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OS TEXTOS DE COROAÇÃO COMO FONTES PARA O ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE REPRESENTAÇÕES RÉGIAS E VESTUÁRIO NA INGLATERRA MEDIEVAL Maria de Nazareth Corrêa Accioli Lobato UFRJ [email protected] Na Idade Média, teólogos e juristas acreditavam que a realeza era exercida por Deus, detentor de um poder perfeito, sem começo, sem fim e sem limites. Todo poder dele emanava e a ele estava submetido (BEAUNE, 1997, p. 85), uma supremacia cuja imagem se encontra descrita, com bastante propriedade, nos dois versículos iniciais do Salmo 93: “Iahweh é rei, vestido de majestade,/ Iahweh está vestido, envolto em poder./ Sim, o mundo está firme, jamais tremerá./ Teu trono está firme desde a origem / e desde sempre tu existes.” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002, p. 962). Em consequência, o status político dos reis terrestres se devia unicamente ao privilégio a eles concedido por Deus através de seus representantes, os clérigos. Era função dos reis defender a Igreja mediante o uso da força física e da violência. Em troca, seu poder era sacralizado pela unção nas cerimônias de coroação, objetivando a submissão não apenas dos súditos ao novo rei, mas também a do rei à Igreja (LE GOFF, 1984, v. II, p. 27-28). Desse modo, era através da unção que o rei se legitimava como representante de Deus e principal instrumento do esquema divino para a ordenação do mundo (WARREN, 1977, p. 241- 242), tornando-se, no dizer de Jacques Le Goff, “a imagem de Deus: rex imago Dei (2006, v. II, p. 396). Voltemos aos versos iniciais do Salmo 93, onde vemos a ênfase concedida ao vestuário como componente de glorificação do poder real divino: Iahweh está “vestido de majestade”, “está vestido, envolto em poder”. Ora, se através da unção o rei se tornava representante de Deus e de sua imagem, não é de estranhar que, também para ele, as vestes de coroação fossem um símbolo de seu poder e de sua majestade. Com isso em mente, objetivamos, neste trabalho, introduzir os textos de coroação como fontes para o estudo das relações entre representações da realeza e vestuário na Inglaterra medieval. Para tanto, tomamos como ponto de partida o significado da realeza

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Page 1: OS TEXTOS DE COROAÇÃO COMO FONTES PARA O ESTUDO …

OS TEXTOS DE COROAÇÃO COMO FONTES PARA O ESTUDO DAS

RELAÇÕES ENTRE REPRESENTAÇÕES RÉGIAS E VESTUÁRIO

NA INGLATERRA MEDIEVAL

Maria de Nazareth Corrêa Accioli Lobato

UFRJ

[email protected]

Na Idade Média, teólogos e juristas acreditavam que a realeza era exercida por

Deus, detentor de um poder perfeito, sem começo, sem fim e sem limites. Todo poder

dele emanava e a ele estava submetido (BEAUNE, 1997, p. 85), uma supremacia cuja

imagem se encontra descrita, com bastante propriedade, nos dois versículos iniciais do

Salmo 93: “Iahweh é rei, vestido de majestade,/ Iahweh está vestido, envolto em poder./

Sim, o mundo está firme, jamais tremerá./ Teu trono está firme desde a origem / e desde

sempre tu existes.” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002, p. 962). Em consequência, o

status político dos reis terrestres se devia unicamente ao privilégio a eles concedido por

Deus através de seus representantes, os clérigos. Era função dos reis defender a Igreja

mediante o uso da força física e da violência. Em troca, seu poder era sacralizado pela

unção nas cerimônias de coroação, objetivando a submissão não apenas dos súditos ao

novo rei, mas também a do rei à Igreja (LE GOFF, 1984, v. II, p. 27-28). Desse modo,

era através da unção que o rei se legitimava como representante de Deus e principal

instrumento do esquema divino para a ordenação do mundo (WARREN, 1977, p. 241-

242), tornando-se, no dizer de Jacques Le Goff, “a imagem de Deus: rex imago Dei”

(2006, v. II, p. 396).

Voltemos aos versos iniciais do Salmo 93, onde vemos a ênfase concedida ao

vestuário como componente de glorificação do poder real divino: Iahweh está “vestido

de majestade”, “está vestido, envolto em poder”. Ora, se através da unção o rei se

tornava representante de Deus e de sua imagem, não é de estranhar que, também para

ele, as vestes de coroação fossem um símbolo de seu poder e de sua majestade. Com

isso em mente, objetivamos, neste trabalho, introduzir os textos de coroação como

fontes para o estudo das relações entre representações da realeza e vestuário na

Inglaterra medieval. Para tanto, tomamos como ponto de partida o significado da realeza

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e das cerimônias de coroação no reino inglês, após o que procedemos à identificação e

descrição das fontes, seguidas de uma comparação entre peças de roupas, tecidos, cores

e adornos em cinco textos representativos da trajetória do vestuário régio entre os

séculos XII e XV, de sua inserção no contexto histórico e de uma avaliação do papel

ocupado pelas indumentárias na construção de representações do poder monárquico. Por

fim, tecemos algumas considerações acerca das possibilidades quanto ao uso dos textos

de coroação como fontes para o estudo proposto.

Realeza e rituais de coroação na Inglaterra: uma prática ancestral

A realeza é a mais antiga instituição política, cuja origem se perde na

Antiguidade mais remota. Ela sucedeu à família, ultrapassou os laços de sangue e se

elevou acima da autoridade dos pais sobre os filhos. Essa passagem da família para o

grupo configurou uma relação totalmente nova, cuja sobrevivência dependeu de três

fatores: escolha divina; colaboração providencial entre um rei e seus súditos; e união

eficaz entre determinada descendência familiar e um povo (BERCÉ, 1997, p. 7). O rei,

portanto, era visto como um mediador entre Deus e seu povo, e, por esse motivo,

detentor de um caráter sagrado, a ele conferido pelos sacerdotes através da unção com

óleo, um costume mencionado já no Antigo Testamento, cujos relatos sobre a unção dos

reis de Israel viriam a servir de modelo quando da adoção dessa prática nos reinos

medievais do Ocidente a partir do século VII (WOOLEY, 1915, p. 1-3).

Como todo rito ancestral e calcado numa tradição, as cerimônias medievais de

coroação obedeciam a um roteiro pré-determinado pelo poder eclesiástico. No caso

específico da Inglaterra, as mais antigas descrições sobrevivem em três Ordines

produzidos entre os séculos IX e XII, os quais, no início do século XIV, foram reunidos

num único documento, o Liber Regalis, texto latino que passou a estabelecer a ordem

dos rituais e dos procedimentos a serem observados nas cerimônias (LEGG, 1901, p.

xviii-xix; WILKINSON, 2011, p. 10).

Na Inglaterra medieval, as cerimônias de coroação eram solenidades de

profundo significado político e simbólico, quando o novo rei, ungido e coroado pelo

poder eclesiástico, se tornava Rex Dei Gratia, rei pela graça de Deus. No plano coletivo,

eram grandes acontecimentos na história do reino, posto que caracterizados pelo que os

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britânicos chamam de pageantry – pompa, ostentação –, e que, atualmente, costumamos

denominar de teatro do poder, numa encenação cujo roteiro seguia as regras e rituais

estabelecidos nos Ordines e, posteriormente, no Liber Regalis, a saber: o cortejo; o

reconhecimento; o juramento; a unção; a investidura; a homenagem; a eucaristia; e o

cortejo final. Era um evento que mobilizava uma ampla variedade de grupos sociais,

desde clérigos e nobres que participavam da solenidade, até o restante da população

que, impedida de entrar na igreja, se enfileirava ao longo das estreitas ruas londrinas

para assistir ao cortejo que, na véspera do evento, conduzia o novo rei, em “trajes

nobres e apropriados” e com a “cabeça descoberta” da Torre de Londres ao palácio real,

situado em Westminster (FORMA et MODUS, 1901, p. 182), e, no dia da coroação, do

dito palácio até a Abadia de Westminster, local da cerimônia (FORMA et MODUS,

1901, p.183). Portanto, ainda que fugaz, certamente eram momentos de contato visual

direto dos súditos com a singular imagem de seu soberano, que, como tal, personificava

a muito arcaica instituição da realeza.

Ao final da cerimônia, além das principais insígnias – a coroa, o cetro e o orbe –,

o soberano também ostentava outro significativo símbolo de seu poder temporal, o

vestuário, materialização da superioridade e da singularidade de sua condição social e

política. Sob essa perspectiva, é correto afirmar que a imagem do rei era portadora de

uma linguagem visual que comunicava o seu lugar no mundo e transmitia uma ideia de

realeza, com todo o aparato e simbolismo a ela inerentes, uma afirmação à qual

voltaremos mais adiante.

Indumentárias régias na Inglaterra medieval: algumas fontes para seu estudo

Muito embora a maioria dos trajes régios medievais não tenha sobrevivido, eles

nos têm sido dados a conhecer, principalmente, através de fontes imagéticas diversas,

tais como iluminuras em manuscritos, selos, efígies tumulares, bordados, tapeçarias,

vitrais e retratos. Já no concernente às fontes escritas, somos da opinião de que os textos

relativos às cerimônias de sagração e aos inventários são os que fornecem dados bem

mais precisos acerca do vestuário régio, tais como a identificação e descrição de peças

de roupa, tecidos, cores e adornos. Parte dessa documentação se encontra nos English

Coronation Records, coletânea publicada em 1901, quando da ascensão de Eduardo

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VII, a qual abrange desde o mais antigo relato sobre a unção de um rei, ocorrida no

século VII, até a coroação da rainha Vitória, em 1838.

Na avaliação dos documentos referentes ao período medieval presentes na

coletânea, notamos que foi só a partir do século XII que as roupas do novo rei passaram

a ser mencionadas, se tornando, a partir de então, parte integrante e importante dos

rituais de coroação, motivo pelo qual, dentre os documentos produzidos entre os séculos

XII e XV, comparamos cinco textos a nosso ver representativos da importância do

vestuário nas representações da realeza: Coronation of Richard I; Regalia of Henry III;

Regalia in 1356; Forma et Modus; e Coronation of Richard III.

Todos os textos são precedidos de uma breve explanação de seu editor, Leopold

George Wickham Legg. Coronation of Richard I foi escrito pelo cronista Roger of

Hoveden (m. 1201) e vem a ser o mais antigo relato detalhado da coroação de um

soberano. O costume de carregar as vestimentas no cortejo se manteve até a época de

Eduardo II (1307-1327), após o que as vestes passaram a ser depositadas no altar da

igreja (LEGG, 1901, p. 46). Regalia of Henry III, é o mais antigo inventário das

insígnias régias. Provavelmente elaborado nos anos iniciais do reinado de Henrique III

(1216-1272), por volta de 1121-1222, nele encontram-se listados todos os itens

pertencentes ao soberano, e que Eustáquio de Faucunberg, tesoureiro e camareiro real,

recebeu de Pedro de Roches, bispo de Winchester, após a festa de St. Dunstan, em

Westminster (LEGG, 1901, p. 54). O terceiro texto, Inventory of Regalia in 1356,

concerne às insígnias de Eduardo III (1327-1377) e foi elaborado em 28 de novembro

de 1356 por Guilherme de Edington, bispo de Winchester e, posteriormente, Tesoureiro

real (LEGG, 1901, p. 79). O quarto texto, produzido por volta de meados do século XV,

e geralmente conhecido como Forma et Modus, é uma versão resumida do Liber

Regalis e descreve, em parágrafos, as instruções a serem observadas ao longo de toda a

cerimônia de coroação (LEGG, 1901, p. 172). O último relato, Coronation of Richard

III, se refere ao soberano cujo brevíssimo reinado (1483-1485) encerrou o período

medieval inglês.

Por fim, é interessante observar que os idiomas usados expressam as variações

linguísticas existentes no reino ao longo do recorte proposto. Coronation of Richard I,

Regalia of Henry III e Forma et Modus estão em latim, ao passo que Inventory of

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Regalia in 1356 está em francês – língua da corte inglesa até o início do século XV –,

todas elas acompanhadas de uma tradução para o inglês moderno. Já Coronation of

Richard III está redigida somente no inglês médio do século XV.

Vestimentas régias: comparando fontes

Num sentido amplo, a expressão “vestimentas régias” poderia denotar todas as

indumentárias usadas pelos reis, independentemente da ocasião. Todavia, no que diz

respeito aos rituais de coroação no medievo inglês, tal expressão portava um significado

bem mais restrito, pois nem todas as roupas usadas pelo novo rei em sua coroação eram

“uestimentis Regalibus” (CORONATION OF RICHARD I, 1901, p. 49) ou “regalibus

indumentis” (FORMA ET MODUS, 1901, p. 185). Isso fica bastante claro no trecho

relativo à unção de Ricardo I, quando o rei foi despido de suas roupas, à exceção das

calças e da camisa, a qual foi rasgada junto aos ombros para receber o óleo consagrado.

Quanto às demais roupas usadas pelo soberano antes desse ritual, não é possível saber,

pois não são identificadas nem descritas. À unção seguiu-se o ritual da investidura,

ocasião na qual Ricardo I recebeu as insígnias de seu poder temporal, a saber, a espada

do reino, com a qual iria defender a Igreja de seus malfeitores, as esporas de ouro, a

coroa, o cetro, o bastão e as “vestes reais”, primeiro a túnica, depois a dalmática e,

finalmente, o manto (CORONATION OF RICHARD I, 1901, p. 51-52). Três peças

cujo status de indumentárias régias foi mantido nos séculos posteriores, como pode ser

comprovado pelo relato da Forma et Modus, ainda que nesse documento a dalmática

tenha assumido a denominação de colobium sindonis (1901, p. 185), ou colóbio, um

traje eclesiástico comprido, sem mangas ou com mangas curtas até os cotovelos, e que

também era parte integrante do vestuário de coroação dos reis da Inglaterra

(PLANCHÉ, 1876, p. 130). Desse modo, é possível inferir que a túnica, o colobium

sindonis “talhado como uma dalmática” (FORMA ET MODUS, 1901, p. 185) e o

manto eram reconhecidos como “regalibus indumentis” porque, juntamente com os

demais símbolos do poder, identificavam o rei como tal. Comparemos, pois, a descrição

dessas vestes e de seus tecidos, cores e adornos.

Primeiramente, as vestimentas. A túnica é uma peça de roupa muito antiga, já

usada por egípcios, gregos e romanos (PLANCHÉ, 1876, p. 509; FAIRHOLT, 1846, p.

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613). Na definição de Newman, a túnica é semelhante a uma camisa ou vestido, possui

corte reto, abertura para a cabeça, sem mangas ou com mangas compridas, podendo ser

usada sozinha ou sobre outra peça de roupa (2011, p. 188). Uma definição

contemporânea que bem pode ser aplicada à túnica régia medieval, o item mais presente

nos textos de coroação por nós analisados. À túnica se sobrepunha a dalmática, assim

denominada por ser originária da antiga província romana da Dalmácia. Era uma veste

comprida e larga, a princípio usada pelos romanos e posteriormente adotada pelo clero

medieval católico e também pela realeza, para uso tanto em sua coroação quanto nas

missas solenes (PLANCHÉ, 1876, p. 167; NEWMAN, 2011, p. 65). Enquanto

vestimenta régia, a dalmática é assim denominada nos textos do século XII

(CORONATION OF RICHARD I, 1901, p. 52) e do século XIII (REGALIA OF

HENRY III, 1901, p. 55-56), um traje que, dois séculos mais tarde, já havia sido

substituído pelo colobium sindonis (FORMA ET MODUS, 1901, p. 185). Finalmente, o

manto, a nosso ver o mais conhecido entre os trajes régios, e definido por Newman

como “Roupa folgada e sem mangas que se prende ao pescoço ou mais raramente na

frente do corpo e pende a partir dos ombros” (2011, p. 120), o qual, de acordo com a

Forma et Modus, deveria obedecer ao feitio quadrado (1901, p. 185).

Passemos, agora, aos tecidos. Na Idade Média as fibras têxteis mais usadas eram

a lã e a seda, de origem animal, e o linho e o cânhamo, de origem vegetal (PEZZOLO,

2013, p. 33). No entanto, a grande maioria das “vestes régias” era confeccionada com a

mais nobre dentre elas, a seda. De origem chinesa e milenar, a prática da sericultura foi

mantida em segredo até o século VI, quando, reza a lenda, dois monges

contrabandearam para Constantinopla centenas de ovos do bicho-da-seda, juntamente

com as sementes de amoreira necessárias para o cultivo das folhas que serviam de

alimento para as larvas. A partir de então esse luxuoso tecido passou a ser produzido

também no Império Bizantino, desse modo quebrando o monopólio oriental da

produção e do comércio da seda (NEWMAN, 2011, p. 169; LAVER, 1989, p. 47-48;

COSGRAVE, 2011, p. 89; FAIRHOLT, 1846, p. 598).

Muito embora o autor do relato da coroação de Ricardo I tenha o cuidado de

identificar as vestes régias, é apenas nas fontes posteriores que os tecidos das

indumentárias – feitos em fibras de seda ou, em menor escala, de linho –, passam a ser

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mencionados. No inventário relativo aos ornamentos de Henrique III, uma túnica, duas

dalmáticas e dois mantos são confeccionados em samit, isto é, samito (REGALIA OF

HENRY III, 1901, p. 55-56), mesmo tecido das duas túnicas e do manto trajados por

Eduardo III, no século seguinte, em sua coroação (REGALIA IN 1356, 1901, p. 79-80).

O samito das vestes régias de ambos os soberanos costuma ser definido como

uma seda rica, entrelaçada ou bordada com ouro (FAIRHOLT, 1846, p. 594;

HOUSTON, 2019, p. 225). Desse modo, é possível deduzir que também era de samito

o manto quadrado “tecido com águias douradas”, ao qual se refere a Forma et Modus

(1901, p. 185). Igualmente de seda era o velvett, o veludo com o qual foram

confeccionados os trajes de coroação de Ricardo III (CORONATION OF RICHARD

III, 1901, p. 196). Tecido de seda formado por uma felpa suave num dos lados

(FAIRHOLT, 1846, p. 614), o veludo estava associado a pessoas de nível social elevado

(PLANCHÉ, 1876, p. 513).

Quanto ao linho, certamente era o tecido do colobium sindonis. Muito embora a

Forma et Modus não especifique o material com o qual essa veste régia deveria ser

confeccionada, tal certeza se respalda nas definições de Wilkinson, para quem o

colobium sindonis é uma peça de roupa que significa, literalmente, “pequena veste de

linho” (2011, p. 45), e de Planché, segundo a qual “sindon” é uma palavra de origem

hebraica que denota um tecido de linho puro (1876, p. 463).

Outro tecido mencionado é o diaper, usado numa segunda túnica de Henrique III

(REGALIA OF HENRY III, 1901, p. 56). Ao contrário do samit, que possui um

equivalente em português, o uso medieval do termo inglês diaper não possui tradução

precisa, motivo pelo qual preservamos sua grafia estrangeira. Esclarecemos, contudo,

que depois do século XV, o termo diaper passou a ser usado para denotar algodão ou

linho entremeado com desenhos de pequenos diamantes. Todavia, pelo fato de serem as

fraldas dos bebês feitas, originalmente, de retalhos desse tecido, a partir do século XVI

o vocábulo passou a denotar “fralda”, significado que se mantém até hoje na língua

inglesa (HORNBY, 2005). Voltando ao diaper medieval, tratava-se de um tecido que

costuma ser descrito como uma espécie de linho fino ornamentado, originário de Ypres

– daí d’ipres, diaper, isto é, de Ypres –, cidade do condado de Flandres famosa pelos

seus artigos de tecelagem. O termo se generalizou e passou a ser adotado para nomear

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quaisquer tecidos que seguissem esse tipo de padrão ornamental, independentemente do

local onde fossem fabricados (FAIRHOLT, 1846, p. 492; PLANCHÉ, 1876, p. 169-

170). No entanto, cabe ressaltar que, ao contrário da seda ou do linho, o diaper não era

uma fibra têxtil, era tão somente um padrão de tecelagem.

Quanto às cores, elas também estão ausentes do relato da coroação de Ricardo I.

É somente a partir do século XIII que elas passam a ser mencionadas. Dentre elas, o

vermelho reina quase soberano entre as regalibus indumentis, e está presente em todas

as vestes de samito de Henrique III e de Eduardo III. No caso de Henrique III, o samito

na cor vermelha – “Rubeo Samit” – não se restringe à túnica, à dalmática e ao manto,

sendo encontrado também em sandálias, em meias e até mesmo nas bainhas de duas

espadas. Quanto aos itens de Eduardo III, além das vestes régias, o “Samyt rouge” é o

material de uma estola, de coturnos e de uma capa, bem como da bainha de uma de suas

espadas. Todavia, é possível deduzir que o predomínio do vermelho não mais existia no

século XV, quando da coroação de Ricardo III, cujos trajes de veludo eram da cor roxa,

“Purple Velvett” (CORONATION OF RICHARD III, 1901, p. 196). Já o branco é a

única cor que rompe o monopólio do vermelho nas indumentárias régias dos séculos

XIII e XIV: branco é a cor do diaper – “Diaspre blance” – da túnica de Henrique

(REGALIA OF HENRY III, 1901, p. 55-56).

Finalmente, chegamos aos adornos, itens indispensáveis para embelezar uma

roupa, os quais, nas indumentárias régias, assumiram a forma de pedras preciosas,

broches e debruns dourados. Nas “vestes régias” de Henrique III, pedras preciosas

debruavam a túnica, a dalmática e o manto; e dois broches, um com safira e o outro com

pérola, adornavam a dalmática e o manto (REGALIA OF HENRY III, 1901, p. 55-56).

Os broches estão ausentes entre os adornos das indumentárias de Eduardo III. Seu

manto, todavia, é ornamentado com esmeraldas e pérolas, afixadas sobre debruns

dourados (REGALIA IN 1356, 1901, p. 79-80).

Indumentárias de coroação no contexto histórico

Os textos de coroação analisados, produzidos entre os séculos XII e XV, se

inserem num cenário europeu que, em linhas muito gerais e esquemáticas, foi marcado,

no plano econômico, por uma fase de considerável expansão agrícola, comercial, urbana

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e monetária (LE GOFF, v. I, 1983, p 87-112), seguida por uma etapa de retração; no

plano social, pela passagem de uma sociedade estática, organizada em ordens, para uma

sociedade mais flexível, organizada segundo os estados socioprofissionais surgidos em

decorrência do crescimento das cidades e das atividades a elas vinculadas (LE GOFF, v.

II, 1984, p. 9-17); e no plano político, pela gradual tentativa de centralização do poder

monárquico (LE GOFF, v. I, 1983, p. 133-139).

Isso equivale a dizer que as rotas comerciais se expandiram, e com elas o

comércio de longa distância, responsável pela aquisição dos artigos de luxo

provenientes, inclusive, do Oriente mais remoto. Também equivale a dizer que as

cidades atraíram um número cada vez maior de mercadores e de artesãos especializados,

que se afirmavam como um novo grupo social cada vez mais distanciado dos

trabalhadores rurais (BATISTA NETO,1989, p. 93-112). Significa, ainda, que a

realeza, no intuito de fortalecer seu poder face aos senhores locais e ao clero, não ficou

imune às possibilidades propiciadas pela conjuntura socioeconômica da época, na

medida em que o exame dos textos de coroação aponta para a crescente importância do

vestuário na construção de uma imagem do poder monárquico como símbolo de

distinção, dignidade e superioridade social e política.

De fato, na comparação entre os componentes das indumentárias, observados em

sua trajetória ao longo do recorte cronológico proposto, o primeiro aspecto que chama a

atenção é a ausência de qualquer menção às indumentárias nos textos anteriores ao

século XII. É somente a partir desse momento que encontramos referências, ainda que

tímidas, aos trajes usados pelo novo rei. Quanto aos tecidos, são eles os melhores

indicadores da crescente importância do luxo nas representações do poder monárquico.

Por exemplo, nos inventários dos séculos XIII e XIV, relativos aos reinados de

Henrique III e Eduardo III, o suntuoso samito vermelho prevalece em quase todos os

itens referidos nos dois textos em questão. O mesmo pode ser afirmado quanto aos

adornos, expressões da riqueza e da superioridade real em forma de ouro e pedras

preciosas. Mais adiante, já no final do século XV, o veludo roxo foi o tecido escolhido

por Ricardo III para seus trajes de coroação. Muito embora a fonte não identifique as

peças que compunham as roupas desse soberano, não sendo possível, portanto, saber se

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tratarem das “vestes régias”, a aparição do veludo na coroação de Ricardo III é

indicativa da adoção de um tecido associado à prosperidade e ao refinamento.

Portanto, é possível afirmar que a inclusão das indumentárias régias nos relatos

de coroação a partir do século XII expressa a crescente importância atribuída ao

vestuário na construção de uma imagem do poder monárquico caracterizada pelo

refinamento e pela suntuosidade. Características essas que, articuladas ao contexto

histórico acima referido, também nos autorizam a afirmar que tal imagem é um produto

do desenvolvimento socioeconômico dos séculos XII e XIII que não foi abalada pela

crise dos séculos XIV e XV, a crer no relato sobre os preparativos para a coroação do

sucessor de Ricardo III, o rei Henrique VII – cuja ascensão ao trono, em 1485, é

considerada como o fim da era medieval na Inglaterra – e no qual a presença de roupas

confeccionadas em tecidos de seda entremeados com fios de ouro (“clothe of golde”),

ou em veludo roxo adornado com peles de arminho (“purple veluet furred wt Ermyns”)

constituem alguns exemplos do luxo e do requinte exibidos pelo novo rei a caminho de

sua coroação (LITTLE DEVICE FOR THE CORONATION OF HENRY VII, 1901, p.

222).

Desse modo, entendemos que a expansão do comércio de artigos de luxo e a

crescente especialização e variedade de ofícios ligados ao vestuário, tais como tecelões,

cardadores, alfaiates, negociantes de sedas e tecidos luxuosos, e à produção de ricos

adornos, como os ourives, em muito contribuiu para a construção e consolidação de

uma imagem da realeza à altura do que se esperava de um rex imago Dei, pois, a

exemplo da imagem divina expressa pelo salmista, também estava “vestido de

majestade” e “envolto em poder”. Uma imagem que, a despeito de eventuais

adaptações, atravessou os séculos e constitui uma dentre as sobrevivências do medievo

nas cerimônias de coroação na Inglaterra contemporânea (LOBATO, 2019, p. 299-305).

Vestuário régio nos textos de coroação: possibilidades de um objeto

Diante do exposto, entendemos que a importância do vestuário na construção de

imagens do poder monárquico expressa questões que são de cunho econômico, social,

político e simbólico, as quais, na maior parte dos casos, estão estreitamente ligadas

entre si, motivo pelo qual sugerimos o estudo das relações entre representações da

realeza e indumentárias à luz da história do vestuário.

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Trata-se, contudo, de uma história do vestuário renovada, calcada no caminho

inaugurado em 1957 por Roland Barthes como um contraponto às histórias que, até

então, se limitavam à mera descrição cronológica das indumentárias em seus respectivos

estilos de época (CALANCA, 2011, p. 19). Na concepção de Barthes, o foco do

historiador deve residir na percepção de que toda cobertura corporal é um valor, pois

tende a se inserir num sistema formal organizado, normativo e consagrado pela

sociedade. Desse modo, a condição prévia de toda relação entre vestuário e história

consiste em descrever o vestuário segundo o nível social, institucional – e não em

termos de formas estéticas ou motivações psicológicas –, e em explicá-lo de acordo com

as regras de disposição ou uso, de relações e de valores (2005, p. 265-266). Tal caminho

foi retomado por Fernand Braudel, para quem a história da indumentária coloca

problemas relacionados às matérias-primas, aos processos de fabricação, aos custos, às

imobilidades culturais, às modas, e às hierarquias e oposições sociais (1979, t. 1, p.

271). Afirmava Braudel, ainda, ser a moda o testemunho profundo de uma sociedade, de

uma economia e de uma dada civilização (1979, t. 1, p. 281). A partir de então a

indumentária, enquanto objeto de pesquisa, passou a ser vista como um fenômeno

completo, portador de um discurso histórico, econômico, etnológico e tecnológico, de

uma linguagem através da qual os indivíduos expressam sua posição no mundo e sua

relação com ele (CALANCA, 2011, p. 16). Em consequência, uma pesquisa dessa

natureza, assentada sobre as “linhas mestras” criadas por Barthes e Braudel, bem pode

ser identificada como uma “nova história” do costume e da moda (CALANCA, 2011, p.

26)

Portanto, concordando com essa abordagem, consideramos que a roupa é

portadora de uma linguagem visual capaz de comunicar não apenas uma época, mas

também uma posição na sociedade, um lugar no mundo, uma ideia; e consideramos,

ainda, que o vestuário permite vislumbrar múltiplos cenários e grupos sociais

envolvidos em sua produção, circulação e consumo num dado momento histórico.

Desse modo, é possível notar que a nova história do vestuário dialoga com vários

campos de observação, tais como a história cultural (CHARTIER, 1990), a história da

cultura material (NACIF, 2007), e a nova história política, esta com sua ênfase nos

aspectos simbólicos e imaginários do poder (LE GOFF, 1995). A história social do

Page 12: OS TEXTOS DE COROAÇÃO COMO FONTES PARA O ESTUDO …

vestuário apresenta-se, portanto, como um enfoque bastante adequado às fontes em

questão.

Considerações finais

Neste breve trabalho nos limitamos à identificação e classificação dos

componentes dos trajes de coroação; comparamos tais componentes para verificar

frequências e variáveis, ou seja, o que muda, o que não muda, e o que muda naquilo que

não muda nas indumentárias de coroação ao longo dos séculos XII ao XV; e

identificamos o lugar ocupado pelas vestes régias na construção e afirmação de uma

imagem do poder monárquico compatível com o papel a ser desempenhado pelo rei da

Inglaterra enquanto rex imago Dei.

Todavia, um estudo das relações entre representações da realeza e vestuário nos

textos de coroação não deve se restringir à identificação e comparação dos componentes

das vestes régias, na medida em que a abordagem do tema à luz da nova história do

vestuário permite-nos vislumbrar inúmeros aspectos invisíveis a olho nu, abrindo, desse

modo, um leque de possibilidades de investigação, tais como: 1) Averiguar em que

medida a monarquia inglesa, enquanto símbolo máximo do poder temporal, se

beneficiou das condições materiais existentes no Ocidente europeu ao longo do recorte

cronológico proposto; 2) Avaliar as relações entre aspectos materiais e imateriais, isto é,

o papel dos elementos materiais na construção de significados simbólicos; 3) Articular

esses componentes com as tendências do vestuário inglês em geral; 4) Verificar a

qualidade do vestuário na Inglaterra medieval; 5) Descortinar cenários, grupos sociais,

formas de organização e demais aspectos envolvidos nas indumentárias régias,

considerados de acordo com o circuito produção-circulação-consumo; dentre outros.

Portanto, a despeito de sua antiguidade, os textos relativos às cerimônias de

coroação na Inglaterra medieval podem ser considerados como fontes fidedignas para o

estudo das relações entre representações da realeza e vestuário à luz de novas

abordagens propostas pela História.

*****

Page 13: OS TEXTOS DE COROAÇÃO COMO FONTES PARA O ESTUDO …

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