os saberes da medicina medieval

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Recebido em 5 de março de 2013 Aprovado em 26 de abril de 2013 OS SABERES DA MEDICINA MEDIEVAL Dulce O. Amarante dos Santos i [email protected] A arte é longa, a vida é breve, a oportunidade é fugaz, a experiência é enganosa, o julgamento é difícil. Hipócrates, Aforismos Que se considere a medicina como uma segunda filosofia. Uma e outra ciência reclamam para si o homem inteiro; pois se por meio de uma se cura a alma, por meio da outra se cura o corpo. Isidoro de Sevilha, Etimologias RESUMO: A medicina integra o conjunto de saberes medievais, herdado da Antiguidade, que mantém diálogos contínuos com as outras áreas do conhecimento. Nesse sentido, encontram-se físicos que atuaram igualmente como teólogos, filósofos naturais, astrólogos, produzindo obras em vários campos, inclusive até alquímicas. O grande divisor de águas foi a criação dos Studia Generalia e das Faculdades de Medicina, que tornou possível a passagem de uma arte mecânica para a reflexão téorica sobre os conceitos de saúde e enfermidade e, assim, a constituição de uma ciência médica. Por outro lado, a prática médica dividia-se em Higiene ou Dietética, Farmácia e Cirurgia. Em Portugal, há notícias de bolsas de estudo para clérigos estudarem em Paris até a fundação da Universidade em 1290, no reinado de D. Dinis. Nas cortes régias, fora do circuito universitário, há presença constante de físicos e astrólogos judeus. PALAVRAS-CHAVE: medicina medieval, universidade, escolástica médica No contexto histórico medieval era quase impossível diferenciar claramente os limites entre as diversas esferas de saberes devido ao caráter integrado e relacional do conteúdo da cultura da Europa ocidental. A medicina teórica e prática integrava esse conjunto de saberes, que mantinham continuamente diálogos entre si. Assim, encontram-se físicos que atuaram também como teólogos, filósofos naturais e astrólogos, produzindo obras em várias áreas do conhecimento inclusive até alquímicas. Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq. Professora de História medieval e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás. DOI: 10.5216/hr.v18i1.29847

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A medicina integra o conjunto de saberes medievais, herdado da Antiguidade, que mantém diálogos contínuos com as outras áreas do conhecimento. Nesse sentido, encontram-se físicos que atuaram igualmente como teólogos, filósofos naturais, astrólogos, produzindo obras em vários campos, inclusive até alquímicas. O grande divisor de águas foi a criação dos Studia Generalia e das Faculdades de Medicina, que tornou possível a passagem de uma arte mecânica para a reflexão téorica sobre os conceitos de saúde e enfermidade e, assim, a constituição de uma ciência médica. Por outro lado, a prática médica dividia-se em Higiene ou Dietética, Farmácia e Cirurgia. Em Portugal, há notícias de bolsas de estudo para clérigos estudarem em Paris até a fundação da Universidade em 1290, no reinado de D. Dinis. Nas cortes régias, fora do circuito universitário, há presença constante de físicos e astrólogos judeus.

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Recebido em 5 de maro de 2013 Aprovado em 26 de abril de 2013 OS SABERES DA MEDICINA MEDIEVALDulce O. Amarante dos [email protected] A arte longa, a vida breve, a oportunidade fugaz, a experincia enganosa, o julgamento difcil. Hipcrates, Aforismos Que se considere a medicina como uma segunda filosofia. Uma e outra cincia reclamam para si o homem inteiro; pois se por meio de uma se cura a alma, por meio da outra se cura o corpo. Isidoro de Sevilha, Etimologias RESUMO:Amedicinaintegraoconjuntodesaberesmedievais,herdadoda Antiguidade,quemantmdilogoscontnuoscomasoutrasreasdoconhecimento. Nessesentido,encontram-sefsicosqueatuaramigualmentecomotelogos,filsofos naturais,astrlogos,produzindoobrasemvrioscampos,inclusiveatalqumicas.O grandedivisordeguasfoiacriaodosStudiaGeneraliaedasFaculdadesde Medicina, que tornou possvel a passagem de uma arte mecnica para a reflexo torica sobreosconceitosdesadeeenfermidadee,assim,aconstituiodeumacincia mdica. Por outro lado, a prtica mdica dividia-se em Higiene ou Diettica, Farmcia e Cirurgia. Em Portugal, h notcias de bolsas de estudo para clrigos estudarem em Paris at a fundao da Universidade em 1290, no reinado de D. Dinis. Nas cortes rgias, fora do circuito universitrio, h presena constante de fsicos e astrlogos judeus.PALAVRAS-CHAVE: medicina medieval, universidade, escolstica mdica No contexto histrico medieval era quase impossvel diferenciar claramente os limitesentreasdiversasesferasdesaberesdevidoaocarterintegradoerelacionaldo contedodaculturadaEuropaocidental.Amedicinatericaeprticaintegravaesse conjuntodesaberes,quemantinhamcontinuamentedilogosentresi.Assim, encontram-sefsicosqueatuaramtambmcomotelogos,filsofosnaturaise astrlogos, produzindo obras em vrias reas do conhecimento inclusive at alqumicas. Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq. Professora de Histria medieval e do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal de Gois. DOI: 10.5216/hr.v18i1.29847122 Dulce O. Amarante dos Santos. Os saberes da medicina medieval H trs momentos basilares na histria da medicina ocidental como rea de saber voltada tanto para a criao de teorias explicativas do funcionamento do corpo humano (terica)quantodirigidaparaaprevenodasadeeocuidadoteraputicovisando curadasdoenaseoalviodosmalesesofrimentoshumanos(prtica).Oprimeiro momentosituou-senaAntiguidade,quandoafilosofiaassimcomoateoriamdica foram escritas na lngua grega. Hipcrates de Cs, no V sculo a. C., citado na epgrafe acima, teve o mrito dedesvinculara arte medica da magia e da religio, criando uma teoriaeumaprticaracional.DepoisGaleno,noIIsculonoImprioRomano, reformuloueacrescentououtrosconceitosteoriamdicahipocrtica,aoproduzir nmerosignificativotantodeobrastericasemgregoeemlatimquantoaquelasde prticamdica,destinadasaosagentesdocuidadoedacura.Osegundomomento basilar localizou-se na Alta Idade Mdia, quando Isidoro de Sevilha, no VII sculo, em suasEtimologias(p.473-497)degrandeimpactoaolongodoperodo,aoretomare sintetizar os principais elementos da teoriagalnica antiga, valorizou a medicina como umasegundafilosofia.Eporfim,oterceiromomentoconstituiu-seinicialmentena introduodasobrasgalnicaspelaviadetransmissodastraduesdogregoparao rabe nosreinos ibricos e no sul da PennsulaItlica,gerando oque seconvencionou denominardegalenismorabe.Almdisso,houvetambmaintroduodeobras desconhecidas at ento da Filosofia Natural de Aristteles. Assim, a difuso dos textos filosficos e mdicos contribuiu para a institucionalizao de Escolas junto s catedrais urbanas na Europa, no sculo XI, e para as Faculdades de Medicina vinculadas ou no aosEstudosGerais,nossculosXIIeXIII.EstasFaculdades,porsuavez, possibilitaramodesenvolvimentodaescolsticamdicaeaformaodemestrese doutores na rea. HigieneouDietticacompejuntocomaFarmciaeaCirurgia,ostrsramos daprticamdicapreventivaeteraputicagreco-romanaehelenstica.Higieneerao termo cujo significado abrangia alm do regime alimentar, os fatores externos do meio circundante. A partir do sculo XII, o vocbulo dieta limitou-se ao significado mdico, relacionado,entreoutros,aoconhecimentodosalimentos,quepoderiamigualmente servirparacuraredesencadearasenfermidades.ADietticasempresituouohomem comocentrodesuaspreocupaes,voltando-separaafilosofianaturalafimde compreenderainteraoentresadeedoenaeaprofundarosconhecimentossobreo humano(JACQUART,1995,p.178;NICOUD,2007,p.339)Apreocupaocoma preservao da sade corporal originou o gnero da literatura mdica dos regimentos de 123 Hist. R., Goinia, v. 18, n. 1, p. 121-134,jan. / jun. 2013 sade.Estespropunhamprescriesdietticasapoiadasnateoriadascoisasnaturaise nonaturaisenateoriahumoraldeGaleno(SANTOS&FAGUNDES,2010,p.337). Esse gnero de obra mdica pode ser rastreado desde a Escola Hipocrtica na ilha grega deCs,passandopelacinciahelensticaepelagalnica.DeacordocomIsidorode Sevilha,naEtimologias,tratarimplicava,antesdetudo,restauraraenergiavital considerada o verdadeiro agente da cura e da preservao da sade.Poroutrolado,aelaboraodemezinhasouremdiosmanipulados,ouseja,a artedosboticriosseguiatodaalongatradiodeobrasquebuscavamanalisaras virtudesepropriedadescurativasdoselementosdanatureza,oriundosdosreinos animal,vegetalemineral.Oconjuntodessesconhecimentoseradenominadomatria mdica. Os simpleseraa designao dadaaos elementos da naturezae da combinao desses mesmos eram produzidos os medicamentos compostos. No mundo antigo, Plnio oVelhocomaHistrianaturaleDioscridescomaMatriamdica,soosnomes maislembradosnaorigemdaFarmcia,quenaIdadeMdiafoidenominadadeaarte dosboticrios.Estescompunhamcorporaesurbanas.Segundoopensamento analgico,comooshomensestavamconectadosaomundonaturaleaouniversoao redor,eraperfeitamentepossvelqueoselementosmateriaispudessemtransmitirsuas qualidadesnaturezaeaoshomens.Acreditava-se,porexemplo,queumaconjuno dosplanetasfossecapazdecausarumapraganoscamposouaalteraonoshumores noscorpos.Apartirdesseprincpio,osmdicos,manipulandoseusconhecimentos sobreosquatrohumores,sanguneo,fleumtico,emelanclico,sevaliamdas qualidades e do poder simptico ou antiptico da matria para realizar a cura. Assim, a combinaoentretemperaturaequalidadedasplantas,mineraiseanimaiserausada comoprescrioparareencontraroequilbriocorporal.Ademais,essesistemade compreenso do mundo e da harmonia corporal esteve em vigor, a grosso modo, at os incios do sculo XIX. Nosc.XI,umtradutordorabeparaolatim,oriundodoNortedafrica, ConstantinooAfricano,mongedomosteirobeneditinodeMontecassino,nosulda Itlia,lcusdeletradosedaEscolademedicinadeSalerno,traduziudorabeparao latimobrasmdicasrabescomoobjetivoderastrearporseuintermdioolegadoda medicinagreco-romana.Essastraduesconstituram-senoatodenascimentodamedicinacomoreadesaberesespecficosnaEuropaocidental.Asleiturase comentriostecidossobreessestextosmdicosnosc.XIImaisoutrastraduesdo gregoedorabecontriburamcomabasedoutrinalsobreaqualsepodefundare 124 Dulce O. Amarante dos Santos. Os saberes da medicina medieval desenvolver a escolstica mdica do XIII. At o sculo XIV, os Estudos Gerais de Paris, MontpelliereBolonhaforamospolosprincipaisdesseensinouniversitrioeda formao de mestres e doutores oriundos de diversas regies da Europa. ApartirdossculosXIaoXIIIassistiu-senaEuropadifusoea institucionalizao de uma medicinafundamentadaem um saber terico e submetidaa umcontroledosseusprticos.Diferentesfatorescontriburamemergnciadeum terapeutaeruditodoqualomdicoatual,apesardasmudanastantosociaisquanto cientficas,oherdeirodireto.Odesenvolvimentodaorganizaoeregulamentao geraldosofcios,oimpulsopontualmentedadopelasautoridadesrgia,imperialou pontifcia,apressoexercidapelasepidemiasnofinaldaIdadeMdiaforneceramas condies para o exerccio da medicina por um prtico erudito. A forma precisa que ele adquiriuseexplicapelahistriaintelectualdadisciplinamdica,desdeotempode Hipcratesepelaimportnciaatribudaaoestudodocorpohumanonoseiodeuma compreenso global do projeto divino da criao. Desde o sc. XII a medicina saiu do rol das artes mecnicas (tekhn em grego e arsemlatim)efoiconsideradaumacincia(epistemeouscientia)nointeriorda filosofianaturaleassimosabermdicoachouseulugarnarepresentaogeraldo mundo e da a designao de fsico, o intrprete da natureza (physis ou natura), para os mdicos medievais. O primado atribudo sade da alma e a dificuldade de conciliar o ideal de caridade com a remunerao do atendimento questionaram a legitimidade deste saber.Acorrespondnciaestabelecidaentreomicrocosmooferecidapelohomemeo macrocosmorepresentado pelo universo sustentou a ideia de que uma compreenso da criao divina no poderia deixar de lado o estudo do corpo humano, ainda mais que os fundamentos desse estudo se beneficiavam da fsica aristotlica. Buscava-se descrever e analisaraestruturaeofuncionamentodocosmosjuntocomtodosseusobjetose criaturas. Assim, o mundo fsico em movimento constante, objeto da filosofia natural de Aristteles,divide-seemduasesferas,acelesteeaterrestreousublunar.Omundo sublunarpossuiquatroesferasrelacionadascadaumaaumdosquatroelementosque compem a matria: ar, fogo, gua e terra. Todos os corpos esto sujeitos mudana e corrupo, ou seja, doena (GRANT, 2007, p. 152-153). Assim, a medicina contribuiu para alimentar a reflexo sobre as relaes entre o corpo e a alma, tema que interessava tanto aos letrados quanto aqueles preocupados com o regramento de sua vida cotidiana. A integrao da disciplina mdica numa viso crist domundofoiumdosfatoresquelhepermitiumantersuacredibilidadeadespeitodos 125 Hist. R., Goinia, v. 18, n. 1, p. 121-134,jan. / jun. 2013 fracassos teraputicos nas epidemias de peste recorrentes na Europa ocidental nos scs. XIV e XV. No final da Idade Mdia, as diversas criaes de universidades em vrias cidades europeias assim como a vontade nascente de aes polticas voltadas para a preservao dasadedosreinos(noquadrodoscursosoudasmunicipalidades),afirmarama implantaodessamedicinaerudita.Essemovimentoocorreuadespeitoda concorrnciasemprepresentedosempricos,dosmgicosoudereligiososciososde privilegiarorecursoaJesusCristo,denominadodeoSupremoMdico.Embora limitados por muito tempo ao cenrio urbano, os cuidados dos fsicos universitrios por meiodeconsultasocasionaispuderamatingirpacientesdasmaisdiversaslocalidadee origens sociais. Espaos dos saberes mdicos em Portugal na Idade Mdia EmPortugal,osestudosacercadossaberesmdicosmedievaisconstitui-seem umahistriaaindaemconstruosecomparadacomasinvestigaesemHistria social, poltica ou econmica sobre o perodo1. Esta rea de pesquisa consolidou-se com as iniciativas dos mdicos MaximianoLemos Jnior eLuis de Pina (dentre outros), da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, nos finais do sculo XIX e incios do XX.Oprimeiroeditouigualmenteoperidicocientfico,ArchivosdaHistriada MedicinaPortugueza,iniciadoem1890ecomediesnemsempreregulares,com publicaesdeestudosedocumentaopreciosadeinteresseparaoshistoriadoresda medicina desde a Idade Mdia at o sculo XIX. Aps sua morte, o peridico continuou asereditadopeloMuseudeHistriadaMedicinaquelevaonomedofundador, pertencente Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e localizado no Hospital So Joo (FERRAZ, 2013, p. 15). Hfortesindciosdeumamedicinamonsticapraticadaeensinadanointerior dosmosteiros,principaisconservadoresdostextosantigosefundadoresdehospitais consideradosespaosdecaridadeparacomospobres,doentesedesvalidos.Ademais, no se deve esquecer o papel desempenhado pelos scriptoria das casas beneditinas e dos crziosnacriaodebibliotecasenaconservao,compilao,cpia,traduoe salvaguardadepartedopatrimniodaculturamdicaantigaemedieval.Parise Montpellier eram as escolas de medicina preferidas para a formao de alguns monges do reino portugus antes da criao dos Estudos Gerais por D. Dinis em 1290. 126 Dulce O. Amarante dos Santos. Os saberes da medicina medieval Nessesentido,omosteirodeSantaCruzemCoimbradesempenhouumpapel importantequandoinstaloudoisespaosdecuidadosmdicos.Primeiro,adomus infirmorum para o tratamento dos monges enfermos e segundo, o Hospital So Nicolau, queserviacomolugardeacolhimentoecuidadosmdicosdedoentespobres, desvalidos e peregrinos. Os crzios mostraram interesse pelo estudo das obras mdicas conformecomprovaoCatlogodoscdicesdalivrariademodoMosteirodeSanta CruznaBibliotecaPblicaMunicipaldoPorto(1997).Juntoaostextospatrsticos, brevirios, livros de lembranas, saltrios, pontificais, vidas, evangelirios, sermonrios, cnticos,hinos,litanias,costumeiros,missais,epistolriosencontram-seoito fragmentos, manuscritos e impressos, de textos mdicos. H o Commentaria in Aphorismos Hippocratis do pseudo Oribsio destinado ao ensinomdicoeoAlphabetumadPaternum(provavelmentecompostoparaobispo francs Paterno, em Coimbra a partir de 1082), atribudo ao Pseudo Galeno. Este ltimo constitui-seemocatlogodeplantaseelementosativoscomvirtudesepropriedades medicinais. Alm desses, existem alguns fragmentos: De Fumachi, De Lapidoatate, De multitudinepalpitationiseDetrplicetumor(CCSCC,13,39,p.103).Em1175,h registro no Livro das Calendas da S de Coimbra, da doao de um conjunto de obras dasdiversasreasdoconhecimento,pelamortedoMestreMartimemParis.A bibliotecadomestredoadaincluaobrasdeteologia,histria,medicina,filosofia, liturgia, aritmtica, exegese bblica e astronomia. O acervo era maior como comprova o registro de manuscritos cedidos por emprstimos no ano de 1207, no qual se encontram ttulosdemedicina,oViaticusperegrinantisouKitabZadal-musafirwa-qutal-hadir deAl-Jazaar(ouIbnalJazzr)eoeoantidotrio,Degradibussimplicium,ambos traduzidos com reformulaes e adaptaes por Constantino, o africano (sc. XI). Alm dessesinclui-seigualmenteoPassionariusdeGarioponto,(sc.XI),daEscolade Salerno,umacompilaodetextosdevriosautoresmdicosgregosebizantinospara uso didtico.No segundo registro de 1218 aparecem tratados mdicos agrupados como Libri ad Fisicam pertinentesii. No terceiro de 1226, h uma obra sem ttulo do fsico de Salerno, Petrus Munsadinus. O acervo remanescente de 97 manuscritos configurava-se maior como comprova o registro daqueles ttulos cedidos por emprstimos nos anos de 1207, 1218 e 1226. No registrode1207aparecemlistadososlivroscedidosaPedroVicente,cnegodo 127 Hist. R., Goinia, v. 18, n. 1, p. 121-134,jan. / jun. 2013 MosteirodeSoVicentedeFora,deLisboa,emqueseencontramoutrosttulosde medicina, o Viaticus peregrinantis e o De gradibus simplicium. O exemplar do Viaticus (ouViaticum)provavelmentefaziapartedoespliodemestreMartimdoadoao mosteiro.Consisteemummanualrabedeprticamdicaparaviajantesque necessitassem de auxlio mdico. A obra discutia diversas enfermidades e os respectivos remdiosparaacura,seguindoomodelotradicionaldeiniciarpelasenfermidadesda cabeafinalizandocomasdosps.Devidoaseucarterprticoconheceugrande difuso, atestada pelos manuscritos remanescentes. No segundo registro de emprstimo de1218paraMestreGil(GildeSantarm?),aparecemtratadosmdicosagrupados como Libri ad Fisicam pertinentes. No terceiro registro de emprstimo para Pedro Peres (mestrecrzio?),em1226,humaobrasemttulodofsicoPetrusMunsadinus,de Salerno e o manual de medicina Almansor, do filsofo e fsico muulmano Rhazis (865-925).Percebem-senesseacervocrzioobrasdeprticamdicacomgrandeutilidade para o exerccio da medicina monstica seja nadomus infirmarum seja nos hospitia. A presena desses ttulos mdicos no acervo da livraria de mo crzia constitui-se noutro indciodointeressepelosestudosmdicosnomosteirocoimbro(NASCIMENTO& MEIRINHOS, 1997, p. 9; CRUZ, 1991, p. 192-193).Dessemodo,apesardaautonomiaregional,haviaumaaberturaparaoexterior, comacirculaodereligiososentreascasasdaordemnoreinoealmdasfronteiras. Assim para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra chegavam regularmente religiosos da Espanha,daFranaedaItlia,quetraziamconsigo,entreoutras,obrasmdicas.Acerca desse costume, acham-se referncias em dois documentos posteriores do sculo XVII,a Crnica do Mosteiro de Santa Cruz deD. Timteo dos Mrtires (MADAHIL, 1960,pp.103-122)enaCrnicadaOrdemdosCnegosRegrantesdopatriarcaS. Agostino,deNicolaudeSantaMaria(1668,p.58).Tudolevaacrerque,napocade SanchoI(1154-1212),oscrziosiniciaramumensinosobrecincias(medicinae farmcia)eenviaramalgunscnegosparaestudarMedicinaemParisouMontpellier, entreeles,D.MendoDias,sobrinhodopriorGonaloDias.Consequentemente,a presenadeobrasmdicasdemonstraointeresseeoconhecimentopartilhadodas teorias e das prticas mdicas disponveis na poca, pela cultura monstica. Em Portugal, Gil Rodrigues de Valladares, denominado o frei dominicano Gil de Vouzela, depois conhecido no exterior por Frei Gil de Santarm (c. 1890-1265) iniciou seusestudosdelngualatina,filosofiaemedicinanomosteirocrzioedepoisfoi 128 Dulce O. Amarante dos Santos. Os saberes da medicina medieval enviadoporSanchoIaParisparaaperfeioar-se,jqueseupaiD.SoeiroPaesde Valadareseradelinhagemnobreeexerceuocargodemordomo-mordacorte.No Vitaefratumordinispraedicatorum,horegistrodosserviosmdicosprestadospor ele,naenfermariadoconventodaordemdospregadoresdeSoTiagoemParis, convivendocomHumbertdeRomans.Escreveutextosdereceitasmdicasetraduziu dorabeparaolatimoLiberdesecretismedecinaedeRhazis.Apartirdesuas habilidadesmdicasedeoutrasalegadascompetncias,comoadenigromante construiu-seumconjuntodelendasacercadepactodiablico.Apesardisso,FreiGil constituiu-senoexemploconcretodacontinuidadedesseinteressemonsticopela medicinaemPortugal(MONTFORD,2004,p.111;MCLEERY,2005,p.120).Outro exemplo mais tardio, no sculo XIV, o mestre Joo Vicente, fundador daCongregao dos cnegos seculares de So Joo Evangelista, conhecida como ordem dos loios, tinha formaomdica.Assim,almdereligioso,atuoucomoprofessornaUniversidadede Lisboa. No sculo seguinte, aos poucos os loios assumiram a administrao do Hospital de Todos os Santos e de outros hospitais, como os de Santarm, de Montemor-o-Novo, deCaldasdaRainha,deCoimbraetc.Encarregaram-sedaassistnciaaosdoentese moribundos nos surtos de pestes de 1458, 1493, 1569 e 1579 (VASCONCELOS, 2005, p. 235-236). Outrofsicoportugus,PedroHispano(c.1220-1277),semcontestaras controvrsiasentrehistoriadoresefilsofossobreaautoriadasobrasfilosficase mdicasquelhesoatribudas,destacou-setambmcomomdicoforadePortugal. IniciouseusestudosbsicosemLisboa,provavelmentenaescolacatedralciaouem algum mosteiro.Depois, dirigiu-se para aFrana, talvez na comitiva do ento prncipe Afonso,futuroreiAfonsoIII,paraacortetio,LusIX.EmParis,estudoumedicina, seguindoocostumepeninsular.Hdocumentaoquecomprovasuaatuaocomo mestre, na Faculdade de Medicina em Siena, entre 1245 e 1250. Alm disso, temos um conjuntodecomentriosmdicosArticella,commuitosmanuscritosremanescentes em vrias bibliotecas europias. A partir de 1260, desenvolveu sua carreira eclesistica, noclerosecular,sendoentoencontradonacriapontifciadeViterbo,ondeatuou comofsicodoscardeaisepapasdesdeapocadeUrbanoIV(1261-1264),depois GregrioX(TedaldoVisconti,1set.1271-10jan.1276),InocncioV(Pierrede Tarentaise, 21 jan.-22 jun. 1276) e Adriano V (Ottobono Fieschi, 11 jul.-18 ago. 1276). NosculoXIII,acinciamdicatevegrandeprestgionacortepontifciadeViterbo, umdosgrandescentrosculturaisdoOcidentelatino,ondeviviamfsicos,juristas, 129 Hist. R., Goinia, v. 18, n. 1, p. 121-134,jan. / jun. 2013 matemticos e astrnomos - 40% dos familiares dos papas do perodo tinham o ttulo de magister.PedroHispanotornou-secardealdeTsculo(Itlia)em1273,integrandoo Colgio dos Cardeais, e dois anos depois ascendeu ao trono pontifcio com coroao na catedraldeSoLourenodeViterbo,comaadoodonomedeJooXXI.Seu pontificadofoibreve(setembrode1276amaiode1277),emvirtudedesuamorteno desabamentodeumadasalasemconstruodopalciodeViterbo.Deixouum conjuntodeobrasmdicas,quelhesoatribudas,massefaznecessriauma investigaomaisacuradadosinmerosmanuscritosremanescentesnasbibliotecas europeias a fim de que se levantem mais dados para que possa esclarecer concretamente aspolmicasautoraisentreosestudiosos.Almdoscomentrios,escreveutratadose obras de prtica mdica, compulsadas por toda a Europa at o sculo XVIII. Almdesseempenhomonsticopelosaberepelaprticamdicaassistiu-se igualmenteaointeressedereiserainhasporobrasmdicas,sobretudoaquelas relacionadas medicina preventiva, ou seja, as prescries dietticas para a preservao dasade:exerccios,dietaalimentar,bomsono, habitaremlocaislongedepntanose guasparadas,cuidardaspaixesdaalma,seguindoospreceitosdogalenismorabe. Testemunhodesseinteressesoosestudossobreaslivrariasrgiasondeseencontram ttulosdeobrasmdicas.Todacorteportuguesapossuamdicoseastrlogosjudeus, com quem reis, rainhas e prncipes dialogavam no quotidiano. A ttulo de exemplo, duas livrariasdemodosculoXVsedestacam.Emprimeirolugar,adoreiD.Duarte (1433-1438),cujamemriavemsendorevisitadaereabilitadapelahistoriografia portuguesacontempornea,aqualcontinhaalgunsttulosemportugusarcaico,o ViticodeAlJazaar,oLivrodaLepra,doisexemplaresdoLivrodeEstrologiae Dialtica de Avicena (GOMES, 2012, p. 21). Tudo leva a crer que essa cultura mdica veio do contato com o Mestre Guedelha, fsico e astrlogo judeu da sua corte. Ademais, D. Duarte suplicou ao papa a permisso para ter fsicos judeus em sua corte que resultou na bula (VENTURA,, p.) Segundo,alivrariademodarainhaD.Leonor(1481-1525),quedeixouseus livros para o Mosteiro da Madre de Deus e entre eles figura a obra mdica, Fasciculus Medicinae, um conjunto de seis textos independentes de prtica mdica pertencentes ao fsico da regio da Alemanha, Johannes de Ketham, na traduo castelhana, Compendio delasaludhumana.EssestextoscircularammuitopelaEuropaapartirdaedio impressa em 1491, em Veneza. Alm disso, a rainha foi responsvel por aes polticas visandosadedoreino,criandoentreoutrasoHospitaldeCaldasdaRainhacoma 130 Dulce O. Amarante dos Santos. Os saberes da medicina medieval terapiadebanhossulfurososparaoatendimentoaosdoentes,sobretudodemales dermatolgicos, inclusive a lepra, durante duasestaes do ano:a primaverae o vero (CEPEDA, 1987, p. 60). Em Portugal, o Estudo Geral foi criado pelo poder rgio, no reinado de D. Dinis, alojadoinicialmentenosPaosrgiosdeCoimbraedepoistransferidoparaLisboa. 1290 era o momento em que terminava o conflito do rei com os bispos, logo depois de seassinaraconcordataedolevantamentodointerditoquepesavasobreoreinodesde 1267. Aps a carta dos principais prelados do reino ao papa,solicitando a fundao do Estudo,estefoiaprovadopelabuladopapaNicolauIV(1288-1292),Destaturegni Portugaliae,nomesmoano.Essabulaalmdeconfirmaracriaoaprovouo pagamentodesalriosaosprofessoreseconcedeuprivilgiosaosmestresealunos. Estabeleceu o grau de licentia docendi, porm, mais tarde encontramos nos documentos referenciasaosgrausdebachareledoutor.NofoiinstitudoocursodeTeologia, deixadoacargodasordensmonsticas.Assuasfaculdadesofereciamoscursosde Artes, Cnones (Direito Cannico), Leis (Direito Civil) e Medicina. Este comeou suas atividadesem1309,inicialmentecomapenasactedraprimaemaistarde,nosculo XV, com a de vspera. Requeria-se a frequncia ao curso de Artes antes de seguir o de Medicina. Todavia, preciso ressaltar a hierarquia estabelecida na poca entre as reas doconhecimento:primeiroaTeologia,emseguidaoDireitocivilecannicoepor ltimo,aMedicina,aqualrepercutiainclusivenasdiversasremuneraesrecebidas pelos mestres. Por exemplo, em 18 de janeiro de 1323, D. Dinis determinou ao Mestre daOrdemdeCristoovaloraserpagoaosmestres,aodeLeiserade600eaode Decretaiserade500libras,enquantoqueaomestredeFsicaeradado200,masem compensaorecebiamaisqueodeLgicacom100eodeMsica,75libras.Em virtude do carter integrado, j reafirmado, do contedo da cultura medieval, era muito comum a frequncia simultnea ao curso de Teologia e ao de Medicina, pois no havia uma separao to ntida dos saberes, presente na contemporaneidade. Odeslocamentodeestudantesclrigosoulaicosparaoutrosreinosfoiuma ocorrnciaconstante,mesmoapsafundaodoEstudoGeraldeLisboa,oqueem contrapartidapermitiumant-loemcontatocontinuocomoutrasdinmicas universidades.Essa permanncia no estrangeiro era obtida com benefcios eclesisticos oucomoapoioreal,oumaisraramentepormeiosprprios.Essaitinernciapelos diversos centros de saber constitui-se numa marca dos escolares e os mestres medievais do reino portugus2. 131 Hist. R., Goinia, v. 18, n. 1, p. 121-134,jan. / jun. 2013 As investigaes mais sistemticas sobre os mestres de Medicina no judeus em Portugalaindaestonainfncia.Temosnotciasesparsasdealgunsdelescirculandoe atuando em outros centros de saber. A ttulo de exemplo, Mestre Alfunsus de Hispania, ouAlfonsusdePortugalia,comodenominadoemalgunsdocumentosouAlfonsus DionisiideVlixbona,comochamadoemoutros,destaca-sepeloseupercursode estudanteemParis,emtrspocasdistintas,paracursarArtes,MedicinaeTeologia, sempreconcluindocomxitoeexercendoigualmenteoensinodeMedicinaede Teologia ainda em Paris. A seguir, Afonso desenvolveu atividades na Pennsula Ibrica, oraem Castela, ora emPortugal,escrevendo outraduzindo obras de Artes (Filosofia e Astronomia/Matemtica),depoisexercendoamedicina,eporfimocupandoosmais altos cargos eclesisticos. Em 10 de abril de 1332 recebeu a licena de Medicina terica eprticadobispodeParis,mandatriodopapaJooXXII(1316-1334).Emmaro dessemesmoanoaparececomasfunesdemdicoesecretriodoreidePortugal, AfonsoIV(1325-1357),sendoqueemoutrosdocumentossimultaneamente mencionado como mdico de sua filha D. Maria de Portugal (1313-1357), esposa do rei Afonso XI de Castela (1325-1350). HnotciasdeoutrosmestresdeMedicina,taiscomo,MartinhodeRogido (28/01/1233), Joo de Montemor o Novo, mestre de Filosofia e Medicina (02/08/1235), MartinhodeBosmarineto,reitordaIgrejadeSoMigueldeMontemoroVelhoe Mestre de Medicina (02/02/1345), Afonso Domingues, mdico e mestre (10/05/1350) e GarciaDiogo,escolardeDecretaisesabedordemedicina(25/01/1345)(ARNAUT, 1997, p. 287; COSMACINI, 2009, p. 129). Em suma, os centros de produo dos textos dos saberes mdicos constituam-se sobremaneiranosespaosmonsticosenascortesrgiasedepoisnosEstudosGerais, ondeacabaramporseinstitucionalizarepromoveravalorizaodaatuaosocialdos fsicos.Contudo,nosepodeesquecerqueabuscadoconhecimentodomundo,da naturezaedocorpohumano,ouseja,daobradacriaodivina,motivavatodosos saberes,queinterconectavamentresisemasfronteiraseaespecializaoda contemporaneidade.Ossaberesmdicoseramumdoscaminhosracionaisnaprocura desseconhecimentomaisgeral.Haindaumalongatrajetriaapercorrernas investigaessobreossaberesmdicosmedievaisnosreinoseuropeusemais particularmente no reino de Portugal. 132 Dulce O. Amarante dos Santos. Os saberes da medicina medieval NOTAS 1AtualmenteadisciplinaHistriadaMedicinalocaliza-senoDepartamentodeHumanidadesMdicas das Faculdades de Medicina europeias. 2 Ainda est por ser realizado o estudo sobre a itinerancia dos escolares e mestres universitrios do reino portugus na Idade Mdia. KNOWLEDGES OF MEDIEVAL MEDICINE (12TH-15 TH CENTURIES) ABSTRACT:Medicinearticulatesasetofmedievalknowledge,inheritedfromantiquity, maintainingcontinuousdialoguewithotherfieldsofknowledgeduetotheintegratedand relational character of the cultural content of Western Europe. Therefore, there were physicians whoalsoactedastheologiansorastrologersoralchemists,producingworksinvariousfields, includingalchemical.TheturningpointwasthecreationoftheStudiaGeneraleandMedical Schoolsthatmadepossiblethepassageofamechanicalartintoatheoreticalreflection concerning concepts of health and infirmity and, thus the establishment of a medical science. On the other hand, medical practice was divided in Hygiene and Dietetics, Pharmacy and Surgery. In Portugal, there are reports of scholarships to clerics so thtugal.ey may study in Paris until the foundation of the University in 1290, in the reign of D. Diniz. In the royal courts, outside of the university circle, there was a constant presence of physicians and astrologers Jews. KEYWORDS: Medieval medicine, stadium generale, medical scholasticism. LOS SABERES DE LA MEDICINA MEDIEVAL (siglos XII-XV) RESUMEN:Lamedicinaintegraunconjuntodeconocimientosmedievales,heredadosdela Antigedad, manteniendo un dilogo permanentecon otras reasdel conocimiento debido ala naturalezaintegradayrelacionaldeloscontenidosdelaculturadeEuropaOccidental.En ese sentido,hayfsicosquetambinactuaroncomotelogosoastrlogosoalquimistas, produciendoobrasendiversoscampos,inclusoeneldelaalquimia.Elgrandivisordeaguas fue lacreacin de losStudia Generaley de las Facultadesde Medicina, lo que hizo posibleel paso de un arte mecnico para la reflexin terica sobre los conceptos de salud y enfermedad y, por lo tanto, la formacin de una ciencia mdica. Por otra parte, la prctica mdica se divida en HigieneoDiettica,FarmaciayCiruga.EnPortugal,haynoticiasdebecasparalosclrigos que desean estudiar en Pars hasta la fundacin de la Universidad en 1290, en el reinado de D. Dinis.Enlascortesreales,fueradelcircuitodelauniversidad,haypresenciaconstantede fsicos y astrlogos judos. PALABRAS CLAVE: medicina medieval, studium generale, escolstica mdica. REFERNCIAS 133 Hist. R., Goinia, v. 18, n. 1, p. 121-134,jan. / jun. 2013 ARNAUT,SalvadorDias.Amedicina.In:HistriadaUniversidadeemPortugal. Coimbra:UniversidadedeCoimbra;Lisboa:FundaoCalousteGulbenkian,1997.p. 285-302. CEPEDA,IsabelVilares.OslivrosdaRainhaD.Leonor,segundoocdice11352da Biblioteca Nacional. Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa, srie 2, v.2, n.2, julho-dez. 1987, p. 51-81. COSMACINI, Giorgio.Larte lunga. Storia della medicina dallAntichit a Oggi. 6ed. Roma-Bari: Laterza, 2009. FERRAZ, Amlia Ricon. A Real Escola e a Escola Mdico-Cirrgica. 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