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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
OS SENTIDOS ATRIBUÍDOS PELOS PAIS AO BRINQUEDO NO
DESENVOLVIMENTO E NA PSICOTERAPIA INFANTIL.
CINTIA DAL PIVA
Itajaí, (SC) 2008
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CINTIA DAL PIVA
OS SENTIDOS ATRIBUÍDOS PELOS PAIS AO BRINQUEDO NO
DESENVOLVIMENTO E NA PSICOTERAPIA INFANTIL.
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel
em Psicologia da Universidade do Vale do
Itajaí.
Orientador: Profª Josiane da Silva Delvan.
Itajaí SC, 2008
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Dedico este trabalho aos meus amados pais, que mesmo à distância me apoiaram e me incentivaram para chegar até aqui, e especialmente a minha orientadora, Josiane Delvan, pela forma carinhosa e pela total dedicação com que conduziu este trabalho.
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SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS .................................................................................................4
RESUMO.....................................................................................................................5
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................6
2 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................8
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS...........................................................................18
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................................23
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................36
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................39
7 APÊNDICES...........................................................................................................41
7.1 Questionário ........................................................................................................41
8 ANEXO....................................................................................................................42
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 Identificação dos Participantes da Pesquisa................................ 19
QUADRO 02 Categorias de análise...................................................................... 23
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OS SENTIDOS ATRIBUÍDOS PELOS PAIS AO BRINQUEDO NO
DESENVOLVIMENTO E NA PSICOTERAPIA INFANTIL.
RESUMO
ORIENTADOR(A): Profª Josiane da Silva Delvan. DEFESA: Junho de 2008.
Este trabalho buscou investigar junto aos pais ou responsáveis de crianças atendidas na Clínica Escola de Psicologia da Universidade do Valo do Itajaí – UNIVALI, os sentidos atribuídos por estes, sobre o brinquedo no processo psicoterapêutico. Este estudo teve como objetivos específicos resgatar com os pais as brincadeiras de sua infância, e a contribuição destas para o seu desenvolvimento, bem como, averiguar com os pais a função do brinquedo tanto para o desenvolvimento como para a psicoterapia de seu filho. Foi investigado também se para os pais existe algum brinquedo que dificulta o desenvolvimento dos filhos. Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo, na qual participaram 08 (oito) pais ou responsáveis de crianças que estão em psicoterapia.O instrumento utilizado foi entrevista semi-estruturada. Os dados coletados foram organizados e interpretados de acordo com a análise de conteúdo, a partir da qual foram estabelecidas quatro categorias de análise: Brinquedos e brincadeiras de ontem e hoje; o desenvolvimento de ontem e hoje; os brinquedos e as dificuldades no desenvolvimento e o brinquedo no processo terapêutico. Os resultados obtidos com esta pesquisa apontam a contribuição do brinquedo no desenvolvimento das crianças, tanto de hoje como de ontem e traz também esclarecimentos acerca de sua utilização enquanto mediador na psicoterapia de crianças, indicando-o como elemento fundamental para o desenvolvimento humano. Palavras-chave: brinquedo; sentidos; psicoterapia. Sub-Área de concentração (CNPq) Membros da Banca Marina Menezes Professor convidado
Márcia aparecida Miranda de Oliveira Professor convidado
Josiane da Silva Delvan Professor Orientador
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1 INTRODUÇÃO
O ser humano desenvolve-se agindo no ambiente do qual faz parte, porém,
neste processo, há conflitos próprios de cada fase, cuja origem provém de
necessidades internas e exigências ambientais. Para expressar seu mundo interno e
responder às pressões do meio, a criança usa o brinquedo como meio de
comunicação, pois ele a auxilia a expressar suas fantasias e sentimentos referentes
às dificuldades por ela vivenciadas e elaborá-las.
O brinquedo ainda exerce um papel fundamental na psicoterapia, pois
segundo a perspectiva psicanalítica o brinquedo permite a criança dominar suas
angústias, frustrações além de servir como forma de comunicação.
Geralmente, são os pais que levam seus filhos para a psicoterapia e a sua
relação com o terapeuta é uma questão muito discutida, em função de algumas
abordagens optarem por incluir os mesmos no processo e outras preferirem o
atendimento de maneira individual com a criança. Os pais participam da terapia
fornecendo dados sobre a história da criança, e sobre a conflitiva pela qual ela está
passando, além do apoio durante o processo terapêutico.
Ao procurarem uma psicoterapia para seus filhos, os pais passam a
estabelecer uma relação com o terapeuta por permitirem a entrada de uma outra
pessoa na relação com a criança.
Sabendo da relevância do brinquedo para o sucesso psicoterapêutico, esta
pesquisa tem como objetivo, identificar se os pais, que são os responsáveis pela
criança, têm conhecimento da função do brinquedo na psicoterapia de seu filho.
Para elaboração deste projeto, foi realizada uma revisão de literatura presente
nas bases de dados “Scielo, Google e Indexpsi” objetivando identificar trabalhos com
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temática semelhante. Foram encontrados oito trabalhos referentes a psicoterapia
infantil e a iniciação da psicanálise com crianças, mas não foi encontrado nenhum
estudo objetivando compreender os sentidos atribuídos pelos pais sobre a função do
brinquedo na psicoterapia de crianças.
Desta forma, o referencial teórico adotado neste estudo foi o da psicanálise,
que teve como geral analisar o sentido do brinquedo atribuído pelos pais de crianças
que estão em atendimento psicoterapêutico na Cínica Escola de Psicologia da
UNIVALI - Itajaí. Para responder a esse objetivo, buscou-se resgatar com os pais as
brincadeiras da sua infância, e a importância destas para seu desenvolvimento e
para o desenvolvimento de seus filhos, bem como, identificar os sentidos atribuídos
pelos pais sobre o papel do brinquedo no processo psicoterápico de seus filhos.
Pretende-se com os resultados desta pesquisa refletir sobre a função do
brinquedo e da brincadeira no desenvolvimento das pessoas, bem como, para
melhor compreender sua relevância como mediador no processo terapêutico.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Histórico do brinquedo
O brinquedo exerce um papel fundamental para o desenvolvimento da
criança, para isto, faz-se necessário compreendermos a evolução da infância e do
brinquedo na sociedade.
De acordo com Ariès (1981), na sociedade medieval, assim que as crianças
estavam aptas para viver sem solicitar a mãe, já eram consideradas adultos em
miniatura, isso se refletia na maneira como eram tratados, como se vestiam, bem
como, nas ocasiões sociais, das quais participavam. As crianças dessa época eram
ensinadas muito cedo a realizar atividades, jogos e brincadeiras que faziam parte do
mundo dos adultos. O autor descreve a história de Luiz XIII que era uma criança do
século XVII, e faz uma comparação da noção que se tinha da infância e das
brincadeiras daquela época: ao completar sete anos de idade, a criança deixava
suas bonecas, seu cavalinho, suas vestimentas infantis e a sua educação ficava a
critério dos homens, sendo então consideradas adultos em miniatura.
Outra característica daquela época, apontada por Ariès (1981), é que as
questões relacionadas ao gênero para brincadeiras, não eram tão distintas como
atualmente. Meninos e meninas brincavam de boneca, sem haver nenhum tipo de
preconceito. De acordo com o autor, a brincadeira surgiu pelo desejo das crianças
em imitar os adultos. Para isto, utilizavam objetos de cerimônias religiosas e
tradicionais, como as natalinas.
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Nestes tempos, os brinquedos eram fabricados artesanalmente. Os pais,
muitas vezes eram quem fabricavam os brinquedos para seus filhos.
Benjamim (2002), acredita que, ao imaginar um brinquedo para criança, ou
para seu filho, o adulto, através de sua própria visão, interpretava a sensibilidade
infantil, destacando ainda, que os brinquedos feitos em madeira, ossos, argila, ou
seja, os mais simples, eram os preferidos pelas crianças, mas com o passar dos
anos, os brinquedos foram se modificando e surgindo outros tipos de materiais para
sua confecção; como o vidro, metal, papel e outros. Por isso, neles são encontrados
significados que não se encontram nos brinquedos de produção industrial, salienta
OLIVEIRA (1989).
Benjamim (2002), explica que no século XVII, os brinquedos de todos os
povos descendiam da indústria doméstica. O interessante, é que as crianças
possam imaginar como seus próprios brinquedos foram feitos, e isto oferece uma
relação viva da criança com suas experiências de vida.
Com o passar do tempo, iniciou-se a fabricação industrial do brinquedo, que
passou por inúmeras mudanças, tornando-os cada vez mais atraentes. Em função
disso, mais o brinquedo se distanciava da função do brincar, perdendo a capacidade
de estabelecer um diálogo entre a criança e o seu grupo. No século XIX, os
brinquedos foram se tornando maiores, e quanto mais eram industrializados, mais
saíam do controle da família, pois os brinquedos pequenos faziam com que a mãe
permanecesse constantemente com a criança e com a conquista da mulher no
mercado de trabalho, as mães passaram a ficar por mais tempo longe de seus filhos,
e estes, então passaram a permanecer o maior tempo na companhia dos
brinquedos, que a cada dia se tornam mais sofisticados (BENJAMIM,2004).
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Oliveira (1989), utilizou-se da expressão “artificializar a brincadeira”, pois a
partir da II Guerra Mundial, o plástico começou a ser utilizado na fabricação dos
brinquedos e este, enquanto material artificial, faz com que o autor, comparasse as
relações sociais daquela época, com as que estabelecemos hoje, pois antigamente
as pessoas encontravam mais tempo para jogos e brincadeiras , enquanto que
atualmente as pessoas não encontram mais tempo para essas atividades.Portanto
este termo, “artificializar a brincadeira”, também se refere aos brinquedos atuais, que
estão mais sofisticados, quando antes, eram artesanais, mas de muita simplicidade
e criatividade. Com a industrialização, os brinquedos hoje, são fabricados dos mais
diversificados materiais, como as bonecas feitas em porcelana, vinil e plástico. Para
autores como Benjamim (2002) e Oliveira (1989), com a divisão do trabalho e a
massificação do trabalho artesanal, alguns brinquedos ficaram fora do alcance das
crianças de determinadas classes sociais, que tinham acesso àqueles brinquedos
mais populares e de pior qualidade. Com a capacidade da criança em criar e
imaginar, esse brinquedo passa a sofrer uma ação simbólica quando é atribuído a
ele, significados e funções diversas.
Oliveira (1989), afirma que atualmente os brinquedos são uma forma de
dominação social, quando as propagandas transmitidas através da mídia, tentam
seduzir as crianças e aos pais que concretizem seus desejos.
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2.1.1 O brinquedo no desenvolvimento da criança
Ao nascer, o bebê passa a conhecer um novo mundo onde deve se adaptar,
inicialmente através de suas percepções, pois é ainda incapaz de explorar o mundo,
em função de ainda não controlar seus movimentos, e não consegue localizar os
objetos, que anteriormente foram focalizados por ele. Por isso, o bebê brinca com o
seu próprio corpo, e com o corpo da mãe, favorecendo seu auto-conhecimento.
(FREUD, 1929).
A primeira atividade lúdica da criança na perspectiva psicanalítica é o brincar
de esconder, elaborando a angústia da separação. Freud percebeu, ao analisar um
garotinho de dezoito meses que para se consolar com a ausência temporária da
mãe, atirava um carretel atado a um barbante fazendo-o desaparecer. Em seguida
puxava e ele reaparecia, concluindo, que dessa maneira a criança controlava seus
medos e angústias (MELLO, 2005). Outras brincadeiras como fechar e abrir os
olhos, jogar um objeto para longe e buscá-lo, esconder objetos e reencontrá-los, faz
com que a criança acredite que a mãe pode ter saído, mas retornará, assim como os
objetos retornam. Nesta fase, os conflitos normais do desenvolvimento são o
desmame e a separação temporal da mãe.
Segundo Winnicott (1975), a criança passa por alguns estágios até chegar a
etapa mais desenvolvida do brincar. Para ele, o bebê no início de sua vida não se
imagina como um ser diferente da mãe, pois a mãe passa a maior parte do tempo
com a criança. Quando o bebê começa a ficar por um período mais longo longe da
mãe, ele necessita de um objeto para aliviar sua ansiedade, dando início ao
processo simbólico. Esse objeto é chamado de objeto transicional, que substitui o
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objeto libidinal, no caso, a mãe. Para o autor, o brinquedo é como o herdeiro dos
objetos transicionais, e há uma evolução destes para o brincar, pois, assim que a
criança já se sente segura longe da mãe, ela passa a brincar compartilhando com
outras, e daí, para as experiências culturais. Neste sentido, Winnicott (1975),
acredita que o brincar é desenvolvimentista, pois prepara a criança para o que é
sério, ajuda a definir e redefinir sua identidade auxilia as crianças nas suas relações,
propicia seu crescimento, criatividade, capacidade de comunicação e a experiência
do eu, que são aspectos fundamentais para o desenvolvimento infantil.
Para o modelo de desenvolvimento psicossexual da teoria psicanalítica, as
crianças passam a representar suas fantasias sexuais pelo brinquedo. Como afirma
Melanie Klein, há um processo de descarga de fantasias de masturbação num
impulso de brincar, e esse processo sendo repetido compulsivamente, constitui um
mecanismo na atividade lúdica (ABERASTURY, 1996). Mais tarde, essa
interpretação foi criticada por Winnicott (1975), quando este afirmou que esses
elementos da masturbação não estão presentes na hora do brincar e se caso ocorra
uma excitação física, o brincar perde sua característica. No entanto, concorda com
Klein, quando observa o brincar como forma de comunicação, onde a criança brinca
para dizer algo.
Klein (1997 apud DUARTE, 1989) afirma que as alterações que ocorrem nos
primeiros meses de vida da criança, mostram um grau de integração na percepção e
conduta e que a partir daí, a criança se dedica aos jogos experimentais, que não
servem apenas como forma de adaptação, mas também como meio de expressão
de fantasias, realizando desejos e se defendendo da angústia.
Para Aberastury (1971), as crianças vão abandonando os brinquedos e os
substituem pelas experiências amorosas da fase da adolescência. Nesse processo
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de desenvolvimento humano, as mudanças são decisivas para a vida das crianças, e
o brinquedo é um meio que a criança dispõe para sua adaptação ao meio social.
2.1.2 O brinquedo na psicoterapia com crianças: A ludoterapia
A técnica do brinquedo foi criada por Melanie Klein baseada em algumas
descobertas de Anna Freud sobre as atividades lúdicas das crianças. Em função da
incapacidade das mesmas em associar livremente as idéias, buscou-se uma técnica
que permitisse o acesso ao seu inconsciente (GLENN,1996).
Para (1997), a criança utiliza o brinquedo para se expressar e através das
interpretações feitas durante o brincar, é possível que os conteúdos que estavam
inconscientes se tornem conscientes. Explica ainda que é pelo brinquedo que as
crianças expressam suas fantasias inconscientes, seus conflitos, suas
necessidades, as defesas que utiliza e seus impulsos. Também utiliza a técnica do
brinquedo, como forma de comunicação, já que a criança transfere suas
necessidades, culpas, fantasias para outros objetos ou pessoas. Esse processo de
transferência faz com que a criança coloque no brinquedo aquilo que há impede de
falar, já que possui poucos recursos verbais para fazer a livre associação.
WIinnicott (1975) concorda com Klein (1997), que o brinquedo serve de
comunicação para criança, e afirma que o relacionamento terapêutico só pode
ocorrer se houver uma compreensão das comunicações feitas pela criança por parte
do terapeuta. Assim, tudo o que é feito e dito pela criança na sala de brinquedos, é
importante e significativo.
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O Terapeuta trabalha percebendo as projeções das crianças durante o
brincar, o que ela transfere, examina o material, e faz as interpretações para que
ocorra o processo de cura.
A psicoterapia se efetua na sobreposição de duas áreas de brincar, a do paciente e do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. Em conseqüência, onde o brincar não é possível, o trabalho efetuado pelo terapeuta é dirigido então, no sentido de trazer o paciente de um estado em que não é capaz de brincar para um estado em que o é. (WINNICOTT, 1975, p.59).
Aberastury (1992) ressalta a importância de se levar em conta a situação total
da brincadeira, pois durante o tratamento de crianças, o mesmo brinquedo pode
adquirir diferentes significados. Uma boneca, por exemplo, pode representar um
pênis, uma criança, ou até mesmo um pequeno paciente.
A ludoterapia é uma técnica psicoterápica que surgiu na década de 50, com o
trabalho de Axline (1972). Segundo a autora, é uma forma de auto-expressão da
criança, é uma maneira que a criança tem de se livrar de problemas e sentimentos.
Na ludoterapia a criança tem a liberdade de brincar como quer, e sente-se à vontade
para expressar seu mundo interno. A atividade lúdica é um recurso para a criança
superar suas angústias na medida em que reconhece seus conflitos e que estes
sejam trabalhados; também é uma forma de obter prazer.
A sala de ludoterapia permite que a criança se expresse completamente. É um
lugar seguro onde ela pode brincar do que quiser e não ser reprimida por isso.
Brincando na terapia, ela vivência situações, pois o brinquedo faz com que a criança
entre em contato com seus próprios sentimentos, reconhecendo-os, elaborando-os e
atingido sua autonomia.
Existem duas modalidades de se trabalhar com ludoterapia: ludoterapia
diretiva e não diretiva. Na primeira, o terapeuta é que orienta e interpreta a sessão, e
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na segunda é a criança quem comanda a direção do processo, é ela quem indica o
caminho.
Axline (1972) criou oito princípios básicos da ludoterapia não diretiva.
- Estabelecer o rapport;
-Aceitar a criança completamente;
-Estabelecer sentimento de permissividade;
-Reconhecimento e reflexão dos sentimentos;
-Mantendo respeito pela criança;
-A criança indica o caminho;
-A terapia não pode ser apressada;
-O valor dos limites;
A ludoterapia pode ser individual ou em grupo. No caso de problemas
emocionais, o indicado é a terapia individual, mas se a problemática da criança
consiste em ajustamento social, a terapia em grupo é recomendada, pois nesta, ela
aprenderá conviver com outras crianças a se respeitar e a respeitar a individualidade
dos outros.
2.1.3 O papel dos pais na psicoterapia de crianças
É muito importante que se trabalhe com os pais das crianças que estão em
psicoterapia, pois estes são os responsáveis pela criança e pela manutenção do
tratamento. Na maioria das vezes a criança é levada para psicoterapia pelos pais,
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pois “não é a criança que manifestamente sofre com a sua patologia, mas o pai ou a
mãe” (GLENN, 1996, p.239).
Para Glenn (1996), muitas vezes os pais se sentem culpados ou fracassados
pela patologia das crianças, sendo que suas esperanças são que seu filho fosse
perfeito e melhor do que eles, às vezes até culpando seus próprios pais pelas suas
deficiências. Os motivos mais comuns que levam os pais a buscarem a psicoterapia
são os comportamentos anti-sociais e as dificuldades escolares.
A negação da patologia faz com que os pais acreditem que seu filho ou filha
está realmente bem. A projeção faz com que os pais busquem culpados pela
problemática da criança, e a repressão faz com que aspectos muito importantes da
vida e história da criança sejam esquecidos. Nesses casos, é dever do terapeuta
esclarecer essas dúvidas aos pais, para que haja sucesso no tratamento. Para o
mesmo autor, os pais entram em contato com o terapeuta para dar informações
sobre o desenvolvimento dos filhos e manter contato, mas no decorrer do processo,
o terapeuta pode solicitá-los para buscar novas informações. Juntos, buscam o
sucesso da terapia e o bem estar da criança (GLENN,1996).
De acordo com Duarte (1989), essa relação do terapeuta com os pais das
crianças que estão em psicoterapia é muito discutida, pois várias são as abordagens
técnicas utilizadas para lidar com esse fenômeno. Algumas abordagens visam a
inclusão dos pais ou da família na psicoterapia, e outras acreditam no sucesso da
terapia individual. Para as autoras, no início da terapia são combinados encontros
com os pais, que geralmente são dois ou três no ano, enquanto que a criança deve
comparecer em duas ou três sessões por semana. O sentimento de ambivalência
está presente na relação, e é natural que isso aconteça, na entrada de outro na
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relação dos pais com a criança. Quando seria natural que o filho se desenvolvesse
somente na relação com os pais.
Na medida em que avança o processo, a relação dos pais e terapeuta se
desenvolve, e com a melhora da criança, também os pais passam a perceber que a
relação deles com o filho se fortaleceu, ocorrendo um crescimento dos pais na
compreensão do filho, da psicoterapia e deles próprios.
Klein acreditava que mantendo o mínimo de contato com os pais, evitava
interferências destes, no tratamento; para ela; a fantasia inconsciente da criança é o
principal objeto de investigação (GLENN, 1996).
Para Aberastury (1996), antes de começar com a psicoterapia, existe a
necessidade de entrevistar os pais da criança uma ou várias vezes, para obter
informações como: a história da criança; como é o dia a dia da criança e seu final de
semana; como seus aniversários são festejados, a ideologia e religião dos pais e
histórias dos pais e familiares. Mas no decorrer da terapia, os pais podem ser
solicitados se as condições de contrato não forem cumpridas, mas não deve ser
revelado aos pais, nada que acontece durante as sessões.
No processo de psicoterapia infantil, é necessário que os pais entendam, que
é um compromisso sério e a longo prazo. O terapeuta deve esclarecer que um alívio
nos sintomas, não significa que a criança pode interromper o tratamento, ou que
está curada. Devem ser trabalhados com eles, as questões relacionadas a
resistência, caso quiserem dispensar a terapia, que estes, podem ser manifestados
se houver ocorrência constante de atraso, não pagamento, lapsos, ou a não
revelação de fatos que podem ser relevantes para o tratamento (GLENN, 1996)
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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Este estudo teve como objetivo investigar os sentidos que os pais de crianças
entre 5 (cinco) e 10(dez) anos de idade, que estão em atendimento psicoterapêutico
atribuem ao brinquedo. Assim, buscou-se desenvolver uma investigação de acordo
com a abordagem qualitativa, que de acordo com Minayo (1994), corresponde a
questões muito particulares, trabalhando com um universo de significados, valores e
crenças, correspondendo a identificação e descrição aprofundada do fenômeno que
está em investigação, mas sem a intenção de generalização dos dados.
3.1 Participantes da pesquisa
Os participantes definidos como sujeitos deste estudo foram 08 (oito) pais ou
responsáveis de crianças, que estavam em atendimento psicoterapêutico.
O critério utilizado para a definição da população é que as crianças deveriam
ter idade entre cinco e dez anos, pois esta faixa-etária foi definida pelo fato da
criança utilizar mais o brinquedo de várias maneiras e se comunicar bem,
principalmente com os pais, podendo, inclusive descrever as suas atividades no
setting terapêutico. E também estar há pelo menos seis meses em atendimento
�sicoterapêutico na Clínica Escola de Psicologia da UNIVALI.
A faixa etária dos participantes varia de 33 a 70 anos de idade, sendo 05 do
sexo feminino e 03 do sexo masculino.
Para melhor compreensão, a seguir estão descritos os perfis dos
participantes, conforme princípios éticos.
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Quadro 01: Identificação dos Participantes da Pesquisa
Nome M.A J.S. M.G S.S M.T. S. G.R.C.A M.
Idade 33 37 54 59 70 55 50 40
Sexo F M F M F M F M
Escolaridade 8ª. Série Ensino
Médio
Completo
Ensino
Médio
Completo
8ª. Série 3ª. Série Ensino Médio
Completo
Ensino
Médio
Completo
8ª. Série
Ocupação
Profissional
Confeiteira Vigilante Do lar Portuário Costureira Representante
comercial
Camareira Trabalha
com
reciclagem
Grau de
Parentesco
Mãe Pai Mãe Pai Tia Pai Avó Pai
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3.2 Instrumento
O instrumento escolhido para responder aos objetivos deste estudo foi a
entrevista semi-estruturada (apêndice).
A entrevista na pesquisa qualitativa, segundo Rey (2005), tem o propósito de
converte-se em um diálogo, para que o sujeito se expresse, fornecendo dados de
seu cotidiano além de possibilitar importantes informações que não foram previstos
na elaboração do roteiro.
O instrumento foi aplicado nas dependências da Clínica Escola de Psicologia
da Universidade do Vale do Itajaí. O tempo de aplicação foi em torno de 20 (vinte)
minutos com cada um dos participantes.
3.3 Coleta dos Dados
Inicialmente entrou-se em contato com a responsável pela Clínica Escola de
Psicologia e lhe foram apresentados os objetivos da pesquisa. A partir da sua
permissão a coleta de dados foi realizada nas dependências da Clínica.
Primeiramente fez-se um levantamento da população para a pesquisa a partir de
uma análise dos prontuários dos participantes infantis atendidos na Clínica, que
totalizaram 08. A partir deste levantamento, a pesquisadora procurou contatar com
os pais ou responsáveis nos dias em que a criança recebia atendimento. As
entrevistas foram feitas com os com os mesmos, durante o horário de atendimento
psicoterapêutico da criança. Para dar início a coleta de dados, apresento-se a cada
um dos participantes individualmente, a proposta da pesquisa e o termo de
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consentimento livre e esclarecido. Após os pais estarem cientes do que se tratava
este estudo e concordarem com o mesmo, assinaram um termo de identificação e
consentimento, formalizando o compromisso.
O registro das falas se deu por meio de um gravador portátil K-7 e em seguida
realizou-se a transcrição das mesmas. Cada uma das entrevistas durou em torno de
20 (vinte minutos), após cada uma das entrevistas efetuou-se a descrição. A coleta
dos dados teve duração de aproximadamente dois meses.
A pesquisa esteve pautada nos princípios éticos de sigilo, anonimato e
respeito com os participantes.
3.4 Procedimento para análise
Os dados levantados através das entrevistas foram organizados e
compreendidos por meio de análise de conteúdo proposta por Moraes (1999). De
acordo com esta metodologia de análise, alguns procedimentos foram necessários:
a) Preparação das informações: Após a transcrição de cada uma das
entrevistas todas foram colocadas num mesmo documento para a realização da
leitura do material de acordo com os objetivos da pesquisa, codificação.
b) Unitarização: O material relido várias vezes possibilitou definir as
unidades de análise. Esse processo exigiu que elas fossem reescritas ou
reelaboradas, para serem compreendidas fora do contexto em que se encontravam.
c) Categorização: Os dados foram agrupados, considerando a parte em
comum que havia entre eles. Alguns foram classificados por semelhança ou
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analogia. A partir disto, foram definidas as categorias de análise que obedeceram a
alguns critérios: devem ser válidas, exaustivas e homogêneas.
d) Descrição: Para cada categoria, foi produzido um texto síntese,
expressando os significados presentes nas unidades de análise incluídas em cada
uma. Os significados expressos nas mensagens foram analisadas neste
procedimento.
e) Interpretação: Foi a compreensão, das falas dos entrevistados, de
acordo com as categorias buscando atender aos objetivos da pesquisa.
A seguir, são apresentadas as categorias de análise definidas a partir dos
sentidos atribuídos pelos pais, sobre a contribuição do brinquedo para o
desenvolvimento e também a sua relevância no processo terapêutico.
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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Esta seção enfoca a apresentação e a discussão dos dados coletados com os
participantes deste estudo. Estes foram organizados em quatro categorias de
análise:
Categorias de Análise Definição
Brinquedos e brincadeiras de ontem e
hoje;
Brinquedos e brincadeiras que os pais
utilizavam na sua infância e que seus
filhos utilizam hoje.
O desenvolvimento de ontem e hoje; A contribuição dos brinquedos para o
desenvolvimento dos pais e dos filhos.
Os brinquedos e as dificuldades do
desenvolvimento;
Brinquedos que dificultam o
desenvolvimento das crianças
atualmente.
O uso dos brinquedos no processo no
terapêutico.
Os sentidos que os pais atribuem ao
brinquedo no processo terapêutico.
Começaremos apresentando e discutindo os dados que se referem à primeira
categoria de análise:
1ª. Categoria: Brinquedos e brincadeiras de ontem e hoje
Nesta categoria, verificaram-se com os participantes da pesquisa quais os
brinquedos e brincadeiras que eles gostavam quando crianças. Os mais citados
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foram: esconde-esconde, pula-corda e boneca. Outras brincadeiras como: bola-de-
gude, peteca, bola, casinha, comidinha também foram citadas pelos entrevistados.
Alguns participantes relataram que em sua época não tinham tantas opções
de brinquedo como nos dias de hoje.
“Eram poucos brinquedos. A gente morava no interior, então era mais peteca
e se escondê” (J.S).
“Quase não tinha brinquedo. Há 70 anos atrás, era boneca de pano, escondê,
brinca de casinha e comidinha” (M.T).
“...e não tinha muito brinquedo na minha época” (S.S).
A fala dos sujeitos entrevistados se remete às brincadeiras de sua infância,
indicando a escassez de brinquedos. Apesar disto, as atividades se centravam na
execução das brincadeiras. Também pode-se observar em alguns relatos que os
brinquedos de antigamente eram fabricados nas suas próprias casas de maneira
artesanal, na maioria das vezes, feitos pelo próprio pai.
“Bola, carrinho de madeira que o pai fabricava” ( S ).
“O carrinho era meu pai que fazia.Bola, normalmente era de pano” (S.S).
Ariès (1981), faz algumas reflexões a cerca do histórico do brinquedo, e
aponta que a brincadeira surgiu pelo desejo das crianças em imitar os adultos. E que
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nesta época, os brinquedos eram fabricados artesanalmente. Na maioria das vezes,
eram os próprios pais quem fabricavam os brinquedos para seus filhos.
Benjamim (2002) assinala que, os brinquedos mais simples, feitos em
madeira, ossos, argila, eram os preferidos pelas crianças, mas com o passar dos
anos, os brinquedos foram se modificando, e surgindo outros tipos de materiais para
sua confecção; como o vidro, metal, papel e outros. Por isso, neles são encontrados
significados que não se encontram nos brinquedos de produção industrial, salienta
(OLIVEIRA, 1989).
Oliveira (1986) aponta para a importância do brinquedo artesanal, pois este
contribui para a formação social da criança por ser fabricado por homens e mulheres
e não por máquinas, permitindo a imaginação da criança, um meio pelo qual ela
expõe suas emoções e criações
Quanto aos brinquedos e brincadeiras que seus filhos utilizam hoje, os
participantes citaram bicicleta, vídeo-game e bola. Os entrevistados também citaram
a televisão, o carrinho, a pipa e a bola de gude.
Verificou-se através do relato de dois participantes, que estes têm o desejo
em resgatar com os filhos as brincadeiras de sua infância, apesar dos filhos não
atribuírem muita importância as brincadeiras da infância dos pais.
“As brincadeiras dela, é que ela vai pro colégio, espigo bol, bicicleta, ás vezes
amarelinha, dominó, mas são mais as de hoje, mas alguma coisa a gente ensina pra
ela: pula-corda, cabra-cega”. (M.).
“nada do que eu gostava ele gosta, ele até tem, porque o meu marido fez uns
carrinhos pra ele, mas ele nem dá bola” (G.R.C.A).
26
Com relação ao brinquedo, pode-se perceber que este passou por muitas
mudanças. Atualmente as crianças não utilizam mais os brinquedos que seus pais
utilizavam e nem atribuem muita importância para estes. Talvez isso aconteça pelo
fato dos brinquedos estarem cada vez mais atraentes por suas características
tecnológicas.
Alguns dos participantes indicaram o vídeo-game como um dos brinquedos
mais utilizados pelos filhos. Oliveira (1986),faz uma crítica aos brinquedos
industrializados, se referindo mais especificamente ao vídeo-game, quando afirma
que com ele, a criança não é capaz de criar nada, apenas aceita o que é imposto
pelo brinquedo: se a criança ganhar é estimulada e reforçada pelo comportamento
desejável, e se perder o jogo, ocorre o oposto.
Por outro lado, Greenfield (1988), não concorda que o vídeo-game desenvolva
apenas as habilidades sensório-motoras e coordenação visio - motora e não
desenvolva o raciocínio da criança. O autor afirma ainda que essas habilidades são
relevantes, e formam a base para estágios posterioris do desenvolvimento cognitivo.
2ª. Categoria: O desenvolvimento de ontem e hoje
Nesta categoria, foi investigado com os participantes se, na percepção deles,
os brinquedos e brincadeiras trouxeram alguma contribuição para seu
desenvolvimento. Segundo relato dos entrevistados, o brinquedo e as brincadeiras
contribuíram para o seu desenvolvimento, pois promoviam a amizade, felicidade,
distração, habilidades manuais, e também a independência. Nesta categoria as
27
respostas foram variadas, dois participantes apontaram que o brinquedo contribuiu
para o seu desenvolvimento, pois este os distraia.
“Morava no sítio, brincava com meus irmãos, era bom porque a gente se
distraia” ( S ).
“... a gente se distraía” ( S.S ).
Um dos participantes indicou que o brinquedo e as brincadeiras contribuem
para a interação social e para formação de amizades.
“...assim a gente aprende a conviver em um ambiente com as pessoas, passa
a ter amigos, isso é muito importante, você faz amizade e fica mais conhecido, no
caso” ( M ).
Através da fala de uma das participantes observou-se que o brincar contribuiu
para o desenvolvimento de habilidades manuais e, mais especificamente, a
motricidade fina.
“Olha, quando eu tinha uns 7 anos, a gente aprendia a fazer roupinhas para
poder brincar com as bonecas e mais tarde nós costurava e fazia roupa pra toda
casa” ( M.T ).
28
Também se verificou, segundo um participante que, desenvolver significa ser
feliz, e que as crianças de hoje não são felizes como as de antigamente, apesar de
não indicar o motivo disto:
“Acho que naquele tempo, tudo que a gente brincava era feliz né, hoje tem
tanta coisa e as crianças não são felizes” ( M.A ).
Outro participante ainda acrescenta que antigamente as crianças tinham à
disposição amplos espaços para brincadeira, o que favoreceria a independência da
criança.
“Na minha época, nós tinha mais espaço para brincar a gente aprendia a se
virar e se defender” ( G.R.C.A ).
Quando questionados sobre a contribuição dos brinquedos e brincadeiras
para o desenvolvimento de seus filhos, os entrevistados apontaram para as
seguintes habilidades: promove a amizade, a atenção, a criança fica mais alegre,
mais esperta, promove a aprendizagem, desenvolve a mente. Alguns dos aspectos
indicados se confundem, mas sinalizam a relação entre desenvolvimento cognitivo e
social dos seus filhos.
Observou-se através dos relatos dos participantes que a maioria destes,
referiu-se aos aspectos cognitivos do desenvolvimento.
“Acho que quando ele está brincando, ele presta muita atenção no que faz”
(M.A).
29
“Acho que desenvolve a mente” (M.G).
“Desenvolvimento mental, acho” (S.S).
“Acho importante que ela brinque, ela gosta que contem histórias para ela, aí
ela aprende muito com isso” (S)
O brinquedo e o brincar são indispensáveis para o desenvolvimento pleno da
criança em todas as fases, pois estrutura sua personalidade e a leva a novos
espaços de compreensão, que a encoraja a prosseguir, crescer e aprender.
(MELO, VALLE, 2005).
Dois dos participantes relatam que as brincadeiras contribuem para a
interação social e para o favorecimento da amizade e da alegria.
“Minha filha era muito fechada, depois que começou a brincar, ela começou a
se enturmar...com a brincadeira ela passou a ter mais amigos” (M).
“ Quando ela brinca, ela fica mais alegre” (J.S).
Papalia e Olds (2000) indicam que a brincadeira proporciona o crescimento da
criança, pois através dela, as crianças desenvolvem habilidades motoras, linguagem,
tem a oportunidade de experimentar diversos papéis e lidam com emoções
conflitantes através da imitação, quando interpretam situações da vida real. Desta
30
maneira, as crianças crescem cognitivamente e também aprendem a interagir com
as outras crianças.
Freud (1929), já apontava que o recém nascido deve se adaptar ao novo
mundo do qual passa a fazer parte, este processo se dá inicialmente através de
suas percepções, pois é ainda incapaz de explorar o mundo, em função de ainda
não controlar seus movimentos, e não conseguir localizar os objetos, que
anteriormente foram focalizados por ele. Por isso, o bebê brinca com o seu próprio
corpo e com o corpo da mãe, favorecendo seu auto - conhecimento.
Para Winnicott (1975), a criança passa por alguns estágios até chegar à etapa
mais desenvolvida do brincar. Para ele, o bebê no início de sua vida não se imagina
como um ser diferente da mãe . Quando o bebê começa a ficar por um período mais
longo longe da mãe, ele necessita de um objeto para aliviar sua ansiedade, dando
início ao processo simbólico. Este objeto é chamado de objeto transicional, que é o
substituto do objeto libidinal, no caso, a mãe. Para o autor, o brinquedo é como o
herdeiro dos objetos transicionais, e há uma evolução destes para o brincar, pois,
assim que a criança já se sente segura longe da mãe, ela passa a brincar
compartilhando com outras, e daí, para as experiências culturais.
Assim, o brincar é uma atividade desenvolvimentista, prepara a criança para o
que é sério, auxilia a definir e redefinir sua identidade, nas suas relações, propicia
seu crescimento, criatividade, capacidade de comunicação e a experiência do eu,
que são aspectos fundamentais para o desenvolvimento infantil.
3ª. Categoria: Os brinquedos e as dificuldades do desenvolvimento
31
Esta categoria busca verificar se na percepção dos pais existe algum
brinquedo ou brincadeira que dificulta o desenvolvimento das crianças hoje. A
maioria dos participantes respondeu que o brinquedo não dificulta o
desenvolvimento dos seus filhos. Segundo um dos entrevistados a brincadeira não
dificulta o desenvolvimento, pois a relaciona ao desenvolvimento físico e favorece as
amizades.
“Brincadeira nunca dificulta nada, eu acho que toda criança tem que brinca,
tem que se exercita, tem que ter muita amizade” (M).
.
O brinquedo é um elemento bastante significativo na infância, pois segundo
Mello e Valle (2005), este contribui para o desenvolvimento infantil em todas as
dimensões, tanto promovendo as atividades físicas, estimulação intelectual e
socialização.
Apenas um participante aponta que as armas e brincadeiras que estimulam a
violência podem dificultar o desenvolvimento das crianças, mas não descreve de que
forma.
“Acho que as armas e brinquedos que estimulam a violência” (J.S).
O brincar é uma das principais atividades da criança e nenhum brinquedo ou
brincadeira dificulta o desenvolvimento, mas sempre contribui para tal.
Cordazzo e Vieira (2007), afirmam que o brinquedo é um objeto cultural, que
da mesma maneira que todos os objetos construídos pelos homens possui
32
representação e significados e estes variam de acordo com a cultura e a época na
qual se estão inseridos. Assim, o brinquedo é produto do social e possui várias
funções sociais como objeto lúdico da criança. Os autores esclarecem que os
brinquedos tem um valor simbólico e que o símbolo torna-se a função do próprio
objeto.
Mello e Valle (2005), apontam que a criança utiliza o brinquedo para
exteriorizar suas invenções transformando seu cotidiano, desenvolvendo novos
conceitos que possibilitam a compreensão do mundo em que vive.
Através do brincar e do brinquedo, a criança expressa sua realidade, ordena
e desordena, constrói e desconstrói um mundo que lhe seja significativo e que
corresponda às necessidades intrínsecas para seu desenvolvimento global.
Outro sentido ainda pode ser percebido na fala de um dos participantes, de
que hoje as crianças não se satisfazem com os brinquedos que têm, sempre estão
buscando ter mais, contrário ao que acontecia com ele antigamente, quando as
pessoas se contentavam com aquilo que tinham. Atualmente, existe uma variedade
maior de brinquedos do que antigamente. Os brinquedos são interessantes aos
olhos das crianças pelas suas formas modernizadas e tecnológicas, ao contrário de
antigamente, como observado através dos relatos dos participantes.
“Não é que dificultam, mas antigamente as pessoas se contentavam mais
com as coisas, hoje não” (G.R.C.A).
4ª. Categoria: O uso dos brinquedos no processo terapêutico
33
Buscou-se nesta categoria, verificar a percepção dos pais ou responsáveis
das crianças que estão em psicoterapia, sobre o uso do brinquedo no processo
terapêutico de seus filhos. Através das falas dos participantes, observou-se que o
uso do brinquedo na psicoterapia é importante para a aprendizagem, que este é um
meio de aproximação do terapeuta para com o paciente. Também foi citado que o
brinquedo serve para estimular a memória. Os sentidos mais frequentemente
indicados pelos entrevistados foram que ele acalma a criança;
“É muito útil e acalma a criança, eu noto uma mudança nele muito grande”
(M.G).
Outros ainda responderam que não sabem, pois nunca foram informados
sobre a utilização do brinquedo no processo psicoterapêutico.
“acho que é importante, mas nunca ninguém nunca informou a gente” (S.S).
“não sei te dizer, nunca ninguém me falou nada” (M.T).
Melanie Klein (1997), esclarece que o brinquedo é utilizado na psicoterapia
como forma de comunicação, pois a criança transfere suas necessidades, culpas,
fantasias para outros objetos ou pessoas. Esse processo de transferência faz com
que a criança coloque no brinquedo aquilo que a impede de falar, já que possui
poucos recursos verbais para fazer a livre associação.
A ludoterapia possibilita a criança a transferir seus conflitos, angústias,
descarregar sua ansiedade , possibilitando que a criança consiga lidar melhor com
34
as suas dificuldades e frustrações, dessa maneira os pais talvez as percebam mais
calmas e tranqüilas, também observando mudanças comportamentais.
Através da fala de um dos entrevistados verificou-se que o brinquedo é um
meio de aproximação do terapeuta com a criança. Este acrescenta também que a
brincadeira favorece o crescimento e a alegria.
“Ela tá mais alegre, mais disposta, a brincadeira faz parte do aprendizado da
gente, muda o humor da pessoa. Brincando é mais fácil de se aproximar dela, na
realidade é isso, o psicólogo tenta ser amigo, a criança gosta de brinca, por isso se
aproxima mais” (M).
Para Axline (1972), a utilização do brinquedo na psicoterapia é um recurso
para a criança superar suas angústias na medida em que reconhece seus conflitos e
que estes sejam trabalhados; também é uma forma de obter prazer, é uma maneira
que a criança tem de se livrar de problemas e sentimentos.
Klein (1997), aponta que criança utiliza o brinquedo como meio de expressão,
pois através das interpretações feitas durante o brincar, é possível que conteúdos
inconscientes, se tornem conscientes. É por meio do brinquedo que as crianças
expressam suas fantasias inconscientes, seus conflitos, suas necessidades, defesas
e impulsos. O trabalho do psicoterapeuta consiste em perceber as projeções das
crianças durante o brincar, a transferência, examinar o material, e fazer as
interpretações.
Glenn (1996), o trabalho com os pais de crianças que estão em psicoterapia é
muito importante, pois eles são os responsáveis pela criança e por manter o
tratamento. Muitas vezes os pais se sentem culpados ou fracassados pela patologia
35
de seus filhos. Alguns dos motivos mais comuns dos pais buscarem o atendimento
psicoterapêutico para seus filhos são comportamentos anti-sociais e dificuldades
escolares.
De acordo com os sentidos atribuídos pelos pais e apresentados nas quatro
categorias, percebe-se que estes compreendem a importância do brinquedo tanto
para o desenvolvimento como para a psicoterapia de seus filhos, embora pode-se
perceber através de seus relatos que não possuem informações quanto ao uso do
brinquedo enquanto técnica psicoterápica.
36
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo analisar os sentidos atribuídos pelos pais de
crianças que estão em atendimento psicoterapêutico na Clínica Escola de Psicologia
da UNIVALI – Itajaí, ao brinquedo, bem como a compreensão que têm sobre à
utilização deste no processo terapêutico de seus filhos.
Através das entrevistas realizadas, pode-se perceber que os pais de uma
forma geral, acreditam que os brinquedos contribuíram para o seu desenvolvimento
e também são importantes para o desenvolvimento de seus filhos.
Na infância destes pais, os brinquedos mais utilizados segundo eles, foram,
esconde-esconde, pula corda e boneca já que naquela época não havia muitas
opções de brinquedos industrializados tais como hoje. Os participantes do estudo
indicam que os brinquedos utilizados por seus filhos hoje, passaram por
transformações tecnológicas e por isso têm significados diferentes dos brinquedos
de sua infância, possibilitando outras formas de brincar, assim como, contribuem de
maneira diferente para o seu desenvolvimento de seus filhos se comparado com o
desenvolvimento das crianças de “antigamente”. Através do relato dos participantes,
os brinquedos e brincadeiras utilizadas naquela época promoviam a amizade,
interação social, e a independência, pois, como não disponibilizavam de muitos
brinquedos, as brincadeiras de rua eram mais freqüentes em função dos amplos
espaços oferecidos naquela época.
Atualmente, os filhos dos entrevistados brincam com bola, vídeo-game,
bicicleta, televisão, carrinho, pipa e bola de gude. Observou-se através das
entrevistas, que os pais tentam resgatar com filhos os brinquedos utilizados por eles
37
em sua infância, mas as crianças hoje não se mostram interessadas, em decorrência
da tecnologia que tornou os brinquedos atuais mais atrativos aos olhos das crianças.
Muitas vezes, em função da falta de espaço para realizarem as brincadeiras e
também pela violência presente no dia a dia, os pais ficam apreensivos em permitir
que os filhos brinquem na rua, assim, acabam não estimulando as crianças a
mesmas brincadeiras realizadas por eles na sua infância.
Quando questionados sobre a contribuição dos brinquedos para o
desenvolvimento de seus filhos, os pais se remeteram mais ao desenvolvimento
cognitivo, alegando que os brinquedos atuais promovem a atenção e tornam as
crianças mais “espertas”.
De maneira geral, os pais acreditam que nenhum brinquedo dificulta o
desenvolvimento de seus filhos, embora foi citado que armas e brinquedos que
estimulam a violência não são adequados para o desenvolvimento das crianças.
Com relação à utilização do brinquedo na psicoterapia, os pais relataram não
compreender a utilização desta técnica, embora acreditam que o brinquedo exerce
um papel importante na psicoterapia, pois relatam que seus filhos ficam mais
alegres, calmos e que também contribui para seu aprendizado. Por isso, sugere-se
que se esclareça aos pais sobre a utilização do brinquedo na psicoterapia dos filhos
para que estes eliminem dúvidas, e compreendam melhor o processo
psicoterapêutico.
Desta forma, foi possível perceber as diferenças dos brinquedos e
brincadeiras de ontem e de hoje, bem como a sua importância no desenvolvimento
tanto dos pais com os brinquedos utilizados em sua época, quanto dos seus filhos
indicando que o tempo e as mudanças sociais trouxeram novos brinquedos, novas
formas de brincar e outros espaços para as brincadeiras. Apesar disto, a brincadeira
38
ainda constitui-se em atividade prioritária na infância, inclusive como técnica
psicoterapêutica, mesmo conforme apontado neste estudo, a falta de informação
dos pais sobre o brinquedo como recurso utilizado na psicoterapia.
Espera-se que os resultados encontrados neste estudo contribuam para
refletirmos o papel do brinquedo no desenvolvimento das crianças de momentos
históricos distintos, bem como sobre o esclarecimento sobre a sua utilização
enquanto mediador na psicoterapia de crianças, indicando-o como elemento
fundamental para o desenvolvimento humano.
39
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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40
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OLIVEIRA, P. S. Brinquedo e industria cultural. Petropolis, RJ: Vozes, 1986.
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WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
41
7 APÊNDICES
7.1 Questionário
ROTEIRO DE ENTREVISTA
A- Dados de identificação
1- nome:
2- idade:
3- sexo:
4- escolaridade:
5- ocupação profissional:
B- Perguntas
1- Quais eram as brincadeiras e os brinquedos que você utilizava na sua
infância?
2- Na sua opinião, como estas brincadeiras e brinquedos contribuíram
para o seu desenvolvimento?
3- Quais as brincadeiras e brinquedos que seu filho utiliza hoje?
4- Na sua opinião, no que essas brincadeiras e brinquedos que seu filho
utiliza, contribui para o desenvolvimento dele?
5- Na sua opinião, existe algum brinquedo que dificulta o desenvolvimento
das crianças?
6- Na sua opinião, qual a contribuição do brinquedo no processo
terapêutico de seu filho(a)?
42
8 ANEXO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
APRESENTAÇÃO
Gostaria de convidá-lo (a) para
participar de uma pesquisa cujo objetivo
é investigar Os sentidos atribuídos pelos
pais ao brinquedo no desenvolvimento e
na psicoterapia infantil.
Sua tarefa consistirá na participação
em uma entrevista semi-estruturada.
Quanto aos aspectos éticos, gostaria
de informar que:
a) seus dados pessoais serão mantidos
em sigilo, sendo garantido o seu
anonimato;
b) os resultados desta pesquisa serão
utilizados somente com finalidade
acadêmica podendo vir a ser
publicado em revistas especializadas,
porém, como explicitado no item (a)
seus dados pessoais serão mantidos
em anonimato;
c) não há respostas certas ou erradas, o
que importa é a sua opinião;
d) a aceitação não implica que
você estará obrigado a participar,
podendo interromper sua
participação a qualquer momento,
mesmo que já tenha iniciado,
bastando, para tanto, comunicar aos
pesquisadores;
e) você não terá direito a
remuneração por sua participação,
ela é voluntária;
f) esta pesquisa é de cunho
acadêmico e não visa uma
intervenção imediata, apenas
levantar dados para pesquisa;
g) durante a participação, se tiver
alguma reclamação, do ponto de
vista ético ou quanto ao instrumento
utilizado, você poderá contatar com o
responsável por esta pesquisa;
h) será feita uma devolutiva dos
resultados da pesquisa.
Pesquisadora responsável: Profº.
Josiane da Silva Delvan
Telefone: (047) 3341 7884 Curso de Psicologia da Universidade
do Vale do Itajaí – CCS
R: Uruguai, 448 – bloco 25b.
43
IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO
Eu __________________________________________________________
______________________________________________________________
Declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa e da maneira como será
realizada e no que consiste minha participação. Diante dessas informações, aceito
participar da pesquisa.
Assinatura:_____________________________________________________
Data de nascimento:___________________
Pesquisador: Prof. Josiane da Silva Delvan
Assinatura:___________________________________
UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia
Rua Uruguai, 438
Telefone: 3341-7688