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1 Oscilações não Lineares

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Oscilações não

Lineares

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“I'm trav'lin' light”

Billie Holiday

“Por isso essa cidade é babelbarroca”

Haroldo de Campos

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Concerto de vozes

Há duas pedras em duas mãos

brincando numa espécie de descompasso

como amêndoas no trompete de Baker

dançam na gota d’água

em poças azuis passageiras

em sumos de orvalho:

fomos brutos em amar espelhos

e a melodia derrama o ocaso

Somos humanitas conservados entre metais

um pouco circundados pelo devaneio da queda

um cai caindo em retornos celestes e continentais

um vibrando nevrálgico, cristais da memória

e os versos cerrados entoam outro nome:

eu sinto parcelas em mim e me dói não ser.

Consciente apenas de que a distância que nos separa

são semimínimas eternizadas em colunas de sal

a cidade me convida

para o baile; suas luzes mesclam-se

sudoríparas por meus pelos e

teus cachos me enaltecem

como ametistas no grave silêncio.

Uma pausa

o refrão é o concreto gemendo, enfim,

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a cidade labirinto:

Concierto de voces

noche del ameno delirio

deslizó besos en las piedras

del otañal precipício

fartamente

bebo

da melancolia

teu seio

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Estação Jundiaí

Eu cheguei em Jundiaí como um estrangeiro vindo da capital,

mas logo me ensinaram como compor poesia na cidade;

Aqui não somos paulistas

Não somos estudantes

Não somos porta-voz de uma geração

Não somos jovens enlouquecidos pela noite

Não somos poetas de tom menor

Não somos caipiras tocando a viola espiritual

Não somos donos de igreja

Não somos membros de igreja

aqui não somos políticos, juízes, delegados

bem menos somos italianos

Não somos índios e negros construindo a malha ferroviária em 1862

Não somos tupis escravos da vila de Jundiahy

nem somos negros empilhados em barracos

Não somos Fepasa, São Camilo, Mato Dentro

Não somos universitários

Não somos ativistas da Serra do Japi

nem apreciadores do bom ar da cidade e da vida vegana

aqui não somos jovens e não cantamos o hino nacional

Não somos empreendedores

Não somos cidade-dormitório

Não somos proprietários de imóveis na Vila Arens

Não somos gays, lésbicas ou bissexuais

Não somos travestis desfilando renitentes na madrugada

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Não somos poças rubro-sangue embaixo do salto

Aqui não somos o silêncio intermitente

aqui não há ideologia de gênero

aqui não há escola sem partido

aqui não há mendigo batendo na janela negra

aqui as pessoas não respondem em tom afável e paternalista:

“eu sei que você vai comprar droga”.

No cume da minha identidade transvestida de jundiaense,

aprendi que a cidade tem dois corações para seus moradores.

O primeiro está na Av. Antônio Frederico Ozanan, número 6000,

seguido da palpitante Av. Nove de Julho, número 3300.

Ali você toma um sorvete ou almoça hambúrguer americano,

reassiste um filme de super-herói sempre novo,

compra um vestido pra a namorada, perfume

livros lacrados e jogos de videogame.

Depois toma seu carro e se joga do terceiro andar do estacionamento.

No dia seguinte será feriado.

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Desembarque

No meu quarto gotejam pequenas cidades

e por trás das espessuras

há outros infinitos quartos gotejando cidades.

Generais nos atravessam com multidões no bolso

e portas de aço decepam as mãos que se atrevem

a resolver o mistério das coisas

O mistério das coisas é haver uma única janela

espelhando todos os cômodos por vezes escurecidos

E as pequeninas cidades às vezes se deitam frente à única janela

Descansando entre paisagens em chamas.

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Opala-de-Fogo

Quando os frios tons do céu de drusas

chamuscam o cigarro infinito,

nossas pernas cruzam-se no sofá

e uma ametista mancha seu umbigo.

Sodalitas dançam taciturnas

suportando facilmente essa dor,

seu ventre concêntrico,

sândalo que emana no casulo das paredes

lacrimejando.

Síncope dos metais

lembrança dos sonhos

da escápula, o desterro

do seu torso, os beijos

que aceitam o pranto

derramado como leite de âmbar

banhando suas axilas, seus pelos

mais íntimos e resistentes.

Machucaram-se seus signos,

rendidos olhos-de-gato.

Retorna à brutalidade

retoma o silêncio

pedra-da-lua

cristal-fantasma

Opala-de-fogo

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Carta telepática ao meu velho pai

quando voltar

se encherão os dias

de diários em chamas

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Outro dia

Digitando...

Não sei, mas quem sabe outro dia

O dia que tracemos na poça o pomo sem ângulo

sem interface, ponto fora do esboço

retido no lastro da passagem.

Talvez gesto da matéria inerte

Talvez substância úmida fundida na poeira

esvaziará o eu nesta busca pelos dias tristes

e dobrará o tempo nu no risco sem fronteira.

Digitando...

Mas por que não ouvir sua voz enquanto lê?

Por que procurar a transvaloração das retinas,

a intervenção no silêncio passadouro?

nada sei do lirismo contemporâneo

No microcosmo enxergo apenas a fibra oca

e nem no almejo de uma vida amena

eu vejo tempo retornando

e quando vejo, finjo-me eterno

à experiência da desmemória

como pedra negra de Sarduy

mas não falemos disso por hora.

Digitando...

por que não falamos do não-retrato?

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da não-metamorfose

da não-libertinagem

do não-sentimento do mundo

da não-imagem poética

dessas coisas pós-modernas e

do trauma recriado quando

escrita e leitura querem

possuir o corpo sem esmero.

Digitando...

Se de repente o big bang

provar que não somos desta época

e não houver poeta algum que nos renda

abriremos uma caixa de ritalina

contentes com as palavras sem cadência:

esferas de sacarose

copolímero de metacrilato de amônio

copolímero de ácido metacrílico, talco

citrato de trietila, macrogol, gelatina

dióxido de titânio, óxido férrico preto

óxido férrico vermelho, óxido férrico

amarelo, óxido do desespero.

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Delírio compartilhado

a Marcelo Valadão

Imagina nós dois

na fila do supermercado dos absurdos

iconoclastas e renitentes

brincando de realidade

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Rua Lima

Meio comovido por essa rua em que meus pais cresceram

realento surpresos dançando o carnaval do interior:

pisão daqui, versículo de lá

sequência de muros em preces de fim de tarde.

Lembro quando eu andei vago pelo mesmo carnaval

não havia nada lá, apenas um contrato e duas mãos cruzadas.

Hoje me pergunto o que faltou nessa equação

já asfaltada e com o dobro de casas ruídas

e alguém pensa o mesmo que eu

enquanto chora no quarto ao lado.

Quilômetros e sequestros da página em branco

porque a vida tem gosto

como um morro na vila estreita dos presságios

e portões um tanto enferrujados

e olhos por trás das cores e segredos.

Quem pensa que não vinga o tédio

e procura o sentido para além dos vidros

esquece que corpo apenas brinca com o tempo

entre antigas ruas, pretextos e abrigos.

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[Não] Oscile

exala páramo

os dias molhados

o transluzir dos quartzos

mirando rotas passagens

semiaberturas no tempo

flagelo em horizontes nus

vazios que à infância projeto.

Maciça, acanhada surjo

perturbando mudos fantasmas

venero lâminas polidas

entre prédios e figuras mortas.

Prostram-se cerradas as vigas

perdoai-me

[não]

vacila outono

encharcado pelo sono

serenando lúcida zona

da cova dos olhos

uma linha mostarda flama

edifícios sob a pele dos poros

geometrias da queda plana.

desencantada com o céu

dançando entre fumaça e véu

beijas os corpos vencidos

entre sonhos e vísceras uterinas.

Prostram-se tristes sinas

perdoai-as

oscile

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Jaspe

enquanto o vermelho

reflui pelas pernas e viola o lençol

o mesmo vermelho transborda os lábios

adoça a saliva e tempera a canela

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Manhã

Não ouvir sua rouca voz

escrita com agilidade

pouco sonolenta de uma luz

que tão pouco ilumina a cidade.

Não ouvir a flexão do mantra

as frias esferas descendo o telhado

o pompoarismo tântrico

o cravo na mesa de linhas

a canela manchando as paredes

enquanto respinga o café dos cristais.

Os grãos continuam a ninar

desvelados entre cartas de tarô

vozes presas em porta-retratos

nos pêndulos vazios do seu útero.

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5 de dezembro

Irresoluto diário

abro

La Jaula

Pizarnik

nomes são:

abreviações

passagens

superfícies

vozes que deslizam soníferas

dentro e fora

maria é um nome

Pedra & Suspiro

cativeiro

em queda livre

os nomes são pretexto

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Utopias de uma língua

Eu já chupei vários paus acadêmicos

Mas chega um momento que eles não mais cabem na boca

Crescem tanto e tanto...

E os lábios irresolutos procuram

Pirocas que saibam mais de iconoclastas,

Menos de poetas, menos de métricas

Porque hora qualquer, a boca transborda de palavras

E tanta nota de rodapé cimenta a poesia.

Cansei dos paus alegóricos

Cansei dos paus que envelhecem antes de serem espelhos.

Deus afaste os paus nostálgicos que brilham no escuro e choram na alvorada.

Quero paus que se confundam nos semáforos

Caralhos que atravessem a dimensão do Lattes

Eu quero paus metasimbólicos

Quero os paus que sejam pontes

E levem-me irrevogavelmente para o meu destino:

Torna-te quem tu és.

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No largo da Batata

Arria do cavalo

~ sobe calado a calçada~

dobra a calça

pisa pisa anda

desamba em mim

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Silent Way

A filha dorme profundamente,

mas há um longo ruir dos lençóis

e a cidadela acorda suspensa

acanhada

indiferente

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Samsara

cloridrato de fluoxetina conjunto de antidepressivos aumenta risco potencial suicida ela disse

bom dia a fadiga que esperastes em prazer tão mortal não passa de improvidência e ausentar-

se só é comparável à crueldade da ausência que importam lágrimas lânguidas se afeição toma-

me pelo ventre revirando-o e já não posso sofrer porque mil vezes ao dia me perco de estar a

rigidez de teus lábios resiste ilhada no concreto cristais ruidosos não sei se quero reação muito

comum um a cada dez casos é necessário como me sinto livre para privar-me para sempre

desses olhos nus caem de minhas coxas como outros antidepressivos casos isolados de

ideação formação da ideia e comportamento suicida logo após a interrupção em bom tom ela

me disse bom dia reação quizás incomum um a cada mil casos um para pedras brutas

rutilantes e opacas e eram só finas brumas escorrendo em espera nas pernas coxas mornas

brancas pernas brasas cerradas finitas coxas ternas mornas mistas atravessadas nos dias lisas

pouco a pouco bom dia ela disse será que sua voz me sente como ela me sinto a rigidez de

teus lábios resiste ilhada no concreto desvelar verdade surpresa perplexa me disse bom dia os

médicos devem ser consultados imediatamente se os pacientes seria só a sentir o teu interesse

talvez não fosse desagradável se outras cantassem a ausência de vozes senão como esforço de

todas as maneiras para ausentar-se ai o que seria de mim conheci o desvario senão quando me

esforcei de todas as maneiras para me curar dele bom dia fluoxetina é excretada no leite

materno mulheres comuniquem alguém diz a rigidez de teus lábios resiste ilhada no concreto

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Um novo rosto

Falta coragem para dizer

sambe baixinho

saudade

esqueça cadência

quem precisa

quando o pé jaz

em cinzas

vem vindo

certa vida

atrás do véu

que não se veste

enquanto samba

saudade

e seja

nunca mais

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Desembarque II

Áugures dos perfis inauditos

gritos dos amantes

delírio ameno dos anjos

apartamentos e redomas de vidro

entrelaçando línguas de mim.

Seria tudo ruído

se não fosse

Ressoou em ereções decompostas

a multidão

e nenhuma pele se tocou

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Matriz

a Rolando Sanches Mejías

A aranha desce rente e rasa aos triângulos frios do azulejo

a matriz é o espasmo que se comprime na vertigem entre espelhos:

ligas, linhas, segmentos de reta que não desvendam forma alguma

libertam-se do abdômen forjado a ferro, pus e sucessivas cúpulas

(transmutando rígida a superfície agora o inseto é também ensejo)

enquanto só escrevo para não ser marionete do coração

Os olhos de fusão da garota (?) salteiam [obrigatoriamente] o poema

áporo metálico, exigem que o ruído seja esforço sem retorno e incalculável

que atrase os passos ou estenda as patas sobre o umbral

um sopro de lágrimas (?) inundam de mercúrio timbrando blocos

(superfície é aquilo que tem somente comprimento e largura)

enquanto só escrevo para não ser marionete do coração

Com extensões mecânicas o aracnídeo tece o desejo na pele:

a toda ereção é uma perversão e ruptura contínua

b escorada em um muro de porcelana a garota (?) relê versos neuroatípicos

c toda dopamina produzida por uma aranha é na verdade uma ordem sem discurso

d eu só escrevo porque ponto é aquilo de que nada é parte

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Manequim

A cada 7 noites me apaixono

Por um manequim dessa cidade.

Meditando na vitrine

O silêncio de seu corpo me distrai

Boca seca, querendo um trago

de carícia, de sombra, do litrão mais

barato.

Às vezes, eles, manequins

Trocam beijos entre si

E sufocados por paredes de vidro

Numa sede impossível de matar

Se arrependem de amar em Jundiaí.

Mas há dias em que a lua se enche

E eles não querem menos

Do que a dissolução do tempo

O caos total dos lábios:

Tiram suas roupas, rasgam suas marcas

Resgatam a violência do corpo-objeto

Contra o opressor, o homem-mercado

O ardor da juventude inflamável.

Saem loucos, assim, pela rua

Cheiram todo o pó do Sanca

Esvaziam no último gole a alma

Queimam aquela ponta

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Da língua na garrafa

No perigo

O corte

Triste é só a alvorada.

Nesses dias poéticos

Deitado em seu útero de

Plástico tatuado

Assisto, enfim,

A cidade queimar.