vocação daOTAN para manter a segurança no continente, paradesenvolver uma visão que é cada vez mais dinâmica epara alargar e manter a paz, na região dos Balcãs. AOTAN, que nunca tinha anteriormente destacado umúnico soldado para aí, interveio militarmente, primeiro naBósnia-Herzegovina (Bósnia) e depois no Kosovo, eagora tem mais de 60 000 militares destacados na região.Os Balcãs são, portanto, fundamentais para a Aliança doAtlântico e para sua visão do futuro. E a Itália, por sua

vez, desempenha um papel central nos Balcãs e naestratégia que está a ser desenvolvida pela OTAN paraesta região, o que demonstra cada dia mais a forma comoa área de ameaça potencial e de instabilidade geográficase deslocou do Leste para o Sueste Europeu. Este papelcentral da Itália resulta tanto da sua situação geográfica –para a Itália, os Balcãs não são uma entidade remota masuma realidade que fica a apenas umas dezenas dequilómetros da costa do Adriático – como da sua história.Assim, a geografia, a história e a vocação política da Itáliaconjugam-se para lhe dar uma responsabilidade especial,

Para assinalar a visita do Presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi à OTAN, o Embaixador Amedeo de Franchis examina a política da Itália em relação aos Balcãs.

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A Itália nos Balcãs

O Embaixador Amedeo de Franchis é o RepresentantePermanente da Itália na OTAN

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Visita de Estado: Lord Robertson (à esq.), o Presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi e oEmbaixador Amedeo de Frachis (à dir.) na OTAN.

a que a Itália não se tem furtado, desempenhando umpapel dominante, por vezes agindo mesmo como a cons-ciência da Aliança, dando relevo à necessidade de agirrapidamente, com a convicção de que o teatro dos Balcãsnão é e não deverá ser visto como um “jogo de compen-sações”, mas como um jogo em que os ganhos alcançadospodem aumentar o alcance da segurança euro-atlântica.

O Ministro dos Estrangeiros Lamberto Dini declarouna reunião ministerial da OTAN em Florença a 24 deMaio: “Aprendemos com os Balcãs que a segurança e aestabilização de todo o Sueste Europeu devem ser procu-radas numa base regional e integrada. A Itália adoptousempre esta abordagem da interdependência regional”.Por esta razão, a Itália não hesitou em organizar e dirigira Operação Alba durante a Primavera e o Verão de 1997.Esta operação também envolveu, entre outras, forças daDinamarca, França, Grécia, Roménia, Espanha e Turquia(um total de 7 000 militares, incluindo mais de 3 000 ita-lianos). Em resposta aos desejos expressos pela OSCE epelas Nações Unidas, a missão específica da Operação

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7Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

Alba era permitir a distribuição de ajuda humanitária,mas também era concebida e conduzida com o fim de evi-tar uma guerra civil e tornar possível aos albanesesencontrar uma solução para a sua crise política. E éimportante recordar que, enquanto decorria a OperaçãoAlba, a Itália continuava a ter milhares de militares naBósnia, no contexto das missões da IFOR e da SFOR. Agénese e a subsequente evolução da crise do Kosovoainda estão presentes no espírito de todos nós e não pre-ciso de recordar as sua várias fases. Basta dizer que tam-bém naquelas circunstâncias – numa situação de fla-grantes violações dos valores e direitos do homem maisfundamentais, provocada por uma política de limpezaétnica – a Itália compreendeu e previu claramente asdimensões do desafio. Não só proporcionou, disponibi-lizando aeroportos e portos marítimos, toda a baseestratégica e logística necessária para o êxito das opera-ções militares como também participou com os seuspróprios meios. Além disso, a Itália esteve presente logodesde o início na KFOR, fornecendo um dos maiores con-tingentes. Em resposta à situação de emergência emMitrovica, a Itália enviou mais forças, o que fez dela,durante um largo período de tempo, o maior contribuintemilitar no Kosovo. Actualmente, tem um total de 7 500militares destacados no quadro da missão da KFOR,incluindo também o contingente na Albânia, onde a Itáliaassegura praticamente sozinha a presença da OTAN.Além disso, o contingente italiano assegura o funciona-mento do aeroporto de Djadovica, bem como a ligaçãoferroviária entre Pristina e Skopje. Estes esforços sãocomplementados por numerosas actividades conduzidaspor ONG italianas.

O contingente militar da Itália no sector ocidental doKosovo em torno de Pec, que está sob o seu comando, éparticularmente importante e é altamente apreciado pelapopulação local e pelos grupos minoritários, tanto pelasua ajuda nas actividades da vida quotidiana como portornar possível a observância das práticas religiosas dasdiversas crenças e por proteger os monumentos históri-cos. É importante assinalar que esta contribuição não éapenas de natureza militar, também se refere ao sectorcivil. Como disse o Ministro dos Estrangeiros Dini emFlorença: “No Kosovo, … a primeira prioridade é criaruma área de segurança para todas as pessoas, promover odesenvolvimento da sociedade civil e exortar os diri-gentes a adoptarem gradualmente os valores da liberdadee da democracia”.

Também no Kosovo, a acção da Itália é inspiradapelos dois guias da sua política externa: OTAN e UniãoEuropeia. Na verdade, a Itália está convencida de que nosBalcãs é necessário desenvolver tanto a dimensão desegurança – assegurada pela OTAN – como a recons-trução económica, financeira e civil, onde a UniãoEuropeia está na primeira linha. Isto reforça o chamadosistema das “instituições interligadas” e lança as basespara o posterior trabalho sobre o que se deverá tornar aDimensão Europeia de Segurança e Defesa. Um dos ensi-

namentos colhidos com a crise do Kosovo é que a Europatem que enfrentar os desafios da segurança. Neste aspec-to, embora ainda tenhamos um longo caminho a percorrerpara atingir o nosso objectivo de dispor duma capacidademilitar europeia de gestão de crises para conduzir mis-sões, utilizando eventualmente os meios e capacidades daOTAN, o itinerário a seguir já foi definido, mais recente-mente no Conselho da Europa realizado na Feira.

A Itália não é apenas um dos principais contribuintesde forças no Kosovo, está também (em terceiro lugar)entre os países que, a nível mundial, participam em opera-ções de paz sob os auspícios da ONU. Além disso, a Itáliaestá em quinto lugar entre os países membros da ONU emtermos de contribuições financeiras. O Secretário-Geralda ONU Kofi Annan, comentando o envolvimento daItália nos Balcãs e em Timor Leste, disse: “A Itália é oEstado membro ideal das Nações Unidas”. Na paradamilitar nacional que teve lugar em Roma em Junho passa-do havia unidades das várias missões de paz da ONUenvolvendo a Itália. Só para referir algumas: Albatrossem Moçambique, Pellicano na Albânia, Interfet em TimorLeste, as várias missões dos Carabinieri em El Salvador,Camboja, Somália, Hebron, Bósnia, Albânia eGuatemala, bem como uma representação das forças ita-lianas destacadas nos Balcãs sob os auspícios da OTAN.

Em conclusão, a Itália não está convencida de que osBalcãs têm um destino inevitável. Enfrentamos ali tantoriscos como possibilidades e mesmo aquela atormentadaregião está a adquirir uma visão dinâmica da história,compreendendo que também tem direito a um futuro, nãosomente a um passado, e que pode acabar com a suaimagem de barril de pólvora do continente para se tornaruma montra da Europa. Neste sentido, somos encorajadospelos sinais de mudança e abertura que aparecem emZagreb e pela melhoria da situação em Sarajevo.Esperamos que estes factos possam contribuir para umamudança democrática também na Sérvia, para que possa,como a Itália deseja ardentemente, assumir a posição quelhe compete no contexto euro-atlântico. Contudo, toda aregião, incluindo a Sérvia, deve primeiro renunciar à suavisão pessimista, que levou Edmund Stillman a dizer que:“Os Balcãs são exactamente o contrário do optimismofácil. Ensinam-nos que tudo acaba, tudo se parte e tudo sedesintegra”. A Itália e a OTAN consideram a reconstruçãocivil e económica dos Balcãs e a consolidação dos valoresdemocráticos e da tolerância nesta região como umaincumbência da civilização. Como declarou o PresidenteCiampi a 5 de Maio no Conselho do Atlântico Norte, se aOTAN é a única grande aliança militar que sobreviveu aofim das circunstâncias que levaram à sua criação, há uma“razão profunda que diz respeito à própria essência dosvalores do Mundo Ocidental”. Os interesses estratégicos,valores e intenções comuns que inspiram a culturaeuropeia e americana e que conjuntamente constituemuma civilização euro-americana comum, permitem-nosiniciar com confiança as missões que esperam a OTAN noalvorecer do século XXI. �

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transição dum regime autoritário para a democraciaé cheia de perigos em qualquer país. Contudo, podeser tornada mais fácil com a ajuda internacional. É

por isso que a adesão à Parceria para a Paz é tão impor-tante para a Croácia e que o meu país deseja aderir àOTAN e à União Europeia.

Desde que chegou ao poder em Janeiro deste ano, omeu governo traçou um caminho muito diferente do segui-do pelo seu antecessor. Tendo iniciado um programa dereformas muito vasto, os próximos anos serão provavel-mente difíceis. De muitas formas, a Croácia está agora numcaminho semelhante ao escolhido há cerca de 25 anos pelaEspanha e Portugal. Actualmente, estes dois países sãodemocracias prósperas, membros activos da OTAN e daUnião Europeia e uma fonte de inspiração. Pretendemosemular os seus resultados, participar activamente naParceria para a Paz e contribuir para se encontraremsoluções duradouras no Sueste Europeu e para além dele.

Sob o antigo regime do falecido Presidente FranjoTudjman, a Croácia tinha más relações com os seus vizi-nhos e com a maioria da comunidade internacional. Osprincipais pontos de conflito eram a política em relação àBósnia-Herzegovina (Bósnia), as relações com o TribunalInternacional de Crimes de Guerra de Haia (o Tribunal) ea posição em relação ao regresso à Croácia dos refugiadossérvios. Já não são pontos controversos.

Enquanto alguns membros do antigo partido no podere o próprio Tudjman cobiçavam claramente partes daBósnia, o meu governo respeita a soberania e a integridadeterritorial do nosso vizinho. Na verdade, os meus colegase eu criticámos abertamente a política de Tudjman emrelação à Bósnia tanto durante como depois da guerra daBósnia, acreditando que o bom funcionamento e o êxito doEstado bósnio eram e são do interesse nacional da Croácia.Estamos por isso empenhados no processo de paz deDayton e tencionamos contribuir para a reconstruçãoduma Bósnia que possa ser a pátria de todos os seus povos.

Desde que tomámos posse, deixámos de transferirsoldados directamente entre as Forças Armadas Croatas eo Conselho de Defesa Croata, a componente croata bós-nia das Forças Armadas da Federação Bósnia. Tambémcortámos as comunicações directas e as ligaçõeshierárquicas entre as duas forças armadas. Além disso,desde a assinatura em Maio dum Acordo de AjudaFinanceira com a Federação Bósnia, as transferênciasfinanceiras entre a Croácia e o Ministério da Defesa daFederação tornaram-se transparentes.

A Croácia não está, contudo, a abandonar os croatasbósnios. Está simplesmente a procurar encontrar soluçõesduradouras e a longo prazo que conciliem os seus inte-resses legítimos com os dum Estado bósnio viável e dascomunidades sérvia e bósnia do país. A Croácia conti-nuará a pagar pensões militares e subsídios de invalidezaos croatas bósnios mas estes pagamentos serão feitos nofuturo ou através das instituições federais apropriadas oudirectamente aos beneficiários duma forma o mais abertapossível. Deixarão de ser canalizados através de duvi-dosas estruturas paralelas.

A mudança do regime em Zagreb e a inversão da políti-ca de Tudjman em relação à Bósnia já deram alguns frutosnas recentes eleições autárquicas bósnias com vantagempara os partidos multi-étnicos. Embora os nacionalistas con-tinuem poderosos, a sua base de apoio está a desintegrar-se.É de esperar que se tenha criado uma tendência irreversívelpara que, com o tempo, os bósnios de todos os grupos étni-cos sigam o exemplo croata e rejeitem o nacionalismo fali-do que tem estragado as suas vidas durante a última década.

Contudo, a sociedade bósnia não pode ser reconstruí-da sem haver reconciliação. É aqui que o Tribunal tem umpapel vital a desempenhar pois a culpa é individual, não écolectiva. Só quando as pessoas responsáveis pelosexcessos cometidos na guerra da desintegração jugoslavaforem obrigadas a prestar contas dos seus actos, o proces-so de apaziguamento pode iniciar-se adequadamente.

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A

Recuperar o tempo perdidoIvica Racan descreve a revolução que teve lugar este ano na política croata e as suas

ambições para o futuro

Ivica Racan é o Primeiro-ministro da Croácia

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Foram cometidos crimes por todas as partes, inclusivepelos croatas. Para ajudar o Tribunal, o meu governoinverteu, também nisto, a política do antigo regime e ten-ciona entregar os acusados, disponibilizar todos os docu-mentos relevantes e facilitar as investigações no territóriocroata. Em Março, o acusado croata bósnio Mladan “Tuta”Naletilic foi extraditado para Haia. Em Abril, a câmarabaixa do parlamento croata aprovou uma declaração sobrea cooperação com o Tribunal. Desde então, a Croácia temajudado as investigações duma equipa forense de Haia.

Uma das razões por que a Croácia está tão ansiosa porajudar o Tribunal é garantir que, quando uma pessoa é jul-gada, todas as provas estejam disponíveis, tanto para aacusação como para a defesa, de forma a que o acusadotenha um julgamento imparcial. Só desta maneira será feitajustiça e de forma visível. Uma vez que o antigo regime daCroácia se recusou a cooperar com o Tribunal e não entre-gou documentos, há a possibilidade de, nalguns casos, emparticular na condenação a 45 anos de prisão do generalcroata bósnio Tihomir Blaskic, o Tribunal não dispor dainformação necessária para tomar a decisão correcta.

Embora o Tribunal tenha ajudadoa construir um quadro para a recon-ciliação, esta continua distante dosseus beneficiários, os povos da ex--Jugoslávia. Em última instância, areconciliação compete-nos a nós e oprocesso de apaziguamento tem queter lugar dentro da região. Por estarazão, esperamos que no futuro os jul-gamentos dos crimes de guerra possamser realizados na Croácia, bem comonoutros lugares da ex-Jugoslávia.

A reconciliação não terá lugar senão depois de os queforam expulsos das suas casas poderem regressar. Por isso,o meu governo considerou prioritário o regresso dos refu-giados e das pessoas deslocadas. Já aprovámos umadeclaração conjunta sobre o regresso dos refugiados com aRepública Srpska, a parte da Bósnia dominada pelos sérviosbósnios, esperando fazer acelerar o processo de regresso emtoda a região. Ao mesmo tempo, em conjunto com o gabi-nete do Alto Comissário da ONU para os Refugiados(ACNUR), desenvolvemos um projecto para o regresso àCroácia de 16 500 pessoas deslocadas. Com o financiamen-to prometido na conferência regional de financiamento doPacto de Estabilidade realizada em Março, podemosincumbir-nos nós próprios da sua implementação.

O meu governo nunca insistirá na reciprocidade – umnúmero de regressados croatas idêntico ao de regressados deoutras etnias – nem fará discriminação deliberada contra ossérvios regressados. Um cidadão croata é um cidadão croata,independentemente da sua origem étnica, e com direito a todaa protecção duma lei imparcial. Com este fim, iniciámos umprocesso de correcção de toda a legislação discriminatóriasobre os princípios da inviolabilidade da propriedade privadae da igualdade de todos os cidadãos perante a lei.

A guerra da Croácia é recente e deixou lembrançastristes. Ao mesmo tempo, a nossa economia está emrecessão, o desemprego é elevado e há fortes restrições nasdespesas públicas. Em resultado disto, há na Croácia quempossa aceitar mal a ajuda dada aos sérvios que regressam.Contudo, isto não alterará a nossa política. Já em Junhoaprovámos leis garantindo aos sérvios igualdade de acessoaos fundos de reconstrução e os nossos tribunais puniramas pessoas que profanaram monumentos sérvios.

Espera-se que ajudar o regresso dos sérvios à Croácia con-tribuirá para melhorar as relações com os nossos vizinhos,incluindo a República Federal da Jugoslávia. Contudo, umaverdadeira normalização das relações não será possívelenquanto o Presidente jugoslavo Slobodan Milosevic se man-tiver no poder e as atitudes e maneiras de pensar que ele ajudoua incutir continuarem a predominar. Os problemas da Sérviavão bastante para além de Milosevic. Até que a sociedadesérvia se acomode ao seu passado recente continuará a ser umpária internacional e uma paz e estabilidade duradouras noKosovo e no Sueste Europeu serão provavelmente ilusórias.

Falar da reconstrução duma certa nova Jugoslávia e dejuntar de novo a Croácia, a Sérvia e aBósnia é ingenuidade. Dito isto, os vá-rios países da região poderão trabalharem conjunto. Na verdade, tencionamosdemonstrar isto no quadro do Pacto deEstabilidade para o Sueste Europeu, quetambém consideramos como o caminhopara a adesão à União Europeia.

Além de aderir à Parceria para a Paz,a Croácia tornou-se este ano membroassociado da Assembleia Parlamentar daOTAN e assinou 16 acordos bilaterais de

cooperação militar, 8 dos quais com países da OTAN. Estesnovos laços deverão permitir-nos trabalhar em conjunto comos parceiros para encontrar soluções e ajudar-nos a reformare restruturar as nossas próprias forças armadas.

O estabelecimento do controlo democrático sobre asforças armadas e as reformas da defesa são esforços que sereforçam mutuamente e, por isso, necessitam ser conduzi-dos conjuntamente. Está ser preparada nova legislaçãopara alargar a supervisão dos militares pelo parlamento,está ser criado um corpo de peritos civis em matéria dedefesa e estão a ser introduzidos na defesa normas e pro-cedimentos destinados a aumentar a transparência.

O esforço para reformar a sociedade croata faz parte doesforço para integrar a Croácia na Europa Ocidental. Emconsequência da guerra e da posterior má gestão, a Croáciaperdeu lugares na lista dos países desejosos de aderir àOTAN e à União Europeia. Mas agora estamos a recuperaro tempo perdido e esperamos seguir o caminho traçado porpaíses como a Espanha e Portugal. O que é bom para aCroácia é bom para todos os cidadãos croatas, independen-temente da sua origem étnica, é bom para o Sueste Europeue para toda a comunidade euro-atlântica. �

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O esforço para reformar a sociedadecroata faz parte doesforço para integrara Croácia na EuropaOcidental.

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Kristan J. Wheaton é um oficial da área doestrangeiro do Exército dos EUA actualmente colocado na Embaixada dos EUA em Zagreb.As opiniões expressas neste artigo, contudo, são suas e não reflectem a posição oficial de qualquerdepartamento ou organismo do governo dos EUA.

uando os eleitores croatas rejeitaram o partido políti-co que tinha levado a Croácia à independência etinha estado no poder durante a última década, os

militares croatas fizeram uma coisa notável. Nada. Apesardos apelos para um golpe de Estado feito por algunsextremistas de direita, as forças armadas da Croáciarecusaram intrometer-se na política, contribuindo assimpara uma tranquila transferência do poder.

Embora seja de esperar tal comportamento nas demo-cracias ocidentais, não é normal em países saindo dumregime autoritário. De facto, é comum acontecer exacta-mente o contrário. Falando duma maneira geral, um com-promisso com os militares é uma das condições préviasessenciais para o êxito duma mudança, o que torna aindamais notável o respeito dos militares croatas pelo processopolítico. Contudo, esta atitude significativa não foi aciden-tal. Os aliados da OTAN e os próprios croatas atribuíram,

durante os últimos cinco anos, recursos substanciais àprofissionalização dos militares croatas.

Em 1995, os militares croatas apoiaram de forma clarae esmagadora o falecido Presidente croata Franjo Tudjmane o seu partido autoritário, a União Democrática Croata(Hrvatska demokratska zajednica ou HDZ). Do ponto devista do soldado médio, havia boas razões para este apoio.Através do seu controlo quase total dos media, a HDZ tinhaconseguido convencer a maior parte dos militares, na ver-dade uma boa parte da população da Croácia, que a HDZ,e apenas ela, poderia governar eficazmente o país e repre-sentar eficazmente os seus interesses no estrangeiro. Era,na altura, quase impensável que, no caso duma crise, aHDZ não pudesse contar com o apoio dos militares croatas.

Nos fins de 1999, a situação tinha mudado especta-cularmente. A baixa do nível de vida e uma série deescândalos económicos implicando altas figuras do par-tido no poder provocaram uma crescente desilusão comas velhas receitas da HDZ de nacionalismo e isolamentointernacional. No seguimento da morte de Tudjman emDezembro de 1999, o apoio à HDZ desintegrou-se. Asua representação parlamentar baixou de 59% para ape-nas 29% nas eleições de Janeiro e Fevereiro de 2000.Além disso, os militares aceitaram os resultados daseleições e começaram a trabalhar com o novo Presidente

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Kristan J. Wheaton descreve como os países da OTAN ajudaram a preparar os militares croatas para a transição dum regime autoritário para um regime democrático.

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Preparar os militares croatas para a democracia

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Estudantes da democracia: as forças armadas da Croácia demonstraram as suas credenciais democráticas mantendo-se fora da política.

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democraticamente eleito, Stipe Mesic, e o governo donovo primeiro-ministro, Ivica Racan.

Os Estados Unidos foram, no final de 1995, o primeiropaís da OTAN a organizar programas de cooperação para osmilitares croatas e continuam a ser o principal financiadordaquilo a que os militares americanos se referem comoactividades de “empenhamento”. São programas destinadosa promover a estabilidade regional e a democratização e, emrelação à ex-Jugoslávia, a “apoiar os esforços dos EUAparaassegurar um progresso autónomo do Processo de Dayton”e a “desenvolver instituições militares adaptadas ao contro-lo civil democrático”. Em 1998, o Embaixador dos EUA naCroácia, William Montgomery, elaborou um “Guia daParceria para a Paz” que ajudou a centrar os programas dosEUA na própria Croácia. Além disso, tornou o adido dedefesa dos EUA responsável pela sincronização do esforçodos EUA. Esta medida não só protegeu os programas,através dum bem sucedido relacionamento de trabalho comos dirigentes croatas, como multiplicou o seu impacte,através duma cuidadosa coordenação.

A ajuda directa dos EUA à Croácia para treino militaraumentou de 65 000 USD em 1995 para 500 000 USD em2000. Estas importâncias foram fornecidas à Croáciaatravés do fundo InternationalMilitary Education and Training(IMET) autorizado pelo Con-gresso. Durante este período, osEUA treinaram cerca de 200militares e civis croatas nosEstados Unidos e várias cente-nas mais em seminários de umae duas semanas realizados naCroácia. O dinheiro do IMETtambém pagou a criação de trêslaboratórios de línguas e, assim,a Escola Militar Croata deLínguas Estrangeiras podeactualmente habilitar cercade 150 pessoas por ano a falarfluentemente inglês. O custo total do programa IMET naCroácia desde 1995 foi de cerca de 2 milhões de USD. ADefence Security Cooperation Agency, em colaboraçãocom o Comando Americano na Europa, também finan-ciou, desde 1997, os serviços a tempo inteiro de duas pes-soas para ajudar os militares croatas a programar e execu-tar o treino financiado pelo IMET.

Além das actividades financiadas pelo IMET, oComando Americano na Europa patrocinou uma Equipa deLigação Militar de quatro pessoas na Croácia no quadro doPrograma Conjunto de Equipas de Contacto (JCTP). Estaequipa começou a trabalhar em 1996 e efectuou até agoracerca de 300 sessões destinadas a apresentar as ForçasArmadas dos EUA como um modelo do papel dumasforças armadas eficientes sob controlo civil eficaz. Assessões do JCTP são diferentes do treino financiado peloIMET. O JCTP está impedido de efectuar treino e deve

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restringir as suas actividades a sessões do tipo de familia-rização e orientação. Não é exigido aos participantes quefalem fluentemente inglês e as sessões duram normalmentemenos de uma semana (ao contrário dos cursos financiadospelo IMET, que duram normalmente vários meses). Ditoisto, as sessões financiadas pelo JCTP desempenharam umpapel importante fazendo conhecer a muito pessoal militarcroata a normas e perspectivas democráticas.

Os Estados Unidos, juntamente com a Alemanha,também apoiaram o Centro Marshall em Garmisch,Alemanha. O Centro destina-se a apoiar altos estudos emmatéria de segurança e defesa para responsáveis da políti-ca externa e de segurança. A Croácia enviou ao CentroMarshall para treino, desde 1995, mais de 40 elementosdo seu ministério da defesa e do estado-maior general.Esta actividade custou aos Estados Unidos quase 350 000USD só em 1999 e 2000.

Além do Centro Marshall, a Alemanha começou, em1999, a oferecer treino para os oficiais croatas nas suasescolas militares. Desde então, 23 oficiais foram formadosem escolas militares alemãs e 30 frequentaram sessões defamiliarização ou orientação. O núcleo destes cursos énormalmente sobre formação militar profissional incluin-

do cursos a nível de batalhão ecompanhia, bem como estágiosna Escola de Comando e Estado--Maior alemã e treino para pes-soal médico croata. A Alemanhatambém proporcionou treino delínguas aos oficiais croatas quefrequentaram as suas escolas.Conversações em reuniões detrabalho ocorreram todos osanos, a todos os níveis, entre ofi-ciais croatas e alemães e aAlemanha também efectuoualguns exercícios com a Croáciana área da limitação dos arma-mentos. A ajuda total à Croácia

paga pelo orçamento da defesa da Alemanha é de aproxi-madamente 2 milhões de USD.

O Reino Unido também apoiou as forças armadascroatas. Desde 1997, quando o Reino Unido começou atrabalhar com os militares croatas sobre a limitação dosarmamentos (em particular em relação aos Acordos deDayton), cerca de 45 estudantes croatas foram enviadospara o Reino Unido para aprendizagem da língua inglesa.Além disso, o Reino Unido patrocinou seminários sobreuma grande variedade de temas, incluindo as disposiçõesde Dayton sobre limitação dos armamentos, direito mili-tar, e os militares e os media.

A França também proporcionou um treino significativo.Tendo começado em 1998 com a assinatura dum acordobilateral de cooperação, os franceses estabeleceram um pro-grama através do qual 31 oficiais foram formados em esco-las como a Escola de Guerra francesa, 14 em 1998 e 17 em

Quando um volume apreciávelde oficiais e sargentoscomeçou a regressar do treinono estrangeiro, os oficiais daOTAN começaram a encontrarinteresses comuns com umnúmero crescente dos seushomólogos croatas.

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1999. Segundo a Embaixada Francesa em Zagreb, estãoplaneadas para 2000 mais 20 sessões de treino. Os militaresfranceses também proporcionaram treino de línguas.

No quadro de acordos prévios entre a Turquia e aCroácia, 12 oficiais croatas frequentaram escolas turcasdesde 1999. Segundo a Embaixada Turca em Zagreb,todos os alunos frequentaram um curso de um ano de lín-gua turca antes de frequentarem a formação militar profis-sional na Academia Militar das Forças Armadas ou cursosdestinados a oficiais prestes a ir comandar companhias ebatalhões. Além das possibilidades de treino na Turquia, aCroácia enviou observadores a três exercícios em 1999.

A Itália também se envolveu num programa activocom a Croácia antes das eleições de 2000. Segundo aEmbaixada Italiana em Zagreb, o governo italiano con-cluiu uma série de memorados de entendimento com aCroácia destinados a melhorar tanto a segurança da nave-gação como a reacção a situações de emergência noAdriático. A Itália limitou as suas possibilidades de for-mação a uma pessoa na Academia Naval italiana e a umintercâmbio de observadores durante os exercíciosnacionais. É actualmente o principal país na implemen-tação da Parceria para a Paz com a Croácia e esperaaumentar o nível das suas actividades em 2000.

Outros aliados da OTAN, como a Hungria, Noruega,Polónia e Espanha, também proporcionaram o contactodos militares croatas com as práticas militares ocidentaisatravés de treino directo e outras actividades. Mais impor-tante que isso, todos os países da OTAN coordenaramestas actividades de forma informal durante o períodocrítico de 1995-2000 através de reuniões programadasregularmente do corpo de adidos da OTAN em Zagreb.

Curiosamente, entre 1995 e 2000, a própria Croáciainvestiu recursos significativos na profissionalização emodernização das suas forças armadas. Por exemplo, aCroácia tem seguido uma política de pagamento das via-gens e de ajudas de custo a todos os alunos enviados para oestrangeiro. No caso dos Estados Unidos, isto tem comoefeito triplicar o dinheiro disponível para o treino neste país.De acordo com o ministério da defesa croata, a Croácia gas-tará em 2000 mais de 2 milhões de USD do seu próprioorçamento no apoio às actividades de treino no estrangeiro,dos quais mais de 90% serão gastos em países da OTAN.

Como um dos objectivos dos vários programas detreino no estrangeiro era realçar o papel apolítico dasforças armadas num país democrático, a despesa daCroácia com estes programas prejudicou de facto o dese-jo da HDZ de manter um controlo absoluto sobre os mili-tares. Mas, no final de 1995, quando foi lançado oprimeiro e modesto programa dos EUA, a Croácia tinhauma necessidade política de confirmar o seu relaciona-mento com o Ocidente e uma necessidade militar detreinar o maior número possível de oficiais. Segundo oministério da defesa croata, o orçamento militar era nessaaltura de cerca de 1,4 biliões de USD e o investimento de

aproximadamente 130 000 USD era provavelmente con-siderado como politicamente prudente.

No final dos anos 90, contudo, a política de financia-mento do treino no estrangeiro funcionava claramentecontra a HDZ. O regime de Tudjman estava em desacordocom a comunidade internacional em praticamente todos osaspectos – excepto quanto à cooperação entre militares.Reduzir o nível de apoio nessa altura teria sido um sinalpolítico extremamente negativo. Ao mesmo tempo, o rápi-do crescimento dos programas, associado a uma estritaaplicação das normas de admissão, despolitizou eficaz-mente o processo de selecção dos candidatos ao treino.

Quando um volume apreciável de oficiais e sargentoscomeçou a regressar do treino no estrangeiro, os oficiaisda OTAN começaram a encontrar interesses comuns comum número crescente dos seus homólogos croatas. Nofinal de 1999, em todos os comandos importantes, emtodos os sectores do estado-maior general, em todas asdirecções do ministério da defesa, havia alguém que tinharecebido treino no estrangeiro.

A partir de 1997, os Estados Unidos já podiam avaliar oimpacte dos seus programas. Estavam claramente definidasas áreas em que os Estados Unidos acreditavam que tinhamproporcionado recursos adequados para a Croácia avançarno sentido em que tinha declarado que pretendia seguir. Maisimportante ainda, a Croácia passou então a ser consideradaresponsável pela utilização eficaz desses recursos. Não só seesperava que os oficiais treinados no estrangeiro fossemcolocados em cargos compatíveis com as suas novasaptidões mas também que os sistemas em transiçãoevoluíssem no sentido das normas ocidentais – um objectivodeclarado publica e firmemente pelo ministério da defesacroata mas que, na prática, tinha sido ignorado muitas vezes.

Um exemplo onde a responsabilização detalhada teveimportância ocorreu no final de 1998. Nessa altura, osEstados Unidos puderam dizer ao ministério da defesa quetinham treinado mais de 100 croatas nas modernas técnicasde gestão de recursos da defesa. Era evidente tanto para osoficiais croatas como dos EUA que isto era mais do quesuficiente para o ministério da defesa elaborar um orça-mento mais eficaz e transparente – um objectivo que tinhapatrocinado publicamente mas que tinha deparado comconsiderável resistência do interior. Afrontados com estaresponsabilidade – bem como com uma significativapressão diplomática – os adeptos da linha dura foram força-dos a ceder. Pouco depois, o ministério da defesa elaborouo seu mais transparente e detalhado orçamento de sempre.

Com a ajuda bilateral dos Aliados da OTAN e doutrospaíses, as forças armadas croatas estavam bem encami-nhadas no sentido de mudarem para umas forças armadasmodernas, controladas pelos civis e democraticamenteorientadas quando das eleições do princípio de 2000. Aonão procurarem qualquer papel político e não terem qual-quer impacte nas eleições croatas, as forças armadas croataspassaram a prova mais importante da sua história. �

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Sueste Europeu. A região porá à prova os mecanismos aonosso dispor, tanto as nossas políticas tradicionais deajuda e de trocas comerciais como as novas estruturas daPolítica Europeia Comum de Segurança e Defesa que esta-mos actualmente a pôr em prática. Utilizando-os, estamosdeterminados em “ganhar a paz”. Admitindo que os paísesda região aceitam a ajuda e fazem as opções certas, não hárazão para não poderem também tornar-se democraciasestáveis com economias de mercado bem sucedidas – umresultado que os beneficiará a eles e a nós.

O Pacto de Estabilidade, originalmente uma iniciativada UE lançada em Junho do ano passado, é um passoimportante no caminho da recuperação. As três “tabelas”do Pacto – que cobrem a democracia e os direitos dohomem, a reconstrução económica e a segurança – visampromover a reforma, a reconstrução e a cooperaçãoregional. Para manter o dinamismo, a União Europeia e osseus parceiros salientaram a necessidade de conseguirrapidamente resultados no terreno. Por esta razão, a últimaconferência sobre financiamento, em Março de 2000,debateu um pacote de arranque rápido reunindo projectose iniciativas regionais que terá início durante os próximosdoze meses. Na conferência, os países doadores promete-ram mais de 2,4 biliões de euros, portanto mais do que ofinanciamento exigido pelo pacote proposto. Contudo, aconferência sublinhou que os esforços de estabilização

o século XX, o Sueste Europeu influenciou asquestões europeias de maneira desproporcionada à suadimensão ou ao seu poder económico. O último sécu-

lo começou e terminou com as grandes potências europeiasenvolvidas militarmente na região. Estes repetidos envolvi-mentos militares testemunham a permanente importânciada região. A nossa determinação em evitar novos conflitosno século XXI é uma das razões por que as principais insti-tuições europeias, incluindo a União Europeia, estão agoraa investir um significativo capital político e económico naestabilização desta região estratégica.

Os desafios são evidentemente enormes: infra-estru-turas destruídas, uma base industrial arruinada, milharesde refugiados e pessoas deslocadas e uma herança dedesconfiança étnica. Contudo, a nossa experiência naEuropa a seguir a 1945 mostra que é possível umamudança. A reconstrução duma nova Europa depois da 2ªguerra mundial foi tornada possível pela vontade deacabar com os conflitos, o desejo de conseguir uma vidamelhor para os nossos filhos, a determinação em recons-truir e a disposição dos amigos para ajudar. Juntamentecom outros, a União Europeia está a ajudar os países do

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Uma visão europeia para os BalcãsChris Patten analisa os desafios que se apresentam à União Europeia no Sueste Europeu e as políticas

em curso para os enfrentar.

Chris Patten é o comissário europeu para as relaçõesexternas

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Construir a Europa: A União Europeia gastou mais de 4,5 milhões de euros nos Balcãs desde 1991.

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14Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

eram uma rua com dois sentidos. O objectivo é ajudar ospaíses do Sueste Europeu a ajudarem-se a si próprios. Paracopiar o renascimento da Europa Ocidental depois da 2ªguerra mundial, têm que melhorar a governação, criarcondições para verdadeiros empreendimentos privados,combater a corrupção, reforçar a coesão social e cooperaruns com os outros para benefício comum.

Muitos países da região já reconheceram que o melhorpara o seu futuro não é a xenofobia e o isolamento mas aparticipação no processo da integração europeia. Emresposta, como contribuição especial para o Pacto deEstabilidade, a União Europeia abriu a perspectiva dumaplena integração nas suas estruturas. A União Europeiaestá agora a propor Acordos de Estabilização e Associaçãoespecialmente adaptados à Albânia, Bósnia-Herzegovina(Bósnia), Croácia, República Federal da Jugoslávia(Jugoslávia), e ex-República Jugoslava da Macedónia(1).Esta nova forma de relacionamento contratual tem o atrac-tivo da integração nas estruturas da UE, liberalização docomércio, ajuda financeira, ajuda à democratização e àsociedade civil, ajuda humanitária aos refugiados, coope-ração nos assuntos internos e de justiça e desenvolvimen-to dum diálogo político em troca da reforma política eeconómica e da cooperaçãoregional. Com efeito, aUnião Europeia está a ofere-cer a partilha do seu futuropolítico e económico com ospaíses dos Balcãs ocidentais.

Os Acordos de Estabi-lização e Associação realçame exigem a cooperaçãoregional, por se tratar dumelemento essencial de qual-quer solução duradoura paraos problemas do SuesteEuropeu. Desenvolver os laços comerciais e de infra-estru-turas, gerir as fronteiras comuns e promover a interacçãocultural exige uma cooperação que ultrapasse as linhasdivisórias tanto internas como externas. Esta actividade étambém uma útil preparação para a futura integração nasestruturas europeias, que se baseiam elas próprias na coope-ração inter-regional e internacional. Os progressos nasreformas permitiram a abertura de negociações sobre osAcordos de Estabilização e Associação com a ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia e, mais recentemente, com aCroácia, enquanto que para a Albânia foi apresentado umrelatório de exequibilidade. Quanto à Bósnia, ainda não foiiniciado um estudo de exequibilidade sobre um tal acordo.

Ao mesmo tempo, a ajuda da UE à região continua. AUnião Europeia é, de longe, o maior doador de ajuda aoconjunto dos Balcãs ocidentais. Desde 1991, através dosseus vários programas de ajuda, contribuiu com mais de4,5 biliões de euros. Para o ano 2000 há mais de 520 mi-lhões de euros disponíveis no contexto apenas dos progra-mas de ajuda PHARE e OBNOVA. Também no terreno é

a União Europeia que mais contribui. No Kosovo, cerca de36 000 militares e 800 polícias civis dos Estados membrosda UE prestam serviço ao lado da Comissão Europeia que,por sua vez, trabalha com outros parceiros internacionais.A União Europeia dirige a Agência Europeia deReconstrução, o departamento da Missão da ONU noKosovo responsável pela reconstrução económica, e que éo maior doador neste domínio. Mais para Leste, aRoménia e a Bulgária, que são actualmente ambas candi-datas à adesão à UE, recebem em conjunto aproximada-mente 900 milhões de euros por ano em ajuda de pré--acessão. Infelizmente, a Sérvia de Slobodan Milosevicoptou por não querer um envolvimento positivo com aUnião Europeia e o conjunto da comunidade interna-cional. Embora a Sérvia não possa evitar que os seus vizi-nhos estabeleçam laços mais estreitos com a Europa oci-dental, está no centro da região e mantém a capacidade deexportar conflitos. A estabilidade regional estará em riscoenquanto a Jugoslávia não ocupar o lugar que lhe competenuma nova ordem pacífica e democrática nos Balcãs.Milosevic e o seu governo – não o povo sérvio – são omaior obstáculo para que isso aconteça.

Como o regime de Milosevic é o obstáculo pertur-bador, a União Europeia temexercido pressão sobre ogoverno sérvio através doisolamento e da imposiçãode sanções. Ao mesmotempo, consciente de que oisolamento poderá em simesmo tornar-se um obs-táculo à mudança na Sérvia,a União Europeia tentoucentrar as sanções em pes-soas próximas do regime.Entretanto, a União Europeia

está procurando ajudar a população sérvia através de for-mas engenhosas de ajuda humanitária como o programa“Energia para a Democracia”, um programa de forneci-mento de combustíveis aos municípios geridos pelaoposição, e de apoio aos media independentes.Significativamente, a interdição de voos foi levantada eforam estabelecidos contactos com administrações locaisreformistas e a (infelizmente ainda muito pouco concen-trada) oposição política. Esperemos que o exemplo dodesenvolvimento e do aumento da prosperidade noutraspartes da ex-Jugoslávia induzam, com o passar do tempo,uma corrente reformista mais forte na própria Sérvia.

A União Europeia continua a apoiar a reformademocrática e económica no Montenegro, o parceirominoritário da Sérvia na Jugoslávia, embora desencorajandoiniciativas no sentido da independência. Contudo, a UniãoEuropeia está convencida de que os esforços de Belgradopara desestabilizar o Montenegro não foram suficientementecompensados pela ajuda ocidental e de que os esforços deajuda nas áreas orçamental, humanitária e técnica precisam

O Sueste Europeu porá à prova osmecanismos ao nosso dispor, tanto asnossas políticas tradicionais de ajudae de trocas comerciais como as novasestruturas da Política EuropeiaComum de Segurança e Defesa.

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A Turquia reconhece aRepública da Macedóniacom o seu nome constitucional.

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ser reforçados. O facto de Montenegro não ser um Estadonão deverá constituir um obstáculo para esta ajuda.

No Kosovo, as medidas de curto prazo destinadas aconsolidar a paz continuam a ser importantes. Aqui, onosso objectivo é evitar novas crises, particularmente novale de Presevo e em Mitrovica. Em conformidade com aResolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU,devemos continuar a garantir uma segurança suficientepara que o compromisso político e a regeneraçãoeconómica se possam enraizar. A participação dos sérviosdo Kosovo nas estruturas da Administração Conjunta podeindicar que a política actual começa a dar frutos.

A perspectiva da integração europeia tem sido umainfluência poderosa para a mudança nos Balcãs ocidentais.Na Bósnia e na Croácia a mudança tem sido apoiada pelainstituição dos chamados “Grupos de Consulta” em que aUnião Europeia e as autoridades nacionais interessadasdebatem as prioridades e os aspectos práticos da mudança,reforma e integração. Os Grupos de Consulta são, assim,fóruns para consultas regulares, que nos permitem fazeravançar o processo em conjunto. A União Europeia esperaque instituições semelhantes possam ser eventualmentecriadas noutros países do Sueste Europeu.

Sem dúvida, pode e deve ser feito mais. A ajuda é útil;as trocas comerciais são decisivas. A União Europeia játem um regime liberal de comércio para o Sueste Europeu,que permite que mais de 80% das exportações regionaisentrem na União Europeia sem pagamento de direitos.Contudo, a União Europeia propõe ir mais além. Estãoprevistos acordos de comércio livre no quadro dosAcordos de Estabilização e Associação (e já estamos aincitar os países da região a negociarem entre eles acordosde comércio livre, assim optimizando as suas vantagensrespectivas). Contudo, o comércio livre imediato com aUnião Europeia seria um choque para as economiasregionais, privando-as, por exemplo, das receitas alfan-degárias que para muitos governos são uma fonte dereceitas essencial. A União Europeia tenciona, por isso,apresentar em breve novas propostas sobre medidas visan-do uma maior abertura do mercado da UE antes da nego-ciação dos Acordos de Estabilização e Associação. Todasos analistas identificam a importância e potencial subver-sivo do crime e da corrupção na região. A União Europeiapoderia aproveitar com bons resultados a sua experiênciaadquirida com o “Pacto de Pré-Acessão sobre CrimeOrganizado entre os Estados Membros da União Europeiae os Países Candidatos da Europa Central e Oriental eChipre”, de 1998, assegurando uma coordenação estreitacom a terceira tabela, segurança, do Pacto de Estabilidade.

A ajuda da União Europeia ao desenvolvimento, bemcomo técnica e humanitária, e a nossa insistência em ligaresta ajuda aos progressos na construção da democracia, norespeito pelos direitos do homem e na boa governação sig-nificam que as nossas políticas em relação aos Balcãs têm

incorporada uma forte componente de prevenção de confli-tos. O nosso objectivo é criar eventualmente no SuesteEuropeu uma situação em que os conflitos militares setornem impensáveis. Contudo, como o demonstra a situaçãono Kosovo, estamos ainda um tanto longe deste objectivo.Por esta razão, a decisão da União Europeia de criar em 2003uma força de reacção rápida de até 60 000 homens, capaz deser mobilizada em 60 dias e de executar operações huma-nitárias, de gestão de crises, de manutenção da paz e de resta-belecimento da paz é importante. Além disso, a decisão dedesenvolver meios não militares de reacção a crises emáreas como a ajuda humanitária, o destacamento e o treinode polícias civis, o controlo de fronteiras, a desminagem e abusca e salvamento tem uma importância demasiado evi-dente para algumas partes dos Balcãs. Para facilitar isto,está prevista um Dispositivo de Reacção Rápida que nosdeverá permitir mobilizar recursos financeiros e outros emhoras ou dias em vez de semanas ou meses.

Tanto Javier Solana, o primeiro Alto Representante daUnião Europeia para a política externa, como eu conside-ramos prioritária a criação de estabilidade no SuesteEuropeu. A prova disto são as nossas visitas frequentes àregião. Consideramos isto como uma forma de desenvolverum diálogo abrangente, de dinamizar o processo e, assim,de o fazer avançar. Para este efeito, continuaremos a coope-rar estreitamente tanto com os nossos parceiros da comu-nidade internacional como com todos os que trabalhampara o progresso na própria região. Este envolvimentoexige muito em termos de tempo, pessoal e dinheiro, mas éinfinitamente preferível aos envolvimentos e conflitos mi-litares que caracterizaram com tanta frequência os últimoscem anos. A criação duma nova região de estabilidade esegurança é um objectivo digno dum novo século. �

15Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

A OTAN oferece todos os anos

um número limitado de bolsas de estudo

de investigação para pessoas e instituições.

Os nacionais tanto de países membros da

OTAN como Parceiros podem concorrer.

Estão disponíveis todos os detalhesno web site da OTAN:

http://www.nato.int/acad/home.htm

Bolsas de estudo

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O General Klaus Reinhardt foi 2º Comandante da KFOR de Outubro de 1999 a Abril de 2000

uando os capacetes azuis dirigidos pela OTANentraram no Kosovo em Junho de 1999, receava--se que estivessem mortos dezenas de milhares de

albaneses e mais de um milhão de pessoas tinham sidoexpulsas ou fugido com receio da própria vida. A capital,Pristina, era uma cidade fantasma sem lojas e com poucoscarros nas ruas. Não havia qualquer controlo nas fron-teiras e limites do Kosovo, nem estruturas civis, nemactividade económica, nem serviços administrativos, nemordem pública.

Actualmente, a maior parte dos kosovares regres-saram a suas casas. As ruas de Pristina estão cheias deautocarros e automóveis e de pessoas que não têm receiode sair. Os bares, restaurantes e lojas reabriram. Há ummercado florescente e abundam os vendedores ambu-

lantes. As pessoas andam bem vestidas e ninguém pareceter fome. Os quiosques de jornais têm jornais locais nãocensurados, bem como publicações internacionais. Asestações radiofónicas podem transmitir o que as pessoasquerem ouvir. Muitos kosovares estão usufruindo deliberdades que lhes foram negadas durante anos.

A Força do Kosovo (KFOR) contribuiu largamentepara muito do progresso realizado em muitas áreas davida diária da província. Mandatada pelas Nações Unidascom responsabilidade primária para evitar o restabeleci-mento das hostilidades, dar segurança à província egarantir a segurança pública, a KFOR foi também encar-regada de apoiar os principais organismos civis das áreasda ajuda humanitária e da reconstrução, bem como o tra-balho de reconstruir a sociedade civil do Kosovo.

No princípio de Junho, foi negociado um AcordoTécnico Militar (MTA) com as autoridades militaresjugoslavas para assegurar a retirada das forças jugoslavas,cuja implementação foi supervisada pela KFOR.

16Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

O General Klaus Reinhardt recorda a contribuição da KFOR para o processo de paz do Kosovo erealça as dificuldades que nos esperam.

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Comandar a KFOR

Dar a mão: Os soldados da KFOR estão a ajudar a reconstruir a despedaçada sociedade do Kosovo, bem como a manter a paz.

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Actualmente, o exército jugoslavo (VJ) e a polícia doministério do interior jugoslavo (MUP) não constituemuma ameaça directa para o Kosovo. As tropas da KFOR,que incluíram contingentes de 20 países não membros daOTAN, incluindo a Rússia, são mais do que capazes deevitar que voltem a entrar no Kosovo à força. Exercíciosfrequentes ajudam a manter a prontidão das tropas parauma vasta gama de contingências.

A KFOR implementou com êxito “O Compromisso”de desmilitarizar o Exército de Libertação do Kosovo(KLA) e de o transformar no Corpo de Protecção doKosovo (KPC), uma organização civil de emergência sobo controlo da administração transitória da ONU. Os seus5 000 membros juraram submeter-se às ordens das autori-dades legais, respeitar os direitos do homem e executartodas as funções sem qualquer preconceito étnico, reli-gioso ou racial. Destina-se a ser uma organização multi-étnica a que aderiram bósnios, romanis e turcos mas, porenquanto, nenhum sérvio.

É a primeira vez que um exército de guerrilha é desfeitoe desarmado desta maneira. Mas a KFOR continua atentaao risco de restabelecimento das hostilidades, mantendo-separticularmente vigilante sobre a situação perigosa quese está a desenvolver devido àsublevação de rebeldes albane-ses do “Exército de Libertação dePresevo, Bujanovac e Medvedja”no Sul da Sérvia.

Outra grande responsabili-dade da KFOR é criar um am-biente seguro em que todas ascomunidades do Kosovo – asminorias sérvia, bósnia, romani eturca, bem como os albaneses –possam reconstruir as suas vidas.Uma das prioridades tem sido adesminagem, pois as minas são um perigo para os homens,mulheres e crianças qualquer que seja a sua origem étnica.Os peritos de explosivos fizeram a limpeza de minas eoutros dispositivos de 1 700 quilómetros de estradas, maisde 1 200 escolas e 16 000 casas ou edifícios públicos.

Mas o principal desafio tem sido conter as tensõesétnicas e combater a criminalidade. Todos os dias, doisem cada três soldados da KFOR efectuam entre 500 a 750patrulhas, guardam mais de 550 locais essenciais e ope-ram em mais de 200 postos de controlo de viaturas.Durante o ano passado, o número de crimes graves, taiscomo pilhagens, raptos e incêndios de origem criminosa,baixou espectacularmente e a taxa de homicídios desceude cerca de 50 mortes por vinganças por semana para umamédia de 5 – menos do que em muitas capitais ocidentais.

Em Mitrovica, um ponto quente das tensões étnicas, aKFOR tem 11 companhias a trabalhar para garantir asegurança das diversas comunidades. Foram criadas“áreas de confiança” nas duas margens do rio Ibar para

reduzir as tensões e encorajar as famílias deslocadas aregressar às suas casas. O desafio em Mitrovica, como emtodo o Kosovo, é convencer a população de que nãohaverá qualquer partição e de que é possível uma coexis-tência pacífica das duas principais comunidades.

Contudo, a polícia civil continua a ser uma área de preo-cupação. Os delitos de crime comum e o crime organizadoaumentam no vazio parcial de poder que não será preenchi-do até serem realizadas as eleições autárquicas previstasainda para este ano. Há uma necessidade urgente tanto demais polícia da ONU como de mais polícia local doKosovo, bem como da infra-estrutura para as apoiar. Atéque a comunidade internacional forneça os recursosnecessários, os soldados da KFOR têm que preencher afalta, executando tarefas para que não estão preparados.

A KFOR também tem desempenhado um importantepapel de apoio à acção humanitária e de reconstrução dacomunidade internacional. Desde o início, foi estabelecidauma estreita relação de trabalho entre a KFOR – particular-mente o seu pessoal da cooperação – e a equipa da ONU.Um vasto programa foi imediatamente lançado para pro-porcionar ajuda alimentar, abrigos e centros de alojamentotemporário de emergência para o Inverno. Graças a estas

medidas, ninguém morreu defome ou frio no Kosovo apesar dorigor do último Inverno e oPrograma Alimentar Mundial,que começou por alimentar 900 000 pessoas, pôde reduzir assuas operações, pois mais pessoascomeçaram a satisfazer por sipróprias as necessidades básicas.

No quadro do esforço dereconstrução, os soldados daKFOR construíram ou repararam200 quilómetros de estradas, 6

pontes e vários caminhos de desvio. ajudando a diminuir ocongestionamento e a melhorar a circulação da ajudahumanitária. A engenharia militar restaurou a rede fer-roviária, reparando 200 quilómetros de vias e reconstruin-do 2 pontes. Os estragos do aeroporto de Pristina foramreparados e o aeroporto reabriu para voos comerciais.

Só num sector, a KFOR trabalhou com a populaçãolocal na construção de 1 600 casas; proporcionou abrigopara 17 000 pessoas; apoiou o restabelecimento dasnecessidades básicas de vida como os sistemas de energiaeléctrica, água, aquecimento e comunicações; e ajudou aproporcionar assistência médica essencial, incluindo umamédia diária de mais de 1 000 consultas, bem como hos-pitalizações de emergência, programas de imunização eserviços de ambulâncias e de evacuação médica aérea.

A estreita cooperação entre a KFOR e a administraçãoda ONU foi essencial para restaurar muitos aspectos da vidadiária no Kosovo e criar estruturas civis. Uma primeiramedida essencial foi a decisão de preencher o vazio gover-

17Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

Até que a comunidade inter-nacional forneça os recursosnecessários, os soldados daKFOR têm que preencher afalta, executando tarefas paraque não estão preparados.

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18Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

namental e administrativo deixado pela retirada jugoslavacriando estruturas administrativas transitórias conjuntasabertas a todas as comunidades étnicas. O problema,como em muitas outras iniciativas no Kosovo, tem sido ofacto de os dirigentes sérvios estarem, de início, relutantesem participar. Mas alguma esperança surgiu com a cora-josa decisão tomada pelo Conselho Nacional Sérvio emAbril de enviar observadores ao Conselho AdministrativoTransitório e ao Conselho Transitório do Kosovo.

A universidade de Pristina reabriu e a maior parte dosalunos do ensino primário e secundário está de volta àescola. A KFOR ajudou a reconstruir edifícios e escolta os

pulação e estão a surgir pequenas empresas por todo o lado.Os cafés e restaurantes, em particular, estão a fazer umnegócio extraordinário com a clientela de pessoal interna-cional. Contudo, o desemprego continua a ser um grandeproblema. Segundo os números oficiais, o desempregomasculino é de 80 a 90%. Os recursos poderiam ser melhororientados fazendo pequenos empréstimos de arranque àspequenas empresas em vez de investir grandes somas empoucos projectos de grande dimensão que tendem a benefi-ciar as empresas internacionais. Também deveria ser dadaprioridade à ajuda aos numerosos pequenos agricultores doKosovo para voltarem a trabalhar o rico solo da província.

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Observação médica: A KFOR está a dar assistência médica, que inclui mais de 1 000 consultas por dia.

professores e os alunos das escolas através das áreas ondeas tensões étnicas continuam fortes. Os projectos locaisde media e telecomunicações têm sido ajudados atravésdo transporte aéreo de material, da montagem de antenase da reconstrução das principais instalações de transmis-são e retransmissão. A Organização para a Segurança eCooperação na Europa (OSCE), que é responsável pelademocratização dos media, tem sido ajudada a criar umabase de dados dos transmissores autorizados e a organizara gestão das frequências.

Depois dum início lento e hesitante, o sistema judicialtem agora os juizes e procuradores necessários para os tri-bunais funcionarem. Mostraram-se capazes de adminis-trar a justiça quando não há uma forte componente étnicano crime. Mas continuam a ser necessários juizes e procu-radores internacionais para tratar dos casos mais difíceis eainda há muito a fazer na área da reforma judiciária.

O aumento da estabilidade e da segurança no Kosovopermitiu o desenvolvimento do espírito empresarial da po-

Muitas herdades foram destruídas durante o conflito, obri-gando os agricultores a irem procurar trabalho nas cidades.

Um grande projecto digno de menção é a iniciativa parafazer reviver o decadente complexo mineiro e metalúrgicode Trepca, que foi negligenciado e sofreu fraco investimen-to durante anos. Foi obtido apoio internacional para o revi-talizar, o que poderá criar muitos empregos e receitas de queo Kosovo muito necessita. A KFOR foi fortemente envolvi-da nas fases de avaliação e planeamento estratégico do pro-jecto e proporciona a segurança quotidiana dos várioslocais, muitos dos quais abrangem linhas de divisão étnica.

A KFOR também forneceu guarda, transporte dehelicóptero e escoltas com viaturas blindadas para ajudara distribuir mais de 80 milhões de marcos alemães (40 mi-lhões de USD), no quadro dum programa de ajuda finan-ceira de emergência lançado em Dezembro passado paraum arranque rápido da economia, que não tinha bancos afuncionar. Agora, estão a começar a surgir lentamente asbases dum sector financeiro

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Muitos progressos foram alcançados pela comunidadeinternacional durante o ano passado. Mas muito faltaainda fazer e temos várias questões difíceis à nossa frente.Os meus sucessores vão estar muito ocupados a tentar pro-porcionar o ambiente seguro e fiável que é vital para ademocracia e a tolerância criarem raízes no Kosovo e paratoda a sua população viver em paz e prosperidade.

A questão do estatuto final do Kosovo tem que serclarificada. Segundo a Resolução 1244 do Conselho deSegurança da ONU, será uma província gozando dumaautonomia substancial dentro da República Federal daJugoslávia. Mas o que é que isto significa exactamente? Agrande maioria da comunidade albanesa considera ina-ceitável qualquer regresso ao domínio sérvio. MesmoIbrahim Rugova, que é considerado o dirigente albanêsmais moderado, tornou claro que: “A independência éinevitável e espero ser eleito como primeiro Presidentedum Kosovo independente”. Os albaneses terão que serconvencidos de que podem, apesar de tudo, coexistirpacificamente com os sérvios e todos os outros gruposminoritários numa província autónoma.

Outro problema será assegurar que as eleiçõesautárquicas previstas para este Outono sejam livres eimparciais e encorajar todas as comunidades a partici-parem nelas – até agora, os sérvios parece terem aintenção de as boicotar. A OSCE está a organizar ainscrição dos eleitores e a KFOR ajudará a polícia daONU a garantir a segurança das assembleias de voto e dasurnas. Infelizmente, a intimidação dos eleitores parece játer começado, com o “convite” às pessoas para aderirema um determinado partido político ou arriscarem--se a perder o emprego.

Por fim, há a questão de como organizar “um regres-so humanitário, lento e progressivo” dos refugiados emcondições seguras e fiáveis, como recomenda o AltoComissário da ONU para os Refugiados, Sra. SadakoOgata. Muitos países hospedeiros ocidentais estão a pediruma repatriação rápida. Mas os albaneses sentem-seprovavelmente mais seguros no regresso que os sérvios.Um grande afluxo de refugiados este ano também impo-ria uma maior pressão sobre os escassos recursos dasNações Unidas na província, engrossando as fileiras dedesempregados e colocando consideráveis problemas desegurança à KFOR.

A determinação da comunidade internacional paraavançar com este programa e proporcionar os recursosnecessários dependerá largamente dos próprios koso-vares. Como o Secretário-Geral da OTAN, general LordRobertson, disse claramente: “Todos vós têm a respon-sabilidade de trabalhar para o futuro. A OTAN não arriscaa vida dos seus soldados para ver os seus esforços irempelo rio Ibar abaixo. Os assassínios e a limpeza étnica têmque parar ou a ajuda financeira dos doadores parará… Onosso objectivo não é criar mais um país monoétnico noSueste Europeu”. �

19Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

TODOS MUDAMDepois de seis meses como comandante da

KFOR, o General Klaus Reinhardt entregou o cargoao General Juan Ortuño em Abril uma mudança quemostra o reforço do papel da Europa em assuntos desegurança. O general espanhol Ortuño é o comandanteda força militar europeia de cinco países, o Eurocorpo.

Originalmente uma iniciativa franco-alemã, oEurocorpo é constituído actualmente por soldados daBélgica, Luxemburgo e Espanha, bem como daFrança e Alemanha. O quartel-general do Eurocorpoconstituirá o núcleo do quartel-general da KFOR atéOutubro, acrescido de pessoal de outros paísescontribuintes da KFOR.

As relações entre o Eurocorpo e a OTANbaseiam-se num acordo de 1993 entre os chefes dadefesa francês e alemão e o Comandante SupremoAliado da Europa (SACEUR). Este acordo especificaque o Eurocorpo se adaptará às estruturas eprocedimentos da OTAN, o que permitirá uma rápidaintegração na OTAN no caso de envolvimento.

Dentro do sistema de rotação do comando cada seismeses, a KFOR foi destacada primeiro sob o comandodo Corpo de Reacção Rápida (ARRC) do ComandoAliado da Europa (ACE). Este era chefiado pelo generalbritânico Sir Mike Jackson, que entregou o cargo emOutubro de 1999 ao General Reinhardt das ForçasTerrestres Aliadas da Europa Central (LANDCENT).

O general italiano Carlo Cabigiosu das ForçasAliadas do Sul da Europa (AFSOUTH) foi nomeadopara assumir o comando da KFOR em Outubro de2000. Os comandantes da KFOR vêm todos doSACEUR, que é, desde Maio, o general dos EUAJoseph Ralston.

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Entrega de comando: O General Klaus Reinhardt (à esq.)aperta a mão ao General Juan Ortuño (à dir.) na presençado então SACEUR, General Wesley Clark.

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em havido poucas razões para optimismo durante aúltima década nos Balcãs, mas estão finalmente aaparecer sinais evidentes duma mudança positiva.

O regresso de refugiados na Bósnia-Herzegovina(Bósnia) tem sofrido aceleração este ano. A Croáciadurante muito tempo arredada pela comunidade interna-cional, tem-se transformado a si própria desde a morte doantigo presidente Franjo Tudjman em Dezembro passado.A comunidade internacional, através do Pacto deEstabilidade, está a adoptar uma abordagem regional paratratar dos problemas do Sueste Europeu como um todo.Contudo, a dimensão da tarefa que tem pela frente conti-nua a ser assustadora e há uma perspectiva de muitos anosde envolvimento internacional.

Vitórias eleitorais precursoras dos reformistas do cen-tro-esquerda na Croácia no princípio do ano alimentaram,compreensivelmente, uma especulação optimista acercaduma reacção em cadeia da mudança democrática que seiria estender a outros locais da ex-Jugoslávia, à Bósnia e àSérvia. Contudo, apesar de alguma subida dos moderadosnas eleições autárquicas da Primavera na Bósnia, os par-tidos nacionalistas continuam a dominar a política naque-le país. Apesar das previsões de que estaria quase a perdero poder após a sua quarta derrota militar no Kosovo noano passado, o Presidente jugoslavo Slobodan Milosevictem vindo a restabelecer e reforçar a sua autoridade naSérvia. Mesmo na Croácia, os desafios que o novo gover-no tem pela frente são enormes ao lutar para superar aherança de Tudjman. As novas autoridades de Zagrebtraçaram um rumo radicalmente diferente do dos seusantecessores logo a partir do momento em que entraramem funções. Poucos minutos depois de o antigo partido nopoder, a União Democrática Croata (Hrvatska demokrats-ka zajednica ou HDZ), ter efectuado a sua última reuniãogovernamental em Fevereiro, o ministro do turismo foialgemado e metido na prisão, acusado de transferir fun-dos públicos para a conta bancária da firma de construçãoda sua mulher. Além disso, desde então, com a imprensacroata a revelar detalhes de escândalos e a comprometerfiguras importantes do antigo regime praticamente todosos dias, cerca de outras 20 pessoas foram até hoje detidaspor vários delitos económicos.

Se a tarefa que o novo governo croata tem pela frentefosse apenas deter membros do antigo partido dirigenteresponsáveis por abusos de poder cometidos durante aúltima década, já seria difícil. Mas é muito mais compli-cada. As operações encobertas, a corrupção e o nepotismoque caracterizavam a Croácia de Tudjman são a herançade quase meio século de regime comunista, a maior parteduma década de guerra ou de histeria de guerra provoca-da pelos media e vários anos de isolamento internacionallargamente auto-imposto.

O novo governo croata está a ter que fazer a transiçãodum regime autoritário para a democracia e duma econo-mia largamente controlada pelo Estado ou pelo partidopara uma economia de mercado, numa altura de elevadodesemprego e de abaixamento do nível de vida. A tarefaainda é mais complicada pela perturbação económicarelacionada com a guerra e pela necessidade de conciliaros interesses da maioria croata e da maioria sérvia dopaís, um princípio em que Zagreb se empenhou empalavras e actos. A reforma estrutural está na ordem dodia. Progressivamente, o novo governo croata terá querestruturar as principais instituições do país, incluindo asforças armadas, os media e os serviços secretos, assimcomo a forma como a economia é dirigida, enfrentandoem cada fase do processo interesses há muito adquiridos.

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Christopher Bennett avalia as perspectivas de mudança democrática e de paz e estabilidade autónomas na ex-Jugoslávia.

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Mudança nos Balcãs?

Christopher Bennett, autor de Yugoslavia’s Bloody Collapse(New York University Press), entrou recentemente para aOTAN como Chefe de Redacção da Notícias da OTAN.As opiniões expressas são puramente pessoais e não repre-sentam as opiniões da OTAN ou de qualquer dos seusEstados membros.

Adeus ao antigo regime: A morte do Presidente Tudjman fez nascer a esperança numa m

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Embora os próximos anos sejam provavelmente difí-ceis na Croácia, os sinais são, contudo, bons. A morte deTudjman removeu o principal obstáculo à reforma. Asociedade civil – isto é, uma imprensa independente evibrante e um sector não governamental dinâmico –surgiu como força poderosa durante os anos 90 apesar dodesprezo oficial e a transição tem sido, até agora, notavel-mente tranquila. A inversão da política relativa à Bósnia,a cooperação com o Tribunal Internacional de Crimes deGuerra de Haia e uma ofensiva diplomática ponderadacriaram uma boa vontade internacional, abrindo perspec-tivas duma ajuda económica e de especialistas muitonecessária para facilitar a transição. Decisivamente, odestino da Croácia está muito nas mãos dos croatas, umasituação que não é necessariamente a mesma nas repúbli-cas ex-jugoslavas imediatamente a Sul.

Como a Croácia, a Bósnia tem que se adaptar à tran-sição dum regime autoritário para um governo democráti-co e à mudança da economia dirigida para a economia demercado. Mas na Bósnia esta tarefa já assustadora é com-plicada pela herança de quase quatro anos de guerra per-manente, a existência de forças armadas rivais e um deli-cado equilíbrio étnico tripartido. Quase cinco anos depoisde ter terminado a guerra, a Bósnia permanece ligada auma máquina de ajuda respiratória internacional, depen-dente da ajuda do estrangeiro e internamente dividida. Atarefa de reconstruir uma sociedade funcional mostrou-setão complexa que os bósnios entregaram muita da respon-sabilidade à comunidade internacional.

Um conflito prolongado vira uma sociedade de pernaspara o ar e permite que os desajustados prosperem. NaBósnia, muitas pessoas que em tempo de paz provavel-

mente não iriam longe aproveitaram as oportunidadesoferecidas pela guerra e acederam a posições de poder paraque estavam particularmente mal qualificadas. Pessoas quepoderiam ter ajudado a reconstruir a sua despedaçadasociedade emigraram ou foram marginalizadas. Muitosbósnios capazes e instruídos que ficaram no seu país estãoactualmente a trabalhar como interpretes ou condutores porconta da comunidade internacional. Entretanto, manipulan-do o sistema da “nomenklatura” herdado da era comunista(o sistema como o Partido controla as nomeações), agitan-do os receios e ódios nacionalistas em momentos críticospara manter um elevado estado de tensão e na ausência dequalquer mecanismo de prestação de contas, os políticosnacionalistas da linha dura puderam atrasar o processo depaz durante cerca de 18 meses.

A reconstrução na Bósnia começou a sério quando,um ano e meio depois do início do processo de paz, acomunidade internacional intensificou os seus esforçospara fazer frente às autoridades do país, prendeu acusadosde crimes de guerra, demitiu responsáveis locais e tomouconta e depois restruturou os media locais. Contudo, criaras condições para um processo de paz autónomo com queos locais se possam identificar está a mostrar-se extrema-mente lento e trabalhoso.

Enquanto os reformistas croatas sabem exactamente asdificuldades que irão encontrar na tentativa de restruturaçãoda sua sociedade, a comunidade internacional na Bósniatem estado, durante os últimos cinco anos, na mais íngremecurva de aprendizagem para se adaptar às circunstânciaslocais na introdução do tipo de reformas que poderão endi-reitar de novo o país. Como o conhecimento internacionalaumentou, a escala do empreendimento começou a tornar--se evidente. É muito maior do que qualquer pessoa poderiater pensado em 1995 na altura das conversações de paz deDayton, que puseram fim à guerra da Bósnia. Quase todasas questões de que a comunidade internacional tem que seocupar – desde a reforma bancária a garantir a segurançapara o regresso das minorias étnicas e à criação de estruturasdemocráticas num Estado multiétnico – são territóriodesconhecido onde a improvisação, a experimentação e aanálise empírica são a melhor maneira de prosseguir.

Uma recente avaliação dos esforços internacionais naBósnia pelo grupo de reflexão baseado em Berlim, aIniciativa da Estabilidade Europeia (ESI), realça váriaáreas em que, apesar dos enormes interesses adquiridos, acomunidade internacional tem tido êxito na introdução dereformas e na criação de instituições locais funcionais.Nelas estão incluídos a criação dum único Banco Centralbósnio, dum conselho monetário e duma nova moedabósnia; a reforma dos media e a criação dum órgão regu-lador nacional sob a forma de Comissão Independentedos Media; bem como a reforma fiscal e aduaneira comoresultado do trabalho do Gabinete de AssistênciaAduaneira e Fiscal à Bósnia-Herzegovina (CAFAO) daUnião Europeia. Mas mesmo as políticas que não conse-guem atingir os seus objectivos podem ser tornadas êxitos

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mudança democrática em toda a Jugoslávia.

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desde que as razões do fracasso sejam aprendidas e tidasem conta.

Com a evolução do processo de paz, os responsáveisinternacionais foram obrigados a assumir um papel de cadavez maior ingerência na vida da Bósnia. As estruturas ile-gais estão a ser desmanteladas, incluindo os omnipresentesserviços secretos. Estão a ser introduzidos mecanismos paracriar transparência e responsabilidade e combater a cor-rupção. Na reunião de 30 de Maio do Conselho deImplementação da Paz – o órgão com representantes deEstados e de organizações internacionais que supervisa oprocesso de paz da Bósnia – os responsáveis internacionaisdecidiram criar novas instituições para estabelecer uma áreade jogo económico equilibrada, particularmente nos sec-tores das telecomunicações e da energia. Estes mercadoslucrativos estão divididos actualmente em três monopóliosde base étnica. Ao reformá-los, os responsáveis interna-cionais esperam retirar aos partidos nacionalistas, que têmtrabalhado sistematicamente contra o processo de paz, osfundos para financiar as suas operações encobertas.

Como mostram os trabalhos de investigação da ESI, umdos ensinamentos fundamentais do processo de paz colhidosaté hoje tem sido o de que o dinheiro só por si não resolveproblemas. Alguma ajuda internacional, especialmente noseguimento imediato da guerra, aumentou inadvertidamentea dificuldade da reconstrução ao reforçar as estruturas depoder fundamentalmente hostis ao processo de paz. As eliteslocais, por exemplo, têm por vezes conseguido desviar pro-jectos de reconstrução para as suas linhas de patrocínio. Areconstrução de infra-estruturas despedaçadas pode ter resul-tados materiais espectaculares e rápidos, mas não resolve osproblemas fundamentais da sociedade bósnia. Na verdade,estradas e pontes que foram reconstruídas com dinheirointernacional em 1996 estão de novo em mau estado porquea sociedade continua pouco funcional para as manter.

No seguimento do que o alto administrador da ONU noKosovo, Bernard Kouchner, descreveu como “quarentaanos de comunismo, dez anos de apartheid e um ano delimpeza étnica”, os problemas no Kosovo são tão novos ecomplexos como os da Bósnia. O processo de paz tem ape-nas um ano, assim, apesar de poderem colher alguns ensi-namentos da experiência da Bósnia, os responsáveis inter-nacionais estão ainda no princípio da curva deaprendizagem. O problema do estatuto final do Kosovo eda natureza do seu futuro relacionamento com a Sérvia e asoutras comunidades albanesas dos Balcãs é inevitavel-mente assunto de muita especulação. Entretanto, os respon-sáveis no terreno estão a analisar quais as políticas que dãoresultados, quais as que não dão e qual a melhor maneira decriar instituições locais funcionais para conciliar os inte-resses das populações majoritárias e minoritárias. Comona Bósnia, não ha soluções fáceis e o processo está amostrar-se inevitavelmente lento e trabalhoso.

A nuvem que paira sobre os processos de paz da Bósniae do Kosovo e todos os Balcãs é, evidentemente, a Sérvia deMilosevic. Na verdade, enquanto o maior Estado sucessor

da ex-Jugoslávia se mantiver um pária internacional, é difí-cil ver como podem ser alcançados acordos auto-susten-táveis em qualquer parte ou como iniciativas regionaiscomo o Pacto de Estabilidade podem conduzir a soluçõesabrangentes. Pior ainda, Milosevic, agora acusado decrimes de guerra, não mostra vontade de deixar o cargo.

Alguns analistas retrataram Milosevic como um génio, sempre capaz de manobrar melhor que a comunidade inter-nacional. Na realidade, ele é um apparatchik profissionalque, como outros ditadores sem escrúpulos, conseguiuesconder-se por detrás dos conceitos jurídicos de soberaniae de não ingerência nos assuntos dos Estados indepen-dentes e invocá-los abusivamente para justificar todas asformas de repressão dentro das fronteiras da Jugoslávia. Nopassado, também contou com as divisões no seio da comu-nidade internacional para evitar pagar o preço dos seusactos. O resultado tem sido a aparência de êxitos a curtoprazo e a perspectiva dum desastre a longo prazo.

Desde que encenou um golpe de Estado sem derrama-mento de sangue em 1987, no oitavo plenário da Liga deComunistas da Sérvia, em que expulsou o governo pós--titoista por fraqueza no Kosovo, nunca mais hesitou. Pôsos media do país em pé de guerra e dispôs-se a estender asua autoridade a todo o resto da ex-Jugoslávia. À medidaque a Sérvia travava e perdia guerras sucessivas naEslovénia, Croácia, Bósnia e Kosovo, a sociedade sérviaperdia progressivamente o contacto com a realidade. Oitoanos de sanções económicas, mais de uma década dedeturpação dos media e expurgações sucessivas mar-caram gravemente o país.

Durante 13 anos no poder, Milosevic transformou umpaís com honrosas tradições e algumas referenciasdemocráticas numa caricatura surrealista e deformadadum Estado. Os problemas da sociedade sérvia, portanto,estão provavelmente mais profundamente enraizados. Naverdade, alguns dos mais respeitados analistas sérvios,como Sonja Biserko do Comité Sérvio de Helsínquia,estão convencidos de que a Sérvia actual precisa dumaprofunda e completa restruturação que ultrapassa muitotudo o que foi visto até agora nos outros Estados suces-sores da ex-Jugoslávia.

Contudo, os decisores políticos ao tentarem delinearestratégias para ajudar a promover a mudança democráti-ca na Sérvia estão em larga medida a trabalhar num vazio.Em consequência das sanções internacionais, da guerrado Kosovo e da acusação de Milosevic por crimes deguerra , só um pequeno número de ocidentais permanecena Sérvia. A comprensão de como funciona realmente asociedade sérvia é a mais baixa de sempre. Um dia, talvezem breve, Milosevic tem que cair e, quer seja ou não pre-cisa uma restruturação completa, serão necessárias refor-mas fundamentais para recriar uma sociedade estável efuncional. Já estão constituídas nas capitais ocidentaisgrandes reservas de ajuda internacional para a recons-trução da Sérvia, mas a tarefa em si mesma exigirá inevi-tavelmente muito tempo. �

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pere ligeiramente apenas em 2000.A inflação, embora a diminuir, éainda superior a 40% e o desem-prego oficial duplicou desde 1996atingindo 12%. Numerosas indus-trias com grandes prejuízos pre-cisam de ser privatizadas ou restru-turadas. São necessárias reformasurgentes no sector financeiro ebancário, especialmente se se queratrair o investimento estrangeiro.

Contudo, apesar dos receios, aRoménia conseguiu assegurar oserviço da sua dívida externa e,em Junho deste ano, o FundoMonetário Internacional aprovouo alargamento do prazo de reem-bolso dum empréstimo de 535milhões de USD e a libertaçãoduma tranche de 116 milhões deUSD. Outros financiamentosmultilaterais dependiam da liber-tação deste dinheiro. A economiadeverá ser eventualmente reforça-da com a disciplina fiscal impostapelo FMI e pela estratégia dedesenvolvimento económico amédio prazo que a Roménia adop-tou no contexto das suas negocia-ções de adesão à UE. Isto tambémdeverá ajudar a criar os recursosque serão necessários para imple-mentar os objectivos de reformada defesa que a Roménia esta-beleceu para si própria no quadrodos seus preparativos para a even-tual adesão à OTAN.

A Roménia foi o primeiro país a aderir ao programa daParceria para a Paz da OTAN em Janeiro de 1994. Temsido sempre um dos mais activos participantes nos exercí-cios e actividades da Parceria para a Paz, bem como nasconsultas políticas e iniciativas de cooperação do Conselhode Parceria Euro-Atlântico. A participação em ambos évista como uma maneira de abrir o caminho para a adesãoà OTAN, bem como para enfrentar os desafios da segu-rança regional desenvolvendo as estruturas de cooperaçãoda OTAN.Duma forma geral, há um vasto apoio parlamen-tar e da opinião pública ao desejo de adesão à OTAN dopaís. Mas todas as implicações das reformas necessárias

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s esforços da Roménia paraaderir às instituições euro-peias e euro-atlânticas,

que remontam à revolução de1989, começaram a dar frutos.Tendo sido admitida no Conselhoda Europa em 1993, a Roméniasucederá à Áustria em 2001como presidente-em-exercício daOrganização para a Segurança eCooperação na Europa. Mas sermembro da União Europeia e daOTAN, os principais promotorese garantes do desenvolvimento eda prosperidade na Europa, con-tinuam a ser os objectivos supre-mos. Além disso, a preparaçãopara a eventual adesão é consi-derada uma forma útil de moder-nizar a própria Roménia.

Um Acordo de Associação coma União Europeia foi assinado emFevereiro de 1993 e um pedido deadesão apresentado em 1995. EmDezembro passado na sua cimeiraem Helsínquia, os dirigentes da UEconvidaram a Roménia – junta-mente com a Bulgária, Letónia,Lituânia, Malta e Eslováquia – ainiciar as negociações de adesãoem 2000. Mas os desafios econó-micos que o país enfrenta exigemreformas penosas e fazem com queseja pouco provável que o paísesteja em posição de recuperarsuficientemente o seu atraso paraser admitido num futuro próximo.

A pobreza histórica combinada com a má administraçãocomunista antes de 1989 e mais recentemente a perturbaçãoe resistência da indústria às reformas deixaram a Roménianuma confusão económica. O produto interno brutodiminuiu rapidamente durante vários anos com quebra naprodução industrial e agrícola. Embora haja sinais de que ascoisas estão de novo a começar a melhorar, a economia teveuma retracção de 4,6% o ano passado e espera-se que recu-

Radu Bogdan analisa o desejo veemente da Roménia de aderir à União Europeia e à OTAN e o programa de reformas actualmente em curso no seu país.

Reflexões sobre a Roménia

Radu Bogdan é director do Nine O’Clock, diário deBucareste em língua inglesa.

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Alinhando pela OTAN: a Roménia foi o primeiro país aaderir à Parceria para a Paz.

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para se preparar para a possível adesão podem ainda não tersido plenamente apercebidas e poderão eventualmente sus-citar alguma resistência. O consenso bipartidário a favor daOTAN e das suas acções sofreu com as consequênciaseconómicas da crise do Kosovo e, em particular, com o blo-queio do rio Danúbio. Além disso, alguns sectores da popu-lação opuseram-se à campanha aérea aliada.

Apesar do risco político, o governo romeno manteve-sefirme no seu apoio aos Aliados. Como o Ministro dosEstrangeiros Petre Roman salienta: “A Roménia provou asua solidariedade com a OTAN assumindo riscos em con-junto com os Aliados. Permitiu à OTAN o acesso semrestrições ao seu espaço aéreo, estabeleceu novos canais decomunicação com a Aliança e permitiu o trânsito de tropasda OTAN e a instalação no seu território de equipamentoda OTAN de gestão do espaço aéreo”.

Um ensinamento colhido com a crise do Kosovo éque a segurança europeia é indivisível e que os novosdesafios à estabilidade só podem ser eliminados ou, pelomenos, contidos através duma acção comum. A crise e aas suas consequências, incluindo o destacamento da forçade manutenção da paz dirigida pela OTAN, a KFOR, tam-bém mostraram o valor da cooperação em matéria desegurança regional sob a cobertura do Conselho deParceria Euro-Atlântico e da Parceria para a Paz, bemcomo a necessidade de desenvolver o seu potencial. Abem sucedida resolução da crise teria sido mais difícil,senão impossível, sem a contribuição dos países da região.

Os conflitos como o do Kosovo seriam menosprováveis de acontecer onde os padrões euro-atlânticosde comportamento previsível, interno e internacional,estivessem mais firmemente enraizados. A questão dumnovo alargamento da OTAN deveria, portanto, ser tratadacomo fazendo parte duma política mais vasta para pro-mover a estabilidade e a democracia no centro e no suesteda Europa, e para além disso. A perspectiva da integraçãoeuro-atlântica já ajudou a promover o desenvolvimentoda democracia e a acelerar as reformas económicas nospaíses candidatos à adesão, incluindo a Roménia.Também fomentou padrões internos e internacionais decooperação e diálogo numa região demasiadas vezesafectada por ressentimentos de longa data.

Graças ao Plano de Acção para a Adesão lançado pelaOTAN na cimeira de Washington em Abril de 1999, aRoménia e outros países que esperam aderir à Aliançatêm agora uma referência que lhes serve de orientaçãonos preparativos para os direitos e responsabilidades quea adesão à OTAN acarretará.

Os nove países participantes – Albânia, Bulgária,Estónia, Letónia, Lituânia, Roménia, Eslováquia, Eslovéniae ex-República Jugoslava da Macedónia(1) – apresen-taram o seu programa nacional anual sobre os seus prepara-tivos para a eventual adesão cobrindo questões políticas eeconómicas, de defesa e militares, de recursos, de segurançae jurídicas. Cada país estabelece os seus próprios objecti-

vos, metas e programas de trabalho. AOTAN acompanha osprogressos feitos, dando aconselhamento político e técnico.

Embora a participação não constitua uma garantia deeventual adesão, o plano de acção concretiza a política deporta aberta da OTAN e compromete os Aliados a ajudaros candidatos no caminho para esta porta.

A Roménia enfrentou o desafio com determinação. Oprograma anual dos preparativos para a adesão está a aju-dar a dinamizar os esforços e a estabelecer prioridades naatribuição dos escassos recursos. O programa de activi-dades do país no contexto da Parceria para a Paz tambémfoi adaptado para se enquadrar neste processo.

Foi apresentada ao parlamento uma estratégia nacionalde segurança reflectindo as principais disposições dosdocumentos da cimeira de Washington da OTAN. Aimplementação do plano quadro plurianual para a refor-ma da defesa foi aprovado pelo parlamento em 1999. Esteplano em duas fases prevê a restruturação das forçasarmadas até 2003 e a modernização do equipamento até2007. Os efectivos deverão ser reduzidos de 168 000 para112 000 até 2003 e a proporção de militares de carreiradeverá passar dos actuais 55% para 71%. As forças serãonão apenas significativamente mais reduzidas mas maisprofissionais e com maior mobilidade e com elevado graude interoperacionalidade com as forças da OTAN. Está aser dada alta prioridade ao desenvolvimento de forças emeios de reacção rápida, em particular de transporteestratégico marítimo e aéreo, e à intensificação da coope-ração com a OTAN em matéria de defesa aérea.

(1)

A Turquia reconhece aRepública da Macedóniacom o seu nome constitucional.

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Partilha de riscos: Petre Roman acha que a Roménia demonstrou asolidariedade com a OTAN ao assumir riscos com os Aliados.

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Contudo, foi atingido um ponto crítico em que têmque ser tomadas decisões políticas importantes mas difí-ceis referentes à nova estrutura do ministério da defesa eaos planos para reduzir os efectivos das forças armadas.Será necessário ter muito cuidado para ajudar a atenuar osefeitos desta restruturação, especialmente através da reci-clagem dos oficiais em excesso. Também está a ser con-siderada a melhoria do sistema nacional de gestão decrises e a reforma da gestão de recursos e do planeamen-to financeiro no sector da defesa.

A primeira reunião com o Conselho do AtlânticoNorte para avaliar os progressos da Roménia teve lugar a6 de Abril. O Ministro dos Estrangeiros Roman valorizoua informação de retorno dada pelos Aliados, que apontavaa necessidade de identificar as prioridades essenciais paradesenvolver uma melhor correlação entre os recursosdisponíveis e os objectivos e para uma melhor coorde-nação geral entre os diversos ministérios. A Roméniatambém pode precisar de estar pronta a rever em baixa asprevisões de despesas da defesa, em função da evoluçãoda economia nos próximos anos. Mais importante, dadasas difíceis e muitas vezes impopulares opções que seaproximam, é a necessidade urgente de estas reformasessenciais serem entendidas como tal por todos os respon-sáveis a nível nacional.

No plano político, a Roménia percorreu um longocaminho desde 1989. Houveprogressos significativos naimplementação prática dosprincípios democráticos e namelhoria do primado do direi-to, respeito pelos direitos dohomem e tratamento das mino-rias étnicas, principalmente deorigem húngara ou romani. Defacto, cidadãos de etnia húngaraentraram para o governo rome-no em 1996. Mas ainda faltafazer mais, inclusive intensi-ficar o combate contra o crimeorganizado e a corrupção.

O país tem-se esforçado muito para estabelecer boasrelações com os seus vizinhos. Formaram-se parceriasestratégicas com a Hungria e a Polónia. Foram criadosmecanismos trilaterais – com a Bulgária e a Turquia, aBulgária e a Grécia, a Ucrânia e a Moldova – paraenfrentar os novos desafios e ameaças não convencionaisà segurança, como o crime organizado, o terrorismo inter-nacional, a imigração clandestina e o tráfico de armas e dedroga.

Activa em muitos projectos e esquemas de coopera-ção regionais, bem como no Pacto de Estabilidade para oSueste Europeu instituído pela UE e na Iniciativa doSueste Europeu lançada pela OTAN, o empenhamento daRoménia na paz e estabilidade da região é tambémdemonstrado pela sua contribuição para as forças de

manutenção da paz dirigidas pela OTAN nos Balcãs. Umbatalhão de engenharia com 200 homens e um pelotão daUnidade Multinacional Especializada foram destacadospara a Bósnia-Herzegovina no quadro da SFOR e umbatalhão de infantaria faz parte da reserva estratégica. EmNovembro de 1999, o parlamento aprovou o envio de 20polícias e 20 oficiais para o Kosovo, bem como de pessoalmédico, mas o pessoal militar ainda não foi destacado.

A OTAN comprometeu-se a rever o processo dealargamento em 2002. Entretanto, haverá evidentementemuitos debates. Poderá a Aliança continuar funcional sefor muito mais alargada? Quantos novos membros de-verão ser convidados a aderir, por que ordem e quando?

Depois há a velha questão de como conciliar a vontadede integrar aqueles países desejosos e capazes de aderir àOTAN com a de estabelecer um relacionamento construti-vo com a Rússia. Ao regozijar-se com o recente reatamen-to do diálogo Rússia-OTAN no Conselho ConjuntoPermanente, o Ministro dos Estrangeiros Roman expres-sou o seu convencimento de que: “Este quadro facilitará oentendimento pela Rússia de que o alargamento da OTANvisa reforçar a segurança e a cooperação na Europa e nãoé dirigido contra nenhum país em particular”. Tambémsalientou a determinação da Roménia em fazer todo o pos-sível para ajudar a fazer chegar esta mensagem à Rússia.

As preocupações legítimas acerca do alargamentoterão que ser tidas em conta.Os acontecimentos recentes,contudo, demonstram deforma bastante convincenteque, no princípio do séculoXXI, a Aliança tem que fazermais do que simplesmentemanter um ambiente estável eseguro no seu próprio ter-ritório. Para poder fazer isto,necessita também de projectara estabilidade para toda a áreaeuro-atlântica. Expandir oescudo de segurança convidan-do novos membros a aderir à

OTAN – desde que satisfaçam os requisitos de acessão –seria uma maneira adequada de responder a esta necessi-dade, mantendo-se a OTAN no seu papel de navio chefeduma comunidade de nações fundada nos princípios dademocracia, liberdade individual e primado do direito.

Foi precisamente esta mensagem que os ministros dosestrangeiros dos nove países candidatos quiseram transmitir quando se reuniram e adoptaram a Declaraçãode Vilnius a 19 de Maio. Ao convidar estes países a aderir– com base, é claro, nos méritos individuais de cada umdeles – a OTAN tornar-se-á, nas palavras do Ministro dos Estrangeiros Roman, “o investidor a longo prazo naestabilidade europeia” e, assim, contribuirá de formadecisiva para “a criação duma Europa livre, próspera esem divisões”. �

Um ensinamento colhido com a crise do Kosovo é que a segu-rança europeia é indivisível eque os novos desafios à estabi-lidade só podem ser eliminadosou, pelo menos, contidosatravés duma acção comum.

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o seguimento da anarquia que envolveu a Albâniaem Março de 1997, os saqueadores apoderaram-sede várias centenas de milhar de armas e de cerca de

20 000 toneladas de munições e provocaram explosõesem muitos paióis em todo o país. Desde 1998, muitasarmas foram recuperadas mas o súbito aparecimento detantas munições por explodir exacerbou o que já era umproblema grave de material de guerra antiquado do tempode isolamento internacional da Albânia. Na falta tanto dosmeios como da competência técnica para enfrentar estacrise, a Albânia virou-se para a OTAN e para o seu pro-grama da Parceria para a Paz para encontrar a ajuda deque necessitava.

Embora a dimensão e natureza do problema enfrenta-do pela Albânia em 1997 fossem extremamente graves, osproblemas de armazenagem e inactivação de muniçõessão comuns a muitos países do antigo bloco de Leste. Em

consequência disso, a eventual solução, que envolvia otreino de oficiais albaneses e a criação dum organismoalbanês para a inactivação de armamento explosivo, pode-ria servir de modelo para outros países com grandes arse-nais de munições envelhecidas deixados pela Guerra Fria.

Uma equipa dirigida pela OTAN com especialistas demunições da OTAN e de países parceiros chegou à Albâniano final de 1997 para avaliar a dimensão do problema. Naaltura, mais de 180 hectares de terreno, uma área através dopaís do tamanho de cerca de 360 campos de futebol,estavam contaminados com material de guerra por explodir.Além disso, as primeiras tentativas albanesas para limpar aspiores “zonas perigosas” tinham causado mais de 50 víti-mas. Após uma análise inicial, a equipa decidiu centrar-seno treino dos albaneses em controlo de munições e proce-dimentos de inactivação de armamento explosivo com-patíveis com os usados pelos Estados membros da OTAN.

De Outubro a Dezembro de 1998, uma equipa de instru-tores de países da OTAN e de países parceiros realizou cur-sos práticos intensivos para oficiais subalternos albaneses

Richard Williams descreve como uma equipa dirigida pela OTAN está a ajudar a Albânia a controlar asmunições e explosivos por explodir, que mataram dezenas de pessoas.

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Ajudar a Albânia a controlar as munições

Richard Williams trabalha na Secção de Planeamento e Política da Divisão de Apoio da Defesa da OTAN

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Bombas de relógio: Uma área com o tamanho de 360 campos de futebol estava contaminada com material de guerra por explodir quando umaequipa dirigida pela OTAN chegou à Albânia.

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dução e transferência de minas anti-pessoal e sobre a suadestruição, que entrou em vigor em Fevereiro de 1999. Istoobriga o país a inactivar em quatro anos todo o seu arsenalestimado em 1,6 milhões de minas anti-pessoal. Um pro-jecto piloto de “engenharia de inversão” está a ser elabora-do com a ajuda da equipa de peritos da OTAN, que visará adesmontagem das minas terrestres para extrair e destruir oscomponentes perigosos e recuperar o resto como sucatareciclável. Mas, dadas as quantidades envolvidas, aAlbânia necessitará de mais ajuda internacional e maisfinanciamento para concluir a inactivação do seu arsenal.

Outro problema que surgiu durante a análise inicial foio de propulsores deteriorados, que provocam instabilidadee criam a possibilidade de explosões espontâneas nospaióis albaneses. De aproximadamente 125 000 toneladasde munições, 90% têm mais de 30 anos. Mais de 30 000toneladas de munições danificadas, obsoletas e excedentes,incluindo 2 230 toneladas de minas anti-pessoal, foramidentificadas para serem inactivadas com alta prioridade.Este perigo iminente apresentado por tão grandes quanti-

dades de munições potencialmenteinstáveis levou a OTAN a propor umestudo de exequibilidade referente àconstrução na Albânia duma insta-lação de desmilitarização demunições propositadamente paraeste fim. Este projecto, ainda pen-dente e que exigirá uma ajuda finan-ceira internacional, poderá eventual-mente ser benéfico para outros paísesdo Sueste Europeu que enfrentamproblemas semelhantes. As ForçasArmadas Albanesas precisam urgen-temente de melhorar o controlo doseu arsenal de munições para superar

graves problemas de segurança, fiabilidade e responsabili-dade. No seguimento da anarquia de 1997, muitos dosdocumentos de responsabilização das Forças Armadasforam destruídos. Por isso, a equipa da OTAN trabalhouem estreita ligação com especialistas albaneses dearmazenagem de munições para efectuar um recenseamen-to das munições, que ficou concluído em meados de 2000.Esta informação permitirá a elaboração de planos para aredução em grande escala do arsenal de munições e o rea-grupamento dos seus paióis, alguns dos quais estãoperigosamente perto de áreas habitadas por civis.

AAlbânia tem muitos desafios pela frente ao procurarresolver estes problemas de controlo e inactivação demunições através do seu programa de desmilitarização. Adimensão da tarefa é tal que as Forças Armadas Albanesaslevarão mais de 30 anos a concluí-la se não tiverem qual-quer ajuda do estrangeiro. Em consequência disso, aajuda financeira internacional será necessária. Graças aoprograma da Parceria para a Paz e à colaboração única epositiva estabelecida entre a equipa da OTAN e os espe-cialistas albaneses, a Albânia está a aproximar-se da auto-suficiência no controlo das munições. �

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previamente seleccionados. Os cursos, que incluíram a uti-lização de munições reais, visavam dar aos alunos asaptidões técnicas e a capacidade de treino fundamental paratreinarem outros a ajudar a limpar as áreas contaminadas e aserem responsáveis pelas munições armazenadas e pela suasegurança. Ao mesmo tempo, no quadro duma restruturaçãomais vasta das Forças Armadas Albanesas, as muniçõesobsoletas, deterioradas pela idade, danificadas e excedentesdeviam ser identificadas com vista a um programa de inac-tivação, para que o arsenal de munições pudesse ser reduzi-do e reagrupado em cerca de 60 paióis em vez de 140.

Depois de o primeiro grupo de oficiais albaneses terterminado o seu treino em controlo de munições e inacti-vação de armamento explosivo, foi criada umaOrganização Albanesa de Inactivação de ArmamentoExplosivo, chefiada pelo oficial mais graduado do progra-ma realizado pela OTAN. Os recentemente qualificadosperitos em munições começaram a fazer a limpeza dematerial de guerra por explodir no primeiro local, emPalikesht, a cerca de 100 Km a Sul da capital, Tirana.Contudo, em consequência do con-flito do Kosovo, a inexperiente orga-nização foi obrigada a realizar tra-balho de emergência. Fez a limpezade material de guerra por explodirdum local escolhido para um campode refugiados, em Shkodra, tratou degrande número de foguetes porexplodir disparados pelos sérvios noNorte do país e localizou e assinaloucampos de minas implantados pelossérvios ao longo da fronteira entre oKosovo e a Albânia. O ministério dadefesa albanês também lançou umavasta campanha de alerta entre osrefugiados e os albaneses a viverem no Norte do país acer-ca dos perigos das minas terrestres e das munições porexplodir.

Com a ajuda da OTAN, foram criados um ComitéAlbanês de Acção contra as Minas e um Centro Albanês deAcção contra as Minas para executarem os trabalhos pre-liminares de localização, sinalização e registo dos camposde minas. Contudo, os seus objectivos principais são asse-gurar que a Albânia tenha instituições capazes de forneceraos doadores a informação inicial acerca das áreas conta-minadas e ajudar a coordenar a desminagem a longo prazo.

Entretanto, o local de Palikesht ficou limpo de mate-rial de guerra por explodir em Outubro de 1999 e até agoraforam inactivadas cerca de 260 toneladas de muniçõessem vítimas, libertando 45 hectares de terreno produtivo.Também foi concluído o trabalho no vizinho local deMbreshtan, onde as equipas enfrentaram o desafio técnicoadicional de ter acesso, sob os escombros de paióis em ruí-nas, a ogivas instáveis de granadas de foguetes.

A Albânia ratificou recentemente a Convenção deOtava sobre a proibição do emprego, armazenagem, pro-

Dadas as quantidades deminas terrestres envolvi-das, a Albânia necessitaráde mais ajuda internacionale mais financiamento paraconcluir a inactivação doseu arsenal.

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maior parte dos países europeus enfrenta um dilemasemelhante em matéria de segurança. As forças quetêm – e que mantêm com custos consideráveis – nãosão adequadas para fazer face a muitos dos desafios

que a Europa enfrenta actualmente e que é provável queenfrente num futuro previsível. Isto é um dilema tanto paraos membros da OTAN como para os países parceiros, quetêm portanto interesse em resolvê-lo conjuntamente.

O Kosovo fez com que a questão atingisse um ponto crítico.Embora a Europa tenha mais de dois milhões de soldados emenos de dois por cento deles estejam destacados nosBalcãs, as operações de manutenção da paz impuseram umenorme esforço aos sistemas militares nacionais. Apesar daelevada despesa com a defesa, a Europa não tem certascapacidades militares básicas e não pode destacar eficaz-mente forças para fora da sua área sem o apoio dos EUA. Éevidente que algo está errado.

A análise dos media às deficiências da Europa em matéria desegurança centrou-se quase exclusivamente na necessidade deadquirir equipamento de alta tecnologia para se equiparar às

capacidades dos EUA, ou na necessidade europeia de meiosde recolha de informações, dum quartel-general de corpo deexército, de melhor comando, controlo e comunicações, e degrandes aviões de transporte. Mas a situação é mais complexa.Para compreender os requisitos militares do século XXI, éimportante examinar a natureza da ameaça na Europa e asmaneiras como esta ameaça pode ser enfrentada. Embora semantenha a possibilidade duma guerra regional como a dosBalcãs, as invasões maciças e a guerra total deixaram de seruma ameaça para o Leste ou para o Ocidente. Em vez disso, amaior parte das ameaças à segurança nacional na Europaactual não são militares. Podem resultar de problemaseconómicos, de antagonismo étnico ou de fronteiras insegurase ineficazes, que permitem a migração clandestina e o contra-bando. Ou podem estar relacionadas com o crime organizadoe a corrupção, que têm uma dimensão internacional e preju-dicam o desenvolvimento correcto da democracia e da econo-mia de mercado. Além disso, a proliferação da tecnologia mi-litar ou de dupla aplicação, inclusive das armas de destruiçãomaciça – químicas e biológicas bem como nucleares – e dosseus meios de lançamento, e a revolução na tecnologia dainformação constituem desafios especiais.

Enquanto, há dez anos, a segurança nacional era medidasobretudo em termos de poder militar, hoje isto é apenas umadas várias unidades de medida e, para a maior parte dos países,uma das menos evidentes. A maior parte das ameaças atrásreferidas requerem não uma resposta militar tradicional mas o

Chris Donnelly analisa as dificuldades de todas as forças armadas europeias para enfrentar o desafio do séculoXXI, centrando-se nos exércitos da Europa Central e Oriental, em que a necessidade de reforma é mais urgente.

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Preparar soldados para o século XXI

Chris Donnelly é conselheiro especial da OTAN paraos assuntos da Europa Central e Oriental.As opiniões expressas são puramente pessoais e nãorepresentam as opiniões da OTAN ou de qualquer dosseus Estados membros.

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Tempos agitados: Os soldados actuais devem treinar-se para uma vasta gama de situações criadoras de tensão.

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investimento em ministérios do interior, forças aduaneiras e decontrolo de fronteiras e meios de gestão de crises. Mas aoaumentar o investimento na segurança interna, a pressão sobreos orçamentos da defesa torna-se ainda maior. Nalguns casospode, portanto, ser contraproducente exortar os países a gastarmais com os soldados, se o que eles realmente precisam é depolícias, tanto para a sua própria segurança como para con-tribuir para as operações de segurança internacionais.

A experiência demonstra que hoje, quando os soldados sãochamados para enfrentar um desafio em matéria de segu-rança, têm que ser capazes de fazer mais do que simples-mente combater. As operações de manutenção da paz naBósnia-Herzegovina e no Kosovo mostraram que, além daaptidão para combater, os soldados precisam de ter umagama de competências para desempenhar um largo espectrode papeis, criadores de tensão e exigentes, que vão da diplo-macia à gestão hospitalar, à administração local e ao socor-rismo, passando pela polícia e a arbitragem.

Mais dois aspectos se podem acrescentar. O primeiro é que ossoldados actuais terão provavelmente que actuar fora dos seuspróprios países. O segundo é que é provável que surjam novosdesafios que não estão previstos actualmente. Os exércitos deamanhã exigirão portanto uma gama de competências muitomais alargada que os seus antecessores. Os soldados terão queser mais flexíveis, mais bem treinados e mais bem formados eas forças terão que poder ser destacadas para o estrangeiro deforma rápida, decisiva e sustentável. Isto exige mudanças namaneira de pensar em matéria de segurança e implicamudanças no investimento geral em segurança.

As mudanças na maneira de pensar já estão em curso. A per-cepção da necessidade de destacar forças europeias para foradas fronteiras que estão encarregadas de defender sem exces-siva dependência do apoio dos EUA impulsionou o desen-volvimento da Identidade Europeia de Segurança e Defesa.Este programa, que visa melhorar as capacidades militareseuropeias, não trata apenas da questão de novos equipamen-tos, novas estruturas de comando, controlo e comunicaçõesou novos mecanismos logísticos. Trata também da questãodas competências e aptidões dos próprios militares doexército, marinha e aviação.

O exame do estado das forças armadas e de segurançaeuropeias revela uma disparidade. Quando acabou a GuerraFria, a maior parte dos países europeus tinham forçasarmadas relativamente grandes baseadas na conscrição e des-tinadas a defender o território nacional. Os países neutros,como a Finlândia e a Suíça, tinham que manter grandes estru-turas de forças capazes de operar de forma independente paratornar a sua defesa credível. Os membros da OTAN, segurosdebaixo do escudo nuclear dos EUA, podiam gastar menos emanter exércitos mais pequenos e, mesmo assim, ter umadefesa credível. Contudo, apesar duma tendência crescenteno sentido da integração militar e industrial e das estruturasmilitares multinacionais, cada membro da OTAN tem manti-do, em larga medida, as suas próprias cadeias de comando, osseus sistemas de aquisição nacionais e forças equilibradasorganizadas em moldes nacionais. Isto significa que nunca

houve a economia de escala que é possível num grande sis-tema nacional, como o dos Estados Unidos, ou num sistemacom uma estrutura totalmente integrada e normalizada, comoa que a União Soviética impôs ao Pacto de Varsóvia.

Na última década, a maior parte dos países europeus reduziuconsideravelmente o seu orçamento e a sua estrutura deforças. Mas muitos têm ainda que mudar fundamentalmente asua estrutura. Em vez de grandes exércitos de conscritos paraa defesa nacional, têm agora exércitos de conscritos maispequenos. Além disso, por um conjunto de razões políticas efinanceiras, estes exércitos têm capacidades reduzidas. Osperíodos de conscrição foram encurtados. O equipamento nãofoi actualizado. Tem-se permitido a diminuição dos arsenaisde munições. O treino tem sido reduzido. As forças armadasdos membros europeus da OTAN tornaram-se dependentesda tecnologia “multiplicadora de força” dos EUA.

Como a probabilidade de conflito foi considerada baixa e adissuasão dependia duma atitude política e militar bemvisível, era mais importante para os membros europeus daOTAN manter uma exibição de poder militar do que desen-volver uma verdadeira capacidade de combate. Disto resul-taram políticas de aquisição que davam mais ênfase à estru-tura das forças que à sua capacidade. Por exemplo, era maisimportante comprar um avião que os sistemas que o torna-riam eficaz. O rápido desenvolvimento tecnológico mais aspressões institucionais reforçaram a lógica deste processo.

Três questões, em particular, afectaram os países da EuropaCentral e Oriental desde 1990. Primeiro, mantiveram umaestrutura administrativa, de comando e de formação militarexcessivamente grande, absorvendo uma fatia desproporciona-da do orçamento da defesa. Segundo, estes países não tinhamum sistema de gestão do pessoal eficaz, moderno e transpa-rente, mantendo em vez disso uma versão do que tinham notempo do Pacto de Varsóvia. Isto constitui provavelmente omaior obstáculo institucional à reforma pois, sem um tal sis-tema, não há nenhum mecanismo para avaliar, recompensar,promover ou colocar nos lugares essenciais as pessoas qualifi-cadas para efectuar a mudança e implementar novos projectos.

Terceiro, estes países sofrem duma falta de capacidade anível governamental para formular a política de defesa, parao planeamento da defesa e para a gestão de crises. Isto éassim porque, como membros do Pacto de Varsóvia ou ele-mentos constituintes da União Soviética, não podiamexercer um controlo nacional sobre as suas forças armadas.Tal competência leva muitos anos a ser adquirida. A maiorparte dos países da Europa Central e Oriental necessita, por-tanto, duma mudança fundamental na sua cultura militar,para poderem criar forças adequadas para desempenhar otipo de tarefas que, como o Kosovo demonstra, a segurançaeuropeia provavelmente exigirá na próxima década.

Muitas das novas funções militares não requerem as com-petências clássicas dum soldado e poderão ser melhordesempenhadas por polícias. Nalgumas circunstâncias, por-tanto, uma gendarmaria poderá ser mais apropriada do queum exército. Actualmente, no Kosovo, o que faz falta é sem

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dúvida este tipo de polícia. Quando são precisos mais solda-dos, é pessoal de comunicações e de engenharia ou de acçãopsicológica, mais do que de infantaria ou artilharia. Serãosempre necessários soldados, mas as operações a efectuarnão exigirão apenas soldados. É evidentemente melhor evi-tar sobrecarregar os soldados com funções civis. Contudo,também é evidente que, nas operações de manutenção dapaz, estas funções e estruturas têm que poder ser destacadasquase simultaneamente com as forças militares.

Muitos analistas, especialmente no Reino Unido e nos EstadosUnidos, acham que um exército profissional é a solução paraas exigência da segurança do século XXI. Pode ser assim paraos grandes países ricos, particularmente se há mar a separá-losde qualquer possível inimigo. Mas para os pequenos países, eparticularmente para os mais pobres, tal solução apresentagraves problemas de custos. Isto, por sua vez, significa que ospaíses capazes de reunir grandes exércitos de conscritospoderão não ter possibilidade de manter forças regulares bemequipadas senão de muito pequena dimensão. Três factorescontribuem para o custo muito elevado das forças regulares,nomeadamente o pessoal, o equipamento e a capacidade desubsistência.

Pessoal: Os conscritos são relativa-mente baratos. Suportam um nívelde vida baixo e precisam de poucoquanto a apoio, não sendo acom-panhados por cônjuge ou filhos.Além disso, estão sempredisponíveis para o serviço, pois têmpoucas licenças. Os soldados regu-lares, pelo contrário, têm que serremunerados a níveis concorren-ciais, tem que se lhes fornecer alojamento adequado e infra-estruturas associadas para as suas famílias, para que não tro-quem o exército por condições melhores noutro lado. Alémdisso, os soldados regulares exigem períodos de licençarazoáveis e são desviados para cursos de formação ou seme-lhantes durante o serviço, o que reduz a sua disponibilidade.

A experiência dos Estados Unidos e do Reino Unido, que têmexércitos profissionais, mostra uma grande rotatividade dossoldados regulares. Além disso, a maior parte das forçasarmadas profissionais emprega a rotação e substituição indi-vidual, isto é, destacamento dos soldados numa base indivi-dual. Isto é desagregante pois a rotação de pessoal é contínuae excede muitas vezes 50% por ano. Também reduz a coesãodas pequenas unidades e, assim, compromete a prontidão. Édifícil formar unidades para uma operação prolongada compessoal todo ainda com mais de nove meses disponíveis antesde ser transferido. Pelo contrário, muitas forças armadasbaseadas na conscrição usam a rotação e substituição porunidades. Isto permite criar equipas, pelotões e companhiascoesas e permutáveis. E aumenta a coesão das pequenasunidades, daí resultando uma prontidão relativamente eleva-da, logo que as unidades são formadas e treinadas.

Os conscritos podem, portanto, ser bons soldados se bemtreinados e instruídos. Mas embora seja relativamente fácil

dar competências específicas aos conscritos, é mais difíciltreiná-los para enfrentar uma variedade de situações, exigin-do uma vasta gama de competências, daí resultando que rara-mente são versáteis. Por outro lado, os reservistas podemtrazer competências adquiridas na vida civil. A sua maiordeficiência é a manutenção da aptidão para o combate. Umoutro problema surge se as estruturas de forças são reduzidasmas continuam baseadas na conscrição. Ou o período deconscrição tem que ser reduzido ou a conscrição tem que setornar selectiva. O primeiro reduz a eficácia; o último ésocialmente divisório. Chegou a altura de procurar umaforma alternativa de serviço que reuna as vantagens das duas.

Equipamento: Durante os últimos 30 anos, à medida que asarmas e o equipamento melhoraram, o seu custo aumentoumuito mais rapidamente que a inflação. Consequentemente, àmedida que as forças se modernizam, se mantiverem estru-turas da mesma dimensão, o custo das aquisições de equipa-mento em percentagem do orçamento geral duplicará em ter-mos reais aproximadamente em cada 18 anos. Se apercentagem do PIB atribuída à defesa for constante, e se oPIB não crescer anualmente em termos reais de forma con-

siderável, então o custo dasaquisições levará inevitavelmentea uma redução da dimensão dasestruturas de forças. É isto, maisdo que qualquer outra coisa, queleva os países a efectuar revisõesda defesa. O político que prometeque um “emagrecimento será salu-tar” e que “uma redução equiva-lerá a uma melhoria” está a fazerda necessidade uma virtude.

Capacidade de subsistência: Para os exércitos modernospoderem subsistir em operações, mostra a experiência que asforças terrestres requerem pelo menos três vezes os efectivosdos batalhões que efectivamente fazem parte da estrutura deforças destacada. O destacamento de 60 000 homens exigirá,portanto, uma força operacional total de cerca de 200 000.Além disso, é necessário um número igual para guarnecer ainfra-estrutura de apoio ao conjunto. Portanto, criar umexército regular moderno requer pelo menos cinco ou seispessoas por cada uma destacada no terreno.

À medida que as forças necessitem de se tornar maisflexíveis, mais versáteis e com maior capacidade de sub-sistência no estrangeiro, o seu custo aumentará e diminuirá adimensão da força possível. Na verdade, o custo damanutenção dessas forças, que provavelmente terão que serutilizadas na manutenção da paz ou em guerras regionais,pode revelar-se maior que o custo da manutenção de forçasde conscritos durante a Guerra Fria.

É possível fazer economias gastando cuidadosamente o di-nheiro da defesa. Os países incorrem muitas vezes em despe-sas desnecessárias por razões políticas, construindo o seupróprio avião em vez de comprar um estrangeiro mais barato,por exemplo. Contudo, o âmbito desta poupança tem limites.Afinal, os exércitos modernos custam caro, e os exércitos

As operações de manutenção dapaz mostraram que os soldadosprecisam de ter uma gama de com-petências para desempenhar umlargo espectro de papeis criadoresde tensão e exigentes.

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regulares são muito mais caros que os de conscritos. Tudoisto constitui para os países mais pequenos da Europa umproblema particularmente grave. Se o custo obrigar àredução dos seus exércitos, chegarão rapidamente a umasituação em que não podem manter forças de alta tecnologiapor causa do custo que, na sua pequena escala, é despropor-cionado . Analogamente, não poderão manter exércitos equi-librados aptos para todas as funções exigidas a uma força dedefesa nacional. Quanto mais pequena for a força nacional,maior será a proporção do orçamento requerido pela infra-estrutura do ministério da defesa e do quartel-general.

Inconscientemente, o desejo de adesão à OTAN de algunspaíses está a aumentar este problema. A necessidade defornecer forças competentes para as operações dirigidaspela OTAN como a do Kosovo impele os países a desen-volver pequenas forças competentes. Contudo, estas forçassão tão caras que, para as custear, os países podem ter queretirar parte dos escassos recursos duma estrutura de forçasdestinada à defesa nacional. Os preparativos para aderir àOTAN podem, portanto, reduzir a capacidade de defesaindependente dum país. Na falta de qualquer garantia dumaeventual adesão, uma tal política representa inevitavelmenteuma decisão arriscada.

Alguns analistas consideram que os exércitos da EuropaCentral e Oriental precisam dum quadro sólido, fiável ecompetente de sargentos. Na prática, contudo, isto não éfácil de criar. Os exércitos reflectem a estrutura social da suasociedade. A França, a Alemanha, o Reino Unido e osEstados Unidos, por exemplo, têm uma forte tradição dequadros médios – o contramestre, o gerente de loja, olavrador independente, o pequeno comerciante. Na vidacivil, estas pessoas têm a independência, a iniciativa e aeducação necessárias para assumir responsabilidades quesão transportadas para o serviço militar. Como na EuropaCentral e Oriental este sector da sociedade é fraco devido àherança comunista, a matéria prima para o sargento do esti-lo ocidental não existe necessariamente.

Todavia, com o passar do tempo, deverá ser possível desen-volver este nível de comando. Afinal, os exércitos britânicoe alemão baseiam actualmente a sua estrutura de sargentosno treino e formação no seio das próprias forças armadas.Mas isto terá que ser acompanhado por uma evolução cul-tural de forma a que a estrutura de comando esteja preparadapara delegar autoridade até ao nível de sargento. A esterespeito, um bom exemplo a estudar será a “redefinição”pela Bundeswher dos cargos de oficiais do Exército Alemãode Leste como cargos de sargentos dos postos superiores.

A forma como os governos avaliam as forças de que necessi-tam para fazer face aos riscos que enfrentam é problemáticana Europa Central e Oriental dado que, no sistema comu-nista, tais avaliações estavam fora da sua alçada. As decisõesessenciais eram normalmente tomadas em Moscovo e trans-mitidas pelo Partido daí resultando que a competência go-vernamental nesta área fosse mínima. Além disso, mesmo naUnião Soviética, os civis tinham tão pouco conhecimentodos assuntos militares que na prática os militares decidiam

tudo. Não havia qualquer controlo governamental civil sobrea política de defesa nem qualquer capacidade governamentalcivil no planeamento da defesa.

As consequências podem ver-se actualmente no novoConceito de Segurança Nacional da Rússia. É uma lista detodas as ameaças possíveis preparada por cada ministério ouorganismo ligado às questões de segurança. É uma análisecolegial de factos, mas sem qualquer definição de priori-dades nem qualquer análise do risco em função da probabili-dade, daí resultando que serve de pouco como documento deplaneamento da política. A produção do tipo de análisenecessária para tomar decisões bem fundadas requer um sis-tema de informação que possa obter elementos da gama maisalargada possível de fontes, tanto abertas como secretas. Osserviços de informações ocidentais fazem isto bem. Mas emmuitos países da Europa Central e Oriental os serviços deinformações ainda reflectem a herança das sociedadesfechadas. A informação aberta, um sistema para a avaliar epolíticos e funcionários civis com a formação necessáriapara a compreender são essenciais actualmente para que asinformações possam ser utilizadas apropriadamente. É difí-cil saber quanto tempo levarão as novas democracias adesenvolver este atributo particular da sociedade moderna.

Os actuais problemas da reforma da defesa de todos ospaíses europeus são grandes e urgentes. Para os países daEuropa Central e Oriental, com uma herança do Pacto deVarsóvia ou soviética, são extraordinários e, quanto maispequeno o país, mais difíceis são de resolver. Na verdade, oproblema é tão grave que a necessidade de lhe dar maisatenção deve ser imediatamente reconhecida.

Embora não haja respostas fáceis, o caminho a seguir exi-girá provavelmente maior transparência no planeamento dadefesa e uma abordagem comum. Para a maior parte dospaíses, terão que ser tomadas decisões difíceis e questõesaté agora consideradas tabus, como a especialização depapeis para os países mais pequenos – isto é, a repartição detarefas militares entre os países – terão que ser analisadas.Uma solução parcial poderia ser a regionalização, comvários países partilhando as suas forças armadas e cada umespecializando-se em áreas particulares. O exemplo doBenelux poderia servir de precedente. Quaisquer que sejamas estratégias, a ideia de segurança através de aliança é aúnica abordagem sensata e todas as instituições interna-cionais ligadas a estas questões, a OTAN, a União Europeiae a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa,têm interesse na colaboração.

• • •

O autor quer agradecer à pessoas seguintes a suaajuda especial na preparação deste artigo: KenBrower, Sir John Walker, Manfred Diehl, Will Jesset,Peter Svec, Dave Clarke, Efrem Radev, WitekNowosielski.

Uma versão electrónica, mais extensa, deste artigoestará disponível no web site da OTAN. �

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ano passado, a Operação Allied Force no Kosovodemonstrou a importância das operações em coli-gação. Também mostrou que a tecnologia é essencialpara o seu êxito. Muitas das inovações que foram

usadas pela primeira vez durante a campanha foram frutosdum programa do Departamento da Defesa dos EUA queprocura integrar rapidamente as novas tecnologias nasoperações militares. A participação Aliada já tem ajudadoo processo. Alargar esta cooperação poderia facilitar amelhoria de capacidades que a OTAN pretende para asfuturas operações multinacionais.

A importância das operações em coligação viu-se noKosovo. A solidariedade da OTAN foi fundamental paraobrigar o regime de Belgrado a aceitar as suas exigências.Mostrou uma determinação política e uma força moralsuperiores às que qualquer acção unilateral poderia terreunido. Além disso, a Operação Allied Force não poderiater sido conduzida sem os esforços de toda a Aliança edependeu de contribuições Aliadas tais como forças,bases, infra-estruturas e autorizações de trânsito.

A Operação Allied Force também foi militarmente sig-nificativa. Foi a operação de combate de maior dimensão

jamais efectuada pela OTAN, demonstrando uma intrepi-dez significativa e representando a mais precisa campanhaaérea da história, com um mínimo de danos colaterais.

A tecnologia desempenhou um papel fundamental nestaactuação militar. Novos sistemas e capacidades foram aplica-dos pela primeira vez nesta campanha e integrados em novosprocessos. O resultado foi uma força multinacional que ope-rou com rapidez e precisão, capaz de localizar e atingir rapi-damente as forças contrárias, minimizando as baixas amigas.

Algumas das inovações introduzidas no Kosovo foramo resultado duma iniciativa do Departamento da Defesa dosEUA chamada Programa de Demonstração de Tecnologiade Conceito Avançado. Durante os últimos cinco anos, esteprograma tem vindo a explorar a tecnologia para satisfazeras necessidades de combate. Reúne cientistas e militares,que inserem a tecnologia num conceito operacional para verrapidamente o que funciona e o que não funciona. O pro-grama está a contribuir para uma revolução nos assuntosmilitares e a reduzir o tempo, risco e custo das aquisições.

Desde que foi lançado, o programa iniciou 68 projectos,dos quais mais dum terço beneficiaram de envolvimentoaliado. Alguns tiveram como resultado uma inovaçãotecnológica para um comandante de teatro específico.Outros permitiram uma aquisição mais rápida de sistemasque no passado. E, noutros casos, revelaram sistemas quenão funcionam, evitando assim novas despesas.

32Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

Joseph J. Eash III esclarece como a rápida integração das tecnologias avançadas nos sistemas decombate ajudou os Aliados durante a campanha do Kosovo.

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Explorar a tecnologia nas guerras em coligação

Joseph J. Eash III é o Subsecretário Adjunto da Defesados EUA para os conceitos e sistemas avançados.

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O Predator: Durante a campanha do Kosovo, os Predator fizeram voos de observação em áreas demasiado perigosas para aviões tripulados.

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Estes projectos também se centraram na guerra emcoligação anterior ao Kosovo. Um, lançado em 1998, estáa permitir aos sistemas de comando e controlo do Exércitodos EUA operarem com os do Canadá, França, Alemanha,Itália e Reino Unido. Está a desenvolver e aperfeiçoarmétodos de intercâmbio de informações, usando men-sagens OTAN normalizadas, directamente entre bases dedados nacionais. Outro projecto está a ajudar forças decoligação terrestres, aéreas e navais na Coreia a sin-cronizar surtidas em profundidade.

A campanha do Kosovo criou uma grande procura demuitas das tecnologias desenvolvidas neste programa.Aproximadamente 20% dos seus produtos foram utiliza-dos ou preparados para serem utilizados em apoio daOperação Allied Force. A maneira como alguns destesprodutos foram usados dá-nos uma ideia das futurasoperações conjuntas e prova a eficácia do programa.

No Kosovo, a rapidez era essencial.Para pôr fim à campanha de terror queestava a ser mantida pelo Exércitojugoslavo, polícia sérvia e paramilitares,a Aliança tinha que localizar e atacar acapacidade do regime de Belgrado paramanter operações militares mais depres-sa do que as forças deste podiam actuar.

Vários produtos do Programa deDemonstração de Tecnologia deConceito Avançado foram usados paralocalizar as forças inimigas. Um deles foio veículo aéreo não tripulado Predator.Telecomandado a centenas de quilóme-tros de distância, este avião transportacâmaras de vídeo e outros sensores epode voar durante 40 horas. No Kosovo,os Predator voaram frequentementesobre áreas demasiado perigosas paraaviões tripulados. Mantiveram umaobservação quase constante das forçasinimigas a operar em terreno aberto etambém foram usados para observarrefugiados e avaliar danos de combate.

O veículo aéreo não tripuladoPredator – um projecto que envolveuvários países – foi utilizado depois de apenas 30 meses dedesenvolvimento. Desta maneira, foram eliminados doisanos de ensaios com uma economia estimada de mais de10 milhões de USD, sem qualquer perda de credibilidadeno desempenho do Predator.

A intensa observação exercida pela OTAN durante acampanha do Kosovo forçou as forças sérvias cada vezmais a esconderem-se, obrigando-as a recorrer com muitafrequência à camuflagem e à ocultação. Embora isto tenhatornado mais difícil para os aviões da Aliança localizá-las,também evitou o seu emprego ofensivo. Além disso, éprovável que estas tácticas sejam usadas crescentemente

por outros inimigos potenciais à medida que os sensorescontinuem a melhorar.

Os Estados Unidos utilizaram tecnologias dum projec-to chamado “Common Spectral Measurement and SignalsIntelligence Exploitation Capability”. Este projecto temestado a trabalhar em tecnologias que podem detectar acamuflagem e ameaçar veículos, mas os seus sistemastambém podem ser usados para fins como a busca e salva-mento, a caracterização do terreno e a detecção de armasquímicas e biológicas. Esta capacidade é assegurada poruma estação de trabalho computadorizada que processa ainformação de vários sensores espectrais.

As forças da Aliança usaram outro produto doPrograma de Demonstração de Tecnologia de ConceitoAvançado para localizar e identificar forças adversárias.Chamado “Precision Targeting Identification”, este produ-

to foi usado para detectar alvos a maioresdistâncias do que com os anteriores sis-temas de detecção e controlo. Os seussensores de infravermelhos localizamalvos e um radar de laser identifica-os. Osistema começou por ser usado paradetectar alvos em áreas congestionadascomo as regiões costeiras e foi usado pre-viamente em operações de combate àdroga para detectar embarcações de con-trabando de cocaína.

Uma vez localizados os alvos, ainformação tinha que ser passada rapida-mente para as forças de ataque daAliança. Uma das melhores maneiras defazer isto foi um sistema de difusão debanda larga desenvolvido pelo Programade Demonstração de Tecnologia deConceito Avançado. Durante toda a cam-panha do Kosovo, este sistema transmi-tiu imagens de alta prioridade de alvoslocalizados. Este sistema de comuni-cações encurtou significativamente ointervalo de tempo entre o alvo ser locali-zado e ser atingido. Vários países partici-param também no seu desenvolvimento.Só a rapidez não era suficiente, pois a

OTAN tinha que minimizar as vítimas civis. Isto signifi-cava não apenas ter que usar um número considerável demunições guiadas com precisão mas também prever eavaliar com rigor os seus efeitos. As forças da Aliançaanalisaram cada alvo, determinaram o dano pretendido eescolheram a arma ou armas que o conseguiriam. Isto foifeito usando um instrumento de planeamento automatiza-do que avalia os efeitos de vários tipos de munições sobreum determinado alvo. Este produto foi o resultado dumprojecto de contra-proliferação conduzido pelo Programade Demonstração de Tecnologia de Conceito Avançado.Esta capacidade de avaliação das armas e dos seus efeitosfoi instalada em dez centros regionais da OTAN.

33Notícias da OTAN Verão/Outono 2000

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Salto tecnológico: O Programa deDemonstração de Tecnologia deConceito Avançado diminui otempo, risco e custo da nova tec-nologia de operações de guerra

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À medida que os ataques da Aliança se tornaram maiseficazes, as forças armadas jugoslavas eram frequente-mente escondidas em cavernas, túneis e instalações forti-ficadas. Atacá-las nestas condições exigia munições pene-trantes. Prevendo estas possibilidades, o comandante doteatro solicitou o “Advanced Unitary Penetrator”, quetambém foi desenvolvido pelo projecto de contra--proliferação do programa. Tem o dobro da capacidade depenetração das anteriores munições contra alvos rígidos eé capaz de contar as camadas e os vazios das estruturas,calcular as distâncias percorridas e detonar a uma profun-didade predeterminada.

A Operação Allied Force permitiu outras perspecti-vas do futuro das acções de guerra ao indicar as iniciati-vas tecnológicas que devem ser previstas para as futurasoperações em coligação. Durante a campanha, osataques a alvos móveis eram mais problemáticos que osataques a alvos fixos. Vários países da OTAN tinhamusado, e continuam a usar, sistemas de observaçãobaseados em terra e no ar. Contudo, têm que trabalharem conjunto para localizar e atacar alvos móveis commaior eficácia.

Depois da campanha do Kosovo,o Programa de Demonstração deTecnologia de Conceito Avançadolançou um projecto chamado“Coalition Aerial Reconnaissanceand Surveillance” que beneficia daparticipação de países como aFrança, Alemanha, Itália, Noruega eReino Unido. Este projecto procuradesenvolver a interoperacionalidadeentre os sistemas de observaçãoAliados e, em última análise, ajudaráas forças de coligação a localizaralvos móveis mais rapidamente e areforçar as suas capacidades deataque.

As forças da Aliança tambémencontraram dificuldades no ataqueaos sistemas de defesa aérea do inimigo. Estes sistemasdesligavam frequentemente o seu radar, impedindo osmísseis anti-radar da OTAN de se fixarem neles. Emboraas forças da Aliança dominassem as defesas aéreas inimi-gas, não podiam destruí-las e a continuação da suaexistência causava preocupação justificável. Umaprimeira avaliação a partir dos relatórios dos pilotos e deoutras fontes contou quase 700 mísseis lançados pordiversos sistemas de defesa aérea inimigos.

Para enfrentar este problema, o Programa deDemonstração de Tecnologia de Conceito Avançadolançou um projecto chamado “Quick Bolt”. Este projectointegrará diversas outras tecnologias de orientação nosmísseis anti-radar, que permitirão que estes mísseis semantenham apontados aos sistemas de defesa aéreamesmo depois destes terem desligado o seu radar.

A campanha do Kosovo tornou claro que deve ser dada uma ênfase maior aos conceitos operacionais. Embora atecnologia seja importante, não é a única via para o êxito.Em muitos casos, estes conceitos são mais difíceis dedesenvolver do que a tecnologia. Nos Estados Unidos, estamaior ênfase é reflectida na Joint Vision 2020 da Junta deChefes de Estado-Maior que se baseia nos conceitos paraas futuras operações estabelecidos na Joint Vision 2010 eincorpora as operações multinacionais na sua concepção.

A campanha do Kosovo contém uma mensagemimportante, designadamente que todos necessitamos denos concentrar na revolução nos assuntos militares. Asforças preparadas para a Guerra Fria estão a tornar-se rapi-damente obsoletas. Além disso, é provável que tenhamosque enfrentar ameaças mais temíveis que as do Kosovo.Os adversários potenciais podem adquirir tecnologiasmodernas tais como serviços de satélites para as comuni-cações, navegação e observação; armas biológicas equímicas de baixo custo; e mísseis de cruzeiro e balísticos.

A OTAN está agora a lançar a Iniciativa dasCapacidades de Defesa, um programaque procura melhorar as capacidadesde mobilidade, subsistência, envolvi-mento eficaz, comando e controlo ecomunicações, e sobrevivência. Comosalientou o Secretário da Defesa dosEUA William S. Cohen, podem con-seguir-se muitas melhorias nestascapacidades através da cooperaçãointernacional na investigação e desen-volvimento e nas aquisições da defesa.

O Programa de Demonstração deTecnologia de Conceito Avançadooferece essa possibilidade. O aumentoda participação Aliada neste programapoderia contribuir de forma significati-va para as futuras operações em coli-gação e para a Iniciativa dasCapacidades de Defesa. Permitiria aosEstados Unidos partilhar o custo das

iniciativas tecnológicas e ajudaria os Aliados a ver rapida-mente o que funciona nas operações em coligação, permitin-do-lhes assim incorporar os seus requisitos desde o início doprocesso, em vez de fazer posteriormente alterações maisdispendiosas. Em última análise, pode contribuir para ascapacidades comuns e isso significa interoperacionalidade.

A Operação Allied Force foi um êxito porque aAliança esteve politicamente unida. Também foi instruti-va, ensinando-nos muito acerca da guerra em coligação edas suas necessidades futuras. Talvez a lição mais impor-tante seja que a Aliança deve procurar ter melhorescapacidades militares para a guerra em coligação e que amelhor maneira de o fazer é trabalhando em conjunto.Colectivamente, podemos conseguir a acção militar unifi-cada que será fundamental para o êxito das futuras opera-ções em coligação. �

Muitas das inovaçõesusadas pela primeiravez durante a campa-nha do Kosovo foramfrutos dum programado Departamento daDefesa dos EUA queprocura integrar rapida-mente as novas tec-nologias nas operaçõesmilitares

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KOSOVO – ONE YEAR ON –Achievement and ChallengeRelatório do Secretário-Geral da OTAN Lord Robertson

The NATO Handbook – 50th Anniversary editionUm guia geral dos objectivos e actividades da OTAN, da

sua política e estruturas actuais; uma cronologia dos últimos 50 anos da história da Aliança e uma compilação

dos principais documentos políticos e textos jurídicos

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Extending Security:The Role of NATO and its Partner CountriesFolheto ilustrado que descreve como a OTAN funciona ecobre o desenvolvimento da política nas principais áreas de actividade da Aliança.

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Economics Colloquium 1999Actas do colóquio de 1999 sobre a evolução e as reformaseconómicas nos países Parceiros

NATO TopicsApresentação visual da Aliança indicando as grandes etapas daevolução da OTAN e as principais questões da sua actual agenda(apenas edição electrónica: www.nato.int/docu/topics/2000/home)

The Reader’s Guide to the Washington SummitCompilação de todos os textos e declarações oficiais

publicados na Cimeira da OTAN de Washington em Abril de1999, incluindo informação de apoio sobre os programas e

actividades da Aliança

NATO at 50Folheto de introdução à história da Aliança, com uma visão

geral dos principais temas da actual agenda da OTAN

NATO UpdateFolha de informação semanal que cobre resumidamente

as actividades e acontecimentos da OTAN, dando uma visão geral das iniciativas da Aliança.

(apenas edição electrónica: www.nato.int/docu/update/index

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