os segredos de landara: o reino de areia

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Laura sabe que seu sangue é a chave que poderá mudar o futuro de Landara. A antiga lenda sobre o baú se provou real e não há nada que ela possa fazer para se desviar desse destino: ela precisa voltar ao grande deserto de Landara. Seu caminho já está traçado e cada passo é crucial; a guerra é inevitável. Cercada por ameaças e por segredos que jamais poderiam ter sido revelados, Laura se encontra em uma situação que a obriga a tomar uma atitude desesperada. A coragem, agora mais do que nunca, precisa ser a sua maior aliada. Abandonada pelo seu grupo e sedenta por vingança, Laura precisará conviver com seus próprios pesadelos. Porém, o que ela menos imaginava é que a traição poderia estar camuflada até nos olhos do melhor dos amigos. O que essas areias traiçoeiras escondem?

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B. CAmporezi

O reinO de areia

Livro II

São Pau l o, 2 0 1 5

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Os segredos de Landara, livro 2: o reino de areia

Copyright © 2015 by Bruna CamporeziCopyright © 2015 by Novo Século Editora Ltda.

gerente editorial

Lindsay Gois

editorial

João Paulo PutiniNair FerrazRebeca LacerdaVitor Donofrio

gerente de aquisições

Renata de Mello do Vale

assistente de aquisições

Acácio Alves

auxiliar de produção

Luís Pereira

preparação

Fernanda Guerriero

projeto gráfico Vanúcia Santos

diagramação e composição de capa

Equipe Novo Século

ilustração de capa

Eudes Rocha Fernandes ([email protected])

revisão

Aline Salles

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Camporezi, BrunaOs segredos de Landara, livro 2: o reino de areiaB. Camporezi;Barueri, SP: Novo Século Editora, 2015.

1. Ficção fantástica brasileira I. Título.

15-05086 cdd-869.3087

Índice para catálogo sistemático:1. Ficção fantástica: Literatura brasileira 869.3087

novo século editora ltda.Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – BrasilTel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br | [email protected]

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009.

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Dedico este livro a todos os sonhadores. Que esta história seja capaz de dar

força aos seus próprios sonhos.

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À minha família, principalmente aos meus pais, Jurema e Ger-son, que me deram todo suporte necessário para eu chegar

até aqui. Obrigada por abraçarem minhas ideias malucas e por sem-pre me ajudarem a torná-las realidade. Agradeço a vocês por todas as conquistas. Tenho certeza que muitas ainda estão por vir.

Um agradecimento especial à minha mãe que desde minha infância me incentivou a ler e me mostrou os maravilhosos prazeres que uma bela história pode proporcionar.

Também agradeço aos meus queridos irmãos, Gerson e Mickelli, que muitas vezes deixaram suas próprias vontades de lado para me ajudar com a carreira. Um apoio que jamais serei capaz de agradecer o sufi ciente. Guardo os dois no coração. Obrigada por tudo.

Ao Victor Hugo, meu amado companheiro, pela compreensão e apoio nos momentos difíceis. Obrigada por compartilhar as emoções que essa car-reira proporciona e por segurar a minha mão nas horas que mais preciso.

E, como nenhuma carreira é feita sem amigos, deixo aqui também os meus mais sinceros agradecimentos àqueles que sempre estiveram comi-go, apoiando meus sonhos que pareciam praticamente impossíveis. Espero ter todos vocês ao meu lado sempre.

Um agradecimento especial à minha amiga e colega de trabalho Eleonor Hertzog, que revisou a história com muito carinho e me deu

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as dicas que eu precisava para fazer um trabalho ainda melhor. Muito obrigada, Eleonor!

Agradeço também à minha querida amiga Elisa Dinis, que acreditou em mim e, com paciência, me mostrou o melhor caminho profissional a ser seguido.

Também queria agradecer à Editora Novo Século, que proporcionou com profissionalismo a realização de meu sonho.

Agradeço aos meus queridos leitores pelo constante carinho e por con-tinuarem a acompanhar minha carreira. São vocês que me incentivam a fazer sempre um trabalho melhor, independente das dificuldades. Obriga-da, de coração.

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Q uerido pai,Sei que você nunca vai receber esta carta, ja que a comunicação entre

nós é totalmente proibida, mas gostaria de contar tudo o que passei até agora em Landara, pois é um modo de, apesar da distância, eu me sentir próxima de você.

Landara é uma ilha muito grande que se movimenta pelos mares da Ter-ra, o que faz seu clima se alterar a todo momento. Quem esta fora dela não sabe de sua existência, pois não consegue vê-la; quem esta dentro dela não pode sair. Assim, ninguém sabe onde Landara esta. E é por isso que não posso mais ver o senhor, pai.

Depois que cheguei a esta ilha misteriosa, muitas coisas mudaram. Co-mecei a trabalhar com um grande cientista, Klaus Leone, e ele construiu algo que mudou minha vida. Acabei presa por causa disso e perdi minha memória por completo. Tinha noção de que eu era diferente, só não sabia quanto.

Descobri que foi um homem chamado Patrick quem me aprisionara em um castelo, e que ele faria de tudo para encontrar a pesquisa de Klaus. Minha situação piorava a cada dia, mas acabei conhecendo duas pessoas que me ajudaram a fugir e a recuperar a memória: James e Thomas.

A descoberta de Klaus representa grande perigo para Landara, pois ele criou o chifre artifi cial de Zinótros, uma invenção que funciona como o origi-nal. Segundo a lenda, a criatura mais poderosa de Landara, Zinótros, foi quem, com seu chifre, passou poderes especiais para todas as outras criaturas que

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viviam na ilha. A lenda garante que esse chifre ainda existe e que, apesar de ser muito antigo, ainda guarda poderes ilimitados. Quando Zinótros morreu, Arthur, o último humano transformado que habitou Landara, trancafi ou o chifre num baú e o selou com sangue humano. Com isso, Arthur decretou que apenas outro humano transformado poderia abri-lo, pois esse sangue era a principal chave para ter acesso a ele.

A lenda assegurava que quem possuísse esse chifre conseguiria adquirir os poderes de todas as criaturas, tornando-se, assim, a pessoa mais poderosa deste lugar – na verdade, do mundo! O chifre artifi cial que Klaus criou podia fazer o mesmo; então, o senhor deve imaginar como fi quei preocupada. O grande problema era que Patrick estava louco para colocar as mãos no tal chifre artifi cial, e eu não pretendia facilitar as coisas para ele. Foi quando Thomas nos apresentou a alguns de seus amigos, os quais decidiram entrar nessa aventura também: Kirina, Kronp, Karler, Tengar e Derick, por quem acabei me apaixonando cegamente – e ele por mim.

Além deles, também estava comigo Dylin, uma criatura pequena e fofa que vai me acompanhar para o resto da vida. O senhor adoraria conhecê-lo, pai. Foi um presente de Rosara, a rainha das Nínfi las, que é um amor de pes-soa; ela é como uma mãe para mim.

Klaus Leone também se juntou ao grupo, pois Tayler o guiou até nós. Tayler é a criatura que me escolheu e que doou seus poderes para mim. Foi ele quem me transformou em Homeara, e é por isso que não posso visitar o senhor na Humanidade. Não sou mais humana, pai. Espero que, um dia, compreenda.

Sei que ainda é difícil entender a diferença entre Humanos, Homearas e Mitcearas, mas, em resumo, todos somos “gente”. Os Homearas são descen-dentes dos humanos e os Mitcearas descendem das criaturas; as criaturas são os animais de Landara. São incríveis!

Com minha memória de volta e acompanhada desse grupo muito ta-lentoso, comecei minha viagem. Nós queríamos derrotar Patrick, mas algo inesperado aconteceu no meio do caminho.

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A antiga lenda se mostrou verdadeira ao descobrirmos que um grupo de Mitcearas do deserto guarda, desde tempos imemoriais, o chifre original de Zinótros, e eles precisam do meu sangue para abrir o baú que o protege. Por eu ser uma humana transformada, acabaram sentindo o cheiro do meu sangue e farão de tudo para me encontrar. Nossa viagem perdeu completa-mente o rumo a partir do momento em que esses Mitcearas começaram a nos perseguir. Eu apenas sabia que não podia entrar no reino deles, mas não tive outra escolha quando esses monstros raptaram uma amiga nossa.

Compreendi, então, que precisaria me arriscar. Nosso grupo entrou em desespero e, quando percebi, Derick também havia desaparecido. Com os nervos à fl or da pele, acabamos nos separando: fi quei com James, Kirina, Kronp e as criaturas Tayler e Dylin; todos os outros me deixaram.

Sendo assim, estou envolvida com os dois objetos que podem mudar o fu-turo de Landara para sempre: o chifre original da criatura, que esta protegido por um baú que só abrira com meu sangue – sangue este que os Mitcearas do deserto farão de tudo para possuir –, e o chifre artifi cial criado em laborató-rio por Klaus, que é o alvo de Patrick.

Agora, pai, estou caminhando na direção do deserto, sem saber em quem confi ar, sem saber se vou voltar. Uma coisa, porém, eu sei: quero vingança. Quero encontrar Derick e quero vingança contra quem o sequestrou, pai. Não vou parar até conseguir.

Espero poder escrever para o senhor novamente e em breve.Com amor,Sua fi lha perdida,Laura.

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N unca imaginei que a vida pudesse mudar de forma tão ines-perada. Era estranho pensar que eu podia ir de exuberante a

miserável em menos de meia hora. Sentia a dor em cada batida do coração. Uma dor aguda preenchia meu peito e refl etia para o resto do corpo de forma gradativa. Minhas costas ainda ardiam devido aos cortes que ganhei descendo a nascente do rio, e minha garganta esta-va irritada por causa do choro desesperado.

A única coisa em que pensava era em meu beijo com Derick. Era dessa lembrança que eu tirava forças para continuar. O chão passava acelerado sob meus pés; a velocidade de meus passos transformava as gramíneas em meros borrões verdes, e eu acabava forçando o grupo a andar no mesmo ritmo compulsivo. Sabia que estava sendo egoísta e bruta, mas não me importava, porque só buscava respostas e vingan-ça. Posso dizer que me tornei a caçadora, pois havia apenas sangue em meus olhos, e esse sangue somente seria drenado por Derick. Eu sabia disso, então apenas duas imagens se revezavam em minha men-te: as folhas da fl oresta que embaçavam minha visão e Derick.

O doce sabor de seus lábios e o gosto amargo de minhas lágrimas ainda estavam em minha boca. A mistura da mudança, o desespero de querer voltar no tempo; tudo estava junto, tudo estava tão vivo dentro de mim que fazia eu me sentir morta. Falecida no íntimo, apesar de meu corpo ainda responder aos impulsos do cérebro. Nunca me senti assim.

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Como pude perder o controle da situação desse jeito? Como pude vacilar a esse ponto? Eu não parava de me perguntar.

Estávamos no meio de árvores baixas, gramíneas e arbustos, mui-to coloridos como sempre. Algumas criaturas pequenas passavam por nós, escondiam-se e, em seguida, nos observavam caminhar, ganhan-do uma distância cada vez maior. Não prestei muita atenção nelas, principalmente porque não levavam muito tempo para se esconder, mas, como tudo em Landara, elas eram bem bonitas e muitas vezes perigosas. Não era a primeira vez que eu fazia aquele caminho, por isso o cheiro do lugar já me era familiar: um aroma de mato, de fl ores e de terra. No entanto, estava fi cando cada vez mais difícil de andar na fl oresta, pois a ventania vinda do deserto já nos atingia.

Era um vento quente e característico que nos lembrava de nosso destino. O grupo continuava a viajar em silêncio. Depois de um tempo, Tayler se ofereceu para me carregar, e eu aceitei. Ele sabia melhor o caminho e guiaria o grupo de forma mais educada. Kirina aproveitou e se juntou a mim no dorso de Tayler; ela tentava me acalmar, aca-riciando meu braço em algumas ocasiões, mas não ousou falar nada. Agradeci por isso. Dylin levava James, que, pela primeira vez, não de-monstrava seu costumeiro bom humor. Kronp andava ao nosso lado.

Aquela caminhada silenciosa não me fazia bem, pois deixava minha mente livre para pensar e se torturar o quanto quisesse. Eu tentava afastar esses pensamentos usando toda a força que existia em mim, mas, se tem algo que já provei que não controlo, sou eu mesma.

Faltava muito pouco para chegar ao deserto, e sabia que seria uma caminhada difícil assim que chegássemos lá. Resolvi colocar nos-sas necessidades fi siológicas em primeiro lugar dessa vez e parar para descansar.

– Gente – chamei a atenção do grupo. Percebi que eles fi caram surpresos ao ouvir minha voz. Sabia que não tinha falado quase nada no caminho, mas também não achava que alguém esperasse uma via-gem animada. Todos entendiam a situação e eu estava grata por isso.

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– Se vocês não concordarem, tudo bem, mas já está fi cando um pouco tarde para entrar no deserto. Se o fi zermos, teremos que caminhar durante a noite. Acho perigoso. Seria melhor pararmos e reiniciar a viagem pela manhã. Daqui até o reino deles falta pouquíssimo. Pouco mesmo – suspirei. – Tudo bem para vocês?

– Tudo ótimo, Laura. Estou bastante cansada – Kirina apoiou.– Sem problemas – James respondeu, e logo em seguida Kronp

balançou a cabeça, também concordando com a decisão.Forcei um sorriso e me afastei, adentrando um pouco entre as

árvores. Dylin e Tayler me seguiram.Caminhei até um lugar escuro e me agachei, encostando-me a um

tronco. Coloquei as mãos no rosto, tentando não pensar no gigantesco buraco em meu coração. Não consegui. Senti, aos poucos, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, molhando minhas mãos.

– Não sei o que falar a você… – Dylin disse com uma voz fraca.– Não precisa dizer nada – solucei.– Ele está bem, Laura. Vamos achá-lo…A tentativa de me consolar era em vão. Sabia que Derick não es-

tava bem, pois, se estivesse, estaria ao meu lado, lutando; mas não estava. Não saber o que havia acontecido mantinha-me afl ita, espe-rando uma notícia ruim, um rastro de sangue, uma pena preta no caminho ou qualquer indício dele.

Eu também pensava nas Nínfi las que estavam em perigo. Refl etir que tudo isso fora culpa minha afetava a capacidade de liderar e de seguir forte e centrada no caminho. Eu já deveria estar acostumada com coisas dando errado, mas, aparentemente, isso é algo com que nunca se acostuma. Precisava entender o que havíamos feito de er-rado. Como estávamos sendo espionados? Não era possível que os Bridsands tivessem planejado tudo tão perfeitamente. Se eles esti-vessem nos vigiando, deveríamos ter percebido, mas não o fi zemos. Eu continuava me perguntando como essa espionagem foi possível.

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Não sabia nada sobre meu inimigo. Não sabia o modo como tra-balhavam nem exatamente o que queriam. Sim, eles queriam poder, mas o que mais?

O que eles têm que deixam todos os outros Mitcearas de cabelo em pé? Como ganham batalhas tão facilmente? E como conseguem ser tão silenciosos?

Isso acabava com minha paz.Quando se tratava de Patrick, meu receio era diferente, porque

conhecia um pouco o estilo dele: as ameaças, o anseio por pesqui-sas novas e, o medo de enfrentar os outros pessoalmente. Patrick era bem previsível, mas, e quanto aos Bridsands? Seriam previsíveis tam-bém? Acho que não.

Quanto mais eu pensava, mais perguntas ecoavam em minha mente e para nenhuma delas encontrava respostas coerentes.

E se algo realmente tivesse acontecido com Derick…?Se algo realmente ruim…Se…Senti mais lágrimas escorrendo por meu rosto.– Ah, Laura… – lamentou Dylin.– Dyl, nós não estamos vivendo uma história de amor – disse,

percebendo quão rouca estava minha voz. – Nós éramos apenas duas pessoas que se amavam, mas que estavam no meio de uma missão, percorrendo uma trajetória que, provavelmente, nos separaria pela morte ou por qualquer outra coisa. Entendo isso, e é algo que simples-mente tenho que aceitar e seguir caminhando.

– Sinto muito.– Se Derick estiver morto, é por minha causa. Eu o coloquei nisso.

Assim como as Nínfi las. Dessa vez, Thomas teve razão quando fi cou bravo e gritou comigo. Dessa vez ele teve razão.

– Não! Derick entrou nessa porque quis. – Dylin se sentou em meu colo. Tayler colocou a cabeça em minha perna. Com uma mão em cada, acariciei ambos. – As Nínfi las serão resgatadas. E você sabe que Thomas é muito desesperado – bufou.

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– Pare de tentar me consolar, Dyl. Acha que não entendo o que estou fazendo? Sei que coloquei meu grupo em perigo. Um grupo de pessoas boas, que nem deveriam estar aqui! – Franzi as sobrancelhas. – Todas elas estão enfrentando a morte, você sabe disso.

– Laura, todo mundo concordou.– Concordou? – gritei, deixando mais lágrimas caírem. – Nós

chegamos à casa de Kirina como foragidos, segurando um homem desmaiado. Que escolha ela tinha? No momento em que ela abriu aquela porta… – solucei – …naquele momento, ela se condenou.

– Pare de se torturar! – Dylin gritou.– Não consigo parar. Simplesmente não consigo parar de pensar

em Derick. Dylin, eu realmente o amo. Pode ser loucura ou qualquer coisa do tipo, mas é a pura verdade. Ele desapareceu, Dylin. O que aconteceu com ele? Preciso saber! Preciso encontrá-lo! Oh, meu Deus! Eu preciso encontrá-lo! – tagarelei desesperada.

Um milhão de imagens ruins atordoaram minha mente, e a cada segundo fi cava mais difícil de me conter. Sabia que precisava me acal-mar, principalmente por Dylin, que parecia estremecido, mas eu não conseguia. Não conseguia deixar de imaginar o que estaria aconte-cendo. No entanto, uma voz afastou as imagens da minha mente.

– Laura? Você está bem? – era Kirina.– Kirina? Desculpe. Estou, sim – disse, limpando as lágrimas e vi-

rando o rosto para esconder os olhos vermelhos.– Você não está bem, não é? Imaginei que não estivesse. Veio ca-

lada a viagem inteira. O que foi? Está assim por causa de Derick, não é? – Ela se aproximou.

– Não, eu estou bem – disfarcei, tentando não olhar para ela.– Não precisa esconder seus sentimentos de mim. Sei o que sente.

Todo mundo consegue ver em seus olhos quanto o ama.– Eu… – Suspirei.– Você está com medo? – Ela sentou-se ao meu lado.– Não tenho medo.

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– Não precisa ser forte comigo. Isso não vai infl uenciar o modo como vejo seu comando. Sei que pode liderar o grupo, mesmo abalada como está.

– E aí que você se engana, Kirina. Não posso. Esse é meu grande defeito… – confessei. Senti muita angústia cortando meu coração.

– Do que está falando? – Suas sobrancelhas claras se juntaram. – Não paro de pensar em Derick – admiti.– Isso é normal.– Não, você não está entendendo. – Olhei para ela pela primeira

vez, mostrando meus verdadeiros olhos, olhos perdidos, afundados, vermelhos pelo desespero. Percebi como ela se assustou ao vê-los. – Eu parei de raciocinar da maneira correta. Parei de ver esperança para quem está preso, parei de achar que consigo fazer qualquer coisa para modifi car o que já ocorre há anos. Sei que tudo isso é minha cul-pa, sei que jurei libertar aquele povo, mas não vejo motivo para isso… Eu… – Voltei a chorar.

– Laura! – Ela puxou minha cabeça e a apoiou em seu ombro, abra-çando-me levemente. – Por favor, não pense nisso. O sentimento que a trouxe até aqui é muito bonito. Não deixe que ele morra.

– Kirina, eu estou morta – sussurrei contra seu ombro.– Não, não está. Você está aqui comigo.– Fisicamente, apenas.– Sua mente está com Derick? – perguntou, voltando os olhos aos

meus.– Minha mente não está com ninguém.– Esse é o problema. Pense nele. Agarre-se a ele e construa a par-

tir dele a força de que precisa para continuar.Olhei para o chão sem realmente ver, soluçando.– Laura, você é muito forte. Não cambaleie agora.Pensei, por um momento, em suas palavras.– Você perguntou se tenho medo… – Controlei as lágrimas e voltei

a encará-la. – Kirina… – Suspirei derrotada. – Sabe qual vai ser a pri-meira coisa que os Mitceáras farão assim que me raptarem?

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– O quê? – Ela apertou as sobrancelhas, preocupada.– Vão prender minhas mãos.– Tem medo disso? – Kirina pareceu não entender minha resposta.– Sem elas… – olhei para o chão – … eu viro humana.– Laura… – Ela suspirou. – Você viveu boa parte da vida sendo

humana, deve saber que isso não é tão ruim.– Você não entende. Você não tem limitações.– Claro que tenho. Se alguém tapar minha boca, não há hipnose!Sorri de leve.– Laura, se essa limitação a irrita tanto, por que não aceitou os

poderes da mala quando Klaus ofereceu a você?– Porque era errado.– Se arrepende disso agora?– Claro que não.– Então por que está com medo?– Já disse que não estou com medo, Kirina! – gritei. – Tudo bem

se eu morrer, entende? Só que eu coloquei vocês aqui! Coloquei cada um de vocês em perigo, e eu tenho de estar com as mãos soltas para protegê-los!

– Ninguém precisa disso! – Ela agarrou meus ombros. – Todos nós somos capazes de nos defender.

– Não precisariam ser se eu não os tivesse colocado aqui.– Laura, eu quero estar aqui.– Por quê?! – perguntei indignada.– Porque é o certo a fazer. Tenho orgulho de estar aqui, tenho

orgulho de fazer algo altruísta, para o bem de pessoas que ninguém mais enxerga. Você enxergou os prisioneiros quando, para todos os outros, eles eram invisíveis. Eu quero fazer parte disso também. – Suspirou. – Agora, chega de papo. Vá dormir e pare de pensar nis-so. – Kirina acariciou meus cabelos. – A gente precisa de você forte. Derick precisa disso. – Balancei a cabeça, raciocinando com mais cla-reza. Ela segurou meu queixo, sorriu e continuou: – Nunca se esqueça

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disso. Vejo você amanhã. E quero vê-la sorrindo. – Ela se levantou e se virou para ir ao encontro dos outros.

Era inacreditável como ela tinha razão em todas as palavras. Kiri-na precisava de um líder melhor do que eu estava sendo. E eu queria ser esse líder.

– Kirina, espere.Ela se virou.– Eu disse que ensinaria você a lutar. Venha aqui. – Levantei-me

posicionei em frente a ela.Kirina balançou a cabeça.– Não precisa fazer isso agora.– Preciso. Não vamos ter mais tempo.Ela se virou novamente, deixando seu corpo ereto de frente ao

meu, olhando diretamente em meus olhos vermelhos.– Preste atenção – comecei. – Você só precisa distrair seu oponen-

te até conseguir falar com ele. Vai ser muito fácil.Kirina balançou a cabeça e comecei a ensinar-lhe manobras de

defesa e modos de escapar do adversário. Ela parecia estar contente por fi nalmente aprender tudo aquilo que o restante do grupo já sabia. E podia dizer que aprendeu muito rápido.

– Está correto? – perguntou ao aplicar um dos métodos de escape.

Ela girou o pulso assim que o agarrei e me afastou com uma coto-velada. Agarrei-o novamente e ela voltou a aplicar o golpe, com mais facilidade dessa vez.

– Sim – encorajei. – Dê um passo à frente e intensifi que o golpe. A mulher precisa entender que é fi sicamente mais fraca que o homem e deve usar táticas especiais. Vou ensinar-lhe algumas.

Passei alguns ataques e mostrei maneiras mais fáceis de apro-ximação, para que conseguisse falar com os oponentes e, assim, hipnotizá-los. Kirina gostou muito e sorria o tempo todo; sua felicida-de às vezes colocava um sorriso em meu próprio rosto.

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Eu fazia os movimentos automaticamente, pois minha tristeza, apesar de tudo, ainda me consumia. Tentei ao máximo me concen-trar para ensinar Kirina da melhor maneira possível. Sua simpatia e amabilidade faziam tudo fi car muito fácil. Depois de alguns golpes, passei a me concentrar apenas nela. Realmente agradeci por ela ter me procurado alguns minutos atrás, pois percebi que precisava de seu sorriso. Ela conseguia fazer minha mente trabalhar melhor, e eu me sentia grata por isso.

Algum tempo depois, sentamos na raiz de uma árvore. Aquelas aulas já eram o sufi ciente. Provavelmente, Kirina não precisaria de nada disso devido ao seu poder incrível, mas, só o fato de saber, daria a ela mais confi ança. E, em uma luta, confi ança é quase tudo.

– Obrigada, Laura – comemorou animada. – Nunca pensei que fos-se aprender a lutar.

– Não precisa agradecer, foi você quem me ajudou. Precisava de um pouco de ação. Não aguento essa monotonia das caminhadas – fa-lei, recuperando o ar.

Eu estava bem por voltar a lutar. Era delicioso sentir a adrenalina passeando em minhas veias. Fazia tempo que não treinava. O treino trazia alegria, motivação. Na luta pra valer sempre há a possibilidade de, no fi nal, ser o seu corpo estendido no chão. E isso acabava um pou-co com a adrenalina gostosa, que trazia felicidade, e deixava apenas a ansiedade e o receio de perder.

Ela sorriu e olhou diretamente dentro de meus olhos, um olhar doce, compreensível.

– Laura… – Suspirou. – Seus olhos ainda estão muito vermelhos. Você não para de pensar nele, não é?

Na verdade, não era o fato de eu não parar de pensar nele. Como já disse, Kirina havia me distraído o sufi ciente para me lembrar de que conseguia sorrir. O grande problema era que nenhuma distra-ção seria sufi ciente para apagar aquilo que eu realmente sentia. Meu corpo não seria enganado por um sorriso ou um pouco de adrenalina.

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Sentia-me podre por dentro, como se algo morto estivesse em meu peito. E, isso, nenhuma distração anularia. Minha aparência refl etia exatamente o que sentia: essa podridão, essa amargura sórdida, e meus olhos não voltariam ao normal enquanto esse sentimento esti-vesse dentro de mim. E eu sabia bem disso.

Olhei para o chão e, em seguida, virei o rosto na outra direção. Naquele momento, os ventos se calaram, deixando apenas o silêncio da noite.

Uma noite sem vento… Se Derick estiver vivo, deve estar bem chateado agora.Kirina deve ter percebido que não me sentia à vontade para fa-

lar disso.– Acho melhor irmos dormir – sugeriu ela. – A gente conversa

amanhã.Ela me beijou no rosto e se levantou, caminhando de volta pela

direção de onde viera.– Kirina – chamei, e ela, na mesma hora, me olhou novamente.

– Obrigada.– Não foi nada. – Sorriu.– Não vou decepcionar você. As coisas serão diferentes daqui para

frente – confessei.– Do que está falando?– Eu quero vingança. Se os Bridsands querem jogar, vou aprender

a jogar o jogo deles.

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